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Amoroso Eterno
Orientação básica
Somos o Templo Zen do Cuidado Amoroso Eterno. A essência do zen é o cuidado.
Cuidado significa presença consciente, atenção plena e respeito universal. Nossa prática
se destina a formar cuidadores de si mesmos e dos outros, da casa onde praticamos e do
planeta onde vivemos.
Zazen é incômodo e nossa mente apegada vai tentar criar todo tipo de desculpa para nos
fazer evitá-lo. Idealmente, devemos sentar mesmo quando estamos doentes ou insones,
sofrendo de indisposição ou de estresse. Faltar ao zazen por causa dessas questões vai
contra o princípio da própria prática: elas podem e devem ser trabalhadas através do
zazen. O objetivo da prática do caminho é virar nossa vida de cabeça para baixo. Se
estamos praticando e nossa vida continua igual, pode ser um indício de que não estamos
praticando corretamente.
Samu é uma manifestação do zazen enquanto cuidado amoroso consigo mesmo, com a
comunidade imediata (família, sanga – a família de praticantes) e com todos os seres.
Samu significa compromisso, responsabilidade, saída gradual do individualismo
arrogante para um mundo onde percebemos que todos estamos interligados. Samu é a
corporificação do darma, simplesmente fazendo o que deve ser feito, abrindo mão do
“eu quero”, “eu prefiro”, “eu acho que”, sem expectativas do resultado.
Residentes, postulantes, membros da sanga e visitantes devem atentar para o fato de que
não são professores nem preceptores. Devem cumprir suas tarefas em silêncio. Não dão
explicações sobre o Darma (ensinamentos de Buda) nem celebram rituais ou recitam
sutras (textos budistas), exceto quando orientados para tal. Mantêm o silêncio no zendô
(sala de meditação), exceto para orientações breves aos visitantes. No caso dos
residentes e dos ordenados, apenas temos que seguir mais regras e manter mais silêncio,
sendo o exemplo para os demais.
Professores são alunos de outros professores e autorizados por estes. Não existem
professores autodidatas no zen, nem o Buda Shakyamuni foi assim. Não existem
grandes nem pequenos teóricos no zen. Existe a prática e quem pratica, existe a
transmissão do que é feito.
No sentido mais amplo, todos somos alunos, todos somos professores, mas no templo
existem categorias formais a que devemos prestar atenção.
No zen não cultivamos idéias sobre como tornar a prática mais agradável e menos
trabalhosa. Isso tem a ver com propaganda enganosa, mas não com a prática. Não
cultivamos qualquer tipo de expectativa. A prática tem a ver com o coração da tristeza,
com a tristeza dos ossos da condição humana, e envolve muito trabalho no templo, na
rua ou no zendô da montanha. Ao longo do tempo, surge o contentamento, algo
diferente da felicidade mundana, que não tem nada de errado em si, apenas não é nosso
objetivo no templo.
Não buscamos doações de dinheiro conseguido por meios incorretos. Devemos ser
transparentes. Melhor poucos alunos e praticantes sinceros do que muitos falso-self e
perseguidores de fama e status. As cinco lembranças são um excelente antídoto para
esses venenos:
Regras da prática
1 – Mantemos o silêncio de manhã ao chegar no templo, no zendô e à mesa durante o
período de refeição formal até a fala ser liberada, assim como nos sanitários e banheiros.
As práticas de zazen são sempre silenciosas. Quando houver um professor/a da sanga
presente, poderá haver alguma instrução, a critério dele/a.
2 – Respeitamos o silêncio ao nosso redor, evitamos falar ou rir em voz alta,
caminhamos com calma e em silêncio, especialmente próximo ao zendô e ao carregar
pratos e outros utensílios ou móveis. Procuramos fazer isso em silêncio e
cuidadosamente. Nossos gestos são zazen. Nossa fala é para o benefício de todos os
seres. Levamos a elegância e a dignidade do zazen para nossas vidas, todo o tempo,
evitando deixar rastros de nossa passagem pelos espaços.
3 – Evitamos falar sobre assuntos que despertem polêmicas (certo / errado, bom /
ruim, etc). Também não fazemos propaganda de nossas atividades profissionais
nem aliciamos clientes ou correligionários. Evitamos discutir política e religiões,
supostos defeitos de outras pessoas ou desejos ou aversões por coisas do mundo ou
tópicos similares; nossa fala deve ser primariamente funcional, isto é, voltada para
decisões, orientações e instruções de prática e trabalho. Evitamos fazer propaganda de
nossos dramas ou sucessos pessoais, evitamos o mau hábito de fofocas ou “críticas
construtivas” aos nossos companheiros de caminho. Só professores estão autorizados a
corrigir desvios da prática ou de comportamento. Nos encontros formais com os
professores – dokusan – falamos de nossa prática, evitando tocar em assuntos
mundanos, fazer fofocas, observações sobre terceiros, ou quaisquer outros temas fora da
prática.
4 – Aparelhos eletrônicos afetam a prática de todos. Deixamos os nossos sempre
desligados, do lado de fora do zendô.
5 – Cultivamos a cortesia com todos, mesmo com aqueles de quem não gostamos ou
com quem não conseguimos exercitar a compaixão. Todos têm algo a nos ensinar. É
uma agressão a Buda, Darma e Sanga sermos mal educados no templo. Na sua casa,
você pode ser como quiser, embora seja adequado corporificar sempre Buda, Darma e
Sanga. Na nossa casa, siga nossas regras.
6 – Nós não nos vestimos de modo a distrair outros. Usamos roupas de prática –
koromos – ou pelo menos escuras, que cubram adequadamente o corpo. Não usamos
transparências, decotes, shortinhos, bustiês, malhas de ginástica colantes, jóias,
perfumes ou cores brilhantes. Chegamos para a prática em bom estado de asseio e
higiene, evitando roupas sujas, molhadas ou com areia. Não é permitido vir direto da
praia ou piscina para o zendô, sem banho e troca de roupa adequada, respeitando nossos
companheiros de prática e o ambiente.
7 – Tanto o samu quanto o sôji (limpeza do zendô matinal) são orientados apenas pela
pessoa encarregada da administração da casa ou alguém autorizado por ela. Todo
material utilizado deve ser devolvido para seu lugar original ao término da tarefa.
Após a limpeza qualquer objeto em Eininji deve permanecer no local de origem.
Qualquer sugestão quanto a eventuais mudanças deverá ser encaminhada à pessoa
responsável pela administração, sendo vedada a movimentação de objetos ou materiais
por conta própria de cada residente ou praticante em samu. Lembremo-nos de que
estamos praticando para nos livrarmos das nossas opiniões e preferências: treinar aqui é
aprender a descartar essas manifestações da personalidade, praticadas à exaustão por
todos nós em nossas vidas cotidianas.
8 – Evitamos intoxicações; nos locais de prática, nós não usamos drogas ilícitas,
cigarros ou álcool, nem permitimos que visitantes usem.
9 – Nós nos abstemos de atividade sexual nas dependências do templo, e de
condutas sedutoras ou que manipulem afetos, sexualidades ou relacionamentos.
10 – No zendô, nossa postura é respeitável: sentamos em zazen (com as pernas
cruzadas), em seiza (ajoelhados), ou em cadeiras ou pufes (para os que têm limitações
físicas) e não sentamos com as pernas estiradas para o centro do zendô nem encostados
nas paredes. Realizamos os rituais de entrada e de saída do zendô, e de início e de
término do zazen, nos movimentando em conjunto, cuidadosa e silenciosamente. Não
entramos e saímos individualmente, sem as reverências adequadas. Somos um corpo do
darma quando praticamos juntos. Só comemos e bebemos no zendô em refeições
formais em períodos de retiro.
11 – Nas refeições, nós tomamos a quantidade de alimento que precisamos e
comemos tudo. Não deixamos restos nem jogamos comida no lixo. Todas as refeições
em mosteiros, templos e sesshins são ovo-lacto-vegetarianas. Após cada refeição
arrumamos nossa cadeira, ajudamos a recolher a mesa e lavamos nossa própria louça ou
tigelas a não ser se orientados em contrário, usando o mínimo de água necessário.
12 – Na hora de dormir, nos sesshins e na residência, mantemos o silêncio a partir
de 22 horas, fazemos a higiene e dormimos. Não ficamos acordados para trabalhar,
conversar ou nos divertir.
13 – Começamos a prática de zazen pontualmente. Não entramos no zendô depois do
começo do zazen. Não saímos do zendô antes do término do zazen. Somos um corpo do
darma quando praticamos juntos. Caso o praticante esteja sofrendo de algum mal-estar
que cause transtorno aos demais, como acessos de tosse, escarro ou espirro, pede-se que
faça seu zazen na sala de Canon, ao lado do zendô.
14 – Procuramos contribuir, dentro de nossas possibilidades, com trabalho
voluntário e/ou colaboração financeira, para que a sanga possa se manter como lugar
da prática, não abusando assim da generosidade dos que
contribuem. Oferecemos dana (doações) para o templo, para nossos professores
(especialmente quando participamos de dokusan, sesshins ou zazenkais),
professores convidados e residentes, possibilitando sua prática pura. Se desejar
oferecer dana especificamente para um professor ou residente, coloque em envelope
com o nome da pessoa e entregue ao responsável pela casa. As doações para o templo
podem ser colocadas na caixa própria na entrada do zendô ou através do nosso site.
15 – A participação em sesshins requer frequência regular às atividades da sanga,
exceto em sesshins introdutórios. Praticantes de outras sangas terão sua participação
considerada individualmente.
16 – Respeitamos as pessoas com mais tempo de prática, buscando observar seus
bons exemplos e utilizando suas dificuldades como estímulo para nossa própria
prática. Ajudamos as pessoas com menos tempo de prática, respeitando seu
momento e nos abstendo de criticá-las, ensinando através do exemplo. A compaixão
em relação a nós mesmos e aos demais é nossa prática diária. Corrigir erros é função
dos professores. Dúvidas devem ser tiradas com eles. Nada pior que um visitante,
praticante ou postulante metido a professor sem ser autorizado como tal, dá um péssimo
exemplo para todos.
17 – Nossa prática pode ser chamada de religião por alguns, escola por outros, mas
damos o nome de prática do caminho ensinado pelo Buda Shakyamuni, dentro do
ensinamento transmitido por Dogen Zenji no Capítulo 50 do Shoboguenzo. Assim, não
buscamos convertidos nem requeremos devoção. Nosso compromisso é com a prática e
estes preceitos. O Buda Shakyamuni não pediu crença nem devoção, mas prática – ehi
passiko, em páli, “vem e pratica”.
18 – Nossa prática conjunta no zendô tem recessos semanais e anuais, mas o zazen é
um modo de viver e não se tira férias da própria vida.
Eininji é administrado por um irmão responsável, auxiliado pela coordenação da casa e
pela associação Eininji no que tange às questões da prática, regras e ensinamentos, e às
questões de administração e manutenção predial e patrimonial. Além de serem normas,
são propostas para reflexão e prática. Entretanto, como normas, pressupõem sanções
caso sejam quebradas, que abrangem advertências orais, escritas, suspensões de
frequência e, por último, expulsões para os membros da Ordem ou interdição de
frequência para os demais. As sanções são decididas pelo irmão responsável por Eininji,
após proposta da coordenação da casa ou da associação.
Regras para residentes
1 – Residentes treinam para se tornarem cuidadores amorosos e atenciosos,
corporificando o Darma de Eininji e sendo observados pelos praticantes e visitantes
como modelos e exemplos. Por isso devem conhecer de cor as regras de prática, mais
estas regras residenciais, sendo a não leitura ou descumprimento das mesmas motivo
para o encerramento do período de residência.
3 – São admitidos por um período inicial de dois meses de experiência, que pode ser
interrompido a qualquer momento a pedido dos próprios ou por decisão da coordenação
dos residentes. Caso aprovados, a residência pode durar de quatro a seis meses,
renováveis. Caso não sejam efetivados como residentes no período de experiência, terão
quinze dias para efetuarem sua mudança de saída de Eininji. Durante esses quinze dias
deverão participar da prática matinal e cumprirem duas horas de samu.
4 – Residentes devem trazer apenas o essencial consigo quando mudarem para Eininji.
Não praticamos acumulação nem apego a supérfluos. Seus pertences ficam restritos
somente aos quartos.
18 – Têm direito a férias de trinta dias anuais contínuos ou intervalados, desde que
avisando com antecedência ao coordenador de residentes. Poderão ser concedidas
licenças mais longas tendo em vista projetos relacionados com a casa e/ou com a
própria prática.
Sugiro que imprimam tudo isto e tenham à mão. E sempre leiam. Coloquei por escrito
para que fique registrado. No momento sou responsável por uma sanga que confia em
mim como professor. Portanto, é importante que saibam qual minha visão desta sanga,
de seu papel e de nossa prática, e a quem devemos satisfações como forma de nos
lembrar de nossos votos de tomar o Buda como nosso modelo, o Darma como nossa
forma de estar/ser no mundo, a Sanga como nosso tempo/lugar de prática na relação
com todos os seres. Fazemos votos para corporificar Buda / Darma / Sanga.
Mais importante que brincar de ser zen é verdadeiramente decidir o que é fundamental
na sua vida, o que é essencial e o que é supérfluo. Nosso caminho não é o melhor para
todos nem a única via na espiritualidade, portanto você não precisa se obrigar a ser zen
budista. Siga seu coração, siga seu caminho, seja feliz e se não se identificar com o
nosso modo de praticar, pode nos visitar quando quiser, será bem-vindo, mas lembre
que você será sempre um visitante. Aliás, ser um visitante será provavelmente mais
adequado e agradável para você que ser praticante ou postulante, já que os visitantes são
acolhidos sem exigências, não são corrigidos, observados nem supervisionados pelo
professor, nem se comprometem com o trabalho ou o sustento do templo. Ser visitante
não é demérito nem defeito, é só uma escolha, tão legítima quanto qualquer outra.
Não é preciso que nos amem ou idolatrem. Uma cultura de perversão e mania, onde
todos são muito “afetivos”, mas pouco sérios e comprometidos, onde tudo tem jeitinhos,
não combina com a prática, onde é mais importante compromisso, dignidade, disciplina
e inteireza no coração do que sorrisos, abraços de “melhores amigos desde a infância” e
brincadeiras vazias.
Se for para tudo continuar a ser do mesmo modo que tem sido em vidas cheias de
projeções e compulsões que não percebemos, não é necessário todo esse esforço.
Apenas continuem do jeito que sempre foram, e desistam de uma prática que não lhes
fala ao coração.
Lembrem que o Buda Shakyamuni praticou durante seis anos com determinação antes
de despertar. Um ser humano como nós, que acreditou em sua aspiração e disciplina.
No Darma,
Gasshô,