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Lei de Diretrizes e Bases

da educação brasileira
Prof.ª Inês Barbosa de Oliveira

Prof.ª Nathália Serenado

Descrição

Apresentação das diferentes Constituições brasileiras e suas formas de abordagem da Educação ao longo da história,
destacando a Constituição Cidadã de 1988 e a Lei 9394/96 (LDB), que estabelece os princípios, as normas e as recomendações
para a estrutura e o funcionamento da educação nacional.

Propósito

Reconhecer a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e suas normas e recomendações a respeito dos níveis e
modalidades de ensino, compreendendo sua importância para a educação nacional e seu papel estruturante e organizador no
Sistema Nacional de Educação com base nos princípios emanados da Constituição Federal.

Preparação

Antes de iniciar o conteúdo deste estudo, tenha em mãos um exemplar (físico ou digital) da Constituição Federal de 1988 e do
texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), devidamente atualizados.

Objetivos
Módulo 1

As Constituições brasileiras e a educação

Analisar as Constituições brasileiras, com destaque para a de 1988, e suas relações com a Educação.

Módulo 2

LDB e os princípios e níveis da educação

Identificar os princípios da Educação, seus níveis e suas modalidades na LDB (Lei 9394/96).

Módulo 3

A LDB e o cenário educacional brasileiro

Reconhecer, na LDB, os temas mais relevantes do cenário educacional brasileiro historicamente.

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Introdução
É correto afirmar que o tema Educação está presente em todas as Constituições brasileiras apresentadas a seguir. A cada uma
dessas Constituições correspondeu uma perspectiva diferente de percepção e de abordagem da Educação, situadas não só
localmente no cenário nacional como também na sociedade em cada período histórico.

Para tratarmos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), precisamos recuar às Constituições, às perspectivas
políticas mais ou menos democráticas que a inspiraram e a como isso foi feito, tanto por questões políticas locais quanto por
compreensões sociais mais amplas do papel da Educação no desenvolvimento da nação e de seus sujeitos.

Assim sendo, trabalharemos o tema da atual LDB e dos princípios e normas que a integram a partir das concepções de nação e
de Educação que habitaram nossas leis maiores desde a Independência.
1 - As Constituições Brasileiras e a educação
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar as Constituições brasileiras, com destaque para a de 1988, e
suas relações com a Educação.

As Constituições brasileiras e a Educação

Apresentação das Constituições

Historicamente, o país contou com sete Constituições, a saber: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. A primeira
Constituição brasileira, chamada de Constituição Política do Império do Brasil, foi outorgada em 1824 por D. Pedro I e vigorou por
65 anos. Já a atual Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 5 de outubro de 1988 pela Assembleia
Nacional Constituinte. É considerada uma das mais modernas, complexas e extensas do mundo.

Alguns historiadores consideram a Emenda n. 1 à Constituição Federal de 1967 como a Constituição de 1969, outorgada pela
Junta Militar. “Outorgada” é o termo utilizado para caracterizar as Constituições impostas de maneira unilateral pelo agente
revolucionário (grupo ou governante) que não recebeu do povo a legitimidade para em nome dele atuar. No Brasil, as
Constituições outorgadas foram a de 1824, do Império, a de 1937, na era Vargas, e a de 1967, na época da ditadura militar. Uma
Constituição promulgada, também chamada de democrática, votada ou popular, é fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional
Constituinte eleita diretamente pelo povo para atuar em nome dele, nascendo, portanto, da deliberação e da representação
legítima popular.

1824

Constituição Política do Império do Brasil

Vi 65 F i l b d C lh d E t d t d 1824 D P d I (1798 1834)


Vigorou por 65 anos. Foi elaborada por um Conselho de Estado e outorgada em 1824 por D. Pedro I (1798-1834).

1891

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil

Promulgada em 24 de fevereiro de 1891, criou a República Federalista, com a autonomia dos estados. Tem como
fonte influenciadora a Constituição norte-americana, presidencialista com federalismo.

1934

Constituição de 1934

Promulgada pelo Congresso Nacional eleito após a Revolução de 1930, reafirmou o compromisso com a
República e com os princípios federativos. Estabelecia que “todos os poderes emanam do povo e em nome dele
são exercidos”. Essa Constituição durou apenas três anos.

1937

Constituição do Estado Novo

Suprimiu direitos e garantias e foi inspirada nos regimes totalitários em ascensão na Europa no período que
antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Foi outorgada por Getúlio Vargas (1882-1954).

1946

Constitucionalista Novo

Promulgada pelo Congresso Nacional no início do governo de Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). De caráter
democrático, retomou os preceitos da Carta Liberal de 1934, além de restabelecer os direitos individuais, a
independência dos poderes da República e a harmonia entre eles, a autonomia dos estados e municípios, a
pluralidade partidária, os direitos trabalhistas e a instituição de eleição direta para presidente da República.
A Educação nas Constituições

A Constituição do Império (1824)

Juramento de Sua Majestade o Imperador D. Pedro I à Constituição do Império

Outorgada por D. Pedro I, sem qualquer participação da nação, era curta e dedicava somente um artigo e dois incisos para a
Educação, conforme reproduzido a seguir:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança
individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte:

XXXII. A Instrução primária, e gratuita a todos os Cidadãos.

XXXIII. Colégios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das ciências, Belas Letras, e Artes.

Constituição Republicana do Brasil (1891)

A escravidão, nesse período, era comum no país, sendo a noção de cidadania ainda muito restrita; portanto, quando a
Constituição estabelecia “para todos os cidadãos”, tratava-se de um grupo muito limitado de pessoas, com inúmeras exclusões.

Logo após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, foi criada a primeira Constituição Republicana do Brasil,
em 1891, elaborada por Rui Barbosa (1849-1923) e com a participação do Congresso Constituinte.

Essa Constituição trouxe uma abordagem indireta da Educação, especificamente no título IV, referente aos cidadãos brasileiros,
e inserida na Seção II, que dispõe sobre as declarações de direitos.
Juramento da Constituição, c. 1891. Promulgada a 1ª Constituição Republicana, assumem o poder os marechais Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892) e Floriano
Peixoto (1839-1895).

epublicana do Brasil
Art 72. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à
liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

§ 6º Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.

O art. 72, § 6º dessa Carta consagrou o princípio da liberdade e da laicidade do ensino ministrado nos estabelecimentos
públicos, mas, em contrapartida, não abordou a questão da gratuidade destes. Sob o influxo da Revolução de 1930, a
Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 representou um processo de modernização do Estado, trazendo, pela primeira
vez, o conceito de educação como um direito de todos, cabendo sua responsabilidade às famílias e aos poderes públicos. Além
disso, manteve a gratuidade do ensino primário, propondo sua extensão a outros níveis de ensino.

Constituição de 1937

Capa da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1937

Foi a segunda Carta brasileira outorgada, nesse caso, pelo Estado Novo, em decorrência das condições políticas e ideológicas
observadas no período, tanto interna quanto externamente. Houve uma mudança clara a respeito de a quem competia a
responsabilidade da educação, cabendo à família o ônus maior.

Observa-se que o art. 130 manteve o ensino primário como obrigatório e gratuito, porém com uma responsabilidade subsidiária
do Estado.

rt. 130
Art 130. O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os
mais necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não puderem alegar
escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa escolar.

Constituição Federal de 1946


Promulgada em 18 de setembro de 1946, manteve o nome de Estados Unidos do Brasil, com regime representativo, a Federação
e a República, e o princípio de que “todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”.

Depois do ato repressor, passou-se a pregar a liberdade com o objetivo de permitir uma maior participação popular na vida social
e econômica do país. A educação passou a ser vista como um direito público subjetivo, cabendo também à família o dever de
educar seus filhos. Contudo, no que se refere ao direito à educação (art. 166), as ideias contidas nessa Constituição
assemelham-se às da Carta de 1934.

rt. 166
Contudo, no que se refere ao direito à educação (art. 166), as ideias contidas nessa Constituição assemelham-se às da Carta de
1934.

Assembleia Constituinte de 1946

Os incisos I e II do art.168 do capítulo II definem a obrigatoriedade e a gratuidade ao ensino primário oficial, no entanto, reforça a
subsidiariedade do Estado no provimento do ensino oficial posterior para aqueles que provarem a falta ou a insuficiência de
recursos. Faz parte deste pacote a Lei 4.024/1961 (Lei de Diretrizes e Bases – LDB), sendo a primeira lei geral de educação que,
posteriormente, foi substituída pela Lei 9.394/1996.

apítulo II
A legislação do ensino adotará os seguintes princípios:

I. o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;


II. o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou
insuficiência de recursos. (...)

Constituição de 1967

De inspiração militar, foi decretada e promulgada pelo Congresso Nacional. O direito à educação foi previsto no art. 168, que
tratou especificamente da família, da educação e da cultura. Manteve, ainda, alguns princípios gerais da educação, como o
direito de todos, a liberdade de ensino, a igualdade de oportunidades e a limitação da gratuidade, mas, ao mesmo tempo,
inaugurou o regime de bolsas de estudos restituíveis no ensino superior. A seguir, veja a capa da Constituição de 1967.

apítulo II
A legislação do ensino adotará os seguintes princípios:

I. o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;


II. o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou
insuficiência de recursos. (...)

Constituição brasileira de 1967

Emenda Constitucional n. 1 de 1969

De inspiração militar, foi decretada e promulgada pelo Congresso Nacional. O direito à educação foi previsto no art. 168, que
tratou especificamente da família, da educação e da cultura. Manteve, ainda, alguns princípios gerais da educação, como o
direito de todos, a liberdade de ensino, a igualdade de oportunidades e a limitação da gratuidade, mas, ao mesmo tempo,
inaugurou o regime de bolsas de estudos restituíveis no ensino superior. A seguir, veja uma foto do presidente do Brasil neste
período.

rt. 168
A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio
da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.

§ 1º O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos Poderes Públicos.


§ 2º Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos
Poderes Públicos, inclusive bolsas de estudo.
§ 3º A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:

I. o ensino primário somente será ministrado na língua nacional;


II. o ensino dos sete aos quatorze anos é obrigatório para todos e gratuito nos estabelecimentos primários oficiais;
III. o ensino oficial ulterior ao primário será, igualmente, gratuito para quantos, demonstrando efetivo aproveitamento, provarem falta
ou insuficiência de recursos. Sempre que possível, o Poder Público substituirá o regime de gratuidade pelo de concessão de bolsas
de estudo, exigido o posterior reembolso no caso de ensino de grau superior;

Marechal Artur da Costa e Silva (1899-1969), presidente do Brasil entre 1967 e 1969.

Constituição de 1988
Constituição de 1988 fortaleceu a cidadania do trabalhador.

Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a atual “Constituição Cidadã”, em que o direito à educação passou a ser considerado
um direito social (art. 205), tendo, inclusive, uma redação dedicada a ela. A obrigatoriedade da família continua expressa, mas o
seu art. 227 a estende para a sociedade e o Estado, assegurando à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, entre
outros, o direito à educação.

rt. 205
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

rt. 227
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

Nos termos do art. 195, caput, a educação é essencial para o desenvolvimento humano integral, tornando-se necessário garantir
a igualdade de condições de acesso e permanência na escola.

rt. 195
A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...)

A constituição cidadã e a Educação


A Constituição de 1988 é considerada o marco da Nova República – período a partir da redemocratização e que nos marca até
os dias atuais. Suas proposições são ricas em debates sobre questões fundamentais para uma nação democrática, destacando-
se a presunção clara e indiscutível da educação como um bem nacional, um objeto de política pública de primeira ordem e, por
isso, reafirmada em seus princípios.
No preâmbulo da Constituição Federal de 1988, já surge como garantia:

(...) um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e


individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias (...)

(BRASIL, 1988)

Estão presentes na Constituição de 1988 os seguintes temas:

Forma de governo expand_more

O artigo primeiro da CF/88 define a forma de governo a partir de então (República), constituída pela federação
indissolúvel da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, todos com governo próprio e certa autonomia. O
Brasil possui, atualmente, vinte e seis estados e o Distrito Federal, além de mais de cinco mil municípios. Cada estado
tem sua própria Constituição, e cada município tem sua Lei Orgânica, que se trata do conjunto de legislações para
funcionamento das prefeituras sendo regidas por duas Constituições, a nacional e a estadual, e não pode se sobrepor a
elas. Portanto, as legislações devem estar, todas elas, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição Federal.

Democracia expand_more

O artigo primeiro da CF/88 também dispõe que somos um Estado Democrático de Direito, isto é, adotamos a democracia
como forma de governo. Assim, o parágrafo único do art. 1º estabelece que todo poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente. Desse modo, a Constituição e as demais leis valem, sem exceção, para
todos os cidadãos, que devem respeitar e ter respeitados os direitos humanos e as garantias fundamentais.

Cidadania expand_more

A cidadania também é um dos fundamentos da Carta Magna de 1988. Isso significa que o cidadão brasileiro possui
direitos e deveres para que possa participar da vida em sociedade. Na Constituição Federal de 1988, vida em sociedade é
definida como: Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.

Cabe lembrar que a primeira Carta Constitucional Brasileira data de 1824, tendo sido feita, portanto, ainda no tempo do
Brasil Império. De lá para cá, tivemos sete Constituições, culminando com a atual Constituição Federal de 1988, fruto de
um longo caminho de lutas e de conquistas.
A parte denominada “A Ordem Social” (título VIII), mais especificamente no Capítulo III, é toda voltada para a Educação (arts. 205
a 214). Logo no art. 205, a Constituição Federal dispõe que a educação é um direito de todos e um de dever do Estado e da
família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao
seu preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.

Desse artigo, podem-se deduzir alguns conceitos básicos envolvendo a educação:

É um direito de todos

É um dever do Estado

É um dever da família

Deve ser fomentada pela sociedade


Também se pode inferir que os objetivos gerais da educação passam por:

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Pleno desenvolvimento da pessoa

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Preparo para o exercício da cidadania

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Qualificação para o trabalho
O princípio de educação como direito de todos já fora expresso nas Constituições de 1934 e 1946. Contudo, o que distingue a
Constituição de 1988 das demais é o enquadramento da Educação como direito social (art. 6º), ao mesmo tempo em que se
torna um elemento da construção da dignidade da pessoa humana e, portanto, da criação de um cidadão consciente, bem como
um instrumento para a erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A Constituição Cidadã de 1988 é uma profunda guinada para a Educação como um direito social (art. 6º), sendo, portanto, um
dever do Estado (art. 204). Pela primeira vez na história da educação brasileira, foi oficialmente e universalmente consagrada
pela Constituição Federal a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais (art. 206, IV).

No art. 204, a Educação é garantida como direito de todos. O art. 5º da CF/88 dispõe sobre o princípio constitucional da
igualdade, segundo o qual todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Nos diferentes incisos desse
artigo, encontram-se afirmações acerca de formas e princípios de igualdade. Todavia, a fim de garantir essa igualdade, o
princípio estabelece que pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual para minimizar as
disparidades, entendendo-se que dar tratamento isonômico aos diferentes cidadãos significa tratar igualmente os iguais e
desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.

É nesse princípio que se baseia o direito à diferença na educação no que concerne às populações historicamente discriminadas,
como negros, indígenas e pessoas com deficiência e, ainda, no que se refere ao direito à educação de populações de todos os
grandes ciclos etários da vida.

Saiba mais

O princípio da igualdade na Constituição Federal de 1988 encontra-se expresso no art. 5º, que afirma: “Todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”.

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Atividade discursiva
Antes de nos aprofundarmos mais na próxima temática, responda:

A Constituição Federal de 1988 é chamada de Constituição Cidadã. O que é uma Constituição Cidadã? Como ela pode ser
caraterizada? Qual a relação entre sua caracterização cidadã e o modo como expressa o tema da Educação?

Digite sua resposta aqui

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Para entender a Constituição de 1988, é necessário reconhecer tanto a Constituição que vigorava antes quanto o contexto
político e social da época. Apesar de ambas as Constituições serem republicanas, a Constituição de 1967 era toda voltada
para os direitos centralizadores do Estado. A Constituição de 1988, por sua vez, é democrática e voltada para os direitos e
as garantias dos cidadãos brasileiros.

Política pública e Educação

Sessão solene do Congresso Nacional em que foi promulgada a atual Constituição da República Federativa do Brasil, no dia 5 de outubro de 1988.
A Constituição de 1988 restabeleceu a inviolabilidade de direitos e liberdades básicas e instituiu uma vastidão de preceitos
progressistas, como a igualdade de gêneros, a criminalização do racismo, a proibição da tortura e os direitos sociais, como
educação, trabalho e saúde para todos.

Além disso, reinstituiu o direito à livre manifestação de pensamento (vedado o anonimato) e a liberdade de expressão intelectual,
artística, científica e de comunicação (fim da censura), e garantiu a todo cidadão o acesso a qualquer dado a seu respeito em
arquivos do governo. Ela também restabeleceu o voto universal e direto, sem distinção de classe ou gênero.

A Educação ganhou forma de direito fundamental na Constituição de 1988, devendo ser garantida, e faz parte da própria
constituição e da base do Estado Democrático. Entendida como garantidora para evitar novos arroubos antidemocráticos, a
Constituição constrói seu texto de forma a estruturar a Educação como um interesse nacional.

O que é um Estado Democrático de Direito? Como podemos pensar o tema da educação pública a partir
dessa noção?

Trata-se de uma junção de dois conceitos anteriores de Estado: um Estado social de Direito somado ao Estado de bem-estar
social. Compreende uma série de medidas que devem ser atendidas pelo Estado soberano e democrático, buscando garantir os
elementos básicos, a fim de promover uma vida digna a todos os cidadãos e todas as cidadãs.

Saiba mais
O Estado de Direito surgiu nos séculos XVII e XVIII no âmbito das Revoluções Inglesa e Francesa, em contraposição aos
governos autoritários e absolutistas.

O direito à Educação aparece como meio de formação dos cidadãos das nações que vinham se constituindo democraticamente.
As Constituições foram o fundamento desse processo; a ideia de que ninguém estaria acima das leis (ícone do modelo
estamental do Antigo Regime) garantia um princípio de isonomia – lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e
fraternidade –, realizando o princípio de que todos deveriam ser entendidos como cidadãos de direitos.

Vencendo velhos traços que eram marcados pela exploração violenta, como a escravidão, o Direito dos Homens, os Direitos
Humanos, os Direitos da Crianças e os tratados do pós-guerra mundial transformaram o ideal democrático em um valor, e a
usurpação foi entendida como algo a ser combatido. Ainda que os regimes mais ditatoriais se submetessem formalmente às
Constituições e aos princípios que, embora de forma disfarçada, tinham relevo constante no mundo dos séculos XX e XXI.

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Política educacional e as constituições brasileiras
Neste vídeo, os professores respondem a perguntas sobre as diferentes políticas educacionais implementadas no Brasil ao
longo de suas sete Constituições.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Considerando a Constituição de 1988, nota-se que a Educação é considerada como instrumento fundamental para um
Estado Democrático. Logo, ela precisa ser organizada, definindo quem são seus responsáveis. Nesse sentido, a quem
compete a obrigatoriedade da Educação?

Nos termos do art. 205 da Constituição Federal de 1988, a Educação, que é um direito de todos, constitui
dever tanto do Estado quanto da família, devendo ser promovida e incentivada por ambos e em colaboração
A
com a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da
cidadania e à sua qualificação para o trabalho.

A obrigatoriedade é exclusiva da família, como expressa no art. 227, mas essa obrigatoriedade é também da
B
sociedade e do Estado de forma indireta.

De acordo com o art. 227, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer, à profissionalização, à
C cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência; apesar de não tratar diretamente da Educação, aborda seus aspectos de
entorno.

A Constituição Cidadã é tributária da Declaração do Direito das Crianças da UNESCO; nesse sentido,
D determina no art. 205 da Constituição Federal de 1988 que é obrigação exclusiva do Estado, devendo fazer
parte de sua política pública a organização, a manutenção e a continuidade da Educação.

A obrigatoriedade é exclusiva do Estado, como expressa no art. 227 da Constituição Brasileira de 1988, mas
E
essa obrigatoriedade é também da sociedade de forma indireta.
Parabéns! A alternativa A está correta.

Segundo a Constituição de 1988, a Educação é uma obrigação compartilhada da família, da sociedade e do Estado, e o
governo deve cuidar para que esta seja exercida, mantida e regulada.

Questão 2

As Cartas Magnas, independentemente do período, fornecem as bases fundamentais da política de um Estado Nação e são
fundamentais na organização de Estados efetivamente democráticos. Segundo esse princípio, entendendo que o Brasil se
constitui como um Estado Democrático de Direito e a Constituição é sua garantidora, avalie as assertivas:

I- Nos termos do art. 205 da Constituição Federal de 1988, a Educação, que é um direito de todos, constitui dever tanto do
Estado quanto da família, devendo ser promovida e incentivada por ambos e em colaboração com a sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.

II- De acordo com o art. 205 da Constituição Brasileira, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios de
igualdade de condições para o acesso e permanência na escola: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
cultura, o pensamento, a arte e o saber; definição das mais corretas e modernas concepções pedagógicas; respeito à
liberdade e valorização da identidade nacional.

III- Na Constituição de 1891, o art. 72 já consagrava o princípio da liberdade e da laicidade do ensino ministrado nos
estabelecimentos públicos, ainda que não fosse gratuito, e apontava para importância desse processo.

IV- Na Constituição de 1937, o art. 130 manteve o ensino primário como obrigatório e gratuito, porém com uma
responsabilidade subsidiária do Estado. Esse é um movimento importante pois, pela primeira vez, dava ordenamento
financeiro para que todos os entes federativos constituíssem sistemas de ensino.

Marque a alternativa correta:

A Somente I e II estão corretas.

B Somente II e III estão corretas.

C I, II e IV estão corretas.

D I, II e III estão corretas.

E Somente IV está correta.

Parabéns! A alternativa C está correta.


Alguns princípios constitucionais foram constantemente repetidos: a percepção de que o Estado faz parte do compromisso
da Educação, seja como estimulador, mantenedor, estabelecedor de regras e normas que permitam seu amplo
desenvolvimento. A questão visa ao seu entendimento de que esses princípios aparecem mesmo em documentos
diferentes. Assim, a alternativa B torna-se equivocada pela ausência da valorização da pluralidade no olhar da Constituição
de 1988.

2 - LDB e os princípios e níveis da educação


Ao final deste módulo, você será capaz identificar os princípios da Educação, seus níveis e suas modalidades na
LDB (Lei 9394/96).

Estrutura e propostas da LDB 9394/96


Na trajetória constitucional brasileira, o tema Educação foi tratado com maior ou menor ênfase em função de diferentes fatores,
mas o tema da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional não foi sempre abordado. É isso que veremos a seguir.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


Palácio Gustavo Capanema, também conhecido como o prédio do Ministério da Educação e Cultura (MEC).

A primeira Constituição Brasileira a cogitar uma lei de diretrizes para a Educação foi a de 1934, que, no seu art. 5º, atribuía à
União a responsabilidade para traçar as diretrizes da educação nacional e de fixar o Plano Nacional de Educação. Em seguida, a
Constituição de 1937 traria diretrizes diferentes, e o projeto para uma ampla lei educacional foi adiada.

Prevista na Constituição de 1946 e discutida política e academicamente no país por quinze anos, somente em 1961 foi
publicada a Lei n. 4.024/61, oficialmente a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Dez anos depois, foi alterada
tão profundamente pela Lei n. 5692/71, que esta foi considerada por muitos uma nova LDB. A Lei n. 5692/71 durou até 1996,
quando foi promulgada a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

As principais razões da demora na aprovação da Lei n. 9.394/96, prevista na Constituição de 1988 e discutida ao longo dos oito
anos que as separam, foram os intensos debates, a preocupação democrática da tramitação e as questões políticas do país (em
efervescência no período).

A LDB de 1996 reafirma o direito à Educação, definindo-a como dever da família e do Estado, inspirada nos princípios da
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, buscando o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 2º), seguindo o princípio constitucional da educação como direito social (CF,
art. 5º, caput).

Autoridades reunidas ao redor da Mulher reclinada no dia da inauguração do palácio Gustavo Capanema.

O art. 22, XXIV, da Constituição Federal, determina que compete privativamente à União legislar sobre os deveres do Estado, as
diretrizes e as bases da educação nacional, estabelecendo que a Educação é direito de todos e dever do Estado e da família,
devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu
preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.
Competências políticas da Educação

Em linhas gerais, o texto da Lei 9.394/96 está dividido em nove temáticas:

Temática 1

A primeira define os limites da educação escolar (art. 1º).

Temática 2

No título II, são definidos os princípios e os fins da educação nacional, estabelecendo a Educação como dever da
família e do Estado (arts. 2º e 3º).

Temática 3

No título III, que aborda o direito à Educação e o dever de educar, encontramos a obrigatoriedade e a gratuidade da
educação básica, atualmente dos quatro aos dezessete anos de idade.

Temática 4

No título IV, a LDB aborda a organização da educação nacional, estabelecendo o regime de colaboração entre a
União, os estados e os municípios.

Temática 5

No título V, a educação brasileira é dividida em dois níveis: a educação básica e o ensino superior e conta com
diferentes modalidades de ensino e os modos possíveis de organização dos sistemas de ensino e das propostas
pedagógicas, preconizando a pluralidade de concepções pedagógicas como um dos princípios da educação
nacional. É proposta a gestão democrática da educação pública, com progressiva autonomia pedagógica e
administrativa, e a gestão financeira das unidades escolares.

Temática 6
O tít l VI é d di d fi i i d d ã ( t 61 67) t b l d f ã j f it
O título VI é dedicado aos profissionais da educação (arts. 61 a 67), estabelecendo que sua formação seja feita
em curso superior de Pedagogia ou pós-graduação (art. 64), admitindo, para atuar na educação básica, educação
infantil e nas quatro primeiras séries do fundamental, formação em curso Normal do ensino médio (art. 62).

Temática 7

O título VII é dedicado aos recursos financeiros, estabelecendo as fontes dos recursos destinados à Educação e
que a União deve gastar, no mínimo, 18% e os estados e municípios, no mínimo, 25% de seus respectivos
orçamentos na manutenção e no desenvolvimento do ensino público (art. 69);

Temática 8 e 9

Os dois últimos temas abordam as disposições gerais e transitórias que acompanham toda lei.

Princípios da educação Nacional


Debruçando-nos sobre o que afirma a LDB de 1996 em seus elementos de maior relevância, estudaremos a seguir os princípios
que regem a educação nacional (título II, arts. 2º e 3º) e as questões relacionadas à gestão democrática e aos níveis e às
modalidades de ensino nelas previstos.

A LDB apresenta no título II, em seu artigo 3º: expand_more

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;


II. liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III. pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV. respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V. coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI. gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII. valorização do profissional da educação escolar;
VIII. gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino;
IX. garantia de padrão de qualidade;
X. valorização da experiência extraescolar;
XI. vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

O conjunto de onze princípios, dispostos no art. 3º da LDB (Lei 9394/96), indica a exigência de respeito a princípios republicanos
e constitucionais. Cabe analisá-los, então, nessa perspectiva, de princípios educacionais que seguem a compreensão da
Constituição Federal sobre os direitos dos cidadãos de uma república democrática. Assim, trata-se de respeito à igualdade e à
liberdade em diferentes formas e instâncias e, também, de respeito a exigências democráticas mais amplas, relacionadas aos
modos de gestão no sistema público de educação, com a gestão democrática prevista no princípio VII, fortemente mutilado em
relação à sua versão anterior no projeto de lei substituído pelo de Darcy Ribeiro, que deu origem a esta LDB.

arcy Ribeiro
Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um antropólogo, educador e político brasileiro. Criador do projeto de educação integral no Rio de
Janeiro. Destacou-se como senador pela articulação para aprovação da LDB, não acidentalmente chamada de Lei Darcy Ribeiro.

Saiba mais
No caso da igualdade, trata-se de uma igualdade almejada entre diferentes – daí o princípio da presença de pluralismo de ideias
e concepções pedagógicas no sistema educacional e de respeito à liberdade e apreço à tolerância, princípios que se articulam,
também, ao tema da liberdade, já que a liberdade cidadã tem como corolário o direito de acessar conhecimentos e informações
plurais e isso precisa se fazer presente no sistema educacional.

Fachada do Ministério da Educação (MEC) em Brasília

A efetivação desse princípio exige a liberdade de cátedra para o acesso a conhecimentos plurais e perspectivas igualmente
plurais para compreensão deles, conforme elencado com precisão no princípio II, que trata da liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar.

Ainda nesse sentido, os princípios X e XI dispõem a perspectiva de uma democracia na relação entre diferentes conhecimentos
no sistema educacional. Ao prever a valorização da experiência extraescolar (X) e a vinculação entre a educação escolar, o
trabalho e as práticas sociais (XI), a LDB assume que a garantia da democracia no acesso, na permanência e no direito de
aprender, subliminar à ideia da qualidade, só pode ser efetiva se (e quando) os estudantes tiverem seus conhecimentos
presentes no processo pedagógico pela valorização daquilo que trazem para a escola e possam, por meio das aprendizagens
escolares, potencializar sua inserção no meio profissional e no exercício da cidadania plena, desenvolvendo e compreendendo
mais amplamente as práticas sociais.

No que se refere à igualdade específica de acesso e à permanência do primeiro princípio, entendemos que o princípio da
gratuidade (VI) lhe é complementar. E considerando o princípio V, da coexistência de instituições públicas e privadas, torna-se
indispensável sua complementação pelo princípio IX, da garantia de padrão de qualidade.
Atenção!
É condição sine qua non da igualdade assegurar que todos, em instituições públicas ou privadas, tenham acesso a um ensino de
qualidade. No mesmo sentido, podemos entender o princípio da valorização do profissional de educação, que só assim pode
atuar com qualidade, já que uma forma de valorização do profissional é assegurar a ele condições materiais e intelectuais de
atuação. Essa valorização, portanto, embora também diga respeito a questões de remuneração, não se limita a isso.

Níveis e modalidades de ensino segundo a LDB


Dimensão de forte relevância na LDB; em seu título V (arts. 21 a 60) encontramos a seguinte descrição dos níveis e das
modalidades de ensino:

A educação básica é composta por três níveis:

Educação Infantil

Da creche (de 0 a 3 anos) e pré-escolas (de 4 e 5 anos).

É gratuita, mas não obrigatória até os 3 anos, sendo exigida a partir dos 4 anos de idade, desde a aprovação da Lei n.
12.796/2013, que atende ao aprovado pela Emenda Constitucional n. 59 de 2009. É de competência dos municípios (arts. 29 a
31).

Ensino Fundamental

Anos iniciais (do 1º ao 5º ano) e anos finais (do 6º ao 9º ano).

É obrigatório e gratuito. Desde 1971, com aprovação da Lei n. 5692/1971, contava com oito anos de escolaridade. Desde 2006
(Lei n. 11.271/2006), tem a duração de nove anos. A LDB estabele que, gradativamente, os municípios serão os responsáveis
por todo o ensino fundamental. Na prática, os municípios estão atendendo aos anos iniciais e os estados, aos anos finais
(arts. 32 a 34) dessa etapa da educação básica.

Ensino Médio

O antigo 2º grau na Lei n. 5692/1971 (1º ao 3º ano) foi renomeado como ensino médio na LDB. É de responsabilidade dos
estados. Pode ser técnico profissionalizante, ou propedêutico (arts. 35 e 36). Não obrigatório quando da aprovação da LDB.
Passou a sê-lo, para pessoas até 17 anos, a partir de 2013, quando da aprovação da Lei n. 12.796/2013.

O ensino superior é de competência da União, podendo ser oferecido por estados e municípios, desde que eles já tenham
atendido aos níveis pelos quais são responsáveis em sua totalidade. Cabe à União autorizar e fiscalizar as instituições privadas
de ensino superior (arts. 43 a 57).

A educação brasileira conta ainda com algumas modalidades de educação que perpassam todos os níveis da educação
nacional. São elas:

Educação especial
Atende aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino.
Educação a distância
Atende aos estudantes em tempos e espaços diversos, com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação
(arts. 58 a 60).

Educação profissional e tecnológica


Visa preparar os estudantes a exercerem atividades produtivas, atualizando e aperfeiçoando conhecimentos tecnológicos e
científicos (arts. 39 a 42).

Educação de jovens e adultos


Atende às pessoas que não tiveram acesso à Educação na idade apropriada (arts. 37 e 38).

Educação indígena
Atende às comunidades indígenas, respeitando a cultura e a língua materna de cada tribo.

Essa estrutura prevista, organizada em níveis e modalidades de educação, traz novidades em relação às anteriores, tanto em sua
nomenclatura quanto em relação aos significados que pretende expressar. Resumindo compreensivamente os itens elencados,
podemos dizer que o ensino fundamental não sofre grandes alterações na primeira versão da lei, já que herda o perfil do anterior
ensino de 1º grau (Lei n. 5692/1971).

Modificações no ensino fundamental expand_more

Atualmente modificado, o ensino fundamental tem a duração de nove anos, não oito como incialmente previsto, e tem ao
seu lado como obrigatórios a educação infantil, a partir dos 4 anos de idade, e o ensino médio, até 17 anos de idade.

Reforma do ensino médio expand_more

O ensino médio sofreu reforma recente (Lei n. 13.415/2017), tendo modificada sua estrutura, que previa a oferta para
todos os alunos do conhecimento de todas as áreas, para um modelo de itinerários formativos, que supostamente devem
ser escolhidos pelo estudante, mas oficialmente dependem da oferta local de itinerários possíveis. Trata-se de levar o
estudante a, desde os 15 anos, estudar apenas os conhecimentos de uma área, ou o ensino profissionalizante, de acordo
com o itinerário escolhido, perspectiva que retoma o previsto na LDB 4.024/1961 e compromete a integralidade da
formação.

A intenção das modalidades previstas na LDB era assegurar a universalização do acesso à educação básica, viabilizando uma
estrutura do sistema educacional que permitisse a todos os cidadãos exercerem seu direito constitucional à Educação,
respeitando suas trajetórias sociais, pertencimentos culturais, necessidades de formação específica em função de deficiências
diversas, necessidades de profissionalização ou de acesso ao ensino não presencial.

É possível perceber – na LDB e na legislação complementar que a regulamenta e vem atualizando – a vontade política de
atendimento aos preceitos da Constituição Cidadã de 1988 no que se refere ao direito subjetivo de todos à Educação,
explicitando compromissos que articulam esse direito ao dever do Estado e da família em oferecê-lo.

Dessa articulação, deriva a obrigatoriedade de oferta e frequência aos estudantes da educação básica. Nota-se, na LDB, o
respeito aos princípios republicanos da igualdade, da liberdade e da fraternidade no estudo do seu artigo 3º, particularmente
bem-sucedido no tratamento das necessidades não óbvias ligadas a esses princípios quando se refere à importância dos
conhecimentos não escolares e à necessidade de valorização docente.

Finalmente, a estrutura em grade – vertical e horizontal – do sistema traz para a legislação a possibilidade da efetiva
universalização do exercício do direito à Educação ao buscar assegurar às populações marginalizadas ou esquecidas pelo
sistema regular formal de ensino, o acesso a modalidades específicas de educação destinadas ao atendimento de suas
necessidades peculiares.

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Os princípios norteadores da LDB
Neste vídeo, as especialistas respondem a perguntas sobre os princípios norteadores da LDB.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Considerando os aspectos fundamentais estabelecidos pela LDB, a Educação é uma função partilhada entre vários grupos
existentes na sociedade. Sobre a questão de a quem compete a obrigatoriedade da Educação, analise as assertivas abaixo:

I - Nos termos do art. 205 da Constituição Federal de 1988, a Educação, que é um direito de todos, constitui dever tanto do
Estado quanto da família, devendo ser promovida e incentivada por ambos e em colaboração com a sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

II - A obrigatoriedade da família continua expressa no art. 227, mas essa obrigatoriedade é também da sociedade e do
Estado. Ainda de acordo com o art. 227, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

III – A LDB trabalha com a perspectiva de a educação formar a identidade nacional brasileira e, nesse sentido, veda a
possibilidade de fórmulas segregadoras, como a educação inclusiva separada da educação regular, a educação de grupos
étnicos – como índios e negros que têm o direito e o dever de serem inclusos no sistema de ensino regular.
Assinale a alternativa correta:

A Somente I está correta.

B Somente I e II estão corretas.

C Somente I e III estão corretas.

D Somente II e III estão corretas.

E Somente III está correta.

Parabéns! A alternativa B está correta.

As assertivas constituem elementos importantes da LDB, no entanto, em seu princípio de tolerância e reconhecimento da
multiplicidade de formação, rompe com a ideia de amalgamar uma identidade nacional, reconhecendo o direito à
individualidade e a sua garantia. A título de exemplo, podemos falar da questão da entrada na educação infantil e, ainda,
para os grupos que não desejam integração, permite fundamentos e organização próprios em uma modalidade de ensino,
como o da educação do campo ou da educação indígena.

Questão 2

A LDB foi organizada diante de importantes debates intelectuais de educadores brasileiros. De fato, ela é uma demanda
prevista e organizada a partir da Constituição. Partindo desses diálogos, ela tem alguns princípios básicos. As assertivas
abaixo apresentam alguns desses princípios:

I - Nos termos do art. 2º da LDB, a Educação, dever da família e do Estado (art. 205 da CF/88), inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

II - De acordo com o art. 3º da LDB, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios de igualdade de condições
para o acesso e permanência na escola: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte
e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; respeito à liberdade e apreço à tolerância.

III – De acordo com os princípios V, VI e IX, a Educação passa a ser entendida como um bem público, logo, as instituições
privadas de ensino – não gratuitas – não devem possuir fins lucrativos. Essa perspectiva visa garantir a igualdade para
todos os sujeitos.

Assinale a alternativa correta:


A Somente a I está correta.

B Somente a II está correta.

C Somente I e II estão corretas.

D Somente II e III estão corretas.

E Somente III está correta.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O princípio de igualdade – previsto na assertiva III – está correto, no entanto, o seu fundamento não é a garantia de uma
educação gratuita para todos, mas a responsabilidade de assegurar a gratuidade aos que dela precisarem e o acesso à
educação privada aos que por ela se interessarem.

3 - A LDB e o cenário educacional brasileiro


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer, na LDB, os temas mais relevantes do cenário educacional
brasileiro historicamente.
LDB: instrumento político e social
Abordaremos alguns temas específicos que vêm se constituindo como focos de grandes debates entre campos políticos
distintos há muito tempo. São questões polêmicas que atravessam o tempo, e os debates em torno da educação nacional, sua
estrutura e características desembocam sobre problemas mais globais que envolvem:

A própria identidade nacional – como é o caso do ensino religioso;


Os princípios regentes da questão da coisa pública – como a gestão e o financiamento da Educação;
Os princípios e as necessidades da formação docente;
O embate entre a unificação e o respeito à pluralidade nacional, tanto no que se refere a propostas curriculares quanto no que
diz respeito às modalidades de ensino, com especial destaque ao problema da profissionalização e do acesso ao ensino
superior.

Esses diferentes temas perpassam nossa história e estão presentes no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932,
como veremos a seguir.

Comentário
Os temas deste estudo se relacionam aos princípios para a educação pública preconizados pelo Manifesto dos Pioneiros de
1932: laicidade, gratuidade e obrigatoriedade da escola básica – de 7 a 15 anos de idade – além da chamada coeducação, ou
seja, a não separação de meninas e meninos na escola pública.

No documento, propunham seus signatários:

Laicidade

Princípio o qual coloca o ambiente escolar acima de crenças e disputas religiosas, alheio a todo o dogmatismo sectário, subtrai
o educando, respeitando-lhe a integridade da personalidade em formação, à pressão perturbadora da escola quando utilizada
como instrumento de propaganda de seitas e doutrinas.

Gratuidade

Princípio igualitário que torna a educação extensiva a todas as instituições oficiais, em qualquer de seus graus, acessível não a
uma minoria, por um privilégio econômico, mas a todos os cidadãos que tenham vontade e estejam em condições de recebê-la.

Obrigatoriedade
Princípio que estabelece a obrigatoriedade do ensino a todos. Aliás, o Estado não pode tornar o ensino obrigatório, sem torná-lo
gratuito.

Coeducação

Princípio em que assenta a escola unificada e os quais decorrem tanto da subordinação à finalidade biológica da educação de
todos os fins particulares e parciais (de classes, grupos ou crenças), como do reconhecimento do direito biológico que cada ser
humano tem à educação.

A questão do ensino religioso

O ensino religioso está presente nos embates educacionais brasileiros desde antes da Independência. Ainda no século XVIII, um
conflito entre a coroa portuguesa e os jesuítas levou à expulsão destes pelo Marquês de Pombal, tanto de Portugal quanto de
suas colônias.

Embora houvesse outras entidades educadoras no país, era a educação jesuítica e a catequese a ela associada que prevaleciam
no território nacional. A meta dessa educação era efetivamente mais a de recrutar fiéis e servidores para uma Igreja Católica
enfraquecida pela Reforma Luterana.

Assim, missões em comunidades indígenas e escolas foram criadas e atendiam a “curumins” e filhos de colonos que
trabalhavam nas missões e nas regiões nas quais elas se instalavam, dando lugar, posteriormente, a uma educação destinada à
formação das elites nacionais, excluindo as mulheres.

ducação jesuítica
Conforme Almeida (2014), a educação jesuítica no Brasil teve início em 1549, com a Companhia de Jesus, representante da Igreja
Católica, fundada por Inácio de Loyola, em um contexto de reação da Igreja Católica à Reforma Protestante, sendo a protagonista do
início de nossa história educacional, com hegemonia do ensino brasileiro até 1759, quando os padres jesuítas foram expulsos de
Portugal e de suas colônias pelo Marquês de Pombal.

Jogar Capoëra - Danse de la guerre por Johann Moritz Rugendas

Era um ensino desvinculado das características da sociedade brasileira, sem praticidade na formação e sem compromisso com
qualquer tipo de qualificação profissional, desnecessária em um cenário agrícola e escravocrata.

De acordo com Almeida (2014), pode-se dizer que o ensino jesuítico contribuiu para a sistematização da educação na colônia,
educando as elites, excluindo, portanto, os menos afortunados, como mulheres, negros e pobres. A expulsão dos jesuítas, no
entanto, não provocou grandes mudanças nas propostas e práticas educacionais do país, embora estivessem influenciadas pela
adesão do Marquês ao ideário do enciclopedismo europeu.

Esse momento marca, talvez, a primeira ruptura de uma série, que se manifestaria de múltiplas
formas e prossegue até os dias atuais, entre a Igreja e o Estado, o qual assumiu naquele momento,
pela primeira vez, a responsabilidade pela oferta da Educação no Brasil.

Desde então, o embate entre perspectivas de educação centradas em valores da Igreja ou em perspectivas sociais capitaneadas
pelo Estado laico permanece. Entre crises, acordos e oposições entre a visão da Igreja e do Estado em relação à Educação, um
tema turbulento em todo debate educacional legal e político no Brasil, expresso desde o início do período republicano no papel a
ser atribuído ao ensino religioso pela legislação e os modos de sua efetivação num país que tem como princípio a laicidade do
Estado e da Educação.

Comentário
Desde a proclamação da República, o embate vem se expressando em documentos e discussões, ora mais explicitamente, ora
incorporado a temáticas mais amplas, como no caso do Manifesto dos Pioneiros. Na LDB de 1996, muitas mudanças em relação
à oferta do ensino religioso já ocorreram, bem como foi polêmica sua inclusão na BNCC do ensino fundamental em 2017. Essas
variações se relacionam com conflitos presentes na sociedade entre grupos políticos mais progressistas e mais conservadores,
ao mesmo tempo em que refletem a posição das instituições religiosas e igrejas em diferentes momentos da política nacional.

Antigo Colégio dos Jesuítas em Salvador, Bahia

Entre a força dos jesuítas e a educação ligada à catequese que efetivavam a governos populares mais apartados das pressões
religiosas os quais privilegiavam aspectos da formação cidadã na perspectiva da laicidade, muitas foram as formas por meio
das quais a legislação retratou o momento político.

Observemos as três versões da LDB: a Lei n. 4.024/1961, a Lei n. 5.692/1971 e, finalmente e de modo mais atento, as diferentes
versões da Lei n. 9394/1996 para dar consistência ao nosso debate.

Conforme a LDB, embora de oferta obrigatória, o ensino religioso não é financiado pelo Estado e tampouco os docentes são
ligados às escolas. Caberia, nessa perspectiva, às diferentes instituições religiosas indicar – e fica subentendido – e remunerar
os docentes, cabendo à escola pública apenas o papel de recebê-los. Já na reformulação operada na Lei n. 5.692/1971, o ensino
religioso parece perder espaço, sendo enunciado como parágrafo único do artigo 7º, em apenas duas linhas.

No entanto, a ideia de que o ônus não cabe ao Estado desaparece, bem como a responsabilidade das instituições religiosas pela
indicação de docentes e o respeito às diferentes crenças. A primeira impressão de perda de espaço é, portanto, ilusória.
Percebe-se, a partir dessa nova redação, que o Estado se ocupará mais efetivamente dessa oferta, sem abrir espaço para
diferentes crenças, apenas assegurando a liberdade ao aluno de não frequentar as aulas.
arágrafo único do artigo 7º
Parágrafo único. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos
oficiais de 1º e 2º graus.

Já a Lei n. 9.394/1996, quando da sua aprovação, não previa o ônus do Estado pela oferta, nos moldes da Lei n. 4.024/1961. No
entanto, a forte pressão de grupos religiosos logo fez com que o artigo 33 fosse alterado e a obrigatoriedade da oferta do ensino
religioso nas escolas públicas passou a ser financiada pelo Estado a partir da redação dada pela Lei n. 9.475/1997.

Embora a liberdade do aluno em cursar ou não o ensino religioso tenha permanecido e a ideia da pluralidade de crenças esteja
na lei, o crescimento da influência de religiões cristãs sobre o Estado nos últimos anos vem produzindo efeitos sobre as escolas
que, cada vez mais, inserem orações cristãs em suas práticas cotidianas, sem que aos alunos seja efetivamente facultada a
possibilidade de não as frequentar.

Saiba mais
“Na maioria das escolas públicas brasileiras, para passar de ano, os alunos têm que rezar. Literalmente. Levantamento feito pelo
portal QEdu, a partir de dados do questionário da Prova Brasil 2011, do Ministério da Educação, mostra que em 51% dos colégios
há o costume de se fazer orações ou cantar músicas religiosas. Apesar de contrariar a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), segundo
a qual o ensino religioso é facultativo, 49% dos diretores entrevistados admitiram que a presença nas aulas dessa disciplina é
obrigatória. Para completar, em 79% das escolas não há atividades alternativas para estudantes que não queiram assistir às
aulas”. Fonte: Fábio Campana.

Leia o artigo completo Contra a lei, ensino religioso é obrigatório em 49% de escolas públicas, de Fábio Campana, indicado no
Explore Mais.

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Atividade discursiva
Acerca do que falamos sobre o ensino religioso, propomos a seguinte reflexão:

O debate em torno do ensino religioso e do direito dos alunos a não o frequentarem vem ganhando contornos cada vez mais
vivos e polêmicos no cenário social e político. Lendo a notícia a seguir e considerando o que prevê a legislação, como você se
posicionaria diante do fato?

A., de 13 anos, estuda numa escola municipal em São João de Meriti em que o ensino religioso é confessional e a presença nas
aulas, obrigatória. Praticante de candomblé, ela diz sofrer discriminação por parte de três professoras evangélicas, que tentam
convertê-la. Com medo de retaliações, a menina pede que nem seu nome nem o de seu colégio sejam identificados. Segundo
seu relato, é obrigada não só a frequentar as aulas, como também a fazer orações.

Digite sua resposta aqui

Exibir soluçãoexpand_more

A aluna não poderia, nos termos do artigo 33 da LDB, ser obrigada a frequentar a aula de religião, já que a matrícula nessa
disciplina é facultativa. No entanto, sozinha em um ambiente que não assegura seu direito de crença e, com isso, o de não
se matricular no ensino religioso, previsto na Constituição e assegurado na LDB, ela se vê discriminada em função de suas
crenças e obrigada a obedecer à norma local, em confronto com a legislação oficial. A atitude da escola fere a Constituição
e a LDB, mas a inexistência de mecanismos eficientes de proteção ao direito da aluna a obriga a seguir fazendo o que lhe
dizem ser obrigatório.

Estado e família na Educação brasileira


Outra temática, também presente no Manifesto dos Pioneiros e em embates históricos em torno da educação nacional, se
relaciona com os princípios regentes da questão da coisa pública e as obrigações do Estado perante os cidadãos.

Os temas da gratuidade e da obrigatoriedade da Educação e as questões relacionadas ao financiamento e à gestão da educação


pública são, possivelmente, os principais aspectos debatidos nesse embate dos limites e das possibilidades de o Estado
contemplar devidamente sua obrigação de oferta de educação pública de qualidade para todos, financiando-a sem que
entidades privadas se beneficiem dessa verba destinada à Educação.

A preocupação explícita no Manifesto dos Pioneiros com a autonomia financeira do sistema educacional preconizava que:
A autonomia econômica não se poderá realizar, a não ser pela instituição de um "fundo especial ou
escolar" que, constituído de patrimônios, impostos e rendas próprias, seja administrado e aplicado
exclusivamente no desenvolvimento da obra educacional pelos próprios órgãos do ensino incumbidos
de sua direção.

(AZEVEDO et al., 2006)

Apesar desse alerta já em 1932, apenas na Constituição Federal de 1988 ficou explicitado o modo como a educação pública
deveria ser financiada pelo Estado, assegurando menos instabilidade financeira ao Sistema Público de Educação, já que a CF
previu a garantia de verbas para a Educação, entendendo como mínimo necessário 18% do valor arrecadado para a União e 25%
para estados e municípios.

O cálculo desses valores se faz com base na receita resultante dos impostos e das transferências constitucionais, conforme
assinalado no artigo 212 da Constituição. O objetivo oficial dessa normatização é assegurar que municípios e estados mais
pobres não sejam prejudicados em sua capacidade de garantir a oferta de educação de qualidade por falta de verbas.

onstituição
Além disso, no artigo 211, § 1º, da Constituição Federal de 1988 está escrito:

A União organizará o sistema federal de ensino e financiará as instituições de ensino públicas, federais e exercerá, em matéria
educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de
qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.

Posteriormente à LDB, ainda em 1996, foi criado o Fundo Nacional de Financiamento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), ampliado a partir de 2007 ao restante da
educação básica, passando a se chamar Fundo Nacional de Financiamento da Educação Básica e
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). De acordo com informe elaborado por Cleo
Manhães (2019), do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), esses fundos representam uma
tentativa de racionalização do gasto com a educação.

nstituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)


Nas palavras do próprio instituto “No mundo em que vivemos, nada é mais urgente do que a garantia de direitos humanos para
todas e todos. Para isso acontecer, precisamos melhorar processos democráticos, fortalecer cidadãos e movimentos populares e
combater todas as formas de opressão, desigualdade e preconceito.”

Em relação ao problema do subfinanciamento, um dos motivos apontados pela analista é o fato de a União subdimensionar o
custo-aluno para não ser obrigada a repassar os valores não atingidos por estados e municípios, como previsto na normatização
do FUNDEB.

O cálculo do FUNDEB também é feito de acordo com o número de matrícula na educação básica pública de acordo com os
dados do último censo escolar, feito anualmente. Divide-se o montante pelo número de matriculados para se obter o valor por
aluno e em seguida repassar aos Estados e municípios a parte que cabe a cada um. Aqueles que não atingirem o valor mínimo
por aluno deverão ter complementação da União (MANHÃES, 2019, p. 2).

Saiba mais
A transição do FUNDEF para o FUNDEB significou o aumento da complementação da União aos fundos estaduais, de R$492
milhões, em 2006, para cerca de R$14 bilhões, em 2019. [...]

Como sempre houve um subfinanciamento da Educação, ao FUNDEB foram acrescidos novos recursos, como os oriundos do
IPVA, por exemplo, ampliando o financiamento e o número de alunos atendidos, mas não equacionando, ainda, a questão do
subfinanciamento (MANHÃES, 2019).

O debate em torno da destinação das verbas públicas é tão antigo quanto o próprio debate em torno da educação pública. E, no
que se refere à legislação e aos debates públicos, tão oscilante quanto os demais debates tratados neste estudo.

Em diferentes momentos e normatizações, houve impossibilidade de acordo em relação ao tema e aos embates entre grupos
que defendiam a exclusividade de verbas públicas para a educação pública e os que aceitam e defendem o financiamento de
instituições privadas, alegando a prestação de serviço por parte delas, considerado público, devendo, portanto, receber parte da
verba destinada à Educação.
O termo foi seguidamente usado em leis e normas para defender, sem garantir, a destinação das verbas ao sistema público,
sendo defendido por uns e criticado por outros a cada momento.

Em nota recente, o Grupo de Trabalho Estado e Política Educacional da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em
Educação (GT 5 – ANPEd) assume claramente a defesa da exclusividade das verbas públicas para a educação pública.

O GT 5 ANPEd afirma: expand_more

A ANPEd, por meio da atividade de pesquisadores(as) vinculados(as) ao GT 5 – Estado e Política Educacional, tem
desenvolvido inúmeros estudos sobre a relação entre o investimento público em Educação e a diminuição das
desigualdades educacionais, estabelecida como condição para a viabilização do direito humano à Educação. Tal relação
nos levou, historicamente, à defesa não apenas da ampliação do montante de recursos públicos, mas também de sua
destinação exclusiva à escola pública, entendida segundo o art. 19 da LDB.

A transferência de recursos públicos para escolas privadas é uma nódoa histórica do Estado brasileiro que acentua as
desigualdades escolares, efetivando-se tradicionalmente de forma indiscriminada ou clientelista. Apesar de mantida, com
restrições pela Constituição Federal de 1988, fato inédito em nossa legislação, a temática do repasse de recursos
públicos para o setor privado arrefece nos anos seguintes à aprovação da CF/88, mas reaparece sob novas formas,
impulsionada por alterações constitucionais levadas a cabo a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso e
estimulada pela aprovação da EC-95/2016 que fixa um teto para o investimento governamental em despesas primárias.

Na legislação atual, conforme prevê o artigo 213 da Constituição, os recursos públicos podem ser destinados também a escolas
comunitárias, confessionais ou filantrópicas, desde que comprovem não terem fins lucrativos e se comprometam a aplicar
excedentes financeiros em Educação. De acordo com o referido artigo, inciso II, ainda é necessário que, em caso de
encerramento de atividades, destinem seu próprio patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional – ou ao
poder público.

Longe de concluída, como se vê nos debates atuais e nas tantas idas e vindas legais e políticas do tema, a questão do
financiamento da Educação segue mobilizando defensores de diferentes posições, que vão desde a exclusividade de verbas
públicas para a Educação e a escola pública até a defesa do financiamento de escolas e sistemas privados com fins lucrativos.

Em texto esclarecedor sobre essa questão financeira e a relação entre público e privado na educação nacional, afirma-se que:

No plano da legislação ordinária, o artigo 20 da LDB, ao categorizar as chamadas instituições


privadas de ensino, entende que as particulares são definidas, em sentido estrito, como as
escolas instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado,
sem as características das demais escolas privadas, isto é, comunitárias, confessionais e
filantrópicas

(MARTINS, 2005)

São entendidas como confessionais, segundo a LDB, no inciso III do referido artigo, as escolas instituídas por grupos de pessoas
físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem à orientação confessional e ideologia específicas. As escolas
filantrópicas são regidas por lei própria.

As escolas comunitárias, a partir da Lei 11.183, que dá uma nova redação ao inciso II do caput do art. 20 da Lei n. 9.394/96, são
consideradas as instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de pais,
professores e alunos, que incluam em sua entidade mantenedora representantes da comunidade.

Educação e sociedade
O confronto entre a unificação da oferta e o respeito à pluralidade nacional representou, em diferentes momentos de formulação
e implementação de políticas educacionais e legislação que a fundamenta, um sério embate político. Essa discussão aparece e
se expressa no que se refere a:

Programas de inclusão;
Modos de organização do sistema;
Termos de normas nacionais em relação aos currículos escolares em diferentes níveis e modalidades;
Direitos de diferentes segmentos populacionais ao acesso e à permanência no sistema escolar.

Poderíamos tratar de aspectos diversos, como o financiamento público para a educação privada. De um lado busca-se a
excelência em gestão de recursos, atendendo a um púbico mais amplo do que o das instituições públicas, com regras e
burocracias que as deixam menos dinâmicas. De outro lado, essas mesmas instituições alegam não atingir a modernização
necessária por falta de investimento público. O dualismo se materializa em contradição entre a ação necessária da política
pública para atender aos anseios sociais e a necessidade de cumprir o orçamento e as demandas do capital, os quais fazem
parte do Estado e de suas necessidades.

O dualismo permeia a história da educação brasileira. Veja a seguir:


A profissionalização expand_more

O exemplo mais flagrante do dualismo na educação brasileira envolve a questão da profissionalização. Já no texto da
Reforma Capanema, de 1937, fica claro que a escola para as elites deve preparar para o prosseguimento de estudos até
níveis superiores e a escola para as populações menos afortunadas deve se limitar a ensinar o necessário para a
profissionalização rápida e o ingresso no mercado de trabalho. O estudioso Saviani (2008) esclarece: o conjunto das
reformas tinha caráter centralista, fortemente burocratizado: dualista, separando o ensino secundário, destinado às elites
condutoras, do ensino profissional, destinado ao povo e concedendo apenas ao ramo secundário a prerrogativa de
acesso a qualquer carreira de nível superior; corporativista, pois vinculava estreitamente cada ramo ou tipo de ensino às
profissões e aos ofícios requeridos pela organização social.

A chamada Reforma Capanema reformulou a estrutura da escolarização e criou o ensino colegial, que dava acesso às
universidades, paralelamente ao ramo secundário técnico/profissional, com caráter de terminalidade.

A normatização do dualismo expand_more

A LDB 4.024/61 manteve uma normatização dualista a qual não previa – para alunos que frequentaram o ensino técnico,
voltado à formação profissional – a possibilidade de ingresso no ensino superior, especificamente referido como
possibilidade aos concluintes do colegial (atual ensino médio). Talvez surpreendentemente, a Lei n. 5.692/1971 rompe
com esse dualismo em sua estrutura ao prever a unificação, no que passou a ser chamado de segundo grau, entre a
formação propedêutica destinada ao ingresso no nível superior e a formação profissional. Segundo a lei, todos os
estabelecimentos de ensino, públicos e/ou privados, deveriam oferecer simultaneamente formação geral e profissional.
A tentativa de superação do dualismo expand_more

A nova legislação, a partir da fusão entre sistemas antes separados de formação técnica profissional e formação
propedêutica, assume como intenção a superação do dualismo que vigorava na norma anterior. No entanto, ao contrário
do que esperavam os legisladores, a norma foi um fracasso e retirada da lei em 1982, quando foi aprovada a Lei n.
7.044/1982, que desobrigava as instituições de ensino a formar profissionais e a preparar estudantes para o acesso ao
ensino superior simultaneamente.

Concretamente, percebe-se que a lei produziu e aprofundou a legitimação da exclusão dos estudantes que frequentavam
escolas reconhecidas pela qualidade da sua formação profissional, já que essas nunca conseguiram oferecer, em
condições ideais, a formação geral necessária para o ingresso no nível superior.

Os alunos que frequentavam o segundo grau técnico continuaram a ter dificuldade de ingressar nas faculdades e
universidades, porque não obtinham notas suficientemente altas para alcançar as vagas pretendidas, as quais
continuaram sendo ocupadas pelos estudantes provenientes das escolas de excelência em formação geral. Essas, por
sua vez, jamais conseguiram formar dignamente profissionais de nível médio, mas isso não era um problema,
considerando que a meta das elites era o ingresso na universidade. A partir de 1982, então, voltamos a ter o mesmo
problema antes observado, de um dualismo, que se não era mais oficial, permanecia ativo e produzindo a exclusão das
classes trabalhadoras do nível superior.

LDB em constante construção


A partir deste momento, veremos as constantes alterações e reformulações que sofreu a LDB. Observe os assuntos a seguir:

Investimento em modelos técnicos

Fernando Henrique Cardoso

A partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), manteve-se um foco
sobre a necessidade do investimento em modelos técnicos, como política pública relativa à exclusão e à necessidade de entrada
rápida no mercado de trabalho, mas sem reduzir o estudante ao seu ofício, segregação clássica e já experimentada nos modelos
tecnicistas.
As fórmulas mantiveram o dualismo: o primeiro criava centros estaduais e estimulava seu fomento pelo Ministério de Ciência e
Tecnologia, mas também abria linhas de investimentos para o ensino privado criar condições de graduações “rápidas” e cursos
tecnólogos que permitissem a entrada no mercado de trabalho.

Os Institutos Federais

O governo Luís Inácio mudou isso, com a criação de Institutos Federais – substituindo e ampliando a antiga rede herdada de
períodos da ditadura civil-militar –, mas também utilizou a rede privada para a criação de programas como o PRONATEC,
entendendo a dificuldade de promover o número de formações necessárias.

Não viveu o dualismo de separar os estudantes entre profissionais e intelectuais, mas manteve a contradição em relação a
investimento público em espaços privados.

Luís Inácio Lula da Silva

A reforma do ensino médio

Dilma Rousseff

Sem ter logrado grande sucesso, já que o ensino médio continuou sendo um problema relevante na educação brasileira, por
diferentes motivos e dificuldades de constituição de uma identidade formadora, voltada pra terminalidade ou para a
continuidade dos estudos, em 2017 – após discussão feita ao longo do governo Dilma Rousseff (2011-2016) – foi aprovada uma
ampla reforma do ensino médio, promovendo muitas mudanças na LDB, expressa em detalhes na Lei n. 13.415/2017.

O governo Michel Temer e suas alterações


Em 2018, a LDB foi alterada pelo presidente Michel Temer, que, com a Lei n. 13.632, apresentou a ideia de Educação ao longo da
vida e a educação especial ofertada ainda na educação infantil.

Michel Temer

As atualizações de 2019

Em 2019, o presidente Jair Messias Bolsonaro alterou a LDB sancionando quatro leis que versam sobre:

A escusa de consciência, prestações alternativas à aplicação de provas e à frequência a aulas realizadas em dia de guarda
religiosa com a Lei n. 13.796, de 3 de janeiro de 2019;

Jair Messias Bolsonaro

A notificação obrigatória de faltas escolares ao Conselho Tutelar quando superiores a 30% (trinta por cento) do percentual
permitido com a Lei n. 13.803, de 10 de janeiro de 2019;

A divulgação do resultado de processo seletivo de acesso a cursos superiores de graduação com a Lei n. 13.826, de 13 de maio
de 2019;

A inclusão de disposições relativas às universidades comunitárias com a Lei n. 13.868, de 3 de setembro de 2019.

A reforma do ensino médio recriou o dualismo no nosso sistema educacional de uma forma particularmente perversa ao
preconizar a formação de nível médio por meio de itinerários formativos que subtraíam dos currículos obrigatórios um sem
número de conhecimentos necessários ao ingresso no ensino superior. Definia-se a profissionalização como um desses
itinerários, a serem supostamente escolhidos pelos alunos, mas definidos pelos sistemas de ensino de acordo com as suas
possibilidades de oferta, levando o estudante, com apenas 15 anos de idade, a escolher se estudaria ciências exatas, humanas,
ou naturais.

Saiba mais
Não deixe de conferir as leis n. 13.415/2017, n. 13.632/2018, n. 13.796/2019, n. 13.803/2019, n. 13.826/2019, n. 13.868/2019
indicadas no Explore Mais ao final deste estudo.

Aspectos da inclusão na LDB

Ainda é necessário citar, no que se refere a esse dualismo na educação brasileira, o problema que envolve a educação de jovens
e adultos e a educação inclusiva. Essas duas modalidades vêm buscando assegurar o direito à educação plena aos seus alunos,
lutando desde tempos imemoriais para garantir àqueles que precisam frequentá-las o direito de acesso e de permanência no
sistema de ensino com o devido alcance aos conhecimentos aos quais têm direito.

Seja para o prosseguimento dos estudos ou para uma formação mais completa, o direito de aprender dentro dos seus ritmos e
das suas possibilidades não vem sendo respeitado, já que, com frequência, não lhes são oferecidas as condições mínimas para
seguir. Nesses casos, não se trata mais de mero dualismo, mas de um processo de reprodução ad infinitum de uma exclusão
vivida, no caso da EJA, pelo não acesso ou não respeito aos ritmos de aprendizagem dos estudantes que a procuram e dela
necessitam, e no caso da educação inclusiva, pela exclusão social de deficientes, independentemente das suas possibilidades,
capacidades e necessidades de aprendizagem.

Nem a LDB, nem a legislação complementar têm sido capazes de superar esses problemas, incrustados em nossa sociedade e,
por isso, difíceis de enfrentar.

Durante este estudo, vimos muitos pontos relevantes:

Ensino Religioso expand_more

Vimos que a sociedade brasileira é marcada pela influência da Igreja no Estado e, portanto, no sistema educacional.
Assim, vivenciam-se no país dificuldades e problemas na implantação de uma educação laica, apesar de ela estar
prevista na Constituição e na própria LDB. Um dos problemas enfrentados atualmente em relação ao tema é o da
crescente influência de religiões conservadoras e excludentes no país, as quais vêm conseguindo impor seus valores e
mesmo suas práticas de oração ao sistema educacional. Com isso, imensas camadas sociais praticantes de outras
religiões, desqualificadas, desvalorizadas e mesmo não reconhecidas como legítimas, ou ainda famílias que optam por
não oferecer aos seus membros educação vinculada a qualquer tipo de religiosidade, são desrespeitadas nos seus
direitos à educação laica, pública e gratuita de qualidade.

Fianciamento da Educação expand_more


Vimos, também, o embate que envolve a problemática do financiamento da Educação e mais uma vez percebemos a
impossibilidade do Estado brasileiro de assumir em sua plenitude a sua obrigação de oferecer educação pública para
todos, financiando o sistema público sem privilegiar segmentos sociais mais abastados ou mesmo investidores em
Educação que buscam, muitas vezes de forma velada, valorizar o seu capital e gerar lucro por meio de oferta
educacional. Mesmo nos casos de filantropia, são pontos de vista parciais e situados em interesses de determinados
grupos sociais, resultando no recebimento de verbas que deviam ser destinadas às escolas as quais buscam o interesse
público mais amplo, como é o caso da escola pública.

Educação para todos expand_more

Ainda vimos o polêmico tema da Educação para todos, do direito de todos à Educação e à aprendizagem foi discutido na
última parte deste estudo quando tratamos do dualismo existente, desde o Império, na oferta da educação brasileira para
ricos e pobres.

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Polêmicas e dualidades nas políticas educacionais brasileiras
Neste vídeo, as especialistas respondem a perguntas sobre polêmicas e dualidades da educação brasileira: ensino religioso,
financiamento da educação pública e privada e propostas curriculares.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Como podemos analisar o embate entre público e privado existente no quesito financiamento da Educação em relação às
dificuldades que o Estado brasileiro enfrenta no cumprimento de seu dever de assegurar a universalização do acesso à
educação pública, gratuita e de qualidade?

O uso de verbas públicas para instituições privadas, mesmo limitado a instituições sem fins lucrativos,
A compromete o financiamento da educação pública e a necessária ampliação da oferta até que se possa ter
100% das crianças e adolescentes do país em escolas.

A coexistência de instituições públicas e privadas, que contribui para assegurar a pluralidade pedagógica e
B amplia o direito de escolha das famílias, não pode servir de argumento para a precarização ou redução da
oferta da educação pública e gratuita de qualidade.

A escola pública é para todos e sua complementação por oferta de educação privada deve ser tão somente
uma opção para os que a desejam. Assim, o uso de verbas públicas para a educação privada só deveria ser
C
considerado depois que o Estado tiver assegurado, em todos os níveis e modalidades, o acesso de todos à
educação pública e gratuita de qualidade, conforme preconizado na Constituição e na LDB.

Do ponto de vista da política pública, o uso de verbas da Educação para a iniciativa privada é o Estado
D terceirizar suas obrigações, passando-a a instituições privadas, oferecendo vagas que as instituições
públicas não conseguiriam.

A escola pública visa a complementação da oferta da educação privada. Neste sentido, a modalidade
E principal de educação é a privada. Assim, o uso de verbas públicas é diminuído em todos os níveis e
modalidades.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A possibilidade de o Estado intervir financeiramente nas instituições educacionais, enquanto as instituições públicas
apresentam dificuldades de manutenção, ao mesmo tempo que visa à ampliação do número de vagas e ao controle de
custos dessas instituições, enfraquece a possibilidade de investimento em instituições públicas, as quais indicam não ter
mais vagas por sucateamento.

Questão 2

São questões importantes, mas consideradas controversas na LDB 1996, as temáticas a seguir:

I. A isonomia, em uma proposta de educação igualitária e que permita a todos os que estejam em uma escola ter o mesmo
nível de informação e profundidade.

II. A gratuidade, uma vez que todos os cidadãos brasileiros têm direito à educação básica de forma gratuita e universal,
ainda que por opção o aluno possa seguir por instituição privada de ensino.

III. O ensino religioso previsto na LDB é uma questão complicada, pois ela se afirma laica como princípio fundamental para a
Educação, logo, seria possível debater teologia, e não religião.
IV. A questão do financiamento da educação pública, que permite parcerias com o setor privado, mas isso é visto como uma
contradição pela adoção de gastos públicos na manutenção de setores privados.

Estão corretas as afirmativas:

A I e II.

B I e III.

C III e IV.

D II e IV.

E I e III

Parabéns! A alternativa D está correta.

As questões de isonomia não se referem à ideia de um padrão máximo de conteúdo; o máximo são parâmetros e bases
para que as autonomias locais se manifestem. O ensino religioso é polêmico, mas a questão não é curricular, é de princípio
– laicidade ou não como fundamento.

Considerações finais
O estudo da LDB nos levou a inserir a legislação educacional nos diferentes contextos sociais e políticos em que ela se inscreve
e nos modos de expressão legal que, em cada momento, tocou o tema da Educação. Assim, estudamos as Constituições
nacionais, outorgadas nos momentos de caracterização autoritária dos governos, e promulgadas quando gestadas por meio de
processos mais democráticos. Buscamos elencar os modos como encararam a questão da Educação e o espaço a ela dedicado,
percebendo variações, ênfases e compreensões distintas do fenômeno.

Um exame da LDB vigente foi apresentado e, posteriormente, um estudo mais detalhado dos principais aspectos dessa lei, em
seus princípios, finalidades e propostas mais relevantes. Neste estudo, tratamos de analisar a LDB em sua relação com a
Constituição para, posteriormente, nos dedicarmos a um estudo dos princípios e daquilo que significam em termos de garantias
legais e de tendências educacionais, assegurando a pluralidade de ideias, de conteúdos e de métodos pedagógicos, respeito aos
conhecimentos de alunos e de professores bem como valorizando a carreira docente.
Quanto aos modos de organização do sistema educacional, pudemos ver como a articulação entre os níveis e as modalidades
de ensino previstos buscam cobrir diferentes necessidades, interesses e possibilidades de variados grupos sociais do país,
procurando viabilizar a inclusão de todos para uma efetiva universalização do exercício do direito à Educação pelo conjunto de
membros da sociedade brasileira.

A terceira parte deste estudo procurou mostrar a importância e a complexidade dos assuntos aos quais ele se dedica, a
relevância social dos debates que os envolvem e, portanto, a urgência desse mergulho mais profundo nas discussões nele
elencadas. O que precisamos guardar e aprender com este tema é a necessidade de compreensão da complexidade social de
um país de dimensões continentais, como é o Brasil, com tantas diferenças sociais, culturais e políticas, as quais reverberam no
sistema educacional.

headset
Podcast
Para encerrar, ouça as pontuações sobre as mudanças históricas nas Constituições e como elas influenciaram as políticas
educacionais.

Referências
ALMEIDA, W. R. A. Educação jesuítica no Brasil e o seu legado para a educação da atualidade. In: Revista Griphos, n. 36/37,
2014, p. 117-126.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO. Nota do GT 5 sobre o financiamento da Educação.


ANPEd. Consultado na Internet em: 24 maio 2020.

AZEVEDO, F. et al. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932). In: Revista HISTEDBR Online, Campinas, n. especial,
p.188–204, ago. 2006.

AZEVEDO, F. et al. Manifesto dos educadores: mais uma vez convocados (1959). In: Revista HISTEDBR Online, Campinas, n.
especial, p.205–220, ago. 2006.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Brasília, 1988.

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BRASIL. Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União. Brasília: 1967.

BRASIL. Emenda Constitucional (1969). Emenda à Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Diário Oficial da
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BRASIL. Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União.
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BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União.
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CURY, C. R. J. Ideologia e educação brasileira: católicos e liberais. São Paulo: Cortez e Moraes. 1978.

FAVERO, O. (Org.). A Educação nas Constituições Brasileiras, 1823-1988. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2005.

LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

LOPES, E. M. T.; FARIA FILHO, L. M.; VEIGA, C. G. 500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

MANHÃES, C. Entenda como funciona o financiamento da educação básica no Brasil. Instituto Nacional de Estudos
socioeconômicos. Brasília: INESC, 2019.

MARTINS, V. O público e o privado na educação brasileira. In: Revista Direitonet, 2006. p. 1-11.

NERY JÚNIOR, N. Teoria geral dos recursos. 7. ed. São Paulo: RT, 2014.

ROMANELLI, O. O. História da Educação no Brasil. 40. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2008. 474p.

Explore +
Para aprofundar seus conhecimentos neste tema, sugerimos as seguintes leituras:

Plano Nacional de Educação – Lei n. 13.005/2014;

LDB: o processo de tramitação, publicado no periódico Educação em Revista, n. 11, Curitiba, jan./dez, 1995.

A Lei da Educação – LDB: trajetória, limites e perspectivas, de Demerval Saviani, Campinas: Autores Associados, 2008.

O vigésimo ano da LDB – As 39 leis que a modificaram, de Demerval Saviani, publicado na Revista Retratos da Escola,
Brasília, v. 10, n. 19, p. 379-392, jul./dez. 2016.

Laicidade, ensino religioso e religiosidade na escola pública brasileira: questionamentos e reflexões, de Gabriela Valente,
publicado em Pro-Posições, v. 29, n. 1, Campinas, jan./abr. 2018.
Sobre financiamento, além dos documentos citados sobre FUNDEF e FUNDEB, recomendamos a leitura de textos produzidos
por especialistas do campo, notadamente os professores Nicholas Davies e José Marcelino de Rezende Pinto, disponíveis
online. Buscando pelos seus nomes, artigos que sejam de seu interesse podem ser acessados.

Nos sites de entidades de educadores, como a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), a
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) e a Academia Brasileira de Direito Civil (ABDC),
há documentos produzidos em torno das relações entre a LDB e alguns de seus temas principais, tocando, inclusive, no
problema da formação e da valorização docente e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dos ensinos fundamental e
médio.

Contra a lei, ensino religioso é obrigatório em 49% de escolas públicas, de Fábio Campana.

Consulte também as leis que alteraram a LDB:

Lei n. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.

Lei n. 13.632 de 06 de março de 2018.

Lei n. 13.796, de 3 de janeiro de 2019.

Lei n. 13.803, de 10 de janeiro de 2019.

Lei n. 13.826, de 13 de maio de 2019.

Lei n. 13.868, de 3 de setembro de 2019.

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