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TERRIER, Jean.

Pouvoir législatif, opinion publique et participation politique dans la


philosophie du droit de Hegel. Revue Française d’Histoire des Idées Politiques,
n. 13, 2001/1, p. 57-72, 2011.
Podemos analisar o papel do parlamento de duas formas: sua função dentro da
esfera mais geral do Estado, algo próximo a uma análise de teoria constitucional;
ou, algo do ponto de vista mais filosófico, o papel do conceito de parlamento da
estrutura argumentativa de PR. – 57 – A segunda opção nos permite ver coisas que
uma visão apenas constitucional da PR não permitiria. Esse texto passa pelas duas
formas de leituras. Do ponto de vista normativo, concreto, o parlamento tem a tarefa
de transferir para a sociedade as normas e valores incarnados pelo Estado. Por
outro lado, ele está ligado ao conflito entre universal e particular que atravessa o
idealismo alemão. O parlamento permite que os indivíduos particulares ajam
enquanto indivíduos universais. - 58

La Théorie Hégélienne du Vouloir


O indivíduo não persegue espontaneamente o universal. A persecução do universal
está ligada ao conhecimento do universal, algo que é adquirido pela especulação
filosófica e não algo automático. A razão individual pode errar, mas também pode
ser colocada no caminho certo. A filosofia serve como processo reflexivo individual
de busca contínua da verdade e como tentativa de persuasão, demonstração da
validade. Hegel se preocupa em mostrar que os indivíduos particulares podem ser
persuadidos do universal. – 59
Na introdução de PR, Hegel desenvolve a questão da universalização dos
interesses particulares. Em um primeiro momento, a vontade se faz universal ao
abstrair de toda determinação, de toda impressão particular, inclinação, desejo etc..
No segundo momento, a vontade se particulariza – “le vouloir ne veut pas que
vouloir”. Mas o querer é direcionado a qualquer coisa. A vontade decide “quelque
chose [beschliesst]”. Esses dois momentos são “isolatas théoriques” e não possuem
existência real. São duas faces de uma vontade individual realmente existente
constituída pela duplicidade universal-particular (§7). – 60 – A vontade precisa
ultrapassar essa determinação do segundo momento e alcançar uma dimensão
universal. A vontade real é aquela que quer algo determinado e universal. O
problema é como querer algo que é congruente não apenas com o seu interesse,
mas também com o interesse da comunidade universal. Para isso, ao invés da
recusa das inclinações de Kant, Hegel propõe uma cultura das inclinações legítimas.
Algo que chama de purificação das tendências [Reinigung der Triebe] (§19). As
inclinações legítimas formam a base da tendência do querer direcionado ao
universal. Uma segunda natureza, hábito. O universal existindo realmente na
consciência dos indivíduos particulares.
Hegel, porém, sinaliza uma dúvida em relação à capacidade – 61- dos indivíduos
alcançarem o universal de forma independente. Isso é produto da educação. Uma
educação que não é “l’impression forcée d’une vérité extérieure dans des esprits
individuels passifs.” A educação é, principalmente, o exemplo. A proximidade, o
contato com o universal na conduta do particular. Na Pequena Lógica, Hegel fala,
por exemplo, como a criança adquire racionalidade ao confrontar-se diariamente
com a racionalidade dos pais (Enz 1, §82). – 62
Les Trois Rôles du Parlement
O Estado é a encarnação da comunidade política e, portanto, representa os
interesses de tudo e de todos. “Il est l’universalité.” Os funcionários do Estado
[Beamten] tem consciência desta universalidade, pois estão naturalmente isolados
dos interesses particulares (pois não fazem parte diretamente da sociedade civil) e
pela relação privilegiada com o Estado, um encontro cotidiano com o universal
(§301), enquanto os indivíduos não estão conscientes a priori da universalidade que
o Estado representa. Eles estão imersos nos seus próprios interesses econômicos.
– 62 – Entre os dois extremos, indivíduos particulares e Estado (e seus
funcionários), Hegel coloca uma instituição mediadora: os estamentos [Stände] – um
conceito que Hegel coloca em paralelo ao poder legislativo [gesetzgebende Gewalt].
Esse últimos possui três funções: concentra o universal; difunde o universal; e de
pacificação política.
Quanto ao primeiro elemento, ainda que sua tendência inicial seja perseguir
interesses particulares (os membros do parlamento são eleitos pelos estamentos),
“en contact permanent avec les représentants directs de l’État, et peuvent donc,
conformément à ce processus d’éducation par contact mis en exergue par Hegel,
passer progressivement du particulier à l’universel. Une fois ce processus achevé, le
parlement atteint à son rôle privilégié qui est de garantir l’unité permanente de
l’universel et du particulier” (§302).
Quanto ao segundo elemento, na medida em que se habitua com o universal, o
parlamento passo também a encorajar as consciências individuais rumo ao
universal. – 63 – Para isso cumpre um importante papel o princípio da publicidade
dos debates parlamentares. Neles, o povo descobre a vontade de seus próprios
interesses (§315A). Com isso, o universal deixa de ser apenas para si e se torna em
si. O universal alcança o estágio da consciência de si (§301).
Quanto ao terceiro elemento, “Selon Hegel, une communauté politique où les
personnes gouvernantes et les personnes gouvernées se feraient directement face
sans intermédiaire serait inévitablement traversée par des conflits croissants. Ceci,
suggère Hegel, même dans le cas où les premières agiraient dans l’intérêt de toutes
et tous. En fait, les personnes gouvernées ont besoin de se voir expliquer la
rationalité des décisions étatiques, sous peine de mettre progressivement en doute
la légitimité de ces décisions elles-mêmes et à terme la légitimité de l’État qui leur
donne naissance. Dans ce contexte, le parlement agit comme un signe de la
démocraticité de l’État ou plutôt, de sa non-despoticité”. – 64

Parlement et Séparation des Pouvoirs


“aucune décision ne peut être prise par une institution qui ne correspond qu’à un
moment temporaire et partiel du vouloir. Une décision – et plus particulièrement, la
validation d’une loi – ne peut qu’être le fait d’une subjectivité individuelle,
représentée au sein de l’État par le monarque lui-même. Pourtant, Hegel tient à
souligner que le privilège décisionnel qui revient au monarque ne saurait conduire au
règne de l’arbitraire : selon Hegel, le monarque n’outrepassera jamais sa fonction,
qui est de signer docilement les actes qui lui sont soumis. Ceci est dû à la nature de
l’État authentique lui-même au sein duquel tous les individus – y compris le
monarque – sont nécessairement conscients de ce qu’est le bien commun – 66 - et
agissent en conséquence. Dans ce contexte, aucune loi arbitraire ne peut être
présentée par les états, et le monarque ne peut trouver aucune raison pour ne pas
les promulguer. Là encore, on voit réapparaître la dimension de forte organicité de
l’État hégélien.” – 67

Hegel, Opinion Publique et Libéralisme


Hegel tem uma posição inversa a de Robespierre. Para este, “c’est de l’extérieur
vers le centre délibératif que constitue le parlement que la rationalité se dirige ; le
parlement condense et exprime une rationalité qui est possédée comme telle par
l’ensemble des individus rassemblés en une communauté d’existence (le peuple).
Chez Hegel, le mouvement est inverse : la rationalité sourd de l’État et se répand
dans la société civile, en passant par la médiation du parlement”. Para Hegel, o povo
é precisamente uma parte que não sabe o que quer. – 67 – O contraste também se
repete em relação aos liberais franceses e ingleses, como Constant, Mill e de Staël.
Para esses, o parlamento é o lugar onde são se exprimem as ideias da sociedade
civil. O parlamento é o lugar da diversidade de opiniões. Para Hegel, o parlamento
não representa a opinião pública, mas esclarece a opinião pública. “Le mouvement
hégélien de la vérité (ou de la rationalité) part de l’État universel pour se diriger vers
la société civile, et non l’inverse.” Isso, porém, não torna Hegel um antiliberal
reacionário. Hegel apresenta uma outra visão da modernidade “qui pourtant évite les
contradictions d’un – 68 – libéralisme fondamentalement incapable de penser le
rapport des individus à la totalité sociale “ – 69

Participation Politique et Liberté des Individus


Hegel parece rejeitar a democracia ao negar a ideia de que todos devem contribuir
para as deliberações e decisões relativas aos assuntos gerais do Estado. Hegel fala
que isso é a “d’introduire l’élément démocratique sans la moindre forme rationnelle
[ohne alle vernunftige Form] dans l’organisme de l’État, qui, pourtant, n’existe qu’en
vertu d’une telle forme”. (§308) Entretanto, para Hegel, o Estado não deixa de ser
um espaço incondicional de liberdade para todos os indivíduos. – 69 – O parlamento
não é um espaço de proteção das liberdades, porém, por pressão ou impulso dos
cidadãos ou pelo exercício da participação política, mas de forma espontânea. “On
peut donc argumenter que Hegel n’est pas le penseur de l’absolue subordination
des individus à la puissance d’État, puisque l’État ne peut par essence qu’œuvrer
dans l’intérêt de chaque citoyen.” – 70
(…)
"cette inutilité de la participation politique ne correspond pas à une exigence de
soumission intégrale des individus à l’État : puisque les individus sont partie
intégrante de l’Esprit, et puisque l’Esprit ne peut pas réaliser sa propre liberté sans
réaliser dans le même temps la liberté des individus, le vouloir de l’Esprit correspond
toujours en dernière instance au bien-être (Wohlfahrt) des individus eux-mêmes.
Ceci s’entend également au sens où l’État respecte spontanément les sphères
particulières des individus, qui disposent, cette fois comme chez les libéraux, des
droits de conduire leur existence en fonction de leur propre vision de la vie bonne". -
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