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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W.

Baker

Digitalizado : Karmitta

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Obs.: Não usar para fins comerciais

2012

SEMEADORES DA PALAVRA – by Karmitta


COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

Markw. Baker

Como

Deus
CURA A DOR







SEMEADORES DA PALAVRA – by Karmitta


COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker



SUMARIO

INTRODUCAO, 7

CAPITULO 1: D o r & sofrimento, 9

CAPITULO 2: Medo, 38

CAPITULO 3: Ansiedade, 64

CAPITULO 4: Tristeza, 84

CAPITULO 5: Culpa & vergonha, 107

CAPITULO 6: Raiva, 125

CAPITULO 7: Felicidade, 156

CAPITULO 8: Amor, 182

AGRADECIMENTOS ,207

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

I N T R O D U ÇÃO

São oito as emoções mais intensas que qualquer ser humano pode
experimentar. Você as conhece porque já vivenciou cada uma delas,
talvez sem se dar conta do que estava realmente sentindo e sofrendo
por se sentir perdido.
Passei os últimos 25 anos estudando essas emoções. Minha formação
em Psicologia e Teologia e minha experiência como psicólogo
clinico me ensinaram como ajudar as pessoas que sofrem.
Neste livro quero mostrar, de uma perspectiva psicológica, como
e possível curar nosso sofrimento emocional, associando o tratamento
terapêutico com a antiga sabedoria milenar da Bíblia. Você
provavelmente ira se identificar com muitos dos problemas dos
pacientes que tratei em meu consultório. Suas experiências poderão
ajuda-lo a descobrir as origens dos problemas que o afligem e a
forma de resolve-los.
As emoções são uma combinação de manifestações que acontecem
em nossos corpos e em nossas mentes. Procuramos interpreta-las para
compreender nossas vidas. Não e uma tarefa fácil, mas estou convencido
de que ter consciência dessas emoções básicas pode ajudar você a
entender o que esta sentindo e a lidar com elas de forma produtiva.
A psicanalise contemporânea esta voltada para a importância dessas
emoções. Muitos psicólogos consideram que nossas ações são guiadas
mais pela emoção do que pela razão. As emoções são os marcos que nos
fazem saber se algo tem peso ou não, e os veículos através dos quais nos
conectamos com os outros. Talvez você não se lembre nitidamente do
conteúdo das experiências que o marcaram, mas provavelmente não

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esqueceu o que sentiu. Só agora estamos começando a compreender


melhor o papel que as emoções desempenham em nossas experiências.
Cada capitulo deste livro trata de uma emoção intensa. Os seis p remeiros
examinam emoções negativas, como dor, medo, ansiedade,
tristeza, culpa, vergonha e raiva. Os dois últimos abordam a felicidade
e o amor. Embora essas duas emoções não sejam negativas, a falta de
habilidade para lidar com elas pode causar grande sofrimento.
E como Deus cura as feridas? Certamente não e eliminando-as, por
mais que Lhe imploremos isso. O sofrimento emocional e inevitável,
mas Deus dotou o ser humano de grande sabedoria para lidar
com essas oito emoções presentes na vida de todos. Usei passagens da
Bíblia para mostrar como Deus cura a dor emocional. Seus métodos
nem sempre são aqueles que você pede e podem lhe causar surpresa.
Minha formação e minha pratica me levaram a concluir que a boa
psicologia e a boa teologia são capazes de nos indicar o caminho da
saúde. Décadas de pesquisa sustentam essa conclusão, assim como o
depoimento de milhares de pessoas que compartilharam comigo suas
experiências. Somos criaturas emocionais e espirituais que ferimos e
amamos. Aprender o que Deus faz para curar o sofrimento ira mostrar
também como Ele pode trazer mais amor a sua vida.
Gostaria de lhe dar uma sugestão para que possa tirar melhor proveito
deste livro. Se quiser, siga a ordem sugerida no sumario, mas
você também pode começar pelas emoções que mais o afetam, marcando
os casos clínicos com que mais se identifica para voltar a eles
depois. Pense nas situações em que experimentou as emoções descritas
e como reagiu a elas.
A terapia e um processo demorado e que exige paciência. Pois, para
que ela funcione, e necessário desmontar estruturas perversas que
problemas
de infância construíram em nosso sistema emocional. Só assim
seremos capazes de fazer escolhas mais livres, que promovam nosso
crescimento e felicidade. Com um profundo efeito terapêutico, este
livro vai alimentar você de sabedoria e de fé no poder curativo do amor
de Deus - e esses serão seus preciosos instrumentos de transformação.

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CAPITULO1

Dor & sofrimento

O PROBLEMA DA DOR

“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”


Mateus 27:46

Quando estava na cruz, Jesus pronunciou palavras que expressavam


o mais completo abandono. Na hora de seu maior sofrimento, o fado
de Deus bradou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
Teólogos debateram essa frase durante anos, mas uma coisa e certa: não
e uma declaração de falta de fé. Trata-se da consequência de um trauma
psicológico. Um trauma muito intenso nos da uma imensa sensação de
solidão. Se você já se sentiu abandonado por Deus em seu sofrimento,
não e o único. O próprio Jesus experimentou esse tipo de dor.
O sofrimento traumático e tolerável
se não tivermos de atravessa-lo sozinho.
Um dos melhores livros sobre o tema do sofrimento no ultimo
século e O problema do sofrimento, de C. S. Lewis. Depois que escreveu
o livro, Lewis conheceu Joy Gresham, uma poetisa americana
que estava estudando na Inglaterra. Casaram-se, e Lewis desenvolveu
com ela um profundo relacionamento amoroso, diferente de tudo
que conhecera ate então. Mas, tragicamente, Joy morreu de câncer,
deixando o marido inconsolável e desesperançado. Foi depois desse
grande sofrimento que ele escreveu A anatomia de uma dor: um luto

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observado, sua própria historia de superação da intensa dor do luto e


da perda. Lewis escreveu:

Enquanto isso, onde está Deus? Esse é um dos sintomas mais inquietantes.
Quando você está feliz, tão feliz que não tem nenhuma
necessidade Dele... e se volta para Ele com gratidão e louvor, é
recebido de braços abertos. Mas vá até Ele quando estiver em desespero,
quando tudo parece ter sido em vão, e o que encontrará?
Uma porta fechada e o barulho de uma tranca sendo passada
duas vezes. Depois disso, um silêncio. Você pode ir embora.

A franqueza de Lewis nos ajuda a entender a intensidade do sofrimento.


O trauma provoca a sensação de que ninguém e capaz de nos
compreender. Se a dor for m oito grande, ela pode nos afastar das outras
pessoas e ate de Deus. Não e uma falha ou uma fraqueza. E uma
característica do trauma pelo qual podemos passar um dia. Se isso
acontecer, provavelmente nos sentiremos sozinhos e amedrontados.
Embora a Bíblia não explique bem o porque dessa dor, ela nos oferece
boas sugestões para lidar com ela.
A coisa mais importante que Deus nos concedeu para que o sofrimento
nos faca crescer, em vez de nos derrotar, e a Sua presença. Quando estiver
sofrendo, volte-se para Ele e peca-Lhe para ser sua forca. Como psicólogo,
sei que o sofrimento traumático e tolerável se não tivermos de atravessa-lo
sozinho. Deus também não deseja isso. Ele prometeu estar presente para
nos sustentar em momentos de necessidade. E assim que Deus cura a dor.

O SOFRIMENTO NOS TORNA


UMA PESSOA MELHOR O U PIOR?
“Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o serdes
submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que a vossa fé,
bem provada, leva à perseverança. ”
Tiago 1:2-3

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As pessoas mais sabias que conheço já sofreram muito na vida.


Mas também e verdade que as mais amargas também passaram por
provações. Como isso acontece? A dor e uma forca poderosa que nos
empurra para uma determinada direção. Ela pode nos guiar para a
maturidade e a sabedoria ou para o desespero e a alienação.
Não e o fato de sofrer que nos torna uma pessoa melhor ou pior,
mas aquilo que fazemos com o sofrimento. Ele e apenas uma forca
que nos impele - pode nos impelir de m odo brusco ou chegar lentamente
e permanecer durante um longo período de tempo. Não p o demos
escolher o tipo de sofrimento que vamos enfrentar na vida,
mas podemos escolher a direção que decidimos seguir.

O sofrimento e uma forca poderosa, mas podemos


escolher a direção que queremos seguir.

Adam procurou a terapia por causa do estresse. Trabalhava durante


longas horas numa firma de consultoria e se sentia sobrecarregado
com as responsabilidades do trabalho e de casa. Dedicara sua
vida ao serviço religioso durante vários anos, esperando se tornar
pastor, mas isso nunca chegou a acontecer. Agora, Adam buscava a
terapia para lidar com o estresse decorrente de um trabalho exigente,
uma vida familiar complicada e sonhos frustrados.
Ele era o caçula de três irmãos e tinha apenas 7 anos quando seus
pais se divorciaram. Os pais não acreditavam em Deus, não se amavam
e não tinham tempo para se preocupar com o filho. Por isso,
Adam procurou ser autossuficiente e decidiu não seguir o caminho
dos irmãos mais velhos, que os havia levado as drogas e a autodestruição.
Dedicou-se aos estudos, trabalhando em meio expediente para se
sustentar. Decidira desde cedo que ser responsável e optar pelo bem
seria a melhor escolha.
Adam se tornou cristão ainda no ensino médio e se casou com uma
boa moca também crista logo depois de se formar. Os dois sonhavam
em ser pastores e servir a Deus, trabalhando pelos mais necessitados.

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Logo depois do casamento, a mulher engravidou. Todos os sonhos de


felicidade pareciam estar se realizando. Mas as coisas nem sempre são
como parecem.
Pouco depois do nascimento da filha, Adam e sua mulher descobriram
que a criança sofria de uma grave doença mental. A menina
nunca seria independente, precisando de constante assistência.
Ficaram arrasados. Sua única filha estava condenada a sofrer por toda
a vida. Como Deus podia permitir que isso acontecesse a duas pessoas
que queriam servi-Lo? Por que tanto sofrimento tinha que recair
sobre uma criança inocente?
Por causa dos cuidados especiais de que a filha necessitava, Adam
teve de arranjar um outro emprego e abandonou o sonho do sacerdócio.
Por amor a filha, aceitaram esse novo plano para suas
vidas. Adam trabalhava com afinco e procurava seguir o caminho
do bem.
- Não consigo ganhar o suficiente -, disse ele, frustrado.
- E sufocante quando as necessidades parecem inesgotáveis - respondi.
- Ir para o trabalho - ele prosseguiu - , que e brutalmente exigente,
e a parte mais fácil do meu dia. Depois tenho que voltar para casa e
enfrentar os maiores obstáculos da minha vida. Sempre pensei que
Deus me quisesse como pastor. Mas já não sonho mais. A vontade
de Deus e que eu cuide da minha família.
- Ter fé não e fácil. Ainda mais quando não sabemos o que esperar
- completei.
- E - disse Adam. - Minha ideia do que Deus queria para minha
vida mudou. Estou apenas tentando encontrar forcas para ser o
homem de que minha filha precisa. Li que São Francisco de Assis
certa vez disse: “Pregue sempre o Evangelho e, quando necessário, use
as palavras. ” Acho que agora entendi o que ele queria dizer. Pregar o
evangelho e dar amor para minha filha.
Adam luta diariamente contra a desesperança e a frustração. Mas
decidiu que o sofrimento não iria derrota-lo. Ele poderia ter reis-

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tido, se tornado amargo e poderia ter acabado como o restante de


sua família, rendendo-se as drogas e a autocomiseração. No entanto,
mesmo desanimado e por vezes revoltado contra Deus, Adam escolheu
deliberadamente a direção de sua vida. Ele se levanta todos os
dias disposto a fazer o bem para sua família, com a convicção de
que, de algum modo, Deus lhe dará forcas para sobreviver. O resultado?
Adam e um homem em pleno processo de crescimento.
Apesar de ele próprio não se sentir assim, Adam e uma das melhores
pessoas que conheço.
O sofrimento e uma forca poderosa. Não conseguiremos evita-lo,
mas poderemos escolher a direção em que ele nos levara. Deixaremos
a dor nos isolar e nos empurrar para a solidão e a amargura, ou decidiremos
nos fortalecer com o sofrimento para nos tornarmos pessoas
cada vez melhores?
A Bíblia nos ensina: “Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria
o serdes submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que a vossa
fé, bem provada, leva à perseverança. ” Perseverança e diferente de
paciência.
A paciência e receptiva e passiva. Ela nos ajuda a esperar pelas
coisas que não temos ainda e nos da a capacidade de aguardar ate que
algo melhor aconteça. Mas, para que o sofrimento contribua para o
nosso crescimento, e preciso mais do que apenas suporta-lo. Assim
como Adam, e preciso acordar todos os dias e optar por praticar o
bem. Não se trata de meramente manter uma atitude positiva nas
provações, mas de agir com amor. E dessa forma que o sofrimento e
capaz de produzir a perseverança. Esse tipo de comportamento, além
de ajudar na superação da dor, traz alegria sempre que você enfrenta
múltiplas provações.
A Bíblia diz que Deus nos ajuda em nosso sofrimento. Isso
não significa que Deus ira acabar com o sofrimento, mas que
nos criou dotados de forca e recursos para enfrenta-lo. A capacidade
de perseverar e um desses dons divinos que contribuem
para nos tornarmos pessoas melhores, e não nos deixarmos destruir
ir pela dor.

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SOFRER SOZINHO
“Recusar a misericórdia a seu próximo é
abandonar o temor do Poderoso. ”
Jo 6:14

As pessoas que estão sofrendo podem se encontrar no meio de


uma multidão e, mesmo assim, se sentirem isoladas e estranhas ao
grupo. Ficam presas a lembranças do passado e não conseguem viver
o presente. E comum sofrerem uma certa perda de identidade, não
conseguindo estabelecer ligação com os outros. Não se envergonhe se
já sentiu que ninguém poderia entende-lo ou avaliar a profundidade
de sua dor, nem mesmo Deus. O isolamento e uma característica do
sofrimento traumático.
Paul e um pastor talentoso, brilhante e sensível, e líder de sua igreja.
Durante muitos anos, ajudou milhares de pessoas a terem uma vida
melhor e a se aproximarem de Deus. Era tão dedicado ao seu ministério
que só se casou mais tarde. Alicia era bonita, muito espiritualizada
e querida por todos. Paul amava a esposa apaixonadamente e se
considerava
o homem mais feliz do mundo.
O casal viveu vários anos de maravilhosa felicidade e teve dois
belos filhos antes que a tragédia acontecesse. Um dia, Alicia morreu
em um acidente de automóvel. Paul ficou completamente destruído.
Sentia uma dor tão intensa quanto o amor que antes sentia pela esposa.
Tentava encontrar uma explicação para essa tragédia, mas não
conseguia.
- Como o Deus que tanto amei permitiu que uma coisa tão terrível
me acontecesse? - lamentou-se um dia para mim.
- Não sei - respondi calmamente. Eu percebia que não se tratava
de uma questão teológica. Paul havia aconselhado centenas de pessoas
sofredoras durante anos, mas não era de uma explicação racional
que ele precisava. Precisava da minha ajuda para seu coração.
- Eu não sei como vou sobreviver a dor - repetia.

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-Não consigo nem imaginar o quanto você sofre - respondi, abraçando-o.


Muitos anos depois, descobri que foi essa minha ultima afirmação
que realmente confortou Paul. Naquele momento, a dimensão
de sua dor criara um abismo entre ele e todo mundo, ate entre ele
e Deus. Sentia profundamente que ninguém poderia compreender
o tamanho do seu sofrimento. Comentários superficiais e consoladores
pareciam um insulto e o faziam se sentir ainda mais sozinho.
Paradoxalmente, a única coisa que o fez se sentir compreendido foi o
fato de eu dizer que simplesmente não conseguia imaginar a profundidade
de sua dor. Foi o mais próximo que alguém conseguiu chegar
da gravidade daquilo que ele experimentava.
Por causa da sua dor, Paul tirou uma licença e se afastou durante
um tempo de suas atividades como pastor. Mais tarde voltou para o
trabalho que amava, embora carregue ate hoje uma cicatriz no coração.
Acredito que ele sobreviveu a tragédia porque, apesar de se sentir
muito só em seu sofrimento, não ficou sozinho. Aos poucos foi
permitindo que algumas pessoas se aproximassem. Não havia muitas
palavras para ajuda-lo, mas simplesmente ficávamos ao seu lado,
disponíveis
e solidários. E esses simples atos foram ajudando-o a superara dor.
O sofrimento traumático acaba com a esperança e nos afasta dos outros.
As palavras dos amigos talvez sejam inúteis, mas a presença deles
não e. As vezes, ficar ao nosso lado não e a única coisa que os amigos
podem fazer por nos. Na verdade, e o melhor que podem fazer.
A perseverança não e o único dom que Deus nos concede em momentos
de sofrimento intenso para nos ajudar a sobreviver e a sermos
uma pessoa melhor. Deus também nos criou com a capacidade
de nos relacionarmos com os outros, mesmo quando nos sentimos
desesperadamente sós. Como no caso de Paul, podemos achar que
não conseguimos ou mesmo não queremos a companhia de alguém,
mas somos capazes de escolher estar com os amigos a fim de superarmos
a dor.

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As vezes, estar próximo não e a única coisa


que se pode fazer, mas o melhor que se pode fazer.

A Bíblia ensina que “recusar a misericórdia a seu próximo é abandonar


o temor do Poderoso”. Paul sobreviveu graças aos amigos que
o ampararam durante o sofrimento. Embora ele não percebesse, alguém
próximo e solidário faz muita diferença. Você também pode
sobreviver a um sofrimento traumático se não enfrenta-lo sozinho.

SOBREVIVENTE O U VITIMA?

“Ele dá força ao cansado, e ao desfalecido renova o vigor.”


Isaias 40:29

Pessoas são vitimas de crimes de abuso e de violência todos os dias.


Se você já foi vitima de abuso ou de violência, e fundamental saber
que a culpa não foi sua. E comum se acusar a vitima de ter contribuído
de alguma forma para a agressão que sofreu. Esta e a pior maneira
de explicar o absurdo sofrimento, além de só aumentar a dor. Parte
da cura consiste em parar de se culpar pelo que aconteceu. Mas e
importantíssimo
tomar consciência: embora ser vitima de abuso não
seja culpa sua, continuar na situação de vitima certamente e.
Todo mundo atravessa circunstancias difíceis na vida. Se essas
circunstancias forem muito difíceis, ha duas maneiras de sair delas:
como sobrevivente ou como vítima. Sobreviventes são pessoas que,
apesar das dificuldades e sofrimentos, mantem seu poder pessoal e a
crença de que podem agir de forma diferente quando surgirem novas
provações. Vítimas são aquelas que, a partir do que sofreram, passam
a se sentir impotentes e derrotadas. Se você se considera uma vitima
do que lhe aconteceu no passado, corre o enorme risco de se sentir
impotente em relação ao que pode lhe acontecer no futuro.
E importante entender qual e o poder que nos permite ser sobreviventes.
Não e um poder exercido sobre os outros, mas com os outros.

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Não e dominação, mas cooperação. Os sobreviventes são pessoas que


foram vitimas de sofrimento, mas conservaram seu poder, enquanto
que as vitimas o perderam. Esse poder inspira os que nos rodeiam a
darem o melhor de si.

Ser vitima não e culpa sua, continuar na situação


de vitima certamente e.

Dóris procurou a psicoterapia por recomendação de seu advogado.


Ela se acidentara quando trabalhava numa grande firma de contabilidade.
Seu advogado temia que ela entrasse em depressão e queria que
eu examinasse o caso.
Dóris crescera em um bairro pobre da cidade, e a família sentia muito
orgulho por ela ter estudado e conseguido um emprego em uma empresa
respeitável. Era uma pessoa bem-sucedida, pelo menos ate o acidente.
Agora Dóris tinha medo de não ser mais capaz de prosseguir em
sua trajetória de sucesso. Sentia dores constantes nas costas, o que
dificultava muito sua permanência no emprego. O advogado dissera
que ela poderia receber uma indenização significativa que lhe daria
autonomia financeira. Dóris estava confusa e sofria. A ideia de conseguir
uma alta soma em dinheiro a agradava, mas pensar que não
voltaria a trabalhar a deprimia.
- Não sei que rumo tomar - disse Dóris, olhando para fora.
- O que você acha que pode fazer? - perguntei.
- De fato, não sei. Meu advogado esta me pressionando para procurar
médicos que atestem a gravidade do dano físico que sofri. Ele diz que
o caso e bom e que a empresa deve pagar pelo que aconteceu comigo.
Não estou convencida, porque gosto tanto do meu emprego... E como
se minha vida tivesse acabado quando estava apenas começando.
- Isso e triste - comentei.
- Eu sei. Tristeza e o que sinto a maior parte do tempo. E eu era tão
feliz. O que esta acontecendo comigo? - perguntou Dóris, olhando
diretamente para mim.

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A resposta não era simples. A dor física constante deprime, e ela


estava sofrendo com isso. Mas achei que esta não era a única causa da
depressão. Dóris também se sentia impotente.
O advogado a fizera acreditar que ela não voltaria a trabalhar, que
não tinha meios para mudar seu futuro e que deveria ser compensada
por isso. Uma alta recompensa financeira, somada a crença de que
jamais voltaria a ser produtiva, funcionava como um grande incentivo
para ela abrir mão de seu poder pessoal. Se pudesse convencer
os outros de que estava realmente impedida de trabalhar, ganharia o
caso. Mas isso fazia com que Dóris se sentisse uma vitima.
A vida e complicada. As vezes, a solução ideal em termos legais
ou políticos não e a melhor em termos psicológicos. Quero deixar
claro que não acredito que um processo judicial acabe transformando
uma pessoa em vitima. Tenho bons amigos advogados que realizam
um trabalho espetacular para que seus clientes exerçam seus direitos.
Mas, no caso de Dóris, embora a ação judicial a ajudasse financeiramente,
a agredia psicologicamente. Em termos legais, era interessante
que ela fosse uma vitima, mas, psicologicamente, Dóris não queria se
sentir assim.
Empenhei-me junto com Dóris para ajuda-la a se tornar uma sobrevivente
de seu sofrimento. Ela se sentia impotente em relação ao
que lhe acontecera, mas rejeitava a ideia de ser uma vitima. Gostava
de se ver como uma batalhadora, e nenhum dinheiro compensaria
essa conquista. O dano físico não enfraqueceu seu poder. Acreditava
que podia enfrentar suas batalhas judiciais, mas recusava a condição de
impotência. Dóris e uma sobrevivente, o sofrimento não a derrotou.
Ao tomar consciência disso, ela reagiu recuperando sua forca, tornando-
se exemplo e inspiração para todos que a conhecem.
Deus não nos abandona em nosso sofrimento e nos deu recursos
para nos tornarmos sobreviventes, e não vitimas. Ele promete forca
ao cansado e vigor ao desfalecido. A verdadeira forca e o verdadeiro
poder não são instrumentos para dominar os outros, mas para ajuda-los
a crescer. Deus nos criou com poder suficiente para sobreviver ao

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sofrimento. Você não deve se culpar por estar cansado ou debilitado,


mas sempre pode escolher sobreviver recorrendo aos recursos de que
dispõe: amigos, aconselhamento profissional e sobretudo a ajuda de
Deus. Peca, com a maior convicção e intensidade, forca e sabedoria
para fazer a melhor escolha. Você saberá então a diferença entre ser
sobrevivente e ser vitima.

COMO CONFIAR DE NOVO

“Por temor diante da gritaria da multidão expor medo do desprezo


dos parentes me mantive calado e sem pôr os pés fora da porta. ”
Jo 31:34

Ser traído por alguém a quem estamos ligados afetivamente ou de


quem dependemos afeta nossa capacidade de confiar. Isso e ainda
mais verdadeiro quando a traição vem dos próprios pais, que deveriam
proporcionar segurança. Se você foi molestado ou enganado por
pessoas que supostamente deveriam faze-lo se sentir seguro, e possível
que tenha aprendido o quanto e arriscado ser vulnerável.
Essa e a razão pela qual temos leis que protegem as crianças de
abusos. Abalar a confiança de uma criança e capaz de prejudica-la
por toda a vida, porque desenvolve nela a crença de que não se pode
acreditar em ninguém. A criança cresce e segue pelo resto da vida
sentindo que evitar o sofrimento e mais importante do que seguir em
frente. E como tentar subir uma ladeira de bicicleta com os freios
acionados.
Não se volta para trás, mas avançar será muito mais difícil.
Ser traído por alguém de quem dependemos
afeta nossa capacidade de confiar.
Charlene e uma mulher atraente, inteligente e excelente profissional,
mas tem dificuldade em manter um relacionamento intimo com
um homem. Ela veio para a terapia em busca de ajuda para sua vida

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amorosa. Desejava casar e ter filhos, mas suas experiências com h o mens
a tinham decepcionado.
- Onde estão os homens bons? - perguntou-me certo dia.
- Esta sendo difícil encontrar um? - indaguei.
- Eu não acredito que haja um homem em quem eu possa confiar,
que assuma um compromisso comigo e que não me abandone
quando surgirem dificuldades. Todos os homens parecem meninos
que querem apenas se divertir - lamentou-se.
- Acho que você esta querendo meu ponto de vista como homem -
eu disse. - Mas talvez seja difícil confiar em mim, porque sou homem
também.
- Não, com você e diferente - ela discordou. - Eu confio em você.
Mas depois de algum tempo percebi que Charlene tinha dificuldade
em concordar com qualquer coisa que eu dissesse. Se eu sugeria
um sentimento que ela poderia estar experimentando, negava. Se eu
tentava repetir o que ela acabara de me dizer, discordava das minhas
palavras. Sem perceber, Charlene precisava se opor a mim. Não fazia
isso deliberadamente, mas não se sentia segura para me aceitar.
Em algum momento da terapia, Charlene me disse que fora molestada
pelo pai. Já estivera em tratamento antes com uma terapeuta mulher
e havia discutido longamente esse ponto, mas achava que não tinha
esgotado o assunto. Enfrentara o pai antes de ele morrer e tinha ficado
satisfeita por tê-lo obrigado a encarar seu comportamento perverso.
Começamos a examinar as marcas que o abuso havia deixado nela.
Por ter sido molestada pelo próprio pai, Charlene acreditava que ser
vulnerável a qualquer pessoa, sobretudo a um homem, era extremamente
arriscado e destrutivo. Se seu próprio pai tinha violado sua delicada
vulnerabilidade infantil, como poderia confiar que alguém não
faria o mesmo? Sua reação automática aos homens era de autoproteção.
O mais seguro era se defender deles, mesmo que isso conflitasse
com seu sonho de casamento.
Depois de alguns meses de tratamento, Charlene já não agia de
modo tão defensivo em relação aos homens. Agora ela sabe que tem

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condições de discernir e se proteger e esta descobrindo que a


vulnerabilidade
nem sempre leva ao abuso. Também aprendeu, em seu
relacionamento comigo, que e possível se entregar a alguém e desenvolver
um relacionamento solido e seguro. O medo de se expor não a
deixava ver isso.
Pessoas que se sentiram traídas em seus relacionamentos geralmente
me perguntam: “Como vou poder confiar de novo?” Da
mesma maneira que Charlene, elas acham que precisam esmiuçar o
outro para determinar se ele e confiável ou não. Mas consegui ajuda-
lá a ver que não e o conhecimento detalhado das outras pessoas
que nos da segurança, mas o conhecimento de nos mesmos. Charlene
não precisa analisar profundamente todos os homens que encontra,
ela precisa se conhecer profundamente. A medida que consegue
ver com mais clareza seus próprios sentimentos, ela deixa de achar
que todos os homens são perigosos ou imaturos. Seu medo de ser
vulnerável
impedia que ela identificasse sentimentos capazes de indicar
se um relacionamento era seguro ou não. Isso a ajudou a desenvolver
a confiança.
ANTECIPAR A DECEPCAO

“Em seguida voltará os olhos para a terra; por toda parte só se vê


angústia, escuridão, noite de aflição e trevas dissolventes.”
Isaias 8:22

Para se protegerem de um possível sofrimento futuro, algumas


pessoas antecipam a decepção, esperando o pior, sem perceberem as
consequências negativas dessa atitude. Sua logica e: se imagino que
isso vai acontecer, vou sofrer menos. No entanto, antecipar a decepção
e quase sempre pior do que a própria decepção.
Celina e uma mulher de negócios talentosa, bem casada e mãe de
duas crianças maravilhosas. Seu marido e um arquiteto bem-sucedido
e pai dedicado. A primeira vista, eles parecem formar uma fami21
lia

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lia perfeita. Sucesso no trabalho e felicidade em casa. Quem poderia


querer mais?
No entanto, Celina procurou a terapia porque as coisas nem sempre
correspondem as aparências. Ela trabalhava para uma empresa
na qual frequentemente era solicitada a fazer apresentações. Era uma
boa comunicadora e muito respeitada pelos colegas, mas isso não a
ajudava nos dias que antecediam as palestras. Embora tivesse sucesso
na maioria das vezes, ela ficava se torturando por antecipação.
- Tenho outra grande apresentação nesta terça - disse Celina, ansiosa.
- Você parece nervosa - respondi.
- Bem, um de meus sócios na empresa vai estar lá - acrescentou
tensa. - E, na ultima vez em que ele esteve presente, ficou sentado,
quieto. Não esboçou um sorriso, um sinal, nada. O que e que ele estava
pensando? O que e que eu preciso fazer para ser aprovada por
ele? Acho que esse homem tem algo contra as mulheres.
- E desgastante ser mulher numa carreira em que os homens predominam
- comentei.
- Eu sei. Nunca sinto que estou dando o que eles querem. Meu pai
e que estava certo. Eu não deveria ter me metido nisso - disse, colocando
o rosto entre as mãos.
O que era estranho na ansiedade de Celina e que suas apresentações
eram sempre bem-sucedidas, o que deveria aumentar sua segurança.
Mas bastavam uma ou duas reações de desapontamento
para martiriza-la.
A medida que sua terapia avançava, descobrimos um ponto importante
na ansiedade de Celina e em seu medo do trabalho. Ela estava
antecipando a decepção. Celina era a irmã mais nova de Alan, o filho
brilhante que os pais valorizavam. Cresceu ouvindo elogios entusiásticos
sobre as realizações do irmão e sua importância como o “filho mais
velho”. Viver sob essa sombra deu a Celina a sensação de que desapontava
constantemente os pais. Sair-se bem na escola ou em atividades
extracurriculares nunca era suficiente. Ela jamais seria como o irmão e

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não havia nada que pudesse fazer a respeito. Ele era o principal motivo
de orgulho dos pais. Ela era apenas a irmã mais nova de Alan.

Antecipar a decepção e quase sempre pior


do que a própria decepção.

A mudança e lenta, mas Celina esta percebendo que as raízes de


seu sentimento remontam a infância e que tentar se proteger do
desapontamento,
antecipando-o, não ajuda em nada. Durante muitos
anos ela se via como uma constante decepção para os pais, mas agora
e adulta e não depende da aprovação dos outros para saber quem e.
E claro que nem todas as suas palestras serão um sucesso e que algumas
pessoas ficarão desapontadas. Mas não significa que ela seja uma
decepção. Em vez de tomar posse de seu valor e de se alegrar, Celina
direcionava sua energia para se prevenir da decepção que antecipava.
E isso estava causando um sofrimento desnecessário em sua vida.
A Bíblia nos diz que ha pessoas como Celina que só verão angústia,
escuridão, noite de aflição e trevas dissolventes. Mas a antecipação
negativa traz sempre um sofrimento inútil e desgastante. Em vez de
antecipar a decepção, elas devem desenvolver a capacidade de tolera-la
se e quando vier. Causar decepção não significa que você seja uma
decepção. Decepções surgem durante a vida, e preciso coragem e
sabedoria para conviver com elas. Nosso objetivo não deve ser uma
vida sem decepções, pois isso e impossível. E ter forca para lidar com
elas quando surgirem.
Deus disse, “Aquele que me escuta, porém, habitará com segurança,
viverá tranquilo, sem recear dano algum”. E claro que isso não significa
que nenhum mal vai lhe acontecer. Basta ler a Bíblia para descobrir
que pessoas dedicadas a Deus tiveram de lidar com muita dor e
sofrimento. O que realmente significa e que, se confiarmos em Deus,
não precisaremos temer o mal, pois, quando ele vier, Deus nos dará
capacidade para lidar com ele. Aprender a tolerar e lidar com as decepções
- em vez de antecipa-las - e de grande ajuda na vida.

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FERIMOS AQUELE QUE MAIS AMAMOS

“Os golpes do amigo são leais, mas o inimigo é pródigo em beijos.”


Provérbios 27:6

Dizemos as pessoas mais amadas coisas que jamais diríamos nem


mesmo aos nossos amigos, porque estes não as tolerariam. Se você
tratasse seus amigos da maneira como trata seu cônjuge ou parentes
mais próximos, não teria amigos. Este e um aspecto desagradável da
intimidade: o amor fá z as pessoas perderem a cerimônia.
Quando amamos alguém, queremos aprofundar a relação. A Bíblia
nos diz que “o inimigo é pródigo em beijos”, o que significa que os
inimigos
são amáveis com pessoas de quem não gostam apenas para defender
seus próprios interesses. Falta sinceridade a seus beijos, e eles
exageram em suas manifestações para encobrir os reais sentimentos.
Mas “os golpes do amigo são leais “porque amigos são sinceros e dizem
a verdade, mesmo que as vezes isso magoe. O problema e como sermos
“verdadeiros” quando somos feridos por alguém que amamos. Muitas
vezes, ao querermos ser sinceros a respeito de nossos sentimentos feridos,
achamos que podemos magoar quem nos agrediu.
Para amar alguém de verdade e preciso aceitar a própria vulnerabilidade.
T irar a mascara superficial, politicamente correta, e deixar que
o outro nos veja como somos realmente. Isso e necessário no amor.
No entanto, ser vulnerável e também correr o risco de ser ferido
profundamente.
Quando isso acontece, somos capazes de dizer e fazer
coisas prejudiciais de forma violenta com as pessoas mais próximas.
E nesse momento que magoamos aqueles que mais amamos.

O modo como falamos com alguém e tão importante


quanto o que estamos tentando dizer.

Donna e Michael procuraram a terapia de casal por causa das


constantes brigas, uma das razoes que geralmente levam os casais a

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psicoterapia. As pessoas se casam porque se sentem atraídas pelas


características
do outro, que são diferentes das suas. Mas, com o passar
do tempo, essas mesmas características começam a irritar e provocam
um enorme desgaste. Era o caso de Donna e Michael.
- A terapia não esta funcionando. Ele não mudou nada - queixou-
se Donna no inicio de nossa quinta sessão.
- Do que e que você precisa? - perguntei. Percebi que eu teria que
ser firme para não perder o controle da sessão. Procurar a terapia para
tentar m mudar o parceiro e um erro cometido pela maioria das pessoas
que estão precisando de ajuda. Eu queria que cada um dos dois
permanecesse
focado em suas próprias necessidades e sentimentos e que
não caíssem na armadilha de se acusarem mutuamente, o que e inútil
e destrutivo.
- Eu preciso que ele pare de mentir! - respondeu Donna enfaticamente.
- Acusações não vão ajudar - eu disse com firmeza. - Então tente
falar dos seus sentimentos e não do que esta errado com Michael.
- Tudo bem. Eu sinto que ele precisa parar de ser mentiroso - ela
afirmou com uma certa rispidez.
- Isso não e um sentimento - repeti. - O que você esta sentindo
neste exato momento?
A expressão do rosto de Donna mudou. Notei que ela tentava entender
o que eu dizia. Estava acostumada a falar dos defeitos do marido
e não a expressar seus próprios sentimentos. Mas atacar o caráter
dele não a levava a lugar algum, e eu pretendia oferecer algumas
ferramentas
para ajuda-la.
- Sinto medo - falou com os lábios trêmulos. - Michael me disse
que eu podia sair do emprego porque ele cuidaria de nos financeiramente,
e agora eu descubro que estamos devendo 80 mil dólares.
Como você acha que eu me sinto? Estou apavorada, com medo de
perder tudo o que temos - completou, irrompendo em lagrimas.
- Michael - falei calmamente, dirigindo-me a ele. - Você sabia que
Donna se sentia assim?

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- Bem, não - respondeu Michael, olhando para seus sapatos. - O


que eu sabia e que ela estava furiosa, e eu detesto conversar quando
ela esta com raiva.
- E o que você sente ao ouvir isso agora? - perguntei.
- Eu me sinto muito mal, porque vejo que ela esta assustada - ele
respondeu com mais segurança. - Não quero que minha mulher
sinta medo. Fizemos uma segunda hipoteca para termos uma reserva
quando precisássemos, e eu usei o dinheiro para pagar a construção da
casa. Estou com os pagamentos em dia. Não menti para ela, só achei
que cabia a mim cuidar das finanças, e exatamente o que estou fazendo.
Peco desculpa se não avisei que estava sacando dinheiro da reserva.
Achei que você queria deixar esses assuntos por minha conta.
Realmente Donna e Michael se amavam muito. Mas, quando alguém
que amamos nos magoa, sentimos muita raiva. Donna estava
com raiva de Michael porque precisava se sentir segura com o homem
que amava. Estava furiosa porque desejava confiar nele e não conseguia.
Mas Michael não conseguia captar a mensagem. Tudo o que ele
ouvia era que a mulher não confiava nele e que ele era um fracasso
como marido.
Michael amava Donna e queria cuidar dela. Trabalhava muito para
sustentar a família a que se dedicava inteiramente. Donna, porem,
não entendia assim. A mensagem que ela captava era que ele estava
escondendo algo e que talvez pensasse em abandona-la.
Com o tempo, Donna e Michael pararam de ferir um ao outro.
Donna deixou de atacar o marido, e Michael abriu-se com ela de
um modo que a fez se sentir segura. Agora eles veem que o modo
de falar com alguém e tão importante quanto o que você esta querendo
dizer. A raiva e a desconfiança só criam afastamento. Donna
e Michael desejavam ficar próximos - só precisavam de uma ajuda
para alcançar isso.
Qual e sua expectativa em relação ao casamento? Você acha que
seu parceiro nunca vai cometer uma falha? Que você nunca vai se magoar?
Se pensar assim, sofrera uma grande decepção. O importante e

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acreditar que você esta com alguém que não deseja feri-lo, mas que,
ainda assim, e capaz disso, porque e um ser humano. Alguém que deseja
construir uma relação de companheirismo e cumplicidade. Uma
pessoa capaz de pedir desculpa e de se empenhar para não repetir o
comportamento que o magoou. E isso que os amigos fazem, e esta e a
razão pela qual a Bíblia diz que os golpes do amigo são leais. Não se
esqueça
que amigos falam uns com os outros baseados no respeito e na
certeza de que são amados, mas não com a intenção de ferir. Não ha
nada melhor do que construir um verdadeiro relacionamento amoroso
com alguém que e ao mesmo tempo amante e amigo.

LIMITES PODEM FERIR, MAS AJUDAM

“Toda correção, com efeito, no momento não parece


motivo de alegria, mas de tristeza. ”
Hebreus 12:11

A vida machuca. O nosso desejo e amplo, mas a todo momento


nos deparamos com limites. Não gostamos deles, mas limites são
absolutamente
necessários para nos dar parâmetros que nos ajudem a
crescer. O importante e aprender a lidar com os limites. Porque, embora
possam nos machucar, eles mostram a direção para um crescimento
saudável.
Os limites são uma maneira de dizer “sim” e “não” ao mesmo
tempo. Na infância, você teve de aprender onde terminavam os seus
direitos e começavam os dos outros. Entender o significado do “não”
ajudou-o a perceber que o mundo não girava em torno de você e que
era fundamental conhecer os limites para construir uma vida feliz.
Dizer “não” para algumas coisas permite que digamos “sim” para outras.
São nossas escolhas: para ganhar alguma coisa, precisamos perder
outra.
Podemos ate não gostar, mas ter limites estabelecidos e defini-los
para aqueles que nos cercam e altamente positivo.

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E fundamental conhecer seus próprios limites


para construir uma vida feliz.

Minha mulher, Barbara, e eu pensamos muito antes de escolher


o jardim-de-infância para onde iriamos enviar nosso filho Brendan.
Queríamos um lugar onde ele pudesse se desenvolver em termos
acadêmicos, porem, mais importante do que isso, queríamos que ele
se tornasse um homem de caráter. Seu desenvolvimento espiritual e
emocional era tão essencial quanto seu desempenho acadêmico.
Encontramos uma escola maravilhosa, com professores atenciosos,
programas dinâmicos e ênfase no desenvolvimento espiritual e
emocional dos alunos. Ficamos radiantes.
Brendan fez logo vários amigos. Em pouco tempo já era o melhor
amigo de David, provavelmente a criança mais brilhante da turma e
um líder natural. David era autoritário, conhecia as regras de todas
as brincadeiras (ou as criava se não conhecesse) e se colocava como o
principal responsável por tudo. Brendan adorava David.
Aos poucos uma hierarquia foi se estabelecendo. As crianças
menos extrovertidas por vezes não eram chamadas a opinar, enquanto
que as mais autoritárias (como David e Brendan) participavam
de todas as tomadas de decisão. E havia um menino em particular,
Robert, que as vezes era excluído dos jogos.
Barbara logo notou o que estava acontecendo e procurou a mãe de
David para falar de suas preocupações e descobrir o que poderia ser
feito, sobretudo em relação a Robert. Para surpresa de m incha mulher,
a mãe de David não via problema algum no comportamento do filho.
Disse que ele era um líder natural e que não ia fazer nada para conter
sua forma de agir. Achava que as crianças deveriam resolver seus
problemas sem a interferência dos pais e, se as outras não conseguiam
fazer frente a David, deveriam aprender a se defender melhor.
Barbara discordava. Todos os dias, ao levar Brendan para a escola, ela
conversava com ele, procurando incutir em nosso filho o respeito pelos
colegas mais tímidos, mostrando-lhe o sofrimento de se sentir excluído e

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mesmo agredido. Apos alguns “castigos” e privilégios perdidos, Brendan


começou a respeitar mais as outras crianças. Ele não gostava muito, mas,
através da disciplina, aprendeu a lidar melhor com os colegas.
Um dia, ao chegar a escola, Brendan correu todo entusiasmado ate
David para cumprimentar seu melhor amigo.
- Brendan! - falou David inocentemente. - Adivinha...
- O que? - Brendan perguntou, esperando ansiosamente o começo
da brincadeira seguinte.
- Eu decidi que todo mundo vai odiar o Robert - respondeu
David.
- O que? - se espantou Brendan.
- E isso mesmo - continuou David. - Eu não gosto dele, e todos os
outros disseram que não vão mais ser amigos dele.
Nosso filho parou um instante, olhou bem nos olhos do amigo,
e disse com toda a firmeza de que um menino de 6 anos era capaz:
“Não.”
Meio chocado, David encarou Brendan.
- Não - repetiu Brendan. - Isso não e legal. Se você não e mais
amigo do Robert, então não sou mais seu melhor amigo. - E simplesmente
virou as costas e correu para se juntar as outras crianças que
estavam brincando por perto.
Em pouco tempo as coisas pioraram, não para Robert, mas para
David. Ele começou a ter problemas de disciplina na sala de aula, as
outras crianças pararam de segui-lo nas brincadeiras e varias mães
procuraram a mãe de David para falar do mau comportamento do
menino. Por fim, ela resolveu mudar seu modo de educar o filho.
Recusar-se a estabelecer limites para o mau comportamento de David
não o ajudava a se desenvolver adequadamente. Definir limites não
apenas contribuía para que ele prejudicasse menos os outros, como
também o ajudava a parar de prejudicar a si mesmo, pois começava a
ser rejeitado como um tirano.
Não estou dizendo que Brendan se transformou por causa da aplicação
de uns castigos e da perda de alguns privilégios. Barbara e eu

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gastamos muito tempo e energia estabelecendo limites para ele durante


anos. E ainda que fosse quase sempre difícil para ele (e para
nos), valeu a pena. Talvez nosso filho tenha deixado de se divertir por
não fazer todas as coisas do seu jeito, mas em compensação foi
desenvolvendo
o caráter. Acreditamos que qualquer desconforto causado
pelo estabelecimento de limites foi muito menor do que o sofrimento
que teria na vida se não houvesse esses limites. Deus nos disse que
“toda correção, com efeito, no momento não parece motivo de alegria,
mas de tristeza. Depois, no entanto, produz naqueles que foram exercitados
um fruto de paz e de justiça”.

PESSOAS FERIDAS FEREM

“Vede que ninguém retribua o mal com o mal;


procurai sempre o bem uns dos outros e de todos.”
I Tessalonicenses 5:15

As vezes, quando somos magoados ou agredidos, queremos “acertar


as contas” para que o outro sinta a mesma dor. Pessoas feridas
e ressentidas atacam impiedosamente quem as agride, prejudicando
sobretudo a si mesmas. Por isso, lembre-se que quando nos sentimos
feridos corremos o risco de ferir quem nos atacou.
Se você foi ferido, corre o risco de ferir também.
Erramos ao pensar que alguém e mau porque nos fez mal. Isso nos
da motivos para feri-lo também. O raciocínio subjacente e: pessoas
mas fazem mal a outras e por isso devem sofrer. Talvez nossa dor não
diminua, porem achamos que isso nos fara sentir um pouco melhor.
Mas nem sempre e verdade.
Ruth e Alex se apaixonaram quando estavam no ultimo ano da faculdade.
Tinham muito em comum. Ela queria se formar enfermeira
e depois casar, ter filhos e ser dona-de-casa. Alex queria ser medico e

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se casar com uma mulher de princípios tradicionais, que valorizasse o


papel de dona-de-casa. Os dois combinavam em suas posições politicas
e religiosas e se sentiam atraídos um pelo outro. Seis meses depois
ficaram noivos.
Contudo, no amor nem sempre as coisas são como se planeja.
Depois de formados, Alex ingressou na residência medica e Ruth
começou a trabalhar como enfermeira em um hospital numa cidade
vizinha. Conviveram pouco no ano seguinte, mas isso não constituía
problema, pois tinham planos maiores para a vida. Encontravam-se
nos finais de semana quando Alex tinha algum tempo disponível, o
que era difícil, mas os dois sentiam que estavam lutando por algo que
valia a pena.
Com o passar do tempo, o relacionamento mudou. Alex aproximou-
se de seus companheiros de estudo, e Ruth se sentia mais bem
compreendida pelos colegas do hospital do que pelo noivo. Um dia os
dois chegaram a conclusão de que precisavam ter uma conversa.
- O que esta acontecendo conosco? - Ruth perguntou apos alguns
minutos de silencio. - Não somos mais carinhosos um com o outro,
só falamos de trabalho, e não me lembro da ultima vez em que você
disse que me amava.
- Eu sei - falou Alex com tristeza. - Acho que as coisas mudaram.
- O que isso significa? - perguntou Ruth. - Concordamos em nos
separar durante algum tempo para construir nossos sonhos para o
futuro. Esta tentando dizer que não me ama mais?
- Não sei - respondeu Alex, baixando os olhos. - Nos afastamos
muito. Se já não nos sentimos como antes, não sei se devemos
nos casar. Simplesmente não sei.
- Ah, mas eu sei - exclamou Ruth com raiva. - Sei que você prometeu
casar comigo quando ficamos noivos e não posso acreditar que
esteja desistindo da promessa. Depois de tudo o que fiz para conseguir
esse trabalho, agora você vem me dizer que não sabe mais! Detesto
ouvir o que você esta dizendo e detesto você por fazer isso comigo.
Como pude ser tão idiota!

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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Alex e Ruth romperam. Alex se sentia mal e desapontado


porque seus planos não deram certo, mas Ruth estava furiosa,
magoada e humilhada. Quando se apaixonam, as pessoas tem a
profunda sensação de estarem conectadas, o que as faz sentir que
podem contar uma com a outra para sempre. Ruth sentia muita
raiva.
Nas três semanas seguintes ela não conseguia parar de pensar
em Alex. As musicas que ouvia traziam lembranças dele, os médicos
do hospital a faziam pensar nele, e ela detestava suas noites
porque se sentia só e traída. O que antes era uma promessa, ela
agora percebia como uma mentira. Ruth não conseguia se desligar
disso.
Ruth falou abertamente com amigos comuns sobre o que ela considerava
uma falta de caráter de Alex e não poupou criticas ao ex-noivo
com outros médicos. Chegou a achar que precisava proteger outras
mulheres das manobras dele. Então se dirigiu ao hospital onde Alex
trabalhava e desfiou uma lista dos seus defeitos de caráter diante de
todos os seus colegas. Ruth provavelmente sabia que o estava prejudicando
pessoal e profissionalmente, mas achava que Alex merecia isso.
Afinal de contas, ele era um mentiroso.
Ruth feriu Alex com seu rancor, deixando-o constrangido e furioso.
Ela acabou seguindo seu caminho, mas se prejudicou profundamente
ao atacar Alex da forma como o fez. Mostrou-se descontrolada
e insegura aos olhos de todos.
Pessoas feridas ferem. Nem Alex nem Ruth eram mas pessoas,
mas como todos os seres humanos, eram capazes de ferir e ser feridos.
Deus nos alertou para não retribuir o mal com o mal, porque
sabe que isso não nos faz crescer. Com seu comportamento,
Ruth não ajudou Alex em nada, além de tornar mais difícil para
ela própria confiar em outro homem no futuro. Podemos aprender
alguma coisa com o erro de Ruth. Se você foi magoado por alguém
próximo, lembre-se que esta sujeito a revidar com seu rancor. E que
isso não lhe fara bem.

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NEGACAO

“...e ser achado nele, não tendo como minha


justiça aquela que vem da Lei...”
Filipenses 3:9

A negação e uma tentativa de afastar o sofrimento. E um mecanismo


de defesa psicológica, geralmente inconsciente, que usamos
para nos proteger de sentimentos dolorosos. Se você diz a si mesmo
que não sente tristeza em relação a alguma coisa, pode ser capaz de se
convencer e de convencer os outros de que seu sofrimento acabou.
Ninguém gosta de sofrer. A negação pode ser uma forma de fingir
que não estamos sofrendo.
Vez por outra a negação e um mecanismo de defesa necessário.
E insuportável sentir dor o tempo todo. Portanto, as vezes negamos
para fugir da dor. Mas se não estivermos conscientes de que estamos
usando a negação, ela pode ser perigosa. E possível que cause ainda
mais sofrimento do que aquele que estamos tentando negar.

Deus não quer que neguemos nosso sofrimento.


Ele quer nos dar forcas para enfrenta-lo.

Daniel frequenta a igreja regularmente e, membro assíduo dos cultos,


e respeitado por seus conhecimentos. Deseja ocupar uma função
na igreja, mas sente-se frustrado porque seu pastor acha que posições
de responsabilidade só devem ser concedidas apos muita consideração.
Como a Bíblia diz: “Meus irmãos, não haja muitos entre vós a se
arvorar em mestres; sabeis que sereis julgados mais severamente.”
Daniel e um homem bom, mas nem sempre foi assim. Cresceu em
meio a abusos, casou-se com uma alcoólatra, tal como era sua mãe, e
enfrentou uma vida de crimes e vícios antes de se converter. Já passou
por maus bocados e sempre agradece a Deus por sua conversão.
Agora esta casado com uma mulher bondosa e tem um emprego es

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estável. Ele fala de seu passado dando testemunho de como Deus por sua
conversão. Agora esta casado com uma mulher bondosa e tem um emprego
es
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estável. Ele fala de seu passado dando testemunho de como Deus pode
nos salvar do pecado. Entretanto, Daniel nega todas as marcas que o
sofrimento deixou nele. Sua negação faz com que seu pastor perceba
que Daniel baseia mais sua forca na negação dos próprios problemas
do que na confiança na forca de Deus.
O chefe de Daniel começou a constata r alguns problemas em
seu desempenho profissional. Daniel não os admitiu e, depois de
cometer uma serie de erros que tentou minimizar, foi finalmente
demitido, o que o deixou muito humilhado. Sentiu-se injustiçado
em vez de encarar seus erros de frente. Negou tanto as faltas
quanto o sofrimento decorrente da demissão e atribuiu toda a
culpa ao chefe.
A angustia de Daniel e os sentimentos de vergonha e fracasso reprimidos
o levaram de volta as drogas. Mesmo sabendo que estava errado,
não conseguiu evitar. Escolheu o deus do vicio em vez do Deus
da vida para tentar estancar a dor.
Os meses seguintes foram um pesadelo para Daniel e sua mulher.
Ele desapareceu durante dias, e ela foi obrigada a gastar suas
economias para quitar a hipoteca da casa. Daniel estava revivendo
seu passado e arrastando com ele as pessoas mais próximas. Não
feria apenas a si próprio. Estava prejudicando também aqueles que
o amavam.
Daniel finalmente conseguiu parar de consumir drogas e voltou a
ter uma vida saudável. Agora sua mulher esta mais tranquila, mas talvez
sejam necessários anos para que ela consiga recuperar a confiança
no marido. Daniel voltou para a igreja, mas o pastor se preocupa com
sua estabilidade emocional e espiritual. Ele ainda fala na graça divina
e no quanto e grato por ter seus pecados perdoados. Mas não creio
que o pastor lhe dará qualquer cargo de confiança.
Por ter sofrido muito no passado, Daniel quer acreditar que Deus e
capaz de eliminar o sofrimento de sua vida agora. Isso e negação, não
e fé. Deus não quer que neguemos nosso sofrimento. Ele nos da forcas
para enfrenta-lo. E esse o principio espiritual que norteia a advertência

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cia dos Alcoólicos Anônimos: um dia de cada vez. Deus não remove
o sofrimento de nossa vida, mas nos da recursos para lidar com ele
diariamente. Negar nossas dores e nossos problemas e apenas justificar
nossos atos. Encara-los de frente, assumir a responsabilidade por
eles e pedir a Deus forca e sabedoria para lidar com as dificuldades e
sempre uma alternativa melhor.
Alguns psicólogos não aprovam os princípios dos Alcoólicos
Anônimos. A pratica dos AA de se voltar para uma Forca Superior no
intuito de enfrentar o sofrimento, como também de admitir a própria
impotência em relação a algumas coisas, não se encaixa na visão de
alguns terapeutas. Eu concordo com esses princípios. Perceber que
você não e Deus e que precisa de alguém para ajuda-lo e um sinal de
forca, não de fraqueza.

A SOLUCAO PARA O SOFRIMENTO:


COMO DEUS CURA A DOR

“Então clamarás e Iahweh responderá, clamarás


por socorro e ele dirá: ‘Eis-me aqui!’”
Isaias 58:9

Sofrer não e uma opção, pois muitas vezes o sofrimento se impõe.


Mas a forma de sofrer e uma escolha nossa. Podemos escolher entre
sofrer em silencio ou chorar e gritar. Podemos buscar o significado
por trás do sofrimento ou simplesmente aceita-lo tal como e. Existem
muitas abordagens. Contudo, independentemente da forma escolhida,
devemos aprender a melhor maneira de sofrer se quisermos
fazer da dor uma ferramenta para o nosso crescimento.
No dia 11 de setembro de 2001 levantei-me por volta de 5h30 para
dar uma entrevista por telefone a uma radio. Eu estava em minha
casa, em Los Angeles, a quase 5 mil quilômetros de Nova York.
Subitamente a entrevistadora deu um grito e exclamou:
- Alguém explodiu o World Trade Center!

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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Eu não sabia o que dizer. Aquilo parecia inacreditável. Ela pediu


para interrompermos a ligação porque estava preocupada com o marido,
que sairá cedo de casa.
Desliguei o telefone, liguei a televisão e vi a Torre Norte do World
Trade Center envolta em fumaça. Parecia um pesadelo, mas não o
noticiário matinal. E depois, bem diante dos meus olhos, assisti ao
segundo avião atingir a Torre Sul e explodi-la em chamas. Fiquei
estarrecido.

Sofrer não e uma opção, mas a forma


de sofrer e uma escolha nossa.

Aquele acidente horrível desencadeou uma serie de acontecimentos.


Em uma hora e meia, um dos mais importantes centros financeiros
dos Estados Unidos foi destruído, matando mais de 3 mil pessoas
inocentes. Bilhões de espectadores no mundo todo testemunharam
a tragédia. O impacto inicial do terrorismo teve seu efeito. Ninguém
se sentia seguro. Pessoas comuns levando vidas comuns podiam ser
mortas instantaneamente, e não havia nada a fazer. Poderia ter acontecido
com qualquer um de nos ou com todos nos.
Mas algo com que os terroristas não contavam aconteceu. As pessoas
não ficaram acuadas pelo medo nem fugiram para se esconder.
Todos queriam se envolver. Amigos e parentes daqueles que morreram
no acidente correram para o local e começaram uma vigília
que levaria dias, a fim de ajudar na busca e no resgate das vitimas.
Inúmeras pessoas por todo o pais se prontificaram a doar sangue para
os feridos. Doadores esperaram durante horas de pé nas filas para ajudar
pessoas que não conheciam. O índice de violência em Nova York
diminuiu. As casas se abriram para acolher quem necessitasse, e as
diferenças politicas entre os lideres pareceram desaparecer a medida
que o pais se reorganizava para suportar a crise. As pessoas precisavam
umas das outras, e nos momentos de necessidade havia sempre
alguém disponível.

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Os trágicos acontecimentos do 11 de Setembro nos ensinaram algo


sobre o sofrimento. A tragédia pode acontecer a qualquer um de nos,
e o sofrimento e inevitável na vida. Mas somos capazes de escolher
como reagir a ele. Se nos encolhemos no isolamento que o trauma
provoca, corremos o risco de nos tornarmos amargos e desesperançados.
Mas, se na hora da necessidade estendemos a mão ao outro,
descobrimos que tanto ele ganha forca para sobreviver como também
nos crescemos como seres humanos.
O ex-secretário-geral das Nações Unidas, Dag Hammarskjold -
um vencedor do Premio Nobel da Paz - , disse certa vez: “Não reze
pela paz, reze pela força. ” Deus não nos prometeu uma vida sem
sofrimento,
mas prometeu nos dar forcas. Talvez seja impossível eliminar
ou mesmo abrandar a intensidade do nosso sofrimento, mas podemos
torna-lo mais tolerável voltando-nos para Deus e recorrendo aos
outros. Creio que esta e a solução para enfrentar o sofrimento: Não
queira sofrer sozinho, peça a Deus para lhe dar forças para sobreviver.

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CAPITULO2

Medo

NAO TEMEREI MAL ALGUM

“Ainda que eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei,


pois estais junto a mim; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo.”
Salmo 23:4

Deus nos ajuda em nossos medos. E bem provável que você já


tenha pedido: “Deus, me ajude. Estou com tanto medo. Por favor,
tire esses problemas da minha vida!” E talvez já tenha recorrido a
mais famosa passagem da Bíblia a respeito do medo, o Salmo 23, em
que o salmista declara “Nenhum mal temerei” por causa das promessas
de Deus. Mas, por que não devemos temer o mal? Repare
bem nas palavras do salmo. Em nenhum momento ele diz: “Não
temerei mal algum, porque sei que você ira remove-lo do meu caminho.”
Em vez disso, afirma: “Não temerei mal algum, pois estais
junto a mim .”
Deus não nos prometeu que o mal jamais aconteceria. Nem prometeu
nos tirar do vale escuro. A razão para não temer o mal e porque
Deus nos deu meios para enfrenta-lo quando ele chegasse.
Deus nos conforta quando nos deparamos com o mal. No dicionário,
confortar e definido como renovar as forcas, o vigor e o animo;
trazer consolo, aliviar, animar. E isso que Deus faz nas horas de
necessidade.
Conforto e a forca divina em nos para lidarmos com nossos
medos. Deus nos conforta porque promete nos dar força para enfrentar
os medos, em vez de fugir deles.

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Conforto e a força divina em nós para lidarmos com nossos medos.

No primeiro capitulo falei do ataque terrorista na cidade de Nova


York em 11 de setembro de 2001. Todos os grandes jornais do mundo
estamparam a historia da destruição das Torres Gêmeas naquele dia.
Poucos dias depois da tragédia fui entrevistado por um noticiário de
televisão local.
Os produtores do noticiário sabiam que eu era formado em
Psicologia e em Teologia e que havia escrito livros que integravam
espiritualidade e psicologia. Quando as luzes se voltaram para mim, o
ancora m e olhou e disse:
- Temos o prazer de estar esta noite com o teólogo e psicólogo
Dr. Mark Baker. E em momentos como este que todos somos levados a
fazer a seguinte pergunta: “Por que o Deus de amor permitiria que uma
tragédia horrível como essa acontecesse?” Dr. Baker, qual e a resposta?
Fiquei perplexo. Teólogos brilhantes vem debatendo essa questão
por milhares de anos sem chegar a uma conclusão satisfatória, e eu
deveria subitamente dar uma explicação diante das luzes e de uma
câmera, ao vivo, para milhares de espectadores. Eu não sabia o que
dizer. Qual era a solução para o mal no mundo?
Em vez de citar grandes pensadores, lembrei-me de uma conversa
que tivera anos antes com um amigo que e missionário em um pais
budista. Durante muito tempo ele viveu e trabalhou entre pessoas que
não acreditavam no Deus da Bíblia. Elas se relacionavam com o sofrimento
de maneira bem simples - considerando-o parte da vida. O
sofrimento e para elas algo que você tem de aceitar e trabalhar
internamente.
Para os budistas não ha conflito entre Deus e o mal. Eles
não se preocupam com o conceito do mal porque acham que cabe a
cada pessoa administrar o próprio sofrimento, não acreditando na
existência de um Deus pessoal a quem possam se queixar.
Voltei-me então para a câmera e disse:
- Para aqueles que creem em um Deus pessoal, não temos uma boa
resposta para o fato de Ele consentir que o mal exista. Mas temos uma

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boa resposta quanto ao que fazer quando o mal acontece. Podemos recorrer
a Deus e uns aos outros em busca de conforto. Deus não criou
este mundo de modo que aviões nunca atacassem prédios e pessoas
inocentes não fossem mortas. Tragédias acontecem. Mas Ele fez este
mundo de tal modo que não precisamos percorre-lo sozinhos.
Tentar dizer a alguém que passou por uma tragédia, ou que esta
prestes a enfrentar alguma, para não ter medo, geralmente não ajuda.
Mas ficar ao lado de quem sofre pode ajudar muito. Filósofos e teólogos
continuarão discutindo por que o mal existe, mas você e eu recebemos
a resposta de como lidar com nossos medos agora.
Quando somos atingidos por insensatos atos de violência, reagimos
com medo. O principal problema não e o medo, mas sim o que
fazemos em relação a ele. Você recua e se esconde ou estende a m ao e
se une aos outros em busca de forcas para prosseguir? Muitos norte-
americanos
encontraram as forcas de que precisavam ante o terror
unindo-se a outras pessoas. O medo e tolerável se não tivermos de
enfrenta-lo sozinhos.
O medo e um elemento essencial na vida, uma reação natural a um
possível perigo. Ao enfrentar nossos medos podemos aprender muitas
coisas sobre nos mesmos, ao passo que tentar fugir deles costuma
nos levar na direção errada. Deus sabe disso. Ele não nos desvia do
“vale tenebroso”, mas nos encoraja a atravessa-lo estando conosco.
"Nenhum mal temerei” porque sei como enfrenta-lo. O medo e um
sinal para nos lembrar que a melhor maneira de lidar com uma crise
e não atravessá-la sozinho.

O MEDO DA VULNERABILIDADE

“Ouvi teu passo no jardim; tive medo, porque estava nu, e me escondi.”
Genesis 3:10

E interessante notar que Adão ficou nu durante muito tempo no


jardim sem qualquer constrangimento. Mas, quando comeu o fruto

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da arvore do conhecimento, tudo mudou. Assim que tomou consciência


de sua vulnerabilidade, Adão se assustou. Daquele momento em
diante as pessoas passaram a temer a própria vulnerabilidade.

Tememos a vulnerabilidade porque corremos o risco de nos


machucar. Contudo, só assim somos verdadeiramente amados.

Tom e um homem saudável. Faz ginastica, se alimenta adequadamente,


lê muitos livros de autoajuda e esta sempre atualizado. Veio
para a terapia porque precisava “se ajustar”.
A coisa que mais chama atenção quando se conhece Tom e sua
espontaneidade. Ele não receia falar de si mesmo, o que e muito cativante.
Discorre abertamente sobre seus traumas de infância e conta
como os superou. Não tem medo de dar opiniões e esta disposto a
ouvir as dos outros. E muito articulado e geralmente se destaca. Ele
quase sempre diz a coisa certa.
O interessante e que, embora seja muito franco, existe algo em
Tom que constrange as pessoas. E como se sua franqueza fosse um
convite para que elas também se abram com ele, ainda que não queiram.
Como ele parece dominar bem os recursos necessários para sair
de circunstancias difíceis, as pessoas a sua volta se sentem meio diminuídas
quando não são tão bem-sucedidas na solução dos próprios
problemas.
Veja bem, Tom e franco, mas não demonstra qualquer vulnerabilidade.
Expõe abertamente sua vida, mas se refere as suas lutas como
fatos do passado que agora estão sob controle. Para ser franco basta
se expor. Entretanto, para ser vulnerável e preciso correr o risco de se
ferir. Isso significa admitir defeitos e problemas que não estão sob
controle. A vulnerabilidade requer um grau de honestidade que Tom
não esta inclinado a compartilhar.
As pessoas acham Tom atraente, mas um tanto superficial. Assim
como Adão no paraíso, Tom tem medo de se sentir vulnerável. Ele
talvez considere certos aspectos de si mesmo constrangedores ou im-

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perfeitos, mas, em vez de admitir e aceitar a própria vulnerabilidade,


comete o erro de oculta-los.
A franqueza e cativante, mas só podemos nos conectar verdadeiramente
com os outros se admitirmos que somos vulneráveis. Isso
significa falar de nossas fragilidades, de nossas inseguranças e de
áreas de nossa vida que não entendemos completamente. Significa
reconhecer nossos sentimentos e admitir que ainda não encontramos
boas respostas para lidar com eles.
Ser franco e fácil. A vulnerabilidade assusta. Quando somos vulneráveis,
admitimos que dependemos dos outros. Isso mesmo, dependemos
de pessoas também imperfeitas que podem falhar conosco, ou
de um Deus que talvez tenha para nos planos diferentes dos nossos.
Tememos a vulnerabilidade porque corremos o risco de nos machucar.
Contudo, só assim seremos verdadeiramente amados. Você e eu
podemos escolher ficar nus e vulneráveis, o que nos abre a possibilidade
de sermos amados e respeitados, ou podemos nos esconder.
A felicidade e a paz interior só são atingidas quando optamos pela
trajetória vulnerável que leva ao amor.

CONFIANCA PARA ENFRENTAR O MEDO

“O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem terei medo? O


Senhor é a fortaleza de minha vida: frente a quem tremerei? Quando
os malfeitores avançam contra mim para devorar minha carne, são
eles, meus adversários e inimigos, que tropeçam e caem. Ainda que um
exército acampe contra mim, meu coração não temerá; ainda que uma
guerra estoure contra mim, mesmo assim estarei confiante.”
Salmo 27:1-3

Como desenvolvemos a confiança para enfrentar nossos medos?


A resposta e importante, sobretudo quando nos sentimos ameaçados.
Nossos inimigos vão nos agredir, e as vezes os malfeitores nos atacam.
Mas podemos enfrentar esses ataques com confiança quando temos

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Deus como nosso protetor, pois o tipo de confiança que provem de


contarmos com Ele nos da o perfeito equilíbrio.
A autoconfiança saudável esta fundamentada no equilíbrio de
duas coisas: coragem e aceitação. Coragem e o sentimento que
advém do ato de realizar coisas. Aceitação e o sentimento que
conquistamos
quando nos sentimos amados pelo que somos. A coragem
se baseia no agir; a aceitação, no ser. E preciso equilibrar
esses dois elementos para desenvolver a autoconfiança saudável.
Falarei mais sobre esse tema no capitulo que trata da culpa e da
vergonha.

A coragem se baseia no agir; a aceitação, no ser.

Nathan tem uma historia de sucesso. De origem humilde, entrou


para a faculdade e depois se empenhou para chegar ao topo da carreira
na companhia em que trabalhava. E reconhecido em todo o
pais por seu brilhantismo como diretor-presidente de uma renomada
empresa. Já apareceu em inúmeras capas de revistas, e suas
opiniões são sempre citadas em questões relacionadas a administração
e economia.
Nathan veio para a terapia por insistência da esposa. Quando lhe
perguntei por que me procurou, ele respondeu:
- Porque minha mulher acha que e uma boa ideia.
- E você, o que acha?
- Eu estou bem. Acho que o problema e dela. - Ele pareceu irritado.
- Minha vida e ótima. Tenho duas mil pessoas trabalhando para
mim. Transformei empresas medíocres em organizações internacionais.
Sou respeitado no pais, e todos me procuram para solucionar
seus problemas. Estar aqui e quase uma contradição para mim. Sou
um cara que sabe como fazer as coisas funcionarem.
- Entendo - eu disse. - Então sua esposa esta enganada.
- Acho que sim. Bem, cabe a você determinar. Eu pareço uma pessoa
que precisa de ajuda?

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Aprendi nos meus muitos anos como psicoterapeuta que essa e


geralmente uma pergunta astuciosa. Na verdade, não era uma pergunta,
mas uma afirmação. Ele estava me dizendo que se sentia muito
confiante em relação a si mesmo. Mas o fato de sua esposa tê-lo
convencido
a procurar a terapia era significativo. Sua confiança não era
total. Ele não teria vindo se não sentisse que lhe faltava confiança em
alguma coisa.
Depois de uma certa queda-de-braço psicológica, Nathan concordou
em começar um tratamento comigo. A medida que nossas sessões
prosseguiam, descobrimos um aspecto em sua vida que encontro
frequentemente em profissionais pragmáticos e racionais do mundo
empresarial. Sua confiança estava desequilibrada. Ele confiava no que
fazia, mas não no que era.
Nathan tinha uma grande clareza intelectual e era muito decidido.
Mas tinha grande dificuldade em entrar em contato com o que sentia.
Sua vida se baseava em fazer as coisas acontecerem, não em como se
sentia em relação a ele mesmo ou aos outros. No final do mês, recebia
um alto salario por ter realizado coisas, não por ter feito amigos.
Isso gerava um desequilíbrio na vida de Nathan. Ele tinha coragem
para se sentir confiante quanto ao que podia realizar, mas lhe faltava
aceitação para se sentir confiante quanto ao que era. Por isso buscava
uma serie de compensações para sentir segurança. Seu escritório tinha
que ser o maior e o mais luxuosamente decorado, as ferias, nos lugares
mais sofisticados, e ele nunca admitia sentir qualquer fraqueza.
Essa necessidade excessiva de compensação estava levando Nathan
a beber. Primeiro foram uns drinques a mais nas reuniões profissionais.
Depois, uns drinques em casa ao voltar do trabalho. E agora
evoluira para a necessidade de beber vários drinques todas as noites
depois do jantar, geralmente as escondidas, pois não queria que a esposa
soubesse que ele precisava beber. Nathan cairá na armadilha de
tentar convencer todo mundo, ate ele próprio, de que era totalmente
confiante. Mas quem e plenamente autoconfiante não precisa dessas
compensações.

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Ainda estamos trabalhando essa questão, mas as coisas já começaram


a mudar para Nathan. Ele consegue admitir que não
sabe algumas coisas. E que nem sempre tem consciência de como
se sente em momentos de fragilidade, nem o que sua esposa quer
dele quando fica magoada. Também já aceita que, embora in u meras
vezes tenha ideias que lhe parecem excelentes para a empresa,
fica inseguro temendo que não deem certo. Admite para
mim que fica muito aborrecido quando os concorrentes procuram
alcançá-lo. Ele disfarça, mas isso o perturba. Ao tomar
consciência desse aspecto, descobriu algo que n u n c a soube - a
diferença entre sentir-se admirado e sentir-se aceito. Nathan
esta percebendo que exibir somente os pontos fortes pode lhe
render muitos elogios e admiração por parte dos outros, mas
que só nos sentimos verdadeiramente aceitos quando somos
compreendidos e amados em meio as nossas maiores fraquezas.
Essa era a experiência de que ele precisava para equilibrar sua
autoconfiança.
Sermos muito bem-sucedidos não nos garante a autoconfiança.
Também precisamos nos sentir amados, independentemente de nossas
realizações.
No salmo que compôs, Davi explicou como Deus pode nos dar
confiança para enfrentar nossos medos quando estamos sendo atacados
pelos inimigos. Ele escreveu: “O Senhor é a força de minha vida,
de quem terei medo?” Se confiarmos em Deus, nos sentiremos estimulados
nos sucessos e aceitos por Ele nos fracassos. Esse e o equilíbrio
necessário para uma autoconfiança saudável. Pessoas mas podem
vencer por algum tempo. Mas sua confiança se baseia em uma
autossatisfação
que não perdura. Quando Deus e a nossa forca, temos grandes
chances de alcançar uma confiança mais plena. Nos sentimos
felizes por nossas realizações, mas somos capazes de aceitar nossos
fracassos sabendo sempre que contamos com o amor incondicional
de Deus. Não ha melhor lugar para encontrar a confiança necessária
para enfrentar nossos medos.

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O MEDO SAUDAVEL

“Operai a vossa salvação com temor e tremor. ”


Filipenses 2:12

O medo e nosso mestre. Aprendemos algumas das mais importantes


lições da vida prestando atenção nos nossos medos, em vez de
ignora-los. O medo e a emoção que sentimos quando estamos em
perigo. E uma reação automática que quase sempre tem uma razão
por trás.
Como o medo e sinal de perigo, desde muito cedo aprendemos a
reagir a ele de forma automática, sem pensar. Guardamos essas lições
nos locais mais inacessíveis de nossa mente. Mais tarde, quando surgem
circunstancias que nos remetem aos antigos medos, voltamos a
reagir automaticamente a fim de nos proteger. Na psicoterapia, essas
reações de proteção diante do perigo são chamadas de mecanismos
de defesa. Eles tinham por objetivo resguardar do perigo a criança
que já fomos. O único problema e que os mecanismos que nos servem
na infância nos escravizam na vida adulta.

Existe um medo saudável que e nosso mestre na vida.

Mary e uma mulher bonita, inteligente e bem-sucedida que possui


todos os motivos para estar de bem com a vida. E feliz no casamento
e satisfeita com sua vida profissional e pessoal. No entanto, apesar de
amar muito o marido, Mary tem uma estranha reação a intimidade
sexual com ele, um fato que incomoda o casal. Todas as vezes em que
tentam um contato sexual mais intimo, Mary se sente constrangida.
Ela confessa com certa dificuldade que tem uma sensação de nojo.
Sabiamente decidiu procurar a terapia em busca de ajuda.
Mary foi filha única de um casal infeliz no casamento. Sua mãe dedicou
a vida a educar a filha, e seu pai estava mais interessado na carreira

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do que na família. Apesar de nunca terem se separado, viveram

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uma união fria e distante. A menina não compreendia, mas intuía que
a convivência entre os pais era péssima.
Quando tinha 9 anos, Mary descobriu que seu pai estava tendo um
caso. Isso a incomodou bastante, mas, como sua mãe decidiu permanecer
casada, o jeito foi se adaptar a situação. No principio, seus pais
brigaram por causa dessa relação amorosa, e ele prometeu termina-la.
Não cumpriu a promessa, e Mary descobriu mais tarde que o pai teve
vários outros casos durante os anos seguintes.
A partir de certo momento o pai de Mary transformou a filha em
confidente e começou a contar-lhe suas intimidades com outras mulheres.
Por um lado, Mary se sentia lisonjeada por ter acesso a historias
do m ondo adulto, mas, por outro, sentia muita repulsa. Isso criou
um dilema para ela. Queria ser a confidente do pai, já que estava finalmente
conseguindo obter sua atenção, mas detestava conhecer os detalhes
das relações sexuais dele com outras mulheres. Tragicamente,
isso ocorreu quando sua própria identidade sexual como jovem
mulher estava se formando, criando um terrível conflito. De forma
compreensível, Mary desenvolveu duas reações opostas ao sexo. Ela o
achava ao mesmo tempo excitante e nojento.
Mary se tornou sexualmente ativa na adolescência, tendo inúmeras
experiências sexuais nos anos que se seguiram. Gostava de se relacionar
com homens que mal conhecia, mas a medida que os relacionamentos
ficavam mais íntimos, o nojo assomava e ela rompia o namoro.
Mary era atraída pelo sexo, mas temia a intimidade sexual.
Na terapia, Mary detectou que o “nojo” que sentia no casamento
era um mecanismo de defesa que desenvolvera na infância para se
proteger da intimidade impropria que tinha com o pai. Ela receava
seu comportamento sexual inadequado e o uso improprio que ele
fazia dela como confidente. Para se proteger de seus medos, Mary
automaticamente
sentia nojo quando um relacionamento era ao mesmo
tempo sexual e intimo. Isso a ajudou a se afastar da intimidade sexual
impropria que tivera com o pai na infância, mas estava criando uma
distancia indesejável entre ela e o marido.

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Agora Mary esta desenvolvendo um relacionamento sexual mais


confortável com seu marido. A consciência da origem do nojo que
sentia serviu para ela estabelecer uma intimidade sexual adequada.
Seu medo da intimidade indevida com o pai foi apropriado para
Mary enquanto criança, e o mecanismo de defesa por meio da sensação
de nojo foi uma reação útil para o verdadeiro perigo existente. O
medo saudável de Mary a protegeu do perigo na infância. Ela apenas
precisava se sentir segura agora, como adulta, para perceber que não
precisava mais se proteger daquela maneira.
Certos medos são saudáveis. Como nos avisam da proximidade
do perigo, devemos dar atenção a eles. A Bíblia nos diz que precisamos
trabalhar nossa salvação com temor e tremor. Existe um
medo saudável que e nosso mestre na vida. E, assim como Mary,
teremos de trabalha-lo a fim de aprendermos as lições de que precisamos.

O MEDO DE DEUS

“O temor do Senhor é o começo da sabedoria. ”


Salmo 111:10

Uma das lições mais importantes proporcionadas pelo medo e


que não somos deuses. Felizmente Deus e onipotente, onisciente e
governa o Universo, de modo que não precisamos faze-lo. O que
a Bíblia quer dizer com “o temor do Senhor e o começo da sabedoria
” e que devemos respeitar nossas limitações. Não importa o
quanto sejamos cultos e brilhantes; se não conhecermos nossos
limites seremos inevitavelmente tolos. Esse e o começo da sabedoria.
O respeito saudável por nossas limitações nos poupa de muitos
arrependimentos.

O respeito saudável por nossas limitações


nos poupa de muitos arrependimentos.

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Veronica veio para a psicoterapia por causa de um medo e de uma


ansiedade excessivos. Ela tinha parado de estudar, abandonara o emprego
e vivia em casa com a mãe. Suas emoções aterrorizavam sua
vida, e ela precisava da minha ajuda para lidar com elas.
Veronica sofria de síndrome do pânico. Trata-se de um transtorno
que parece um ataque cardíaco e capaz de limitar seriamente a vida
do paciente. Ela não conseguia dirigir em autoestradas, entrar em
elevadores ou ficar sozinha dentro de shoppings. A ansiedade a sufocava,
sentindo-se aterrorizada com a possibilidade de estar tendo um
enfarte que lhe causaria a morte. Veronica tinha horror de suas crises
e já havia feito tudo o que estava ao seu alcance para controla-las.
Sentia-se desesperadamente presa a uma situação sobre a qual não
tinha qualquer controle.
Veronica fora criada num lar muito instável, com um pai alcoólatra,
violento e grosseiro. Era uma criança amedrontada que não encontrou
proteção junto a mãe. Esta também sentia medo do marido e
tentava obrigar a filha a ficar quieta por temer o que poderia acontecer
se a menina perturbasse o pai. Veronica cresceu num ambiente de
muito medo, sem ninguém para tranquiliza-la.
Arranjou então sua própria solução para o problema. Quando
ouvia o pai aumentar o volume da voz, a medida que se embriagava,
tentava se livrar das sensações incomodas que surgiam distraindo-se
com fantasias de como seria a vida quando pudesse sair de casa e fugir
daquele pesadelo. Quanto mais assustadoras as coisas eram, mais insensível
ela ficava. Se pudesse ao menos eliminar suas emoções, fantasiava
ela, estaria segura.
Essa estratégia funcionou no começo. Veronica ia para a escola,
brincava com as colegas e agia como se sua vida fosse tão normal
quanto a de qualquer um. Mas essa solução não durou muito. Mais
tarde, quando estava dirigindo na autoestrada e se dava conta de que
não havia saída por muitos quilômetros, entrava em pânico. E se alguma
coisa acontecesse? E se ela precisasse sair da estrada? Veronica
se via numa situação de extrema ansiedade. Então tentava desespe-

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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radamente se livrar dessas sensações perturbadoras, o que a deixava


ainda mais ansiosa. As tentativas cada vez mais enérgicas para se livrar
da angustia acarretavam uma sobrecarga psicológica que gerava
a crise de pânico. Ao me procurar, Veronica não conseguia mais controlar
seus sentimentos. Ela achava que o pânico podia acomete-la a
qualquer momento. Era apavorante viver nessa insegurança.
O que ela não percebia e que seu problema não decorria da ansiedade,
mas do controle. Na terapia, Veronica constatou que pelo fato
de nunca ter aprendido a confiar em alguém ela só se sentia segura
quando conseguia controlar a situação. Tornou-se obcecada por rituais
para se manter segura. Podia dirigir um automóvel, mas apenas
em ruas secundarias e se não tivesse de parar em sinais. Podia fazer
compras, mas somente em lojas de rua, com portas que dessem para
a calcada, para que pudesse sair de repente. O mundo de Veronica
tinha de ser exatamente do jeito que ela o construirá, para que se sentisse
segura. Sem perceber, Veronica tinha tomado o lugar de Deus na
própria vida.
Foi horrível para Veronica não encontrar qualquer segurança em
seus pais. E uma tarefa muito pesada para uma criança estar sozinha
no controle do próprio mundo. De certo modo, Veronica foi obrigada
a ser o deus de seu próprio Universo. Ela precisou construir um
sistema de segurança porque não havia um adulto que o fizesse. Com
isso, criou um mundo no qual ninguém, nem ela mesma, podia viver.
A vida de Veronica vem melhorando visivelmente. Ela esta aceitando
suas limitações e percebendo que não e Deus. Ela agora sabe
que as fantasias que criou para controlar a ansiedade pioravam seu
estado. Concorda que o Universo escapa ao seu controle. Só precisa
aprender como viver em paz nele. Descobrir que a ansiedade faz parte
da natureza humana e que existe uma ansiedade saudável lhe trouxe
um grande alivio. Um pouco de ansiedade e um sinal para ficarmos
atentos e alertas. E não de que devemos ter medo.
Existe uma diferença entre o medo neurótico e o medo saudável.
O medo neurótico nos paralisa, porque estamos preocupados

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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unicamente em evitar a dor e perdemos a oportunidade de nos desenvolver.


O medo saudável e um respeito pelos nossos limites, e a
consciência de que precisamos dos outros para aprender e crescer. O
medo neurótico nos limita. O medo saudável nos expande. A neurose
e obcecada pelo que podemos perder; a saúde esta interessada no que
podemos ganhar.
O medo saudável de Deus nos inspira a querer saber mais sobre
este Universo em que vivemos e sobre nosso pequeno papel nele. O
temor de Deus é o começo da sabedoria porque nos lembra de nossas
limitações. Assim como Veronica, precisamos aprender que não
somos deuses e que isso e muito bom.

RELACIONAMENTOS BASEADOS NO MEDO

“O temor do homem lhe arma um laço, mas quem


confia no Senhor permanece seguro. ”
Provérbios 29:25

Relacionamentos baseados no medo são causados pelo temor da


rejeição. Os humanos são seres sociais, e bom precisar dos outros.
Mas viver com medo de sermos rejeitados por alguém de quem precisamos
nos faz muito mal. Aqueles que se prendem a um relacionamento
por medo não estão realmente buscando ser amados; estão
tentando evitar a rejeição. Essa e uma diferença fundamental para
compreendermos por que amor e medo não combinam de modo
algum.

Aqueles que se prendem a um relacionamento por medo não estão


realmente buscando ser amados; estão tentando evitar a rejeição.

Susan cresceu num ambiente rigoroso e religioso, com regras firmes


sobre como as pessoas devem se comportar. Ela tentava ser uma
boa menina; no entanto, por mais que tentasse, nunca sentia estar a

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altura das expectativas da mãe. O clima na casa de Susan era quase


sempre tenso por causa disso.
Um dos motivos pelos quais Susan casou-se cedo foi para sair de
casa. Como queria muito se sentir amada, casou-se com o primeiro
namorado e constituiu sua própria família por volta dos 20 anos. Era
bonita, tinha um bom coração e adorava crianças. Queria transformar
sua casa em um lar de amor, e não num ambiente rígido e preconceituoso
como aquele em que fora criada.
No entanto, por mais que tentasse, o lar de Susan não parecia ser
o que ela desejava. Sentia-se desapontada com a falta de atenção do
marido e magoada com sua indiferença.
- O que você acha das cores que escolhi para a sala de jantar? - perguntara
ao marido recentemente, quando reformavam a nova casa.
- Achei legal - ele respondeu.
- Você gostou do contraste das cores? - continuou perguntando.
- Claro. Ficou ótimo - ele falou calmamente. - Quanto custou a
tinta? - Parecia mais interessado no custo das coisas, pois sustentava
sozinho a família.
- Uns 60 dólares - ela respondeu orgulhosamente. Susan havia
pesquisado os valores e achou que esse era um bom preço.
- Tudo isso? - replicou o marido. - Não acha que estamos gastando
demais?
- O que? - Susan exclamou asperamente. - Por que você tem de
ser tão negativo? Por que esta sempre criticando tudo? Estou
permanentemente
buscando a sua aprovação e tudo o que consigo e rejeição
- berrou, saindo da sala num rompante.
O que Susan não percebia e que, na verdade, ela não estava buscando
a aprovação do marido. Estava de fato esperando sua rejeição.
Nem sempre ele reagia negativamente as escolhas da mulher, varias
vezes elogiava suas decisões. Mas suas afirmações positivas não surtiam
mais efeito. Susan só registrava os comentários negativos.
A base do relacionamento era o medo. Susan temia que o marido
a criticasse, como sua mãe fizera. Bastava ele dizer algo negativo para

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convence-la de que a desaprovava totalmente. Como em todos os


relacionamentos
baseados no medo, Susan estava apenas evitando a rejeição.
Isso era exaustivo tanto para ela quanto para o marido.
Esses tipos de relacionamento não estão em busca de amor, mas
apenas evitando a dor. Isso cria um afastamento, causando ainda
mais desespero. As coisas começam a desabar a partir dai. Evitar a
rejeição e uma tarefa que não acaba nunca, pois assim que fazemos alguma
coisa para escapar da rejeição que tememos desesperadamente
já começamos a nos preparar para escapar da próxima.
Relacionamentos baseados no medo são como armadilhas,
pois, quanto mais lutamos, mais nos emaranhamos no problema.
Esforçar-se para evitar a rejeição raramente funciona. E preciso fazer
algo totalmente diferente.
Em vez de evitar a rejeição, Susan precisava encontrar a aceitação.
Qual e a diferença? Nos relacionamentos que se apoiam na aceitação
ha uma confiança que não existe nos relacionamentos baseados no
medo. Confiar significa acreditar nos outros, significa sobretudo ter
fé em nos mesmos e no que podemos oferecer. A confiança cria um
espaço seguro para os sentimentos de qualquer um. Construir a confiança
leva tempo, mas e muito mais eficiente do que tentar evitar a
rejeição.
Deus nos ensina como nos livrarmos dos relacionamentos baseados
no medo. Ele nos disse que o temor do homem lhe arma um laço.
O maior conforto que Deus nos proporciona e saber que podemos
confiar no Seu amor incondicional. Com Deus estamos seguros.
Estimulados por essa certeza, devemos nos esforçar para buscar o
amor em todos os nossos relacionamentos sem temer a rejeição.

NOS NOS TORNAMOS O QUE TEMEMOS

“Todos os meus temores se realizam, e aquilo


que me dá medo vem atingir-me. ”
Jo 3:25

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A vida seria bem mais fácil se simplesmente identificássemos o perigo


e o evitássemos. O medo seria nosso guia. Se temos medo de uma
coisa, nos a evitamos, e ela não ira nos incomodar. Parece simples. No
entanto, a mente humana e bem mais complexa para admitir o uso de
uma abordagem tão simplista.
A maior parte do processo mental ocorre fora de nosso consciente.
As experiências da infância, as emoções e as crenças inconscientes
desempenham importantes papeis nas nossas escolhas.
A mente humana opera em dois níveis. No nível consciente, sabemos
o que pensamos e sentimos. Num nível mais profundo, entretanto,
nosso inconsciente opera fora de nossa percepção, processando
pensamentos e sentimentos dos quais sequer tomamos conhecimento.
Podemos achar que nos conhecemos muito bem, mas na
verdade jamais entendemos completamente as profundezas de nosso
inconsciente.
Por esse motivo não e simples evitar nossos medos. Embora seja
duro de aceitar, raramente nos conhecemos de modo pleno para saber
com exatidão as razoes pelas quais tememos determinadas coisas e o
que devemos fazer a respeito disso. Quase sempre uma situação nos
faz sentir medo porque ainda ha uma questão não-resolvida relacionada
a ela sendo processada em nosso inconsciente. Como uma
mariposa para a luz, na maioria das vezes somos inconscientemente
atraídos para essa questão não resolvida. E assim que nos tornamos
aquilo que tememos.
As experiências d a infância, as emoções e as crença as inconscientes
es empenham importantes papeis nas nos- sãs escolhas .
Craig foi para Los Angeles ha mais de 30 anos para fazer fama e
fortuna na indústria do entretenimento. Nasceu em uma cidadezinha
no Kansas, filho de um fazendeiro muito trabalhador. Seu pai acreditava
que o maior sinal de dignidade era a capacidade de um homem
para trabalhar longas horas, pagar suas contas e ser respeitado em

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sua comunidade. No entanto, Craig era uma criança criativa e nunca


achou que crescer e assumir a fazenda do pai fosse seu destino. Desde
cedo tinha como determinação descobrir seu proposito especial na
vida. Em vez de jogar futebol, participava do grupo de teatro da escola.
Sabia que isso desapontava o pai, mas encontrou o reconhecimento
esperado nos professores de teatro. Então, depois de se formar,
apesar das objeções do pai, partiu para Hollywood.
Inicialmente, Craig se saiu razoavelmente bem em sua carreira de
ator. Encontrou um agente para representa-lo e foi contratado para
desempenhar vários papeis em muitos filmes. Craig estava vivendo
um sonho. Em vez de sentir-se sob o olhar desapontado do pai, recebia
o aplauso de um numero crescente de fãs.
Entretanto, Hollywood e volúvel. Num dado momento, Craig deixou
de conseguir trabalho como ator. As oportunidades para testes
diminuíram e ele perdeu seu empresário. Seguiu tentando realizar seu
sonho, mas uma mudança ocorreu em sua vida. Craig deixou de ser a
criança com grande potencial para se tornar um homem obrigado a
enfrentar seus medos.
Craig saiu de casa em busca de seu sonho, não apenas porque desejava
ser ator, mas também para fugir de algo. Ele tinha medo de
ser uma decepção para seu pai e nunca tomara consciência desse
medo. Tinha ido para Hollywood desejando que o pai se orgulhasse
dele. Mas, mesmo quando alcançava sucesso, Craig temia, num nível
mais profundo, não atender as expectativas do pai. Craig não estava
indo atrás de um sonho; estava tentando escapar de um medo.
Lamentavelmente, quase sempre nos tornamos aquilo que tememos,
sobretudo se estivermos tentando evita-lo.
Num primeiro momento, achamos que o problema de Craig estava
relacionado ao pai, mas não e bem isso. O pai dele pode não ter
aprovado a escolha da carreira, mas essa não era a verdadeira questão.
O que de fato temia era que seu pai estivesse certo. Talvez ele
não fosse talentoso o suficiente para concretizar seu sonho. Craig
não estava somente se empenhando para se tornar um sucesso; ele

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estava sobretudo tentando evitar o fracasso. Quando queremos de


todas as maneiras evitar a derrota, jamais sabemos quando desistir.
Mudar o curso da ação sempre parecera um fracasso, pois tentar
fugir de algo não nos mostra a direção clara a seguir. E se você não
souber para onde esta indo, provavelmente não vai chegar a lugar
nenhum.
Podemos dizer coisas como “Não quero ser como meu pai” ou “Só
bebo assim porque meu marido e uma pessoa muito difícil”, mas as
questões que mais nos transtornam raramente estão no mundo externo.
Os aspectos mais perturbadores da vida se encontram dentro
de nos. E, a menos que paremos de culpar os outros por nossos
próprios medos e comecemos a examinar nossos sentimentos mais
profundos, provavelmente seremos arrastados para nossos medos de
um jeito que não seremos capazes de perceber conscientemente. Ai
começaremos a nos comportar como o pai de quem nos queixamos e
a agir como a esposa desagradável de quem nos ressentimos.
Se não ficarmos atentos, podemos nos transformar naquilo que
tememos. A boa noticia e que podemos empregar o mesmo sistema
mental que nos empurra para nossas questões não-resolvidas para
resolvê-las. Nos só nos tornamos aquilo que tememos se não examinarmos
essas questões.
O MEDO DA MORTE

..e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida
sujeitos a uma verdadeira escravidão. ”
Hebreus 2:15

Todo mundo se sente ansioso em relação a morte. Ela e desconhecida


e fisicamente irreversível. Você ate pode acreditar na vida apos a
morte, mas nunca esteve do outro lado. Embora essa ansiedade seja
comum, ha aqueles que vivem constantemente aterrorizados com a
ideia da morte. Quando isso acontece, fica muito difícil viver.

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A autopreservação e natural. Mas autopreservação a qualquer custo


nos impede de viver plenamente. Apegar-se demais a vida e muito
prejudicial para a mente e para o espirito, porque nos torna defensivos
e escravizados pela superproteção. Se nos preocuparmos muito
em evitar o sofrimento, ergueremos muros para afastar a dor. Mas
serão muros que nos aprisionarão. O excessivo medo de morrer pode
nos impedir de viver.

Estar preparado para a morte nos deixa livres para abraçar a vida.

Katie começou a terapia depois que seu marido sofreu um ataque


do coração. Ele vinha sentindo uma pressão no peito ha algumas semanas
e um estranho torpor em torno da boca de vez em quando,
mas achou que estava apenas estressado e não levou muito a serio.
Quando chegou ao hospital, depois de cair na cozinha, descobriram
que suas principais artérias estavam quase totalmente obstruídas, e
ele teve a sorte de sobreviver a uma cirurgia cardíaca. Katie ficou ao
mesmo tempo agradecida e apavorada.
Agradeço a Deus por ter podido socorre-lo - gritou em nossa
primeira sessão. - Fico apavorada só de imaginar o que teria acontecido
se ele estivesse sozinho.
- Deve ter sido horrível - falei.
- Foi - continuou Katie. - E nem sabíamos que ele estava a beira
da morte. E tão assustador pensar que ele ou qualquer um de nos
possa morrer a qualquer momento. Nunca se sabe quando e a nossa
hora.
Ficar frente a morte desencadeou em Katie uma serie de medos. Ela
começou a pensar mais sobre a própria morte e passou a temer varias
coisas que antes lhe davam prazer. A ideia de viajar para o exterior foi
totalmente abandonada. Katie alegava que era por causa do esforço
que representava para seu marido, mas no fundo era ela quem tinha
medo de voar. Parou de sair a noite, dizendo que o marido poderia
precisar dela, mas estava de novo movida pelo medo de uma serie de

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ameaças imaginarias. Se pudesse ficar confinada dentro de casa, iria


se sentir mais segura.
A medida que nossas sessões avançavam, descobrimos que Katie
sempre tivera medo da morte. Na infância, sentia um medo enorme
de perder os pais e ficar desamparada. Na adolescência, Katie imaginava
o que os outros sentiriam se ela morresse de repente. Ficariam
tristes? Como seria seu enterro?
Na vida adulta, Katie admitiu que muitas vezes se perguntava se
merecia a vida que levava ou se o mundo seria melhor sem ela. Esses
pensamentos perturbadores de morte rondaram sua mente a maior
parte da vida. E o ataque cardíaco do marido trouxe tudo isso a tona.
Katie e eu acabamos descobrindo que seu medo do que iria acontecer
no futuro era motivado por acontecimentos do passado. A morte
resumia todas as coisas ameaçadoras que a atormentaram no correr
da vida. Ela temia intensamente que um desses fatos pudesse se repetir
e, por isso, reduzia a lista de possíveis acontecimentos a um só: sua
morte.
O problema e que a estratégia de Katie para enfrentar seus medos
não a ajudava a supera-los. Na verdade, as tentativas para proteger
sua vida estavam impedindo que ela a desfrutasse. De que adiantava
proteger de tal forma uma vida que ela não conseguia usufruir?
Katie percebeu que erguera muitos muros de medo para se proteger.
Ela usava seus temores como mecanismos de proteção. Finalmente
começou a ver que os mesmos muros que a protegiam também a
aprisionavam
e isolavam. Certamente estava resguardada do mal atrás dos
muros do medo, porem completamente sozinha.
Agora Katie vê o medo da morte de uma forma diferente. Em vez
de falar sobre o que poderia acontecer com ela no futuro, conversamos
sobre fatos de seu passado. Não podemos lidar com o futuro
desconhecido, mas podemos administrar os efeitos causados pelas
experiências passadas. A medida que fomos falando sobre essas
experiências
dolorosas e ameaçadoras, algo interessante começou a acontecer.
Katie esta aproveitando mais a vida. Enfrentar seus medos e

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conversar sobre eles abertamente com outra pessoa vem provocando


uma mudança. De algum modo os acontecimentos assustadores do
passado exercem menos influencia sobre ela porque foram trazidos a
luz. E Katie passou a pensar muito menos na morte.
Quando o medo da morte desperta um movimento de autoproteção
a qualquer custo, ficamos subjugados. Para proteger nossa vida,
passamos a vive-la pela metade. Lugares novos e diferentes, novos
aprendizados e novos amigos não despertam interesse. O medo da
morte pode nos tornar imaturos e tolher nosso crescimento. Por fim,
ele acaba encarcerando a própria vida.
Testes psicológicos mostram que, em geral, pessoas religiosas tem
menos medo da morte. A creditar que Deus nos reserva um lugar
maravilhoso
depois que nossa passagem pela Terra terminar nos liberta
“de uma verdadeira e s c r a v id ã o Estar preparado para a morte nos
deixa livres para abraçar a vida. Não temer a morte significa estar
pronto para viver mais plenamente.

MEDO DO FRACASSO

“Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. ”


Mateus 25:25

Desperdiçar o talento humano e a maior de todas as perdas. Embora


a palavra “talento” se refira na Bíblia a uma unidade monetária, ela nos
ajuda a refletir sobre seu significado no mundo atual. Todos nos recebemos
diferentes dons e talentos. O que importa não e a quantidade de
talentos que possuímos, mas o que fazemos com eles.
Desenvolver os próprios talentos e uma tarefa assustadora para algumas
pessoas. Elas tem medo de correr os riscos necessários para alcançar
o sucesso, porque temem fracassar. Isso e capaz de imobiliza-las.
O que importa não e a quantidade de talentos que
possuímos , mas o que fazemos com eles.

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Kevin procurou a psicoterapia porque estava frustrado com sua


vida amorosa. Era formado numa renomada faculdade e obtivera um
bom emprego. Tinha 20 e poucos anos, era um rapaz atraente e articulado,
mas ainda não tivera um relacionamento mais serio e demorado
com uma mulher. Isso o perturbava, e ele temia que nunca fosse
encontrar uma companheira.
Kevin crescera numa família de classe media alta. Sua mãe era dona de-
casa, e o pai, um importante executivo de uma das principais empresas
do mundo. Mas, como era excessivamente ocupado, nunca estava
disponível para Kevin. O menino recorrera a mãe em busca de apoio
emocional, mas ela era muito rígida e se irritava com facilidade, deixando
Kevin inseguro para contar seus problemas. Desde cedo ele percebeu
que teria de resolver suas questões emocionais sozinho. Para um
menino, isso pode desencadear uma sensação de muita insegurança.
Kevin teve que contar com ele mesmo antes de estar emocionalmente
preparado para isso. Crianças pequenas precisam do apoio
dos adultos para se sentirem seguras. Kevin conseguia encontrar soluções
inteligentes para seus problemas, mas por dentro sentia um
grande desamparo. Isso criou a falsa imagem de um jovem maduro,
autossuficiente, que não precisava da ajuda de ninguém. Por dentro,
porem, havia um menino amedrontado que temia que suas decisões
não fossem as mais acertadas. Crianças como Kevin podem ter um
desempenho escolar impecável, mas desenvolvem uma mascara que
encobre sentimentos de medo e insegurança, por se sentirem despreparadas
para enfrentar os desafios que se apresentam.
Essa autossuficiência aparente ajudou Kevin a transitar muito bem
pela infância, mas não estava funcionando em sua vida pessoal adulta.
Quando se trata de relacionamentos amorosos, ele nunca sabe se
corresponde
ao que as mulheres que o atraem desejariam de um homem.
Depois de meses de agonia, consegue convidar uma mulher para sair, mas
tem medo de se abrir, por temer desaponta-la. Isso, naturalmente, não
produz o envolvimento necessário, e as mulheres quase sempre perdem o
interesse por Kevin ou presumem que ele não esta interessado nelas.

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O fracasso com as mulheres, temido por Kevin, acabava acontecendo.


Por recear que as mulheres se decepcionassem com alguma fraqueza sua,
ele ocultava os sentimentos vulneráveis, o que causava a decepção
esperada.
Apesar de atraente, espirituoso e bem-sucedido, Kevin tinha medo
de ser descoberto. Exibia uma fachada de confiança, enquanto por dentro
ocultava seu medo de ser de algum modo deficiente. Tragicamente, sua
deficiência não estava relacionada a nenhuma de suas qualidades como
homem. Ele era de fato excelente. Seu problema era que ele temia não ser.
O comportamento de Kevin começou a mudar quando ele descobriu
a origem do seu medo do fracasso nos relacionamentos. Ocultar
quem era por medo de não atender as expectativas não estava funcionando.
A possibilidade de deixar que os outros o conhecessem, mesmo
assumindo o risco de fracassar, lhe causou uma agradável surpresa. Ele
percebeu que mostrar suas vulnerabilidades o tornava mais atraente
para as mulheres de quem queria se aproximar e aprendeu que só lhe
interessaria de fato uma mulher a quem pudesse mostrar-se tal como
era. Pode parecer incrível, mas Kevin foi se dando conta de que seus
defeitos
estavam dentro dos padrões de normalidade. Para isso foi preciso
expor se. Kevin aprendeu a verdade espiritual de que o fracasso nos
oferece mais oportunidades de crescimento do que o sucesso.
A origem do medo do fracasso quase sempre se encontra na crença
de que temos algo a esconder ou quando acreditamos que, se nos
mostrarmos como somos, nossas imperfeições serão notadas e causarão
rejeição. Ocultar nossos talentos para evitar o fracasso não produz
uma vida plena. E somente arriscando falhar que descobrimos que
não somos perfeitos, mas que podemos sempre crescer e colocar em
pratica os dons que recebemos.

LUTAR, FUGIR O U CONGELAR?

“ Teu nome não será mais Jacó, tornou ele, mas Israel,
porque lutaste com Deus e com os homens, e venceste. ”
Genesis 32:28

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Muitos já ouviram falar da síndrome de fuga. Essa e a reação básica


do medo. Todos os animais a possuem. Mas a verdade e que se trata
de fato da síndrome de congelamento.
Diante de um medo súbito, a primeira reação e congelar. E uma
reação automática. Paramos e avaliamos a situação. Depois reagimos
com uma ação de luta ou de fuga. Podemos congelar por menos de
um segundo ou ficar paralisados por um bom tempo.

Enfrentar nos sós próprio s medos nos transforma .

Joe veio para a terapia porque se sentia sobrecarregado no trabalho.


Era um bom funcionário e muito estimado por seus colegas. Mas,
como não conseguia dizer “não” para seu chefe, este o explorava
constantemente.
Quando me procurou, Joe realizava as próprias tarefas e
as de outros também. Joe precisava mudar, mas estava travado.
- Acordo todos os dias tão cansado que nunca acho que dormi
tudo o que devia - queixou-se.
- Você se sente exausto porque trabalha demais - observei.
- São coisas que precisam ser feitas - disse Joe. - Se não for eu,
ninguém vai fazer. Meu chefe precisa de mim para fazer o
acompanhamento
das tarefas.
- O que aconteceria se você não fizesse esse trabalho para ele? -
perguntei.
- Isso e impossível - replicou. - O trabalho iria se acumular, e eu
teria ainda mais coisas para fazer. Estou estacionado numa situação
ruim e não vejo saída.
Joe era uma pessoa dedicada e responsável. Sua ética profissional o
levava a fazer o que esperavam dele, e muito mais. Eu admirava essa
ética, mas achava que precisávamos compreender o que estava acontecendo
com ele.
Fomos aos poucos descobrindo que Joe estava cristalizado nessa
relação com seu chefe não apenas por ser uma pessoa responsável e
consciente, mas porque sentia medo. Temia desapontar o chefe se fa-

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lasse que se sentia injustiçado na relação de trabalho. E desapontar o


chefe era sinônimo de fracasso.
Joe crescera num lar onde o pai era ausente e a mãe carregava toda
a responsabilidade de educar os cinco filhos sozinha. Ele não tinha
proximidade com o pai e não queria exigir muito da mãe, por medo
de sobrecarrega-la. Joe concluiu cedo na vida que para assegurar
seu lugar na família como bom filho teria de se esforçar mais do que
todos. Ainda que lhe faltasse talento natural, poderia se empenhar
para ser bem-sucedido.
Joe começou a perceber que via no chefe a figura dos pais. Ele
ainda se comportava como se eles fossem vivos, além de sentir um
medo constante de decepciona-los. Repassamos inúmeras lembranças
de coisas que ele fizera para conseguir a aceitação do pai e arcar
com as responsabilidades da mãe. Apesar do esforço, ele se sentia
inadequado,
pois nunca conseguia realizar o suficiente. Depois de varias
sessões lutando com esses sentimentos, Joe começou a se ver de
forma diferente. E percebeu que os pais tinham colocado um excesso
de responsabilidade sobre o menino e o jovem que ele tinha sido, em
vez de o apoiarem para se tornar um homem confiante.
Joe não trabalha mais na m esma empresa. Depois de tomar consciência
de que seu problema vinha do medo de ser uma decepção
para os pais, conseguiu enfrentar o chefe com relativa facilidade. Joe
sabe do que e capaz e depende muito menos dos outros para ter consciência
do próprio valor.
Joe estava imobilizado na relação com seu chefe porque estacionara
na reação de congelamento. Era o medo da decepção que o fazia
ficar paralisado, sem conseguir decidir se precisava fugir ou lutar.
Apesar de ser uma reação natural ao medo, congelar e uma condição
temporária da qual precisamos sair.
Se estivermos congelados pelo medo, temos que descobrir os
motivos que nos paralisam. Encarar nossos próprios medos nos
transforma em pessoas mais maduras, mais donas de si e mais realizadas.

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CAPITULO3

Ansiedade

O QUE E A ANSIEDADE?

“Não vos inquieteis com coisa alguma; mas apresentai a Deus todas as
vossas necessidades pela oração e pela súplica, em ação de graças.”
Filipenses 4:6

Ansiedade e infelicidade. Esta relacionada a estresse, tensão e desconforto


psicológico. E o sentimento desagradável que experimentamos
quando estamos nervosos, preocupados ou inseguros. Podemos
nos sentir ansiosos apenas por alguns instantes ou por longos períodos
de tempo. A ansiedade corre o risco de se tornar um habito que
fara de nos pessoas quase sempre ansiosas.
ansiedade e infelicidade.
Pouco depois de eu ingressar na faculdade de Psicologia, um dos
maiores especialistas em ansiedade, o Dr. Richard Gorsuch, veio para
a nossa escola. Ele produzira, em parceria com a faculdade, o teste
mais amplamente empregado para medir a ansiedade. Fiquei muito
interessado no assunto porque o Dr. Gorsuch era também editor do
maior jornal especializado no estudo cientifico da religião. Como
esses eram meus dois principais campos de interesse, eu o procurei
para ser m eu orientador no doutorado.
Sob a supervisão do Dr. Gorsuch, estudei profundamente a ansiedade
e desenvolvi um projeto de pesquisa para testar as teorias

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que elaborei, referentes a relação entre a ansiedade e a religião.


A religião, pensei, devia ajudar as pessoas em caso de ansiedade.
Então decidi observar como a religião afeta os sentimentos de
uma pessoa que esta passando por circunstancias extremamente
estressantes. Munido do teste de ansiedade do Dr. Gorsuch e de
outro teste famoso de orientação religiosa parti ao encontro de
um grupo de pessoas que estivesse vivenciando formas intensas
de ansiedade.
Não sei se você conhece o treinamento experiencial. Trata-se de
técnicas que levam os participantes a vivenciarem situações de risco,
como passarem a noite acampados no deserto, serem atirados de
montanhas presos a cordas, entre outros exercícios que geram muita
ansiedade, com o intuito de testar suas habilidades mentais e físicas.
Era o ambiente perfeito para minha pesquisa.
Apliquei o teste em todos os participantes antes de partirem para
a região selvagem, repentino o mesmo processo assim que regressaram.
Os resultados foram muito interessantes. Se deixamos uma
pessoa passar a noite no deserto frio ou a atiramos de uma montanha
realmente alta, ela fica extremamente ansiosa. Nesses momentos, a
orientação religiosa de nada adianta. Mesmo uma pessoa muito religiosa
submetida a esse tipo de estresse vai se sentir infeliz.
Testei cada participante duas semanas depois e obtive outro resultado
interessante. Ao contrario das outras, as pessoas intrinsecamente
religiosas - o que significa que a religião e parte pessoal e importante
de seu cotidiano - não estavam mais ansiosas. Percebi que quando a
religião e importante para alguém, ela pode ajudar a compreender o
papel da ansiedade na vida. A inda que a pessoa fique infeliz de vez em
quando, ela e capaz de retornar ao estado de felicidade muito mais
rápido do que aquelas que não buscam auxilio em qualquer religião.
Conclui que a religião realmente ajuda as pessoas a lidarem com a
ansiedade. E importante deixar claro que a religião não evita que fiquemos
ansiosos. Ela nos ajuda a conviver com a ansiedade e é capaz
de nos devolver ao estado de felicidade.

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A religião n a o evita a ansiedade ; ela nos ajuda a conviver com a


ansiedade e nos devolva o estado de felicidade.

Deus fez um mundo onde existe ansiedade. Não adianta afirmar o


contrario. O problema não esta na ansiedade, mas na impossibilidade
de compreende-la. Quando a Bíblia afirma: “Não vos inquieteis com
coisa alguma; mas apresentai a Deus todas as vossas necessidades pela
oração e pela súplica, em ação de graças”, Deus não nos pede para
deixarmos de ficar ansiosos. Ele esta nos mostrando como lidar com
a ansiedade. Deus oferece a Si Mesmo como recurso para que possamos
lidar com essa emoção. Fazer uso desse recurso e a atitude mais
saudável que podemos ter.

POR QUE DEUS C RIOU A ANSIEDADE

“E não é só. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a
tribulação produz perseverança; a perseverança, a virtude comprovada; a
virtude comprovada, a esperança. ”
Romanos 5:3-4

A ansiedade e um aviso de que o estresse esta prestes a o correr.


Assim como e necessário tencionar os músculos para torna-
lós mais fortes, o estresse desempenha um importante papel
em nosso desenvolvimento emocional. A ansiedade nos permite
saber que precisamos nos preparar para enfrentar uma ameaça
real ou percebida. Enfrentar situações angustiantes nos da confiança
para lidarmos com as dificuldades no futuro. Quem já
passou p o r tormentos e perseverou sabe que pode supera-los de
novo.
Deus esta mais interessado no nosso crescimento do que na falta
de sofrimento em nossas vidas. E somente por meio do sofrimento
que crescemos e desenvolvemos nosso caráter. E, cada vez que decidimos
usar a dor para fortalecer o caráter, aumentamos a esperança

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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de que seremos capazes de administrar melhor a vida quando novas


provações surgirem no caminho.

Somente enfrentando o sofrimento e que


podem os desenvolver nosso caráter .

Jim procurou pela primeira vez a terapia porque estava sofrendo


muito depois do divorcio.
O casal se conhecera poucos meses antes do casamento. Os amigos
alertaram Jim para o fato de estar assumindo um compromisso com
uma mulher que mal conhecia, mas ele estava tão apaixonado que
não os ouviu.
O casamento não durou. Seis meses depois a mulher o deixou sem
dar maiores explicações, dizendo apenas que não o amava mais. Jim
ficou destruído.
Ele era o tipo de homem que resiste a terapia. Era um empresário
esforçado e bem-sucedido, criado no interior com sólidos
valores pessoais e profissionais. Falar sobre sentimentos não lhe
parecia importante. Achava que as ações falavam mais alto do que
as palavras.
- Então, o que você quer que eu faca? - perguntou Jim, apos um
longo silencio em uma de nossas primeiras sessões.
- Quero saber como esta se sentindo neste exato momento - eu
disse.
- Sinto como se eu não soubesse o que você quer que eu faça -
disse ele num tom exasperado.
- Você esta frustrado? - perguntei.
- Estou - respondeu imediatamente. - Nunca estive tão frustrado
na minha vida. Não vejo como falar sobre meus sentimentos possa
me fazer algum bem.
- Você pode falar do que sente por sua mulher ter desistido do
casamento tão depressa - sugeri.
- Eu não gosto de me queixar - ele disse apertando os lábios.

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- Quer dizer que falar sobre seu sofrimento e se queixar? - perguntei.


- De onde venho, e - respondeu com firmeza.
- Então discordamos nesse ponto - falei calmamente. - Você veio
me procurar para que eu o ajude a se livrar de sentimentos dolorosos.
Para isso, eu acho necessário conversar sobre eles.
Jim olhou para mim com uma expressão enigmática. Nunca ninguém
tinha conversado com ele sobre suas emoções. Seus pais, seus
professores, seus amigos e seus colegas de trabalho falavam sobre fatos
concretos e expectativas. Emoções e sentimentos eram absolutamente
ignorados.
Vencida a resistência, homens como Jim acabam se saindo bem na
terapia. Inicialmente rejeitam o tratamento porque não conhecem o
valor de examinar as emoções. Mas como são persistentes e se recusam
a desistir antes que o trabalho seja concluído, geralmente permanecem
na terapia tempo suficiente para se dar conta dos benefícios de
enfrentar suas emoções abertamente. Jim era um deles.
Ele não conseguia deixar de se sentir infeliz. Estava nervoso e preocupado
com o erro terrível que cometera, e a ideia de se casar novamente
provocava grande insegurança. O trabalho também o
estressava. Tenso a maior parte do tempo, quase nunca se sentia
satisfeito. Jim estava muito angustiado e precisava falar sobre sua
ansiedade. Felizmente, tinha a oportunidade de fazer isso uma vez
por semana.
Alguns homens embarcam num divorcio confuso, engolem as
emoções e prosseguem com suas vidas. Esses geralmente voltam a
cometer os mesmos erros. Homens como Jim são diferentes. Ele
falava de sua ansiedade comigo semana apos semana, “queixando-
se”, lutando e ate chorando. Isso mesmo, chorando. A perseverança
de Jim foi aos poucos transformando-o. Ainda e o mesmo
homem honesto e trabalhador que sempre foi. Mas, depois de
muitos meses de terapia, tem uma visão diferente do que significa
ser um homem de caráter.

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Agora ele conhece o beneficio de encarar o sofrimento decorrente


dos acontecimentos desgastantes de sua vida e sabe que falar
abertamente sobre eles vai promovendo a cura. Jim as vezes ainda
fica ansioso em relação ao futuro, mas agora tem mais esperança,
porque se sente mais capaz de lidar com ele. Aprendeu que falar
abertamente sobre sua ansiedade faz com que a tribulação produza
perseverança; a perseverança, a virtude comprovada; a virtude
comprovada, a esperança.

ESTRESSE NAO MATA, MAS ANGUSTIA MATA!

“Pois Deus não nos deu espírito de medo, mas um espírito de força, de
amor e de sobriedade. ”
II Timóteo 1:7

Hans Selye e um especialista em estresse mundialmente reconhecido.


Depois de estudar os efeitos do estresse em nossa saúde e o que
podemos fazer em relação a ele, chegou a algumas importantes conclusões.
Primeiro, que o estresse e uma consequência natural da vida
ativa. Mesmo uma atividade prazerosa causa estresse. Portanto, o estresse
não e um problema: e um sinal de que você tem uma vida ativa.
Em segundo lugar, para permanecer saudável você também precisa
de alívio.
Selye identificou o ciclo do estresse. A atividade conduz a tensão,
que e seguida por alivio - distensão - , que nos deixa preparados para
mais atividades. Este e o ciclo saudável: atividade, tensão e alivio. O
problema surge quando o alivio e inadequado. Nesses casos, a tensão
leva a angústia. E a angústia é um problema. Todos os tipos de distúrbios
emocionais ou físicos estão relacionados a ela. E, se a angustia se
prolonga por muito tempo, pode causar morte prematura.

Este e o ciclo saudável: atividade , tensão e alivio. O problema surge


quando o alivio e inadequado .

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Marcus procurou a terapia por causa de uma intensa dor emocional.


Era um brilhante escritor que recebera prêmios por seus roteiros
de cinema. Ele apreendia aspectos complexos do mundo e os colocava
no papel de maneira instigante. No entanto, apesar de conseguir
criar vidas maravilhosas para os personagens de seus filmes, Marcus
não sabia como ser feliz.
Ele observava continuamente tudo a sua volta. Percebia como as
pessoas se sentiam, mesmo quando elas não falavam a respeito. No
meio da confusão conseguia analisar como as coisas funcionavam.
Sua m ente trabalhava incessantemente, observando e analisando. Ele
nunca relaxava e quase nunca experimentava o que o Dr. Selye chamava
de alivio.
Apos meses examinando a constante queixa de Marcus, chegamos
a um ponto decisivo em nosso trabalho.
- Não suporto a sensação de me sentir deslocado - disse Marcus
com os olhos se enchendo de lagrimas.
- Sente-se deslocado aqui? - perguntei.
- As outras pessoas não são como você - ele protestou. - Elas não
querem ouvir como eu me sinto. E como se negassem seus sentimentos.
- E realmente desgastante estar permanentemente tentando encontrar
meios de se conectar aos outros. Você esta sempre buscando,
e já se desapontou tantas vezes que fica difícil ter esperança de um dia
encontrar essas conexões - falei.
Marcus era de fato mais sensível e consciente do que a maioria
das pessoas. Seu principal problema e que estava permanentemente
“alerta”, sempre em atividade, tentando encontrar o que precisava.
Perdia a naturalidade ao se aproximar dos outros e não conseguia
deixar que seus relacionamentos se desenvolvessem naturalmente.
Estava sempre tenso, o que o deixava angustiado.
- Estou exausto - disse. Mas agora sua expressão havia mudado,
seu semblante não estava triste e desgastado, chegando a esboçar ate
um sorriso.

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Tinha um ar de descoberta no rosto enquanto falava:


- Sabe, esta semana li um livro interessante. E sobre um estudo
para determinar o que faz certos atletas serem melhores do que outros
do mesmo nível. Descobriram que a distinção entre os maiores
jogadores de golfe e de tênis e os outros e que, entre as tacadas, os p
remeiros
fazem alguma coisa para relaxar, procurando não pensar na
partida seguinte. E outros grandes campeões também dão uma pausa
antes da próxima batalha.
- Parece uma lição importante - comentei.
- Nunca fiz isso - Marcus deixou escapar. - Estou pensando o
tempo todo no que vem a seguir. Sempre achei que, quanto mais
trabalhasse em alguma coisa, maior seria a probabilidade de sucesso.
Mas agora estou notando que não e bem assim. Tenho de encontrar
um jeito de fazer uma pausa.
Fiquei animado. Marcus estava finalmente percebendo que podia
agir de forma diferente para se conectar aos outros. Não e possível
viver sem um alivio entre a tensão e a atividade. Isso conduz a aflição
e a angustia, impedindo que se tenha uma vida, tanto física quanto
psicológica, saudável. Marcus precisava relaxar para atingir seus objetivos
de relacionamento. Não conseguia encontrar o amor que desejava
porque não amava a si mesmo
Deus nos criou para termos vidas ativas. O estresse e uma consequência
natural disso. No entanto, para viver plenamente e indispensável
dar e receber amor. No caso de Marcus, isso significava
amor-próprio. Ele estava vivendo de forma disciplinada e trepidante,
mas sem dar importância ao alivio e ao amor-próprio. O
trabalho árduo e bom, no entanto não e suficiente. Deus nos deu
uma formula para levarmos uma vida plena. “Pois Deus não nos deu
espirito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sobriedade. ”
Forca, amor e sobriedade operam juntos, assim como atividade,
tensão e alivio. Você pode evitar a aflição e a angustia em sua vida se
perceber como esses aspectos são igualmente importantes no ciclo
do estresse.

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TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

“Pois a letra mata, mas o Espírito comunica a vida.”


II Coríntios 3:6

Quando as pessoas se sentem amedrontadas ou ansiosas, elas se


apegam a letra da lei para se protegerem. Desenvolvem pensamentos
e comportamentos rígidos para evitar a ansiedade. Estamos todos sujeitos
a agir assim de vez em quando. Contudo, ha algumas pessoas
que fazem isso o tempo todo.
A obsessão e uma forma extrema de se prender psicologicamente a
letra da lei. Somos acometidos por certos pensamentos, não por escolha,
mas por compulsão. E como se a mente estivesse em guerra com
a razão. Sabemos que não e razoável ficar pensando em determinadas
coisas, mas não conseguimos parar de pensar nelas. Para evitar a
ansiedade, vamos nos tornando cada vez mais obcecados por certos
pensamentos, o que nos deixa ainda mais ansiosos.
A compulsão e uma forma extrema de se prender a letra da lei. E
quando não conseguimos parar de ter certos comportamentos porque
acreditamos que eles são soluções perfeitas para nossa ansiedade.
Precisamos repeti-los varias vezes para evitar que nossa ansiedade
piore. No entanto, assim como a obsessão, a compulsão proporciona
apenas um alivio provisório.

Não conseguimos parar de ter certos comportamentos porque


acreditam os que eles são soluções perfeitas para nossa ansiedade .

Paula sofre de ansiedade. Sua mãe perdia o controle com as menores


coisas e se voltava contra a filha. Paula passou a infância com
medo de fazer algo que enfurecesse a mãe. Como não sabia exatamente
o que, ficava ansiosa o tempo todo.
Apesar de não morar mais com os pais, Paula não consegue evitar
a ansiedade. Esta sempre temendo que algo de mal possa lhe acontie

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cer. e sente que precisa estar preparada. Ter que se proteger constantemente
do perigo - real ou imaginário - lhe causa enorme angustia.
Paula segue uma serie de rituais para evitar que a ansiedade aumente.
Lava as mãos um numero especifico de vezes todos os dias,
não pode tocar nas portas do carro com as mãos nuas, confere inúmeras
vezes tudo o que faz e precisa contar varias vezes o numero de
voltas que da na tranca da porta antes de sair do apartamento. Ela não
quer realmente fazer isso, mas se sente muito ansiosa se não fizer. Pela
mesma razão, conta o numero de passos que da ate chegar a rua.
Paula sofre de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Pensamentos
específicos parecem pipocar em sua cabeça, e ela precisa
desenvolver determinadas ações com base em certas regras que estabeleceu
para si mesma. Embora uma parte sua saiba que isso e tolice,
Paula acredita que precisa agir assim para evitar que algo de mau lhe
aconteça.
Paula herdou esse distúrbio e precisa lutar terrivelmente para supera-
lo. Medicamentos estão ajudando, mas ela ainda sente a necessidade
de, vez ou outra, seguir ao pé da letra determinados pensamentos
e comportamentos. Sem a ajuda dos medicamentos e da terapia,
o transtorno de Paula provavelmente não melhoraria. Essa forma de
ansiedade raramente desaparece sozinha.
Não sabemos realmente o que causa o TOC, mas conhecemos pessoas
como Paula que sofrem terrivelmente com a ansiedade decorrente
dele. São obrigadas a seguir estritamente instruções auto impostas
para não serem atormentadas por uma intolerável ansiedade.
Paula sente-se compelida a cumprir suas próprias ordens mentais
com exatidão, pois acha impossível acreditar que algum mal não
recairá sobre ela se não agir dessa maneira. A Bíblia nos diz que a
letra mata, mas o Espírito vivifica. Seguir instruções ao pé da letra não
produz vida. Felizmente, por meio de uma combinação de medicamentos
e de uma forma especifica de terapia, Paula esta aos poucos
conseguindo afrouxar o controle e a rigidez. Só assim será capaz de
experimentar a vida plena, tal como Deus a criou.

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DISSOCIACAO

“Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz. ”


I Coríntios 14:33

Uma das coisas que a mente humana faz para se proteger e dissociar.
Todos nos dissociamos num certo grau. Nas formas mais brandas,
isso acontece quando estamos dirigindo pelas ruas, talvez ate
por um trajeto conhecido, e nos pegamos totalmente desatentos. Ao
perceber que entramos no “piloto automático”, retomamos o estado
de alerta e a consciência do que se passa a nossa volta. A dissociação
ocorre quando desligamos a consciência e entramos em outro estado
mental que não percebe o ambiente que nos cerca.
Algumas pessoas sofreram ansiedade e aflição extremas na vida.
Quando isso acontece na infância, algumas recorrem a dissociação
para conseguir sobreviver. Não e uma escolha consciente, e um mecanismo
automático. A dissociação faz com que escapem para outro
estado mental que as afaste de sua aflição para um esconderijo que as
mantenha seguras.

A dissociação não e uma escolha consciente ,


e um mecanismo automático .

Laura cresceu numa região pobre da cidade, numa casa onde moravam
vários membros da família. Seu pai e dois irmãos dele consumiam
drogas regularmente, estavam quase sempre desempregados
e encrencados com a policia. Laura vivia assustada e angustiada.
Durante a infância sofrera vários abusos sexuais de um tio e se sentira
impotente para evita-los. Tentou contar aos pais, mas eles não acreditaram
nela e a puniram por inventar uma mentira tão horrível. Laura
se lembra de muitas vezes ter se sentido aterrorizada pelo tio que a
ameaçava. Por se encontrar presa a essa situação horrorosa, a única
maneira que Laura encontrou para sobreviver foi mantendo todos os

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Medos e angústias profundamente trancados dentro de si. Esse


Esconderijo a ajudava a preservar sua sobrevivência.
Os efeitos dessas experiências se fizeram sentir na vida adulta.
Laura não conseguia confiar num homem a ponto de conseguir
desenvolver uma relação intima. Afeiçoou-se excessivamente a
seu pastor porque ele parecia ser a única pessoa em quem podia
confiar.
Laura me procurou porque queria resolver seu medo com um terapeuta
do sexo masculino. Sua hesitação no inicio do tratamento ficou
explicada quando ela contou suas experiências com o tio.
- Me senti deprimida de novo esta semana - disse Laura, meio embaraçada.
- Me fale mais sobre isso - pedi.
- Foi outra semana difícil - ela acrescentou olhando para baixo.
Eu sabia que Laura ficava envergonhada por se sentir deprimida.
Achava que devia ser mais forte e ter mais fé, mas não conseguia evitar
a depressão.
- Me diga o que esta acontecendo - falei. Eu sabia que ela precisava
soltar os inúmeros segredos trancados dentro dela.
- Nada - respondeu bruscamente, me olhando de esguelha.
Então aconteceu. Eu já havia presenciado isso antes em outros pacientes.
Os olhos ficaram vidrados, como se ela os estivesse fixando
em outro lugar. Eu sabia que eu a havia magoado de algum modo, e
ela simplesmente fugira da sala, deixando o corpo.
Ficamos sentados em silencio por vários minutos, enquanto eu
tentava um contato com seu olhar. Ela olhava para mim, mas logo
desviava os olhos.
- Laura? - falei suavemente.
- O que! - disse, voltando a cabeça na minha direção.
- O que esta acontecendo? - perguntei.
- Nada - ela respondeu arregalando os olhos. - Eu disse a você que
na° f*z nada. Não e minha culpa!
- Achou que eu estava criticando você? - perguntei.

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- Não foi minha culpa, eu já disse. Eu não fiz nada. As vezes me


sinto mal, e só - disse rapidamente.
Passamos por vários momentos como esse durante os primeiros anos
de terapia. Se eu dizia ou fazia alguma coisa que a levava a reviver uma
ansiedade e um medo intensos, ela dissociava. Saia da sala mentalmente.
Anos mais tarde, depois que terminamos o tratamento, ela me mostrou
o canto da sala e contou-me que se dirigia mentalmente para lá e se
agachava
atrás de uma poltrona em busca de proteção. Encontrara um esconderijo
mental para se sentir segura e continuar nossas sessões.
Laura e um exemplo do que acontece com crianças que são criadas
de maneira ultrajante e impiedosa. A Bíblia nos diz que Deus não é
Deus de desordem, mas de paz. O caos, a ansiedade e o medo que rodearam
a infância de Laura acarretaram sua necessidade de dissociar
para se proteger. No ambiente disciplinado e seguro do meu escritório,
começamos a restabelecer o sentido de paz para a vida de Laura.
Esse e o tipo de vida que Deus deseja que as crianças tenham, e que
Laura não havia experimentado ate então.
Atualmente Laura dissocia tanto quanto qualquer um de nos. A
combinação da terapia com o convívio em uma acolhedora comunidade
religiosa contribuiu para lhe devolver uma vida de ordem e paz.
Deus não nos criou para vivermos na desordem causada pela ansiedade
e pelo medo. Felizmente, Ele nos deu mecanismos e instrumentos
para sobreviver quando for preciso.

TRANSTORNO DE ESTRESSE POS-TRAUMATICO

“Então, até mesmo o valente que tem coração


semelhante ao de leão perderá a coragem. ”
II Samuel 17:10

Antes dos anos 1970, achávamos que perturbações psicológicas


eram herdadas ou desenvolvidas na infância. Depois de observarmos
atentamente o que o estresse traumático pode causar a um adulto em

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ambientes de guerra, constatamos uma nova categoria de distúrbio -


o Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT).
Todos lidamos com fatores estressantes corriqueiros, mas certas
pessoas passam por acontecimentos traumáticos fora do comum,
como guerra, sequestro ou presenciar a morte de alguém. Traumas
dessa dimensão podem levar qualquer um a desenvolver o TEPT.
Pesadelos e visões são comuns, combinados com um “torpor” psicológico,
vigilância excessiva e reações exageradas, como os sobressaltos.
O TEPT pode ser muito debilitante, e as pessoas que sofrem desse
distúrbio necessitam de ajuda profissional.

Alguns traumas são intensos . Ha ajuda disponível


se isso um dia acontecer com você.

Lucia me foi encaminhada por um advogado. Era uma moca solteira,


de 22 anos, que fazia faculdade. Ao voltar sozinha de uma festa,
por volta de meia-noite, foi abordada por uma viatura que pensou ser
da policia, porque tinha luzes piscando. Um homem uniformizado
saltou do carro e lhe deu ordens para que ela o acompanhasse. Lucia
obedeceu, porque temia ser presa por estar dirigindo alcoolizada.
O falso policial a algemou e a levou para uma casa abandonada,
onde a violentou. Apavorada e com medo de perder a vida, Lucia
não esboçou qualquer reação. Foi um acontecimento horrível que ela
nunca vai esquecer.
Notei imediatamente que Lucia estava sofrendo do TEPT. Não
conseguia dormir e, quando conciliava o sono, o pesadelo que vivera a
despertava. Tinha medo de sair a noite ou de passar pelo local em que
fora abordada, porque essas coisas a faziam reviver aquele drama.
No principio do tratamento ela apenas se sentava, olhando fixamente
para baixo, incapaz de me dizer como se sentia, porque tudo
estava entorpecido” nela. Qualquer coisa que eu falasse, mesmo da
forma mais suave, lhe causava um sobressalto. Essa reação exagerada
ao estimulo e comum no TEPT.

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- Como você esta se sentindo neste momento? - perguntei quase


sussurrando apos alguns minutos de silencio.
Lucia sacudiu os ombros e me lançou um olhar de surpresa total.
- Desculpe - disse ela. - Acho que eu estava pensando.
- Sobre o que? - indaguei.
- Outro dia - continuou ela, olhando para baixo - eu estava indo
de carro para o trabalho. Era de manha, mas juro que vi um carro de
policia piscando as luzes atrás de mim. Meu coração foi parar na garganta.
Fiquei apavorada. “De novo, não”, pensei. “Será que eu encosto
o carro e paro, ou vou ate a delegacia? Ai, m eu Deus, o que devo
fazer?” Mas quando olhei de novo não havia ninguém lá. Você acha
que vou acabar ficando louca?
Lucia me encarou com os olhos arregalados. Eu sabia que ela estava
assustada, não somente pelo que acontecera, mas pelo medo de
enlouquecer.
- Você viu luzes piscando e pensou que fosse um carro de policia.
E natural que tenha ficado aterrorizada, porque sua vida foi ameaçada
por um homem num carro de policia - arrisquei dizer.
Eu sabia que ela permanecia num estado de vigilância exacerbada,
uma condição que leva os sobreviventes de um trauma violento a estarem
sempre alertas, numa tentativa de se protegerem, e a verem coisas
que não existem.
- Então você não acha que estou enlouquecendo? - perguntou,
exasperada.
- Não, não acho. Acho que você esta fazendo o que qualquer pessoa
faria na sua situação - respondi.
As pessoas que sofrem do TEPT se sentem envergonhadas, apesar
de não terem razão para isso. Vivemos em um mundo onde coisas
ruins acontecem a pessoas boas. Não podemos impedir esses
acontecimentos,
mas podemos aprender a lidar com eles.
Depois de vários meses de terapia, Lucia esta melhor. Começou a
namorar um rapaz em quem sente que pode confiar, os pesadelos não
são tão frequentes e já consegue falar de suas emoções. Para chegar a

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esse ponto foram necessários vários meses repassando em detalhes


os acontecimentos daquela noite e trabalhando seus sentimentos de
ansiedade e medo.
Alguns traumas são de tal maneira intensos que, se tivermos de
passar por eles, sofreremos inevitavelmente. A Bíblia nos diz que ha
momentos em que até mesmo o valente que tem coração semelhante ao
de leão perderá a coragem. Momentos traumáticos podem acontecer a
qualquer um. Ha ajuda disponível se isso um dia acontecer com você.

PREOCUPACAO

“Quem dentre vós, com as suas preocupações, pode prolongar


por um pouco a duração de sua vida?
Lucas 12:25

A preocupação e uma estratégia para lidar com a ansiedade quando


não se sabe mais o que fazer. Ao nos preocuparmos com o que nos
incomoda, temos a sensação de estar fazendo algo para resolver a si-
tuacao. A preocupação antecipa um futuro negativo na esperança de
evitar que ele aconteça. O que e absolutamente inútil.
Apesar de a preocupação ser uma emoção negativa, nossa intenção
e a melhor possível. Preocupar-se ao tentar resolver uma situação faz as
pessoas se sentirem bem. Mas, de um modo geral, nos preocupamos não
por querermos solucionar algo, mas por nos sentirmos impotentes.

A preocupação antecipa um futuro negativo na


esperança de evitar que ele aconteça .

Acho que sou um preocupado nato - disse Samuel, sorrindo.


- Mesmo? - perguntei.
Sim - continuou, meio sem graça. - Sempre fui assim. Não com-
sigo evitar. Eu me preocupo com as pessoas que amo.
- E isso ajuda? - indaguei.

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- Ah, não sei - falava sem muita naturalidade. - Acho que não
devia me preocupar, mas, você sabe, e difícil não se interessar pelas
pessoas mais próximas.
Embora Samuel insistisse em afirmar que se preocupava com
aqueles que amava, eu me perguntava se essa preocupação não tinha
outros motivos. Ele sabia racionalmente que a preocupação não tem
o poder de solucionar os problemas, mas se angustiava durante horas
imaginando todo tipo de dificuldades.
Inicialmente, pensei que a preocupação de Samuel era uma forma
de se ocupar, agora que estava aposentado. Mas, com o passar do
tempo, notei que ela não brotava do amor. Era apenas produto de sua
impotência. Samuel se preocupava com as circunstancias difíceis de
sua vida e da vida dos entes amados, mas não sentia a menor possibilidade
de interferir para melhora-las. Não se tratava de uma impotência
real, pois ele era inteligente e capaz. Mas Samuel acreditava que
era impotente, sendo esta a origem de sua preocupação.
Deus nos diz que a preocupação e inútil. Não podemos prolongar
a vida nos preocupando. No caso de Samuel, além de inútil, a preocupação
contribuía para ele acreditar na própria impotência, o que
só aumentava sua preocupação. Samuel se viciou em preocupação
porque ela fazia com que ele se sentisse bem consigo mesmo. Mas era
uma satisfação temporária, logo substituída pela sensação de impotência.
E difícil romper ciclos viciosos como este.
Da próxima vez que você perceber que esta se preocupando, pergunte
a si mesmo: estou me sentindo impotente? Se estiver, peca a Deus
que o ajude a mudar essa tendência. Ele o criou com a capacidade de
agir para mudar as situações. “Pois o Reino de Deus não consiste em
palavras, mas em poder” (I Coríntios 4:20).

O ANTIDOTO PARA A ANSIEDADE

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração. ”


Salmo 139:23

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A ansiedade e um sinal de que devemos nos preparar para uma


situação de estresse que esta por vir. Neste sentido e um sentimento
importante, porque nos alerta. Mas como as vezes pode nos prejudicar
existe um antidoto capaz de neutralizar seus efeitos tóxicos. Ele
não resolve o problema, mas anula as consequências negativas.
E fundamental fazermos essa distinção, porque tentar se livrar da
ansiedade geralmente só a agrava. A ansiedade e um sentimento natural,
desde que permaneça dentro de certos limites. Como já disse,
Deus nos criou com a capacidade de termos uma vida ativa, poderosa,
que nos proporciona tanto alegria quanto ansiedade. E preciso
ter sabedoria para saber lidar com isso.

Tentar se livrar da ansiedade geralmente e só a agrava .

Elena veio para a terapia porque sofria da Síndrome do Intestino


Irritável (SII). Trata-se de uma condição clinica que causa dores de
estomago
e cólicas abdominais que resultam em constipação e diarreia.
Elena tinha medo de ir a restaurantes ou a ambientes públicos, pois a
qualquer momento precisaria ir ao banheiro, o que a deixava insegura.
Consultou vários médicos e tentou ter uma atitude positiva em relação
ao distúrbio, mas não conseguia se controlar. Era uma situação humilhante
que não comentava com ninguém. Procurou a terapia para tentar
lidar com o desconforto que esse problema lhe causava.
- Aconteceu comigo de novo ontem a noite - disse Elena frustrada.
- Fomos jantar na casa do meu filho, que eu não via ha algum tempo.
Já sai de casa com medo de que acontecesse, e não deu outra! Acho
que comi alguma coisa no almoço que me fez mal. Estava perfeitamente
bem e de repente tive um ataque. Isso e tão frustrante!
- O que aconteceu depois? - perguntei.
- Voltamos para casa. Ainda bem que estávamos perto - disse com
tristeza. - Não posso ir a lugar nenhum se não tiver certeza de que ha
um banheiro disponível. Liguei e disse que estava com muita dor de
cabeça. E extremamente desgastante.

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Elena tinha um problema de saúde e estava sendo bem assistida


por seu medico. No entanto, o problema era agravado pelo modo
como ela lidava com a ansiedade. Elena fantasiava que a solução seria
se livrar dos sentimentos que a deixavam tensa e procurava investir
nesse sentido. Mas, quanto mais se esforçava, mais ansiosa ficava.
Tornou-se claro, logo no começo da terapia, que não era possível expulsar
a ansiedade da sua vida. Elena precisava entender seus sentimentos,
não se livrar deles.
Depois de muitos meses de terapia, Elena e eu começamos a notar
que aquela manifestação física era um exemplo de como ela tentava
lidar com seus problemas emocionais. Ela rejeitava qualquer sentimento
aflitivo e procurava se livrar dele. Como isso não era totalmente
possível, seu corpo assumia o controle e tentava expelir tudo
que fosse desagradável. Descobrimos que Elena precisava parar de
lutar contra seus sentimentos, mesmo os mais dolorosos e desgastantes.
Ela precisava acolhe-los e compreende-los. Trata-los como amigos
que queriam lhe mostrar algo que ela precisava saber. As vezes
nossos amigos nos avisam de desgastes que estão por vir. Por isso, em
vez de tentarmos nos livrar deles, devemos ouvi-los.
Os sintomas da SII são bem menos frequentes em Elena hoje em dia.
Ela ainda sofre de dores de estomago e cólicas, mas, quando estas se
manifestam, ela assume uma atitude diferente. As vezes foram mesmo
causadas por alguma coisa que comeu. Mas geralmente e sinal de uma
emoção que precisa ser examinada e não descartada. Quanto mais
Elena falar a respeito de seus sentimentos frustrantes e os enfrentar
abertamente, menos desgaste físico terá em seu organismo. Elena sente-
se grata por essa mudança em sua vida. Mas não foi esta a principal
transformação que ela notou. Elena esta mais alegre. Descobriu que
também se sente ansiosa em relação a seus relacionamentos, sua carreira
e ao futuro de seus filhos. Mas, quanto mais conversamos sobre
essas angustias e as enfrentamos, melhor ela se sente. Elena sabe agora
que enfrentar as provações da vida faz dela uma pessoa mais forte e
mais sabia. Tentar se livrar da ansiedade era inútil e prejudicial.

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Deus cuida de nossas angustias. Ele não promete que elas irão acabar
mas nos oferece uma estratégia para lidar com elas. As provações
não terão poder de tirar nossa alegria se soubermos encara-las e
enfrenta-las com sabedoria. Em vez de tentar se desvencilhar de suas
angustias, considere-as como oportunidades para fortalecer o seu caráter.
O Rei Davi teve coragem de apresentar suas tribulações a Deus
quando disse “sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração”. E com
esse tipo de coragem que devemos olhar para as raízes de nossa ansiedade.
Com a ajuda de Deus e das pessoas que nos amam estaremos
fortalecidos para enfrentar cada vez mais os problemas que nos afligem.
Este e o antidoto.

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CAPITULO4

Tristeza

O QUE SIGNIFICA SER TRISTE?

“Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do


céu... tempo de chorar e tempo de rir...”
Eclesiastes 3:1-4

Em meu trabalho como psicólogo clinico descobri que em qualquer


tipo de sofrimento - seja apenas uma falta de animo ou uma profunda
depressão - o importante e o modo como encaramos nossa tristeza.
Geralmente a intensidade da tristeza não e causada pelo grau do
sofrimento,
mas pelo que significa para você estar triste. Mais uma vez são
nossas crenças a respeito dos sentimentos que causam o problema.

O modo como encaramos nossa tristeza desempenha um


importante papel na intensidade do sofrimento.

Yolanda e uma mulher educada que tem um bom emprego e vários


amigos. E uma pessoa agradável e simpática, dedicada a sua igreja e
bem-sucedida no trabalho. Mas Yolanda tem um problema - sofre de
uma depressão que a acomete de modo inesperado. Quando o quadro
se agrava, ela chega a pensar em suicídio.
Quando me procurou, Yolanda já havia visitado outros terapeutas
em busca de ajuda, sem maiores resultados.
- Se pelo menos eu pudesse parar de me sentir desse jeito - disse,
chorando, em uma de nossas primeiras sessões. - Sei que não e o

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que Deus pretende para a minha vida. Se eu fosse ao menos uma boa
crista.
- Então você acha que sua depressão e falta de fé? - perguntei.
- Claro - respondeu enfaticamente. - Só preciso me esforçar para
agradar mais a Deus.
Durante os meses que se seguiram, descobrimos que o problema
de Yolanda não era falta de fé ou de forca de vontade, mas baixa
autoestima
por causa da depressão. Ela não só detestava se sentir deprimida,
como detestava a si mesma por se sentir deprimida. Para ela, a
depressão era sinal de fraqueza espiritual. Intelectualmente era capaz
de entender o texto da Bíblia que diz que ha um tempo de chorar, mas
inconscientemente não acreditava nisso. Ser triste para Yolanda equivalia
a fracassar espiritualmente.
Durante os primeiros meses de terapia, Yolanda varias vezes entrou
em depressão e desejou me telefonar. Mas não queria se sentir
dependente de m em e tentava dominar suas emoções sozinha.
- Não devo telefonar para o Dr. Baker por causa disso - dizia para
si mesma. - Tenho que ser forte o bastante para não me sentir triste.
Mas essa estratégia quase nunca funcionava. Yolanda ficava desapontada
porque seus esforços para se livrar da tristeza eram inúteis, o
que a fazia evoluir para sentimentos intensos de vergonha e depressão,
levando-a a pensar em suicídio. Esse processo de tristeza, vergonha,
tristeza ainda maior, se transformou num ciclo vicioso para
Yolanda. Ela se detestava por estar triste, o que foi se tornando um
problema muito maior do que a própria tristeza.
Depois de muitos meses trabalhando sua depressão, a tristeza e menos
intensa porque Yolanda não sente mais raiva de si mesma por estar triste.
Compreende que a intensidade de sua tristeza não e um problema tão
grave quanto o significado que ela emprestava ao sentimento.
A Bíblia ensina que ha um tempo para cada sentimento. Se acreditarmos
que ficar triste significa algo ruim, que nos enraivece, e
tentarmos com todas as forcas nos livrar da tristeza, teremos sérios
Problemas. A sabedoria bíblica diz que ha um proposito para cada

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sentimento. Se atravessarmos com tolerância e sabedoria os momentos


tristes, abriremos espaço para a alegria.

LUTO: A TRISTEZA DE DIZER ADEUS

“ Jacó rasgou suas vestes, cingiu os seus rins com um pano de saco,
e fez luto por seu filho durante muito tempo. ”
Genesis 37:34

Uma das razoes mais comuns da tristeza e a perda. Quando se


perde algo ou alguém muito importante, a reação natural e sentir
tristeza pela perda. No entanto, por incrível que possa parecer essa
afirmação, o luto é bom. E a maneira que temos de nos preparar para
futuros relacionamentos. O luto abre espaço em seu coração para um
novo amor. Como a tristeza da perda nos faz sofrer muito, e importante
encarar o luto intenso como um processo saudável de encerramento
de uma parte da nossa vida que acabou definitivamente. O
luto e a tristeza de dizer adeus.
O luto não e uma depressão clinica. A perda desencadeia sentimentos
de negação, raiva, depressão e aceitação. Mas as vezes a intensidade
da emoção provocada nos leva a depressão. Se não formos capazes
de sair dela, precisaremos de ajuda especial para atravessar o luto.
Nesse caso, não hesite em pedir ajuda. Mas, se tudo correr bem, o
luto seguira seu curso natural, e acabaremos aceitando a perda. Pode
durar algumas semanas ou alguns anos, mas a tristeza de perder algo
ou alguém essencial vai diminuindo com o passar do tempo.

O luto abre espaço em seu coração para um futuro amor .

Jimmy era o filho mais velho de uma família muito religiosa e de


sólidos valores culturais. Ele se tornou um homem bem-sucedido e
assumiu a responsabilidade pelos pais e pelo irmão mais novo, que
era portador de uma grave deficiência congênita. Jimmy considerava

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que sua missão na vida era servir a Deus e aos outros, sobretudo os
mais carentes. Ele dizia: “Eu vivo simplesmente para que os outros
possam simplesmente viver.” Era generoso e nunca se queixava das
obrigações que assumia.
Dois anos antes da terapia, sua mãe caiu gravemente doente e morreu.
O velho pai morreu logo depois. A missão de Jimmy passou a ser
cuidar do irmão doente. Dedicou-se a ele de tal forma, que o irmão
melhorou e atingiu um nível de atividade surpreendente. Jimmy ficava
encantado com o progresso e pensava que os pais deveriam estar
orgulhosos.
Então, muito repentinamente, seus dois melhores amigos morreram,
o primeiro em um acidente de automóvel, o outro de um câncer
galopante. Um mês depois seu irmão morreu durante o sono. Em
poucos meses a estrutura de apoio de Jimmy desmoronou.
Apesar de nunca ter considerado a hipótese de uma ajuda terapêutica,
Jimmy foi trazido ao meu consultório completamente arrasado.
- E demais! - gritou em nossa primeira sessão.
- Eu sei - respondi calmamente.
- Como Deus permitiu que isso acontecesse? - perguntou.
- Não sei - respondi.
- Não aguento mais ouvir meus companheiros da igreja dizerem
que Deus sabe o que faz. Não posso concordar com isso - disse Jimmy
indignado. - Fui fiel, dedicado, obediente. Como Deus pode ser tão
injusto?
Nem todo luto e tão complicado quanto o de Jimmy. Mas todo
luto e sofrido. Ele perdeu muitas pessoas e sofreu muitas decepções
de uma vez só. Assim como Jo, Jimmy também se sentia da seguinte
forma: “Quando me deito, penso: quando virá o dia? Ao me levantar:
quando chegará a noite? E pensamentos loucos invadem-me até o
crepúsculo.”
Apesar da imensa dor, o luto intenso de Jimmy era na verdade uma
reação normal a uma situação anormal. Qualquer um no seu lugar
ficaria destrocado e deprimido. Não era a ausência de fé que trazia

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87

Jimmy ao meu consultório. Era a presença do sofrimento que ele não


conseguia suportar sozinho.
Como acreditava em um Deus pessoal que o amava e que prometera
cuidar dele, Jimmy não compreendia por que esse mesmo
Deus consentia que ele sofresse tanto. Um Deus amoroso capaz
de permitir tamanho sofrimento era uma contradição que causava
em Jimmy uma dor maior do que a do luto causado por suas
perdas.
A desgracia nos desconecta do sentido da vida e nos faz sentir muito
sozinhos. O intenso luto de Jimmy fez com que ele achasse que ninguém
poderia compreende-lo, nem mesmo Deus. Mas o nosso contato
na terapia e a possibilidade de falar com alguém que acolhia sua
dor o ajudaram a elaborar a perda. Muito lentamente percorremos
juntos esse processo.
Depois de muitos meses, Jimmy finalmente melhorou. Sua depressão
se dissipou um pouco e seu desespero foi sendo gradualmente
substituído por uma leve esperança de que possa ter uma nova missão
na vida. Jimmy ainda enfrenta um luto profundo, sobretudo quando
se lembra de um dos membros da família, especialmente seu irmão.
Esse luto e inevitável, porque seu coração ainda esta tentando processar
a perda de tanto amor. Mas dessa forma Jimmy esta se preparando
para amar novamente.
A TRISTEZA DO CORACAO

“Por que estás com a fisionomia triste? Não estás doente? Não,
certamente é teu coração que está aflito!”
Neemias 2:2

A depressão clinica e uma forma grave de tristeza. Existem dois


tipos principais. O primeiro se chama depressão reativa. Essa forma
de doença e desencadeada por circunstancias externas. Pode variar de
uma manifestação branda, como a tristeza, ate a perda total de pra

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88

ser somada a fadiga e desanimo. O segundo tipo e denominado endógeno.


E causado por uma reação química no organismo que nada
tem a ver com as circunstancias externas e também varia de branda a
grave. Em qualquer um dos casos talvez seja necessário associar um
antidepressivo a psicoterapia.
A depressão clinica e uma tristeza que vem diretamente do coração.
E uma condição física resultante de características fisiológicas
e das circunstancias de vida. Você não e responsável por seu surgimento,
mas e responsável por buscar sua cura.

Não ha qualquer razão para se envergonhar da depressão ,


com o acontece c om muitas pessoas .

Juan e do tipo calado. Trabalhador e honesto, e uma pessoa em


quem se pode confiar. Ele investe na forma física e gosta de ler para
manter-se informado. Amigos e conhecidos o respeitam por sua qualidade
humana.
Juan teve uma vida difícil. Foi adotado na infância por um homem
rígido e quase sempre hostil. Aos 18 anos, não aguentando mais, saiu
de casa. Muito determinado, alcançou sucesso na vida. Embora com
muito esforço, superou suas dificuldades.
Apesar de conseguir vencer a maior parte de seus problemas, Juan
se sentiu impotente para derrotar uma depressão clinica permanente.
Desde muito cedo luta contra a insônia, a agitação e uma esmagadora
tristeza. Apesar de suas realizações, se sente inútil e culpado. Teve que
lutar a vida toda contra uma fadiga constante e frequentes acessos
de perda de interesse por qualquer coisa que pudesse faze-lo feliz.
Quando a depressão se agrava, tem muita dificuldade em se concentrar
e chega a pensar em suicídio.
Juan já havia experimentado todos os tipos de antidepressivos,
mas muito poucos fizeram algum efeito. Tentou parar com os
medicamentos
varias vezes, mas voltou a ficar muito deprimido. Como
foi adotado, Juan nada sabe a respeito de seus pais biológicos e dês

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

89

conhece se algum de seus parentes também sofria de depressão. Não


consegue debela-la, apesar dos anos de terapia.
A condição de Juan e meio atípica. A maioria das pessoas que necessitam
de antidepressivos acaba se sentindo melhor com o passar
do tempo e pode ate vir a suspender o uso. Ha também pessoas cuja
estrutura biológica requer que elas tomem medicamentos por tempo
prolongado a fim de corrigir o desequilíbrio químico em seus cérebros.
No caso de Juan foram necessários muitos anos. Tenho esperança
de que nosso trabalho lhe permita algum dia dispensar esses
remédios. Mas, por enquanto, eles apenas eliminam os sintomas e o
ajudam a se sentir bem, permitindo que tire mais proveito da terapia.
Sem os medicamentos, Juan não conseguiria permanecer ativo.
A depressão endógena e uma forma hereditária de depressão clinica.
Não ha qualquer razão para se envergonhar dela, como acontece
com muitas pessoas. No caso de Juan, trata-se de uma condição física
que nasceu com ele. Felizmente podemos fazer alguma coisa para ajudar.
Deus criou cada um de nos de um modo misterioso e esplendido.
E importante compreender isso, sobretudo se, como Juan, você foi
atingido por essa forma de tristeza do coração.
Se você sofre de depressão clinica, necessita de ajuda profissional.
E uma doença que pode ser tratada, e mesmo nos casos mais difíceis
uma combinação de psicoterapia e medicamentos normalmente
ajuda. Não tente se obrigar a se sentir melhor, busque a ajuda de que
precisa para realmente ficar bem.

COM O LUTAR CONTRA OS PENSAMENTOS TRISTES

“Até quando terei sofrimento dentro de mim e tristeza


no coração, dia e noite?”
Salmo 13:3

A depressão distorce nossa visão das coisas. E inevitável. Quando


estamos deprimidos, os pensamentos se tornam pessimistas. Apesar

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de todo o esforço, você pensa de modo negativo, o que o deixa ainda


mais deprimido. A depressão já e penosa, mas ter de lutar contra os
próprios pensamentos pode ser insuportável.
Quando estamos deprimidos, surgem algumas tendências a negatividade.
A primeira e o catastrofismo. E fazer tempestade em copo
d’agua. Algo que e apenas problemático assume a proporção de uma
catástrofe das mais graves. A depressão faz as coisas parecerem muito
piores do que realmente são.
A segunda tendência e o personalismo. E tomar como pessoais
coisas ditas de forma geral. Nem tudo se refere a nos, mas quando
estamos deprimidos nos sentimos atingidos por qualquer observação.
Isso nos faz sofrer mais ainda e não ajuda a melhorar a depressão.
Duas outras tendências são tirar conclusões precipitadas e a atitude
de tudo ou nada. Imaginamos coisas sobre os outros que talvez não
sejam verdadeiras, e como somos tentados a pensar impulsivamente
corremos o risco de chegar a conclusões erradas. Espere ate que o
outro termine de expor seu raciocínio e reflita durante algum tempo
antes de tirar qualquer conclusão. A vida e muito complexa, mas a
depressão torna mais difícil perceber as nuances. Se você estiver se
sentindo deprimido, tome consciência de que provavelmente esta
encarando
os acontecimentos de uma forma distorcida.

A depressão já e penosa , mas ter de lutar contra os


próprios pensamentos pode ser insuportável .

Amanda veio para a terapia depois da morte do pai. Era muito


ligada a ele. Apesar de ela já ter saído de casa havia algum tempo,
os dois permaneceram em estreito contato. Felizmente a relação de
Amanda com o pai era boa, e, embora a dor de perde-lo fosse intensa,
não era agravada por remorsos ou questões não-resolvidas. Amanda
precisava atravessar o luto e elaborar os sentimentos despertados pela
morte do pai, o que requeria algum tempo.

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Como se confirmou, o problema de Amanda não era realmente


o luto pela morte do pai. Ela finalmente aceitou a perda e progrediu
para sentimentos tristes mas positivos em relação a ele. Entretanto,
descobrimos que ela tinha uma grande questão não-resolvida com a
mãe, que ainda estava viva. A mãe havia sido injusta e intimidadora
com a filha. Agora, com a morte do pai, Amanda se via forcada a
estabelecer
uma relação direta com ela. Isso a deprimia.
- Meu irmão e eu nos referíamos a minha mãe como senhora lagarto
- segredou numa sessão.
- Por que?
- Ah, sabe como e, lagartos são assustadores e frios - disse ela.
- Parecem seres desprovidos de sentimentos. Minha mãe e assim.
Amanda fora privada de amor e carinho por sua mãe e era ridicularizada
sempre que manifestava sua carência afetiva. Sentia-se punida
por ser uma criança sensível. Fiquei tão comovido com essa descrição
que reagi com um ar de surpresa. “Como uma mãe pode ser tão
insensível?”,
pensei comigo mesmo.
- Você me acha horrível - Amanda falou bruscamente.
- Eu? - perguntei, surpreso.
- Eu vi a expressão no seu rosto. Sei o que significa. Você acha que
sou uma filha ingrata por dizer essas coisas cruéis sobre a minha mãe
depois de tudo o que ela fez para nos criar - disse, chorando.
Assim aconteceu na maioria de nossas sessões. Ela mostrava um
pouco de seus sentimentos mais íntimos, eu esboçava uma reação (as
vezes quase imperceptível) e ela presumia que eu a estava atacando
pessoalmente e tirando conclusões terríveis a respeito de seu caráter.
Amanda estava deprimida e só conseguia pensar desse modo.
Comecei a trabalhar com ela esses sentimentos e pensamentos.
As vezes Amanda ainda tira conclusões precipitadas, mas muito
menos do que antes. Já conseguimos examinar essas conclusões
automáticas
e buscar sua origem nas experiências de infância. As interações
humanas raramente são tudo ou nada, nem totalmente boas
ou mas. Geralmente ha uma mistura de tudo. Muito lentamente,

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Amanda começou a pensar de maneira mais flexível e foi se tornando


menos deprimida.
Deus nos criou com a maravilhosa capacidade de pensar. Mas
quando estamos deprimidos somos invadidos por pensamentos negativos
E então que essa maravilhosa capacidade funciona contra nos,
levando-nos a fazer tempestade em copo d’agua, a tomar as coisas
como pessoais, a tirar conclusões precipitadas e radicais. Felizmente
podemos usar essa fantástica capacidade para nos livrarmos da depressão
e dos pensamentos tristes que ela produz.

DESESPERANCA

“Como tristes e, não obstante, sempre alegres.”


II Coríntios 6:10

Quando perdemos a esperança, deixamos de acreditar que coisas


boas possam acontecer conosco. E angustiante acreditar que Deus
e bom e amoroso não tendo a esperança de que Sua bondade e Seu
amor se aplicam a nossa vida. Perder a esperança e trágico.

E angustiante acreditar que Deus e bom e amoroso não tendo a


esperança de que Sua bondade e Seu amor se aplicam a nos s a vida.

Os pais de Irene eram opressores e controladores, o que a fez


crescer desejando sair de casa. Achava que sua vida real só começaria
depois disso.
Quando Irene finalmente conseguiu sair, sua vida melhorou.
Deixou de ser desrespeitada pelos pais e colocou-lhes limites. Se eles
começavam a ofende-la, Irene simplesmente desligava o telefone.
Irene foi para a faculdade, se tornou uma fervorosa crista, se formou
e encontrou um bom emprego. Apesar de ter muitas razoes para
Ser Irene procurou a terapia porque não conseguia se livrar de
Urna tristeza crônica.

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- Talvez seja pecado m e sentir tão mal em relação a vida - disse.


- Você acha pecado se sentir triste? - perguntei.
- Acho, sim. Tenho um bom emprego, uma casa própria e liberdade
para fazer o que quiser. Como posso ficar triste? Meu problema
e falta de fé - respondeu prontamente.
- Não concordo - eu disse calmamente. - Para mim, seu sofrimento
esta na falta de esperança. Você não acredita que o que Deus
tem a oferecer seja destinado a você - respondi.
Irene estava sofrendo do que os antigos chamavam de a noite
escura da alma. As decepções que sofrera na infância deixaram
marcas que a impediam de esperar por coisas boas. A falta de esperança
era um mecanismo de defesa para não se decepcionar novamente.
Não esperar coisas boas da vida foi uma estratégia desenvolvida
pela menina Irene na sua tentativa de sobreviver. Mas essa estratégia
estava atrapalhando seu caminho para a felicidade na vida
adulta. Deixar de ter esperança contribuía apenas para prolongar
sua decepção crônica.
A terapia vem ajudando Irene a sair da depressão. Não porque sua
fé tenha aumentado, mas porque esta assumindo o risco de ter mais
esperança. Ela reconhece que, embora haja um risco em acreditar
que possa realmente ser feliz, vale a pena assumi-lo e ter esperança
de melhorar sua qualidade de vida. Irene descobriu o significado de
entristecida, mas sempre se alegrando. Mesmo que as circunstancias
externas causem tristeza, ela decide se alegrar com a esperança de que
tudo pode melhorar.

DESVALORIZACAO

“Eis por que, muito ao contrário, perdoai-lhe e consolai-o, afim de que


não seja absorvido por tristeza excessiva. Sendo assim, exorto-vos
a que deis provas de amor para com ele. ”
II Coríntios 2:7-8

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A depressão altera o modo como nos sentimos em relação a nos


mesmos. Ela nos faz pensar que deveríamos ser capazes de sair das
dificuldades, nos faz sentir culpados por estarmos mal, sobretudo
usando aparentemente não ha uma razão para isso. Quando estamos
deprimidos, nos deixamos consumir por uma tristeza excessiva que
distorce nossa percepção de nos mesmos. A depressão nos faz sentir
desvalorizados.
O sentimento de desvalorização surge de muitas maneiras quando
estamos deprimidos. Pode se manifestar quando nos sentimos imprestáveis
e improdutivos; ou quando não nos sentimos capazes de
realizar as coisas com o nível de qualidade que achamos que deveríamos
alcançar; e quando temos a impressão de que ninguém da valor
ao que fazemos, que ninguém se importa conosco.
A depressão nos faz sentir desvalorizados .
Tom e um rapaz simpático, cheio de energia, um executivo bem-sucedido
na empresa onde trabalha. Seu chefe o trata bem, todos o respeitam,
e a maioria de seus funcionários diz que aprende muito com ele.
Embora não pareça, Tom e um pouco deprimido. Ele sofre do que
se denomina de “depressão sorridente”. Ele olha para você com um
sorriso plastificado no rosto e diz que esta “tudo bem”, mas, por alguma
razão, não e convincente. Tom esta quase sempre ansioso, com
a sensação de que tudo o que faz não tem importância.
- Outro dia li o livro de um psicólogo que fala sobre assumir o
controle da própria vida - comentou assim que começamos uma sessão.
- Ele diz que se eu começara fazer afir-
mações positivas para mim
mesmo todos os dias posso melhorar minha autoestima.
- Você já experimentou? - perguntei.
~Já - respondeu. - Mas não melhorei grande coisa. Quem sabe
vale a pena insistir? - disse, com a voz embargada.
Mas não adiantou nada, porque Tom tinha um grave problema
com sua auto

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O tipo de tristeza que Tom estava combatendo não seria modificado


se ele fizesse melhor as coisas. Para curar a tristeza ele precisava
se sentir amado pelo que era como pessoa. Antes de mais nada,
precisava tomar consciência do próprio valor e se aceitar, tanto com
seus aspectos positivos quanto com suas imperfeições. Da mesma
forma que ele se concentrava apenas em suas falhas, tinha a sensação
de nunca corresponder as expectativas dos outros. será que alguém
gostaria dele se não alcançasse altos níveis de excelência?
O sentimento de desvalorização e um dos aspectos mais debilitantes
da depressão. Causa uma tristeza profunda e destrutiva. Na terapia,
Tom foi descobrindo que se conseguisse falar de sua tristeza comigo,
e nos dois juntos tentássemos entende-la, isso o faria se sentir um
pouco melhor consigo mesmo. Se, mesmo no seu pior momento,
ainda conseguimos encontrar algo de bom na maneira como ele se
sentia em relação a sua vida, talvez ele tivesse mesmo algum valor. Ser
ouvido com afeto e interesse, ter liberdade para expressar seus sentimentos
mais íntimos sem medo de ser rejeitado, tudo isso foi fazendo
com que Tom assumisse seu próprio valor.
Ha uma diferença entre se sentir útil e se sentir valorizado. Nossa
identidade depende dessas duas coisas. Nos sentimos reconhecidos
pelas contribuições que trazemos, o que nos faz sentir uteis.
Mas também precisamos nos sentir amados apenas pelo que somos.
A Bíblia ensina que o melhor tratamento para alguém que esta “absorvido
por tristeza excessiva” é “dar provas de amor para com ele”.
Isso faz com que a pessoa se sinta valorizada. Deus sabe que ha momentos
em que somos oprimidos pela tristeza excessiva. E o consolo
não vira do nosso bom desempenho, mas de sermos amado
pelo que somos.

SOLIDAO
“Minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo.”
Mateus 26:38

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Jesus se sentiu só. Ha uma diferença perturbadora entre estar só e


se sentir só. A solidão e uma sensação dolorosa que nos deixa desalentados.
Ser capaz de ficar sozinho e se sentir bem e ótimo. Mas se
sentir só pode ser angustiante.
A capacidade de ficar sozinhos em paz decorre do quanto nos sentimos
seguros de nos mesmos e de como desenvolvemos essa segurança.
Se você consegue ficar sozinho e se sentir bem, provavelmente gosta da
pessoa que lhe faz companhia: você mesmo. No entanto, depois de algum
tempo a solidão nos estimula a buscar pessoas para nos relacionarmos.
Ela nos lembra que, embora estar na própria companhia seja bom, não
fomos criados para viver sós a vida inteira. Nossa solidão nos adverte de
que somos seres relacionais. Assim como Jesus, as vezes nos sentimos tão
sós que temos de dizer aos outros: “Permanecei aqui e vigiai comigo. ”

A capacidade de ficar sozinhos em paz decorre do


quanto nos sentimos seguros de nos mesmos .

- Eu detesto comer sozinha em casa - queixou-se Kathy. - Prefiro


mil vezes comer em um restaurante do que ficar em casa.
- O que significa para você comer sozinha? - perguntei.
Kathy levou alguns minutos para responder. Depois murmurou:
- Significa que sou uma perdedora.
- Como assim? - procurei saber.
- Todas as pessoas normais tem alguém na vida, menos eu. Por
que todo mundo encontra um par e eu não consigo manter um
relacionamento?
Comer sozinha em casa me deixa angustiada - disse
Kathy, olhando para os pés.
Na verdade, Kathy gostava de ficar sozinha as vezes. Planejava viajar
sozinha, frequentava restaurantes divertidos sozinha, ia a museus
e achava agradável fazer caminhadas na praia sozinha. Se Kathy não
se sentisse só, ficar sozinha era bom.
Mas não e ficar sozinho que nos da a sensação de solidão. Na verdade
podemos nos sentir sós em meio a uma multidão. E o senti
mento

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mento de solidão pode variar de um mero desconforto a uma sensação


muito dolorosa. Para Kathy, a solidão se tornou dolorosa pelo
modo como ela via a si mesma. Quando se sentia só, ela também se
sentia incapaz de atrair o amor.
Kathy tinha medo da solidão, e medo e amor não combinam. Quando
se sentia só em casa, achava que havia algo errado com ela. Pensava, “Eu
deveria estar casada” ou “Eu deveria ter mais amigos”, e começava a
duvidar que alguém realmente a amasse ou pudesse ama-la.
Kathy acabou descobrindo que seu maior problema com a solidão
era o medo de que ela representasse algo ruim. Explorar esse medo de
diferentes ângulos a ajudou. Ela ainda tem algumas duvidas, porem
não presume mais que se sentir só significa que não seja capaz de cativar
alguém. Não gosta de se sentir só, mas isso já não a perturba
tanto. Como não teme tanto a solidão, esta sendo capaz de procurar
os amigos e se aproximar das pessoas com naturalidade.
Ficar sozinho e ate mesmo sentir solidão pode ser bom. São ocasiões
em que temos a oportunidade de contemplar e refletir mais profundamente
para organizar nossas ideias e sentimentos. Sentir-se só
pode ser um sinal de que precisamos nos aproximar dos outros para
entremear o convívio com os momentos de pausa em que usufruímos
de nossa própria companhia. Ate Jesus teve momentos de esmagadora
solidão que o fizeram buscar a companhia dos amigos. Sua solidão
pode fazer o mesmo por você.

IDEIAS SUICIDAS

“Por que não morri eu em teu lugar?... ”


II Samuel 19:1

As ideias suicidas acometem pessoas afetadas pela depressão clinica.


E fundamental saber que a depressão e capaz de provocar pensamentos
autodestrutivos. Esse estado pode levar pessoas que não querem realmente
morrer a achar que o suicídio e a solução para seus problemas.

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Uma grave depressão desencadeia a perda do prazer por quase tudo


na vida. Tudo parece negativo, e você se sente impotente diante das
situações.
Essa perda de controle sobre a sua felicidade pode fazer com
que a ideia de tirar a própria vida surja em sua mente. Tragicamente,
milhares de pessoas pensam que o suicídio seria uma forma de assumir
o controle sobre suas vidas.

Ideias suicidas são uma tentativa equivocada de adquirir


controle sobre um a vida de sofrimento .

Amy me procurou para a terapia depois de muitos anos sofrendo de


depressão. Ela consultara vários terapeutas, mas nenhum conseguiu
ajuda-la muito. Amy era introvertida e tinha poucos amigos. Nunca
vivera um namoro mais firme e também não havia conseguido progredir
na carreira. Amy pensava que o mundo ficaria melhor sem ela.
- Me senti muito mal neste fim de semana - murmurou no inicio
de uma de nossas sessões. O cabelo lhe cobria o rosto e ela beliscava as
costas da mão sobre o colo.
- Estava deprimida - falei.
- Sim - respondeu sem me olhar.
- Pensou em se ferir? - perguntei calmamente. Eu sabia que e melhor
perguntar diretamente sobre esses pensamentos.
- Sim - ela disse novamente.
- O que você fez? - perguntei.
- Fui para o hotel. Aquele que você já sabe - respondeu francamente.
~ Tomou seus remédios? - indaguei.
- Estavam comigo, mas não tomei - respondeu, dessa vez me
olhando por entre os fios de cabelo que lhe caiam sobre a face.
- Estou contente. Respeitou nosso acordo - falei agradecido.
~ E verdade. Prometi que telefonaria primeiro para você se fosse
toma-los. E, como não queria ter que ligar para você, não tomei nada
~ disse ela.

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- Que bom. Estamos juntos nisso, e fico contente porque você esta
mantendo nosso acordo - disse-lhe levemente aliviado.
Infelizmente, esse era um dialogo comum nos primeiros meses
de terapia. Amy se sentia quase sem controle sobre sua vida. Tinha
pouquíssimas lembranças de momentos felizes ou de bons relacionamentos.
Na infância, Amy tivera a impressão de ser apenas um
objeto a ser usado pelos outros e descartado quando não interessava
mais. Para ela, o suicídio era a solução logica para uma vida de impotência.
Poderia controlar a dor interna, acabando com ela de uma
vez por todas. Em seu raciocínio depressivo e distorcido, o controle
psicológico era mais importante do que a sobrevivência física. Ela
queria ter a ultima palavra sobre sua vida. Queria ter um mínimo
de controle.
No decorrer de muitos meses de psicoterapia e de uso de alguns
potentes antidepressivos, Amy parou de ir para o hotel onde planejava
se matar. Com o passar do tempo as ideias suicidas foram
esmaecendo, e Amy passou a se sentir melhor. Ainda ficava deprimida,
mas recorria a outras opções. Uma delas era me falar sobre
seus sentimentos dolorosos e, juntos, tentarmos entende-los. Contar
com alguém para compreender os nossos sentimentos alivia e ajuda.
Amy aprendeu que havia maneiras muito mais produtivas de lidar
com a dor e controlar a vida. Ela precisava desesperadamente dessa
sensação de controle para sobreviver.
Ideias suicidas são frequentes em pessoas que sofrem de depressão
grave. E uma tentativa equivocada de adquirir controle sobre
uma vida de sofrimento. Felizmente, existem outras opções. Deus
nos ofereceu muitos outros recursos, como a possibilidade de encontrar
alivio e conforto conversando sobre a nossa dor com alguém
em quem confiamos. Se você já teve pensamentos suicidas,
deve saber que e a depressão que nos leva a considerar a m horte como
opção para o sofrimento. Essa porem e a pior das escolhas. Talvez
seja difícil aceitar isso quando se esta deprimido, mas tenha certeza
de que você pode ser ajudado.

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100

ISOLAMENTO
“Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. ”
Lucas 22:43

Em um dos momentos mais difíceis de sua vida, Jesus estava tão


triste com o que ia acontecer que implorou a Deus: “Afasta de mim
este cálice. ” Mas, mesmo torturado e deprimido, decidiu aceitar a
vontade de Deus para ele. E então aconteceu um fato muito interessante.
Deus enviou um anjo do céu para confortá-lo.
Nem o Filho de Deus tentou se erguer sozinho de uma grave depressão.
Ele buscou ajuda e a obteve. Curiosamente a ajuda que recebeu
não era o que ele suplicara: “Afasta de mim este cálice. “Esta e
provavelmente a m esma oração que muitos de nos fazemos quando
estamos nos sentindo mal. Você provavelmente já implorou algo
assim: “Estou sofrendo. Por favor, meu Deus, afaste esse sofrimento
de mim.” Mas, assim como fez com Jesus, Deus talvez não tenha
tirado você daquela situação, mas lhe deu forca para atravessa-la.
Muitas vezes, no meio de muita dor, e difícil aceitar esse tipo de
ajuda, porque o que queremos e nos livrar do problema.

Deus não fez desaparecer o motivo da dor de Jesus,


mas enviou um anjo para confortá-lo.

Gloria detestava se sentir triste o tempo todo. Apesar de saber que isso a
afastava das outras pessoas, parecia não conseguir evitar. Procurava pensar
de forma positiva, mas lutava contra seu abatimento havia muitos anos.
- Tenho um problema com minha autoestima - disse-me em uma
sessão. - Eu não gosto de mim mesma.
~ Então se você se amar vai se sentir melhor? - indaguei.
- Isso mesmo. Só preciso que você me diga como me amar. Se você
Pudesse me aconselhar, mostrando-me o que estou fazendo de errado>
eu seria capaz de mudar - disse ela.

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101

Gloria se sentia mal com ela mesma e não queria que ninguém
percebesse. Quando era magoada, tentava ocultar seus sentimentos
e resolver a magoa sozinha. As vezes, ficava tão abatida que não conseguia
sair da cama por vários dias. Trancava-se em casa e chorava
dias seguidos. Seu grande erro era que, ao ficar triste, ela se isolava.
Apos vários meses de terapia, Gloria começou a melhorar. Sua tristeza
não dura tanto tempo, nem e tão profunda como antes. Gloria esta
fazendo algo novo em sua vida: parou de se isolar. No principio não foi
fácil, mas ela foi percebendo que quando fala sobre suas emoções
dolorosas
com alguém em quem confia se sente melhor. O contato com uma
pessoa que compreende a profundidade de sua dor e a ajuda a organizar
seus sentimentos lhe traz conforto. Em nossas sessões ela vai recuperando
lembranças e sensações que precisam ser mais bem compreendidas.
Tristeza e depressão podem levar ao isolamento. Como se sente
mal, você acha que os outros não vão querer sua companhia. E verdade
que algumas pessoas não se interessam em saber da nossa tristeza,
provavelmente porque não querem ser lembradas das próprias
tristezas. Mas certamente não e verdade que o isolamento seja uma
boa opção quando se esta triste.
Da próxima vez em que você estiver muito triste e implorar para
que Deus o ajude em sua dor, lembre-se do que Ele fez com Jesus.
Deus não fez desaparecer o motivo da dor, mas enviou um anjo para
conforta-lo. Olhe com atenção para as pessoas que o cercam. Você
certamente encontrara um anjo disfarçado.

CHORAR É M ELHOR DO QUE R IR


“Mais vale o desgosto do que o riso, pois se pode ter a
face triste e o coração alegre. ”
Eclesiastes 7:3

Todo mundo adora rir. Rir nos deixa mais leves e nos ajuda a desfrutar
a vida. Mas ha momentos em que o riso e usado para esconder

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102

sentimentos penosos e difíceis de encarar. Podemos ser mais sinceros


com nos mesmos quando estamos tristes. E difícil para algumas pessoas
aceitar isso, mas as vezes mais vale o desgosto do que o riso.
P o d em o s ser mais sinceros c om n o s
m e sem os quando estamos tristes.
David e um empresário bem-sucedido e um marido amoroso. Foi
adotado quando era menino e sente muita gratidão pela vida que os
pais lhe proporcionaram. Abriu seu próprio negocio e se empenha para
prestar o melhor serviço possível. David decidiu procurar a terapia para
uma “regulagem”. Entrou no consultório para nossa primeira sessão
com um sorriso no rosto. Ele e alto, simpático e tem boa aparência.
- Como vai, David? - perguntei enquanto nos sentávamos.
- Estou bem - respondeu alegremente.
- Isso e bom. Então, diga-me por que esta aqui - sondei.
- Veja só, eu sou como uma Ferrari. Tenho um motor de alta qualidade
que precisa de uma regulagem para continuar funcionando na
capacidade máxima - respondeu, inclinando sua poltrona. - Toda
Ferrari precisa de um bom mecânico.
Eu sabia desde o principio que minhas sessões com David não seriam
fáceis. Não porque ele fosse uma pessoa difícil - muito pelo contrario.
Parecia sempre feliz, contava piadas e se apressava em minimizar
qualquer problema que surgisse. Mas fui percebendo aos poucos
que David nem sempre era sincero com ele mesmo a respeito de seus
reais sentimentos. Ele sofria de um mal que observo nos homens hoje
em dia: a incapacidade de falar sobre a tristeza. Isso dificulta meu trabalho
na terapia.
Com o passar do tempo, David foi confiando mais em mim.
Eu me alegrava com seus êxitos, mas, ao contrario de todos em
Sua a vida, estava interessado em algo além da ultima piada (que
Sempre me fazia morrer de rir) ou do seu sucesso. Eu me preou-
pava com as coisas que o deixavam triste. Apesar da dificuldade,

103

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David acabaria chegando as áreas dolorosas de sua vida sobre


as quais nunca falara com ninguém. Ai a verdadeira terapia iria
começar.
David esta diferente agora. Já não bebe tanto quanto antes, não
se irrita quando fica frustrado, e sua esposa diz que se sente muito
mais próxima do marido. Ele não tinha grandes problemas. Sua vida
mudou porque ele confia em alguém para expressar sua tristeza. Em
alguns momentos de nossas sessões surge uma lembrança ou um
sentimento ocorrido na infância, e ele chora copiosamente durante
vários minutos. Continua uma pessoa alegre, mas compreende como
esses antigos sentimentos de dor ainda o afetam. Ao se dispor a enfrentar
a tristeza em sua vida, aprendendo a lidar com ela, David esta
se humanizando.
A tristeza não e totalmente ruim. As vezes e o sentimento mais
apropriado em certas circunstancias. E ha momentos em que e o
único capaz de nos colocar num estado mental que permite que nos
compreendamos melhor. Não tenha medo de ficar triste. Se aceitar a
tristeza, você conseguira captar alguns dos mais profundos significados
de sua vida. Se tiver a coragem de encara-la de frente, vera que as
vezes mais vale o desgosto do que o riso.

Quando você esta triste, consegue captar alguns


dos mais profundos significados de sua vida.

AS COISAS QUE APRENDEMOS COM A TRISTEZA


“Muita sabedoria, muito desgosto; quanto mais conhecimento, mais
sofrimento.”
Eclesiastes 1:18

Rhonda rejeitava a terapia porque achava que os terapeutas colocavam


sempre a culpa dos problemas nas maos dos pacientes. Ela estava
convencida de que tivera uma infância maravilhosa. Bisbilhotar

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o passado seria uma perda de tempo, além de um grande insulto a


mãe amada que a criara.
Mas, mesmo assim, Rhonda me procurou por causa de uma ansiedade
que a incomodava e da qual não conseguia se livrar. Tinha
pesadelos e ficava insegura em certas situações sociais, especialmente
com homens, o que atrapalhava a sua vida. Queria saber como lidar
com seus problemas, mas sem por a culpa de tudo na mãe.
-Tive uma infância maravilhosa. Eu amava minha mãe e respeitava
meu pai. Não tenho nada a falar sobre a infância e acho que podemos
ir direto para meus problemas atuais - anunciou na primeira sessão.
- E bom ver que você teve uma família amorosa - comentei. - Eu
teria algumas perguntas a respeito da sua criação, mas por enquanto e
bom saber que você cresceu se sentindo acolhida por seus pais.
- Sim, eu era muito chegada a minha mãe. Meu pai ficava fora a
maior parte do tempo, mas aprendi a respeita-lo por sustentar nossa
família - continuou Ronda, agora com uma certa tensão na voz.
- Então você era mais chegada a sua mãe? - perguntei.
- Com certeza, mas isso e normal. No meu tempo, as maos criavam
os filhos e os pais iam trabalhar. Tudo era normal em nossa casa -
disse convicta. Mas eu fiquei me perguntando se ela estava tentando
convencer a mim ou a si mesma.
Depois de vários meses de resistência, Rhonda e eu começamos
a compreender algumas coisas muito proveitosas a seu respeito. Ela
descobriu que sua ansiedade em relação aos homens tinha algo a ver
com sua mãe. Como o pai estava sempre ausente, a mãe muitas vezes
buscava na filha companhia e apoio emocional. Apesar de lisonjeada
por ter esse papel especial na vida da mãe, Rhonda também sentia o
Peso da responsabilidade. Crianças ficam ansiosas quando são responsáveis
pelo bem-estar emocional dos pais. Esta e uma tarefa para
outro adulto, não para uma criança.
Finalmente percebemos que por causa de sua relação com a mãe
Rhonda tinha medo de que um relacionamento intimo com um homem
Se tornasse outra responsabilidade emocional que ela não conseguiria

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105

atender. Amava sua mãe e era leal a ela, mas não tinha sido capaz de
faze-la feliz. Por isso se sentia fracassada, o que a deixava muito ansiosa
todas as vezes que se envolvia com um homem. Num nível inconsciente,
tinha medo de não conseguir fazer alguém feliz, e a ideia de
iniciar um relacionamento com um homem parecia um fardo.

Queremos entender como seus pais falharam com você, não


para culpá-los, mas para descobrir as origens de seus problemas e
ajudá-lo a assumir a responsabilidade por eles agora.

Demoramos um pouco para chegar a essa conclusão, mas, quando


conseguimos, dois fatos aconteceram na vida de Rhonda. Primeiro,
ficou menos ansiosa em relação aos homens. Ao perceber que era a
mãe quem ela temia desapontar, abriu-se a possibilidade de que um
relacionamento intimo com um homem pudesse ser diferente. Isso lhe
deu um grande alivio. Segundo, Rhonda se deu conta de que o
relacionamento com os pais lhe causara uma profunda tristeza por causa
das ausências do pai e por se sentir responsável por cuidar da mãe no lugar
dele. Ela não os culpava, mas ficou triste ao constatar que sua infância
não tinha sido tão formidável quanto pensara. Ao falar sobre toda a
tristeza que havia experimentado, tomou consciência de que era
responsável apenas por resolver sua própria tristeza, e não a de sua mãe.
Rhonda não estava totalmente errada a respeito dos terapeutas,
pelo menos em relação a mim. Realmente queremos entender como
seus pais afetaram você na infância, não para culpa-los, mas para descobrir
as origens dos seus problemas e ajuda-lo a assumir a responsabilidade
por eles na idade adulta. A meta da terapia e a sabedoria. Mas,
como diz a Bíblia, muita sabedoria, muito desgosto. Nem a Bíblia nem
a terapia podem eliminar a tristeza de sua vida, mas ambas podem
ajuda-lo a encontrar a sabedoria necessária para lidar com ela.

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106

CAPITULO5

Culpa & vergonha

A DIFERENCA ENTRE CULPA E VERGONHA


“Eu te celebro por tanto prodígio, e me maravilho
com as tuas maravilhas!”
Salmo 139:14

Culpa e o sentimento desconfortável que emerge quando nos comportamos


mal. Esta ligada ao que fazemos. Fomos longe demais e
agora nos sentimos mal pelo que fizemos. Vergonha e a sensação que
surge quando não correspondemos ao que pensamos que deveríamos
ser. Esta ligada ao que somos.
A culpa pode desempenhar um papel importante em sua felicidade.
Deus fez com que certos comportamentos nos causassem desconforto
para que os revíssemos e reparássemos os danos decorrentes
deles. Mas a vergonha e um sofrimento que emerge por duvidarmos
do nosso próprio valor. A vergonha nos faz sentir defeituosos. Isso
não corresponde ao que a Bíblia nos diz quando fala de nossos prodígios
e maravilhas. A culpa pode ajudar a nos tornarmos a pessoa maravilhosa
que Deus criou, enquanto que a vergonha nos faz duvidar
de nos mesmos.

Culpa é o sentimento desconfortável que emerge quando


fazemos algo que não deveríamos ter feito. Vergonha é a
sensação que surge quando não correspondemos
ao que pensamos que deveríamos ser.

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A esposa de Ian o abandonou depois de seis anos de casamento


e ficou com a guarda integral dos dois filhos. Ele vê as crianças em
finais de semana alternados e procura ser o melhor pai possível. Ian
veio para a terapia porque não entendia o motivo que levara sua esposa
a pedir o divorcio e porque não conseguia achar graça na vida.
- Eu era fiel, sustentava a família, nunca aborrecia m incha mulher e
procurava ser um bom pai - lamentou Ian.
- Não parece justo - falei.
- A vida não e justa - ele retrucou - Sei disso. Ela queria comprar
uma casa nova, mas eu não achei importante. Acho que foi um erro
ter ficado tão preocupado com as finanças.
- Você esta se sentindo muito culpado - comentei.
- Claro! - disse Ian irritado. - Ela ainda estaria comigo hoje se eu
tivesse comprado a casa.
- Então você acha que deixar de comprar a casa foi o motivo do
rompimento? - perguntei.
- Tenho certeza. Essa era a única coisa que a deixava m oito chateada
- concluiu exasperado.
Ian se sentia culpado pelo fracasso de seu casamento. Apontava
coisas especificas que deveria ter feito de outro jeito. A maior parte
do tempo se referia a casa que não comprara, mas de vez em quando
mencionava as discussões por causa de dinheiro ou porque ele passava
os sábados jogando golfe. Os motivos variavam, mas Ian estava
absolutamente convencido de que cometera muitos erros em seu
casamento.
Esta e a essência do sentimento de culpa: estar convicto de
ter feito algo errado e precisar pagar por isso.
No entanto, a medida que a terapia avançava, descobrimos que o
problema de Ian ia além da culpa. Havia algo mais profundo e doloroso
que ele não queria encarar. O que Ian realmente sentia não era
o que deixara de fazer para sua ex-mulher. Era o fato de não ser bom
para ela. Se o problema fosse apenas o que ele não fizera, seria uma
questão de mudar. Mas sendo o que ele era ficava mais complicado.
Ian estava lutando contra a vergonha.

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A vergonha e geralmente mais difícil de resolver do que a culpa.


Se confundimos vergonha com culpa, ficamos paralisados. Porque,
se nos sentimos culpados em relação a algo que cometemos, podemos
pedir perdão e reparar o prejuízo causado. Mas, se temos duvida
quanto ao nosso próprio valor, o melhor que podemos fazer e procurar
uma terapia. Ian e eu descobrimos que, por mais duro e doloroso
que fosse, era absolutamente necessário descobrir a origem da vergonha
que ele sentia e aprender a lidar com ela.
Hoje, Ian não se refere a ex-mulher como “aquela que foi embora”.
Depois de vários meses de terapia, consegue ver que o problema não
era a compra da casa. De vez em quando ainda tem duvidas e se sente
culpado por muitas coisas, mas a grande descoberta e que ele pode
sentir-se culpado em relação a algumas coisas de seu passado, sem ter
vergonha de si mesmo. Sabe que não e perfeito, mas esta disposto a
olhar honestamente para seus defeitos, aceita-los e procurar supera-los
para crescer.
Falar honestamente sobre seus sentimentos na terapia ajudou Ian
a lidar com a vergonha. Ele ainda se sente mal por causa do divorcio,
mas sabe que isso não significa que ele seja mau. Gosto de pensar
que ele acredita que, apesar de seus defeitos, pode se alegrar com seus
prodígios e maravilhas.

CULPA COM ARREPENDIMENTO

Com efeito, a tristeza, segundo Deus, produz arrependimento


que leva à salvação e não volta atrás, ao passo que a tristeza,
segundo o mundo, produz a morte. ”
II Coríntios 7:10

Existem duas formas básicas de culpa: a culpa baseada no amor


e a culpa baseada no medo. A primeira e a sensação desconfortável
que experimentamos quando agimos mal. Ela nos leva a não querer
repetir o erro. A segunda e a sensação desconfortável produzida pelo

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temor de sermos punidos. A culpa baseada no amor resulta de desejarmos


o bem do outro. A culpa fundamentada no medo ressalta o
que temos de pior.
A culpa que vem do medo e raramente proveitosa. Em vez de restaurar
laços rompidos, ela apenas nos protege da vingança que tememos
merecer. Esse tipo de culpa perdura por muito tempo e raramente
tem solução. E um modo de autopunição que não resolve
nada.

A culpa baseada no amor resulta de desejarmos o bem do outro. A


culpa fundamentada no medo ressalta o que temos de pior.

Maria e uma senhora dedicada e humilde. Procura sempre ajudar


os outros e trabalha ativamente na igreja. Sua infância foi tranquila, e
ela se orgulha de manter os mais elevados padrões morais.
Apesar disso, Maria se sente frequentemente mal. Apesar de se dedicar
muito, sempre acha que poderia ter feito melhor. Evita que os
outros percebam, mas fica ressentida com facilidade. Sente-se criticada
e acha que seus esforços para ajudar não são reconhecidos. Seu
versículo favorito e “como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim
também é morta a fé sem as obras”. Essa e a razão pela qual se esforça
tanto para ser generosa.
- E difícil ser crista - ela m e disse. - Se eu não fosse crista, poderia
fazer o que quisesse. Mas sei que Deus esta me vendo e não quero
que Ele se desaponte com m eu comportamento. Confesso meus pecados
diariamente para Ele, mas não sinto que isso seja suficiente. Se eu
morrer esta noite, não sei se iria para o céu. - Maria vive com medo
do castigo.
Por fim, Maria percebeu algo muito importante: ela não estava de
fato procurando ser boa, mas evitando ser má. Nunca ficava inteiramente
em paz porque, em vez de buscar a satisfação, se empenhava
em evitar as sensações desagradáveis causadas pelo fracasso. Maria
se sentia culpada por medo, o que paralisa e não faz crescer. Deus

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arrependimento.
Maria passara a vida remoendo remorsos, e isso não a ajudava
a mudar.
Maria ainda luta com a culpa, mas agora procura atribuir menos
importância ao medo e as falhas, valorizando mais seus esforços para
restaurar seu relacionamento com Deus e com as outras pessoas.
Quando se sente culpada, não fica pensando no que fez de errado,
mas no que pode fazer para acertar da próxima vez. Para ela, a culpa
e um indicador de que precisa pedir desculpas a quem ofendeu para
reatar o relacionamento. Ficar remoendo as culpas não e construtivo.
Curar as feridas causadas por nossos atos e um movimento de amor.

HUMILDADE

“Não tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que convém, mas


uma justa estima, ditada pela sabedoria, de acordo com a medida da fé .”
Romanos 12:3

Certas pessoas confundem humildade com baixa autoestima. Não


se sacrificam por amor ao outro, se sacrificam por falta de amor-próprio.
Deus não quer que as pessoas vivam dessa maneira.
A Bíblia não nos diz para nos considerarmos melhores do que os
outros, nem para nos vermos com descaso. O apostolo Paulo nos ensina
a ter de nos mesmos uma justa estima. Em termos psicológicos,
isso significa ter uma visão clara de nossos pontos fortes e fracos. Essa
visão serena nos da condições de servir aos outros de um modo saudável
e amoroso.

A definição bíblica de humildade é ver a si mesmo com


justa estima e servir aos outros por amor.

Patrícia e uma crista comprometida, esposa fiel, mãe devotada


e duas crianças e membro atuante de sua igreja. Ela se sacrifica e

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trabalha com afinco pelos outros. Seu lema na vida e que a alegria
consiste em colocar Jesus em primeiro lugar, depois os outros, e por
ultimo ela mesma. Ela considera que se colocar em ultimo lugar e
ser humilde.
Embora se declare cheia de alegria por ser crista, no intimo,
Patrícia se sente muito triste. A verdade e que ela não se coloca em
ultimo lugar por achar que e a melhor escolha, mas porque acredita
que nunca merece ser a primeira. Ela homenageia os outros porque
não crê que merreca ser homenageada.
Patrícia confunde humildade com vergonha. Ela ama a Deus, mas
no fundo não acha que merreca Seu amor em troca. A maior parte
do tempo se sente em falta e apenas espera que Ele a perdoe e a livre
da condenação. Patrícia se acha moralmente defeituosa e incapaz de
viver de acordo com o que considera os padrões divinos. Não esta
em busca de uma vida alegre. Esta tentando escapar do incomodo de
uma vida vergonhosa.
Depois de alguns meses de terapia, Patrícia começa a distinguir
vergonha de humildade. Ela já consegue notar que humildade não
implica se depreciar. Ao falar de sua infância e de como sempre se
sentiu um peso para sua mãe, um fato interessante começou a acontecer.
Esta percebendo que costumava se colocar em ultimo lugar por
medo, não por virtude. Esta descoberta a fez gradativamente mudar
de atitude. Quando escolhe dar prioridade aos outros, na maioria das
vezes ela o faz por amor.
Patrícia se colocava em ultimo lugar porque, quando criança, receava
chamar a atenção sobre si mesma. Sua mãe estava sobrecarregada
com a criação de seis filhos, fazendo com que a filha sentisse que
suas necessidades e sentimentos a sobrecarregavam. A menina então
aprendeu a se calar sobre suas carências e a considerar seus sentimentos
insignificantes. Isso progrediu, e ela passou a se ver como insignificante.
A terapia a fez descobrir que sua definição de humildade não
havia sido extraída da Bíblia, mas de sua relação com a mãe. A definição
bíblica de humildade e ver a si mesmo com justa estima e servir

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aos outros por amor. Ao tomar consciência disso, Patrícia passou a


ter uma nova visão de si mesma.
Patrícia ainda gosta muito de se dedicar aos outros, mas seus motivos
agora são diferentes. Em vez de motivada por uma baixíssima
autoestima, ela tem uma justa estima e sente que esta presenteando
as pessoas ao mostrar seu amor por elas.

A VERDADEIRA AUTO-ESTIMA

“Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis
lavar-vos os pés uns aos outros. ”
Joao 13:14

O oposto da vergonha e a autoestima. Surge quando reconhecemos


nosso valor e nossas qualidades. Com a verdadeira autoestima,
nos nos libertamos do egocentrismo e conseguimos nos voltar para os
outros e aprecia-los. A verdadeira autoestima e sinal de maturidade
psicológica.
Os psicólogos descobriram um fato interessante acerca da autoestima.
Se nos sentirmos bem em relação a nos mesmos, temos
energia para considerar o bem dos outros. Eles apontaram alguns
homens e mulheres que, segundo eles, atingiram a maturidade
moral. Pessoas como Jesus, Gandhi e Madre Teresa compõem a
lista. Embora sendo pessoas de extraordinária qualidade, não agiram
como se fossem superiores aos outros e viveram de forma extremamente
generosa e dedicada.

Com a verdadeira autoestima, nós nos libertamos do egocentrismo


e conseguimos nos voltar para os outros e apreciá-los.

O Dr. Lee Edward Travis, um renomado psicólogo do século passado,


era decano fundador da faculdade onde me formei. Foi ele o
Primeiro cientista nos Estados Unidos a medir as ondas cerebrais.

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113

Quando o conheci, o Dr. Travis estava com cerca de 80 anos, mas era
tão ativo e interessante que achei proveitoso participar de um seminário
conduzido por ele.
Desfrutei muito esse tempo que passei com o Dr. Travis. Ele era uma
pessoa culta e instigante e nos fazia refletir sobre questões inusitadas.
Dele recebi uma lição importante sobre a verdadeira auto-estima. Vi
em seu gabinete um retrato em que o Dr. Travis estava ao lado de dois
homens. Perguntei a um colega quem eles eram e, para minha surpresa,
fiquei sabendo que se tratava de dois ganhadores do Premio Nobel. O
colega acrescentou: “O Dr. Travis tem amigos no Olimpo.”
Fiquei aturdido. Eu convivera durante algum tempo com um
homem que conhecia pessoalmente ganhadores do Premio Nobel da
Paz e nunca mencionara isso. Fiquei pensando em outros possíveis
aspectos especiais de sua vida que ele não via necessidade de contar.
Ao contrario, sempre que conversávamos, o Dr. Travis parecia interessado
em uma única coisa - em mim. Eu saia de cada aula com
aquele grande homem me sentindo importante pela maneira como
ele me tratava. Era uma pessoa que possuía a verdadeira autoestima.
Tinha consciência do próprio valor e se sentia tão bem com isso que
estava livre para dedicar sua atenção aos outros - mesmo a inexperientes
e imaturos alunos de faculdade. Foi então que percebi que estivera
na presença não apenas de um grande psicólogo, mas de um
grande homem.
Foi por meio de experiências como essa com o Dr. Travis que
desenvolvi um teste que nos ajuda a saber se estamos diante da verdadeira
ou da falsa autoestima. A pergunta e: “Como você se sente
em relação a você mesmo quando esta com determinada pessoa?”
Quando nos encontramos diante da verdadeira autoestima nos sentimos
encorajados e melhores. Mas, se a autoestima for falsa, nos
sentimos diminuídos e humilhados. Aqueles que possuem a verdadeira
autoestima tem um tipo de humildade que os liberta para se
dedicar aos outros. Eu tive a sorte de conhecer uma pessoa assim: o
Dr. Lee Edward Travis.

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A FALSA AUTO-ESTIMA

“Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e


quem se humilha será exaltado.”
Lucas 14:11

Você certamente já ouviu a expressão “Fulano e cheio de si”. E uma


ótima definição para a falsa autoestima. Ela se manifesta disfarçada
de confiança, mas quem a possui não e confiante - e arrogante. E
muito difícil lidar com a falsa autoestima, pois as pessoas que a possuem
são de um modo geral atraentes, inteligentes e bem-sucedidas
materialmente. Essa aparência nos confunde, pois o que vemos
superficialmente
e bem diferente daquilo que esta enterrado no intimo.
Exteriormente, a falsa autoestima declara ser forte, assertiva e no
controle de tudo. Mas, internamente, esta enraizada na vergonha e
na insegurança.
Como disse antes, a vergonha quer se esconder. No entanto, um
dos disfarces que ela usa e a falsa autoestima, que e capaz de atrair
muita atenção sobre si. Tanto pode se manifestar sob a forma de in
tolerância
e exigência quanto se sair bem em muitas situações. A falsa
autoestima e muitas vezes eficaz na realização de algumas tarefas
difíceis. Mas nunca consegue curar a vergonha e a insegurança que
estão em sua origem. Na melhor das hipóteses, pode apenas disfarça-las,
na esperança de que ninguém ira jamais notar.

Quem possui a falsa autoestima não é confiante - é arrogante.

Rachel veio para a terapia apos uma trajetória m meteórica em um


meio empresarial dominado por homens. Havia se formado em
uma renomada faculdade e fez seu mestrado em outra igualmente
famosa. Estava prestes a se tornar uma das principais executivas
do pais. Rachel precisava se sentir confiante e para isso procurou
a terapia.

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

115

- Só os fortes sobrevivem na minha área - anunciou.


- Parece desgastante ter de enfrentar essa competição - respondi.
- E verdade - ela disse implacável. - Eu nado no meio de tubarões.
Eles farejam a fraqueza como sangue na agua e devoram suas
vitimas. Eu não conseguiria chegar aonde cheguei se demonstrasse
fraqueza. Quando entro em uma reunião, tenho que acreditar que
sou a melhor pessoa na sala. Por isso sou bem-sucedida. Eu sei que
sou a melhor.
- Você teve de desenvolver uma carapaça para sobreviver nessas
aguas - eu disse.
- Ah, mas eu sou uma pessoa muito sensível. Só não deixo transparecer
porque os homens não respeitam mulheres sensíveis. Como eles
respeitam a forca, eu me mostro mais forte do que qualquer homem
a minha volta - falou com firmeza, olhando-me diretamente nos
olhos.
- Pelo visto, isso tem funcionado ate agora. Acho que esta aqui
para descobrir se pode aprender alguma coisa nova a respeito de si
mesma e para ter certeza de que vai continuar a ser bem-sucedida no
futuro - respondi. Ali, diante de mim, Rachel agia como “a pessoa
mais forte da sala”, mas eu sabia que ela precisaria se abrir para que a
terapia pudesse ajuda-la.
- Estou sempre aprendendo coisas novas e por isso estou aqui.
Preciso ficar na frente do bando - disse com brandura.
Observei-a, esperançoso de que algo proveitoso pudesse resultar
de nosso trabalho.
Rachel brigara e lutara para chegar ao topo. Era uma sobrevivente.
Por um lado, sua definição de confiança tinha funcionado. Acreditar
que era melhor do que os outros a levara longe em um ambiente
competitivo.
Mas essa mesma atitude, que ate então a servira tão bem,
agora parecia estar obstruindo o caminho que pretendia seguir.
Rachel não possuía uma verdadeira autoestima. Seus relacionamentos
pessoais confirmavam isso. Ela nunca tivera uma relação mais intima
com um homem. Estava cercada de sócios e colegas de trabalho,

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116

mas lhe faltavam amigos verdadeiros. Os homens a temiam. Sua falsa


autoestima servira para ajuda-la a se realizar no meio empresarial
competitivo, mas a estava prejudicando na vida pessoal.
Jim Collins e um consultor empresarial que reuniu uma equipe
de pesquisadores para estudar as empresas mais bem-sucedidas dos
Estados Unidos no decorrer dos últimos 100 anos. O grupo encontrou
28 empresas que mantiveram um nível de excelência durante 15
anos. Para surpresa de Collins e de sua equipe, eles constataram que
empresas realmente notáveis possuíam em sua direção lideres com
características inesperadas. As principais qualidades desses lideres
eram humildade e força de vontade. Nas empresas que fracassaram
depois de um sucesso inicial, os pesquisadores encontraram diretores-
presidentes
com “egos gigantescos” ou falsa autoestima. Eram arrogantes,
exibicionistas e adoravam aparecer na mídia. Por outro lado,
os lideres das empresas bem-sucedidas estavam determinados a fazer
o que fosse preciso para alcançar resultados de longo prazo, jamais
punham a culpa nos outros e se caracterizavam por uma “modéstia
persuasiva”. Eram lideres que possuíam a verdadeira autoestima.
Rachel tinha alguma coisa a aprender com Jim Collins. A falsa autoestima
oferece benefícios de curto prazo, mas pessoas realmente bem-sucedidas
constroem um sucesso duradouro a partir da autentica autoestima.
Egos gigantescos e sentimentos de superioridade não promovem
resultados a longo prazo. A verdadeira autoestima, sim.
Felizmente Rachel estava disposta a se conhecer melhor na terapia.
Com o passar do tempo, verificamos que sua autoestima não
fora realmente construída com base na confiança. Ela agora começa
a lidar com a própria insegurança. Para escapar de ser engolida pelos
tubarões que a cercavam, usava a arrogância e o ar de superioridade.
A medida que Rachel construir uma verdadeira autoestima, ela não
precisara mais deles.
Eu gostaria de dizer que a terapia causou em Rachel uma transformação
milagrosa. Mas não existem milagres e, nadando no meio
de tubarões, e impossível se sentir bastante segura para abrir mão

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

117

completamente das próprias defesas. Porem, ela esta progredindo.


Deixou de se preocupar tanto em ser melhor do que os outros, além
de investir para ser m melhor com ela mesma. Não precisa agir com
superioridade
e arrogância para compensar o medo de não ser forte o
bastante para sobreviver. Esta aprendendo o que Collins descobriu na
pesquisa: todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha
será exaltado. Ao contrario do que pensava antes, Rachel agora vê a
humildade como um sinal de forca e as vezes sua confiança silenciosa
fala mais alto do que o barulho de sua falsa autoestima. A autoestima
que Rachel esta desenvolvendo a ajudara a ser bem-sucedida em
todos os aspectos de sua vida.

A VERGONHA DE SER CARENTE

“Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir


os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para
confundir o que é forte. ”
I Coríntios 1:27

Ha alguns anos trabalhei como pastor evangélico em uma grande


universidade. Dedicava boa parte do meu tempo conversando sobre
Deus com os alunos e ouvindo-os falar de suas perspectivas de vida.
Foi quando conheci Ryan.
- A religião e uma muleta para pessoas que não conseguem lidar
com a vida - ele afirmou quando soube que eu era ministro evangélico.
- Você acha que depender de algo maior do que nos significa que
somos fracos? - indaguei.
- Somos fracos se tivermos de depender de um velho imaginário
no céu - zombou ele.
- E assim que você imagina Deus? - repliquei.
Embora nos dois percebêssemos a tensão em nosso dialogo, havia
na discussão uma espécie de afabilidade que a tornava positiva.

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- Não existe Deus - ele declarou. - Só podemos contar com nos


mesmos.
Ryan acreditava ser o mestre de seu próprio destino e achava tolice
depender dos outros. Crescera com um pai severo e uma mãe que estava
sempre muito ocupada para lhe dar atenção. Ryan acreditava na
autoconfiança, e ninguém iria convence-lo do contrario.
Apesar de Ryan volta e meia ser arrogante e insensível com os outros,
eu gostava dele. Era vivo, culto e buscava sinceramente entender
o significado da existência. Entretanto, enfrentava uma barreira para
conseguir levar uma vida realmente prazerosa: achava que depender
dos outros nos torna carentes. Felizmente, sua insatisfação com a vida
e sua ânsia por algo mais significativo faziam com que ele me procurasse
varias vezes para conversar.
Com o tempo, Ryan descobriu que decidira acreditar na autoconfiança
porque tinha vergonha de ser carente. Percebeu que seu
estilo de vida narcisista era na verdade uma couraça para se defender
de desejos íntimos que lhe causavam dor. Nunca conseguira
agradar seu pai, e sua mãe parecia não se importar com ele. Cedo na
vida descobriu que a grande defesa e o ataque. Como não conseguia
ter suas carências infantis satisfeitas, adotou a crença de que só as
pessoas dependentes tem carências. Por isso resolveu afirmar para
si mesmo que não precisava de ninguém. Seu egocentrismo não se
baseava em uma autoestima confiante - derivava de sua vergonha
camuflada.

Ele descobriu que decidira acreditar na autoconfiança


porque tinha vergonha de ser carente.

Finalmente, Ryan admitiu que sentia vergonha. Gastava muita


energia tentando convencer a si mesmo e a todos que estava bem do
jeito que era. Mas, assim que tomou consciência de que se sentia
envergonhado
e frágil por ter carências normais de amor e aceitação,
uma mudança ocorreu em sua vida. Resolveu investir nos relaciona

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

119

mentos. E o fato de que poderia existir um Deus maior do que ele já


não lhe parecia ruim, sobretudo se era um Deus amoroso.
Hoje em dia Ryan fala sobre Deus de um modo diferente. Ele ainda
discute, mas já admite que precisa dos outros. Consegue olhar suas
carências como naturais no ser humano. Ocultar sua vergonha tinha
gerado um modo de ser narcisista que o afastara dos outros. Pedir
perdão pela culpa de ter causado magoa nos relacionamentos o aproxima
de Deus e das pessoas que o cercam de m asneira significativa.
Ryan achava que estava sendo sábio e forte ao afirmar sua independência,
mas descobriu que “o que é loucura no mundo, Deus escolheu para
confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus escolheu
para confundir o que é forte”. Ter carências não nos faz dependentes.
Indica que fomos criados para sermos pessoas que precisam de Deus
e dos outros para se completarem. A crença de Ryan era que depender
de alguém e ridículo. Ele descobriu que as vezes admitir a fraqueza e a
necessidade de ajuda e na verdade o jeito mais corajoso de viver.

ÚTIL VERSUS VALIOSO

“Porque é amor que eu quero e não sacrifícios, conhecimento de Deus


mais do que holocaustos. ”
Oseias 6:6

Como já disse, a autoestima se baseia em duas coisas: se sentir


útil e se sentir valioso. Nos sentimos uteis quando somos reconhecidos
por nossas realizações e nosso desempenho. E nos sentimos
valiosos quando somos amados e aceitos por quem somos. As duas
experiências são importantes na vida, mas uma não substitui a outra.
Uma criança criada num lar acolhedor e amoroso poderá se sentir
valiosa na idade adulta, mesmo que não realize nada de importante
na vida. Porem, se ela for criada em um lar cheio de expectativas de
desempenho, mas com pouco amor, poderá se ver como uma pessoa
muito útil no m ondo, mas provavelmente não se sentira valiosa.

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120

Já que culpa e vergonha são distintas, a cura para cada uma e diferente.
Para tratarmos a culpa, temos de agir de forma diferente. Nos
nos comportamos mal e agora precisamos nos corrigir. Para eliminar
a vergonha, precisamos sentir que somos diferentes. Como algumas
pessoas usam a culpa para encobrir a vergonha, elas acham que a solução
e agir de forma diferente. Mas de nada adianta, porque continuam
a se sentir desvalorizadas.

A autoestima se baseia em duas coisas:


se sentir útil e se sentir valioso.

Diane era a filha predileta da casa. Era mais bonita e talentosa do


que sua irmã mais velha, e todos notavam isso. Saia-se bem na escola
e teve uma bem-sucedida carreira como decoradora antes de se casar
com um rico empresário. Tudo o que Diane fez deu certo.
Era desconcertante para Diane sentir a hostilidade da irmã. A ansiedade
e a culpa que isso lhe causava a trouxeram para a terapia em
busca de ajuda.
- Parece estranho estar aqui - falou, olhando para longe. - Sou
muito grata pela vida que tenho. E tento ser generosa com todo
mundo, especialmente com minha irmã e sua família. Mas ela continua
me hostilizando. Por mais que eu me esforce, parece que estou
sempre ofendendo-a. Será que eu sou tão horrível?
- Você se sente uma pessoa horrível? - perguntei.
- Não, acho que não. Mas tenho a impressão de que ela nunca foi
minha amiga. Diz que sou mimada e egoísta. Já fiz muito por ela, emprestei
dinheiro, tudo. Por mais que eu faca, nunca consigo satisfaze-
lá. Fico inteiramente perdida - lamentou.
- Parece que você tenta ser muito útil para
sua irmã - eu disse.
- Estou sempre pensando em como posso ajuda-la - falou com um
tom de protesto na voz.
- Da para ver. Mas esse e o seu problema. Você tem sido muito útil
para sua irmã, mas não a faz se sentir valorizada - falei suavemente.

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- Oh, meu Deus - Diane murmurou depois de pensar um pouco.


- Não tinha me dado conta disso.
O esforço de Diane para ajudar a irmã só provocava inveja e ressentimento.
Em vez de fazer com que a irmã se sentisse amada, a
ajuda material vinda de Diane a humilhava.
Diane finalmente percebeu que dar coisas para a irmã, procurando
compensar seu sentimento de culpa por ser mais privilegiada, só
agravava a situação. O relacionamento entre as duas melhorou depois
disso. As vezes Diane telefona para a irmã só para conversar ou
vai visita-la sem lhe comprar nada. Percebeu que a carência maior da
irmã não e financeira, mas afetiva. Ao multiplicar as demonstrações
de amor e interesse, sente uma aproximação maior.
O Senhor nos disse: “É amor que eu quero e não sacrifícios, conhecimento
de Deus mais do que holocaustos.” Ele sabe que ha momentos
em que a única coisa que importa e a misericórdia e o verdadeiro
reconhecimento do outro - nenhum sacrifício ou desempenho pode
suprir uma carência. Amor e aceitação são a única cura possível para
a vergonha de não nos sentirmos amados tal como somos.

PERDÃO: O REMÉDIO PARA A CULPA

“Perdoai, e vos será perdoado. ”


Lucas 6:37

Enquanto não damos atenção a ela, a culpa geralmente nos atormenta


a consciência. Pode ser difícil e desgastante lidar com ela, mas,
se decidirmos que queremos realmente tratar a culpa, existe um excelente
remédio: o perdão.
A culpa proveniente do medo da punição e os sentimentos desagradáveis
que ela provoca devem ser trazidos a tona para serem
tratados. Em muitos casos a principal pessoa a ser perdoada e você
mesmo.

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A culpa proveniente do amor nos motiva a reatar ligações rompidas


com Deus, com os outros e com nos mesmos para alcançar a cura.
Seu objetivo e muito saudável e benéfico.
Existem dois níveis de perdão. O primeiro consiste em não pagar
o mal com o mal. Isso significa perdoar quem nos magoa. Mas, apesar
de as perdoarmos, ha pessoas que provocam em nos uma reação
negativa sempre que pensamos nelas. Por que isso acontece? Porque
não atingimos o segundo nível do perdão: a reconciliação.
A reconciliação e mais profunda e mais difícil. Envolve a participação
do agressor e do agredido. O primeiro deve perceber o mal que
causou e assumir a responsabilidade por ele. O agredido deve acreditar
que seu agressor reconhece o mal que causou e quer repara-lo.
Nesse momento pode ocorrer a reconciliação. Quando se atinge essa
mutua compreensão, a culpa baseada no amor pode ser curada.

Existem dois níveis de perdão: não pagar o


mal com o mal e a reconciliação.

Antônio e um medico brilhante. Inventou um procedimento que


salvou inúmeras vidas e desfruta uma vida bem-sucedida. Mas nem
sempre foi assim.
A família de Antônio foi abandonada pelo pai quando ele era apenas
um menino numa fazenda no México. Muito cedo Antônio teve de assumir
o sustento da casa. Assim que seus irmãos foram capazes de cuidar
de si mesmos, ele foi para os Estados Unidos em busca de uma vida
melhor. Como se empenhou com afinco, acabou conquistando uma
bolsa para a faculdade de medicina onde se formou com louvor. Mas,
apesar de seu sucesso, nem tudo estava bem com Antônio.
- Não consigo evitar as vezes um sentimento negativo com relação
ao meu pai - admitiu em uma de nossas sessões.
- Posso compreender seu sofrimento - repliquei.
- Fui tão abençoado - ele disse. - Tenho tudo o que um homem
pode desejar, exceto o principal: um pai que se orgulhe de mim.

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- Isso e triste - falei.


- O que e triste e que não falo com ele ha 19 anos - suspirou. - Eu o
odiei quando nos abandonou. Eu o amaldiçoei quando saiu de casa e
lhe disse que nunca mais queria vê-lo. Consegui o que queria, mas me
arrependo de ter falado isso. Ele continua sendo meu pai.
Antônio enfrentava um problema que vejo em muitos dos meus
pacientes homens. A maior parte deles tem pais distantes ou não se
relaciona bem com os pais. No caso de Antônio, isso acarretou um
sentimento de culpa. Embora seu pai fosse o agressor, Antônio
sentia-se culpado por tê-lo enxotado com raiva. Os homens precisam
que os pais se orgulhem deles.
Antônio resolveu procurar o pai e conversar com ele sobre o
quanto ficara magoado. Não sabia qual seria a reação dele, mas tinha
certeza de que precisava fazer isso para seu próprio bem. Queria tentar
uma reconciliação.
Antônio localizou o pai no México. Telefonou e marcou um encontro.
No principio os dois ficaram na defensiva enquanto repassavam
as circunstancias em torno do abandono da família. Muita
raiva, queixas e magoas foram expressas pelos dois. Depois Antônio
sentiu que seu pai compreendeu quanto ele ficara magoado com seu
abandono e como isso tornara sua vida difícil. Notou também que
o pai fora consumido pela culpa naqueles 19 anos de afastamento.
Quando percebeu que o pai desejava resgatar a relação, Antônio foi
capaz de perdoa-lo.
Hoje, Antônio estabeleceu uma excelente relação com o pai. Ele
descobriu que, perdoando o pai, perdoou a si mesmo. E possível que
algumas vezes os dois revivam algo que os fara se sentirem culpados
pelo que aconteceu no passado. Mas agora podem conversar e voltar
a se perdoar. E esse o remédio para a culpa proveniente do amor.

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CAPITULO6

Raiva

O QUE E A RAIVA?

“Irai-vos, mas não pequeis: não se ponha o sol sobre a vossa ira.”
Efésios 4:26

A raiva e uma energia que deve ser canalizada para solucionar


um problema. Essa afirmação pode causar surpresa, uma vez
que a raiva e frequentemente confundida com violência, ódio,
fúria e vingança. Mas a raiva e uma forca necessária que nos foi
concedida por Deus para nos impelir a ação. Na Bíblia ha mais
referencias a ira de Deus do que ao Seu amor. Portanto, trata-se
de uma importante emoção que devemos compreender e utilizar
na vida.
Em sua carta aos efésios, o apostolo Paulo faz uma clara distinção
entre ira e pecado. Mas também diz que a ira não deve durar o
dia inteiro, sugerindo que seu proposito e nos impulsionar a agir. Tal
como a luz vermelha no painel do carro, a raiva nos alerta para a existência
de um problema mais profundo e nos leva a refletir sobre ele.
Na maior parte das vezes, a raiva nos indica uma das três emoções
subjacentes a ela: magoa, medo ou frustração. Portanto, da próxima
vez que sentir raiva, pergunte a si mesmo qual desses três sentimentos
esta na sua origem. Isso o levara a identificar o problema que precisa
ser resolvido.

A raiva é uma energia que deve ser canalizada


para solucionar um problema.

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Christopher e Cassandra procuraram o aconselhamento conjugal


por causa da dolorosa distancia e da raiva que os dois sentiam.
Tinham sido muito apaixonados um pelo outro, mas a relação vinha
se desgastando e agora, depois de 12 anos de convivência, queriam
solucionar seus problemas conjugais para não prejudicar o filho de
6 anos.
Embora em publico se tratassem polidamente, quando tentavam
conversar em casa acabavam sempre se ofendendo.
- Por que não podemos falar sobre dinheiro como duas pessoas
adultas? - protestou Cassandra numa sessão.
- Porque não gosto quando você me acusa de não ganhar bem -
respondeu Christopher bruscamente.
- Bem, eu também não gosto quando você me exclui e me faz sentir
só - soluçou Cassandra.
Tanto Christopher como Cassandra sabiam que estavam com raiva.
Mas não sabiam por que estavam com raiva. Christopher achava que
Cassandra era muito exigente, e Cassandra achava que Christopher
era muito frio. No entanto, a medida que a terapia progredia, descobrimos
que essas não eram as verdadeiras causas da raiva dos dois.
Depois de varias sessões, consegui que o casal deixasse de usar a
raiva como arma e passasse a considera-la um indicador da existência
de outro sentimento mais profundo. Os dois entendiam que quando
o filho dizia “Eu odeio você” para um deles estava apenas falando de
seus sentimentos feridos, porque de fato amava os pais. Mas quando
os pais adultos declaravam um para o outro “Eu odeio você”, o impacto
era altamente prejudicial, embora a forma de comunicação
fosse tão imatura quanto a da criança. Cassandra e Christopher perceberam
que não se odeiam, mas que detestam os sentimentos desagradáveis
que surgiram no casamento.
Christopher acabou descobrindo que a decepção de Cassandra
com ele mexia em uma ferida causada pelo desprezo com que o pai o
tratara na infância, o que provocava muita raiva. E Cassandra disse ao
marido que não era o fato de ele ganhar pouco que a mobilizava, mas

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sua aparente frieza. O medo de ser abandonada fazia com que ela revivesse
os muitos anos da infância em que se sentira só e desamparada.
A medida que pararam de falar sobre a raiva e passaram a conversar
sobre a magoa e o medo encobertos por ela, a situação começou a
mudar. A raiva que Christopher e Cassandra sentiam apontava para
sentimentos mais profundos e vulneráveis com os quais precisavam
aprender a lidar. Em vez de ser o problema, a raiva era apenas um
sintoma.
Sentir raiva não e mau, nem e pecado. Mas se não identificarmos a
magoa, o medo ou a frustração que a provocam, ela pode causar um
dano serio. O ensinamento bíblico “Não se ponha o sol sobre a vossa
ira” é um bom conselho. Como a raiva e uma energia que emerge
para solucionarmos um problema, não deixe o dia acabar sem resolver
essa dificuldade. Não se deixe consumir pela raiva. Use essa energia
para encontrar o problema que esta por trás dela.

R A IV A COMO MECANISMO D E DEFESA

“Resposta branda aplaca a ira, palavra ferina atiça a cólera. ”


Provérbios 15:1

A raiva e um mecanismo de defesa comum. Quando nos comportamos


mal ou nos sentimos expostos ou vulneráveis, reagimos com
raiva. A maioria das pessoas prefere sentir raiva em vez de vergonha
ou medo. No entanto, a raiva afasta os outros de nos justamente no
momento em que precisamos de proteção.
Grande parte do meu trabalho como psicoterapeuta consiste em
lidar com os mecanismos de defesa de meus pacientes. O termo que
usamos para isso e “analise de risco”, já que as pessoas se põem na defensiva
porque se sentem ameaçadas. Para trabalhar efetivamente os
mecanismos de defesa, os terapeutas devem procurar ver os fatos do
ponto de vista do paciente e entender o que esta provocando a sensação
de perigo. Dizer-lhe para deixar a atitude defensiva não ajuda em

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nada. Colocar-se no lugar do paciente geralmente diminui a sensação


de ameaça e abre um espaço maior de compreensão.

Colocar-se no lugar do paciente geralmente diminui a sensação


de ameaça e abre um espaço maior de compreensão.

Antes de ser psicólogo, eu era ministro evangélico de uma universidade.


Proferia palestras para grandes grupos de alunos universitários e
acolhia em nossas reuniões estudantes com todos os tipos de problemas.
Jamais esquecerei um de nossos alunos chamado Patrick. Apesar
de bonito e inteligente, ele tinha uns modos estranhos e parecia sempre
mal-humorado. Exigia a atenção dos outros, mas não tinha amigos.
Eu não sabia na época, mas hoje eu diagnosticaria um grave distúrbio
mental em Patrick.
Patrick entrava e saia da realidade, as vezes ficava muito paranoico
e chegava a ter acessos de raiva assustadores. O mais preocupante no
distúrbio psíquico de Patrick era que frequentemente ele me considerava
a causa de seu sofrimento - por me ver como uma figura severa
de autoridade ou como um inimigo.
Um dia, ao escurecer, eu estava indo sozinho levar um pacote de
correspondência para o posto do correio. De repente Patrick apareceu
e caminhou na minha direção. Ao chegar perto e me reconhecer,
arregalou os olhos, seu rosto enrubesceu, e os músculos do pescoço
ficaram tensos.
- Que bom que você apareceu - disse Patrick com os dentes cerrados.
- Oh, e bom ver você, Patrick - falei, sem entender o que ele pretendia.
- Sabe o que eu queria fazer neste exato momento? - ele exclamou,
com as veias do pescoço começando a saltar.
- O que? - perguntei, com o coração disparado.
- Eu queria arrebentar sua cabeça no chão - disse Patrick em voz
alta.

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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Fiquei apavorado, sem saber o que fazer. Em pânico, minha mente


acelerou, e eu me lembrei de um versículo do Antigo Testamento:
“Resposta branda aplaca a ira, palavra ferina atiça a cólera.”
- Vejo que você esta sofrendo muito, Patrick. E eu gostaria que soubesse
que eu também sofro ao ver a sua dor - eu disse gentilmente.
Apesar da agitação interna, as palavras saíram bem suaves. No
mesmo instante a expressão de Patrick mudou. O rosto retomou sua
cor normal. Ele me olhou nos olhos e disse: “Bem, você sempre foi
bom para mim.” Virou-se e saiu andando.
Eu nada sabia acerca de doenças mentais naquela época, além de
não fazer a menor ideia de como lidar com uma raiva extrema. Mas
ate hoje sou grato a Deus por ter me dado a sabedoria bíblica para
lidar com aquela situação.
As vezes na vida e preciso se confrontar com pessoas enraivecidas.
Mas assumir uma atitude defensiva e pior. Se tivesse reagido por causa
do medo e atacado Patrick, certamente teria havido uma luta que poderia
ter acabado em tragédia. Em vez disso, a sabedoria bíblica me
levou a ver as coisas do ponto de vista dele. Ao fazer isso, deixei de ser
uma ameaça, e Patrick não precisou usar sua raiva defensiva.
Os psicólogos entendem que os mecanismos de defesa são reações
ao perigo com o objetivo de se proteger. A raiva pode ser uma
dessas reações. Aprender a ver as coisas do ponto de vista do outro
pode nos auxiliar a aplacar a raiva quando ela esta sendo usada
como mecanismo de defesa. Se conseguir perceber o quanto você
pode ser ameaçador para alguém que esta com raiva, reagindo
adequadamente
vera a atitude exasperada perder forca. Não e fácil, mas
com a ajuda de Deus podemos aprender que uma resposta branda
aplaca a ira.

RAIVA POR ESPERANÇA

“E melhor a reprimenda aberta do que o amor encoberto. ”


Provérbios 27:5

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No aconselhamento conjugal geralmente me deparo com dois


tipos de raiva. O primeiro e a raiva por desespero. Ela ocorre quando
as pessoas desistem por estarem muito magoadas. Nesses momentos
a raiva surge da impotência. E muito difícil ajudar pessoas cheias de
rancor e desesperança.
Mas existe um segundo tipo de raiva mais comum no aconselhamento
conjugal - a raiva por esperança. Ela acontece quando as pessoas
se revoltam porque gostariam que as coisas fossem diferentes. E o tipo
de raiva que diz: “Este casamento e importante para mim e eu quero
lutar para melhora-lo.” Essa raiva e tão intensa quanto a outra, mas ela
motiva a lutar pelo relacionamento, acreditando que as coisas podem
melhorar. A raiva por esperança estimula as pessoas a mudar.

A raiva por esperança estimula as pessoas a mudar.

Luís e Olivia procuraram a terapia de casal porque Luís tivera um


caso extraconjugal um ano antes, e o casal não estava conseguindo
superar a crise. Luís ficava frustrado com as discussões entre eles por
coisas banais e Olivia não se sentia segura. Luís a traíra com uma pessoa
conhecida, o que tornava o fato pior. Tinha havido um envolvimento
emocional, e isso ainda a magoava.
- Não aguento mais essas discussões por questões idiotas - protestou
Luís.
- A gente só discute porque você e muito controlador - rebateu
Olivia. - Se você quer alguém que concorde em fazer tudo do seu
jeito, se casou com a pessoa errada.
- Não estou tentando controlar você - retrucou Luís. - Só gostaria
que pudéssemos conversar sem ter que brigar.
Luís e Olivia tinham caído em um ciclo de conflitos do qual não
conseguiam sair. Quando o caso foi descoberto, Luís confessou seu
erro e pediu o perdão de Olivia. Ela disse que não queria o divorcio
e se recusou a falar sobre o assunto desde então. Estavam tentando
manter seu casamento e para isso precisavam de ajuda.

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A medida que a terapia avançava, o impasse no casamento foi ficando


mais evidente para nos três. Luís e Olivia entendiam que o caso
amoroso fora uma reação as dificuldades de comunicação e intimidade
do casal. Tinham conversado sobre isso, se comprometeram novamente
com o casamento e estavam tentando seguir adiante. No entanto,
as vezes só uma promessa não basta. Depois do grave dano que
uma relação extraconjugal causa a um casamento, e necessário mais.
Luís precisava tomar consciência da intensidade da dor que causara
a Olivia. Isso não acontecera, por isso ela estava ainda tão magoada e
indignada.
Olivia tinha sido humilhada e se sentia terrivelmente rejeitada.
Apesar de revoltada, não queria falar sobre sua raiva porque o assunto
era muito delicado, além de medo de afastar Luís novamente. Mas
deixar de falar sobre a raiva não a eliminava. Para se curar, ela precisava
que Luís compreendesse o tamanho de sua dor e reagisse de
modo a faze-la se sentir segura. Olivia não confiava que a promessa
do marido fosse suficiente para impedi-lo de ter outro caso. Se Luís
compreendesse o quanto a situação fora devastadora para sua mulher,
e se ela pudesse acreditar que ele se sentia realmente mal por lhe
ter causado essa magoa, então talvez fosse capaz de confiar que ele
não a trairia de novo.
Não foi fácil. Olivia estava com raiva porque não se sentia segura
e precisava ouvir de Luís, não promessas de fidelidade, mas
expressões genuínas de arrependimento em relação ao que fizera.
Felizmente, Luís assumiu a situação com coragem e retidão.
Durante varias sessões Olivia exprimiu toda a sua dor e humilhação.
Era muitas vezes desagradável, mas, a medida que ela ia conseguindo
expressar seus sentimentos (em vez de atacar o caráter dele)
e que ele reagia de forma autentica - falando de sua própria tristeza
(em vez de defender-se) - , a situação começou a mudar. Nem tudo
estava miraculosamente resolvido para Luís e Olivia, mas as brigas
por coisas banais diminuíram. Pelo menos agora eles sabiam o que
estava sendo discutido.

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

Luís e Olivia aprenderam o que a Bíblia quer dizer com “é melhor


a reprimenda aberta do que o amor encoberto”. A raiva por esperança
pretende melhorar a situação, e a Bíblia ensina que ela deve ser expressa
de forma honesta para que as questões subjacentes possam ser
conhecidas e elaboradas. O proposito desse tipo de raiva e enfrentar
questões não resolvidas e reatar laços rompidos. A raiva por esperança
e energia para ajudar a curar as feridas causadas pelos problemas.

ÓDIO

“Porque também nós antigamente éramos insensatos, desobedientes,


extraviados, escravos de toda sorte de paixões e de prazeres, vivendo em
malícias e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. ”
Tito 3:3

Não e bom permitir que a energia da raiva permaneça por muito


tempo sem canaliza-la para o seu proposito. A raiva prolongada vira
ressentimento, e o ressentimento prolongado transforma-se em ódio.
O ódio e uma hostilidade enrijecida muito difícil de mudar. E a raiva
por desespero.

A raiva prolongada vira ressentimento , e o ressentimento


prolongado transforma -se em ódio .

Kyle procurou a terapia por causa de problemas no seu casamento


com Amber, mas veio sozinho, porque não sabia ao certo se a mulher
estava interessada na terapia.
Kyle e Amber estavam casados ha 10 anos e tinham decidido não
ter filhos. Ambos eram bem-sucedidos profissionalmente e uniram-se
na esperança de construir uma união feliz. Infelizmente
te perceberam
que estavam falhando nesse proposito.
Sentindo-se mais bem-sucedido na carreira do que na vida pessoal,
Kyle aos poucos ia passando mais tempo no escritório. Isso contribuiu

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para que Amber se sentisse rejeitada por ele. As magoas acumuladas


a deixavam insegura, e raramente ela falava com Kyle sobre assuntos
importantes. Ele, por sua vez, achava que ela não o valorizava, pois
vivia criticando-o, por mais que ele se esforçasse. O casamento foi
ficando frio e distante, e ambos estavam insatisfeitos.
Percebi que o casamento de Kyle atingira um ponto critico e que
o tratamento era realmente necessário. Por isso insisti para que Kyle
convidasse Amber para participar da terapia. Depois de muito relutar,
ela concordou em vir.
- Não sei por que estou aqui - disse em nossa primeira sessão.
- Achei que seria bom ouvir o seu ponto de vista a respeito dos
problemas entre vocês dois - respondi. - Se eu só ouço a versão de
Kyle, minha ajuda fica limitada.
- Pois devia estar claro para você o que acontece - disse Amber,
cravando os olhos em mim. - Kyle não sabe como tratar uma mulher.
Estar sujeita a um homem cruel como ele causaria problemas a qualquer
uma - completou friamente.
- Cruel? - perguntei. - Como assim?
- E cruel destruir a autoestima de uma pessoa - respondeu Amber.
- E é cruel odiar a própria esposa - disse duramente, ainda com os
olhos pregados em mim.
- Mas eu não te odeio - precipitou-se Kyle. - Só que e impossível
conversar com você sobre qualquer coisa.
- Odeia, sim - rebateu Amber, voltando-se para ele. - E não faz
sentido mentir sobre isso agora. Suas palavras não mudam nada.
Convivemos ha anos, e seu comportamento e a prova de que preciso!
As coisas iam realmente mal entre Kyle e Amber. Foi complicado
evitar que se ferissem em nossas sessões. A raiva por desespero e
destrutiva.
Passei as semanas seguintes “recolhendo balas perdidas” que
eles atiravam um no outro, na tentativa de lidar com anos de sofrimento
não manifestado. Procurei afasta-los do rumo das ofensas ao
caráter e da hostilidade defensiva que parecia petrificada no relacionamento
do casal. Tentei faze-los ver que lutar por uma reconciliação

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era melhor do que atacar um ao outro para revidar magoas passadas.


Mas, apesar de meus melhores esforços, a sensação mutua de fracasso
os sobrepujava. A raiva por desespero venceu. Amber não queria melhorar
a relação com Kyle. Desejava apenas separar-se dele.
Talvez, se tivessem me procurado anos antes, a raiva de Amber
ainda fosse por esperança. Mas ela desistiu de esperar qualquer melhora,
sentindo só desprezo. Odiava Kyle, achava que ele a odiava,
e nada era capaz de demove-la dessa convicção. As vezes as pessoas
esperam muito tempo para buscar ajuda. E correm o risco de cair na
raiva por desespero.
A Bíblia nos adverte que ha momentos em que as pessoas vivem em
malícias e inveja, odiosas e odiando-se umas às outras. Esta e a raiva
por desespero, extremamente destrutiva. Não se pode demorar muito
para examinar as origens dela. Se você estiver sofrendo com a raiva por
desespero, busque logo ajuda para tentar converte-la na raiva por
esperança.
Lembre-se sempre: a raiva nos avisa que ha um trabalho a ser
feito. Procure com urgência a ajuda necessária antes que seja tarde.

RAIVA PELO LUTO

“De tarde vem o pranto; de manhã, gritos de alegria.”


Salmo 30:6

Sarah veio para a terapia por causa de sua ansiedade. Ficava irritada
a maior parte do tempo e vivia com um “no” no estomago. Era
uma jovem viúva cujo marido morrera num acidente de automóvel.
- Desde que Cory morreu, minha vida mudou completamente -
disse Sarah.
- Foi trágico ele morrer tão jovem - repliquei suavemente.
- Eu sei, eu sei - ela falou olhando para longe. - Ouvi tudo isso no
grupo de apoio que frequentei. O grupo não me ajudou muito.
- Sei que você se sentia frustrada e incompreendida no grupo. Não
ha um jeito certo de sofrer o luto - eu disse.

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- Como poderiam entender? - perguntou Sarah, me encarando.


- Não havia ninguém no grupo com menos de 60 anos! Não podiam
me entender! - disse com os olhos marejados de lagrimas.
Sarah não estava ansiosa, estava com raiva. Com raiva de Deus por
ter permitido a morte de seu marido, zangada com Cory por tê-la
abandonado e revoltada com todo mundo por faze-la se sentir tão
só. E difícil lidar com perdas, sobretudo quando não estamos preparados.
Sarah não esperava ficar viúva aos 39 anos, nem estava preparada
para ser uma mulher solitária e revoltada na plenitude da vida.
A companhia de outras pessoas não a ajudava. Sentia-se incompreendida
e sozinha no meio dos outros.
A raiva faz parte do luto. Para muitos, e uma grande parte dele. A
boa noticia e que não dura para sempre. E benéfico falar sobre a dor,
sobretudo se pudermos encontrar ao menos uma pessoa que nos acolha
e não nos pressione.
O luto e uma reação natural a perda, sendo a raiva parte natural do
processo. Chamamos o luto de processo porque geralmente ele obedece
um padrão que começa com a negação e segue com raiva, depressão,
negociação e aceitação. Os estágios não são exatamente os mesmos
para todas as pessoas; percorrer um deles não significa que não se vá
vive-lo novamente. Só que, se continuarmos processando o luto, com
o tempo chegaremos a aceitação da perda. E importante compreender
que sentir raiva por causa da perda faz parte do processo.

O luto e um a reação natural a perda ,


sendo a raiva parte natural do processo .

A Bíblia nos diz que sua ira dura um momento; seu favor, a vida
inteira. De tarde vem o pranto; de manhã, gritos de alegria. Enfrentar
a raiva facilita o processo do luto. Ha um tempo para se revoltar e
chorar, e dessa forma Deus prepara nosso coração para as alegrias que
vira o. E uma tarefa árdua, mas e o jeito de abrir espaço no coração
para um futuro amor.

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

Você vai gostar de saber que Sarah esta se sentindo menos inconformada.
Depois de muitas sessões falando sobre sua revolta e solidão,
ela começa a experimentar outros sentimentos que achava ter
perdido para sempre. Sente vontade de ligar para alguns amigos, esta
dormindo melhor e pensa em voltar a estudar. Ainda sofre bastante
com a morte de Cory, mas não existe mais revolta. Como decidiu processar
a raiva e o luto, esta começando a aceitar a vida como e agora e
como poderá ser no futuro.

ADULAÇÃO

“O homem que lisonjeia seu próximo estende uma rede sob seus pés. ”
Provérbios 29:5

A adulação nem sempre e o que parece. De fato, pode ser um disfarce


para a hostilidade. Talvez essa afirmação soe estranha, mas ha
pessoas que expressam sua raiva buscando meios de dissimula-la. Um
desses disfarces e a adulação.
Um d o s disfarces d a raiva e a adulação .
Jacob e um homem inteligente, bem-educado, feliz no casamento,
mas insatisfeito com sua carreira. Procurou a psicoterapia para resolver
essa insatisfação. Jacob era capaz de se sair bem em muitas coisas,
mas não encontrava algo com que se envolvesse de fato. Por isso vem
trabalhando como professor substituto ate descobrir a direção que
deseja seguir.
- Você foi esperto - comentou Jacob em uma de nossas sessões.
- Por que? - perguntei.
- Você entrou direto numa faculdade e se lançou numa carreira
bem-sucedida sem ficar perdendo tempo - disse, convicto.
- E doutor em psicologia, um clinico bem-sucedido, tem uma boa
família, aposto como e dono de uma daquelas mansões que cus-

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

136

tam uma fortuna. Você se realizou - disse Jacob com um sorriso


estranho.
Esse tipo de dialogo foi comum nos primeiros meses de terapia.
Aparentemente ele me admirava e queria ser como eu. No entanto,
fico sempre desconfiado quando meus pacientes me acham maravilhoso
logo no começo do relacionamento.
Na psicoterapia e comum idealizar o terapeuta, e isso faz parte do
processo. E sempre bom ter um terapeuta a quem respeitamos. Ajuda
a estabelecer a confiança no relacionamento, e o trabalho transcorre
melhor.
Mas eu não achava que Jacob estivesse me idealizando. Parecia
mais uma adulação. Quando idealizamos alguém, nos sentimos bem
na presença da pessoa. A idealização saudável gera uma sensação de
segurança e proteção. E o que a maioria das crianças sente com os
pais, e isso geralmente se repete na psicoterapia. Mas as grandes qualidades
que Jacob via em mim faziam com que ele se sentisse pior e
ressentido com meu sucesso.
Esse tipo de adulação surge quando vemos em alguém aquilo que
achamos que merecemos mas não temos. Isso cria um sentimento de
inadequação e hostilidade que se exprime pela adulação. Jacob estava
me adulando porque meu aparente sucesso lhe fazia mal. A adulação
era o seu jeito de lidar com essa frustração.
A sabedoria bíblica nos diz que o homem que lisonjeia seu próximo
estende uma rede sob seus pés. A adulação nos ilude e nos impede
de alcançar o que desejamos. A medida que fomos desviando
o foco do que lacob imaginava ser a minha vida ideal, passando a
direciona-lo para a pessoa que ele era naquele momento, a terapia
mudou de rumo. lacob não precisava sentir-se mal pelas coisas que
não possuía. Precisava tomar posse do que era e do que tinha, para
ir em busca do seu desejo e se sentir melhor.
Jacob agora esta se sentindo mais satisfeito e conseguindo esboçar
seu objetivo na vida. Deixou de fantasiar grandes sucessos e começou
a avaliar suas possibilidades concretas. Revoltar-se contra o que não

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

tinha estava paralisando-o. Avaliar honestamente suas reais possibilidades


começa a liberta-lo. Um sintoma claro da melhora e que ele não
precisa mais me adular.
FÚRIA

“Isso podeis saber com certeza, meus amados irmãos: que cada um esteja
pronto para ouvir, mas lento para falar e lento para encolerizar-se.”
Tiago 1:19

A forma mais explosiva de raiva e a fúria. Trata-se de uma intensa


e ameaçadora explosão de ira que pode ser violenta. A fúria e automática
e proporciona uma sensação de poder e forca a quem se sente
vulnerável pelo sofrimento ou a vergonha. Ela nos transporta
instantaneamente
de uma posição submissa e vulnerável para uma posição
dominante. A fúria e um modo de gritar “Isso e meu!” diante da ameaça
de tirarem algo de nos.
Alguns psicólogos consideram que os seres humanos possuem
uma agressividade inata, que e parte fundamental de nossa natureza e
nos prepara para lutar ate a morte por nossa sobrevivência. Por mais
convincente que possa parecer, sobretudo quando pensamos nas
guerras e na violência, não concordo totalmente com essa ideia. Não
nos vejo como seres inerentemente agressivos. Eu nos vejo enraivecidos
quando somos ameaçados ou feridos.

A fúria proporciona a sensação de poder e forca a quem


se sente vulnerável pelo sofrimento ou a vergonha a .

Um dos grupos mais solicitados no nosso centro de aconselhamento


e o de apoio a raiva. La as pessoas aprendem a identificar de
onde a raiva vem, como perceber quando ela surge, além de reagir
de maneira positiva em situações que a provocam. Robert era uma
das muitas pessoas que buscavam ajuda para lidar com o problema

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138

da raiva. Como se beneficiou no grupo de apoio, decidiu iniciar um


tratamento psicoterápico individual.
- Minha mulher diz que só tenho duas “marchas” - ele me confessou.
- Raiva e apatia. Ou não ligo a mínima para as coisas ou fico
furioso.
- Isso deixa de fora um monte de emoções - eu disse.
- E possível - continuou Robert. - Fui criado para dar duro na
vida. Meu pai era rígido conosco e nos criou para sermos independentes.
Eu me esforçava ao máximo, procurando não esquentar a cabeça
com besteira.
- Funcionou? - indaguei.
- Acho que não - respondeu com tristeza. - Eu vivo me irritando
a toa. Talvez seja por causa da pressão que sofro, mas estou sentindo
que preciso entender m melhor essa raiva.
A curiosidade de Robert quanto as próprias emoções era um bom
sinal. Pessoas interessadas em progredir geralmente conseguem.
Robert e eu descobrimos coisas importantes ao examinar sua vida
emocional. Embora fosse bem-sucedido na carreira, nem sempre se
sentia confiante. Ha uma diferença entre competência e confiança.
Ele era um empresário agressivo, mas, embora não tivesse consciência,
sempre achava que as pessoas não gostavam dele ou queriam tirar
vantagem. Ignorar esses sentimentos o impedia de lidar com a raiva.
A raiva de Robert vinha de algum lugar. A principio, ele achou
que havia um reservatório interior oculto onde ela estava armazenada,
como uma represa prestes a romper. Mas nos dois fomos rastreando
cada explosão de ira ate chegar aos sentimentos dolorosos
dos quais Robert não tinha consciência. Por exemplo, como detestava
se sentir inseguro e fragilizado, ele encobria esse sentimento
com uma fúria que lhe dava uma sensação de potencia e de estar
no controle da situação. O problema e que, com o passar do tempo,
essa estratégia para controlar a insegurança o estava dominando.
Cada vez que se enfurecia, ele se sentia temporariamente melhor,
mas depois se envergonhava de sua conduta. A vergonha por ter

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perdido a linha o fazia se sentir mais inseguro e o predispunha a


se enfurecer novamente da próxima vez em que algo o provocasse.
Esse ciclo de fúria, vergonha e novamente fúria pode se transformar
num habito. Robert se enfurecia porque a raiva era a droga que consumia
para encobrir a vergonha. Com o passar do tempo, a dependência
ia ficando cada vez maior.
Apos vários meses de terapia, Robert as vezes ainda reage sem
pensar, mas suas explosões de raiva são menos frequentes. Agora ele
consegue não reagir as provocações, além de identificar as sensações
desagradáveis que encobria com a raiva. Como um alcoólatra renunciando
a bebida, Robert esta tentando acabar com o habito de recorrer
a ira como remédio para aliviar seus sentimentos de dor. Sua mulher
se alegra por notar que aos poucos ele vai tendo varias “marchas” de
emoção, o que deixa o casal mais feliz.
A Bíblia não se refere a raiva como pecado, mas tem muito a dizer
sobre as explosões de fúria. Ela adverte que cada um esteja pronto para
ouvir, mas lento para falar e lento para encolerizar-se. A raiva pode se
manifestar bruscamente. Para lidar com ela de forma sabia, devemos
antes ouvir o nosso coração e suas razoes, em vez de dizer a primeira
coisa que nos vem a cabeça. Quando se trata de lidar com a fúria, siga
sempre o conselho da Bíblia e não reaja as provocações. Assim como
Robert, você descobrira que possui varias emoções ocultas que não
deseja ignorar.

AGRESSÃO

“Tendo feito um chicote de cordas, expulsou todos do Templo,


com as ovelhas e com os bois; lançou ao chão o dinheiro dos
cambistas e derrubou as mesas...”
Joao 2:15

A agressão e malvista, mas acho essa reputação injusta. Costumamos


pensar na agressão como um ataque inesperado ou um ato de

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hostilidade. No entanto, nem toda agressão e negativa. Existe uma


agressão afirmativa que e a energia necessária para repelir as forcas
contrarias que estão ultrapassando nossas fronteiras. E intimidante,
as vezes ofensiva, mas não e destrutiva. A agressão afirmativa pode
ser um importante mecanismo de sobrevivência.

Existe um a agressão a afirmativa que e a energia necessária para


repelir as forcas contrarias que esta o ultrapassando nossas fronteiras .

Ha alguns anos, assisti a um documentário sobre George e Eddie,


pai e filho, que desceram as perigosas corredeiras do Zambeze. Depois
de navegar um dia inteiro, os dois pararam para se refrescar a margem
do rio. Apesar das instruções do guia para que ficassem na parte
rasa, Eddie avançou um pouco mais e de repente afundou e desapareceu.
George saiu correndo, gritando pelo filho. Depois de momentos
de um silencio aterrorizante, George viu surgir Eddie preso entre os
dentes de um enorme crocodilo.
Sem pensar, George nadou o mais rápido que podia em direção
aos dois. Com a forca que só um pai pode ter diante da possibilidade
de perder um filho, atacou o crocodilo, gritando: “Largue m eu filho!”
Atordoado com o ataque, o crocodilo largou Eddie e foi embora, não
sem antes ferir gravemente o braço direito de George. Depois, quando
elogiaram sua coragem, George apenas respondeu: “Não havia outra
coisa a fazer.”
Existe uma forca na vida que e usada para repelir os intrusos que
violam nossos direitos. Chamo essa forca de agressão afirmativa. Ela
salvou a vida de Eddie. Embora hoje George jogue golfe com uma
mão só, não se arrepende de tê-la usado naquele dia. Se nossos limites
forem seriamente ultrapassados, talvez tenhamos de rechaçar os intrusos
com agressividade. Jesus fez isso.
Jesus se enfureceu ao ver os trocadores de moedas violando com
suas negociações o espaço sagrado da casa de Deus. E ficou agressivo.
Expulsou os cambistas com uma agressão afirmativa porque eles es-

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estavam desrespeitando os limites do templo. O Evangelho de Joao ate


registra Jesus com um chicote na mão. Ha um momento e um lugar
certos para essa agressão, e Jesus deu o exemplo. E preciso raciocínio
rápido e sabedoria para manifestar nossa agressão afirmativa no momento
certo, mas Deus nos deu a capacidade de usa-la quando for
absolutamente necessário.

VIOLÊNCIA

“Não tenhas inveja do homem violento,


nunca escolhas seus caminhos.”
Provérbios 3:31

A agressão afirmativa e a forca usada para repelir os intrusos que


desrespeitam os nossos direitos. A violência e a forca usada para violar
os direitos dos outros. O uso sadio da agressão afirmativa coloca
limites. A violência ultrapassa os limites.
Todos os jornais, noticiários de radio e teve estão cheios de exemplos
de violência. Não ha duvida quanto ao impacto destrutivo da
violência em nosso mundo. Mas existem formas sutis de violência
que devem ser examinadas. A violência e o desrespeito dos limites
do outro sem consideração pelo seu bem-estar. Ela ocorre de muitas
maneiras.

A violência e a forca usada para violar os direitos dos outro .

Kathryn e mãe amorosa e devotada de Brittany, que tem 9


anos. Ela se orgulha de ser mãe de uma criança tão inteligente e
segura. Kathryn era a filha única de um casal infeliz. Por causa
das constantes brigas entre seus pais, ela se tornou uma pessoa
medrosa e tímida. Kathryn se sente aliviada ao ver que Brittany
não sofrera a mesma insegurança, porque a filha e muito franca
e segura de si.

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Aos 2 anos, Brittany repelia as outras crianças que disputavam


brinquedos com ela. Este e um comportamento comum em crianças
dessa idade. O que não era normal era a secreta reação de prazer
de Kathryn. Ela não via o comportamento de Brittany como uma
incapacidade de dividir. Ela se alegrava por ver a filha capaz de
tomar conta de si mesma. “Ninguém vai se aproveitar dela”, a mãe
pensava.
A medida que Brittany crescia, seu comportamento autoritário
afastava as outras crianças, e a menina passou a preferir a companhia
de adultos. Conseguir manter uma conversa com os mais velhos fazia
com que se sentisse especial e madura. As crianças da mesma idade
não pareciam gostar muito dela.
Kathryn valorizava a autoconfiança da filha porque ela quase sempre
conseguia o que desejava. Mas, na verdade, Brittany e manipuladora.
Para conseguir o que quer não hesita em mentir, sem se importar
muito com os sentimentos dos outros. Infelizmente Kathryn não
esta ensinando Brittany a ser afirmativa para defender seus próprios
direitos. Esta ensinando a filha a desrespeitar os direitos dos outros.
Como Kathryn nunca aprendeu a diferença entre agressão afirmativa
e violência, não podia ensina-la a Brittany. E a menina foi ficando
cada vez mais isolada.
A Bíblia tem muitas passagens sobre pessoas que querem tirar
vantagem dos outros. Esse tipo de comportamento provoca violência
em ambas as partes. O proverbio “Não tenhas inveja do homem
violento, nunca escolhas seus caminhos” e um conselho contra as ciladas
que criamos ao desrespeitar os direitos dos outros. Apropriarmos
do que desejamos sem levar em consideração as necessidades e
os sentimentos de alguém não nos proporciona uma vida melhor.
Pode ate haver uma certa satisfação temporária em exercer poder
sobre quem nos cerca, mas não e uma satisfação tão duradoura
quanto a que provem de estabelecermos um relacionamento solido
com as pessoas. Ser violento não apenas fere os outros, mas também
nos prejudica.

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REPULSA

“Estou aborrecida com a vida por causa das filhas de Het. ”


Genesis 27:46

Lembro-me da expressão de nojo que vi no rosto de uma jovem


baba a primeira vez em que lhe mostrei como trocar a fralda suja de
nosso bebe de um ano. Para mim, isso fazia parte dos cuidados com
meu filho, pois temos a capacidade de conter a repulsa por aqueles
que amamos. Para a baba foi absolutamente repugnante.
Embora possamos sentir repugnância por coisas físicas, a causa
mais comum da repulsa esta na reação a algo que julgamos moralmente
condenável. Ficar com raiva de alguém por um longo período
de tempo pode resultar em sentimentos de repulsa. Quando isso
ocorre em um casamento, e muito perigoso.

Ficar com raiva de alguém por um longo período de tempo


Pode resultar em sentimentos de repulsa .

Carlos e Elizabeth haviam chegado a um impasse em seu relacionamento.


O casamento de 20 anos ia mal, e eles sabiam. Os dois filhos
já estavam quase criados, e o casal percebia a urgência de enfrentar
seus problemas conjugais. Logo os filhos iriam embora e eles teriam
apenas um ao outro para viver o dia-a-dia. Essa perspectiva não agradava
a nenhum dos dois.
- Eu não aguento mais - disse Elizabeth, cruzando os braços.
- O que você quer dizer? - perguntei.
- Estou cheia das mentiras, desculpas e promessas não cumpridas
- ela respondeu, apontando para Carlos. - Durante quanto tempo
vou ter que tolerar isso?
Carlos ficou em silencio, olhando para fora e balançando a cabeça.
- Estou vendo que você esta revoltada, Elizabeth - sugeri. - Por
que não tentamos encarar isso?

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- Ah, estou muito mais do que revoltada - ela retorquiu. - Fiquei


revoltada nos primeiros 15 anos de nosso casamento. Agora estou
enojada.
Carlos e Elizabeth tinham chegado a um impasse do qual não conseguiam
sair sozinhos. Isso estava acontecendo ha tanto tempo que
era difícil perceber se ainda havia amor entre eles. Não tinham relações
sexuais havia muitos anos, e ambos se perguntavam por que
ainda estavam juntos.
Carlos e Elizabeth haviam caído num padrão conjugal muito
comum, embora toxico. Ela sentia repulsa por ele e comunicava sua
aversão com rispidez. E a repulsa que Carlos sentia por ela simplesmente
o impedia de responder. O impasse fora criado pela rispidez de
Elizabeth, que levava a atitude defensiva dele, que por sua vez reforçava
a rispidez dela. Ninguém era responsável por ter começado esse
ciclo, mas os dois eram responsáveis por permitirem que continuasse.
Cada um manifestava a seu modo a repulsa que sentia pelo outro.
No decorrer dos meses seguintes; o relacionamento de Carlos e
Elizabeth melhorou. Começamos identificando o padrão nocivo que
os estava tolhendo. Os dois contribuíam igualmente para o impasse,
e a responsabilidade pelas mudanças era mutua. Elizabeth aprendeu
como falar sobre seus sentimentos sem ser tão ríspida e critica, e
Carlos aprendeu a responder e falar francamente sobre o que se passava
dentro dele.
Depois tivemos de descobrir os sentimentos que estavam enterrados
debaixo de anos de repulsa. Elizabeth percebeu que não achava
Carlos tão repulsivo, mas sentia aversão pelo modo como os dois se
tratavam. Quando isso mudou, descobriu o amor que ainda existia
dentro dela. Era o excesso de rancor que não o deixava vir a tona.
Carlos descobriu que havia muitas coisas a dizer. O amor por
Elizabeth estava enterrado sob a dor e a aversão, e ele se sentia incapaz
de expressa-lo. Como a mulher o “desarmava” verbalmente, ele
aprendeu a se calar em vez de entrar numa discussão que não poderia
vencer.

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Reviver todos esses anos de aversão foi um trabalho difícil. Padrões


arraigados são difíceis de mudar. De vez em quando os dois repetiam
velhos hábitos, mas conseguiam rompe-los mais rápido. Quando tomaram
plena consciência de que não era o outro que lhes causava
aversão, mas o modo repulsivo como se tratavam, conseguiram se
aproximar.
Deus nos criou com uma bussola moral interior. Somos atraídos
pelas coisas boas e repelimos aquilo que nos faz mal. A repulsa e um
sentimento que todos sentimos de vez em quando. E um importante
indicador daquilo que precisamos evitar. Mas quando a repulsa entra
num casamento e sinal de que algo esta muito errado e requer grande
atenção. Se acontecer com você, procure urgentemente ajuda para
identificar exatamente o que esta lhe causando nojo.

RESSENTIMENTO

“O ressentimento leva o tolo à morte.”


Jo 5:2

Quando a raiva e empregada para solucionar um problema, somos


motivados a agir e a lidar com um sentimento oculto que precisa ser
identificado. Mas, como já disse, a raiva prolongada não e boa. A raiva
que não e usada para um proposito saudável pode se transformar em
ressentimento.
Um de meus professores afirmou: “Os ressentimentos são as irritações
de ontem arranhando a membrana de nossa memoria.” São
lembranças rancorosas de dores passadas que não foram resolvidas. A
raiva e o sinal de que temos um problema para resolver. Quando isso
não acontece, surge um novo problema: o ressentimento.

Os ressentimentos são lembranças rancorosas de


dores passadas que não foram resolvidas.

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Conheci Fred quando fui contratado para trabalhar na equipe de


uma igreja em rápida expansão. Ele era um homem talentoso e um
ministro evangélico experiente. La havia também John, um jovem
pastor que estava começando sua carreira.
No começo, Fred se dispôs a ajudar o iniciante com bastante dedicação.
No entanto, com o passar do tempo, foi se sentindo frustrado
e irritado com o que ele considerava decisões impulsivas do
jovem pregador. Como John tinha se tornado muito querido pelos
membros da igreja, Fred não conseguia falar abertamente de sua
irritação. Fazia pequenos comentários insinuando que John procurava
se exibir excessivamente, mas não encontrava repercussão em
seus interlocutores.
A raiva oculta de Fred foi se transformando num ressentimento
que começou a corroê-lo. Nas semanas seguintes, ficou varias vezes
doente e faltou a inúmeras reuniões importantes na igreja. John percebeu
que algo estava errado e tentou conversar com ele, mas o rancor
de Fred aumentara de tal forma que o dialogo se tornou impossível.
Não conseguia esconder seus sentimentos dos outros, mas quando o
pastor tentava conversar com ele se limitava a dar um sorriso forcado
e a desviar o olhar com um silencio embaraçoso mais eloquente do
que as palavras.
Por fim, a atitude hostil de Fred passou a afetar os membros da
igreja. O conselho se reuniu varias vezes com Fred e John para tentar
resolver a situação, mas foi em vão. Depois de vários meses de agonia
em torno da questão, o conselho pediu a Fred para se afastar da igreja.
Ninguém conseguira ajuda-lo, porque a raiva e o ressentimento tinham
atingido um nível insuportável.
No dia em que Fred ia deixar a cidade, John reuniu vários membros
da igreja que queriam se despedir dele. Numa ultima tentativa de
aproximação, o pastor foi em direção a Fred para lhe dar um abraço
e desejar felicidades. Inadvertidamente, porem, pisou no pé de Fred.
Este riu e, recuando, disse: “Bem, e assim que sempre vou me lembrar
de você - pisando em mim.”

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A Bíblia fala em varias passagens sobre os perigos do ressentimento.


E um sentimento destrutivo e sinaliza que ha um problema a
ser resolvido. E capaz de causar males físicos, emocionais e espirituais
que podem se tornar graves. Em casos como o de Fred, o ressentimento
pode ficar tão arraigado que e difícil se libertar dele. Se você
esta convencido de que tem todas as razoes para senti-lo, lembre-se:
“O ressentimento leva o tolo à morte. ”

VINGANÇA

“Não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos de teu povo.”


Levítico 19:18

Ha uma diferença entre justiça e vingança. A justiça se refere a um


modo ético de viver, ao respeito mutuo e a proteção da vida, da p
propriedade
e da ordem. A vingança e uma forma de retaliação.
A vingança e motivada por uma raiva que se baseia em questões
dolorosas não resolvidas. Ela se concentra em revidar a dor sofrida,
como se o sofrimento humano pudesse ser quantificado e tivesse um
preço justo. Para a pessoa que busca a vingança, ela parece justa e correta.
Entretanto, vingança nada tem a ver com justiça.

A vingança se concentra em revidar a dor sofrida ,


como se o sofrimento humano pudesse ser
quantificado e tivesse um preço justo .

Monica nascera numa família abastada. Tanto o pai como a mãe


eram de classe alta. Moravam num bairro rico da cidade, e Monica e
seu irmão mais velho frequentaram as melhores escolas. De muitas
maneiras ela era uma pessoa abençoada, mas isso não impedia que
frequentemente se sentisse infeliz. A mãe era uma figura distante,
e Monica só se sentia acolhida pelo poderoso pai se não o desagradasse

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Embora houvesse muita riqueza material em torno deles, os irmãos


começaram a competir pelos escassos recursos afetivos disponíveis.
Como o irmão era mais velho, Monica teve de aprender a
ser astuta e manipuladora para conseguir o que queria. Tinha medo
das retaliações físicas ou emocionais que podiam vir a qualquer momento.
A criação de Monica foi confusa. Vivia sempre em segundo plano
para não ser rejeitada pelo pai ou maltratada pelo irmão. Por causa de
sua privilegiada situação financeira, tinha uma condição social superior
fora de casa, mas inferior no trato familiar. Foi a crise provocada
pela morte iminente do pai que levou Monica para a terapia, numa
tentativa de se organizar internamente.
- Meu irmão fez isso de novo - exclamou Monica indignada.
- Fez o que? - indaguei.
- Manipulou meu pai - disse ela. - Não posso acreditar que um
homem inteligente como meu pai possa ser tão ingênuo a ponto de
cair na exploração obvia de meu irmão. Coloca-lo a frente da empresa
foi uma grande tolice.
- Você não confia no seu irmão - eu disse.
- Claro que não - respondeu Monica enfaticamente. - Ele e um
idiota egoísta, e não vou deixar que escape desta. Já tentei alertar meu
pai, mas ele não me ouve. Meu advogado esta trabalhando para corrigir
a situação. Espere ate a leitura do testamento! Todos vão ter uma
grande surpresa.
- E compreensível que você esteja muito magoada pelo modo
como foi tratada por sua família - repliquei.
-Magoada? - retrucou - Ah, não. Estou furiosa e muito feliz com
isso. Meu irmão e egocêntrico e cruel, e acho muito sadio estar com
raiva dele. Você não acha?
Um dilema que enfrento na psicoterapia e ter que avalizar as opiniões
dos meus pacientes, sobretudo quando percebo os sentimentos
que estão por trás. A raiva de Monica estava relacionada a algo maior
na sua vida.

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Monica estava vivendo um problema de identidade. Seu pai fazia com


que se sentisse desvalorizada, e o relacionamento com o irmão apenas
confirmava isso. Reprimia instintivamente qualquer sensação de forca,
adotando uma posição de fraqueza por temer o conflito na família, mas
na verdade detestava isso. Em suas tentativas para evitar a rejeição ou a
magoa agia como se fosse impotente e, a medida que o tempo passava,
foi se sentindo cada vez mais oprimida. Essa opressão a enchia de um
ressentimento que foi se transformando em desejo de vingança.
Foi difícil concordar com Monica. A raiva que sentia do irmão não
era saudável. Imaginar meios de feri-lo ou puni-lo legalmente apenas
reforçava seus sentimentos de impotência e não a ajudava em nada.
Monica não tinha necessidade de vingança. Ela precisava mesmo resolver
seus problemas com o poder.
Com o passar do tempo consegui que Monica fosse abandonando
os planos de vingança e se concentrando em examinar suas questões
de identidade e poder mal resolvidas. A medida que progredíamos, os
sentimentos mais profundos de magoa e desesperança foram sendo
explorados. As vezes ainda conversamos sobre a raiva, mas ela esta
começando a ver que pode mudar as coisas em sua vida se não investir
sua energia imaginando formas de vingança. Agora percebe
que e responsável pelo que acontece em seus relacionamentos. Não e
de se surpreender que já não sinta a mesma necessidade de vingança
quando as coisas não se realizam do modo que deseja.

INVEJA

“Acaso sou guarda de meu irmão?”


Genesis 4:9

Na historia de Caim e Abel, Deus pediu aos dois irmãos que oferecessem
sacrifícios. Abel, que cuidava das ovelhas, “ofereceu as primícias
e a gordura de seu rebanho” (Genesis 4:4), que era o que de melhor
possuía.
Caim, que era lavrador, trouxe “produtos do solo” (Genesis 4: 3),

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restos sem valor. Então Deus “agradou-se de Abel e de sua oferenda,


mas não se agradou de Caim e de sua oferenda” (Genesis 4: 4-5), o
que deixou Caim profundamente irritado. Deus tentou explicar-lhe:
“Se estivesses bem-disposto, não levantarias a cabeça? Mas, se não estás
bem-disposto, não jaz o pecado à porta como um animal acuado que te
espreita; podes acaso dominá-lo?” (Genesis 4: 7).
Caim sentiu ciúmes porque Abel foi mais generoso com Deus do
que ele. Invejou a generosidade que não foi capaz de encontrar em si
mesmo. Detestava a bondade de Abel, o que o fazia se sentir muito
mal. Sua ira o levou a cometer o primeiro homicídio da historia. A
inveja foi a causa do assassinato.
Quando Deus quis saber onde estava Abel, Caim respondeu com a
pergunta: “Acaso sou guarda de meu irmão7.” Sem culpa aparente, ele
parecia satisfeito por ter eliminado a fonte de sua vergonha. Não parecia
interessado em agradar a Deus, pois sua principal preocupação
era acabar com o objeto de sua inveja. Caim queria apenas eliminar o
próprio sofrimento. Esse e o objetivo da inveja.
Ha uma diferença entre inveja e ciúme. O ciúme e a dor pelo medo
de que algo ou alguém importante nos seja tirado. Ele envolve três
pessoas em um triangulo de competição. O objetivo do ciúme e conquistar
o objeto do amor de alguém. A inveja envolve duas pessoas:
e a dor de ver que alguém possui algo que você não tem. Suas raízes
estão na vergonha causada pelo sentimento de inferioridade e pela
impossibilidade de obter o que desejamos. A inveja trata de destruir
aquele que provoca essa vergonha. O objetivo da inveja e eliminar o
desagradável sentimento de vergonha.

O objetivo do ciúme e conquistar o objeto do amor


de alguém . O objetivo da inveja e eliminar o
desagradável sentimento desvergonha .

A inveja e uma forma destrutiva de raiva. Ela simplesmente procura


eliminar algo que lhe faz mal. A inveja não atrai nada de bom nem cura

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a vergonha de quem a experimenta - apenas a encobre com uma hostilidade


vingativa. Ela só acaba se o invejoso sentir que pode obter o que deseja
para deixar de se sentir inferior ou se o alvo da inveja for destruído.
A inveja e uma emoção comum. Você já deve tê-la sentido varias
vezes. Mas não acredite que magoar ou diminuir a pessoa que você
inveja vai lhe trazer algum beneficio. Você ate poderá sentir um alivio
temporário, mas, assim como Caim, sua vergonha vai permanecer
dentro de você. A solução para a inveja nunca vira das tentativas de
arruinar outra pessoa. Ela só pode vir pela cura da vergonha.

CIÚME

“Eu, Yahweh, teu Deus, sou um Deus ciumento...”


Êxodo 20:5

Existem dois tipos de ciúme. O ciúme divino e o desejo de proteger


e manter seguro aquilo que nos pertence. O ciúme perverso e o
desejo de possuir aquilo que não e nosso. Ambos envolvem um triangulo
amoroso e se manifestam pelo medo de que um rival tire de nos
algo ou alguém muito valioso. O ciúme não e necessariamente destrutivo,
mas pode ser uma forma intensa de raiva que precisa ser tratada
com sabedoria.

O ciúme divino e o desejo desproteger e manter seguro


aquilo que nos pertence . O ciúme perverso e o desejo
de possuir aquilo que não e nosso .

Benjamin e Gabrielle já tinham sido casados e queriam que seu


casamento fosse melhor do que o primeiro. Benjamin e um homem
sensível e afável, mas introvertido socialmente. Gabrielle e uma mulher
atraente e sociável que ficou encantada por ter encontrado um
homem atento as suas emoções e capaz de protege-la. Eles se amam e
estão agradecidos por terem se encontrado.

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No entanto, como todos os casais acabam descobrindo, o amor


não e suficiente para fazer o casamento funcionar. Apesar de seus
melhores esforços, as vezes Benjamin se sente magoado com a forma
animada e despreocupada com que Gabrielle encara a vida. Gabrielle,
por sua vez, se sente distanciada de Benjamin quando ele esta em um
de seus momentos de retraimento. Tentam conversar sobre essas
questões, mas sem muito sucesso. Por causa do amor que os une decidiram
procurar a terapia de casal.
- Fiquei muito magoada porque gastamos um dinheirão saindo
naquele fim de semana e achei que você não se divertiu - declarou
Gabrielle numa sessão recente.
- Achei que você estava se divertindo - respondeu Benjamin, colocando-
se na defensiva.
- Não posso me divertir se você esta desanimado - disse Gabrielle
rapidamente.
- Vamos ver se eu adivinho o que aconteceu - cortei. Notei que
eles estavam caindo na típica armadilha de falar dos sentimentos do
outro em vez de tentar expressar os próprios sentimentos.
- Vamos começar por você, Gabrielle. Em vez de falar sobre como
Benjamin estava se sentindo, por que não mostra para ele como você
estava se sentindo? - sugeri.
- Esta bem - respondeu Gabrielle. - Eu estava me sentindo absolutamente
sozinha em um hotel caríssimo e chateada por estar
perdendo o que poderia ter sido um momento romântico com meu
marido.
- Absolutamente sozinha - repeti. - E quando você percebeu que
estava se sentindo assim?
- Sábado a noite - ela continuou. - Ficou claro que Benjamin não
queria nada comigo.
- Certo - eu disse, voltando-me para Benjamim. - Você sabia que
Gabrielle estava se sentindo sozinha?
- Sozinha? - ele exclamou sarcasticamente. - Eu não acho que ela
se sentiu sozinha. Nos estávamos falando sobre alguns assuntos im--

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cortantes e de repente Gabrielle foi para o outro quarto e ligou para


um amigo. Sei que são apenas amigos, mas ficou claro que ela preferia
conversar com ele do que comigo. Então me calei. Não era isso o que
você queria? - perguntou, voltando-se para a mulher.
Antes que ela rebatesse com outro argumento, rapidamente perguntei
a Benjamin:
- Então isso feriu seus sentimentos. Você disse isso para ela?
- Não - ele respondeu. - Eu não queria parecer intolerante.
- Então você ficou com ciúme? - indaguei.
- De jeito nenhum! - afirmou Benjamin.
- Mas você queria que ela conversasse com você em vez de ficar
falando com o amigo. Queria ficar perto de Gabrielle e não podia, já
que ela estava ao telefone com outra pessoa - insisti.
- Bem, e verdade - concordou Benjamin, parecendo mais calmo.
- Mas não quero que ela se sinta controlada por mim. Quero que fique
ao meu lado porque tem vontade, não porque eu estou cobrando.
- Compreendo - eu disse. - E você, Gabrielle, sabia que Benjamin
estava magoado com o que aconteceu na noite de sábado? Você sabia
que ele ainda queria conversar?
- Não - respondeu Gabrielle, surpresa. - Achei que tínhamos terminado
a conversa. Agora estou me sentindo tão mal. Não imaginei
que você tivesse ficado aborrecido. Prefiro muito mais conversar com
você do que com qualquer outra pessoa. Mas você não falou mais
nada. Desculpe. Eu não queria magoa-lo.
Depois de algum tempo elucidamos o problema. Benjamin sentiu
raiva e ciúme quando Gabrielle ligou para o amigo, mas censurou-se,
achando que o ciúme e um sentimento negativo, e se calou para não
parecer fraco. No entanto, teria sido extremamente benéfico para os
dois se Benjamin manifestasse o que sentia. Seria uma forma de mostrar
como ele valorizava a presença de sua mulher e queria proteger
a intimidade do casal. Mas para isso era indispensável falar francamente.
Quando isso aconteceu na terapia, Gabrielle ficou muito contente.
Ela precisava que Benjamin protegesse a ligação deles e lutasse

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por ela sempre que houvesse qualquer ameaça. Dessa forma, os dois
se conheceram melhor. Gabrielle percebeu que teria de administrar
melhor sua impulsividade e prestar mais atenção nos sentimentos do
marido.
A Bíblia nos diz que “pois o ciúme excita a raiva do marido, e no dia
da vingança não terá piedade” (Provérbios 6: 34). Esta e uma forma
perigosa de raiva que precisa ser tratada com cuidado. Mas nem todo
ciúme e negativo. As vezes e um aviso de que algo valioso precisa ser
protegido. E por isso que Deus descreve a si mesmo como um Deus
ciumento. Ele esta disposto a agir para proteger e deseja que façamos
o mesmo. Querer proteger seus relacionamentos valiosos não e
intolerância,
mas um ato de amor, e a raiva que surge motivada pelo
ciúme pode nos orientar nessa direção. Algumas vezes, expressar
nosso ciúme divino e a coisa mais adorável que podemos fazer.

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CAPÍTULO7

Felicidade

GRATIDAO

“Em todas as circunstâncias dai graças, porque esta é, a vosso respeito, a


vontade de Deus em Jesus Cristo.”
I Tessalonicenses 5:18

A gratidão e um elemento fundamental para uma vida feliz. Ela


nem sempre e fácil de atingir nem de compreender. Algumas pessoas
agradecem por tudo de um modo tão ingênuo que chega a causar
desconforto nos outros. Parecem querer convencer todo mundo (e
talvez a si próprias) que nada de mal pode lhes acontecer. Não acho
que seja isso o que a Bíblia nos ensina.
Deus não quer que levemos uma vida de negação, fazendo de conta
que somos agradecidos mesmo pelas coisas terríveis que podem surgir
em nossas vidas. Ha uma diferença sutil entre agradecer por tudo
o que nos acontece e agradecer em todas as circunstancias. E isso que
Deus quer, porque todos os acontecimentos de nossa vida tem um
sentido para nosso crescimento.
Nossa felicidade não se baseia na crença de que Deus só permitira
que nos aconteçam coisas boas. Ela se fundamenta na convicção
de que Deus ira sempre nos amparar nos tempos difíceis. A
felicidade não provem da ausência de sofrimento, mas de receber
conforto quando precisamos. Esta e a base de uma verdadeira atitude
de gratidão.

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Deus quer que agradeçamos em todas as circunstancias de nossas vidas


Porque elas tem
um sentido para o nosso crescimento .

Certa vez, assisti a uma palestra do Dr. Frederic Luskin, diretor do


Stanford Forgiveness Project. Seu grupo pesquisava os efeitos do perdão
como agente de cura na vida das vitimas de crimes violentos. Ele
ajudou muitas pessoas magoadas, revoltadas e deprimidas a se tornarem
mais esperançosas, otimistas e confiantes.
A medida que eu ouvia o Dr. Luskin descrever as coisas horríveis
que aconteceram as pessoas que ele estava tentando apoiar, fiquei
imaginando se elas conseguiriam algum dia superar o sofrimento
causado pelas atrocidades de que tinham sido vitimas.
Ouvi o Dr. Luskin explicar, com incrível compaixão e clareza, o
trabalho realizado com uma mulher. Ele jamais tentou convence-la
de que não havia sido pavoroso o que acontecera com ela, nem que
o criminoso não fosse culpado por seus atos. O Dr. Luskin ouviu a
triste historia daquela mulher e permaneceu ao lado dela o tempo
necessário para que ela expressasse toda a sua dor. Depois, delicadamente,
levou-a ate uma janela onde ela podia sentir o calor do sol
no rosto. Chamou a atenção para o reconforto causado pelos raios
de sol e, com extrema gentileza e habilidade, ajudou aquela mulher
a encontrar um instante de gratidão em sua vida. Ainda que naquele
momento o breve calor do sol fosse a única coisa pela qual pudesse
agradecer, pelo menos ela o havia encontrado.
Naquela sala, com centenas de pessoas ouvindo o Dr. Luskin,
era possível escutar um alfinete cair. Era como se todos tivéssemos
compreendido sua mensagem. Aquele momento de gratidão
marcava o inicio da cura da mulher sofrida. Se ela conseguisse
experimentar
uma coisa pela qual pudesse agradecer, acreditaria na
possibilidade de haver outras. A gratidão era a chave para reconstruir
sua vida. Era o tênue ponto inicial da felicidade em uma vida
sem alegria.

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Nem o Dr. Luskin nem a Bíblia ensinam as pessoas a serem gratas


pelas coisas terríveis que lhes acontecem. Mas o que ambos ensinam e
que, mesmo em meio ao sofrimento, somos capazes de encontrar alguma
coisa pela qual podemos agradecer. Talvez seja algo tão simples
quanto o calor do sol, mas descobrir a gratidão e a base para a nossa
cura e o caminho para recuperar a felicidade perdida.

CORAGEM

“Sede fortes!”
I Coríntios 16:13

O que significa ter coragem? No dicionário, um dos primeiros sinônimos


de coragem e intrepidez. Mas psicologicamente não acho
que esteja correto. Tenho visto pessoas agirem sem medo em circunstancias
perigosas de um modo que não considero emocionalmente
saudável, sábio ou corajoso. O medo pode ser muito instrutivo, e é
importante prestar atenção nele, em vez de ignora-lo ou nega-lo.
Considero coragem dizer “sim” a vida, apesar das circunstancias
negativas. Não e ausência de medo, mas confiança e fé diante
dele. Coragem e optar por agir quando tememos não conseguir.
Nem todos podem ser destemidos, mas todos tem capacidade de
ser corajosos. Isso e bom, porque ha uma relação entre coragem e
felicidade.

Coragem não e ausência do medo,


Mas confiança e fé diante dele.

Brianna veio para a terapia porque seu casamento de 15 anos estava


passando por uma fase difícil. Tinha se casado muito jovem com
o único homem por quem se apaixonara, teve dois filhos com ele e
agora se via numa situação que não fora capaz de prever. Desejava
continuar com o marido, mas ele se tornara retraído e distante, e ela

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tinha a sensação de não conhece-lo direito. Ele se negava a fazer uma


terapia de casal, dizendo que “eles não precisavam”, e viajava muito a
trabalho. Brianna estava se sentindo tão só e assustada como em sua
infância infeliz e não sabia o que fazer.
- Não posso acreditar que o m eu casamento vá acabar como o dos
meus pais - murmurou Brianna.
- Como assim? - perguntei.
- Eles não tinham uma verdadeira relação conjugal, e agora eu
também não tenho - disse ela. - Não precisava ser desse jeito. Nos
fazíamos tudo juntos. Mas agora ou ele esta trabalhando ou esta bebendo
sozinho na frente da televisão. Se eu tento falar alguma coisa,
ele se ofende e me afasta.
- Não e fácil falar sobre assuntos desagradáveis, mas a vida fica
mais complicada se não o fizermos - comentei.
- Eu sei, eu sei - ela replicou. - Ele trabalha demais, e eu não quero
piorar as coisas. Tento apoiar e ser útil, mas não esta funcionando.
Não posso continuar vivendo desse jeito.
Brianna havia sido criada por uma mãe agressiva e um pai passivo
que não a protegia. Saiu de casa assim que pode, casando-se com
seu namorado da adolescência, uma pessoa boa e seria que ela imaginou
que jamais a magoaria como sua mãe o fizera. Com o passar
do tempo, descobriu que isso não bastava. Queria um marido que
estivesse emocionalmente presente e ligado a ela. Ele nunca era rude
ou duro como sua mãe, mas sua indiferença e afastamento a faziam
sofrer muito. Brianna estava muito infeliz no casamento, mas temia
que se falasse francamente sobre o que sentia ele a abandonaria.
Brianna e eu concordamos que não podíamos mudar seu marido,
porque ele não estava se tratando, mas que isso não deveria impedir
que ela tentasse enfrentar os fatos da melhor maneira possível. Tivera
uma infância infeliz e agora estava vivendo um casamento infeliz, mas
não era impotente, e isso significava que podia fazer algo em relação
ao seu sofrimento. Brianna podia dizer “sim” para a vida, apesar das
circunstancias negativas.

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No decorrer dos meses seguintes, Brianna e eu descobrimos que ela


havia tomado a maior parte de suas decisões na vida impulsionada pelo
medo. Tinha medo da mãe e por isso aprendeu a recuar e a se recolher
por recear ofende-la. Casou-se com seu marido porque ele lhe dava
segurança e aplacava seu medo. E estava de certa maneira aceitando
a crise conjugal porque receava o que poderia acontecer se tentasse
mudar as coisas. Passou a ver que estava exigindo do marido algo que
ele talvez não pudesse dar, em vez de investir na própria mudança.
Com o passar do tempo, Brianna percebeu que o marido não era
a causa de sua infelicidade. O que a deixava infeliz era seu próprio
medo. Ela ainda estava agindo como na infância, encolhendo-se para
se proteger das agressões da mãe. Contudo, a adulta que era agora
não precisava mais reagir dessa maneira. Ela podia tomar uma atitude
diferente e tentar melhorar as coisas.
Brianna agora esta promovendo mudanças em sua vida. Traçou
algumas metas para si mesma e começou a realizar coisas que antes
temia fazer. Voltou a estudar e pretende entrar para uma universidade.
Decidiu procurar amigas que não via ha muito tempo e vem
insistindo para que o marido pare de beber. Brianna não perdeu o
medo, mas o olha de frente, toma posse de seu desejo e vai em busca
do que precisa para ser feliz. Esta e a verdadeira definição de coragem
- dizer sim a vida, apesar das circunstancias negativas. Brianna esta
se tornando uma pessoa verdadeiramente corajosa, além de se sentir
muito mais realizada.
A presença do medo não e o verdadeiro problema. A falta de coragem
e o motivo de nossas fugas e acomodações. Precisamos do medo
para nos ajudar a reconhecer o perigo. No caso de Brianna, o medo
a ajudou a sobreviver a uma infância ultrajante, ensinando-lhe que
mentir e se ocultar era a melhor estratégia para evitar as agressões da
mãe. Mas agora, como adulta, precisa de uma nova estratégia para
reagir a seus temores. E ai que a coragem entra para ajuda-la a tomar
atitudes diferentes. Deus nos criou com a capacidade de sermos corajosos
para lidar com o medo quando ele surgir.

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“Alegrai-vos sempre no Senhor!”
Filipenses 4:4

Os psicólogos tem estudado profundamente os efeitos da religião,


e as pesquisas indicam que a religiosidade autentica exerce, de varias
maneiras, uma influencia positiva na saúde física e mental. E verdade
que a religião e usada de forma nociva por alguns, mas os psicólogos
encontram pessoas intrinsecamente religiosas que geralmente são
mais felizes do que as que não possuem uma espiritualidade autentica.
Como já mostrei antes, ha uma relação positiva entre a fé profunda
e a felicidade.

Pesquisas indicam que a religiosidade autêntica exerce , de varias


Maneiras uma influência positiva na saúde mental.

Christina fora violentada na infância. Procurou a terapia porque


lutava contra a baixa autoestima, a depressão e um grande receio de
ser ferida, o que tornava a maioria de seus relacionamentos tensos e
difíceis. Já havia feito terapia antes, mas ainda sentia medo dos outros,
a ponto de não conseguir se dar bem no emprego nem manter
um relacionamento intimo com um homem. A experiência sofrida
no passado a fazia temer qualquer vulnerabilidade.
A terapia ajudou Christina a enfrentar corajosamente seus medos
e a promover importantes mudanças positivas na sua vida. Passou a
ser respeitada no trabalho e começou a superar o medo de se aproximar
dos homens. Mas, de repente, Christina recebeu um diagnostico
de câncer. Parecia extremamente injusto que alguém que tinha lutado
contra os efeitos da violência na infância fosse agora obrigado
a lutar contra um câncer. Mas Christina não encarou a doença dessa
maneira. O câncer era uma coisa que estava acontecendo com ela e
não algo que a definia.

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Christina tem uma fé muito forte em Deus e é membro atuante de


sua igreja. Ela não vê o sofrimento como punição ou má sorte, mas
como um aspecto do mundo em que vivemos, algo que precisa ser
encarado com a crença de que Deus ira ajuda-la a superar. A religião a
faz acreditar que sua vida espiritual e eterna e que as adversidades da
vida material são oportunidades para crescer e aprofundar o conhecimento
de si mesma e do mundo que Deus criou.
Christina enfrentou sua batalha contra o câncer com um otimismo
que poucos conseguiam compreender, mas que todos admiravam.
Seguiu criteriosamente as orientações medicas, confiando que havia
um proposito divino para o resultado, qualquer que ele fosse. Jamais
notei nela uma tentativa de desqualificar a gravidade de sua situação,
mas sempre a encontrei cheia de esperança e coragem diante da doença
física.
No decorrer dos meses seguintes, a fé de Christina em Deus lhe
proporcionou forca para enfrentar a perspectiva da morte com uma
coragem que a transformou. Recebeu promoções no trabalho e foi
convidada a assumir uma posição de liderança na igreja. Muitos buscavam
sua sabedoria e orientação para problemas particulares, admirados
com sua atitude diante da vida.
A fé de Christina em Deus fez com que ela acreditasse numa vida
cheia de sentido, mesmo quando as circunstancias sugeriam o contrario.
Ela enfrentou seu sofrimento com uma fé genuína que lhe permitiu
ser uma pessoa feliz em meio a situações sofridas. Fiquei feliz
ao saber que Christina esta namorando um bom rapaz que se sentiu
atraído por sua qualidade humana.
Ainda não sei qual será o fim da historia de Christina. Continua
lutando contra o câncer, mas os médicos acham que ela sobrevivera
alguns anos, talvez mais. Naturalmente, ela gostaria de ter uma
vida longa, mas sua fé em Deus a fortalece para viver plenamente o
tempo que tiver. Christina diz que o segredo e “alegrar-se sempre
no Senhor”. Ela e um bom exemplo da relação entre fé genuína e
felicidade.

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O MITO DO MATERIALISMO

“Quem ama o dinheiro nunca está farto de dinheiro, quem ama a


abundância nunca tem vantagem. Isso também é vaidade.”
Eclesiastes 5:9

Apesar de muita gente achar que dinheiro não traz felicidade, a


maioria das pessoas vive como se isso fosse verdade. Trabalhamos
mais do que devemos, sacrificando nossas famílias e nossa saúde.
Gastamos mais do que recebemos, invejando aqueles que tem mais
do que nos. Se o dinheiro realmente não traz felicidade, por que então
somos tão atraídos pelo mito do materialismo?
Não ha duvida de que possuir bens materiais traz felicidade, pelo
menos temporariamente. A felicidade e um sentimento que vem e vai
e depende de fatores diferentes para cada pessoa. Porem, uma coisa e
certa: se restringirmos nossa felicidade a posse de coisas concretas, ela
certamente parecera muito efêmera.
O materialismo e a tentativa de transformar a felicidade na posse
de algo visível e palpável que podemos controlar e que esta a nossa
disposição quando desejamos. Essa estratégia funciona apenas por
certo tempo. Logo estaremos em busca de outros bens e nunca nos
sentiremos plenamente satisfeitos. Ai descobriremos que aquele que
ama o dinheiro nunca se fartará.

O materialismo é a tentativa de transformar a felicidade


na posse de algo concreto e palpável.

Ha alguns anos fui convidado para uma festa na casa de um amigo


muito rico. Todos, menos eu, pareciam ter a m esma condição econômica
e conversavam muito a vontade sobre detalhes de suas vidas privilegiadas.
Em determinado momento, o grupo passou a falar sobre
aviões a jato. Um dos mais jovens estava escolhendo o jatinho que iria
comprar. Fiquei surpreso ao constatar que, embora todos estivessem

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maravilhados com seus próprios jatos, já estavam planejando adquirir


modelos maiores e mais velozes.
Não tive a impressão de que aqueles homens estavam se vangloriando.
O que percebi foi um movimento em busca de ter sempre
mais, como se isso pudesse faze-los mais felizes.
Não estou dizendo que aqueles homens fossem infelizes, mas havia
uma insatisfação perceptível. Eles poderiam continuar comprando
coisas para se sentirem melhor, mas, com a repetição crescente, a euforia
da conquista iria diminuindo. Estou certo de que o materialismo
funciona, mas apenas temporariamente.

A BELEZA

“Enganosa é a graça. ”
Provérbios 31:30

A pessoa bonita tende a ser mais bem-sucedida na vida porque


todos querem recompensa-la por sua bela aparência. Embora poucos
admitam, a beleza física e o principal fator a determinar a impressão
que alguém causa em um primeiro encontro. Como as pessoas bonitas
são mais desejáveis, presumimos que sejam mais felizes. Mas não
se julga um livro pela capa.

Como as pessoas bonitas são as mais desejáveis


Presumimos que são as mais felizes.

Bianca era feliz. Crescera numa família rica, estudara numa excelente
faculdade particular, era muito popular e bonita. Sentia-se
grata p o r isso. Tinha um bom emprego e era generosa com os
outros.
Bianca aprendeu a não se queixar de suas decepções, porque,
quando o fazia, raramente encontrava muita solidariedade. Ao tentar
dividir sua tristeza com alguém, era interrompida como se não

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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devesse reclamar. Não era possível que uma pessoa tão abençoada
pudesse se queixar de alguma coisa.
Isso a levou a separar o que sentia da imagem que exibia para o
mundo externo. Temendo que a criticassem por um sentimento negativo,
ela procurava ser o mais agradável possível, para corresponder
a expectativa dos outros.
- Eu me sinto culpada por estar aqui - disse Bianca em nossa primeira
sessão, olhando para baixo.
- Acha que não precisa de terapia? - questionei.
- Bem, acho que todo mundo pode se beneficiar dela, mas tenho
tanto a agradecer. - E continuou depois de uma pausa: - O problema
e que não consigo parar de me sentir triste. E isso não faz sentido.
- Compreendo. Você se julga culpada por se sentir triste - resumi.
- Acho que e isso. Ha tantas pessoas em situação pior, que não me
sinto com o direito de me queixar - lamentou.
- Bem, vai ser difícil falar de seus problemas se você encarar a tristeza
como uma queixa - retruquei.
- Bom, e assim que eu vejo. Talvez seja por isso que eu estou aqui
- disse.
Bianca estava sofrendo da síndrome da mulher bonita. Tinha consciência
de que atraia as pessoas, mas isso não significava que gostassem
dela. Era agradável ser desejada, mas também queria ser valorizada.
Não compartilhava seus pensamentos e sentimentos, porque os
outros não pareciam interessados. Aprendeu que se fosse superficialmente
agradável as pessoas gostariam de estar com ela. Todos admiravam
sua aparência, mas ela não sabia ao certo se gostavam dela.
Estar diante de uma mulher bonita nos faz bem. Mas também pode
nos fazer mal. Sentimos inveja da beleza que estamos vendo naquela
pessoa e, com a mesma rapidez com que somos atraídos, podemos
ficar ressentidos. Bianca tinha consciência clara disso e ficava insegura
para conversar sobre seus sentimentos íntimos.
Se a beleza física representa o único valor de alguém, deixamos de
ver a pessoa completa. Este era o preço que Bianca pagava em seus

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

relacionamentos. E claro que Bianca se sentia feliz por ser bonita, mas
esse efeito era fugaz. O que ela desejava era desenvolver relacionamentos
capazes de lhe proporcionar uma felicidade mais profunda.

PREVENDO SER FELIZ

“Como são belos, sobre os montes, os pés do


mensageiro que anuncia a paz.”
Isaias 52:7

Prever a felicidade tem uma influencia positiva sobre nossa vida.


Se acharmos que vamos ser infelizes, provavelmente receberemos o
que esperamos. Não estou sugerindo que você adote uma atitude ingênua
diante da vida. Estou propondo que examine suas crenças e
expectativas.
Volto a repetir: quase sempre o problema esta mais no significado
que as pessoas atribuem as circunstancias do que nas próprias
circunstancias.
Os seres humanos são capazes de superar obstáculos
difíceis com base em suas crenças e expectativas. Mas o contrario
também e verdadeiro. Podemos criar obstáculos para nos mesmos
com base simplesmente naquilo que esperamos. Se acreditarmos que
o sofrimento significa punição ou falta de sorte, seremos infelizes
tanto por causa das circunstancias quanto por causa do significado
que atribuímos a elas. Nossa atitude pode funcionar contra ou a favor
de nos. Por isso e importante termos consciência de nossas crenças e
expectativas.

Quase sempre os problemas está nos significados que as pessoas


Atribuem as circunstâncias do que as próprias circunstâncias

O pai de Steven se irritava por qualquer coisa, e tanto a mãe quanto


o menino tinham medo dele. Steven se recorda de inúmeros casos de
sua infância em que leves transgressões das normas da casa acabavam

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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em brigas furiosas e assustadoras. Enfrentar o pai estava fora de questão.


Steven aprendera a conviver com ele, sentindo-se intimidado e
impotente a maior parte do tempo.
- Eu sentia um tremendo no estomago toda vez que meu pai
chegava pisando duro - disse Steven.
- Tinha medo de que ele brigasse com você? - perguntei.
- Ah, sei lá - ponderou. - Mas ate hoje não consigo evitar essa reação.
Não suporto quando as pessoas gritam. Fico muito ansioso.
- Aprendeu a se calar na infância. Não era seguro fazer muito barulho
- eu disse.
- Exatamente - concordou Steven, com um certo constrangimento.
- Nunca se sabia o que iria irritar meu pai. Era melhor ficar
quieto. Eu morria de medo de enfurece-lo.
- Então você aprendeu que qualquer barulho levaria a uma reação
violenta - eu disse.
- Isso mesmo - respondeu enfaticamente. - Nunca se sabia o que
esperar.
Steven passava grande parte do tempo ansioso e assustado. Receava
incomodar os outros, tinha dificuldade para dormir, preocupava-se
com o que pensavam dele e dava a impressão de ser tímido e inseguro,
e isso tornava seus relacionamentos difíceis. Estava quase sempre
triste, em parte porque nunca esperava que coisas boas pudessem
acontecer. Achava que seria infeliz e, consequentemente, acabava
sendo.
Apos meses de terapia, as coisas começaram a mudar para Steven.
Ele ainda e ansioso, mas com o passar do tempo foi percebendo que
nem toda interrupção necessariamente incomoda as pessoas. Talvez
seu chefe seja mais veemente porque esta animado, ou com pressa,
mas ele não e responsável. Steven descobriu que prever a infelicidade
causa mais dissabor do que os fatos em si. Esperar pelo pior era uma
crença que só o prejudicava.
A medida que vai se libertando da expectativa de reações agressivas,
Steven consegue ver mais claramente como as pessoas reagem de

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167

fato. Agora, se percebe que atrapalhou alguém, simplesmente pede


desculpa. O no na boca do estomago esta se dissolvendo.
A Bíblia nos ensina que “são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro
que anuncia a p a z”. Todos nos gostamos de pessoas positivas.
Ficar atento as próprias crenças e expectativas ajudou Steven a se dar
conta de que seu pessimismo o estava transformando em portador de
mas noticias e gerando nos outros um movimento de rejeição. Ele e
mais feliz agora, pois sua postura positiva e anuncio de felicidade e facilita
suas interações com os outros. Steven passou a ser considerado
uma pessoa muito mais agradável.

A CEITAR A SI MESMO

“Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila. ”


II Coríntios 4:7

Pessoas felizes aceitam os próprios limites. Na vida de todos nos ha


falhas e defeitos. Tomar consciência deles e aceita-los nos da muita
paz e favorece nosso relacionamento com os outros. A aceitação requer
a capacidade de tolerar as imperfeições e o desconforto causado
pelo fracasso. Pessoas felizes se esforçam para aceitar as circunstancias
que não podem ser mudadas, sabem que e impossível ter controle
total sobre a vida e, sobretudo, aprendem a aceitar a si mesmas.

Pessoas felizes aceitam os próprios limites porque


Na vida, todos temos falhas e defeitos.

Edward veio para a terapia porque estava insatisfeito no trabalho.


Não permanecia num emprego mais do que dois ou três anos,
pois acabava sempre achando algo inaceitável na função que exercia.
Nunca fora demitido, sempre pedia demissão.
- Meu trabalho e muito importante para mim - explicou Edward.
- Preciso trabalhar para uma organização cujos valores combinem com

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os meus e onde eu possa utilizar meus talentos e minhas habilidades.


Passo a maior parte do tempo no trabalho e preciso gostar do que faço.
- Já encontrou alguma organização que o satisfizesse? - indaguei.
- Não totalmente - respondeu. - Mas isso não quer dizer que eu
não continue procurando.
O pai de Edward era um empresário bem-sucedido que ele admirava,
mas de quem quase sempre discordava. Sentia orgulho das
conquistas do pai, mas muito desconfortável com os métodos que ele
usava para atingir suas metas. Para Edward, o pai parecia privilegiar o
sucesso econômico, desconsiderando o impacto social e ambiental de
suas decisões. Ele prometera a si mesmo nunca ser assim.
A medida que explorávamos o impacto da criação de Edward em
sua vida de adulto, descobrimos muitas coisas. Sua preferencia pelo
ramo filantrópico - Edward havia trabalhado em varias ONGs - era
devida ao fato de ele atribuir tanta importância a integridade moral
e a responsabilidade social, além de ser resultado do relacionamento
com o pai. No entanto, a medida que a terapia avançava, descobrimos
algo mais. Edward não aceitava as falhas que observava nos
outros, e isso tinha origem sobretudo na falta de aceitação de si
mesmo. Os fracassos daqueles que o cercavam o deixavam extremamente
infeliz porque ele não suportava as próprias falhas. Seu nível
de auto exigência era exacerbado.
A medida que foi se aceitando mais, Edward passou a discutir
menos com o pai e com qualquer pessoa a respeito das falhas morais
que aconteciam ao seu redor. Continua muito comprometido com o
trabalho filantrópico e também esta mais conformado com as imperfeições
de seu ambiente profissional. Aprender a aceitar as próprias
limitações o ajudou a ser mais tolerante com os outros. A aceitação de
si mesmo o deixa mais satisfeito com seu ambiente de trabalho e mais
feliz com a vida.
A Bíblia nos diz que as pessoas que seguem a Deus possuem um
dom espiritual precioso dentro delas. Entretanto, mesmo as mais
espiritualizadas
e maduras “trazem, porém, este tesouro em vasos de ar

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169

gila”. Somos todos jarros de argila imperfeitos, por mais que nossas
metas e ideais sejam bons. Aprender a nos aceitar como recipientes
imperfeitos dos grandes tesouros que residem dentro de nos e um dos
segredos para levar uma vida verdadeiramente feliz.

POR QUE OS HUMILDES SÃO MAIS FELIZES?

“Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois,


veremos face a face. Agora, meu conhecimento é limitado;
mas, depois, conhecerei como sou conhecido."
I Coríntios 13:12

A Bíblia nos diz que nosso conhecimento da realidade e apenas


parcial e limitado. Isso não quer dizer que não existam verdades
absolutas, significa que só podemos conhece-las com nossa limitada
capacidade humana. Muitas pessoas tem dificuldade para aceitar
esse fato.
Estamos constantemente aprendendo e evoluindo em nosso conhecimento.
E importante ter consciência de que tudo o que vemos e
influenciado por nossa historia e por nossa perspectiva pessoal. Isso
significa que devemos ser humildes quanto ao que sabemos. Esta e
uma condição para a nossa felicidade.

E importante ter consciência que tudo o que vemos é


Influenciado, por nossa história e nossa perspectiva pessoal.

Os irmãos Henry e lohn foram criados numa família de classe


media na qual aprenderam valores morais tradicionais e a trabalhar
duro para crescer na vida. Os dois constituíram família em cidades
diferentes, mas se visitavam pelo menos uma vez por ano. Como não
tinham outros parentes, o relacionamento entre os dois se estreitou
muito, sobretudo depois que os pais morreram. Cada um sabia o
quanto era importante para o outro.

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170

Certa vez, Henry estava passando por dificuldades financeiras e


ligou para dizer a John que naquele ano não poderia visita-lo. Como
se sentia constrangido, não quis explicar o motivo da desistência.
Apesar de desapontado, John brincou com o irmão:
- Já sei. Você sempre coloca o trabalho em primeiro lugar.
- Bem, não estou ganhando tão bem quanto você, mas meu trabalho
ainda e importante para mim - defendeu-se Henry.
- Não esquenta - disse John, ainda zombando da desculpa do
irmão. - Quando você começar a ganhar uma boa grana, podemos
programar alguma coisa.
- Olha - falou Henry, começando a se irritar. - Quando eu começar
a ganhar essa grana, certamente terei coisas mais interessantes a
fazer. Agora preciso desligar. Só queria avisar você.
- O.k. - respondeu John. - Obrigado por ligar.
Assim que desligaram o telefone, os dois ficaram mal. Henry estava
constrangido e irritado com John, achando que o irmão zombara
dele por não ganhar bem. John ficou magoado com o cancelamento
da visita, achando que Henry tinha coisas mais interessantes a fazer.
Infelizmente, nenhum dos dois falou a verdade sobre seus sentimentos.
Não tinham sido educados para se abrir com franqueza.
Alguns anos se passaram e a relação entre os dois irmãos ficou abalada.
Ambos se sentiam ofendidos, e cada um esperava que o outro
telefonasse para pedir desculpas. Apesar de suas mulheres implorarem
para que conversassem, muitos anos se passaram sem que H henry
e John tivessem contato.
Ate o dia em que Henry apareceu com um câncer, e os médicos
disseram que tinha pouco tempo de vida. Ele ficou arrasado, e seu
pensamento se voltou imediatamente para o irmão. Não falava com
John havia anos e não queria morrer sem fazer as pazes. As razoes do
ressentimento alimentado agora pareciam sem importância.
Então Henry ligou para John. Quando se encontraram, abriram o
coração um para o outro, e só então entenderam o desencontro provocado
pela comunicação distorcida tantos anos antes. Henry não

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

171

estava desconsiderando o irmão ao dar a impressão de que cancelava


a visita porque tinha coisas mais interessantes a fazer. E John adotara
um ar zombeteiro para encobrir a frustração causada pelo que lhe parecia
rejeição. Cada um via o fato de um modo, mas nenhum deles
tivera a humildade de considerar que podia estar enganado. Falar
abertamente dos próprios sentimentos restabeleceu uma relação de
afeto que parecia rompida.
A falta de humildade custou a John e Henry muitos anos de felicidade
que poderiam ter passado juntos. A Bíblia nos diz que “Deus resiste
aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes” (Tiago 4:6). Aceitar
que nosso “conhecimento é limitado” e que só podemos ver as coisas
de nossa própria perspectiva e uma forma preciosa de humildade
e de crescimento. Assim como John e Henry aprenderam, essa e uma
razão pela qual os humildes vivem mais felizes.

CONTENTAMENTO

“Estou acostumado com toda e qualquer situação: viver saciado


e passar fome, ter abundância e sofrer necessidade. ”
Filipenses 4:12

A felicidade duradoura provem mais do contentamento do que


do entusiasmo. A euforia e sempre empolgante. Apaixonar-se, viver
novas aventuras e iniciar novos rumos traz certo tipo de felicidade
a vida. Mas a felicidade que resulta do entusiasmo provocado pela
novidade não perdura. A felicidade duradoura provem do aprendizado
de estar acostumado com toda e qualquer situação.
O perigo de fazer a felicidade depender do entusiasmo e que este
vicia. Quando o ímpeto do entusiasmo se esgota, e preciso encontrar
algo novo para restabelecer a euforia perdida. Se precisamos de entusiasmo
para sermos felizes, nossa felicidade passa a depender das
circunstancias externas. Esse tipo de sujeição não produz a felicidade
duradoura.

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A felicidade duradoura vem mais


Contentamento do que do entusiasmo.

Shawn e bonitão, ativo e tem muitos amigos. Gosta de atividades ao


ar livre e é uma pessoa adorável. Embora não tenha dificuldade para se
relacionar, não consegue que seus casamentos durem. Shawn procurou
a terapia porque estava pensando em se divorciar pela terceira vez.
- Devo dizer que não acredito que seja possível permanecer casado
com a mesma pessoa e feliz por toda a vida - afirmou Shawn. - As
pessoas mudam tanto, que aos 50 já não são mais aquelas que aos 20
anos fizeram promessas. Acho que a cada sete anos deveria se renovar
ou desmanchar o casamento.
- E uma noção muito interessante. Estou supondo que você esteja
baseando essa teoria na sua experiência pessoal - eu disse.
- Certo - disse Shawn confiante. - Não acredito que o homem seja
capaz de manter o interesse sexual pela mesma mulher por mais de
sete anos. E da nossa composição genética.
A teoria de Shawn não era nova para mim. Conheço alguns antropólogos
sociais que defendem argumentos semelhantes para justificar
as relações extraconjugais. Mas eu tinha uma visão diferente a respeito
da justificativa de Shawn para seu divorcio iminente. Não acho
que os homens sejam pré-programados para perder o interesse por
suas parceiras. Acredito que eles tenham dificuldade para se sentirem
satisfeitos.
A medida que Shawn e eu explorávamos os detalhes de sua situação
atual, ficou mais claro por que ele era infeliz no casamento. A
principio, a explicação de Shawn era basicamente biológica. Os homens
enjoavam da mesma parceira sexual com o passar do tempo
porque eram biologicamente predispostos a isso. Começamos a ver
que havia também algumas explicações psicológicas para a sua perda
de interesse pelas mulheres.
Como crescera em um lar cheio de conflitos, Shawn passava a
maior parte do tempo com os amigos fora de casa. Era um bom atleta

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e fazia sucesso com garotas bonitas. Como seu lar era infeliz, buscava
alegria em atividades externas.
Ao chegar a vida adulta, Shawn praticava bem vários esportes radicais,
tinha uma vida social ativa e experimentava varias parceiras
sexuais. Essas atividades excitantes lhe davam alegria, e Shawn se tornou
dependente delas para se sentir feliz. Assim como um alcoólatra,
ele não estava apenas tentando ter alegria, mas também evitar a infelicidade
de que sempre fugira.
Apos muitos meses de terapia, Shawn começou a entender por que estava
prestes a pedir o terceiro divorcio. Percebeu que felicidade para ele
dependia de novidades e entusiasmo. Foi preciso dedicar muito tempo
falando e examinando os aspectos tristes e difíceis de sua vida para que ele
fosse aos poucos descobrindo que havia um outro tipo de felicidade: estar
contente consigo mesmo sem precisar da excitação da novidade para causar
euforia. Shaw descobriu que sua principal dificuldade não era manter
o interesse sexual num relacionamento monogâmico. O difícil era se sentir
contente. Como muitos homens, ele não havia aprendido a lidar com
sentimentos
desagradáveis. Como resultado do trabalho na terapia, Shawn
decidiu que queria aprofundar o relacionamento com sua atual mulher.
Shawn ainda acredita que os homens são pré-programados para
caçar e colher. Mas agora sabe que eles podem encontrar felicidade
duradoura no contentamento resultante de uma relação solida e de
um amor companheiro.
Existe uma felicidade que transcende as circunstancias da vida. A
Bíblia nos diz que podemos encontrar essa felicidade se aprendermos
a estar acostumados a todas as vicissitudes. Enfrentando a dor, em vez
de buscar a excitação para encobri-la, somos capazes de encontrar uma
forma de felicidade duradoura que se origina do contentamento.

ESPERANÇA

“...alegrando-vos na esperança.”
Romanos 12:12

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E animador acreditar que teremos uma vida boa pela frente.


Preocupar-se excessivamente com um futuro idealizado ou com um
futuro triste causa infelicidade, porque em ambos os casos e o medo
que domina. Mas ter esperança em um futuro feliz não apenas se
apoia num autentico amor pela vida, bem como ajuda a desfrutar o
momento presente.
A Bíblia nos diz que a esperança e a expectativa de felicidade no
futuro. Não e uma garantia de que as circunstancias serão exatamente
como desejamos, mas a confiança de que nosso amor pela vida nos
acompanhara. A esperança e a capacidade de amar a vida, agora e no
futuro.

A esperança é a capacidade de amar a vida agora e no futuro .

Sou consultor de uma entidade internacional que assiste pessoas


portadoras de deficiência. Em uma palestra organizada por ela, conheci
Nick Vujicic. Nick fez um discurso magnifico sobre a esperança,
causando forte impacto na plateia. Mostrou-se uma das pessoas mais
otimistas e felizes que já conheci. Mas o que tornou sua mensagem
ainda mais impressionante foi o fato de Nick ter nascido sem os braços
e as pernas.
Nick chegou em sua cadeira de rodas motorizada. Com muita habilidade
e pratica, posicionou-se num lugar onde todos nos pudéssemos
vê-lo.
- Sinto-me feliz por estar com vocês aqui num dia tão bonito -
começou ele. - Deus nos abençoou de muitas maneiras, e sou grato
por poder compartilhar uma das varias formas com que ele generosamente
me abençoou. Temos muito a agradecer e me sinto honrado
por poder falar sobre isso com vocês hoje.
Era impossível não ficar impactado. Diante de mim estava um
homem de 2 0 e poucos anos, sem membros, dizendo que se sentia
abençoado. Ele era feliz, ativo e cheio de esperança com relação ao

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

futuro. Antes de terminar o discurso, afirmou sua convicção de que


Deus escolhera uma mulher especial para ser sua companheira um
dia. Ele ainda não a conhecia, mas tinha muita esperança de que iria
encontra-la.
O amor de Nick por Deus e pela vida era de tal forma contagiante
que ao final eu já tinha esquecido de sua deficiência. Sua esperança se
fundamentava nesse amor. Se esse homem podia ter esperança, havia
esperança para todos nos.
Nick faz palestras e é presidente da Life Without Limbs (A Vida
Sem Membros). Viaja pelo mundo inteiro encorajando outras pessoas
a encontrarem a felicidade que ele encontrou na vida. Sua mensagem
simples de que o amor de Jesus Cristo o fortaleceu para levar
uma vida de alegria e esperança já causou impacto em milhares de
pessoas. Em sua homepage, lemos o versículo: “Sim, eu conheço os
desígnios que formei a vosso respeito - oráculo de Iahweh desígnios
de paz e não de desgraça, para vos dar um futuro e uma esperança”
(Jeremias 29, 11). Nick vive sem membros, mas não e um deficiente.
Ele ama a vida porque Deus o ama e lhe da uma esperança e um futuro
que fazem dele um homem muito feliz.

PERDÃO

“Mas aquele a quem pouco foi perdoado mostra pouco amor. ”


Lucas 7:47

O ressentimento atrapalha a felicidade. As magoas de ontem


podem permanecer conosco como cicatrizes que parecem indeléveis.
Se você foi magoado ou ofendido e não consegue esquecer, deve estar
lutando contra um ressentimento que perturba a sua felicidade. As
vezes a única cura para esse tipo de raiva e rancor e o perdão.
O perdão e uma ferramenta poderosa para restaurarmos a felicidade.
Não se trata de pedir desculpas as pessoas, de tolera-las ou
mesmo de compreende-las. Como expliquei no quinto capitulo, existe-

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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tem dois níveis de perdão. No primeiro ha a decisão de não retribuir


o mal com o mal. No segundo ha a reconciliação. Este segundo nível
de perdão envolve a árdua tarefa de entender a dor que foi causada,
um profundo arrependimento pela ofensa cometida e a reparação da
ferida criada no relacionamento. Embora requeira muito esforço, o
beneficio para nossa felicidade pessoal compensa.

As vezes a único tipo de cura para esse tipo


de raiva e rancor é o perdão .

Julia veio para a terapia porque era muito infeliz no casamento. As


frequentes brigas com o marido perturbavam seu bem-estar. As vezes
pensava que tinha se casado com a pessoa errada e em outros momentos
achava que o problema era dela. As discussões com o marido
eram tão graves que chegava a atirar objetos nele e o amaldiçoava de
forma descontrolada. Por isso resolveu se tratar.
Não demorou muito para descobrirmos uma das razoes dos problemas
conjugais de Julia. Ela havia sido violentada na infância durante
muitos anos e nunca havia lidado com esse trauma. Seu marido
conhecia o fato, mas não sabia como ajuda-la. Julia estava vivendo
com uma profunda ferida que afetava seus relacionamentos com
todos os homens, sobretudo com o marido.
- Fico com ódio do meu m árido - confessou Julia.
- A raiva e um meio eficaz de mantê-lo afastado de você quando
não se sente segura - eu disse.
- Não sei se esse casamento tem jeito - ela disse com um ar preocupado.
- Sinto que ele esta frustrado por não termos relações sexuais com
frequência, mas como posso ter desejo se estamos sempre brigando?
- Imagino que o abuso sofrido na infância deixou em você sentimentos
confusos em relação ao sexo. Compreendo que não se sinta
segura - acrescentei.
- Na maioria das vezes tenho nojo - disse Julia com uma estranha
voz infantil. - Pensando bem, acho que sempre senti nojo.

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Embora Julia estivesse em busca de ajuda para seu casamento, tínhamos


inúmeros outros pontos a trabalhar. Passamos varias sessões
discutindo a dor, a raiva e a vergonha que ela sentia por causa do
abuso. Como o homem que a molestara já tinha morrido, ela precisava
trabalhar sua dor na terapia. E, felizmente, Julia progrediu bastante.
Ao se compreender melhor, as discussões com o marido mudaram
de qualidade. Ela não se sentia mais impotente e podia se proteger
com palavras, em vez de atirar coisas nele e insulta-lo. Lamentou-se
ao perceber que era sua dor do passado que a fazia agredir o marido.
Então algo inesperado aconteceu. Depois de conversar com o marido
sobre as magoas e os medos que sua raiva encobria, e o quanto
lamentava o modo como o tinha tratado, percebeu que ele não se ressentia
mais. Ver o que se passara entre eles sob uma nova luz permitiu
ao marido se libertar do rancor pelas agressões da mulher e perdoa-la.
Quando Julia percebeu isso, seu amor pelo marido desabrochou.
Hoje, Julia e muito mais feliz no casamento e esta tentando engravidar.
Sentir-se amada e perdoada quando estava em seu pior
momento mudou tudo. Ela compreende o que a Bíblia quer dizer
quando declara que aquele a quem pouco foi perdoado mostra pouco
amor. Quando sentimos o mais profundo nível de perdão também
sentimos o mais profundo nível de amor.

FELICIDADE NÃO E AUSÊNCIA DE SOFRIMENTO


“Assim está escrito que o Cristo devia sofrer. ”
Lucas 24:46

Uma parte importante da vida de Jesus e representada por seu sofrimento


e morte. Ele não tentou evita-los, como a maioria de nos
faria, mas os acolheu como um aspecto necessário de sua existência.
Segundo Jesus, existe uma relação entre sofrimento e amor. Enfrentar
o sofrimento com coragem desenvolve uma capacidade maior de
amar e de levar uma vida feliz e cheia de significado.

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A felicidade não exclui o sofrimento, o que e bom, porque o sofrimento


e inevitável. A felicidade depende da maneira como vamos
sofrer. Foi isso que Jesus ressaltou em sua própria vida. Evitar o sofrimento
não nos leva a uma vida mais feliz, mas a forma de enfrenta-lo
conduz a uma vida mais significativa.
A felicidade n a o exclui o sofrimento , o q u e é b om ,
porque o sofrimento e inevitável. A felicidade
d e p e n d e d a m a n e ir a c om o vamos sofrer.
Anna cresceu numa família rígida e repressora. Ela se lembra de
ter passado grande parte da infância em longas reuniões de família
ou em funções na igreja, onde se sentia oprimida e deslocada. Ela era
uma criança sensível, criativa e espontânea, o que desconcertava sua
família e a comunidade, muito tradicionais. Quando entrou na
adolescência,
o conflito entre Anna e os pais aumentou. Ela expressava
sentimentos que brotavam espontaneamente, e eles a censuravam por
isso, qualificando suas emoções de inadequadas. Quando nossos pais
dizem que nossos sentimentos mais íntimos são ruins, passamos a
achar que nós também somos ruins. Como Anna se achava inaceitável,
saiu de casa aos 18 anos e nunca mais voltou.
Aos 30 anos, Anna havia sofrido diversos traumas, tivera vários
relacionamentos
fracassados e perdera a esperança de ser feliz. Chegou
a terapia deprimida e receosa de haver algo errado com ela. Se os próprios
pais não gostavam de quem ela era, que esperança poderia ter de
encontrar alguém que gostasse?
- Eu sei que sou toda errada - disse Anna.
- Como errada? - perguntei.
- Qualquer pessoa com a m in h a criação teria problemas -
queixou-se. - Mas não da para voltar atrás no tempo e corrigir
isso. Acabou. Eu me sinto prejudicada e ninguém pode desfazer
isso. Não tenho condições de ser feliz um dia. Minha dor não tem
cura.

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O sentimento de Anna com relação ao sofrimento da infância era


natural. Quando se e magoado muito cedo, o prejuízo e permanente.
A dor ficou dentro de nos por tanto tempo que e difícil imaginar a
vida sem ela. Entretanto, de um ponto de vista psicológico, a dor não
e patológica. Isso significa que não e o sofrimento que causa problemas
psicológicos, mas o modo como lidamos com ele.
A medida que a terapia avançava, descobri que o problema de
Anna consistia em sua crença de que era defeituosa por causa do
sofrimento
que expressava. Anna tinha sido muito rejeitada e humilhada
na infância. Quando as emoções que brotavam espontaneamente dela
eram censuradas, Anna achava que era má. Essa vergonha resultou
numa serie de escolhas erradas com base na ideia de que “não tinha
condições” para ser feliz.
Anna esta começando a se sentir diferente em relação a vida. Ainda
sofre por causa de sua infância e esta considerando a possibilidade
de conversar abertamente com os pais pela primeira vez em muitos
anos. Ela não espera que mudem, mas gostaria de tentar falar com
eles agora que se sente com liberdade para isso. Anna também sofre
as consequências de todas as mas escolhas que fez ao longo dos anos,
mas seu ponto de vista hoje e diferente. O sofrimento não atesta mais
sua falta de condições para construir uma vida feliz. Agora ela se da
conta do que acontece com uma mulher sensível que tenta atravessar
a vida rodeada por pessoas rígidas. Anna constata, com alegria, que
não existe algo de errado nela, mas no modo como foi tratada.
Anna descobriu mais uma coisa: sua sensibilidade e um bem em
sua vida. O que era indesejável e censurado no passado e hoje um
meio de se conectar num nível mais profundo e significativo com outras
pessoas igualmente sensíveis e afetivas. A sensibilidade que lhe
causou grandes sofrimentos pode lhe proporcionar profundas alegrias.
Anna tem consciência de que seus sentimentos, assim como
os de todo mundo, algum dia serão feridos na vida. Mas a satisfação
que lhe trazem as relações profundas que agora consegue estabelecer
e uma grande fonte de felicidade.

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A vida de Jesus nos diz que ha uma relação entre sofrimento e


amor. E preciso estarmos vulneráveis para podermos amar, embora
isso signifique que corremos sempre o risco de ser magoados. Jesus
se tornou vulnerável ao sofrimento e a morte para nos mostrar que
este e o único caminho para o verdadeiro amor. Talvez, como Anna,
você tenha sofrido, mas isso não significa que não possa ser feliz.
Aprenda com o exemplo de Jesus que não e a ausência de sofrimento
que nos faz felizes, mas a presença da coragem para enfrentar
a dor e supera-la.

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CAPÍTULO8

Amor

O SEGREDO CRISTÃO

“A maior delas é o amor. ”


I Coríntios 13:13

Conceitos da Física Quântica popularizaram a noção de que o


Universo esta mais interligado do que pensavam os cientistas de gerações
anteriores. Reconhecer essa interligação e algo reconfortante.
Não somos seres isolados e desconectados tentando achar sentido
para a vida. Somos um ser único, de uma forma que estamos apenas
começando a entender.
A Bíblia também fala do Universo como sendo interligado e unificado.
Ha uma significativa relação entre todas as coisas e um proposito
para a maneira como o mundo foi criado. Do ponto de vista bíblico, um
Deus pessoal criou o Universo com um proposito e um desígnio
específicos.
A partir dessa perspectiva, somos capazes de ver que o Universo
foi planejado para nos atrair para uma conexão pessoal com cada ser
humano e com Deus. E o meio para alcançar isso e o amor.

Temos capacidade de magoar nossos amados ,


e quando isso acontece o caso deve ser tratado
cuidadosamente e não descartado .

Andrew e Stephanie formam um casal bonito que vive num bairro


de classe alta. Gostam de programas culturais e são muito espiritualiza

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dos, apesar de não se sentirem ligados a qualquer religião institucional.


Estudaram as principais religiões e procuram tirar de cada uma o
que julgam proveitoso.
Andrew e Stephanie procuraram a terapia de casal por desejarem um
crescimento pessoal. Como acredito que esta seja uma excelente razão
para se buscar a terapia, gostei muito da ideia de trabalhar com eles.
- Não temos problemas realmente graves - anunciou Andrew em
nossa primeira sessão. - Queremos trabalhar um pouco a nossa
comunicação.
- Entendi. Tem algum ponto em que vocês se sentem bloqueados?
- perguntei.
- Bem, tivemos um desentendimento esta semana - adiantou
Stephanie.
- Pode ser um bom ponto de partida. O que aconteceu? - indaguei.
- Foi na verdade uma grande tolice - disse Andrew com um certo
embaraço.
- Quase sempre questões importantes se revelam em fatos corriqueiros.
Por que não me contam? - insisti.
- Tudo bem - disse Stephanie cautelosamente. - Foi por causa da
conversa de Andrew com uma amiga nossa em uma festa. Ela e uma
mulher muito bonita e atraente. Eu achei que ele estava conversando
demais com ela e aquilo me incomodou. Tentei comentar com ele
depois, mas não deu certo.
- Compreendo - eu disse. - E o que você falou?
- Bem - disse Stephanie, olhando de soslaio para Andrew. - Disse
que ele tinha me magoado dando tanta atenção aquela mulher bem
na frente de nossos amigos. Achei improprio.
- Esta vendo? E isso o que ela faz - disse Andrew firmemente,
olhando para a mulher. - Olha, Stephanie, não e problema meu se
você se sente insegura na presença de outras mulheres bonitas. Eu
não estava fazendo nada demais. Quantas vezes tenho que repetir que
o problema e seu!

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Essa e uma afirmação que ouço com frequência. E não fiquei


surpreso quando Andrew se voltou para mim esperando que eu concordasse
com ele. Fiquei quieto, esperando que, com o tempo, ele fosse
descobrindo que meu ponto de vista era diferente. E impossível que
duas pessoas convivam intimamente sem que as ações de uma despertem
determinados sentimentos na outra. Temos a capacidade de magoar
nossos amados, e quando isso acontece o caso deve ser tratado
cuidadosamente
e não descartado, como Andrew estava tentando fazer.
Com o passar do tempo, consegui ajudar Andrew e Stephanie a
melhorar a comunicação entre eles. Finalmente perceberam que assumir
a responsabilidade pelos sentimentos do outro era um aspecto
significativo do casamento. Em vez de julgar se o comportamento de
Andrew era ou não correto, importava examinar como cada um estava
fazendo o outro se sentir. Stephanie não devia acusar o marido,
mas simplesmente lhe mostrar que estava magoada. E Andrew era
responsável por reagir a essa magoa. A pergunta não era se estavam
agindo corretamente, mas se estavam agindo amorosamente.
A Bíblia nos diz que ha muitas virtudes na vida: “Fé, esperança e
amor. Porém, a maior delas é o amor." O segredo cristão e que, além
da lei da atração que conecta todo o Universo, existe o poder da ligação.
A maior de todas as virtudes e o amor, porque e através dele que
fomos planejados para nos ligarmos a Deus e aos outros.

O AMOR É MAIS PODEROSO QUE O ÓDIO

“Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra.”


Lucas 6:29

A marca dos ensinamentos de Jesus e o amor. Sua mensagem simples


de amor a Deus e aos outros foi traduzida para mais de uma centena
de línguas, com 10 milhões de copias publicadas a cada ano. As
instruções de Jesus sobre o amor permanecem como o mais poderoso
ensinamento dos últimos 2 mil anos.

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184

Entender o poder do amor n cm sempre e fácil. A determinação


“ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra” pode nos dar
a impressão de uma atitude passiva, submissa e pouco eficaz. Mas
se a examinarmos com atenção veremos que ela não nos orienta a
fugir ou a nos acovardar diante das disputas. Jesus recomenda
especificamente
a seus seguidores p ara resistirem diante do conflito, para
não recuarem e continuarem a amar os outros, mesmo que eles se
comportem de maneira hostil. A prensagem aqui e que o amor e mais
poderoso do que a violência ou o ódio, e aqueles que vivem guiados
por esse poder triunfarão.

Diante do conflito, não desista não recue e continue a amar os outros ,


Mesmo que eles se comportem de maneira hostil com você .

Ha muitos anos, assisti a uma palestra de Elizabeth Elliott, ex-missionaria


e uma das principais escritoras cristas dos Estados Unidos.
Filha de missionários, ela ficou tão impressionada com o estilo de
vida altruísta dos pais que resolveu seguir seu exemplo quando crescesse.
Casou-se com Jim Elliott em 1 9 5 3 , e o casal iniciou seu trabalho
missionário entre as tribos primitivas do Equador que ainda não h a viam
feito contato com o mundo exterior. Jim acreditava que não
só podia lhes levar recursos médicos e materiais que melhorariam
sua qualidade de vida, como lhes apresentar a mensagem de amor de
Deus para desenvolver sua espiritualidade.
Depois do nascimento da filha, Jim decidiu fazer contato com a
tribo dos aucas, famosa pela violência. Jim achava que essa hostilidade
não correspondia ao modo como os indígenas queriam realmente
viver, mas era produto de gerações de medo e isolamento que
os forcava a agir dessa maneira. Acreditando que Deus ama todas as
criaturas e quer que elas experimentem o Seu amor, os Elliott prepararam
o contato de Jim com os aucas.
Depois de um bem-sucedido encontro com alguns membros da
tribo, Jim e seu parceiro foram tragicamente assassinados, deixando

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

185

Elizabeth desolada. A maioria das pessoas teria provavelmente partido,


mas não foi essa a reação de Elizabeth. Acreditando que o amor
e mais forte que o ódio, ela ofereceu a outra face.
Sozinha com um bebe de 10 meses, Elizabeth continuou seu trabalho
com as tribos do Equador ate conhecer duas mulheres aucas a
quem amparou e abrigou em sua casa durante um ano. Estimulada e
apoiada por elas, Elizabeth finalmente foi viver com os aucas durante
dois anos. Por acreditar que o amor e mais forte que o ódio, ela conseguiu
perdoar e amar as pessoas que mataram seu marido. Como
resultado de sua missão, os violentos selvagens se tornaram “seguidores
de Deus”.
São poucos os que já enfrentaram um desafio tão grande como esse.
Para nos, a batalha travada entre o ódio e o amor se da numa escala
bem menor, mas a essência e a mesma. Os Elliott demonstraram com
seu exemplo de vida como o amor acaba vencendo. Ao se depararem
com a violência e o ódio, não recuaram. Resistiram e continuaram a
amar as pessoas que lhes tinham feito mal. No fim, o amor triunfou.

AMAR AO PRÓXIMO

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo. ”


Levítico 19:18

O Rio de Janeiro e uma das cidades mais bonitas do mundo. E um


destino turístico internacional, famoso por suas praias pitorescas e
vistas impressionantes. Mas o que muitos não sabem e que o Rio e um
local onde vivem populações extremamente pobres. A Zona Oeste do
Rio e de tal forma dominada pelo crime e pelos traficantes de drogas
que muitas vezes a policia evita transitar por algumas de suas ruas. A
violência diária e o ódio que existem na região estão muito além do
que a maioria das pessoas pode imaginar.
O editor Geraldo Jordao Pereira vivia no Rio e sempre foi uma pessoa
preocupada com a comunidade. Seguindo os passos de seu pai,

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

186

fundou uma bem-sucedida editora, mas paralelamente criou duas


obras sociais, uma dedicada a jovens carentes e outra, a idosos.
Em virtude de seu tino empreendedor e da sorte de publicar alguns
campeões de venda no pais, Geraldo teve recursos para criar a
primeira fundação comunitária do Brasil, com o objetivo de financiar
projetos humanitários. Seu proposito, além de ajudar os mais carentes,
era motivar outros empresários a apoiarem obras filantrópicas
em seu pais.
Como Geraldo publicou meus livros no Brasil, tive a oportunidade
de conhece-lo. Eu o via como uma espécie de homem renascentista, um
empreendedor também interessado em arte, literatura e obras sociais.
Garboso em seu modo de vestir, trazia sempre um sorriso no rosto e
era avido por conversar sobre atualidades de interesse internacional.
Em uma de minhas viagens ao Rio lhe perguntei sobre suas obras nas
favelas da Zona Oeste. Eu conhecia a violência e a pobreza de lá e estava
curioso para saber como sua organização estava lidando com essas
questões. Foi ele quem me contou como começou o seu trabalho.
- Além de ter tido a sorte de publicar O código Da Vinci, fui, sobretudo,
extremamente abençoado com a família que constitui. Senti
então que precisava retribuir de alguma forma por tudo o que tinha
recebido. Como o livro foi um grande sucesso no Brasil, tive meios
para criar um fundo e, com seu rendimento, apoiar dezenas de projetos
destinados a idosos, crianças, adolescentes e pessoas com vários
tipos de deficiência.
- Então você criou uma fundação que ajudara as pessoas mesmo
depois que você tiver partido - falei.
- E verdade - continuou Geraldo. - Mas não e só isso. Decidimos
que não queremos ficar apenas “apagando incêndios” na favela. Deus
sabe que ha muitos por lá. O que pretendemos e atingir a raiz do problema.
Por isso, entre outras iniciativas, criamos centros para profissionalizar
as meninas e adolescentes das favelas da Zona Oeste. Não
queremos apenas lhes proporcionar uma vida melhor. Queremos lhes
oferecer instrumentos para melhorar suas vidas por si mesmas.

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Não queremos apenas lhe proporcionar uma


Vida melhor . Queremos oferecer instrumentos
Para melhorar suas vidas por si mesmas.

Com o dinheiro que ganhou, Geraldo poderia ter comprado obras


de arte, construído uma casa maior e elevado seu padrão de vida. No
entanto, num nível espiritual profundo, ele de algum m odo sabia que
o que mais traria alegria e satisfação para a sua vida seria agir com
amor pelo próximo.
Geraldo descobriu a verdade de que amar o próximo como a si
mesmo e um modo poderoso de viver - mais poderoso do que qualquer
bem material.
Infelizmente Geraldo Jordao Pereira faleceu enquanto eu estava
escrevendo este livro. O mundo perdeu um grande homem, mas seu
impacto sobre nos continuara. Gosto de pensar nele no céu, conversando
animadamente com Deus sobre fatos de interesse universal,
vestindo uma túnica garbosa, com aquele seu eterno sorriso no rosto.
Em algum ponto da conversa, imagino Deus virando-se para ele e
dizendo: “Geraldo, toca meu coração saber que você entendeu o que
eu quis dizer quando pedi para amar o próximo como a si mesmo. Eu
te amo e me orgulho muito de você.”

O AMOR AO D INHEIRO

“Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. ”


I Timóteo 6:10

Por vezes ouço as pessoas citarem erradamente as Sagradas Escrituras


afirmando que “a Bíblia diz que o dinheiro e a raiz de todos
os males”. A Bíblia não diz isso. Ela diz que “o amor excessivo ao dinheiro
é a raiz de todos os males”. Esta e uma importante distinção.
O dinheiro e uma ferramenta que pode ser usada para promover um
grande bem. E é algo que somos convocados a administrar da melhor

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188

maneira possível. O dinheiro não e o mal, mas o amor excessivo a ele


pode ter varias consequências maléficas.
O amor ao dinheiro se apoia na cobiça. E uma fantasia perversa
acreditar que o essencial da vida esteja contido em objetos que podemos
adquirir. A cobiça e um antidoto para a dor do isolamento.
Quem se apaixona pelo dinheiro deixa de ter necessidade da ligação
com Deus e com os outros para se sentir completo. A cobiça e basicamente
uma compulsão por uma fonte concreta de prazer nunca
satisfeita, porque e um substituto para o amor.

Parte da satisfação em obter as coisas provém do


Esforço que temos de fazer para conquistá-las .

A mãe de Bradley o incentivou a procurar a terapia. Ele era um


estudante universitário que vivia num simpático apartamento numa
parte nobre da cidade. Bradley vinha de uma família muito rica e
tinha tudo o que desejava. Seu desempenho acadêmico era baixo,
mas, em virtude das expressivas doações feitas por seus pais, as escolas
o aceitaram. Apesar de não ser m a pessoa, Bradley era desmotivado
e incapaz de encontrar uma direção na vida. Sua mãe esperava
que a terapia o ajudasse.
- Seja duro com eles - Bradley m e disse.
- Com seus pais? - indaguei.
- E - ele respondeu com um sorriso. - Espero que você cobre deles
uma baita conta para me atender.
- Então você não queria estar aqui? - perguntei.
- Ah, sei lá - falou Bradley. - Não tenho nada contra a psicologia.
Era uma das minhas matérias prediletas na escola. Só que minha mãe
fica com essas ideias de quem ela quer que eu seja. Espero que eles
aliviem minha barra.
- Seus pais complicam a sua vida - eu disse.
- Sim e não - respondeu Bradley. - Eles estão me pressionando
para eu terminar a faculdade e seguir uma carreira politica ou algo

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189

assim. Eu sou o herdeiro deles e não posso decepciona-los. Mas, por


outro lado, e bastante fácil para m im- conseguir tudo o que eu quero.
Posso comprar qualquer um na faculdade. Desse jeito a vida não
fica tão dura.
Bradley continuou descrevendo seu estilo de vida extravagante que
incluía relações amorosas casuais com estrelas de cinema, viagens luxuosas
pelo mundo afora e grandes excentricidades, como levar uma
namorada a Paris só para jantar em seu restaurante favorito. Não se
podia dizer que tivesse amigos, mas uma verdadeira comitiva o seguia
e se beneficiava do seu esbanjamento.
No entanto, a vida de Bradley era uma contradição. Mesmo tendo
uma vida excitante, ele estava quase sempre entediado. Não sentia estimulo
para avançar. Financeiramente, já tinha tudo. Parte da satisfação
em obter as coisas provem do esforço que temos de fazer para
conquista-las. Bradley fora privado disso.
Faltava-lhe ambição. Ele não tinha planos de trabalhar para conseguir
nada porque tudo sempre havia sido fornecido e providenciado
para ele. Crescera sob os cuidados de governantas, estudara em internatos
no exterior e tinha um relacionamento muito superficial com
os pais, especialmente com o pai. Sentia-se agradecido a eles, mas não
se sentia amado. Isso o deixava com uma sensação de vazio e solidão
que ele encobria com seu apego ao dinheiro e a tudo que este podia
lhe proporcionar.
A cobiça e a ambição desvirtuada. Deus nos criou com o ímpeto
sadio de crescermos e sermos mais do que somos hoje. Esta e a ambição
saudável que nos estimula a realizar nosso potencial. A cobiça
e a noção corrompida de que podemos nos apoderar da parte boa da
vida sem precisar de ninguém, nem de nos tornarmos uma pessoa
melhor ou de amar alguém. A ambição consiste em evoluirmos em
direção ao bem. A cobiça, em rouba-lo para nos.
Não sei ao certo o quanto pude ajudar Bradley. Procurei auxilia-
lo a compreender as raízes de sua falta de direção na vida e a
lidar com os sentimentos de solidão e desamparo. Mas muitas vezes

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era como tentar conduzir a terapia com um alcoólatra ativo. Cada


vez que eu procurava explorar os sentimentos dolorosos para promover
o crescimento de Bradley, ele saia da sessão e ia buscar em
seu mundo de riqueza os recursos para afastar todas aquelas sensações
desagradáveis.
Quero deixar claro que o amor excessivo ao dinheiro não existe
somente entre os ricos. Ele e igualmente encontrado entre aqueles
que foram criados na pobreza. Sua origem e a falta de amor. Muitas
pessoas se apaixonam pelo dinheiro e fazem tudo para obtê-lo por
não se sentirem amadas. Infelizmente elas terão de aprender a lição
de Bradley: o dinheiro nunca retribuirá com amor.

O AMOR CURA MÁGOAS

“A ciência incha, mas o amor edifica. ”


I Coríntios 8:1

Estou muito entusiasmado com os avanços da ciência no campo


do aconselhamento conjugal nos últimos anos. Pesquisadores vem
identificando mais cedo os sinais de desgaste nos casamentos para
poderem ajudar as pessoas a restaurar seus relacionamentos antes que
acabem em divorcio. E psicólogos estão desenvolvendo técnicas para
condução da terapia de casal que tem auxiliando consideravelmente
os terapeutas no trabalho com seus clientes.
A Terapia de Foco Emocional tem como objetivo criar uma conexão
emocional segura para ajudar os casais a suportar os desafios da
vida conjugal. Casais que tentam solucionar seus problemas racionalmente
conseguem ate certo ponto passar a viver melhor. Mas e apenas
atingindo as razoes emocionais que os problemas mais profundos
podem ser sanados.

É apenas atingindo as razões emocionais que


Problemas mais profundos podem ser sanados.

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Jose e Alexandra decidiram buscar o aconselhamento conjugal


porque se sentiam distantes no casamento. Não brigavam com frequência,
e quando isso acontecia nenhum dos dois perdia o controle.
Mas não havia espontaneidade entre eles, o que causava muita tensão.
Os dois estavam infelizes e sabiam que precisavam de ajuda.
Nem todos os casais expressam a raiva abertamente. Algumas
pessoas a engolem e ficam deprimidas, apáticas ou a somatizam.
Mas debaixo de um vulcão aparentemente extinto pode haver um
núcleo de lava fervendo. Jose e Alexandra estavam magoados e revoltados,
mas não encontravam uma maneira proveitosa de falar
sobre o assunto.
- Acho que devemos contar o que aconteceu quando compramos
a casa - disse Alexandra com cautela.
- Tudo bem - eu disse. - Talvez seja um assunto mal resolvido.
Você esta de acordo, Jose?
- Não vejo razão para falar sobre essa questão de novo - disse Jose,
na defensiva. - Já conversamos sobre isso um monte de vezes, e para
mim chega. Por que ficar se concentrando no passado?
- Nem sempre falar sobre coisas do passado e proveitoso - lancei.
- A menos que haja questões mal resolvidas e sentimentos que ainda
precisam ser discutidos. Se for este o caso, não estaremos apenas
esmiuçando
fatos passados, mas também falando sobre o que esta acontecendo
entre vocês dois hoje.
Jose e Alexandra estavam bloqueados, porque a única ferramenta
que possuíam para sair do impasse era o raciocínio. Eles tinham
conversado
sobre os fatos que envolviam a compra da casa inúmeras vezes.
Mas a dor e o desentendimento resultantes dessa compra nunca eram
resolvidos. Cada um tinha a impressão de que se conseguisse fazer o
outro concordar com o seu ponto de vista o conflito estaria solucionado.
Mas quando se trata de casamento isso raramente funciona.
Jose e Alexandra cresceram em lares em que o conflito não era
bem conduzido. Jose nunca viu seus pais brigarem abertamente,
e Alexandra sentia que o pai intimidava a mãe. Nenhum dos dois

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assistira a uma franca expressão de sentimentos que promovesse


uma aproximação. Em consequência, não sabiam como falar dos
próprios sentimentos feridos. Tentavam ser justos e razoáveis um
com o outro, mas, como e impossível que duas pessoas concordem
racionalmente sobre tudo, havia algumas questões que eles não conseguiam
resolver.
- Como você se sentiu em relação a compra da casa? - perguntei a
Alexandra.
- Me senti muito sozinha - ela respondeu suavemente.
- Sozinha? Mesmo? - indaguei. - A maior compra de sua vida, o
lugar onde vocês iam construir um lar juntos, e você se sentiu sozinha.
E você, como reage ouvindo-a dizer isso? - perguntei a Jose.
- Como me sinto? - ele repetiu asperamente. - Pois vou lhe dizer.
Eu também me sinto sozinho.
Percebi que ele estava prestes a desfiar uma lista de motivos pelos
quais se sentia tão solitário quanto sua mulher, e isso não iria ajudar.
Alexandra não precisava ouvir as razões do marido, ela precisava
saber o que havia dentro de seu coração.
- Quero que você me diga como se sente quando Alexandra diz
que se sente solitária - eu falei para Jose.
- Ah - ele exclamou, pego de surpresa. - Não me sinto bem. Me
faz mal saber que ela se sente solitária - disse. - Não quero que você
se sinta assim - falou para a mulher.
- E como você se sente ouvindo o que ele acabou de dizer? - perguntei
a Alexandra.
- Menos solitária - ela respondeu, olhando para o marido.
O conhecimento racional tem o poder de nos ajudar ao longo da
vida. Mas usar argumentos racionais para se justificar numa discussão
com seu parceiro provavelmente fara você parecer na defensiva e
indiferente. Esse tipo de impasse raramente se resolve dessa maneira.
Deixar a pessoa amada saber que nos importamos com sua dor faz toda
a diferença. As circunstancias em torno do desentendimento podem
permanecer as mesmas, mas a conexão entre o casal se restabelece.

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Esse problema que distancia Jose e Alexandra não se resolve num


passe de magica, com uma conversa. Mas aprender a importância de
trocar emoções e sentimentos promove uma aproximação. Concordar
com o que sabemos em nossas mentes só resolve ate certo ponto a
distancia que sentimos em nossos corações. A sabedoria bíblica e que
a ciência incha, mas o amor edifica. Quando se trata de resolver conflitos
conjugais, nada pode ser mais proveitoso.

AMOR ROMÂNTICO

“Há três coisas que me são mistério, quatro mesmo que não compreendo:
o voo da águia nos céus, o rastejar da cobra no rochedo, a navegação de
um navio em pleno mar, o caminho de um homem junto a uma jovem.”
Provérbios 30:18-19

O amor e um mistério. Usamos a palavra amor para falar de muitas


coisas. Amamos nossas maos, amamos o futebol, amamos nosso
pais e amamos alguém em especial. Talvez a maior confusão ocorra
quando estamos falando do amor romântico.
O poder do amor romântico tem sido observado pelos cientistas
em quase todas as culturas do mundo. Pode acontecer de repente,
como no amor à primeira vista, ou pode se desenvolver num
relacionamento
com alguém que conhecemos ha muito tempo. O amor romântico
cria uma sensação muito especial entre os amantes, gerando
pensamentos constantes, esperança, incerteza e mistério. Quase sempre
e uma paixão absorvente que libera hormônios programados para
criar excitação.
Infelizmente, o encantamento exaltado acaba. Observei que em
torno de dois anos no máximo uma experiência intensamente romântica
começa a mudar. Os hormônios da excitação diminuem e
são gradualmente substituídos pelos do contentamento. Os pensamentos
românticos ligados ao outro são substituídos pelas preocupações
da vida cotidiana. E, se tudo for bem, o encantamento sera substi-

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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tuido pelo afeto. Poderá ser revivido de tempos em tempos, mas não
permanecera no mesmo nível de intensidade que tinha nos primeiros
dois anos. O amor romântico e o meio que Deus usa para nos fazer
entrar nos relacionamentos, e a experiência de construção de um
amor companheiro e Seu meio para nos manter neles.

O amor romântico cria uma sensação especial entre os


Amantes gerando pensamentos constantes do
Outro, esperança , incerteza e mistério.

Jamais esquecerei o dia em que eu estava na porta de uma igreja em


Los Angeles, conversando com um amigo, quando uma loura muito
bonita passou. Meu amigo e eu pertencíamos a um grupo de homens
que se reunia na igreja aos sábados e, como éramos solteiros, muitas
vezes falávamos da dificuldade de encontrar a mulher certa. Quando
essa loura passou, rodeada por um bando de rapazes, tive o ímpeto de
falar com ela. No entanto, fiquei mudo, dominado por muita emoção,
sentindo-me extremamente tímido ante uma das mulheres mais
atraentes em quem eu já pusera os olhos.
Receando perder uma rara oportunidade, fui para casa, liguei
para um dos rapazes que a acompanhavam e descobri que ela se
chamava Barbara. Ansiosamente, voltei a mesma igreja, no mesmo
ponto, esperando vê-la de novo, mas ela não apareceu. Voltei na
semana seguinte, na outra e na outra. Durante três meses fui ate
a igreja, desejando intensamente encontrar aquela mulher. Eu me
sentia um tolo apaixonado, mas preso a uma busca que eu não conseguia
largar.
Um dia alguém me convidou para fazer uma conferencia para a
turma de solteiros que se reunia aos domingos. Encontrei mais de 200
jovens profissionais no auditório e me preparei para dar uma de minhas
palestras sobre relacionamentos. Nesse exato momento, quem
entrou, seguiu diretamente para a segunda fileira e se sentou bem na
minha frente? Adivinhou, foi Barbara!

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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Quase perdi a fala. Mas me recompus, implorei a Deus pelas palavras


certas e iniciei uma palestra da qual honestamente não me lembro.
Ao fim, me posicionei perto da porta de saída e agarrei minha
oportunidade antes perdida. Dessa vez eu estava pronto.
Quando ela se aproximou para me agradecer pela apresentação,
perguntei:
- Você e Barbara, não e?
- Sim, por que? - respondeu meio intrigada.
- Ah, acho que temos alguns amigos em comum - eu disse, para
disfarçar.
Passei os cinco minutos seguintes estabelecendo algumas áreas
de interesses comuns entre nos e lhe perguntei se gostaria de sair
um dia para conversarmos melhor sobre esses assuntos. Ainda meio
intrigada, ela me entregou seu cartão e me disse para ligar quando
quisesse.
Eu nunca tinha ousado tanto para encontrar uma mulher. Apesar
de meio envergonhado pelo meu atrevimento, estava sentindo uma
forte atração que m e empurrava em direção a ela. Ainda me sinto um
pouco constrangido com essa historia, mas nem um pouco arrependido
por ter feito o que fiz. Hoje, Barbara e minha mulher.
O amor romântico e uma parte criativa dos desígnios de Deus
para nos atrair para os relacionamentos. Ele transcende nosso entendimento
racional e atinge áreas de nosso inconsciente de um
modo impossível de ser ignorado. O amor romântico e um mistério
que não podemos resolver e que tem o poder de alterar o resto de
nossa vida.
AMOR SEXUAL

“E logo a seguir Amnon concebeu uma profunda aversão


por ela, mais violenta do que o amor que antes lhe tivera.
Levanta-te, disse-lhe ele, e vai-te!”
II Samuel 13:15

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O desejo sexual e um aspecto poderoso do relacionamento romântico


e pode se manifestar de duas maneiras. A primeira e o amor
erótico que acontece quando um relacionamento evolui com o
tempo, e um sentimento intimo de ligação emocional e espiritual leva
ao desejo de se unir também fisicamente. O amor erótico e sensual e
completa o vinculo entre duas pessoas que se amam. Ele e uma parte
importante da intimidade a longo prazo.
A segunda forma de amor sexual e o amor iotizado. E quando
alguém sente atração sexual e desejo de intimidade física com uma
pessoa com quem não tem um relacionamento mais solido. Os sentimentos
iotizados tentam compensar com uma ligação física o que
esta faltando emocional e espiritualmente. Eles tentam encobrir com
a euforia da atração sexual a falta de conexão entre duas pessoas.
Podem ser muito intensos e são capazes de viciar.

O amor erótico é sensual e completa o vínculo entre duas pessoas


Que se amam . O amor iotizado é uma tentativa de compensar com
Uma ligação física o que está faltando emocional e espiritualmente .

No segundo livro de Samuel, na Bíblia, ficamos sabendo do


relacionamento do rei Davi com seus muitos filhos de varias mulheres.
No capitulo XIII conta-se que Amnon, um dos filhos de
Davi, se apaixonou por T amar, a filha mais bela de Davi com outra
mulher. Como a situação era delicada, a atração de Amon por
Tamar se transformou numa obsessão tão intensa que “o consumia
a ponto de ficar doente” (II Samuel 13:2). Ele sabia que não era
certo desejar sua meia-irmã, mas o tabu parecia aumentar ainda
mais sua atração por ela. E assim que começam os sentimentos
erotizados. O desejo físico serve para compensar a falta de conexa
ou de disponibilidade que pode se estabelecer entre duas pessoas.
Amnon não sabia se amava realmente Tamar. O que sabia e
que a desejava com uma paixão que o consumia. A situação estava
deixando-o doente.

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COMO DEUS CURA A DOR – Mark W. Baker

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Como sempre acontece com os sentimentos erotizados, Amnon


passou a manipular para obter o que queria. Disse ao pai que estava
doente e pediu que sua irmã Tamar fosse a sua casa para lhe preparar
comida. Sem refletir muito, Davi pediu a filha que atendesse o irmão.
Quando Tamar chegou, Amnon mandou todos saírem e agarrou-a,
dizendo: “Vem, deita-te comigo, minha irmã!” (II Samuel 13:11).
Tamar protestou: “Não, meu irmão, não me violentes. Não se faz uma
tal coisa em Israel. Não cometas semelhante infâmia. Aonde levaria eu
o meu opróbrio (II Samuel 13:12-13). Tamar estava apelando para
o relacionamento que havia entre eles, mas Amnon não lhe deu ouvidos,
pois não era o relacionamento que o motivava, mas o amor
erotizado que o consumia.
Como as sensações erotizadas apagam qualquer capacidade de raciocínio,
a consciência e o sentimento de culpa de Amnon estavam
entorpecidos. Como não podia discernir mais o certo do errado, violentou
a irmã.
Então um fato interessante ocorreu. O versículo seguinte diz: “E
logo a seguir Amnon concebeu uma profunda aversão por ela, mais
violenta do que o amor que antes lhe tivera. Levanta-te, disse-lhe ele, e
vai-te’ (II Samuel 13:15). Uma vez satisfeito o desejo físico, Amnon
entrou em profundo contato com a dor da realidade. Ele não tinha
uma verdadeira ligação com Tamar, e a relação física aumentara
ainda mais a distancia entre os dois e entre ele e seu pai. Como sempre
acontece com o amor erotizado, Amnon passou quase instantaneamente
do amor ao ódio. Como vimos, os sentimentos erotizados
de Amnon por Tamar não passavam de uma fantasia sexual para encobrir
a falta de relacionamento com alguém que ele apenas via como
um objeto de desejo, não como uma mulher que realmente amasse.
A historia não acaba bem para Amnon. Davi ficou furioso com ele,
e Absalao, irmão de Tamar, o matou por vingança. Sentimentos erotizados
não aprofundam os relacionamentos porque não se baseiam
em boas ligações. Como Amnon descobriu, e melhor enfrentar a dor
do que encobri-la com atividades sexuais.

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O amor erótico e uma expressão maravilhosa do amor sexual. Ele


fortalece a união entre parceiros de vida, pois acrescenta uma ligação
física entre duas pessoas que se amam verdadeiramente. Mas o amor
erotizado pode ser uma perigosa distorção do amor sexual. Se os
sentimentos
dolorosos que ele encobre não forem identificados e elaborados,
o resultado certamente não sera muito romântico.

OBTER APROVAÇÃO VERSUS SER AMADO

“Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento


dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser
queimado, se não tiver amor, de nada valeria!”
I Coríntios 13:3

E com nosso comportamento que obtemos a aprovação dos outros.


Se agirmos de maneira respeitosa, as pessoas nos aprovarão. No
entanto, existe uma diferença entre ser aprovado e ser amado. Temos
necessidade de ser amados pelo que somos, além de ser aprovados
pelo que fazemos. Obter a aprovação dos outros e muito bom, mas se
torna um problema se sentirmos que só seremos amados se formos
aprovados.

Obter a aprovação do outro é muito bom , mas


Se torna um problema se sentimos que só
Seremos amados se formos aprovados .

Anita e uma mãe bonita, consciente e trabalhadora. Bem casada,


tem dois filhos a quem ama muito. Anita sente orgulho por ser muito
admirada no escritório de advocacia em que trabalha. Não e fácil, mas
Anita parece equilibrar a vida familiar e a profissional.
Mas, ainda que Anita afirmasse que tinha todas as razoes do mundo
para ser feliz, muitas vezes acordava triste sem saber por que. E de vez
em quando, no caminho de volta para casa, pensava em passar direto,

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sair da cidade e seguir em frente. Não fazia a menor ideia para onde
queria ir, apenas sentia vontade de largar tudo.
Como esses sentimentos e essas ideias a estavam incomodando,
Anita procurou a terapia. Disse ser grata por sua vida maravilhosa e
pediu que eu a ajudasse a entender suas contradições.
- Outro dia eu estava vendo um programa sobre aquela atriz nova
que esta fazendo uma turnê pelo pais - Anita me confessou. - De
repente eu me imaginei entrando em um avião e saindo de ferias para
sempre - falou.
- Parece que isso lhe deu alivio - comentei.
- Deu mesmo - disse Anita, com um sorriso. - Um grande alivio.
Mas eu me sinto ingrata e egoísta! Apesar de ter uma família que me
ama e uma carreira que muitas mulheres desejariam ter, fico planejando
abandonar tudo. O que significa isso?
Anita estava confusa com a própria reação. Amava tudo o que tinha
e apesar disso sentia esse desejo de libertação. Dedicava-se de todo o
coração a tudo o que fazia, mas o trabalho árduo não iria ajuda-la a
resolver seu problema. De fato, ele fazia parte do problema.
Anita era filha única e seus pais se divorciaram quando ela era
muito pequena. Ela não se recorda do pai, mas lembra de como a
mãe trabalhava arduamente para lhe proporcionar uma vida boa.
Anita e grata pelo amor e pelo apoio da mãe e, embora enfrentassem
muitas dificuldades, não trocaria o relacionamento com sua mãe por
nenhum outro.
Mas Anita não sentia apenas admiração e amor por sua mãe. Ela
também sentia obrigação de ser boa para ela. Como sabia o quanto a
mãe se desgastava para educa-la sozinha, tratava de nunca lhe causar
problemas, nem de se tornar um peso para ela. Anita acreditava que,
para ser uma boa filha, não podia fazer nada errado.
A mãe de Anita tinha muito orgulho da filha e a deixava exultante
quando dizia para os outros que ela era uma menina perfeita. Apesar
de saber que a mãe a amava, inconscientemente Anita estava mais
preocupada em ser aprovada por ela. Procurava de todas as maneiras

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não fazer nada que a desagradasse, nem a sobrecarregasse ainda mais,


sentindo que esta era a forma de garantir seu amor.
E importante obter a aprovação de nossos pais. Isso significa fazer
coisas para agrada-los, assim como evitar o que possa desgosta-los.
Mas precisamos também nos sentir amados pelo que somos, com
nossas falhas e imperfeições. Por causa das circunstancias de sua infância,
isso ficou faltando para Anita. Ela confundiu aprovação com
amor e passou a sentir que só seria amada se seu desempenho fosse
plenamente aprovado. Era esse aspecto que Anita precisava trabalhar
na terapia.
As fantasias de fuga que estavam atormentando Anita eram causadas
pelo excesso de esforço. Ela imaginava que se não correspondesse
as expectativas dos outros - se não fosse uma mãe, uma esposa e uma
profissional perfeita - não seria amada. Era uma carga tão exaustiva
que ela fantasiava as fugas. Anita descobriu que o amor deve ser dado
livremente, incondicionalmente. Então começamos a trabalhar esse
aspecto de sua vida: se sentir amada pelo que era. O trabalho árduo
em casa e no escritório pertencia a área da aprovação. Para ser amada
ela precisava fazer algo totalmente diferente.
Anita agora não se pergunta apenas o que deve fazer, mas também
o que gostaria de fazer. Isso permite que as pessoas a sua volta a conheçam
mais intimamente e a amem simplesmente pelo que ela é,
sem precisar obrigatoriamente ser boazinha e eficiente. Anita se sente
mais leve e livre, e os pensamentos perturbadores já não a assaltam
com a mesma frequência. Continua sendo uma profissional trabalhadora
e respeitada em sua comunidade, no escritório onde trabalha e por
sua família. Mas agora Anita sente na pele o que a Bíblia diz: “Ainda
que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada
valera'
Precisamos nos sentir aprovados e amados para estarmos de bem
com a vida. Obtemos a aprovação dos outros com nosso comportamento
generoso, mas não podemos obter o amor deles. O amor só

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e dado livremente. Não podemos obrigar ninguém a nos amar, mas


podemos criar condições para que nos deem seu amor como um presente
quando nos revelamos como somos de verdade.

AMOR FRATERNO

“Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos.”
Salmo 133:1

Muitas igrejas estão descobrindo a importância de reunir as pessoas


em pequenos grupos de oração e apoio. Nesses espaços e mais
fácil se abrir e dividir suas preocupações. Algumas vezes se formam
grupos só de mulheres, ou só de homens, porque a dinâmica muda
quando nos reunimos com membros do mesmo sexo.
Ha alguns anos, ajudei a organizar pequenos grupos de homens que
frequentavam a mesma igreja. Os homens tem necessidade de oração
e de apoio, embora não saibam muito bem pedir o que precisam.

Os homens têm necessidade de oração e de apoio, embora não


saibam muito bem pedir o que precisam.

O tempo que passei com esse grupo veio a ser uma das experiências
mais significativas de minha vida adulta. Vinte anos depois, alguns
daqueles homens ainda são meus amigos mais chegados. Nos riamos,
chorávamos, contávamos nossas historias e rezávamos uns pelos outros
de um modo que nunca faríamos se as mulheres estivessem presentes.
Lembro-me de um sábado em que eu estava sentado em circulo
com outros seis homens do nosso grupo. Eram todos lideres na comunidade
e na igreja, e eu me sentia honrado por me encontrar entre
eles. Estávamos ali para nos apoiarmos mutuamente, e havia só uma
regra - o que quer que fosse dito ficava apenas entre nos. Vincent foi
o primeiro a falar. Ele era um líder bastante conhecido na comunidade
e um homem de boa reputação na igreja.

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- Eu queria que vocês orassem por mim - começou Vincent.


Todos concordaram. Esse era um pedido normal.
- Bem, vocês me conhecem e conhecem minha mulher. Fomos
muito felizes no casamento durante anos, e eu queria que as coisas
continuassem assim - disse Vincent olhando para baixo.
Depois levantou a cabeça e continuou:
- Ha um determinado lugar aonde eu tenho ido ultimamente.
Rezem, por favor, para eu resistir a essa tentação. Minha mulher tem
sofrido muito com isso, mas e difícil resistir, e eu pensei que vocês
poderiam me ajudar.
Fiquei chocado. Não sabia se ele estava falando de um clube de
strip-tease ou de coisa pior. Tudo o que sabíamos era que Vincent estava
nos pedindo ajuda para deixar de fazer alguma coisa sobre a qual
não havia conversado com mais ninguém. Eu estava ouvindo a confissão
honesta de um homem que pedia apoio na maior luta de sua
vida. Naquele momento, eu m e senti honrado por estar entre pessoas
tão autenticas. Não éramos padres ouvindo em um confessionário.
Éramos um pequeno grupo de homens tentando se ajudar mutuamente
a viver melhor.
Mais tarde, perguntei a Vincent como tivera coragem de compartilhar
com o grupo uma situação tão intima.
- Eu sabia que se contasse a vocês certamente teria mais forca para
não voltar lá - disse ele.
Meu respeito por Vincent aumentou naquele dia. Eu não conhecia
os detalhes do problema, e não era necessário. Sabia que ele era
honesto, e essa honestidade que havia entre todos nos estabelecera
um vinculo muito forte e reconfortante. A medida que aprendíamos,
nesse convívio, a ser homens melhores, observávamos algo interessante
acontecer em nossa vida fora do grupo. Nós nos tornávamos
melhores para as nossas mulheres, filhos e pessoas ao nosso redor.
A Bíblia nos lembra: “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos
unidos viverem juntos.” Minha experiência nesse grupo comprovou
isso. Existem muitas formas de amor, e o amor fraternal e

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uma das mais importantes. Os homens precisam amar melhor os homens


para poderem amar melhor as mulheres. Isso significa que os
homens precisam conviver com outros homens como amigos, não
como competidores. Nossa honestidade nos uniu da maneira que
Deus pretende que os irmãos vivam, e nos tornamos todos melhores
por causa disso.

O AMOR D E DEUS

“Mas eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus por nós: quando
éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.”
Romanos 5:8

A maioria das formas de amor e condicional. O amor romântico


pode ser caprichoso. O amor de um amigo pode mudar dependendo
do comportamento do outro. O amor de um membro da família pode
ganhar tons diferentes de acordo com os fatos ocorridos no decorrer
da vida. Mas a Bíblia fala que o amor de Deus e incondicional. Deus
ama você, não importa quem seja ou o que tenha feito.
O amor humano e diferente. Não podemos agir do jeito que bem
entendemos e esperar que as pessoas continuem gostando de nos. O
amor humano requer que nos responsabilizemos por nossos atos e
aceitemos que os relacionamentos tem condições para se manter. E
difícil amar alguém que repetidas vezes nos magoa e nos desaponta.
Felizmente, o amor de Deus tem o poder de nos ajudar.

E difícil amar alguém que repetidas vezes nos magoa nos


desaponta . Felizmente , o amor de Deus tem o poder de nos ajudar.
Peter era uma pessoa arrogante que gostava de comprar uma briga.

Tinha poucos amigos, mas não parecia se importar muito com isso.
Sua mulher era um tanto passiva e não o enfrentava, o que fazia Peter
pensar que estava certo em seu comportamento agressivo. Ele não era

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feliz assim, mas procurou a terapia por causa do estresse que estava
atravessando em consequência de graves perdas financeiras.
- Não posso acreditar que aqueles idiotas não viram que isso ia
acontecer - queixou-se Peter.
- E frustrante quando as pessoas em quem confiamos não correspondem
as nossas expectativas - eu disse.
- Mas era obrigação deles! - gritou - Se tivessem sido mais responsáveis,
eu não estaria encalacrado.
- Eu sei - respondi.
- Eu controlava minha parte no negocio. Não me conformo por
ter sido tão estupido a ponto de me deixar envolver por aqueles imbecis
- retrucou Peter, com o rosto vermelho.
Peter passou um bom tempo queixando-se da burrice e da incompetência
dos outros, atribuindo a eles a culpa do seu estresse. Mas isso
não aliviava sua angustia. Além de ficar cada vez mais infeliz, estava
contaminando com sua amargura todos ao seu redor. Peter achava
defeito em todo mundo.
Não era difícil ver que Peter estava lutando contra um intenso sentimento
de inadequação. Seu pai tinha sido duro com ele, e sua mãe
nunca o protegera das criticas ásperas que o menino recebia. Peter
crescera sentindo-se inadequado, e isso fez com que na vida adulta ele
tivesse tanta dificuldade de relacionamento.
Trabalhar na terapia com Peter ficava mais difícil quando eu me
tornava alvo do seu desapontamento. Ele muitas vezes tinha a impressão
de que eu não o compreendia, que meus comentários eram
impróprios. Não era fácil tentar ajudar alguém de quem eu pessoalmente
não gostava.
Pedi então a Deus que me orientasse. Não compreendo muito bem
como a oração funciona, mas ela sempre me ajuda.
Algum tempo depois, durante uma de nossas sessões difíceis, um
pensamento me ocorreu. Eu era como Peter. Quando me sentia exposto
ou inadequado, tentava me justificar com explicações racionais.
Usar criticas e acusações era um mecanismo de defesa automático em

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mim. Uma das razoes que me fazia rejeitar Peter e que eu via nele o
mesmo tipo de mecanismo de defesa que eu usava, e isso me fazia mal.
Tomar consciência do quanto posso ser defensivo e critico com os
outros me ajudou a olhar Peter de outra maneira. Deus me ama tal
como eu sou, e o mesmo acontece em relação a Peter. Tive a sensação
de que, no processo da terapia, Deus estava tentando comunicar seu
amor incondicional a Peter através de mim. Passei a sentir por ele
um amor que só pode vir de Deus. Para mim, a terapia se torna as
vezes um espaço sagrado onde Deus se faz conhecer com mais clareza.
Acho que o tratamento de Peter foi um desses momentos.
Gostaria de dizer que Peter se transformou completamente com a
terapia, mas isso não aconteceu. Ele passou a ser menos critico com
a mulher, tomou um rumo mais positivo em sua carreira e se tornou
uma pessoa menos infeliz. Num dado momento, perto do fim do
tratamento,
Peter se referiu a mim como seu “melhor amigo”. Fiquei
surpreso e me senti privilegiado. Peter não se sentia chegado a ninguém,
e este talvez fosse um primeiro passo para se aproximar dos
outros. Estou convencido de que isso não seria possível sem a ajuda
de Deus.
Meu relacionamento com Deus e uma das áreas da minha vida
onde não preciso me defender. Posso me sentir exposto e inadequado
sem ficar envergonhado. No relacionamento com Deus me sinto
aceito tal como sou e amado, apesar das minhas falhas e imperfeições.
O amor incondicional de Deus por mim me fortalece para amar os
outros, apesar de todas as dificuldades.
Conta a Bíblia que Deus criou o mundo para que pudéssemos
ama-Lo e Ele pudesse nos amar. O Novo Testamento nos diz que
ele enviou seu filho para provar isso. Em Romanos 5:8 encontramos:
“Mas eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus por nós:
quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.” Deus nos
ama mesmo em nossos piores momentos. Não precisamos ser diferentes
para receber Seu amor. E uma experiência poderosa receber
esse amor, e uma experiência curadora dá-lo aos outros.

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E s t e livro e o resultado de muitos anos de esforço e de contribuição
de muitas vidas. Sou grato ao Dr. Robert Stolorow e ao Dr. Howard
Bacal, que m e ensinaram a ouvir a emoção da vida das outras pessoas,
assim como a minha própria. Sou grato também aos meus colegas e
amigos no La Vie Counseling Center que dividiram comigo o trabalho
da psicoterapia durante mais de 20 anos. Fico contente porque
Susan Hobson e Richard Pine da Inkwell Management transformaram
em realidade a visão deste livro. Quero agradecer a Dwight Case,
Don Morgan, Eugene Lowe e J. D. Hinton por me apoiarem
emocionalmente,
e a Dennis Palumbo por me dar clareza quando precisei. E
sou especialmente grato a Geraldo, Regina, Marcos e Tomas da Veiga
Pereira, da Editora Sextante, pela sabedoria que demonstraram ao levarem
meus livros para o Brasil, onde sou tão bem recebido.
Eu não teria conseguido escrever este livro se não fosse a vulnerabilidade
de meus pacientes e sua disposição de compartilhar comigo
seu sofrimento na busca pela cura. E minha maior gratidão e a
Deus, por me proporcionar a oportunidade de realizar esse trabalho
e por me abençoar, a minha mulher Barbara e aos nossos três filhos,
Brendan, Aidan e Brianna.
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