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6 de Julho de 2020

STF limita direito a greve de funcionários públicos

O Supremo Tribunal Federal decidiu ontem aplicar ao funcionalismo


público a Lei de Greve do setor privado e, com isso, impôs restrições às
paralisações de servidores, que até agora não estavam sujeitos a
nenhuma regra específica. A aplicação é válida até existir uma lei para
o serviço público. O governo tem um projeto em análise para enviar ao
Congresso, mas ele vem sendo bombardeado pelas centrais sindicais,
contrárias às restrições previstas. Sobre a decisão do STF, entidades de
servidores fizeram duras críticas porque entendem que o
funcionalismo não pode ser submetido a obrigações se não tem os
mesmos direitos do setor privado. Todos os 11 ministros reconheceram
o direito de greve do servidor público. Três deles -Ricardo
Lewandowski, Joaquim Barbosa e Março Aurélio Mello- foram
contrários à transposição para a administração pública dos limites de
greve do setor privado. A decisão do STF permitirá que o órgão público
atingido por greve peça a um tribunal a decretação de sua ilegalidade, a
proibição de piquetes, a desocupação de locais e a autorização para não
pagar os dias parados. O pedido será feito ao Tribunal de Justiça, se for
servidor estadual e municipal, e Tribunal Regional Federal ou Superior
Tribunal de Justiça, caso envolva servidor federal, disse o ministro
Gilmar Mendes. O serviço público não poderá ser interrompido: os
grevistas terão de manter pelo menos 30% das atividades. A lei do setor
privado lista os serviços essenciais que não podem ser interrompidos.
Entre eles estão a saúde, as telecomunicações e o controle de tráfego
aéreo. Relator de um dos processos, o ministro Eros Roberto Grau
disse que "todo o serviço público é essencial" e que, assim, terá de
manter um funcionamento mínimo. "O servidor vai ter de encontrar
uma maneira de fazer greve sem prejudicar a sociedade. Não pode
/
haver greve prejudicial, que coloque em risco o atendimento à
sociedade." Os grevistas ficam a partir de agora mais expostos ao risco
de corte do salário. A lei permite o desconto dos dias parados por
acordo ou decisão judicial. "A virtude dessa decisão é que agora toda e
qualquer paralisação de atividade no serviço público está sujeita a um
limite", comemorou Grau. Para ele, foi "um julgamento histórico".
Segundo Grau, "no setor privado, o que se disputa é o lucro do patrão,
que é obrigado a atender às reivindicações. No serviço público não há
patrão. O que existe é o interesse da sociedade, do outro lado". Duas
greves neste ano, no Ibama e no Incra, irritaram até o presidente Lula,
que criticou os grevistas. Os servidores do Ibama entraram em greve
contra a criação do Instituto Chico Mendes e os funcionários do Incra
pararam reivindicando plano de carreira e salários. A Constituição de
1988 previu o direito de greve do servidor, mas o condicionou à
aprovação de uma lei regulamentando-o. O Congresso nunca votou a
lei. Os ministros do STF tomaram essa decisão em processos movidos
por sindicatos de servidores. Eles entraram com mandados de injunção
para que o Congresso fosse declarado omisso e tivesse um prazo para
aprovar a lei. O tribunal decidiu suprir a omissão do Congresso e
aplicar a lei do setor privado enquanto não for aprovada a lei específica
do setor público. Também deliberou que, no exame de cada caso, a
Justiça poderá rejeitar a validade de determinadas normas da lei 7.783
que não valham para o setor público. Durante a tramitação dos
processos, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e sindicatos do
funcionalismo pressionaram o STF para deixar a matéria sem
regulamentação. Os ministros chegaram a cogitar dar 60 dias para
Congresso aprovar a lei, mas desistiram da fixação do prazo, já que a
iniciativa de propor o projeto é exclusiva do governo. O julgamento
começou em maio de 2003 e sofreu sucessivos adiamentos em razão de
pedidos de vista dos ministros. Três ministros defenderam a sua
validade apenas para policiais civis do Espírito Santo, servidores do
Judiciário do Pará e trabalhadores em educação do município de João
Pessoa, representados pelos sindicatos que moveram as ações julgadas.
Porém a maioria discordou.

SILVANA DE FREITAS

/
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA DA FOLHA

Disponível em: https://justilex.jusbrasil.com.br/noticias/11763/stf-limita-direito-a-greve-de-


funcionarios-publicos

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