Você está na página 1de 3

Estátuas Ortodoxas?

Autor: Richbell Meléndez

Uma página de apologética ortodoxa reconheceu que não é errado que um católico
venere estátuas que representem a Virgem Maria:

- "Um católico que venera uma estátua de Santa Maria não está fazendo nada de
errado segundo a Igreja Ortodoxa [enquanto a delgada linha entre veneração e
adoração não seja rompida]. Se você [ortodoxo] encontrasse uma estátua da sua mãe
falecida, não sentiria amor por ela?" ("Por qué mirar hacia el este para adorar?",
Orthodox Christian Resource Center).

Para complementar, quero compartilhar o que diz o Pe. Le Bundy, sacerdote ortodoxo,
no artigo intitulado "Estátuas ortodoxas?":

"ESTÁTUAS ORTODOXAS?

Os inúmeros e belos ícones antigos que inundaram o Ocidente desde a 1ª Guerra


Mundial e o crescente interesse por eles demonstrado por artistas, estudiosos e
amantes comuns do belo são um dos fenômenos brilhantes das duas últimas gerações.
Uma enorme literatura se desenvolveu em torno do ícone (tanto acadêmica quanto
popular), e centros de reprodução de ícones antigos e de pintura de novos se
tornaram especialmente difundidos a partir da 2ª Guerra Mundial.

<foto1>

Para muitas pessoas, o ícone é o símbolo supremo da Igreja Ortodoxa. Isso é


especialmente verdade em nível popular desde que o mundo ocidental foi inundado,
após a 1ª Guerra Mundial, por emigrantes russos e por artefatos religiosos. Pouco
depois, o renascimento dos estudos bizantinos ganhou força e ícones começaram a ser
estudados seriamente, enquanto que antiquários passaram a oferecer exemplos de
tudo, desde espécimes raras até grandes imitações românticas ocidentais do século
XIX, com olhos líquidos, que no século XVIII tinham suplantado os tipos
tradicionais em terras ortodoxas.

Para muitos ocidentais (e no folclore ortodoxo), os ícones são os substitutos


orientais das estátuas, errônea e comumente consideradas proibidas pela Igreja
Ortodoxa. Na verdade, as estátuas não são de forma nenhuma proibidas pela Ortodoxia
e sempre fizeram parte do mobiliário decorativo e devocional do espaço sagrado
[ortodoxo], no interior dos templos.

[A palavra] "ícone", geralmente empregada como termo técnico para designar as


imagens planas devocionais da Ortodoxia oriental, é tão somente uma palavra grega
para designar "imagem". Os decretos dogmáticos do Concílio Ecumênico [de Niceia II]
sobre "ícones" referem-se, na verdade, a todas as imagens religiosas, inclusive as
estátuas tridimensionais.

<foto 2>

O professor Sergios Verkhovskoi, professor conservador de dogmática do Seminário de


São Vladimir, condena categoricamente como herege qualquer pessoa que declare as
estátuas como contrárias à ortodoxia ou canonicamente inferiores às pinturas (no
século XIX, as pinturas planas tradicionais, derivadas dos retratos funerários
egípcios helenísticos e atualmente reivindicadas como "autênticos" ícones, tinham
sido suplantadas na Igreja Ortodoxa pela pintura naturalista ocidental, mais ou
menos habilidosa).

Como, então, surgiu a opinião ordinária de que as estátuas são "ocidentais",


"heterodoxas" e "heréticas"? A resposta é bem simples e deriva de fundamentos de
teor sócio-cultural.

<foto 3>

As estátuas eram comuns em Bizâncio. A figura acima ilustra uma estatueta


tridimensional de marfim da Virgem e do Menino, a "Hodegetria", do século X,
oriunda de Constantinopla. Atualmente exposta no Museu "Victoria and Albert" [de
Londres, Inglaterra], difere de outros exemplos semelhantes existentes em Hamburgo
e Nova York por não ter sido cortada de uma chapa de marfim, de modo que a parte de
trás [da estatueta] foi esculpida com tanto cuidado e habilidade quanto a parte da
frente.

Constantinopla era repleta de estátuas, dentro e fora dos templos. Certo autor
afirma que mais de 300 estátuas clássicas adornavam a praça diante da Igreja de
Santa Sofia. A famosa "Madona Espanhola", Nossa Senhora de Montserrat, é uma
estátua bizantina, assim como o são muitos exemplares antigos do sul da França, mas
foi na Rússia que sobreviveu a liberdade cristã ortodoxa do uso de imagens.

Consideremos [agora] as razões pelas quais as estátuas se tornaram impopulares na


Ortodoxia:

<foto 4>

A principal causa, obviamente, foi o iconoclasmo (destruição de imagens). Desde a


arte das catacumbas romanas, os cristãos usavam imagens sagradas, tanto para a
instrução quanto, evidentemente, como meio de venerar a pessoa ou o evento
retratado. A maioria são pinturas, mas há pelo menos duas estátuas do Bom Pastor
bem anteriores a Constantino, e a Veneração da Cruz é tão antiga que nenhuma data
de início pode ser fixada para ela. Em 576, temos evidências, no Ocidente, de que
uma imagem de São Martinho era honrada com uma lâmpada constantemente acesa diante
dela e que Fortunato foi curado de uma doença através do óleo retirado dessa
lâmpada.

<foto 5>

No início do século VIII, os judeus, baseando-se na proscrição de imagens do Antigo


Testamento; os hereges paulianistas, um ramo dos maniqueus, que era uma seita que
desprezava a "matéria" como sendo inferior ao "espírito"; e os monofisitas, se
opunham todos eles contra as imagens. Estes últimos eram hereges que declaravam que
Jesus era [apenas] Deus e, portanto, Sua natureza humana fôra absorvida pela Sua
divindade; como resultado, sua inexpressiva humanidade não podia ser retratada.
Além disso, em alguns lugares como Síria, Egito e entre as tribos germânicas, havia
uma grande desconfiança da estima grega pela beleza humana, tal como era
manifestada especialmente na arte.

Todas essas influências parecem terem confluído no imperador Leão o Isáurico que,
em 726, emitiu o seu primeiro edito determinando a destruição das imagens. Houve
oposição popular, os bispos romanos protestaram e São João Damasceno resumiu o
testemunho dos Santos Padres em três famosos ensaios. Leão morreu em 740 e foi
sucedido por seu filho Constantino V Coprônimo, que seguiu o programa do seu pai
com um vigor bárbaro. Mas quando ele morreu, em 780, sua esposa Irene, iniciou o
trabalho de restauração e, sete anos depois, convocou o Sétimo Concílio Ecumênico
em Niceia, o qual restaurou totalmente a veneração das imagens. Após um período
subsequente de perseguição - pois o movimento iconoclasta sobreviveu com alguma
força de 726 a 842 -, a restauração [da veneração] das imagens foi finalmente
estabelecida em 842.

<foto 6>
Em Constantinopla, a influência contra as imagens veio de sírios e armênios,
manchados pelo monofisismo; no Ocidente, veio do imperador Carlos Magno e persistiu
em terras francas até o século IX, muito embora Roma e Itália adotassem a posição
ortodoxa desde o princípio. Resta evidente nesta pesquisa que as heranças de cunho
racial-cultural foram extremamente influentes.

<foto 7>

O mesmo se pode dizer do desaparecimento prático das estátuas em oposição aos


ícones em grandes setores da Igreja Ortodoxa. A memória remanescente dos
iconoclastas incentivou a reticência; e a conquista muçulmana congelou a arte
ortodoxa na sua forma mais limitada. Nas áreas conquistadas [pelos muçulmanos], a
Igreja era levada "para dentro de casa", os sinos eram proscritos e os aspectos
externos do culto cristão eram proibidos em público. Enquanto todas as
representações de criaturas eram proibidas pelos muçulmanos e exercia-se pressão
sobre os cristãos para que se conformassem o máximo possível, o ícone sobreviveu
mas não a estátua. Somente na Rússia a Igreja foi livre o suficiente para manter
toda sua tradição devocional estética.

No norte da Rússia, o entalhe em madeira era altamente desenvolvido antes da


chegada dos missionários ortodoxos e sobreviveu sendo "batizado" a serviço da
Igreja. Todas as imagens - estátuas e ícones - eram cuidadosamente observadas pelas
autoridades eclesiásticas, como numa reunião do Santo Sínodo em 15 de março de
1722. Da Revolução de 1918 até [pouco] depois da 2ª Guerra Mundial, as estátuas de
valor histórico sofreram da destruição que se dirigiu a todos os monumentos
religiosos mas, atualmente, a preocupação com as realizações do passado russo vem
concentrando dinheiro, atenção e pesquisa em todas as artes antigas, e assim
estátuas ortodoxas são especialmente valorizadas.

<foto 8> Estátua da Santíssima "Theotokos" [Mãe de Deus], nas Montanhas Sagradas de
Lavra (Ucrânia)

Centenas de exemplos desses objetos devocionais foram destruídos na primeira fase


da campanha antirreligiosa revolucionária. No entanto, muitas estátuas e crucifixos
tridimensionais são abundantes e ainda permanecem em uso.

A década de 1920 descobriu o ícone pintado ortodoxo; a década de 1970, as estátuas


ortodoxas.

Parece que o argumento às vezes fervoroso de "imagem bidimensional X imagem


tridimensional" é um outro exemplo de cultura que se intromete na fé.

Você também pode gostar