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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS NOS CURSOS DE MICHEL FOUCAULT

Collège de France – 1971-1984

Referência bibliográfica:
FOUCAULT. Michel. Do governo dos vivos: curso no Collège de France (1979-1980). Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014.

Conceitos- Categoria
Aula Excerto (paginação ao final) Comentários
chave analítica
Justificativas para a
escolha de fontes/
“E aceito [admitir] que a série de fenômenos a que fiz alusão, por meio da história de arquivos arcaicos/
Sétimo Severo, é uma espécie de aura residual que atesta certo arcaísmo no exercício do incidentais.
poder, que tudo isso quase despareceu agora e que estamos numa arte racional de governar
Governo e II. Escolha das
09 jan. [...] Gostaria simplesmente de observar duas coisas. Primeiro, nesse domínio como em O valor heurístico de
verdade fontes
todos os outros, o que é marginal e o que é residual sempre tem, quando examinado de temas e documentos
perto, seu valor heurístico, e o demais ou o pouco muitas vezes é, nessa ordem de coisas, incidentais: descoberta
um princípio de inteligibilidade.” (p. 9) de novos princípios de
inteligibilidade da
história e do presente.
“Poder-se-ia evocar [...] um artigo interessantíssimo de uma pessoa chamada Denise Apoio em referencial
III. Referências Grodzynski, publicado num livro cujo organizador é Jean-Pierre Vernant (esse livro se externo para demonstrar
Governo e
09 jan. teóricas outras chama Divination et Rationalité), sobre a luta que os imperadores romanos dos séculos III e fatos divergentes
verdade
incidentais IV travaram contra essas práticas mágicas e a maneira como se tentou até certo ponto daqueles que lhe
depurar de certo modo o exercício do poder desse entorno [...].” (p. 9) interessam.
“Podemos encontrar aí um personagem sem dúvida importante, que é, evidentemente,
Bodin. Bodin, que conforme sabemos é, com sua República, pelo menos um dos teóricos da
nova racionalidade que devia presidir a arte de governar e que escreveu um livro sobre
feitiçaria. Então, eu sei que há gente – pouco importa o nome e a nacionalidade – que diz:
sim, claro, Bodin, se ele fez essas duas coisas, se ele é de fato o teórico da razão de Estado e Apoio em referencial
III. Referências o grande esconjurador da demonomania, se é demonologista e teórico do Estado, é externo para demonstrar
Governo e
09 jan. teóricas outras simplesmente porque o capitalismo nascente necessitava de forças de trabalho e porque as fatos/leituras
verdade
incidentais bruxas eram ao mesmo tempo aborteiras [...]. No entanto, me pareceria mais interessante divergentes daqueles
buscar os dois registros do pensamento de Bodin nessa relação que deve haver entre a que lhe interessam.
constituição de uma racionalidade própria da arte de governar sob a forma, digamos, de uma
razão do Estado em geral e, por outro lado, a conjuração dessa aleturgia que, sob a forma da
demonomania, mas também da adivinhação, ocupava no saber dos príncipes uma posição
que a razão de Estado devia substituir.” (p. 11-12)
Definição do tema do
“Em linhas gerais, vocês estão vendo, se trataria de elaborar um pouco a noção de governo
curso (governo dos
Governo e I. Digressões dos homens pela verdade. Dessa noção de governo dos homens pela verdade que eu havia
09 jan. homens pela verdade)
verdade metodológicas falado um pouco nos anos anteriores. O que quer dizer ‘elaborar essa noção’? Claro, trata-se
em relação ao tema
de deslocar as coisas relativamente ao tema já batido e rebatido do saber-poder.” (p. 12)
saber-poder.
“Dois deslocamentos sucessivos, se preferirem: um indo da noção de ideologia dominante à
de saber-poder, e depois, agora, segundo deslocamento, da noção de saber-poder à noção de
governo pela verdade. Claro, entre esses dois deslocamentos há uma diferença. Se à noção
de ideologia dominante procurei opor a noção de saber-poder é porque a essa noção de
ideologia dominante creio que se podiam fazer três objeções. Em primeiro lugar, ela
Justificativa para a
Ideologia I. Digressões postulava uma teoria malfeita, ou uma teoria nada feita, da representação. Em segundo
09 jan. recusa da noção de
dominante metodológicas lugar, essa noção era indexada, pelo menos explicitamente, a uma oposição entre o
ideologia dominante.
verdadeiro e o falso, entre a realidade e a ilusão, entre o científico e o não-científico, entre o
racional e o irracional – e aliás sem poder se livrar dela forma clara. Enfim, em terceiro
lugar, com a palavra ‘dominante’ a noção de ideologia dominante driblava todos os
mecanismos reais de sujeição e se livrava da bola, passava a bola, dizendo-se: afinal, cabe
aos historiadores saber como e por que numa sociedade uns dominam os outros.” (p. 12)
“Em oposição a isso, procurei portanto situar um pouco as noções de saber e de poder. A
noção de saber tinha por função, justamente, pôr para fora de campo a oposição entre o
científico e o não-científico, a questão da ilusão e da realidade, a questão do verdadeiro e do
falso. [...] Eu queria dizer simplesmente que se tratava, com o saber, de colocar o problema Justificativa para o
I. Digressões em termos de práticas constitutivas, práticas constitutivas de domínios de objetos e de deslocamento da noção
09 jan. Saber-poder
metodológicas conceitos, dentro dos quais as oposições entre o científico e o não-científico, entre o de ideologia dominante
verdadeiro e o falso, entre a realidade e a ilusão podiam exercer seus efeitos. Quanto à à de saber-poder.
noção de poder, ela tinha essencialmente por função substituir a noção de sistema de
representações dominantes pela questão, pelo campo de análise dos procedimentos e das
técnicas pelas quais se efetuam as relações de poder.” (p. 12-13)
“Agora, o segundo deslocamento em relação a essa noção de saber-poder. Trata-se portanto
de se livrar dela para tentar elaborar a noção de governo pela verdade. Livrar-se da noção de
saber-poder como se se livrou da noção de ideologia dominante. Enfim, quando digo isso Justificativa para o
Do saber-poder
I. Digressões sou perfeitamente hipócrita, pois é evidente que ninguém se livra do que pensou como se deslocamento da noção
09 jan. ao governo pela
metodológicas livra do que pensaram os outros. Por conseguinte, serei certamente mais indulgente com a de saber-poder para a de
verdade
noção de saber-poder do que com a de ideologia dominante [...], direi que se trata governo pela verdade.
essencialmente, ao passar da noção de saber-poder à noção de governo pela verdade, de dar
um conteúdo positivo e diferenciado a esses dois termos, saber e poder.” (p. 13).
“Nos cursos dos dois últimos anos, procurei esboçar um pouco essa noção de governo, que
me parece muito mais operacional do que a noção de poder, ‘governo’ entendido, claro, não
I. Digressões no sentido estrito e atual de instância suprema das decisões executivas e administrativas nos
09 jan. Governo Definição de governo.
metodológicas sistemas estatais, mas no sentido lato, e aliás antigo, de mecanismos e procedimentos
destinados a conduzir os homens, a dirigir a conduta dos homens, a conduzir a conduta dos
homens.” (p.13)
“Nessas maneiras modernas (todas datando dos três últimos séculos) de refletir as relações
Relações modernas
governo-verdade, [por um lado], todas elas definem essas relações em função de um certo
entre governo e verdade
real que seria o Estado ou que seria a sociedade. A sociedade é que seria objeto de saber, a
IV. Conexões não são seu ponto de
Governo e sociedade é que seria lugar de processos espontâneos, sujeito de revoltas, objeto-sujeito do
09 jan. entre o arquivo emergência. Há uma
verdade fascínio no terror. [...] Ora, gostaria de procurar remontar a antes desses diferentes
e o presente história dessa relação
esquemas e mostrar a vocês como nem sempre é a partir do dia em que a sociedade e o
que remontaria à
Estado apareceram como objetos possíveis e necessários para uma governamentalidade
Antiguidade.
racional que se ataram por fim relações entre governo e verdade.” (p. 17)
Aleturgia e
23 jan. I. Forma de aleturgia ou formas de veridicção (p.45)
veridicção
Na sequência, ele
enuncia, sem se
aprofundar, textos que
I. Digressões “De uma forma totalmente esquemática, arbitrária, que horrorizaria qualquer historiador um tematizam a veridicção
23 jan. Usos da história metodológicas pouco sério, digamos apesar dos pesares o seguinte. [...]” (p. 46) (Homero, Hesíodo,
poetas do séc. VI,
Heródoto, Descartes
etc.)
[...] Por conseguinte o problema de Édipo é o de saber como ele mesmo vai poder se
Problema da transformar – de homem que não sabia em alguém que sabe. Como vocês sabem, essa
educação, V.
23 jan. transformação de quem não sabia em quem sabe, que é o problema dos sofistas, o problema
retórica, [PROBLEMAS]
do Sócrates, será também o problema de Platão. É todo o problema da educação, da retórica,
democracia da arte de persuadir. É, enfim, todo o problema da democracia. (p.53)
“Mais uma vez, torno ao que não parei de tornar, isto é, a recusa da análise em termos de
ideologia, a recusa de analisar em termos de ideologia do pensamento o comportamento e o Recusa de uma análise
I. Digressões saber dos homens. Já insisti muitas vezes nessa recusa da análise ideológica. Tornei a ela, em termos de ideologia
30 jan. Ideologia
metodológicas praticamente, creio eu em todo curso que dei todos estes anos [...] e gostaria mesmo assim [seguida de longo trecho
de tornar mais uma vez, por uma razão bem simples. É que [...] espero ter efetuado um a esse respeito].
ligeiro e pequenino deslocamento.” (p. 70)
“E isso me leva a algo como uma espécie de confidência: é que, para mim, o trabalho
teórico não consiste – e não digo isso por orgulho ou vaidade, mas ao contrário por
sentimento profundo da minha incapacidade –, não consiste tanto em estabelecer e fixar o
conjunto das posições nas quais eu me manteria e cujo vínculo (entre essas diferentes
suposições) supostamente coerente formaria um sistema. Meu problema ou a única
possibilidade de trabalho teórico que me anima seria deixar, de acordo com o desenho mais
inteligível possível, o vestígio dos movimentos devido aos quais não estou mais no lugar em
Trabalho teórico Sobre o próprio trabalho
I. Digressões que estava há pouco. Donde, vamos dizer, essa perpétua necessidade de fazer de certo modo
30 jan. teórico, fundado em
metodológicas o levantamento dos pontos de passagem em que cada deslocamento pode vir por
Deslocamentos deslocamentos.
conseguinte a modificar, se não o conjunto da curva, pelo menos a maneira como podemos
lê-la e podemos apreendê-la no que ela pode ter de inteligível. Esse levantamento, por
conseguinte, nunca deve ser lido como o plano de um edifício permanente. Não se deve
portanto lhe impor as mesmas exigências que se imporiam se ele fosse um plano. Trata-se,
mais uma vez, de um traçado de deslocamento, isto é, não de um traçado de edifício teórico,
mas do deslocamento pelo qual minhas posições teóricas não param de mudar. Afinal de
contas, existem teologias negativas. Digamos que sou um teórico negativo.” (p. 70-71)
Vocês estão vem do que tal forma de análise repousa – como aliás todas as outras desse tipo
e como a análise inversa – muito mais numa atitude do que numa tese. Mas essa atitude não
é exatamente a atitude [...] do ceticismo, da suspensão de todas as certezas ou de todas as
posições táticas da verdade. É uma atitude que consiste, primeiramente, em se dizer que
nenhum poder é um dado de fato, que nenhum poder, qualquer que seja, é inconteste ou
Discussão sobre o
inevitável, que nenhum poder, por conseguinte, merece ser aceito logo de saída. Não há
estatuto do poder no
Poder legitimidade intrínseca do poder. E, a partir dessa posição, o procedimento consiste em se
interior de seus
perguntar o que se desfaz do sujeito e das relações de conhecimento, dado que nenhum
I. Digressões procedimentos teórico-
30 jan. Procedimento poder é fundado nem em direito nem em necessidade, pois que todo poder nunca repousa
metodológicas metodológicos, em
teórico- em outra coisa que não a contingência e a fragilidade de uma história, que o contrato social
contraposição ao
metodológico é um blefe e a sociedade civil uma história para criancinhas, que não há nenhum direito
procedimento da dúvida
universal, imediato e evidente que possa em toda parte e sempre sustentar uma relação de
metódica.
poder, qualquer que seja. Digamos que se o grande procedimento filosófico consiste em
estabelecer uma dúvida metódica que suspende todas as certezas, o pequeno procedimento
lateral e na contramão que proponho a vocês consiste em tentar fazer intervir
sistematicamente, não a suspensão de todas as certezas, portanto, mas a não-necessidade de
todo poder, qualquer que seja. (p. 72)
“Em primeiro lugar, não se trata de ter em mira, no fim de um projeto, uma sociedade sem
relação de poder. Trata-se ao contrário de pôr o não-poder ou a não-aceitabilidade do poder,
não no fim do empreendimento, mas no início do trabalho, na forma de um questionamento
Poder de todos os modos segundo os quais se aceita efetivamente o poder. Em segundo lugar, não
se trata de dizer que todo poder é ruim, mas de partir do ponto de que nenhum poder,
Procedimento qualquer que seja, é de pleno direito aceitável e não é absoluta e definitivamente inevitável. Distinções e relações
teórico- Vocês veem portanto que entre o que se chama grosseiramente de anarquia, ou anarquismo, entre seus
I. Digressões
30 jan. metodológico e os métodos que emprego é verdade que existe algo como uma relação, mas que as procedimentos
metodológicas
diferenças são igualmente claras. [...] Portanto, a posição que eu lhes proponho não exclui a metodológicos e o
Anarquismo anarquia, mas vocês estão vendo que não a implica de modo algum, que não coincide com anarquismo.
ela e não se identifica com ela. Trata-se de uma atitude teórico-prática concernente não à
Anarqueologia não-necessidade de todo poder, e para distinguir essa posição teórico-prática da não-
necessidade do poder como princípio de inteligibilidade do próprio saber, [...] vou fazer um
jogo de palavras [...]. Então eu lhes direi que o que lhes proponho seria antes uma espécie
de anarqueologia.” (p. 72-73)
“[...] tomemos o problema da história e da análise da loucura. O que estava em jogo, do
ponto de vista puramente metódico, era o seguinte. Enquanto uma análise em termos de
ideologia consistiria em perguntar: dado o que é a loucura – posição universalista –, dado o
que é a natureza humana, a essência do homem, o homem não alienado, a liberdade
fundamental do homem – posição humanista –, indagar-se a partir dessas posições,
universalista e humanista, a que motivos e a que condições obedece o sistema de
representação que levou a uma prática do encerramento que sabemos quão alienante é, em
que medida se deve reformá-la. É isso que teria constituído um estudo, digamos, de tipo
Ideologia
ideológico. O estudo de tipo anarqueológico consistiu, em vez disso, em considerar a prática
do encerramento em sua singularidade histórica, isto é, em sua contingência, em sua Exemplificação do
Procedimento
contingência no sentido de fragilidade, de não-necessidade essencial, o que não quer dizer procedimento
teórico-
I. Digressões evidentemente (muito pelo contrário!) que ela não tinha uma razão e que deve ser admitida metodológico (e
30 jan. metodológico
metodológicas como fato bruto. A própria inteligibilidade da prática de encerramento implica que se possa diferenciação da
compreender dentro de que tecido, a uma só vez perfeitamente inteligível mas perfeitamente ideologia) a partir da
Loucura
frágil, essa prática do encerramento se instalou. Em outras palavras, tratava-se de não partir história da loucura.
de nenhum universal que dissesse: eis a loucura. Tratava-se de não partir de nenhuma
Anarqueologia
posição humanista dizendo: eis o que é a natureza humana, eis o que é a essência humana,
eis o que é a liberdade humana. Era preciso considerar a loucura um x e se apropriar da
prática, somente da prática, como se não se soubesse nada e fazendo de modo a não saber
nada sobre o que é a loucura. [...] Em outras palavras, à série categoria universal–posição
humanista–análise ideológica e programação de reforma, se opõe uma série que seria a série
[...] recusa dos universais–posição anti-humanista–análise tecnológica dos mecanismos de
poder e, em vez do programa de reforma, remeter para mais longe os pontos da não-
aceitação.” (p. 73-74)
“[...] a propósito do crime e da sua punição, o problema não era: dado o que é a
delinquência em nossa sociedade e dado o que é a natureza humana, a essência humana, a
Ideologia prisão é o meio correto a empregar, e que melhorias lhe incorporar? O problema era: ante a
evidência de um aprisionamento que se apresenta como sanção física, ao mesmo tempo Exemplificação do
Procedimento natural e racional, para o crime, qual era a singular e frágil e contingente economia das procedimento
teórico- relações de poder que lhe haviam servido de suporte e a tinham feito passar por aceitável, metodológico (e
I. Digressões
30 jan. metodológico apesar da sua inadequação de ponto de chegada? Portanto, em vez de estabelecer como diferenciação da
metodológicas
medida da prisão e da sua reforma possível a delinquência mesma ou o homem mesmo, ideologia) a partir da
Crime/Punição tratava-se de ver como essa prática do aprisionamento, essa prática da punição em nossas história dos modos de
sociedades haviam por lado modificado a prática real dos ilegalismos, mas constituído punição.
Anarqueologia também esse par entre sujeito de direito e homem criminoso, sujeito de direito e homo
criminalis, em que se perdeu e continua se perdendo infindamente nossa prática criminal.”
(p. 74)
“De uma maneira geral e para terminar essa introdução que foi um pouco longa demais,
direi que fazer a arqueologia ou a (an)arqueologia do saber não seria, portanto, estudar de
maneira global as relações do poder político com o saber ou com os conhecimentos
científicos – não é esse o problema. O problema seria estudar os regimes de verdade, isto é,
os tipos de relações que vinculam as manifestações de verdade, com seus procedimentos,
aos sujeitos que são seus operadores, testemunhas ou, eventualmente, objetos. O que
implica, por conseguinte, que não se faça uma divisão binária entre o que seria a ciência, de
Anarqueologia um lado, em que reinaria a autonomia triunfante do verdadeiro e de seus poderes intrínsecos Como estudar os
I. Digressões e, de outro, todas as ideologias em que o falso, ou o não-verdadeiro, deveria se armar ou ser regimes de verdade e
6 fev.
Regimes de metodológicas armado de um poder suplementar e externo para tomar força, valor e efeito de verdade, e suas relações com os
verdade [isso] abusivamente. Tal perspectiva arqueológica exclui absolutamente portanto a divisão sujeitos que os operam.
entre o científico e o ideológico. [Ela] implica, ao contrário, que se leve em consideração a
multiplicidade dos regimes de verdade [e] o fato de que todo regime de verdade, seja ele
científico ou não, comporta formas específicas de vincular, de [maneira] mais ou menos
constrangente, a manifestação do verdadeiro e do sujeito que a opera. [...] No fundo, o que
eu queria fazer, e sei que não seria capaz de fazer, é escrever uma história da força do
verdadeiro, uma história do poder da verdade, uma história, portanto – pegando a mesma
ideia sob um outro aspecto –, da vontade de saber.” (p. 91-92)
“Ah, falando nisso, tenho de pedir mil desculpas porque, outro dia, encontrei em meus
papéis que eu tinha anotado que o texto de Tertuliano sobre o De baptismo era um texto
polêmico contra um grupo de filiação gnóstica que eu disse que eram os nicolaítas. Vocês Pedido de desculpas por
V. Convocações
20 fev. Errata certamente retificaram o erro, era um grupo de cainitas. Eu disse cá comigo: como não se um engano cometido em
pedagógicas
sabe grande coisa sobre os nicolaítas, pode ser que eles fizessem as mesmas objeções ao aula anterior.
batismo que os cainitas, Em todo caso, eram cainitas. Desculpem-me por esse erro.” (p.
136)

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