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DRIHA, 1996: 161-179

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joc7=>. Comerciantesi e Concubinas: ·
sócios estratégicos no comércio Atlântico-na costa da Guiné
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:z: I. Introdução

� ÁFRI CA: ,_ O canto pequeno de África Ocidental que hoje.em dia se chama Guiné Bissau tem mais
importância que a sua dimensão reduzida faz supor. As príncipais razões se prendem a questões
culturais e económicas; ambas vistas numa perspectiva histórica. Á diminuta presença de portu­
gueses .é certamente..o..factor .mais marcante, ao contrario da influência lusófona que tem sido
.,_; exetcida por luso-afrlcanosao longo dos últimos cinco séculos. Enquanto as suas fronteiras actuais
resultaram de _acordos bilaterais enlR; Portugal e França feitos no último quartel do século XIX, o
mapa cultural lusófono abran_ge um território mais v:asto, embora bastante disperso, A difusão da
., língua Crioula por estas fronteiras fora na zona do Casamance, que faz parte do vizinho Senegal

A Dimensão Atlântica da Africa e onde hoje ainda se trava uma guerra pela independência, é um factor para ter-se em conta. As
ilhas de Cabo Verde .e os seus habitantes são certamente os que mais estiveQIW..Jl:>SOCiados com a
manutenção de uma presença luso-africana nestas paragens (ver Albuquer41ue/Santos, 1991/5).A 1

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criação de entrepostos na Costa da Guiné integrados nas rotas comerciais afriçanas e atlânticas
foi; contudo, o factor mais decisivo para assegurar esta presença, sempre em função de mediação
II Reunião Internacional de História de África: de interesses mercantis..O 'trato' de ouro, escravos, coiros e cera, e·mais tirrde_de amendoim e
caju, levou mercadores atlânticos a negociar as condições de-troca de bens e produtos através de
agentes fixados dentr_o e fora destes· enclaves. O elo entre as duas vertentes é essencialmente um
duplo processo cie 'crioulização' e '.africanização' de séculç,s," mais entre 'luso-africanos' e 'afri­
Evento integrado às Comemorações !·
canos' que entre 'europeus' e 'africanos'. Se a participação de africanos já foi pouco estudada, o
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papel de africanas nestas mudanças fica (por enquanto) quase desconhecida. O c�o da Guiné
do V Centenário do Descobrimento do Brasil
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(Bissau) revela algumas particularidades neste plano.em que mulheres africanas e luso-africanas
se distinguem pela sua 'força e fama' numa região marcada por uma presença europeia muito
· reduzida em termos de dimensão e duração. ·
É da colaboração entre interesses atlânticos e africanos que se trata neste ensaio. A histó­
ria do comérçio que se desenrola ao longo dos séculos numa corrida frenética entre várias potên­
cias nortenhas (incl. europeias e dos EUA) é de tal maneira complexa que já ocupa quilómetros
de prateleiras nas bibliotecas e arquivos por todo o mundo. Portanto não se pode pretender conta­
la num espaço pequeno como este. Há no entanto várias razões. para ensaiar uma digressão pelas
catacumbas da memória colectiva deste encontro histórico que tanto contribuiu para, na prática,
Rio _de Janeiro (Brasil) contradizei- um imaginário 'a preto e branco' das ·relações humanas.
,. · 30-31 de outubro a l de novembro de 1996 No que diz respeito� lacunas de informação é curi_oso notar o uso _do termo 'branco' para
descrever o desconhecido: não teria sido mais lógico pintar as zonas descobertas de branco'!.

* Centre ofAfrican, Asian and Ameri�idian Studies (CNWS), Universidade de Leiden, Holanda/
CEA-USP/SDG-Marinha/CAPES Centro de Estudos Africanos e Asiáticos (CEAA) do IlCT, Lisboa/Portugal.
São _Paulo, julho de1997

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