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Como devemos entender a História? – Rushdoony


Willian Po rto

O seguinte artigo f az parte do Livro, que estamos


traduzindo, “Filosof ia do Currículo Cristão” de R. J.
Rushdoony. Para acessar clique aqui.

Cada vez é mais evidente que nas escolas do século


vinte o ensino da História cedeu terreno ao conceito da
ciência social, ou melhor, f oi radicalmente inf ectada por
tal conceito. O enf oque das ciências sociais à História, ou
a qualquer campo de estudo, está governando por duas
premissas básicas. Primeiro: a História e a sociedade
devem ser estudadas cientif icamente, quer dizer,
considerações nos termos naturalistas, sem ref erência a
Deus nem a nenhuma lei eterna. Esta metodologia requer
f orçosamente, em última instância, uma f ilosof ia
materialista da História. A pressuposição desta
metodologia é anticristã. Nega-se Deus na História, a
ponto de negar um propósito e um sentido cristão da
mesma. A f orça motriz da história só pode vir de dentro
da história. Segundo: visto que o método científ ico dá
importância primordial ao experimento, uma sociedade
científ ica deve ser um experimento de planejamento científ ico. Já que na
experimentação os controles são f undamentais para produzir resultados válidos, a
meta das ciências sociais é uma sociedade totalitária, já que a liberdade é destrutiva
para o planejamento e engenharia humana.

Portanto, as ciências sociais são hostis à liberdade em qualquer sentido cristão histórico. A
liberdade não tem lugar no laboratório da sociedade. Portanto, a História ensinada como ciência
social é a história da batalha do homem para liberar a si mesmo de Deus e da superstição, e de se
encontrar nos termos da ciência, em independência de Deus e do céu, e para viver a vida nos
termos centrados exclusivamente neste mundo. Os modernos textos de história estão escritos
como a história da evolução do homem em sentido ascendente até o mundo libertador da ciência.

De modo que, um texto de História particularmente bem escrito para o tema de História Universal na escola
secundária apresenta-se aos estudantes por meio da declaração: “Preparar uma mala para realizar uma
viagem é mais divertido do que encher uma caixa de lixos para logo guardá-los. Quando se prepara para
viajar, você deve ter um propósito”. Então, qual é o propósito da História Universal? “Os cursos que têm na
escola são parte do equipamento que prepara para a viagem mais importante de todas – sua vida”.
Ref erindo-se, especif icamente, à História Universal, diz: “Este curso analisará a marcha da humanidade
desde os tempos mais remotos até o presente e aprenderá sobre os grandes triunf os e tragédias da
humanidade. Em outras palavras, f ará que a experiência humana esteja a sua disposição [1]“. Para os
autores, não há leis além do homem, a autonomia do pensamento crítico é uma noção básica, e a única
f onte de lei é o homem. Uma das conclusões do livro é uma declaração resumida sobre a lei. Os Dez
Mandamentos são vistos a partir de uma perspectiva humanista, projetados para proibir “atos que
estenderiam a discórdia no grupo”. Ee princípio, “cria-se que todas as leis eram mandamentos ou
revelações divinas”. A era moderna muda isso.

Mais tarde, com o crescimento da democracia, as pessoas escolheram seus próprios


governadores, governadores que derivavam “seus justos poderes do consentimento dos
governados”. De modo que, as leis de um Estado converteram-se na expressão da vontade e
da consciência coletiva dos cidadãos. Mas o propósito mais elevado da lei e da religião seguiu
sendo o mesmo: promover o bem-estar, a harmonia e a cooperação dos homens na sociedade
[2].

Este “mais elevado propósito da lei e da religião” é o humanismo da maneira mais clara e óbvia. De f ato, os
escritores não vêem outro propósito. No Manuel do Prof essor, apresentam-se de maneira detalhada e
clara os “Objetivos atualizados do curso de História Universal do currículo secundário”, para que o
prof essor não deixe de entender e ensinar em termos deste humanismo básico:

1.Compreender que os muitos tipos de problemas que a Humanidade Enfrenta persistiram ao


longo de muitas eras em várias culturas.

2. Dar-nos conta de que o ritmo da mudança nos diversos assuntos humanos aceleraram-se
ao longo da história, o que é exemplificado de maneira vívida pelas mudanças nos séculos
dezenove e vinte.

3. Apreciar que os esforços cooperativos de grupos cada vez maiores fizeram avançar a
civilização, e que a ruptura da cooperação e a desunião resultante foram retrocessos na
história da Humanidade.

4. Entender o significado do controle crescente que o homem exerce sobre seu ambiente- os
enormes benefícios, as grandes responsabilidades e os graves perigos.

5. Conhecer e entender o desenvolvimento de outras nações e regiões do mundo com as quais


temos, agora, um contato próximo, para poder contar com uma valorização mais completa dos
problemas do mundo contemporâneo.

6. Ter recursos para entender as decisões que nosso governo deve tomar na atualidade e que
afetaram todas as partes do globo.

7. Valorizar a capacidade de resistência que a Humanidade teve que desenvolver para poder
alcançar sua condição atual. [3]

Deve-se mostrar que este livro didático é muito mais conservador que a maioria, em sua perspectiva
política, ainda que a sua perspectiva é de um claro intervencionismo tanto político como econômico [4].
Contudo, os livros didáticos seculares, sejam conservadores ou radicais, estão de acordo em seu
humanismo básico. Para Haines, o mesmo que para todos os outros escritores de livros didáticos
estatistas, o homem f az a História. A determinação primordial encontra-se na mão do homem, para bem ou
para o mal.

A partir da perspectiva bíblica, Deus é quem determina a história. O jovem ref ormador Marinho Lutero
ref letiu nos eventos que estava envolvido e declarou:

Somente Deus está neste assunto; nós somos tomados – de modo que vejo que atua sobre
nós em vez de ser nós que atuamos [5].
Mais tarde, ao se ver vinte anos atrás, novamente af irmou que tudo tinha acontecido pelo conselho divino.
Para Lutero, a História é obra de Deus. O excelente resumo de Headley da visão da História por parte de
Lutero, apresenta com claridade a posição bíblica:

Com sua convicção d eque Deus é o fundamento da causa histórica, Lutero se localiza na
tradição de Paulo e Agostinho; somente Deus podia ser encontrado como a raiz de todos os
eventos temporais. Ao mesmo tempo, a posição teocêntrica o separa da percepção da história
moderna. Esta diferença não se limita ao problema de causa-efeito em suas duas implicações
imediatas: que toda ação que vem de Deus mantem a unidade e o significado à História, e
segundo, porque o homem é o instrumento de Deus é negado o luxo de ser um espectador.
Atua de maneira constante sobre o homem e ele mesmo serve como um cooperador nesta
ação. Esta contínua atividade de Deus impulsa ao homem para uma cooperação contínua na
História. Em tal situação não pode existir uma história morta nem pode existir um escape da
mesma. [6]

Estas duas perspectivas são mutuamente excludentes: ou Deus é Deus, ou o homem é Deus, e a história é
basicamente obra de Deus ou é do homem. A ensinança cristã da História não pode continuar estática
entre estas duas opiniões. A História não é uma ciência social; é uma ciência teológica, pois é um aspecto
da criação de Deus.

A visão cristã da História, como apareceu no princípio, olhava ao mundo f ora de cristo como submergido
em escuridão. Os cristãos estavam plenamente conscientes dos êxitos das culturas antigas, mas também
estavam intensamente conscientes de suas degenerações e sua obstinada rebelião contra Deus. Como
resultado, a historiograf ia cristã qualif icou todo o que se encontrava f ora de Cristo como “a era escura”.
Petrarca eliminou o termo “Era do Obscurantismo” dos tempos clássicos e pré cristãos para designar com
este título os mil anos do cristianismo [7]. O Renascimento e o seguinte humanismo aceitaram
alegremente este termo e, ainda que posteriormente limitou os séculos assim designados, o humanismo
se agarrou basicamente em um conceito do cristianismo no qual o qualif icava como obscurantismo. O
humanismo e a ciência chegaram a identif icar-se com a luz, de modo que, somente com a chegada do
século dezenove, do amanhecer do Darwinismo e da educação secular, chegou a ser vista de maneira clara
e com méritos próprios.

A pergunta é, naturalmente, o que é que constitui a luz e em que consiste a obscuridade? Se trata-se da
tecnologia, os engenheiros da antiguidade, f requentemente, eram extremamente habilidosos neste
aspecto [8]. Mas o que estava em jogo era muito mais que isto no conceito da “luz”. A “Idade Média”
destacou-se com não pouco progresso social e gênio arquitetônico, e a era anterior f oi testemunha de um
visível f lorescimento do gênio inventivo e sua aplicação [9]. Mas, para a mente moderna, a chave para a
“luz”, para a verdadeira historiograf ia, é a secularização da História nos termos da autonomia do
pensamento crítico. “Luz” signif ica incredulidade; a reação dos educadores ante a cultura “hippie” é mais
f avorável do que f rente ao cristianismo ortodoxo. O anticristianismo, em cada uma das suas f ormas é
visto como um aspecto da “luz”, enquanto que a f é bíblica signif ica “a era do obscurantismo”.

A Educação Cristã não pode ver a era moderna segundo sua própria luz. Deve ser vista como uma era
obscura, um período de crescente incredulidade no Deus das Escrituras, um tempo que se destaca pelo
crescimento do estatismo e do totalitarismo, uma era de uma escravidão algumas vezes cômoda, mas que
segue sendo escravidão, depois de tudo.

O ef eito do pensamento evolucionista sobre a historiograf ia f oi muito grande. Um de seus produtos


principais é a teoria do desenvolvimento por etapas. Variações desta teoria aparecem em uma variedade de
pensadores, como Marx, Spengler e Voegelin. As variadas etapas do desenvolvimento histórico se
distinguem por um “salto no ser”, ou por uma nova f ase da lei como a lei atual de seu ser, ou pelas
limitações orgânicas de uma etapa particular de crescimento. Em vez de existir uma lei objetiva, existe uma
lei imanente que é uma expressão do movimento histórico. O f eudalismo f uncionou porque f oi uma
expressão daquela etapa de desenvolvimento, e o capitalismo f uncionou como lei de outra etapa no
desenvolvimento do homem, e nenhuma lei global governa todas as coisas, exceto a mudança estabelecida
como premissa no materialismo dialético ou em alguma f ilosof ia associada. Toda sociedade está no
“correto” nos termos de sua própria etapa de desenvolvimento. Deste modo, Claude Levi-Strauss, um
antropólogo f rancês, declarou: “Um povo primitivo não é um povo retrógrado nem atrasado; de f ato, pode
possuir um gênio para a invenção ou ação que deixe muito atrás os f eitos dos povos civilizados”. A
premissa básica deste erudito é uma negação do conceito da verdade, e isto é algo que gosta nas
sociedades selvagens. “O que o homem primitivo busca por cima de tudo não é verdade, mas coerência;
não a distinção científ ica entre o verdadeiro e o f also, mas uma visão de mundo que satisf aça sua alma
[10]“. O Cristianismo pode estar de acordo que o selvagem não é um ser primitivo; ele é, como todos os
homens, um f ilho de Adão. Seu problema não é seu primitivismo, mas sua degeneração. Igualar culturas
cristãs com as da Áf rica, e exigir um apreço pelo passado e presente da Áf rica, como f azem muitos livros
didáticos, incluindo o de Bruunes-Haines, é pedir que aprovemos e aceitemos a degeneração. Tal enf oque
converte a Áf rica, em vez de campo missionário necessitado da graça salvadora de Deus, em uma cultura
irmã de igual dignidade e caráter. Aceitar esta premissa é negar o cristianismo. De f ato, é claro que a
evidente universalidade da aceitação, por parte de Levi-Strauss, é uma negação da civilização cristã e do
conceito da verdade, como é apresentada com clareza em sua obra Tristes Tropiques [11]. Ao elogiar a
seus selvagens, Levi-Strauss está condenando a cultura cristã e seu interesse na verdade.

Em cada uma de suas f ormas, a teoria do desenvolvimento por etapas é relativista, e quanto mais se
desenvolve este conceito, mais radicalmente o governa seu relativismo. Levi-Strauss simplesmente levou
suas pressuposições marxistas e existencialistas até sua conclusão lógica.

De modo que, como vimos, primeiro: para a historiograf ia cristã, a história não é uma ciência social, mas
uma ciência teológica. Segundo: é uma ciência teológica porque Deus, não o homem, é o Senhor soberano
de toda a Criação. Terceiro: portanto, as eras obscuras da história são as eras não cristãs, pois Jesus
Cristo é a luz do mundo. Assim o critério básico da luz é Cristo, não a ciência. Quarto: a historiograf ia cristã
se baseia no conceito básico da verdade absoluta, uma verdade pessoal, Jesus Cristo, de modo que é
hostil ao relativismo histórico. Sua atitude com as culturas pagãs não é uma atitude de apreço, mas de
evangelismo. O cristã deve se opor ao ensino projetado para impulsar a irmandade do mundo nos termos
humanistas. Seu padrão segue sendo: não de apreço, mas sim de evangelismo.

Quinto: para o historiador e o prof essor cristã, o livro didático básico é a Bíblia. A história é vista a partir de
sua perspectiva. Além disto, a Bíblia nos dá a cronologia válida para a história antiga. Todo o Antigo
Testamento nos brinda com um registro meticuloso, preciso e extenso de genealogias que são parte do
texto inspirado e inf alível. Necessitamos recordar esse f ato, pois a tendência em subestimar ou passar por
alto nas genealogias é muito grande. Mas elas nos dão, simplesmente, uma cronologia da história do
mundo. Philip Mauro mostrou há alguns anos:

Em outras palavras, se assumimos que o tempo de vida da humanidade foi algo menor que
seis mil anos (e não há evidência em favor de um período maior da experiência humana) então
teremos o extraordinário fato de que para quase três quintas partes de todo período não há
nenhuma informação cronológica de nenhuma classe, exceto na Bíblia; enquanto que, por
outro lado, durante esse mesmo período (que em outros registros, quanto à cronologia, é um
perfeito espaço em branco) a cronologia da Bíblia é a mais definida e completa [12].

Não podemos ensinar a crença na Bíblia se deixamos de tomar-la seriamente cada um de seus aspectos. A
Bíblia não provê meramente uma cronologia da História, mas também o signif icado, propósito e direção da
mesma. A história é governada, não pela “onipotência da crítica” ensinada pelos f ilósof os f ranceses [13],
mas pela onipotência do Deus trino. Esta não pode ser entendida separada d’Ele e de Sua palavra.

1 - Geof f rey Bruun y Millicent Haines: T he World Story [A História do Mundo], p. 3. Boston: D. C. Heath,
1963.

2 - Ibid., p. 582.

3 - Millicent Haines: Teacher’s Manual to Accompany Bruun-Haines T he World Story [Manual do


Prof essor para o livro didático de Bruun-Haines, A História do Mundo], p. 2. Boston: D. C. Heath,
1963.

4 - Ibid., p. 79s.

5 - John M. Headley: Luther’s View of Church History [A visão de Lutero sobre a História da Igreja], p. 1.
New Haven: Yale University Press, 1963.

6 - Ibid., p. 1s.

7 - Peter Gay: T he Enlightenment, p. 74.

8 - L. Sprague De Camp: T he Ancient Engineers [Os Engenheiros da Antiguidade], Garden City, New York:
Anchor Books, 1960.

9 - William Carroll Bark: Origins of the Medieval World [As Origens do mundo Medieval], Garden City, New
York: Anchor Books, 1960.

10 – “Man’s New Dialogue With Man” [“O novo diálogo do homem com o homem”], Time, 30 de Junio, 1967,
vol. 89, no. 26, p. 34s

11 – Traduzido por John Russell com quatro capítulos omitidos, Claude Levi-Strauss: A Wor on the Wane
[Um mundo em decadência], New York: Criterion Book, 1961.

12 – Philip Mauro: T he Wonders of Bible Chronology [As maravilhas da cronologia da Bília], p. 4. Swengel,
Pennsylvania: Bible Truth Depot, 1961 Mauro baseou-se, basicamente, na obra de Martin Anstey: T he
Romance of Bible Chronology [O Romance da Cronologia Bíblica], 2 v (Londres: Marshall Brothers,
1913). Alf red M. Rehwinkel segue a Septuaginta para proporcionar uma data mais antiga para a criação;
cf . T he Age of the Earth, Chronology of the Bible [A Idade da Terra, A cronologia da Bíblia];Adelaide, South
Australia; Lutheran Publishing House, 1966. Para a cronologia dos reis hebreus, cf . Edwin R. T hiele: T he
Mysterious Numbers of the Hebrew Kings [Os números misteriosos dos Reis Hebreus], Grand
Rapids: Eerdmans, edição revisada, 1965.

13 – Peter Gay: T he Enlightenment, p. 145

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