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1

UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

CURSO DE BIOLOGIA

Ribeiro José Duarte

Análise do Conhecimento e Aceitação dos Jovens em Relação


ao Uso de Plantas Medicinais: Estudo de Caso do Distrito de
Dondo, Posto Administrativo de Savane

Beira
2022
2

Ribeiro José Duarte

Análise do Conhecimento e Aceitação dos Jovens em Relação ao Uso de


Plantas Medicinais: Estudo de Caso do Distrito de Dondo, Posto
Administrativo de Savane

Monografia Apresentada ao Curso de Licenciatura em Ensino


de Biologia de Faculdade de Ciência e Tecnologia, Como
Requisito para Obtenção de Título de Licenciado em Ensino de
Biologia com Habilitações em Ensino de Química.

Orientadora: Prof. Doutora Marta Da Graça Zacarias Simbine

Beira
2022

Índice
DECLARAÇÃO.............................................................................................................................V

DEDICATÓRIA............................................................................................................................VI
3

AGRADECIMENTOS.................................................................................................................VII

RESUMO....................................................................................................................................VIII

ABSTRACT..................................................................................................................................IX

LISTA DE GRÁFICOS..................................................................................................................X

LISTA DE TABELA......................................................................................................................X

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS.........................................................XI

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.......................................................................................................1

1.1. Justificativa...........................................................................................................................2

1.2. Problematização....................................................................................................................3

1.3. Hipóteses...............................................................................................................................4

1.4. Objectivos.............................................................................................................................4

1.5. Variáveis...............................................................................................................................5

1.6. Metodologia..........................................................................................................................5

1.6.1. Método de abordagem.......................................................................................................5

1.6.2. Métodos de Procedimento.................................................................................................5

1.7. A técnica para a colecta de dados.........................................................................................7

1.7.3. Tratamento de dados.........................................................................................................7

1.7.4. Universo e amostra............................................................................................................7

1.8. Enquadramento da pesquisa.................................................................................................9

1.9. Relevância do tema...............................................................................................................9

1.10. Delimitação do estudo.....................................................................................................10

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................11

2.1. Conceitos básicos....................................................................................................................11

2.2. Historial das plantas medicinais.............................................................................................12

2.3. Uso popular de plantas medicinais.........................................................................................14


4

2.4. Uso racional de plantas medicinais.........................................................................................15

2.5. A importância das plantas medicinas na atenção primária à saúde........................................15

2.6. Formas de uso das plantas medicinais....................................................................................16

2.7. Principais formas de preparação de plantas medicinais.........................................................16

2.8. Uso e aceitação de plantas medicinais nas comunidades locais.............................................19

2.9. Uso de plantas medicinais e fitoterapia como elementos culturais........................................20

2.10. Uso das plantas medicinais e a biomedicina.........................................................................21

2.11. Influências e relações do saber popular sobre plantas medicinais com o conhecimento
científico........................................................................................................................................21

CAPÍTULO III: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS.................................................22

3.1. Informações demográficas dos jovens do posto administrativo de Savane........................22

3.1.1. Sexo.................................................................................................................................22

3.1.2. Idade................................................................................................................................22

3.1.3. Escolaridade ou nível acadêmico....................................................................................22

3.1.4. Profissão..........................................................................................................................23

3.2. Conhecimento dos jovens sobre plantas medicinais...........................................................23

3.2.1. Listagem das plantas medicinais conhecidas pelos jovens do Posto Administrativo de
Savane............................................................................................................................................23

3.3. Uso de plantas medicinais pelos jovens..............................................................................29

3.3.1. Frequência do uso das plantas medicinais......................................................................31

3.3.2. Formas de preparo das plantas medicinais......................................................................31

3.4. Motivação dos jovens em relação ao uso de plantas medicinas e sua eficácia no tratamento
de doenças......................................................................................................................................32

CAPÍTULO IV: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES..........................................................36

4.1. Conclusão...............................................................................................................................36

4.2. Recomendações......................................................................................................................37
5

4.3. Limitações da pesquisa...........................................................................................................38

5. Referências bibliográficas......................................................................................................39

Apêndices.....................................................................................................................................XII

Apêndice I: Guião de entrevista dirigido aos jovens do Posto Administrativo de Savane.........XIII

Apêndice II: Cronograma de actividades.....................................................................................XV

Apêndice III: Orçamento............................................................................................................XVI

Apêndice IV: Imagens das plantas medicinais conhecidas pelos jovens...................................XVI

Anexos........................................................................................................................................XIX
V

DECLARAÇÃO
Declaro por minha honra que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações da minha supervisora, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro também que o mesmo trabalho nunca foi apresentado em nenhuma outra instituição para
a obtenção de qualquer grau académico.

Beira, Maio de 2022

O Candidato
_______________________________________________________
(Ribeiro José Duarte)
VI

DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho, aos meus pais José Duarte Sancha e Antónia Luís Manuel pelo apoio,
conselhos e por ser o meu porto seguro que sempre serviu da minha fonte de inspiração. Dedico
de igual modo, aos meus irmãos: Luís Duarte, Duarte Duarte, Lúcia Duarte, Amélia Duarte,
Domingas Duarte e Maida Duarte, que apesar das nossas diferenças nas idades, sempre
souberam ser irmãos que me apoiaram emocionalmente para a concretização dos meus estudos
universitários.

Dedico também de igual modo, aos meus docentes universitários, que de forma incansável
proporcionaram-me muitos conhecimentos, que irei usar para toda vida. A todos que eu não
tenha feito referência, que em algum momento directamente ou indirectamente me apoiaram
durante os meus estudos, vai também a minha singela dedicatória.
VII

AGRADECIMENTOS
Gostaria primeiramente fazer um agradecimento divino à Deus todo-poderoso, pelo fôlego da
vida. De forma singela agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram
para a concretização desta pesquisa, principalmente aos jovens do posto administrativo de
Savane, pela colaboração e participação activa no momento de levantamento dos dados, que
serviram como pilar na concretização desta pesquisa, pois sem auxílio deles, eu não seria capaz
de realizar a pesquisa.

Agradeço à minha supervisora e orientadora, professora Doutora Marta da Graça Zacarias


Simbine, por me acompanhar durante todo o percurso da realização deste trabalho, pela sua
disponibilidade, exigência, compromisso, entrega e constante motivação.

Aos meus colegas da pesquisa em particular, José Djemo que está fazendo a pesquisa similar no
distrito de Caia e Jacinta Lipapa que também está fazendo o estudo similar em Marromeu, pois
eles contribuíram na análise crítica deste trabalho, vai o meu agradecimento. E ultimamente
gostaria prestar um profundo agradecimento ao meu docente de Inglês de nome João
Sacramento, pelo auxílio na correção e tradução de abstract.
VIII

RESUMO
DUARTE, Ribeiro José (2022). Análise do conhecimento e aceitação dos Jovens em relação ao uso de plantas
medicinais: Estudo de Caso do Distrito de Dondo, Posto Administrativo de Savane. Universidade Licungo.
Faculdade de ciência e tecnologia. Extensão da Beira. Moçambique.

A presente monografia tem como objectivo geral: Analisar o conhecimento e aceitação dos jovens em relação ao
uso de plantas medicinais no posto administrativo de Savane. Durante o trabalho de campo, usou-se a entrevista e
observação que constituíram as principais técnicas utilizadas para a recolha de dados. De modo que o estudo
pudesse ser concebido com maior compreensão e precisão na busca dos resultados, usou-se a pesquisa de campo e o
método dedutivo, enquanto que, para familiarizar-se com o fenómeno investigado usou-se também o método de
pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, método hipotético – dedutivo, método etnográfico e método crítico -
reflexivo. Durante a colecta de dados, entrevistou-se quarenta e oito (48) jovens, e com ajuda deles, fez-se a
observação através da qual capturou-se algumas imagens das plantas medicinais lá existentes, para usá-las como
evidências da pesquisa. Após a realização do trabalho de campo, todas as informações colhidas na observação,
entrevistas, livros e documentos foram tratadas através da análise dos dados. Quanto ao nível de conhecimento e
aceitação dos jovens em relação ao uso de plantas medicinais, eles possuem maior ou elevado nível. Para o uso de
plantas no tratamento de doenças, os jovens são mais motivados pelos mais velhos e eles quando usam plantas
medicinais no tratamento de doenças tem obtido resultados positivos ou conseguem tratar com eficiência a
enfermidade que o paciente padece e a Moringa (Moringa oleífera), constitui a planta mais utilizada pelos jovens do
posto administrativo de Savane no tratamento de doenças.

Palavras – Chave: Plantas. Medicina. Jovens. Fitoterapia. Etnobotânica.


IX

ABSTRACT
DUARTE, Ribeiro José (2022). Analysis of knowledge and acceptance of young people in relation to the use of
medicinal plants: Case Study of the District of Dondo, Administrative Post of Savane. Licungo University. Faculty
of Science and Technology. Beira Extension. Mozambique.

The present monograph has the general objective: To analyze the knowledge and acceptance of young people in
relation to the use of medicinal plants in the administrative post of Savane. During the fieldwork, interviews and
observation were used, which constituted the main techniques used for data collection. So that the study could be
conceived with greater understanding and precision in the search for results, field research and the deductive
method were used, while, to familiarize oneself with the investigated phenomenon, the bibliographic research
method, documentary research, hypothetical-deductive method, ethnographic method and critical-reflective method
was also used. During data collection, forty-eight (48) young people were interviewed, and with their help,
observation was made through which some images of the medicinal plants existing there were captured, to use them
as evidence for the research. After carrying out the field work, all the information collected in the observation,
interviews, books and documents were treated through data analysis. As for the level of knowledge and acceptance
of young people in relation to the use of medicinal plants, they have a higher or higher level. For the use of plants in
the treatment of diseases, young people are more motivated by the elderly and when they use medicinal plants in the
treatment of diseases, they have obtained positive results or are able to efficiently treat the disease that the patient
suffers and Moringa (Moringa oleifera), is the plant most used by young people from the administrative post of
Savane in the treatment of diseases.
Key - Words: Plants. Medicine. Young. Phytotherapy. Ethnobotany

LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Local que os jovens adquirem as plantas medicinais 27

Gráfico 2: Origem do conhecimento do uso de plantas medicinais 28


X

Gráfico 3: Pessoas que motivam os jovens a usarem plantas medicinais 32

Gráfico 4: Motivos que levam os jovens a usar plantas medicinais 33

Gráfico 5: Eficácia das plantas medicinais usadas pelos jovens no tratamento de doenças...........
34

LISTA DE TABELA
Tabela 1: Representação tabular da relação entre a família, nome científico e vulgar, parte usada
e o efeito do uso das plantas medicinais 24

Tabela 2: Relação dos nomes vulgais e científicos, frequência do uso e as formas de preparo das
plantas medicinais 30

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS


% Percentagem
XI

/ Ou

a.C Antes de cristo

CIDE Centro de Investigação e Desenvolvimento em Etonobotânica


D.C. Depois de Cristo

Et all E outros

IMT Instituto de Medicina tradicional


INE Instituto Nacional de Estatística

Km Quilômetros

MCTESTP Ministério da Ciência, Tecnologia Ensino Superior e Técnico -


Profissional
MISAU Ministério da saúde

MJD Ministério da Juventude e Desporto

mL Mililitros

Nº Número

OMS Organização Mundial da Saúde

s/d Sem data

SNE Sistema nacional da educação

TV Televisão

UL Universidade Licungo
1

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
A história do uso de plantas medicinais tem mostrado que fazem parte da evolução humana e
foram os primeiros recursos terapêuticos 1utilizados pelos povos. As antigas civilizações têm
referências históricas acerca das plantas medicinais, e muito antes de aparecer qualquer forma
escrita, o homem já utilizava as plantas, algumas como alimento e outras como remédios. As
plantas medicinais representam factor de grande importância para a manutenção das condições
de saúde das pessoas, esse conhecimento empírico transmitido de geração a geração foi de
fundamental importância para que o homem pudesse compreender e utilizar as plantas
medicinais como recurso terapêutico na cura de doenças que o afligiam 2(TESKE e TRENTINE,
2001 cotado por ARMOUS et all, 2005).

Os egípcios incluíam as plantas na alimentação, no preparo de remédios e também preparavam


produtos para serem aplicados como cosméticos, além disso, embalsamavam seus mortos com
produtos elaborados à base de plantas medicinais. Os povos indígenas diante de tanta diversidade
vegetal faziam uso de algumas plantas tanto para sua alimentação como para tratamento de suas
enfermidades desde a época da descoberta. Além da comprovação da acção terapêutica de várias
plantas utilizadas popularmente, a fitoterapia que constitui hoje, ramo da medicina tradicional
que utiliza plantas para a prevenção e tratamento de doenças, representa parte importante da
cultura do povo sendo também parte de um saber utilizado e difundido pelas populações ao
longo de várias gerações.

O presente trabalho de pesquisa científica, intitulado: Análise do conhecimento e aceitação dos


Jovens em relação ao uso de plantas medicinais: Estudo de Caso do Distrito de Dondo, Posto
Administrativo de Savane, está estruturado em quatro (4) capítulos, dos quais o primeiro
formaliza as teorias básicas introdutórias, seguido do segundo que faz menção da fundamentação
teórica, caracterizado por conceitos básicos sobre o tema estudado, em diante apresenta-se o
terceiro capítulo referente a análise, interpretação e discussão dos resultados e finalmente o
quarto capítulo referente a conclusões e recomendações.

1.1. Justificativa
1
Recursos terapêuticos – são actividades, obejctos, técnicas e métodos utilizados com o objetivo de auxiliar ao
paciente a prevenção ou tratamento de alguma doença.
2
Afligiam – causar ou sentir aflição.
2

Durante o trabalho de campo realizado no posto administrativo de Savane, foi possível notar a
crença popular que leva eles a acreditar que com a utilização de plantas para tratar doenças
obtêm-se resultados satisfatórios, mas, é do nosso conhecimento que ao pouco tempo a medicina
tradicional foi sendo substituída pelo uso dos remédios industrializados, que atraíam as pessoas
com a promessa de cura rápida e total. Actualmente, neste posto administrativo, este panorama
começa a ser modificado. Porque, mesmo que os medicamentos sintécticos 3ainda representem a
maioria dos medicamentos utilizados pela população a nível nacional, a medicina tradicional,
juntamente com a fitoterápia também têm conseguido espaço, no posto administrativo de Savane,
pela sua maior utilização.
A escolha deste tema para pesquisa surgiu quando o autor passeava no distrito de Dondo, que
constitui a sua residência, então quando chegou no posto administrativo de Savane foi possível
notar algumas peculiaridades 4
e práticas, pois, os jovens que apresentavam algumas
enfermidades 5recorriam ao tratamento usando plantas medicinais. Além disso, os jovens nas
suas conversas apresentavam muitas concepções, opiniões e conhecimentos sobre técnicas
diferentes, que eram incorporadas nos seus quotidianos para o tratamento de doenças na base de
plantas medicinais.
Então, perante as observações feitas e experiências vivenciadas pelo autor naquele posto
administrativo, manifestou-se então, a necessidade de compreender o conhecimento que os
jovens têm sobre o uso de plantas medicinais no tratamento de diversas doenças, e a posição dos
jovens em relação a aceitação dessa modalidade de tratamento tendo em conta que, há
possibilidades dos jovens possuírem outras opções de tratamento de doenças, como o uso de
medicamentos sintécticos.
O motivo da escolha dos jovens para a pesquisa partiu na hipótese de que os autores que
pesquisam o uso popular de plantas medicinais frequentemente apontam a forte relação com a
baixa renda dos usuários, assim como a concentração do conhecimento na faixa etária acima dos
cinquenta (50) anos. Então, como este conhecimento é mais concentrado nos maiores dos
cinquenta (50) anos, o autor tem intuito de cultivar o conhecimento que os jovens têm em relação
ao uso de planta medicinais e o seu nível de aceitação para o uso desta modalidade de

3
Medicamentos sintécticos – são medicamentos produzidos por meio da manipulação química de substancias em
laboratório.
4
Peculiaridades – características próprias.
5
Enfermidades – doenças.
3

tratamento, com isso, irá se compreender também como este conhecimento está sendo repassado
hoje em dia.
1.2. Problematização

De acordo com a OMS (2002), cerca de 80% da população africana usa a medicina tradicional
para suprir 6as suas necessidades de saúde. A medicina tradicional continua a ser o sistema de
cuidados de saúde mais acessível, principalmente nas áreas rurais onde a cobertura dos sistemas
nacionais de saúde é escassa, deficiente ou praticamente inexistente.
Pelas propriedades farmacológicas 7que as plantas medicinais apresentam e pelas suas séries de
benefícios para a saúde dos seres humanos, elas são utilizadas para suprir as necessidades básicas
da saúde pelos jovens do posto administrativo de Savane. Algumas utilizações são feitas em
consequência da deficiência de informações para o manejo e uso adequado, por falta de
comprovação científica para o uso e acaba oferetando um problema para a Saúde Pública, até
porque normalmente em algumas preparações das plantas feitas pelos jovens do posto
administrativo de Savane, para cura de várias doenças mistura-se diversas plantas medicinais ou
partes delas, por exemplo, para cura da febre a tosse misturam as folhas de eucalipto, goiabeira e
cacana, causando deste modo interacções dos seus constituintes ou componentes químicos,
consequentemente, o seu uso inadequado pode provocar efeitos indesejáveis que podem causar a
morte do consumidor por intoxicação.
Neste contexto, Resende (sd) afirma que a crença popular de que as plantas por serem naturais
não fazem mal está incorreta. Por isso, todos os medicamentos, inclusive os naturais têm que ser
usados com muita prudência, evitando que se coloque em risco a saúde dos seres humanos.
Entretanto, se uma planta medicinal não for utilizada corretamente, poderá comprometer
seriamente a saúde do corpo e causar vários problemas ao organismo humano; dentre eles
podemos citar as reações alérgicas e os efeitos tóxicos em vários órgãos do corpo humano e até
mesmo a morte. O uso adequado das plantas medicinais ajuda no combate e cura de várias
doenças.
Outro problema para alta aderência da medicina tradicional no tratamento de doenças seria o alto
custo dos medicamentos, tornando estes produtos inacessíveis para a população dos países do
terceiro mundo OMS (2002).

6
Suprir – Atender.
7
Propriedades farmacológicas – abrange efeitos desejáveis que podem ser usados no tratamento de doenças.
4

Em comparação com crianças, os jovens já possuem um conhecimento básico sobre o uso das
plantas medicinais, alguns por serem coagidos desde criança, outros por aprenderem a usar na
fase adulta por vias de internet ou aprendizagem adquirida nas suas comunidades, fazendo surgir
várias técnicas e métodos de preparo e uso de plantas medicinais. Considerando que, cada planta
tem suas formas específicas de utilização, o conhecimento acerca do seu uso vai mitigar o seu
uso inadequado que pode provocar efeitos indesejáveis à saúde dos pacientes.

Diante das constatações acima descritas levanta-se a seguinte questão de pesquisa:

 Qual é o conhecimento e aceitação dos jovens em relação ao uso de plantas medicinais


no posto administrativo de Savane?
1.3. Hipóteses
1.3.1. Hipótese primária
 É provável que haja menor nível de conhecimento e aceitação dos jovens em relação ao
uso de plantas medicinais.
1.3.2. Hipóteses secundárias
 É provável que os jovens sejam motivados pelos mais velhos para o uso de plantas no
tratamento de doenças.
 Talvez o uso de plantas medicinais pelos jovens seja eficiente para o tratamento de
doenças.
1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo geral
 Analisar o conhecimento e aceitação dos jovens em relação ao uso de plantas medicinais
no posto administrativo de Savane.
1.4.2. Objectivos específicos
 Listar as plantas medicinais mencionadas pelos jovens do posto administrativo de
Savane;
 Identificar o conhecimento que os jovens têm em relação ao uso medicinal das plantas
listadas;
 Identificar as plantas medicinais utilizadas pelos jovens no tratamento de doenças;
 Descrever as motivações que levam os jovens a usar plantas medicinais e
5

 Avaliar a percepção dos jovens sobre a eficácia das plantas medicinais usadas no
tratamento de doenças.

1.5. Variáveis
As variáveis podem ser de estudo e variáveis de atributo.

1.5.1. As variáveis de estudo são:


 Enfermidades ou doenças;
 Plantas medicinais;
 Nível de conhecimento e aceitação e
 Jovens.
1.5.2. As variáveis de atributo são:
 Sexo;
 Idade;
 Profissão e
 Nível académico.

1.6. Metodologia

Partindo do pressuposto de que o método representa a maneira de conduzir o pensamento ou


acções para alcançar um certo objectivo, neste trabalho foi aplicado um método de abordagem
(dedutivo) e alguns métodos de procedimento, segundo a sua pertinência com vista a disciplinar
o pensamento para se obter maior eficiência dos aspectos pesquisados.

1.6.1. Método de abordagem


1.6.1.1. Método dedutivo

Com este método, analisou-se o tema em questão partindo de contextos mais generalizados,
fazendo uma análise regressiva da problemática do uso de plantas medicinais, passando para
casos mais particulares até chegar ao objecto de estudo da pesquisa, jovens do posto
administrativo de Savane.

1.6.2. Métodos de Procedimento

1.6.2.1. Método bibliográfico


6

Com o uso deste método, o autor encontrou subsídios teóricos e científicos que auxiliaram no
entendimento sobre o tema, num panorama mais abrangente bem como na busca de fundamentos
teóricos para discutir cientificamente os resultados da pesquisa. A luz de estudo similar, feitas
com auxilio deste método o autor buscou subsídios teóricos para analisar os dados colhidos no
campo. Para a materialização deste método, foram usados como fonte de busca: artigos
científicos, livros, revistas e monografia já defendida.

1.6.2.2. Pesquisa Documental


Com base neste método, analisou-se informações recolhidas no campo e os dados existentes em
alguns documentos, como o ficheiro do censo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística no
ano 2017. Este documento oficial ajudou no tratamento analítico dos dados obtidos no campo, e
tinha como a finalidade de conciliar a teoria e a prática.

1.6.2.3. Método Hipotético-dedutivo


Mediante este método elaborou-se previamente algumas hipóteses que posteriormente foram
sendo testadas, pelos dados obtidos no campo, como forma de assegurar a sua consistência ou
validade na explicação da problemática da pesquisa.
1.6.2.4. Método etnográfico
O método da etnografia foi utilizado para compreender os aspectos sociais e culturais dos
fenômenos relacionados a um grupo social específico, baseado em pesquisa de dados coletados
pelo pesquisador no campo, que advêm da interação direta e contínua do pesquisador com o
objeto de estudo, os jovens do posto administrativo de Savane.
1.6.2.5. Pesquisa de Campo
A aplicação deste método na pesquisa, permitiu o autor a colectar dados no local de estudo.
Inicialmente realizou-se visitas à população do posto administrativo de Savane, com a finalidade
de criar uma aproximação com eles e de modo que o chefe do posto administrativo possa
fornecer a estruturação ou organização do local de estudo. Além disso, procurou-se cultivar um
espírito de identificar aqueles jovens que tinham interesse em participar voluntariamente no
estudo.

1.6.2.6. Método crítico-reflexivo


7

O autor empregou este método na argumentação dos aspectos discutidos, como afirma Barros
(1999), “uma pesquisa veicula também o cunho pessoal do pesquisador como sujeito activo e
integrante da mesma”. É a partir deste método onde se distinguiu a criatividade e sugestões, bem
como a crítica e reflexão de alguns aspectos inerentes às realidades encaradas pela autora no
local de estudo, fazendo-se a confrontação com o material teórico consultado para a pesquisa.

1.7. A técnica para a colecta de dados


1.7.1. Entrevista
Esta técnica foi utilizada para entrevistar diversos jovens do posto administrativo de Savane, ela
constitui a principal técnica utilizada para colecta de dados no campo. Na entrevista, os jovens
foram solicitados a expor os comprovativos de dados referentes ao nome popular da planta, a
parte utilizada, forma de preparo, finalidade terapêutica para tratamento de cada doença e a
eficácia das plantas no tratamento das doenças.

A intenção desta técnica foi identificar opiniões e situações vivenciadas por jovens no uso de
plantas medicinais, e a participação dos entrevistados nessa pesquisa foi condicionada à
aceitação dos mesmos, neste caso, usou-se uma amostra de quarenta e oito (48) jovens e colheu-
se deles informações para testar hipóteses, atingir objetivos de âmbito geral e particulares,
relacionados ao tema em estudo.

1.7.2. Observação directa


O objetivo da utilização desta técnica é confirmar as plantas mencionadas pelos jovens e
observar algumas práticas feitas no momento do uso de plantas medicinais e posteriormente
fotografar plantas para servirem de evidências da realidade encontrada no campo e elas farão um
acompanhamento dos resultados.

1.7.3. Tratamento de dados

Para tratamento de dados, o autor auxiliou-se de vários programas que permitem a compilação de
dados, gráficos, tabelas etc. Usou-se o programa Microsoft Word para a compilação de dados
assim como as representações tabulares. Após a recolha das informações no campo usou-se o
programa Microsoft Excel para representações gráficas dos dados obtidos.

1.7.4. Universo e amostra


8

Segundo INE (2007), o posto administrativo de Savane possui uma população de 19.267
habitantes. Distribuída por duas (02) localidades e trinta (30) bairros, a localidade de Savane -
sede com 23 Bairros e a localidade de Chinamaconde com 07 Bairros. Sendo a localidade de
Savane – Sede o mais populoso, com 13208 habitantes dos quais 6564 mulheres e 6644 homens.
E o menos populoso é a localidade de Chinamaconde com 6059 habitantes. Desta feita, a
amostra foi apenas de quarenta e oito (48) jovens, sendo vinte e quatro (24) do sexo masculino e
outros vinte e quatro (24) do sexo feminino. Neste contexto, a entrevista foi feita apenas em seis
(6) bairros que são: Oito (08) jovens de Savane - sede, oito (08) jovens de Nhamacharteira, oito
(08) jovens de Nhapwuepwa, oito (08) do bairro de Reassentamento, Oito (08) de Nhavingo, e
ultimamente oito (08) jovens de Milha 12.

1.7.4.1. Escolha da amostra para pesquisa

Tendo em conta com a natureza do universo e as características das variáveis de pesquisa, o tipo de
amostragem que será utilizada é a Amostragem estratificada.

1.7.4.1.1. Amostragem estratificada

Considerando o posto administrativo de Savane envolvido no estudo, com duas localidades que
são: Savane – sede com vinte e três (23) bairros e Chinamaconde com sete (07) bairros e somando
um total de trinta (30) bairros.

Neste caso, mediante esta amostragem escolheu-se seis bairros (06) para a realização das
entrevistas que são: Savane - sede, Nhamacharteira, Nhapwuepwa, Bairro de Reassentamento,
Nhavingo e Milha 12. O autor deduziu que para cada estrato (bairro), deveria trabalhar com oito
jovens, sendo quatro (04) do sexo feminino e quatro (04) do sexo masculino, os jovens foram
escolhidos através de uma amostragem aleatória simples.

1.7.4.1.2. Critério de inclusão e exclusão


Para participar na pesquisa, os jovens foram solicitados a apresentarem as seguintes
características:
 Ter idade de jovens, segundo a política da juventude em Moçambique, que define como
jovem um indivíduo no grupo etário dos 15 aos 35 anos (MINISTÉRIO DA JUVENTUDE
E DESPORTO, 2012).
9

 Serem residentes nativos ou ter no mínimo 5 anos de vivência no posto administrativo de


Savane;

1.8. Enquadramento da pesquisa


A presente pesquisa enquadra-se nas seguintes cadeiras leccionadas na UL, curso de Licenciatura
em ensino de Biologia:
 Botânica Sistemática: Nos conteúdos relacionados com a sistemática e classificação dos
seres vivos do reino plantae.
 Botânica geral: Quando se aborda sobre as partes constituintes de uma planta.
 Ecologia geral e humana: No que concerne a uso sustentável dos recursos naturais
(plantas) e
 Educação ambiental e saúde pública: No que diz respeito a promoção de saúde e
cuidados primários da saúde.
Enquadra – se também no SNE, nas seguintes áreas:
 No programa de ensino de Biologia 9ª classe, na 1ª Unidade Temática que aborda sobre
a introdução ao estudo das plantas, nos conteúdos relacionados a importância das plantas.
 No programa de ensino de Biologia 11ª classe, na 2ª Unidade Temática que aborda
sobre estudo e classificação dos seres vivos, concretamente nos conteúdos sobre reino
plantae.
O enquadramento é extensivo no MISAU concretamente no IMT, que tem como objectivo de
adoptar os praticantes de medicina tradicional de conhecimento sobre cuidados de saúde,
sobretudo no âmbito dos cuidados primários de saúde. Espelhando-se no MCTESTP, na área de
CIDE, que tem como missão realizar estudos de investigação etnobotânico que promove o
aproveitamento, recuperação, preservação e valorização de conhecimento tradicional sobre
plantas com potencial medicinal, nutricional, aromática e ornamental.

1.9. Relevância do tema


1.9.1. Científica

Este trabalho é relevante cientificamente por constituir um acervo bibliográfico que poderá ser
usado como uma fonte de aquisição de conhecimentos em relação a plantas medicinais, por sua
10

vez permitirá trazer dados e reflexões em torno do aproveitamento, recuperação, preservação e


valorização do conhecimento popular sobre plantas com potencial medicinal em comunidades
locais, como o caso do posto administrativo de Savane.

1.9.2. Social
O tema é relevante socialmente a partir do momento que garante a valorização do conhecimento
popular, divulgado a nível informal pelos usuários de plantas medicinais e passados
tradicionalmente de geração em geração.

1.10. Delimitação do estudo


1.10.1. Espacial
A pesquisa foi efectuada no posto administrativo de Savane que está situado a trinta (30) Km da
cidade do Dondo, e sessenta (60) Km da cidade da Beira.

Savane é um posto administrativo do distrito de Dondo. Este posto administrativo, faz fronteira
ao norte com o distrito de Muanza e Gorongosa, ao sul com a cidade de Dondo, ao oeste com o
posto administrativo de Mafambisse e ao este com o posto administrativo de Nhangau.

1.10.2. Temporal

A presente pesquisa que tem como o tema análise do conhecimento e aceitação dos jovens em
relação ao uso de plantas medicinais: estudo de caso do distrito de Dondo, posto administrativo
de Savane, vai ter uma duração de oito (08) meses, neste caso, teve início no mês de Outubro de
2021 e terminou no mês de Maio de 2022.
11

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


2.1. Conceitos básicos
2.1.1. Conceitos de plantas medicinais
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), planta medicinal é todo e qualquer vegetal que
possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou
que sejam precursores de fármacos semissintéticos. As ações terapêuticas realizadas pelas
plantas medicinais devem-se aos princípios activos presentes nas diferentes partes da planta
(sementes, raízes, flores, frutos e folhas), sendo eles os responsáveis pela resposta fisiológica em
organismos vivos (OMS, 1998).
Atualmente os princípios activos8 de origem vegetal têm sido foco de vários estudos químicos e
farmacológicos que visam elucidar dúvidas em relação a utilização de plantas medicinais como
medida terapêutica. Esses estudos afirmam que a partir observação, descrição e experimentação é
possível relacionar espécies medicinais à suas respectivas actividades biológicas (DA ROCHA,
2021).
2.1.2. Conceito de Fitoterapia
A fitoterapia é definida como processo de obtenção de medicamentos obtidos empregando-se
exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e
dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Sua
eficácia e segurança é validada através de levantamentos etnofarmacológicos 9de utilização,
documentações tecnocientíficas em publicações ou ensaios clínicos. Não se considera
10

medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias activas isoladas, de
qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais (ANVISA, 2004).
A fitoterapia é a utilização dos insumos terapêuticos com as características citadas acima. Sendo
assim, o uso de chás, xaropes, pomadas, cataplasmas, entre outros remédios caseiros, de acordo

8
Princípios activos – são substâncias que exercem o efeito farmacológico.
9
Etnofarmacológicos – provem de etnofarmacologia, que significa a exploração cientifica interdisciplinar dos
agentes biologicamente activos, tradicionalmente empregados ou observados pelo Homem.
10
Tecnocientíficas – é a interdisciplinaridade do estudo de ciências e tecnologias, no contexto social significa
tecnologia da ciência.
12

com a conceituação de fitoterapia, e a designação da fitoterapia popular seria mais adequada para
expressar a utilização desses remédios originados de plantas.

2.1.3. Conceito de etnobotânica

A etnobotânica é uma disciplina científica que não tem sido sistematizada e formalizada como
outras ciências já estabelecidas. Apesar de sua teoria ser recente, a prática da etnobotânica é
antiga, pois diferentes estudos demonstram que sua história remonta às relações entre os seres
humanos e as plantas (VIEIRA, 2019).
A etnobotânica, para (Santos 2017), foi referida pela primeira vez pelo botânico taxonomista
John w. Harshberger, que, em 1896, definiu-a como o estudo da inter-relação existente entre os
povos nativos e as plantas, bem como a sua utilização por esses povos. Em 1930, seguindo a
mesma direcção, deu-se início a Etnohistória, criada por Fritz Rock e o seu grupo de estudo,
definindo-a como o estudo etnográfico das culturas e dos costumes nativos de grupos culturais
diversos. Posteriormente, diversas outras entraram nas etnociências, como Etnozoologia,
Etnoagricultura, Etnofarmacia e outras.
Desde então, várias definições podem ser encontradas para Etnobotânica. Dentre as mais
recentes destacam-se (MACIEL et al, 2002 citado por VIEIRA, 2019):
a) “Disciplina que se ocupa do estudo e conceituações desenvolvidas por qualquer
sociedade a respeito do mundo vegetal” - engloba a maneira como um grupo social
classifica as plantas e a utilidade que dá a elas;
b) “Verdadeira botânica científica voltada para o hábitat e uso de uma etnia específica” -
sendo realizada por alguém treinado em botânica científica, que efetuaria
correspondências entre a classificação científica ocidental e local;
c) “Ciência botânica que possui uma etnia específica” - vê a cultura de uma sociedade como
tudo aquilo que alguém tem que saber ou crer, a fim de operar de forma aceitável para
seus membros.

2.2. Historial das plantas medicinais


2.2.1. Antiguidade
A partir da análise de trabalhos posteriores, infere-se que os manuscritos mais antigos sobre a
utilização de plantas medicinais tenham cerca de 5000 anos a.C. O conhecimento erudito mais
13

antigo são os escritos de Shen Nong (2800 anos a.C.), que relata o uso de diversas plantas
medicinais no tratamento de várias patologias. Não menos importante, o Papiro de Ebers (1500.
a.C), que descreve o uso de 150 espécies medicinais, se consolida como um dos documentos
mais importantes da cultura médica (DA ROCHA, 2021).
Dentre os médicos mais relevantes da época se encontram o Hipócrates (460-370 a.C),
considerado o pai da medicina moderna, fazia uso de 364 espécies vegetais bioativas.
Teophrastus (371-287 a.C), responsável pela elaboração do livro “História das plantas”, no qual
descreve precisamente as plantas quanto a sua morfologia, e seu uso tóxico e medicinal e Galeno
(129-199 a.C), pioneiro de algumas das formas farmacêuticas como a infusão, as pastilhas, as
pílulas, e os clisteres, até hoje utilizadas na medicina contemporânea (FIRMO et al, 2011).
2.2.2. Idade Média
Os principais escritos presentes da Idade Média foram "De Re Medica" de John Mesue (850
DC), "Canon Medicinae" de Avicenna (980-1037) e "Liber Magnae Collectionis Simplicum
Alimentorum Et Medicamentorum" de Ibn Baitar (1197 - 1248), juntas essas obras
compreendem 1000 espécies vegetais catalogadas. Foi Paracelso (1493-1541) o responsável pela
preparação de medicamentos a partir do extrato bruto de plantas e substâncias minerais (FIRMO
et al, 2011).
2.2.3. Idade Moderna
Todas as construções relativas a práticas terapêuticas desde a Idade Média até o início da Idade
Moderna baseavam-se em observação e proximidade com a natureza, no entanto o
Renascentismo foi capaz de recuperar influências da antiguidade greco-romana a partir da
consolidação de valores, como o antropocentrismo, humanismo e individualismo, resultando em
avanços de cunho econômico, político, social e técnico-científico (DA ROCHA, 2021).
2.2.4. Idade contemporânea
As plantas medicinais fizeram-se presente ao longo da história e ainda integram boa parte dos
procedimentos clínicos tradicionais, mesmo com o avanço da medicina alopática na metade do
século XX, contudo ainda existem desafios no uso deste pelas comunidades carentes que variam
desde a dificuldade de acesso a estabelecimentos médico-hospitalares à obtenção de exames e
medicação. O grande uso das plantas medicinais em substituição aos medicamentos sintéticos em
países em desenvolvimento além das razões anteriores, também se deve aos costumes próprios
14

de cada população, a facilidade de acesso as plantas e pôr fim a propaganda midiática em torno
de produtos à base de espécies vegetais bioativas (VEIGA et all, 2005).

2.3. Uso popular de plantas medicinais


Actualmente os princípios activos de origem vegetal têm sido foco de vários estudos químicos e
farmacológicos que visam elucidar 11dúvidas em relação a utilização de plantas medicinais como
medida terapêutica. Esses estudos afirmam que a partir observação, descrição e experimentação é
possível relacionar espécies medicinais à suas respectivas atividades biológicas. Entre às
atividades biológicas encontradas em plantas medicinais, pode-se citar: atividade antifúngica,
antimicrobiana, antiespasmódica, anti-inflamatória, antialérgica, antitumoral, analgésica,
antioxidante, fotoprotetora, entre outros (FILHO e YUNES, 1998).
A etnofarmacologia, ou seja, o estudo das preparações medicinais utilizadas no processo saúde-
doença pelas comunidades tradicionais, possui grande importância por fornecer informações
essenciais à elaboração de estudos químicos e farmacológicos sobre plantas, objetivando o
desenvolvimento de medicamentos ou isolamento de princípios activos de interesse industrial.
Em decorrência do alto custo e inúmeros efeitos colaterais presentes em medicamentos
sintéticos, assim como a inacessibilidade da população aos serviços de saúde, têm sido crescente
a insatisfação da população, que acaba por recorrer a métodos terapêuticos alternativos, como a
fitoterapia (BATISTA e VALENÇA, 2012).
Entende-se por fitoterapia, o estudo das plantas medicinais e suas aplicações terapêuticas,
desconsiderando o uso de princípios ativos isolados, mesmo que de origem vegetal. A fitoterapia
pode ser configurada como uma ferramenta integrativa útil, devido a suas características únicas,
como a fácil acessibilidade, eficácia, baixo custo e a facilidade de incorporação em preparos
caseiros, podendo assim ser utilizada para suprir a ausência de medicamentos sintéticos, ou até
mesmo em substituição a estes.
Da Rocha (2021) afirma que há uma maior probabilidade de se encontrar actividades biológicas
em plantas quando a sua utilização na medicina popular é considerada, do que quando estas são
escolhidas ao acaso, que 85% dos fitoterápicos têm origem nos arredores de comunidades
tradicionais. As atividades biológicas presentes nas plantas são de grande importância para à
11
Elucidar - ocasionar o esclarecimento de alguma coisa.
15

manutenção da saúde em países em desenvolvimento, por este ser a única forma de acesso dessas
populações à saúde básica.

2.4. Uso racional de plantas medicinais


A utilização descontrolada pode representar risco grave a saúde da população porque as plantas
medicinais representam misturas complexas de substâncias que podem muitas vezes interagir
com outras e ter um efeito adverso. Logo, o uso popular ou mesmo o tradicional não são
suficientes para validá-las eticamente como medicamentos eficazes e seguros (LEAL e TELLIS,
2016).
Em comparação com as preparações de medicamentos industrializados, os vegetais apresentam
alguns problemas singulares relacionados ao aspecto qualidade. Isso ocorre por causa da
natureza das plantas, formadas por misturas complexas de compostos químicos que podem variar
consideravelmente dependendo dos fatores ambientais e genéticos (ARGENTA, 2011).
O surgimento do conceito de “natural”, em muito contribuiu para o aumento do uso de produtos
derivados da natureza nas últimas décadas. Para a utilização destas plantas alguns parâmetros
devem ser avaliados para obter uma margem de segurança. As condições de coleta e
armazenamento são pontos críticos, assim como a secagem das mesmas. Se feitos de forma
incorreta, podem gerar efeitos adversos advindos de problemas relacionados ao processamento
e/ou armazenamento (FLOR et all, 2015).
Outros fatores importantes na composição de plantas são as variações de tempo e lugar. Ela é
fortemente influenciada por variações climáticas e da composição do solo. A identificação
botânica é outro ponto crítico. Existem plantas bastante diferentes, que recebem nomes populares
iguais e plantas morfologicamente semelhantes, com composição química bastante diversa.
Nesta última situação, são conhecidos diversos casos de intoxicações pela identificação incorreta
da espécie vegetal (MENGUE et all, 2001).

2.5. A importância das plantas medicinas na atenção primária à saúde


Os usuários das plantas medicinais jogam um papel importante na promoção da saúde com
enfoque aos aspectos de complementaridade relevantes dos sistemas convencionais e tradicionais
de saúde, dado que deverá se promover respeito profissional mútuo de ambas classes e, portanto,
eles devem estar desde cedo envolvidos e empenhados na elaboração de protocolos de pesquisa
(JOZANE, 2020).
16

Desde a Declaração de Alma-Ata, em 1978, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem


expressado a sua posição a respeito da necessidade de valorizar a utilização de plantas
medicinais no âmbito sanitário, levando em conta que 80% da população mundial utiliza plantas
ou derivados no que se refere à atenção primária de saúde. A OMS tem recomendado que os
países membros, especialmente os de terceiro Mundo, procurem ampliar o arsenal terapêutico
para saúde pública através do aproveitamento das práticas de medicina caseira empregadas pelo
povo. Essas recomendações estão resumidas nos quatro itens expressos a seguir:
1. Proceder a levantamentos regionais das plantas usadas nas práticas de medicina popular
ou tradicional e identificá-las cientificamente;
2. Apoiar o uso das práticas úteis seleccionadas por sua eficácia e segurança terapêutica;
3. Suprimir o uso de práticas consideradas inúteis ou prejudiciais e
4. Desenvolver programas governamentais que permitam cultivar e utilizar as plantas
seleccionadas.

2.6. Formas de uso das plantas medicinais


O uso popular de plantas medicinais nos remete a um mundo de saberes passados de gerações
para gerações, cuja riqueza está na conservação de informações tradicionais, que valorizam
espécies vegetais nativas de alto valor terapêutico. Este universo de conhecimento, entretanto,
vem se extinguindo nos últimos tempos sendo a migração de populações tradicionais, como os
ribeirinhos, quilombolase indígenas para o meio urbano o principal fator que leva à degradação
dos conhecimentos. Pessoas que tradicionalmente utilizavam plantas medicinais, cultivando ou
buscando na natureza de forma controlada, são obrigadas a adquirir os produtos de fontes pouco
Idôneas, em feiras livres ou de vendedores inescrupulosos, que adulteramos produtos, através de
misturas ou de substituição da droga vegetal por outra espécie semelhante (BUENOS, 2016).

2.7. Principais formas de preparação de plantas medicinais


2.7.1. Banho de assento
Definição segundo FFFB (2010): É a imersão em água morna, na posição sentada, cobrindo
apenas as nádegas e o quadril geralmente em bacia ou em louça sanitária.
2.7.1.1. Preparo caseiro
Fazer uma infusão ou decocto mais forte com a droga vegetal apropriada e misturar na água do
banho em uma bacia apropriada (BUENOS, 2016).
17

2.7.2. Bochecho
Definição segundo o FFFB (2010): É a agitação de infuso, decocto ou maceração, na boca,
fazendo movimentos da bochecha, não devendo ser engolido o líquido ao final.

2.7.2.1. Preparo caseiro


Fazer uma infusão ou decocto de maneira adequada de acordo com o tipo de planta estiver
utilizando. Abafar por 10 minutos, esperar esfriar, até ficar morno, fazer bochechos ou
gargarejos calmamente (BUENOS, 2016).
2.7.3. Compressa
Definição segundo o FFFB (2010): É uma forma de tratamento que consiste em colocar, sobre o
lugar lesionado, um pano ou gaze limpo e humedecido com um infuso ou decocto, frio ou
aquecido, dependendo da indicação de uso.
2.7.3.1. Preparo caseiro
Sobre um pano limpo, ou chumaço de algodão, verter o decocto ou a infusão sobre o pano ou
chumaço de algodão, e estes são então colocados sobre o ferimento ou órgão com inflamação
(BUENOS, 2016).
2.7.4. Creme
Definição segundo o FFFB (2010): É a forma farmacêutica semissólida que consiste de uma
emulsão, formada por uma fase lipofílica 12
e uma fase hidrofílica13. Contém um ou mais
princípios ativos dissolvidos ou dispersos em uma base apropriada e é utilizada, normalmente,
para aplicação externa na pele ou nas membranas mucosas.
2.7.5. Decocção
Definição segundo o FFFB (2010): É a preparação que consiste na ebulição da droga vegetal em
água potável por tempo determinado. Método indicado para partes de drogas vegetais com
consistência rígida, tais como cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas coriáceas.
2.7.5.1. Preparo caseiro
Os decoctos são preparados com as partes mais duras do vegetal, a planta medicinal é colocada
na água fria e então é levada ao fogo, até entrar em ebulição 14. Deixar ferver por determinado
tempo, de acordo com a planta que está sendo utilizada, desligar o fogo, abafar por 5 a 10

12
Fase lipofílica – a fase que tem afinidade com lípidos.
13
Fase hidrofílica - a fase que interage com água.
14
Ebulição – é a transformação física que ocorre quando uma substância passa do estado liquido para gasoso.
18

minutos e coar; aguardar a temperatura diminuir um pouco e poderá ser utilizado conforme
recomendado (BUENOS, 2016).

2.7.6. Infusão
Definição segundo o FFFB Nº 10, de 09 de Março de 2010: preparação que consiste em verter
água fervente sobre a droga vegetal e, em seguida, tampar ou abafar o recipiente por um período
de tempo determinado. Método indicado para partes de drogas vegetais de consistência menos
rígida tais como folhas, flores, inflorescências e frutos, ou com substâncias ativas voláteis;
2.7.7. Inalação
Definição segundo o FFFB Nº 10, de 09 de Março de 20100: administração de produto pela
inspiração (nasal ou oral) de vapores pelo trato-respiratório;
2.7.7.1. Preparo caseiro
Este preparo deve se tomar muito cuidado par que não haja queimaduras tanto no rosto quanto
nas vias respiratórias pela inalação de vapores quentes. Coloca-se a planta em uma pequena
bacia, na proporção de uma colher de sopa de erva fresca ou seca para cada meio litro de água,
verte-se água fervente sobre ela e coloca-se uma toalha de modo a cobrir em conjunto o rosto,
ombros e a vasilha, respira-se pausadamente, inspirando e expirando os vapores, durante uns 15
minutos (BUENOS, 2016).
2.7.8. Maceração
Definição segundo o FFFB (2010): É o processo que consiste em manter a droga,
convenientemente pulverizada, nas proporções indicadas na fórmula, em contato com o líquido
extrator, com agitação diária, no mínimo por sete dias consecutivos. Deverá ser utilizado
recipiente âmbar ou qualquer outro que não permita contato com a luz, bem fechado, em lugar
pouco iluminado, a temperatura ambiente.
2.7.9. Pomada
Definição segundo o FFFB (2010): É a forma farmacêutica semissólida, para aplicação na pele
ou em membranas mucosas, que consiste da solução ou dispersão de um ou mais princípios
ativos em baixas proporções em uma base adequada usualmente não aquosa.
2.7.9.1. Preparo caseiro
19

A pomada pode ser preparada com o sumo, tintura ou chá mais concentrado misturado com
banha animal, gordura de coco ou vaselina líquida. Pode-se ainda aquecer as ervas na gordura
depois coar e guardar em frascos tampados. Enquanto a mistura ainda estiver quente pode
também misturar um pouco de cera de abelha para que a pomada fique mais consistente
(BUENOS, 2016).

2.7.10. Tintura
Definição segundo o FFFB (2010): É a preparação alcoólica ou hidro alcoólica resultante da
extração de drogas vegetais ou animais ou da diluição dos respectivos extratos. É classificada em
simples e composta, conforme preparada com uma ou mais matérias-primas. A menos que
indicado de maneira diferente na monografia individual, 10 mL de tintura simples correspondem
a 1g de droga seca.
2.7.11. Xarope
Definição segundo o FFFB (2010): É a forma farmacêutica aquosa caracterizada pela alta
viscosidade, que apresenta, no mínimo, 45% (p/p) de sacarose ou outros açúcares na sua
composição. Os xaropes geralmente contêm agentes flavorizantes 15. Quando não se destina ao
consumo imediato, deve ser adicionado de conservadores antimicrobianos autorizados.
2.7.11.1. Preparo caseiro
Para se preparar o xarope utilizando parte das plantas que fazem infusão (folhas e flores)
primeiro faz-se uma calda utilizando açúcar mascavo ou rapadura até obter a consistência
desejada, então adiciona-se o vegetal, abafar, esperar esfriar e coar. No caso de plantas que se
utilizam a forma de preparo decocto: coloca-se a planta para ferver e após a água entrar em
ebulição juntamente com a planta, adiciona-se a quantidade desejada de açúcar. (BUENOS,
2016).
2.7.12. Cataplasma
O FFFB (2010), afirma que cataplasmas são obtidas por diversas formas:
 Amassar as ervas frescas e bem limpas, aplicar diretamente sobre aparte afetada ou
envolvidas em pano fino ou gaze. As ervas secas podem ser reduzidas a pó, misturadas
em água, chás ou outras preparações aplicadas envoltas em pano fino sobre as partes
afetadas.

15
Agentes flavorizantes – são substancias que conferem-lhes características degustativas e olfativas.
20

2.8. Uso e aceitação de plantas medicinais nas comunidades locais


O homem moderno é diferenciado das demais épocas pelo seu elevado consumo de
medicamentos, afinal as pesquisas ao longo da história possibilitaram o auxílio para males que
assolaram a humanidade por séculos. No entanto, a grande oferta de medicamentos alopáticos
não atingiu a maior parte da população mundial (CUNHA et all, 2015).

A partir desse histórico, é possível observar que o ser humano sempre utilizou de produtos
naturais em seu benefício de forma a melhorar sua qualidade de vida, assim como aumentar sua
longevidade. A aplicação de plantas medicinais como medicamento é muitas vezes baseada
apenas em conhecimentos tradicionais, transmitidos de geração em geração. A transmissão
desses conhecimentos ocorre principalmente pela oralidade, o que torna esse arcabouço de saber
empírico muito vulnerável à perda. Desta forma, o registo dessas informações torna-se
fundamental para evitar a sua perda e garantir a sua perpetuação. Além disso, os saberes
tradicionais registados provêm uma importante fonte de informações para pesquisas em
bioprospecção de novos fármacos e atestar a eficácia e segurança no uso das plantas (VIEGAS et
all, 2006).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2002), 80% da população do mundo não têm
acesso ao atendimento primário de saúde, por estarem distantes dos centros de saúde ou por falta
de condições em adquirir os medicamentos. Desta forma, as terapias alternativas são às
principais formas de tratamento, e as plantas medicinais, os principais medicamentos disponíveis
a população dos países mais pobres devido à tradição de uso e da ausência de opções
economicamente viáveis. De acordo com a OMS (2002), as plantas medicinais são todas aquelas,
silvestres ou cultivadas, que se utilizam como recurso para prevenir, aliviar, curar ou modificar
um processo fisiológico normal ou patológico, ou como fonte de fármacos e de seus precursores.

2.9. Uso de plantas medicinais e fitoterapia como elementos culturais


O uso de plantas medicinais também se afirma dentro da cultura das comunidades. Os símbolos e
as especificidades variam de uma região para outra; o modo de entender o processo saúde –
doença - cuidado, ao mesmo tempo que guarda características próprias, traz elementos de outras
formações culturais. A utilização de plantas medicinais é influenciada pelas culturas indígenas,
africanas e europeias. Características culturais se expressam de maneiras diferenciadas
21

dependendo do grupo étnico e da origem de uma população meio urbano ou rural (MAIOLI e
FONSECA, 2007)
Outro aspecto cultural do uso de plantas medicinais é a função mágica, muito influenciada pelos
agentes de cura e marcada pelos costumes e práticas das comunidades. Busca-se a eficácia do
tratamento que extrapola os limites farmacológicos e adentra outros “princípios curativos”
16

constituintes das plantas. (RICARDO, 2009).

2.10. Uso das plantas medicinais e a biomedicina


O uso de plantas medicinais e a Biomedicina guardam uma estreita relação, no âmbito da
concepção de racionalidades médicas propõe que a Biomedicina seja delineada por meio de suas
três principais características: carácter generalizante, produzindo discursos com validade
universal, carácter mecanicista, em que o corpo humano passa a ser visto como uma gigantesca
máquina e carácter analítico, pressupondo o isolamento das partes para explicação do todo. A
incorporação da anatomia patológica como referencial da medicina marca a doença como
categoria central da prática e saber médicos (CAMARGO, 2005).

2.11. Influências e relações do saber popular sobre plantas medicinais com o conhecimento
científico
Pilla et all (2006), vários autores salientaram as indicações de uso citadas que concordam com as
informações disponíveis em publicações científicas, procurando demonstrar a validade do
conhecimento corrente nas comunidades estudadas. Das quatro espécies mais citadas três já
foram submetidas a testes farmacológicos, comprovando as citações de uso informadas pela
população. De forma semelhante foi observado que não houve divergência quanto à indicação de
uso fornecida pelos estudantes universitários da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e a
literatura científica consultada.
Ricardo (2009) verificou-se que em Bauru, São Paulo, em 69,4% das vezes a indicação de uso
das plantas medicinais foi coincidente com a literatura em pelo menos um sintoma ou doença.
Todavia, 25,5% das vezes não apresentaram uso coincidente. Em outro estudo foi observado que
as fonoaudiólogas do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, SP, concordam que os tratamentos
com medicina alternativa devem ser submetidos a testes científicos antes de serem aceitos pelo
Conselho de Fonoaudiologia. Na pesquisa sobre plantas medicinais e ritualísticas

16
Extrapola – ultrapassa.
22

comercializadas em feiras livres do Rio de Janeiro, RJ, as autoras afirmaram que os erveiros
vendem algumas espécies que não têm validação e / ou não tiveram seus compostos químicos
testados e análises toxicológicas finais. Chamam atenção ainda para o facto de os produtos e
subprodutos de plantas serem vendidos a partir de seus nomes populares, o que pode "interferir
no processo de qualidade e fiscalização sanitária, pois não há registros explícitos dos processos
de coleta, identificação e armazenamento.

CAPÍTULO III: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS


Neste capítulo, faz-se a apresentação, a análise e discussão dos resultados obtidos ou recolhidos
no distrito de Dondo, concretamente no posto administrativo de Savane. Os resultados foram
obtidos através da aplicação de uma entrevista aos jovens que vivem no posto administrativo de
Savane.

3.1. Informações demográficas dos jovens do posto administrativo de Savane


No decurso das entrevistas no campo, o autor começou por solicitar as informações demográficas
dos participantes da entrevista. Nesta parte, procurou-se saber o sexo, idade, profissão e nível
acadêmico dos jovens.

3.1.1. Sexo

Na variável sexo, houve uma uniformidade do sexo dos jovens que participaram na entrevista.
Visto que dos quarenta e oito (48) jovens entrevistados, que correspondem a amostra usada para
a pesquisa, vinte e quatro (24) são do sexo masculino e outros vinte e quatro (24) são do sexo
feminino.
3.1.2. Idade

Para a variável idade, um dos requisitos para participar na entrevista, é ter idade de jovens,
segundo a política da juventude em Moçambique, que define como jovem um indivíduo no
grupo etário dos quinze (15) aos trinta e cinco (35) anos. Neste contexto, a partir dos dados do
questionário aplicado aos quarenta e oito (48) jovens do Posto administrativo de Savane, notou-
se que eles possuem uma idade média de vinte e sete (27) anos.
23

3.1.3. Escolaridade ou nível acadêmico

Durante a pesquisa, também achou-se relevante fazer o levantamento do nível acadêmico dos
jovens, pois tratando-se de uma pesquisa que procura analisar o conhecimento dos jovens em
relação ao uso de plantas medicinais, apesar do primeiro conhecimento ser adquirido na
comunidade ou família, a escola acaba tendo um papel muito importante na sistematização destes
conhecimentos. Então, quanto ao nível acadêmico, todos tiveram a possibilidade ou oportunidade
de frequentar o SNE, dos quais onze (11) frequentaram o ensino primário, vinte e um (21) ensino
básico, catorze (14) ensino médio e dois (02) ensino superior.
3.1.4. Profissão

No que diz respeito a profissão de cada um dos participantes da entrevista, dos quarenta e oito
(48) jovens entrevistados, três (03) são professores, dezanove (19) estudantes, três (3)
comerciantes, doze (12) camponeses, dois (02) pescadores, um (01) alfaiate e oito (08) são
carvoeiros ou produzem o carvão para a venda.

3.2. Conhecimento dos jovens sobre plantas medicinais

Inicialmente perguntou-se aos quarenta e oito (48) jovens, se já ouviu falar de plantas
medicinais, todos foram unanimes em responder sim. Após eles responder positivamente que já
ouviram falar de plantas medicinais, foram solicitados a responder outro questionamento, que
através dele procurava-se entender o que os jovens entendem por plantas medicinais? Também
eles tentaram responder de forma unânime ao dizer que plantas medicinais são plantas usadas
pela população para cura ou prevenção de doenças.

A noção de plantas medicinais apresentada pelos jovens não difere muito com a noção proposta
por Santos e Trinda (2017), quando conceituaram plantas medicinais como aquelas plantas
utilizadas na cura ou tratamento de doenças, geralmente são usadas devido à tradição de uma
população ou comunidade, sendo necessário o conhecimento sobre suas características e sua
forma de colheita e preparação.
24

3.2.1. Listagem das plantas medicinais conhecidas pelos jovens do Posto Administrativo
de Savane
Para se fazer a listagem das plantas medicinais conhecidas pelos jovens do posto administrativo
de Savane perguntou-se a eles, quais são as plantas medicinais que você conhece? E os
resultados obtidos a partir desta questão foram representados na tabela abaixo (tabela 1).
Segundo os dados obtidos foi possível notar que, são vinte e seis (26) plantas medicinais
pertencentes a 21 famílias botânicas conhecidas pelos jovens do posto administrativo de Savane,
e as mesmas constituem as plantas que eles usam para suprir as necessidades básicas da saúde,
através da cura e prevenção de várias doenças.

Ainda na listagem das plantas medicinais, procurou-se entender dos jovens o seguinte: Dentre as
plantas que mencionou e afirmou que conhece, quais que existem no seu distrito? Todos
responderam que, todas as plantas que mencionaram existem nos seus distritos. Todavia, os
jovens usam plantas medicinais que adquirem localmente.
Tabela 1: Representação tabular da relação entre a família, nome científico e vulgar, parte
usada e o efeito do uso das plantas medicinais

Família/Nome Nome popular Parte Uso feito pelos moradores e pela


científico ou local utilizada literatura especializada
ALLIACEAE
Allium cepa Cebola Caule Tosse, gripe e constipação.
Dor de barriga e de cabeça
Allium sativum Alho Caule
ANACARDIÁCEA
Folha
Anacardium Tosse, febre e feridas na boca.
Cajueiro
occidentale Casca do
Dor de barriga
caule
Mangifera indica Mangueira Folha Tosse e sinusite
APOCYNACEAE
25

Raiz
Catharanthus Santo António Dor de barriga e diarreia
roseus
ASPHODELACEAE
Dor de barriga
Aloe vera Babosa Folha
ASTERACEAE
Matricaria Hipertensão
Camomila Flores
Chamomilla
CARICACEAE
Raiz Diarreia e dor de barriga
Carica papaya Papeira

CACTACEAE

Ramo Dor de ouvido, cólicas, dor de barriga


Pachycereus Cacto
e dente
pringlei
CONVULVULACEAE

Folha Dor de ouvido


Ipomoea batatas Batata doce

CUCURBITACEAE
Caule e Pressão de ventre e dores de ouvidos.
Cucurbita sp. Abóbora
folhas

Momordica Cacana Folhas Malária, febre, diabete e dor de


balsamina barriga.

DIOSCOREA

Colocasia esculenta Inhame Raiz Prisão de ventre e dor de barriga

EBENACEAE
26

Dor de barriga
Euclea natalenses Mulala
Raiz
EUPHORBIACEAE

Avelós /Pau- Caule


Euphorbia tirucalli Dor de dente
pelado
Manihot esculenta Anemia
Mandioqueira Folha
HYPOXIDACEAE
Hypoxis Dor de barriga
Batata africana Raiz
hemerocallidea
LAURACEAE
Folha
Persea americana Abacateira Febre e tensão alta

LEGUMINOSAE
Folha e
Millettia Laurentii Panga panga Ferimentos
ramo

MELIACEAE
Folha
Azadirachta indica Margoza Dor de barriga

MORINGACEAE
Folha
Moringa oleífera Moringa Desnutrição crônica, aumenta sangue
no organismo e combate diabete.

MUSACEAE
Fruto
Musa balbisiana Bananeira Problemas de visão

Raiz e Flor
Problemas respiratórias
MYRTACEAE
27

Goiabeira Folha
Psidium guajava Febre e dor de cabeça
Gripe, resfriado, asma, tosse e febre
Eucalyptus sp Eucalipto Folhas
POACEAE
Cymbopogon Capim-cidreira/ Folha Tosse, dor de cabeça, febre
citratus Capim limão
RUTACEAE
Limoeiro Folha, Fruto Gripe, dor de cabeça
Citrus limonum

Gráfico 1: Locais que os jovens de Savane adquirem plantas medicinais

Locais que os jovens adquirem plantas


medicinais
35%
31%
30%
25% 23%
20% 19%
17%
15%
10%
10%
5%
0%
Floresta e Mercado Quintal de Floresta Vizinhos
machamba casa

Do universo dos quarenta e oito (48) jovens dos membros de agregados familiares entrevistados
de ambos Bairros sobre, como adquire as plantas medicinais que você usa? Quinze (15) jovens
equivalentes a 31% afirmaram que adquirem as plantas medicinais na floresta e machamba,
28

cinco (5) jovens equivalentes a 10% afirmaram que adquirem as plantas pela compra no
mercado, nove (9) jovens equivalentes a 19% afirmaram que adquirem as plantas nos quintais
das suas casas, onze (11) jovens equivalentes a 23% afirmaram que adquirem as plantas
medicinais na floresta e oito (8) jovens equivalentes a 17% afirmaram que adquirem as plantas
com vizinhos.

Segundo os dados do gráfico, o posto administrativo de Savane por ser um local em que as
pessoas que habitam nele levam o estilo de vida rural, muitos dos jovens, com frequência de
31%, acabam adquirindo plantas que usam para o tratamento de doenças nas florestas e
machambas. Todavia, também existem aquelas pessoas que tem hábitos de cultivar algumas
plantas medicinais nos seus quintais, com a frequência equivalente a 19%.
Os resultados desta pesquisa não entra em consonância 17com os resultados obtidos por Alve et
all (25 de Setembro de 2015) quando estudavam o conhecimento popular sobre plantas
medicinais e o cuidado da saúde primária: um estudo de caso da comunidade rural de Mendes,
quando perguntaram aos entrevistados sobre o local de obtenção das plantas medicinais, 27%
disseram retirar as plantas apenas da horta da própria casa; 24% têm acesso às ervas através da
horta e também da comunidade; 22% retiram apenas da comunidade; 10% compram no mercado
e colhem na comunidade; 8,5% além de obter da horta, compram no mercado e 8,5% adquirem
apenas no mercado.

Gráfico 2: Origens do conhecimento do uso de plantas medicinais

17
Consonância – concordância.
29

Origem do conhecimento do uso de plantas medicinais


45%
40%
40%

35%

30%

25%

20% 19%
17%
15%
12% 12%
10%

5%

0%
Avós Pais Irmãos Amigos Vizinhos

Para se ter a ideia da origem do conhecimento do uso de plantas medicinais, perguntou -se aos
quarenta e oito (48) jovens dos agregados familiares entrevistados o seguinte: com quem
adquiriu conhecimento de uso dessas plantas? Seis (6) jovens equivalentes a 12% afirmaram que
adquiriram o conhecimento de uso de plantas medicinais com avós, dezenove (19) jovens
equivalentes a 40% adquiriram com seus pais, seis (6) jovens equivalentes a (12%) afirmaram
que adquiriram com seus irmãos, nove (9) jovens equivalentes a 19% afirmaram que adquiriram
com amigos, oito (8) jovens equivalentes a 17% afirmaram que adquiriram a informação de uso
de plantas medicinais com vizinhos.
A representação gráfica acima ilustra claramente que, muitos jovens do posto administrativo de
Savane adquirem conhecimento do uso de plantas medicinais na família, os pais transmitem uma
percentagem equivalente a 40%, os avós transmitem uma percentagem igual a 12% e os irmãos
tramitem uma percentagem também equivalente a 12%. Outros conhecimentos que os jovens
adquirem sobre o uso de plantas medicinais no tratamento de doenças provêm da comunidade,
através de amigos e vizinhos.
30

Esclareceram eles que não há um momento exacto delimitado para a transmissão do


conhecimento sobre o uso de plantas medicinais, ou por outra nunca houve uma sentada ou
seminário realizado para abordagem desta temática, normalmente em muitas vezes, as pessoas
acabam transmitindo esses conhecimentos quando estão a sugerir um tratamento para um
determinado paciente que padece de alguma doença. Neste caso, estes conhecimentos são
passados popularmente de uma geração a outra e a família acaba tendo um papel muito
importante na transmissão deste conhecimento.

O resultado desta pesquisa se diverge com os resultados de Becker et all (2011), quando
estudavam sobre plantas medicinais, notaram que quando questionados quanto à origem do
conhecimento sobre uso de plantas medicinais, em 42%, das 797 respostas, foi mencionado pais,
avós ou pessoas idosas. Vizinhos, amigos e outros familiares foram mencionados em 45,9% das
respostas. Outras formas de aquisição de conhecimento relatadas estão relacionadas com
informações provenientes de literaturas (4,4%), cursos da Pastoral da Saúde (2,5 %), orientações
por profissionais de saúde (2,0%), na Unidade Básica de Saúde (0,5%) e meios de comunicações
(1,9%).

3.3. Uso de plantas medicinais pelos jovens

Para se obter resultados do uso de plantas medicinas pelos jovens, colocou-se uma questão aos
jovens para perceber deles se usam plantas medicinais no tratamento de doenças ou não! Mas,
perante este questionamento todos foram unânimes ao responder que usam plantas medicinais
para tratamento de doenças. Entretanto, perante esta resposta, de modo a ter uma informação
concisa do uso das plantas medicinais pelos jovens, o autor pediu a eles para mencionar as
plantas medicinais que usam, relacionando os nomes vulgais, científicos, a frequência do uso e
as formas de preparo.

Com os resultados obtidos e representados na tabela abaixo (tabela 2), possibilita perceber que os
jovens do posto administrativo de Savane acreditam na possibilidade real de cura de doenças
através da utilização das plantas medicinais.

Tabela 2: Relação dos nomes vulgais e científicos, frequência do uso e as formas de preparo
das plantas medicinais

Nome vulgar Nome científico Frequência do uso Forma de preparo


31

Moringa Moringa oleífera 13 Maceração e pó


Cacana Momordica 10 Maceração e infusão
balsamina
Santo António Catharanthus 7 Maceração
roseus
Batata africana Hypoxis 7 Maceração
hemerocallidea
Panga panga Millettia 5 Emplasto
Laurentii
Eucalipto Eucalyptus sp 5 Infusão, chá
Babosa Aloe vera 5 Emplasto
Cajueiro 5 Infusão e emplasto
Anacardium
occidentale
Inhame Colocasia 4 Maceração
esculenta
Cebola Allium cepa 3 Xarope
Camomila Matricaria 3 Infusão
chamomilla
Mandioqueira Manihot 3 Maceração e pó
esculenta
Cacto Pachycereus 2 Emplasto
pringlei
Mulala 2 Maceração
Euclea natalenses
Papaieira Carica papaya 2 Maceração
Margoza Azadirachta 2 Emplasto, maceração e infusão
indica
Alho Allium sativum 1 Xarope
32

3.3.1. Frequência do uso das plantas medicinais

Moringa (Moringa oleífera), constitui a planta mais utilizada, por ser citada 13 vezes, Cacana
(Momordica balsamina) citada 10 vezes, Batata africana (Hypoxis hemerocallidea) e Santo
António (Catharanthus roseus) citadas 7 vezes, somando a frequência equivale a 14 vezes,
Panga panga (Millettia Laurentii), Eucalipto (Eucalyptus sp), Babosa (Aloe vera), Cajueiro
(Anacardium occidentale) foram citadas 5 vezes, somando equivale a frequência de 20 vezes,
Inhame (Colocasia esculenta) foi citado 4 vezes, Cebola (Allium cepa), Camomila (Matricaria
chamomilla) e Mandioqueira (Manihot esculenta) foram citadas 3 vezes, somando equivale a
frequência de 9 vezes, Cacto (Pachycereus pringlei), Mulala (Euclea natalenses), Papaieira
(Carica papaya) e Margoza (Azadirachta indica) foram citadas 2 vezes, somando equivale a
frequência de 8 vezes e ultimamente o alho (Allium sativum) foi citado uma vez.

Contudo, os resultados destas pesquisas se diferem com os resultados da Dai (1997) quando fazia
seus estudos dos padrões de uso de plantas medicinais na localidade de Catembe, em Maputo,
pois ela notou que Acridocarpus natalitius, de nome vulgar Mabope, constituiu a espécie de
planta medicinal mais utilizada, podendo ser usada sozinha ou misturada com outras plantas.

3.3.2. Formas de preparo das plantas medicinais

Os jovens do posto administrativo de Savane possuem várias formas de preparações de plantas


medicinais. Nessas incluem os chás, lambedores (xaropes), maceração, pó, infusão e emplasto.

A forma mencionada pelos jovens como mais utilizada foi a maceração, podendo consistir em
colocar as partes das plantas picadas junto a água fria. Partes mais frágeis como flor e folhas
permanecem dez (10) a doze (12) horas antes do uso da planta. Enquanto que as partes mais
duras como raízes e ramos permanecem por dezoito (18) ou vinte e quatro (24) horas. O
recipiente usado para o preparo normalmente tem sido uma garrafa de um (1) ou dois (2) litros
que é mantido em lugar fresco e havendo a necessidade de agitar duas (2) em duas (2) horas.
Depois do tempo determinado, filtra-se para separar as partes sólidas do líquido e após a
separação pode se consumir ou se utilizar para o tratamento da doença. Este resultado se difere
com o resultado obtido por Alve et all (2015), quando estudavam o conhecimento popular sobre
plantas medicinais e o cuidado da saúde primária: um estudo de caso da comunidade rural de
Mendes, pois notou que a forma mencionada pela população como mais utilizada foi o chá.
33

3.4. Motivação dos jovens em relação ao uso de plantas medicinas e sua eficácia no
tratamento de doenças
Gráfico 3: Pessoas que motivam os jovens a usarem plantas medicinais

Pessoas que motivam os jovens a usarem


plantas medicinais
80%
73%
70%

60%

50%

40%

30%
19%
20%

10% 6%
2%
0%
Antepassados Mais velhos Amigos Não respondeu

Dos quarenta e oito (48) jovens dos agregados familiares entrevistados sobre quem te motivou a
usar plantas medicinais? Nove (9) jovens equivalentes a 19% afirmaram que são motivados pelos
antepassados, trinta e cinco (35) jovens equivalentes a 73% afirmaram que são motivados pelos
mais velhos, três (3) jovens equivalentes a 6% afirmaram que são motivados pelos amigos e um
(1) jovem correspondente a 2% preferiu não responder o questionamento.

Analisando os dados representados no gráfico acima, nota-se que muitos jovens com a
frequência equivalente a 73%, do posto administrativo de Savane, um posto administrativo
pertencente ao distrito de Dondo, são motivados pelos mais velhos no uso de plantas medicinais.
Consequentemente, os mais velhos são os principais responsáveis por passar hábitos e costumes
do uso de plantas medicinais para cura de doenças.
34

Os resultados obtidos nesta pesquisa entram em consonância com os resultados obtidos por Alve
et all (2015), quando estudavam o conhecimento popular sobre plantas medicinais e o cuidado da
saúde primária: um estudo de caso da comunidade rural de Mendes, quando perguntaram aos
entrevistados sobre quem os motivam para o uso de plantas medicinais, a pesquisa demonstrou
que 86% dos entrevistados foram motivados com parentes mais velhos, 12,5% com parentes
mais velhos e outros conhecimentos, 2,5% motivados com as publicidades da TV e com outras
pessoas conhecidas.

Gráfico 4: Motivos que levam os jovens a usar plantas medicinais

Factores que levam os jovens a usar plantas


medicinais
90% 81%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 15%
10% 4%
0%
i to to
nt
e
áb en a
H ta
m i st
t ra ld
i ta
no p
ia os
ác H
ic
Ef

Do universo dos quarenta e oito (48) jovens dos agregados familiares entrevistados sobre o que
lhe motiva a usar essas plantas? dois (2) jovens equivalentes a 4% responderam que são
motivados por ser hábito e costume deles, trinta e nove (39) jovens equivalentes a 81%
afirmaram que são motivados pela eficácia das plantas medicinais e sete (7) jovens equivalentes
a 15% afirmaram que são motivados pelo hospital que se encontra distante.
Segundo os dados representados graficamente acima, é possível notar que muitos jovens, com a
frequência de 81%, são motivados pela eficácia que as plantas têm no tratamento das doenças.
Acrescentaram eles dizendo que, quando usam plantas medicinais no tratamento das
35

enfermidades tem tido resultados positivos ou conseguem tratar a doença em causa. Por isso,
notou-se também nos bairros distantes dos centros de saúde e hospitais pessoas que usam com
mais frequências plantas medicinais, para evitar percorrer longas distâncias para ter assistência
médica e medicamentosa.

Os resultados desta pesquisa se assemelha com os resultados obtidos por Becker et all (2011),
quando estudavam sobre plantas medicinais: percepção, utilização e indicações terapêuticas de
usuários da estratégia saúde da família do município de Criciúma, quando notaram que dentre os
fatores que influenciam a utilização de plantas medicinais, 79,1%, das 717 respostas, mencionam
usam devido a sua eficácia; 8,2% usam por ser um remédio natural; 4,7% usam devido a
influência da propaganda; 3,3% usam sob influência dos amigos; 2,2% usam devido a baixo
custo do tratamento; 1,2% usam devido a indicação médica; e 1,4% usam por outros motivos.

Gráfico 5: Eficácia das plantas medicinais usadas pelos jovens no tratamento de doenças

Eficácia das plantas medicinais usadas no


tratamento de doenças
120%

100% 96%

80%

60%

40%

20%
4%
0%
Boa Não respoderam

Quando questionados os quarenta e oito (48) jovens sobre qual foi a eficácia da planta no
tratamento da doença? Quarenta e seis (46) jovens equivalentes a 96% responderam que a
eficácia foi boa, enquanto que dois (2) jovens equivalentes a 4% preferiram não responder o
questionamento e tentou se indagar para se ter resposta em torno do questionário, mas, eles não
mostraram interesse de responder, alegando que já não fazem ideia de como é a eficácia do uso
das plantas medicinais.
36

Todos jovens que responderam esta questão com a frequência de 96%, excepto os 4% que
optaram por não responder, afirmaram que quando usam plantas medicinais no tratamento de
doenças tem obtido resultados positivos ou por outra elas são eficazes no tratamento da
enfermidade que o paciente padece.

Os resultados acima se assemelham com os resultados de Cechinel e Yunes (1998), quando


relataram que das pessoas que utilizam as plantas medicinais, mais de 90% da amostra informou
que o tratamento com ervas é bastante eficiente, alcançando sempre o resultado esperado. Essas
pessoas relataram que já vivenciarem diversas ocasiões em que as plantas medicinais tiveram
suas ações comprovadas. Uma das questões que podem contribuir com essa segurança é o
interesse e a evolução dos estudos científicos das ações terapêuticas das plantas medicinais,
comprovando, cada vez mais, sua eficácia e aceitação pelas populações.
37

CAPÍTULO IV: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES


Neste capítulo, estão apresentados a conclusão, recomendações e limitações da pesquisa sobre a
análise do conhecimento e aceitação dos Jovens do posto administrativo de Savane em relação ao
uso de plantas medicinais.

4.1. Conclusão
Findo o trabalho de natureza científica, nesta senda, a conclusão cingirá em grandes focos
apresentados no tema pesquisado, com as constatações encontradas através dos instrumentos usados
para colecta de dados. Sendo assim, como conclusão do trabalho verifica-se que:

 Os jovens do distrito de Dondo em particular, posto administrativo de Savane, não


possuem menor nível de conhecimento e aceitação em relação ao uso de plantas
medicinais, como está emanado na hipótese primária, pois segundo os dados obtidos no
campo, notou-se a existência do maior nível de conhecimento e aceitação. Por se tratar de
um local em que as pessoas que habitam nele levam o estilo de vida rural, muitos jovens
acabam usando plantas medicinais para suprir as necessidades básicas da saúde.
 No posto administrativo de Savane a família tem um papel muito importante na
transmissão de conhecimentos do uso de plantas medicinais, pois os pais transmitem uma
percentagem equivalente a 40%, os avós transmitem uma percentagem igual a 12% e os
irmãos tramitem uma percentagem também equivalente a 12%. Outros conhecimentos
que os jovens adquirem sobre o uso de plantas medicinais no tratamento de doenças
provêm da comunidade, através de amigos com frequência de 19% e vizinhos com a
frequência de 17%.
 Para o uso de plantas no tratamento de doenças, os jovens são mais motivados pelos mais
velhos, com uma frequência de 73%, em relação dos antepassados que possuem uma
frequência equivalente a 19%, e amigos 6%. Consequentemente, os mais velhos são os
principais responsáveis por passar hábitos e costumes do uso de plantas medicinais para
cura de doenças de uma geração a outra.
 O uso de plantas medicinais pelos jovens é eficiente para o tratamento de doenças,
porque todos jovens que responderam a questão 96%, excepto os 4% que não
responderam, afirmaram que quando usam plantas medicinais no tratamento de doenças
38

tem obtido resultados positivos ou conseguem tratar com eficiência a enfermidade que o
paciente padece.
 As plantas medicinais conhecidas pelos jovens do posto administrativo de Savane são
vinte e seis (26), pertencentes a 21 famílias botânicas, as mesmas existem neste posto
administrativo e constituem as plantas que eles usam para suprir as necessidades básicas
da saúde, através da cura e prevenção de várias doenças.
 Moringa (Moringa oleífera), constitui a planta mais utilizada pelos jovens. Eles possuem
várias formas de preparações de plantas medicinais como: os chás, lambedores (xaropes),
maceração, pó, infusão e emplasto, mas, a maceração constitui a forma de preparo mais
utilizada.

4.2. Recomendações
4.2.1. Aos jovens do posto administrativo de Savane

 Promoção de comportamentos sadios no seio das comunidades, para se evitar os


problemas do mau uso, que podem ocasionar a intoxicação das pessoas.

4.2.3. Para comunidade

 Que procurem permanentemente mais informações sobre plantas medicinais, de modo a


descobrir mais técnicas, métodos de preparo e outras plantas com propriedades
terapêuticas.
4.2.4. Ao MISAU
 Capacitação permanente de todos funcionários de saúde na matéria de tratamento na base
de plantas medicinais.
 Criação de equipas de modo que haja a operacionalização destas, para a monitoria do uso
adequado das plantas nas comunidades e os mesmos devem criar estratégias para
implementação de campanhas de sensibilização para o uso racional de plantas medicinais.
 Como a falta de medicamento nos centros de saúde é muito comum na actualidade, os
funcionários das unidades sanitárias ou postos de saúde devem ser capazes de sugerir
algumas plantas aos pacientes para a cura da enfermidade, sugerindo neste caso, os
procedimentos para o preparo do medicamento e a posologia certa.
39

4.3. Limitações da pesquisa


 Sendo o tema da pesquisa de grande relevância, com ângulo de abordagem da dimensão
mundial, os desafios transcendem as capacidades do autor.
 Neste caso, a falta de regulamentos moçambicanos de uso adequado das plantas
medicinais, estes materiais seriam base da pesquisa.
 Outra limitação prende – se na falta de manuais ou obras de autores que versam os
conteúdos relacionados com a pesquisa na forma imprensa.
40

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programa de pós-graduação em sociedade. tecnologias e políticas públicas. Brasil.
XII

Apêndices
XIII

Apêndice I: Guião de entrevista dirigido aos jovens do Posto Administrativo de Savane


I. DADOS PESSOAIS
Sexo: F___ M___ Idade: ______ anos Nível acadêmico:_______________
Profissão:_________________________________________
II. QUESTIONÁRIO
1. Já ouviu falar de plantas medicinais? Sim ( ) Não ( )
1.1. Sem sim, o que entende por plantas medicinais?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

1.2. Quais são as plantas medicinais que você conhece?


______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

1.3. Dentre essas que mencionou, quais que existem no seu distrito?
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1.4. Quais são as doenças que podem ser tratadas por cada planta que mencionou?
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2. Como cada planta é usada para tratamento dessa doença? Qual é a parte usada?
XIV

Tabela: Relação de forma de preparo, a parte usada e forma de administração

Chá Emplasto Infusão Maceração em Xarope Pó Pomada


água fria /
quente

3.Onde adquire as plantas medicinais que você usa?

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4.Com quem adquiriu conhecimento de uso dessas plantas?

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5.Usa plantas medicinais no tratamento de doenças? Sim ( ) Nao ( )


5.1.Se sim, quais?

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6.Quem te motivou a usar plantas medicinais?

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XV

7.O que lhe motiva a usar essas plantas?


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8.Qual foi a eficácia da planta no tratamento da doença? ( )Boa ( ) Mã

Apêndice II: Cronograma de actividades


Datas do ano 2021 e 2022
Descrição Outubro Novembro Dezembr Janeiro Fevereiro Març Abril Maio
o o

Levantament X X
o de literatura
Observação X
do campo de
estudo
Levantament X X
o de dados
Análises dos X
dados
Interpretação X
de dados
Apresentação X
gráfica
Conclusão da X
monografia
XVI

Apêndice III: Orçamento

Descrição Quantidade Valor Unitário


Internet 200h 4000.00 MT
Dactilografia e impressão 300 Páginas 2750.00 MT
Resmas de folhas A4 2 Resmas 800.00MT
Cópias 300 Páginas 450.00MT
Fotógrafo 25 Fotos 50.00MT
Esferográficas 1 Caixas 175.00 MT
Envelopes 10 100.00 MT
Total 8325. 00 MT

Apêndice IV: Imagens das plantas medicinais conhecidas pelos jovens


XVII

Persea americana Millettia Laurentii

Moringa oleífera Manihot esculenta


XVIII

Euphorbia tirucalli Anacardium occidentale


XIX

Momordica balsamin Aloe vera

Catharanthus roseus
XX

Anexos

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