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OS IMPÉRIOS COLONIAIS

Competências
A gravura mostra a cidade de Lisboa no
• C1 e C4 século XVI, com destaque para as
caravelas. A tecnologia naval foi decisiva
para o início do período colonial.
Habilidades

• H3, H4, H5 e H21


INTERFOTO/ALAMY
É praticamente um consenso entre os pensadores políticos da contemporaneidade, à moda de Zyg-
PARA AMPLIAR munt Bauman, que a tendência imperialista de expansão dos Estados foi paulatinamente substituída pela
Sobre o poder das multinacio- expansão ilimitada das grandes multinacionais. Mas não foi sempre assim. Na época dos descobrimentos,
nais, vale a pena assistir ao do- as grandes potências europeias dependiam, em larga medida, da conquista e da exploração direta de terri-
cumentário O mundo global tórios coloniais, na medida em que a posse de terras no além-mar significava ser detentor de quantidades
visto do lado de cá sobre o enormes de ouro e de prata. Ainda que em escala reduzida, a dominação colonial persiste hoje, vide os
geógrafo Milton Santos, dispo- exemplos de Aruba (pertencente à Holanda), de Santa Helena (pertencente à Inglaterra) e da Guiana
nível no YouTube.
Francesa (pertencente à França), exemplos pontuais de uma lógica que antes era global. A bem dizer,
depois de cinco séculos, muitas potências persistem no emprego da dominação e exploração territorial
iniciadas naquele período: além da Guiana Francesa, a França controla as ilhas de Saint Pierre e Miquelon
(conquistadas em 1604), Martinica e Guadalupe (conquistadas em 1635), e a Ilha de Reunião (conquistada
ENQUANTO ISSO... em 1642). Respectivamente situadas na América do Norte, no Caribe e na África, as sobreditas colônias
são sobreviventes de uma lógica que se viu quase inteiramente extinta.
Por quais motivos países europeus mantêm territórios Mas a França não é a única potência que assim age. No Caribe, a Inglaterra
sob sua tutela em outros continentes ainda hoje? Há domina as ilhas Virgens Britânicas (conquistadas em 1672), Anguilla (1650) e as
diversas explicações, desde interesses comerciais, mi- ilhas Cayman (1670). Já a Holanda possui, além de Aruba, as Antilhas Holandesas,
litares, econômicos e muitos outros. Leia no texto a
ambas dominadas em 1636. O que nos interessará, de agora em diante, é explici-
seguir alguns dos motivos para a França manter seu
domínio sobre a Guiana Francesa. tar, a todo o momento, as condições de possibilidade que ensejaram a expansão
ultramarina das potências europeias entre os séculos XV e XVII.
Como a França preserva e explora seu peda-
ço da Amazônia na Guiana Francesa

HANS LEIJNSE/ NIS/MINDEN PICTURES/LATINSTOCK


O território, oficializado como uma colônia fran-
cesa e escravagista no século 17, hoje é considerada um
departamento ultramarino da França
[...] a Guiana Francesa [é uma] área a nordeste
do nosso continente oficializada como uma colônia
francesa e escravagista no século 17 e hoje conside-
rada um departamento ultramarino da França – ou
seja, como uma província do país europeu, portan-
to tendo como chefe de Estado o presidente gover-
nando em Paris, a 7 mil quilômetros de distância.
Como outros territórios ultramarinos, esta par-
te sul-americana da França tem uma balança comer-
cial estruturalmente deficitária. Em 2017, enquanto
o território exportou cerca de 133 milhões de euros
em produtos, as importações corresponderam a 1,3
bilhão de euros. Na mão e contramão, o principal
parceiro comercial é a França metropolitana. [...]
Mais da metade do Produto Interno Bruto
(PIB) da Guiana Francesa vem do setor de serviços,
mas tem se destacado recentemente a contribuição
crescente do Centro Espacial de Kourou, um cen-
tro de lançamentos da Agência Espacial Europeia,
na região costeira do território.
"Por que a Guiana Francesa é importante para a
França e para a Europa? Não tem a ver com a minera-
ção, com a madeira... Essas são referências do passado.
A importância geoestratégica da Guiana Francesa é a
base de Kourou. É um lugar ideal para lançamentos,
pois é bem embaixo da Linha do Equador", explicou à
BBC News Brasil uma fonte próxima ao governo francês
na América do Sul que pediu para não ser identificado.
As marcas da colonização continuam visíveis e atuantes em muitos países. Por exemplo,
ALVIM, Mariana. Como a França preserva e explora seu o inglês segue sendo o idioma nas ilhas Cayman, localizadas no Caribe, região que,
pedaço da Amazônia na Guiana Francesa. BBC News Brasil, 1
desde o fim do século XVI, encontra-se sob o domínio da Inglaterra. Na imagem, vemos
de setembro de 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/
portuguese/internacional-49504990>. Acesso em: 16 jul. 2022. uma indicação de trânsito formulada em inglês, alertando os motoristas a tomarem
cuidado com as iguanas, visto que estas costumam atravessar a pista.

28 A formação do Brasil
A REVOLUÇÃO COMERCIAL
Somente esse olhar em direção aos eventos passados nos permite conhecer os elementos que
estão na base dos processos de produção, circulação e consumo das riquezas nacionais atuais. De fato,
o ideal econômico inaugurado pela revolução comercial contém, ainda que em germe, muitos dos
pilares que servem de sustentação para as dinâmicas da vida social contemporânea. A historiografia
tende a fazer da chegada dos espanhóis ao continente americano, em 1492, e da descoberta do cami-
nho marítimo para as Índias pelos portugueses, em 1498, os marcos maiores da Expansão Ultramarina,
expansão que, de diferentes maneiras, conduziu o mundo a uma tremenda revolução na maneira
de encarar e gerir o comércio. Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que, com a Expansão
Ultramarina, as sociedades européias, que estiveram em um regime de isolamento por quase toda
a Idade Média, restringindo seu comércio ao contato com os povos do Mediterrâneo, subitamente
ampliaram seus horizontes até o além-mar. Dos mares interiores da Europa (Mediterrâneo, Báltico e
Negro), os europeus passaram transitar constantemente pelos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.

PARA AMPLIAR
O Mar Mediterrâneo não é um dado atemporal que sempre existiu tal como o conhecemos. Há 5,33
milhões de anos, o Mar Mediterrâneo, em um período de menos de dois anos, se encheu com um
volume de água enorme vindo do oceano Atlântico, volume que se calcula ser mais de mil vezes
superior ao atual Amazonas. Ou seja, a cheia do Mediterrâneo deu-se de forma abrupta, algo que
certamente instiga a imaginação e o saber dos pesquisadores da atualidade.

Se o comércio foi o motor da expansão territorial, a troca de ideias, ainda que colateral, não deve
ser menosprezada, haja visto que o fortalecimento do intercâmbio acelerou o avanço tecnológico
em diversos âmbitos da vida, contribuindo não só para a ampliação do conhecimento da navegação,
da cartografia, da medicina e da construção naval, mas também da astronomia, da geografia, da
zoologia e da mineralogia.

MCAPDEVILA/WIKIMEDIA COMMONS

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS

Antigo planisfério português, precursor dos mapas modernos. Nele, vemos que a superfície terrestre é representada sob a forma de um plano retangular.
Vale dizer que os primeiros mapas de que temos conhecimento foram desenhados em argila, madeira ou pele de animais. Ao contrário dos mapas atuais, os
primeiros mapas não tinham qualquer pretensão de descrever o mundo real. Antes, eram mapas simbólicos, geralmente montados para situar o povo que o
confeccionou no centro do mundo. Ou seja, mesmo quando os mapas não servem como meio de orientação para rotas comerciais, deve ficar claro que os
mapas sempre serviram a certos objetivos políticos.

A formação do Brasil 29
O comércio não cessava de crescer. As especiarias, convertidas em artigos extremamente cobi-
çados, exerciam um enorme poder de atração sobre as diferentes regiões do planeta, uma vez que,
além do sabor, ajudavam na conservação dos alimentos. Além delas, demais produtos originários
das Américas como a batata, o tomate, o fumo, o mamão, o abacaxi e outros passaram a integrar
as dietas e os costumes dos povos ao redor do mundo. Vale destacar que os alimentos não foram
apenas plantados nas colônias e comercializados pelo mundo, mas também foram “transferidos” para
outras regiões que desconheciam a plantação deste ou daquele gênero alimentício. Foi assim que o
cacau e o milho, dois produtos típicos dos continentes americanos, adaptaram-se muito bem aos
territórios africanos. Do mesmo modo, a cana-de-açucar, originária da Ásia, espalhou-se pelas regiões
do Caribe e da América do Sul. Por fim, não podemos deixar de lado o café, oriundo da Etiópia e
cultivado tanto no continente europeu quanto nas Américas.
Além de ideias e hábitos alimentares, os europeus espalharam pelo mundo uma série de animais
e objetos. No Japão e na América, onde só existiam equinos de pequeno porte, foram introduzidos
os cavalos. O relógio e as armas de fogo, desconhecidos pelos japoneses até então, também passaram
a circular pelo território nipônico. Portanto, o mundo conheceu, graças ao estabelecimento dessas
rotas comerciais, um conjunto bastante heteróclito de transformações culturais e sociais que foram
denominadas de Revolução Comercial.

O CONSUMO CONSCIENTE DE ALIMENTOS


Se considerarmos que as viagens em caravelas duravam meses, temos uma pista da grande
relevância da conservação dos alimentos para o desenvolvimento da cultura. Diante disso, podemos
situar melhor a importância da salga e da defumação de carnes, da produção de conservas, da fa-
bricação de queijos e de pães e demais técnicas de aprimoramento da subsistência, técnicas criadas
com o fito de preservar e prolongar o consumo de alimentos in natura.
Compreendemos, então, as razões pelas quais as especiarias assumiram um papel de destaque
na Europa da Idade Moderna. Não apenas pelas navegações, cumpre frisar. Tratava-se de uma época
na qual não existiam geladeiras, sem mencionar que o inverno era assaz rigoroso, o que obrigava os
europeus a abater as reses no outono, já que no inverno não haveria alimento para estes animais. Foi
necessário, então, desenvolver técnicas para preservar a qualidade desses recursos nos meses subse-
quentes ao abate do animal. Pensando nisso, os europeus lançavam mão de técnicas de conservação
baseadas em receitas que incluíam plantas aromáticas e temperos variados. Uma das fórmulas mais
populares era feita de uma mistura de sal, vinagre, grãos de cominho, coentro e pimenta.

CASANISA/SHUTTERSTOCK

A criação de diversas receitas de carnes,


queijos e peixes curados, bem como de
conservas como picles, chucrute e geléias,
tinha o objetivo de manter a qualidade
desses alimentos por longos períodos
de tempo. As especiarias, além do sal,
do açúcar e do vinagre, entre outros,
foram fundamentais para o surgimento
de tais produtos.

30 A formação do Brasil
INTERIOR OF A PHARMACY (FRESCO), ITALIAN SCHOOL, (15TH CENTURY) / CASTELLO DI ISSOGNE, VAL D'AOSTA, ITALY / BRIDGEMAN IMAGES
Afresco datado do século XV, representando o interior de uma farmácia na península Itálica, na qual se vendiam, também, algumas das especiarias provenientes
da Ásia. Estas eram compradas dos mercadores árabes por comerciantes de cidades da península Itálica, como
Gênova e Veneza.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


Adicionalmente à conservação de carnes e peixes, as especiarias eram empregadas na prepara-
ção de alimentos, tendo em vista que os produtos alimentícios tendiam a impregnar-se de sabores
desagradáveis depois de certo tempo. A popularidade das especiarias remonta aos guias que os
europeus utilizavam na Idade Média, os quais chegavam a citar 288 substâncias para conservar e
temperar alimentos, ministrar remédios, entre outros usos. Percebemos, sem muita dificuldade, que
não são poucos os motivos que levaram as especiarias, utilizadas para tantos e tão diversos fins, a
gozar de uma imensa popularidade.
Dentre tantas especiarias, ganhava protagonismo a pimenta-da-índia (conhecida como pimen-
ta-do-reino no Brasil). Famosa por suas propriedades digestivas, a pimenta-da-índia também se nota-
bilizava por ser um estimulante do apetite e por melhorar a circulação sanguínea. Mas a popularidade
também se projetava sobre a canela (oriunda do Ceilão, atual Sri Lanka), sobre a noz-moscada e sobre
o cravo (ambos das ilhas Maloucas, hoje Indonésia). O elenco de alimentos afamados não para por
aí. Açafrão, gengibre, cúrcuma, anis, sementes de papoula, todas essas especiarias atraíam a atenção
dos europeus. Se o cardápio de especiarias era bastante variado, o mesmo não se pode afirmar em
relação ao acesso. Ao menos não até o advento das navegações, já que o crescimento da circulação
de produtos melhoraria substancialmente a situação alimentar dos europeus.

A formação do Brasil 31
As viagens de Marco Polo durante o século XIII, apesar de serem consideradas fantasiosas por
muitos, contribuíram para o conhecimento dos locais onde as especiarias eram produzidas e
também das rotas que as conduziam até os principais entrepostos comerciais, como Constan-
tinopla.

Viagens de Marco Polo – século XIII

LAB212
BROWN, Robin. Marco Polo, a incrível jornada. São Paulo: Madras, 2007. p. 6-7.

O gosto pelas comidas temperadas com especiarias não é exclusivo da Idade Média. Importadas
da Índia e do Extremo Oriente desde a Antiguidade, as especiarias já entram na composição de
quase todos os pratos atribuídos a Apicius por um compilador do século IV. Mas já não são essas
as substâncias que os contemporâneos de São Luís ou de Joana d´Arc apreciam. A partir do fim
do Baixo Império, uma progressiva transformação substitui o costus, o laser ou o silphium – de
que os gulosos romanos tanto gostavam – por novos produtos: o cravo-da-índia, a noz-mosca-
da e o macis, o galanga, a malagueta. O mundo muçulmano influi bem menos do que se supu-
nha para essa mudança de gosto. Essa influência se deve, mais do que aos costumes trazidos das
cruzadas, à introdução no Ocidente dos textos médicos traduzidos do árabe, e com eles todo
um arsenal farmacêutico do qual faziam parte as especiarias.
FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo (Org.). História da alimentação. Trad. Luciano Vieira Machado e Guilherme J. F. Teixeira. São Paulo: estação
Liberdade, 1998. p. 452.

Um fato curioso ocorre no presente no que diz respeito à conservação de alimentos. Ainda
que os métodos de conservação tenham crescido exponencialmente desde o advento do uso de
geladeiras e freezers, da adição de produtos químicos que retardam seu apodrecimento, ou do uso
da salga de peixes e de carnes, é fato inconteste que vivemos no interior de uma cultura generalizada
de desperdício de alimentos.
De acordo com alguns estudos recentes, no Brasil cerca de 64% do que estava destinado à
mesa da população é perdido na colheita, no transporte, na produção, na industrialização e na casa
do consumidor final. Isso significa que cerca de 70 mil toneladas de alimentos são jogadas no lixo
diariamente. Frutas de casca manchada, iogurtes perto da data de vencimento, pães amanhecidos,
comidas esquecidas dentro da geladeira. Alimentos ainda em boa condição são descartados.

32 A formação do Brasil
Para piorar o cenário, a produção mundial não cessa de se ampliar. É fácil ver os números disso.
Hoje a humanidade já consome 30% a mais de recursos naturais do que a capacidade de renovação
da Terra. Se o nível de produção e de consumo seguir no mesmo ritmo, em menos de cinquenta
anos precisaremos ter o equivalente a dois planetas Terra para atender nossas demandas por água,
energia e alimentos. Ao proceder dessa forma, estamos colocando em risco a própria sobrevivência
do planeta. Em resposta a esse cenário catastrófico, temos acompanhado o crescimento mundial
de movimentos em favor de um consumo consciente de alimentos, consumo que irá priorizar não
apenas as qualidades do produto, mas também, e principalmente, seu modo de produção.

O mercantilismo
Ao longo da história, é bastante comum encontrar práticas econômicas que, mesmo não
sendo constituídas na forma de uma doutrina, possuíam certa homogeneidade prática. É precisa-
mente o caso do mercantilismo, o nome dado a um conjunto de princípios que, sem terem sido
refletidos e elaborados por uma escola de economistas, foram adotados pelos governantes como
base para a expansão do comércio no decorrer do século XVI. Esses princípios, devido à falta de
sistematicidade, variavam de uma nação para a outra. No entanto, também é possível identificar
princípios mercantilistas comuns a todos:
• Metalismo: quanto maior o montante de moedas de ouro e prata acumulado, mais próspera
seria a nação.
• Balança comercial favorável: os governos apostavam na ideia de que o dinheiro ganho com as
exportações deveria superar os gastos com as importações. Sabendo que as transações eram fei-
tas com moedas de ouro e prata, é fácil perceber que, quanto mais favorável a balança comercial,
mais rico o Estado.
• Política protecionista: a fim de tornar a balança comercial favorável, os governantes cobravam
altas taxas alfandegárias sobre as mercadorias estrangeiras, com a intenção de encarecê-las, obri-
gando o consumidor a comprar os artigos fabricados no próprio país.
CCI/REX/SHUTTERSTOCK

COMPREENDENDO
CONCEITOS
Alguns pensadores da atualida-
de, tal como o americano Nikolas
Rose, vão tentar insistir na ideia
de que o liberalismo não é ape-
nas uma atividade econômica,
mas também, e principalmente,

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


um outro tipo de organização so-
cial das relações entre governan-
tes e governados. Ainda que es-
quematicamente, o que está em
jogo, segundo Rose, é perceber
que um dos princípios do libera-
lismo consiste em fazer com que
a presença da autoridade não
seja sentida como tal, buscando
impingir a ideia de que as pes-
soas se governam apenas pelos
seus próprios quereres internos.

Gravura francesa do século XVI, retrata o


porto de Cádiz, na Espanha. Podemos ver a
comercialização de mercadorias provenientes
das “Índias Ocidentais”, isto é, das Américas.

A formação do Brasil 33
América: colônias

LAB212
Golfo do Capitania Geral
México da Cuba

Vice-Reino da
Nova Espanha
Belize

Capitania Geral MAR DO CARIBE Guiana


da Guatemala Inglesa
Capitania Geral Guiana
da Venezuela Holandesa
Guiana
Vice-Reino de Francesa
Nova Granada

Vice-Reino
do Peru
América
Portuguesa

Vice-Reino
do Rio
OCEANO da Prata
PACÍFICO
Capitania
Geral do Chile

Rio de
Janeiro

OCEANO
ATLÂNTICO

®
N
Colônias inglesas
Colônias holandesas O L

Colônias francesas 1: 90 000 000


0 900 1 800 km S
Colônias portuguesas
Colônias espanholas Projeção Cilíndrica

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: Fename, 1977. p. 51. Adaptação.

O pacto colonial
Resta pouca dúvida sobre o fato de que o mercantilismo não teria funcionado a contento sem
as políticas coloniais em voga, isto é, sem o chamado pacto colonial. Para dizer de forma incisiva: é
porque as potências europeias tinham conquistado, desde o início do século XVI, diversos territórios
na África, na Ásia e na América, que se tornou possível a prática mercantil. A ideia de pacto escon-
de o fato de que não se tratava propriamente de um pacto, na medida em que jamais existiu uma
negociação entre as partes, mas sim um conjunto de imposições das metrópoles sobre as colônias.
Atentemos um pouco mais sobre esse aspecto. Por meio desse pacto não assinado, as metró-
poles faziam com que as colônias funcionassem como polos econômicos subordinados aos seus
interesses, maximizando suas balanças comerciais à custa dos territórios dominados. Nesse sentido,
o pacto colonial proibia as colônias de produzir artigos manufaturados. Além disso, o que era produ-
zido nos territórios coloniais visava atender as demandas da metrópole. Portanto, ao lado da extração
de metais preciosos, o cultivo de plantas (cana-de-açúcar, tabaco e algodão) não apenas era ditado
pelas metrópoles, como somente elas tinham o direito de comprar tais produtos, garantindo, assim,
o monopólio do comércio em suas mãos.

34 A formação do Brasil
As estratégias de acumulação de ouro e prata nunca saíam do horizonte das potências. Como
consequência, para impedir que as moedas preciosas deixassem suas fronteiras, algumas das gran-
des potências pagavam pelos produtos das colônias com africanos escravizados, pessoas que eram
capturadas em território africano em troca de produtos manufaturados, como pólvora, ferro e rum.
Essa forma de conduzir as relações econômicas estava assentada no chamado comércio triangular
entre África, Europa e América, certamente uma das mais importantes bases do florescimento do
poder econômico dos Estados europeus.

Matérias-primas, gêneros tropicais


e metais preciosos

Pacto colonial
Metrópole Colônia
Monopólio

Produtos
manufaturados

COMPREENDENDO
CONCEITOS

MAILSONPIGNATA/SHUTTERSTOCK
Mesmo sem nenhum
pacto colonial vigente,
ainda hoje os países ditos
subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento ten-
dem a vender commodi-
ties para os países ricos
(commodities: plural de
commodity, termo de ori-
gem inglesa que significa
“mercadoria”, mais preci-
samente produtos agríco-
las ou minerais de origem
primária que são produzi-

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


dos em larga escala e vol-
tados para a exportação)
e comprar deles produtos
de alto valor agregado. Tal
fato faz com que os paí-
ses mais pobres estejam
sempre em dívida com os
países desenvolvidos, já
que exportar soja, mesmo
que em grande quantida-
de, nunca será suficiente
para pagar os computa-
dores de alta tecnologia
que são importados, de
modo que os países po-
bres dificilmente terão
uma balança comercial
favorável. Não é à toa que muitos teóricos têm insistindo na ideia de que o capitalismo atual é,
antes de mais nada, um capitalismo de conhecimento.

A formação do Brasil 35
PARA CONSTRUIR
1 Analise as afirmativas sobre o Descobrimento do Brasil, b) Com medo dos contrabandistas franceses e ingleses
preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso). que rumavam até a costa brasileira em busca do pau-
-brasil, a Coroa portuguesa, desde os primórdios do
( ) Fez parte do processo de expansão comercial dos descobrimento, proibiu o estanco do pau-brasil.
países europeu, que buscavam encontrar novas fontes de
metais preciosos e de mercadorias para abastecer o merca- c) As expedições de Cristovão Jackes, em 1516 e 1526,
do consumidor europeu. não foram expedições de natureza militar, já que foram
pensadas apenas como meio de levar a cabo o reco-
( ) Representou um dos momentos mais importantes nhecimento dos territórios onde seriam implantadas as
da construção do império ultramarino português, na me- chamadas feitorias.
dida em que os metais preciosos que foram encontrados
logo na chegada dos Portugueses levou a Coroa portugue- d) Com autorização da Coroa portuguesa, a extração de
sa a promover a colonização do atual território brasileiro. pau-brasil, uma atividade nômade e predatória, foi a pri-
meira atividade econômica da colônia, uma atividade
( ) É considerado estrategicamente fundamental para que não visou qualquer forma de promover o povoa-
o enriquecimento da Coroa portuguesa, já que a rota mento do novo Continente.
descoberta por Vasco da Gama para o comércio com as
Índias, em 1498, exigia que Portugal criasse novos portos e) Raramente, a mão de obra indígena foi usada para a ex-
no Atlântico Sul, de modo a poder reparar e reabastecer tração de pau-brasil. Além disso, os portugueses, quando
os navios. os indígenas trabalhavam nessa atividade, presenteava-
-os com objetos de grande valor no mercado europeu.
( ) É visto como um momento trágico para os indíge-
nas, uma vez que a exploração do pau-brasil, certamente
a primeira riqueza explorada pelos portugueses no novo
3 Em relação ao problema da colonização, assinale a respos-
território, conduziu à escravização dos indígenas.
ta correta.
O correto preenchimento dos parênteses, de cima para
a) colonizador é tão somente aquele que invade o terri-
baixo, é:
tório de outro país, desrespeitando sua soberania ter-
a) V – V – F – F ritorial.

b) V – F – V – F b) colonização é o nome que damos ao pacto comercial


entre duas nações.
c) V – F – F – V
c) os colonizadores são sempre indivíduos ou grupos de
d) F – F – V – V indivíduos interessados em povoar novos continentes.
e) F – F – V – F d) só existe colonização se os povos nativos da terra estão
de acordo com as práticas econômicas, sociais e religio-
sas dos colonizadores.
2 Considerando a realidade da América portuguesa nas três
primeiras décadas do século XVI, é correto afirmar: e) existem muitas formas de colonização, incluindo aí co-
lonizações que não são territoriais, mas, sobretudo, sim-
a) Gaspar de Lemos, responsável pela expedição explo- bólicas.
radora de 1501, criou o sistema de Capitanias Heredi-
tárias, especialmente a fim de garantir a produção e o
comércio da cana-de-açúcar.

36 A formação do Brasil
FAÇA VOCÊ MESMO
1 Em linhas gerais, explique o que foi a Revolução comercial, buscando descrever as novidades que ela introduziu nas relações
globais.

2 Identifique o motivo pelo qual o comércio de especiarias constituía um produto que atraia o interesse de tantas potências eu-
ropeias.

3 Demonstre as diferenças entre a organização institucional do pensamento e a prática do mercantilismo ao longo do período colonial.

4 Explique a razão de o pacto colonial ser, na verdade, um falso pacto.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


5 Comente o motivo pelo qual o fim da colonização territorial não significa necessariamente o fim de outras formas de colonização.

A formação do Brasil 37
O IMPÉRIO PORTUGUÊS
Para entender as razões que catapultaram o poder da Coroa portuguesa precisamos levar em
conta que, depois da descoberta das terras que ficariam conhecidas como Brasil, Portugal se punha
no cenário mundial como o primeiro reino europeu moderno a possuir um império ultramarino.
É evidente que nenhum território conquistado estava imune a ser cobiçado por outras potên-
cias. Com isso em mente, os portugueses adotaram uma série de medidas para assegurar suas con-
quistas, construindo fortalezas e feitorias em diversos pontos da América do Sul, da África e da Ásia.
Construções que tinham o objetivo de proteger as colônias, mas também que serviam de ponto de
apoio para suas embarcações e de local de armazenagem para produtos que seriam posteriormente
vendidos em toda a Europa.
Para termos uma ideia da centralidade dessas construções para a organização das colônias, é
mister registrar que, em meados do século XVI, os portugueses já haviam levantado mais de cinquen-
ta fortes e feitorias na rota entre a África e o Japão (veja o mapa a seguir).
E por falar em rotas, é oportuno mencionar que as embarcações portuguesas partiam do rio
Tejo, transportando não apenas tripulantes ligados à navegação e ao comércio, mas também padres
jesuítas que embarcam rumo às colônias com o objetivo de converter os povos do chamado novo
mundo. Invariavelmente, as viagens eram árduas e longas. É de salientar que o número de mortes era
alto, fossem elas causadas por doenças ou por naufrágios.

Extensão máxima do império colonial português (século XVIII)

MCAPDEVILA/WIKIMEDIA COMMONS
COMPREENDENDO
CONCEITOS
HOUGHTON LIBRARY/
WIKIMEDIA COMONS

A época dos descobrimentos é também a época em que nasce a literatura


de viagem, certamente um dos gêneros literários mais interessantes. Um
bom exemplo disso é o livro de William James, intitulado O Brasil no olhar
de William James. Nele, vemos as impressões de um estrangeiro sobre o
Brasil em seus primeiros tempos.

Fotografia de Willian James feita durante sua expedição no Brasil.

38 A formação do Brasil
O funcionamento do mercantilismo também permite esclarecer o porquê do enorme
poder da Coroa portuguesa. Impulsionados pelos procedimentos econômicos que temos ana-
lisado, os portugueses dominaram, por aproximadamente um século, o comércio no Índico,
levando para a Europa africanos escravizados e especiarias (chás, sedas, pedras preciosas, etc.).
É digno de nota que os africanos escravizados eram também transportados para as colônias
portuguesas na América e nos Açores.
No entanto, pouco a pouco, o poder português começa a esmorecer, a começar pela perda do
controle do comércio com as Índias. Esse declínio explica-se pelo alto custo das viagens transoceâni-
cas, pela resistência dos muçulmanos diante da presença dos portugueses, mas também, e sobretudo,
pelo conturbado processo de sucessão ao trono português, que, em 1580, fez com que Portugal fosse
submetido ao domínio da Espanha.

PARA AMPLIAR
Doenças em alto-mar
Levamos quase três meses nesta travessia, enfrentando muitas calmarias e ventos contrários. Nesse tempo, todos adoeceram
das gengivas, que cresciam sobre os dentes de tal maneira que não podiam comer. As pernas inchavam e havia outros grandes
inchaços pelo corpo, que castigavam tanto a pessoa que ela acabava morrendo sem ter nenhuma doença. Nesses dois meses e
27 dias, trinta homens morreram, sem contar os que já estavam mortos a essa altura. [...] Por isso, garanto que se a viagem
durasse mais uns 15 dias, logo não haveria quem conduzisse os navios.
VELHO, Álvaro. O descobrimento das Índias: diário da viagem de Vasco da Gama.
Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. p. 108.

PARA AMPLIAR
O rio Tejo é mundialmente famoso não apenas pela sua extensão, mas também por ter sido imortalizado em um poema escrito por Alberto
Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, em seu livro O guardador de rebanhos:
XX - O Tejo é mais Belo
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, E para onde ele vai
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha E donde ele vem.
aldeia E por isso porque pertence a menos gente,
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios Pelo Tejo vai-se para o Mundo.


E navega nele ainda, Para além do Tejo há a América
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, E a fortuna daqueles que a encontram.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


A memória das naus.
Ninguém nunca pensou no que há para além
O Tejo desce de Espanha Do rio da minha aldeia.
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.

ESPANHA E A BUSCA PELO EL DORADO


Assim como em outras épocas, a Idade Moderna formulou e circulou certas utopias. A crença
de que existiria um lugar no planeta, chamado de El Dorado, repleto de ouro e prata foi uma das
lendas mais marcantes na formação da subjetividade do homem moderno. De modo que a busca
pelo que hoje não passa de uma terra mítica constituiu, tanto entre reis como entre aventureiros,
uma meta a ser constantemente perseguida.

A formação do Brasil 39
Para o júbilo dos espanhóis, o início da colonização da América parecia indicar que eles haviam
encontrado o El Dorado, sobretudo depois do ano de 1545, quando Potosí foi descoberta, uma
montanha de aproximadamente 600 metros de altura na Bolívia atual, no interior da qual se achava
a maior jazida de prata conhecida até então. O acontecimento foi de tal modo decisivo que, após a
descoberta de Potosí, a Espanha se tornou a nação mais rica da Europa.
Vejamos os números. Entre 1500 e 1520, o período imediatamente anterior à descoberta de
Potosí, o teto da produção da casa da moeda espanhola era de 45 toneladas de prata. Entre 1580 e
1600, essa cifra subiu para 340 toneladas. Contudo, para utilizar um jargão que nos é conhecido, a
Espanha foi com muita sede ao pote. Já por volta de 1600, o sonho de uma suposta inesgotabilidade
das jazidas de outro e prata de Potosí começou a ruir. Era cada dia mais claro que as minas estavam
em um processo de esgotamento dos seus recursos naturais, recursos que iam diminuindo a olhos
vistos. Para piorar a situação espanhola, o inacreditável montante de riqueza extraído das minas desse
“El Dorado” foi rapidamente gasto com as despesas das guerras nas quais a Espanha se envolveu.

REBELLOP/WIKIMEDIA COMMONS
A gravura de 1596, de Theodore de Bry, representa os trabalhadores nas minas de Potosí.

COMPREENDENDO
CONCEITOS
WEB GALLERY OF ART/WIKIMEDIA COMMONS

A noção de utopia ficou consagrada pela publicação, em 1516, do livro Utopia, de Thomas More. No
entanto, antes desse conceito, os indivíduos e as nações já projetavam lugares ou tempos que seriam
idílicos. Reais ou imaginários, tais projeções possuíam um efeito prático na vida das pessoas. Ora, não
resta dúvida de que a imagem do El Dorado faz parte dessa lista de utopias. Aliás, vale mencionar que
distopia, isto é, a descrição de um mundo ao avesso do ideal, é também uma utopia. Talvez a utopia
predominante da atualidade. Nesse sentido, basta acompanhar o sucesso de filmes futuristas como
Mad Max.

Ilustração de Ambrosius Holbein presente em uma edição de 1518 de Utopia de Thomas More.

40 A formação do Brasil
A DERROCADA DO TRATADO DE TORDESILHAS
Com o fortalecimento de outras potências (França, Inglaterra e Holanda), o Tratado de Tordesi-
lhas, assinado em 1499, tinha seus dias contados, uma vez que, os países acima indicados se engajavam
com cada vez mais intensidade na corrida pelo domínio das riquezas da África, da Ásia e da América.
Nenhuma surpresa se dissermos que, em 1533, os ingleses conseguiram estabelecer postos comerciais
em vários pontos da costa ocidental africana e que, em 1593, os holandeses seguiram seus passos.
Como vimos, os portugueses e espanhóis povoaram a costa das suas colônias com feitorias e
fortes. No entanto, nenhum dos dois era forte o suficiente para conter o avanço do fluxo de navios
concorrentes que se aproximavam do continente americano. Assim, o rei da França, Francisco I (1515-
1547), rechaçou o Tratado de Tordesilhas sob a alegação de que desconhecia por completo a “cláusula
do testamento de Adão”, responsável por afastar a França da divisão do mundo entre Espanha e Por-
tugal. Por isso, em meados do século XVI, eram frequentes as expedições francesas desembarcando
no atual litoral brasileiro em busca de pau-brasil, um recurso natural largamente utilizado para tingir
tecido nas manufaturas têxteis europeias.
À extração de pau-brasil, vinha somar-se o lucro que os franceses obtinham levando peles e penas
de animais, artigos que alcançavam preços elevadíssimos em toda a Europa. Por essas e outras razões, PARA AMPLIAR
em 1555, alguns expedicionários franceses decidiram fundar uma colônia na baía de Guanabara, no
atual Rio de Janeiro, na época conhecida pelo nome de França Antártica, assim chamada porque Vermelho Brasil. Direção de
Sylvain Archambault. Brasil,
a expedição francesa acreditava que essa região estava próxima do polo antártico. Ali, os franceses Canadá, França, Portugal, 2014.
permaneceram até 1567, momento em que, finalmente, foram derrotados e expulsos pelas forças (104 min.)
militares portuguesas. Esse interessante filme basea-
Na verdade, trata-se de uma história mais complexa, que merece ser rapidamente destacada. do em um romance de mesmo
Em 1555, o governo francês, sob o reinado de Henrique II (1547-1559), investiu na criação de uma nome conta a história da tenta-
colônia na América, que deveria ser conquistada pelo almirante Nicolas Durand de Villegaignon tiva de implantação da França
(1514-1571). Inicialmente, os 130 colonos francês liderados pelo sobredito almirante se instalaram em Antártica, abordando os conflitos
uma pequena ilha, chamada de Serijipe pelos nativos (atual ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro), com Portugal, com os indígenas
que pertenciam ao povo Tamoio e que se mostravam favoráveis ao comércio com os francesas e e dando uma ideia de como fo-
ram os primeiros anos de coloni-
refratários ao contato com os portugueses. Na localização hoje conhecida como praia do Flamengo,
zação no Brasil.
Villegaignon construiu o povoado de Henriville.

RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


Vista da ilha de
Villegagnon nos dias
atuais, onde se encontra a
Escola Naval da Marinha.

Depois de reunir uma armada de 26 navios e 2 mil militares, Mem de Sá garante a vitória dos
portugueses, com a destruição de Henriville em 1560. Nesse processo, os indígenas favoráveis à ocu-
pação dos franceses formaram o que ficou conhecido como Confederação dos Tamoios. Apesar da
derrota na França Antártica, os franceses não perderiam seu interesse pelo litoral brasileiro, sobretudo
pelas regiões que hoje pertencem à Paraíba e ao Rio Grande do Norte.
Prova disso é o fato de que, em julho de 1612, o fidalgo francês Daniel de la Touche, acompa-
nhado de uma tripulação de mais de 500 homens, fundou uma colônia na região do Maranhão. Em
homenagem ao rei Luís XIII (1610-1643), o forte e o povoado receberam o nome de São Luís, muito
embora a colônia tenha sido chamada de França Equinocial. Ali, os franceses permaneceram até 1615,
quando foram expulsos pelas tropas reunidas em torno de Jerônimo de Albuquerque, enviado da
capitania de Pernambuco para executar tal missão.

A formação do Brasil 41
Piratas e corsários
Certamente, a disputa pelo domínio dos mares do Caribe e do Atlântico Sul dava-se entre as
grandes potências da época. Mas não só por elas. Tão ávidos pela obtenção de prata e ouro como
as Coroas, piratas e corsários assaltavam toda e qualquer embarcação que transportasse metais
preciosos. No entanto, os piratas e os corsários não eram exatamente a mesma coisa. Os piratas
atuavam de maneira autônoma e eram perseguidos, ao passo que a ação dos corsários tinha o aval
do rei, concretizada na carta de corso que estes recebiam do rei. Além da autorização da realeza, o
corsário transferia para o rei parte do butim, quando o ataque a outros navios terminava vitorioso.
Só para termos uma ideia do quanto os corsários eram essenciais, um país como a Holanda, no início
do século XVII, contava com cerca de 130 corsários.
Paralelamente à Holanda, também o governo da Inglaterra se acumpliciava com os corsários no
Atlântico e no Caribe, sobretudo entre 1558 e 1603, quando o país foi governado pela rainha Eliza-
beth I. Do mesmo modo que Jesse James (1847-1882) e Wyatt Earp (1848-1929) se tornariam lendas
imortais da Marcha para o Oeste, nos Estados Unidos, alguns piratas ingleses (Thomas Cavendish,
Francis Drake e Richard Hawkins) ganhariam as páginas da literatura e a boca do povo.

Ingleses e franceses
Apesar dos reveses que levaram ao enfraquecimento do poder imperialista da Coroa portuguesa
e espanhola sobre os mares, ambos os países ainda mantinham o controle marítimo sobre o Atlântico
e as rotas de acesso para as Índias, o que fez com que outras potências se empenhassem em encon-
trar rotas alternativas para o Oriente. Ingleses e franceses deram início a expedições de exploração do
Atlântico Norte. No entanto, o fracasso foi a marca dessas viagens, em razão da enorme quantidade
de gelo que perfazia os mares próximos ao polo Norte, obrigando o pronto retorno das embarcações.
Porém, nem todas as expedições em busca de rotas alternativas redundaram em fracasso. Em
1535, Jacques Cartier, um navegador francês, alcançou a embocadura do rio São Lourenço, no atual
Canadá, tomando posse dessas terras a mando do rei Francisco I. O sucesso marítimo não foi acom-
panhado pelo sucesso econômico, já que, ali, não foram encontrados metais preciosos. Por isso, a
região mais setentrional da América do Norte permaneceu inexplorada durante o século XVI.
Além das expedições rumo à América, à Inglaterra dava um passo à frente. Assim, em 1548,
Walter Raleigh fundou a colônia inglesa chamada de Virgínia, o atual estado norte-americano da
Carolina do Norte, muito embora a colonização propriamente dita tenha começado anos mais tarde.
COLLECTIONS DU CHÂTEAU DE VERSAILLES / WIKIMEDIA COMMONS

Tela de Jean Antoine Theodore


Gudin (1802-1880) representa
a fundação da colônia francesa
de São Cristóvão e Martinica,
na região do Caribe, entre
1625 e 1635.

42 A formação do Brasil
PARA CONSTRUIR
1 Se a Coroa portuguesa ordenou a construção de feitorias c) dizia respeito a uma prática religiosa que consistia em
pelo litoral brasileiro, isso se deve ao fato de que Portugal: incentivar os fiéis da Igreja Católica a fornecer certas
mercadorias para os pobres e desvalidos.
a) Imediatamente percebeu que o Brasil era um território
com enormes quantidades de ouro e prata e que, por d) representava a estratégia da aristocracia portuguesa
isso, precisava ser protegido. para manter a burguesia longe do rei.
b) Tinha interesse em utilizar a costa brasileira como uma e) acabaria com a ética do povo português, já que se tra-
espécie de base de onde pudesse lançar ofensivas ma- tava de transformar todas as relações e vínculos sociais
rítimas contra as demais potências europeias. em mercadoria.
c) Mesmo sem nenhuma intenção de ocupar o território
brasileiro, já que não havia vestígios de metais precio- 4 (PUC-PR) Leia o texto a seguir.
sos, os portugueses usaram as feitorias como meio de
evitar a invasão de outras potências.
d) Pretendia usar as feitorias como prisões para prender
os indígenas que se mostrassem hostis à chegada dos
portugueses.
e) Ambicionava dar um lugar de destaque para a burgue-
sia nacional portuguesa, financiando projetos no litoral
brasileiro que não tinham outro sentido a não ser o de
gerar emprego para os portugueses.

2 Sobre o funcionamento das navegações portuguesas, é


possível afirmar que:
Victor Meirelles. A primeira missa no Brasil, 1860. Óleo sobre tela. 268 x 356 cm.
a) As caravelas eram construídas na cidade de Lisboa e, Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

uma vez construídas, eram levadas para o rio Douro, de A primeira missa no Brasil é um momento emblemático do
onde partiam rumo ao Brasil. início da colonização portuguesa na América, celebrada
b) Apesar da sua importância, o rio Tejo estava interditado poucos dias após a chegada e desembarque dos portu-
aos navegantes por um decreto religioso que temia que gueses na costa brasileira, imortalizada pela narrativa na
a prata e o ouro trazido de outras regiões do planeta Carta de Pero Vaz de Caminha e no óleo sobre tela de Victor
terminasse por corromper os costumes portugueses. Meirelles. A ocupação de fato demorou um pouco mais a
c) Por diversas vezes, os jesuítas tentaram embarcar rumo acontecer, dentre as razões para seu início, temos:
ao Brasil, mas sem sucesso, já que o rei de Portugal te- a) o aumento do comércio de especiarias com o Oriente, le-

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


mia que a população ficasse sem líderes religiosos. vando à maior necessidade de mercados consumidores.
d) O número de mortos nas viagens era enorme, já que os b) a descoberta de metais preciosos na colônia portugue-
naufrágios e as doenças eram uma constante. sa, acelerando o interesse da metrópole na exploração
e) Depois de muitos e muitos erros de orientação, Pedro de sua colônia.
Álvares Cabral decidiu abdicar do uso de mapas, recor- c) a probabilidade da tomada das terras por corsários in-
rendo apenas às estrelas para atingir o continente ame- gleses que vinham atrás do contrabando de escravos
ricano. indígenas para outras colônias.
d) a necessidade de tomar posse e defender suas terras
para evitar a vinda de exploradores sem o conhecimen-
3 Sobre o mercantilismo, podemos dizer que as autoridades
to da Coroa portuguesa.
portuguesas consideravam que tal prática econômica:
e) a construção das feitorias para armazenar pau-brasil e
a) era uma monstruosidade inventada pelo povo judeu e carregar navios, promovendo a migração de um grande
que, por isso, não podia ser adotada pelos países católicos. contingente de portugueses para povoar e cuidar das
b) foi responsável por fortalecer o poder econômica da novas vilas.
Coroa portuguesa.

A formação do Brasil 43
5 (EsPCEx-SP) As relações entre a metrópole e a colônia foram ( ) A pauta das exportações brasileiras nos últimos anos
regidas pelo chamado pacto colonial, sendo este aspecto mostra a predominância de produtos primários (as
uma das principais características do estabelecimento de commodities), cujos preços são fixados no exterior. O
um sistema de exploração mercantil implementado pelas quadro tem semelhanças com o que ocorria durante o
nações europeias com relação à América. pacto colonial, com o país importando bens industria-
lizados e de grande valor agregado.
Com relação ao Brasil, do que constava este pacto?
( ) Os governos brasileiros da última década optaram por
a) As colônias só poderiam produzir artigos manufaturados.
uma política econômica de viés liberal, afastando-se das
b) A produção agrícola seria destinada, exclusivamente, à práticas mercantilistas de tendências intervencionistas.
subsistência da colônia.
c) A produção da colônia seria restrita ao que a metrópole
7 (Enem)
não tivesse condições de produzir. H4 TEXTO I
d) A colônia poderia comercializar a produção que exce-
H5 Documentos do século XVI algumas vezes se referem
desse às necessidades da metrópole.
aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente bra-
e) Portugal permitiria a produção de artigos manufatura- sília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasilei-
dos pela colônia, desde que a matéria-prima fosse ad- ro” era a eles aplicado, mas as referências ao status econô-
quirida da metrópole. mico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim,
6 (Fepar-pr) Observe a figura abaixo e avalie as afirmativas a se- os termos “negro da terra” e “índios” eram utilizados com
guir. mais frequência do que qualquer outro.
SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil:
Proprietários: a construção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem incompleta: a
Organizam o empreendimento Coroa: Configura o Estado, experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).
(estrutura, produção e venda) cobra tributos
TEXTO II
rigidamente definidos

Aliança de interesses

Compra e venda de escravos: Índio é um conceito construído no processo de


Estratos sociais

exportação de manufaturados
Colônia conquista da América pelos europeus. Desinteressados
pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito
Metrópole
Exportação de produtos agrícolas para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espa-
e metais preciosos nhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram
por denominar da mesma forma povos tão díspares
Mão de obra escrava Burguesia mercantil: quanto os tupinambás e os astecas.
(livre ou escrava) Detém grande parte do capital, o
controle logístico e comercial SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo:
Contexto, 2005.
( ) O esquema mostra o funcionamento do pacto colo-
nial, envolvendo Estados europeus que participaram Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos
dos descobrimentos marítimos e formaram colônias. nativos pelos europeus, durante o período analisado, são re-
Contudo, o sistema mercantilista foi também aplicado veladoras da
por países que não dispunham de colônias. a) concepção idealizada do território, entendido como
geograficamente indiferenciado.
( ) Nas colônias, os proprietários exerciam poderosa in-
fluência no pacto colonial e provocavam, nas metró- b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às
poles, a formação dos preços dos produtos agrope- populações ameríndias.
cuários e dos metais preciosos. c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos
territórios conquistados.
( ) O mercantilismo foi um conjunto de medidas econô-
micas colocadas em prática por Estados absolutistas, d) transposição direta das categorias originadas no imagi-
mas não formou uma escola econômica, a exemplo nário medieval.
do liberalismo. e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.

44 A formação do Brasil
FAÇA VOCÊ MESMO
1 Sabendo que os portugueses não se interessaram em colonizar o Brasil imediatamente após seu descobrimento, descreva a
importância das feitorias.

2 Além de querer aumentar seu poder econômico, quais outras ideias impulsionavam os indivíduos para a descoberta de
novos territórios?

3 Discorra sobre as razões que levaram ao fim do Tratado de Tordesilhas.

4 Descreva o que foi a Confederação dos Tamoios e por que ela é um importante indício de que os portugueses não gozavam da
simpatia dos habitantes da colônia.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


HISTORY AND ART COLLECTION / ALAMY FOTO DE STOCK

Pintura O Último Tamoio de


Rodolfo Amoedo, 1883. A vitória dos
portugueses no conflito contra os
franceses e os tamoios provocou o
extermínio dessa nação indígena.

A formação do Brasil 45
AS COMPANHIAS DE COMÉRCIO
Surfando na onda do declínio do poder de Portugal e da Espanha, a Holanda e a Inglaterra,
desde o início do século XVII, investiram em viagens que chegavam às Índias contornando o sul da
África. Para tanto, forjaram uma organização conhecida pelo nome de Companhia de Mercadores.
Em que consistiam essas companhias? Eram empresas comerciais compostas em regime de
sociedades anônimas, que chegavam a reunir mais de 300 associados, também denominados de
acionistas. O funcionamento da Companhia de Mercadores se dava da seguinte maneira: os recur-
sos reunidos entre os acionistas eram alocados no financiamento de expedições rumo ao Oriente, à
América e à África. Os lucros ali obtidos, por sua vez, eram partilhados entre os acionistas.
Os poderes que o governo inglês e o governo holandês delegavam às suas respectivas companhias
de comércio impressionavam. Elas eram responsáveis por comercializar, conquistar, colonizar, administrar
e defender territórios, todas essas ações faziam parte das atribuições que pertenciam à alçada desses co-
merciantes. Ora, devido ao grande fluxo de dinheiro no caixa desse núcleo de empresários, as companhias
estavam à altura da tarefa, dispondo dos meios necessários para construir navios, cais e armazéns próprios.
Essas companhias exerceram um papel absolutamente central na definição da distribuição do
poder sobre os mares durante a expansão das potências europeias. Merecem destaque a Companhia
Inglesa das Índias Orientais (1600), a Companhia Holandesa das Índias Orientais (1602) e a Compa-
nhia Holandesa das Índias Ocidentais (1621). Graças a elas, a Holanda passou a protagonizar, a partir
do século XVII, o comércio transoceânico. O resultado da ação dessas companhias de mercadores
holandeses foi a criação de entrepostos e colônias em muitos continentes, como, por exemplo, a
Nova Amsterdã (atualmente Nova York) e a Guiana Holandesa (atualmente Suriname), além de
terem tomado posse do Nordeste brasileiro por certo período de tempo.
O antagonismo entre os países que rivalizavam pelo predomínio sobre os mares nem sempre se re-
solvia por vias pacíficas. De modo que, em inúmeras ocasiões, Inglaterra e Holanda partiram para o conflito
armado no decorrer do século XVIII. Incontroversamente, ambos os países tinham em mira os exorbitan-
tes lucros advindos do comércio marítimo, fossem os lucros do tráfico de africanos escravizados, fossem
os lucros da exploração dos territórios descobertos. Não é à toa que muitos banqueiros e mercadores
amealharam suas fortunas nesse momento, especialmente nas ocasiões bastante frequentes nas quais os
príncipes e os reis recorriam a eles quando necessitavam de recursos para levar a efeito seus empreendi-
mentos de grande porte, à semelhança dos custos envolvidos nas guerras e nas navegações transoceânicas.
Por fim, não podemos passar adiante sem chamar a atenção para o fato de que todo esse acú-
mulo de riqueza, território, tecnologia, entre outros efeitos produzidos pela expansão colonial, foi
condição indispensável para a emergência de uma série de transformações econômicas e sociais que,
entre o século XVIII e XIX, marcarão o período da chamada Revolução Industrial.

WIKIMEDIA COMMONS

Gravura de Joseph Mulder,


1726, representando o
estaleiro da Companhia
Holandesa das Índias Orientais.

46 A formação do Brasil
PRIMEIRAS COLÔNIAS NA AMÉRICA DO NORTE COMPREENDENDO
CONCEITOS
THE WHITE HOUSE HISTORICAL ASSOCIATION/WIKIMEDIA COMMONS

Sociedades anônimas são em-


presas caracterizadas pelo fato
de atribuir responsabilidade aos
sócios consoante o percentual
de capital investido por cada
um deles. O capital dos sócios
é medido pela quantidade de
ações de que cada um é pro-
prietário. A oferta de ações pode
ocorrer de duas maneiras: as
empresas podem se estruturar a
partir da oferta de ações restritas
(empresas de capital fechado,
normalmente familiares) ou de
ações de livre acesso que são
adquiridas nas bolsas de valores
(empresas de capital aberto).
Por força de norma jurídica, as
empresas que são sociedades
anônimas têm que adotar um
estatuto social. No caso das leis
brasileiras vigentes, devem ser
formadas por pelo menos dois
sócios.

PARA AMPLIAR
Veja o filme Hábito negro, de
Bruce Beres-Ford. Austrália e Ca-
nadá, 1991. (101 min). O filme
conta a jornada de um padre je-
Na pintura acima, pilgrims, puritanos ingleses, desembarcam do navio Mayflower na colônia de Playmouth, suíta pelo Canadá, em 1634.
Massachusetts, em novembro de 1620.

A colonização inglesa na América do Norte data de 1607, momento em que foi fundada
a cidade de Jamestown, atual Virgínia. Do ponto de vista econômico, a colônia se desenvolveu

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


a partir de 1612, ano que marca o início da plantação e exportação de tabaco para a Inglaterra.
Alguns anos depois, em 1619, as colônias passaram a trabalhar com africanos escravizados pelos
traficantes holandeses.
Em 1620, 102 ingleses desembarcaram do navio Mayflower a 750 quilômetros ao norte da
atual Virgínia, fundando a cidade de Jamestown. Com o passar do tempo, mais colonos vindos da
Inglaterra chegariam para fundar colônias nas regiões adjacentes, expandindo o território ocupado,
até formarem o que veio a ser conhecido como Nova Inglaterra.
O conflito religioso foi a motivação central que impeliu a saída desses colonos da Inglaterra,
que, ao recusar a liderança religiosa do rei britânico, o então chefe da Igreja anglicana, sofriam
constantes perseguições na Inglaterra. Ou seja, o chamado Novo Mundo representou para esses
colonos a possibilidade de exercer livremente o próprio culto.
Nesse mesmo período, os franceses, interessados na colonização e exploração das riquezas
das terras distantes, fundaram um entreposto comercial às margens do rio São Lourenço, o gesto
disparador da construção da cidade de Quebec, que hoje faz parte do Canadá. Como de costume,
a religião se faria presente. Em 1626, os jesuítas franceses desembarcavam ali no intuito de conver-
ter os nativos aos dogmas do cristianismo. Toda essa região territorial, marcada por um conjunto
de pessoas e projetos, ficaria conhecida como Nova França.

A formação do Brasil 47
Treze Colônias Inglesas na América

LAB212
Lago
Huron NOVA
HAMPSHIRE
Lago Ontário
NOVA
IORQUE
MASSACHUSETS
Erie
Lago

PENSILVÂNIA
RHODE
ISLAND
NOVA CONNECTICUT
MARYLAND
JÉRSEI

DELAWARE
VIRGÍNIA

CAROLINA
DO NORTE
OCEANO
ATLÂNTICO
CAROLINA
DO SUL

GEÓRGIA Colônias do Norte

Colônias do Sul

Ocupação britânica até 1700

Ocupação britânica até 1760

®
N
1: 20 000 000
Golfo do 0 200 400 km O L
México
Projeção Cilíndrica
S

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 96. Adaptação.

COMPREENDENDO CONCEITOS
[...] devemos dizer que um Estado é uma comunidade humana que se atribui (com
êxito) o monopólio legítimo da violência física, nos limites de um território definido. Ob-
servem que o território constitui uma das características do Estado. No período contem-
porâneo, o direito ao emprego da coação física é assumido por outras instituições à
medida que o Estado o permita. Considera-se o Estado como fonte única do direito de
recorrer à força. Consequentemente, para nós, política constitui o conjunto de esforços
tendentes a participar da divisão do poder, influenciando sua divisão, seja entre Estados,
seja entre grupos num Estado.
WEBER, Max. A política como vocação. Trad. Maurício Tragtenberg. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003.
p. 9.

48 A formação do Brasil
ENQUANTO ISSO...
A Austrália entra no mapa
Tal como os espanhóis tinham descoberto um novo continente no século XV, também os mer-
cadores holandeses descobririam, no século XVII, regiões ainda desconhecidas dos europeus.
Assim, em 1606, Willem Jansz alcançou a atual Austrália, situada entre o oceano Índico e Pacífico.
Como o contato com os habitantes nativos não se deu de maneira amistosa, a exploração do
território não foi bem-sucedida.

Mapa antigo de Nicholas Vallard

NATIONAL LIBRARY OF AUSTRALIA/WIKIMEDIA COMMONS

Intitulada O primeiro mapa da Austrália, a ilustração acima foi feita por Nicholas Vallard, em
1547. A aparente inexistência de metais preciosos fez com que o território australiano fosse ini-
cialmente desconsiderado como fonte de riqueza pelos europeus.

Isso não significa que os holandeses tenham desistido de tal empreitada. Basta lembrar que,
entre 1642 e 1644, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, liderada então pelo mercador Abel

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


Tasman, mapeou o litoral da Austrália e da Nova Zelândia a fim de verificar se tratava-se de uma
região rica em metais preciosos. Após tal procedimento investigativo, concluiu que o território não
possuía ouro e nem especiarias. A renovação do interesse pelo continente, posteriormente conheci-
do como Oceania, só ocorreria em 1770, sob o comando das expedições lideradas pelo navegador
britânico James Cook.
Por fim, é preciso ter em mente que a história das navegações, bem como a da formação das po- ACESSE TAMBÉM
tências européias, é importante não apenas para conhecer melhor o destino do Brasil, mas também
Acesse o site Versailles
as condições históricas que levaram à formação do Estado Moderno. Ao contrário da fragmentação 3D, para ter uma visão
da organização política do modelo feudal que vigorou na Europa ocidental durante a Idade Média, o do palácio de Versalhes,
cenário mundial na época dos descobrimentos é marcado pela instauração de estruturas de poder na França (site em in-
que levaram ao enfraquecimento do poder feudal e do poder religioso em prol da centralização cada glês).
vez maior do poder em torno do rei.
À contramão do que tendemos a imaginar, o período das expansões marítimas não foi feito
apenas de avanços e sucessos. Apesar do crescimento econômico proporcionado pela Revolução
Comercial, a Europa não deixou de ser atravessada pela escassez de alimentos (que encareceram
devido à inflação provocada pelo afluxo de materiais preciosos) e pelas guerras religiosas, sobretudo
depois do surgimento do Protestantismo no século XVI.

A formação do Brasil 49
WIKIMEDIA COMMONS
Diante dessa situação, inú-
BIOGRAFIA meros pensadores, à moda de
Autor do livro Leviatã, publica- Thomas Hobbes (1588-1679)
do em 1651, Thomas Hobbes é e Jacques Bossuet (1627-1704),
um dos pensadores mais impor- tentaram demonstrar que a de-
tantes e influentes na constitui- sordem na Europa só seria com-
ção das disciplinas modernas e
batida e superada se um poder
contemporâneas que se dedi-
caram ou se dedicam a refletir soberano fortemente centraliza-
sobre questões de ordem políti- do fosse alocado nas mãos dos
ca, sobretudo quando a política reis, que contariam com o apoio
envolve o funcionamento e os de um aparato burocrático capaz
processos de legitimação do de operacionalizar tal movimen-
tipo de exercício de poder le- to de concentração dos poderes.
vado a cabo pelos Estados mo- Sob a perspectiva atual, a reunião
dernos. Certamente, o professor
Renato Janine Ribeiro segue
de todos os poderes em torno
sendo um dos principais estu- de um homem que, apoiado
diosos de Hobbes no Brasil. pela teoria do direito divino, se
apresentava como representante
de Deus pode soar ultrapassado
e sem qualquer legitimidade. No
entanto, o que justificava o poder
absoluto era justamente o argu-
mento de que a barbárie reinaria
na ausência de um Estado forte.

Capa do livro Leviatã, de


Thomas Hobbes, publicado
em Londres em 1651.

PARA AMPLIAR
Compreendendo conceitos
A filosofia sempre se preocupou com a definição e a caracterização de liberdade. Observe alguns
dos registros a seguir.
LIBERDADE – esse termo tem três significados fundamentais, correspondentes a
três concepções que se sobrepuseram ao longo de sua história e que podem ser caracte-
rizadas da seguinte maneira: 1ª. L. [liberdade] como autodeterminação ou autocausali-
dade, segundo a qual a L. [liberdade] é ausência de condições e de limites; 2ª L. [liber-
dade] como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da precedente, a
autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence (Mundo,
Substância, Estado); 3ª L. [liberdade] como possibilidade ou escolha, segundo a qual a
L. é limitada e condicionada, isto é, finita. Não constituem conceitos diferentes as formas
que a L. [liberdade] assume nos vários campos, como p. ex. L. [liberdade] metafísica, L.
[liberdade] moral, L. [liberdade] política, L. [liberdade] econômica, etc. As disputas
metafísicas, morais, políticas, econômicas, etc, em torno da L. [liberdade] são dominadas
pelos três conceitos em questão, aos quais, portanto, podem ser remetidas as formas
específicas de L. [liberdade] sobre as quais essas disputas versam.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 605
e 606.

50 A formação do Brasil
PARA CONSTRUIR
1 Companhia dos Mercadores foi o nome dado: c) franceses que fundaram um entreposto comercial às
margens do Rio São Lourenço.
a) aos piratas do Atlântico que roubavam as mercadorias
que as caravelas portuguesas transportavam do conti- d) jesuítas portugueses que pretendiam converter os nati-
nente americano. vos para a religião católica.
b) aos colonos que viviam no Brasil e que se tornaram co- 4 (Enem)
merciantes como meio de driblar a pobreza que assola-
H3 A natureza fez os homens tão iguais, quanto às fa-
va o novo continente.
culdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes
c) aos jesuítas que se especializaram na extração e comer- H21 se encontre um homem manifestamente mais forte de
cialização do pau-brasil, contando especialmente com corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo
a mobilização da mão de obra escrava trazida da África.
assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a
d) aos aristocratas portugueses que partiam em direção diferença entre um e outro homem não é suficientemen-
à Índia em busca de metais preciosos, especialmente te considerável para que um deles possa com base nela
ouro e prata. reclamar algum benefício a que outro não possa igual-
e) às empresas comerciais que reuniam recursos para o mente aspirar.
financiamento de expedições rumo ao Oriente, à Amé- HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
rica ou à África.
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil,
2 A chamada Revolução Industrial foi um movimento político quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles
e econômico que nasceu como consequência: a) entravam em conflito.
a) da volta aos princípios religiosos, sobretudo aos princí- b) recorriam aos clérigos.
pios protestantes, que viam nas navegações uma amea-
c) consultavam os anciãos.
ça ao seu poder econômico.
d) apelavam aos governantes.
b) do acúmulo de riqueza e da expansão tecnológica im-
pulsionados pelas navegações. e) exerciam a solidariedade.
c) do contato com os indígenas, já que a hostilidade entre 5 (Enem)
indígenas e colonizadores obrigou as potências euro- O processo formativo do Estado desenrolou-se se-
peias a buscar meios de combater um povo cujas armas H3
gundo a dinâmica de dois movimentos contraditórios e
eram claramente superiores. H5 simultâneos: fragmentação e centralização. De um lado,
d) do medo da Igreja de perder sua hegemonia para os fragmentação na medida em que os príncipes europeus
Estados nacionais nascentes, pois somente partici- tiveram de lutar contra o poder universalista do papa; e
pando de atividades industrias a igreja poderia man- centralizador na medida em que os príncipes tiveram
ter-se forte para combater os hereges que circulavam

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


que lutar contra o poder político e militar de outros che-
em torno do rei.
fes políticos rivais. Desse processo resultaram as carac-
e) da união entre os povos, pois as nações tomaram cons- terísticas fundamentais do Estado moderno: exército e
ciência de que a industrialização seria benéfica para to- burocracia civil permanentes, padronização tributária,
dos, já que promoveria, entre outras coisas, o aumento
direito codificado e mercado unificado.
da produção de alimentos e, em consequência, o fim da
GONÇALVES, W. Relações internacionais. Rio de Janeiro: Zahar, 2008
fome mundial. (adaptado).
3 A cidade de Quebec, situada no atual Canadá, foi inicialmen- A institucionalização política mencionada teve como uma
te povoada por: de suas causas o êxito de alguns príncipes em
a) indígenas americanos que foram expulsos da sua terra a) monopolizar o uso legítimo da força.
e que encontraram ali um meio de reconstruir suas tra- b) reforçar a hegemonia social do clero.
dições e costumes.
c) restringir a influência cultural da nobreza.
b) ingleses que se viram obrigados a fugir da perseguição
religiosa e que pretendiam fundar uma colônia em que d) respeitar a diversidade das vivências locais.
pudessem manifestar livremente suas crenças e cultos. e) conter a autoridade das lideranças carismáticas.

A formação do Brasil 51
FAÇA VOCÊ MESMO
1 Descreva a importância das Companhias de Comércio para o que ficou conhecido como Revolução industrial.

2 Identifique qual o papel do conflito religioso na formação dos EUA.

3 Explique as relações entre as navegações e a formação dos Estados Modernos.

4 Explique o papel das teorias absolutistas para a consolidação dos Estados modernos.

5 Identifique os contratempos que atingiam a Europa na época das navegações.

52 A formação do Brasil
VOCÊ É O AUTOR

Em grupo, aprofunde a pesquisa em torno do tema das feitorias. Em seguida, tente identificar um local ou
uma pessoa que exerça, nos dias de hoje, uma função semelhante à das antigas feitorias. Por exemplo, pais que
entendem o mundo ao redor do seu filho como eventuais invasores não se comportam como uma feitoria?
O grupo, então, deve construir uma narrativa ficcional sobre esses pais feitores.
Ainda que essas comparações não sejam óbvias, é importante perceber que a história não se repete de
forma idêntica. Não vamos encontrar no presente uma feitoria tal e qual existiu no passado. No entanto, aquilo
que chamamos de feitoria pode ser encontrado em diversos âmbitos da realidade.
O objetivo desta atividade não é só aprofundar a investigação acerca do tema, mas também demonstrar
a importância da construção de ficções. Podemos compreender com mais facilidade a ideia em torno das fei-
torias se a utilizarmos para elaborar uma outra narrativa, ainda que o fato histórico seja apenas um elemento
de inspiração.
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CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS

A formação do Brasil 53

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