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br - Informativo de Jurisprudência Nº 76 – Setembro/2015

Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Supremo Tribunal Federal IPSEM – Campina Grande.

Selecionado a partir dos informativos 796 a 799 do STF fruição de benefícios e direitos dos presos, como a
progressão de regime, o livramento condicional e a
CONSTITUCIONAL suspensão condicional da pena, quando reveladas as
condições de cumprimento da pena mais severas do que as
01. Sistema carcerário: estado de coisas inconstitucional e previstas na ordem jurídica em razão do quadro do sistema
violação a direito fundamental. O Plenário concluiu o carcerário, preservando-se, assim, a proporcionalidade da
julgamento de medida cautelar em arguição de sanção; e f) que se abatesse da pena o tempo de prisão, se
descumprimento de preceito fundamental em que discutida a constatado que as condições de efetivo cumprimento são
configuração do chamado “estado de coisas inconstitucional” significativamente mais severas do que as previstas na
relativamente ao sistema penitenciário brasileiro. Nessa ordem jurídica, de forma a compensar o ilícito estatal.
mesma ação também se debate a adoção de providências Requeria-se, finalmente, que fosse determinado: g) ao CNJ
estruturais com objetivo de sanar as lesões a preceitos que coordenasse mutirão carcerário a fim de revisar todos
fundamentais sofridas pelos presos em decorrência de os processos de execução penal, em curso no País, que
ações e omissões dos Poderes da União, dos Estados- envolvessem a aplicação de pena privativa de liberdade,
Membros e do Distrito Federal. No caso, alegava-se estar visando a adequá-los às medidas pleiteadas nas alíneas “e”
configurado o denominado, pela e “f”; e h) à União que liberasse as
Corte Constitucional da Colômbia, Prepare-se para o concurso da Advocacia verbas do Fundo Penitenciário Nacional
“estado de coisas inconstitucional”, Geral da União com – Funpen, abstendo-se de realizar novos
diante da seguinte situação: violação contingenciamentos — v. Informativos

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generalizada e sistêmica de direitos 796 e 797. (...) O Plenário anotou que
fundamentais; inércia ou no sistema prisional brasileiro
incapacidade reiterada e persistente ocorreria violação generalizada de
das autoridades públicas em direitos fundamentais dos presos no
Resolução de questões objetivas, peças, tocante à dignidade, higidez física e
modificar a conjuntura; transgressões
a exigir a atuação não apenas de um pareceres e dissertações integridade psíquica. As penas
órgão, mas sim de uma pluralidade de www.ebeji.com.br privativas de liberdade aplicadas nos
autoridades. Postulava-se o presídios converter-se-iam em penas
deferimento de liminar para que fosse cruéis e desumanas. Nesse contexto,
determinado aos juízes e tribunais: a) diversos dispositivos constitucionais
que lançassem, em casos de decretação (artigos 1º, III, 5º, III, XLVII, e, XLVIII,
ou manutenção de prisão provisória, a XLIX, LXXIV, e 6º), normas
motivação expressa pela qual não se internacionais reconhecedoras dos
aplicam medidas cautelares alternativas direitos dos presos (o Pacto
à privação de liberdade, estabelecidas Internacional dos Direitos Civis e
no art. 319 do CPP; b) que, observados os artigos 9.3 do Políticos, a Convenção contra a Tortura e outros
Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Tratamentos e Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes
Interamericana de Direitos Humanos, realizassem, em até e a Convenção Americana de Direitos Humanos) e
90 dias, audiências de custódia, viabilizando o normas infraconstitucionais como a LEP e a LC 79/1994,
comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no que criara o Funpen, teriam sido transgredidas. Em
prazo máximo de 24 horas, contadas do momento da prisão; relação ao Funpen, os recursos estariam sendo
c) que considerassem, fundamentadamente, o quadro contingenciados pela União, o que impediria a formulação
dramático do sistema penitenciário brasileiro no momento de de novas políticas públicas ou a melhoria das existentes e
implemento de cautelares penais, na aplicação da pena e contribuiria para o agravamento do quadro. Destacou que a
durante o processo de execução penal; d) que forte violação dos direitos fundamentais dos presos
estabelecessem, quando possível, penas alternativas à repercutiria além das respectivas situações subjetivas e
prisão, ante a circunstância de a reclusão ser produziria mais violência contra a própria sociedade. Os
sistematicamente cumprida em condições muito mais cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização
severas do que as admitidas pelo arcabouço normativo; e) dos presos, fomentariam o aumento da criminalidade, pois
que viessem a abrandar os requisitos temporais para a transformariam pequenos delinquentes em “monstros do
crime”. A prova da ineficiência do sistema como política de

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segurança pública estaria nas altas taxas de reincidência. E 02. ADI e financiamento de campanha eleitoral. São
o reincidente passaria a cometer crimes ainda mais graves. inconstitucionais as contribuições de pessoas jurídicas
Consignou que a situação seria assustadora: dentro dos às campanhas eleitorais. No que se refere às
presídios, violações sistemáticas de direitos humanos; fora contribuições de pessoas físicas, regulam-se de acordo
deles, aumento da criminalidade e da insegurança social. com a lei em vigor. Esse o entendimento do Plenário, que,
Registrou que a responsabilidade por essa situação não em conclusão de julgamento e por maioria, acolheu, em
poderia ser atribuída a um único e exclusivo poder, mas aos parte, pedido formulado em ação direta para declarar a
três — Legislativo, Executivo e Judiciário —, e não só os da inconstitucionalidade dos artigos 23, §1º, I e II; 24; e 81,
União, como também os dos Estados-Membros e do Distrito “caput” e § 1º, da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições), que
Federal. Ponderou que haveria problemas tanto de tratam de doações a campanhas eleitorais por pessoas
formulação e implementação de políticas públicas, quanto físicas e jurídicas, no ponto em que cuidam de doações por
de interpretação e aplicação da lei penal. Além disso, faltaria pessoas jurídicas. Declarou, ainda, a inconstitucionalidade
coordenação institucional. A ausência de medidas dos artigos 31; 38, III; 39, “caput” e § 5º, da Lei 9.096/1995
legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes (Lei Orgânica dos Partidos Políticos), que regulam a forma e
representaria falha estrutural a gerar tanto a ofensa reiterada os limites em que serão efetivadas as doações aos partidos
dos direitos, quanto a perpetuação e o agravamento da políticos, também exclusivamente no que diz respeito às
situação. O Poder Judiciário também seria responsável, já doações feitas por pessoas jurídicas — v. Informativos 732 e
que aproximadamente 41% dos presos estariam sob 741. O Colegiado reputou que o modelo de autorização
custódia provisória e pesquisas demonstrariam que, quando de doações em campanhas eleitorais por pessoa
julgados, a maioria alcançaria a absolvição ou a condenação jurídica não se mostraria adequado ao regime
a penas alternativas. Ademais, a manutenção de elevado democrático em geral e à cidadania, em particular.
número de presos para além do tempo de pena fixado Ressalvou que o exercício de cidadania, em sentido
evidenciaria a inadequada assistência judiciária. A violação estrito, pressuporia três modalidades de atuação física:
de direitos fundamentais alcançaria a transgressão à o “jus sufragius”, que seria o direito de votar; o “jus
dignidade da pessoa humana e ao próprio mínimo honorum”, que seria o direito de ser votado; e o direito
existencial e justificaria a atuação mais assertiva do de influir na formação da vontade política por meio de
STF. Assim, caberia à Corte o papel de retirar os demais instrumentos de democracia direta como o plebiscito, o
poderes da inércia, catalisar os debates e novas políticas referendo e a iniciativa popular de leis. Destacou que
públicas, coordenar as ações e monitorar os resultados. A essas modalidades seriam inerentes às pessoas
intervenção judicial seria reclamada ante a incapacidade naturais e, por isso, o desarrazoado de sua extensão às
demonstrada pelas instituições legislativas e administrativas. pessoas jurídicas. A participação de pessoas jurídicas
Todavia, não se autorizaria o STF a substituir-se ao apenas encareceria o processo eleitoral sem oferecer, como
Legislativo e ao Executivo na consecução de tarefas contrapartida, a melhora e o aperfeiçoamento do debate. O
próprias. O Tribunal deveria superar bloqueios políticos aumento dos custos de campanhas não corresponderia ao
e institucionais sem afastar esses poderes dos aprimoramento do processo político, com a pretendida
processos de formulação e implementação das veiculação de ideias e de projetos pelos candidatos. Ao
soluções necessárias. Deveria agir em diálogo com os contrário, os candidatos que tivessem despendido maiores
outros poderes e com a sociedade. Não lhe incumbira, recursos em suas campanhas possuiriam maior êxito nas
no entanto, definir o conteúdo próprio dessas políticas, eleições. Ademais, a exclusão das doações por pessoas
os detalhes dos meios a serem empregados. Em vez de jurídicas não teria efeito adverso sobre a arrecadação dos
desprezar as capacidades institucionais dos outros fundos por parte dos candidatos aos cargos políticos. Todos
poderes, deveria coordená-las, a fim de afastar o estado os partidos políticos teriam acesso ao fundo partidário e à
de inércia e deficiência estatal permanente. Não se propaganda eleitoral gratuita nos veículos de comunicação,
trataria de substituição aos demais poderes, e sim de a proporcionar aos candidatos e as suas legendas, meios
oferecimento de incentivos, parâmetros e objetivos suficientes para promoverem suas campanhas. O princípio
indispensáveis à atuação de cada qual, deixando-lhes o da liberdade de expressão, no aspecto político, teria como
estabelecimento das minúcias para se alcançar o finalidade estimular a ampliação do debate público, a
equilíbrio entre respostas efetivas às violações de permitir que os indivíduos conhecessem diferentes
direitos e as limitações institucionais reveladas. O plataformas e projetos políticos. A excessiva participação do
Tribunal, no que se refere às alíneas “a”, “c” e “d”, ponderou poder econômico no processo político desequilibraria a
se tratar de pedidos que traduziriam mandamentos legais já competição eleitoral, a igualdade política entre candidatos,
impostos aos juízes. As medidas poderiam ser positivas de modo a repercutir na formação do quadro representativo.
como reforço ou incentivo, mas, no caso da alínea “a”, por Assim, em um ambiente cujo êxito dependesse mais dos
exemplo, a inserção desse capítulo nas decisões recursos despendidos em campanhas do que das
representaria medida genérica e não necessariamente plataformas políticas, seria de se presumir que considerável
capaz de permitir a análise do caso concreto. Como parcela da população ficasse desestimulada a disputar os
resultado, aumentaria o número de reclamações dirigidas ao pleitos eleitorais. (ADI-4650/Inf. 799). Ouça áudio1 áudio2
STF. Seria mais recomendável atuar na formação do do julgamento e assista ao vídeo com os principais
magistrado, para reduzir a cultura do encarceramento. No julgados da semana.
tocante à cautelar de ofício proposta pelo Ministro Roberto
Barroso, o Colegiado frisou que o Estado de São Paulo, INTERNACIONAL
apesar de conter o maior número de presos atualmente, não
teria fornecido informações a respeito da situação carcerária 01. Extradição executória e soberania estatal. A omissão de
na unidade federada. De toda forma, seria imprescindível declarações ao fisco espanhol, objetivando a supressão
um panorama nacional sobre o assunto, para que a Corte de tributos, corresponde ao crime de sonegação fiscal
tivesse elementos para construir uma solução para o tipificado no art. 1º, I, da Lei 8.137/1990, a satisfazer a
problema. (ADPF-347/Inf. 798). Ouça áudio do julgamento exigência da dupla incriminação, que prescinde da
e assista ao vídeo com os principais julgados da absoluta identidade entre os tipos penais. A
semana. impossibilidade da conversão da pena de multa em
prisão em decorrência de seu descumprimento é

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questão não afeta à jurisdição brasileira, sob pena de visual com outros acusados. Além disso, deverá ser feito
afronta à soberania do Estado na regulação de seus por escrito e conter: a) o relato da colaboração e seus
institutos penais. Com base nessa orientação, a Primeira possíveis resultados; b) as condições da proposta do
Turma, por maioria, deferiu pedido de extradição formulado Ministério Público ou do delegado de polícia; c) a
pelo Governo da Espanha. Na espécie, tratava-se de pleito declaração de aceitação do colaborador e de seu
de extradição executória para que o extraditando cumprisse defensor; e d) as assinaturas do representante do
o restante da pena, que fora acrescida de cinco meses em Ministério Público ou do delegado de polícia, do
razão do inadimplemento da pena de multa. A Turma colaborador e de seu defensor. Por sua vez, esse acordo
esclareceu não se tratar de dívida, porém, de pena somente será válido se: a) a declaração de vontade do
acessória a uma pena criminal, com característica de colaborador for resultante de um processo volitivo,
sanção penal. Destacou que o Estado requerente deverá querida com plena consciência da realidade, escolhida
firmar o compromisso de descontar da pena o tempo de com liberdade e deliberada sem má-fé; e b) o seu objeto
prisão do extraditando no território brasileiro para fins de for lícito, possível, determinado ou determinável.
extradição. Assinalou que a ausência de legislação a Destacou que a “liberdade” de que se trata seria psíquica, e
respeito da competência do Estado requerente para o não de locomoção. Assim, não haveria óbice a que o
processo e o julgamento não teria relevância em face do colaborador estivesse custodiado, desde que presente a
princípio da territorialidade, aplicável em se tratando de voluntariedade da colaboração. Ademais, no que se refere à
prática delituosa contra o seu fisco. A alegada prescrição da eficácia do acordo, ela somente ocorreria se o ato fosse
pretensão punitiva seria impertinente, porquanto se trataria submetido à homologação judicial. Esta limitar-se-ia a se
de sentença penal transitada em julgado, vale dizer, de pronunciar sobre a regularidade, legalidade e voluntariedade
questão afeta à prescrição da pretensão executória. A do acordo. Não seria emitido qualquer juízo de valor a
inexistência de comprovação dos marcos interruptivos do respeito das declarações eventualmente já prestadas pelo
curso prescricional não impossibilitaria verificar a colaborador à autoridade policial ou ao Ministério Público,
inocorrência da causa extintiva da pena, mercê de o art. 133 tampouco seria conferido o signo da idoneidade a
do Código Penal espanhol dispor que o prazo prescricional depoimentos posteriores. Em outras palavras, homologar
da pretensão executória começaria a fluir do trânsito em o acordo não implicaria dizer que o juiz admitira como
julgado da sentença (2.2.2011), ou seja, entre o marco inicial verídicas ou idôneas as informações eventualmente já
e a presente data não teria transcorrido o lapso prescricional prestadas pelo colaborador e tendentes à identificação
de cinco anos previsto na legislação espanhola. De igual de coautores ou partícipes da organização criminosa e
forma, não estaria configurada a prescrição segundo a lei das infrações por ela praticadas ou à revelação da
brasileira, que prevê o prazo prescricional de oito anos para estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
a pena superior a dois anos e não excedente a quatro anos. organização criminosa. Por fim, a aplicação da sanção
Vencido o Ministro Marco Aurélio, que concluía não ser premial prevista no acordo dependeria do efetivo
possível a entrega do extraditando. Lembrava que o Brasil cumprimento, pelo colaborador, das obrigações por ele
subscrevera o Pacto de São José da Costa Rica e, com assumidas, com a produção de um ou mais dos resultados
isso, fora revogada a prisão por dívida civil. Aduzia que não legais (Lei 12.850/2013, art. 4º, I a V). Caso contrário, o
se coadunaria com nosso ordenamento jurídico a acordo estaria inadimplido, e não se aplicaria a sanção
transformação de uma dívida em pena privativa de premial respectiva. O Colegiado assentou que eventual
liberdade. Frisava que, em face do princípio da simetria, se o coautor ou partícipe dos crimes praticados pelo
crime tivesse ocorrido no Brasil, os cinco meses que teriam colaborador não poderia impugnar o acordo de
sido acrescidos em razão do inadimplemento da pena de colaboração. Afinal, se cuidaria de negócio jurídico
multa resultantes da transformação não seriam cumpridos. processual personalíssimo. Ele não vincularia o
(Ext-1375/Inf. 796). Inteiro teor aqui. delatado e não atingiria diretamente sua esfera jurídica.
O acordo, por si só, não poderia atingir o delatado, mas sim
PENAL E PROCESSO PENAL as imputações constantes dos depoimentos do colaborador
ou as medidas restritivas de direitos que viessem a ser
01. Cabimento de HC em face de decisão de Ministro do adotadas com base nesses depoimentos e nas provas por
STF e colaboração premiada. O Plenário denegou a ordem eles indicadas ou apresentadas. Sublinhou, a respeito, que,
em “habeas corpus” impetrado em face de decisão proferida nas demais legislações a tratar de colaboração premiada, o
por Ministro do STF, mediante a qual homologado termo de direito do imputado colaborador às sanções premiais
colaboração premiada. (...) No mérito, o Plenário independeria da existência de acordo judicialmente
considerou que a colaboração premiada seria meio de homologado. Nos termos da Lei 12.850/2013, após a
obtenção de prova, destinado à aquisição de elementos homologação do acordo, os depoimentos do colaborador se
dotados de capacidade probatória. Não constituiria meio sujeitariam ao regime jurídico instituído pela lei. Subsistiriam
de prova propriamente dito. Outrossim, o acordo de válidos os depoimentos anteriormente prestados pelo
colaboração não se confundiria com os depoimentos colaborador, que poderiam, oportunamente, ser
prestados pelo agente colaborador. Estes seriam, confrontados e valorados pelas partes e pelo juízo.
efetivamente, meio de prova, que somente se mostraria Outrossim, negar-se ao delatado o direito de impugnar o
hábil à formação do convencimento judicial se viesse a acordo de colaboração não implicaria desproteção aos
ser corroborado por outros meios idôneos de prova. Por seus interesses. Sucede que nenhuma sentença
essa razão, a Lei 12.850/2013 dispõe que nenhuma condenatória poderia ser proferida com fundamento
sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações do colaborador. Ademais,
exclusivo nas declarações do agente colaborador. Assinalou sempre seria assegurado ao delatado o direito ao
que a colaboração premiada seria negócio jurídico contraditório. Ele poderia, inclusive, inquirir o colaborador
processual, o qual, judicialmente homologado, confere ao em interrogatório ou em audiência especificamente
colaborador o direito de: a) usufruir das medidas de proteção designada para esse fim. Além disso, o Tribunal reputou que
previstas na legislação específica; b) ter nome, qualificação, a personalidade do colaborador ou eventual
imagem e demais informações pessoais preservados; c) ser descumprimento de anterior acordo de colaboração não
conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores invalidariam o acordo atual. Primeiramente, seria natural que
e partícipes; e d) participar das audiências sem contato o colaborador, em apuração de organização criminosa,

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apresentasse, em tese, personalidade desajustada ao negou provimento a recurso ordinário em “habeas corpus”
convívio social, voltada à prática de crimes graves. Assim, em que se pleiteava a declaração da extinção da
se a colaboração processual estivesse subordinada à punibilidade em razão do ressarcimento integral do dano
personalidade do agente, o instituto teria poucos efeitos. Na causado à vitima do estelionato. (RHC-126917/Inf. 796).
verdade, a personalidade constituiria vetor a ser considerado Inteiro teor aqui.
no estabelecimento das cláusulas do acordo de
colaboração, notadamente a escolha da sanção premial, 04. Arquivamento de inquérito policial e coisa julgada. O
bem assim o momento da aplicação dessa sanção, pelo juiz. arquivamento de inquérito policial em razão do
Além disso, eventual “confiança” do poder público no reconhecimento de excludente de ilicitude não faz coisa
agente colaborador não seria elemento de validade do julgada material. Esse o entendimento da Segunda Turma,
acordo. Esta não adviria da personalidade ou dos que, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou a
antecedentes da pessoa, mas da fidedignidade e ordem em “habeas corpus” em que se pleiteava o
utilidade das informações prestadas, o que seria aferido reconhecimento da coisa julgada material e a extinção de
posteriormente. Assim, também seria irrelevante ação penal. No caso, em razão da suposta prática do delito
eventual descumprimento de acordo anterior pelo de homicídio tentado (CP, art. 121, § 2º, IV, c/c art. 14, II),
mesmo agente. Essa conduta não contaminaria a foram instaurados dois inquéritos — um civil e um militar —
validade de acordos posteriores. O Plenário asseverou, em face do ora paciente e de corréus. O inquérito policial
ainda, que o acordo de colaboração poderia dispor sobre militar fora arquivado em 21.10.1993, a pedido do Ministério
efeitos extrapenais de natureza patrimonial da condenação. Público, que entendera que os agentes teriam agido em
Na espécie, ele cuidaria da liberação de imóveis do estrito cumprimento de dever legal. Já no inquérito policial
interesse do colaborador, supostamente produtos de crimes. civil, o paciente fora denunciado em 23.12.1998 e, instruída
Consignou que essas cláusulas não repercutiriam na esfera a ação penal, condenado à pena de 10 anos de reclusão. O
de interesses do paciente. Todavia, seria legítimo que o Colegiado, inicialmente, destacou que, à época em que
acordo dispusesse das medidas adequadas para que proferida a decisão determinando o arquivamento do
integrantes de organizações criminosas colaborassem para inquérito policial militar, a Justiça Castrense seria
o desvendamento da estrutura organizacional. Como a competente para processar e julgar o paciente pelo delito
colaboração exitosa teria o condão de afastar em questão, já que somente com o advento da Lei
consequências penais da prática delituosa, também poderia 9.299/1996 teria sido deslocado o julgamento dos crimes
mitigar efeitos de natureza extrapenal, a exemplo do dolosos contra a vida de civis para o tribunal do júri. Por
confisco do produto do crime. A Corte registrou, ainda, que a outro lado, consoante o Enunciado 524 da Súmula do STF,
sanção premial constituiria direito subjetivo do colaborador. decisão proferida por juiz competente, em que tivesse sido
(HC-127483/Inf. 796). Ouça áudio1 áudio2 do julgamento determinado o arquivamento de inquérito a pedido do
e assista ao vídeo com os principais julgados da Ministério Público, em virtude de o fato apurado estar
semana. coberto por causa excludente de ilicitude, não obstaria o
desarquivamento quando surgissem novas provas, reiterado
02. Intimação da Defensoria Pública e princípio geral das o que decidido no HC 95.211/ES (DJe de 22.8.2011). A
nulidades. A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que decisão da Justiça Militar, na hipótese em comento, não
o processo será julgado em data determinada ou nas afastara o fato típico ocorrido, mas sim sua ilicitude, em
sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de razão do estrito cumprimento do dever legal, que o
defesa ou nulidade de julgamento quando a audiência Ministério Público entendera provado a partir dos elementos
ocorrer no dia seguinte ao que tiver sido intimada. Com de prova de que dispunha até então. Nesse diapasão, o
base nessa orientação, a Primeira Turma, por maioria, eventual surgimento de novos elementos de convicção teria
denegou a ordem em “habeas corpus” no qual discutida o condão de impulsionar a reabertura do inquérito na justiça
suposta nulidade processual, pela não intimação do comum, a teor do art. 18 do CPP (“Depois de ordenado o
representante daquele órgão. Na espécie, apesar de a arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por
Defensoria Pública ter sido intimada para a sessão de falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá
julgamento da apelação, e ter-lhe sido deferida a proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver
sustentação oral, o recurso não fora julgado. Três meses notícia”). Na espécie, a simples leitura das provas
depois, ela fora intimada de lista de 90 processos — entre constantes dos autos apontaria uma nova versão para os
os quais o recurso de apelação — no sentido de que haveria fatos delituosos, em consequência do prosseguimento das
sessão de julgamento marcada para o dia seguinte. A Turma investigações na justiça comum, não havendo impedimento
destacou a jurisprudência da Corte, segundo a qual, embora legal para a propositura da nova ação penal contra o
a sustentação oral não se qualifique como ato essencial da paciente naquela seara. Vencido o Ministro Teori Zavascki
defesa, mostra-se indispensável intimação pessoal da (relator), que entendia estar configurada a coisa julgada
Defensoria Pública. Entrementes, houvera ciência quanto à material. Leia o inteiro teor do voto condutor na seção
nova inclusão dos autos para julgamento em sessão do dia “Transcrições” deste Informativo. (HC-125101/Inf. 796).
seguinte e a Defensoria Pública não requerera adiamento. Inteiro teor aqui.
Vencido o Ministro Marco Aurélio, que concedia a ordem.
Entendia que deveria existir um interregno mínimo de 48 05. Crime de dirigir sem habilitação e lesão corporal culposa
horas entre a intimação e o julgamento. Aduzia haver na direção de veículo. A Segunda Turma concedeu a ordem
prejuízo para a parte, considerada a não atuação da de “habeas corpus” para restabelecer a decisão de 1º grau
Defensoria Pública, como o fato de se terem lançado vários que rejeitara a denúncia quanto ao crime de dirigir sem
processos em uma única assentada, a afrontar o devido habilitação. No caso, o paciente teria sido denunciado pela
processo legal. (HC-126081/Inf. 796). Inteiro teor aqui. suposta prática do delito em comento (CTB, art. 309), uma
vez que, ao conduzir automóvel em via pública sem
03. Estelionato e extinção de punibilidade. A causa especial documento, colidira com outro automóvel, causando lesões
de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da em passageiros de seu veículo. O juízo entendera que o
Lei 10.684/2003, relativamente ao pagamento integral do delito do art. 309 do CTB teria sido absorvido pela conduta
crédito tributário, não se aplica ao delito de estelionato de praticar lesão corporal culposa na direção de veículo
(CP, art. 171). Esse o entendimento da Segunda Turma, que automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação

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pública condicionada representação, que não fora 17.2.2014, respectivamente). Vencidos os Ministros Teori
formalizada no caso concreto, o que teria dado ensejo à Zavascki, Edson Fachin, Roberto Barroso e Rosa Weber,
extinção da punibilidade. Em seguida, a apelação interposta que indeferiam o pleito por considerarem incabível a
pelo Ministério Público fora provida para anular a sentença e aplicação analógica do art. 191 do CPC ao prazo previsto no
determinar o prosseguimento do feito referente ao crime de art. 4º da Lei 8.038/1990. (Inq-3983/Inf. 797). Ouça áudio
dirigir sem habilitação, decisão que fora mantida pelo STJ. A do julgamento e assista ao vídeo com os principais
Turma consignou que o crime de dirigir sem habilitação julgados da semana.
seria absorvido pelo delito de lesão corporal culposa em
direta aplicação do princípio da consunção. Isso porque, 08. Recurso exclusivo da defesa e “reformatio in pejus”. Ante
de acordo com o CTB, já seria causa de aumento de o empate na votação, a Segunda Turma, em conclusão de
pena para o crime de lesão corporal culposa na direção julgamento, deu provimento a recurso ordinário em “habeas
de veículo automotor o fato de o agente não possuir corpus” a fim de que seja refeita a dosimetria da pena em
permissão para dirigir ou carteira de habilitação. Assim, relação ao recorrente. Na espécie, afirmava-se a existência
em decorrência da vedação de “bis in idem”, não se poderia de “reformatio in pejus” em acórdão que, ao apreciar recurso
admitir que o mesmo fato fosse atribuído ao paciente como exclusivo da defesa, mantivera a condenação do ora
crime autônomo e, simultaneamente, como causa especial recorrente pela prática do crime de furto tentado (CP, art.
de aumento de pena. Além disso, o crime do art. 303 do 155 c/c art. 14, II), afastada a qualificadora da escalada (CP,
CTB, imputado ao paciente, seria de ação pública art. 155, § 4º, II), porém acrescida da causa de aumento do
condicionada à representação, que, como se inferiria da repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) — v. Informativo 781.
própria nomenclatura, só poderia ser perseguido mediante a Tratava-se de controvérsia relativa ao alcance da parte final
representação do ofendido. Diante da ausência de do art. 617 do CPP (“O tribunal, câmara ou turma atenderá
representação, seria imperativo reconhecer a extinção da nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no
punibilidade do crime de dirigir sem habilitação. (HC- que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena,
128921/Inf. 796), Inteiro teor aqui. quando somente o réu houver apelado da sentença”),
acerca do agravamento de pena quando somente o réu
06. Habeas corpus. Penal e Processual Penal. Recurso houvesse apelado da sentença. Prevaleceu a tese de que
especial. Revaloração do conjunto fático-probatório. a melhor interpretação a ser dada à parte final do art.
Admissibilidade. Hipótese que não se confunde com 617 do CPP seria a sistemática, a levar em conta que a
reexame de provas. Precedentes. Estupro (art. 213, § 1º, do norma estaria inserida em um conjunto organizado de
CP). Pena. Dosimetria. Continuidade delitiva (art. 71, CP). ideias e, por isso, a vedação da “reformatio in pejus”
Majoração da pena no máximo legal de 2/3 (dois terços). não se restringiria à quantidade final de pena, porquanto
Admissibilidade. Delitos praticados durante 6 (seis) anos não se trataria de mero cálculo aritmético, mas sim de
contra a mesma vítima. Imprecisão quanto ao número de efetiva valoração da conduta levada a efeito pelo
crimes. Irrelevância.  Dilatado lapso temporal que obsta a sentenciado. Ao fixar a pena-base, o magistrado se ateria
incidência do aumento em apenas 1/6 (um sexto). Ordem às vetoriais do art. 59 do CP. No caso, ao se comparar a
denegada. 1. A revaloração de elementos fático- pena final do recorrente (1 ano, 5 meses e 23 dias de
jurídicos, em sede de recurso especial, não se confunde reclusão) com aquela imposta em 1ª instância (2 anos, 7
com reapreciação de matéria probatória, por se tratar de meses e 15 dias de reclusão), o apelante parecia ter sido
quaestio juris, e não de quaestio facti. Precedentes. 2. beneficiado pela decisão de 2ª instância. Observou-se que
Na espécie, toda a matéria fática foi bem retratada na após o trânsito em julgado para o Ministério Público, o
sentença e no acórdão do tribunal local, razão por que se tribunal de apelação reconhecera a existência de uma
limitou o Superior Tribunal de Justiça a emprestar-lhe a circunstância qualificadora (delito praticado durante o
correta consequência jurídica. 3. Segundo pacífica repouso noturno), que em momento algum fora aventada.
jurisprudência da Suprema Corte,  o quantum de Contudo, ainda que presentes todos os requisitos
exasperação da pena, por força da continuidade delitiva, fáticos para a aplicação dessa qualificadora, a ausência
deve ser proporcional ao número de infrações cometidas. de recurso da acusação vedaria esse proceder, visto se
Precedentes. 4. A imprecisão quanto ao número de crimes tratar de elemento desfavorável à defesa. Assim, a
praticados não obsta a aplicação da causa de aumento de decisão de 2ª instância aumentara a pena atribuída a cada
pena da continuidade delitiva no patamar máximo de 2/3 vetorial negativa reconhecida e agregara à decisão uma
(dois terços), desde que haja elementos seguros que qualificadora inexistente, a gerar prejuízo e constrangimento
demonstrem que vários foram os delitos perpetrados ao ilegal. Por outro lado, os Ministros Dias Toffoli (relator) e
longo de dilatado lapso temporal. 5. Ordem denegada. (HC Teori Zavascki negavam provimento ao recurso. Admitiam a
N. 127.158-MG/Inf. 796). Inteiro teor aqui. devolução, ao tribunal “ad quem”, de todo o conjunto da
matéria na sua requalificação dos fatos aos tipos penais.
07. Litisconsórcio e prazo em dobro para a resposta à Concluíam que, por não ter havido agravamento, fosse da
acusação. É cabível a aplicação analógica do art. 191 do pena, fosse do regime de cumprimento dela, não estaria
CPC (“Quando os litisconsortes tiverem diferentes configurada a “reformatio in pejus”. (RHC-126763/Inf. 797).
procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos
para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar 09. Denúncia e prazo em dobro para resposta à acusação.
nos autos”), ao prazo previsto no art. 4º da Lei Em face da importância da fase pré-processual da
8.038/1990 (“Apresentada a denúncia ou a queixa ao denúncia, a Segunda Turma, por maioria, deu
Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para oferecer provimento, em parte, a agravo regimental em inquérito
resposta no prazo de quinze dias”). Com base nesse para deferir o prazo em dobro para que o denunciado
entendimento, o Plenário resolveu questão de ordem apresente sua resposta. Na espécie, o requerente fizera
suscitada pelo Ministro Teori Zavascki (relator) e, em dois pedidos: a) que tivesse acesso à integralidade da prova
consequência, deferiu, por maioria, o pedido formulado por disponível à acusação, com a reabertura de prazo para a
denunciado no sentido de que lhe fosse duplicado o prazo resposta preliminar; e b) que o prazo de 15 dias do art. 4º da
de oferecimento de resposta à acusação. A Corte reiterou, Lei 8.038/1990 (“Art. 4º - Apresentada a denúncia ou a
desse modo, o que decidido na AP 470 AgR-vigésimo queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para
segundo e vigésimo quinto/MG (DJe de 24.9.2013 e de oferecer resposta no prazo de quinze dias”) fosse contado

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GEAGU Objetiva
em dobro, por aplicação analógica do art. 191 do CPC (“Art. com maior razão dever-se-ia aplicar esse raciocínio aos
191 - Quando os litisconsortes tiverem diferentes maus antecedentes. Ademais, o agravamento da pena-
procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos base com fundamento em condenações transitadas em
para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar julgado há mais de cinco anos não encontraria previsão
nos autos”). Quanto ao termo “a quo” do prazo, a Turma na legislação pátria, tampouco na Constituição, mas se
denegou o pedido, porque toda a documentação que teria trataria de uma analogia “in malam partem”, método de
relação direta com a denúncia estaria disponível na integração vedado em nosso ordenamento. Por fim,
secretaria do STF para que a defesa procedesse à devida determinou ao tribunal de origem que procedesse à nova
resposta. Por outro lado, em nome do princípio da ampla fixação de regime prisional, sem considerar a gravidade
defesa, deferiu a concessão do prazo em dobro. abstrata do delito, nos termos do art. 33, §§ 2º e 3º, do CP.
Destacou que o art. 4º da Lei 8.038/1990 permitiria, Vencidos os Ministros Teori Zavascki e Cármen Lúcia, que
nessa fase processual, que o denunciado oferecesse concediam parcialmente a ordem, apenas quanto à fixação
resposta às imputações penais que contra ele tivessem do regime prisional. (HC-126315/Inf. 799)
sido deduzidas pelo Ministério Público. A amplitude
material da defesa alcançaria não apenas preliminares PROCESSO CIVIL
ou questões formais, mas também o próprio mérito da
imputação penal. Abarcaria, ainda, a possibilidade de o 01. RE e análise dos requisitos de admissibilidade de REsp.
Tribunal, após o oferecimento da denúncia, exercer o O recurso extraordinário é instrumento processual
controle de admissibilidade da acusação penal, ao idôneo para questionar o cabimento de recurso especial
acolher, receber ou rejeitar a denúncia e mesmo julgar manejado em face de decisão proferida em sede de
improcedente o pedido e, em consequência, proferir suspensão de liminar deferida ao Poder Público com
juízo de absolvição penal, nos termos da Lei 8.038/1990 base no art. 4º da Lei 8.437/1992 (“Compete ao
(“Art. 6º - A seguir, o relator pedirá dia para que o Tribunal presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento
delibere sobre o recebimento, a rejeição da denúncia ou da do respectivo recurso, suspender, em despacho
queixa, ou a improcedência da acusação, se a decisão não fundamentado, a execução da liminar nas ações
depender de outras provas”). Vencido o Ministro Teori movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a
Zavascki (relator), que negava provimento ao agravo requerimento do Ministério Público ou da pessoa
regimental. Apontava tratar-se de um prazo em que a ação jurídica de direito público interessada, em caso de
penal sequer fora instaurada e, por isso, não se poderia manifesto interesse público ou de flagrante
aferir a existência de litisconsórcio, justamente porque as ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde,
partes na ação penal ainda não estariam definidas. Afirmava à segurança e à economia públicas”). Essa a orientação
que esse tipo de manifestação não teria relação com as da Primeira Turma, que, em conclusão de julgamento e por
situações previstas no CPC que pudessem estabelecer uma maioria, proveu agravo regimental para assegurar o trânsito
analogia, como seria o caso dos recursos. (Inq-4112/Inf. do recurso extraordinário. Na espécie, o STJ não conhecera
797) de recurso especial sob o fundamento de que não poderia
ser utilizado para impugnar decisões proferidas no âmbito do
10. Maus antecedentes e período depurador. As pedido de suspensão de segurança. Segundo o STJ, o
condenações transitadas em julgado há mais de cinco recurso especial se destinaria a combater argumentos que
anos não poderão ser caracterizadas como maus dissessem respeito a exame de legalidade, ao passo que o
antecedentes para efeito de fixação da pena, conforme pedido de suspensão ostentaria juízo político — v.
previsão do art. 64, I, do CP [“Para efeito de reincidência: I Informativos 750 e 778. A Turma entendeu que a decisão
- não prevalece a condenação anterior, se entre a data do em sede de suspensão de segurança não seria estritamente
cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver política, mas teria conteúdo jurisdicional, o que, de início,
decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, desafiaria recurso especial. O Ministro Edson Fachin, ao
computado o período de prova da suspensão ou do desempatar a questão, ressaltou que o cabimento de
livramento condicional, se não ocorrer revogação”]. Esse é o recurso especial na hipótese de concessão de suspensão de
entendimento da Segunda Turma, que, em conclusão de liminar nas instâncias judiciárias respectivas seria matéria de
julgamento e por maioria, concedeu a ordem em “habeas índole constitucional e, portanto, deveria ser analisada pelo
corpus” para restabelecer a decisão do tribunal de justiça STF. Registrou, por fim, que a jurisprudência da Turma seria
que afastara os maus antecedentes, considerada no sentido da admissibilidade do recurso extraordinário
condenação anterior ao período depurador (CP, art. 64, I), interposto contra decisão do STJ que contrariasse, em tese,
para efeito de dosimetria da pena — v. Informativo 778. A o art. 105, III, da CF. Vencidos a Ministra Rosa Weber
Turma afirmou que o período depurador de cinco anos (relatora) e o Ministro Roberto Barroso, que negavam
teria a aptidão de nulificar a reincidência, de forma que provimento ao agravo regimental. (RE-798740/Inf. 797).
não poderia mais influenciar no “quantum” de pena do Inteiro teor aqui.
réu e em nenhum de seus desdobramentos. Observou
que seria assente que a “ratio legis” consistiria em apagar da
vida do indivíduo os erros do passado, já que houvera o
devido cumprimento de sua punição, de modo que seria
inadmissível atribuir à condenação o “status” de
perpetuidade, sob pena de violação aos princípios
constitucionais e legais, sobretudo o da ressocialização da
pena. A Constituição vedaria expressamente, na alínea b do
inciso XLVII do art. 5º, as penas de caráter perpétuo. Esse
dispositivo suscitaria questão acerca da proporcionalidade
da pena e de seus efeitos para além da reprimenda corporal
propriamente dita. Nessa perspectiva, por meio de cotejo
das regras basilares de hermenêutica, constatar-se-ia que,
se o objetivo primordial fosse o de se afastar a pena
perpétua, reintegrando o apenado no seio da sociedade,

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Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Superior Tribunal de Justiça IPSEM – Campina Grande.

Selecionado a partir do informativo 565 e 566 do STJ ordenação) que o Procon detém para cominar multas
relacionadas à transgressão dos preceitos da Lei
ADMINISTRATIVO 8.078/1990. Precedente citado: REsp 1.256.998-GO,
Primeira Turma, DJe 6/5/2014. (REsp 1.279.622-MG/Inf.
01. Direito administrativo e do consumidor. Interpretação de 566). Inteiro teor aqui.
cláusulas contratuais e aplicação de sanções pelo
PROCON. O Procon pode, por meio da interpretação de CIVIL E PROCESSO CIVIL
cláusulas contratuais consumeristas, aferir sua
abusividade, aplicando eventual sanção administrativa. 01. Direito civil. Prazo prescricional aplicável à execução
A alínea "c" do inciso II do art. 4º do CDC legitima a fiscal de crédito rural transferido à união. Recurso repetitivo
presença plural do Estado no mercado, tanto por meio de (art. 543-c do CPC e RES. 8/2008-STJ). Tema 639. Ao
órgãos da Administração Pública voltados à defesa do crédito rural cujo contrato tenha sido celebrado sob a
consumidor (tais como o Departamento de Proteção e égide do Código Civil de 1916, aplica-se o prazo
Defesa do Consumidor, os Procons estaduais e municipais), prescricional de 20 (vinte) anos (prescrição das ações
quanto por meio de órgãos clássicos (Defensorias Públicas pessoais - direito pessoal de crédito), a contar da data
do Estado e da União, Ministério Público estadual e federal, do vencimento, consoante o disposto no art. 177 do
delegacias de polícia especializada, agências e autarquias CC/16, para que Prepare-se para os concursos da
fiscalizadoras, entre outros). Nesse contexto, o Decreto dentro dele Advocacia-Geral da União com
2.181/1997 dispõe sobre a organização do Sistema Nacional (observado o
de Defesa do Consumidor - SNDC e estabelece as normas disposto no art. 2º, §
gerais de aplicação das sanções administrativas previstas
no CDC. Posto isso, o art. 4º, IV, do referido Decreto
enuncia que: "[...] caberá ao órgão estadual, do Distrito
3º, da LEF) sejam
feitos a inscrição e o
ajuizamento da
GEAGU
Federal e municipal de proteção e defesa do consumidor, respectiva execução Resolução de questões objetivas, peças,
criado, na forma da lei, especificamente para este fim, [...] fiscal, sem embargo pareceres e dissertações
funcionar, no processo administrativo, como instância de da norma de www.ebeji.com.br
instrução e julgamento, no âmbito de sua competência, transição prevista no
dentro das regras fixadas pela Lei nº 8.078, de 1990, pela art. 2.028 do CC/2002;
legislação complementar e por este Decreto". O caput do art. por sua vez, para o
22, por sua vez, elucida que: "Será aplicada multa ao crédito rural cujo
fornecedor de produtos ou serviços que, direta ou contrato tenha sido
indiretamente, inserir, fizer circular ou utilizar-se de cláusula celebrado sob a égide
abusiva, qualquer que seja a modalidade do contrato de do Código Civil de
consumo [...]". Assim, se não pudesse o Procon perquirir 2002, aplica-se o
cláusulas contratuais para identificar as abusivas ou prazo prescricional de 5 (cinco) anos (prescrição da
desrespeitosas ao consumidor, como seria possível a pretensão para a cobrança de dívidas líquidas
tal órgão aplicar a sanção administrativa pertinente? O constantes de instrumento público ou particular), a
Procon, embora não detenha jurisdição, está apto a contar da data do vencimento, consoante o disposto no
interpretar cláusulas contratuais, porquanto a art. 206, § 5º, I, do CC/2002, para que dentro dele
Administração Pública, por meio de órgãos de (observado o disposto no art. 2º, § 3º, da LEF) sejam
julgamento administrativo, pratica controle de feitos a inscrição em dívida ativa e o ajuizamento da
legalidade, o que não se confunde com a função respectiva execução fiscal. A controvérsia diz respeito ao
jurisdicional propriamente dita pertencente ao prazo prescricional para o ajuizamento da execução fiscal de
Judiciário. Isso sem dizer que o princípio da dívida ativa de natureza não tributária proveniente de
inafastabilidade da jurisdição faz com que a sanção contratos de financiamento do setor agropecuário (negócios
administrativa oriunda desse órgão da Administração jurídicos), sejam eles respaldados em Cédulas de Crédito
Pública voltado à defesa do consumidor seja passível de ser Rural (Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural Hipotecária,
contestada por ação judicial. Salienta-se, por fim, que a Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária, Nota de Crédito
sanção administrativa prevista no art. 57 do CDC é Rural), sejam eles atrelados a Contratos de Confissão de
legitimada pelo poder de polícia (atividade administrativa de Dívidas, com garantias reais ou não, mediante escritura

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GEAGU Objetiva
pública ou particular assinada por duas testemunhas. Esses público federal (Cadin), as restrições ao fornecimento de
contratos foram originariamente firmados pelos devedores Certidão Negativa de Débitos e a incidência do Decreto-Lei
com instituições financeiras e posteriormente foram 1.025/1969 (encargo legal). (REsp 1.373.292-PE/Inf. 565).
adquiridos pela União por força da MP 2.196-3/2001, tendo Inteiro teor aqui.
sido inscritos em dívida ativa, para fins de cobrança. Posto
isso, cumpre esclarecer que a União, cessionária do 02. Direito processual civil. Litigância de má-fé e
crédito rural, não executa a Cédula de Crédito Rural desnecessidade de prova de prejuízo. É desnecessária a
(ação cambial), mas a dívida oriunda de contrato de comprovação de prejuízo para que haja condenação ao
financiamento, razão pela qual pode se valer do pagamento de indenização por litigância de má-fé (art.
disposto no art. 39, § 2º, da Lei 4.320/1964 e, após 18, caput e § 2º, do CPC). Ressalta-se, inicialmente, que o
efetuar a inscrição na sua dívida ativa, buscar sua art. 18, caput e § 2º, do CPC é voltado à valoração dos
satisfação por meio da Execução Fiscal (Lei 6.830/1980), princípios da boa-fé e lealdade processual. Nesse contexto,
não se aplicando, portanto, o art. 70 da Lei Uniforme de o litigante que proceder de má-fé deverá indenizar a parte
Genebra (Decreto 57.663/1966), que fixa em 3 (três) anos contrária pelos prejuízos advindos de sua conduta
a prescrição do título cambial, pois a prescrição da ação processual, bem como ser punido por multa de até 1% (um
cambial não fulmina o próprio crédito, que poderá ser por cento) sobre o valor da causa, mais os honorários
perseguido por outros meios, consoante o art. 60 do advocatícios e outras despesas processuais. O § 2º do art.
Decreto-Lei 167/1967, c/c art. 48 do Decreto 2.044/1908. 18 do CPC, por sua vez, estipula que o juiz poderá, de
De igual modo, não se aplica o raciocínio adotado nos ofício, fixar o valor da indenização em até 20% (vinte por
precedentes REsp 1.105.442-RJ (Primeira Seção, julgado cento) sobre o valor da causa ou determinar sua liquidação
em 9/12/2009) e REsp 1.112.577-SP (Primeira Seção, por arbitramento. Em momento algum, o dispositivo legal em
julgado em 9/12/2009), nos quais foram julgados casos de questão exige que haja prova do prejuízo para que a
inscrição em dívida ativa não tributária de multa por infração indenização em discussão possa ser fixada. Com efeito, o
administrativa, sendo que este último culminou na edição da art. 18, caput e § 2º, do CPC apenas dispõe que: "o juiz ou
Súmula 467 do STJ ("Prescreve em cinco anos, contados do tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante
término do processo administrativo, a pretensão da de má-fé a [...] indenizar a parte contrária dos prejuízos que
Administração Pública de promover a execução da multa por esta sofreu [...]". Assim, para a fixação da indenização, a lei
infração ambiental"). Com efeito, esses precedentes versam só exige que haja um prejuízo, potencial ou presumido. A
sobre multa administrativa, que, por sua natureza, é par disso, observa-se que a exigência de comprovação do
derivação própria do Poder de Império da Administração prejuízo praticamente impossibilitaria a aplicação do
Pública. O débito em análise, por sua vez, é proveniente de comando normativo em análise, comprometendo a sua
relação jurídica de Direito Privado, a qual foi realizada eficácia, por se tratar de prova extremamente difícil de ser
voluntariamente pelo particular, quando assinou contrato de produzida pela parte que se sentir atingida pelo dano
financiamento rural com recursos de fontes públicas e processual. Portanto, tem-se que o preenchimento das
privadas. Ressalta-se, ainda, que os referidos precedentes condutas descritas no art. 17 do CPC, que define os
firmaram dois pressupostos sucessivos para a aplicação do contornos fáticos da litigância de má-fé, é causa
prazo prescricional quinquenal previsto no Decreto suficiente para a configuração do prejuízo à parte
20.910/1932, os quais merecem a devida atenção. O contrária e ao andamento processual do feito, até
primeiro deles é a subsidiariedade, é dizer, o aludido porque, caso prevalecesse a tese quanto à exigibilidade
Decreto somente se aplica de forma subsidiária, ou seja, de comprovação do prejuízo causado pelo dano
deve ser constatada a falta de regra específica para regular processual, isso impossibilitaria, muitas vezes, que o
o prazo prescricional no caso concreto. O segundo é a próprio juiz pudesse - como de fato pode - decretar a
isonomia, ou seja, na falta de disposição expressa, a litigância de má-fé ex officio, na medida em que o
aplicação do Decreto 20.910/1932 deve ocorrer por prejuízo não estaria efetivamente comprovado nos
isonomia, de modo que uma mesma relação jurídica não autos. Precedentes citados: EDcl no REsp 816.512-PI,
enseje prazos prescricionais diversos para a Administração Primeira Seção, DJe 16/11/2011; REsp 861.471-SP, Quarta
e para o administrado. No presente caso, entretanto, não Turma, DJe 22/3/2010; REsp 872.978-PR, Segunda Turma,
persiste o primeiro pressuposto, pois existem regras DJe 25/10/2010. (EREsp 1.133.262-ES/Inf. 565). Inteiro
específicas, já que para regular o prazo prescricional do teor aqui.
direito pessoal de crédito albergado pelo contrato de mútuo
("ação pessoal") vigeu o art. 177 do CC/1916 (20 anos) e, 03. Direito civil. Prorrogação automática de fiança em
para regular a prescrição da pretensão para a cobrança de contrato de mútuo bancário. É lícita cláusula em contrato
dívidas líquidas, encontra-se em vigor o art. 206, § 5º, I, do de mútuo bancário que preveja expressamente que a
CC/2002 (5 anos). Não há de se invocar, portanto, a fiança prestada prorroga-se automaticamente com a
aplicação subsidiária do Decreto 20.910/1932. De mais a prorrogação do contrato principal. No caso, a avença
mais, no que diz respeito ao pressuposto da isonomia, sabe- principal não envolvia relação contratual de consumo, pois
se que, em se tratando de qualquer contrato de que a cuidava-se de mútuo mediante o qual se obteve capital de
Administração Pública é parte, não existe isonomia perfeita, giro para o exercício de atividade empresarial. Posto isso,
já que todos os contratos por ela celebrados (inclusive os de esclareça-se que a prorrogação da fiança do contrato
Direito Privado) sofrem as derrogações próprias das normas principal, a par de ser circunstância prevista em cláusula
publicistas. Desse modo, o regime jurídico aplicável ao contratual - previsível no panorama contratual -, comporta
crédito rural adquirido pela União sofre uma derrogação ser solucionada adotando-se a mesma diretriz conferida
pontual inerente aos contratos privados celebrados pela para fiança em contrato de locação - antes mesmo da nova
Administração Pública em razão dos procedimentos de redação do art. 39 da Lei do Inquilinato dada pela Lei
controle financeiro, orçamentário, contábil e de legalidade 12.112/2009 -, pois é a mesma matéria disciplinada pelo
específicos a que se submete (Lei 4.320/1964). São Código Civil. O contrato de mútuo bancário tem por
justamente esses controles que justificam a inscrição em característica ser, em regra, de adesão e de longa duração,
dívida ativa da União, a utilização da Execução Fiscal para a mantendo a paridade entre as partes contratantes, vigendo e
cobrança do referido crédito, a possibilidade de registro no renovando-se periodicamente por longo período -
Cadastro Informativo de créditos não quitados do setor constituindo o tempo elemento nuclear dessa modalidade de

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GEAGU
negócio. A Objetiva
fiança, para ser celebrada, exige forma escrita - ilícitos praticados por usuários em razão da negativa de o
pois é requisito para sua validade a manifestação expressa provedor exercer o poder de controle ou de limitação dos
e forma documentada - para gerar o dever obrigacional de danos quando poderia fazê-lo, do que resulta a
garantir o contrato principal, não se prorrogando, salvo impossibilidade de aplicação da chamada teoria da
disposição em contrário. Além disso, não se admite, na responsabilidade vicária. Ademais, não há danos que
fiança, interpretação extensiva de suas cláusulas, a fim de possam ser imputados à inércia do provedor de internet. Ato
utilizar analogia para ampliar as obrigações do fiador ou a ilícito futuro não pode acarretar ou justificar dano pretérito.
duração do contrato acessório, não o sendo a observância Se eventualmente houver omissão culposa - em tornar
àquilo que foi expressamente pactuado, sendo certo que as indisponíveis as páginas que veiculavam o conteúdo ilícito -,
causas específicas legais de extinção da fiança são são os danos resultantes dessa omissão que devem ser
taxativas. Esclareça-se que não admitir interpretação recompostos, descabendo o ressarcimento, pela Google, de
extensiva significa tão somente que o fiador responde, eventuais prejuízos que os autores já vinham
precisamente, por aquilo que declarou no instrumento da experimentando antes mesmo de proceder à notificação.
fiança. Nesse contexto, não há ilegalidade na previsão (REsp 1.512.647-MG/Inf. 565). Inteiro teor aqui.
contratual expressa de que a fiança prorroga-se
automaticamente com a prorrogação do contrato principal. 05. Direito processual civil. Necessidade de disponibilização
Com efeito, como a fiança tem o propósito de transferir de meios para identificação de usuário que pratica ilícito em
para o fiador o risco do inadimplemento, cumprindo rede social. O titular que teve direito autoral violado pela
dessa forma sua função de garantia, tendo o pacto comercialização desautorizada de sua obra em rede
previsto, em caso de prorrogação da avença principal, a social deve indicar a URL específica da página na qual o
sua prorrogação automática - sem que tenha havido ilícito foi praticado, caso pretenda que o provedor torne
notificação resilitória, novação, transação ou concessão indisponível o conteúdo e forneça o IP do usuário
de moratória -, não há falar em extinção da garantia responsável pela violação. Precedentes citados: Rcl
pessoal. Ressalte-se que poderá o fiador, querendo, 5.072-AC, Segunda Seção, DJe 4/6/2014; REsp 1.306.157-
promover a notificação resilitória nos moldes do SP, Quarta Turma, DJe 24/3/2014; e REsp 1.308.830-RS,
disposto no art. 835 do CC, a fim de se exonerar da Terceira Turma, DJe 19/6/2012. (REsp 1.512.647-MG/Inf.
fiança. (REsp 1.253.411-CE/Inf. 565). Inteiro teor aqui. 565). Inteiro teor aqui.

04. Direito civil. Responsabilidade civil dos administradores 06. Direito processual civil. Comprovação de pagamento de
de rede social por violação de direito autoral causada por preparo recursal via recibo extraído da internet. O
seus usuários. A Google não é responsável pelos pagamento do preparo recursal pode ser comprovado
prejuízos decorrentes de violações de direito autoral por intermédio de recibo extraído da internet, desde que
levadas a efeito por usuários que utilizavam a rede esse meio de constatação de quitação possibilite a
social Orkut para comercializar obras sem autorização aferição da regularidade do recolhimento. A despeito do
dos respectivos titulares, uma vez verificado (a) que o entendimento de que o comprovante de pagamento emitido
provedor de internet não obteve lucro ou contribuiu pela internet não possui fé pública, não podendo ser
decisivamente com a prática ilícita e (b) que os danos utilizado para comprovação de recolhimento de preparo
sofridos antecederam a notificação do provedor acerca recursal, em virtude da possibilidade de adulteração pelo
da existência do conteúdo infringente. Na situação em próprio interessado, entende-se que o ordenamento jurídico
análise, a Google, administradora da rede social Orkut, não não veda expressamente essa modalidade de demonstração
violou diretamente direitos autorais, seja editando, de quitação. Ao contrário, é recomendado o seu uso, por ser
contrafazendo ou distribuindo obras protegidas, seja mais consentâneo com a velocidade e a praticidade da vida
praticando quaisquer dos verbos previstos nos arts. 102 a moderna, proporcionadas pela utilização da rede mundial de
104 da Lei 9.610/1998. De fato, tratando-se de provedor de computadores, desde que possível, por esse meio, aferir a
internet comum, como os administradores de rede social, regularidade do pagamento, inclusive permitindo-se ao
não é óbvia a inserção de sua conduta regular em algum interessado a impugnação fundamentada. Ademais, as
dos verbos constantes nos arts. 102 a 104 da Lei de Direitos relações sociais são constituídas com base na presunção de
Autorais. Há que se investigar como e em que medida a que há boa-fé entre seus co-partícipes, tendo o direito
estrutura do provedor de internet ou sua conduta culposa ou processual, de forma geral, adotado idêntico viés. Tanto é
dolosamente omissiva contribuíram para a violação de assim que a exceção é prevista expressamente nos artigos
direitos autorais. No direito comparado, a responsabilidade 14 e seguintes do CPC, outorgando-se poderes ao julgador
civil de provedores de internet por violações de direitos para penalizar aquele que foge à regra geral, ou seja, aquele
autorais praticadas por terceiros tem sido reconhecida a que age de má-fé. Além disso, parece ser um contrassenso
partir da ideia de responsabilidade contributiva e de permitir o uso do meio eletrônico na tramitação do processo
responsabilidade vicária, somada à constatação de que a judicial, avalizar a emissão das guias por meio da rede
utilização de obra protegida não consubstancia o chamado mundial de computadores e, ao mesmo tempo, coibir o seu
fair use. Nesse contexto, reconhece-se a responsabilidade pagamento pela mesma via, obrigando o jurisdicionado a se
contributiva do provedor de internet, no cenário de violação dirigir a uma agência bancária. Por fim, o próprio Tesouro
de propriedade intelectual, nas hipóteses em que há Nacional autoriza o pagamento pela internet. Portanto, o fato
intencional induzimento ou encorajamento para que terceiros dos comprovantes de pagamento das custas e do porte de
cometam diretamente ato ilícito. A responsabilidade vicária, remessa e retorno terem sido extraídos da internet, por si só,
por sua vez, tem lugar nos casos em que há lucratividade não é circunstância suficiente para conduzir à deserção do
com ilícitos praticados por outrem, e o beneficiado se nega a recurso (AgRg no REsp 1.232.385-MG, Quarta Turma, DJe
exercer o poder de controle ou de limitação dos danos 22/8/2013). Precedente citado: AgRg no AREsp 249.395-
quando poderia fazê-lo. No caso em exame, a rede social SC, Terceira Turma, DJe 25/2/2014. (EAREsp 423.679-
em questão não tinha como traço fundamental o SC/Inf. 565). Inteiro teor aqui.
compartilhamento de obras, prática que poderia ensejar a
distribuição ilegal de criações protegidas. Descabe, portanto, 07. Direito processual civil. Conflito entre coisas julgadas.
a incidência da chamada responsabilidade contributiva. Havendo conflito entre duas coisas julgadas,
Igualmente, não se verificou ter havido lucratividade com prevalecerá a que se formou por último, enquanto não

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GEAGU Objetiva
desconstituída mediante ação rescisória. Precedentes conferida por seu intérprete maior, não caracterizando a
citados: AgRg no REsp 643.998-PE, Sexta Turma, DJe atuação de associação como substituição processual - à
1/2/2010; REsp 598.148-SP, Segunda Turma, DJe exceção do mandado de segurança coletivo -, mas como
31/8/2009. (REsp 1.524.123-SC/Inf. 565). Inteiro teor aqui. representação, em que é defendido o direito de outrem (dos
associados), não em nome próprio da entidade, não há
08. Direito processual civil. Ilegitimidade do espólio para como reconhecer a possibilidade de execução da sentença
pleitear indenização do seguro obrigatório DPVAT no caso coletiva por membro da coletividade que nem sequer foi
de morte da vítima. O espólio, ainda que representado filiado à associação autora da ação coletiva. Assim, na
pelo inventariante, não possui legitimidade ativa para linha do decidido pelo STF, à exceção do mandado de
ajuizar ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) segurança coletivo, em se tratando de sentença de ação
em caso de morte da vítima no acidente de trânsito. coletiva ajuizada por associação em defesa de direitos
Antes da vigência da Lei 11.482/2007, a indenização do individuais homogêneos, para se beneficiar do título, ou
seguro obrigatório DPVAT, na ocorrência do falecimento da o interessado integra essa coletividade de filiados (e
vítima, deveria ser paga em sua totalidade ao cônjuge ou nesse caso, na condição de juridicamente interessado,
equiparado e, na sua ausência, aos herdeiros legais. Depois é-lhe facultado tanto dar curso à eventual demanda
da modificação legislativa, o valor indenizatório passou a ser individual, para ao final ganhá-la ou perdê-la, ou então
pago metade ao cônjuge não separado judicialmente e o sobrestá-la, e, depois, beneficiar-se da eventual coisa
restante aos herdeiros da vítima, segundo a ordem de julgada coletiva); ou, não sendo associado, pode,
vocação hereditária (art. 4º da Lei 6.194/1974, com a oportunamente, litisconsorciar-se ao pleito coletivo,
redação dada pela Lei 11.482/2007). Desse modo, caso em que será recepcionado como parte
depreende-se que o valor oriundo do seguro obrigatório superveniente (arts. 103 e 104 do CDC). É oportuno frisar
(DPVAT) não integra o patrimônio da vítima de acidente que, embora o mencionado leading case do STF não tenha
de trânsito (créditos e direitos da vítima falecida) deixado claro se a sentença coletiva pode vir a beneficiar
quando se configurar o evento morte, mas passa aqueles que se filiam à associação posteriormente - tema de
diretamente para os beneficiários. Como se vê, a repercussão geral número 499, que será dirimido por
indenização do seguro obrigatório (DPVAT) em caso de ocasião do julgamento do RE 612.043-PR -, não há dúvidas
morte da vítima surge somente em razão e após a sua de que a sentença coletiva, prolatada em ação de rito
configuração, ou seja, esse direito patrimonial não é ordinário, só pode beneficiar os associados. Por último, a
preexistente ao óbito da pessoa acidentada, sendo, título de oportuno registro, cabe ressaltar que a legitimação
portanto, direito próprio dos beneficiários, a afastar a concorrente, prevista no art. 82, IV, do CDC para defesa
inclusão no espólio. De fato, apesar de o seguro DPVAT coletiva de interesses difusos, coletivos e individuais
possuir a natureza de seguro obrigatório de homogêneos de consumidores e das vítimas, é
responsabilidade civil (e não de danos pessoais), deve ser manifestamente impertinente ao caso em exame, pois o
aplicado, por analogia, nesta situação específica, o art. 794 dispositivo restringe essa hipótese de atuação às
do CC/2002 (art. 1.475 do CC/1916), segundo o qual o associações legalmente constituídas há pelo menos um ano
capital estipulado, no seguro de vida ou de acidentes e "que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos
pessoais para o caso de morte, não está sujeito às dívidas direitos protegidos pelo Código consumerista". (REsp
do segurado, nem se considera herança para todos os 1.374.678-RJ/Inf. 565). Inteiro teor aqui.
efeitos de direito. Precedentes citados: REsp 1.132.925-SP,
Quarta Turma, DJe 6/11/2013; e REsp 1.233.498-PE, 10. Direito civil e constitucional. Possibilidade de usucapião
Terceira Turma, DJe 14/12/2011. (REsp 1.419.814-SC/Inf. de imóvel rural de área inferior ao módulo rural. Presentes
565). Inteiro teor aqui. os requisitos exigidos no art. 191 da CF, o imóvel rural
cuja área seja inferior ao "módulo rural" estabelecido
09. Direito processual civil. Impossibilidade de execução para a região (art. 4º, III, da Lei 4.504/1964) poderá ser
individual de sentença coletiva por pessoa não filiada à adquirido por meio de usucapião especial rural. De fato,
associação autora da ação coletiva. O servidor não filiado o art. 65 da Lei 4.504/1964 (Estatuto da Terra) estabelece
não detém legitimidade para executar individualmente a que "O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão
sentença de procedência oriunda de ação coletiva - inferior à constitutiva do módulo de propriedade rural". A Lei
diversa de mandado de segurança coletivo - proposta 4.504/1964 (Estatuto da Terra) - mais especificamente, o
por associação de servidores. De fato, não se desconhece seu art. 4º, III (que prevê a regra do módulo rural), bem
que prevalece na jurisprudência do STJ o entendimento de como o art. 65 (que trata da indivisibilidade do imóvel rural
que, indistintamente, os sindicatos e associações, na em área inferior àquele módulo) -, ainda que anterior à
qualidade de substitutos processuais, detêm legitimidade Constituição Federal de 1988, buscou inspiração, sem
para atuar judicialmente na defesa dos interesses coletivos dúvida alguma, no princípio da função social da propriedade.
de toda a categoria que representam; por isso, caso a Nesse contexto, cabe afirmar que a propriedade privada e a
sentença coletiva não tenha uma delimitação expressa dos função social da propriedade estão previstas na Constituição
seus limites subjetivos, a coisa julgada advinda da ação Federal de 1988 dentre os direitos e garantias individuais
coletiva deve alcançar todas as pessoas da categoria, (art. 5º, XXIII), sendo pressupostos indispensáveis à
legitimando-as para a propositura individual da execução de promoção da política de desenvolvimento urbano (art. 182, §
sentença. Contudo, não pode ser ignorado que, por ocasião 2º) e rural (art. 186, I a IV). No caso da propriedade rural,
do julgamento do RE 573.232-SC, sob o regime do artigo sua função social é cumprida, nos termos do art. 186 da CF,
543-B do CPC, o STF proferiu decisão, com repercussão quando seu aproveitamento for racional e apropriado;
geral, vinculando horizontalmente seus magistrados e quando a utilização dos recursos naturais disponíveis for
verticalmente todos os demais, reiterando sua adequada e o meio ambiente preservado, assim como
jurisprudência, firmada no sentido de que "as balizas quando as disposições que regulam as relações de trabalho
subjetivas do título judicial, formalizado em ação forem observadas. Realmente, o Estatuto da Terra foi
proposta por associação, é definida pela representação pensado a partir da delimitação da área mínima necessária
no processo de conhecimento, presente a autorização ao aproveitamento econômico do imóvel rural para o
expressa dos associados e a lista destes juntada à sustento familiar, na perspectiva de implementação do
inicial". À luz da interpretação do art. 5º, XXI, da CF, princípio constitucional da função social da propriedade,

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GEAGU
importandoObjetiva
sempre e principalmente, que o imóvel sobre o encerramento não se justifica a incidência de juros, já
qual se exerce a posse trabalhada possua área capaz de que o poupador não mais estará privado da utilização de
gerar subsistência e progresso social e econômico do seu capital; e, (2) os juros são frutos civis e representam
agricultor e sua família, mediante exploração direta e prestações acessórias ligadas à obrigação principal".
pessoal - com a absorção de toda a força de trabalho, Nesse contexto, cabe ressaltar que não se desconhece que
eventualmente com a ajuda de terceiros. A Constituição a jurisprudência do STJ também possui o entendimento no
Federal de 1988, em seu art. 191, cujo texto se faz idêntico sentido de que os juros remuneratórios têm como termo final
no art. 1.239 do CC, disciplinou a usucapião especial rural, a data do efetivo pagamento da dívida (AgRg no AREsp
nos seguintes termos: "Aquele que, não sendo proprietário 408.287-SP, Terceira Turma, DJe 27/5/2014; AgRg no Ag
de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos 1.010.310-DF, Quarta Turma, DJe 31/10/2012). Por sua vez,
ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, o contrato de depósito pecuniário ou bancário por ostentar
não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por natureza real, somente se aperfeiçoa com a efetiva entrega
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, do dinheiro ou equivalente ao banco. Nessa linha de
adquirir-lhe-á a propriedade". Como se verifica neste artigo intelecção, observa-se, portanto, que uma das formas de
transcrito, há demarcação de área máxima passível de ser extinção dessa espécie contratual ocorre com a retirada da
usucapida, não de área mínima, o que leva os doutrinadores quantia integralmente depositada ou diante do pedido feito
a concluírem que mais relevante que a área do imóvel é o pelo depositante para que a conta bancária seja encerrada,
requisito que precede a ele, ou seja, o trabalho realizado com a consequente devolução de todo o montante
pelo possuidor e sua família, que torna a terra produtiva e pecuniário. É o que se extrai da dicção do art. 1.265, caput,
lhe confere função social. A usucapião especial rural é do CC/1916, cujo texto foi reproduzido pelo art. 627 do
caracterizada pelo elemento posse-trabalho. Serve a essa CC/2002. No entanto, caso o banco não demonstre a data
espécie tão somente a posse marcada pela exploração de extinção da conta-poupança, a melhor solução consiste
econômica e racional da terra, que é pressuposto à em adotar a data da citação ocorrida nos autos da ação civil
aquisição do domínio do imóvel rural, tendo em vista a pública objeto da execução como o termo final dos juros
intenção clara do legislador em prestigiar o possuidor que remuneratórios. Isso porque, na hipótese em análise, o ônus
confere função social ao imóvel rural. Assim, a partir de uma de comprovação da data de encerramento da conta-
interpretação teleológica da norma, que assegure a tutela do poupança, pela retirada do valor depositado, incumbe à
interesse para a qual foi criada, conclui-se que, assentando instituição bancária, nos termos do art. 333, II, do CPC, uma
o legislador, no ordenamento jurídico, o instituto da vez que se trata de fato que delimita a extensão do pedido
usucapião rural, prescrevendo um limite máximo de área a formulado pelo autor desse tipo de demanda. Ademais,
ser usucapida, sem ressalva de um tamanho mínimo, porque essa sistemática impede que exista
estando presentes todos os requisitos exigidos pela concomitantemente a incidência de juros remuneratórios e
legislação de regência, não há impedimento à aquisição moratórios dentro de um mesmo período, uma vez que, na
usucapicional de imóvel que guarde medida inferior ao hipótese aqui analisada, o depositante, no momento da
módulo previsto para a região em que se localize. Ressalte- propositura da ação coletiva, demonstra o interesse em
se que esse entendimento vai ao encontro do que foi rever os reflexos dos expurgos inflacionários, ocorrendo a
decidido pelo Plenário do STF, que, por ocasião do constituição em mora do banco, por não satisfazer
julgamento do RE 422.349-RS (DJe 29/4/2015), fixou a voluntariamente a pretensão resistida, momento a partir do
seguinte tese: "Preenchidos os requisitos do art. 183 da CF, qual deverão ser aplicados os juros de mora. Trata-se, além
o reconhecimento do direito à usucapião especial urbana disso, de sistemática que se coaduna com entendimento
não pode ser obstado por legislação infraconstitucional que recente da Corte Especial do STJ, julgado sob o regime do
estabeleça módulos urbanos na respectiva área onde art. 543-C do CPC, no sentido de que "Os juros de mora
situado o imóvel (dimensão do lote)". (REsp 1.040.296- incidem a partir da citação do devedor na fase de
ES/Inf. 566). Inteiro teor aqui. conhecimento da Ação Civil Pública, quando esta se fundar
em responsabilidade contratual, sem que haja configuração
11. Direito civil. Contrato de depósito bancário e termo final da mora em momento anterior" (REsp 1.361.800-SP, Corte
de incidência dos juros remuneratórios. Na execução Especial, DJe 14/10/2014). (REsp 1.535.990-MS/Inf. 566).
individual de sentença proferida em ação civil pública Inteiro teor aqui.
que reconhece o direito de poupadores aos expurgos
inflacionários relativos ao período de junho de 1987 e EMPRESARIAL
janeiro de 1989 (Planos Bresser e Verão), os juros
remuneratórios são devidos até a data de encerramento 01. Direito financeiro. Restrição à transferência de recursos
da conta poupança, mas se a instituição bancária deixar federais a município. A restrição à transferência de
de demonstrar precisamente o momento em que a conta recursos federais a Município que possui pendências no
bancária chegou ao seu termo, os juros remuneratórios Cadastro Único de Exigências para Transferências
deverão incidir até a citação ocorrida nos autos da ação Voluntárias (CAUC) e no Sistema Integrado de
civil pública objeto da execução. Os juros Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI)
remuneratórios são devidos ao cliente/depositante em não pode ser suspensa sob a justificativa de que os
razão da utilização do capital (valor depositado) pela recursos destinam-se à pavimentação e drenagem de
instituição bancária. A par disso, se os juros vias públicas. Isso porque essas atividades não podem
remuneratórios são cabíveis como compensação ou ser enquadradas no conceito de ação social previsto no
remuneração do capital, caso o capital não esteja mais à art. 26 da Lei 10.522/2002, dispositivo legal cujo teor
disposição da instituição bancária, não há nenhuma preconiza a suspensão de inscrição desabonadora no
justificativa para a incidência dos referidos juros, pois o SIAFI e no CADIN, na hipótese de transferência de
poupador/depositante não estará mais privado da recursos federais à municipalidade destinados a ações
utilização do dinheiro e o banco não estará fazendo uso sociais e a ações em faixa de fronteira. De fato, a
de "capital alheio". Nesse sentido, a Terceira Turma do interpretação da expressão "ações sociais" não pode ser
STJ (AgRg no REsp 1.505.007-MS, DJe 18/5/2015) afirmou abrangente a ponto de abarcar situações que o legislador
que "Os juros remuneratórios incidem até a data de não previu, sob pena de esvaziamento, por completo, da Lei
encerramento da conta poupança porque (1) após o seu 10.522/2002. Em verdade, a definição do conceito do

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GEAGU Objetiva
referido termo deve ser resultado de uma interpretação Público, diante de sua independência funcional, a oferecer a
restritiva, teleológica e sistemática, mormente diante do fato denúncia ou a ter, em toda e qualquer hipótese,
de que qualquer ação governamental em prol da sociedade reexaminado o pedido de arquivamento pela instância
pode ser passível de enquadramento no conceito de ação superior, o respectivo Procurador-Geral. Ao Ministério
social. Desta feita, a expressão "ações sociais" deve ser Público cabe formar a opinio delicti e, se entender devido,
interpretada de modo a abranger aquelas que objetivam o oferecer a denúncia. Desse modo, uma vez verificada a
atendimento dos direitos sociais assegurados aos cidadãos, inexistência de elementos mínimos que corroborem a autoria
cuja realização é obrigatória por parte do Poder Público, e a materialidade delitivas, pode o Parquet requerer o
como aquelas mencionadas na Constituição Federal, nos arquivamento do inquérito, e o Juiz, por consequência,
artigos 6º, 193, 194, 196, 201, 203, 205, 215 e 217 avaliar se concorda ou não com a promoção ministerial.
(alimentação, moradia, segurança, proteção à maternidade e Uma vez anuindo, fica afastado o procedimento previsto no
à infância, assistência aos desamparados, ordem social, art. 28 do CPP, sem que, com isso, seja violado direito
seguridade social, saúde, previdência social, assistência líquido e certo da possível vítima de crime de ver
social, educação, cultura e desporto). Portanto, a processado seu suposto ofensor (RMS 12.572-SP, Sexta
pavimentação e a drenagem de vias públicas não podem ser Turma, DJ de 10/9/2007). Cumpre salientar, por oportuno,
enquadradas no conceito de ação social previsto no art. 26 que, se a vítima ou qualquer outra pessoa trouxer novas
da Lei 10.522/2002, embora o direito à infraestrutura urbana informações que justifiquem a reabertura do inquérito, pode
e aos serviços públicos, os quais abarcam o direito à a autoridade policial proceder a novas investigações, nos
pavimentação e drenagem de vias públicas, efetivamente termos do citado art. 18 do CPP. Nada obsta, ademais, que,
componham o rol de direitos que dão significado à garantia a surgindo novos elementos aptos a ensejar a persecução
cidades sustentáveis, conforme previsão do art. 2º da Lei criminal, sejam tomadas as providências cabíveis pelo órgão
10.257/2001 (Estatuto das Cidades). Precedente citado: ministerial, inclusive com a abertura de investigação e o
REsp 1.372.942-AL, Primeira Turma, DJe 11/4/2014. (REsp oferecimento de denúncia. (MS 21.081-DF/Inf. 565). Inteiro
1.527.308-CE/Inf. 566). Inteiro teor aqui. teor aqui.

PENAL E PROCESSO PENAL 02. Direito processual penal. Estelionato e foro competente
para processar a persecução penal. Compete ao juízo do
01. Direito processual penal. Arquivamento do inquérito foro onde se encontra localizada a agência bancária por
policial. Na ação penal pública incondicionada, a vítima meio da qual o suposto estelionatário recebeu o
não tem direito líquido e certo de impedir o proveito do crime - e não ao juízo do foro em que está
arquivamento do inquérito ou das peças de informação. situada a agência na qual a vítima possui conta bancária
Considerando que o processo penal rege-se pelo princípio - processar a persecução penal instaurada para apurar
da obrigatoriedade, a propositura da ação penal pública crime de estelionato no qual a vítima teria sido induzida
constitui um dever, e não uma faculdade, não sendo a depositar determinada quantia na conta pessoal do
reservado ao Parquet um juízo discricionário sobre a agente do delito. Com efeito, a competência é definida pelo
conveniência e oportunidade de seu ajuizamento. Por outro lugar em que se consuma a infração, nos termos do art. 70
lado, não verificando o Ministério Público material probatório do CPP. Dessa forma, cuidando-se de crime de estelionato,
convincente para corroborar a materialidade do delito ou a tem-se que a consumação se dá no momento da obtenção
autoria delitiva ou entendendo pela atipicidade da conduta, da vantagem indevida, ou seja, no momento em que o valor
pela existência de excludentes de ilicitude ou de é depositado na conta corrente do autor do delito, passando,
culpabilidade, ou, ainda, pela extinção da punibilidade, pode portanto, à sua disponibilidade. Note-se que o prejuízo
requerer perante o Juiz o arquivamento do inquérito ou das alheio, apesar de fazer parte do tipo penal, está relacionado
peças de informação. O magistrado, concordando com o à consequência do crime de estelionato e não propriamente
requerimento, deve determinar o arquivamento, que à conduta. De fato, o núcleo do tipo penal é obter vantagem
prevalecerá, salvo no caso de novas provas surgirem a ilícita, razão pela qual a consumação se dá no momento em
viabilizar o prosseguimento das investigações pela que os valores entram na esfera de disponibilidade do autor
autoridade policial (art. 18 do CPP). Se discordar, porém, do crime, o que somente ocorre quando o dinheiro ingressa
deve o magistrado encaminhar o pedido de arquivamento, efetivamente em sua conta corrente. No caso em apreço,
com o inquérito ou peças de informação, à consideração do tendo a vantagem indevida sido depositada em conta
Procurador-Geral de Justiça, o qual deverá: a) oferecer a corrente de agência bancária situada em localidade diversa
denúncia, ou designar outro órgão ministerial para fazê-lo; daquela onde a vítima possui conta bancária, tem-se que
ou b) insistir no arquivamento, estando, nessa última naquela houve a consumação do delito. (CC 139.800-
hipótese, obrigado o Juiz a atender. Poderá, ainda, o MG/Inf. 565). Inteiro teor aqui.
Procurador-Geral requerer novas diligências investigatórias.
Há, portanto, um sistema de controle de legalidade muito 03. Direito processual penal. Extradição supletiva. Caso
técnico e rigoroso em relação ao arquivamento de inquérito seja oferecida denúncia pelo Ministério Público por fato
policial, inerente ao próprio sistema acusatório. No exercício anterior e não contido na solicitação de extradição da
da atividade jurisdicional, o Juiz, considerando os elementos pessoa entregue, deve a ação penal correspondente ser
trazidos nos autos de inquérito ou nas peças de suspensa até que seja julgado pedido de extradição
informações, tem o poder-dever de anuir ou discordar do supletiva, nos termos do art. 14 do Decreto 4.975/2004
pedido de arquivamento formulado pelo Ministério Público. (Acordo de Extradição entre Estados Partes do
Não há, porém, obrigação de, em qualquer hipótese, Mercosul). O art. 14 do referido diploma dispõe que: "1. Do
remeter os autos para nova apreciação do Procurador-Geral. Princípio da Especialidade. A pessoa entregue não será
Assim, se constatar pertinência nos fundamentos do pedido detida, julgada nem condenada, no território do Estado Parte
de arquivamento, o Juiz terá o poder-dever de promover o requerente, por outros delitos cometidos previamente à data
arquivamento, não cabendo contra essa decisão recurso. de solicitação da extradição, e não contidos nesta, salvo nos
Ademais, no sistema processual penal vigente, a função seguintes casos: a) quando a pessoa extraditada, podendo
jurisdicional não contempla a iniciativa acusatória, de abandonar o território do Estado Parte ao qual foi entregue,
maneira que, do mesmo modo que não poderá o Juiz nele permanecer voluntariamente por mais de 45 dias
autoprovocar a jurisdição, não poderá obrigar o Ministério corridos após sua libertação definitiva ou a ele regressar

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GEAGU
depois de Objetiva
tê-lo abandonado; b) quando as autoridades neste). Isso porque, na linha do que já decido no REsp
competentes do Estado Parte requerido consentirem na 1.369.165-SP, na ausência de interpelação do INSS,
extensão da extradição para fins de detenção, julgamento ou habitualmente tratada como prévio requerimento
condenação da referida pessoa em função de qualquer outro administrativo, a cobertura por parte da Previdência
delito. 2. Para tal efeito, o Estado Parte requerente deverá Social só deve ocorrer quando em mora, e a mora, no
encaminhar ao Estado Parte requerido pedido formal de caso, só se verifica com a citação válida, não
extensão da extradição, cabendo ao Estado Parte requerido retroagindo à data do ajuizamento do feito. Ademais, a
decidir se a concede. O referido pedido deverá ser jurisprudência desta Corte também tem afirmado ser
acompanhado dos documentos previstos no parágrafo 4 do devido o benefício na data da citação válida da
Artigo 18 deste Acordo e de declaração judicial sobre os Administração Pública, quando ausente a sua prévia
fatos que motivaram o pedido de extensão, prestada pelo interpelação, nas seguintes hipóteses: concessão de
extraditado com a devida assistência jurídica." O princípio da auxílio-acidente regido pelo art. 86 da Lei 8.213/1991 e
especialidade previsto no referido dispositivo se revela como não precedido de auxílio-doença; concessão de
uma proteção ao extraditando de não ser detido, processado benefício assistencial previsto na Lei 8.742/1993;
ou condenado por delitos cometidos em datas anteriores à concessão de pensão especial de ex-combatentes; e
solicitação de extradição. Ademais, o pedido de extradição pensão por morte de servidor público federal ou pelo
supletiva ou suplementar (art. 14, § 2º) não viola tal RGPS. (REsp 1.450.119-SP/Inf. 565). Inteiro teor aqui.
princípio, sendo juridicamente possível (STF, Ext 1.052
extensão - Reino dos Países Baixos, Tribunal Pelo, DJe
5/12/2008). Precedente do STF: Inq 731 QO/AG - Argélia,
Tribunal Pleno, DJe de 20/10/1995). Estudando para a AGU? Não deixe de
(RHC 45.569-MT/Inf. 566). Inteiro teor conhecer o
aqui.

04. Direito penal e processual penal. Curso Preparatório para o de


Desnecessidade de dupla imputação em Advogado da União
crimes ambientais. É possível a Totalmente online e baseado no último
responsabilização penal da pessoa
edital!
jurídica por delitos ambientais
independentemente da www.ebeji.com.br
responsabilização concomitante da
pessoa física que agia em seu nome.
Conforme orientação da Primeira Turma
do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição
Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa
jurídica por crimes ambientais à
simultânea persecução penal da pessoa
física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação" (RE
548.181, Primeira Turma, DJe 29/10/2014). Diante dessa
interpretação, o STJ modificou sua anterior orientação, de
modo a entender que é possível a responsabilização penal
da pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização concomitante da
pessoa física que agia em seu nome. Precedentes citados:
RHC 53.208-SP, Sexta Turma, DJe 1º/6/2015; HC 248.073-
MT, Quinta Turma, DJe 10/4/2014; e RHC 40.317-SP,
Quinta Turma, DJe 29/10/2013. (RMS 39.173-BA/Inf. 566).
Inteiro teor aqui.

PREVIDENCIÁRIO

01. Direito previdenciário e processual civil. Termo


inicial da aposentadoria rural por idade. Na ausência de
prévio requerimento administrativo, o termo inicial para a
implantação da aposentadoria por idade rural deve ser a
data da citação válida do INSS - e não a data do
ajuizamento da ação. No julgamento do REsp 1.369.165-
SP, submetido ao rito do artigo 543-C do CPC, a
Primeira Seção do STJ firmou compreensão segundo a
qual, na ausência de prévio requerimento
administrativo, o termo inicial para a implantação da
aposentadoria por invalidez deve ser a data da citação
da autarquia previdenciária federal, ao invés da data da
juntada do laudo médico-pericial que atestou a invalidez
do segurado. O caso em análise guarda certa identidade
com o que já foi decidido naquela oportunidade, sendo
desinfluente a natureza dos benefícios (aposentadoria
por invalidez naquele e aposentadoria rural por idade

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