Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O PASSARO0 DO MEL
ESTUDOS DE HISTÓRIA AFRICANA
Ediçöes Colibri
Biblioteca Nacional - Catalogação na Publicação
CDU 946)"18/19"
94(673)"18/19"
em.África. põe
cada vez mais
ia a em evid se consideram os cuidados tomados na
comércio em Africa, que permitiu connecer, exis dificil comércio não pode deixar de
a
comercio interafricano autónomol26 isso que pensamos que o
Kasanje!28. E por
tência denão se importante
comércio
um Este
limita aos mercados locais, e os historiadores põemhoje das formas de gestão política,
n a medida em que
não poucos
o controlo das populações. Podemos pensar que
ou assegurar
oral, säo a consequência destes
conflitos de que nos dá conta a tradição
1. A noção de complementaridade aos quais se acrescentam aqueles injectados
interesses contraditórios,
mercadorias.
territórios e seja directamente, seja por intermédio das
africanos, que mobilizaram os pelos europeus,
Estes fluxos comerciais mais procurados, não podem deixar de ser os mais importan-
caracterizaram-se por uma anmpla circu- Os lugares
populações da Africa central, uma reorganizaço da geografia
tes nesta lógica comercial, o que implica
as
africanas, que não repelem locais
-
utilizamos
a David Livingstone
A Angola que
parte. fronteiras
ultrapassa largamente
em as
se e n c o n t r a m na escolhemos
ervas salgadas que razão julgamos nós, exce-
muitas
aos espaços "angolanos Por que constitui a primeira e,
temente. as populações africanas
ligadas halicão do tráfico negreiro
aos africanos pelas potências colo
sal marinho, embora nao tenhamos encontrad Esta situação, imposta obriga as
procuram muito expli
o
nte razão. os d o i s grupos e, por ricochete,
esta quase rejeição. modif+ca as
relaçoes entre de produção. O
cação suficiente para niais, modificar as suas actividades
produções para o comi.
de africanas a
Osal é não só o agente impulsionador das relações inter-afric
atoridades mantem-se no interior do território, mas reduz-se.
o agente dinamizador que ainda
mas é ele próprio
escravos
nas. comércio de
"mercadoria".
cio. dos preços dessa
disseminadas vasto território que aoui uma queda
Se bem que haja ervas salgadas no tal como se regista
analisada.
consideramos. a verdade é registar-se uma evidente especialização rei não foi
completamente
å r a b e s e os asiáticos da costa oriental,
c e r t a m e n t e os
a organizaçao de circuitos comerciais. O sal Os europeus,
e
produtores e os chefes
nal. que por sua vez exige evidente para obrigar
os
a orte, a leste e a sul. De resto, as populações instaladas no n unda a fim de c o n v e n c e r o imperador, do comereio legl-
a incentivar a produção
das mercadorias preterenciais
vOse de Loanda com destino as
l
penetram profundamente na África central, estando a da viagem feita
pOr lazer a história o curopeu. GRAÇA, J.R. "Descrição 1843", Anndes do Coiselno
emos
24 de Abr1l de
sistemática destas relações, das quais CO CeiraS do Rio Sena... principiadas em
séne (1854-1858), Fev. 185S, Pp. 10l-
apenas una parte, Lisboa, 1
sobretudo graças a Pedro João Baptistd, a -
ramarino (parte não oficial),
-104, 117-129 e 133- 146. et agents
de
torme de domination
Alfredo, "Les Porteurs, d'Outremer, Pans,
Ver e r MARGARIDO, (XVII-XIX)", Revue Française
d'Histoire
PELISSIER, René,
-1941), Orgeval, 1977, Les guerres grises. Résistances 1865 T Cnt en Angola
Mapas V, X, XI, XIlle XIV.
et
revOiE T. 65, n° 3, 1978, pp. 377-400.
Isabel Castro Henriques
dade e a palavra
dos viajantes
se dao conta da
éculo, oscuriosi
europeus. Só no final do sécul
import ncia múltipla do
explo-
radores científicos
e um
mulato, Pedr sal35
João Baptista, aue
No plano angolano. que elabora,
r volta
de 1810, o documento
mais
Angola em 1792140,
-
eidade de medi- alricanos preferem um sal que, na opinião corrente dos europeus,
de preços, que uma grande era de mau
que
adquiriam certamente homogenciu gosto e de fraca
qualidade.
espaço 9 sal nas salinas. repercutia na actividadc
o se as caravanas
imenso las,
para e um
depois o
transportar atraves
134
CORRÊA, Elias A. da Silva, História de Angola (1792), 2 vols., Lisboa. Ed. Atnca.
139 CAPELIOe
141
IVENS. o.c., vol. I. p. 257
BAPTISTA. 0.c.. oAX, G.L., La Tradition historiaue des Bapende Orientaux; Bruxelas, Institut
p. 177 oyal Colonial Belge, T. XXXVII, fasc. I. 1954. P.
Informação dada por CORREA, Elias, o.., vol. I. p. 128.
Isabel Castro Henriques O Pássaro do Mel 95
O Sal Gema
Podemos ainda referir a existência de um quarto e último tipo de sal:
Entre as regiðes onde existiam reservas de sal ou das lamas. Regista-se o seu aparecimento nas regiões
conta-se a Kisama. o sal do lago
entalada entre Luanda e
séculos um papel
Kasanje, cuja produção desempenhou durante onde existem lagos, parecendo que as populações dispõem em toda a
importantíssimo
não só em terras
angolanas, mas em toda a Africa centrall43. Mais ainda: especificamente parte de técnicas que Ihes permitem
extrair este sal. Encontra-se essa
sal da Kisama a
reputaço do produção no vasto espaço que vai de Kazembe ao Bié, pois que os
atingiu o Congo, tendo sido também consumido no Brasil pequenos lagos, quando se registam eveporações importantes,
deixam à
Tratava-se de um "sal moreno" como superficie uma espécie de lamas que os africanos recolhem e às quais
informa Elias Corrêa,
dade do rei da Kisama.
Extraído em grandes torrões, era proprie acrescentam água. Recorrendo a grandes cestos forrados com grandes
em formas
diversas, e utilizado depois "talhado"
como moeda folhas, filtram estas lamas dissolvidas na água. O líquido assim obtido éé
angolano. Uma parte parece ter sido operações comerciais do
inierior nas
sujeito à acção do fogo, e a sua evaporação deixa um resíduo escuro e
mas outra
foi destinada a consagrada à alimentaçao,
tratamento vários, pois era "repugnante"l46: o sal é então consumido ou lançado nos circuitos comer-
Virtudes medicinais, sendo por isso muito reputado poSSur ciais africanos.
CoTea diz que esse
sal era procurado e apreciado. Eil
Laao
peloS escravos atéexportado para o Brasil, certamente soc
Esta produção de sal, que nos aparece bastante volumosa, suscita
samos excluir a pertencentes esta regiãol44. Se bem
a por sua vez a produção de um grande conjunto de produtos, alimentares
possibilidade de este consumo que na0 po
gueses e
brasileiros, brancos e mulatos. se ter ou artesanais, que também são propostos através das redes comerciais.
alargado a
Pa
maneira
Este sal
pode ser
controlado pelas autoridades da Servem eles para reforçar o sistema de trocas7. Pode, com eles. obter-se
como esta
organização Kisama vido à Carne tresca e salgada, peixe fresco e salgado, cereais, assim
bebidas fabricadas com cereais e mel fermentados. Uma partedestas
como as
LOas as
tentati vas política se mostrou capaz de resisti
Eler a portuguesas para derrubar os chefes d s e constituída pelo hidromel, que goza de uma grande reputação
ale ao população. De resto, a
sub
século XX poluco
resistência da nesta região e
nestes cireuitos!48.
um
lugar pouco
e
ainda nos anos
1950,
população da laama durou refere
hospitaleiro para os colonos considerava a Albase como
NO que se aos produtos artesanais, regista-se a produção de
portugueses dotos de ferro de cobre, utilizados
e na agricultura, nas actividades
AImporlancia fiiCas e
na ornamentação, assim como de tecidos fabricados com as
aplicações indispensá-
c o m tantas
Podemos ainda verificar que o sal, produto altamente estin normal que u m produto
É por isso da riquezal49. Capello e
dinamizar a produçao de bens destinados ao co mado, também um agente
especifico do poder e
mais sabi
serve para tal veis seja este aspecto: "artigo da
manter em funcionamento as redes comerciais. er sublinham muito
expressamente
ansiedade, é pago
como permite criando Ivens com extrema
procurado
relacões inter-regionais que, de outra maneira, seriam menos correntes e no interior de Africa, distâncias enor
da valia altos depo1s de este percorrer
mais dificeis. A produçãoea comercialização do sal, a sua tripla funcãa por preços redu-
pelo indígena Quando o sal não chega
a o s mais r e m o t o s
alimentar, monetária e medicinal, servem de suporte à organização de
mes para o adquirir"i0. não hesitam e m delegar alguém para
actividades de produção, de comercialização e de contacto entre as popu habitacionais, as populações
tos
for a distância a percorrer.
proceder à compra, seja qual de
lações. era de resto tão importante que certas populações
Esta procura instalavam nas s u a s
c o m o acontece
os
com pende,
regiões sem sal, e x c l u s i v a m e n t e destinados à importação do salls1. Estas
aldeias mercados
nordeste angolano que se prolon-
instaladas n u m a região do
populações, terceiro filho
Democrática do Congo, consagravamo
ga para a República isso o nome de "filho do sal";
e
Sal marítimo à compra do sal. Este filho recebia por
-Sal-gema seu destino. Mas, por
outro lado, o sal podia
E-Sal dos Lagos sabia precocemente qual o
Sal vegetal u m homem podia assim
valer entre 22 a 24
ser trocado por adultos:
muxas de sall52. Se esta comercialização das pessoás crianças ou adul-
-
Lago
ela evidência o carácter singular
Tanganyka tos pode chocar, a verdade pôr é e m
Quiglla
Kiburi KATANGA çoes, uma estrutura que permitia reforçar o poder do chefe, ao mesmo
BIHE que contribuía para aumentar o prestígio e a influência do grupo.
tempoDizem, de resto, Capello e Ivens: "o soba que tem esta fortuna goza
MAPA V
de incontestável influência comercial e política, govermando todos em
tormasS
tipos Locais de dor sem contestação"153, Estas relações de poder, que criavam
Africa o produção/
de sal mercialização de diferentes
P.219
na
extracção/comeI. Castro,
IENRIQUES, o.c., 1995, vol.
I, C aependência, eram consagradas por meio de pagamento de tributos em
ras gema como se verificava no caso de Kazembe (salina de
de sal
Quigila)i54
4.0 sal:
riqueza, poder e
orgar
zanização dos espaço 4
Como não MAGYAR, 0.c.,
alimentaço. E podia deixar
um aeIxar de ser, todos
paraa
CAPELLO
cap. X.
e IVENS, o.c., vol. I, p. 256.
aspec condimento ndispensável,
estes tipos de
saa ar-nos
tin identificou na região dos tshokwe e que reproduz na obra que consa- ampla circulação nem sempre tem
merecido a
abstracto, que é interpretado como a representação de uma salina. O facto atenção dos forneceu o primeiro grande
bloco informativo, que
de esta salina estar representada no bastão, que torna visível a autoridade Pedro João Baptista devem alargare completar, pois
não se poderá
evidência a relação existente entre a salina ea historiadores de hoje comércio interno a longa
distância
eo poder do chefe, põe em os
do próprio
sua produção. e a autonomia do chefado e do chefe compreender a evolução produção e pela comer-
contribui para a
e
permitindo criação
a cria de novas autorridades não
só a
curta, mas criação e a estrutura de novas
ovas relações omerciais,
de a Cassauge
Expeu