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INQUÍETUDES NA POESIA DE DRUMMOND

(...) le saucìd interrcnìÍ, rl'Òpéttlsur la úatièrc


nêne tu ldflguage en obligeoú l4 tuaÍs ìi LirÍel
leú rie eüète eÍ à trahi le nysÍtrieu' cafttuère
.t" ik enttutiennent.k dehon de Lerrsefls.
Ándré Br€ton

s dois prineìros l;vros de CaÌlos DÌunmoDd de Andrâde


sãoconstruídoseÌn torno de um certo recorìhecimentodo
fato.O sentimento,os aconte.imentos,o espetácuÌomâte-
rial e espirituã1domundo sãotrâtadoscomo seo poetaseümitasse
ú registÍáìos,eÌnbora o íaça dã maneiraanticonvencìoDal preconi'
zada pelo Modernisno. Estetratamento, mesmo quando insólito,
garàntiriaa vaÌidadedo fato cono objeto poéticobastanteeÌn si, ni'
velandoËaternalnenteo Eu e o Ììundo como àssuntosde poesia.
TÌinta ânosdepois,no útimo Ìivro, r'çiio d. .rÀaq voltâ o nBmo jo
go com o assmto, mâs âgoÌa nisturado a um jogo de maior requinte
com a paÌavra.Em um e outro momento, o poetâ parec re1âtiãmente
serenodo ponto de üsta eíético en1fac. dâ sua maréria, na nìedida eÌn
que não põe eÍn dúúda (ao menos de maneira ostensiva)a integridade
do seu ser,a sru ligação con o mündo, a legitlmidade da sua criação.
Mas de permeio,digamosentÌe 1935e I9s9, há nele umâ espécie
de desconfiança agüda en relaçâo ao que diz e faz. Se aborda o ser
ìmediâtamentelhe ocorre que seriamaisváÌido tlatâr do mundo; se
aborda o mundo, que ndhor fora linitàÌ-se ao odo de ser.E a poe
i" p d r(e d eJ d/ er. e c om ore s i n rop d r. ro rn J r .e u m p ro resu.i u.
tificado na medida em que institui üm objeto novo, eÌaborado à cus-
ta da desfiguração, ou mesmo destruiçãorituaì do ser e do mundo,
para refazê1osno plano estético.Mas estedistaÌlciamcnloem re-
lação èo objeto da criação agrava a dúvida e conduz outra vez o po
eta a abordar o seÌ e o mundo no estâdo pré-poétìco de material
bruto, quc tàÌvezpudesseter mantido em primeiro plano, conseÌ
vnndo o ato cÌiador m.ategoÌia de nÌero registÌooü notâção.
INAUIIlÚDBS N^ IOISI! D t r D R Ú MMO N D

TaispeÌpldidades s€orSamzam Wrritrde Seflümentodo mtuuti âmors, fâIÌìllia, amigos,tÌãnsformandoqualquerassuntoem poe-


^
e -Iosl,títuìos que indicam  pola.ìdade de su obra mâd@; de unl siapelo simplesfato de tocá lo, talvezfosseumâ aspiraçãoprofiDda
lâdo!a pÌeocupaçãocom os pÍoblmaj sociaisde outÌo! com os pro de Drurnrnond"pam quem o eu é uma espéciede p€cadopoéúco
bÌernasindividuais,âmbosrefeÍidosao FobleÍna decìsivodâ eÌpres inevitável,em quepÌecisâincorrer paracÍiar, mâsque o horroriza à
são,quceletüaa suasíntese. O blococentúÌda obrade DruÌÌrmon(l medidaqueo atÌai.O constrângimento (qu€poderiatê lo en.urÌâ-
é,pois,Ìegido poÍ ìnquietudespoéticas queprovémumasdasoutras, ladono si1êncio) só é vencido pelanecessidadedetentaÌa expressão
cruzam-sc è,parecendo derivârdeüm egotismo profundo,rémcomo libertadorâ,através da matéÌìaindes€jada.
conseqüéncia umaespécie deexposição mitológicadapersonalidad(. Não éde certopor gostoqueo poetamordeesôefruto azedo.Na sua
Ìstoparececontraditório,ã respeitode um poeraque sublinhaLr obra há dicaçõesde que Ìhê agíadariârecupeÌaruma relâtivâeu-
própriasecuÍìc rccato,l€vândoa pensaÌnumaobrareticenre erì ftì foria modernista,peÍdida depoisde Brcjo dasaÌnas Há, mesmo,a
cede Ìudoquepareçadadopessoal, confissãoou crônicade e\pcÌi \ontade tão freqüentenos ârtistâ! de ver o mundo e asPessoâs nos
ênciavivida.Môsé o oposroqueseverifica.Há neÌaumaconstanl. rìomentos de suspensão da peDae da an8ústia;molnentosde "luxo,
n1\ãsão de elementos subjetivos,
e seriamesmopossiveÌ dizerquf c-aÌmãe deleite:descrjtospor um SrandetoítuÍado. MasjssonãoPâ-
todaâ suapartemaissignjficativadependeda]imelânìofosesou dns re.e possívelaoshomens,tão inerTlicáveis,num Poemaseìr,aosolhos
prcieçõ€sem vários rumos de ma subjerividâdetirânica, úo inì tranqúilos do boi que os observâda sua pastagcms€m prcbleúâs.
portã sab€raté que ponio autobiográÊca-' Frágeir agitados,@rstituídosde poucasub'stânciâ, preocüpadospo.
Tirânicâ e patética,pois €adagrão de egocentÌismoé €omprado coisasin@mpÍeensí'.eis, incpâzes de viver em comunhão om a
pelopoetacom uma ta{a de remoÍsoe incerkzâ que o le\â a querc, nâtüÌeza,ficamtrist€se,por isso,cruéis.ÀdeÍindo metaÍoÍicamente à
escapâr do eu,s€ntire coúecero our.o,situar-se no mundo,â 6nÌ d( üsão do bicho, o po€ta os vê quase como eï€r€s.êtì€ias
da o.dem [â_
aplncarasvertigens int€riores.
A poesiada famíliae â poesiasociât, turâÌ,quenãopercebem,poisa inquietaçãoosdobrasobresi mesmos:
mlÌito impoÌtantes na suâobra,decorreriarn deum mecanìsmo tã0
individuaÌquantoa poesiade conÊssão e auro-ânálìse,
enroìando-sr dir se ia quenão€scì.Ìtâm
... Coitados,
ianto qmnto elasnum eu ãbsorvente, nemo cmto do ar nemos segÌedos do f€no,
Tratasedeuln problemadeidcntidade ouidenriÊ.ação do ser,(tf comolambémparecemnãoenx€rgar o queé visível
que decorreo movimenrocriadorda suaobra na fascâpontrìdtÌ, e comuma cadaum de nósno espèço.
dândolhe um pesode inquietudeque a faz oscilaÌenrreo euj rì (uÀrlor vÊos HoMlNscE)'
nundo e a a*e, senprcdesconteDte e contrafeita.
A forçapoéticadeDrummondven um poucodessã fàltadenalu Essaincapacidade de âderirà üda, acentuàndo ãsbãrreiÌasentre
ÌâÌidade,qu€ distinguea suaobra,poÍ exernplo,da de Mânuel Dan nós e eìa,de6Íe o eu gerâlmente expÍessop€laprimeiÍa p€ssoalos
deira.O modo el'pontâneocom que estefalade si, dc seushábir(,s.
2 | D€poú do tÍtulo de .adã pôefu .ibdo, wm . siSla do Uvb ou oletâM Nqüe ps
I I NobÉ qDcDrumond !e vári.s vcrs o sd none C.rlos, Ísh j.dioÌ o p., tcn.e, a ebd: ÁÌ AlgutuPMi4M Btjo dasah,at.$ - s."tinentuAoãní1,41
$na8cm dôs pcnas, prári.a Launrc ÌaÍa quc,.€l€, Ì.IÌez sja daida âo r&nrìtl
l6tr] - RNdo p@riP ì\bú?M'e't:r - cl.tu.ni!í4.^ Fa, teituí1o6
dc Máriodc VeÌrrÌrs \a Viold de bol'e\RE ' viola d. balsa aot\hèiü er.oÌdóddat\eL - vidt pateda a
^nd!ide.
MlrÌ BÂicÁRtrr...ovrco - RP;OsúnÌMos.Ì^s- Rp. linpo: Lc - LiFa d. eoìss.
1l

versosde Drummond. Os homens que rúrbam a coDtemplilr,j !t'


plexjdadeqrie le\a a explorar o arsenalda nemória' â lìm de ela-
boi são,como aqueÌeeu,"enrodillÌados'l"tortos'l,,retorcidos', t,.,,r
borar com ela uma expressãoque,sendouma espéciede lida aÌter
u J r o\ ( oir e' ^i r o n q u \ ô p o e a J c .i g n Jd i n o d r e.,o\roe. c I. i .,.
nativa,justificassea eústéDciafàÌhada,criando una ordem fácil'
seqüência,o novnìento de voltâ sobresi.
uma Ìegularidadeque ela Ì1Àoconheceu
As nlquìetudesqlie tentaremosdescrevermânilèstan o csLr(t,,,l Sentimosentão utÌÌ problemã ângustioso:sc o alvo da poesiâé o
cspírito desse"eu todo retoÍcido'lque fora anmdado poÌ'inÌ ., ,r,, próprìo eu, pode estaimPura matériâprivadâtoÌnà
toúo" e, seÌn sabercstabeiecer comunicaçãoÌeaÌ,fica,'torlo nrì ir lingência,objeto de interesseou contemplâção,válìdo para os ou-
caDto","torcendo secaÌado'lcoD seus"pensamento
tros?A perguntâÍeaparecepedodi.amente na ohÍâ de DrumÌìond.
"desejotoúo'l capazde anÌar apenasde "mancira toÌcida".tr Ni {,ìi, j desenvoÌvese do Ìnodo seguintero eu que Poderia ter sido
de Drummoüd, essatorção é um dmlr, nenos no scntido tÌ,,l
não foi. O passado,trazido pela menória afetivâ'ofereceIârrapos
^qui,
cionàÌ de assunto,doque no senrìdoespecíficodâ moderna psirr,t,, de seresconiidos virtuâÌmente no eu iniciâI, que se Ìonou, dentre
g i i ir e- J , r " : Lmru .l e o e rìo .i ,,r' rl d L L i J rú i rJ e org4n/r Je.t,.1 ãPenâso eu insârisfatórioque é. Ora' o pas
tantôsoutros Possíveis,
sado é algo âmìrigno,sendo ao nesmo tempo a v'da que se con-
2 sunou (nnpedhdo outras formas de vida) e o conhecineDto da
vi dd.quepeímrrepFn' âÍourrJ vi da m di'Plc. " l pnr r r nr ocon o'
Para senlir âs inquietüdesque este tena condicìonabasta rLr rr
fragmentosproporcionados peÌa meÌnóÌia que se rorna PossíveÌ
LÌm lvro .omo Rosadd poro, onde as suar modalidadesexplftt.rìl
construir umâ visao coesa,que criâria unã râzão de ser unificada'
Íundindo asperspectivasso.ia;sde Sentinefltoda m ado e as pe r
redimindo as lidtâções e dando impressãode uma ÌeaÌidadenais
pect âs mais pessoâisde _/osé- que parecemduâs sériesco.!. ptena.Estãrâzãode ser poderia coÌ'Ìsistirna elnboraçãoda obra de
geDtes,formando esta cuÌminânciaÌíica. Tonemos, para fixrì, ,rl
arte, .Ìue seapresenta como unidade âlcânçada a Partir da vâried.Ìde
idéias,o poema vlRsos Á nocl DÀNoÌrE- Rp:
e jüstifica a vida insatisfatóda,o sofrimento,â decepçãoe â moúe

Sinto que o tempo sobremìm âbate

Que confusão de coisas ao crepúsculol


Qüe riquezalsem pÌéstimo,é veÌdâde.
A €steencadeam ento opressorde oclusivas,atuandocoÌì a dLrÌ./ | Bon seriacaptáìâs e conpô-las
do inevitável,segueDìdezesseis esrroíesde quâtro ve nuÌn todo sábio,posto que sensív€Ì:
veÌsofinal (como sesetÌatassede reÌça-ima). Elasdesenvotvem ! rìl
meditaçãoda ìdade nadura sobrea insarisfâçãodo indivíduo co , uÍna orden, uma luz, uÌn: aìesria
sigo nes o, â nostalgiâde um ourro eu que não pode ser e a pc,
baiÌando sobreo peito despojado
Ejá não era o furor dos vinte anos
r u *r.tuRr,oR,jo.éoítulogèÌalconqu.opôebÌeunìu M AnÍoÌa!ìdI,r, I nem â Ìenúnciâ às coisasque elegeu,
.d, foÌ dc Òryani7ãda,
os p.enas dc ânáÌiseda pe6o!âliddd<.
^
se en.o.n"nlos poe.ìas scgurn
mas a Penetraçãode Ìenho dóciÌ,
JjCaN'! *mN,.ar NPj CìrÌÀ .jE.
!m mer$úho em pìscinâ,sem esfoÌço,
um achadosemdor,umafusão, €hegandôâosentimentoda inümaçãoem úda.i Esletema,quesepo
tal unÌâinte[gência
do Diverso deriachamardê emparedâmento, manifestaumaoPressão do seÌque
chegaã âssumi!a íoÍmâ de mortesnteciPada, visÍvel f.Ìsemais

compraclaenÌ sal,em rugase càbelo. recente da suâobra.'EnÌ compensâção, podedàr lugÂrà exumação
do passado, transfoÍmando â memória nüma fonrlâde vidâ ou de
EÍe poemafoi escritoeratamente nafaseemqueo auro4proc!- Ìessuneiçãodüm pr€téÌito nelasepuÌtado,como iDdicâo movimen-
Ìmdo supeÍarolirìsmoinditidualish,praticouum Ìirismo sociaì to d€ ÌedençãopelaPoesiâ,assinaladoem vFRsosÀ BocÁD NorE.
e mesmopoÌílico de gÍandeeficá€ia.É pois a faseem que questio- Ë assimvemosa sua obra constituir-sem medida em que open a
nou com maior ánsiãa exploÌaçaoda sobietividade.Tenáo aÌtisrâ frrsãodosmotivos de morte e cÍiaçao(negaçãoe âfiÍmãçâo).
o dìreitode imporaosoütrosa suaemoção, ospormenores dê sLrr Não, todãüa,sempassaÌpo. formasaindaúais d.rdsti.asdo sentì-
\ idã?O'lentiÌnenro do mundo"nãoexige a renuncia ao univcro mentodecuÌpa,indo aolimite danegação do ser,eçressapeloGmada
individìiâldaslernbrançasdo pâssâdo € dasemoções do presenlc? automutilação.óBsta pateceatenuada no hluÌroÍismo ácidoa respeito
TerãoeÌasjustificâtivas
seo poerasouberordeDarasnuma esÌru- (em
dâ qrÌedade denks e cabelos DtMD!Ì,\s DUPLÁS ' sM,por exem
tÌrraqueoíereça aosoutÌosuÍta visãodo rnundo,peÌÌnitindothes plo); masalonça uma agressjüdade inquietadoràem ceftossimbolos'
o.gânizaÍa suapróp.ia?Taisproblemâs passânem VERsos i !o(;^ como o brâço d€@pâdo d€ Mo\a\'rENmü rsPD.{' RPou a mãosuja:
DÀ \orrF, ligando mâis dois teÍras ao da insatisfaçãoconsigo
mesmo:o da validadeda po€siapessoaÌe o da naturezado verbo Minhã ÍÍtão estásuia.

Não ãdiantalav?r.
3 A águaestápodre,

Na obradc Drumnond a inquietudecomo euvãi desale âsfoÌ_ O sâbãoé !uúÌì,


nas Ìigeirasdo humor até a autonegação pelo sentimentode
culpa - que nelâé ftrndamentâÌcomo tipo de ideÍÌtìÊcaçãodâ p€Í, suiâhá muitos anos.
sonaüdade,maniÍestandose por meio d€ rraçosduma saliênciâ

Na suaimpurezasem Íemédio,a'mão incuÍáv€I"Polú o seÍ' im


Tenhohorrot tenhopenade mim mesmo pedeo contactocom o semeÌhantee cria a ànsiade Puíilicação Ao
e tedÌromu,tosoLÌtros
sentimentos \ujo vil l o

(EsrRAì!ínorEMEÌ.ANcóLrco- rÂ) 4 Vd os poemrt NorrÌNo .!N^!Do JiP^$IG.M D^ lotti _R

As Í[anifesraçõesindiíet6 sãotâlvezmaiseÌpressivas,
como a fre, 5 | vd, por €mPlo, FRr.r r $!snÀ clÌ rrmNo nÁ; o já cirado ttrclÀ,
qiËncia das alusôesà náuseâ,à suj€ira,ou o mqgutho em estados 6 I Ví: DrNnouÌ^s tur!^3 _ SM; Á xio slttr ,; Nós$ rÉvtu _ Rli
angusliososde sonho,sufocaçãoc, no casoer:tÍemo,selrDltamenro, ourra - RÈ rt{olNlrro D^ Br^D ' RÈ rND'c{çÕ6 Rr'.
rnsÌe sujo e seÌrsmâqu'nNmoq

e de mortaÌ desgosto pura , transpãrente


colar-sea meubrãço.

opõe se o "cristal ou diarìanterleÌn que A redenção pela nÌutilação de um eu insatistatÓÌÌo aparece em


tonalidade sangÌenlae tÌiunfal no citâdo MoaìMrNro Dn rsPADÀ,
Por maior contraste onde o sècriÊcìodo eu culposocondicionao acessoà soÌidariedâde'
que é a bunanidade verdadeira:

Opõe-se,principalÌlente, â hnpeza naturaÌ das coisas,a nornritj Estamos quites, iÌmão urÌgadol
Desceu a espâdae cortou o DÌâço.
Cá estâele,molhâdo em Ìubro.
umâ snnplesmão branca, Dói o ombro, mas sobreo ombro
mão sjmplesde homem, tua justiçâ resplandece
que se Pod€pegâr 4

ou prender à nossa A consciênciacrispada,revelândoconstrangìmentoda peÍsonãìi-


num dessesnìomenros dade,Ìeva o poeta a investigãr : mâquina retorcida dâ âlmai mas tam
em que dois secoDfèssam bém a considerar n sua reÌ:ção com o outro' no amor, na familia' na
senÌ dizer palavra... sociedâde.E as reÌaçÕeshunaÌlâs Ìhe pârecem dlspor senum mü1do

Desteestadode âni o Ìesulra um desraqueda mão-consciércìf, 'Ii vezíosseexcessode fantasiâdiz€r que axprópdas condiçiles de in
qlÌe na í tima estrofeaparecemoraLmenteseparadâdo corpoj qudr. teügènciadomundo-otsÌtpoeoespaço acompaÌúânraddormação
autônoma como nuÍì quadro surÌealista,perÌnitindo a nnagem tì do eu Ìeiorcido, em noÌàFes como: 'bndâl de ét!Ì / cuNas' curvâs"'
nal dâ substituição,doadreDtode outra, sintéticâeinÌpana suaàl 'tuÍva de um jardim'l "curyâ da noitdl"aduÍìca pescâria'l"cuvn peri
tificialidade: gosãdos cinqüenta","cuÌÌa desÌâescada'l"Ìinha curva que seestodCl'
Mâs não há dúvidâ de que para o poeta o mundo social é toÌto de
Ìnútil Ì€Íer iniqÈidâde e incompÌeensão.Sejaumâ defonÌìâçãoessenciaÌ, seja
â ignóbiÌ mâo suja unìâ deforÌnâçao cìrcunstaDciâÌ (o Poeraparece osciÌaÌ entÌe as duas
postasobrea mesa. possibilid.Ìdes), o fato é que elâ se articüÌa com â deformação do
Depressa, coÌ1á la, indivíduo, condicionàndo a e sendocondicìonadapoÌ ela'
fazêìa en pedaços
7 Rêspectiamdtc tJ H.Mr
Lom oÌ em po, â e s Pe ra n ç â LU'!Dor Jj DoMrcn0 - FÀ!O a
EsÍa Íecìprocjdaàe àe peÍspect'dr, para falar conìo os socióto!(tr. comono ímbolo perverso de um PapaìNoelqueentrapelofundo
aparece,desdeâsmãnifestâçaes inìciaise aindaindecisasdo ten]ir,t{, da casae furtt osbrinquedos (PaPÀÌ
adormecidas
dascrianças NotrL
munclo torto, em dois motivostratadosÈeqüenremente com hun)(,
rÌsmo: o obstácúo e o desencontro. Desdeo início,Pois,eravisívelna poesiadeDrummonda idéiade
Paraojovem poeta de AlS,'/4poeria, para o poeta mâis mâdujt, que,Parausar a expÌcssao deum penonagem deEçadeQueiÌós'ra
d,eBrejo das almas, a so.íedade ofeÌece obstáculos qrrc impedenÌ .l ímundo muito mal Estâ
feito'1 idéiavai aumeniando,
verdosnum
plenitudedosatosedos sentimentos,como no poemaquc serorn(Íl atéquedo mundoâv€sso dô obstáculo e do desentendimento suria
parac[gma,No Àrüo Do cÀMrìHo - ÁPj a idéiasocialdo "mundô€aduco'ì feitodeinstituiçoessuperadâs qu€
geramo desajuste d۟do
€ â iniqüidade, âosquais Òsh
No meio do cmriÌrho tinha umâ pedra, dilhôm na solidão,nain.ômunicâbilidadeeno esoismoA sufocação
tinha umâ pedra no meio do carnirìo do ser,quc vimos sob asformasdo empâredâmentoe dâ mutiìação
no pÌano indiüduaì, apãieceno Ptânosocialcono medo motivo
no meio do caminho tinÌìa uma pedÌa, importantc na tomãdâde consciênciado poelaer sDamaturidade_
O medoparalisâ,sepúraos homensno i$lamento' impedea queda
A leitora optativa a partiÌ do terceiÍo verso (qüe se abre parâ o\ dasbarreirase conservao mundo cadDco.coNcREsso INTERN^CIoNAL
dois ladoq sendo fim do egundo ou começodo quaÌro), confirn,,, Do vÊDo' SM, construídosegundo o mesmo processo de satumção
que o meio do camìnho é bloqueado topograficamenre peta pedr,l dâ palavrâ-chave empÍê8adoernìro u tro rc cru rrso' d€Keve essâ
ant6 e depoÈ, e que os obsrácÌ os s encadeim s€m fim. Da barreir.l paralisiaqu€ seestendea todos os níveis,k'dos os lugares'todos os
que formm, vem de um lado a restÍição que o mundo opõe âo cu r gruPos,Pâíaterminâr na parâìisia8erãlda morte:
é uma das forgs que o lenm a torcer; de outro lado, o desentendi
mento mtre os homens,cadã um "toúo no s€u Gnto', (SFriREr(, depohInorreÍemo< de medo
BA).lá no prìmeno livrc, aindaen tonalidadehumonsúcâ,o poenr.l e sobrenostostúmr os nâscerãofloÍês amrelar e medrosã5'
QuÁr,Rrlxr AP fâla de amores não correspondidosque s€ encrl
deiam numa srie aberta sem Íe€iprocidade: Maistarde,o poetachegaráa ÌePresentãr üm mudo fabúosâ-
mentecoDstruido com o temor quesetornamatêriâ e dos
dascoisãs
loão anava Teresaque anìavaRajmundo lei dâ! açÕes
serìtinÌentos, e ordemdo universÔ
que aDãe Maria que amava]oaquiD Cuearnâm Lìli
que nao amavaninguém. E fomoseducados parao medo
Cheiramosfloresde medo
Noutros poemasvemos reÌaçõesmecânjcasmanifesrando-se pol Vesti$otpanosde medo
exemplo na visita burguesaconvcncional,cpisódio de uma rolini De medo,vermeÌlÌosrios
sem aÌma,de que ninguém gostaÌnas da qual ninguém escapa(so
(,..)
O obstáculoe o deseDconrrocaracterizânuma espécjede mundo Iìar€moscasasde medo,
avesso,onde os âtos não tém senlido ou se processamno conrrârx), durostijolos Ìnedo,
de
medrosos cauies, Íepuxos!
ruas só de medo e calma. senü)-me no dúo dâ câpital do Pâis às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessaformà insegurâ.
NossosÊlhos tãô feli,es... Dô Ìâdo das montarúas,nuveDsmâciçasavolurnânì-se
F;éisherdcirosdo medo, Pequenospontos brancosDovem+e no mar, galinhãsem
elespovoam a cidade.
Depois da cidâdeo mundo. É feia.Mas é uma flor. Furou o asfâlto,o tédio' o nojo
Depois do mundo as estreÌds, e o ódio
dançandoo baile do medo.
ì-sr fun5aorede' ,orarl a pú$:4.d isociadaa un'i con! ep\ ; o\ n, d-
Ìista,ocorre em sua obra a partiÌ de 1935e avulta a paÌrn de 1942'
como pârticipaçãoe enìpenho Politico.Era o tempo dà Ìuta contra
A consciênciasocial,e d€la umâ espéciede militância atÍÌvés (l,l o fascismo,da gueÌra de Espanhae, a seguiÍ,da Guena MmdiaÌ -
poesia,suÌgem para o poeta como possibilidadede resgarara co.\ conjunto de circunstâìciasque favorecer:Ìmem tôdo o mundo o
.iênda do cstado de empar€damêÍto e a exislênciã da sirüação (tf incremento da Jìteratura participânte. As convicções de DrÌìÌrìmoÌrd
pavor-No importante poema HoR r À \ÁusEr RP,â @ndição irl se expÌimem com nitidez sus.itando poemas adnnáveis, alusivos
^
dividuaÌ e â condição so{ial pesam sobre a personalidade e fazem nr tânro aos p.incípios, simboÌicâmente tralados, quânto aos aconteci-
sentir * responsáv€l peÌo rìundo mal feito, enquanto ligada a u'rr.ì mentos, que ete cons€gue integrar em estÍuturas Poéticas de manei
dasseopressora.O ideâlsurgecomo forçade redeDçãoe,sob a fonnÍ râ eficâz, quase única no meio da alüvião de veÍsos perecíveis que
tÌadicional de uma ílor, rompe ar camâdasque aprisionan. Apc$r
da distorçâodo ser,dos obstácuÌosdo mundo, da incomunicabiìi MrÌsdo ponto de vista desteensãio,a suaPocsiâsocialnão é devi-
dâde,a poesiasearremessa para a frentenuma conquista,confuDdi da aperãs à cônvicção,pois decorresobretudod inquietudesque
da na mcsÌnaìnetáforaque a fevolução: do cu. enr r egt rJe , i I ne*
o d\dhdm. O r-r' mento de i n.r f iLiêDcia
mo,leva-o a qüerer completar-sePelaadesãoao próximo, substitu
Uma flor Dasceuna rual nìdo os problemãspessoaispelosproblemâsde todos
Pcsem dc Ìonge,bondes,ônibus,do.le aço do tráfego. Nolirro Se tinenta ào n do, â mâo, que simboliza a consciên
Uma fÌoÌ ainda desbotada cià, aparecede início como àÌgoque se€omPleta,se estendepara o
iÌude a políciâ,ronìpe o asfalto. semelhãntee desejaredini 10.Como o poetatrazo outro no pÌÓpno
Iaçam completo silêncio,pâralisemos negócios, ser cârregadode tÌadiçõesmortas, â redençãodo outro sern como
garantoque uma 0or nasceu. a redenção dde própÍio, justificado PoÍ ese adesãoa ãlgo exterior
que uÌtrapa-ae a sa humârÌidade limitada A Poesiâ consistiÌia o
Su coÍ rúo se peÍcebe. trâ7ar em si os pÍobÌemas do mundo, manifestando os NÍnâ espê
Suaspétalas nào s€ âbrem. cie de âção pelo testemunho, ou de testemunho como foÍma de ação
Seunome não estános livros. âtravésda poesìa,que compensamomentaneâmenteàs li\ações
É feia.Mas é realmenteunla Ílor. individDalistasdo'eu rodo retorcido'ì
Tenho âpcDasduar mâos
Maria CarpeâÌ!'(já o dissefaz tenìpo) eÌaé Dnì tnovimento oeso do
eo senrünentodomundo,
ser no mundo, não um 4$rr,4 mediânteo qual um vê o ouÚo. O
mas esroLrcheio de escrâvos,
seucantarsetornarealmentegeralporque é, ão Ìnesmotempo, pro-
!Ììinhastembrançasescorrcm
firndâmente particular.
e o corpo transjge
Isto não aplacaa inquieiude, nÌas favorecea noção de que o cu
na confÌuênciado aDror.
estÌarguÌadoé em paíe corìseqüência, produto das circunstàncias;
(SENÌìÌ!í[N'IO DO MUNDO . SM)
seass;mfor! oeu torto do poeta ó iguaÌmenteuma espéciede subic-
tividâde de todos, ou de muitos, no mundo torto. Mesmo que não
A idéia de esc.avo(de honìem privado dos meios de humani, I
contribuapaÌa rcdimiÌ o peÌsonagemque íaÌa na pdmeira pessoâ,il
sel combiDa-seconÌ a idéia de rìra, praça, cidãde (jsto é, o espaço i,
s{! destruiçãodo velho "mundo cadtrco"poderìa ârrastarcoÌrsigoas
en1que se defiDea suâ âtienâção)e ambas conÌeÌgem na idéii {t,
condiçÕesqDegcram consciêDciâs estrangulâdas. como a sua.
'mundo cadu.o'l Err(xÀ 1938 sM münao
- curasnomas nâo t(ì,1
lÌa$ razãode ser.O poerareagea estasériedc consratações quc.ìti Então, m€u coraçãotambém pode cresceÌ.
mentâm â toÍnadade consciênia ãe Sentine to.io m,do, rêcrsril
Ê ntreoi moreofogo,
do os temas do lirismo trãdicional e dispondo_sea partillìar, p.,j
entre avidã e o fogo,
espírito,da fabricaçãoprodi8iosa de uÍn Drundo novo aruncjtì(i,,
meú corâçãocrescedez meiros e er?lode.
pelos acontecimentos,que des.reveem pôemasadmiÍáveis,
r,riti - o vìda tuiurnl nós te criaremos.
zandosímboÌoscomo ar mâosdadas,aâurora, â fÌoÌ urbana,osnr,l (MuND.ìcRrNnF- slvl)
tizes de vcrmelho, o sangueredenror,o operário que anda sobrf (ì
In dr .r dn f eÍ J ndo Ur' rae rr d c p ro d rg i o \.
O adveíto dâ sociedadejusltìserìaumâ espécieiìe'1oqueÌeÀÌ",co-
Assim,pode revera escâlada peÌsonaÌidâdeeDrreÌaçãoâo nìun(1,,i
mo, num soDelocontido e obs.uÌo dc W. H.Auden, o contactomi-
e d€staveriíìcâçãoÌesuÌra acrésrimo de compreensãodo eu e do nÌu n
lagrosodos Ìeis laumãtügos, c uÍândo asdoresc mutilaçoesdo tem
{to, inclusivedâ retaçãoentr€ amboq o que daÌá .ova âmplitudc r
po. E nós veÌnosque a destruiçãodo "mundo cadüco"é não apenâs
sua poesia.Nâ ÊâseÌnais cstritamentesociat (?,àe Rosaào j)a1,o),
convi.ção poÌítica,mas um modo de mmifestar o grandeprobìema
Dotãmos,por exempÌo,que â inquietudepcssoat,ao mesmo temtÌì
dâ "terra gasta'lque t s. Eliot propôs Ìogo apósa Primeira Guerra
que se aprotunda,se ampÌia peta consciêDciado ..mudo cadÌÌ.o.ì
MuDdial e tem nutrido muito dâ aÍe contemporânea ãté às for
po6 o senrunentoindiúduat de culpa encontrâ,senãoconsoto,.Ìr
mas mais agudnsdo desespeÌopoÍ esteÍilidad€- na poesia,no ro'
menosuma certajusrifi€atiw na cuÌpada sociedade, que a equilibÌr mane, no teâtÍo e no cinenlâ.
e talvez eDÌ parre a eplique, O buÌguês sensivelse iÌÌterpreh
cnr A poesiasocialde DÌummond deveninda a sua eficáciaa uma es-
tunção do meio que o fornìou e do quat,queira ou Dão,é so[clário.
péciede âlargamentodo gostopelo quotidì.no, que foì semprcum
(Assim Dos criam bursueses'ldiz o poemã o MEDo).
o desejo(1. dos tuÌcros da sua obÉ e inclusive expÌica a sua qüalidade de eÍc€leDte
tmnsfoÌmar o mundo, pois, é lambém ma esperâDçade pÍomov.r
cÍonista em prosa.O.4 a experiênciâpolíti(â permitiu tÌansligurâr
a modificaçãodo própÌio ser, de enconlra. uma desculpapara
sL o quotìdiano atravésdo aproftrndâmentoda consciênciado outro.
mesmo.E taÌvczestaperspectjvade ÌedeDçãosimulrâneaexpliquei
Superandoo que há de pitoÌescoe por vezesancdóticona fiução da
eficáciadâ poesiasocial de Drunmond, na medida eÌÌ1que (Orro
üda de todo o dia, ela aguçouâ cãpacidadede apreendeÍo destino
tl

individuaÌ nâ nalha das circunsrânciase, .lestemodo, deu lr l. r l


No deserto de Itabìra
uma lonna peculiaÌ de poesiasocìal,não mais no seDtidop,,l L, ,, a sombÌâ de lÌeu pâi
nÌâs como dÌsceÌnimentoda condição humdh em certos (tr.r I rl
tomou'me pelamão.
corriquenosda sociedadenoderna. Tanto tempo peÌdido.
Porém nada dizia.
A por . iJ h, E iud o , ìi r -n .. d s o Íde \rdn ô . j o rn J .\. Não eÌa dia Den noite.
(CÁRTA S I A L I N cRÂDo RP)
^ Suspiro?Vôo de pássaro?

Estevelso maDifestaa fâculdadede extrair do acontecimenro.r,, (VÌ^ôrv N^ r MILr^ l)


da quenteuna vibraçãoprofunda que o ìibert:ìdo rÌansìiórnì,i I
cÌevendo-ono canpo dâ expÌessão.E o que faz DrunÌmonlt,, i,
Estepoema abre um cicÌo anunciadopor aìgunspoemasanterio
apcnascom os sucessos espetacularesda guerra e dalutasocì.1, rìr , res e desenvolvidosparalelamenteà poesiasocial,prolongando'se
con a morte do entregadorde Ìeitebaleadopeìo dono da casr,, Lr
todaviâdepoisdeÌâ,num riho de obsessiocÌescente. E é sem dú\-i
o romou por !m ladrão (MoRrx Do LFÌrEÌRo- Rp);
da curioso que o maior poeta socialda nossaÌiteratuÌa contempo-
que pedenotíciasda moça tlesaparecida (t*rr,{Rrcrul\fo Dr rL r râneâsejâ,no mesmo tempo, o grandecantor da familìa coÌÌro gru
?ÒRtr) NP)i sobretudo com o liomem da gÌande cidadc qur vj po e tr3dição.lsto nos leva a pensarque talvezeÍe ciclo ÌepreseDte
cumprindo DâquinâlÍrenteasobrigaçõesdo dia paraÌnorrer à ,,,,rr,.
nâ suâ obÌâ um encontro enlÌc as suâsinquietudes,a pessoaÌe a
nâ máquina que o arrebatou(MonrE No Rp). sociaì,pois a famíliã pode ser explicâçãodo indiúduo por âÌguma
5ob esseaspectola sLiâpoesiadifere dâ^vr;rc
de outros m coisaque o s,rperâe contém.AÌé disso,seobse armos a cronolo
clusiveMário de Aìdrade, que tentam llÌar o quotidiano a irr ,t,. gia de suaob fa, verificaremosque é precisamenteo aguçanentodos
obtererì um noneflro polrtco sulicienteem si mesmoj eìe,ao (, ì
temasde hquietud€ pessoale o npnr€cnìentodos le1nassociânque
trário, procede a una fecundâção e a uma extensaodo fâto, pafd ( t[
o Ìevam à sua pecuÌiarissimapoesiafam;liar,tio diversa,poÌ exem
gar a un espéciede discÌetâepopéia.la vida contenporânetì.tr,ll plo, da convivênciâÌíricâ de Manuel Bandeiracom a memória dos
tâlvezse ìigue à capacidadede nrjetar íantâsianas coisâsbaDìis,.l
avos,Pa$ e parenrcs morros.
naneira do jovem que,no poemaslNrÌNrENrÁL - Âp, e No pÌimeiÌo liEo, o poenÌainicial,já citâdo,defineo Ínodo de ser
da DamoradacoD asletÌasde macarrêodâ sopaie ranbénÌ âo sfr r,,
constrangido,de alguém que "um anjo torto" nandou "ser gaac,e
sentidoque o faz tÍiduziÌ À anedotana linguagemdo miro e d(ì \,, mvida'; já o seguiDteintÌoduza fâmíÌiâ,âpÌcsentâdanüm pequeno
nho, como a C^NçÁoDÀì,tocAlaNÌAsN{ rx B!r.o HoRlz.ìNn 5\1. quadÌo e\.ocativo,um daquelescronos tradìcionaisque os moder
inspiÌadanunÌahistorìetamacabranÌuito correntea cerraaÌturr.
nistas gostâvam de refazer na châÌe do huÍrorismo, do prosâísno
oü do paradoxo(INrÀNcrÀ BA).Mas apenasno terceìrolivro surge
5 uma espéciede prenÌonição.lâsuaíuturâ pocsialamiÌiìÌ, no pc'em.Ì
Os N{oRÌosDEsoBREcÁsÁcÁ SM:
Aliás, é atravésdo soDlìoque o poeta nos introduz numa ou | ,
grandemànifestaçãode suâ inquierudq â buscado pâssâdoatrrv, r
Hâviâ a ufl canto da saÌaum álbum de fotografiasintoìeráv€is,
da família e da paisagernnataÌ: âÌto de nÌüitos metÌos e velho de inÊritos minutos,
em que todos sedebruçãvam que arrãstandoo Êlho, isio é, o grüpo famììiar,dominado pelosan-
nâ alegdâde zonbar dos mortos de sobrecâsaca. cestrais,fundido nã casa,na cidide, na província,na realidadedun
passadoque pãreceíntegro a dislâncil e compensao serdiüdido no
Um vêrme pdncipiou a roer ns $brecàsâcas indiferenles mundo dividido Frta busca é Ìrm dos âlvos do poela, embora não
€ roeu as pá8inâs,asdedi.âtóÍiìs e mesmoa pocira dos ..tr.rt,,. deúe de s€r paÌadoxal paÍa qucm disserâ:
Só não roeu o imortal soluço de vìdâ que rebeDtava
que ÌebentavadaqueÌaspáginas. O tempo é a minha maléria, o lemPo presente,os homoÌs presenÌes

A hipérbole do segundoverso írostÌa que o álbunÌ é ao nì.\ ,r', (MÁ osD À D A' SS M)
teÌnpo um jazigo,e a anbigüidAdeseprolongapelaaçãodos vf| | ,
nâ estrofèseguinte,resultandoo scÈtinento de que os antepi$ú ,, Todavia,é destee outros paÍadoxosque se nutre a sua obÌâi â ob_
possuemuma hunÌanidadcque permanecevìm, apesarda dcslr!l sessâosimuÌtâneade passãdoe Presente, individual e coletivo,iguâli
çâo corporaÌ.Entre elese o poetâscesboçaaqui um pÌimeiro Írrì ,Ìl Semo conhccimentodo passadoeÌenão sesi-
tarismoe aristocracia.
to misterioso,comunìcandoa vida com.r norte, o descendenlc!'jIl tua no presente;a família definee €xplicao modo de sencomo a ca
o âscendente, de modo a eÍabelcc.r ml sistemade relaçõese Lìr, sademarcae comPletao indivíduo no meio dos outÌos:
cipaçõesque a poesiaultcÍior d€s€nvolvêrá-
 obsessão com os mortos apârcceÌáDo poemaOs RosrosìÀ,,'\|, Uma pa.ede marca â rüa
L do Ìiwo seguinte.Ao mesmo rêmpo se deline;ãa Ggurar1,r1'.,, e ã casa.É toda proteção,
(que seráa obsessão máxima destccìclo) no poemaEDÌFnro I \ i , docilidade,afaso.Uma parcde
DoR- L expandindo se c combinando-scao tema da cidadcnrli , ri se eÍcostaem nós, e ao vãcilanleajudã,
maniíestadoanteÌionnenteerÌ Vr^r!r\r NArÁMtlr- ao tonto, ao cego.Do outro lado é â noite,
A paÌ1n daí o tema do pai avultlÌcon1oÈuçãq de sent oao nr\ o Ìledo inÌemorièÌ,os insperores
mo tempo psicotógìcoesocial,ldntonìâisquanto nessafasea nì.r( !, da penitenciâria,os caçadorcs,os vulpinos.
apaÍeceepisodicamentc duasvezes, trânsferindosea suafunção |l i Mâs â casâé um amor. Que pâz nos móveis.
a câsaou a cidade.E tão viva cstapresençade cunho patriarcaì,(ì(r. (O\DE HÁ Porjco FÀLÁ!ÁN(x- lÌlJ
uma baladacomo C,!so Do vFsrrno - RP,completamentedesligi, ì
.lasÌenìbrancâsindividuaise da po€siãfamiÌiar,chegaaparecefu,ìi.l Sob esteaspecto,o poemn capilal a os BENS E o sÀNcuE cE, que
espéciede núcleodesscpoderosocompluo. Das brumasd€ un li' h estâbelecea ìigâção entre o passadoda fâmíliâ e ô presente do indi
nìo quas€ foldóÌi@, su.ge ncla o patriarca devoÌ"dor que esm<ìg!,(\ viduo, através da foÌma altamente signincâdva ale um testamento-
sêüse impõe a próprìa \€leidadeconìô leì moral. Os outros poenrr, Os dtepdsados fazem certos negócios que destroirão dPressamenle
eÌn que apaÌeceo pai,diretamcDtcreferidocoÍnoo do poera,ìembìr, Ii o pairimônio fâniliâr, paÌa assnìì coDfornarcnl o desiino do neto
u m d t ' \ pF , : ede e\ l o n j u rú ,d e rn ô tó ' i u rìro . Íe i to parr ru rne..:r, vFR$s À !oc^ D.\ NoÌrE esÌabeìecia a hipótesecondicionalde um
teÌnpo aplacaÌ,humanizar c compreendereste modelo exlrcnì,ì ouÌ' ú cu !ue poderi dre-\i du.r cuiaAi't cn. ia f i. "r a com opr r r J\ il
Tanto nÌajsquanlo, a ceÌ1aalnÌra,o prì individuaÌúado vai cedenrl,, tualidade no murdo da ir, fàncid, entre "os ídolos de Ìosto carÌegado'l
lì.Ìgarà realidadenaior quc Ìhe dá ra,ão de scÌ e para a.Ìuaì ir conr,, isto é, os maiores e seusvalores,a partir d.ìs quâis a vìda sedesenrolou
Em OsuENs r o s,$cu!,parececonôrmaÌseque outro modo de ser((1 r festârô pÌobÌemapor intermédio de uma estruturacoer€nte,erige
sido impossivel,pois o quc existejá forâ predêteminado desdescn1r , se en objeÌo alheio âo poeta, autònomo nà sua possibiÌidade d€
na própÌia naturezâda familia quc o gerou- O extraordinÍio pod.r ,l , fixâr â âtenção e fâz!Í vibÍar o leilor, qu€ é o ouúo, inatingívet no
gÍupo Êmìliü @nsistúia em €x.luir qualquer ouEo modo dc scÍ t'.,| .ì comércio da úda. Por is, vrRsos À üoc^ !,^ Nôfr! temìinâ poÍ uma
o descendenlei consistirianumâ imdência todo-poderosaqur llr espéciede desejode reaÌizaralgo completo €m si que fosseuma
traça bitolas e explica por que ele precisÂdeÌâ para compreendcr | { realizaçãonos dois sentidos:o psìcológicoeo âÍtcsânâÌ.Por meio do
Desmo, na sua nâtueza e nas suâs reÌaçÕes.ReciprocâmeDte,o nrl objeto poéticoinstituído, o eu do poela sedissolvecomo psicologia,
destino corììpleta e expÌicâ o cta1àmilia, qüe tdnbán não podd ii d de' fi E urddoD el J' rrn..po' i l ro.ri ador a.a f im {ì r p'opir r â' um . i-
sido outro.No citadopoenìa,â peroraçãomraÌ dosârltepassados lc, ,.1 tena expÌessivo,do qual foi apenasa semente.
o debâte sobre o ser e o não-s€r, que até eÍtão anÌtar.À na pocsì,r ,1, Mas ao longo da obra de Drumnond, nâo obseÌvamos.Ì certeza
Dr unì ond. f c . ha ,d oo \i rc u i l od ,r i rìd i v rd u e
o o ò . ur. nri ger estética,nem mesmo: esperançadisto,e sim a dúvida, a procura,o
debate. sua poesiaé em boa parte umâ indagaçãosobÌe o probÌe-
ô desejâdo, ma dã poesia,e é íatuÌâl que €staindagaçãoencontreuma espécie
ó poetade uÌna poesiaqu€ s€ Íurta c cvande de divisor de áglas em Se''i,e''o do mrrlo, que tmbém aqui
à maneìrade um lago de pez e r€síduosìetâis.. mãrca os seuscamÌÌúos novos.
Ês nosso fim natüÌâl e somos teu âdubo, No Ìivm iniciaÌ, domina a idéia de que a poesia vem de fora, é dada
tua explìcaçaoe tua mais singelavirtude... sobretudo pela mtwza do obieto poético, sogündo â reconsidenção
Pois úr€cia que um de nós nos recusrss€ dô Ínondo grdçàsd qudÌo\ moderni>l/5Ìompe,anìco
para melho. servir nos. Facea face acadêmicãs.DrunÌmond começapor integÍar-senestà oÍientação,
te contemplamos,e é teü êsseprinìeiro fâzendoo vaÌor da poesiaconfundiÈsecom o sentimentopoético e
e úrnido beijo eÌn nossaboca de b.rrro e sarro. reduzindo em conseqüêncìâo poema â uÍr siÍìpÌcs condutor:

Gasteiluna hora peDsandoum verso


ó que â penà nao queÍ escrcveÌ.
No entanto ele estácá dentro

lá 1ìcoudito que todasessasirÌquietações(materialsobreque rr.L


balha o poeta) adquirem vàlidadeobjetiva peÌo fato de se vincrl.l
íe n a m J oulÍ d: d me d ú a ç ã oc o n ìrd n ree p o r vezesn;ú nrer!\ Mas a poesia deste momento
ângusliada sobre a po€sia. inúda miÍha vida ìÍena.
A mtu.a e situâção do ser, o prôblema do homem retorcìdo I
enrodilhado,que terta projetar-seno nundo i8uâlnente torlo, .
gÌavepela paÌaÌisiâque pode úazcr aDulaDdoa existência.O DNvi A poesiaparece(para usaruDa defiDiçãosuâ dessâfâse)"aconte-
mento, isto í ã vida, eslariâDuma espécìede ceÌtezaestética,rclìli cer" sob o estímulo do assünto,de tal mâÍreitôque Ìhe é coextensi
va à Daturezado caDtoque redime!e que, no próprio fato de nìifi vJ: i rl -- peìo.rmpìe.regi .rrod, e r noçioou da pehepçao:
89

Ncnnun desejonestedomingo E arevol ução?oamor?


neÌìhurn ProbÌema nestâ vida Não digâ nada.
o mundo paÌou de repente
os home!Ìsficaran câlados Tudo é possíveÌ,só eü impossível.
doÍningo sen 6m nem começo. O mar transbordade peixes.
Háhomens q e andam no nar
A mão que escroe estepoema coDo se ândassemnâ ruâ.
Ììão sabeo que estáescrevendo
mas é possíveÌque sesoubesse
Suponhaque un ânjo de fogo
(?onM^eu! Á(bNrFcru - Â"1 Yarresseâ faceda terra
e os homenssacÌificâdos
No poenÌa E{prÌcÀçÁo- ÂP, a atividadepoética clÌegaa parec.l
uma espéciede desabafoque sejustificâpcÌoprazer,o alivìo ou a,ri
vidade que prcporciona.
Essãindiscrimìnâçâocomeçaa ser posta em dúvida no pequeno
poenâ slcREDo BÂ, do segundolivro, em que â ÌegitimidadedrÌ Nest€poemâ,o "homem toÌto" manifestao Problena dàinconu
poesjaé bruscameDte questionadà,como seo poeta descobrisse qu. nicabilidade,ianto no pÌano da existênciâquânto no da criação A
os temasnâo importam em si mesmos,destacados dâ palavrnque os partir dãí obse âíemos una dìssociação relativa dos dois PÌanos, e
traz ao mundo do poema. E que, portânto, não se trata apenâsd. o poetââbordao pÌoblemâ da poesiademodo esPecial, nuna posi-
encontrâr a notaçaoadequâda,nas de sabeÌ se eÌa sejuÍifica poÌ ção que poderíâmoschamarmallarmeâna,porquevê no âtopoétjco
um ouko sentido,que a contém e ocasionauma eryressãolá1idr uma luta com a palavrq pârâ a quaÌsedeslocamâ suadúvidâ e a sua
por si. O teÌna da inquietaçaotranspona se para o domínio esréÌi hquietação de âÌtista.É o que vem pÌoPostode modo cÌâÍo no LU-
co, e os assuntosmais consagrados(o âÌìoÌ, ã pol;s,o miÌagÌe,a Ìc raDoR- Lcujo início paÌece,peÌoÌitmo e âentrada no assutìto,uma
denção)paÌecemeventúaÌnÌentenulos como fontesdo poeÌna,qu( espéciede transposiçno irônica do hino escolar que abriâ o Segllrdo
daqui a pouco eDcontrarájustificativa, para o poera, nâo conÌ) litro .1eleiturd deÍonÁs Galhardo, uslÌal na geraçãode Drummond:
referônciâaum objeto,mas conÌo e\?ressãoque setorna ela próp.ii
uma espéciede objeto. LutâÌ com palavras

A poesia é incomunjcáv€|
Fique tono no seu canto. mal rompe a ÌnaDhi.
Nío ame. Sãonuitâs, eu pouco.
AÌgumas,tão 1òrtes
Ouço dizer que há tiroteio
âo âlcancedo nossocorpo. Não Ìne jlÌlso louco.
91

 partir daí,o movimento negativoPross€gue num crescndo qüe


podeÌ de eÍ@ntálas. faz prevcr a mesma condusão dos pequ€nos versos
MasÌúcido e fiio, doresde 5Ê(;REDo. Mas o poema8rrâsobÍesi e, numasegundâpâÌte'
erTardeâ t€oriado combateinútil nas iDevitável d'o ruriDon A
poesiàestáescondida, nasPalavrasi
agarrada o trabalhopoéticôper-
pârameususrenro mitiÌá ârranjálasde tal Ìnaneiraqueelâsa libertem,poisa poesia
não é a arie do objeto,comopareceriâ âo jovemautoròe ALgtna
poesia,Ììâs do nomedo objeìo,paraconstituirumâÌeâÌidade noLa-
Com serena lucidez,o poetarenunciaà luta âl8o e
esPetacular à sua
As paÌarâspareccmentidades rebeÌdes e múÌtìplas,que o poer.l própriaveleìdade, a Ân de que estapossar€nascer como palavra
Procuú atrair, mâs que fog€msempre,quereleasacâricie! qucr.s
maltrate.É umr lutadesiguaÌ e inglória,contraobjetosinponderávej\
que(c de\ldl,em aoconrrcroi mâsquela\cinnm. e aosqudiso piLj., Penetrasurdmeíte no reino dãspaÌavÌas.
nãoconsegue renunciar.
Detalmodoque,rermìnado o diae o .,jnúriÌ Lá estãoospoemasqueesperam ser$critos.
dudo ì "a luta pÍosegue / nasÌuas do sono': Êstãopa.ãlisados,masnão há desesP€ro,
O dramâ destap€squisase d€s€nrolade manena mais complct,, Há.alÌnâ e ftescurana superffcieintacta.
em PÌrrRÂ D^ft,FrÁ,de RoJ,do pola cujoscinqüeÍta e oiro versos Ei-tos,ós e mudosem estadode dicionário.
debatemo problemxdos âssuntos,pâÌa concluíÌemque em si cl(r
nada são,o que é tânro mâis significativôquoÌo o poeÌavrlri Esteé o momentode maisprofundaconsciêncià estéti€aem suâ
naqueÌaalturaa descoberta e a práricâãpaixonâda da poesiasociatl obra,o nìômentoda clarjvidên€iaem fâcede tudo quenoÍmalrnen
te o âÌÌgusúa. MomeÍto em quepôdesuscitarurnaaveDtura mito-
Não façasveÌsossobreâcont€cimetrtos. na
lógicada criâçâo,encarnando PaÌaYú a imanênciaque â rege E
Nãohá criaçãonemmorteperantea poesia. é tâl o fervonqueum versocomoo último do treclÌo citado ("Ei los,
Diante dela, a vìdâ é um sol €státìcô, sóse mudosem estadode dicionário"),arraigadonoshábitoshu
nãoaquece nemiÌumina, moÌlslicosdo Modenismobrasileiro, é aqui,todavìa,severoe des
A' dfinidâde'.osriversáÌios,os incidenre,pe$odr( carnado,com urna verdadeque faz a imagem PareceÌexpressao
não contam. diretâ. E €staentradâno mistério possri umâ gÍavidaderituãl qu€
Não fâçaspoesiâcom o corpo, Ìembraã penetÌação em certosespâços mágicose soÌenes de Murilo
esseexcel€nte,compÌetoe confonávelcôrpo,tão infeNo Mendescomoo d'OsÁÀrÂNftrs sunllÁRrNos (Asaetdlroúse5):
à efirsãolíricl
Tuãgotade biÌe, tua carerâdc Sozoou de doÍ no 6a-uro Eíâ noite eu te ú@ntÌo nassolidÕesde coÍal
sãoindiferentes. Onde a forçâ da vida nost.ouxe pela mão.
Não me revelesteusseniimentos,
que preúaÌecem do equrvoco e lenrìm â lor8d viagem. paÍa
Hâveriaparadoxoem ÌregaÌpÌeÌimìnafilenteos assüDtos'
'e
O quepensas e sentes, issoaindânãoé poesia. coDchn qüeo objetodapoesia
é a da
manipulâção palâvrâ? nada
Esta,
9'

mâis sendoque a indicaçãodâs coisôs,dos sentimentos,das ì(lfi.,,, Trata seda decisãode usarapalavracom o sensodassuâsrelnções
dos seres,não existeseparadadà suar€pÌesentação; nãs paÌa o Plrtr umas com as oütÌas, pois a arte do poeta é poÌ eÌceÌênciaa de or-
tudo existeantesde mais nadn como pàÌav.a.ParaeÌe,a eryeriarn .l dend estruturasio tipo escolhidopara associarosvocábulos(tìÌvez
nâo é autênticaem si, mas na medida em que pode s€Í Íefeiri ri, o "desênho oo .éu livrc'') é que transforma o lugar-comum em re-
universo do veÌbo- Â idéia ú existe como paÌarÍâ, porque só Ír(.[ velação.Em PRocL'R^D^ Potsra,a penetraFo no reino das pâlavras
vida, isÌo é, signifiodo, gEçai à es(oha de umâ palaEa que a dcsilx consislensa atividade,e o poeta se reÍerelogo a seguir' não aos
',1 vocábulos, que são um momenro dâ pesquisa criadoÌa, mas à PeÍ-
e à posição deía na estrutuÍa do poema. O trabaÌho poétjco pro, h |/
uma espéciede voÌta ou .efluxo da palavrasobreã idéia,que enr,r' cepçãoimediata da estrutura em que podem ser ordenados E nós
ganha uma segundanatureza,uma segundainreligibíidade.Ttìrìr,, percebemosque a germinaçãodo Poem: coÌÌìo un todo é que o
Âssim,que o poema é geralmentefeito com o lugar comum - a ve trr guia nessaaventuraóíica:
peDa,a velhâ âlegria,a veÌhâp€rplexidâdedo homeÌì. No entant,,,
quando o lenos ele parecenovo, e só numa s€guDdafaseidenriiì Convivecom teuspoemas,,lntesde escÌevêìos
caÌnos os objetos de semprejele então completâ a sua taÌefa,.!' Tem paciência,se obscuros.Calma,sete pÌovocam.
parecerum enunciadomuito mais claro e Ìenowdor daquiio qrr Esperaque cadâim se reâlizee consume
s€ntiamose fâzímos. Nas mãos do poetao ÌugaÌ-comm se roÍrì.1 com ser poder de palavra
revelâção,graçâs à palavra na qual se encamou. e s€u poder de siÌêncio.
O tÌabâlho necessário a isto é grande parte do que chamanriN
inspiração. Consiste nâ capacidade de ÍÍìânip'nar as palarras ncu o poema é, pa.a além das palavrâs,um conquista do inexPrimlvel
tras,"em estâdode dicìonário" (que podem serúrparacompor uDì,1 que elàsnão contêm e diante do quâl devem capitular, m6 que Pode
ftêsc técnica,uma ìDdjcaçãopÌática ou um verso) e quebrar o s.rl ÍìâÍrìfesiar secomo sugestãonisÌeriosa nas Ìesonàncias que eÌásdes-
estadode neütÌalidadepelo discernimentodo sentidoque adquircnr pertam, umâ vez combinadar Âdequâclamentele que' indo pe.d€r-se
quando combinadas,segundouma sinlâxeespeciaÌ.fticialmenrc, i Dasárcas de siÌéncio que as c€rcâm e se insinuam eúre eÌas,são uma
precho rejcitar os sistemasconvencionais,que Ìimitam e mcsnÌì propriedadedo poema no s€u todo. A obsessaomallarmeânada
estedlizama descobeúados sentidospossíveis. Daí a decisãode ufì pàÌavracomo violação de unÌ €stadoabsoluto, que seria a não-Palavra,
a página bÌmcâ, n1asque ao mesmo t€mPo é nosso único recurso Para
evitaÌ o nauliágio no nadâ, se insinua neste poema decisilo e c\püca
Não Íimdei â palâyÍa sono o recolhimmto, a €autela com que o po€ta segueÍa bu5ca do equi-
com . inconespondente palavm outono. Íbío precáÍio e mâ.ãvilhoso, o ârÍânjo da estnttm poáica, que ú
RimaÍci com a palavra carne pode ser obtido ao fim de um emPenho de toda a Personalidad€:
ou qüalqueroutÌa, que todasme convêm.
As palâvrasnão nasceÌnamarradas, Não forceso poema a desprendersedo linbo
classaltam,sebeijanÌ,se dissolvem, Não colhis no chão o poenÌã quc se perdeu.
no céü ljvre por vezcs um desenho, Não aduleso poema.Aceitn-o
sãopuras,Ìargâs,aurênricas,indevèssáveis. como eÌe aceitará sua forma deÍìÍitìva e concentrada
(CoNsÌD!RÁçÁo Do poEMÁ- RP)
A'forma no espaço'iâ configuÍaçãoobjerivaque encerrâo senr' 7
dogÌobalparaquecadâpaÌavlaconrribuiupelasuaposição, depc,r
dedessâ paciência,corÌìpÌemento daÌutâ iniciâldescrira
erììO ru LÁ A obra de DrummondapresaÌtaoütrosasPectos e, a partir d€
DoR.Como.rÌúidades isoladas,âspaÌtrvms espreìtâmo poetrìe po Claroenìgna,vmaún.Jtã,o dos que 4cabamde ser iDdicados Assim,
demarmarlhe tocaiâs. EÌeentãoaspropiciâ,renunciando ao scnri poÌ exemplo,â cÍispâçãos€atenuaou sublima,PeÍmitindo no últi-
m€nio bruto, à gÌafiâ cspontâneâda emoção,que arisca confundi mo lïno, Liçnode coísatcÊÍtarecuPemção do humorismo inicial e
tasnum jorro indiscriminâdoi elascapitulÂm e de;xam-se colhcrnr um interesse renovado pela anedota e o fâto correDle' tÍatadoscom
redcque as orgaDizaÍá na Ìrnidadetotal do poema.Obra difìcìì( relativagratuidade.
perigosr,poisessaexploração depende da siìbedoriado poeta,único TâÌvez sejamaisimpoúantea trânsfoÌmação dasinquietudes' ge-
juiz no ato de aÌranjáìasl randocertaserenidâde e,.pressa
não apenas pelo significado da men'
sâgem,mas pelaregulaÌidadecÍ€s.enÌeda forma' â que o poetapâ_
Chegâmaisperto e contemplaaspalavras. rec€tendercomo fãtoí de equilibrio na visãodo mundo-Entretanto,
Cadauma essâserenidade é tanÌbémliuto de lma âceitação do nada da
lcnÌ mil facessecrctas
soba fâceneutra morteprogressiva na eístênciâde câdadiai da dissolução do obje-
€ te pcrgunta,scmi eress€ pelaresposta, negação da PrópÍiapoesiâ.E surgemversos
,to no :to poétìcoatéa
pobreou terrivel,quelh€deres: de uÍn niilismo mais âÂâdoque Íunca:
Trout Bte a chave?
Poesìa,sobreospÌincíPìos
e osvagosdonsdo universo:
Obra,aÌémdo ÌÌais,fÌágiìereÌâtiva, poisâspaÌavÌas estãoprontas en teu regaçoÌncestüoso,
â cadainstãntepâÌaescapâÌ ao comandoe sere.oÌhercmà ausêncià o beÌocânceÍdo v€rso.
de signifi€adopoético,ao Ìimbo do quoiidiano,ondesãov€ículos (BRrÌrDFNo sÁNoutÌÈDÁs\aus^s'FÀ)
k'n diSnidade espRial.Ou enEioa permànecerem no unrv€rsoini
ciaÌdo sonìo e do inconscienie, ondeprosseguia, no Lurlrlron,o Estasindicações (outÌâspoderiamserfeitas)ser\Emparadefinir
combateinfrlÌÍfero do poeta,que eÌ:Ìspodem olhar como a quenr o caráteÌÌimitado TÌata-se
do presenteensaio. deumôânáÌise sobre-
faúou, a quemnão soubedispólasnâ uDidadeexpÌessivâ. O gelo tudo descritiva,na medidâem queidentiflca algus t€mase investi
do màÌogrÕ, na fimbriâ €ntreã deÌibeÍaçãoe o acâso,passânosvèÌsc gâ a süa ocoÍíência.Ao mesmo temPo,é voluntariâmenleparciaÌ:
finais destepoema um dos mâis admiráveisda liteÌatuía contem- abrangeapenas€ertoÍúmero de temâs,pam anâliú-los ntma fase
da obrâdopoeta,pressupondo queformemum todoe queestafase
sejadecisìva.Àlém disso,
sendoumèinvestigação t€mática, baseâda
Repara: nâ psicologiaquecirculanospo€mas,dei{a de lâdoâ aÌ1áÌiseformal
crnÌ:Ìsde melodia e con€eito qu€a compleÌaria e à quaÌpÍetendeseruma espécie de introdução
elasseÌefrlgiaramnâ noite, aspaÌavíâs.
Ànda úmidâse impregnadasde sono, Na obra de Drummond, a forçâ dos Problemasé tío intensaqu€
roÌamnum rio dificil c setransformâm em despÌezo. opoeÌnâparece e organizar-se
crescer emtomo deles, cômoarquite_
trÌrÀque os projeta.Daí o relevoqueâssumem e a necessidade(t( Ele reduz de làto estaautonomia,suìrmetendoo a coftesque o blo-
identificáìos, âtravésdo sistemasimbólicoformadopor eles.Âprìl queiam,â ritmos que o cÌeÍroncam, a distensõesquc o lfogâm em
tiÌ d€les,por exempÌo, é quepodemosconpreeDder um dosaspct unidâdes1naìsampÌas.Quando adota forrnas pré-fabricadas,€m
tosfundamentais de suaarte,â violência,
que,partìDdodo prosrís que o versodeve necessarianeDte sobressair,
conlo o soneto,pÂrecc
mo € do anedótico nospÌimeiroslivros,seacentuaaopontodecxlc escorregarparacertâfriezâ.Na verdade,com eÌee Murìlo Mendeso
fioÍÌzâI a compulsãointerna,num verdadeirochoquecontfa (i Modernismo brasileiro atiDgirÌ â superaçâodo vcrso, pcÍrllilindo
leitor. maneirade Graciliano Ramosno romance, Drummonci, nn mânipuÌâra e\pressãonüm espaçoseÍnbarrenas,ondeo fluìdo rÌìá-
poesis, .er
n;ropro.u-d dg'adavel. rìemno quediz.nfln na rììrnei-.. gico da poesiadependeda figura total do poena, livrementecons-
POrqueo dz: truido, que ele entÌeviu na descidaxo mundo das palavras.
(196s)
lu querocomporum sonetoduro
comopoetaãlgumousaraescrever
Eu qìreropìntar um soreto escuro,
s€€o,âbahdo, dificil de ÌeÌ-

Quero que meu soneto,no tutüo,


nâo desperteem ninguém nenhüm pt1ftr
E que,no s€umalignoar imaturo!
ao mesmolempo sâibaser,não ser-

Estemeuverboantipáticoe ìmpuo
há de pungiahá de fâzeÌsofrer,
ÌendãodeVênussobo pedicuro.

Ninguén o lembrará:tiro no muro,


cãonijando no caos,enquantoArctüro,
claÍocnigma,sedeixasuÌpreender.
(oFkrNArRÂrrD^ cE)

'lìÌlvez sejaeÍa uÌnâ das causasque dâo ao seuverso o aspccto


secoe antimelódico. Mas é precisoconsideÍarrrmbém que a sLra
maestriaé menosa de um versificador quea deum criadordc inÌa-
gens,expressões e seqüências,
queseünculamaopodeÌobscuro dos
tenase geramdiretmeDtea coerênciâ torãldo poema,rclegando
quâseparaseguìdoplanoo ve.socotÌo umâ u dãdeaurônomr.

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