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Percurso 30

Com o objetivo de forne-


cer instrumentos para os alu-
nos compreenderem a África
e muitos de seus impasses PERCURSO
A África e o imperialismo
30
atuais, este Percurso aborda
o processo de apropriação
dos territórios africanos pelos
europeus e o impacto decor-
europeu
rente do sistema produtivo
implementado. O Percurso
também trata da descoloniza-
ção e do papel que a criação
de fronteiras políticas artifi- 1 O início da apropriação
ciais pelos colonizadores teve de territórios pelos europeus
na eclosão das guerras civis
atuais. Destacam-se, assim, as Como resultado das grandes navegações marítimas nos séculos XV
raízes históricas das dificulda- e XVI, a América, a Ásia e a África foram incorporadas ao horizonte geo-
des enfrentadas por muitos gráfico e comercial europeu. Em consequência, o colonialismo foi im-
povos africanos. plantado e o comércio se mundializou (com exceção da Oceania, cuja
Os mapas permitem que os incorporação ao mundo europeu somente ocorreu no século XVIII).
alunos reconheçam as trans- Para assegurar o desenvolvimento comercial ou o capitalismo comer-
formações no uso do espaço
cial, os europeus — particularmente portugueses, espanhóis, ingleses,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do continente. Aproveite a
seção Rotas e encontros (pá- franceses, holandeses e belgas — fundaram feitorias ou entrepostos co-
gina 265) para desenvolver a merciais na África (figura 11) e na Ásia e colônias na América.
oralidade.
Habilidade da BNCC Figura 11. África: século XVI
• EF08GE08

ANDERSON DE ANDRADE PIMENTEL


EUROPA
Que país contava com o
O Percurso aborda as ca- maior número de feitorias
racterísticas gerais da forma-
na África no século XVI? TUNÍSIA MAR MED
ção territorial dos países afri- Portugal, com 21 feitorias
ITERRÂNEO

canos, contribuindo para o concentradas no litoral ARGÉLIA Cairo


desenvolvimento da análise africano do Atlântico e do ÁSIA
Índico.

M
ER
da situação da África no pe- EGITO TRÓPICO DE CÂNC

AR
DESERTO DO SAARA
ríodo do pós-Segunda Guerra

VE
RM
Mundial, quando ocorreu a

EL
SENEGÂMBIA

HO
ESTADOS
descolonização no continente SEGU HAUSSA UADA
(que culminou no surgimento YATENGA BORNU DARFUR

de grande parte da sua atual ASHANTI


YORUBA
KORDOFAN
YUKUN
divisão política). ABISSÍNIA
Mogadíscio
ÁFRICA

SÃO TOMÉ FLORESTA EQUADOR
EQUATORIAL RUANDA
BURUNDI
CONGO KUBA ZANZIBAR

LUANDA LUBA OCEANO


Área de influência BENA
OCEANO LUNDA ÍNDICO
árabe
ATLÂNTICO
Feitorias
árabes HUMBE
DESERTO
DE

francesas
SE

DE MADAGASCAR
RTO

holandesas
KALAHARI
DA NA M

inglesas TRÓPICO DE CAPRI


CÓRNIO
portuguesas N
BI A Í

NO NE
Estados africanos
Fonte: elaborado com base em O L
KINDER, Hermann; HILGEMANN, Cidade do Cabo
XHOSA SO SE
Werner. Atlas histórico mundial: Império Otomano S

de los orígenes a la Revolución 0 720 km


Francesa. Madri: Istmo, 1970. p. 232. 20°L

260

Interdisciplinaridade
Em parceria com o professor de História, desenvolva um projeto de estudo das relações entre a história e as
culturas africanas e a cultura afro-brasileira atual. Para isso, consulte os materiais disponíveis em: <http://www.
unesco.org/new/pt/brasilia/education/inclusive-education/brazil-africa-project/> (acesso em: 4 set. 2018).
De modo complementar, o professor de História pode aprofundar o estudo sobre o processo de descoloniza-
ção da África.

260
• O comércio de escravizados Pausa para o cinema
Durante quase quatro séculos, a África exerceu o papel de princi- Amistad.
pal fornecedora de mão de obra escravizada na América. Segundo al- Direção: Steven Spielberg.
guns autores, cerca de 10 milhões de escravizados desembarcaram Estados Unidos:
em nosso continente, já descontados desse total os que morreram DreamWorks SKG, 1997.
Duração: 154 min.
durante a viagem pelo Atlântico — número que provavelmente ex-
O filme conta a história
cedeu a 1 milhão — e aqueles que, ao resistirem ao aprisionamento, de africanos escravizados
morreram em combate. embarcados no navio
La Amistad em direção
à América. Revoltados,
2 De feitorias a colônias europeias dominam o navio, mas
este acaba chegando aos
No século XIX, com o desenvolvimento do capitalismo industrial e Estados Unidos, onde,
da crescente necessidade de matérias-primas para sustentar o pro- presos, enfrentam um
julgamento dramático.
cesso de industrialização, alguns Estados europeus transformaram a
maior parte do continente africano e das feitorias existentes em co-
lônias europeias. Quem lê viaja mais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

OLIC, Nelson Bacic; CANEPA,


• A Conferência de Berlim (1884) e a partilha Beatriz. Sobre a Conferência de
África: terra, sociedades Berlim, de 1884, informe aos
da África e conflitos. São Paulo: alunos que a partilha da Áfri-
Moderna, 2004. ca, realizada pelos europeus,
Em meados do século XVIII, percebeu-se que a grande fonte de ri-
Nessa obra, você vai ignorou a diversidade étnico-
queza não era mais exclusivamente o comércio ou a acumulação de descobrir a multiplicidade
de idiomas, etnias e
-linguística e cultural dos po-
ouro, como pregavam os defensores do capitalismo comercial, mas, vos africanos e as relações en-
tradições do continente
sim, a produção de mercadorias. africano. tre os distintos povos e suas
Desse modo, o domínio de técnicas de produção em escala (grande respectivas territorialidades.
quantidade) tornou-se a meta de alguns países europeus, levando-os As consequências desse fato
são notáveis, a começar pelos
a realizar as Revoluções Industriais (séculos XVIII a XX) e a implantar o
conflitos e tensões entre po-
capitalismo industrial. vos rivais que compartilham
Em consequência, acirrou-se a competição entre as potências pelo o mesmo território ainda nos
controle de fontes de abastecimento de matérias-primas (especial- dias atuais.
mente minérios) para a indústria, mercados compradores e áreas para
o investimento de capitais excedentes.
Considerando que as feitorias implantadas na África, como tam-
bém na Ásia, já não atendiam plenamente aos interesses da burgue-
sia industrial e dos Estados colonialistas europeus, estes passaram a se
apropriar de territórios africanos e a implantar colônias (isso também
ocorreu na Ásia), inaugurando o que se conhece por neocolonialismo. Capital excedente
Quantia de bens ou de
Para dar caráter legal à partilha da África e regulamentá-la, os paí- valores que extrapola o
necessário à manutenção
ses colonialistas europeus convocaram a Conferência de Berlim, em da produção e pode ser
1884. Nessa conferência, ficou decidido que o direito de posse do país investida em outras áreas
ou mesmo na melhoria
europeu sobre o território conquistado na África seria respeitado e re- do sistema produtivo.
conhecido pelos demais e cada território ocupado teria uma autoridade Neocolonialismo
representando o país conquistador. Assim, a Conferência estabeleceu Novo modo de
colonialismo que tem por
princípios ou regras para evitar conflitos entre as potências colonialis- objetivo a dominação
tas europeias na partilha do continente. econômica e política.

261

Temas contemporâneos
No Brasil, a partir da promulgação da Lei no 10.639/2003 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, foi esta-
belecido um marco legal, político e pedagógico de reconhecimento e valorização das influências africanas na
formação da sociedade brasileira e do protagonismo da população afro-brasileira na formação social, política
e econômica do país. Discuta com os alunos, no decorrer deste Percurso, a história africana e afro-brasileira e
a diversidade cultural da África e do Brasil.
261
Competências
O trabalho de leitura, in-
terpretação e comparação
dos mapas das figuras 12 e 13 Figura 12. África – 1880 • A apropriação formal
permite o desenvolvimento
EUROPA Servindo-se de poderosos exércitos, as

FERNANDO JOSÉ FERREIRA


da Competência Específica de
Ciências Humanas 5: “Compa- MAR potências colonialistas europeias invadi-
Ceuta (ESP) Melila (ESP) MED
rar eventos ocorridos simulta- I. Madeira (POR) Túnis ITE
RR
ÂNEO
ram territórios africanos (e também asi-
ARGÉLIA Trípoli
neamente no mesmo espaço Is. Canárias (ESP) Ifni (ESP) áticos), transformando-os em colônias.
e em espaços variados, e EGITO ÁSIA
TRÓPICO DE CÂNCER Assim, do controle informal ou indireto que

MA
eventos ocorridos em tempos
exerciam com as feitorias, passaram para o

R
VE
diferentes no mesmo espaço

RM
SENEGAL controle formal, direto (figuras 12 e 13).

EL
e em espaços variados”.

HO
GÂMBIA Kita (FRA)

Chame a atenção dos alu-


GUINÉ
PORTUGUESA
Bamaco (FRA) No entanto, essa apropriação não foi
nos para as possessões por-
SERRA
LEOA
Lagos marcada pela submissão africana. Vá-

R
(FRA)

BA
COSTA (FRA) I
tuguesas, na medida em DO OURO (ESP) ZA
NZ rios povos resistiram. No Império Mandin-
E
que elas se relacionam com EQUADOR
go, por exemplo, que se estendia por uma

D

TO
GABÃO
a história do Brasil. Ressalte OCEANO

NA
(FRA)
OCEANO vasta região da África Ocidental, desta-

SULTA
ÍNDICO
a posição geográfica dessas N ATLÂNTICO
cou-se Samori Touré, um dos chefes que
NO NE (FRA)
possessões e solicite a eles ANGOLA
O L (FRA)
se opunham à dominação francesa e que,
que comparem a extensão SO SE (FRA)

territorial que elas tinham


S MADAGASCAR durante dezessete anos, resistiu com seu
0 920 km REPÚBLICA MOÇAMBIQUE
nos distintos momentos re- SUL-AFRICANA TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO povo à invasão europeia. Touré morreu

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
presentados nos mapas. Possessões britânicas (RUN) BECHUANALÂNDIA em 1900, depois de ter sido aprisiona-
Possessões francesas (FRA)
Possessões espanholas (ESP)
Colônia
do Cabo ESTADO LIVRE do pelas forças colonialistas e desterrado
Atividade complementar Possessões portuguesas (POR)
20°L
DE ORANGE
para o Gabão.
Possessões turcas
Uma vez observadas as pos- Repúblicas bôeres* independentes
sessões de Portugal na África Reinos e grupos tradicionais africanos

(e considerando o processo Fonte: O Correio da Unesco. Rio de Figura 13. África – 1914
de partilha desse continente), Janeiro: Fundação Getulio Vargas,
ANDERSON DE ANDRADE PIMENTEL

peça aos alunos que pesqui- ano 12, n. 7, p. 14, jul. 1984. GRÃ-BRETANHA
Comparando as figuras
sem os nomes e algumas ca- * Bôeres foram colonizadores BÉLGICA
ALEMANHA 12 e 13, responda:
racterísticas dos povos africa- holandeses que se estabeleceram nos FRANÇA em 1880, o Egito era
séculos XIX e XX na atual África do Sul.
nos que ocupavam essas áreas Açores
(POR)
ITÁLIA dominado por qual
PORTUGAL ESPANHA
antes do domínio português. Gibraltar
(GB)
MAR país? E em 1914,
Oriente-os na pesquisa, su- TUNÍSIA
MED
ITERRÂNEO Á
ÁSIA com o avanço do
gerindo livros, sites e outros Canárias
(ESP)
MARROCOS
ARGÉLIA neocolonialismo?
LÍBIA
materiais. Sugerimos: África e SAARA EGITO
TRÓPICO DE CÂNCER Em 1880, pela Turquia;
Is. de OCIDENTAL e, em 1914, pela
Brasil Africano, de Marina de Cabo Verde
(POR) Grã-Bretanha.
Mello e Souza (2. ed. São Pau- GÂMBIA
ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA
ERITREIA
CESA

SUDÃO
lo: Ática, 2007); História Geral GUINÉ
PORTUGUESA COSTA NIGÉRIA
ANGLO-EGÍPCIO Djibuti
. FRAN

(FRA)
da África, da Unesco (2. ed. SERRA LEOA
DO TOGO
OURO
CAMARÕES
A EQ

Brasília: Unesco, 2010, 8 v.). FERNANDO PÓ ÁFRICA


DA

ORIENTAL EQUADOR
RIC

(Bioko)
AN


Converse sobre os resultados (GB) CONGO BRITÂNICA
UG

OCEANO
ÁF

GUINÉ BELGA ÁFRICA


encontrados. N
ATLÂNTICO EQUATORIAL ORIENTAL
ALEMÃ
NO NE ANGOLA RODÉSIA
DO NORTE NYASALÂNDIA
O L
UE

ÁFRICA DO RODÉSIA BIQ


SO SE SUDOESTE DO SUL MADAGASCAR
MOÇAM

S ALEMÃ TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

0 1.130 km BECHUANALÂNDIA
SUAZILÂNDIA
BASUTOLÂNDIA
Potências dominadoras UNIÃO DA
Potências dominadoras ÁFRICA
Grã-Bretanha (GB) DO SUL
Grã-Bretanha
França (FRA) (GB) OCEANO
França
Alemanha (FRA)
(ALE) ÍNDICO
Alemanha
Itália (ITA) (ALE) Fonte: O Correio da Unesco. Rio de
Itália (ITA)
Bélgica (BEL) Janeiro: Fundação Getulio Vargas,
Bélgica (BEL)
Portugal (POR)
20°L ano 12, n. 7, p. 15, jul. 1984.
Espanha (ESP)
Condomínio anglo-egípcio

262

262
Explique aos alunos que
o racismo também existe na
sociedade brasileira, mesmo
havendo, hoje em dia, leis de
3 O impacto do neocolonialismo na África Pausa para o cinema combate ao racismo: a Consti-
O impacto do neocolonialismo dos séculos XIX e XX na África não foi Mandela: luta pela tuição Federal de 1988; a Lei
liberdade. Caó: Lei no 7.716, de 5 de ja-
exclusivamente negativo. Contudo, vale destacar que os aspectos posi-
Direção: Bille August. neiro de 1989; a Lei da Injúria
tivos decorreram no geral de providências destinadas a proteger os in- Racial: Lei no 9.459, de 13 de
Bélgica: Banana Films,
teresses dos colonizadores. É o caso da implantação de ferrovias e rodo- 2007. Duração: 140 min. maio de 1997; o Estatuto
vias, cujos traçados ligavam zonas de exploração mineral e de produtos Sob o pano de fundo da da Igualdade Racial, de 2010;
agrícolas com os portos. Essa infraestrutura era voltada à exportação da África do Sul durante o e a Lei no 10.639, de 9 de ja-
produção para a Europa e não à integração territorial. O mesmo se apli- regime de segregação neiro de 2003. Se possível,
ca à experiência administrativa e aos serviços de saúde implantados pe- (apartheid), narra a selecione trechos dessas leis
los europeus no continente. história de um carcereiro para discutir seus principais
branco que considera os aspectos com os alunos.
Os impactos negativos são numerosos: vão do enfrentamento militar, negros seres inferiores.
com o saldo de muitas mortes de africanos, ao aparato policial e repres- O que ele não espera é Competências
sor implantado pelo europeu. conhecer Nelson Mandela, O debate sobre o racismo
Merece destaque ainda o impacto no sistema produtivo artesanal, fato que mudará sua vida. promove a consciência do indi-
destruído em grande parte pela entrada dos produtos industrializados víduo na estrutura social brasi-
leira e contribui para exercitar
europeus, como também o sistema produtivo agrícola africano, que es-
a empatia, a ética e a solidarie-
tava organizado para atender às necessidades alimentares de seu povo. Figura 14. Carregamento
dade, com vistas ao bem cole-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ele foi desmontado pelo colonizador, que se apropriou das melhores ter- de sacos de grãos de cacau,
destinados à exportação, tivo. Assim, atua diretamente
ras e substituiu a agricultura de produtos alimentares pela plantation, ou chegando ao porto de no desenvolvimento das Com-
seja, pela grande propriedade agrícola monocultora de produtos destina- Abidjan, maior cidade e sede petências Gerais da Educação
dos à exportação (algodão, café, amendoim, cacau etc.). Veja a figura 14. do governo da Costa do Básica 8 e 9, respectivamen-
Marfim (2016).
A criação de fronteiras políticas ar- te: “Conhecer-se, apreciar-se
tificiais pelo colonizador na África foi e cuidar de sua saúde física e

SIA KAMBOU/AFP/GETTY IMAGES


outro impacto desfavorável. Ao fixa- emocional, compreendendo-
-se na diversidade humana e
rem as fronteiras das colônias segun-
reconhecendo suas emoções
do seus interesses, os europeus igno- e as dos outros, com autocrí-
raram o fato de que povos com línguas, tica e capacidade para lidar
tradições e costumes diferentes, até com elas”; e “Exercitar a em-
mesmo historicamente rivais, seriam patia, o diálogo, a resolução
confinados em um mesmo território. de conflitos e a cooperação,
Após a independência das colônias, as fazendo-se respeitar e pro-
fronteiras foram mantidas, e conflitos movendo o respeito ao outro
e aos direitos humanos, com
étnicos e disputas pelo poder passaram
acolhimento e valorização da
a assolar a África, explicando as inúme- diversidade de indivíduos e de
ras guerras civis que ainda ocorrem hoje grupos sociais, seus saberes,
no continente africano. identidades, culturas e poten-
cialidades, sem preconceitos
4 O racismo: outro legado do colonialismo Quem lê viaja mais
de qualquer natureza”.

Entre as mazelas deixadas pelo colonialismo, o racismo é uma das mais BERND, Zilá.
brutais. Para justificar a dominação ou a legitimidade da conquista, o colo- O que é negritude.
nizador apoiou-se em um conjunto de ideias ou ideologias preconceituosas São Paulo: Brasiliense, 1998.
(Coleção Primeiros Passos).
e ligadas à intolerância, que ainda não foram completamente superadas. O livro discorre sobre a
Pregou a superioridade do homem branco e, ao mesmo tempo, a inferio- tomada de consciência da
ridade do colonizado, destacando a “missão civilizatória” que o primeiro ti- população negra e sobre
a valorização da cultura
nha a realizar. Assim, no processo de colonização africana, os brancos cria-
africana.
ram comunidades próprias, separadas da população negra (segregação).

263

263
Solicite aos alunos que de-
batam a seguinte questão:
que semelhanças e diferen- Os conteúdos desenvolvidos neste Percurso permitem resgatar e aprofundar os conhecimentos prévios desenvolvidos na
Unidade 1, Percurso 3 (páginas 30 a 32), no que diz respeito à presença europeia em países africanos e ao papel da África
ças existem entre a histó-
• A política do apartheid na divisão internacional do trabalho no período
ria da África e a história da posterior à Segunda Guerra Mundial.

PETER TURNLEY/CORBIS/VCG/GETTY IMAGES


América Latina? Peça que Um exemplo cruel e violento de racismo ocorreu na África do Sul.
justifiquem suas opiniões O país esteve sob regime oficial de segregação racial até as eleições mul-
com base nos conhecimen- tirraciais realizadas em abril de 1994, nas quais Nelson Mandela foi elei-
tos que possuem sobre a to o primeiro presidente negro do país (figura 15). Antes das eleições, a
história e as características minoria branca (14% de uma população total de 41 milhões, em 1994)
socioeconômicas e culturais detinha o poder político e econômico e, amparada em leis por ela cria-
dos países latino-america-
das — conhecidas pelo nome de apartheid (separação) —, dominava a
nos e africanos. Registre as
maioria negra (75% da população total) e os 11% restantes formados
ideias e os comentários dos
Figura 15. Preso entre os anos por outras etnias ou povos.
alunos na lousa. de 1964 e 1990, acusado de Entre as leis que sustentavam o apartheid estavam: a proibição do
se envolver em ações contra
Atividade complementar o apartheid, Nelson Mandela casamento inter-racial, a obrigatoriedade do registro da raça na certi-
Para diagnosticar a com- tornou-se o símbolo da dão de nascimento, a proibição ao negro de comprar terras, entre outras.
preensão dos alunos do pro- igualdade racial da África do Essas leis foram abolidas entre 1984 e 1993, mas, ao longo de vários anos,
Sul. Por seu papel de liderança
cesso de descolonização na a política do apartheid reprimiu os movimentos que lutavam por igualda-
na luta pela igualdade, ganhou
África, pergunte sobre quais o Prêmio Nobel da Paz em de de direitos entre brancos e negros e provocou milhares de mortes, mar-
foram as características geo- 1993. Na foto, Nelson Mandela cando profundamente a sociedade sul-africana até os dias atuais.
políticas do período pós- cumprimenta seus partidários
-Segunda Guerra Mundial na cidade de Mmabatho,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que contribuíram para que África do Sul (1994). Esse líder 5 A descolonização africana
faleceu em 2013.
as independências ocorres- A África é predominantemente formada por países que romperam
sem. Espera-se que os alunos com a condição de colônias europeias há cerca de cinquenta anos. Do
mencionem a relativa per-
ponto de vista histórico, trata-se de um fato recente.
da de poder e a situação de
fragilidade econômica dos
Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, em 1945, existiam apenas
países europeus, que abriram quatro países independentes no continente africano: Libéria, Etiópia, Egi-
espaço para a eclosão de mo- to e União Sul-Africana, posteriormente denominada África do Sul (figu-
vimentos africanos em prol ra 16). A independência desses países, no
da independência. Comparti- Figura 16. África: político – 1947 entanto, era apenas formal. Etiópia, Egi-
lhe as respostas dos alunos e to e África do Sul estavam sob influência
ANDERSON DE ANDRADE PIMENTEL

MARROCOS
verifique se todas as dúvidas TÂNGER
(Zona Internacional)
ESPANHOL
política, econômica e militar da Grã-Breta-
foram esclarecidas. MARROCOS
M
TUNÍSIA AR M
EDITERRÂNEO nha, e a Libéria, dos Estados Unidos.
IFNI
A independência de Gana, antiga Cos-
RIO DE ORO ARGÉLIA
LÍBIA ta do Ouro, em 1957, desencadeou uma
M

EGITO
AR

onda de independências no continente


VE
RM

africano. Entre 1960 e 1980, a maioria das


EL
RIAL FRANCESA

HO

ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA


GÂMBIA SOMALILÂNDIA
PORTO
SUDÃO
ANGLO-EGÍPCIO
ERITREIA
FRANCESA colônias africanas livrou-se do domínio eu-
GUINÉ
SERRA LEOA COSTA NIGÉRIA SOMALILÂNDIA
BRITÂNICA
ropeu. Faltava a Namíbia, que somente em
DO TOGO ETIÓPIA
1990 conquistou sua independência.
ATO

LIBÉRIA
OURO CAMARÕES
A descolonização dos países africanos,
QU

FERNANDO PÓ SOMÁLIA
UGANDA
AE

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE EQUADOR


0° QUÊNIA RUANDA-
de modo geral, não aconteceu de forma
(PORTUGAL)
R IC

BURUNDI
RIO MUNI
ÁF

OCEANO CONGO
ATLÂNTICO
CABINDA
(PORTUGAL)
BELGA
TANGANICA ZANZIBAR pacífica. Houve casos, como o da Argé-
Ilhas Comores lia, em que a independência foi obtida por
(FRANÇA)
ANGOLA RODÉSIA
Domínio DO
NIASALÂNDIA Maiote meio de longa luta armada contra a do-
UE
(FRANÇA)
NORTE
Belga
ÁFRICA
Q
minação francesa. Reveja o mapa “África:
BI

RODÉSIA
AM

Britânico DO DO
político – 2017”, figura 1, página 256,

SUDOESTE SUL MADAGASCAR


M

Espanhol N
BECHUANALÂNDIA
Francês
BAÍA DE
WALVIS
NO NE que mostra os atuais países da África, e o
(UNIÃO DA SUAZILÂNDIA
Português ÁFRICA DO SUL)
UNIÃO BASUTOLÂNDIA
O
SO SE
L
compare com o mapa da figura 16.
Território sob ÁFRICA DO SUL
responsabilidade da ONU OCEANO S
Independente ÍNDICO 0 870 km Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique.
20°L
Paris: Larousse, 1987. p. 257.

264

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