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Nasceu lá na serra uma linda flor:

memórias sobre a fundação do Império


Serrano (1947-1952)

BARBOSA, Alessandra Tavares de Souza Pessanha. Nasceu lá na serra uma


linda flor: a fundação do Império Serrano (1947-1952). 2012. 152 f. Dissertação
(Mestrado em História Social do Território) - Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, São Gonçalo, 2012. 143 páginas.

1 PROVAREMOS AO SUBÚRBIO E TODA A CIDADE (p.20 – 44)

O primeiro capítulo trata do processo de transformação dos espaços físicos em


espaços afetivos. Para isso, focaliza o bairro de Madureira, mais especificamente o
Morro da Serrinha, berço de fundação do Império Serrano. Isso porque, segundo
Barbosa, as primeiras agremiações tiveram na vizinhança como embrião (p.21). As
identidades e cultura se desenvolvem e acabam refletidas nas manifestações
carnavalescas. E explica, assim, o conceito de comunidade (p.25):

Com base no exposto, pode-se considerar comunidade como


espaço afetivo que se realiza através das sociabilidades geradas
pelas escolas de samba, cujas práticas culturais levam a uma
espécie de coesão promotora de identidades, tanto para os
grupos ligados às agremiações quanto para o local em que estas
se formam.

A explicação do nascimento suburbano do Império Serrano tem como foco o


bairro de Madureira e suas características voltadas para o comércio, carnaval e
povoamento local (p.30). O local, inclusive, se confunde com o momento das reformas
de Pereira Passos e a marginalização do samba ou moradores da região do Centro do
Rio de Janeiro, que buscavam refúgios em áreas periféricas: “O subúrbio do Rio de
Janeiro passou a ter um significado distinto da definição geral empregada em diversas
cidades do mundo, baseado na densidade demográfica e distância da região central”
(p.34).
Assim, chega ao Morro da Serrinha e sua formação desde as primeiras décadas
do século XX, com as identidades e toda a gama de peculiaridades que desaguaram na
formação populacional da região (p.37).

Em seguida, comenta o fato de existir na Serrinha um “grupo social” que tentou


se provar através do Império Serrano (p.40). Utilizando dos artifícios culturais, como a
composição de sambas e reuniões para confraternizações, articulavam suas interações e
identidades da localidade.

2 O SAMBA DO CONCURSO NÃO ERA AQUELE (p. 45 – 65)

O segundo capítulo trata da memória dos mais antigos componentes da Escola


de Samba e do Morro da Serrinha. Nele, trata do discurso legendário para a fundação
do Império Serrano através de relatos e lembranças dos que participaram da
agremiação. No entanto, debatendo diversos autores como Le Goff e Pierre Nora,
lembra como a História Oral apesar da sua importância para construção social, tem
percalços subjetivos e entraves que devem ser considerados neste tipo de estudo (p.45).

Barbosa faz valer sua intenção de resgate da memória através da Velha Guarda
e dos dirigentes:

Outro caminho de acesso à memória, comum às escolas de


samba, é composto pelos os grupos de idosos das Velhas-
Guardas. No Império Serrano não é diferente. Em encontros
semanais, os senhores e as senhoras lembram-se de seus
momentos na escola, planejam suas festas e passeios para “levar
a história do Império Serrano”. (p.47)

Assim, como a própria historiadora discute, o Império Serrano seria um meio de


memória, no qual se encontrariam as manifestações necessárias para a consolidação de
um lugar de memória (p.49).

No trecho “A memória em campo”, a autora comenta sobre o trabalho da


memória como atuação constante de transmissão de versões. Nesse caso, a de que o
Império Serrano teria sido fundado a partir de uma dissidência. Evocando autores que
debateram o assunto, questiona justamente a credibilidade na construção de narrativas:

As possíveis versões da história da fundação, se aconteceram,


foram silenciadas ao longo do tempo. Na construção do
discurso oficial, houve uma escolha de eventos a serem
resgatados a fim de compor o quadro apresentado para legitimar
a fundação de uma nova escola de samba no morro. (p.52)

Barbosa destaca que o discurso de ser uma escola democrática foi assimilado e
transmitido por parte do grupo que fundou o Império Serrano. Explica-se tal fato pela
tentativa de se aproximar da boa iamgem das Escolas de Samba frente à sociedade dos
anos 40 (p. 58). E reafirma:

Após a fundação do Império Serrano, a democracia é inserida


nos discursos que explicam e legitimam o processo para a sua
fundação. A busca de um espaço democrático insere-se nos
discursos de seus integrantes como um objetivo que justifica a
dissidência, na direção da construção de um mito fundador para
a nova escola de samba. (...) No Império Serrano, o movimento
de lembrar sua história se realiza pela transmissão oral,
internamente entre os membros da agremiação e para fora desta,
diante do interesse da mídia. Isto posto, é possível considerar a
escola de samba como uma sociedade cuja memória não se
baseia em suporte necessariamente escrito. (p. 60).

3 E A NOSSA UNIÃO CONSAGROU (p. 66 – 92)

O terceiro capítulo se baseia na Escola de Samba já fundada e a sua


consolidação a partir das famílias da região. E, como Barbosa descreve anteriormente,
“os moradores do morro da Serrinha encontraram no Império Serrano um caminho de
desenvolvimento de seus projetos” (p. 21). Então, lembra da formação local e não
apenas como algo genérico, tentando entender o que levou a população para aquele
ponto, mas algo específico por conta da urbanização do Rio de Janeiro:

Haja vista que um dos possíveis atrativos para a fixação das


pessoas no subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro teria sido a
melhoria dos transportes, o que indicaria uma busca por
aspectos da vida urbanizada, pelo menos no que se refere aos
deslocamentos em direção aos locais de maior abundância na
oferta de emprego (p. 69).
O desenvolvimento dessa população é trabalhado melhor em “Rede social, rede
de família e sociabilidade”, onde a historiadora foca nas análise das redes sociais do
Morro da Serrinha e seus impactos na construção do Império Serrano/comunidade.
Assim, algumas famílias teriam assumido o protagonismo cultural e até social na região
(p. 81):

A rede de famílias, estabelecida de maneira informal,


estruturou-se posteriormente em torno de uma instituição
formal: o Império Serrano. A fundação do Império
acrescentaria um caráter institucional às relações entre as
famílias, que passariam a ter sua ação e seus objetivos em favor
da agremiação e da comunidade (p. 83).

Portanto, segue a sua análise, a Escola de Samba seria uma formalização desses
interesses das redes sociais da Serrinha que foram “oficializadas”. Barbosa toma tal
conceito após analisar o primeiro estatuto da agremiação (p. 85). E segue:

Os projetos propostos no primeiro estatuto e no regimento


interno do Império Serrano são demonstrações da preocupação
e da relevância dada pela rede de famílias com o objetivo de
criar estruturas para a comunidade (p. 88).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em sua conclusão, Barbosa explica que as Escolas de Samba são instrumentos


culturais que as redes de sociabilidade usam como protagonismo e “voz”. Ou seja, o
samba e o carnaval, no Morro da Serrinha, foram práticas locais utilizadas na
construção de identidades socioculturais para a região. Portanto, também refletindo
suas interpretações e visões de mundo que não tornam o Império Serrano uma
instituição sem “representação”.
No que ela chama de marca institucionalizada à comunidade local e que sustenta
o seu discurso identitário (p. 92):

Através das escolas de samba, parte de uma célula social se liga


ao local de maneira afetiva. Esta relação com o local é o que nos
primeiros momentos do surgimento das escolas de samba levou-
as a ganhar força, gerando uma coesão entre os moradores
ligados às práticas culturais engendradas pela realização do
carnaval. A comunidade aqui não é entendida somente como
espaço físico geográfico, mas como parte constituinte da
identidade coletiva (p. 89).

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