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Ermelindo Castro João António

Estudo Etnofarmacológico e Fitoquímico de plantas com actividade Antidiarréica


(Licenciatura em Ensino de Química com Habilitações em Gestão de Laboratório)

Universidade Rovuma
Nampula
2020
2

Ermelindo Castro João António

Estudo Etnofarmacológico e Fitoquímico de plantas com actividade Antidiarréica

(Licenciatura em Ensino de Química com Habilitações em Gestão de Laboratório)

Monografia científica apresentada ao Departamento


de Ciências Naturais e Matemática, para obtenção
do grau académico de licenciatura em Ensino de
Química com Habilitação em Gestão de
Laboratório.

Supervisor: Prof. Doutor. Lázaro Gonçalves


Cuinica

Universidade Rovuma

Nampula

2020
ii

Índice
Lista de Tabelas .............................................................................................................................. v

Lista de Figuras .............................................................................................................................. vi

Lista de Abreviaturas e Símbolos ................................................................................................. vii

Declaração.................................................................................................................................... viii

Dedicatória ..................................................................................................................................... ix

Agradecimentos .............................................................................................................................. x

Resumo .......................................................................................................................................... xi

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

1.1. Justificativa ............................................................................................................................ 13

1.2. Problematização ..................................................................................................................... 14

1.3. Objectivos .............................................................................................................................. 15

1.3.1. Objectivo Geral ................................................................................................................... 15

1.3.2. Objectivos Específicos ........................................................................................................ 15

1.4. Hipóteses ................................................................................................................................ 15

1.5. Delimitação do tema .............................................................................................................. 15

CAPÍTULO II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 16

2.1.Considerações gerais ............................................................................................................... 16

2.1.1.Considerações sobre a diarreia............................................................................................. 18

2.1.2.Classificação da diarreia ...................................................................................................... 19

2.2.Medicamentos utilizados no tratamento da diarreia ............................................................... 20

2. 3. O uso de plantas medicinais para o tratamento da diarreia ................................................... 21

2. 4. Aspectos botânicos das plantas estudadas ............................................................................ 22

2. 4. 1. P. barbatus. A .................................................................................................................... 22

2.4. 2. Classificação Científica ..................................................................................................... 23


iii

2.4.3. Aspectos químicos .............................................................................................................. 24

2.5. Estudo etnobotânico e farmacológicos .................................................................................. 24

2.6. Escherichia coli enteropatogênica.......................................................................................... 25

2.6.1. Doença ................................................................................................................................ 26

2.6.2. Epidemiologia e Profilaxia ................................................................................................. 26

2.7. Metabólitos secundários de plantas ....................................................................................... 26

2.7.1. Flavonóides ......................................................................................................................... 28

2.7.2. Alcalóides ........................................................................................................................... 29

2.7.3. Taninos ................................................................................................................................ 30

2.7.4. Saponinas ............................................................................................................................ 31

CAPÍTULO III: METODOLOGIA .............................................................................................. 32

3.1. Estudo Etnofarmacológico ..................................................................................................... 32

3.1.1. Campo de Estudo ................................................................................................................ 32

3.1.2. População e Amostra .......................................................................................................... 32

3.1.3. Tipo de estudo ..................................................................................................................... 32

3.1.4. Colecta das informações ..................................................................................................... 32

3.2. Analise Fitoquímica ............................................................................................................... 33

3.2.1. Material Vegetal.................................................................................................................. 33

3.2.2.Preparação do extracto ......................................................................................................... 33

3.2.3. Secagem do extracto ........................................................................................................... 33

3.2.4.Analise Fitoquímica Qualitativa .......................................................................................... 34

3.2.5.Análise Fitoquímica Quantitativa ........................................................................................ 34

3.2.5.1.Quantificação de flavonóides totais .................................................................................. 34

3.2.5.2.Quantificação de taninos condensados ............................................................................. 35

3.2.5.3. Quantificação de alcalóides ............................................................................................. 35


iv

3.2.5.4. SOLUÇÃO EXTRACTIVA ........................................................................................... 36

3.3.Análise Antimicrobiana .......................................................................................................... 36

CAPÍTULO VI: RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 37

4.1. Resultados do Estudo Etnofarmacológico ............................................................................. 37

4.2.Rendimento de extracção ........................................................................................................ 41

4.3. Análise fitoquímica qualitativa .............................................................................................. 41

4.4. Análise fitoquímica quantitativa ............................................................................................ 43

4.4.1. Análise quantitativa de alcalóides ....................................................................................... 43

4.4.2. Análise quantitativa de flavonóides .................................................................................... 44

4.4.3. Análise quantitativa de taninos ........................................................................................... 45

4.5.Actividade antimicrobiana ...................................................................................................... 48

4.5.1. Resultados de Análise Microbiana de Extractos Etanóicos ............................................... 49

4. 6. Validação da hipótese da pesquisa ........................................................................................ 51

CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................... 52

7.1.Conclusões .............................................................................................................................. 52

7.2.Recomendações....................................................................................................................... 53

Bibliografia ................................................................................................................................... 54

Apêndices ...................................................................................................................................... 58
v

Lista de Tabelas

Tabela 1: identificação das plantas usadas na comunidade……………………………………38

Tabela 2. Rendimento do processo de extracção dos princípios activos……………………….41


Tabela3: Resultados de testes fitoquímicos de extractos das folhas de P. barbatus (folhas) ….42

Tabela 4 - Valores de absorvências, diluição e concentração de alcalóides, flavonóides e tanino


(µg/ml) obtidos………………………………………………………………………………….47

Tabela 5: Probabilidade de Significância………………………………………………………47


Tabela 6: Resultado de Análise Microbiana, Valores da concentração, medias, desvio padrão,
coeficiente de variação e probabilidade de significância……………………………………….49
Tabela 7: Verificação das hipóteses…………………………………………………………….51
vi

Lista de Figuras
Figura 1: Folhas de P.barbatus...……………………………………………………………….24

Figura 2: Estrutura Química de Flavonóides…………………………………………………….29

Figura 3: Estrutura Química de alcaloides………………………………………………………30

Figura4: Estrutura Química de Taninos………………………………………………………….30

Figura 5: Estrutura Química de Taninos…………………………………………………………31

Figura 6: identificação de metabólitos secundarias de extractos das folhas de P. barbatus


(folhas)…………………………………………………………………………………………...42
Figura 7:Curva de calibração construída de 40-240 g /ml a 366 nm…………………………...44

Figura 8: Curva de calibração construída de 50-175 g/ml a 415 nm…………………………...45

Figura 9: Curva de calibração construída de 30-180 g /ml a 500 nm…………………………..46


Figura 10: análise microbiana……………………………………………………………………48
Figura 11: colecta das informações etnofarmacologicas………………………………………...59
Figura 12: trituração da droga vegetal…………………………………………………………...59
Figura 13: preparação da droga vegetal para a extracção………………………………………..60
Figura 14: processo de extracção………………………………………………………………...60
Figura 15: filtração do extracto fluido…………………………………………………………...61
Figura 16: após a secagem do extracto fluido……………………………………………………61
Figura 17: Remoção do extracto seco da bandeja……………………………………………….62
vii

Lista de Abreviaturas e Símbolos


F.C.N.M ……………………………………… Faculdade de ciências Naturais e Matemática

AIDS ……………………………………………Organização Mundial da Saúde

OMS…………………………………………….Organização mundial da saúde

HIV…………………………………………… Vírus da imunodeficiência humana

ATP…………………………………………….Adenosina trifosfato

E. coli……………………………………………Escherichiacoli

UV/VIS………………………………………….Espectroscopia ultravioleta visível

CIM…………………………………………….Concentração inibitória mínima

DRG…………………………………………….Grupos relacionados ao diagnóstico


viii

Declaração

Eu, Ermelindo Castro João António, declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha
investigação pessoal e das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as
fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.

Nampula, dede 2020


______________________________________

(Ermelindo Castro João António)


ix

Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais, em especial a minha mãe Adelaide João, aos meus irmãos
Olímpio Jacinto Valentim, Belio Castro João António, Flora Bonifácio e Gemildo Cipriano
Segundo, e aos meus sobrinhos Devlin Valentim e Kelvin Valentim, aos tios Acita João e Elma
João pelo acolhimento durante a formação, a minha namorada Ridjoyce Clementina Isabel
Bessa, por estar sempre nos momentos difíceis, aos meus amigos Bicain, Nordino, Zito,
Alexandre, Patrício, Inocêncio, Assimbaue kiza, Santos Calado, Amals da Graça e colegas em
geral e todos os que directa ou indirectamente, ao longo do percurso académico, os quais me
deram as forças para eu prosseguir com os meus estudos de modo que pudesse garantir o meu
futuro na área de formação e na melhoria das minhas competências intelectuais.
x

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço a Deus todo o poderoso pela iluminação que me tem dado. O
meu agradecimento vai também aos meus pais, aos meus irmãos aos meus fiéis aliados em
todas as horas, aos meus colegas e incansáveis companheiros que sempre me deram força para
a elaboração do trabalho. O meu agradecimento estende – se há todo o corpo docente da
Universidade Rovuma – Nampula, e em especial aos docentes da Faculdade de Ciências
Naturais e Matemática (F.C.N.M), Curso de Química que de uma forma sábia e paciente
forneceram ferramentas para que fosse possível a realização do trabalho.

Ao meu supervisor, Prof. Doutor. Lázaro Gonçalves Cuinica, que ofereceu o seu apoio e
disponibilidade para que esta monografia se pudesse concretizar. Não posso me esquecer dos
meus amigos que em todos os momentos me apoiaram. Aos docentes do curso de Química, pela
sua alta contribuição na planificação do trabalho para os futuros professores e na orientação dos
cursantes para a elaboração deste trabalho.
E por último agradeço a todos que por razões de esquecimento não foram mencionados, mas que
estiveram próximos de mim nos momentos difíceis na carreira estudantil para a concretização
das minhas expectativas e objectivos.
xi

Resumo
Desde os tempos remotos que a humanidade utiliza as plantas para diversos fins. Elas são usadas
medicinalmente como uma fonte primária no tratamento de certas doenças e infecções. Algumas
plantas medicinais possuem metabólitos secundários com propriedades antidiarreicas,
antinflamatórias, antibacterianas e uma diversidade estrutural química. Produtos naturais
derivados de plantas podem ser usados como fármacos, e também como modelos para o
desenvolvimento de novos compostos biologicamente activos. O presente trabalho teve como
objectivo principal obter conhecimento Etnofarmacológico e Analise Fitoquímica de Planta com
Actividade antidiarréica. Foram estudadas algumas plantas medicinais moçambicanas
encontradas na Província de Nampula. Usando testes qualitativos foram analisadas
fitoquimicamente a seguinte planta: P. barbatus. Esta espécie é usada em algumas regiões do
país para o tratamento de várias doenças infecciosas, tais como: a Tuberculose, Malária,
Diarreias e outras. Os extractos brutos foram preparados por maceração sequencial usando como
solvente extractor o álcool etílico a 70%. A análise qualitativa foi realizada com base em ensaios
fitoquímicos clássicos para detecção de diversos fitoconstituintes como: Alcalóides, Flavonóides,
Saponinas e Taninos. O rastreio fitoquímico revelou a presença de todos os constituintes
químicos acima referidos, com excepção dos flavonóides. Este estudo mostrou que esta planta
apresenta uma grande variedade de metabólitos secundários com largo espectro de actividades
biológicas e farmacológicas necessárias para o combate de muitas doenças infecciosas. O
extracto apresentou as seguintes concentrações: alcalóides 15,167 ± 0,002µg/ml; flavonóides
4,954 ± 0,002µg/mL; taninos 23,635 ± 0,003µg/mL. Avaliando a análise antimicrobiana, pode-se
observar que todas as concentrações testadas (100 mg/mL a 500 mg/mL) apresentaram CIM de
53% na concentração de 300 mg/mL. Esses resultados sugerem que o extracto etanóico de P.
barbatus apresenta possível efeito antimicrobiano.

Palavras-chave: Plantas medicinais, Metabólitos secundários, Estudo fitoquímico, doenças


antidiarréica
12

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
O uso de espécies vegetais para a cura de doenças e sintomas remonta ao início da civilização e,
em várias culturas, produtos botânicos eram empregados para essa finalidade (HALBERSTEIN
2005). Após a instalação de uma comunidade em determinada região, a utilização de plantas
medicinais na prática da medicina popular era inevitável, resultando no acúmulo de
conhecimentos empíricos sobre a acção terapêutica dos vegetais (SOUZA, 2005).
Em geral, as comunidades passam seus conhecimentos através de informações não registadas,
transmitidas no espaço e no tempo, via de regra através da comunicação oral (TOLEDO &
BARRERA-BASSOLS,2010). Este procedimento agrafo pode proporcionar o repasse de
informações de forma equivocada ou alterada (AMOROZO, 2002). Portanto, ao resgatar este
conhecimento e suas técnicas terapêuticas tem-se uma maneira de deixar registado um modo de
aprendizado informal que pode vir a contribuir para uma melhor valorização da medicina
popular e, como consequência, gerar informações sobre a saúde da comunidade local, conforme
concluíram PILLA et al., (2006) em seu estudo.
As plantas utilizadas como medicinais quase sempre têm posição predominante e significativa
nas investigações etnobotânicas de uma região ou grupo étnico, tema colocado em evidência pelo
trabalho de PASA et al., (2005), e constituem um aparato útil na elaboração de estudos
farmacológicos e fitoquímicos por já estarem consagradas pelo uso contínuo na comunidade
(Amorozo 1996). O bioma Mata Atlântica possui uma das floras mais ricas e diversificadas do
planeta (RIBEIRO et al., 2009).
No entanto, a bioquímica da maioria dessa flora é desconhecida, podendo revelar oportunidades
de novos fármacos, pois a produção de medicamentos de plantas da nossa biodiversidade é
praticamente inexistente (JOLY et al. 2011), bem como o uso seguro da vegetação pelas
populações que usufruem da biodiversidade (BOAS & GADELHA, 2007).
Estudos sobre o conhecimento ecológico de populações locais sobre as plantas contribuem para
resgatar hábitos, formas de uso dos recursos da flora e têm sido úteis para dimensionar a
biodiversidade dos ecossistemas (CASTELLUCCI et al. 2000). Entre as pesquisas que abordam
populações rurais e/ou que habitam próximo às Unidades de Conservação no bioma Mata
Atlântica no sul do Brasil, destacam-se os estudos de GARLET & IRGANG (2001), MARODIN
& BAPTISTA (2001 e 2002), JACOBI et al. (2002), NEGRELL & FORNAZZARI (2007),
SILVA et al. (2009), GIRALD & HANAZAKI (2010) e MERETIKA et al. (2010).
13

Na sociedade em que vivemos é comum o uso de plantas medicinais em ritos religiosos,


tratamento terapêutico popular e científico. Recorrer à natureza como forma de sanar
enfermidades é de longa data, até mesmo porque os recursos sistematizados nem sempre
estiveram disponíveis à população ou ainda estão em processo de desenvolvimento científico.

Observar a história do uso de plantas medicinais nos atentos para a importância que os
conhecimentos das sociedades e a interacção das mesmas com o meio ambiente geram em
benefício das sociedades presentes e futuras (COSTA e SILVA, 2014). Toda a sociedade
humana acumula um acervo de informações sobre o ambiente que a cerca, que lhe possibilita
interagir com ele para prover suas necessidades de sobrevivência. Neste acervo, insere-se o
conhecimento relativo ao mundo vegetal com o qual estas sociedades estão em contacto
(AMOROZO, 1996).

A pesquisa enquadra – se na linha de pesquisa para o Curso de Licenciatura em Ensino Química,


Interacção Ciência, Tecnologia e Sociedade e Valorização de conhecimentos populares a cerca
de plantas medicinais.

1.1. Justificativa
O uso de planta diversa na prática médica é uma realidade em Moçambique, não se dispensando
o uso destas como antidiarréicas, e outras responsáveis na cura de diversos males que afligem as
comunidades. Por esta razão, torna-se importante realizar-se estudos Etnofarmacológico e
fitoquímico de plantas com actividades antidiarréicas, de modo a relatar aquilo que são as plantas
que as comunidades aderem para resolução de seus problemas do dia-a-dia, relacionados à saúde
no posto administrativo de Namaita Distrito de Rapale. Essas plantas tem relevância
socioeconómica muito grande na qualidade de vida das comunidades de baixa renda como é o
caso do distrito de Rapale, devido a sua alta disponibilidade e principalmente aos baixos custos
e/ou sem ônus comparados aos medicamentos alopáticos (RODRIGUES & CARVALHO, 2001).
Esta é uma realidade muito comum no meio rural Moçambicano, associada também às
dificuldades de acesso aos serviços básicos de saúde pública. O processo de levantamento,
resgate de informações e identificação de espécies medicinais nativas de Namaita é importante
mediante o potencial económico e medicinal dessas plantas provenientes deste bioma (SILVA et
al., 2010), ainda pouco conhecido e com disponibilidade futura comprometida devido à ameaça
14

como desmatamento e queimadas, entre outras, o que tem levado a perda da biodiversidade
medicinal.

A pesquisa fitoquímica é importante principalmente quando ainda não são dispostos todos os
estudos químicos com espécies de interesse popular, tendo como objectivo conhecer os
compostos químicos das espécies vegetais e avaliar sua presença nos mesmos, identificando
grupos de metabólitos secundários relevantes (SIMOES et al., 2004) úteis enquanto marcadores
químicos no monitoramento das plantas medicinais em processo de domesticação (LEITE,
2009), na qualidade da matéria-prima medicinal e na prospecção da biodiversidade ou
bioprospecção (BRAGA, 2009). A etnobotânica aplicada ao estudo de plantas medicinais
trabalha em estreita cumplicidade com a etnofarmacológia que consiste na exploração científica
e interdisciplinar de agentes biologicamente activos, que sejam tradicionalmente empregados ou
observados por determinado agrupamento humano (LOPEZ, 2006). Assim, estas áreas do
conhecimento devem ser utilizadas em pesquisas de novas substâncias oriundas de plantas,
tendo: a etnobotânica a incumbência de buscar informações a partir do conhecimento de
diferentes povos e etnias; a fitoquímica o desempenho de identificação, purificação, isolamento e
caracterização de princípios activos; e a farmacologia o estudo dos efeitos farmacológicos de
extractos e dos constituintes químicos isolados (ALBUQUERQUE & HANAZAKI, 2006). Esta
actuação interdisciplinar é necessária e amplia as buscas direccionadas para o campo da
bioactividade das plantas medicinais levando em conta também os aspectos agro tecnológico,
microbiológicos, farmacológicos e biotecnológicos (FOGLIO et al., 2006).

Este trabalho busca fundamentalmente fazer levantamento das plantas usadas como
antidiarréicas e sua análise fitoquímica, nas comunidades do distrito de Namaita, província de
Nampula, bem como compreender o seu uso.

1.2. Problematização
Para fazer face a solução deste problema, surge, por parte do autor a seguinte questão: Quais são
as plantas usadas como antidiarreicas em Namaita e a sua composição química?
15

1.3. Objectivos

1.3.1. Objectivo Geral


 Obter conhecimento Etnofarmacológico e Analise Fitoquímicas de Plantas com
Actividades diarreicas

1.3.2. Objectivos Específicos


 Colher informações etnofarmacológica de plantas usadas para o tratamento de doenças
antidiarréicas;
 Identificar as plantas usadas no tratamento de doenças antidiarréicas e colectar a matéria-
prima do vegetal;
 Analisar a composição química de extractos secos da planta (Plectranthus barbatus
Andrews)

1.4. Hipóteses
 As plantas usadas para o tratamento de doenças antidiarréicas na província de Nampula
contem (taninos, flavonóides, saponinas e alcalóides)

1.5. Delimitação do tema


A presente pesquisa, fez o estudo apenas Etnofarmacológico, Fitoquímico e Antimicrobiano de
plantas com actividades Antidiarreicas e, foi realizado no posto administrativo de Namaita,
Distrito de Rapale - Nampula, no período compreendido entre os anos de 2019 - 2020.
16

CAPÍTULO II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1.Considerações gerais
O uso das plantas medicinais tem sido uma prática consagrada em diversas épocas da história
humana, cujo acúmulo de informações obtido através da experiência de vários povos, representa
milénios de história, (MING, 1994). Com relação ao registro ordenado acerca do uso de plantas
como remédio, o Papiro de Ebers (~ 1550 a.C.) é um dos mais antigos e importantes
documentos, incluindo mais de 700 prescrições com plantas medicinais (LIPP, 1996). Existem
algumas evidências de que o homem pré-histórico já fazia uso de plantas medicinais, para
amenizar o sofrimento de males físicos que lhe acometiam (CASTRO e CHEMALE, 1995). No
Brasil, antes mesmo de seu descobrimento, os índios utilizavam plantas para a cura de doenças,
para o preparo de corantes e para ajudar na pesca, tais conhecimentos eram passados de geração
para geração. Muitas informações sobre a cura de doenças por plantas eram adquiridas através da
observação de animais, que procuravam determinadas plantas quando doentes (CORRÊA, 1978).
Em 1992 a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que 80% da população mundial
dependia da medicina tradicional para atender às suas necessidades de cuidados primários à
saúde, sendo o uso de plantas medicinais, drogas vegetais, extractos e princípios activos obtidos
a partir dos vegetais, a base desta medicina (WHO, 1992).

CALIXTO e SIQUEIRA (2008) consideram que a principal contribuição para o


desenvolvimento da terapêutica moderna foi a utilização das plantas medicinais. Em alguns
casos, esta prática evoluiu ao longo dos anos, desde as formas mais simples de tratamento local,
até as formas tecnologicamente mais sofisticadas de fabricação industrial (LORENZI e MATOS,
2002). No início do séc. XX quando houve o advento da síntese química (MING, 1994) iniciou-
se a procura pelos princípios activos presentes nas plantas medicinais, criando assim, os
primeiros medicamentos com as características conhecidas actualmente (CALIXTO e
SIQUEIRA, 2008).

As pesquisas com plantas medicinais envolvem investigações da medicina tradicional e popular


(etnobotânica); isolamento, purificação e caracterização de princípios activos (química orgânica
e fitoquímica); investigação farmacológica de extractos e dos constituintes químicos isolados
(farmacologia); transformações químicas de princípios activos (química orgânica sintética);
estudo da relação estrutura - actividade e dos mecanismos de acção dos princípios activos
17

(química medicinal e farmacologia) e finalmente a operação de formulações para a produção de


fitoterápicos. A integração destas áreas na pesquisa de plantas medicinais conduz a um caminho
promissor e eficaz para descobertas de novos medicamentos (MACIEL et al., 2002). SIMÕES et
al. (2004) citam as drogas vegetais como uma fonte importante de produtos naturais
biologicamente activos, muitos dos quais se constituem em modelos para a síntese de um grande
número de fármacos.

A OMS define planta medicinal como sendo “todo e qualquer vegetal que possui, em um ou
mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam
precursores de fármacos semi-sintéticos” (VEIGA et al., 2005). Estas substâncias químicas,
biologicamente sintetizadas a partir de nutrientes, água e luz, provocam no organismo humano e
animal reacções que podem variar entre a cura ou o abrandamento de doenças pela acção de
princípios activos como alcalóides, glicosídeos, saponinas, entre outros (BRASIL, 1998).

Droga vegetal é a planta medicinal, ou suas partes, que contenham as substâncias, ou classes de
substâncias, responsáveis pela acção terapêutica, após processos de colecta, estabilização,
quando aplicável, e secagem, podendo estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada.

São considerados medicamentos fitoterápicos os obtidos com emprego exclusivo de matérias-


primas activas vegetais, cuja eficácia e segurança são validadas por meio de levantamentos
3etnofarmacológicos de utilização, documentações técnico-científicas ou evidências clínicas. Os
medicamentos fitoterápicos são caracterizados pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu
uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade (BRASIL, 2010). É o
produto final acabado, embalado e rotulado. Na sua preparação podem ser utilizados adjuvantes
farmacêuticos permitidos na legislação vigente.

Não podem estar incluídas substâncias activas de outras origens, não sendo considerado produto
fitoterápico quaisquer substâncias activas, ainda que de origem vegetal, isoladas ou mesmo suas
misturas. Neste último caso encontra-se o fitofármaco, que por definição “é a substância activa,
isolada de matérias-primas vegetais ou mesmo, mistura de substâncias activas de origem
vegetal” (VEIGA et al., 2005).

O conhecimento tradicional sobre o uso das plantas é vasto e é, em muitos casos, o único recurso
disponível que a população rural de países em desenvolvimento tem ao seu alcance (PASA et al.,
18

2005). DIEGUES (2004) destaca que com o isolamento relativo, as populações tradicionais
desenvolveram modos de vida particulares, que envolvem grande conhecimento dos recursos e
fenómenos biológicos característicos do meio em que vivem e neste contexto, surge o conceito
de conhecimento tradicional. Como resultado da busca contínua para achar um tratamento para
as doenças, que são específicas em cada comunidade, tem sido desenvolvida uma extensa
farmacopeia de plantas medicinais (KIRINGE, 2006).

2.1.1.Considerações sobre a diarreia


A diarreia é definida como um aumento no número de evacuações (3 ou mais/24 h), um aumento
na fluidez das fezes e/ou a presença de sangue e muco nestas (MATHAN, 1998).

O conteúdo líquido é o principal determinante do volume e consistência das fezes. Este reflecte
um equilíbrio entre a entrada luminal (ingestão e secreção de água e electrólitos) e a saída
(absorção) ao longo do trato gastrointestinal. Os mecanismos neurohumorais, patógenos e
medicamentos podem alterar estes processos, resultando em mudanças na secreção ou absorção
de fluido pelo epitélio intestinal. A motilidade alterada também contribui de uma maneira geral
para este processo, como a extensão da absorção paralela ao tempo de trânsito. Quando a
capacidade do cólon para absorver o líquido é ultrapassada, irá ocorrer diarreia (VITALI et al.,
2006).

A diarreia pode ser causada por um aumento da carga osmótica dentro do intestino; secreção
excessiva de água e electrólitos no lúmen do intestino; exsudação de proteínas e de fluido da
mucosa; e alteração da motilidade intestinal resultando em trânsito rápido. Existem também
várias etiologias, como vírus, bactérias, parasitas, intoxicação alimentar ou medicamentos, que
podem conduzir a diarreia (ESTRADA-SOTO et al., 2007).

A diarreia é um problema comum em todas as idades e está entre as causas de mortalidade de


maior prevalência em países em desenvolvimento (BERN et al., 1992). Tem sido estimado que 5
a 7% da população tem um episódio de diarreia aguda a cada ano e que 3 a 5% tem diarréia
crónica a qual dura cerca de 4 semanas (SCHILLER; SELLIN, 2006).
19

2.1.2.Classificação da diarreia

A classificação clínica da diarreia é baseada na duração da mesma. A diarreia aguda é


geralmente auto limitada e tem duração menor que duas semanas. A diarreia que persiste por 14
dias ou mais é classificada como diarreia persistente e, se a duração dos sintomas é maior que um
mês, a diarreia é classificada como crónica (MATHAN, 1998). MANDELL, DOUGLAS E
BENNETT (1997) classificaram as diarreias da seguinte forma: diarreia infecciosa aguda,
diarreia não-infecciosa aguda, diarreia dos viajantes, colite associada ao antibiótico terapia e
tropical.

a) Diarreia infecciosa aguda


A diarreia infecciosa aguda é definida como uma diarreia acompanhada de infecção intestinal
por um patógeno entérico conhecido (vírus, bactéria, parasita ou fungo). Os patógenos que
causam a infecção diarreica aguda são divididos em organismos invasivos e não invasivos. É
aceito que organismos não invasivos produzem diarreia aquosa, usualmente através de uma
enterotoxina afectando primeiramente o intestino delgado. Os organismos invasivos por sua vez,
afectam primeiramente o intestino grosso, invadem a mucosa e produzem uma resposta
inflamatória e fezes sanguinolentas ou mucóides (DHAWAN; DESAI, 1996).

b) Diarreia do viajante
A diarreia do viajante é a situação clínica mais frequente nos viajantes, sobretudo se viajam de
zonas mais desenvolvidas para outras menos desenvolvidas. Trata-se de uma síndrome
geralmente auto limitada em que há diarreia frequentemente associada a outros sintomas.
Raramente constitui um risco para a vida, mas a morbidade que determina é acentuada. A
diarreia do viajante pode apresentar-se de forma aguda ou crónica, mas é maioritariamente
infecciosa, sendo algumas bactérias responsáveis pela maior parte dos casos em todo o mundo. A
Escherichia coli é a causa mais frequente dessas diarreias, sendo identificada em 40 a 70% dos
casos (ALEIXO, 2003).

c) Diarreia persistente
A diarreia persistente é responsável por altas taxas de morbidade e mortalidade em lactentes de
baixo nível socioeconómico em países em desenvolvimento (WHO, 1992). Aparece como causa
e efeito da desnutrição e aumenta o risco de morte quando associada a esta. Estima-se que de 3 a
20

20%dos episódios de diarreia aguda em crianças menores de cinco anos tornam-se persistentes e
que mais de 50% das mortes provocadas por diarreia estejam associadas a episódios persistentes
(BHANDARI; BHAN; SAZAWAL, 1992; FAUVEAU et al., 1992).

d) Diarreia crónica
A diarreia crónica é definida como diarreia prolongada por períodos superiores há um mês. Uma
abordagem clínica divide a diarreia crónica em síndromes de má-absorção (por exemplo, spru
tropical), diarreia crónica sem má-absorção (como a síndrome do intestino irritável) e diarreia
crónica da imunodeficiência. O spru tropical tem essa denominação porque ocorre quase
exclusivamente nas pessoas que vivem nos trópicos ou que visitam esta região (MATHAN,
1988).

2.2.Medicamentos utilizados no tratamento da diarreia


As drogas antidiarréicas reduzem as características da diarreia como a perda da consistência das
fezes e o aumento da frequência de defecação e da massa fecal. Sua acção é produzida através de
efeitos sobre o trânsito intestinal, o transporte da mucosa, ou o conteúdo da luz intestinal.

Várias são as queixas que podem ser apresentadas pelo paciente frente a alterações no
funcionamento normal do intestino, dentre elas podemos citar diarreia, perda de peso,
endurecimento das fezes, cólica abdominal, urgência fecal e constipação. Os medicamentos que
alteram o trânsito intestinal são indicados de acordo com a sintomatologia apresentada pelo
paciente. Por exemplo, existem drogas que aliviam a constipação ou funcionam como laxantes,
enquanto outras apresentam actividade antidiarreica (RANG; DALE; RITTER, 2006). Existem
medicamentos utilizados para aumentar a motilidade, como a domperidona, a metoclopramida e
a cisaprida, ou diminuir a motilidade do intestino, assim como os opiáceos e os antagonistas dos
receptores muscarínicos. Os medicamentos que aumentam os movimentos incluem também os
purgativos, que aceleram a passagem do alimento através do intestino, e os agentes que
aumentam a motilidade da musculatura lisa intestinal sem causar purgação. As drogas usadas
actualmente no tratamento da diarreia, como antibióticos e opiáceos, têm suas limitações, devido
ao desenvolvimento de resistência bacteriana e ao aparecimento, por vezes, de constipação,
respectivamente. Desse modo, estudos vêm sendo realizados na tentativa de encontrar drogas que
21

actuem predominantemente na secreção sem afectar a motilidade gastrointestinal, reduzindo


deste modo a fluidez das fezes sem, contudo, causar constipação (FARTHING, 2000).

2. 3. O uso de plantas medicinais para o tratamento da diarreia


O uso de produtos naturais, especialmente os derivados de plantas medicinais, tem sido bastante
utilizado por diversas civilizações desde um passado longínquo até os tempos actuais como uma
forma tradicional de prover remédios para tratar diversos tipos de doenças. Nos últimos anos, as
plantas medicinais têm contribuído imensamente para o desenvolvimento de fármacos de
importância terapêutica usados correntemente na medicina convencional, demonstrando o
importante papel dos produtos naturais na descoberta de fármacos relacionados a todos os tipos
de doenças (CRAGG, NEWMAN; SNADER, 1997; CALIXTO, 2005).

Nos últimos anos tem havido um movimento de retornos dos produtos naturais para usos
terapêutico, cosmético e alimentar. Alguns factores, por fazerem parte de um contexto cultural,
têm contribuído para este interesse crescente. Entre eles está a facilidade de acesso; efeitos
colaterais provocados pelos fármacos sintéticos; por serem a única fonte de medicamento
especialmente em lugares isolados; e por apresentarem moléculas potencialmente activas, uma
vez que já são conhecidos cerca de 50.000 metabólitos secundários isolados de plantas, muitos
deles ainda sem qualquer avaliação quanto ao seu potencial terapêutico (MONTANARI;
BOLZANI, 2001; OMENA, 2007). Outro factor de destaque na utilização crescente de produtos
à base de plantas medicinais é a vigente carência de recursos dos órgãos públicos de saúde e os
elevados preços dos medicamentos industrializados.

No entanto, pela facilidade de obtenção e pelo despreparo de quem as utiliza, são facilmente
observados casos de intoxicação com plantas medicinais (PARENTE; ROSA, 2001).

Questionamentos importantes relacionados às drogas vegetais são necessários para se saber que
parte da planta apresenta melhor resposta medicinal, qual o método popular de preparação e qual
a frequência e duração do tratamento (SCHMEDA-HIRSCHMANN; YESILADA, 2005). Estas

Informações podem ser obtidas pelos estudos etnofarmacológicos que resgatam uso tradicional
de plantas com fins medicinais. Segundo AGRA, FREITAS e BARBOSA-FILHOS (2007), as
informações oriundas de grupos étnicos ou indígenas, sobre a utilização de plantas com fins
22

medicinais são importantes para a pesquisa e descoberta de novos produtos que venham a ser
utilizados como agentes terapêuticos.

2. 4. Aspectos botânicos das plantas estudadas


No distrito de Rapale posto administrativo de Namaita, colectou-se 10 plantas usadas para o
tratamento da diarreia são dentre elas as seguintes: Moringa Oleifera, Momórdica balsamina,
Carica papaya, Senecio lividus L, Pyrus communis, Corylus avelhana L, Pisum sativum, cocos
malífera, Aloe vera e P. barbatus. E foi seleccionado uma planta para os estudos químicos (P.
barbatus)

2. 4. 1. P. barbatus
É uma planta medicinal de porte arbustivo, dotada de folhas largas, aveludadas ao toque, com
bordas denteadas nas folhas maiores (Figura 1), conhecida como “falso boldo”(LORENZI;
MATOS, 2002; LUKHOBA et al., 2006). Atinge 1- 1,5 metros de altura (COSTA;
NASCIMENTO, 2003), e é originária do nordeste da África (RICE et al., 2011). Pertence à
família Monimiaceae, compreendendo de 25 a 30 géneros e aproximadamente 300 espécies
(COSTA, 2010).

As folhas albergam um baixo rendimento (cerca de 0,05%) de óleos essenciais a despeito do


aroma intenso e característico do boldo brasileiro. Dentre os componentes já isolados e
identificados, 95% da composição, estão os monoterpenos, sesquiterpenos e fenilpropanoides:
acetato de fenila, capaeno, aromadendieno (COSTA; NASCIMENTO, 2003). Além destes,
também é relatada a presença maioritária de manol e do diterpeno abietatrieno, presentes não só
nas folhas como também nas raízes (ALBUQUERQUE et al., 2007). Entretanto, estes compostos
não são reputados como os principais responsáveis pelas acções farmacológicas desta planta,
uma vez que a maioria das preparações se baseia em infusões e os compostos voláteis são
facilmente perdidos. Desta forma compostos mais estáveis seriam os promotores das acções
reputadas desta planta (FALÉ et al., 2009).

GRAYER et al. (2010) reportam que o género P. barbatus. Compreende numerosos flavonóides
em suas folhas, em sua maioria flavonóis, flavanonas e flavonas.

Dentre estes fenólicos reportados, estão flavonóis com agrupamentos metil-éter, além da
presença de hidroxilas e metoxilas. Alguns destes flavonóides já identificados são: quercetina e
23

seus derivados (ayanina, chrisosplenol D e casticina), apigenina e seus derivados (genkwanina,


acacetina), scutellareína e seus derivados (salvigenina, ladaneína e cirsimaritina).

Dentre os constituintes já identificados, a maioria apresenta acção farmacológica comprovada in


vitro e in vivo, algumas bem distintas entre os diterpenos labdanos: acção hipotensora, digestiva
(estimulante, antiulcerosa), antimicrobiana, anti-helmíntica, anticâncer, antiprotozoárica,
hipoglicêmica e até mesmo antiviral (COSTA, 2006; SCHULTZ et al., 2007; BODIWALA et
al., 2009).

Em relação à toxicologia, o fato de ser uma planta profundamente enraizada na cultura popular,
onde seu consumo é bem descrito, tem levantado muitas questões acerca da segurança de seu
uso. Os primeiros estudos in vivo dos efeitos adversos de extractos etanólicos, metabólicos e
aquosos de P. barbatus, constataram indícios de acção abortiva, hepatotoxicidade,
nefrotoxicidade e carcinogenicidade. Tais levantamentos corroboram o uso popular desta planta
para interromper a gravidez e salientam o problema do consumo inadvertido de uma planta ainda
não padronizada em nenhuma farmacopeia de referência, a despeito de seu potencial
farmacológico (MENGUE et al., 2001; COSTA, 2002).

2.4. 2. Classificação Científica


Nome científico: P. barbatus, Nome popular: MunamulukoMulupale, Reino: Plantae, Divisão:
Magnoliophyta, Ordem: Lamiales, Familia:Lamiaceae, Género: Plectranthus, Espécie:
P.barbatus
24

Figura 1: Folhas de P.barbatus

Fonte: (Autor, 2020)

2.4.3. Aspectos químicos


As maiorias dos estudos fitoquímicos das espécies do género P.barbatus são focadas no
isolamento de diterpenoides e suas propriedades farmacológicas. Monoterpenoides,
diterpenoides, sesquiterpenoides, e compostos fenolicos são comummente encontrados no género
P.barbatus. sendo os diterpenoides os metabolitos secundários mais encontrado em todo género.
O ácido cafeico e o ácido clorogenico sempre estão presentes na família Laminaceae, sendo
ácido clorogenico considerado como de ocorrência universal na família e o ácido rosmarinicio de
ocorrência restrita apenas a subfamília Nepetoideae. O género P.barbatus. também possui uma
composição rica em óleos essenciais (ABDEL-MOGIB et al, 2002; LUKHOBA et al, 2005).

A espécie P.barbatus. possui uma composição química rica em flavonóides como apigenina,
crysoeriol, luteilina quercetina, salvigenina, taxifolina.

2.5. Estudo etnobotânico e farmacológico


As espécies do venero P.barbatus. são frequentemente utilizados na alimentação e no tratamento
de problemas digestivos, de pele e infecções, principalmente do trato respiratório ( LUKHOBA
et al, 2005).

P.barbatus. é popularmente utilizado no tratamento de doenças do trato respiratório, agindo


como um broncodilador, expectorante, antitussigeno e antimicrobiano, esta ultima propriedade
25

conferi-lhe uma acção eficaz no combate a infecção respiratória e otites (NOGURIRA, 2004). P.
amboinicus é utilizado no combate a cólera, nas doenças génito-urinarias, em dores e febres. O
extracto aquoso das partes áreas de P. amboinicus é usado popularmente como um antiepiléptico,
anticonvulsiva, antidiarréico e em doenças gástrica (CASTILLO; GONZALES, 1999)

2.6. Escherichia coli enteropatogênica


Escherichia coli são bactérias Gram negativas, anaeróbicas facultativas, que fazem parte da flora
intestinal normal humana, e são importantes na manutenção da fisiologia intestinal. Essas
bactérias foram consideradas inofensivas durante muitos anos. Contudo, cepas de E. coli
causadoras de diarreia, tanto em humanos e animais domésticos como boi (FISCHER et al.,
1994), ovelha (CID et al., 2001), coelho (ROBINS-BROWNE et al., 1994), cachorro (TURK et
al., 1998) e porcos (ZHU et al., 1994), foram descritas entre as décadas de 40 e 50 (NATARO e
KAPER, 1998).

Inicialmente, todas as cepas de E. coli que induzem diarreia foram nomeadas como E. coli
enteropatogênicas (EPEC). Estudos posteriores permitiram que as E. coli enteropatogênicas
fossem classificadas em diferentes grupos de acordo com seus mecanismos de infecção e
factores de virulência produzidos (KAPER, 1994). Os factores de virulência são proteínas de
adesão, de invasão, e proteínas tóxicas que caracterizam diversas manifestações clínicas, que vão
desde diarreias coleriformes e colites agudas até disenteria e morte (NATARO e KAPER, 1998;
CHEN e FRANKEL, 2004).

Existem hoje seis principais classes de E. coli patogénicas: as enteropatogênicas (EPEC), as


enterohemorrágicas (EHEC), as enterotoxigênicas, (ETEC), as enteroagregativas (EAEC), as
enteroinvasivas (EIEC) e as que aderem difusamente (DAEC)

A diarréia causada por EPEC acomete, frequentemente, neonatos nas áreas endémicas, devido à
falta de uma resposta imune adquirida. Os principais factores de risco são a ausência do
aleitamento ao seio materno, o baixo peso ao nascer, desnutrição nos primeiros meses de vida, e
a residência em áreas de saneamento precário. Este último sugere que a água utilizada para
preparação dos alimentos seja a principal fonte de contaminação (FERNANDES e MEDINA-
ACOSTA, 2002; FERNANDES e MEDINA-ACOSTA, 2004).
26

2.6.1. Doença
A Escherichia Coli é uma bactéria bacilar Gram-negativa, que juntamente com o
Staphylococcusaureus é a mais comum e uma das mais antigas bactérias simbiontes do Homem.
A E. Coli pode habitar o intestino de forma natural e até colaborar com o funcionamento correcto
do trato digestivo, actuando no processo de absorção dos nutrientes. Porém, quando sai do
intestino e vai para outras partes do organismo humano, pode provocar as principais causas de
doenças:

Toxinfecção alimentar: é uma causa importante de Gastroenterites (diarreias); Infecção do trato


urinário (ITU): é a mais frequente (cerca de 80% dos casos), causa infecção em mulheres jovens,
podendo complicar em Pielonefrite. Resultam da ascensão do organismo do intestino pelo ânus
até o orifício urinário e invasão da uretra, bexiga e ureteres. Frequentemente causados pelo
seroar UPEC, também conhecida como Cistite da lua-de-mel devido à propensão para aparecer
em mulheres sexualmente activas; Colecistite; Apendicite; Peritonite: se perfurarem a parede
intestinos ou do trato urinário. A mortalidade é alta; Meningite: A maioria dos casos em neonatos
é causada pela E. Coli; Infecções de feridas; Septicemia: causam 15% de casos da multiplicação
sanguínea total, contra 20% Staphylococcusaureus. É uma complicação de estágios não tratados
de doenças nas vias urinárias ou gastrointestinais. Mortalidade alta.(ELISABETSHY, 2001)

Denominadas cepas uropáticas, estas são caracterizadas pela presença de pili com proteínas
adesivas, que possuem capacidade de ligação a receptores específicos do epitélio do trato
urinário, sendo os principais grupos de Escherichia Coli Patogénicos:

2.6.2. Epidemiologia e Profilaxia


A Escherichia Coli causa diarreia, infecção urinária, doença respiratória, pneumonia entre outras.
As E. ColiShigatoxigênica vivem nos intestinos de animais ruminantes. A principal fonte da
doença em humanos é o gato, outros animais incluindo porcos e pássaros pegam no ambiente e
podem espalhá-la. A água é um indicador de grande importância de contaminação.
(ELISABETSHY, 2001)

2.7. Metabólitos secundários de plantas


O metabolismo representa o conjunto de reacções químicas que está sempre ocorrendo em cada
célula. Os compostos químicos que são formados, degradados ou transformados recebem o nome
27

de metabólitos (SIMÕES et al., 2010), que por sua vez podem ser divididos em metabólitos
primários e metabólitos secundários (WAKSMUNDZKA-HAJNOS; SHERMA; KOWALSKA,
2008). De acordo com Simões et al., (2010) a teoria evolucionista descreve que todos os seres
vivos derivaram de um precursor comum, o que explica, por exemplo, porque as principais
macromoléculas (carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos) são essencialmente as
mesmas, quer num organismo vegetal ou animal. Por serem considerados essenciais à vida e
comuns aos seres vivos têm sido definidos como integrantes do metabolismo primário.
Metabolismo primário compreende as várias reacções químicas envolvidas na transformação de
moléculas de nutrientes nas unidades constitutivas essenciais da célula (WATSON, 1965),
reacções essas que encontram-se envolvidas na manutenção fundamental da sobrevivência e do
desenvolvimento celular (DIXON, 2001). Vegetais, microrganismos e, em menor escala animais,
entretanto, apresentam um metabolismo diferenciado (enzimas, coenzimas e organelos) capaz de
produzir, transformar e acumular outras substâncias não necessariamente relacionadas de forma
directa à manutenção da vida do organismo produtor. Nesse grupo, encontram-se substâncias
cuja produção e acumulação estão restritas a um número limitado de organismos, sendo a
bioquímica e o metabolismo específico, características únicas, funcionando como elementos de
diferenciação e especialização. A todo este conjunto metabólico costuma-se definir como
metabolismo secundário, cujos produtos, embora não necessariamente essenciais para o
organismo produtor, garantem vantagens para sua sobrevivência e para a perpetuação da espécie
em seu ecossistema (SIMÕES et al., 2010).

Metabólitos secundários são substâncias produzidas em pequenas quantidades, e, em contraste


com os primários, nem sempre estão envolvidos em funções vitais do vegetal ou mesmo presente
em todos eles. Além disto, são conhecidos por serem sintetizados em tipos celulares
especializados e em distintos estágios de desenvolvimento, tornando seu isolamento e
purificação mais trabalhosos. Estes constituintes químicos são extremamente diversos. Cada
família, género, e espécie produz uma categoria química característica ou uma mistura delas, e
elas, por vezes, podem ser utilizadas como caracteres taxonómicos na classificação das plantas
(BELL et al. 1980; WAKSMUNDZKA-HAJNOS; SHERMA; KOWALSKA, 2008). A produção
desses componentes tem como função proteger a planta contra herbívoros, ataque de patógenos,
bem como beneficiá-la na competição com outros vegetais. Além disso, favorecem a atracão de
polinizadores, de animais dispersores de sementes, bem como microrganismos simbiontes.
28

Acrescidos a estes factores bióticos, a produção de metabólitos secundários também protege o


vegetal de influências externas, como temperatura, umidade, protecção contra raios UV e
deficiência de nutrientes minerais (ALVES, 2001; PERES, 2004; SIMÕES et al., 2010).

Existem três grandes grupos de metabólitos secundários: compostos fenólicos, terpenos e


alcalóides utilizados na defesa contra estresses bióticos e abióticos (TAIZ; ZEIGER, 2009). Os
compostos fenólicos são derivados do ácido chiquímico e ácido mevalônico. Os terpenos são
produzidos a partir do ácido mevalônico (no citoplasma) ou do piruvato e 3-fosfoglicerato (no
cloroplasto). Os alcalóides são provenientes de aminoácidos aromáticos (triptofano, tirocina), os
quais são derivados do ácido chiquímico e de aminoácidos alifáticos (ornitina, lisina).
Flavonóides, taninos e ligninas fazem parte dos compostos fenólicos; óleos essenciais, saponinas,
carotenóides e a maioria dos fitoreguladores são terpenos; nicotina, cafeína e vincristina são
alguns exemplos de alcalóides (ALVES, 2001; PERES, 2004).

A síntese de metabólitos secundários é influenciada por diversos factores. Sazonalidade, ritmo


circadiano e desenvolvimento; temperatura; disponibilidade hídrica; radiação ultravioleta;
nutrientes; altitude; poluição atmosférica; indução por estímulos mecânicos ou ataque de
patógenos alteram a sua quantidade e, muitas vezes, até a natureza dos constituintes activos
presentes no tecido (GOBBO NETO; LOPES, 2007). Por isso, como e quando um vegetal é
colectado é um dos factores de maior importância para o estudo desses metabolitos, visto que,
variações podem coordenar ou alterar a produção desses compostos (FALKENBERG; SANTOS;
SIMÕES, 2000).

2.7.1. Flavonóides
Os Flavonóides constituem um grupo de pigmentos vegetais de ampla distribuição na natureza e
sua presença nos vegetais pode estar relacionada com funções de defesa e de atracção de
polinizadores (SIMÕES et al., 2010). Estes compostos apresentam uma estrutura química
difenilpropano (C6-C3-C6), que consiste de dois anéis aromáticos (A e B) unidos por um anel
heterocíclico oxigenado (C) (Figura 2). Substituições dos anéis A e B originam diferentes
compostos dentro de cada classe de flavonóides (HERTOG et al., 1993; PETERSON; DWYER,
1998; ANGELO; JORGE, 2007).
29

Figura 2: Estrutura Química de Flavonóides

Fonte: Simões et al., (2010)

Diversas funções são atribuídas aos flavonóides nas plantas. São importantes agentes de defesa
contra insectos e microrganismos fitopatológicos, como vírus, bactérias e fungos, actuando como
defensores naturais das plantas na forma de resposta química à invasão de patógenos
(ZUANAZZI, 2000; YAO-LAN et al., 2002), além de proteger os vegetais contra incidências de
raios ultravioletas e atrair animais com finalidade de polinização (SIMÕES et al., 2010).

2.7.2. Alcalóides
Os alcalóides são compostos orgânicos cíclicos que possuem pelo menos um átomo de
nitrogénio (N) em um estado de oxidação negativo e cuja distribuição é limitada entre os
organismos vivos. São compostos farmacologicamente activos e encontrados
predominantemente em angiospermas (HENRIQUES et al., 2002). Estes produtos naturais de
baixo peso molecular são derivados de aminoácidos aromáticos (triptofano, tirosina), os quais
são derivados do ácido chiquímico, e também de aminoácidos alifáticos como a ornitina e a
lisina (PERES, 2004), podendo ser classificados de acordo com o aminoácido precursor e sua
forma estrutural (DEWICK, 2002). Esses metabólitos são de grande interesse para os
pesquisadores, devido a heterogeneidade química do grupo, a distribuição restrita na natureza e
ao grande potencial bioactivo (ROBBERS et al., 1997).
30

Figura 3: Estrutura Química de alcalóides

Fonte: SIMÕES et. al., (2010)

2.7.3. Taninos
São compostos fenólicos, com aspecto adstringente que estão presentes em uma série de plantas
com a função de protegê-la contra os fungos e ou bactérias segundo ROBBERS, SPEEDIE e
TYLER (1997). Este aspecto adstringente, inclusive em tecidos vivos é sua principal aplicação
terapêutica. Essa capacidade é bastante apreciada no que tange plantas medicinais. Isso se deve à
retracção que causa no tecido que sofreu a injúria e a precipitação natural de proteínas cria uma
espécie de filme protector que favorece o processo de cicatrização (CETEC, 2007). Os taninos
são substâncias de bastante ocorrência no reino vegetal, pois se encontram taninos em quase
todas as famílias. Eles precipitam proteínas e são capazes de se complexar com elas (ROBBERS;
SPEEDIE; TYLER, 1997).

Figura4: Estrutura Química de Taninos

Fonte: SIMÕES et. al., (2010)


31

2.7.4. Saponinas
Saponinas são glicosídeos de esteróides ou de terpenos policíclicos. Esse tipo de estrutura, que
possui uma parte com características lipofílicas (triterpenos ou esteróide) e outra parte hidrófilica
(açúcares), determina a propriedade de redução da tensão superficial da água e suas acções
detergentes e emulsificante. (MELLO & SANTOS, 2001). As saponinas em solução aquosa
formam espuma persistente e abundante. Essa natividade provém, como nos outros detergentes,
do fato de apresentarem na sua estrutura, como já referido, uma parte lipofílicas, denominada
aglicona ou saponina e uma parte hidrófilica constituída por um ou mais açúcares. A espuma
formada é estável pela acção de ácidos minerais diluídos, diferenciando-a daquela dos sabões
comuns. Essa propriedade é a mais característica desse grupo de compostos, da qual deriva o seu
nome (do latim sapone = sabão).

Figura 5: Estrutura Química de Taninos

Fonte: SIMÕES et. al., (2010)


32

CAPÍTULO III: METODOLOGIA

3.1. Estudo Etnofarmacológico

3.1.1. Campo de Estudo

A pesquisa Etnofarmacológica foi realizada no distrito de Rapale, na Província de Nampula, em


Outubro de 2019

3.1.2. População e Amostra


Como população considerou-se todos os curandeiros usam as plantas medicinais para curar ou
prevenir doenças diarreicas no distrito de Rapale posto administrativo de Namaita. Destes foram
entrevistados 6 curandeiros mais conceituados do posto administrativo supracitado.

3.1.3. Tipo de estudo


Em meio às várias técnicas aplicáveis para levantamentos etnofarmacológicos, a técnica
adoptada para este trabalho consistiu em entrevistas abertas.

Realizou-se por meio de conversas informais, abordando qual o nome popular, nome científico,
actividade farmacológica, parte usada, formas de preparação dos remédios, dosagem e vias de
administração, duração do tratamento e efeitos colaterais.

O motivo do estudo se da por meio de uma conversa informal e não por aplicação de
questionários é justificado pela própria pesquisa científica que tem relatado a dificuldade de
obter informações de tais curandeiros, principalmente por medo da parte dos mesmos de
fornecerem informações que podem proibir ou dificultar esta prática, principalmente por falta de
parâmetros científicos.

3.1.4. Colecta das informações


A colecta dos dados se deu por meio de conversas informais com os curandeiros nas suas
próprias residência, ou seja, casa, ou estabelecimento de trabalho, no caso dos curandeiros que
que atendem os seus pacientes na sua própria residência. As plantas citadas foram seleccionadas
para um levantamento botânico por meio de um aplicativo encontrado no Play stor, cujo nome è
33

PlantNet, estabelecendo-se a comparação dos valores culturais de 6 dos curandeiros, com os


valores científicos das literaturas pesquisadas. Vede no apêndice 1.

3.2. Analise Fitoquímica

3.2.1. Material Vegetal


As folhas de P. barbatus foram colectadas no posto administrativo de Namaita. Trata-se de um
posto administrativo da província de Nampula (Moçambique), com sede na povoação de Rapale.
Tem limite, a norte com os distritos de Muecate e Mecubúri, a oeste com o distrito de Ribaué, a
sudoeste com o distrito de Murrupula, a sul com o distrito de Mogovolas e a leste com o distrito
de Meconta. Em 2007, o Censo indicou uma população de 203 733 residentes. Com uma área de
3650 km², a densidade populacional rondava os 55,82 habitantes por km2, em 2019.
A matéria foi seca nas temperaturas ambientes por 7 dias. A droga vegetal produzida foi
armazenada em um frasco fechados até sua utilização.

3.2.2.Preparação do extracto

A extracção foi feita por maceração em mistura hidroetanólica (70% EtOH), na proporção de 1g
de droga vegetal seca para 10mL do solvente extractor durante cinco dias a temperaturas
ambientes sob agitação diarreia. A mistura foi filtrada usando o algodão seco seguido de papel de
filtro. Para a determinação do resíduo seco, foi feita uma medição do extracto fluido (1mL) em
cadinhos de porcelana previamente tarados na balança analítica, e foram seguidamente colocadas
na estufa a 80˚C durante 1:30minutos, foi resfriado e pesado. Vede no apêndice 3.
A percentagem do resíduo seco foi determinada de acordo com a seguinte fórmula:

Massa do extrato seco


% Resíduo Seco =Massa do extrato fluido 100%

3.2.3. Secagem do extracto

O extracto foi seco em estufa com circulação ar a 80˚C. O extracto seco obtido foi conservado
em recipiente opaco com tampa, devidamente identificada e selada, protegido da luz e da
humidade, a temperaturas ambientes, para minimizar possíveis mudanças no material, como
aglomeração causada pela absorção de água e oxidação. Vede no apêndice 6.
34

3.2.4.Analise Fitoquímica Qualitativa


A análise fitoquímica qualitativa de princípios activos em extractos secos foi realizada por
reagentes específicos para cada grupo de metabólitos secundários:

a) Identificação de alcalóides
 Adicionou-se 1ml do extracto alcoólico em 1ml de solução de HCl à 5%, e adicionou-se
3 a 5 gotas do reactivo de bouchardat (solução de iodo). A presença de um precipitado
laranja avermelhado, indicava a presença de alcalóides
b) Identificação de flavonóides
 Adicionou-se 5ml do extracto hidroalcóolico num tubo de ensaio e em seguida adicionou-
se 1ml de NaOH à 5%. A coloração amarela da solução confirmava a existência de
flavonóides. (Viana, Santana e Moura, 2012)
 Adicionou-se 2mL de água destilada num tudo de ensaio contendo 0,5mL de extracto
etanóico em seguida adicionou-se pela parede do tubo de ensaio uma gota de cloreto
férrico a 20%. Nesta reacção, a presença de cor que varia entre verde, amarelo castanho e
violeta, indica a presença de flavonóides.
c) Identificação de taninos
 Adicionou-se num tubo de ensaio 1mLde extracto etanólico na proporção 1:2 em seguida
adicionou-se 2 gotas de cloreto de ferro III. Nesta reacção, a formação de um precipitado
castanho avermelhado e denso indicava a presença de taninos.
d) Identificação de saponinas
 Adicionou-se 2mL do extracto etanólico num tubo de ensaio, em seguida adicionou-se
5mL de água destilada, agitou-se vagarosamente por 2 a 3 minutos e deixou-se em
repouso por 20 minutos. A existência de espuma persistente e abundante indica a
presença de saponinas.

3.2.5.Análise Fitoquímica Quantitativa

3.2.5.1.Quantificação de flavonóides totais


a) Solução padrão

Preparou-se a solução estoque de padrão rutina (400 µg/ml) em metanol, que foi diluída em
etanol (70%) para 50, 75, 100, 125, 150, 175 e 200 µg/ml. Usou-se como reagente a solução
35

metanólica de cloreto de alumínio hexahidratado (2%). Aferiu-se o volume de todas as amostras


com a solução de etanol (70%). O branco foi composto pela solução de cloreto de alumínio e
etanol. As leituras foram realizadas no espectrofotómetros UV/VIS – KASUAKI (Leitor de
microplacas) a 415 nm após 20 min de reacção. Todas as análises foram realizadas em triplicata
e a curva padrão foi estabelecida com a média de dados de três gráficos nas concentrações
estabelecidas.
b) Solução extractiva

Preparou-se a solução do extracto (4g/ml) em etanol (70%), que foi diluída 1mL da solução do
extracto em 10mL de álcool por 4 vezes. Usou-se a solução de cloreto de ferro III como
reagente. O branco foi o etanol 70%. Após 20 min da reacção as leituras foram realizadas no
espectrofotómetro UV/VIS a 415 nm. A análise foi realizadas em triplicata.

3.2.5.2.Quantificação de taninos condensados


a) Solução padrão

Preparou-se a solução metanólica de catequina (1000 µg/ml), que foi diluída em metanol para
20, 30, 40, 50, 60 e 70 µg/ml. Usou-se a mistura de vanilina (4%) e ácido clorídrico (37%) como
reagente. Aferiu-se o volume de todas as amostras com o metanol. O branco foi composto pela
solução Vanilina/HCl e MeOH. As leituras foram realizadas no espectrofotómetro UV/VIS –
KASUAKI (Leitor de microplacas) a 500 nm após 20 min de reacção. Todas as análises foram
realizadas em triplicata e a curva padrão foi estabelecida com a média de dados de três gráficos
nas concentrações estabelecidas.
b) Solução extractiva

Preparou-se a solução do extracto (4g/ml) em etanol (70%), que foi diluída 1mL da solução do
extracto em 10mL de álcool por 4 vezes. Usou-se a solução de ácido clorídrico como reagente. O
branco foi o etanol 70%. Após 20 min da reacção as leituras foram realizadas no
espectrofotómetro UV/VIS a 500 nm. A análise foi realizadas em triplicata.

3.2.5.3. Quantificação de alcalóides


a) Solução padrão

Preparou-se a solução estoque de padrão Boldina (400 µg/ml) em metanol, que foi diluída em
36

etanol (70%) para 40, 80, 120, 160, 200, 240 e 280 µg/ml. Usou-se como reagente a solução
etanóica de cloreto de Ferro-III hexahidratado (2%). Aferiu-se o volume de todas as amostras
com a solução de etanol (70%). O branco foi composto pela solução de cloreto de alumínio e
etanol. As leituras foram realizadas no espectrofotómetro UV/VIS – KASUAKI (Leitor de
microplacas) a 366 nm após 20 min de reacção. Todas as análises foram realizadas em triplicata
e a curva padrão foi estabelecida com a média de dados de três gráficos nas concentrações
estabelecidas.

3.2.5.4. SOLUÇÃO EXTRACTIVA


Preparou-se a solução do extracto (4g/ml) em etanol (70%), que foi diluída 1mL da solução do
extracto em 10mL de álcool por 4 vezes. Não fez-se a mistura nesse caso foi analisado somente a
solução extractiva. O branco foi o etanol 70%. Após 20 min da reacção as leituras foram
realizadas no espectrofotómetro UV/VIS a 366 nm. A análise foi realizadas em triplicata.

3.3.Análise Antimicrobiana
a) Cultura de microrganismos
A cultura de microrganismos em estudo foi realizada no Laboratório de Microbiologia do
Hospital Central de Nampula, assim como a avaliação in vitro de hallos de inibição e
percentagem de letalidade. A estirpe Escherichia coli foi cultivada no meio agar MacConkey e
incubados durante 1 dia.
b)Teste de sensibilidade dos microrganismos ao extracto
Foi usada a técnica do disco difusão, para testar a sensibilidade dos microrganismos em estudos
frente ao extracto etanólicos (70%) das folhas de P. barbatus. As amostras do extracto (P. 200,
300, 400 e 500 mg/ml), foi inoculado num disco e introduzidos em placas que contendo os
microrganismos cultivados, durante 1 dia. Posteriormente, mediu-se os halos de inibição e
calculou-se a percentagem dos microorganismos mortos. A concentração inibitória mínima
(CIM) foi determinada através da menor concentração dos extractos que inibirá completamente o
crescimento bacteriano.
A viabilidade das bactérias foi avaliada com o corante azul de trépano, e a contagem que
permitiu o cálculo de percentagem de letalidade foi feita através do microscópio óptico. A
concentração inibitória mínima (CIM) foi determinada através da menor concentração que inibe
completamente o crescimento bacteriano.
37

CAPÍTULO VI: RESULTADOS E DISCUSSÃO


Neste capítulo, são apresentados e discutidos os dados obtidos durante a realização do trabalho.
Nele, os resultados estão em forma de textos e discutidos com base em certas obras devidamente
referenciadas.

4.1. Resultados do Estudo Etnofarmacológico


As plantas medicinais utilizadas como antidiarreicas no distrito de Rapale, posto administrativo
de Namaita- província de Nampula, são utilizadas em sua maioria por indicações feitas pelos
próprios curandeiros acerca de seus conhecimentos adquiridos ao longo do tempo e da
experiência.

Das plantas mencionadas, foram seleccionadas 10, sendo que a principal indicação ligada a
problema de diarreia, havendo ainda distinção entre o sintoma e a doença, sendo referenciado
como “bom para curar a dor de diarreia” e “bom para cura de doenças microbianas”.

No quadro abaixo, mostra-se 10 plantas, resultado do levantamento feito das plantas medicinais
com actividade de cura de diarreia mais indicadas pelos curandeiros de Rapale, enfatizando a
finalidade terapêutica, como o nome popular, nome científico, actividade farmacológica, parte
usada, formas de preparação dos remédios, dosagem e vias de administração, duração do
tratamento e efeitos colaterais (tabela 1).
38

Tabela 1: identificação das plantas usadas na comunidade

Nome popular Nome Actividade Parte Formas de Dosagem e Duração Efeitos Referenci
científico farmacológic usad preparaçã vias de do colaterai a
a a o do administraçã tratament s
remédio o o

Munamulukumulupal P. barbatus Antidiarréica Folha Maceração Metade de 24h Não tem C1


e (província de copo
Nampula) (catorzinha)-
ingestão

Elio (província de Aloe vera Antidiarréica Raiz Infusão Uma rolha 24h Não tem C1
Nampula) (rolha de
refrigerante
frozzy)-
ingestão

Muhenquere Moringa Antidiarréica Folha Maceração Metade de Depende Não tem C1


Oleifera copo das dores
(província de
(catorzinha) –
Nampula)
ingestão

Mucacana Momórdica Antidiarréica Raiz Infusão Depende da 24h Não tem C2


balsamina idade –
(província de
39

Nampula) ingestão

Impapaia Carica papaya Antidiarréica Folha Infusão Depende da 2 dias Não tem C2
idade-
(província de
ingestão
Nampula)

Evico Seneciolividus Antidiarréica Raiz Infusão Uma rolha 3 dias Não tem C3
L. (rolha de
(província de
refrigerante
Nampula)
frozzy)-
ingestão

Ecuca Corylusavelhan Antidiarréica Raiz Maceração Um copo 4 dias Não tem C3


aL (catorzinha) –
(província de
ingestão
Nampula)

Impera Pyruscommunis Antidiarréica Folha Infusão Um copo 3 dias Não tem C4


e (catorzinha) –
(província de
Raiz ingestão
Nampula)

Impuri Pisumsativum Antidiarréica Folha Infusão Um copo Não tem Não tem C5
(catorzinha) – tempo
(província de
ingestão determinad
Nampula)
40

Ecole Cocos malífera Antidiarréica Folha Infusão Um copo Não tem Não tem C6
(catorzinha) – tempo
(província de
ingestão determinad
Nampula)
o

Fonte: autor, 2020

Legenda:

C1- curandeiro 1;C2- curandeiro 2;C3- curandeiro 3;C4- curandeiro 4;C5- curandeiro 5;C6- curandeiro 6
41

4.2.Rendimento de extracção
Efectuaram – se extracções do material vegetal (folhas de P. barbatus) pelo método de
maceração, usando solventes como etanol a 70%. Empregaram-se tempos de 7 dias na extracção
por maceração, para conseguir o esgotamento do material vegetal.
No extracto preparado a partir das folhas de P. barbatus, verificou-se um rendimento percentual
de (2,495%) para o extracto etanólico obtido por maceração (vide Tabela 2).

Tabela 2. Rendimento do processo de extracção dos princípios activos.

Extractos Quantidade inicial (g) Quantidade final (g) Rendimento (%)


Etanólico – 1,19841 0,02991 2,495
Maceração
Fonte: (autor, 2020)

Para que haja o maior rendimento percentual de um extracto depende do método de extracção.
Fazendo comparação entre os métodos Soxhlet e o método de maceração a que referenciar que o
método de Soxhlet é contínuo, podendo o tempo de extracção variar de 1 a 72 horas e permite
extracção de compostos com maior peso molecular num curto período de tempo. Neste processo,
o solvente extrai o material orgânico retido na amostra (MIGUEL et al., 1989).
A maceração é mais lenta, exaustiva e além de requerer um tempo relativamente longo (2 a 14
dias de extracção) dependendo do material, não consegue extrair todos compostos presentes nas
plantas (MIGUEL et al., 1989).

4.3. Análise fitoquímica qualitativa


Os resultados dos ensaios de reconhecimento dos fitoconstituintes das folhas de P. barbatus
estão apresentados na Tabela 3.
42

Figura 6: identificação de metabólitos secundarias de extractos das folhas de P. barbatus


(folhas)
Fonte: Autor
Tabela3: Resultados de testes fitoquímicos de extractos das folhas de P. barbatus (folhas)
Classes de metabolitos Extracto Alcoólico
Alcalóides (+)
Flavonóides (-)
Taninos (+++)
Saponinas (+++)
Fonte: (Autor, 2020)
Legenda: (+++) - Teste positivo com maior concentração
(+)- Teste positivo com menor concentração
(-) - Teste negativo
Na análise qualitativa realizada com os extractos para identificação de fitoconstituintes detectou-
se os metabólitos secundários tais como: flavonóides, saponinas, taninos e alcalóides foram as
classes de compostos presentes em todo o extracto preparado. Estes resultados corroboram
parcialmente com os resultados obtidos por LUCIANE (2015) onde foram detectados compostos
tais como: ácidos gordos, aminoácidos, cumarinas, alcalóides, saponinas, triterpenos,
antraquinonas, flavonóides, taninos e alcalóides nas várias partes da planta V. polyanthesusada
param o tratamento da diarreia.

Os resultados obtidos vão ainda de acordo com os relatados por SOUSA et al., (2008) num
estudo feito para caracterização fitoquímica das partes aéreas de V. polyanthes onde foram
detectados; ácidos gordos, alcalóides, cumarinas, esteróides e/ou triterpenos, glicosídeos
antraquinónicos, glicosídeos flavónicos, glicosídeos saponínicos e taninos hidrolisáveis.
43

Uma triagem fitoquímica do extracto etanólico das folhas de V. polyanthesfeita por ALVES et al.
(2012) indicou a presença de flavonóides, taninos, cumarinas, terpenóides, esteróides, saponinas
e alcalóides. Neste estudo não foi detectada a presença de flavonóides em todos os extractos
preparados. Tal ausência pode ser atribuída à presença desta classe de substâncias, em pequenas
quantidades não detectáveis pelos métodos usados.

Segundo SOUSA et al. (2008) a presença de metabólitos secundários nas plantas está
relacionada com várias funções ecológicas, entre elas: defesa contra ataques de herbívoros e de
patógenos; atractivo (odor, cor e sabor) para animais polinizadores, microrganismos simbióticos,
função estrutural e protecção contra stresses bióticos (radiação solar, mudança de temperatura,
deficiência de nutrientes minerais) entre outras funções.

Com base nos resultados apresentados na tabela 6 comprovou-se que P. barbatus sintetiza
metabólitos secundários responsáveis pelas diversas acções biológicas, com maior ênfase para
cura da diarreia

4.4. Análise fitoquímica quantitativa

4.4.1. Análise quantitativa de alcalóides


Para a determinação das concentrações de alcalóides presentes nos extractos das folhas de P.
barbatus, foi construída uma curva de calibração com as concentrações conhecidas de boldina.
Os valores das concentrações e absorvância da curva de calibração estão apresentados na figura
7.
44

Figura 7:Curva de calibração construída de 40-240 g /ml a 366 nm

Fonte: (CUINICA et al,2018)

O coeficiente de determinação obtido na construção da curva de calibração foi R2 = 0,9993,


indicando que a curva pode ser utilizada para a determinação de alcalóides na amostra. Já a
equação de correlação foi Y =0,0137x + 0,1562
O valor das concentrações de alcalóides total, após a leitura no espectrofotometro do extracto
etanóico da amostra do extracto das folhas de P. barbatus, esta apresentada na tabela 3. Os
cálculos foram efectuados utilizando a equação resultante da curva de calibração com o padrão
boldina e os resultados foram expressos em/g equivalentes de boltina por mililitro (g/mL).

4.4.2. Análise quantitativa de flavonóides

Para determinar a concentração de flavonóides presentes nos extractos das folhas de P. barbatus,
foi feita uma curva de calibração com as concentrações conhecidas de rutina. Os valores das
concentrações e absorvências da curva de calibração estão apresentados na figura 8.
45

Figura 8: Curva de calibração construída de 50-175 g/ml a 415 nm

(Fonte: CUINICA et al, 2018)

O coeficiente de determinação obtido na construção da curva de calibração foi R2 = 0,9998,


indicando que a curva pode ser utilizada para a determinação de flavonóides na amostra. Já a
equação de correlação foi Y =0,0129x + 0,1781

Os valores das concentrações de flavonóides totais, após leitura no espectrofotómetro do extracto


etanóico da amostra dos extractos das folhas de P. barbatus, estão apresentados na tabela 3. Os
cálculos foram efectuados utilizando a equação resultante da curva de calibração com o padrão
rutina e os resultados foram expressos em/ g equivalentes de rutina por mililitro (g/mL).

4.4.3. Análise quantitativa de taninos

Para a determinação da concentração de taninos presentes nos extractos das folhas de P.


barbatus, foi construída uma curva de calibração com as concentrações conhecidas de catequina.
Os valores das concentrações e absorvências da curva de calibração estão apresentados na figura
9.
46

Figura 9: Curva de calibração construída de 30-180 g /ml a 500 nm

Fonte: (CUINICA et al, 2018)

O coeficiente de determinação obtido na construção da curva de calibração foi R2 = 0,9986,


indicando que a curva pode ser utilizada para a determinação de taninos na amostra. Já a equação
de correlação foi Y =0,0132x + 0,1924.

Os valores das concentrações de taninos totais, após a leitura espectrofotometria dos extractos
etanóico da amostra dos extractos das folhas de P. barbatus, estão apresentados na tabela 3. Os
cálculos foram efectuados utilizando a equação resultante da curva de calibração com o padrão
catequina e os resultados foram expressos em/g equivalentes de catequina por mililitro
(g/mL).
47

Tabela 4 - Valores de absorvências, diluição e concentração de alcalóides, flavonóides e tanino


(µg/ml) obtidos.

AMOSTRA Absorvências

Taninos Alcalóides Flavonóides


0,488 0,364 0,127
Amostra 1
0,483 0,366 0,123
Amostra 2
0,481 0,361 0,127
Amostra 3
0,483 0,364 0,127
Media
0,003 0,002 0,002
Dpa
0,610 0,565 1,485
%CV

Concentração total (µg/mL) 23,635 ± 0,003 15,167 ± 4,954 ± 0,002


0,002

Fonte: (Autor, 2020)

Tabela 5: Probabilidade de Significância


Composto Taninos Alcalóides Taninos Flavonóide Alcalóides Flavonóide
s s
Resultados
23,635 ± 15,167 ± 23,635 ± 4,954 ± 15,167 ± 4,954 ±
da análise
0,003 0,002 0,003 0,002 0,002 0,002
P – valor 0,42 0,03 0,0001

Fonte: (Autor, 2020)


Legenda: P valor – probabilidade de significância
48

As médias dos resultados obtidos nas respeitantes as concentrações de alcalóides, flavonóides e


taninos do extracto alcoólico das folhas de P. barbatus, foram: alcalóides 15,167 ± 0,002µg/mL;
flavonóides 4,954 ± 0,002µg/mL; taninos 23,635 ± 0,003µg/mL.

Não foram encontrados dados na literatura quanto ao teor de alcalóides, flavonóides e taninos
presentes nos extractos das folhas de P. barbatus. Os únicos dados encontrados na literatura
quanto ao teor de metabólitos secundários são de uma espécie do mesmo género V. polyanthes
que não se observou nada nos cromatogramas, tanto a UV 366 nm como com DRG a luz visível
(SANTIAGO, 2007).

Análise esta que pode servir de base para estudos futuros que busquem novas fontes naturais de
compostos com esta propriedade. Que não esta vetado ou merece de avaliação pelo mesmo
método ou por um outro método.

Após o processamento de dados estatísticos, a 95% de confiança, verificou-se que a


concentração de taninos foi significativamente maior em relação a concentração de flavonóides
(P= 0,03) e diferença não significativa em relação a concentração de alcalóides (P= 0,42), e por
sua vez, a concentração dos alcalóides foi significativamente maior em relação a concentração
dos flavonóides (P= 0,001)

4.5.Actividade antimicrobiana
O teste da actividade antimicrobiana realizado usando método de difusão em disco apresentou os
resultados apresentados nas tabelas 6.

Figura 10: análise Antimicrobiana


Fonte: (Autor, 2020)
49

4.5.1. Resultados de Análise Antimicrobiana de Extractos Etanóicos


Tabela 6: Resultado de Análise Microbiana, Valores da concentração, medias, desvio padrão, coeficiente de variação e probabilidade
de significância.

Concertação (mg/mL)

Extracto 100 200 200 300 300 400 400 500 500 Padrão (50
mg/mL)
Media 52,33 52,33 65 65 64,67 64,67 61
30,33 44,66 44,66

Dpa 3,055 3,055 3,000 3,000 1,528 1,528 2,14


2,5166 2,081 2,081

%CV 0,058 0,058 0,046 0,046 0,024 0,024 0,033


3,978 4,66 4,66
Conc.
30,33±2,52 44,66 ± 2,08 44,66 ± 2,08 52,33 ± 3,06 52,33 ± 3,06 65± 3,00 65± 3,00 64,67±1,53 64,67±1,53 61±2,14
(µg/mL)
P – valor 0,035 0,192 0,001 0,87 0,020

Fonte: (Autor, 2020)

Legenda: P valor – probabilidade de significância


50

Os resultados da actividade antimicrobiana dos extractos indicam actividade inibidora do


crescimento para E. coli. Estes resultados vão de certa maneira de acordo com os obtidos por
JORGETTO et al. (2011) num ensaio da acção antimicrobiana dum extracto hidra alcoólico em
15 microrganismos, onde foram obtidos halos de inibição para S. aureus, E. coli, B. cereus,
Streptococcus pyogenes, Salmonella typhimurium e Proteus mirabilis, enquanto foi observada
resistência de P. aeruginosa e de Candida sp.

Segundo a análise estatística de significância, verifica-se que houve diferença significativa do


efeito do extracto entre as amostras nas concentrações de 100 mg/mL e 200 mg/mL (P= 0,035),
entre as amostras 300 mg/mL e 400 mg/mL (P= 0,001) e, entre as amostras nas concentrações
400 mg/mL e 500 mg/mL não houve uma diferença significativa no efeito (P= 0,87). Verifica-se
que o efeito de extracto na concentração de 500 mg/mL de extracto foi significativamente maior
em relação ao efeito do padrão penicilina a 50 mg/mL (P= 0,2).

A actividade antimicrobiana é atribuída a produtos do metabolismo secundário das plantas, como


os terpenóides, saponinas, taninos e flavonóides que possivelmente lesionam as moléculas da
parede celular de bactérias e fungos. As saponinas alteram a permeabilidade das membranas
celulares dos microrganismos e causam a sua destruição (JORGETTO et al., 2011; ALONSO,
2008).

Este estudo revelou que os extractos das folhas de P. barbatus, apresentaram maior efeito
antibacteriano na bactéria (E. coli.), foi calculada as médias das triplicadas em cada concentração
para a determinação da concentração inibitória mínima (CIM) em todas as concentrações
testadas, onde foi encontrada a concentração mínima inibitória nas concentrações de 300 mg/mL
que foi de 52,33%. Sendo que nas concentrações de 400mg/mL de 65% e 500 mg/mL de
64,67%. A fraca actividade do extracto frente as concentrações de 100mg/mL a 200mg/mL pode
estar associada à composição da parede destas bactérias, a qual tem uma camada fina de
peptidoglicanas e possui também uma segunda membrana lipoprotéica com lipopolissacarìdeos
diferenciados dos presentes na membrana das bactérias E. coli. Possivelmente, essas
propriedades conferem a esse grupo de bactérias uma capacidade de limitar a sua permeabilidade
frente a substâncias estranhas exógenas, incluindo as substâncias contidas nos extractos das
folhas de P. barbatus, e desse modo, maior resistência ao efeito nocivo dos antibióticos
(ENOCH et al., 2007).
51

Ao contrário das bactérias E. coli, as bactérias Gram+ são mais sensíveis a vários antibióticos
sintéticos e extractos de plantas, visto que estes tipos de bactérias têm em sua parede, uma grossa
camada de peptideoglicanas que permitem uma boa permeabilidade e absorção dos antibióticos
pelas paredes das bactérias (ENOCH et al., 2007)

4. 6. Validação da hipótese da pesquisa


Tabela 7: Verificação das hipóteses

Hipótese Validação ou invalidação


As plantas usadas para o tratamento de Mediante aos resultados obtidos, essa
doenças antidiarreicas na província de hipótese é valida
Nampula contem (flavonóides, taninos,
saponinas, e alcalóides)

Fonte: (Autor, 2020)


52

CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

7.1.Conclusões
Conclui-se que as plantas usadas para a cura da diarreia no distrito de Rapale, posto
administrativo de Namaita são: P. barbatus, Aloe vera, Moringa Oleifera, Momórdica
balsamina, Carica papaya, Seneciolividus L., Corylusavelhana L, Pyruscommunis,
Pisumsativum, Cocos malífera, e que o extracto etanólico de uma das plantas (P. barbatus)
possui alguns princípios activos antibacteriano como: (taninos, saponinas, flavonóides e
alcalóides) e uma boa actividade antimicrobiana.
53

7.2.Recomendações
Dados os resultados bastante positivos e o potencial da P. barbatus, como agente terapêutico
alternativo para diversas enfermidades humanas e animais, recomenda-se a realização de estudos
adicionais para isolamento e caracterização dos fitoconstituintes da planta e determinação da
actividade farmacológica de cada classe de molécula ou de combinações de diversas moléculas,
contribuindo dessa forma para a preparação de novos fármacos.

Além do estudo mais aprofundado das actividades antimicrobianas, analgésica e antipirética de


P. barbatus, recomenda-se também que seja feito um estudo para aferir a actividade
antiparasitária dos extractos preparados a partir das várias partes da planta.

Recomenda-se ainda a realização dum estudo de toxicidade da planta, com vista a definir as
doses seguras para uso tanto em animais como nos seres humanos, particularmente para
tratamento de diarreia.
54

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Construindo a História dos Produtos Naturais.MultiCiência. Disponivel na internet via
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58

Apêndices
59

Apêndice 1.

Figura 11: colecta das informações etnofarmacologicas


Fonte: (Autor, 2020)

Apêndice 2.

Figura 12: trituração da droga vegetal


Fonte: (Autor, 2020)
60

Apêndice 3.

Figura 13: preparação da droga vegetal para a extracção


Fonte: (Autor, 2020)

Apêndice 4.

Figura 14: processo de extracção


Fonte: (Autor, 2020)
61

Apêndice 5.

Figura 15: filtração do extracto fluido


Fonte: (Autor, 2020)

Apêndice 6.

Figura 16: após a secagem do extracto fluido


Fonte: (Autor, 2020)
62

Apêndice7.

Figura 17: Remoção do extracto seco da bandeja


Fonte: (Autor, 2020)

Apêndice 8.

Monografia: Colecta de dados sobre plantas medicinais na comunidade de Namaita - Distrito de


Rapale – Nampula – 2019 a 2020

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