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A INVASÃO COLONIALISTA DA ÁFRICA E A SUA PARTILHA

CAUSAS ECONÓMICAS DA EXPANSÃO COLONIAL EUROPEIA EM ÁFRICA, A PARTIR DO

ÚLTIMO TERÇO DO SÉCULO XIX

As causas económicas da expansão colonial europeia em África foram, essencialmente,


as seguintes:

- Perda das colónias europeias na América (as quais proclamaram a sua independência).

- Desenvolvimento industrial da Europa, no século XIX.

- Crise económica de 1873 (crise de super produção).

- Surgimento do capitalismo monopolista.

Após a independência das colónias europeias na América, o desenvolvimento industrial


da Europa acabou por conduzir à expansão colonial em África, porque a grande
indústria europeia precisava cada vez mais de mercados para o fornecimento de
matérias-primas e consumo dos produtos acabados.

A crise económica de 1873, jogou um papel particular na expansão europeia para o


continente africano porque, nesse ano põe-se, pela primeira vez, em termos dramáticos
o problema do escoamento dos produtos e a concepção da expansão torna-se decisiva.

Com a depressão internacional da indústria europeia na década de 70 do século XIX,


começou o período de desenvolvimento dos monopólios. Com o surgimento do
capitalismo monopolista, os países capitalistas europeus esforçaram-se por adquirir
colónias que fossem fornecedoras de matérias-primas baratas e consumidoras dos
produtos da indústria europeia, pois, segundo Lenine, a posse de colónias era a única
coisa que garantia de maneira completa o êxito do monopólio contra todas as
contingências da luta com o adversário.

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CAUSAS ECONÓMICAS DA EXPANSÃO COLONIAL EUROPEIA EM ÁFRICA, NO FIM DO SÉCULO XIX

PERDA DAS COLÓNIAS EUROPEIAS NA AMÉRICA


(AS QUAIS PROCLAMARAM A SUA INDEPENDÊNCIA)

ACELERADO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE


ALGUNS PAÍSES EUROEPUS, NO SÉC. XIX
EXPANSÃO
COLONIAL
CRISE ECONÓMICA DE 1873 EUROPEIA
(CRISE DE SUPER PRODUÇÃO) EM ÁFRICA
NO FIM DO
SÉC. XIX

SURGIMENTO DO CAPITALISMO MONOPOLISTA

NECESSIDADE DE COLÓNIAS

MERCADOS DE
FONTE DE
CONSUMO DOS
MATÉRIAS –
PRODUTOS DA
PRIMAS
INDÚSTRIA

MOTIVAÇÕES POLÍTICAS DA EXPANSÃO COLONIAL EUROPEIA EM ÁFRICA, A PARTIR


DO ÚLTIMO TERÇO DO SÉCULO XIX

Entre as motivações políticas que impulsionaram a expansão europeia em África, nos


finais do século XIX «as mais importantes foram a estratégia e o objectivo de defender,
para lá dos mares, o princípio do equilíbrio europeu» (Monnier, 1968: 63), quer dizer, a
rivalidade entre as grandes potências europeias (Inglaterra, França e Alemanha)
impulsionou-as para as conquistas em África como tentativa, por um lado, de manterem
o seu lugar no concerto político europeu e, por outro lado, de criar obstáculos ao
engrandecimento das potências rivais.

MOTIVAÇÕES IDEOLÓGICAS DA EXPANSÃO COLONIAL EUROPEIA EM ÁFRICA, A


PARTIR DO ÚLTIMO TERÇO DO SÉCULO XIX

A Europa, fortemente interessada na posse de África por razões económicas e políticas,


vai procurar uma justificação moral para as suas acções, apoiando-se nas descrições de
missionários que fizeram crer que o homem branco deveria jogar em África um grande
papel civilizador, ajudando as populações “primitivas” a elevarem-se, instruindo-as e

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evangelizando-as. Assim, a colonização aparecia como um dever humanitário para a
civilização e evangelização dos africanos.

A RIVALIDADE EUROPEIA NA REGIÃO DO CONGO NO ÚLTIMO


QUARTEL DO SÉCULO XIX

As descrições feitas por Cameron das riquezas das terras percorridas, na África Central,
particularmente da existência de jazigos de cobre na região do Catanga, atraíram as
atenções das potências europeias e de Leopoldo II da Bélgica para a região.
A 2.ª viagem de Stanley, ao dar conhecer que o rio Congo ou Zaire podia ser uma
poderosa via de comunicação na África central, uma vez que era navegável na maior
parte do seu percurso, aumentou o interesse europeu pela região e levou o rei belga,
Leopoldo II, a constituir, em 1878, o Comité de estudos do Alto Congo, dirigido por
Stanley. Este explorador regressou à África Central em 1879, tendo recebido instruções
de Leopoldo II para organizar no Congo três estações politicamente independentes ou
para criar na região Estados Negros sob a soberania do Comité de Estudos do Alto
Congo.
Entretanto, em 1880, Brazza colocou sob protecção da França os territórios submetidos
à soberania do Rei Makoko, localizados na margem direita de Stanley Pool e adquiriu
um território junto ao Pool para a instalação de uma estação francesa que viria a ser
Brazzaville. Quando Stanley chegou ao Pool foi obrigado a passar para a margem
esquerda onde fundou a estação que viria a ser Leopoldville, tendo regressado depois à
Europa para informar o rei Belga da acção realizada por Brazza, ao serviço da França.
Em Novembro de 1882, o governo francês, ratificou o tratado assinado entre Brazza e o
rei Makoko, apesar dos esforços de Leopoldo II para o impedir.
A interferência directa da França na África Central vai fazer crescer os esforços de
Leopoldo II e de Stanley para alargarem a sua obra, tendo o Comité de Estudos do Alto
Congo sido substituído pela Associação Internacional Africana, mais arrojada e mais
prática.
A Inglaterra receando que a região do Congo ficasse sob domínio da França assina com
Portugal o Tratado Luso – Britânico de 26 de Fevereiro de 1884, conhecido por
“Tratado do Zaire”, que reconhecia a soberania portuguesa em toda a costa ocidental
africana compreendida entre os paralelos 5º 12’ e 8º de latitude sul (desde Malembo e
Cabinda até ao Ambriz e até Nóqui, no interior).

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Logo que ficou conhecido na Europa, o Tratado do Zaire suscitou severas críticas quer
de Leopoldo II, quer da França porque viam as suas ambições territoriais ameaçadas,
bem como da opinião pública britânica que considerava Portugal um país retrógrado que
nada de positivo faria na região.
Leopoldo II compreendeu que para ficar com a região do Congo teria que jogar com
rivalidade existente entre a Inglaterra, a França e a Alemanha. Assim, prometeu à
França o direito de preferência se, por circunstâncias imprevistas, tivesse de alienar as
suas possessões na África Central. Desta forma diminuía as tensões existentes no
terreno entre a França e a Associação Internacional do Congo e, por outro lado, fazia
pressão sobre a Inglaterra e a Alemanha para evitar que os seus territórios passassem
para a França. Além disto, prometia que se ficasse na região do Congo, constituiria um
“Estado Livre” aberto ao comércio de todas as nações. Assim, a opinião internacional
ficou mais favorável à criação do Estado Livre do Congo do que à instalação de
qualquer outra potência europeia na região, exigindo direitos sobre as mercadorias.
A Alemanha manifesta a sua oposição ao Tratado do Zaire, ao mesmo tempo que decide
ocupar o Sudoeste Africano (Abril de 1884). E o governo britânico informa o governo
português de que não podia ratificar o Tratado do Zaire devido às objecções feitas pelas
outras potências. Então, Portugal propõe a realização de uma Conferência internacional
sobre assuntos africanos. A ideia seria materializada pela Alemanha que, em conjunto
com a França, preparou o programa para a Conferência de Berlim de 1884.

A CONFERÊNCIA DE BERLIM DE 1884/85

A Conferência de Berlim realizou-se de 15 de Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de


1885, em Berlim, capital da Alemanha, sob a presidência do Chanceler alemão Bismark,
estando presentes os plenipotenciários de catorze países: Alemanha, França, Grã-
Bretanha, Espanha, Portugal, Bélgica, Império Austro-húngaro, Dinamarca, Estados
Unidos da América, Itália, Reino da Suécia e Noruega, Reino dos Países Baixos, Rússia
e Turquia.

A Conferência de Berlim de 1884/85 foi um acontecimento de grande importância na


evolução histórica do continente africano pelas seguintes razões:

- Estipulou a liberdade de comércio na Bacia Convencional do Congo (território


percorrido pelo rio Congo e seus afluentes, incluindo também o lago Tanganiyka e seus
afluentes orientais) para todos os países signatários do Acto Geral de Berlim (isenção

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de direitos de entrada e de trânsito de mercadorias na bacia convencional do
Congo por um período de 20 anos).

- Estabeleceu a liberdade de navegação nos rios Congo e Níger e seus afluentes, para
os navios de todas as nações em perfeita igualdade, não sendo submetidos a direitos de
trânsito nem a portagens baseadas no simples facto da navegação.

- Definiu formalidades para que futuras ocupações, nas costas africanas, fossem
consideradas efectivas, nomeadamente a notificação e a ocupação efectiva. De acordo
com o princípio da notificação, qualquer país que tencionasse estabelecer
protectorados ou adquirir possessões em África deveria acompanhar a respectiva acta
duma notificação às outras potências signatárias do Acto Geral de Berlim, a fim de as
pôr em condições de fazer valer as suas reclamações. O princípio da ocupação efectiva
exigia a existência nos territórios africanos, sob domínio de um país signatário do Acto
Geral de Berlim, de uma autoridade suficiente para fazer respeitar os direitos adquiridos
pelo país colonizador. Estes princípios põem em evidência o papel desempenhado pela
Conferência de Berlim no destino que o imperialismo europeu reservou ao continente
africano.

- Criou oficialmente o Estado Livre do Congo, presidido pelo rei belga Leopoldo II,
após a assinatura dos acordos de 5/2/1885 entre a França e a A.I.C. e de 14/2/1885 entre
Portugal e a A.I.C., acordos que delimitaram as respectivas possessões na África
Central. Estes acordos foram dados a conhecer aos plenipotenciários dos países
presentes na Conferência de Berlim, na sessão do dia 23/2/1885, na altura da criação
oficial do Estado Livre do Congo.

A PARTILHA DA ÁFRICA

A Conferência de Berlim foi o ponto de partida para a partilha da África porque na


sessão de 23 de Fevereiro de 1885 concordou com a partilha de grande parte da África
Central feita entre a França e a A.I.C., a 5/2/1885, e entre Portugal e a A.I.C., a
14/2/1885, aprovando nessa sessão a criação do Estado Livre do Congo, presidido por
Leopoldo II da Bélgica. O mapa de África elaborado em 1885, logo após a Conferência
de Berlim, já contém o Estado Livre do Congo mas o interior de África continua
representado em branco, tal como o mapa elaborado em 1884.
Além disto, no âmbito das formalidades a observar para que futuras ocupações nas
costas de África fossem consideradas efectivas, a Conferência de Berlim estabeleceu o

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princípio da notificação que estipulava a obrigação para as potências que no futuro
assumissem protectorados nas costas do continente africano de acompanhar a respectiva
acta duma notificação às outras potências signatárias do Acto Geral de Berlim, a fim de
as pôr em condições de fazer valer as suas reclamações. Ora, é evidente que este
princípio seria descabido se a partilha integral do continente africano tivesse sido
efectuada na referida conferência. Neste caso teria sido estipulado apenas o princípio da
ocupação efectiva que exigia a existência de uma autoridade suficiente nos territórios
africanos ocupados e não os dois princípios. Estes princípios põem em evidência o
papel desempenhado pela Conferência de Berlim no destino que o imperialismo
europeu reservou ao continente africano.

A rápida partilha da África foi, em grande parte, provocada pela actuação da Alemanha
a qual proclamou, a 27/2/1885, o estabelecimento do protectorado alemão numa vasta
região da África Oriental (Tanganiyka e os actuais Ruanda e Burundi). Este facto
alarmou a Inglaterra e a França, rivais entre si e rivais da Alemanha, pois, esta última
(que tinha despertado um pouco tarde para a expansão colonial, uma vez que apenas em
Abril de 1884 deu início à ocupação de territórios em África, apoderando-se do
Sudoeste Africano e, depois, do Togo e dos Camarões) parecia apostada em recuperar o
tempo perdido e as outras duas potências europeias não estavam dispostas a perder a
corrida para a África.

Cada uma dessas potências traçou os seus projectos para a ocupação do continente
africano: a Inglaterra projectou unir o Cabo ao Cairo; a França, unir o Senegal ao
Djibuti, a Alemanha, unir os Camarões à África Oriental Alemã e esta ao Sudoeste
Africano, englobando nesse projecto, conhecido por Mittel Afrika, o Congo Belga e
grande parte de Angola e Moçambique.

Sempre que ocorriam choques no terreno entre duas destas potências, os problemas
eram resolvidos com recurso à política de compensação mundial, que consistia em
uma das potências renunciar à região em disputa recebendo, em compensação o direito
de ocupar uma outra região no continente africano ou fora dele.

Assim, o choque entre Britânicos e Alemães no Uganda foi resolvido pelo tratado
germano-britânico de 1890 em que a Alemanha renunciou ao Uganda, em benefício da
Inglaterra, tendo recebido, em compensação, a ilha de Heligolândia e o Beco de Caprivi,
que permitia o acesso dos alemães do Sudoeste Africano ao rio Zambeze, para permitir
a realização do Mittel Afrika.
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O choque entre Franceses e Ingleses em Fachoda, no Sudão, foi resolvido em 1904, pela
declaração franco-britânica que reconhecia os direitos da Inglaterra sobre o Egipto e da
França sobre Marrocos.

O choque entre Franceses e Alemães em Marrocos, foi resolvido pelo compromisso


franco-alemão de 1911 que reconhecia o protectorado da França sobre Marrocos em
troca da cedência à Alemanha de um território no Congo Francês para permitir o acesso
dos Alemães a partir dos Camarões aos rios Ubangui e Congo, com o objectivo de
materializar a Mittel Afrika.

Entretanto, quando ocorria um choque entre uma potência e outro país mais fraco não
vigorava a política de compensação mundial. Foi o que aconteceu em 1890, quando a
Grã-Bretanha enviou um ultimato ao Governo português exigindo a retirada de todas as
forças portuguesas das regiões entre Angola e Moçambique, porque o projecto
português do mapa cor-de-rosa, chocava com o projecto britânico (Cabo - Cairo).
Em face do que acabamos de explicar podemos concluir que, efectivamente, a partilha
da África foi efectuada em função do poderio económico e militar de alguns países
europeus e tendo em conta, muitas vezes, a política de compensação mundial.

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