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MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Civil


Professor: Nelson Rosenvald
Aulas: 17 e 18 | Data: 10/09/2015

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


5. Transmissão das obrigações
5.2 Assunção de dívida
5.2.1 Modalidades
5.2.1.1 Assunção liberatória
5.2.1.2 Assunção cumulativa
5.2.2 Formas de constituição da assunção de dívida
5.2.2.1 Assunção por delegação
5.2.2.2 Assunção por expromissão
5.2.3 Consequências
6. Adimplemento da obrigação
6.1 Razões
6.2 Natureza jurídica
6.3 Princípios do adimplemento
6.3.1 Pontualidade
6.3.1.1 Requisitos subjetivos

5.2 Assunção de dívida (assunção de débito)


É a transmissão singular de um débito para terceiro que passa a ocupar o seu lugar na relação obrigacional.

Ex.: “n” é credor de uma dívida de 100 de “d” (devedor). “D” transfere a dívida a “y” (ASSUNTOR).

Portanto, o ASSUNTOR é o terceiro que assume a dívida (ele se obriga perante o credor a efetuar a prestação que
originariamente era do devedor primário).

5.2.1 Modalidades
Quais são as modalidades de assunção de dívida?

5.2.1.1 Assunção liberatória


Ocorre a partir do momento em que o credor é COMUNICADO pelo assuntor de que ele assume o lugar do
devedor primitivo. Só se pode falar em assunção liberatória no momento em que o credor der o seu
CONSENTIMENTO (porque toda relação obrigacional nasce para satisfazer os interesses do credor).

Chama-se “assunção liberatória”, porque é uma assunção de dívida que libera o devedor primitivo.

CC, art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor,


com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o
devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era
insolvente e o credor o ignorava.

5.2.1.2 Assunção cumulativa

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Nesta assunção, o devedor originário NÃO é exonerado, permanecendo como devedor. Portanto, há a ampliação
do polo passivo, porque o credor passa a ter dois devedores (devedor primário + assuntor).

Diz o Enunciado 16, CJF - o art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da dívida
quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a concordância do credor.

Assunção cumulativa x fiança


Atenção: perceba que o assuntor é um segundo devedor. Enquanto que o fiador não é devedor, mas responsável
sem débito.

CC, art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer
ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a
cumpra.

Na assunção de dívida, o assuntor pode exigir 1/2 (50) do devedor primitivo. Porém, se fosse fiador, o regresso
seria pela totalidade (100), porque o fiador não é devedor.

5.2.2 Formas de constituição da assunção de dívida


Quais são as formas de constituição da assunção de dívida?

5.2.2.1 Assunção por delegação


O devedor primitivo transfere sua dívida para terceiro (assuntor). Para que essa assunção seja válida é necessário
o consentimento do credor. Trata-se de um negócio jurídico trilateral, pois há três personagens e três
consentimentos (consentimento do devedor, assuntor e credor).

CC, art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor,


com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o
devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era
insolvente e o credor o ignorava.

5.2.2.2 Assunção por expromissão


Nessa assunção, o credor convida um terceiro a ser um novo devedor. Caso o terceiro aceite, o devedor primário
é exonerado.

Portanto, nesta assunção são necessários dois consentimentos: credor e assuntor. Mas não precisa do
consentimento do devedor? NÃO, porque o instituto em tela consiste na expromissão (“posto para fora”) e,
assim, o devedor é excluído.

CC, art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo,


consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias
especiais por ele originariamente dadas ao credor.

Portanto, a garantia real somente permanece se o devedor originário EXPRESSAMENTE faça anuência na
manutenção da garantia.

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Em relação ao fiador, apesar do silêncio do art. 300, CC, a fiança NÃO pode continuar, justamente por ser uma
garantia pessoal.

Estabelece o Enunciado 422, CJF – A expressão "garantias especiais" constante do art. 300 do CC/2002 refere-se a
todas as garantias, quaisquer delas, reais ou fidejussórias, que tenham sido prestadas voluntária e
originariamente pelo devedor primitivo ou por terceiro, vale dizer, aquelas que dependeram da vontade do
garantidor, devedor ou terceiro para se constituírem.

5.2.3 Consequências
Sabemos que na assunção por delegação deve haver o consentimento do credor. E se o credor silencia no prazo
para externar seu consentimento? O silêncio do credor induz RECUSA.

CC, art. 299, parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo
ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se
o seu silêncio como recusa.

Todavia, a regra geral está estipulada no art. 111, CC: o silêncio importa aceitação – essa regra não se aplica
excepcionalmente na assunção de dívida (princípio da especialidade).

CC, art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias


ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de
vontade expressa.

A partir de agora trataremos de outra exceção. Vejamos.

Imagine que o assuntor assume a dívida do devedor originário (devedor hipotecário), ou seja, o assuntor comprou
o apartamento (hipotecado), assumindo a dívida da hipoteca. O assuntor então, imediatamente, comunica o
credor a fim de obter o consentimento. Qual a consequência caso o credor silencie? Nesse caso, o silêncio gera
ACEITAÇÃO (direito real).

CC, art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu


cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não
impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á
dado o assentimento.

Aduz o Enunciado 353, CJF – a recusa do credor, quando notificado pelo adquirente de imóvel hipotecado
comunicando-lhe o interesse em assumir a obrigação, deve ser justificada – sob pena de caracterizar abuso do
direito.

6. Adimplemento da obrigação (art. 304 a 388, CC)


Está alocada no título III.

6.1 Razões
O adimplemento é importante por três razões:

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a) SATISFAÇÃO DO INTERESSE OBJETIVO DO CREDOR: o credor tem a necessidade de um bem (obrigação de dar),
fato (obrigação de fazer) ou abstenção (obrigação de não-fazer); ao passo que o devedor é quem pode prestar a
utilidade. Portanto, entre a necessidade do credor e a utilidade do devedor existe o interesse (“estar entre algo”)
objetivo do credor.

b) LIBERAÇÃO DO DEVEDOR: o adimplemento libera o devedor, no sentido de que ele está excluído da relação
obrigacional. No momento em que o devedor cumpre a prestação, ele se libera do vínculo da relação
obrigacional.

Pergunta: por que as obrigações são TRANSITÓRIAS? Porque a obrigação nasce para ser cumprida.

c) EXTINÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL: é a extinção da relação obrigacional com o cumprimento do projeto


prestacional.

6.2 Natureza jurídica


Qual a natureza jurídica do ADIMPLEMENTO?

O pagamento é ATO-FATO (não é ato ou negócio jurídico), porque não se indaga se o pagamento é ato desejado
ou não. Isso porque, para um ato-fato basta a conduta material, sem indagar se aquele ato foi desejado pela
parte.

A validade de uma relação obrigacional é aferida na sua gênese. Ao passo que o pagamento é verificado no plano
da EFICÁCIA, porque o pagamento está no plano da extinção da obrigação.

CC, art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de


direito o represente, sob pena de só valer (EFICAZ) depois de por ele
ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

Estabelece o Enunciado 425, CJF – o pagamento repercute no plano da eficácia, e não no plano da validade como
preveem os arts. 308, 309 e 310 do Código Civil.

Pergunta: o pagamento é um DEVER? Sim (os aspectos morais e religiosos não se levam em conta).

Pergunta: o pagamento é considerado DIREITO SUBJETIVO DO DEVEDOR? NÃO. O devedor tem um DEVER de
pagar, mas jamais pode constranger que o credor realize a obrigação (o credor pode dispor do crédito).

Então por que quando o credor recusa o cumprimento, o devedor pode consignar em pagamento? A consignação
em pagamento é o direito do devedor de LIBERAR-SE da obrigação (não tem direito subjetivo).

NCPC, art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou


terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da
quantia ou da coisa devida.

6.3 Princípios do adimplemento


Quais são os dois princípios que regem o adimplemento? São eles: BOA-FÉ OBJETIVA e PONTUALIDADE.

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6.3.1 Pontualidade
Trata-se da obrigação do devedor em cumprir a prestação conforme o programa prestacional.

Essa pontualidade é decantada em três regras:

 Identidade

O devedor deve cumprir a prestação de forma correspondente ao que se combinou (aspecto qualitativo).

CC, art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da


que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

 Exatidão

Diz respeito à forma do cumprimento.

CC, art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o


pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
forma que a lei ou a convenção estabelecer.

 Integridade

No silêncio das partes, a dívida deve ser paga por inteiro (aspecto quantitativo).

CC, art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação
divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a
pagar, por partes, se assim não se ajustou.

Pergunta: qual a única exceção em que o devedor pode constranger o credor a pagamento parcial?

NCPC, art. 916

6.3.1.1 Requisitos subjetivos


A) LEGITIMIDADE PARA O PAGAMENTO

SOLVENS CREDOR ACEITA CREDOR RECUSA


Devedor/ representante/sucessor Adimplemento Consignação em pagamento
Terceiro interessado Sub-rogação Consignação em pagamento
Terceiro desinteressado (paga em
Adimplemento Consignação em pagamento
nome do devedor)
Terceiro desinteressado (paga em
Reembolso ------
nome próprio)

a) solvens (é aquele que paga): pode ser o devedor, seu representante ou herdeiro.

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CC, art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do
falecido; mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual
em proporção da parte que na herança lhe coube.

b) no dia do adimplemento quem paga a dívida é o FIADOR (terceiro interessado) – quando o fiador cumpre a
obrigação se SUB-ROGA na pessoa do credor originário, ou seja, ele se torna o novo credor contra o devedor.

CC, art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia
ser obrigado, no todo ou em parte.

CC, art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os


direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à
dívida, contra o devedor principal e os fiadores.

Imagine que o fiador queira pagar a dívida, mas o credor alegue que só quer receber do devedor. O fiador pode
consignar em pagamento? Sim, porque ele é um terceiro interessado.

CC, art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-


la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à
exoneração do devedor.

c) agora imagine que o amigo pague a dívida de “d”. O amigo é qualificado como TERCEIRO DESINTERESSADO,
porque ele não tem interesse jurídico no cumprimento obrigação.

c.1) imagine agora que TERCEIRO DESINTERSSADO QUEIRA PAGAR EM NOME DO DEVEDOR. Se o credor aceitar o
pagamento em nome do devedor, haverá o adimplemento.

CC, art. 304, parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não
interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição
deste.

“Salvo oposição deste”: quando o terceiro não interessado deseja quitar a obrigação, além da aquiescência do
credor, deve haver a aquiescência do próprio devedor.

Obs.: o terceiro interessado pode quitar a obrigação, mesmo a revelia do devedor.

c.2) imagine que o TERCEIRO DESINTERESSADO QUEIRA PAGAR EM NOME PRÓPRIO e o credor aceita. Embora
não possa se sub-rogar, o terceiro desinteressado que paga em nome próprio tem o chamado DIREITO DE
REEMBOLSO (credor quirografário).

CC, art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu
próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se
sub-roga nos direitos do credor.

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Obs.: a dívida é de 100, mas o terceiro desinteressado paga 20 em nome próprio. Nesse caso, o reembolso será
de 20.

JURISPRUDÊNCIA
REsp 1170188 / DF
Relator(a) Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Órgão Julgador - T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento - 25/02/2014
Data da Publicação/Fonte - DJe 25/03/2014

Ementa
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. PROCEDIMENTO QUE SE
AMOLDA AO DIREITO MATERIAL, PROPICIANDO, EM VIRTUDE DE ALGUM OBSTÁCULO, A LIBERAÇÃO DO
DEVEDOR DA OBRIGAÇÃO. DEPÓSITO DA QUANTIA OU COISA DEVIDA. PRESSUPOSTO PROCESSUAL OBJETIVO.
REQUERIMENTO DO DEPÓSITO APENAS DAS PRESTAÇÕES QUE FOREM VENCENDO NO DECORRER DA
TRAMITAÇÃO DO PROCESSO, SEM RECOLHIMENTO DO MONTANTE INCONTROVERSO E VENCIDO.
DESCABIMENTO.
1. O procedimento da consignação em pagamento existe para atender as peculiaridades do direito material,
cabendo às regras processuais regulamentar tão somente o procedimento para reconhecimento judicial da
eficácia liberatória do pagamento especial.
2. Na consignação em pagamento, o depósito tem força de pagamento, e a ação tem por finalidade ver atendido
o direito material do devedor de liberar-se da obrigação e de obter quitação, por isso o provimento jurisdicional
terá caráter eminentemente declaratório de que o depósito oferecido liberou o autor da obrigação, relativa à
relação jurídica material. (REsp 886.757/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em
15/02/2007, DJ 26/03/2007, p. 214)
3. Todavia, para que a consignação tenha força de pagamento, conforme disposto no art. 336 do Código Civil, é
mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido
o pagamento. Destarte, a consignação em pagamento só é cabível pelo depósito da coisa ou quantia devida, não
sendo possível ao recorrente pretender fazê-lo por montante ou objeto diverso daquele a que se obrigou, pois o
credor (réu) não pode ser compelido a receber prestação diversa ou, em se tratando de obrigação que tenha por
objeto prestação divisível, a receber por partes, se assim não se ajustou (arts. 313 e 314 do CC).
4. Recurso especial não provido.

QUESTÃO
Ano: 2014 / Banca: FUNCAB / Órgão: EMDAGRO-SE / Prova: Advogado

Assinale a afirmativa correta sobre cessão de crédito e assunção de dívida.


a) É lícito ao novo devedor opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo

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b) A cláusula proibitiva da cessão, mesmo que conste do instrumento da obrigação, não pode ser oposta ao
cessionário de boa-fé

c) O crédito penhorado não pode ser transferido pelo credor ciente da penhora.

d) Salvo previsão contratual em contrário, o cedente se responsabiliza pela solvência do devedor.

e) O cessionário não possui legitimidade ativa para perseguir emjuízo o crédito objeto da cessão

Resposta: alternativa “c”.

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