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joc7=>. Comerciantesi e Concubinas: ·
sócios estratégicos no comércio Atlântico-na costa da Guiné
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:z: I. Introdução
� ÁFRI CA: ,_ O canto pequeno de África Ocidental que hoje.em dia se chama Guiné Bissau tem mais
importância que a sua dimensão reduzida faz supor. As príncipais razões se prendem a questões
culturais e económicas; ambas vistas numa perspectiva histórica. Á diminuta presença de portu
gueses .é certamente..o..factor .mais marcante, ao contrario da influência lusófona que tem sido
.,_; exetcida por luso-afrlcanosao longo dos últimos cinco séculos. Enquanto as suas fronteiras actuais
resultaram de _acordos bilaterais enlR; Portugal e França feitos no último quartel do século XIX, o
mapa cultural lusófono abran_ge um território mais v:asto, embora bastante disperso, A difusão da
., língua Crioula por estas fronteiras fora na zona do Casamance, que faz parte do vizinho Senegal
A Dimensão Atlântica da Africa e onde hoje ainda se trava uma guerra pela independência, é um factor para ter-se em conta. As
ilhas de Cabo Verde .e os seus habitantes são certamente os que mais estiveQIW..Jl:>SOCiados com a
manutenção de uma presença luso-africana nestas paragens (ver Albuquer41ue/Santos, 1991/5).A 1
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criação de entrepostos na Costa da Guiné integrados nas rotas comerciais afriçanas e atlânticas
foi; contudo, o factor mais decisivo para assegurar esta presença, sempre em função de mediação
II Reunião Internacional de História de África: de interesses mercantis..O 'trato' de ouro, escravos, coiros e cera, e·mais tirrde_de amendoim e
caju, levou mercadores atlânticos a negociar as condições de-troca de bens e produtos através de
agentes fixados dentr_o e fora destes· enclaves. O elo entre as duas vertentes é essencialmente um
duplo processo cie 'crioulização' e '.africanização' de séculç,s," mais entre 'luso-africanos' e 'afri
Evento integrado às Comemorações !·
canos' que entre 'europeus' e 'africanos'. Se a participação de africanos já foi pouco estudada, o
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papel de africanas nestas mudanças fica (por enquanto) quase desconhecida. O c�o da Guiné
do V Centenário do Descobrimento do Brasil
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(Bissau) revela algumas particularidades neste plano.em que mulheres africanas e luso-africanas
se distinguem pela sua 'força e fama' numa região marcada por uma presença europeia muito
· reduzida em termos de dimensão e duração. ·
É da colaboração entre interesses atlânticos e africanos que se trata neste ensaio. A histó
ria do comérçio que se desenrola ao longo dos séculos numa corrida frenética entre várias potên
cias nortenhas (incl. europeias e dos EUA) é de tal maneira complexa que já ocupa quilómetros
de prateleiras nas bibliotecas e arquivos por todo o mundo. Portanto não se pode pretender conta
la num espaço pequeno como este. Há no entanto várias razões. para ensaiar uma digressão pelas
catacumbas da memória colectiva deste encontro histórico que tanto contribuiu para, na prática,
Rio _de Janeiro (Brasil) contradizei- um imaginário 'a preto e branco' das ·relações humanas.
,. · 30-31 de outubro a l de novembro de 1996 No que diz respeito� lacunas de informação é curi_oso notar o uso _do termo 'branco' para
descrever o desconhecido: não teria sido mais lógico pintar as zonas descobertas de branco'!.
* Centre ofAfrican, Asian and Ameri�idian Studies (CNWS), Universidade de Leiden, Holanda/
CEA-USP/SDG-Marinha/CAPES Centro de Estudos Africanos e Asiáticos (CEAA) do IlCT, Lisboa/Portugal.
São _Paulo, julho de1997
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