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METODOLOGIA DE CÁLCULO DE BALANÇO MATERIAL

Limites do sistema e correntes de entrada e saída

O primeiro passo na elaboração de um balanço de material é definir o sistema


no qual o balanço será aplicado. Uma boa maneira de visualizar o sistema é
imaginar um envelope em volta de um equipamento ou seção da operação do
processo. Qualquer material que cruze o envelope deve ser considerado para o
balanço de material. Esse envelope, definido como “limite do sistema”, pode ser
representado por meio de uma linha tracejada em um esquema do processo.
Qualquer linha de fluxo que intercepta essa linha tracejada representa uma
entrada ou saída no balanço material e é chamada de corrente do processo,
aparecendo no esquema ilustrativo como uma seta. Por outro lado, correntes
que não cruzam os limites do sistema não são consideradas no balanço material.
Nos processos em batelada ou operações contínuas simples, não é difícil
estabelecer os limites do sistema. Entretanto, em operações mais complexas,
com diversos fluxos e recirculações, é necessária uma boa dose de engenharia
para decidir quais os melhores limites do sistema. Muitas vezes, a solução do
problema requer que o processo complexo seja dividido em seções, com
balanços separados no envelope limitante de cada seção.

As correntes de processo são descritas em termos de massa (kg) ou vazão


mássica (kg/h) e composição mássica expressa como fração em massa de cada
componente constituinte da corrente.

Está apresentado a seguir o esquema ilustrativo de um evaporador contínuo,


usado para concentrar uma solução, descrita simplificadamente em termos de
sólidos e água, por aquecimento a fim de evaporar parcialmente a água. Desse
modo, o produto deixa o equipamento mais concentrado do que entrou, em
termos de fração mássica de sólidos.

Existem várias formas de se nomearem as correntes e suas respectivas


composições, como pode se observar nas referências bibliográficas sugeridas.
A mais simples costuma chamar as correntes de entrada de alimentação,
denominada pela letra maiúscula A seguida de um índice numérico caso exista
mais de uma entrada – A1, A2, A3, etc. – e as correntes de saída de produtos,
indicadas pela letra maiúscula P seguida de um índice numérico caso exista mais
de uma saída.

Outra forma muito usual de nomear as correntes é usar a abreviatura com letras
maiúsculas de um termo que de algum modo descreve cada uma das correntes.
Assim, para o exemplo do evaporador, a corrente de entrada é denominada SD
e representa a vazão mássica total da solução diluída entrando no sistema. As
correntes de saída são AE e SC e representam, respectivamente, as vazões
mássicas totais de água evaporada e solução concentrada saindo do sistema. A
composição é expressa em fração mássica e recebe o símbolo x com índice que
indica o componente e a corrente à qual se refere. A seguir, apresenta-se a lista
de correntes e composições de corrente para o evaporador.

SD – Solução diluída entrando (kg/h)


AE – Água evaporada saindo (kg/h)
SC – Solução concentrada saindo (kg/h)
xs,SD – Fração mássica de sólidos na corrente SD
xa,SD – Fração mássica de água na corrente SD
xa,AE – Fração mássica de água na corrente AE
xs,SC – Fração mássica de sólidos na corrente SC
xa,SC – Fração mássica de água na corrente SC
O evaporador é um exemplo de processo contínuo em regime estacionário sem
reação química. Nesse caso, a equação geral de balanço material reduz-se a
entrada = saída. Essa igualdade pode ser escrita para as correntes totais e para
cada componente em separado.

2.2. Aplicação da equação geral de balanço de massa

A equação geral de balanço de massa simplificada para o caso de balanço de


massa em regime permanente sem reação química pode ser aplicada ao
evaporador tanto para correntes totais como para cada componente, sólido e
água, em separado. Escrevendo em termos simbólicos as equações de balanço,
tem-se:

(1) Balanço de massa global

𝑆𝐷 = 𝐴𝐸 + 𝑆𝐶

(2) Balanço de massa para água

𝑆𝐷. 𝑥𝑎,𝑆𝐷 = 𝐴𝐸. 𝑥𝑎,𝐴𝐸 + 𝑆𝐶. 𝑥𝑎,𝑆𝐶

(3) Balanço de massa para sólidos

𝑆𝐷. 𝑥𝑠,𝑆𝐷 = 𝐴𝐸. 𝑥𝑠,𝐴𝐸 + 𝑆𝐶. 𝑥𝑠,𝑆𝐶

Note que a soma das frações mássicas dos componentes de uma dada corrente
deve totalizar 1, o que seria o mesmo que dizer 100% da corrente. Desse modo,
a soma das equações de balanço por componente deve ser igual ao balanço de
massa global.

O próximo exemplo ilustra uma coluna de destilação e equipamentos auxiliares,


como condensador, refervedor e tambor de refluxo. O caso mais simples é a
destilação de uma mistura binária, composta de dois elementos com diferentes
pontos de ebulição. Devido ao aquecimento, o componente mais volátil alcança
a temperatura de ebulição primeiramente, começando a evaporar e sendo
retirado no topo da coluna. Assim, no término da operação, tem-se uma corrente
de topo mais rica no componente mais volátil e uma corrente de fundo mais rica
no componente menos volátil. A destilação é uma operação de separação de
misturas homogêneas baseada nas diferenças de volatilidade dos componentes.
Observe as linhas pontilhadas indicando diferentes limites do sistema, as setas
que representam as correntes e a nomenclatura das correntes e suas
composições.

Para a mistura binária, costuma-se expressar a composição em termos do


componente mais volátil, que recebe índice 1, e componente menos volátil, com
índice 2. Algumas vezes, pode-se deparar com o uso de letra x e y para referir-
se à fração em massa ou molar das correntes líquidas e gasosas,
respectivamente.

F – Alimentação – moles/h (ou kg/h)


D – Destilado ou produto de topo – moles/h (ou kg/h)
W – Resíduo ou produto de fundo – moles/h (ou kg/h)
V – Vapor de topo da coluna – moles/h (ou kg/h)
L – Refluxo – moles/h (ou kg/h)
x1,F – fração molar (ou mássica) do componente mais volátil na alimentação
x1,D – tração molar (ou mássica) do componente mais volátil no destilado
x1,W – tração molar (ou mássica) do componente mais volátil no resíduo
x1,L – tração molar (ou mássica) do componente mais volátil no refluxo
y1,V – tração molar (ou mássica) do componente mais volátil no vapor de topo

É usual referir-se ao sistema em estudo, definido pelas linhas tracejadas, como


volume de controle. A coluna de destilação ilustrada apresenta dois volumes
de controle e as equações de balanço podem ser escritas para cada um deles.

Volume de controle: sistema de destilação

(1) Balanço de massa global

𝐹 = 𝐷 + 𝑊

(2) Balanço de massa para o componente mais volátil

𝐹. 𝑥1,𝐹 = 𝐷. 𝑥1,𝐷 + 𝑊. 𝑥1,𝑊

(3) Balanço de massa para o componente menos volátil

𝐹. 𝑥2,𝐹 = 𝐷. 𝑥2,𝐷 + 𝑊. 𝑥2,𝑊

Volume de controle: sistema de condensação do vapor de topo

(1) Balanço de massa global

𝑉 = 𝐿 + 𝐷

(2) Balanço de massa para o componente mais volátil

𝑉. 𝑦1,𝑉 = 𝐿. 𝑥1,𝐿 + 𝐷. 𝑥1,𝐷

(3) Balanço de massa para o componente menos volátil

𝑉. 𝑦2,𝑉 = 𝐿. 𝑥2,𝐿 + 𝐷. 𝑥2,𝐷

2.3. Bases de Cálculo

Definido o sistema pelo seu limite, identificadas as correntes e suas


composições, deve-se escolher uma base de cálculo. Para uma operação em
batelada, a base de cálculo normalmente é a massa ou quantidade molar total
de uma batelada expressa em unidade de massa ou mol. Para operações
contínuas, as correntes de entrada e saída são descritas em termos de vazão
mássica ou molar total ou de um determinado componente de corrente. É
usualmente mais conveniente selecionar-se uma unidade de quantidade como
100 kg ou 100 kgmoles de uma corrente total ou de um constituinte como base.
Em particular, é desejável selecionar um constituinte que passe pelo processo
sem mudar de massa. Por exemplo, em um processo de secagem de um
material sólido, o fluxo de sólido úmido muda continuamente de massa à medida
que a água é removida; entretanto, a matéria seca no fluxo de sólido tem a
mesma massa entrando e saindo e, portanto, apresenta uma base fixa para os
cálculos. Um constituinte que passa por um processo sem mudar desse modo é
chamado de “substância de referência ou amarração”, pois ele amarra os fluxos
de entrada e saída.
Em operações semicontínuas, alguns fluxos fluem continuamente, mas não
necessariamente a uma razão constante, e haverá acúmulo (ou diminuição)
dentro do sistema. Nesse caso, o balanço de material deve ser aplicado a todos
os constituintes em definido período de tempo.

2.4. Metodologia para resolução de balanço de massa

As etapas para a elaboração de um balanço de material podem ser organizadas


na seguinte sequência:
a. Desenhe um esquema ou diagrama ilustrativo representando o processo e
todas as correntes entrando e saindo dele.
b. Nomeie as correntes de entrada e saída com letras maiúsculas e as
respectivas composições.
c. Mostre o volume de controle tomado para estudo pelos limites do sistema,
usando uma linha tracejada.
d. Defina as correntes e composições conhecidas e desconhecidas.
e. Escreva as relações de balanços de material global e por componente.
f. Selecione uma base de cálculo apropriada.
g. Resolva as equações algébricas resultantes para as quantidades
desconhecidas. Muitas vezes, a solução de várias equações simultâneas se
torna necessária.

Deve ser ressaltado que muitas vezes poderá haver mais de uma escolha
adequada do sistema e da base de cálculo para um problema em particular.

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