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Doenças do Trabalho
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Doenças do Trabalho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Verena Emmanuelle Soares Ferreira

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Doenças do Trabalho

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• Introdução;
• Acidente de Trabalho;
• Influência das Doenças do Trabalho na
Produtividade e Bem-estar do Trabalhador;

Fonte: Getty Images


• Doenças Relacionadas
ao Trabalho no Meio Rural.

Objetivos
• Reconhecer os principais agravos relacionados ao trabalho;
• Entender a relação entre agentes ambientais (físicos, químicos e biológicos) e doenças
do trabalho;
• Identificar principais agravos na indústria e no meio rural;
• Compreender a importância dos aspectos epidemiológicos para as ações de prevenção e
promoção à saúde do trabalhador.

Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões
de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
UNIDADE
Doenças do Trabalho

Contextualização
Esta Unidade tem a finalidade de partilhar com o estudante informações sobre os
principais agravos relacionados ao trabalho. Trabalhadores apresentam doenças e aci-
dentes muitas vezes decorrentes do trabalho que executam e dos ambientes a que estão
expostos em função desses trabalhos. Dessa forma, o perfil de adoecimento dos traba-
lhadores depende diretamente da influência do ambiente de trabalho como um determi-
nante ou condicionante do processo de saúde-doença.

A detecção de agravos relacionados ao trabalho não constitui uma atividade recente,


mas a implementação de novas condutas de saúde e segurança são imprescindíveis para
a qualidade de vida do trabalhador.

Ressalta-se que o universo de agravos relacionados ao trabalho é muito extenso. Com


isso, espera-se que os alunos sejam fortalecidos ao se qualificarem e se aproximarem da
temática, para que tenham subsídios para uma abordagem mais direcionada aos traba-
lhadores, entendendo a importância do acompanhamento cotidiano do ambiente de tra-
balho para a intervenção nos ambientes de risco para prevenção de agravos relaciona-
dos ao trabalho e assumindo um papel fundamental no cenário da saúde do trabalhador.

Para iniciarmos esta unidade, convidamos você a refletir acerca das consequências
de um ambiente de trabalho sem as devidas orientações de saúde e segurança. Veja um
documentário denominado Sucata de Plástico no endereço a seguir:

Sucata de Plástico: https://youtu.be/teUY_QMuYMo.

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Introdução
Os agentes ambientais são agentes existentes nos ambientes de trabalho que, em fun-
ção de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de
causar danos à saúde do trabalhador. Dessa forma, necessita-se que sejam eliminados,
minimizados ou neutralizados e constantemente monitorados.

Esses agentes ambientais podem ser classificados como:


I. Agentes físicos: classificados como as diversas formas de energia a que pos-
sam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões
anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ioni-
zantes, bem como o infrassom e o ultrassom;
II. Agentes químicos: classificados como as substâncias, compostos ou produ-
tos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de
poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da
atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo
através da pele ou por ingestão;
III. Agentes biológicos: classificados como os microrganismos que podem con-
taminar os trabalhadores, como as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, pro-
tozoários, vírus, entre outros.

De acordo com a Norma Regulamentadora n.º 9, que trata Programa de Prevenção


de Riscos Ambientais publicada pela Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978:
9.5.1. Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agen-
tes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de traba-
lho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tem-
po de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador.

No entanto, é importante destacar outros riscos, como os agentes ergonômicos e


mecânicos (acidentes), citados a seguir:
I. Agentes ergonômicos: qualquer fator que possa interferir nas características
psicológicas e fisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando
sua saúde. São exemplos de risco ergonômico: o levantamento de peso, rit-
mo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada de
trabalho etc.;
II. Agentes mecânicos ou de acidentes: qualquer fator ou circunstância que
coloque o trabalhador em situação vulnerável e possa afetar sua integridade
e seu bem-estar físico e psíquico. São exemplos de risco de acidente: as má-
quinas e equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão,
arranjo físico inadequado, armazenamento inadequado etc.

Em maio de 1999, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) decidiu


adotar a relação que estava sendo elaborada pelo Ministério da Saúde, publicando-a,
no momento, como Anexo II do Decreto n.º 3048/99. No mesmo ano, o Ministério da
Saúde publicou a mesma lista sob o título de Lista de Doenças Relacionadas ao Tra-
balho, que se deu pela Portaria n.º 1339/99.

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UNIDADE
Doenças do Trabalho

Do ponto de vista conceitual, preferiu-se trabalhar com a compreensão ampla de


“doenças relacionadas com o trabalho”, o que permitiu a superação da confusa de-
nominação ou – talvez – da sutil diferença entre doenças profissionais e doenças do
trabalho, presentes na conceituação legal (Lei n.º 8213/91). Consequentemente, foram
incluídas nas listas pelo menos três categorias, que, segundo a classificação proposta por
Schilling (1984), abrangem:
• Grupo I: Doenças que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas “doenças
profissionais” e pelas intoxicações profissionais agudas;
• Grupo II: Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo,
mas não necessário, exemplificadas por todas as doenças “comuns”, mais frequente
ou mais precoce em determinados grupos ocupacionais, sendo que o nexo causal
é de natureza eminentemente epidemiológica. As neoplasias em determinados gru-
pos ocupacionais ou profissões constitui um exemplo típico;
• Grupo III: Doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente,
ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa,
tipificadas pelas doenças alérgicas da pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais,
em determinados grupos ocupacionais ou profissão.

Desde 2004, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a notificação compulsória de


agravos relacionados ao trabalho. As portarias que tratam dos agravos desses agravos,
que estão em vigor, são Portaria n.º 204/2016 e Portaria n.º 205/2016. São agra-
vos de notificação compulsória, para efeitos dessas portarias: (I) Acidente de Trabalho
Fatal; (II) Acidentes de Trabalho Grave; (III) Acidentes do Trabalho em Crianças e Ado-
lescentes; (IV) Acidente com Exposição a Material Biológico; (V) Intoxicações Exóge-
nas (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados);
(VI) Dermatoses Ocupacionais; (VII) Lesões por Esforços Repetitivos (LER)/Distúrbios
Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT); (VIII) Pneumoconioses; (IX) Perda
Auditiva Induzida por Ruído – PAIR; (X) Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho;
e (XI) Câncer Relacionado ao Trabalho.

Acidente de Trabalho
Fórum Acidentes do Trabalho, acesse o link: http://bit.ly/2Gy1f4Z.

O acidente de trabalho (AT) configura como um importante problema de saúde pública


devido à sua elevada incidência e seu grande impacto na morbimortalidade da população.
A Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, em seu Art. 19, define o conceito de AT como:
Aquele que ocorre durante o exercício do trabalho, que provoca lesão
corporal ou perturbação funcional que cause morte, perda ou redução
permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Conside-
rando igualmente os agravos ocorridos no percurso da residência do
trabalhador até seu local de trabalho e vice-versa.

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De acordo com o Ministério da Fazenda, entre 2012 e 2016, foram registrados
3,5  milhões de casos de acidente de trabalho em 26 estados e no Distrito Federal.
Esses casos resultaram na morte de 13.363 pessoas e geraram um custo de R$22,171
bilhões para os cofres públicos, com gastos da Previdência Social, como auxílio-do-
ença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-acidente para pessoas
que ficaram com sequelas. Nos últimos cinco anos, 450 mil pessoas sofreram fraturas
enquanto trabalhavam.

O que muda com a Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017, que altera a CLT?

Com a divulgação da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE em


parceria com o Ministério da Saúde, pode-se verificar uma discrepância entre os dados
relacionados a acidentes de trabalho dessa pesquisa e aqueles registrados na base de
dados do Ministério da Previdência Social. Nesse primeiro boletim, o objetivo foi anali-
sar dados da PNS comparados com os dados de registros no AEPS (Anuário Estatístico
da Previdência Social) de 2013. A comparação mostrou que a PNS aponta números
de quase 7 vezes os da previdência, sendo que há maior variação entre as unidades da
Federação da região Norte e Nordeste.

O Ministério da Saúde classifica o Acidente de Trabalho em:


• Acidente de Trabalho Fatal: é o óbito que ocorre no ambiente de trabalho ou no
percurso de ida ou volta ao trabalho ou durante o exercício do trabalho (quando
o trabalhador estiver realizando atividades relacionadas à sua função, ou a serviço
do empregador ou representando os interesses do mesmo). O óbito pode ocorrer
imediatamente após o acidente ou posteriormente, em ambiente hospitalar ou não,
desde que a causa básica, intermediária ou imediata da morte seja decorrente do
acidente de trabalho;

Setores mais perigosos, responsáveis pelo maior número de acidentes: http://bit.ly/2GvYS2B.

• Acidentes de Trabalho Grave: é o acidente que ocorre no ambiente de trabalho ou


no percurso de ida ou volta ao trabalho ou durante o exercício do trabalho (quando
o trabalhador estiver realizando atividades relacionadas à sua função, ou a serviço
do empregador ou representando os interesses do mesmo), ocasionando lesão que
resulte em internação hospitalar; incapacidade para as ocupações habituais por
mais de 30 dias, incapacidade permanente para o trabalho, queimaduras graves,
politraumatismo, fraturas, amputações, esmagamentos, luxações, traumatismo crâ-
nio encefálico; desmaio (perda de consciência) provocado por asfixia, choque elé-
trico ou outra causa externa; qualquer outra lesão, levando à hipotermia, doença
induzida pelo calor ou inconsciência, requerendo ressuscitação; aceleração de parto
ou aborto decorrente do acidente;
• Acidentes do Trabalho em Crianças e Adolescentes: é o acidente de trabalho
que, independentemente da sua gravidade, acontece com indivíduos menores de
18 anos, na data de sua ocorrência.

A nova CLT e o acidente no percurso para o trabalho: http://bit.ly/2Gs1bUc.

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UNIDADE
Doenças do Trabalho

Acidentes de Trabalho com Exposição a Material Biológico


Definidos como acidentes de trabalho envolvendo exposição direta ou indireta do
trabalhador a material biológico – fluidos orgânicos, humanos ou de animais, que são
potencialmente infectantes (secreções sexuais, líquor cefalorraquidiano e líquidos peri-
toneal, pleural, sinovial, pericárdico e amniótico; escarro, suor, lágrima, urina, vômitos,
fezes, secreção nasal; saliva e fluidos animais).

A assistência ao trabalhador deve ocorrer imediatamente após o acidente e, inicial-


mente, basear-se em uma adequada anamnese do acidentado, identificação da fonte do
material biológico (quando for o caso), análise do risco, notificação do acidente e orien-
tação de manejo e medidas de cuidado com o local exposto.

As exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente contaminados são


um sério risco aos profissionais em seus locais de trabalho. Estudos desenvolvidos nessa
área mostram que os acidentes envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos correspon-
dem às exposições mais frequentemente relatadas (BRASIL, 2011).

Os ferimentos com agulhas e material perfurocortantes, em geral, são considerados


extremamente perigosos por serem potencialmente capazes de transmitir patógenos
diversos, sendo o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o da hepatite B e o da hepa-
tite C os agentes infecciosos mais comumente envolvidos (BRASIL, 2011).

Intoxicações Exógenas (por Substâncias Químicas,


Incluindo Agrotóxicos, Gases Tóxicos e Metais Pesados)
Intoxicação exógena é o conjunto de efeitos nocivos representados por mani-
festações clínicas ou laboratoriais que revelam o desequilíbrio orgânico produzido
pela interação de um ou mais agentes tóxicos com o sistema biológico. Os agentes
tóxicos são substâncias químicas, quase sempre de origem antropogênica, capaz de
causar dano a um sistema biológico, alterando uma ou mais funções, podendo pro-
vocar a morte (sob certas condições de exposição). De modo geral, a intensidade da
ação do agente tóxico será proporcional à concentração e ao tempo de exposição
(BRASIL, 2017).

Os complexos eventos envolvidos na intoxicação, desde a exposição às substâncias


químicas até o aparecimento de sinais e sintomas, podem ser desdobrados, para fins de
operacionalização da vigilância em saúde, em quatro fases descritas, tradicionalmente,
como as fases da intoxicação: fase de exposição, fase toxicocinética, fase toxicodinâmi-
ca e fase clínica. A compreensão dessas fases permite definir melhor as abordagens do
ponto de vista de vigilância em saúde, assistência, prevenção e promoção da saúde das
populações expostas e intoxicadas por substâncias químicas.

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Dermatoses Ocupacionais
É toda alteração das mucosas, pele e seus anexos, que seja direta ou indiretamente
causada, condicionada, mantida ou agravada por agentes presentes na atividade ocupa-
cional ou no ambiente de trabalho (BRASIL, 2006c).

Dois grandes grupos de fatores podem ser enumerados como condicionadores de


dermatoses ocupacionais:
• Causas indiretas ou fatores predisponentes;
• Causas diretas, que são constituídas por agentes biológicos, físicos, químicos, exis-
tentes no meio ambiente e que atua riam diretamente sobre o tegumento, quer cau-
sando, quer agravando dermatose preexistente (BIRMINGHAM, 1998). Os agentes
biológicos, físicos e químicos podem causar dermatoses ocupacionais ou funcionar
como fatores desencadeantes, concorrentes ou agravantes. Os agentes biológicos
mais comuns são: bactérias, fungos, leveduras, vírus e insetos.

Dentre os agentes físicos, os principais são: radiações não ionizantes, calor, frio, ele-
tricidade. E quanto aos agentes químicos, os principais são:
• Irritantes: cimento, solventes, óleos de corte, detergentes, ácidos e álcalis;
• Alérgenos: aditivos da borracha, níquel, cromo e cobalto como contaminantes do
cimento, resinas, tópicos usados no tratamento de dermatoses.

As principais dermatoses apontadas em estudos são: dermatites de contato por ir-


ritantes; dermatites alérgicas de contato; dermatite de contato com fotossensibilização;
ulcerações; urticária de contato; erupções acneiformes; discromias; distrofias ungueais –
onicopatias e Câncer cutâneo ocupacional.

Lesões por Esforços Repetitivos (LER)/Distúrbios


Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (Dort)
As lesões por esforços repetitivos e os distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho são, por definição, um fenômeno relacionado ao trabalho. Ambos são danos
decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da falta
de tempo para recuperação. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, con-
comitantes ou não, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, tais
como dor, parestesia, sensação de peso e fadiga. Abrangem quadros clínicos do sistema
musculoesquelético adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condições de
trabalho (BRASIL, 2012).

Para o Ministério da Saúde, a etiologia dos casos de LER/Dort é multifatorial. Dife-


rentemente de uma intoxicação por metal pesado, cuja etiologia é identificada e mensu-
rável, nos casos de LER/Dort, é importante analisar os vários fatores de risco envolvidos
direta ou indiretamente. Os fatores de risco não são necessariamente as causas diretas
de LER/Dort, mas podem gerar respostas que produzem as lesões ou os distúrbios.
Na  maior parte das vezes, tais fatores foram estabelecidos por meio de observações
empíricas e depois confirmados com estudos epidemiológicos.

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Doenças do Trabalho

Os fatores de risco não são independentes: interagem entre si e devem ser sempre
analisados de forma integrada. Envolvem aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais,
afetivos e de organização do trabalho. Por exemplo, fatores organizacionais como carga
de trabalho e pausas para descanso podem controlar fatores de risco quanto à frequên-
cia e à intensidade.

Na caracterização da exposição aos fatores “físicos” de risco não organizacionais,


quatro elementos se destacam:

Tabela 1
Regiões anatômicas submetidas
Punho, cotovelo, ombro, mão, pescoço etc.
aos fatores de risco.
Para carga musculoesquelética, por exemplo, pode ser o peso do objeto
Magnitude ou intensidade
levantado. Para características psicossociais do trabalho, pode ser a percepção do
dos fatores de risco.
aumento da carga de trabalho.
Variação de tempo dos fatores de risco. Duração do ciclo de trabalho, distribuição das pausas, estrutura de horários etc.
O tempo de latência das lesões e dos distúrbios pode variar de dias a décadas
Tempo de exposição aos fatores de risco.
(KIVI, 1984; CASTORINA, 1990).

Apresentamos, a seguir, algumas doenças que podem ser relacionadas ao trabalho e


que especificamente podem ser enquadradas como LER/Dort. Elas constam da Lista de
Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde (BRASIL, 1999) e do Minis-
tério da Previdência Social:
• Síndrome cervicobraquial (M53.1);
• Dorsalgia (M54.);
• Cervicalgia (M54.2);
• Sinovites e tenossinovites (M65.);
• Dedo em gatilho (M65.3);
• Tenossinovite do estiloide radial
(De Quervain) (M65.4);
• Bursite da mão (M70.1);
• Lesões do ombro (M75.);
• Epicondilite medial (M77.0);
Figura 1
• Dentre outros agravos. Fonte: Getty Images

Pneumoconioses
As pneumopatias relacionadas etiologicamente à inalação de poeiras em ambientes
de trabalho são genericamente designadas como Pneumoconioses (do grego, conion
= poeira). São excluídas dessa denominação as alterações neoplásicas, as reações de
vias aéreas, como asma e a bronquite, e o enfisema. Apesar de esse conceito englo-
bar a maior parte das alterações pulmonares envolvendo o parênquima, alguns autores
apontam para o fato de que o termo pneumoconiose pode não ser adequado quando

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aplicado a determinadas pneumopatias mediadas por processos de hipersensibilidade,
atingindo o parênquima pulmonar, como as alveolites alérgicas por exposição a poeiras
orgânicas e outros agentes, a doença pulmonar pelo berílio ou a pneumopatia pelo co-
balto, por exemplo.

Essas considerações têm importância quando se estudam os processos fisiopatogêni-


cos subjacentes a essas doenças. Para fins práticos, no entanto, o termo Pneumoconiose
é utilizado para designar genericamente as doenças pulmonares causadas por inalação
de poeiras independente do processo fisiopatogênico envolvido.

As pneumoconioses podem, didaticamente, ser divididas em fibrogênicas e não fi-


brogênicas, de acordo com o potencial da poeira em produzir fibrose reacional. Apesar
de existirem tipos bastante polares de pneumoconioses fibrogênicas e não fibrogênicas,
como a silicose e a asbestose, de um lado, e a baritose, de outro, existe a possibilidade
fisiopatogênica de poeiras tidas como não fibrogênicas produzirem algum grau de fibro-
se dependendo da dose, das condições de exposição e da origem geológica do material.

Entende-se por “asbesto”, também denominado amianto, a forma fibrosa dos silicatos minerais per-
tencentes aos grupos de rochas metamórficas das serpentinas. Entende-se por “exposição ao asbesto”,
a exposição no trabalho às fibras de asbesto respiráveis ou poeira de asbesto em suspensão no ar origi-
nada pelo asbesto ou por minerais, materiais ou produtos que contenham asbesto. Os registros das ava-
liações dos trabalhadores expostos deverão ser mantidos por um período não inferior a 30 (trinta) anos.

1. Pneumoconioses não fibrogênicas: Caracterizam-se, do ponto de vista histo-


patológico, por lesão de tipo macular com deposição intersticial peribronquiolar
de partículas, fagocitadas ou não, com nenhum ou discreto grau de desarranjo
estrutural, além de leve infiltrado inflamatório ao redor, com ausência ou discreta
proliferação fibroblástica e de fibrose. Na dependência do conhecimento do tipo
de poeira inalada, a pneumoconiose leva denominação específica como siderose
(Fe), baritose (Ba), estanose (Sn) etc.;
2. Pneumoconioses fibrogênicas: Como o termo diz são as reações pulmonares
à inalação de material particulado que leva à fibrose intersticial do parênquima
pulmonar. A seguir, são comentados sinteticamente os mecanismos implicados
no desenvolvimento das principais doenças, como: silicose e asbestose; pneu-
monite por hipersensibilidade; pneumoconiose por metal duro; pneumoconio-
se dos trabalhadores de carvão (PTC); beriliose ou doença crônica por berílio;
pneumopatia por poeira mista

Não respire contem amianto: http://bit.ly/2Gtx8vj.

Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair)


Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) é a perda provocada pela exposição por
tempo prolongado ao ruído. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neuros-
sensorial, geralmente bilateral, irreversível e progressiva com o tempo de exposição ao
ruído (CID 10 – H 83.3).

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Doenças do Trabalho

Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruído no trabalho,


perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva
induzida por níveis elevados de pressão sonora, perda auditiva induzida por ruído ocu-
pacional, perda auditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de
pressão sonora de origem ocupacional.

Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada, em média 85 dB por


oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na orelha interna, que determinam a
ocorrência da Pair (CID 10 – H83.3). A Pair é um dos agravos mais frequente à saúde
dos trabalhadores, estando presente em diversos ramos de atividade, principalmente
siderurgia, metalurgia, gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros.

Além dos sintomas auditivos frequentes – quais sejam, perda auditiva, dificuldade de
compreensão de fala, zumbido e intolerância a sons intensos –, o trabalhador portador
de Pair também apresenta queixas como cefaleia, tontura, irritabilidade e problemas
digestivos, entre outros.

Morata e Lemasters (2001) observam a importância de estudos sobre a Pair, utilizando


o método epidemiológico, o que traz confiabilidade aos resultados obtidos e permite a re-
produção desses mesmos estudos. Quando a exposição ao ruído é de forma súbita e muito
intensa, pode ocorrer o trauma acústico, lesando, temporária ou definitivamente, diversas
estruturas do ouvido. Outro tipo de alteração auditiva provocado pela exposição ao ruído
intenso é a mudança transitória de limiar, que se caracteriza por uma diminuição da acui-
dade auditiva que pode retornar ao normal, após um período de afastamento do ruído.

A Norma Regulamentadora n.º 15 estabelece os limites de exposição a ruído contínuo e o limite de


tolerância para ruído do tipo impacto será de 130 dB. Nos intervalos entre os picos, o ruído existente
deverá ser avaliado como ruído contínuo.
As ações de controle da Pair estão relacionadas ao controle do ruído. São as medidas de controle da
exposição na fonte, na trajetória e no indivíduo. Além dessas, podemos dispor de medidas organizacio-
nais, como redução de jornada, estabelecimento de pausas e mudança de função.

A avaliação audiológica periódica permite o acompanhamento da progressão da per-


da auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o tempo de exposição,
além da suscetibilidade individual. A velocidade da progressão da perda auditiva determi-
nará a eficácia das medidas de proteção tomadas e a necessidade da aplicação de outras.
Os efeitos extra-auditivos devem ser considerados nessa avaliação, apesar de não serem
previstos pela legislação.

Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho


Segundo estimativa da OMS, os transtornos mentais menores acometem cerca de
30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%.
A definição de disfunções e incapacidades causadas pelos transtornos mentais e do com-
portamento, relacionados ou não com o trabalho, é bem difícil. Os indicadores e parâ-
metros propostos pela Associação Médica Americana (AMA) organizam a disfunção ou
deficiência causadas pelos transtornos mentais e do comportamento em quatro áreas:

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• Limitações em atividades da vida diária: que incluem atividades como autocuida-
do, higiene pessoal, comunicação, deambulação, viagens, repouso e sono, atividades
sexuais e exercícios de atividades sociais e recreacionais. O que é avaliado não é sim-
plesmente o número de atividades que estão restritas ou prejudicadas, mas o conjunto
de restrições ou limitações que, eventualmente, afetam o indivíduo como um todo;
• Exercício de funções sociais: refere-se à capacidade do indivíduo de interagir
apropriadamente e comunicar-se eficientemente com outras pessoas. Inclui a ca-
pacidade de conviver com outros, tais como membros de sua família, amigos, vizi-
nhos, atendentes e balconistas no comércio, zeladores de prédios, motoristas de táxi
ou ônibus, colegas de trabalho, supervisores ou supervisionados, sem alterações,
agressões ou sem o isolamento do indivíduo em relação ao mundo que o cerca;
• Concentração, persistência e ritmo: também denominados capacidade de com-
pletar ou levar a cabo tarefas. Esses indicadores ou parâmetros referem-se à capa-
cidade de manter a atenção focalizada o tempo suficiente para permitir a realização
cabal, em tempo adequado, de tarefas comumente encontradas no lar, na escola ou
nos locais de trabalho. Essas capacidades ou habilidades podem ser avaliadas por
qualquer pessoa, principalmente se for familiarizada com o desempenho anterior,
basal ou histórico do indivíduo. Eventualmente, a opinião de profissionais psicólo-
gos ou psiquiatras, com bases mais objetivas, poderá ajudar na avaliação;
• Deterioração ou descompensação no trabalho: refere-se a falhas repetidas na
adaptação a circunstâncias estressantes. Frente a situações ou circunstâncias mais
estressantes ou de demanda mais elevada, os indivíduos saem, desaparecem ou
manifestam exacerbações dos sinais e sintomas de seu transtorno mental ou com-
portamental. Em outras palavras, descompensam e têm dificuldade de manter as
atividades da vida diária, o exercício de funções sociais e a capacidade de completar
ou levar a cabo tarefas. Aqui, situações de estresse, comuns em ambientes de traba-
lho, podem incluir o atendimento de clientes, a tomada de decisões, a programação
de tarefas, a interação com supervisores e colegas.

Lista de transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho, de acordo com


a Portaria/MS n.° 1.339/1999.

A prevenção dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho


baseia-se nos procedimentos de vigilância dos agravos à saúde e dos ambientes e das
condições de trabalho. Utilizam conhecimentos médico-clínicos, epidemiológicos, de
higiene ocupacional, toxicologia, ergonomia, psicologia, entre outras disciplinas, va-
lorizando a percepção dos trabalhadores sobre seu trabalho e a saúde. Baseia-se nas
normas técnicas e regulamentos vigentes, envolvendo:
• Reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam substân-
cias químicas, agentes físicos e/ou biológicos e os fatores de risco decorrentes da
organização do trabalho potencialmente causadores de doença;
• Identificação dos problemas ou danos potenciais para a saúde, decorrentes da ex-
posição aos fatores de risco identificados;

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Doenças do Trabalho

• Identificação e proposição de medidas que devem ser adotadas para a eliminação


ou o controle da exposição aos fatores de risco e para proteção dos trabalhadores;
• Educação e informação aos trabalhadores e empregadores.

Câncer relacionado ao trabalho


As concentrações de substâncias cancerígenas, em geral, são maiores nos locais
de trabalho do que em outros ambientes extralaborais. Segundo as estimativas da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), aproximadamente 440 mil pessoas
morreram no mundo em 2005 como consequência da exposição a substâncias pe-
rigosas no trabalho. Mais de 70% dessa cifra, ou seja, aproximadamente 315 mil
pessoas morreram de câncer relacionado ao trabalho. Uma proporção significativa
dos casos de câncer decorrente do trabalho teve como causa a exposição ao amianto
(OIT, 2009; EUROGIP, 2010).

O primeiro relato associando câncer à ocupação foi descrito por Percival Pott, em
1775, relacionando câncer de escroto em limpadores de chaminé como decorrente da
exposição à fuligem. Todavia, o modelo experimental da carcinogenicidade da fuligem
só foi demonstrado em 1920, ou seja, 150 anos depois da primeira observação epide-
miológica (OIT, 2009).

A associação de câncer com causas ocupacionais tem sido demonstrada por meio
de estudos epidemiológicos. A partir de 1965, com a criação da IARC pela Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS), ficou a cargo dessa Agência o consenso internacional
para o reconhecimento do caráter cancerígeno das substâncias, agentes ou outras
formas de exposição. No que tange à exposição ocupacional, o papel da IARC tem
sido fundamental no sentido de reconhecer os ambientes complexos e as múltiplas
exposições que ocorrem no ambiente de trabalho e que não permitem a identificação
de agentes isolados.

No Brasil, a legislação específica do Ministério do Trabalho e Emprego reconhece


como agentes cancerígenos apenas cinco substâncias: benzeno, 4-aminodifenil, benzidina,
beta-naftilamina e 4-nitrodifenil. Porém, agentes reconhecidamente cancerígenos, como
radiação ionizante, amianto e a sílica estão entre as que possuem exposições toleradas.

Benzeno é um hidrocarboneto aromático encontrado no estado líquido incolor, liposso-


lúvel, volátil, inflamável, de odor característico. A exposição ao benzeno pode causar in-
toxicação aguda e crônica. O benzeno é um agente mielotóxico regular, leucemogênico e
cancerígeno até mesmo em doses inferiores a 1ppm. Uma das doenças que o benzeno e
seus homólogos tóxicos podem provocar é a leucemia.

Dessa forma, adota-se no país a concepção de “níveis seguros” para a exposição


ocupacional a maior parte dos cancerígenos, o que conflita com o atual conhecimento
científico sobre carcinogênese, que não reconhece limites seguros para a exposição do
trabalhador aos agentes cancerígenos (BRASIL, 2012).

Anexo XI – Norma Regulamentadora Nº 15.

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Quanto à forma de utilização das substâncias químicas, importantes compostos can-
cerígenos encontram-se entre os metais pesados, os agrotóxicos, os solventes, formal-
deído e as poeiras. Existem diferentes formas de classificação para o mesmo agente.
As restrições para a exposição a substâncias químicas baseadas no conhecimento da
toxicidade potencial ou da carcinogenicidade são bastante recentes.

Nuvem de Veneno: https://youtu.be/jZ1QUAxFaxs.

A IARC adota como metodologia, para elaborar suas publicações, a constituição de


grupos de especialistas internacionais para produzir consensos do estado da arte das
pesquisas. Os consensos são divulgados através de monografias temáticas, servem de
referência para as recomendações da OMS e adotam como classificação quatro grupos
(IARC, 2010), conforme descritos a seguir:
• Grupo 1: O agente (mistura) é cancerígeno para humanos;
• Grupo 2: O agente é provavelmente cancerígeno para humanos (2A) ou possivel-
mente cancerígeno para humanos (2B);
• Grupo 3: O agente não é classificável como cancerígeno;
• Grupo 4: O agente (mistura) é provavelmente não cancerígeno para humanos.

Influência das Doenças do Trabalho na


Produtividade e Bem-estar do Trabalhador
A saúde e o bem-estar do trabalhador influenciam diretamente na sua produtividade.
Para Martinez e Paraguay (2003), a satisfação no trabalho tem sido definida de diferentes
maneiras, dependendo do referencial teórico adotado. As conceituações mais frequentes
referem-se à satisfação no trabalho como sinônimo de motivação, como atitude ou como
estado emocional positivo, havendo, ainda, os que consideram satisfação e insatisfação
como fenômenos distintos, opostos.

No entanto, o comprometimento do empregador com a saúde do trabalhador e na


prevenção de riscos gera uma resposta positiva, além de proporcionar um ambiente no
qual os trabalhadores executam suas tarefas com mais satisfação. Aumentando o nível
de produtividade das equipes, reduzindo o número de adoecimentos, como a depressão,
a ansiedade e o estresse.

É necessário mudar o paradigma de que a saúde do trabalhador seja apenas um gasto


desnecessário ou desperdício de dinheiro, visualizando que o investimento que gera
retorno está diretamente relacionado com a motivação e o bem-estar das pessoas, bem
como com os resultados da organização.

Investir em segurança do trabalho deve estar para além de uma obrigação im-
posta pela lei. Quando, de fato, o empregador se preocupa e aposta na área de

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UNIDADE
Doenças do Trabalho

saúde e segurança, os resultados alcançados podem ser significativamente melhores.


A melhor alternativa é envolver toda a equipe e fazer com que as regras sirvam para
motivar a satisfação e o bem-estar.

Cuidar da saúde do trabalhador é um desafio para o empregador e a sociedade.


Muitos são os desafios que precisam ser superados, por exemplo, o envelhecimento da
população. As ações tomadas devem ser preventivas, evitando o surgimento de proble-
mas futuros.

Atuar no campo da Saúde do Trabalhador demanda abandonar o conforto das certe-


zas das causas e construir argumentos na imprevisibilidade da realidade (LIEBER, 2008).
Suscita dificuldades, porque a complexidade do objeto não permite ser “engessado” em
rotinas e atitudes técnicas padronizadas. Pelo contrário, exige criatividade, pesquisa e
envolvimento social direto e permanente (RIBEIRO, 2013).

Doenças Relacionadas
ao Trabalho no Meio Rural
No âmbito rural o direito brasileiro regulou a atividade do trabalhador, inicialmente
pela Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973, e pelo Decreto nº 73.626, de 12 de fevereiro
de 1974. Mais tarde, em 1988, a Constituição Federal, no seu art. 7º equipara em di-
reitos o trabalhador rural ao urbano. O meio onde o trabalhador exerce suas atividades
pode apresentar riscos à sua integridade física e psicológica (CERVI, 2015).

A agropecuária é um dos ramos mais crescentes no Brasil. Porém, o uso indiscri-


minado de algumas substâncias, a carga horária excessiva e as precárias condições de
trabalho vêm favorecendo o surgimento de algumas doenças relacionadas ao mesmo,
assim como a incidência de acidentes de trabalho.

No Brasil, a prática da atividade laboral rural é exercida principalmente por homens,


porém, a presença das mulheres também está presente nesse meio, sendo que elas
exercem, além das atividades na lavoura ou plantio, as atividades domésticas e, ainda, a
educação dos filhos (LIMA; BONOW; BARTH, 2014).

Levantamentos da Organização Mundial de Saúde apontam a atividade agrícola


como uma das mais perigosas em relação à saúde e segurança do trabalhador. Estu-
dos diversos têm confirmado o caráter insalubre das atividades rurais, demonstran-
do o aumento no número de acidentes, lesões e doenças de toda ordem (ALVES;
GUIMARÃES, 2012).

Segundo Laurell e Noriega (1989), os riscos, fatores de risco e danos à saúde dos tra-
balhadores devem ser compreendidos como expressão das tecnologias utilizadas, da orga-
nização e da divisão do trabalho, da intervenção dos trabalhadores nos locais de trabalho,
da ação de técnicos e instituições relacionados à questão e do arcabouço jurídico vigente.

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Podemos considerar que os riscos e danos que podem acometer o trabalhador agro-
pecuário são:
• Acidentes com ferramentas manuais, com máquinas e implementos agrícolas ou
provocados por animais, ocasionando lesões traumáticas de diferentes graus de
intensidade. Entre os agricultores, esses são os acidentes de trabalho mais comu-
mente notificados, seja por meio dos sistemas oficiais de informação em saúde, seja
pela empresa;
• Acidentes com animais peçonhentos cuja relação com o trabalho quase nunca é es-
tabelecida, embora sejam bastante comuns. Ofidismo, aracneísmo, escorpionismo
são os mais comuns. Acontecem ainda com taturanas, abelhas, vespas, marimbon-
dos etc.;
• Exposição a agentes infecciosos e parasitários endêmicos que provocam doenças
como a esquistossomose, a malária etc.;
• Exposição à radiação não ionizante (solar) por longos períodos, sem observar as
pausas e as reposições calórica e hídrica necessárias, desencadeia uma série de
problemas de saúde, tais como cãibras, síncopes, exaustão por calor, envelheci-
mento precoce e câncer de pele;
• Exposição ao ruído e à vibração que estão presentes no uso de motosserras, colhe-
deiras, tratores etc. O ruído provoca perda lenta e progressiva da audição, fadiga,
irritabilidade, aumento da pressão arterial, distúrbios do sono etc. Já a exposição à
vibração ocasiona desconforto geral, dor lombar, degeneração dos discos interver-
tebrais, a “doença dos dedos brancos” etc.;
• Exposição a partículas de grãos armazenados, ácaros, pólen, detritos de origem
animal, componentes de células de bactérias e fungos provocam um problema de
saúde muito comum em trabalhadores rurais, e pouco reconhecido e registrado
como tal. São as doenças respiratórias, com destaque para a asma ocupacional e
as pneumonites por hipersensibilização;
• A divisão e o ritmo intenso de trabalho com a cobrança de produtividade, jornada
de trabalho prolongada, ausência de pausas, entre outros aspectos da organização
do trabalho, condição particularmente observada em trabalhadores rurais assala-
riados (como, por exemplo, colheita de cana, flores, café etc.) têm ocasionado o
surgimento de LER/Dort;
• Exposição a fertilizantes, que podem causar intoxicações graves e mortais. As in-
toxicações registradas têm sido consideradas acidentais, envolvendo produtos do
grupo dos fosfatos, sais de potássio e nitratos. As intoxicações por fosfatos se ca-
racterizam por hipocalcemia, enquanto as causadas por sais de potássio provocam
ulceração da mucosa gástrica, hemorragia, perfuração intestinal etc. Os nitratos,
uma vez no organismo, transformam-se – por meio de uma série de reações meta-
bólicas – em nitrosaminas, que são substâncias cancerígenas;
• Exposição a agrotóxicos.

A essas situações de risco para a saúde do trabalhador se somam condições que afe-
tam o conjunto dos trabalhadores brasileiros como baixos salários, condições sanitárias
inadequadas, carência alimentar, deficiência dos serviços de saúde, entre outras.

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UNIDADE
Doenças do Trabalho

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Documentário Linha de Corte
https://youtu.be/Iy7MWg3Llq8

Leitura
Doenças Relacionadas ao Trabalho: Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde
Doenças Relacionadas ao Trabalho: Manual de Procedimentos para os Serviços de
Saúde. Ministério da Saúde do Brasil, Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil;
Organizado por Elizabeth Costa Dias; colaboradores Idelberto Muniz Almeida et al. –
Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001.
http://bit.ly/2Gyasdz
Modelo de análise e prevenção de acidente de trabalho – MAPA
ALMEIDA, Ildeberto Muniz. Modelo de análise e prevenção de acidente de trabalho –
MAPA. Ildeberto Muniz Almeida e Rodolfo A. G. Vilela; Alessandro J. Nunes da Silva
[et al.], (colab.). – Piracicaba: CEREST, 2010. 52 p.
http://bit.ly/2GtxWAk

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Referências
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principais motivos de acidentes e adoecimentos nas atividades rurais. Informe Gepec,
Toledo, v. 16, n. 2, p. 39-56, jul./dez. 2012

BIRMINGHAM, D. J. Overview: occupational skin diseases. In: STELLMAN, J. M.


(Ed.). Encyclopaedia of occupational health and safety. 4th ed. Geneva: International
Labour Office, 1998. p. 12.

BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde dos trabalhadores expostos ao


chumbo metálico. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Câncer relacionado ao trabalho: leucemia mielóide


aguda-síndrome mielodisplásica decorrente da exposição ao benzeno. Brasília: Editora
do Ministério da Saúde, 2006b.

BRASIL. Ministério da Saúde. Dermatoses ocupacionais. Brasília: Editora do Ministé-


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BRASIL. Ministério da Saúde. Dor relacionada ao trabalho: lesões por esforços repeti-
tivos (LER): distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort). Brasília: Editora
do Ministério da Saúde, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Exposição a materiais biológicos. Brasília: Editora do


Ministério da Saúde, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Notificação de acidentes do trabalho fatais, graves e


com crianças e adolescentes. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006e.

BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doen-


ças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde.
Organizado por Elizabeth Costa Dias; colaboradores Idelberto Muniz Almeida et al.
Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Perda auditiva induzida por ruído (PAIR). Brasília:
Editora do Ministério da Saúde, 2006d.

BRASIL. Ministério da Saúde. Pneumoconioses. Brasília: Editora do Ministério da


Saúde, 2006f.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n.º 204, de 17 de fevereiro de 2016 – Define a


Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pú-
blica nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos
do anexo, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 18 fev. 2016a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 205, de 17 de fevereiro de 2016 – Define a


lista nacional de doenças e agravos, na forma do anexo, a serem monitorados por meio
da estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas diretrizes. Diário Oficial da
União. 18 fev. 2016b.

BRASIL. Ministério da Saúde. Risco químico: atenção à saúde dos trabalhadores ex-
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UNIDADE
Doenças do Trabalho

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