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nº USP 3751438
Atividade 1
QUESTÃO
1
(a)
Você
diria
que
Cleomedes
produziu
conhecimento,
no
sentido
da
definição
tripartida?
Explique
o
que
é
essa
definição.
(Ver
§
II.1
das
notas
de
aula,
ou
seja,
o
capítulo
II,
seção
1.)
a)
Sim,
é
possível
dizer
que
Cleomedes
produziu
conhecimento
no
sentido
da
definição
tripartida.
A
definição
tripartida
de
conhecimento
é
aquela
segundo
a
qual
o
conhecimento
é
opinião
verdadeira
justificada.
Ao
tratar
do
eclipse
lunar
como
produto
da
sobreposição
da
sombra
da
Terra
sobre
nosso
satélite,
Cleomedes
partiu
de
uma
opinião
verdadeira.
Produziu
sua
justificação
ao
refutar
o
argumento
segundo
o
qual
a
prova
do
contrário
(de
que
o
eclipse
não
se
forma
pela
passagem
da
Lua
pela
sombra
da
Terra)
estaria
na
aparição
simultânea
da
Lua
e
do
Sol
no
Horizonte.
Fê-‐lo
por
demonstrar
a
falsidade
de
tal
proposição
apresentando
o
fenômeno
da
refração
da
luz
solar
como
justificativa.
(b)
O
que
é
uma
explicação
científica,
para
Aristóteles?
(Ver
§
III.4,
e
também
o
primeiro
trecho
do
texto
de
Aristóteles
entregue
na
aula).
A
explicação
de
Cleomedes
se
encaixa
na
definição
aristotélica?
b)
A
explicação
científica
era,
para
Aristóteles,
aquela
cujas
premissas
atendiam
a
cinco
requisitos
extra-‐lógicos:
1)
As
premissas
devem
ser
verdadeiras;
2)
As
premissas
devem
ser
primárias
e
indemonstráveis,
3)
As
premissas
devem
ser
melhor
conhecidas
que
a
conclusão,
4)
Devem
ser
anteriores
(no
sentido
absoluto
ou
ontológico
do
termo)
e
5)
As
premissas
devem
ser
causas
da
atribuição
feita
na
conclusão.
Foi
ele
quem
conferiu
à
ciência
a
noção
de
que
para
que
uma
explicação
seja
verdadeira
ela
deve
ter
sua
estrutura
explicativa
baseada
nos
níveis
de
generalidade
das
suas
proposições.
Acreditando,
ainda,
que
a
mudança
das
coisas
se
devia
a
quatro
causas:
1)
material,
2)
formal,
3)
causa
eficiente
e
3)
uma
causa
final,
Aristóteles
considerava
que
uma
explicação
científica
deveria
envolver
esses
quatro
aspectos
da
causação.
A
explicação
de
Cleomedes
não
se
encaixa
na
definição
de
Aristóteles
pois,
embora
seja
verdade
o
que
ali
está
dito,
ele
não
o
demonstrou
segundo
o
método
proposto
por
Aristóteles.
Cleomedes
apresenta
a
etapa
indutiva
(indução
abdutiva),
ao
enunciar
que
o
eclipse
lunar
se
dá
pela
sobreposição
da
sombra
da
Terra
à
Lua.
A
partir
dela
demonstra
a
incorreção
da
hipótese
contrária
(o
eclipse
lunar
é
produzido
por
outro
fenômeno)
descrevendo
o
fenômeno
da
refração,
tomado
por
ele
como
hipótese
para
confirmar
o
erro
na
proposição
1
contrária,
que
dá
motivo
suficiente
para
confirmar
o
erro
da
hipótese
de
que
é
outro
fenômeno,
e
não
a
sombra
da
Terra
sobre
a
Lua,
que
causa
os
eclipses
lunares.
A
sua
premissa
é
verdadeira
(o
eclipse
é
mesmo
causado
pela
sombra
da
Terra),
mas
ele
está
procurando
demonstrar
sua
verdade,
algo
que
deveria
ser
tomado
como
pressuposto,
segundo
Aristóteles.
(c)
Este
episódio
envolve
o
estágio
resolutivo
ou
compositivo
do
conhecimento?
Explique
o
significado
desses
termos.
(§
X.1).
O
episódio
envolve
o
estágio
compositivo
do
conhecimento,
pois
Cleomedes
reúne
em
sua
argumentação
diferentes
elementos
de
conhecimento
necessários
para
reconstituir
o
fenômeno
original
do
eclipse
lunar.
O
estágio
resolutivo
do
método
científico
é
aquele
que
consiste
da
observação
e
da
formulação
de
princípios
explicativos.
A
composição
é
a
reunião,
no
estágio
dedutivo,
dos
princípios
encontrados
com
o
objetivo
de
reconstituir
os
fenômenos
originalmente
observados.
(d)
Qual
a
diferença
entre
indução
enumerativa
e
abdução?
Qual
(ou
quais)
deles
está
presente
no
trecho
citado?
(§
III.2
e
3)
A
indução
enumerativa
se
produz
pela
generalização
da
observação
da
semelhança
entre
casos
particulares.
A
indução
intuitiva
(ou
abdução)
é
uma
inferência
que,
se
correta,
amplia
o
conhecimento.
Está
sujeita
a
erros,
pois
parte
da
perspicácia
do
observador,
da
sua
livre
associação
de
ideias
sem
demonstração
ou
justificação.
O
trecho
citado
mostra
um
processo
de
indução
enumerativa
no
qual
Cleomedes
afirma,
a
partir
das
condições
já
conhecidas
do
ar,
da
possibilidade
de
se
enxergar
a
luz
do
Sol
mesmo
depois
deste
ter
se
posto
explicada
por
meio
do
fenômeno
ótico
da
refração
(o
exemplo
da
moeda
no
copo
d'água
e
indução
de
que
um
fenômeno
semelhante
ocorreria
com
o
ar
úmido,
refletindo
o
Sol
mesmo
depois
deste
já
ter
se
ocultado
no
horizonte).
QUESTÃO
2
Considere
a
distinção
básica
entre
realismo
(ou
“realismo
teórico”)
e
antirrealismo
(ou
fenomenismo,
no
sentido
lato)
(§
XII.3)
(a)
No
texto
de
Celso,
entregue
em
aula,
descreva
as
diferenças
entre
as
três
concepções
a
respeito
do
conhecimento
médico.
Como
elas
se
encaixam
na
definição
de
realismo
e
antirrealismo?
(Ver
também
§
VII.3
e
XII.1)
As
três
concepções
do
conhecimento
médico
apresentadas
no
texto
são
1)
a
teoria
racional
ou
"dogmática";
2)
a
teoria
com
base
na
experiência,
ou
"empírica"
e
3)
os
que
se
nomearam
"metódicos".
Os
dogmáticos
consideravam
necessário
e
possível
conhecer
as
causas
ocultas
das
doenças,
depois
as
causas
evidentes,
além
das
"ações
naturais"
e
da
relação
das
partes
internas
do
corpo,
por
meio
do
raciocínio
e
da
elaboração
de
hipóteses.
Trata-‐se
de
uma
concepção
realista,
pois
"defende
que
a
ciência
pode
fazer
afirmações
sobre
entidades
ou
leis
inobserváveis"
(apostila,
§XII.3,
p.
59)
2
Os
empíricos
tomavam
como
necessário
conhecer
as
causas
evidentes,
porém
julgavam
supérflua
a
investigação
das
causas
ocultas,
pois
consideravam
que
a
natureza
não
é
compreensível.
É
uma
postura
antirrealista,
isto
é,
que
considera
que
a
ciência
deve
se
restringir
ao
que
é
observável
ou
mensurável.
Os
metódicos,
por
sua
vez,
defendiam
que
a
ciência
devia
se
basear
na
experiência,
mas
sustentavam
também
a
necessidade
de
se
observar
as
características
comuns
às
doenças,
pois
sustentavam
que
nenhum
conhecimento
de
causa
(evidente
ou
oculta)
serviria
para
o
tratamento.
Adotavam
uma
postura
intermediária,
pois
que
consideravam
a
experiência
tal
como
os
empíricos
(o
conhecimento
parte
da
experiência
sensível),
porém
não
descartavam
(como
os
empíricos)
a
possibilidade
de
conhecimento
e
de
generalização
a
partir
da
reflexão,
do
raciocínio
com
base
nos
dados
obtidos.
(b)
Nos
textos
de
Geminus
e
de
Osiander,
entregues
em
aula,
explique
qual
é
a
diferença
entre
a
atitude
do
físico
e
do
astrônomo?
Como
elas
se
encaixam
na
definição
de
realismo
e
antirrealismo?
(Ver
também
§
VIII.4)
A
atitude
do
físico
é
a
de
demonstrar
a
partir
da
conformidades
com
princípios
pressupostos
de
perfeição,
eficiência
etc.
da
essência
dos
objetos
observados
(os
corpos
celestes).
Trata-‐se
de
uma
atitude
realista,
segundo
a
qual
o
estudo
de
seus
objetos
(o
céu,
as
estrelas
etc.)
é
conduzido
pela
necessidade
de
se
generalizar
e
estabelecer
conhecimento
de
princípios
não
observáveis.
A
postura
do
astrônomo
é
de,
a
partir
da
observação
do
movimento
dos
astros,
elaborar
hipóteses
e
conjecturas
para
explicar
tais
movimentos
ou
para
permitir
que
esses
sejam
calculados,
sem,
no
entanto,
estar
necessariamente
preocupado
com
a
determinação
de
suas
causas.
É
uma
atitude
correlata
ao
antirrealismo,
que
coloca
a
observação
em
primeiro
plano.
(c)
Como
você
classificaria
a
atitude
de
Cleomedes
no
texto
lido
no
item
anterior?
Cleomedes
apresenta
uma
postura
antirrealista;
busca
a
causa
do
fenômeno
posto
em
questão
na
experiência
e
observação
prévias.
Trata
do
seu
objeto
do
ponto
de
vista
da
observação,
não
partindo
de
um
pressuposto
conceitual.
QUESTÃO
3
Leia
o
texto
que
apresenta
a
visão
de
Estráton,
“Sobre
o
aumento
de
rapidez
no
movimento
natural”.
(a)
Ao
discutir
o
experimento
da
pedra,
Estráton
menciona
observações
e
fornece
uma
explicação.
Os
empiristas
modernos
diriam
que
uma
observação
neutra,
sem
teorização,
foi
realizada
(§
XV.2).
Qual
seria
essa
observação
pura?
Você
concordaria
que
ela
não
é
contaminada
por
teorizações?
Explique.
A
observação
pura,
neutra,
seria
a
do
impacto
da
pedra
no
chão,
que
é
diferente
dependendo
da
distância
da
queda.
Creio
que
não
é
uma
observação
que
não
esteja
contaminada
por
teorizações.
Só
o
seria
tomada
estritamente
como
observação
(como
a
apreensão
dos
dados
sensoriais
relacionados
ao
impacto
da
pedra
pelos
sentidos),
porém
é
uma
observação
que
relaciona
causas
e
efeitos.
Não
está
se
referindo
à
queda
de
uma
pedra
como
tal,
mas
à
queda
que
é
maior
quanto
maior
for
a
distância
do
solo.
É
uma
observação
interpretativa.
3
(b)
Qual
é
a
causa
atribuída
por
Estráton
para
o
fenômeno
observado?
Monte
um
silogismo
explicando
o
fenômeno,
seguindo
a
receita
aristotélica
(§
III.4).
A
causa
é
o
aumento
da
rapidez
com
que
o
objeto
se
aproxima
do
chão,
isto
é,
na
medida
em
que
diminui
a
distância
a
ser
percorrida
até
o
impacto.
Quanto
maior
a
altura
da
queda
é
maior
a
velocidade
com
que
atinge
o
solo
Quanto
maior
a
velocidade
com
que
atinge
o
solo
é
maior
o
impacto
Quanto
maior
a
altura
da
queda
é
maior
o
impacto
(c)
Considere
uma
outra
hipótese,
mencionada
por
Estráton,
para
explicar
o
fenômeno
observado:
a
pedra
aumentaria
de
peso
à
medida
que
se
aproxima
do
solo
(e
isso
seria
independente
da
velocidade
da
pedra).
Como
você
falsearia
esta
hipótese?
(Ver
§
X.1)
Seria
preciso
provar
que
a
hipótese
é
falsa
testando
a
proposição
condicional
por
meio
da
associação
da
hipótese
(a
pedra
aumenta
de
peso
à
medida
que
se
aproxima
do
solo)
à
ocorrência
de
uma
determinada
condição
(digamos:
o
peso
do
objeto
no
ponto
final
do
seu
movimento
é
diferente
daquele
com
o
qual
iniciou
o
movimento).
(d)
Explicite
o
item
anterior
por
meio
de
um
argumento
de
tipo
modus
tollens
(§
X.1).
Se
pedra
aumenta
de
peso
(quantidade
de
massa)
à
medida
que
se
aproxima
do
solo,
então
o
peso
dos
objetos
se
altera
de
acordo
com
o
movimento
Mas
o
peso
dos
objetos
não
se
altera
por
se
movimentarem
Logo,
a
pedra
não
aumenta
de
peso
na
medida
que
se
aproxima
do
solo.
QUESTÃO
4
(a)
Considere
as
razões
pelas
quais
a
teoria
geocinética
não
foi
aceita
na
Antiguidade
(§
VIII.2).
O
que
é
a
paralaxe,
e
como
Copérnico
explicaria
sua
ausência?
(ver
também
o
comentário
de
Brahe,
no
§
XIV.2).
Paralaxe
é
a
diferença
aparente
na
posição
das
estrelas
de
acordo
com
a
variação
da
posição
do
observador
(no
caso,
na
variação
da
posição
do
planeta
Terra).
A
explicação
copernicana
seria
a
de
que
a
esfera
das
estrelas
estaria
demasiado
longe
da
Terra
para
que
se
pudesse
observar
o
fenômeno
da
paralaxe.
(b)
Considere
a
noção
de
“tradição
de
pesquisa”
(§
XIII.3
e
4).
O
que
se
pode
dizer
sobre
a
tradição
de
pesquisa
na
qual
se
inseria
Kepler?
(ver
§
XIV.3)
Kepler
rompeu
com
a
tradição
de
pesquisa
do
"salvamento
das
aparências",
criticando
o
modelo
astronômico
que
apresentava
como
explicação
para
o
movimento
dos
astros
a
hipótese
de
que
esses
se
conduziam
por
órbitas
circulares
(Copérnico)
e
o
modelo
de
epiciclos
e
excêntricos
de
Brahe.
Iniciou,
por
assim
dizer,
uma
nova
tradição,
apoiada
no
modelo
de
órbitas
não-‐circulares
(isto
é,
se
desconsiderarmos
a
existência
prévia
e
breve
desta
tradição
na
Índia).
4
(c)
Uma
discussão
importante
na
história
da
ciência
é
por
que
a
ciência
madura
surgiu
na
Europa
do
séc.
XVII,
e
não
nos
mundos
árabe,
chinês
ou
grego
(§
IX.2).
Aponta-‐se
como
um
dos
fatores
essenciais
o
desenvolvimento
de
diversas
técnicas
práticas.
Como
tais
técnicas
foram
importantes
para
as
concepções
astronômicas
de
Copérnico,
Kepler
e
Galileo?
(ver
Cap.
XIV)
O
desenvolvimento
técnico
na
Europa
do
século
XVII
permitiu,
fundamentalmente,
o
aprimoramento
dos
instrumentos
astronômicos
(telescópio,
observatórios
etc.),
que
foram
fundamentais
pois
contribuíram
para
que
se
observasse
o
céu
e
os
astros
com
maior
precisão.
5