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GRANDE DO SUL
Por fim, agradeço ainda a todas e todos colegas, que de um modo ou de outro,
completaram o ambiente acadêmico, propiciando um espaço e um tempo que
certamente deixarão boas lembranças e eternas saudades.
"A História é tão pródiga, tão generosa,
que não só nos dá excelentes lições sobre
a actualidade de certos acontecidos
outrora como também nos lega, para
governo nosso, umas quantas palavras,
umas quantas frases que, por esta ou
aquela razão, viriam a ganhar raízes na
memória dos povos.” – José Saramago
RESUMO
Este estudio tiene como objetivo analizar las contribuciones de la ley romana, a la
formación del derecho internacional. Por lo tanto, se traza, en un principio, en breves
notas, la historia temprana de la ciudad-estado de Roma y sus tres períodos históricos,
a saber, el período real, republicano e imperial. Para identificar se lleva a cabo una
posible fuente de derecho internacional en la cultura jurídica romana, a continuación,
el estudio de la universalidad del derecho romano, la identificación, desde entonces,
en las referencias preliminares, algunos de los fundamentos de derecho internacional
reconocidos en el derecho romanístico. El universalismo es un punto clave para
entender cómo la ley existente en el mundo romano de la antigüedad romana clásica
es crucial para el surgimiento del derecho internacional de nuestro tiempo. En este
sentido, el universalismo del derecho romano tiene básicamente dos aspectos: el
chamado ius gentium y el chamdo ius fetiale. Por último, el texto está dedicado a la
exposición de la génesis del derecho internacional estrictamente desde las
expresiones del ius gentium fetiale y ius, demostrando que ambos constituyen
verdaderos embriones del derecho internacional contemporáneo.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
8
INTRODUÇÃO
O primeiro capítulo deste trabalho foi desenvolvido para dar uma noção
histórica da Roma Antiga. Nesse sentido, traça um panorama da história romana
relacionada ao período da antiguidade clássica. Em breves colocações são
esboçados os três estágios da história da Roma Antiga, consensualmente
estabelecidos pelos historiadores, o Período Monárquico, o Republicano e o Imperial.
Dessa forma, poderá o leitor se posicionar historicamente e ver em que contexto o
Direito Romano surgiu e se desenvolveu.
O trabalho destaca, por fim, as contribuições do jus fetiale e do jus gentium para
o atual Direito Internacional e, em consequência, reafirma a importância do estudo do
Direito Romano para a compreensão do Direito Internacional moderno e sua vocação
universalista, em especial num mundo cada vez mais integrado e globalizado.
10
Roma teve sua origem numa planície da atual Itália, conhecida como Lácio.
Giordani (1998, p. 28), falando da região que foi palco do nascimento da urbs1 romana,
explica que o Lácio “[...] é uma pequena planície limitada ao sul pelos montes Albanos,
a leste pelos Apeninos, ao norte pelo Tibre e a oeste pelo mar.”
Inúmeros eram os povos que ocupavam a Península Itálica, mas Eyler (2014)
ressalta que “[...] o povoamento da Itália e da Europa era basicamente feito por povos
conhecidos como indo-europeus desde o neolítico.” Como dito, a Península Itálica é
povoada desde muito tempo, todavia “[...] foram os italiotas que ocuparam primeiro a
região central, [da península] e eles se dividiam em úmbrios, latinos, samnitas e
sabinos.” (EYLER, 2014).
Apesar dessas informações “[...] o local de origem dos etruscos é uma questão
que nunca foi respondida de maneira satisfatória, embora seja certo que não eram
indo-europeus. A maioria dos especialistas acredita que fossem nativos da Ásia
Menor.” (BURS; LERNER; MEACHAM, 2001, p. 140).
Várias teses buscam explicar a origem dos etruscos, mas dentre elas possui
predominância a tese oriental, sendo a mais aceita e conhecida. (GIORDANI, 1998).
Essa tese explica que “os etruscos teriam vindo do Oriente, mais precisamente da
Lídia, na Ásia Menor.” (GIORDANI, p. 18).2
2 “Essa teoria, proposta já por Heródoto, foi aceita na Antiguidade e possui diversos argumentos a seu
favor, entre os quais podemos citar os de ordem artística, religiosa e linguística. Assim, por exemplo,
encontram-se entre os etruscos técnicas e formas artísticas que apresentam estreita semelhança com
13
Roma tem sua origem reproduzida nos etruscos, e como dito, na própria
organização política dos mesmos. Giordani (1998, p. 20) ressalta esse ponto
ensinando que “os etruscos se dividiam em cidades-estados unidas em federação de
caráter essencialmente religioso e econômico.” Todavia essas cidades-Estado não
conseguiram se articular numa aliança devido ao individualismo de cada um desses
entes. (GIORDANI, 1998).
Desta forma, podemos concluir, a partir desse estudo, que não se pode falar
na origem de Roma sem levar em consideração os etruscos, pois “[...] o Estado
romano nasceu com o domínio etrusco. Só então, Roma adquiriu a unidade política
as empregadas entre as civilizações da Ásia Menor; certas doutrinas e práticas religiosas, tais como a
crença em demônios e o exame de entranhas das vítimas, lembram imediatamente, as religiões
orientais; finalmente, as afinidades linguísticas entre o idioma etrusco e o idioma falado na ilha de
Lemnos anteriormente à sua ocupação pelos atenienses, o qual nos é conhecido por uma inscrição
encontrada em 1885, bem como o grande número de elementos comuns à onomástica etrusca e à dos
lídios e lícios parecem comprovar a tese oriental.” (GIORDANI, p. 18).
3 É o nome porque é mais conhecida a planície do rio Pó, o maior da Itália, passando por muitas cidades
importantes, incluindo Turim, e ainda nas proximidades de Milão – nesta última cidade o rio penetra em
uma rede de canais chamados navigli. Perto do fim do seu curso, o rio dá lugar a um grande delta, com
centenas de pequenos canais e cinco cursos fluviais principais, chamados Po di Maestra, Po della Pila,
Po e Gália Transpadana (ao norte do Pó). Em italiano, o vale é chamado de Pianura Padana (planície
Padana). Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Geografia_da_It%C3%A1lia>. Acesso em: 13
nov. 2014.
14
Mas uma questão que surge, no entanto, é de que modo Roma recebe
efetivamente forma de cidade-Estado. O historiador alemão Theodor Mommsen
(2012, grifo do autor) revela que
Todavia, muito importante a menção que López (2012), historiador romano, faz
acerca da conjuntura da época da fundação de Roma e seu processo de formação. O
autor ensina que “[...] se ha demostrado que Roma fue el resultado de un proceso de
unificación y no la consecuencia de una fundación predeterminada en un momento
concreto.” (LÓPEZ, 2012).
4 “Sinecismo (do grego synoikismós), coabitação. Fusão, por motivos defensivos, de pequenas
comunidades numa maior que totalmente as substitui; processo que na Grécia antiga levou à formação
da pólis.” Disponível em; <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinecismo>. Acesso em: 14 nov. 2014.
15
Como dito, Roma não foi uma escolha determinada com antecedência por parte
de governantes ou do povo, mas um encadeamento de fatos, que sedimentados,
deram origem à Roma. Em decorrência disso é possível afirmar “[...] que Rómulo, el
presunto fundador de Roma, no existió, que Roma no fue fundada como sostiene la
tradición el 21 de abril del año 753 a. C., que la propia ciudad como tal no pudo haber
existido antes del 600 a. C. […].” (LÓPEZ, 2012).
A partir disso fica demonstrado que a história merece um olhar mais crítico e
profundo. Do mesmo modo, a história do surgimento de Roma não pode ficar entregue
apenas às explicações lendárias, ou atrelada às interpretações, apesar do seu grande
brilhantismo, dos historiadores da antiguidade, que em muitos casos não investigavam
a fundo a real conjuntura da origem de Roma – devido até à falta de meios para tanto
–, mas davam à história um forte tom de heroísmo, sem muito se preocupar com a
autenticidade das suas narrativas.
Portanto, Roma se funda pelas mãos dos etruscos a partir do final do século VI
a.C. e vive sob o arquétipo de uma constituição de proveniência etrusca. (EYLER,
2014). Neste sentido, Roma inicia sua trajetória histórica organizada em um sistema
5 Este período “estende-se da fundação de Roma, no ano 753 a.C., até o ano 510 a.C., com a expulsão
do rei Tarquínio Prisco.” (DAL RI, 2009, p. 47).
17
6 “O período republicano inicia-se com a instituição do consulado no ano 510 a.C. e estende-se até o
ano 31 a.C., quando Augusto voltou a Roma após ter vencido Marco Antonio e lançou as bases para o
novo regime político.” (DAL RI, 2009, p. 47).
7 “La tradición literaria ha situado el nacimiento de la República romana […] entre el 509 y el 508 a. C.
Si bien la mayoría de los historiadores y arqueólogos modernos se inclinan por aceptar el valor de la
tradición literaria situando dicho origen en los últimos años del siglo VI a. C., por otro lado existe un
sector de historiadores y arqueólogos que aceptan como fechas más factibles para ello el año 475 o
los años centrales del siglo V antes de Cristo.” (LÓPEZ, 2012).
8 “Según la tradición, la caída del régimen monárquico fue resultado de un motín de la nobleza al
sentirse ultrajada por el rapto y la violación de Lucrecia, mujer del noble y guerrero Tarquinio Collatino,
por Sexto, hijo de Tarquinio el Soberbio. Al no poder soportar tal deshonra, Lucrecia se suicidó. Como
consecuencia, Sexto huyó a Gabii, donde murió, mientras que el resto de la família real no tuvo más
remedio que huir y refugiarse en la ciudad etrusca de Caere. Porsenna, miembro de la realeza de
Clusium, habría llegado en su ayuda, pero no restableció al rey en su trono ni lo ocupó él mismo ante
las ejemplares actuaciones de algunos nobles romanos.” (LÓPEZ, 2012).
18
[…] lugar al gobierno de dos cónsules, jefes anuales del Estado y del
Ejército, como representantes del conjunto de los ciudadanos. A partir
de entonces, la aristocracia patricia pasó a dominar la política, la
religión y el derecho, debido a que sólo sus miembros podían acceder
a las más altas magistraturas, al Senado y a los cargos sacerdotales.”
(LÓPEZ, 2012).
9 “Res publica é uma expressão latina que significa literalmente ‘coisa do povo’, ‘coisa pública’. É a
origem da palavra república. O termo normalmente se refere a uma coisa que não é considerada
propriedade privada, mas a qual é, em vez disso, mantida em conjunto por muitas pessoas.” Disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Res_publica>. Acesso em: 15 nov. 2014.
19
O que chama a atenção é que “[...] até aqui, há poucas alterações entre o
esquema de partilha do poder entre a realeza romana e a república. A maior novidade
é que, no lugar do rei, quem assume doravante as prerrogativas do pode é a res
pública. (EYLER, 2014). Isso significa que
A expansão de Roma inicia neste período. De fato, como lembra Eyler (2014),
foi em 497 a.C. que teve início “a expansão territorial romana com o domínio do Lácio.”
Isso representa também o princípio de latinização das regiões adjacentes a Roma. 10
Ademais, logo após a instauração do regime republicano “[...] el expansionismo que
practicó Roma a lo largo del siglo V a. C. transformó radicalmente las bases
políticosociales del Estado romano”. (LÓPEZ, 2012).
10 “Las más antiguas fronteras de la confederación que tenía a Roma por cabeza, o, para hablar más
exactamente, de la nueva Italia, tocaban por el oeste el litoral del mar Tirreno, no lejos del lugar que
ocupa actualmente Livorno, más abajo del Arno, y por el este llegaban hasta el Esis (Ensino), más
arriba de Ancona. En cuanto a las colonias pobladas por italiotas y no comprendidas dentro de estos
límites, tales como Sena Gálica y Ariminum, al otro lado del Apenino, o Mesina, en Sicilia, eran
consideradas como geográficamente colocadas fuera de Italia, aun cuando formasen parte de la
confederación y sus habitantes tuviesen derecho de ciudad, como era el caso de Ariminum y Sena.
Menos aún se podía considerar a los cantones celtas más allá del Apenino como pertenecientes al país
de los togati, aun cuando algunos de ellos hubiesen caído bajo la clientela de la República. La nueva
Italia había llegado a la nueva unidad política, y marchaba rápidamente a la unidad nacional. Los latinos
ya se sobreponen; se han asimilado a los sabinos y los volscos, y se van fundando ciudades latinas
por todas partes en el suelo itálico. Las semillas esparcidas se desarrollan en todos los sentidos; y, así
como han tomado la toga todos los habitantes de esta vasta región, llegará un día en que no tengan
más que una misma lengua, la lengua latina. Los romanos tienen el presentimiento de sus altos
destinos, y, para ellos, todos los contingentes suministrados por los confederados itálicos son, de aquí
en adelante, contingentes latinos (latini nominis).” (MOMMSEN, 2012).
20
ampliação de seus limites territoriais. A propagação romana foi tão grande que “[...]
en el asombroso periodo de tan sólo tres generaciones, prácticamente todos los
países ribereños del Mediterráneo llegaron a estar bajo el poder de Roma.” (HERNÁN,
2013).
Desse modo,
11 “El nuevo sistema imperial se fundamentó sobre la base territorial legada por el sistema republicano,
vinculada a una nueva superestructura jurídico-política. El Imperio no se definiría como un conjunto de
provincias, sino también como un sistema centralizado de poder, en el que el poder político simbolizado
en la figura del prínceps, hombre guiado por la moderación y En el Imperio, el poder supremo lo ejercía
el emperador, y los órganos de gobierno republicano quedaron subordinados a él. Las bases
institucionales del antiguo poder monárquico recayeron en el Ejército, el Senado y el pueblo por medio
de imperium maius et infinitum y la tribunitia potestas, que marcaban el ámbito de competencia militar
y civil del poder imperial.” (LÓPEZ, 2012, grifo do autor).
23
Concluídos estes dois ciclos políticos do Império Romano, o mesmo vai entrar
em crise e se dividir em duas estruturas políticas autônomas: o Império Romano do
Ocidente e o Império Romano do Oriente. A história do Império Romano do Ocidente
nasce no meio de uma crise relacionada a vários fatores. Os primeiros sinais da
divisão em dois impérios ocorrem no século IV com a transferência da capital de Roma
para Bizâncio.
12 “[…] se generaliza la expresión 'bárbaro', derivada del sonido 'bar, bar bar' con el que parecía que
monótonamente hablaban los extranjeros invasores.” (HERNÁN, 2013). López (2012) também explica
que o termo “bárbaro” tem origem grega e era empregado para designar a todos os estrangeiros ao
longo das fronteiras romanas.
25
Tecnicamente não se pode falar que Roma morreu com a queda do Império
Romano do Ocidente, visto que o Império Oriental continuou sua história por um longo
período, mas seguindo com uma guinada ao oriente. Nesse sentido, “a fundação de
Constantinopla – a nova Roma – materializou a inclinação do mundo romano para o
Oriente. A separação entre Oriente e Ocidente já estava inscrita nas realidades do
século IV.” (EYLER, 2014).
[...] tales son las bases sobre las que descansa esta longeva
construcción histórica – que podríamos datar entre la fundación de
Constantinopla en 330 y la caída de la misma a manos de los turcos
en 1453 – que será testigo impertérrito, y también protagonista, de
toda Edad Media europea. (HERNÁN, 2013).
Desta forma, o Império Romano ainda continuou sua história por muito tempo,
mas passou a ser “o Oriente que, definitivamente, adquiriu supremacia. O Ocidente,
para renascer, deverá passar pela prova da dominação dos bárbaros.” (GRIMAL,
2011).
13 O termo indica apenas o choque cultural ocasionado pela invasão dos estrangeiros (germânicos)
que dominam o Império Romano do Ocidente, produzindo a miscigenação romano-germânica, não
devendo ser interpretado com pejoratividade.
26
De todas as heranças deixadas pela Roma Antiga, uma delas se faz ainda
muito visível na atualidade é o direito romano. Esse é o conjunto de normas e institutos
produzido pelo trabalho jurídico realizado dentro da conjuntura romana antiga e é, sem
dúvida, o grande legado deixado pela cultura romana. Ainda que tal direito tenha
sofrido grande influência pela invasão de povos estrangeiros, chamados pelos
romanos, principalmente no Período Imperial, de bárbaros, o Direito Romano
fundamenta grande parte dos institutos jurídicos contemporâneos. Além disso, o
direito atual também recebeu uma herança estrutural, referindo-se ao modo de
organizar e sistematizar as normas jurídicas.
Mas sendo o direito romano fundamento para institutos jurídicos que possuem
respaldo e prestígio ainda hoje e tendo Roma conquistado enorme território, tornando-
se um verdadeiro centro da Antiguidade Clássica, é de se indagar qual foi a influência
romana também na gênese do direito internacional, uma vez que a estrutura do Estado
romano no mundo antigo acaba por se defrontar com inúmeras situações que o
28
O universalismo possui sua questão central naquilo que se refere a todos, mas
não nos moldes como se poderia sugerir em relação ao direito natural. A
universalidade, aqui, é antes de tudo, uma ideia de inclusão de seres humanos dentro
de um sistema universal. No entanto, o universalismo só pode ser entendido e
sustentado a partir da ideia de unicidade, isto é, da concepção de que esse sistema é
o único, e justamente por isso, é para todos.
14 “Toda pessoa que não seja escrava é livre. Mas há diferenças muito importantes na condição das
pessoas livres. Podemos subdividi-las em cidadãos e não cidadãos, em ingênuos e libertos. […] A
divisão de pessoas em cidadãos e não cidadãos tem por base a posse ou a privação do direito de
cidadania romana. Inicialmente apresentava um grande interesse em sua origem quando o cidadão
somente possuía gozo do Direito Civil romano. Mas as condições políticas e financeiras fizeram
outorgar, a pouco e pouco, a qualidade de cidadão a todos os habitantes do Império; assim, em
princípios do século III de nossa era, essa distinção perdeu maior parte de sua importância. […] O
cidadão romano que não tenha sido incapacitado por alguma causa particular goza de todas as
prerrogativas que constituem o jus civitatis, ou seja, participa de todas as instituições do Direito Civil
romano, Público e Privado. Entre as vantagens que resultam, as que caracterizam a condição de
cidadão na ordem privada são: o connubium e o commercium. […]. A essas vantagens essenciais em
Direito Privado, o cidadão unia na ordem política: a) o jus suffragii, direito a votar nos comícios para
fazer a lei e proceder à eleição dos magistrados; b) o jus honorum, o direito para exercer as funções
públicas ou religiosas. […] Os não cidadãos ou estrangeiros, em princípio, eram privados das vantagens
que confere o direito da cidade romana e apenas participavam das instituições derivadas do jus
gentium. […] há os mais favorecidos, que ocupam uma faixa intermediária entre os cidadãos e o comum
dos peregrinos: são os latinos. Mas há que se distinguir os peregrini propriamente dito e os latini. 1.
Peregrini. Os peregrinos são os habitantes dos países que fizeram tratados de aliança com Roma, ou
que mais tarde tenham se submetido à dominação romana, reduzindo-se ao estado de província. Havia
muitos peregrinos que chegavam e fixavam sua residência em Roma; essa afluência tornou necessária
a criação do praetor peregrinus. A condição dos peregrinos é o direito comum para os não cidadãos.
Não desfrutam do connubium, do commercium nem dos direitos políticos, embora sejam suscetíveis
de adquiri-los, seja pela concessão completa do jus civitatis, seja por concessão especial de algum de
seus elementos (Ulpiano, V., § 4º, XIX, § 4º) [...]. De todo modo, gozam do jus gentium e do direito de
suas respectivas províncias (Gaio, III, §§ 96 e 120). […]. 2. Latini. Os latinos eram peregrinos tratados
com mais proteção, e para os quais haviam acordado certas vantagens compreendidas no direito de
cidadania romana. Foram de três classes: os latini veteres, os latini coloniarii e os latini juniani.” (PETIT,
2013, grifo do autor).
31
O fato de Roma Antiga possuir tradição jurídica não nos é nem um pouco
estranho, tampouco representa novidade. A base do nosso Direito é, em boa medida,
romana. Mas a dúvida que se pretende responder é se perante toda essa base jurídica
com um viés mais tradicional, o direito romano também possui elementos que o
identificam e lançam bases com o Direito Internacional.
Nesse sentido, é preciso que se saiba, entre outras informações, qual era a
relação que Roma tinha com os povos vizinhos. Quanto a isso, Nascimento (2002, p.
117) explica que
Uma questão que não pode passar despercebida é como o ius gentium contém,
de fato, elementos que permitem sua expressão como base para o direito
internacional, ainda que alguns o entendam como um reflexo do direito natural. É o
que coloca Macedo (2010) quando diz que “o jus gentium encerra consigo a exigência
de um direito universal, de um direito que deveria ser, em princípio, aceito por todos
os homens, deveria ser um ramo não nacional, mas aberto à diferença”.
O fato é que expressando um direito público externo havia o ius fetiale, um “[...]
misto de normas religiosas e jurídicas, que orientava as relações de Roma com o
mundo exterior, principalmente no tocante à guerra e à política de extradição.”
(NASCIMENTO, 2002, p. 118).
Desde já, pelas informações colhidas, é possível afirmar que o mundo jurídico
romano da antiguidade exerceu influência para o impulso de um Direito Internacional.
Isso fica revelado através das expressões jurídicas do ius fetiale16 e do ius gentium.17
Todavia é preciso entender que “os romanos não criaram uma ciência do Direito
Internacional.” (SODER, 1998, p. 69).
Tanto é que Soder (1998, p. 71) afirma, que “[...] os juristas romanos como os
do período clássico […] não foram muito além de certas noções fundamentais em
assuntos de Direito Internacional.”
Todavia, não se pode negar, frente às evidências, que esses dois, podemos
assim chamar, ramos do Direito Romano, o ius gentium e ius fetiale, estabeleceram
as normas e procedimentos que Roma Antiga cumpriu na sua expressão para além
das suas fronteiras e com aqueles que vinham do mundo existente fora do território
romano. Tais normas e procedimentos são elementos de parte da base para o futuro
desenvolvimento do direito internacional no seu conceito atual.
16 Conforme o autor a ser utilizado o termo poderá vir redigido tanto como ius fetiale, ius feciale, jus
fetiale ou jus feciale. Nesta monografia, no entanto, será usada, sempre que possível, a expressão ius
fetiale, quando a mesma não estiver vinculada a nenhum autor(a).
17 Conforme o autor a ser utilizado o termo poderá vir redigido tanto como ius gentiumi ou jus gentium.
Nesta monografia, no entanto, será usada, sempre que possível, a expressão ius gentium, quando a
mesma não estiver vinculada a nenhum autor(a).
36
[...] havia concorrido para o conhecimento mútuo dos povos e para que
esses se habituassem a relações pacíficas normais, de maneira que,
após o desmembramento do império romano, era natural que
pudessem surgir e desenvolver-se relações internacionais e,
concomitantemente, um direito internacional. (CASELLA; ACCIOLY;
SILVA, 2012).
Roma nasce em meio de uma relação constante com outros povos, “Estados”
e reis. Não se poderia imaginar que fosse diferente, inclusive pelo fato da existência
de inúmeros povos que habitavam a Península Itálica. Essa relação, obviamente, não
se deu de forma desregulamentada, tenha ela sido conduzida por rituais religiosos ou
por disposições jurídicas propriamente ditas.
O ius fetiale era elaborado, enfim, “realizado” pelos feciais, sacerdotes romanos
que possuíam responsabilidades na condução de rituais nas relações de Roma com
outras nações.18 Esses rituais referiam-se, em grande parte, a preliminares de guerra
e realização de “tratados”. Muitos autores antigos e recentes descreveram os
sacerdotes feciais buscando evidenciar que os romanos possuíam uma base jurídica
18 Devido a esse fato, o ius fetiale é muitas vezes considerado um ramo do direito público externo.
39
19 “The fetiales – known in English as fetials – were Roman priests with ritual responsibilities for certain
aspects of the Romans’ relations with other nations, namely the preliminaries of war, the swearing of
treaties, and the voluntary surrender of Roman offenders. The fetials’ activities were adduced both by
ancient writers and by some modern scholars as evidence of the Romans’ justice in their international
dealings. Clarification of what the fetials actually did is a necessary preliminary to assessing their
significance, but this enterprise is complicated by the inadequacies of our evidence, which is mostly
patchy, late and distorted by the ideology of the ‘just and righteous war’ (bellum iustum piumque).”
(RICH, 2011, p. 187, grifo do autor).
20 “As notícias que se tem sobre os sacerdotes feciais são provenientes de epígrafes, obras de
antiquários, juristas e historiadores, gregos e latinos. Essas fontes, primária e secundárias, são
provenientes em sua maior parte do período compreendido entre os séculos 2º a.C. e 4º a.C., sendo
muitas vezes posteriores em séculos aos acontecimentos e informações transmitidos. Parte-se do
pressuposto de que essas fontes sejam confeccionadas com base em documentos daqueles
sacerdotes, em obras especializadas e no conhecimento comum sobre o tema. […] As fontes mais ricas
sobre o tema são as literárias, visto que as epigráficas relatam informações bastante superficiais.
Dentre as fontes literárias, Tito Lívio é o autor que transmite o maior número de informações sobre a
tradição e as normas do ius fetiale e dos seus sacerdotes, revelando a particular formação do autor em
relação ao tema. Fontes importantes sobre o tema são também as obras de Marcus Terentius Varro e
Marcus Tullius Cicero pela precisão das informações transmitidas.” (DAL RI, 2011, p. 23, grifo do autor).
40
(DAL RI, 2011, p. 83). Todavia o direito romano era fortemente inspirado na religião
da época. Uma vez que se realiza a separação entre direito e religião no estudo do
ius fetiale surge um problema quanto ao conceito de direito internacional relativo ao
mundo antigo, ou seja, dá-se uma interpretação imperfeita ao ius fetiale, classificando-
o como direito internacional ao passo que esse instituto pode ser classificado, a priori,
apenas como direito público externo. (DAL RI, 2011).
O que deve ficar claro é que o ius fetiale não é um ramo de direito internacional,
mas traz consigo um arcabouço jurídico arcaico de expressividade para o exterior em
relação à Roma. Esse fato lança, logicamente, bases para o que no futuro pudesse
ser denominado direito internacional.
A crítica inicial que é elaborada implica dizer que não se deve dar uma
interpretação estritamente religiosa ao ius fetiale, para que não se incorra nas
concepções positivistas. Dal Ri (2011, p. 84) esclarece que “[...] o positivismo concebe
a ciência jurídica como ciência baseada somente nos juízos de fato, e não nos de
valor junto à comunidade; nesse sentido a validade do direito é proporcionada pela
41
coercitividade estatal.” Além disso, essa corrente sustenta também que não existiam
relações internacionais entre os povos da antiguidade. (DAL RI, 2011).
Mesmo que não se possa, de fato, posicionar o ius fetiale como um direito
internacional público, a sua constituição permite questionamentos acerca dessa
relação. Esse relacionamento, por sua vez, surge da afirmação de que
Ainda que não seja possível identificar o ius fetiale como um direito
internacional propriamente dito, é certo também que a religião não exclui o direito, e
“paralelamente à corrente positivista desenvolve-se na doutrina uma diversa
concepção de ius, e consequentemente de ius fetiale, na qual o caráter divino ou sacro
não exclui aquele jurídico.” (DAL RI, 2011, p. 89, grifo do autor).
Seguindo essa lógica, Dal Ri (2011) ensina que ao passo que esta nova
corrente se desenvolve duas tendências são formuladas. A primeira classifica o ius
fetiale como um direito de contornos sagrados ou religiosos, traçando a linha
comparativa com um direito público externo. Já a segunda linha evidencia o ius fetiale
na sua expressão jurídica consistindo num conjunto de institutos jurídicos, mas ligados
à religião da época, cotejando, em termo gerais, uma relação com o direito
internacional.
Todavia, se dão como razões para a não identificação do ius fetiale com o
direito internacional, sendo uma nítida manifestação contrária ao universalismo do
42
O que o estudo do ius fetiale revela o quanto a religião interferia nas questões
jurídicas dos romanos. Religião e direito são, até certa época, em muitas ocasiões, a
mesma coisa. Essa condição de quase constante relação entre direito e religião é
reiterada por Mialhe (2010, p. 218) ao passo que
Fica evidente, desta forma, que a natureza do ius fetiale é formada tanto pela
expressão da juridicidade como pela religião. O direito é visto como algo sagrado e a
religião vista como norma e procedimento jurídico. “O ius fetiale apresenta-se então,
na sua estrutura e juridicidade, permeado pela religião.” (DAL RI, 2011, p. 91).
Mas, para os estudiosos que assim entendem, essa parte do direito romano (e
como demonstrado, também dos procedimentos religiosos) vincula-se ao ius gentium,
estando inserido dentro do mesmo, considerado como “[…] complexo de princípios
que, presentes em outros povos e aplicados mutuamente, faziam parte também do
ius gentium.” (DAL RI, 2011, p. 94). Nesse contexto o ius fetiale, mais uma vez, é
entendido como uma manifestação de um direito internacional público. (DAL RI, 2011).
43
Não resta dúvida de que o ius fetiale é permeado em quase sua totalidade pela
religião. Inclusive os operadores do dessa seara jurídico-religiosa são chamados de
sacerdotes. Entre suas funções estavam rituais e regras de apelo religioso muito forte.
Todavia há quem pense de modo diferente quanto à relação que o ius fetiale
possui com o ius gentium e até mesmo o modo em que o ius fetiale se externaliza.
Fazendo referência a tais autores, Dal Ri (2011, p. 97) expõe que “o caráter jurídico
da atividade relativa ao ius fetiale é visto como um 'direito público externo', que regula
as relações de Roma com outros povos.”21
O ius fetiale tem, no entanto, ligação com o ius gentium, uma vez que ambos
atuam na regulamentação das relações externas da Roma Antiga. Mas, segundo o
que foi exposto, é apenas nesse sentido que o ius fetiale e o ius gentium se ligam,
através dos princípios comuns de cada “Estado” no que concerne às “relações
internacionais” de cada um dos povos da Antiguidade Clássica.
que [o ius fetiale], pela sua antiguidade, pode pertencer à parte do ius
sacrum24 recebido pelos romanos por meio dos demais povos
habitantes da Itália. Assim, a identificação encontrada entre o ius
fetiale e os procedimentos civis está em uma origem comum.
período mais antigo, derivando dessa atividade alguns princípios” (DAL RI, 2011, p.
100). Desse modo, apesar da insistência em não confundir o ius fetiale com um direito
internacional público, as afirmações de tais autores não deixam dúvidas que o ius
fetiale possui uma carga jurídica de cunho internacional muito grande.
Ainda, conforme Heuss (apud DAL RI, 2010), “[...] os romanos consideravam
existentes com outros povos algumas ‘relações internacionais’ independentes da
existência de tratados.”
[...] los sacerdotes fetiales, cuya opinión era necessaria para iniciar
una guerra, poner fin a la paz o reclamar los daños ocasionados a
Roma, constituyeron un derecho de carácter sagrado, denominado Ius
Fetiale, que con posterioridad fue desplazado por la construcción del
Ius Gentium. (SALAZAR, 2055, p. 18).
Provando a caráter prático do povo romano, o próprio ius gentium nasce a partir
de uma necessidade, sendo solucionada pelo direito romano. O problema que existia
era normatizar a situação dos estrangeiros e por isso
Com o fato de ter de estabelecer direitos, deveres e ritos aos estrangeiros entre
si, e nas relações deles com os cidadãos romanos, Roma mostra o princípio de uma
integração jurídica entre os povos (ainda que possa ser um tanto quanto forçada por
parte de Roma). Nesse sentido explica Rolim (2008, p. 60-61, grifo do autor) que
devido à
Basicamente, o ius gentium surgiu para regular o trato entre Roma (aqui
entendido o próprio “Estado” romano bem como o povo romano) e os estrangeiros. A
circunstância em que Roma se encontrava, de vasto território conquistado, além de
ter se tornado um verdadeiro centro do mundo antigo,
48
A ligação do ius gentium com o ius naturale (direito natural) não pode ser
afastada. O entendimento romanístico de que o ius gentium era um direito de
aplicação a todos os povos se relacionada com a ideia de direito natural como aquele
direito inerente a todo ser humano. Nesse sentido, o ius gentium pode ser considerado
uma expressão do direito natural pois
Acerca da ligação entre ius gentium e ius naturale Macedo (2012) ensina que
“o direito natural constitui, pois, um direito 'de nascimento', que 'nasce' junto com o
homem, e não por uma convenção legislativa.”
É possível, no entanto, fazer uma crítica acerca da confusão entre ius gentium
e direito natural. O ius gentium, ainda que considerado um direito de alcance a todas
as pessoas, depende do implemento da condição circunstancial da presença de um
estrangeiro na relação então estabelecida. O ius naturale por sua vez, é presente
sempre, sejam todas as partes envolvidas estrangeiros ou nenhuma delas.
31 Ao passo que se tolera a ambiguidade entre ius gentium e ius naturale se dá lugar à formação de
uma indefinição do ius gentium, o que por sua vez, tornaria o estudo do presente instituto um atividade
inútil, frente a desvirtuação do conceito de ius gentium.
50
O direito natural diz respeito ao próprio ser humano, à sua condição enquanto
ser humano, à natureza de todas as coisas. Nesse aspecto é visível que a filosofia
grega possuía grande influência sobre o Direito Romano. Por isso que Pereira (apud
ROLIM, 2008, p. 148) refere que “o direito natural de inspiração aristotélica foi a alma
do direito romano clássico”.
no ius gentium romano.” (GUEDES, 2006). Isso significa dizer que apesar do ius
gentium estar alicerçado no direito natural, o direito internacional, por sua vez, está
alicerçado no ius gentium.
Por outro lado existem autores que consideram o ius gentium expressão do
direito internacional público. É o caso de Petit (2013, grifo do autor) ao afirmar que “a
expressão jus gentium ainda é empregada alguma vez para designar toda parte
especial do direito público: a que regia as relações do Estado romano com os outros
Estados; por exemplo, as declarações de guerra, os tratados de paz ou de aliança.”32
Deve-se tomar o cuidado para não confundir o próprio ius gentium com o Direito
Internacional. Por vezes o termo se torna anfibológico no entendimento de alguns
autores. Falando acerca da ambiguidade do ius gentium, Macedo (2008) explica que
32 É possível que na presente consideração o autor se refira também à parcela do ius fetiale
compreendida enquanto um “[…] complexo de princípios que, presentes em outros povos e aplicados
mutuamente, faziam parte também do ius gentium.” (DAL RI, 2011, p. 94).
52
Nessa esteira, é possível vislumbrar que o ius gentium está inserido na gênese
do direito internacional, não se podendo suprimir seu valor, sem, todavia, confundi-lo
com o próprio direito internacional, como já ocorreu em alguns momentos da história
jurídica, principalmente antes da concepção do termo “direito internacional”.33
O romanista Petit (2013) também define o ius gentium com base na extensão
de sua aplicabilidade, descrevendo o ius gentium em sentido estrito e em sentido
amplo.
[…] Em sentido restrito, o direito das gentes compreende as
instituições do Direito Romano, das quais podem participar tanto os
estrangeiros como os cidadãos [romanos]. Mas na acepção extensa,
e mais usada, é o conjunto de regras aplicadas em todos os povos
sem distinção de nacionalidade. (PETIT, 2013).
Mas uma questão que não se pode deixar passar, no entanto, é a discussão
acerca da não confusão entre ius gentium e ius naturale. Não se deve colocar o ius
33 “[...] A expressão direito internacional surgiu em 1780, em uma obra de Bentham, por oposição ao
direito nacional ou municipal. Alguns teóricos, como Georges Scelle, na primeira metade do século
passado, defendiam que esse ramo do direito não deveria ser um direito entre Estados, mas um direito
entre indivíduos de todo o mundo. O Estado seria apenas uma ficção jurídica que tenderia a
desaparecer com o tempo. Neste caso, a expressão direito das gentes seria mais adequada.”
(VARELLA, 2012).
53
gentium à mesma altura que o direito natural sem antes realizar uma análise mais
crítica. É bom nunca esquecer, no entanto, que o ius gentium se expressa de modo
que ele possa ser até visto como o direito natural frente a sua aplicabilidade a todos
os seres humanos. Assim, se esquecem muitas vezes os estudiosos do Direito
Romano, de observar que existiam juristas da antiguidade romana que buscavam
discriminar o ius gentium do direito natural.
34 “Eneo Domitius Ulpianus, (Tiro, 150 – Roma, 223) foi um jurista romano. Sua obra influenciou
fundamentalmente a evolução dos direitos romano e bizantino.” Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ulpiano>. Acesso em: 16 nov. 2014.
35 “O Corpus Juris Civilis ou Corpus Iuris Civilis (em português Corpo de Direito Civil) é uma obra
jurídica fundamental, publicada entre os anos 529 e 534 por ordens do imperador bizantino Justiniano
I, que, dentro de seu projeto de unificar e expandir o Império Bizantino, viu que era indispensável criar
uma legislação congruente e que tivesse capacidade de atender às demandas e litígios vivenciados à
época. Por esses motivos, foi publicado o Corpus Juris Civilis, designado assim pelo romanista francês
Dionísio Godofredo em 1583.” Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Corpus_Juris_Civilis>.
Acesso em: 16 nov. 2014.
54
Denota-se, assim, que o ius gentium é tanto entendido como o direito natural,
o direito existente para todos os povos, como também o direito aplicável aos povos
estrangeiros nas suas relações entre si e com os romanos. Apesar de existir, digamos
assim, um teor de arcaísmo no que concerne na diferenciação proposta por Ulpiano,
deve-se entender e levar em consideração a pretensão de alguns juristas romanos
em tentar separar em dois blocos o direito natural e o direito das gentes. Dessa forma,
como fica demonstrado acima, o direito natural se posiciona num campo mais amplo
que o ius gentium, que por sua vez afunila as concepções do ius naturale para aplicá-
lo às situações carecedoras de resolução entre romanos e estrangeiros e estes entre
si.
Diante disso é possível concluir que pelo fato de apenas existir a pretensão ou
a ideia de discriminar o direito das gentes de modo a impedir que o mesmo se
confunda com direito natural prova que é mais adequado considerar o ius gentium
como uma prévia da expressão do direito internacional moderno, sem, no entanto,
confundi-lo com o mesmo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Roma Antiga, em sua grandiosa e rica história, lançou bases para muitas
instituições que possuem expressividade ainda nos dias de hoje. A história romana
deixa uma herança cultural bastante profunda, em especial na área jurídica. Com base
nisso, pode ser evidenciado que no seu universo jurídico, Roma contribuiu, inclusive,
para o surgimento do Direito Internacional.
O primeiro desses ramos, como referido, foi o ius fetiale, com uma atuação mais
voltada para as questões que hoje poderíamos definir como sendo tipicamente de
direito público externo. Por isso, estruturou, mesmo não podendo ser confundido com
um direito internacional atual, alguns institutos fundamentais para a origem do Direito
Internacional. Esta contribuição foi feita com base na ritualística e nas regras dos
sacerdotes feciais.
Da mesma forma, o ius gentium, com um forte apelo ao direito natural, foi o
segundo dos ramos do direito romano a contribuir para a origem do Direito
Internacional. Esse ramo do direito, contudo, regulava um conjunto de questões que
hoje designaríamos como típicas do Direito Internacional Privado. Assim o era porque
se preocupava precipuamente com a regulamentação de assuntos envolvendo a
pessoa do estrangeiro e do cidadão romano.
Ainda, a partir desses dois institutos jurídicos fica mais nítido o teor universalista
do direito romano. O universalismo com o qual o direito romano se expressa é o ponto
de encontro com o entendimento acerca da contribuição que a cultura jurídica de
Roma exerceu para a fundação do direito internacional. A característica universalista
do direito romano aparece, de fato, na ideia que Roma possuía de que,
separadamente do direito natural, existia um campo de princípios jurídicos comuns a
todos os povos, ou dito de outro modo, existiam regras muito semelhante ao direito
romano tradicional, mas que poderiam ser aplicadas em qualquer parte do mundo.
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