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1
TU

CA

DESCOBRIMENTOS

Competências

• C1 e C4

Habilidades

• H3, H4, H5 e H21


BRITISH LIBRARY/WIKIMEDIA COMMONS

O mapa Psalter, de 1260, representa uma visão antiga do mundo,


com a Terra plana e os mares repletos de monstros, que começou
a ser superada com as expedições marítimas empreendidas
por navegantes como Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e
Cristóvão Colombo, dentre outros. Ao longo deste capítulo, vamos
ver como o descobrimento da América foi consequência dos
avanços científicos, do investimento nas navegações por parte
das coroas europeias e sobretudo pela necessidade de encontrar
novas rotas comerciais.

Seres Humanos: O início da jornada


AS GRANDES NAVEGAÇÕES
A história da cultura ocidental revela-nos que a expansão em direção à ter-

COMMONS.WIKIMEDIA/REPUBLIC PICTURES
ritórios desconhecidos sempre esteve presente. Basta pensar na longa lista de
filmes hollywoodianos que retratam a Marcha para o Oeste, sobretudo por meio
da encenação dos conflitos entre cowbóis e indígenas. Ora, do mesmo modo que
o presidente George Washington, após a consolidação do processo de indepen-
dência dos EUA, lançou uma política de colonização das terras que se estendiam
pela faixa oeste do país, as Grandes Navegações foram, de certa forma, o início
de empreitadas de expansão territorial patrocinadas pelo Estado. Não há dúvida
de que, se quisermos compreender os movimentos expansionistas que ocorrem
na atualidade, sejam estes movimentos financiados por Estados ou por empresas
multinacionais, é preciso conhecer de perto os processos históricos que possibi-
litaram o surgimento das Grandes Navegações.

As rotas de comércio no tempo dos descobrimentos


Precisamos dar importância aos processos sociais que antecederam as Gran-
des Navegações, sob pena de cairmos no erro de considerá-las como um fato iso-
lado. No período histórico conhecido como Idade Média, a esmagadora maioria
das trocas comerciais entre a Ásia e a Europa era intermediada pelos povos árabes.
Depois de comprar mercadorias no Oriente, os árabes levavam-nas até os entre-
postos localizados em regiões próximas ao mar Negro ou até as áreas orientais
do Mediterrâneo. Levas de comerciantes europeus, destacadamente genoveses
e venezianos, seguiam até os sobreditos entrepostos, adquiriam as mercadorias e
vendiam-nas nas feiras e cidades espalhadas pela Europa.
Entre o ponto de partida (Ásia) e o ponto de chegada (Europa), os preços
das mercadorias chegavam a aumentar mais de 4 mil por cento. Isso significa,
precisamente: uma pimenta comprada por 3 ducados na Índia chegava a custar
68 ducados no Cairo e 140 ducados em algumas das cidades da Europa. Eviden- Pôster do filme Rio Grande, de John Ford, EUA, 1950, (105
min). O Filme trata dos conflitos entre o Exército norte-
temente, a margem de lucro dos comerciantes era bastante alta. No entanto, -americano e os Apaches no período que ficou conhecido
eles tinham plena consciência de que a aquisição direta das mercadorias junto como a Marcha para o Oeste.
aos produtores nas Índias (nome pelo qual chamavam todas as terras do leste da

DOMÍNIO PÚBLICO
Ásia) representaria um aumento significativo dos seus lucros.
O plano de maximização dos lucros pela supressão de intermediários esbar-
rava em um obstáculo. Até o século XIV, os europeus não dispunham de um co-
nhecimento sistematizado e aprofundado a respeito de outros lugares do mundo.
Além dos relatos do veneziano Marco Polo, as informações sobre o Oriente eram

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


produzidas e circuladas por indivíduos que jamais tinham colocado seus pés na
Ásia e que contavam tão somente com a força da imaginação para descrever tais
regiões, o que explica a abundância de lendas a respeito dos costumes e da vida
dos povos que habitavam estas e outras regiões desconhecidas. Aliás, uma dessas
lendas, reproduzida na Europa por monges peregrinos, descrevia a existência do
chamado Reino do Preste João, reino que se localizaria em algum local na África
Oriental ou na Ásia. Por ser identificado como um rei cristão, o governo portu-
guês alimentava a fantasia de poder ter, nesses domínios inóspitos, um aliado
estratégico na luta contra os muçulmanos. Segundo o imaginário da época, o mar Tenebroso era um
A falta de conhecimento dos europeus não se limitava aos territórios distan- oceano povoado de monstros. Esta gravura de Sebastian
Münster (século XVI), representa algumas dessas criaturas.
tes; estendia-se aos mares. Por isso, era bastante comum encontrar um europeu Foi apenas depois das navegações que o mar Tenebroso
que imaginasse que o mar era povoado por monstros e coberto por chamas. De passou a ser conhecido como Atlântico.
modo que, aqueles que se aventurassem a cruzar o Atlântico, também conhecido
pelo nome de mar Tenebroso, encontrariam apenas a morte, ou, no melhor dos casos, o fim do
mundo, já que se acreditava que o oceano possuía um limite, e que ao seu redor não existia mais
nada a não ser um enorme abismo. Em suma, nessa altura da história, a ida aos mares era ou pe-
rigosa ou inútil.

A formação do Brasil 9
As rotas alternativas
As considerações anteriores, a respeito dos obstáculos que se colocavam para as Grandes Na-
vegações, já são suficientes para perceber que a decisão de se aventurar pelos mares só foi possível
pela superação de incontáveis dificuldades. Ora, apesar do desconhecimento e dos medos que cer-
cavam os mares e os territórios longínquos, o cenário europeu tornou-se mais favorável às Grandes
Navegações a partir de 1453, quando os turco-otomanos, após tomar Constantinopla e dominar
o Mediterrâneo oriental, passaram a cobrar taxas elevadíssimas de toda e qualquer caravana que
cruzasse a região. Aqui, a máxima de que a necessidade é a mãe da invenção faz todo o sentido.

DOMÍNIO PÚBLICO
A pintura de Panagiotis
Zografos, produzida por
volta de 1836, retrata
o cerco à cidade de
Constantinopla, em 1453.

A fim de driblar essas taxações, vistas como excessivas, muitos mercadores europeus investiram
na procura de rotas alternativas para as Índias, o que fortaleceu a formação de saberes geográficos e
marítimos. Nesse quesito, Portugal, sem dúvida, ultrapassou os demais países, liderando a tecnologia
de ponta no tocante à arte da navegação. Portanto, antes de mais nada, devemos registrar que a ex-
pansão territorial foi intrinsicamente dependente da expansão tecnológica, provocada, entre outros
fatores, por necessidades de ordem econômica.
A posição geográfica deve ser destacada como o primeiro elemento importante para o pio-
neirismo de Portugal, já que estava próximo das águas do Atlântico e era o reino mais ocidental da
Europa. A localização territorial, no entanto, não dá conta por si só de explicar a emergência de um
empreendimento tão vultuoso. Para que assumisse a frente das navegações, Portugal precisou unificar
o Estado por meio de um poder centralizador, o único capaz de reunir as condições financeiras e
tecnológicas implicadas na busca de rotas alternativas. Além disso, ainda que de maneira secundária,
foi necessário mobilizar seus pescadores e marinheiros, isto é, indivíduos que acumulavam uma vasta
experiência sobre as facilidades e dificuldades da navegação no Atlântico.

OS PORTUGUESES VÃO AO MAR


Azeite, vinho, couro, frutas secas, eis alguns dos produtos que os comerciantes e marinheiros
portugueses, desde meados do século XIII, vendiam na Inglaterra e na França, dentre outros países
europeus. Com o dinheiro das vendas, eles, então, compravam móveis de madeira, armas de ferro e
tecido, a fim de vendê-los no mercado interno português. Isso tudo demonstra que, nesse momen-
to da história de Portugal, o dinheiro já começara a rivalizar com a posse de terra em importância
econômica, como marca de prestígio e como meio de exercício de poder. Chegamos, portanto, ao
momento histórico da ascensão da burguesia mercantil, certamente o grupo social que se destacou
na promoção das navegações. Por essa razão, com mais e mais frequência, a Coroa portuguesa, por
meio da criação de leis, decretos e incentivos, concedeu privilégios aos comerciantes. Uma das ações
importantes nesse período ocorreu no ano de 1358, quando a Coroa portuguesa redigiu um decreto
autorizando o corte de árvores nas matas do reino para a construção de navios, já que os cascos dos
navios eram feitos de madeira de pinho, carvalho, castanheiro ou sobreiro.

10 A formação do Brasil
Além da madeira, outras matérias-primas encontradas na vegetação portuguesa foram impor-
tantes para a construção de navios. Por exemplo, a resina foi largamente empregada para a calafe-
tagem do casco. Grosso modo, a resina é um líquido viscoso, de cor amarela, que se encontra em
algumas árvores ditas resinosas. A resina pode sair do tronco naturalmente ou pode ser manualmente
extraída. No segundo caso, os resineiros fazem cortes nas cascas dos troncos, o que leva a árvore
resinosa a liberar esse líquido pegajoso. Hoje em dia, a resinagem continua sendo uma atividade eco-
nômica em Portugal, sobretudo no verão, quando a produção de resina aumenta por conta do calor.
Anos depois, em 1380, o governo português, ao criar a Companhia das Naus, passou a incen-
tivar os comerciantes de maneira mais direta, esta medida funcionou como uma espécie de seguro
marítimo cujo objetivo maior consistia em garantir a devolução do dinheiro para os comerciantes
vítimas de naufrágio ou de pirataria. Além disso, nessa mesma época, a Coroa portuguesa introduziu
uma medida abertamente protecionista: a restrição da ação de mercadores estrangeiros em Portugal,
prova da preocupação em resguardar os interesses dos comerciantes portugueses frente à concor-
rência estrangeira. No entanto, o vínculo entre a Coroa e a burguesia mercantil só se estreitaria de COMPREENDENDO
maneira definitiva entre 1383 e 1385, quando ocorre a Revolução de Avis, responsável por expulsar CONCEITOS
de Portugal as forças de Castela e, em seu lugar, colocar no trono Dom João I, o principal apoiador
dos projetos da burguesia. Revolução é um conceito de
A expansão marítima deve muito à Revolução de Avis, mas também, e principalmente, aos natureza transdisciplinar, ou
eventos que se sucederam a ela. Em 1415, após ocupar Ceuta, um importante entreposto comercial seja, circula por inúmeras esferas
sociais. Sem dúvida, a noção de
e militar situado no norte da África, o governo de Dom João I consegue o que era até então inima-
revolução abarca uma quanti-
ginável: subtrair dos muçulmanos o domínio do comércio nessa região, transferindo seu controle dade enorme de definições. No
para as mãos portuguesas. Sendo assim, a conquista de Ceuta, coordenada por um dos filhos do rei, entanto, o que importa reter é
o infante Dom Henrique, marca o ponto de partida histórico do que veio a ser conhecido como as que, em qualquer dos casos, o
Grandes Navegações. que está em jogo é a tentativa
Não podemos esquecer que, nesse quadro histórico, os fatores religiosos vieram somar-se aos de indicar uma ruptura com
fatores econômicos como causas centrais para o advento nas navegações. Uma vez conquistado o determinada estrutura, seja ela
entreposto de Ceuta, Dom Henrique foi agraciado com o título de grão-mestre da Ordem de Cristo, econômica, social, política, tec-
nológica, etc. Quer dizer, pode-
uma das instituições religiosas envolvidas com o plano de combater os “infiéis” em qualquer lugar do mos falar de uma revolução tec-
mundo. Dessa forma, Dom Henrique passou a contar tanto com o apoio dos comerciantes quanto nológica depois do surgimento
com o apoio dos religiosos. Ora, reunidas essas condições, Dom Henrique, atraído pela informação da luz elétrica, assim como po-
acerca da existência de outro entreposto comercial no reino do Mali, ao sul do Saara, planejou a demos falar de uma revolução
conquista da costa sul e oeste da África, contando, como vimos, com a escola financeira dos comer- social depois do advento do
ciantes e a escola religiosa da Ordem de Cristo. direito à greve.
HOMBREDHOJALATA/COMMONS.WIKIMEDIA

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Painel de azulejo localizado na estação


de trem de São Bento, em Portugal. O
foco da pintura mostra a representação
do infante Dom Henrique na conquista
de Ceuta, em 1415.

A formação do Brasil 11
A Escola de Sagres
O dinheiro dos comerciantes e o apoio de representantes da igreja foram condições necessá-
rias, mas não suficientes, para o sucesso das Grandes Navegações. Por isso, se quisermos avançar na
compreensão do que foram as navegações, temos que entender a origem da formação da Escola de
Sagres. Antes de ser uma escola, Sagres é uma região em Portugal que se localiza perto do Algarve,
região para qual Dom Henrique se mudou depois da conquista de Ceuta. Uma vez instalado, Dom
Henrique chamou para perto de si cartógrafos, astrônomos, matemáticos e navegadores, a fim de
que esse grupo de intelectuais, uma vez reunido, pudesse estudar a fundo o saber náutico legado
por outros povos – fenícios, egípcios, gregos, árabes, entre outros.
Outro ponto que deve ser ressaltado é que o nome Escola de Sagres foi dado posteriormente
a esse grupo de especialistas, visto que essas autoridades comprometidas com o desenvolvimento
tecnológico do saber marítimo de Portugal não chegaram a formar uma instituição permanente.

A tecnologia náutica
Dentre tantos resultados importantes, a Escola de Sagres foi capaz de oferecer à cultura oci-
dental as chamadas cartas marítimas, bem como aperfeiçoar um vasto conjunto de instrumentos
de navegação.
Entre os principais instrumentos de navegação utilizados a partir do século XV, vale mencionar
a bússola, o quadrante e o astrolábio. A primeira é uma agulha magnética que indica a direção do
polo Norte, auxiliando na identificação da posição percorrida pelo navio; o quadrante, por sua vez,
tem a forma de um arco graduado, de 45 graus, que fornece a latitude exata em que se encontra a
embarcação. Por fim, o astrolábio consiste em um disco metálico ou de madeira, utilizado para mar-
car a posição do navio com base na observação da posição das estrelas. Paralelamente à invenção e
o aperfeiçoamento desses instrumentos, os cartógrafos portugueses passaram a embarcar nas viagens
com o intuito de elaborar mapas mais precisos, mapas que se tornaram objeto de extremo valor na
Europa, já que transportavam em si um conjunto de informações geográficas que permanecia sob
o monopólio dos portugueses.
Com o desenvolvimento desses novos instrumentos de navegação e a ampliação do investimen-
to na elaboração de cartas náuticas, o século XVI foi um período de grande avanço da cartografia. É
WIKIMEDIA COMMONS/ JLUIS GARCÍA

nesse período que temos a elaboração do primeiro mapa-múndi, que utilizava a técnica de projeção
cilíndrica, um tipo de projeção cartográfica que possibilitou a representação na qual uma linha reta
no mapa correspondesse a uma reta semelhante no oceano. Elaborada por Mercator, essa projeção,
que leva o nome de seu criador, foi de extrema importância para trazer segurança e precisão à na-
vegação, o que, juntamente com outras técnicas de navegação, fortaleceu as potências europeias e
contribuiu para o avanço das expedições marítimas.

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Astrolábio.

Bússola.
WIKIMEDIA COMMONS/ JOSEOLGON

Quadrante.

12 A formação do Brasil
AS PRIMEIRAS EXPEDIÇÕES
O momento da largada das expedições marítimas portuguesas rumo ao sul têm uma data: o
ano de 1418. Logo a seguir, entre 1420 e 1427, Portugal conquista as Ilhas da Madeira e dos Açores,
regiões nas quais o governo lusitano implementou o plantio de trigo, uva e cana-de-açúcar. Ora,
apesar desse sucesso, os portugueses não ficam imunes aos problemas. É nesse período da história
que eles se deparam com o temido Cabo Bojador.
Mesmo que não tenham encontrado monstros do mar, os portugueses têm, a partir de então,
que enfrentar os infindáveis e aparentemente intransponíveis arrecifes pontiagudos que compunham
a paisagem física do cabo. Os recifes são perigosos para os navegantes, pois se tratam de bancos ro-
chosos formados à superfície dos oceanos e que podem criar uma espécie de muralha, geralmente
em áreas costeiras de pouca profundidade.
Por isso tudo, quando ali chegavam, as caravelas portuguesas ou eram danificadas ou afun-
davam. Sabe-se que, em um período curto de tempo, cerca de vinte embarcações foram a pique.
Aliás, muitos portugueses, sobretudo os mais supersticiosos, atribuíam a destruição dos barcos não
só aos monstros que circulavam no imaginário, mas também à fúria divina. No entanto, em 1534, o Carta náutica portuguesa, feita pelo
impossível se torna possível. Sob a liderança de Gil Eanes, os portugueses conseguem ultrapassar o cartógrafo Lázaro Luís em 1563. O mapa
temido obstáculo. E com tamanha vitória, os portugueses demonstravam que, além de enfrentar os mostra o continente europeu e parte
arrecifes, eram fortes o suficiente para superar seu medo do desconhecido. da costa oeste do continente africano.
Vemos também uma representação do
Castelo de São Jorge da Mina, erguido
No extremo sul da África em 1482, na atual costa de Gana.
Vencer o cabo do Bojador foi, sem resquício de dúvida, uma

WIKIMEDIA COMMONS/ ALVESGASPAR


linha divisória na história das navegações, já que marca o momen-
to em que Portugal pôde prosseguir as expedições rumo ao sul
da costa africana. Já em 1444, uma dessas expedições regressou a
Portugal transportando cerca de duzentos africanos, que seriam
então vendidos como escravos. Eis o primeiro grupo de africanos
escravizados e vendidos em Portugal. Eis, portanto, a invenção de
uma prática que sem demora se estabeleceria como normal entre
os mercadores portugueses (e de outras proveniências) e que se
alastraria por mais de quatro séculos.
Quem quiser compreender o processo histórico de con-
solidação da escravidão, não pode perder de vista o apoio
religioso de que gozavam os comerciantes e a Coroa. Em 1469,
quando Dom Henrique morreu, os portugueses já haviam de-
sembarcado na atual Serra Leoa. Ora, quando lá chegaram,
tinham consigo uma bula do Papa Eugênio IV que lhes garan-

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tia, além do monopólio comercial no continente africano, o
direito de “capturar e subjugar os sarracenos [muçulmanos]
e pagãos [africanos] e qualquer outro incrédulo ou inimigo
de Cristo, como também seus reinos, ducados, principados
e outras propriedades, assim como reduzir essas pessoas à
escravidão perpétua”.
O domínio da costa africana por meio das navegações
ficou completo quando Bartolomeu Dias, em 1487, dobrou
a extremidade sul do continente africano, chamado de cabo
das Tormentas e, anos depois, de cabo da Boa Esperança por
Dom João II (1481-1495). Quase como se soubesse o próprio
destino, Bartolomeu Dias morreria em 1500 durante uma tor-
menta no então renomeado cabo da Boa Esperança. Mas, mais
importante para o destino das Grandes Navegações, é o fato
de que os portugueses, nessa altura, já tinham traçado o seu
mais ambicioso projeto: o de encontrar o caminho marítimo
para as Índias.

A formação do Brasil 13
Antes de prosseguirmos no estudo das navegações, cumpre frisar que as narrativas históri-
cas sobre o descobrimento não devem nos levar a crer que os territórios da América explorados
pelos europeus a partir das Grandes Navegações estavam desabitados. Muito pelo contrário,
com base em pesquisas arqueológicas, sabemos que, desde 4500 a.C., os povos do continente
americano já tinham formado assentamentos estruturados em torno de práticas agrícolas es-
pecíficas, plantando milho, abóbora, pimentão, tomate e feijão. Esses assentamentos serão os
núcleos iniciais das cidade-Estado que surgirão com o passar do tempo. Por volta de 1800 a.C.,
a civilização maia, situada no sul do México atual, já representava uma organização social bas-
tante complexa, assim como não foram menos complexas as estruturas de poder e as dinâmicas
sociais dos incas e dos astecas.
Inicialmente localizados na Cordilheira dos Andes, o povo Inca, ao atingir seu momento
de maior pujança, se estenderá por mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, englobando
a área que hoje corresponde aos territórios do Peru, do Equador, da Bolívia, da Colômbia, do
Chile e da Argentina. Do mesmo modo, os astecas eram uma civilização dotada de uma enor-
me complexidade. Vivendo ao norte do México atual, esse povo erigiu um verdadeiro império.
Antes de 1521, ano em que Tenochtitlán foi conquistada pelos espanhóis, a civilização asteca
contava com cerca de 15 milhões de pessoas e abarcava uma parcela importante do território
mexicano – indo do Pacífico até o golfo do México. Só para termos uma noção da grandeza
desse império, a população de Tenochtitlán chegou a ter 200 mil habitantes, o que equivalia a
cinco vezes a população da cidade de Londres nesse mesmo período.
Margeando a quase totalidade da costa ocidental da América do Sul, a Cordilheira dos
Andes, cuja extensão cobre 7000 km e cuja altitude média é de 4000 m, é a mais extensa das
cordilheiras continentais do mundo. Ao longo da Cordilheira, as condições climáticas são ri-
gorosas, incluindo aí a excassez de oxigênio, o que produz uma dificuldade de oxigenação do
organismo, sobretudo para aqueles que não são habitantes locais.

PARA CONSTRUIR
1 Levando em conta o conhecimento a respeito dos mares no 2 Leia as afirmações que se seguem e identifique a afirmação
século XV, é possível afirmar que: verdadeira.

a) Cruzar o Atlântico foi uma tarefa que, além de novos co- a) Por conta de proibições religiosas, os povos árabes ja-
nhecimentos, exigiu enorme coragem, já que muitos ain- mais participaram de atividades comerciais, o que fez
da acreditavam que o oceano era cercado por enormes com que a Coroa portuguesa pudesse dominar o co-
abismos, os quais levariam os navegantes à morte certa. mércio marítimo com relativa facilidade.
b) A fim de que as navegações ocorressem de maneira
b) As tecnologias de navegação foram, sobretudo, o resul-
bem-sucedida, a Coroa portuguesa precisou evitar a
tado da pesquisa de monges católicos, os quais estavam
unificação do país, já que a unificação do território na-
interessados em fornecer os saberes para que a cristiani-
cional acabaria por fortalecer os antigos privilégios da
zação de novos povos se tornasse uma realidade.
aristocracia portuguesa.
c) A Coroa portuguesa só conseguiu levar a cabo o pro- c) Como a Coroa portuguesa tinha uma tendência para
jeto de descobrir novas rotas e novos territórios depois conservar a mata original do seu território, uma vez que
que a burguesia mercantil foi eliminada pelos jesuítas, suas florestas eram signos do poder de Deus na Terra, o
que assumiram a liderança dos projetos marítimos. corte de árvores foi sempre proibido, o que obrigava os
d) Fundada pelo Estado, a Escola de Sagres foi uma insti- navegantes a importarem seus navios da Inglaterra.
tuição mantida pela Coroa para que os saberes náuticos d) A Escola de Sagres foi um movimento relativamente au-
fossem desenvolvidos. tônomo de pensadores que se dedicaram a confeccio-
nar instrumentos de navegação, tal como a bússola, o
quadrante e o astrolábio. Certamente, sem esse suporte
técnico, as navegações não teriam sido viáveis.

14 A formação do Brasil
3 (Udesc) Analise o texto abaixo: Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
Las tres caravelas b) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
(...) c) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
Um navegante atrevido d) Somente a afirmativa I é verdadeira.
Saiu de Palos um dia e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
Vinha com três caravelas
4 (UFMG) Veja o texto abaixo.
A Pinta, a Nina e a Santa Maria
As águas são muitas e infindas. E em tal maneira [a
Em terras americanas
terra] é grandiosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará
Saltou feliz certo dia nela, por causa das águas que tem.
Vinha com três caravelas Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me
parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a prin-
A Pinta, a Nina e a Santa Maria
cipal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
Muita coisa sucedeu E que não houvesse mais que ter aqui Vossa Alteza
Daquele tempo pra cá esta pousada para a navegação [...], isso bastava. Mas
O Brasil aconteceu ainda, disposição para nela cumprir-se - e fazer - o que
Vossa Alteza tanto deseja, a saber o acrescentamento da
É o maior, que é que há? nossa Santa Fé!
(...) CAMINHA, Pero Vaz. A Carta. 1 mai. 1500.
Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
Viva Cristóvão Colombo ua000283.pdf>. Acesso em: 29 out. 2018.
Que para nossa alegria De acordo com a carta de Caminha, o descobrimento do
Veio com três caravelas Brasil deve ser relacionado:
A Pinta, a Nina e a Santa Maria a) à procura de produtos que aquecesse a economia no
Continente Europeu.
VELOSO, Caetano; GIL, Gilberto. Três Caravelas
[Las Tres Carabelas]. Rio de Janeiro: Philips, 1968. b) ao ideal de expansão do cristianismo.
c) à divisão que se impôs ao cristianismo depois da Re-
Gravada por Caetano Veloso e Gilberto Gil no disco Tro-
forma Religiosa.
picália ou Panis et Circensis (1968), a letra da canção
acima faz referência: d) à procura da melhor rota marítima para as Índias.

I. ao “descobrimento da América” pelos europeus, desco-


5 Para compreender o processo histórico de consolidação da
brimento que se deu por meio da viagem empreendida
escravidão dos negros africanos no Brasil, não pode deixar de
pelo almirante Cristóvão Colombo, que partiu da costa
levar em conta que:

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


da Espanha e que, em 12 de outubro de 1492, chegou às
ilhas do Caribe. a) Desde o início da modernidade, a Coroa portuguesa se
mostrou contrária à escravidão, mas teve que ceder a ele
II. irônica ao discurso ufanista dos militares brasileiros du- em decorrência da pressão da aristocracia.
rante a ditadura. Para ambos os cantores, o Brasil estava
b) Os africanos já tinham o hábito de levar escravos para o
repetindo o passado, ou seja, estava sendo submisso aos
continente americano muito antes da descoberta do Brasil.
interesses econômicos dos Estados Unidos, da mesma
maneira que foi submisso à Coroa portuguesa no perío- c) A bula redigida pelo Papa Eugênio IV foi fundamental
para a legitimação da escravidão dos negros africanos,
do colonial.
uma vez que conferia o direito de capturar e subjugar os
III. Os cantores, ao escreverem que o navegador “saltou fe- muçulmanos e os pagãos africanos, vistos como inimi-
liz certo dia” nas terras americanas, tenta colocar-se no gos de Cristo.
ponto de vista dos nativos, que consideram a chegada d) o número de indígenas mobilizados para o trabalho no
dos portugueses como o início de uma era de paz, pois Brasil sempre foi muito pequeno, uma vez que eles se
Colombo, além de presentes, trouxe muitas outras coi- esconderam nas matas assim que avistaram a chegada
sas “para nossa alegria”. das caravelas portuguesas.

A formação do Brasil 15
6 (Fepar-PR) A ocupação econômica das terras america- Considere as seguintes afirmativas sobre o movimento co-
nas constitui um episódio da expansão comercial da nhecido como Grandes Navegações.
Europa. Não se trata de deslocamentos de população
I. Inserido no contexto do desenvolvimento do mercanti-
provocados por pressão demográfica – como fora o caso
lismo, resultou numa importante revolução comercial e
da Grécia – ou de grandes movimentos de povos deter-
na formação de vastos impérios coloniais.
minados pela ruptura de um sistema cujo equilíbrio se
mantivesse pela força – caso das migrações germânicas II. Sofreu influência da nova mentalidade criada pelo Re-
em direção ao ocidente e sul da Europa [...] O comércio nascimento cultural e científico. A inquietude intelectual
interno europeu havia alcançado um elevado grau de levou ao desbravamento geográfico, ao rompimento de
desenvolvimento no século XV, quando as invasões tur- fronteiras físicas e de barreiras dogmáticas.
cas começaram a criar dificuldades crescentes às linhas III. Entre uma de suas principais consequências está o deslo-
orientais de abastecimento de produtos de alta quali- camento do eixo econômico do oceano Atlântico para o
dade, inclusive manufaturas. O restabelecimento des- mar Mediterrâneo e o aumento das transações comerciais.
sas linhas, contornando o obstáculo otomano, constitui Das proposições acima,
sem dúvida alguma a maior realização dos europeus na
a) apenas I está correta.
segunda metade desse século.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. b) apenas II está correta.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1963. p. 7. c) apenas I e II estão corretas.
Considere o texto e conhecimentos de história para julgar d) apenas II e III estão corretas.
as afirmativas verdadeiras ou falsas.
e) I, II e III estão corretas.
( ) A segunda diáspora, ou onda colonizadora helênica, foi
determinada principalmente pelo crescimento demográfi- 8 (UEA-AM) Ó mar salgado, quanto do teu sal
co e busca de terras férteis, quando os gregos colonizaram São lágrimas de Portugal!
regiões do Mar Negro, das costas asiáticas e do Mediterrâ-
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
neo, onde ergueram dezenas de cidades. No sul da Itália e
na Sicília fundaram a Magna Grécia. Quantos filhos em vão rezaram!
( ) As invasões bárbaras, notadamente as germânicas, Quantas noivas ficaram por casar
penetraram em terras do Império Romano, terminando por
destruí-lo, fato que assinala o fim da Idade Antiga. Contudo, Para que fosses nosso, ó mar!
ocorrera também a fixação pacífica de tribos germânicas (PESSOA, Fernando. “Mar português”. In: Mensagem, 1970.)
em solo imperial, como colonos, povos federados e até sol- Mensagem foi o único livro que o poeta português Fernan-
dados nas legiões romanas. do Pessoa publicou em vida. Ele pensou, a princípio, dar-lhe
( ) Com a tomada de Constantinopla pelos turcos oto- o título de Portugal, considerando que os poemas tratavam
manos em 1453, fato que marcou o fim da Idade Média, da história do esplendor e da decadência do antigo reino. A
aumentaram as dificuldades no comércio de especiarias via estrofe transcrita exprime com lirismo e tristeza:
mar Mediterrâneo. Décadas antes Portugal já fazia avanços a) o orgulho do poeta em ser descendente de ilustres na-
marítimos no Ciclo Oriental de Navegações. vegadores e a consciência portuguesa de ter criado o
( ) Como tinha interesse em conquistar terras fora da Eu- mundo moderno.
ropa, destinadas a filhos não primogênitos, a nobreza euro- b) os motivos da decadência abrupta de Portugal, devido
peia ocidental foi a classe que mais apoiou as grandes na- aos gastos com a fabricação de caravelas e à perda de
vegações, financiando a equipagem de navios e pesquisas homens nos naufrágios.
na área de geografia e tecnologia naval. c) a resignação cristã que caracterizou a expansão maríti-
( ) Em decorrência de guerras religiosas derivadas da Re- ma portuguesa, carente de qualquer interesse comercial
forma, ocorridas em Portugal e Espanha, numerosa popula- ou político.
ção ibérica, buscando terras e liberdade, fixou-se em terras d) as dificuldades inerentes às navegações marítimas da
americanas, tornando possível a formação dos respectivos Idade Moderna e as suas consequências para a popula-
impérios coloniais. ção portuguesa.
7 (UCS-RS) A expansão marítimo-comercial compreende o pe- e) a perda do domínio dos mares pelo governo português
ríodo das grandes viagens empreendidas pelos países euro- e a redução do número de habitantes do reino com as
peus, nos séculos XV e XVI, em busca de riquezas além-mar. conquistas no além-mar.

16 A formação do Brasil
9. (Enem) 10. (Enem)

H3 TEXTO I H3 O encontro entre o Velho e o Novo Mundo, que a desco-


A centralização econômica, o protecionismo e a expansão ul- berta de Colombo tornou possível, é de um tipo muito
H4 H4 particular: é uma guerra – ou a Conquista –, como se dizia
tramarina engrandeceram o Estado, embora beneficiassem a
burguesia incipiente. então. E um mistério continua: o resultado do combate.
ANDERSON, P. In: DEYON, P. O mercantilismo. Lisboa: Gradiva,1989 Por que a vitória fulgurante, se os habitantes da América
(adaptado). eram tão superiores em número aos adversários e lutaram
TEXTO II no próprio solo? Se nos limitarmos à conquista do México
As interferências da legislação e das práticas exclusivistas – a mais espetacular, já que a civilização mexicana é a mais
restringem a operação benéfica da lei natural na esfera das brilhante do mundo pré-colombiano – como explicar que
relações econômicas. Cortez, liderando centenas de homens, tenha conseguido
SMITH, A. A riqueza das Nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (adaptado). tomar o reino de Montezuma, que dispunha de centenas
de milhares de guerreiros?
TODOROV, T. A conquista da América. São Paulo: Martins Fontes, 1991
Entre os séculos XVI e XIX, diferentes concepções sobre as (adaptado).
relações entre Estado e economia foram formuladas. Tais
No contexto da conquista, conforme análise apresentada
concepções, associadas a cada um dos textos, confrontam-
no texto, uma estratégia para superar as disparidades levan-
-se, respectivamente, na oposição entre as práticas de
tadas foi
a) valorização do pacto colonial — combate à livre-iniciativa.
a) implantar as missões cristãs entre as comunidades sub-
b) defesa dos monopólios régios — apoio à livre concor-
metidas.
rência.
b) utilizar a superioridade física dos mercenários africanos.
c) formação do sistema metropolitano — crítica à livre na-
vegação. c) explorar as rivalidades existentes entre os povos nativos.
d) abandono da acumulação metalista — estímulo ao li- d) introduzir vetores para a disseminação de doenças epi-
vre-comércio. dêmicas.
e) eliminação das tarifas alfandegárias — incentivo ao li- e) comprar terras para o enfraquecimento das teocracias
vre-cambismo. autóctones.

FAÇA VOCÊ MESMO


1 Identifique o principal obstáculo que os europeus tiveram que superar para tentar se livrar dos mediadores que encareciam o
preço das mercadorias.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


2 Descreva os fatores que favoreceram a ascensão da arte da navegação em Portugal.

A formação do Brasil 17
3 Analise o modo pelo qual a Coroa portuguesa incentivou que a burguesia mercantil nacional investisse nas navegações.

4 Explique o motivo pelo qual a Escola de Sagres não era exatamente uma escola.

5 Indique as razões pelas quais o termo descobrimento não é exatamente adequado para descrever a chegada dos portugueses
no continente americano.

18 A formação do Brasil
OS ESPANHÓIS CHEGAM À AMÉRICA
Como tende a acontecer com os programas de governo que se mostram bem-sucedidos, os fei-
tos portugueses impactaram outros povos da Europa, os quais, paulatinamente, aderiram, cada qual
à sua maneira, ao desafio de descobrir um caminho alternativo para as Índias. É desse horizonte de
possibilidades marítimas e comerciais que emergiu a afamada figura do genovês Cristóvão Colombo.
Apostando na esfericidade da Terra, Colombo propôs que o caminho mais curto para as Índias a
partir da Europa era pelo Atlântico. De maneira bastante coerente com os pressupostos implicados
na crença da esfericidade da Terra, Colombo argumentava que o acesso ao Oriente só seria possível
se as caravelas navegassem na direção oposta, isto é, rumo ao Ocidente.

PARA AMPLIAR
Aristóteles e a esfericidade da Terra
O primeiro registro em que se propõe que a Terra é redonda foi feito por Aristóteles em
seu livro De Caelo (Sobre o céu), em 350 a.C. [...]
Para Aristóteles, os ‘elementos pesados’, terra e (com menos intensidade) água, buscam
o seu ‘lugar natural’, que é o centro da Terra e, coincidentemente, o centro do universo. O
formato esférico é o ideal nessa busca. [...]
Além desse raciocínio puro, Aristóteles forneceu argumentos empíricos – baseados na
observação – para justificar o formato esférico da Terra. Um deles é a observação de eclipses
lunares. [...] O fato de eclipses lunares apresentarem sempre o formato de um arco circular e
serem causados pela sombra da Terra na Lua é um indicativo de que a Terra é esférica.
Além disso, os gregos já haviam notado que nos céus havia mais de um tipo de objeto.
Alguns desses objetos ocupavam o mesmo lugar durante todo o ano – as chamadas estrelas
fixas – enquanto outros detinham um movimento errático – os planetas, cujo significado em
grego é, justamente, ‘errante’.
O fato de navegantes observarem um movimento das estrelas fixas à medida que se des-
locavam para o norte ou sul indica que a superfície da Terra deve ser curva.
MORICONI. Marco. A Terra é redonda. Ciência Hoje, 26 dez. 2021. Disponível em:
https://cienciahoje.org.br/artigo/a-terra-e-redonda/. Acesso em: 27 ago. 2021. Na pintura de John Vanderlyn, de 1847,
Cristóvão Colombo desembarca nas
Índias Ocidentais. Sem dúvida, Colombo
entrou para a história como aquele que
Acontece que o rei de Portugal, Dom João II, resolveu não acolher o projeto de Colombo, o que chegou a um continente desconhecido,
imaginando que se dirigia rumo ao
o levou a apresentar sua proposta aos reis espanhóis Fernando e Isabel, obtendo, enfim, o financia-
Oriente, terminando por desembarcar
mento de que necessitava para poder aventurar-se no Atlântico. no que logo viria a se chamar América.
Assim, acompanhado por cerca de noventa ho-

DOMÍNIO PÚBLICO

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


mens, Colombo, em agosto de 1492, zarpou do porto
de Palos, situado na Andaluzia, capitaneando as cara-
velas Santa María, Pinta e Niña.
No dia 12 de outubro do mesmo ano, Colom-
bo, sem jamais deixar de seguir à risca o seu pro-
grama náutico de rumar em direção a oeste para
chegar ao Oriente, avistou terra firme. Exatamente
por isso, Colombo acreditou ter chegado às Índias.
No entanto, logo descobriu que tinha aportado
em um continente até então desconhecido dos
europeus, que seria, posteriormente, denomina-
do de América. Não há acontecimento histórico
que não seja marcado por um número enorme de
surpresas e peripécias. Animado com a descoberta
de territórios desconhecidos, Colombo, contan-
do com o apoio da Espanha, lançou-se, entre 1493
e 1502, em outras três viagens de reconhecimento

A formação do Brasil 19
do continente recém-descoberto. Ora, uma vez que as navegações se caracterizavam como projetos
que visavam a obtenção de ganhos financeiros, a Coroa espanhola não podia permanecer indiferente
ao fato de que, surpreendentemente, nenhuma riqueza havia sido encontrada nesse continente des-
conhecido. Ainda mais surpreendente é que, em 1506, Cristóvão Colombo, por não ter logrado êxito
comercial em suas descobertas, terminaria por morrer em Valladolid, na Espanha, em uma situação
de completo abandono e de total desprestígio.

O Tratado de Tordesilhas
Apesar de amargurar uma situação de completo abandono em seus últimos dias de vida, as
proezas de Colombo criaram as bases para as ferrenhas disputas políticas que ocorreriam entre os
governos portugueses e espanhóis a respeito da legitimidade das pretensões que apresentavam sobre
a demarcação das terras descobertas. Sem poder resolver essa querela, os reis de Portugal e Espanha
O planisfério de Cantino é um dos solicitaram a intermediação do Papa Alexandre VI, a quem coube a tarefa de juiz. Em 7 de junho de
registros mais importantes do período
das navegações, além de mostrar 1494, representantes dos dois governos, sob a orientação do Papa, firmaram o Tratado de Tordesilhas,
as recentes descobertas feitas por que dividia o mundo em dois grandes blocos a partir de uma linha imaginária que ficava 370 léguas
portugueses e espanhóis nas américas a oeste das ilhas de Cabo Verde (veja o mapa a seguir). Sendo assim, as terras já conhecidas, ou que
temos representada também a linha que fossem descobertas a oeste desse marco, pertenceriam à Espanha, ao passo que as terras situadas a
divide o mundo segundo o Tratado de
Tordesilhas. leste seriam de Portugal.

Biblioteca Estense, Modena, Italy


A caminho das Índias
PARA AMPLIAR Uma vez assinado o Tratado de Tordesilhas, os governos espanhóis e portugueses tomaram ca-
minhos diversos no que diz respeito ao tratamento dos territórios descobertos. O governo espanhol
Veja o filme: 1492: A Conquis- optou pela intensificação de suas expedições ao continente americano. Por sua vez, os portugueses
ta do paraíso. Direção: Ridley
decidiram pela manutenção do programa inicial de chegar às Índias contornando a África. Em prol
Scott. França, Espanha, Estados
Unidos e Inglaterra, 1992. (155 da consecução desse projeto, os portugueses, que já haviam atravessado o cabo da Boa Esperança,
min). O filme encena os esforços enviaram uma nova expedição, dessa vez capitaneada por Vasco da Gama. Em julho de 1497, Vas-
de Colombo para empreender co da Gama, contando com quatro navios e aproximadamente 170 homens, partiu de Lisboa. A
sua expedição. Do empenho aventura marítima finalmente alcançaria os resultados esperados. Depois de dobrar o cabo da Boa
para levantar fundos junto à Esperança em novembro desse mesmo ano, a frota portuguesa aportaria em Melinde, na costa do
Coroa espanhola até o momen- Quênia atual, em março do ano seguinte. Além de vencer as dificuldades impostas pelo mar, Vasco
to fatídico do encontro com os
habitantes do chamado Novo
da Gama foi hábil em ultrapassar as diferenças culturais, encontrando em Melinde um marinheiro
Mundo. árabe que o auxiliou a navegar pelo oceano Índico e chegar às Índias, em maio de 1498, quando a
frota portuguesa aportou em Calicute, na Índia atual.

20 A formação do Brasil
Tal como das outras vezes, o sucesso de uma empreitada incentivava novas ações da mesma
envergadura. Por isso, o êxito da expedição comandada por Vasco da Gama fez com que o governo
PARA AMPLIAR
português investisse em outras viagens. Em 1500, uma expedição liderada por Pedro Álvares Cabral Globalização e as grandes
passou por uma série de contratempos e, após ganhar distância da costa africana, alcançou terras a navegações
oeste do Atlântico Sul, isto é, encontrou o que mais tarde viria a ser conhecido como Brasil. No en-
Apesar de o conceito de globa-
tanto, somente no ano seguinte, quando o florentino Américo Vespúcio , a serviço do rei de Portugal,
lização só passar a ser utilizado
mapeou essas terras, é que os portugueses formularam a conclusão de que não tinham chegado às na segunda metade do século
Índias, e sim em um outro continente, que, em sua homenagem, ganhou o nome de América. XX, muitos pesquisadores con-
Estamos no período histórico no qual o mapeamento da Terra se tornou realidade. Em 1519, o sideram as grandes navegações
português Fernão de Magalhães, com apoio da Coroa espanhola, iniciou a primeira expedição com como o período em que se deu
o objetivo de empreender uma viagem ao redor da Terra. Embora tenha morrido em uma ilha do início a esse processo. No texto a
oceano Pacífico, a viagem de circum-navegação iniciada por Fernão seria finalizada por Sebastião seguir, há alguns dos fatores que
Elcano, que regressou à Espanha em 1522 (veja o mapa a seguir). levam pesquisadores a estabele-
cer essa relação.

Mapa da viagem de Fernão de Magalhães e Sebastião Elcano

LAB212
20/09/1519
06/09/1522

Samar
16 Março 1521
Homonhon
Mactán 17 Março 1521
27 Abril 1521

Sanlúcar de Barrameda Cebu


20 de Setembro, 1519 7 Abril 1521
OCEANO 6 de Setembro, 1522
Limasawa OCEANO
ATLÂNTICO 28 Março 1521 PACÍFICO
Canárias
26 Setembro 1519
Ilhas dos Ladrões
OCEANO (Ilhas Marianas)
PACÍFICO Ilhas de Cabo Verde Palawan
6 Março 1521
9 Julho, 1522
Brunei 8 Novembro 1521 Tidore

29 Dezembro 1521 Amboina


Ilha de San Pablo OCEANO
(Ilha Vostok ou Ilha Flint) ÍNDICO 25 Janeiro 1522 Timor
4 Fevereiro 1520 Ilhas dos Tubarões 29 Novembro 1519
(Pukapuka)
21 Janeiro 1521 13 Dezembro 1519
Baía de Santa Lúcia
(Baía de Guanabara) 19 Maio 1522
12 Janeiro 1520
Rio de Solis
(Rio da Prata) Cabo da Boa Esperança

31 Março 1520 Porto de San Julian


Cabo Desejado 21 Outubro 1520 Cabo Vírgenes
Magalhães 28 Novembro 1520 Data de chegada
(Cap des Vierges) 26 Setembro 1519
Elcano ou de passagem
Estreito de Todos os Santos
Escala (Estreito de Magalhães) Cabo Desejado Nome atribuído
Reconhecimento
Morte de Magalhães (Ilhas Marianas) Nome atual

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


ENQUANTO ISSO ACESSE TAMBÉM
Visite a exposição vir-
Os chineses tual O mundo luso-bra-
Paralelamente aos descobrimentos realizados pelos europeus, outros importantes acontecimen- sileiro no site do arqui-
tos ocorriam em outras partes do planeta. Enquanto os portugueses estavam se preparando para vo nacional, que trata
suas expedições rumo à Índia, um navegante chinês já dominava a arte marítima de atravessar da expansão marítima
o oceano Índico. Eunuco, oriundo de família muçulmana e a serviço do império chinês, Zheng portuguesa. Acesse o
QR Code:
He (1371-1435) realizou, entre 1405 e 1433, sete expedições pelo oceano Índico, que o levaram
ao sudeste da Ásia, à Índia, ao Golfo Pérsico e à África Oriental. Para cumprir a sua missão, Zheng,
além de mobilizar uma frota de 62 embarcações, contendo nelas cerca de 30 mil marinheiros,
também contou com o auxílio absolutamente indispensável da bússola, instrumento inventado
pelos chineses 2 mil anos antes. Não menos digno de nota é o fato de que, ao longo dessas
sucessivas viagens, os chineses estabeleceram pontos de contato com mais de quarenta reinos,
costurando relações diplomáticas e comerciais com os povos.

A formação do Brasil 21
O que chamamos de primeira etapa da globalização foi resultado de amplos investi-
mentos estatais e privados em busca de novas rotas marítimas da economia do mundo –
Europa –, em direção às outras economias mundiais – China, Índia, África e América. É
de se perceber que a visão empreendedora europeia ultrapassava os limites geográficos do
continente, procurando exercer o controle da produção e do consumo nos outros merca-
dos. Nessas novas áreas conquistadas foram desenvolvidas atividades de acordo com o
potencial de cada região. Na América, por exemplo, desenvolveram-se colônias de explo-
ração ao Sul, baseadas na monocultura e no trabalho escravo indígena e africano; e ao
Norte, colônias de povoamento, baseadas na propriedade de exploração familiar. [...]
Com o estabelecimento das colônias desenvolveu-se o comércio triangular entre a
Europa, África e América, no qual o primeiro fornecia a manufatura, o segundo a mão
de obra escrava e o terceiro os produtos coloniais. Estava assim consolidado o intercâm-
bio entre três das cinco economias do mundo. Vale salientar que as outras economias
mundiais, Índia e China, não ficaram fora desse processo, uma vez que os europeus
estabeleceram feitorias na Índia, China e Japão, interligadas com as demais através das
rotas marítimas orientais, fechando assim o grande anel planetário em torno da econo-
mia/mãe –, Europa.
SILVA, Lemuel Rodrigues da; JUNIOR, Orivaldo Pimentel Lopes. Globalização – de sua gênese mercantilista
ao neoliberalismo burguês. Revista eletrônica Inter-Legere, n. 3, p. 1-13, 2008. Disponível em: <https://periodicos.
ufrn.br/interlegere/article/view/4752> . Acesso em: 14 jul. 2022.

[Em 1430] O imperador nomeou Zheng He seu embaixador. O édito de Xuanzong


Shi-lu, datado de 29 de junho de 1430, proclama: "Tudo se encontrava próspero e re-
novado, mas os países estrangeiros distantes, localizados além-mar, ainda não tinham
conhecimento disso. Por essa razão, os Grandes Diretores Zheng He, Wang Jinghong e
outros foram especialmente enviados, levando a notícia, para os instruírem a fim de que
demonstrem deferência e submissão."
A viagem para "instruir" os estrangeiros foi o apogeu da grandiosa carreira do almi-
rante Zheng He. Antes da partida, ele teve duas inscrições talhadas em pedra para do-
cumentar seus feitos. [...]
[...]
As recomendações do imperador a Zheng He, de que as terras distantes de além-mar
fossem instruídas para que seguissem o caminho do Céu, parecem então impressionan-
tes. O almirante estava recebendo a ordem de retornar a todos os três mil países que
tinha visitado durante sua vida no mar. A tarefa requeria um grande número de navios
– várias frotas de vulto preparadas para viagens pelo mundo. O que explica o longo
intervalo de tempo entre o édito imperial e a partida das frotas de águas chinesas, cerca
de dois anos depois.
MENZIES, Gavin. 1434: o ano em que uma magnífica frota chinesa velejou para a Itália e deu início ao
Renascimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. p. 23 e 25.
E em relação à filosofia chinesa, leia o texto a seguir.
A filosofia é tão importante na China quanto a religião é no ocidente. Por isso mui-
tos ocidentais confundem propostas filosóficas como o confucionismo e taoísmo com
religiões. Embora existam de fato expressões religiosas destas correntes, elas não se re-
sumem a isso.
Somando o Budismo Chinês ao Confucionismo e ao Taoísmo temos as três princi-
pais correntes filosóficas da tradição chinesa. Entretanto estes são nomes abrangentes
demais e usados por escolas filosóficas bem diferentes (e até mesmo opostas) no decor-
rer dos séculos.
Se há algo em comum a todas estas tradições é a sua principal questão que tentam
responder: como ser um ser humano perfeito? Note que a pergunta não é "O que é",
como provavelmente um ocidental perguntaria, mas sim "Como ser." E isso muda tudo.
TAMOSAUSKAS, Thiago. Filosofia chinesa: pensadores chineses de todos os tempos. Coleção Filosofia de todas
as cores.

22 A formação do Brasil
PARA CONSTRUIR
1 (UPM-SP) III. A escolha do comandante da esquadra portuguesa as-
(...) Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de sinala o momento histórico em que a Coroa portuguesa
privilegia uma burocracia eficiente em detrimento aos
terra! Primeiramente dum monte, mui alto e redondo; e
privilégios da aristocracia.
doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com
grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs o nome IV. A expedição foi montada para que a Coroa pudesse
– o Monte Pascoal, e à terra – a Terra de Vera Cruz.”. criar rotas comerciais de especiarias com o Oriente; a
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta. In: Freitas a el -rei D. Manuel.
“descoberta do Brasil”, porém, era um resultado deseja-
In FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa: do, já que os portugueses ambicionavam o controle da
Plátano, 1986. V. II, p. 99-100. navegação no Atlântico Sul.
Pero Vaz de Caminha, tripulante da armada de Pedro Álva- Estão corretas apenas as afirmativas:
rez Cabral, escreveu o trecho acima para o rei português D. a) I e II.
Manuel, com o objetivo de relatar o descobrimento do Bra-
b) II e IV.
sil. Ora, a expedição marítima que levou ao descobrimento
c) I, II e III.
do Brasil deve ser compreendida no contexto de uma:
d) I, III e IV.
a) estratégia para obter novas terras, sobretudo para acal-
mar os ânimos dos nobres portugueses que tinham e) II, III e IV.
perdido dinheiro e posição social com o declínio do
feudalismo, ocorrido durante o século XIV. 3 (PUC-RS) Analise as afirmativas sobre o descobrimento do
b) tentativa de fortalecer o poder da Igreja junto às Mo- Brasil, preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F
narquias ibéricas, já que a Igreja tinha que barrar o (falso).
avanço mulçumano no Mediterrâneo, bem como ex- ( ) Fez parte do processo de expansão comercial dos
pandir o catolicismo por meio da cristianização dos países europeu, que buscavam encontrar novas fontes de
indígenas. metais preciosos e de mercadorias para abastecer o merca-
c) busca por metais preciosos, já que a Europa enfrentava do consumidor europeu.
uma fortíssima escassez de outro e prata, devido ao fim ( ) Representou um dos momentos mais importantes
do comércio com o Oriente. da construção do império ultramarino português, na me-
d) política de ocupação do território brasileiro, ocupação dida em que os metais preciosos que foram encontrados
destinada a assegurar que a Coroa portuguesa melhor logo na chegada dos Portugueses levou a Coroa portugue-
administrasse os territórios a ela concedidos pelo Trata- sa a promover a colonização do atual território brasileiro.
do de Tordesilhas, assinado em 1494. ( ) É considerado estrategicamente fundamental para o
e) ocupação oficial das terras garantidas a Portugal pelo enriquecimento da Coroa portuguesa, já que a rota des-
acordo de Tordesilhas, acordo que firmava que Portugal coberta por Vasco da Gama para o comércio com as Ín-

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


detinha o controle da rota atlântica, o que significava ter dias, em 1498, exigia que Portugal criasse novos portos no
acesso ao lucrativo comércio de especiarias. Atlântico Sul, de modo a poder reparar e reabastecer os
navios.
( ) É visto como um momento trágico para os indíge-
2 (PUC-RS) Considere as afirmações a respeito da viagem do
nas, uma vez que a exploração do pau-brasil, certamente
“descobrimento do Brasil” empreendida por Pedro Álvares
a primeira riqueza explorada pelos portugueses no novo
Cabral, o responsável por chegar no litoral brasileiro, em abril
território, conduziu à escravização dos indígenas.
de 1500.
O correto preenchimento dos parênteses, de cima para
I. A expedição foi uma iniciativa exclusiva da Coroa portu- baixo, é
guesa, não havendo qualquer participação ou influên-
a) V – V – F – F
cia do setor privado.
b) V – F – V – F
II. A Igreja Católica deu seu apoio à viagem de Cabral, na
medida em que estava interessada em levar o cristianis- c) V – F – F – V
mo para além do território europeu. Sem dúvida, a Igre- d) F – F – V – V
ja foi fundamental para dar legitimidade ao empreendi- e) F – F – V – F
mento dos descobrimentos.

A formação do Brasil 23
4 (UEPB) Considerando a realidade da América portuguesa nas que se baseiam em pequena propriedade, trabalho livre
três primeiras décadas do século XVI, é correto afirmar: e mercado interno; além disso, o Antigo Sistema Colo-
nial garantia superlucros às respectivas metrópoles.
a) Gaspar de Lemos, responsável pela expedição explora-
dora de 1501, criou o sistema de Capitanias Hereditárias, b) dois tipos de colonização significam a coexistência de
especialmente a fim de garantir a produção e o comér- dois processos históricos diferentes, um ligado à Idade
cio da cana-de-açúcar. Média e outro ligado à Idade Moderna, com característi-
cas semelhantes, como o comércio triangular, a grande
b) Com medo dos contrabandistas franceses e ingleses
e a pequena propriedades, o autogoverno e o exclusivo
que rumavam até a costa brasileira em busca do pau-
metropolitano.
-brasil, a Coroa portuguesa, desde os primórdios do des-
cobrimento, proibiu o estanco do pau-brasil. c) a colonização de povoamento, típica do Sistema Co-
lonial Mercantilista, baseia-se em grande propriedade,
c) As expedições de Cristovão Jackes, em 1516 e 1526, não
foram expedições de natureza militar, já que foram pen- trabalho escravo e produção voltada para o mercado
sadas apenas como meio de levar a cabo o reconheci- externo, o que implica o exclusivo metropolitano como
mento dos territórios onde seriam implantadas as cha- base das relações entre Metrópole e Colônia.
madas feitorias. d) os dois tipos de colonização, de exploração e de po-
d) Com autorização da Coroa portuguesa, a extração de voamento, explicam-se por processos diferentes: a de
pau-brasil, uma atividade nômade e predatória, foi a exploração está ligada à acumulação de riqueza para a
primeira atividade econômica da colônia, uma atividade Metrópole moderna, com grande propriedade e traba-
que não visou qualquer forma de promover o povoa- lho escravo, enquanto a colonização de povoamento
mento do novo Continente. liga-se à Metrópole industrializada.
e) Raramente, a mão de obra indígena foi usada para a ex- e) o sentido profundo da colonização moderna é comer-
tração de pau-brasil. Além disso, os portugueses, quan- cial e capitalista, pois as colônias de exploração, típicas
do os índios trabalhavam nessa atividade, presenteava- do Antigo Sistema Colonial, nasceram para as Metrópo-
-os com objetos de grande valor no mercado europeu. les acumularem riqueza; e é dentro desse processo de
análise de conjunto que se torna inteligível a existência
do outro tipo, a colonização de povoamento.
5 Explique o motivo pelo qual Cristóvão Colombo acreditava
que o caminho mais curto para as Índias partindo da Europa 7 (FGV-2016)
era pelo Atlântico. H3 A partir do século XV, com o périplo africano, a exploração
do litoral da África permitiu que os portugueses estabeleces-
H4 sem feitorias e intensificassem suas atividades mercantis. A
respeito das atividades comerciais que se desenvolviam no
continente africano a partir do século XV, assinale a afirmação
correta.
a) As rotas internas da África só se articularam ao circuito
6 (FGV-2016) mercantil do Mediterrâneo com a expansão marítima e
A colonização do Novo Mundo na época moderna com a transposição do Cabo das Tormentas.
H3
apresenta-se como peça de um sistema, instrumento da b) As rotas saarianas haviam sido intensificadas com a ex-
H5 acumulação primitiva, da época do capitalismo mercan- pansão islâmica e articularam-se ao processo de expan-
til. Na realidade, nem toda colonização se desenrola den- são comercial que envolveu também as rotas asiáticas
tro das travas do sistema colonial, pois a colonização de especiarias.
inglesa na América do Norte, colônias de povoamento, c) As rotas africanas do Saara foram interrompidas com o
deu-se fora dos mecanismos definidores do sistema co- périplo português, que ampliou e acelerou o escoamen-
lonial mercantilista. to dos produtos do interior do continente.
(Fernando Novais. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial,
1989. Adaptado)
d) O comércio interno do continente africano baseava-se
no tráfico de escravos e no escravismo, sistema de ex-
A partir do texto, é correto afirmar que ploração e venda de seres humanos, criado na África.
a) coexistem, no processo de colonização na Idade Mo- e) As atividades mercantis africanas dependiam do trânsito
derna, dois tipos de colônias: as de exploração e as de de mercadorias de luxo vindas da Ásia, dado que o con-
povoamento, sendo estas as mais encontradas, uma vez tinente africano não produzia esse tipo de mercadoria.

24 A formação do Brasil
FAÇA VOCÊ MESMO
1 Explique o motivo pelo qual a América foi descoberta sem nenhuma intenção prévia.

2 Identifique o que fez com que Colombo terminasse sua vida desprestigiado, mesmo tendo descoberto um novo continente.

3 Descreva o papel da Igreja na mediação dos conflitos entre Portugal e Espanha no início dos descobrimentos.

4 Explique a origem do nome América.

5 Do ponto de vista do saber náutico, identifique qual foi um dos maiores marcos do período dos descobrimentos.

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


6 Observando o processo de colonização da América, pesquise as línguas europeias que são faladas no continente americano.

A formação do Brasil 25
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Junto aos colegas que compõe o grupo, aprofunde a pesquisa em torno do tema da crença dos abismos
que cercavam os mares e que, nessa medida, constituíam uma espécie de limite natural para o avanço da curiosi-
dade humana. Ora, ainda que essas crenças pareçam ultrapassadas, o que importa é perceber que as navegações
transformaram os limites em limiares, quer dizer, em algo que pode e deve ser ultrapassado.
Portanto, discuta com os colegas sobre temas que hoje em dia são tidos como naturalmente bloqueados
ao avanço do saber humano.
Outra possibilidade é localizar quais os saberes da atualidade que operam a partir da ideia de inimigo, tendo
como exemplo a bula redigida pelo Papa Eugênio IV, fundamental para a legitimação da escravidão dos negros
africanos, uma vez que forneceu as condições legais para a captura de inimigos de Cristo. Dessa forma, vale a
pena discorrer sobre o modo como certos sujeitos são destituídos de qualquer direito a partir do momento em
que esta ou aquela autoridade afirma que eles são apenas inimigos a serem combatidos.

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