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Gênero: e Amor
1999
Iara Beleli
Gênero e amor
Estou "cheia de motivos", como diria Ana Fonseca, para agradecer as pessoas
e instituições que participaram, direta ou indiretamente, neste projeto. UNICAMP,
de onde vim, PUC-SP, para onde fui e CNPq, pelo fundamental auxílio na execução
desta pesquisa.
De lá pra cá [meu pai sempre usava essa expressão quando queria encurtar
uma história], fui encontrando muitas pessoas de diferentes áreas disciplinares,
matizes políticos e formas de pensar... não sei bem como juntá-las, mas está vivo
em minha memória o incentivo de todas/os elas/es.
Cris, minha irmã postiça, aparece de muitas maneiras neste processo. Além da
casa, onde ficava dois dias por semana, e dos comentários sobre as primeiras
incursões na escrita, me inseriu em seu mundo, onde tive a chance de conhecer, e
vivenciar, a movimentada noite paulistana, o que muitas vezes nos levava a ficar
noite adentro em conversas que não se afastavam muito do tema aqui proposto.
Foram instigantes as conversas informais dos almoços das "quintas-feiras", onde
conheci, através de Cris, algumas pessoas que alimentavam questões por mim
propostas, o que permitiu-me entrar numa forma de linguagem que só conhecia
através do "divã" - Rodolfo e Renaté contribuíram com algumas histórias.
8
Maria Tereza, mesmo distante do país, acompanhou via e-mail algumas das
discussões.
incentivo, mesmo que soubessem que isso significava estar ausente em alguns
momentos muito especiais da vida deles.
Conteúdo
Resumo ............................................................................................................... 4
Agradecimentos .................................................................................................. 6
Apresentação .................................................................................................... 11
Capítulo I - História, memória, narrativas... ....................................................... 15
1.1. Episódios e histórias ................................................................................ 17
1.2. O contexto da narração ........................................................................... 27
1.3 - Intercruzando história, memória e narrativas ......................................... 41
Capitulo II – Gênero e experiência: uma interlocuçao? ..................................... 54
2.1. Os caminhos da experiência .................................................................... 56
2.2. Discutindo gênero ................................................................................... 58
2.3 - "Engendrando" a experiência na história ................................................ 79
Capitulo III – "Concordo em genero, numero e grau..." .................................... 88
3.1 - O que dizem as mulheres...' .................................................................... 90
3.2. O que dizem os homens... ..................................................................... 102
3.3. Homens e mulheres: novas buscas? ...................................................... 111
Considerações finais... ..................................................................................... 121
Bibliografia ...................................................................................................... 126
Apresentação
Voltar à vida acadêmica depois de uma certa idade é uma coisa, ao mesmo
tempo, instigante e preocupante. Instigante porque as experiências vividas, e as
pessoas com quem se compartilha essas experiências, ajudam a ter uma certa
maturidade que só o tempo te possibilita alcançar, muitas vezes nem o tempo
ajuda, na medida em ele próprio e um "se fazer"... Preocupante? Sim, porque não
sou jovem o suficiente para que meus deslizes sejam justificáveis e nem tão velha a
ponto de ser respeitada pela idade... estou a meio caminho, sou uma jovem
senhora...
Interpretar o que dizem homens e mulheres nesta perspectiva não é tarefa das
mais fáceis, no entanto, o terceiro capítulo traz algumas destas falas e persegue os
caminhos trilhados nas buscas amorosas e não e por acaso que "novas buscas" vêm
seguidas de um ponto de interrogação.
14
Ecléea Bosi
Paul Ricoeur
16
Esse ideal de "felicidade conjugal" também esteve presente nos anos 50 e 60,
momento em que os sujeitos, interlocutores desta pesquisa, estão sendo
constituídos, ainda que com nuances de modernização ou modernidade. Algumas
revistas dedicadas ao público feminino, provavelmente lidas pelas mães dos
narradores, apresentam um discurso homogeneizante para as mulheres:
1
MALUF Marina e MOTT", Maria Lucia. Recônditos do mundo feminino. In: SEVCENKO, Nicolau
(org.). História da Vida Privada no Brasil 3. República: do Belle Epoque a Era do Rádio. São
Paulo, Cia das Letras, 1998, pp.375-376.
18
2
BASSANEZI, Carla. Revistas Femininas e o ideal de felicidade conjugal (1945-1964). Cadernos Pagu (1),
1993, pp.121-122.
3
BRUSCHINI, Cristina. Sexualização das ocupações: o caso brasileiro. Cadernos de Pesquisa, São Paulo,
março de 1979.
4
SAFIOTTI, Heleith I.B. A Mulher na Sociedade de Classes. Mito e Realidade. Petrópolis, Vozes, 1979.
19
A saída das mulheres do espaço doméstico, ainda que orientadas para eleger
profissões ou cursos que fossem compatíveis com sua natureza, abre um debate
nas associações entre masculinidade e trabalho e feminilidade e funções
domésticas, introduzindo algumas tensões nas relações afetivas.
5
A questão da dupla jornada de trabalho para as mulheres foi amplamente discutida pelo
Movimento Feminista, o clue também gerou algumas discussões acadêmicas. Ver especialmente
o trabalho de SARTI, Cynthia e MORAES, Maria Lygia Quartim de. Ai a porca torce o rabo. In:
BRUSCHINI, Maria Cristina A. e ROSEMBERG, Fulvia. Vivencia. História, Sexualidade e Imagens
Femininas. São Paulo, FGV/Brasiliense, 1980, p.52.
6
VALDEZ, Tereza e GOMARIZ, Enrique. (coord.) Mulheres Latinoamericanas em Dados. Espanha,
Instituto de la Mujer (Ministerio de Asuntos Sociales de Espana) e FLACSO, 1993.
7
SALÉM, Tania. O velho e o novo: um estudo de papéis e conflitos familiares. Petrópolis, Vozes,
1980.
20
Uma das marcas dos anos 70 está nos questionamentos sobre a virgindade da
mulher e no ritual do casamento civil e religioso. Se o ritual do casamento era
preservado, muitas vezes para não descontentar a família, já estavam colocadas
algumas relações que subvertiam as normas estabelecidas. No entanto, deixar de
ser virgem não era um tema exatamente fácil, pois vinha acompanhado de medos
pautados pela normatização, mesmo que houvesse uma união, como de fato havia
para as mulheres, entre sexo e afeto. Além disso, as "namoráveis" não eram
8
AZEVEDO, Tháles de. Namoro à antiga: tradição e mudança. Salvador, s/ed., 1975.
9
Algumas pesquisas de comportamento, publicadas no jornal Folha de S.Paulo, nas revistas Elle,
Marie Claire e Yip Exame, apontam para a necessidade atávica dos homens a copula, sem que
isso signifique estar entrando numa relação, enquanto que as mulheres necessitariam algum
sinal de continuidade - "os homens falam de experiência sexual, as mulheres em re*ao sexual".
BOZON, Michael. Amor, Sexualidade e relações sociais de sexo na Franca contemporânea.
Revista Estudos Feministas, n° 1, 1995.
10
VAITSMAN, Jeni. Flexíveis e Plurais. Identidade, casamento e família em circunstâncias pós-
modernas. Rio de Janeiro, Rocco, 1994, p.ll4.
21
11
Sobre os códigos morais que pautavam o período ver PISCITELLI, Adriana. Trabajádoras,
avictimas" y "amantes": Mujeres en Brasil. Relatório de Consultoria do Ibero American Heritage
Curriculum Project: Latinos in the making of the United States of America. Yesterday, today and
tomorrow, The University of the State of New York, Albany, 1990.
12
As mulheres, ainda hoje, necessitam de um álibi para estar em alguns lugares públicos - bares,
restaurantes, bailes -, ou estão acompanhadas por seus parceiros, ou por amigas, enquanto que
é comum encontrar homens sozinhos nestes mesmos lugares sem causar qualquer
"estranhamento". Essa questão não foi colocada claramente aos depoentes, mas as entrelinhas
dos depoimentos traz a permanência de alguns códigos de normatização do comportamento de
homens e de mulheres.
22
O ano de 1975, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o
Ano Internacional da Mulher, propiciou o aparecimento de vários grupos de
mulheres em torno das questões ditas femininas, abrindo um espaço político que
rompia o cerco fechado montado pela ditadura militar. Até então, "mulher" era um
tema restrito as teses acadêmicas e, mesmo assim, pouco valorizado14. Assim
crescem os movimentos de mulheres, incluindo, na sua multiplicidade, o
movimento feminista.
13
OLIVEIRA, Eliezer Rizzo de. De Geisel a Collor. Forças Armadas, transição e democracia.
Campinas-SP, Papirus, 1994.
14
MORAES, Maria Lygia Quartim de. A experiência feminista nos anos 70. Textos (5),
Araraquara, UNESP, Faculdade de Ciências e Letras, 1990.
23
Apesar de não ser objetivo desta pesquisa fazer uma análise do movimento
feminista no Brasil, abrir um parênteses para apresentar um dos grupos que se
formam neste contexto pode ampliar a discussão.16
Já que não é pertinente aos homens nem aos outros grupos organizados lutar pelo
15
SOUZA-LOBO, Elisabeth. O gênero da Militância: movimento de mulheres e representação
política no Brasil (1980-1990). Revista Brasileira de Ciências Sociais, n°17, Ano 6, outubro de
1991, p.9.
16
Ver o trabalho de Goldberg que faz um percurso do Movimento Feminista no Brasil, dividindo-
o entre "Emancipação feminina ao Movimento de Mulheres Feminista (19631978) e "Das
Mulheres em Movimento ao Feminismo de Estado" (1979-1988), além de indicar uma excelente
bibliografia. GOLDBERG, Anette. Feminismo no Brasil Contemporâneo: o percurso intelectual de
um ideário político. BIB, Rio de Janeiro, n° 28, 2° semestre de 1989.
17
Sobre as questões dos mecanismos de poder e de como a questão do poder perpassava os
próprios grupos feministas ver os trabalhos de PONTES, Heloisa. Dos palcos aos bastidores. O
SOS Mulher e as práticas feministas contemporâneas. Dissertação de Mestrado, Departamento
de Antropologia - IFCH, Unicamp, 1986; PONTES, Heloisa E GREGORI, Maria Filomena. A família,
a violência e o feminismo. VII Encontro Anual da ANPOCS, Águas de São Pedro, 1983.
24
18
COLETIVO FEMINISTA. O Movimento de Mulheres no Brasil. Cadernos da Associação de Mulheres (3),
agosto de 1979, p.52. Neste número são apresentadas as propostas e o histórico de alguns grupos
pertencentes ao movimento de mulheres - Associação de Mulheres, Centro da Mulher Brasileira-RJ,
Centro da Mulher Brasileira-SP, Coletivo de Mulheres, Grupo Nas Mulheres, Grupo Feminista 8 de
Março, Movimento pela Participação da Mulher e Sociedade Brasil Mulher. A associação de Mulheres foi
criada em 1976 e, até 1978, era responsável pela publicação do jornal Nas Mulheres, importante veículo
de divulgação do movimento feminista no Brasil.
25
... a ênfase no prazer sexual sentimental feminino ameaça às bases da dupla moral
para os sexos e a dominação masculina na hierarquia de gênero. São abalados vários
dos tradicionais pilares que sustentam o controle da sexualidade feminina, as
distinções "naturais" entre o feminino e o masculino e as exigências, atribuições e
expectativas que compõem o relacionamento homem-mulher 20.
19
ROMANELLI, Geraldo. Famílias de camadas médias: a trajetória da modernidade. São Paulo, USP, Tese
de Doutorado, 1986, p.103.
20
BASSANEZI, Carla. Revistas Femininas... Op.cit., p.143.
26
21
Sobre o teor das discussões em torno da participação do Movimento Feminista em órgãos
estatais ver BARROSO, Carmem. Mulher, Sociedade e Estado no Brasil São Paulo,
Brasiliense/UNICEF, 1982.
27
Sem querer fazer uma apologia às mulheres, pois não é o caso, como ressalta
Matos22, de passá-la de papel de vitima a heroína, a1gumas - pertencentes a uma
parcela da classe media - tiveram a possibilidade de viabilizar um novo caminho,
diferente do antigo, iniciando, nos anos 70, uma discussão sobre sua inserção num
mudo que, até então, somente homens tinham acesso.
22
MATOS, Maria Izilda S. de. Gênero: trajetórias, desafios e perspectivas na historiografia
contemporânea. Boletim Cehila n° 50, setembro de 1991+-maio de 1995, p.24.
28
23
Seminário de Angela Gillian sabre o movimento de mulheres negras, realizado no Núcleo de
Estudos de Gênero/Pagu/Unicamp, em novembro de 1998.
24
Alessandro Portelli em Seminário "História e Memória", realizado na PUC-SP em outubro de
1995. Para entender melhor essa questão ver. CRAPANZANO, Vincent. Life-Histories. American
Anthropologist, vol.86, n° 4, december 1984, p.953-959; SEVCENKO, Nicolau. Fim da História.
Atrator Estranho, n°19, janeiro de 1996, p. 26; PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um
pouquinho. Algumas reflexões sobre ética e história oral. Projeto História (15), São Paulo,
Educ/Centro Cultural Banco do Brasil, 1997.
29
25
Ver QUINTEIRO, Maria Conceição. União conjugal: a grande busca. São Paulo, Tese de
Doutorado, USP, 1993.
26
BERTAUX, D. Capproche Biographique. Cohiers Intemationoux de Sociologie, Paris, vol.60,
1982.
30
Nos dois casos o real não pode ser totalmente captado. O historiador não
busca a verdade total, e nem poderia, a não ser que parta de perguntas pré-
construídas e procure respondê-las, fechando-se aos sucessivos questionamentos
proporcionados pelo documento, onde é necessário fazer (re)elaborações
constantes, (re)elaborações estas que emergem do diálogo
27
AMADO, Janaína. A culpa nossa de cada dia: ética e história oral. Projeto História, n° 15, Revista do
Programa de Estudos de Pós-Graduados em História e do Departamento de História, PUC-SP, abril de
1997, p.16.
32
Se o fato pode ser pensado não enquanto verdade, mas enquanto uma
representação - um olhar a partir da experiência vivida, incorporada - pode-se
chegar ao indivíduo singular universal30.
28
Le Goff coloca que muitas vezes foi dado ao documento oral uma certa imobilidade e
fidedignidade e ao documento escrito uma perfeição e maleabilidade. Le GOFF, Jácques.
Historio e Memória. Campinas, Editora da Unicamp, 1996 (4a ed.), p.53.
29
PORTELLI, Alessandro. Conferencia realizada na PUC-SP no segundo semestre de 1997.
30
DENZIN, Norman. Interpretando as vidas de pessoas comuns: Sartre, Heigegger
Faulkner. Dados, Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol.27, n° 1, 1984.
33
Não posso me furtar a mencionar um contato que, infelizmente, não pode ser
utilizado nesta análise. Um engenheiro recusou-se a dar seu depoimento,
justificando: "... iria mentir ou omitir fatos de minha vida, e prejudicaria sua
pesquisa", insisti, pois em algumas ocasiões pude observar a movimentada vida
afetiva pós-separação e suas elucubrações a respeito dos seus relacionamentos
conjugais, colocando-se quase como um personagem cinematográfico - "romântico,
apaixonado e... incompreendido". Este rápido contato suscitou-me a importância
das omissões ou invenções que, antes de serem omitidas ou inventadas, poderiam
ser tratadas enquanto um documento onde estaria presente uma memória coletiva
do grupo ao qual pertence, assimiladas por ele, ainda que imaginariamente.
31
Sobre as narrativas inventadas ou romanceadas ver o instigante artigo de AMADO, Janaina. O grande
mentiroso: tradição, veracidade e imaginação em história oral. História, Revista da Universidade
Estadual Paulista, São Paulo, vol.14, 1995.
35
que durou 20 anos. Como profissional liberal, divide suas atividades entre um
consultório particular e uma instituição privada e é economicamente
independente. O depoimento de Helena foi ouvido na sala de estar de sua casa.
O primeiro contato, indireto, com Alberto foi feito através de uma entrevista
na Folha de S.Paulo - seção "Cotidiano" - sobre pessoas que moram sozinhas. Fui
procurá-lo na universidade, ele foi muito receptivo, mas, a princípio, reticente. Ele
não entendia bem porque uma pesquisadora se interessaria por uma "pessoa tão
comum". Talvez como parte de um imaginário onde "pessoas comuns" não tenham
uma história a ser contada.
32
Maria não chegou a ser militante do movimento feminista brasileiro, mas, diferente das
pessoas aqui ouvidas, seu depoimento traz algumas conex6es explicitas com alguns grupos de
mulheres, particularmente os que se dedicaram a reflexão.
37
gravador já havia sido desligado. Está postura fazia com que eu passasse algumas
horas anotando tudo que me haviam dito e não havia sido gravado.
33
Sobre a Jovem Guarda, movimento cultural ocorrido nos anos 60, ver PEDERIVA, Ana
Barbara Aparecida. Jovens tardes de guitarras, sonhos e emoções. Fragmentos do
movimento cultural-musical Jovem Guarda. PUC-SP, Dissertação de Mestrado, 1998.
40
Por fim, uma questão que, em pane, homogeneizou tanto os narradores como
as pessoas contatadas, mas que, por um motivo ou por outro, não deram seus
depoimentos, ou ainda aquelas/es que, formal ou informalmente, tomaram
conhecimento do tema desta pesquisa, foi o
34
PASSERINI, Luisa. Mitobiografia e História Oral. Projeto História, n° 10, Revista do
Programa de Estudos de Pós-Graduados em História e do Departamento de História,
PUCSP, dezembro de 1993, p.35.
41
interesse nos resultados, como se este pudesse ser um receituário que viesse a
adequar o imaginário da relação amorosa ideal e a experiência vivida.
35
Talvez mais um binarismo criado no mundo contemporâneo, a ser tratado no capitulo
II.
36
Sobre a questão de pensar a história a partir da experiência ver: VIEIRA, Maria do Pilar
de Araujo; PEIXOTO, Maria do Rosario da Cunha e KHOURY, Yara Maria Aun. A pesquisa
em História. São Paulo, Ática, 1995, 31 ed., pp.37-38.
42
história que não está nem fora, nem acima dos grupos, não há intenção de
confirmar ou refutar hipóteses já determinadas, mas sim explorar, de forma pouco
tradicional, uma outra história, ou uma outra consciência.
37
SEVCENkO, Nicolau. O fim da história. Atrator Estronho, n° 19, janeiro de 1996.
38
POLACK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,
V01. 2, n° 3, 1989.
43
Partindo das narrativas foi possível utilizar a experiência dos atores, através da
memória, no sentido de buscar o vetor norteador para compreender o processo
histórico.
O olhar41 aqui apresentado foi pautado, num primeiro momento, por aquilo
que se apresenta na narração, portanto, "o que" é mostrado; para, em seguida,
buscar "como é mostrado", intercruzando individual e social. De um lado, houve
um exercício em perceber aquilo que os narradores apresentavam como sendo
suas relações amorosas hoje é o ideal de relacionamento amoroso, o que
certamente afetou a narração dos amores
39
BOSI, Eclea. Memória e Sociedade. Lembrança de Velhos. São Paulo, Cia das Letras,
1995, p.418.
40
PISCITELLI, Adriana. História de vida, história oral y memória. Revisto de Ciencias
Socialies, n° 1, Universidad Nacional del Centro, Argentina, dezembro de 1995.
41
Enfatizo "o olhar", pois estou segura que outros olhares são possíveis, ainda que se
parta das mesmas fontes, tanto empíricas, quanto teóricas.
44
Bosi coloca que os fatos (marcos) são as pontas do iceberg, tendo algo que se
articula por baixo. "Contar" e "narrar" podem ter o mesmo significado se
articulados com o tempo - pensando-o como elemento disciplinador da história43.
42
Sobre o questionamento de identidades no processo de rememoração ver THOMSON,
Alistair. Recompondo a mem6ria. Questões sobre a relação entre história oral e as
mem6rias. Projeto História, n° 15, Revista do Programa de Estudos de P6s-Graduados em
História e do Departamento de História, PUC-SP, abril de 1997, p.57.
43
BOSI, Alfredo. O tempo e os tempos. In: Tempo e História, São Paulo, Cia das Letras,
1996, pp.19-32.
45
Isso não significa que o processo histórico se faça na somatória dos vários
olhares para um mesmo fato, mas, antes, naquilo que se entrecruza nas
lembranças, afastando-se da idéia de totalidade.
Nada do que um dia aconteceu pode ser perdido para a história. Somente a
humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado, como
não há humanidade redimida, não existe apropriação total do passado 47.
44
HÁLBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo, Revista dos Tribunais Ltda, 1990, pp.
81-82.
45
A idéia de um "mosaico" foi emprestada de Portelli ao afirmar que as narrativas não podem
ser consideradas como "quadrados" exatamente iguais, mas sim uma "colcha de retalhos que,
na sua diferença, poderão conformar um "todo coerente". PORTELLI, A. Tentando aprender um
pouquinho... Op.cit., p.16
46
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo, Brasiliense, 1996, tese 13.
47
Id., ib., p.223.
46
eu fiquei tão emocionada que eu fiz uma poesia contando essa história
inteira... isso foi à semana passada [agosto de 1997], um dia depois de ver o
show que ele apresentou em São Paulo. Foi tão engraçado porque saiu uma
poesia com uma rima e uma métrica completamente infantil, eu escrevi como
se tivesse 12 anos, com aquela emoção...
...minha mãe hoje tem uma vida muito mais tranquila do que quando era
casada, hoje ela faz coisas que ela não podia fazer ou... com muito mais
naturalidade, ela não estudou... ela se sente muito mais sem repressão hoje do
que tinha... e eu acho que isso aí seria talvez o reflexo do que aconteceu de
maneira geral.
48
Le GOFFJ, Op.cit., p.51.
48
Ainda que Marcos alie a mudança à separação, muitas vezes de modo circular -
uma centrada na outra -, ele enfatiza a importância da família, talvez esteja aí o
tom "desviante" quando se apresenta como alguém que não pensa em constituir
família, como aponta Barros:
eu não o quero mais enquanto homem... mas eu sinto tanta saudade daquela
situação de família... eu me organizo melhor... pessoalmente, na profissão e na
vida social...
49
BARROS, Myriam Moraes Lins de. Memória e fami1ia. Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, vol.2, n° 3, 1989, p.34.
49
... de família - pai, mãe, essa coisa - tinha muito pouco de experiências e
histórias das histórias amorosas, se falava muito pouco desse tipo de coisa, o
que sim era uma referencia forte pra mim era uma prima que dos 10 aos 14
anos [1964-1968]... essa prima era meu ídolo, porque ela estava sempre em
muitas festinhas, tinha muitos amigos e muitos namorados. Então a coisa do
que se poderia viver em termos de histórias amorosas tinha a ver com essa
coisa dos- muitos, ou dos vários, ou dos... era uma coisa muito superficial
mesmo... um encantamento pela beleza, ou pela brincadeira, pela diversão,
muito mais do algo que tocasse, que comovesse...
50
PISCITELLI, Adriana. Op.cit.
50
51
A escolha do verbo e proposital, pois e quase um dever.
51
...eu me apaixonei...
Quando se e novinho, você tem certa... assim... motivo... você acha que vai
casar, vai ter filhos... depois passa o tempo e você começa a olhar aquilo... não
tem nem pé, nem cabeça... você começa a juntar as coisas... nesse rol de
motivos para você não casar. E tem o aspecto legal, que e... extremamente
esquisito... você já pegou aqueles códigos? a menos de algumas poucas
diferenças isso está valendo até hoje... 50 anos depois...
52
Essas digressões sabre adequação da memória me foram suscitadas pela leitura de ROUSSO,
Henry. Usos do passado na Franca de hoje. In: van SIMON, Olga Rodrigues de Moraes. Os
Desafios Contemporâneos da História Oral. Campinas, Associação Brasileira de Historia Oral e
Centro de Memória - Unicamp, 1997, pp.11-27. (Trad. Yara Aun Khoury.)
52
...talvez eu seja um sujeito meio diferente... não digo que não quero casar de
jeito nenhum... se aparecer "aquela mulher" (risos) pode ser..., mas eu tive
muitas experiências e nenhuma delas me deu vontade de casar... a Marcela eu
gostaria de ter casado, mas eu penso isso hoje... na época eu não pensava...
tanto que não casei, mas não me arrependo de estar só... eu gosto de estar
só... eu gosto de crianças, mas dos outros (risos)... não sei se poderia conviver
todos os dias com mulher e filhos na casa... fico pensando na liberdade... acho
muito difícil, monótono... (grifo meu)
53
HÁLBWACHS, Maurice. Op.cit.
Capitulo II – Gênero e experiência: uma interlocuçao?
Lia Herrera
55
Pensar a história como uma disciplina é um exercício de fazer uma história que
se abre para a história, sem a preocupação de captar a verdade - o real - mas
buscar o movimento dessa 1ógica histórica presente no "se fazer" do sujeito. Essa
dinâmica do passado pode, muitas vezes, dar uma sensação de incompletude,
entretanto, ela preserva a relação sintônica entre sujeito e objeto, numa tentativa
de eliminar, ou no mínimo abrandar, essa separação.
O mais velho erro do racionalismo foi supor que definindo o não racional como
não fazendo pane de seu vocabulário havia, de alguma forma, conseguido
eliminá-lo da vida’54.
Deixar o discurso não racional fora da análise e, muitas vezes, uma forma de
fugir a crítica do relativismo, entretanto, tal postura oculta parte
54
THOMPSON, E.P. Miséria de Teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro, Zahar
Editores, 1981, p.196. (Tradução: Waltensir Dutra.) Creio que tradução espanhola foi
mais feliz ao colocar "universo Del discurso" em lugar de "vocabulário".
57
das experiências vividas pelos sujeitos. Não é demais enfatizar, e reiterar, que o
"desocultamento" não significa apreensão do real, do todo, e sim abre a história às
ações coletivas, permeadas pelos significados que as pessoas impingem as suas
próprias ações e as de seu grupo.
...as pessoas não experimentam sua própria experiência apenas como idéias,
no âmbito do pensamento e de seus procedimentos, ou (como supõem alguns
praticantes teóricos) como instinto proletário. Elas também experimentam sua
experiência com o sentimento e lidam com esses sentimentos na cultura, como
normas, obrigações familiares e de parentesco, e reciprocidades, como
valores...56
55
Id., ib., p.183.
56
Id.,ib., p.189.
59
57
Aquelas que não estão em evidência por sua beleza, virtude, atitudes heróicas - no
caso das mulheres -, ou poder, prestígio, dinheiro - no caso dos homens -, conforme
padrões tradicionais de feminilidade e masculinidade.
58
Piscitelli aponta: "Nas linhas interpretativas, o valor fundamental do trabalho com as
histórias de vida é o resgate da experiência, concebido como interação entre o eu o
mundo, reveladora de um no outro e de um para o outro. O que suscita interesse não e
um determinado eu particular, senão o mundo desse eu". (grifo meu) PISCITELLI,
Adriana. História de Vida, história oral e memória. Revisto de Ciencias Sociales, n° 1,
Universidad Nacional del Centro, Argentina, dezembro de 1995.
59
Seria conveniente salientar que a inclusão do amigo definido esteve perpassada por
longas discussões corn a bibliografia, que atravessou o campo disciplinar da história,
utilizando as penitentes interlocuções com a antropologia e a sociologia.
60
60
' FEBVRE, Lucien. Combats pour Phistoire. Paris, Plon, 1952, p.46.
61
MATOS, Maria Izilda Santos de. Outras histórias: as mulheres e os estudos dos gêneros
percursos e possibilidades. In: SAMARA, E.; SOIHET, R. e MATOS, M.I.S. Gênero em
debate. Trajetórias e perspectivas na história contemporânea. São Paulo, Educ, 1997,
pp.89-90.
61
Entretanto, é preciso cuidar para não transformar essa inversão num outro
modelo fechado e pautado por verdades absolutas. Partir da experiência para
compreender as mudanças/permanências sociais não significa produzir conceitos,
teorias e histórias estagnadas, ao contrário, existe aí uma possibilidade de
apreender os conflitos, as necessidades, as normas e os valores que emergem do
sujeito.
Este caminho pode levar a apreensão das mudanças, mas estas não são,
necessariamente, realizadas, pois, muitas vezes, o inventário do cotidiano e
acompanhado de sua negação pelo sonho, negação esta que supõe também a
ironia frente aos símbolos e ao imaginário 62.
62
LEFEBVRE, Henry. La vida cotidiano en el mundo moderno. Madrid, Alianza Editorial,
1972, p.9.
63
''SCOTT, loan. Gender and the politics of history. New York, Columbia University Press,
1990, pp.68-90.
62
fosse possível pensar na criação de uma "identidade comum da classe"64. Não foi, e
não é, proposta desta pesquisa trabalhar o conceito de identidade, mas é instigante
o alerta de Gagnebin:
Não são indivíduos que tem experiência, mas sim os sujeitos que são
constituídos pela experiência. Experiência nesta definição torna-se, então, não
a origem de nossa explanação, não a evidência legitimadora (porque vista ou
sentida) que fundamenta o que é conhecido, mas sim o que procuramos
explicar, sobre o que o conhecimento e apresenttmo. Pensar sobre a
experiência desse modo e historicizá-la, bem como historicizar as identidades
que ela produz66.”
64
"Id. A invisibilidade da experiência. Projeto História (16), PUC-SP, fevereiro de 1998,
p.310.
65
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Sete aulas sobre linguagem, mem6ria e história. Rio de
Janeiro, Imago, 1997,
66
135COTT, Joan W. A invisibilidade da experiência. Op.cit, p.304.
63
modificam o mundo. Isso não significa abandonar a classe, pois seria ignorar a
importância da interseção de categorias numa análise.
67
"Sobre as diversas perspectivas de abordagem de gênero ver o debate publicado no
Cadernos Pagu (11), Campinas, ÚNICAMP/PAGU, 1998.
66
68
"Dicionário Eletrônico Michaelis.
69 19
Ver a critica de BESSA, Karla A. 0 Crime da Sedução. Cadernos Pagu (2), 1994, p.193.
68
Farge alertou para essa questão, propondo uma saída de "apreensão dialética"
do "binômio dominação/subordinação", contestando a tradicional separação entre
público e privado.71
70
Sobre as diferentes masculinidades ver os trabalhos de CONNEL, R.W. La organización
social de la masculinidad. ISIS Internacional, Ediciones de las mujeres (24), 1997; e
ALMEIDA, Miguel Vale de. Senhores de Si... Op.cit.
71
21FARGE, Arlette. La historic de las mujeres. Cultura y poder de las mujeres: ensayo de
historiografia. Historic Social (9), organizado por LUNA, Lola. Barcelona, Promociones y
publicaciones Universitarias SA., 1994.
72
22 Outras características podem ser acrescentadas: Mulher - espontânea, alegre,
feminina, risonha, sedutora, bonita, simples, seria elegante (objeto passivo de contempla
ao do desejo) - objeto simbólico; Homem - inteligente, trabalhador, corajoso (afetuoso,
69
seguro) - sujeito social. Ainda que estes atributos estejam pensados por Bozon para a
Franca contemporânea, penso que eles se encaixam também na representação de
homens e mulheres na documentação aqui contemplada, permeadas por adições e
subtrações. BOZON, Michel. Amor, sexualidade e relações sociais de sexo na Franga
contemporânea. Revisto de Estudos Feministas (1), 1995.
73
"SCOTT, -Joan Wallach. Prefacio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu (3),
1994, pp.12-13.
70
74 21
PISCITELLI, Adriana. Relatório Final do Projeto Integrado de Pesquisa
CNPq(PAGU(ÚNICAMP: História e memórias femininas, 1996, p.2.
71
relações entre os sexos estejam definidas segundo padrões estabelecidos pelo fato
de pertencerem a um ou outro sexo.
75
GANDINO, A. Macho, masculino, homem: a sexualidade, o machismo e a crise de
identidade do homem brasileiro. Porto Alegre, LUM, 1986. Este livro foi o resultado das
discussões ocorridas neste encontro. Alguns textos apontam uma reflexão mais geral,
72
Uma conclusão óbvia, expressa no titulo do livro, era que os homens brasileiros
estavam em crise, de um lado, pelas mudanças ocorridas no comportamento das
mulheres e na moral sexual, de outro, pelo "fardo" de sua posição dominadora.
O homem acreditou no mito que se fez dele. O homem acreditou que deve ser
autoritário, imbatível e único capaz de sustentar a fami1ia.
Em relação ao sexo, nem se fala; nada mais resta saber. A sua vasta
experiência sexual" o coloca como responsável pelo orgasmo feminino. Mas
será que alguém que evita tanto o contato, que dificilmente exprime afeto ou
que tem tanta vergonha de seu próprio corpo, pode ter uma boa vida
sexual?(...)
O homem precisa refletir mais sobre si mesmo. Ele precisa reaver a sua
capacidade de ver e sentir a relação com o próximo, procurando associar
a ação com a emoção.76
ligadas a área de atuação do autor, outros são perpassados por um tom de depoimento,
quase um ‘desabafo".
76
"COSTA, Moacir. Introdução. In: GANDINO, A. Op.cit., pp.7-8.
73
77
CORRÊA, Mariza. A natureza imaginaria do gênero. Cadernos Pagu (5), Campinas,
I.WICAMP/PAGL~ 1995, p.125
78
Depoimento de um psiquiatra que trabalha com homens de baixa renda no Hospital
das Clinicas em São Paulo. Isto e, n° 1322, 01/02/95. Esse trabalho de reflexão de homens
74
Partilhadas por outros, quase depoimentos, havia aí uma alusão que um "novo
homem" deveria ser criado para poder/conseguir relacionar-se com essa "nova
mulher":
E minha opinião que os movimentos feministas tem muito têm contribuído para a
reflexão sobre a necessidade deste novo homem. A nova mulher tem influenciado de
forma sutil - feminina! - o reposicionamento do homem, que busca uma posição nova e
mais interativa na cultura atual.79
foi criado nos EUA e Canadá para ajudar os homens a redefinir suas relações com mulheres
emancipadas. No Brasil, esse trabalho e desenvolvido pelo psiquiatra Luis Cuschinir, professor
do Departamento de Psicologia da USP e coordenador do Gender Group.
79
BOECHÁT, Walter. Os arquétipos masculinos. In: NOLASCO, Sócrates. A desconstrução...
Op.cit, 1995, p.33.
80
NOLASCO, Sócrates. A desconstrução do masculino: uma contribuição critica a análise de
gênero. In: NOLASCO, S. (org.) A desconstrução do masculino. Rio de Janeiro, Rocco, 1995, p.23.
75
...essa nova masculinidade solicita que um homem seja sensível, mas sem que isso
comprometa sua virilidade, do mesmo modo, ele devera ter iniciativa na vida, sem que,
com isso, seja agressivo, violento ou competitivo.81
81
Id. Um Homem de Verdade. In: CALDAS, Dario. (org.) Homens. Comportamento,
sexualidade, mudança 7a. Identidade, crise, vaidade. São Paulo, Editora SENAC, 1997,
p.21.
82
"SCHPUN, Monica Raísa. O amor na literatura. Um exercício de compreensão histórica.
Cadernos Pagu (8(9), Campinas, PAGU/ÚNICAMP, 1997, p.190.
76
Perceber que essa "crise" não se deve a inversão de papeis exige uma
abordagem diferente. Quando homens e mulheres escolhem o que fazer de suas
vidas - sua opção sexual, profissional ou de lazer - implodem aquilo que,
supostamente, lhes e (pré)determinado pelo sexo e abrem outros caminhos para
compreender as representações de masculinidades e feminilidades, através dos
quais é possível questionar binarismos que hierarquizam as relações - "um dos
modos de privar a hegemonia masculina e sua heterossexualidade compulsória de
suas premissas primárias mais valiosas"83.
Neste sentido, a "crise de identidade masculina" poderia ser vista como outra
forma de viver a masculinidade, da mesma forma, a "nova mulher"
83
33 BUTLER, Judith. Variações sobre sexo e gênero. Beauvoir, Witting e Foucault.
In: BENHÁBIB, Seyla & CORNELL, Drucilla. Feminismo como critica da modernidade. Rio
de Janeiro, Rosa dos Tempos, 1987, p.151.
77
"ser homem" não era apenas ter um corpo de homem, mas mostrar-se
84
COSTA, Reinaldo Pamplona da. Pênis, pra que te quero? In: GANDINO, A. Op.cit., p.10.
78
85
DAMATTA, Roberto. Tem pente aí. Reflexões sobre a identidade masculina. In: CALDAS,
Dario (org.). Homens. Comportamento, sexualidade, mudança. Identidade crise, vaidade.
São Paulo, Editora Senac, 1997, p. 37.
86
ALMEIDA, Miguel Vale de. Gênero, masculinidade e poder. Anuário Antropológico/95,
Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1996, p.163.
87
BUTLER, .Judith. Variações sobre sexo e gênero. Op.cit.
88
COSTA, Claudia de Lima. O trágico do gênero. Cadernos Pagu (11), Campinas,
PAGU/UNICAMP, 1998, p.134.
79
Essas questoes indicam o cuidado que o pesquisador deve ter com aquilo que
se apresenta como novo. "Novo homem", "nova mulher", "novas enfases" podem
mascarar permanencias que definem as relações de poder.
89
PISCITELLI, Adriana. Gênero em perspectiva. Cadernos Pagu (11), Campinas,
UNICAMP/PAGU, 1998, p. 155.
80
90
OLIVEIRA, Pedro Paulo de. Discursos sobre a masculinidade. Revisto de Estudos
Feministas (1), primeiro semestre de 1998, p.91.
91
PERROT, Michelle. Os Excluidos da Historia. Operarios, Mulheres e Prisioneiros. Rio de
,Janeiro, Paz e Terra, 1988, p.184. (Tradução: Denise Bottmann.)
81
Para a larguissima maioria das pessoas, para o nivel a que nas Ciencias Sociais
chamamos senso comum, ser homem e fundamentalmente duas coisas: nao
ser mulher, e ter um corpo que apresenta orgãos genitais masculinos92.
92
ALMEIDA, Miguel Vale de. Senhores de Si. Uma interpretação antropologica do
mosculinidade. Lisboa, Fim de Seculo Edi~bes, LDA, 1995, p. 127.
82
93
ALMEIDA, Miguel Valle de. Senhores cle Si... Op.cit.
94
Helena tem dois filhos homens.
83
95
Sobre as mudanças na organizaçao familiar ver GOLDANI, Ana Maria. As fam1ias no
Brasil contemporaneo. Cadernos Pagu (1), Campinas, UNICAMP/PAGU, 1993; e
ROMANELLI, Geraldo. Familias de camadas medias: a trajet6ria da modernidade. Sao
]Paulo, USP, Tese de Doutorado, 1986.
96
SCOTT, Joan W. Genero como categoria tirfil de analise historica. Op.cit. p.14.
84
(...) Para nos, homens, parece nonsense o bailado feminino depois da copula.
Nao compreendemos coma elas conseguem permanecer passarinhando ao
nosso redor, esfregando seus pezinhos frios na nossa canela e beijando nossa
orelha, se nao ha nenhum motivo gritante para isso. Já nao cumprimos nossa
missao, passo a passo - caprichamos nas preliminares, olhamos por dentro
delas, usamos devidamente a camisinha contra gravidez e doencas? Elas ja nao
estao coradas e felizes? Que mais esperam de nos, depois de tamanha
explosao de energia? Nao entendo. (...)
(...) Pago por todos os opressores da historia da humanidade - e quem sou eu?
Um oprimido, um homem que nao pode viver seu fastio pós-coito sem sustos,
porque sabe que um quarto de hora mais tarde estara de novo no alto da
montanha-russa da testosterona, prestes a implorar de joelhos que [elal o
encha de beijos e ouca as perversoes que guardou para ela. Quem e o usado
aqui? (...)
(...) Sexo e prisao. Doce prisao. Se ha alguem escravo numa relacao de sexo,
somos nos, os homens. O desejo nos acorrenta as mulheres; o momento pos-
97
SIQUEIRA, Frailda Brito Garboggini. A mulher margarina: uma representacao
dominante em comerciais de TV nos anos 70 e 80. Dissertacao de Mestrado, Multi-meios,
Unicamp, 1995, p.112.
98
HAMAWI, Rodolfo. Que querem as homens? In: NOLASCO, Socrates. (or,,.) A
desconstru;ao... Op.cit., p.12.
85
coito nos liberta. Nos sentimos livres, por alguns momentos, daquela angústia
permanente que e nosso desejo ancestral de copular com todas as mulheres
do mundo, liberar nossos espermatozoides e proliferar nossas sementes sobre
a terra99.
A Telma era uma grande companheira de cama, porque parece que ela me
entendia na cama, nao no lance do sexo... mas ela era boa de cama (risos)...
deitava e dormia no cantinho dela... tem umas que vem pra cima, tentam
99
Hernandez, Fabio. O fastio pas-coito. Vip Exame, outubro de 1997. (Seçao "Atitude",
coluna "O homem sincero".)
86
dormir abraçadas, de maos dadas... nao aguento isso... acho que passado
aquele momento [referindo-se ao ato sexual] a gente quer um pouco de paz...
...e lógico que estou falando daquilo que eu experimentei... mas os homens
com quem estive sempre se colocam enfastiados com alguma aproximação
depois que terminam de fazer amor... deitam e dormem (risos)... a1guns ate
justificam que isso e porque o orgasmo pra eles e tao intenso que ficam muito
cansados... mas eu nao sei nao! sempre tenho duvidas e acho que dormem
porque nao gostaram, mas quando vejo que nao foi coisa de uma única noite e
que esta sendo muito bom quando estamos juntos... penso que pode ser
diferente mesmo para os homens e para as mulheres...
Celso e um cara assim que nao consegue viver sem mulher, nao no aspecto
sexual, ele e assim... como um parasita, ele gruda e vai atras, se a mulher falar.
"vamos a direita..." ele vai, nao e ele quem decide, ele precisa estar colado
numa mulher pra sobreviver, se a mulher der um pé-na-bunda dele e um
negócio gravissimo... e um "bundao" mesmo!
87
100
O limite imposto pelo material empirico foi colocado como questao por Adriana
Pisictelli ao entrevistar Miguel Vale de Almeida. Cadernos Pagu (11), Campinas,
UNICAMP/PAGU, 1998, p.213.
Capitulo III – "Concordo em genero, numero e grau..."
1
SCOTT, Joan. Genero: uma categoria util de analise historica. Educação e Realidade,
Porto Alegre, 16(2), jan/dez de 1990, p.5.
2
Por uma questao de recorte, e apenas par isso, esta pesquisa limitou-se a tratar de
relações heterossexuais.
3
COSTA, Claudia de Lima. O Leito de Procusto: genera, linguagem e as teorias feministas.
Cademos Pagu (2), 1994, p.148.
90
4
As fala das "mulheres" refere-se aquelas que se dispuseram a dar seus depoimentos
para esta pesquisa. A idade, situação conjugal, profissional e inserção de classe social das
personagens - Helena, Maria e Solange - foram descritas no primeiro capitulo desta
dissertação.
91
eu lembro dele ser loiro, de ser meio que o menininho que chamava muito
atenção das meninas, entao tinha uma coisa meio de querer... de sentir-se
valorizada pelas mulheres (...) acho que da parte dele talvez tinha uma coisa
muito parecida...
5
Ver PEDERIVA, Ana Barbara Aparecida. ,Jovens tardes e guitaras, sonhos e emoções:
fragmentos do movimento musial-cultural .Jovem Guarda. Sao Paulo, Ponti-ficia
Universidade Catolica, Dissertaçã de Mestrado, 1998.
92
...hoje eu fico pensando que eu queria que continuasse desse jeito, porque e
tao magico, tao lindo que eu acho que a gente teria que continuar fazendo
poesia e música junto... mas nao trazer isso nunca para o nivel do real. Acho
tambem que tem a ver com o despertar do desejo, porque aos 12 anos, na
verdade... e... foi a primeira sensação de desejo, foi o primeiro homem que eu
desejei depois do meu pai.
6
A utilização da palavra transgressao implica a existencia de uma norma, em nenhum
momento explicitada ou questionada claramente pelas depoentes. O beijo em publico,
mesmo que no "escurinho do cinema" ainda corria o risco de olhares reprovadores. Ver
PEDERIVA, Ana Barbara Aparecida. Op.cit.
7
Solange coloca "ate hoje", porque na noite anterior, apos 20 anos, ela havia se
encontrado com Marcos, seu amor da infancia, como ela mesma o denominou.
93
momento coloca sua primeira relação sexual como uma perda, no caso, da
virgindade. O momento e marcante, colocado como ganho, apesar da reação
violenta manifestada a princípio.
...eu lembro que a gente estava numa turminha no clube e ele... ele me
segurou, ele me prendeu... não sei o que ele fez, que eu meti um tapa na cara
dele [risos] e a gente começou a namorar, meio cinematográfico... foram tres
anos de descobertas, de sensualidade... ele era muito livre, foi me ensinando o
amor de uma forma muito linda, com muito carinho, com muita paixao, e uma
fase que eu guardo saudade, porque acho que e a forma mais bonita que uma
mulher pode ter de conhecer o amor... um primeiro amor vale um romance...
8
"No imaginario social, o homem que procura as prostitutas o faz por interesse sexual.
Ou entao como explorador, cafetao, ou alguem no papel de autoridade moral ou legal..."
ANDRADE, Leandro Feitosa. Uma relação diferente entre homens e mulheres na
prostituição feminina. In: ARILHA, Margareth, RIDENTI, Sandra G. Unbehaum e
MEDRADO, Benedito. Homens e Masculinidades. Outras Palavros. Sao Paulo, Editora
34/ECOS, 1998, p.271.
94
Maria tambem tinha muita curiosidade com relação aos homens, mas queria
guardar sua virgindade:
...não queria que um momento tão especial fosse vivido dentro de um carro,
como aconteceu com algumas de minhas amigas (...) nós faziamos tudo, a
gente se tocava sem limite, mas quando ele propunha de transar... ah! eu
tinha medo, medo de que ele nao me quisesse mais, isso era uma coisa que
95
minha mae e minhas tias me diziam sempre; "minha filha, os homens quando
conseguem o que querem [a virgindade] eles vao embora e nao dao nem
tchauzinho... desaparecem..." eu achava isso exagerado, mas conseguia me
segurar... por medo, eu acho9.
9
Maria deixa de ser virgem quando se casa, aos 22 anos.
10
"...a maioria dos rapazes... exigia rigorosamente das namoradas e noivas que nao
tivessem sido tocadas por outros, de preferencia nao tendo estado noiva nem namorado
seriamente". AZEVEDO, Thales de. As regros do namoro a antiga. Sao Paulo, Atica, 1986,
p.118.
11
VAITSMAN, June. Op.cit.
12
MORAES, Maria Lygia Quartim de. Op.cit.
96
Eu tinha uma coisa muito tradicional, mas nao acho que seja so a coisa do
tradicional, e como se eu quisesse viver os momentos com uma certa coisa do
especial, e isso nunca aconteceu, e principalmente quando tivesse alguma
97
coisa mais especial, aí e que parece que tinha que ser vivido como algo
comum.
...esse ciclo marcou um periodo... aquele período que a gente tem sonhos de
ter uma famíia... de ter um amor pra toda vida, eu sentia que tinha alguma
coisa que me impedia, que eu nao queria uma estrutura familiar... normal,
tinha medo de ficar velha e gorda, matrona, cheia de filhos, encostada... sabia
que ele me supriria financeiramente, de certa forma eu queria isso, mas por
outro lado... ia me impedir de crescer... tinha medo de me acomodar na
relação...
possibilidade de construir uma estrutura familiar fora dos padroes “normais", que
impedia o crescimento profissional das cônjuges.
Helena conta que seu fascínio por Maximo faz com que ele se sobreponha a
algo que "deveria" ser mais importante - ser mãe13. Se, no final dos anos 70, a
sexualidade ja nao se pautava somente pela procriação, o direito ao corpo e ao
prazer sexual eram motes que nao questionavam a maternidade como um dever
para a mulher, ainda que algumas mulheres, na pratica, questionassem esse "dever
ser"14. Helena relembra um episodio de uma viagem que Maximo lhe propoe,
quando o segundo filho era recém nascido:
...e eu deixo meu bebe... isso me da uma dimensao de como o espaço desse
cara na minha vida e bem maior do que o meu de mae, um fascinio que eu sou
capaz de largar minha cria15 para ir atras dele. Eu morria de medo de nao fazer
isso, nao conseguia nao fazer, minha impressao era de que se eu nao fizesse
era uma escolha: ou ele ou os bebes.
13
"...durance seculos as maneiras de encarar o casamento e a posioo de mulher
condensaram-se no principio de que o matrimonio era, menos para o gozo sexual e a
luxuria, para a procriação.. ". AZEVEDO, Thales de. As regras do namoro a antiga. Sao
Paulo, Atica, 1986, p.99.
14
"Dar a luz e um compromisso, um dever moral...". ARDAILLON, Danielle e CALDEIRA,
Teresa. Mulher. individuo ou fam~1ia. Novos Estudos CEBRAP 2(4), abril de 1984, p.5
15
Grifos meus.
16
"A mulher, mater dolorosa, sofre calada e se sente responsavel e culpada pela dor
alheia, em particular pelo fracasso da relação amorosa". MATOS, Maria Izilda Santos de.
Dolores Duran. Experidncias Bodmias em Copacabana dos anos .50. Rio de _Janeiro,
Bertrand Brasil, 1997, p.104.
99
cuidados de outras pessoas da familia. Aqui, culpa e medo fazem parte de uma
construção social, como parte das normas estabelecidas para o feminino, onde a
maternidade "deveria" ser predominante nos seus desejos, suplantando seus
impulsos. Onde esta Helena? onde esta sua individualidade, sua independencia do
outro? Ela mesma responde:
Eu nunca tive desejos, o meu desejo era entrar no desejo dele. Eu tinha
absolutamente pavor de contrariar, de frustrar... a minha sensação era essa
que ou era assim ou era nada, por outro lado, acho que estava fascinada
mesmo, fa atras, eu largava qualquer coisa, nada no mundo era mais
importance do que estar com ele... era isso... talvez me custasse muito pouco
renunciar a amigos, a trabalho, a filhos, o que me importava era estar ao lado
dele e acabou17.
17
Grifos meus.
18
TRIGO, Maria Helena Bueno. Amor e casamento no seculo XY. In; D'INCAO, Maria
Angela. Amor e Famfia no Brasil. Sao Paulo, Contexto, 1989, p. 90.
19
BASSANEZI, Carla. Revistas Femininas.... Op.cit., p.129.
100
vigilancia familiar, em busca de uma nova vida. E evidente seu incomodo ao se auto
relatar como transgressora:
...nao é que eu não gostasse dele... Marco Antonio era muito interessante, me
apresentava um mundo em que... as coisas mais simples que eu queria fazer,
eram vistas pela minha família como transgressão e eu me tornei uma
transgressora... com Marco Antonio era diferente, as minhas transgressões
eram a mais pura normalidade... eu me "encontrei" com ele e as pessoas que
conviviam com ele...
Tanto Maria quanto Helena se separam das suas "turmas" para incorporar, no
caso da primeira, e ser incorporada, no caso da segunda, pelas relações dos seus
maridos, tal separação se apresenta de forma diferente no desenrolar da vida de
ambas. Helena, ao ser incorporada, passa, quase todo o tempo, tentando provar
que merece essa incorporação, colocando-se numa posição inferior.
Maria apresenta a incorporação como uma decisao própria e vive certo
"deslumbramento". Marco Antonio e apresentado como "salvador", de certa forma
o "principe moderno" que a salva da "mediocridade" familiar, mas nao se sente
devedora, ao contrario, ela “se faz" dentro da nova "turma".
Incorporar-se ou ser incorporada20 faz toda a diferença no desenrolar de suas
vidas. Ainda que ambas tenham se casado dentro dos padrões
20
A distinção entre incorporar-se e ser incorporada pode ser analoga a distinção entre
identificação e mimese onde "na primeira, estende-se um processo de invasao que um
determinado ser social (pai, mae, professor, [maridol, personagem literario, histórico,
cinematografico etc.) produz sobre o sujeito... na segunda - a mimese -, o sujeito escolhe
alguns pedagos caracteristicos de outs pessoa reinterpretando-os criativamente para
produzir uma assimilação bem seletiva, parcial e inovadora". CANEVACCI, Massimo.
Apresentação. In: GOLDENBEG, Miriam. Toda Mulher e meio Leila Diniz. Rio de
janeiro/Sao Paulo, Record, 1995, p.11.
101
O que Helena conta das sensações sobre a viagem esta aí transcrito, as duas
paginas seguintes do seu depoimento sao dedicadas a decepção, o que levou a uma
importance crise no seu casamento. A emoção marcou esta parte do depoimento,
deixando ver que Helena, apesar de ter gostado muito da experiencia de estar só,
tinha muito presente a familia, tanto que sua emoção se da no momento da volta:
"ninguem me espera", é como se
21
SALEM, Tania. O velho e o novo: um estudo de papeis e conflitos familiares. Petropolis,
Vozes, 1980, p.65.
102
ela quisesse provar, para si mesma, sua importancia para o marido e filhos, queria a
sensação da ausencia sentida por eles, queria a ansiedade presente naqueles
olhares, isto nao acontece.
Maria tambem vive uma certa angustia de fazer-se necessaria na família, mas
sua narrativa incorpora uma necessidade de profissionalização, a princípio, para
adequar-se, ou ser mais respeitada pelas pessoas com as quais convivia para, no
momento seguinte, incorpora-la como uma necessidade para si propria.
22
Da mesma forma que a fala das mulheres, a fala dos homens refere-se aos depoentes
aqui contemplados - Alberto, Pedro e Marcos -, tambem apresentados no primeiro
capítulo delta dissertação.
23
NOLASCO, Socrates. A descontrução do masculino: uma contribuição critica a analise
do genero. In: A descontrução do masculino. Rio dejaneiro, Rocco, 1995, p18.
103
Essa legislaoo tem um enfoque, a meu ver, assim, tratando a mulher como
sendo um ser inferior, e um ser que nao tem capacidade de sobreviver sozinho
e que ela depende do marido, o marido e um provedor de... sustento,
dinheiro, casa... entao, o nosso casamento e feito... baseado nesse
pressuposto, que a meu ver, hoje em dia, nao tem mais nada a ver, se e que
alguma vez teve...
Ruth e uma pessoa extremamente madura, assim, uma pessoa... todo mundo
gosta dela, ela e super... simpatica... e uma pessoa ponderada, um pessoa que
tem muito bom-sendo, muito inteligente, nao e linda de morrer, mas ela cativa
por isso: uma pessoa extremamente viva, inteligente, esperta... e uma pessoa
que tem assim... qualidades... ela consegue perceber as coisas, ela é... sabe
aquele sexto sentido feminino?...24
24
Os grifos na transcrição dos depoimentos são devido à ênfase que os depoentes
colocam.
104
...com a Ruth eu fiquei... acho que... olha... mais de 5 anos, a gente chegou a
morar junco e tal... aí foi o começo do fim (risos)...
... a mais importante e a Ruth, sem duvida, of tem um negocio, quando... como
começou o quiprocó com a Ruth? É... eu sai com a Noemi uma vez, e a gente
ta... e eu sai com ela, foi isso que detonou toda a crise...
Alberto e Ruth formavam um casal onde havia uma forte amizade. An-Les de
decidirem morar juncos, eles ja dividiam um projeto profissional, que continuou
apos a separação. Essa questao aponta para a dificuldade de, nas palavras de
Heilborn, "estabelecer o equili'brio entre a unidade, que encapsula os sujeitos, e a
preservação do senso de individualidade nos casais igualitarios"25.
...terminar relacionamentos nao e facil... entao voce tem... aquele... sei la...
aquele vasinho que voces foram comprar... aquilo passa a ter um significado
que... nao e o valor do vasinho, entendeu?
25
HEILBORN, Maria Luiza. Dois e par. Conjugalidade, genero e identidade sexual em
contexto igualitario. Tese de Doutorado em Antropologia Social, Rio de Janeiro, Museu
National-UFRJ, 1992, capitulo 3.
105
26
Ao enfatizar que a inteligencia nao esta necessariamente ligada a educação formal,
Alberto fala de sua mae: "uma mulher extremamente inteligente, que nao tem mais que
o curso primario, e dedicou sua vida basicamente a educaoo dos 3 filhos".
106
...o casamento centra as pessoas, de cal maneira que elas possam se dedicar a
outros projetos que nao o jogo da sedução permanence quando se esta
solteiro... ao mesmo tempo isso traz embutido uma contradição... quando
voce toca sua vida no seu proprio progresso material... torna o casamento o
liquidificador do romantismo... essa e uma contradição que eu nunca consegui
entender muito bem.
outro, talvez uma diferença que caracterize a mudança, onde ele se permite "ser
homem" sem ter a mulher como responsavel pela sua honra27.
Entretanto, Pedro faz uma critica as mulheres e as revistas dedicadas ao
publico feminino, quanto a explicitação de suas relações com os homens:
As mulheres sao mais bocudas com isso... dizem: "que maravilha ter um cara
que nao se cansa... nao dorme depois da primeira... esta la a disposicao,
absolutamente disposto", as mulheres estao descobrindo uma coisa que elas
foram podadas durante muito tempo, sua propria realizacao sexual, isso as
futiliza... mas elas tem o direito de se futilizar... eu nao gostaria que isso
acontecesse com alguem que eu gostasse... nao gosto dessa leviandade... e
uma certa falta de gentileza e as vezes isso pode servir muito de humilhacao
prá gente...
Se a honra de Pedro ja nao pode ser maculada pelas relacoes extra conjugais
de sua parceira, sua masculinidade - aqui vista como "desempenho" - e
questionada atraves da comparação, apontando uma "certa ambiguidade e/ou
coexistencia entre o que se considera correto-moderno e os valores e papeis
tradicionais do homem heterossexual que tem que afirmar sua masculinidade"28. E
apresenta os homens como mais comedidos e menos “perversos”:
a isso e grande... e quando se fala disso nao se fala com um grau... uma forma
meio sordida, ja esta entrando numa discussao mais seria... evidentemente
que existe ai um grau de degeneração geral entre as homens... que tem
relação um pouco a ter atitudes de... que e [falarl dos termos da piranha,
galinha, perua...
Ainda que veja como degeneração, Pedro aponta que alguns homens dividem
as mulheres entre "serias", e estas ameagam sua masculinidade quando falam de
"dimensoes", e as "piranhas, galinhas, peruas", cujos comentarios "nao sao levados
em conta".
O adjetivo "galinha", que pode ser empregado tanto para um homem quanto
para uma mulher, produz reações diferentes, dependendo do sexo. Para um
homem e enaltecedor ser chamado de galinha, quase como dizer "e isso ai,
cumprindo seu papel"! Mas nao e somente uma questao de papeis, esta aí
embutido uma construção onde o desejo sexual para os homens e atavico,
incontrolavel, enquanto que para as mulheres seria permeado por uma relação de
amor. Assim, quando o adjetivo e empregado para definir uma mulher, ele a
desqualifica.
Pedro ressalta que ha uma diferença entre adjetivar uma mulher como
"galinha" numa "roda de mulheres" - "isso nao e ofensivo" - e numa "roda de
homens" - "aí ela fica puta mesmo"29.
29
O "Folhateen" fez uma rapida enquete: "Coma e a garota galinha, segundo as homens".
As respostas, dos adolescentes entre 15 e 20 anos, nao difere muito daquilo que Pedro
narrou em seu depoimento: "e a mulher que transa com qualquer um", "a galena fala
muito delas, dizem que e so chegar e sair, nao precisa nem chavecar muito"; "eu
conhei;o muitas assim, elas acabam ficando faladas. O camarada sai com ela, e na
primeira vez ja transam.. ". Agradeço a Rafael Salazar par ter me alertado sabre
110
...eu tenho uma vida muito boa, saude, eu tenho conforto, um bom emprego...
tenho meus amigos... sou um privilegiado... nao sou um solteirao convicto,
mas tambem nao e porque nao tenho uma companheira ou coisa que seja...
uma mulher, uma namorada... que eu you ficar... correndo atras... se pintar...
se encontrar alguem que eu sinta necessidade de viver junto... pode ser...
...essa pessoa me atrai muito, ela e muito inteligente... e tem uma coisa que eu
gosto: ela tem muita iniciativa, a mulher pra mim tem que ser inteligente, tem
que ser atualizada politicamente... acho que eu gostaria que ela fosse mais
atualizada e inteligente que eu... muitas mulheres nao me satisfaziam do lado
intelectual, a última namorada que eu tive acrescentava pouco e a relação
estava ficando desequilibrada...
...acho que sou... ah..., na verdade, acho que sempre tive algo muito
disfarr,ado, mas presente, de achar muito importante a sedução e que ela
ficou muito reprimida, nao e uma sedução do adolescente, e a sedução da
mulher... que tem que persistir pela vida toda, nao e uma coisa especifica
daquele periodo. ...acho que e recuperar algo do... do viva, nao
necessariamente adolescente. Contando um pouco de como isso vai
acontecendo, tem as amizades com as mulheres extremamente confortante
112
Vou experimentando outros jeitos de ser mulher, em que lugares que isso me
faz bem? em que lugares que isso nao da muito certo?, em alguns momentos
eu me confundo de precisar estar bem em qualquer lugar, nesses lugares eu...
em alguns momentos eu posso nao me exigir isso, que homens eu you
experimentando? que homens que me fazem bem? foi muito legal, uma coisa
de ter me aproximado dessa coisa de conhecer homens em lugares de dançã e
tal... que voce nao sente que to satisfazem, nao sei... vai situando um pouco o
que eu quero, ate onde eu concedo, ate onde nao, e uma coisa que nao e
estabelecido... mas que e gostoso, e triste tambem porque fica um vazio...
querer muito aquela situaoo de fami1ia, companheiro, que e muito forte,
muito presente... dai vai tendo outras experiencias, e ter uma experiencia de
alguem que era so pra um dia mesmo, e ter um relacionamento sexual... como
e que e transar com alguem que e so aquele dia mesmo...
...acho que nao da pra saber muito bem o que mais me incomoda, talvez
porque... e um cara muito diferente do Maximo, muito carinhoso, muito
preocupado, muito ligado e muito disponivel... e... nao sei, ate com os meus
filhos..., mas de uma certa forma me sufoca, me coloca numa situação de que
eu acabo tendo espaço demais nessa relação, eu acabo nao podendo muito...
muito tendo tempo pra mim.
113
A gente se arruma e fica muito excitada em pensar se o “fulano" ira pra festa...
cria as possibilidades de encontros para as amigas. Isso me lembra quando eu
tenha 16 anos e me preparava para as festas... trocando roupas e aderegos
corn minhas amigas... palpitando o que ficava melhor, era um periodo muito
bom...
Apesar dessas falas serem, num primeiro momento, pautadas par uma
esperança e um sonho de vivenciar novos relacionamentos de forma diferente aos
que viveram no passado, ha uma certa desesperanga e descrenga quando falam das
suas buscas atuais. Solange diz:
...agora eu nao quero mais um homem fraco, quero um homem que eu tenha
uma relaçã de igual pra igual, de troca... e impressionante, eu nao sei se so
sobraram homens fracos ou se sou eu que atraio isso, mas a maioria dos
homens que se aproximam de mim... 99%... sao caras que estao
desempregados, que querem uma mae, que querem uma pessoa forte que
resolva tudo... sera que e sinal dos tempos?
O "homem fraco" e uma referencia ao seu ex-marido que, segundo ela, "nao
algava v6os profissionais, nao tinha iniciativa de comprar um imovel", deixando as
decisoes a seu cargo, inclusive aquelas que estavam relacionadas a sua propria
carreira profissional. A busca de Solange esta no homem bem-sucedido, forte e
resoluto, nao necessariamente provedor, onde permanece um padrao de
masculinidade tradicional. Nessa busca há
114
...quero alguem culto... um par mesmo... alguem que possa se interessar pelo
meu trabalho, que se encante comigo integralmente, nao pela minha beleza
ftsica somente, ou pela forca que tenho pra levar a vida... mas que se encante
com o que me encanta... quero cumplicidade!... mas nao tenho encontrado
isso... os homens ou sao muito criancas ou sao velhos demais..., ou seja,
querem ser cuidados... (risos)
ah! tem mais uma coisa: eu fico encantada com um homem que abre a porta
do carro, que manda flores... essas cobrancas eu fazia muito ao Marco Antonio
e ele fazia essas coisas, mas so quando eu cobrava... quero alguém
31
Como foi discutido no segundo capitulo, Nolasco aponta para uma "nova
masculinidade" que solicita um homem mais sensivel, sem que para isso deixe de ter
iniciativa. NOLASCO, Socrates. Um "Homem de Verdade". In: CALDAS, Dario. (org.)
Homens. Comportomento, sexualidode, mudanca. Identidade, crise, vaidade. Sao Paulo,
Editora SENAC, 1997, p.21.
115
que faça isso espontaneamente, porque eu acho que e muito dificil as pessoas
mudarem... fica artificial quando a gente cobra... na hora de uma briga
qualquer isso sempre aparece... "eu fiz isso por voce e voce nao e capaz de
fazer aquilo por mim"... sabe essa coisa? ele fazia algumas coisas porque eu
pedia e depois me dava o troco... como se estivesse me fazendo um favor...
32
GOLDENBERG, Mirian. A outra: uma reflexao antropologica sobre a infidelidade
masculina. In: NOLASCO, Socrares. (org.) A desconstru~7ao do masculino.Rio de Janeiro,
Rocco, 1995, p.138.
116
Marcos nao pensa em constituir fami1ia, fala das mulheres que passararn pela
sua vida como muito inteligentes, agradaveis, bonitas e, em media, 10 anos mais
jovens que ele, destacando uma que o divertia muito, que nao ficava somente
"naquele papo intelectual, tinha espaço pra falar abobrinhas".
Recato, pureza, virgindade sao valores que definiram mulheres por muitos
anos, enquanto que para os homens esses valores eram invertidos. A virgindade de
um homem, dependendo de sua idade, ainda e um problema. Sera que as
transições, os questionamentos que perpassam a discussao de genero, o
movimento feminista e suas discussoes, fizeram com que as regras do jogo
mudassem? Aparentemente nao. A virgindade para Helena nao e colocada como
um valor strictu sensu, entretanto a questao e considerada "um momento muito
especial". Para Alberto parece ser muito "natural" o exercício da sexualidade,
pensado enquanto "ganho", ao contrario de Helena que a ve, como muitas
mulheres, enquanto "perda"34. Talvez essa questao, ainda que possa ser vista de
forma diferente do que foi no passado, traga uma impregnação dos valores,
33
ALMEIDA, M.V.de. Genero, masculinidade e poder: revendo um caso do sul de
Portugal. Anu6rio Antropol6gico/95, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1996, p.162.
34
GUIDDENS, Anthony. A tronsformaçã do intimidade. Sao Paulo, Eitora da UNESP, 1992,
p.61.
118
35
PITT-RIVERS,, Julian. Antropologia del honor. Barcelona, Editorial Critica, 1979, p.44.
119
uma referencia a famí1ia nuclear, o que pode ser formado fora dela nao e
comparavel nem satisfaz.
Pedro se denomina um outsider, tentando fugir de uma certa falsidade nas
relações, principalmente quando se refere ao irmao, ou de submissao, quando se
refere a irma.
Alberto valoriza o desempenho profissional e a iniciativa das mulheres que
"passaram por sua vida", mas coloca em destaque "o jeito feminino de manipular
as situações", como se isso significasse uma forma de burlar o "dominio natural" do
homem. Para ele, a manipulação e um dado, e inerente a mulher, por isso Alberto
fala da "etica da manipulação" como a inteligencia feminina, etica significa para ele
"nao querer enganar, mentir".
Helena quer um homem que respeite seu desejo, mas que nao perca as
caracteristicas de homem - virilidade, proteçã, forga e, paradoxalmente, questiona:
"sera que `nova' mulher nao estaria abrindo um espago para a feminilização dos
homens"?
Considerações finais...
1
CORREA, M. e PISCITELLI, A. "Flores do colonialismo". Entrevista com Miguel Vale de
Almeida. Cadernos PAgu (11), Campinas, UNICAMP/PAGU, 1998.
123
armadilha que aprisiona homens e mulheres a uma única identidade definida pelo
sexo.
Tratar a identidade masculina como homogenea significa ignorar a
multiplicidade de significados de genero englobados nesse termo. Trata-la como
consequencia do aparecimento da "nova mulher", significa, novamente,
homogeneizar, reduzindo masculinidades a estereotipos, uma impossibilidade
quando tratamos de sujeitos com miultiplas identidades.
As varias feminilidades e masculinidades, apresentadas nas narrativas, abrem
algumas brechas para (re)pensar/re-significar as relações entre homens e mulheres
nos ultimos 20 anos. Mais do que respostas, este trabalho traz algumas indagações
que remetem a importancia, a potencialidade e a contemporaneidade dessas
questoes, deixando em aberto um desafiante caminho para a historiografia.
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