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KM

Todos sabem que os laços formados sob circunstâncias extremas


nunca duram.
O oficial da Patrulha Harbour, Neal Hesse, teve sua vida virada
de cabeça para baixo com o rompimento repentino de seu
relacionamento de dez anos. Depois de ser abandonado em Seattle,
não conseguindo tirar sua mente de seu coração partido, ele decide
tirar uma licença do trabalho para se encontrar novamente. Ele
contrata um guia profissional de sobrevivência para levá-lo para as
montanhas, para que ele possa ficar longe de tudo e viver longe da
civilização por alguns dias.

Travis “Rock” McCreary, ex-guarda-florestal tornou-se um


sobrevivente, odeia fazer excursões guiadas, mas é sua principal fonte
de renda enquanto trabalha para obter seu próprio programa de
sobrevivência. Trabalhar nessa profissão cheia de testosterona o
forçou a entrar no armário, ele sente que nunca mais verá a luz do dia,
o que torna ainda mais difícil usar uma expressão amigável para seus
clientes felizes e normais.

Quando Rock é contratado pelo atrapalhado Neal para levá-lo


às Cordilheiras do Norte para uma aventura de sobrevivência, sua
paciência e sua determinação são testadas a todo momento. Ele tem
que ensinar Neal a sobreviver na natureza selvagem, enquanto luta
contra uma atração a qual ele não pode agir. Quando a viagem não
acontece como planejado, a fuga de Neal se transforma em uma
verdadeira situação de sobrevivência, e ele e Rock são forçados a
confiar um no outro para se manterem vivos. Se eles saírem da
floresta, sua nova conexão poderá sobreviver no mundo real?

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Destinado a um público de maiores de 18 anos. Este livro contém
material que pode ser ofensivo para alguns e destina-se a um público
maduro e adulto. Ele contém linguagem gráfica, conteúdo sexual
explícito e situações adultas.
* Aviso de possível gatilho: situações em que o consentimento pode
parecer duvidoso.

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Para meu filho Archer, porque ele ainda não teve um livro dedicado
a ele, e todas as coisas entre os irmãos devem ser iguais…

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Posy Roberts (vulgo Labyrinth Bound Edits), você é tão duro! Eu não
sabia que precisava de um editor que também fosse amigo até que
comecei a trabalhar com você.

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Enquanto a maioria dos nomes dos picos, lagos, rios e outros marcos
usados neste livro são fictícios, eles são baseados em locais reais
dentro dos Encantamentos e das Cordilheiras do Norte.

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Franklin Falls Trail - Snoqualmie, Washington

—Mas por que, papai?


Neal Hesse suspirou pesadamente, o que era difícil de fazer
porque ele estava sem fôlego. Por que seu parceiro de trabalho,
Bennett Foster, insistira em trazer sua filha adolescente para a
caminhada dos homens, ele nunca saberia. Ela choramingou
praticamente toda a viagem de carro de Seattle para Snoqualmie. Ela
argumentou enquanto eles estavam encontrando um espaço de
estacionamento no acampamento Denny Creek e todo o caminho até
a trilha dos Franklin Falls1. Eles estavam a um terço do caminho até a
trilha e ela ainda estava nisso. Neal teve que apertar os dentes para
não gritar com ela.
Claro, toda a ideia da caminhada também fora de Bennett. Ele e o
novo marido, Rory, acreditavam que todos precisavam fazer algo
juntos para ajudar Neal a esquecer sua recente separação. Uma vez
que Rory foi envolvido, isso significou que todo o grupo de amigos
seria convidado. O amigo de Neal e Bennett, Patrick, por acaso estava
namorando um dos melhores amigos de Rory, de modo que os dois
entraram. Rory também queria que seu amigo Justice aparecesse, e

1
é uma cachoeira no sul do rio Snoqualmie, a primeira das três principais quedas d'água no rio South
Fork Snoqualmie.

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Justice trouxe seu marido, Nic. Neal duvidava que houvesse um grupo
mais gay que esse.
Mas Addison? A adolescente? Neal não fazia ideia do motivo pelo
qual Bennett a arrastou montanha acima. Ela claramente não queria
estar lá. Ela ficava reclamando sobre seu melhor amigo, Alex, e sua
talvez provavelmente namorada, Sarah, se reunindo pra alguma
coisa, mas ela estava de castigo e não pode ir. Então, aparentemente,
em vez de apenas punir sua filha, Bennett queria punir todos eles.
—Eu te disse porque, Addy. É uma reação em cadeia
clássica. Você teve um C em química, então você está de castigo. Sua
mãe está em lua de mel, então você está presa comigo. Eu não vou me
trancar em casa porque você está com problemas, então você está
sendo arrastanda para o alto da montanha comigo. Entendeu ou
preciso desenhar um diagrama?
Neal sufocou uma risada. Vendo Bennett agir como pai sempre
lhe pareceu engraçado. Então ele tropeçou em uma pedra na trilha e
quase bateu com a cabeça em uma pequena ravina. Nic agarrou seu
cinto e o puxou de volta para a trilha segura.
—Calma lá, cara. O primeiro passo é moleza, —Nic brincou.
—Eu nunca vou entender como alguém que é tão seguro em um
barco pode ser tão desajeitado em terra.
—Cale a boca, Paddy—, Neal rosnou. Ele disse isso sem qualquer
raiva real. Eles provocavam um ao outro assim o tempo todo.
A inclinação da trilha acentuava-se e eles subiram degraus de
terra que pareciam entalhados na terra e reforçados por madeiras de
paisagismo. Pessoalmente, Neal achava muito mais fácil subir uma

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encosta plana do que subir degraus assim. Seus joelhos já estavam
doendo e eles estavam a meio caminho das Cataratas.
—Estou ficando velho demais para isso—, ele ofegou.
—A idade não tem nada a ver com isso—, disse Patrick enquanto
passava por Neal. —Você está fora de forma.
Neal mantinha-se em boa forma na academia - ele precisava, ele
era um oficial de patrulha do porto. Mas Patrick construía barcos para
ganhar a vida, o que exigia que ele tivesse outro nível de
resistência. Ignorando as piadas de seu amigo, ele apenas continuou
se arrastando.
—Pai, vam-
—Droga, Addison! Juro que você não costuma ser tão chorona—
gemeu Bennett.
—Adolescentes. Vem cheios de hormônios malucos— disse
Rory. Ele era um professor do ensino médio, que teve Addison em sua
classe no ano anterior, então ele era definitivamente uma autoridade
sobre o assunto.
—Já estamos lá?— Neal bufou.
—Em breve, meu velho!—, Disse Justice. Ele era o mais novo do
grupo deles além de Addison. Se o marido não estivesse lá, Neal
provavelmente o teria jogado no rio.
Ele não viu como isso deveria ajudar a tirar sua mente de seu ex
porque, enquanto eles subiam a trilha principalmente em silêncio, ele
não tinha nada além de tempo para pensar. Hora de pensar em como
ele se apaixonou e passou anos com um lobo em pele de cordeiro. Ele

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achava que estava resolvido, que Tony era o único, que eles iriam
envelhecer juntos. Como ele estava errado.
Quando o grupo chegou a um mirante no ponto mais alto da
trilha, eles pararam para uma visão panorâmica da cachoeira. Até
mesmo Neal teve que admitir, com o sol entrando no desfiladeiro e
lançando arco-íris da névoa, era uma visão bonita. Ainda era difícil
acalmar sua cabeça, no entanto. Ele sabia que seus amigos queriam
ajuda-lo, e eles estavam certos, é claro. Ele precisava se levantar,
continuar, voltar ao proverbial cavalo da vida. Mas ele não queria. Ele
queria estar em casa deprimido no sofá, droga.
Ele desejou isso ainda mais quando viu a chamada trilha que
descia do mirante até o sopé das cataratas, onde os caminhantes
podiam andar ou nadar em dias quentes o suficiente. Essa trilha
também era de degraus, mas natural de rocha lisa e plana. Era
estreito. Muito estreito, e a parte inferior tinha uma fina camada de
lodo do spray de água e lama. Então estava escorregadio.
Quando ele quase chegou ao leito do rio, Neal perdeu o equilíbrio
em uma rocha lisa. Ele mal evitou um tombo - provavelmente teria
rachado seu crânio - mas ele ganhou seu equilíbrio novamente no
último momento. Ele deu um suspiro de alívio quando saiu daquela
parte da trilha. As quedas terminavam em uma parte aberta do
desfiladeiro, formando uma ampla piscina que era cercada por uma
grande margem semicircular de rochas fluviais. Lá, caminhantes e
turistas se espalhavam nas pedras, fazendo piquenique, tomando sol,
ou geralmente apenas apreciando a paisagem. Os amigos de Neal se
espalharam para fazer suas próprias coisas.

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Addison seguiu para a linha das árvores com o celular,
provavelmente tentando conseguir um sinal para ligar para a
namorada. Bennett conduziu Rory pela beira da lagoa para que
pudessem chegar perto da cachoeira. Ele estava usando um arnês que
segurava sua Go-Pro, a câmera de ação que ele usava em seu
barco. Rich e Paddy sentaram-se em algumas pedras grandes e
pegaram seus lanches. E Nic Valentine, o filho da puta doido, estava
nadando na piscina gelada enquanto Justice olhava, balançando a
maldita cabeça.
Neal estremeceu só de pensar nisso. Era o final do verão, por isso
ainda estava bastante quente, mas esses altos lagos e rios estavam
sempre gelados, mesmo nos dias mais quentes. Ele tinha sido
treinado para resistir a temperaturas de água fria para resgates
marinhos, mas isso não significava que ele tinha que gostar, e ele
certamente não fazia isso por diversão. Afastando-se do idiota, Neal
olhou para todos os turistas e visitantes. Todo mundo tinha telefones,
tirando fotos, e ele tinha certeza de que eles estavam postando essa
merda - em todas as várias mídias sociais que ele não conseguia
entender ou manter - sempre que eles poderiam encontrar um bar ou
dois.
Ele balançou a cabeça, então sorriu e pegou seu próprio telefone.
—Quando em Roma—, ele murmurou. Primeiro, ele tirou uma
foto, com a câmera invertida, de si mesmo com a cascata no fundo.
Então ele virou a vista para que ele pudesse tirar uma foto do
desfiladeiro. Sua estrutura não era larga o suficiente, então ele deu

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alguns passos para trás, consciente das rochas que ficavam mais
escorregadias quanto mais perto ele chegava das cataratas.
Seu pé escorregou e caiu na água ainda fria o suficiente para fazê-
lo ofegar, e ao mesmo tempo, ele acertou algo duro. Sólido. Algo
vivo. Neal estremeceu quando ouviu um grito indignado e um
respingo atrás dele. Foda-se. Ele tinha acabado de... derrubar alguém
na água? Ele sabia que precisava ter certeza de que ele não estava
ferido nem nada, mas, porra, ele estava com medo de se virar...
porque isso não parecia uma pessoa pequena.
Cautelosamente, ele se virou e olhou para baixo, onde viu um
homem se debatendo nas águas rasas da piscina. Assim que ele
conseguiu controlar seus pés, o homem levantou com um perfeito kip-
up2. Neal se encolheu quando viu que suas roupas e mochilas estavam
completamente encharcadas. E quando ele olhou para o rosto do
homem, ele congelou. Seu cérebro registrou três coisas quase
simultaneamente: ele parecia vagamente familiar, ele era muito
atraente, e ele estava realmente zangado.
—Que porra está errada com você?— O estranho gritou.
Ele deu um passo à frente tão agressivamente que Neal recuou, e
sua mão direita foi instintivamente para seu quadril, onde ele teria
colocado a mão no suporte de sua arma de serviço - só que não havia
nada ali porque ele estava de folga.
Não querendo parecer um agressor igual, ele cobriu o movimento
colocando a mão no bolso, na esperança de parecer não

2
Um kip-up é um movimento acrobático no qual uma pessoa transita de uma posição supina e, menos
comumente, propensa, para uma posição em pé.

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ameaçador. Esse cara era mais ou menos da sua idade e mais baixo
por alguns centímetros, mas ele era forte. Ele parecia duro e robusto
e pronto para chutar alguns traseiros em um piscar de olhos. Neal
poderia ter sido capaz de enfrenta-lo - ele o vencia em altura e peso,
mas o cara parecia ser mais forte... e muito mais malvado. Neal
realmente não queria lutar. Isso daria uma grande quantidade de
papelada.
Ele estendeu os braços na frente dele, tanto como um gesto de paz
quanto para evitar um ataque se isso acontecesse.
—Cara, eu sinto muito. Eu não sabia que alguém estava atrás de
mim.
—Claramente—, ele rosnou, encolhendo os ombros fora de sua
mochila. Ele abriu o zíper e começou a cavar através dela.
—Mais uma vez, sinto muito mesmo. Se alguma coisa na sua
mochila foi danificada, eu reembolsarei você.
Ele fez uma careta.
—Esta é uma caminhada em cascata. Eu não sou um
idiota. Qualquer coisa de valor está dentro de um saco seco.
Neal se irritou porque o cara estava basicamente chamando ele e
todo mundo com ele de idiota porque eles não trouxeram sacos
secos. Eles apenas estavam evitando, você sabe, cair na
água. Provavelmente deveriam ter planejado melhor, porque se Neal
não tivesse batido naquele cara, teria sido ele na água. Mas Neal foi o
único a causar a queda, então ele tentou não deixar a atitude do cara
incomoda-lo.

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—Se você precisar de uma toalha, acho que um dos meus amigos
pode ter trazido uma.
O cara sentou numa pedra grande e chata e tirou os sapatos de
caminhada, provavelmente para deixá-los secar um pouco ao
sol. Suas meias pareciam secas, então Neal presumiu que seu calçado
fosse à prova d'água. Isso também teria sido uma boa ideia, já que o
tênis direito de Neal estava encharcado pra caralho de entrar na água.
O cara balançou a cabeça e não fez contato visual.
—Eu tenho mais caminhadas para fazer. Eu vou secar ao
ar. Apenas tente não afogar ninguém, ok?
Os olhos de Neal se estreitaram, e ele lutou muito para não
mandar o cara ir se foder. Em vez disso, ele recuou para sua fachada
habitual de charme e estendeu a mão.
—Eu sou Neal. Queria que tivesse sido em melhores
circunstâncias, mas é bom conhecê-lo.
Seu sorriso de mega-watt, aquele que ele usava o tempo todo
quando estava com Tony e antes, ricocheteou desse estranho furioso
como se ele tivesse algum tipo de campo de força. Ele olhou para a
mão estendida até que Neal entendeu e a colocou de volta no
bolso. Apenas quando ele estava prestes a dizer “foda-se” e ir embora,
o cara resmungou.
—Travis.
—Perdão?— Neal perguntou, levantando as sobrancelhas.
—Meu nome é Travis.

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—Bem… Travis. Foi um prazer. Vou parar de incomoda-lo.— Com
o máximo de cortesia, Neal deu meia-volta e começou a andar,
tropeçando nas pedras molhadas.
—Ei, Neal?
Ele se virou e olhou para Travis.
—Sim?
—Você deveria ter ficado no parque ou ir para a academia. Você
não pertence aqui.
Raiva queimou dentro de Neal. Ele pediu desculpas
profusamente, e esse cara simplesmente não deixou passar. De onde
veio esse idiota?
—Porra você disse para isso mim? Só pra você saber, eu sou um
policial.
Bennett obviamente percebera o tom porque Neal sentiu seu
parceiro e Paddy se aproximando em seus lados.
Os olhos de Travis se moveram de um lado para outro entre os
três homens, então ele balançou a cabeça com um som zombeteiro.
—Só estou tentando te dar um conselho. São caras como você que
vêm aqui e caem no barranco porque você não tem o instinto de
prestar a mínima atenção para onde põe os pés.
Neal se lançou para frente, mas Bennett o deteve com a mão em
seu ombro.
—Nuh-uh. Vamos embora, Hesse.
—Mas-
—Não.— Paddy começou a puxá-lo para trás.

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Travis falou de novo, e o som de sua voz rangeu nos nervos de
Neal como uma lixa.
—Eu não estou apenas tentando ser um idiota, embora seja
justificado, considerando isso.— Ele gesticulou para baixo em suas
roupas molhadas. —Mas, sério, se você quer andar ao ar livre e tudo
mais? Consiga um pouco de treinamento de sobrevivência, porque
você parece muito sem esperança.
Neal rosnou e se lançou novamente, mas foi parado por seus dois
amigos fortes.
—Aaa e terminamos aqui— disse Bennett, enquanto ele e Patrick
levavam Neal para o outro lado do lago, onde o resto do grupo estava
esperando.
—Vamos lá, apenas um soco!— Neal gritou por cima do
ombro. Foi só para se mostrar porque seu orgulho estava mais
machucado do que ele queria deixar transparecer, mas os garotos
mantiveram um aperto firme nele apenas no caso.
Por que diabos importava que algum estranho idiota pensasse
que ele era incompetente? Mas Neal sabia a resposta para isso -
porque seu próprio namorado também pensava. Tony basicamente
tinha dito isso, sugerindo que a carreira de Neal e suas escolhas não
importavam, e agora um cara aleatório estava dizendo a ele que ele
não podia nem mesmo limpar sua própria bunda sem ajuda.
Neal fervilhou todo o caminho de volta pela trilha. Ele nunca veria
aquele babaca idiota de novo, mas ele seria amaldiçoado se deixasse
o cara estar certo. Então, assim que ele voltou, reservou-se em uma
excursão de sobrevivência com um guia de vida selvagem

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profissional. Isso mostraria aquele idiota. O idiota que ele nunca mais
veria.

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Seattle - uma semana para infil3

O parceiro de Neal olhou para ele como se tivesse perdido a


cabeça. Provavelmente era verdade.
—Explique isso para mim de novo—, disse Bennett. —Como se eu
fosse idiota.
—Eu realmente não sei o quão mais claro posso ser. Estou
exausto. Vou tirar uma licença da patrulha e farei uma viagem.
Neal e Bennett eram policiais da Patrulha do Porto de
Seattle. Muitas vezes, a patrulha portuária era a primeira linha de
defesa para incêndios marítimos, como costumava ser sob a direção
do corpo de bombeiros. Ambos eram treinados como socorristas, e
Neal foi paramédico antes de entrar para o departamento de polícia.
—Não, não, eu entendi essa parte, Hesse. É a natureza da viagem
que está me confundindo. Diga para mim mais uma vez. Lentamente.
—Tem sido um ano difícil, Ben. Eu só preciso ficar longe do
mundo inteiro agora. Eu reservei um guia de montanha profissional
para me levar em uma excursão nas Cordilheiras do Norte. Uma
semana inteira, sem pessoas, apenas sobrevivendo a natureza e
descobrindo quem diabos eu sou novamente desde Tony...

3
Entrar em um lugar ou acampamento para fins de exploração.

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—Sim, mas uma aventura de sobrevivência? Quero dizer, você
está em forma, mas você não é exatamente do tipo ar livre, fora da
água de qualquer maneira. Quero dizer, eu vi você tropeçar no ar.—
Neal olhou para Bennett, mas continuou falando. —Somos homens da
cidade. Por que não planejar uma temporada de esqui ou algo
assim? Aspen, talvez?
Neal deixou seu olhar o mais implorante que pôde, esperando que
Bennett entendesse.
—Tente me ouvir, cara. Eu quero fugir. De tudo. Eu quero me
esforçar ao limite físico até que eu esteja completamente despojado
das necessidades básicas.
—Cara, só estou preocupado com você. Você nunca viu lobos
brancos4?
—Não.
—Você sabe, com o garoto de Saved By the Bell5?
Neal sacudiu a cabeça.
Bennett fez um ruído de repulsa.
—Bem, vá para casa e alugue, porque merda costuma acontecer
com pessoas que não sabem o que estão fazendo.
Suspirando pesadamente, Neal coçou a barba de três dias e
sentou-se na grande poltrona da sala de estar de Bennett. Rory esteve
assistindo silenciosamente toda a discussão do seu lugar no sofá.

4
Saga de sobrevivência não original sobre um clube de caminhada adolescente que luta com perigos
selvagens quando seu líder é ferido.
5
é uma série de TV norte-americana exibida originalmente em 4 temporadas, de 1989 a 1993. No Brasil,
foi exibida no SBT com o nome de Uma Galera do Barulho

KM
—O que você acha, Donovan? Eu sei que você tem uma opinião —
, disse Neal.
Rory sorriu e piscou para Neal.
—É Donovan-Foster agora, obrigado.— Então ele inclinou seu
corpo para que ele pudesse se dirigir a Bennett enquanto ainda
enfrentava Neal. —Querido, escute… Neal esteve com Tony por quase
dez anos. Ninguém entende a necessidade de tomar algum tempo
para respirar mais do que eu. Em menos de dois anos, descobri e fui
tratado por abuso infantil, me divorciei, descobri que sou gay, conheci
você, casei e adotei uma filha. Só porque estou ridiculamente feliz,
não significa que não entendo Neal.
Bennett franziu a testa.
—Eu realmente não vejo onde você está tentando chegar com isso.
—Sim, nem eu—, disse Neal.
Rory se inclinou para frente e falou sério, como se estivesse se
dirigindo a dois dos alunos do ensino médio que ele ensinava.
—Eu acho que sempre que uma pessoa está em um
relacionamento, como Neal esteve com Tony, suas vidas, inferno, até
mesmo suas personalidades se fundem em uma nova entidade. Então,
quando algo assim termina, pode ser realmente desorientador. Você
tem que descobrir quem você é tudo de novo, algo com o qual possa
ter total empatia.
Neal jogou a mão na direção de Rory, lançando um olhar
penetrante para Bennett.
—Entendeu? Ele me entende.

KM
—Além disso—, Rory continuou, —eu sei que você ama esses
programas de sobrevivência ao ar livre.
—Não—, disse Neal petulantemente.
Bennett bufou.
—Nós vimos o seu DVR6, cara. Tem aquele Survivorman ... e
há Man, Woman, Wild, certo? E não me faça falar sobre aquele Bear
Grylls. Você tem todos os episódios deles salvos. Diga-me, você
começou a assistir Naked e Afraid7?
—Oh, não é assim!
Bennett levantou uma sobrancelha loira e espessa.
—Tudo bem, eu gosto de assisti-los, mas isso não significa que eu
sempre quis estar em um... Até agora, eu acho. Sem a parte da TV.—
Embora, secretamente, Neal sempre sentisse que seria bom
nisso. Sendo um ex-paramédico, ele foi treinado com habilidades de
primeiros socorros, e ele era atlético, embora da academia ou natação,
não escalada de montanhas ou qualquer coisa.
—Qual é exatamente o seu plano?—, Perguntou Bennett.
—Eu encontrei este guia totalmente foda. Aparentemente ele é
muito famoso no YouTube, então você pode até ter ouvido falar dele,
mas você sabe que eu e a internet não somos amigos, então eu só
consegui assistir alguns de seus vídeos. Ele é um ex-guarda-florestal,

6
O DVR (acrônimo em inglês para Digital Video Recorder) ou PVR (acrónimo em inglês para Personal
Video Recorder) é um dispositivo eletrônico que grava vídeo em formato digital em unidade de disco,
USB flash drive, SD cartão de memória, SSD ou em outro local ou em rede [[dispositivo de
armazenamento em massa.
7
Survivorman, Man, Woman, Wild, Bear Grylls, Naked, Afraid. São todos programas sobre aventureiros
em terras perigosas sobrevivendo a natureza.

KM
campeão de escalada, basicamente o próximo Bear8. Ouvi dizer que
estão em negociações para conseguir seu próprio show, mas agora ele
leva clientes privados para excursões de sobrevivência.
Bennett deu a Neal um sorriso tenso e preocupado.
—Ok, então quem é esse cara incrível?
—Rock McCreary.
Ele e Rory compartilharam um olhar.
—Nunca ouvi falar dele.

O telefone de Neal tocou assim que ele entrou em seu novo


apartamento apertado de um quarto. Ele sabia pelo toque que era
Tony, por isso não ficou surpreso ao ouvir o sotaque Bostonian9 lírico
cheio de superioridade saindo pelo alto-falante.
—Neal. Como você está?
—Oh, você se importa agora? O que mudou?
Um suspiro cansado passou pelo telefone vindo de Tony.
—Eu estava esperando que você tivesse voltado a si e decidisse vir
comigo. Eu não sei o que você vai fazer lá sozinho.
Aparentemente para Tony, ou Anthony, como ele insistia em ser
chamado agora, ele era o único responsável por Neal por quase uma

8
Edward Michael Grylls, conhecido como Bear Grylls, é um ex servidor das Forças Especiais Britânicas,
aventureiro, escritor, apresentador de televisão e montanhista britânico. Ficou mundialmente
conhecido ao apresentar o programa "À Prova de Tudo" e também "No Pior dos Casos" pelo canal a
cabo Discovery. (Eu assistia e gostava kkkk)
9
é uma pessoa nascida em Boston , Massachusetts, Estados Unidos, ou de Boston, Lincolnshire ,
Inglaterra.

KM
década, e Neal não poderia sobreviver sem ele. Exceto que pela sua
graça Anthony Linde, eu posso, Neal pensou amargamente.
Tony era um advogado de sucesso que, depois de quinze anos em
Seattle, decidiu abandonar sua pequena firma para assumir uma
posição de sócio em uma firma de prestígio em Boston. Ele aceitou o
emprego sem sequer consultar Neal. Ele apenas achou que sua
carreira era muito mais importante que a de Neal, que Neal deveria
fazer as malas e segui-lo onde quer que fosse. Isso não estava bem. Em
absoluto.
—Não, Tony —, disse Neal, fazendo questão de usar o nome de
sempre. —Eu te disse, eu gosto de ser policial. Eu gosto do meu
trabalho e da minha vida. Se nós tivéssemos falado sobre isso no
começo, antes de você aceitar o trabalho, como se você realmente
desse a mínima para o que eu queria, quem sabe qual seria o
resultado, mas foi assim que aconteceu.
—Você sabe que eu só queria o que era melhor para nós.
—Como o inferno—, Neal resmungou. —Você só queria o que era
melhor para você. Eu nem pude dar minha opinião. —A dor renovada
floresceu em seu peito, quase tão fresca quanto o dia em que ele ouviu
a notícia pela primeira vez, e isso o deixou irritado. —Há algum
motivo para essa ligação?
—Bem, na verdade ...— Ele fez uma pausa, e Neal sabia que ele
estava se preparando para algo mais intrusivo. —Eu quero tirar o seu
nome do nosso contrato. Eu quero manter o apartamento como
patrimônio, e provavelmente vou apenas sublocá-lo.

KM
E aí está. Porque se Anthony estava chamando Neal, não era para
verificar o seu bem-estar, era porque ele precisava de algo.
—Então compre minha parte. Eu já o tenho no mercado com
várias partes interessadas. Eu nem moro mais lá.
Houve outra pausa grave, e Neal sabia que definitivamente não ia
gostar do que viria a seguir.
—Querido, você sabe que eu não começo o trabalho em Boston
por mais algumas semanas. Eu não tenho recursos líquidos
suficientes para comprar de você agora.
—Então vou em frente com a venda. Não é tão difícil de descobrir.
—Eu disse a você que eu quero manter o lugar.— Tony falou
devagar, como se Neal não tivesse ouvido ou apenas fosse um idiota.
—Deixe-me ver se entendi. Você basicamente quer que eu
presenteie você com a minha metade do condomínio sem
remuneração para que você possa mantê-la no patrimônio... para
fazer seu portfólio parecer melhor?— As duras verdades que Neal
aprendeu sobre Tony nos últimos seis meses foram muito ruins, mas
certamente até ele tinha seus limites.
—Claro, você será justamente compensado quando eu me
estabelecer em Boston e liquidar alguns fundos.
—É claro...—, Neal repetiu, quase atordoado sem palavras. O fel
absoluto do homem, o homem com quem ele achava que passaria o
resto de sua vida. —Tony, você… é um idiota de primeira classe. Eu
estarei fora da cidade por um tempo. Você pode direcionar suas
preocupações sobre a nossa propriedade para minha advogada

KM
porque ela estará cuidando da venda enquanto eu estiver fora. O
nome dela é Jessica Abercrombie. Ela está na lista.
Neal interrompeu abruptamente a ligação e jogou o telefone na
cama, em vez de quebrá-lo em um milhão de pedaços, como ele
realmente queria. Ele esperava que a amiga e co-mãe de Bennett,
Jessie, não se importasse de ter Tony perturbando-a enquanto ele
estava fora. Porque se ele queria se afastar de tudo antes, bem, agora
era necessário para sua sanidade.
Mas a autocompaixão nunca fez bem a ninguém, então Neal
acabou de colocar suas calças de dormir, pegou uma cerveja e ligou
seu DVR. Havia novos episódios de seus shows de sobrevivência
favoritos, então ele escolheu o primeiro e se instalou para
assistir. Malditos Rory e Bennett por estarem certos o tempo todo.

KM
Anacortes - uma semana para infil

—Eu estou realmente cansado disso, Rena, você sabe disso, né?
Rock McCreary passeava pelo escritório de sua casa enquanto
fazia videoconferência com sua agente publicitária. O rosto
bronzeado de Rena exibia uma expressão entediada que só servia para
deixá-lo mais irritado.
—Rock, até ouvirmos falar da rede, é aí que está o dinheiro. Este
deve ser o último.
—Você disse que o último seria o último. Não consigo pensar em
nada pior do que levar algum executivo rico para as Cascatas com
nada além de algumas provisões. Eu não sou uma maldita babá!
—Na verdade, este é um policial— Rena brincou.
Rock rosnou para ela.
—Nós devemos ouvir de volta da rede a qualquer momento. Eu
sei que eles vão nos fazer uma oferta. Mas é melhor você se acostumar
com essa merda, Rock, porque aceitar grandes grupos e celebridades,
ou, neste caso, quem pode pagar-nos por uma volta no bosque é o tipo
de coisa a se fazer agora.
—Eu quero ter um show que realmente ensine as pessoas a
sobreviver em um desastre. Eu não quero ser um pônei de feira. —Ele

KM
olhou para Rena, que estava sentada em seu escritório polindo as
unhas.
—Eu entendo, querido, mas você tem que pagar suas dívidas no
negócio antes que você possa fazer o que você quiser.
—Eu pensei que era para isso que servia o YouTube.
—Não, isso foi só para colocar o pé na porta. Ser notado. E
funcionou como um encanto, certo? Então ouça, faça esta última
turnê para mim e depois nos reagrupamos, faça um plano de jogo
baseado no que a rede diz. Ok?
Rock bateu sua caneca de café em sua mesa e apertou os dedos
em seu cabelo solto na altura dos ombros.
—Eu tenho uma escolha?
—Esse é o espírito! Eu lhe enviarei os detalhes da excursão daqui
a pouquinho. Tchau, querido— ela disse alegremente, dando-lhe
beijos no ar antes de sair.
—Eu sou muito velho para essa merda—, resmungou
Rock. Circulando sua mesa, ele se sentou e virou seu laptop para
encará-lo. Seu programa de e-mail soou para ele, e ele viu que Rena
tinha enviado os detalhes, fiel à sua palavra.
—Neal Hesse da patrulha do porto de Seattle. Empreiteiro
particular—, ele leu em voz alta. Pelo menos uma turnê menor era
muito mais fácil de gerenciar. Ele ainda andava em meio a brasas, mas
tinha que dar um bom show para um cliente pagante. Ele se
perguntou como o homem poderia pagar tal excursão com o salário
de um policial, mas depois decidiu que não se importava muito, desde
que o dinheiro fosse verdadeiro.

KM
Ele pegou um programa de mapeamento geográfico e começou a
trabalhar planejando uma rota para a próxima viagem. Pela primeira
vez, o cliente era local; o policial era do centro de Seattle, não tão
longe da base de Rock em Anacortes. Hesse pedira uma caminhada
de sete dias, então Rock considerou suas opções para diferentes rotas
de trilha. Ele queria escolher algo que não fosse tão difícil que o cara
ficasse infeliz, mas que ainda daria a ele o máximo de lucro, pelo seu
tempo, de qualquer forma.
Havia um caminho agradável através dos Sawtooth Chelan que
normalmente levava cerca de quatro dias, mas ele podia esticá-
lo. Pico Davis ou Monte Shuksan poderia funcionar, mas dependeria
se o Sr. Hesse pudesse lidar com o terreno extenuante. Seven
Fingered Jack10 ou Wilderness Lakes Alpine11? Ele sabia de uma rota
árdua pelos lagos que não estava documentada na maioria dos
mapas. Se o cara estava bem com alguma escalada leve, isso poderia
funcionar. Rock teria que enviar um e-mail diretamente ao cliente
para perguntar sobre sua condição física e seu nível de conforto com
caminhadas difíceis ou escaladas. Era muito mais fácil do que passar
por Rena porque ela provavelmente diminuiria a verdade um pouco
para ter certeza que Rock daria um bom show para o cara.
Ele ainda tinha alguns dias para decidir e planejar. Ele
geralmente gostava de fazer saltos de helicópteros para impressionar
os clientes... ele também usava isso como uma maneira rápida de

10
Seven Fingered Jack é uma montanha nas Cascatas do Norte, no estado norte-americano de
Washington
11
O Wilderness Lakes Alpine é uma grande área selvagem que atravessa as Cascatas Centrais do estado
de Washington nos Estados Unidos. A região selvagem está localizada em partes da Floresta Nacional de
Wenatchee e da Floresta Nacional de Snoqualmie

KM
eliminar aqueles que tinham realmente medo de alturas e aqueles que
eram apenas preguiçosos, desde o início.
Rock sorriu para si mesmo. Enquanto ele odiava o programa de
cão de guiar grupos de excursão, ele amava o processo de
planejamento e a execução de uma boa caminhada. Ele sorria e ficava
bem com os yuppies12, depois os empurrava para seus limites e
além. Essa era a parte divertida.
Depois de enviar o email, Rock desligou o computador e trancou
o escritório. Ele precisava ir até o porão e checar seu equipamento. A
segurança do homem estaria em suas mãos; tudo tinha que estar em
perfeito funcionamento.

12
"Yuppie" é uma derivação da sigla "YUP", expressão inglesa que significa "Young Urban Professional",
ou seja, Jovem Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40
anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta.

KM
Seattle - um dia para infil
Patrick bateu uma jarra cheia de cerveja em sua mesa no pub
irlandês que ele tinha chamado de Sona, o que ele disse que
significava ‘feliz’ em gaélico.
—Bebam, rapazes!— Ele disse com um ligeiro insulto.
Neal revirou os olhos para o parceiro de Patrick, Rich, que
simplesmente deu de ombros. Todos sabiam que o grande e
corpulento irlandês adorava uma boa bebida, e Rich não parecia
disposto a interrompê-lo.
Sempre a voz da razão, Rory falou.
—Paddy, você tem certeza de que quer continuar bebendo? Quero
dizer, Neal é o único que vai subir em um helicóptero às seis da
manhã, então seria muito bobo você ser aquele que vomita.
Patrick deu um bufo ligeiramente bêbado e serviu um copo a
Rory.
—Você está insinuando que eu não posso lidar com licor, jovem
mestre Rory?
Rory franziu o rosto como se fingisse pensar.
—Bem, não, eu acho que estou insinuando que você não pode
lidar com sua cerveja.
Patrick apontou para Bennett e acenou com a cabeça na direção
de Rory.

KM
—Eu acho melhor você se informar com o seu marido.
Bennett olhou para o marido, e a maneira como os olhos dele
suavizaram, deu a Neal apenas um toque de inveja e uma pontada por
aquilo que ele pensou que ele e Tony tinham.
—Ele não está errado, querido. Eu nunca vi Paddy ter ressaca, não
importa o quanto ele beba na noite anterior. O cara tem uma perna
oca13 e um intestino de ferro.
O pequeno grupo explodiu em gargalhadas e continuou bebendo
alegremente. Para uma despedida, Neal achou que era muito bom.
Depois que o jarro estava vazio em dois terços, Neal sentiu um
cotovelo o golpear nas costelas. Ele olhou para Bennett, que estava
olhando para ele.
—O quê?— Ele resmungou, de repente se sentindo irritado por ter
se permitido exagerar, apesar de seu melhor julgamento.
—Aquele twink loiro do bar está te fodendo com os olhos desde
umas duas cervejas atrás,— disse Bennett.
Neal grunhiu sem compromisso. Ele não estava pronto para
começar a namorar novamente ainda. Ele não estava nem com
vontade de fazer sexo casual ultimamente, o que era um pensamento
horrível, e foi uma das muitas razões pelas quais ele decidiu que
precisava de malditas férias. Ele tinha perdido a porra da sua
autoconfiança, então ele estava ansioso para ficar no meio da
natureza, onde ele não precisava se preocupar com mais ninguém.
—Por que você não vai falar com ele? Agora isso seria uma boa
despedida.

13
Alguém que pode comer ou beber muito e não sofre nenhuma consequência.

KM
Neal franziu a testa.
—Acho que não.
Bennett olhou para ele como se tivesse acabado de descobrir que
ele era uma pessoa tímida.
—Quem é você e o que você fez com o meu parceiro? Vamos lá,
Hesse, você não acha que já está na hora de você...
—Foster!— Neal assobiou, irritado que seu melhor amigo achasse
que era tão fácil apenas superar um relacionamento de dez
anos. Nenhuma quantidade de estranhos iria consertar isso. Deus
sabe que Neal já havia tentado essa tática, e isso só o deixou mais
deprimido.
Ele sabia que Bennett estava apenas tentando animá-lo, mas de
repente ele estava muito cansado e muito bêbado para querer seguir
esse velho esquema. Não era como se isso fosse para qualquer lugar
de qualquer maneira. Eles falariam sobre coisas que não importavam,
dançariam, talvez transassem e nunca mais se veriam. Ele ficaria se
sentindo tão mal quanto antes. Além disso, Neal tinha coisas maiores
para se preocupar, como ser largado nas montanhas por um
helicóptero na manhã seguinte, provavelmente de ressaca. Porra, em
que ele estava se metendo?

Neal estava se sentindo uma merda quando entrou no heliporto


particular de Lake Union. Ele definitivamente não tinha a habilidade
de Paddy para evitar a ressaca, então seu estômago roncou quando ele

KM
pegou uma vaga de estacionamento e desligou seu espancado Ford
Explorer. Pegando a garrafa de água do porta-copos, Neal tomou um
gole e retirou algumas aspirinas. Então ele enfiou um tubo de viagem
de Dramamine14 no bolso porque sabia que precisaria mais tarde.
O sol estava apenas subindo quando ele saiu do carro, e uma
camada de orvalho se instalou em todas as superfícies ao redor
dele. Uma manhã de setembro em Seattle poderia ficar bastante fria,
então Neal já havia vestido sua roupa externa, uma jaqueta North
Face15 com isolamento, um par de calças cargo BDU16, e uma Henley
sobre uma fina camada de base, e claro, suas botas de montaria
recheadas com meias de lã.
Ele não levava nada além de sua carteira, seu telefone, sua garrafa
de água e uma sacola de supermercado com algumas mudas de roupa,
porque lhe disseram que receberia um pacote cheio de itens
essenciais, os únicos itens que ele teria permissão para usar que eles
não encontrassem na natureza. Apesar de seu estômago coalhado, um
arrepio de excitação percorreu Neal. Ir nesta viagem era um sonho
para ele, especialmente com alguém como Rock McCreary. O cara era
totalmente durão no papel, então ele só podia imaginar como era a
coisa real.
Neal entrou no pequeno escritório construído ao lado de um
hangar, onde ele deveria encontrar seu piloto, aparentemente Rock
estaria esperando por eles no ponto de infil. Um homem velho

14
é um medicamento utilizado como anti-emético e anti-vertiginoso, principalmente os decorrentes de
viagens e com uso indicado na gravidez
15
Marca de roupa.
16
O Battle Dress Uniform é um uniforme de combate camuflado que foi usado pelas Forças Armadas
dos Estados Unidos.

KM
bastante grisalho encontrou-o na recepção e apertou sua mão. Talvez
fosse antiguidade ou algo assim, mas Neal esperava que o cara não
fosse o piloto, parecia que mal conseguiria vero bastante para dirigir
um carro.
Ele se apresentou como Frank e entregou a Neal uma mochila top
de linha.
—Estes são os únicos suprimentos que você pode levar além do
que Rock disse que você deveria trazer. Seu piloto será Floyd, co-
piloto Willie. Willie vai ajudar você com o salto.
—Salto?— Neal coaxou.
Frank deu de ombros.
—Não há muitos lugares seguros para pousar lá, então
encontramos um local plano o suficiente para os rotores, e nós apenas
ficamos a poucos metros do chão. Você vai ser preso a um skids17 e,
bem, pular fora.
Neal reprimiu um calafrio. Isso era real. Ele realmente iria fazer
algumas das coisas que ele assistiu em seus programas
favoritos. Enquanto Frank conversava com ele, Neal vasculhou sua
mochila para ver o que ele tinha. Não era muito, um Anorak18 dobrado
dentro de sua bolsa, uma bússola, uma pequena lanterna de
halogênio, alguns rolos do que parecia ser paracord19, um cantil, uma
xícara de lata e uma faca de caça em uma bela bainha de couro. Havia
algumas coisas no fundo que Neal não conseguiu identificar e uma

17
um suporte, geralmente feito de madeira, para levantar objetos pesados do chão ou movê-los.
18
é uma jaqueta impermeável, que geralmente costuma ter comprimento na cintura ou pouco abaixo
dela, com capuz. Possui vários cordões de ajuste no cós, nas mangas e no capuz. Os anoraks eram
usados pelos inuítes da Groenlândia para se protegerem do frio.
19
É um termo para uma corda muito resistente.

KM
pequena bolsa de provisões com algumas barras de proteína e alguma
mistura pra levar em trilhas.
Neal puxou a faca, soltou a alça da bainha e enfiou-a no cinto, de
modo a pendurá-la no quadril. Não faria bem a ele enterrada na bolsa,
isso ele sabia. Tentando afastar a náusea da ressaca, ele bebeu o resto
de sua garrafa de água e a jogou na lixeira. Então ele encheu seu cantil
da fonte de água.
Ele se assustou quando Frank falou com ele por trás, e ele se
perguntou quando o homem havia se movido.
—Você simplesmente sai pela porta lateral do hangar, e Willie vai
te levar ao helicóptero.
Neal fez o que lhe foi dito. O homem que os cumprimentou tinha
um rosto de couro, chicoteado pelo vento e olhos gentis. Ele tinha
cerca da metade da idade de Frank, o que fez com que Neal se sentisse
ligeiramente melhor.
—Você é o cara de McCreary?— O homem que Neal supôs ser
Willie perguntou.
—Sou eu—, ele respondeu.
Willie apenas assentiu.
—Helo20 está lá atrás. Floyd está aquecido e esperando. Você está
pronto para voar?
Neal engoliu um nó na garganta e assentiu. Ele nunca voou em
nada além de um jato de passageiros, e definitivamente não de
ressaca. Por favor não vomite. Maldito Paddy e seu intestino de ferro.

20
Helicóptero.

KM
Ele foi levado para um heliporto, onde sua carona esperava. Neal
não sabia exatamente nada sobre aeronaves, obviamente, ele era um
barqueiro, mas o helicóptero na frente deles era fino e aerodinâmico.
Ele pensou que parecia um veículo tão bom quanto qualquer
outro para levá-lo à sua possível morte. Houve um redemoinho literal
e figurativo enquanto os rotores zumbiam, e Willie demonstrou a
técnica que usaria para descer nos skids para o chão. Então ele se
apressou em torno de Neal, forçando sua cabeça para baixo enquanto
o guiava para seu assento.
Ele deveria ser amarrado em um arnês de cinco pontos durante o
passeio, até o chão, Willie enrolou e apertou as correias até que Neal
estivesse seguro em seu assento. Então Willie colocou um fone de
ouvido na cabeça de Neal, que tinha um microfone que se estendia na
frente de sua boca. Willie falou no microfone, depois tocou no fone de
ouvido de seu próprio fone. Neal assentiu, entendendo.
Com um aceno conciso, Willie fechou a escotilha do lado de Neal
e deu a volta para subir na cabine ao lado de outro homem, que tinha
de ser Floyd, o piloto. Floyd virou-se no banco e sorriu.
—Está pronto?
Sua voz soava pequena e minúscula de dentro do fone de ouvido,
com o barulho dos rotores soando do lado de fora, mas Neal o ouviu
bem o suficiente. Ele engoliu outra onda de bílis e assentiu
fracamente, depois deu um sinal de positivo para Floyd.
Houve um estrondo que estremeceu por todo o corpo da aeronave
quando os deslizamentos saíram do heliporto, seguido por uma
sensação de ausência de peso que significava que eles estavam

KM
pairando. O coração de Neal pulou em sua garganta junto com metade
de seu estômago quando Floyd começou sua lenta subida. Quando
Floyd se inclinou um pouco, Neal teve que fechar os olhos para não
ver o horizonte e afastar.
Ele não costumava ter problemas de enjôo, mas a ressaca, além
de seus nervos durante toda a viagem em geral, se contraía em seu
reflexo de engasgar. Mas quando a nave se nivelou, Neal se virou para
olhar pela janela larga e curva da pequena cabine.
—Porra, olhe para essa visão.
Ele não teve a sensação esmagadora de vertigem que ele achava
que teria, provavelmente porque o passeio era tão suave. As
montanhas abaixo eram em sua maioria verdes, apenas começando a
ficar cobertas, e os picos mais altos já estavam cobertos de neve. Isso
não era incomum na área, e ele duvidava que eles estivessem tão alto
assim.
Willie apontou para alguma coisa para baixo e para a
esquerda. Era uma cadeia de montanhas com trilhas de aranha
ramificando-se por toda parte. Ele explicou que as trilhas eram
realmente encostas de esqui secas, e eles estavam olhando para o
Resort e Parque de Ski de inverno. Neal achou bem legal, nunca tinha
visto pistas de esqui de cima antes.
Depois de mais alguns minutos, a voz de Willie encheu seu fone
de ouvido.
—Dez minutos para infil. Quando eu der a palavra, solte o cinto
do assento e prenda-o na linha de segurança. Quando chegarmos o
mais baixo possível, abra a escotilha e suba nos skids como mostrei

KM
para você. Floyd vai te dar uma chance assim que ele tiver certeza de
que ele tem um foco estável sem nenhuma corrente de vento, e é aí
que você vai desvirar da linha de segurança e pular. Entendeu?
—Cristo—, Neal murmurou, mas ele tinha certeza de que todos o
ouviram de qualquer maneira. —Entendi!— Ele disse mais alto.
Willie apontou a janela novamente.
—Vê essa área aqui? Este é o Monte Pipeline Pass. Aquela
pequena saliência achatada é onde vamos leva-lo ao chão. Vai ser
apertado, e é por isso que não faremos um pouso completo.
Ao se aproximarem, Neal viu uma silhueta solitária contra a
encosta de uma montanha, perfeitamente imóvel em uma postura de
pernas afastadas e ombros retos. Rock McCreary estava esperando
por ele. De repente, excitação cortou o medo, e ele mal podia esperar
para começar. Nem sequer o incomodou quando o helicóptero
diminuiu a velocidade para pairar sobre o pequeno planalto.
—Ok, recorte na linha de segurança—, disse Willie.
E aqui vem os nervos novamente. Ele estava prestes a pular de
um helicóptero em movimento. Ele sabia que era para ser o início da
aventura de sobrevivência que desafiava a morte, mas eles não
deixariam nada acontecer com ele, certo?
—Pronto?— Willie gritou.
—Como eu nunca estarei!— Neal respondeu.
A escotilha se abriu, e Floyd deu o sinal para ele descer no
skids. Mesmo que Neal pudesse ver que eles estavam a poucos metros
da neve, no fundo, ele ainda deu um aperto mortal na barra de suporte
vertical do skids quando ele se abaixou. Assim que sua bunda foi

KM
firmemente plantada no skids com as pernas penduradas, ele deu
outro sinal para Willie.
O helicóptero baixou apenas mais alguns centímetros.
—Tudo claro!—, Gritou Floyd.
Neal tirou o fone de ouvido e o jogou de volta na cabine, depois
soltou o arnês da linha de segurança. Então ele fechou os olhos e
deslizou no skids. Quando seus pés bateram em terra firme e ele ficou
de pé, Neal não se abaixou para beijar exatamente o chão, mas sentiu
vontade.
O helicóptero decolou rapidamente, e os pilotos acenaram
enquanto se inclinavam para a esquerda e voavam. Neal ficou de pé
ali sozinho com um sorriso bobo no rosto.
—Eu estou vivo!— Ele aplaudiu a si mesmo, silenciosamente
agradecendo a todas as divindades que ele conhecia por não ter
vomitado no caminho. Então ele voltou sua atenção para o homem
que permanecia em silêncio, observando-o, seu rosto ainda nas
sombras. Eventualmente, depois de alguns segundos desconfortáveis,
Rock McCreary lentamente se aproximou dele.
Cristo, ele era assustador em pessoa, e com um e noventa, Neal
não era um cara que se assustava facilmente. Enquanto o homem
silencioso e sólido caminhava em sua direção, imponente foi a palavra
que lhe veio à mente. Apesar do frio no ar, a cabeça de Rock estava
descoberta, e seu cabelo castanho na altura dos ombros estava
puxado para trás em um nó bagunçado na nuca. Mesmo através de
sua roupa exterior, Neal teve a impressão de uma construção robusta
com músculos duros e compactos que poderiam ter inspirado seu

KM
apelido. Embora Neal se orgulhasse de seu tamanho e do físico do
ginásio, sempre tivera ciúmes desse tipo de robustez porque, apesar
de todo o corpo, Rock ainda conseguia parecer magro e ágil,
provavelmente de seus muitos anos de caminhada e escalada.
Rock era alguns centímetros mais baixo que Neal, mas sua largura
e presença imponente compensavam isso. Há essa palavra
novamente. Quando Rock veio para ficar na frente dele, ele mudou
um pouco o ângulo para o sol, e Neal finalmente deu uma olhada em
seu rosto. Ricos olhos cor de conhaque, nariz forte - quebrado uma ou
duas vezes - e lábios carnudos foram registrados primeiro. Se não
fosse pela mandíbula dura e cerrada e os olhos forrados de tanto
estrabismo, ele poderia até ser considerado bonito.
E então Neal o reconheceu. Lutando contra o impulso de recuar
quando o homem da cachoeira se aproximou dele, Neal endireitou sua
postura e se ergueu em toda a sua altura. Houve um momento tenso
de silêncio antes que a boca de Rock se curvasse em um leve sorriso.
—Sr. Hesse? —Rock perguntou em uma voz grave.
—Este sou eu. Apenas me chame de Neal. —Ele se aproximou
para apertar a mão de Rock. Não houve flash de reconhecimento em
seus olhos. Que diabos? As palavras desse cara basicamente
inspiraram sua crise no início da meia-idade, e ele nem se lembrava
de Neal. Ele se preparou para perguntar a Rock sobre isso, e dar-lhe
uma boa briga, quando sua voz foi roubada por uma súbita e fria
rajada de vento. Rock olhou para o céu e franziu a testa.
—O tempo está um pouco mais legal do que os meteorologistas
disseram.— Ele tirou a mochila e tirou um pacote embrulhado. —

KM
Então eu peguei algumas luvas e um chapéu para você. Não posso
deixar você congelando aqui.
—Será que esta neve vai ser um problema?— Ele cavou a bota na
coisa branca para dar ênfase.
—Não contanto que você faça exatamente o que eu disser,— Rock
resmungou, seu sorriso desaparecendo brevemente.
—Você não precisa se preocupar com isso—, disse Neal
enfaticamente. O sorriso retornou.
Neal puxou as luvas quentes e revestidas e enfiou o chapéu de de
lenhador na cabeça. Ele imediatamente se sentiu um pouco melhor
sobre a temperatura.
—Então, o que fazemos primeiro?
—Famosas últimas palavras—, disse Rock.

KM
Ponto Infil - Monte Pipeline Pass

Rock avaliou o homem na frente dele. Ele parecia mais ansioso e


apto do que Rock podia ver através do agasalho. Hesse era alto e, se
Rock fosse honesto consigo mesmo, estupidamente atraente, todo
loiro e dourado, a pele do cara possuía o tipo de cor que só se adquiria
passando muito tempo fora. Olhos azuis cintilantes, uma mandíbula
quadrada e um sorriso torto juntaram o tipo americano de garoto de
fraternidade que fez o sangue de Rock esquentar. E havia também
algo sobre descobrir o que.
Mas isso não importava, porque ele não flertava com seus
convidados. Ele não tinha interesse nas mulheres, e os homens...
Bem, ele serviu no exército durante o DADT21 e estava em uma
profissão dirigida por testosterona, então ele estava acostumado a
subverter sua verdadeira natureza. Admitir que ele era gay seria
suicídio de carreira, no que lhe dizia respeito. Ele achava que um
contrato de rede para um show poderia vir com uma cláusula de
armário, como ele chamava, em uma tentativa de manter intacto o
heterossexual masculino do gênero. Inferno, Rena nem sabia. Não era
da conta de ninguém. Não deveria fazer diferença, mas fazia.

21
Don’t ask don’t tell, não pergunte não diga, antiga lei americana que proibia homossexuais de
servirem no exército.

KM
Neal deu-lhe um olhar engraçado, e Rock percebeu que ele esteve
parado lá, sem dizer nada por um minuto ou dois. Irritado consigo
mesmo por perder o foco, ele prontamente culpou o cliente muito
atraente, e provavelmente mostrou em sua voz.
—Tudo certo. Bem, tenho certeza que você já descobriu que sou o
Rock McCreary. Eu confio em você só trouxe o pacote que você
recebeu e o que lhe disseram que você poderia trazer?
—Sim—, disse Neal. Seu sorriso desapareceu no tom áspero de
Rock, mas ele estava pulando na ponta dos pés. Alguém estava
animado. —Fiquei surpreso por você dizer que poderia trazer meu
telefone, no entanto. Quero dizer, sempre que vejo esses shows de
sobrevivência... — Ele se interrompeu, corando adoravelmente. Rock
ignorou o raio de luxúria que o esfaqueou no estômago e acenou com
a cabeça para encorajá-lo a continuar. —Eles não costumam usar
telefones celulares.
—Enquanto isso é um retiro para você, eu ainda vou estar
ensinando a você como sobreviver. É provável que se você estivesse
preso aqui, provavelmente teria trazido um celular. É apenas mais
uma ferramenta que eu vou te ensinar a usar para te ajudar a
permanecer vivo. Principalmente com coisas como sua configuração
de lanterna. Você não vai conseguir nenhum sinal de celular aqui de
qualquer maneira, então não é como se estivesse trapaceando.
Neal assentiu, mas olhou em volta nervosamente.
—E no caso de uma emergência real?
Tendo superado sua birra interna, Rock lhe deu um tapinha no
ombro e - ele não tinha ideia do que o possuiu, além de ser um glutão

KM
por punição - deu um pequeno aperto, apreciando a sensação de
músculos fortes através das camadas de roupa exterior.
—Não se preocupe, sempre que guio civis, carrego um telefone via
satélite. Não vou usá-lo a menos que seja caso de vida ou morte, mas
está aqui.
Aquele sorriso trêmulo retornou, eventualmente se
transformando em um sorriso ansioso.
—Ok. Eu confio em você.
Algo sobre essa declaração fez cócegas no estômago de Rock. Esse
cara não parecia muito familiarizado com os vídeos de Rock quando
eles trocaram e-mails, mas por algum motivo ele confiava em Rock
para mantê-lo seguro. Rock faria o seu melhor para viver de acordo
com essa confiança.
—Tudo bem, nós temos sete dias, e eu não tornarei isso fácil para
você. Este é o Pipeline Pass. Nós vamos descer cerca de duzentos pés22
até chegarmos a um pequeno lago. Vamos verificar a pesca lá e depois
seguir em frente. Parece bom?
Neal parecia um pouco em pânico com isso.
—E por descer, você quer dizer exatamente o quê?
Rock deu-lhe um meio sorriso.
—Devemos ser capazes de descer para o lago apenas com as
mochilas, mas vou amarra-lo com uma corda curta apenas por
segurança.
Ele se abaixou e vasculhou sua mochila até que ele pegou um
pequeno pedaço de corda de escalada. Caminhando até Neal, ele

22
Cerca de 60 metros, achei melhor deixar no original pois altura é medida originalmente em pés.

KM
pegou um dos mosquetões no cinto que estava em seus quadris e usou
um nó de oito para amarrá-lo.
—A corda curta basicamente nos prenderá um ao outro enquanto
descemos—, explicou Rock.
Neal olhou para o nó em dúvida.
—Isso não significa que, se um de nós cair, arrastará o outro?
—Não, isso significa que se um de nós cair, o outro vai agir como
um contrapeso para impedi-lo de descer a montanha—, disse Rock. —
Nós vamos fazer isso fácil e devagar. Se você tiver um problema ou
precisar parar, fale. Observe atentamente seus passos, porque há
muitas pedras soltas e pedregulhos ao redor deste terreno. Pronto?
Neal conseguiu parecer ao mesmo tempo excitado e
aterrorizado. Era uma expressão e uma sensação que Rock estava
bem familiarizado. Depois que ele recebeu um sinal positivo de Neal,
Rock apontou o caminho através do desfiladeiro.
—Você vai assumir a liderança. É melhor me ter atrás para
ancorar, se alguma coisa der errado, então vou direcioná-lo por trás.
As sobrancelhas de Neal se ergueram e ele franziu os lábios como
se fosse dizer alguma coisa, mas mudou de ideia. Então ele apenas
balançou a cabeça e começou a atravessar o desfiladeiro, em direção
à descida até o lago. A primeira etapa foi bastante fácil, então Rock
permitiu a si mesmo a chance de ver a bela bunda de Neal. Ele ficou
fascinado com a forma como os glúteos se agrupavam e moviam
enquanto ele cuidadosamente descia o morro.
Rock não conseguia ler Neal, apesar de seus instintos geralmente
afiados, ele categoricamente se recusava a chamá-lo de gaydar. O

KM
homem definitivamente parecia a definição social de um homem
hetero, mas de vez em quando, a maneira como ele olhava para Rock
parecia um pouco amigável demais, ou familiar. Essa parecia uma
palavra melhor. Então, novamente, talvez o cara tivesse feito um
pouco mais de pesquisa na internet desde que eles haviam trocado e-
mails.
Só então, Neal tropeçou em algum lodo solto na encosta. A mão
de Rock foi imediatamente para a corda curta, ancorando-a em suas
mãos e dando a Neal uma alavanca para encontrar equilíbrio. Ele se
virou para olhar para trás, olhos azuis arregalados, mas ele sorriu.
—Obrigado.
Bem, foda-me, é o yuppie da cachoeira. Ainda gostoso pra
caralho e ainda sem noção de como se mover ao ar livre. Na verdade,
ele havia aceitado o conselho de Rock e se inscrito para um
treinamento de sobrevivência. A questão era, Neal o reconheceu?
Provavelmente não porque ele não parecia estar planejando maneiras
de matar Rock durante o sono, já que eles quase chegaram a trocar
socos.
Rock assentiu e engoliu antes que ele pudesse encontrar sua voz.
—Eu estou aqui para segura-lo. Não deixe isso estragar seu
momento. Continue.
Neal grunhiu, evidentemente se concentrando no caminho à
frente. Provavelmente determinado a não cair novamente.
Ou escorregar novamente.

KM
—Hesse, você já fez escalada?— Rock perguntou desde que Neal
não tinha realmente respondido a pergunta em sua resposta ao e-mail
de Rock.
—Sinta-se à vontade para me chamar de Neal. Não, não escalada,
exceto nas pequenas paredes de pedra da academia.
—Caminhada?
Houve uma pausa.
—Algumas. Nada além do nível intermediário. Eu faço muito
ciclismo e natação, obviamente.
—Obviamente?
Neal olhou por cima do ombro e empurrou o polegar no peito.
—Patrulha do porto. Tenho que manter as habilidades de natação
fortes para resgates na água.
—Ah, está certo. Eu me lembro disso da sua biografia. Como é? —
Rock não ouviu nada além de bufar e ofegar acima. Ele riu. —Não se
preocupe, você pode me contar tudo quando acampamos. Poupe seu
fôlego.
Isso lhe rendeu um grunhido e a saudação de um dedo. Bem, as
coisas começaram bem se o cara já o estava assim.
—Então, quanto tempo vai demorar até acamparmos?— Neal
ofegou.
—Temos mais cem metros até chegarmos à bacia23 de
Brender. Podemos descansar um pouco, porque esse será o último
terreno plano até chegarmos ao lago Pine.— Rock pensou ter ouvido
um gemido, mas preferiu ignorá-lo. Ele adoraria ter ficado em

23
é a extensão ou superfície de escoamento de um rio central e seus afluentes

KM
silêncio e ir para a zona zen que costumava encontrar durante a
caminhada, mas Rena costumava dizer a ele para se envolver com os
clientes, porque isso gerava novos negócios. Além disso, ele estava
ansioso para saber mais sobre Neal Hesse e diabos se ele sabia por
que estava tão determinado a fazer isso, mesmo que não houvesse
nada que ele pudesse fazer sobre sua atração pelo homem.
Ele deu um tapinha nas costas de Neal para encorajá-lo a
continuar. Eles estavam perto do próximo ponto fixo. Neal virou a
cabeça para o lado para que Rock pudesse ver sua carranca. Ele
gostava dos pequenos pés de galinha que se enrugavam nos cantos
dos olhos de Neal, mesmo que não estivessem sendo colocados lá por
um sorriso, e seu pulso acelerou apesar do ritmo fácil.
Rock ainda não sabia se Neal era gay ou hétero,
e ainda era inadequado flertar com um cliente, especialmente alguém
de quem ele não gostava e que não gostava dele... mas por alguma
razão, a empolgação continuava tentando subir com a ideia de passar
uma semana inteira sozinho com esse homem.
De repente, o espaço entre os dois cumes que formavam o
desfilamento se ampliou, abrindo-se para um planalto
surpreendentemente gramado, apenas coberto de neve em torno de
suas bordas.
—Lá está, logo lá embaixo. Nós chegaremos a bacia. Quando
estivermos no acampamento, podemos desatar a corda e nos sentar
por um minuto.
—Aleluia—, Neal murmurou.
Serão longos sete dias se ele já está cansado.

KM
Ponto fixo - Bacia de Brender

A bacia era um dos lugares mais bonitos que Neal já vira, quase
mágico. Era um oásis plano e coberto de grama, cercado pelos
escarpados e afloramentos do Monte. Como o Central Park, no meio
de Manhattan, era um pequeno santuário que parecia não existir
dentro de seus arredores. Ao longo da fronteira oriental do pequeno
planalto, a única parte não cercada por picos rochosos, Neal podia ver
as pontas das árvores alpinas aparecendo na borda. Sugeria que o
terreno se tornaria mais denso à medida que desciam. Ele se
perguntou distraidamente que tipo de árvores elas eram.
Aliviado por descansar um pouco, Neal caiu na grama seca,
abraçando os joelhos no peito. Rock tinha ido examinar a próxima
etapa de sua caminhada e provavelmente mijar em privado, então ele
teve um momento sozinho para se recompor. Ele ficou um pouco
envergonhado com o quão enrolado ele tinha ficado durante a descida
rápida. Ele não estava fora de forma, por qualquer meio, mas andar
de bicicleta em uma estrada era muito diferente do que se arrastar
pelo lado da montanha.
E Rock ... Aquele homem ainda o intimidava. Ele não estava
orgulhoso disso. Neal era um cara grande e não havia muita coisa que
sacudia sua confiança, mas a facilidade com que Rock se movia

KM
através das pedras, como se elas fossem apenas uma extensão dele,
era muito assustador.
Neal não estava acostumado a ser o instável, aquele que estava
fora de seu elemento. Ele esmagou o pico de irritação que cresceu em
seu peito. Foi isso que o machucou tanto com Tony. Depois de tanto
tempo estar em um relacionamento estável, foi como se o tapete
tivesse sido subitamente arrancado de seus pés. Não só seu mundo
inteiro estava abalado, mas ele tinha sido humilhado. Ele esperava
que essa viagem o ajudasse a reconquistar sua confiança e a se
recompor novamente.
—Pare de se preocupar—, disse a si mesmo. —McCreary sabe o
que diabos ele está fazendo - mesmo que ele seja um idiota - então
apenas confie nele e tente se divertir, certo?
E agora estou falando sozinho.
—Agora é um bom momento para usar algumas das suas
provisões de trilha—, Rock gritou enquanto caminhava
propositadamente de volta para onde Neal estava sentado. —Vai
demorar um pouco até chegarmos a um lugar decente para pescar ou
caçar.
Neal vasculhou sua mochila e pegou uma barra de proteína
enquanto Rock se sentava ao lado dele. Enquanto ele mastigava, ele
tirou algumas fotos em seu telefone para que ele tivesse algo para
mostrar aos meninos mais tarde.
—Eu suponho que tirar fotos com meu celular não seja contra as
regras?

KM
—Não, mas tenha em mente a duração da sua bateria. E sempre
observe onde você está pisando. Não posso te dizer quantas vezes eu
tive um idio- cliente machucado porque estava olhando para a tela em
vez de onde ele colocava os pés.
Com uma risada, Neal tirou uma última foto e desligou o
telefone. Ele ficou em silêncio enquanto mastigava a barra de proteína
e considerava o fato de que ele poderia facilmente ter sido um
daqueles idiotas que se machucaram fazendo algo estúpido. As
montanhas imperiosas e os quilômetros de altura que os cercavam
lembraram-lhe que ele precisava viver no momento. Ele precisava
esquecer Tony e suas inseguranças, e apenas ser, apenas sobreviver.
Rock cutucou-o com o ombro, um gesto que foi quase amigável,
mas não completamente, porque era Rock.
—Que há com você?
Não havia sentido em negar, pois era dolorosamente óbvio que
ele estava em momento ruim.
—Eu passei por algumas coisas antes de reservar esta
viagem. Estive envolvido em uma situação com reféns, durante a qual
meu parceiro teve que atirar em um cara, e eu acabei de sair de um
relacionamento de dez anos, e não terminou bem. Eu pensei que fazer
isso pudesse me ajudar a me recompor. Eu ainda estou otimista, mas
não estou... não estou acostumado a fazer algo em que não sou o
melhor. Eu não sei o que estou fazendo aqui, realmente. Ser
intimidado me irrita.
Rock cantarolou como se entendesse.
—E você está? Intimidado?

KM
—Por estar aqui fora? Não. Bem, um pouco, porque eu percebo
que existem centenas de maneiras diferentes de me machucar ou
morrer no meio do nada, e você já sabe que eu não sou o mais gracioso
para começar… Mas estou impressionado… e totalmente
animado. Pronto para sujar as mãos— respondeu Neal com um
pequeno sorriso. —Intimidado por você? Sim. E como eu disse, isso
me incomoda muito.
Rock bufou e balançou a cabeça.
—Nada assustador sobre mim. Eu sou apenas um cara comum
que é teimoso demais para morrer.
Então ele piscou, e isso fez algo engraçado no estômago de
Neal. Rock definitivamente não era o tipo de cara que ele deveria estar
desejando, porque isso soava como uma boa maneira de fazer sua
bunda ser abandonada no topo de uma montanha para os lobos
(espere, havia lobos em Washington?) e isso não fazia parte do
plano. Sim, o homem era definitivamente intimidante, mas talvez por
um motivo completamente diferente do que Neal pensara. Ele ainda
era na maior parte um idiota, mas um Neal estava intrigado.
—Sim… eu acho que tudo que você faz. É foda, cara.
Batendo as palmas nas costas dele, Rock realmente sorriu.
—Agora você estará fazendo isso também. Está pronto?
—Pra caralho!
Rindo, Rock ficou de pé e ofereceu uma mão a Neal. Quando ele
pegou, Rock o puxou como se ele não pesasse nada, e ele era um cara
grande, ele definitivamente pesava muito. Toda aquela força
acumulada em um homem fisicamente menor do que ele era uma

KM
enorme excitação para Neal. Isso foi provavelmente o que o distraiu
quando ele se aproximou da borda leste. Ele se virou para ver Rock
arrumando suas coisas, então levantou o telefone para enquadra-lo
em uma foto.
—Cara, esse lugar é incrível!
Rock notou que ele estava se movendo quando ele deu um passo
para trás para ampliar sua profundidade na foto, e Rock
imediatamente ficou tenso.
—Merda!— Uma pedra soltou e o solo e as rochas sob os pés de
Neal cederam. Ele começou a cair, e pouco antes de Neal ter
desaparecido da borda, Rock o agarrou pela alça da mochila.
—Pronto pra caralho?
—Droga!— Neal gritou quando ele foi puxado para frente, e
ambos aterrissaram no chão duro. Ele estava deitado de costas, o
peito arfando quando a adrenalina atravessou seu sistema. Ele
arriscou um olhar para Rock, e ele espelhava a posição de Neal, exceto
que ele olhava para o céu e sua mandíbula flexionava como se
estivesse rangendo os dentes.
Neal só sabia que havia uma palestra chegando. O cara tinha
acabado de avisá-lo sobre se distrair tirando fotos e olha só o que ele
tinha feito. Rock respirou fundo e soltou o ar pelo nariz. Então ele se
sentou.
—Você está pronto para ir?—, Perguntou ele.
—Hum, sim, claro.— Neal estava se preparando para uma briga,
então ele se sentiu estranhamente perturbado quando não veio. Claro,

KM
ele não achava que alguém pudesse fazê-lo se sentir mais idiota do
que ele já estava no momento. Lição aprendida.
Rock olhou para o céu, franzindo a testa.
—Eu não estou gostando da forma das nuvens lá em cima. Não
havia previsão de chuva ou neve, mas até aqui isso pode mudar a
qualquer momento. Eu gostaria de chegar ao lago o mais rápido
possível para começar a procurar um lugar para acampar. Me siga.
Não foi tão fácil quanto parecia. Embora estivessem na floresta
naquele ponto, o campo ainda era bastante íngreme. A rocha se movia
depressa e, embora sob condições normais, Neal pudesse facilmente
manter-se, o chão da floresta era composto de uma camada de folhas
e agulhas de pinheiro mortas, cobrindo a mesma rocha solta e sujeira
que tinham visto na encosta. O grosso cobertor de detritos escondia
todas as raízes das árvores e as rochas maiores que Neal certamente
tropeçaria.
Depois da oitava vez que ele perdeu o equilíbrio, Rock diminuiu a
velocidade e se virou para olhá-lo.
—Eu posso desacelerar um pouco, se você quiser. Não há tempo
para parar e descansar agora, estou preocupado com a mudança do
tempo e quero ir até o lago para encontrar abrigo.
—Eu estou bem—, Neal resmungou, resistindo à vontade de
adicionar “idiota”. Ele manteve a cabeça baixa para que ele pudesse
observar seus pés e evitar o olhar interrogativo de Rock. Era muito
bom ser grande a alto na cidade, ou na água, onde não havia nada para
tropeçar, mas lá fora, seus membros longos e esguios continuavam a
entrar no maldito caminho. Ele não precisava torcer o tornozelo ou

KM
algo assim em seu primeiro dia aqui. Ele se perguntou se havia
esperança de ele passar pela viagem ileso.
Sacudindo seus pensamentos, Neal decidiu tentar conversar para
manter sua mente fora do terreno acidentado e outras coisas
desconfortáveis.
—Por que eles te chamam de Rock, afinal? Além do motivo óbvio.
—E qual é motivo óbvio?— Rock estava virado para frente
novamente, mas Neal podia ouvir o sorriso em sua voz.
—Bem ... uh, porque você é ... você sabe ... sólido.— Neal podia
sentir o rubor chegando, graças a sua pele alemã, mas ele não podia
impedir. Mas ele estava feliz que Rock não pudesse vê-lo no
momento.
Depois que ele falou, os passos de Rock vacilaram quase
imperceptivelmente antes de ele se recuperar.
—É isso que você pensa?— Ele meditou.
—Eu não sei, cara. Eu meio que acho que deve haver algum tipo
de história por trás disso.
—Definitivamente é isso. Não é o tipo de história que costumo
contar quando estou fazendo uma expedição, mas se você realmente
quer saber ...
—Eu quero—, Neal encorajou, escolhendo seu caminho por um
terreno particularmente escorregadio.
—Ok. Eu estava em Utah, escalando por diversão com alguns
amigos. Eu estava na metade de uma subida vertical quando um dos
meu ganchos soltou e eu cai.

KM
Neal respirou fundo e teve que se firmar contra uma árvore
próxima.
—Você ficou ferido seriamente?
Rock deu uma risada seca.
—Essa e a coisa. Eu bati em uma pedra enorme e meio que
ricocheteei, então aterrissei no chão do cânion. Por todos os direitos,
eu deveria ter aberto meu crânio ou quebrado meu pescoço, mas
consegui escapar com ferimentos relativamente pequenos. Pequena
concussão, duas vértebras rachadas e os cortes e contusões básicos
associados a uma queda. Meus amigos fizeram todo tipo de piada
dizendo que minha cabeça era mais dura que uma pedra ou que meu
esqueleto era feito de pedra, esse tipo de coisa, e o nome
simplesmente pegou.
—Como você sobreviveu a uma queda assim?
Os ombros grandes de Rock se moveram em um encolher de
ombros.
—Ninguém soube dizer com certeza. A opinião popular foi que,
quando eu caí, a rápida mudança de altitude pode ter me levado a
perder momentaneamente a consciência. Quando que isso acontece,
seu corpo deixa de se preparar para o impacto e você geralmente
acaba ficando menos ferido do que se estivesse acordado. É isso que
você ouvirá dos sobreviventes de coisas como tornados que foram
arrastados antes de serem atirados.
—Eu acho que isso faz sentido. Ainda é assustador pra caralho,
apesar de tudo.
—Definitivamente sim.

KM
Rock pegou sua velocidade novamente até que eles estavam meio
correndo pela encosta entre as árvores. Antes que Neal soubesse, as
árvores se dissiparam em outro planalto plano. Eles estavam em uma
altitude ligeiramente inferior, então não havia neve lá, apenas grama
e rocha ao redor de um pequeno lago reflexivo. Picos pontiagudos e
irregulares erguiam-se de todos os lados, de modo que estavam
abrigados em sua pequena enseada.
—Santo ... uau —, Neal respirou. —Isso é absolutamente de tirar
o fôlego.
Ao lado dele, Rock estava quieto enquanto ele assentia.
—Muitas pessoas não conseguem ver desse jeito. É como ser as
únicas pessoas no mundo, sabe?
—Sim—, respondeu Neal. Ele sabia exatamente o que Rock queria
dizer. Eles estavam tão isolados da realidade aqui, e era tão diferente
de qualquer coisa que ele estava acostumado, ele quase podia
imaginar ser os dois últimos homens na terra. Depois do ano que ele
teve, foi uma sensação bastante reconfortante.
—Eu gostaria de lhe dar mais tempo para aproveitar, mas você
pode fazer isso amanhã. Precisamos começar a procurar. A noite virá
mais rápido do que você pensa, e ainda não estou certo de como vai
ficar o tempo
—Ok. O que eu preciso fazer?
—Você pode procurar um pouco de lenha por essas árvores e
folhas secas para acender. Eu vou explorar e ver o que posso
encontrar para comer. Tente não fazer muito barulho, pro caso de
haver algum animal.

KM
Neal assentiu e começou a partir quando Rock o parou com uma
mão no ombro dele.
—Eu não notei isso antes, mas acho que acabei de encontrar nosso
abrigo para a noite.
Ele apontou, e Neal seguiu sua linha de visão até uma pequena
caverna que parecia gravada na lateral da montanha. O espaço era
baixo e estreito, apenas um corte preto contra a rocha cinzenta àquela
distância. Neal duvidou que ele pudesse ter descoberto se estivesse
sozinho.
—Como sabemos que não está, hum ...?
—Ocupado?— Rock terminou.
—Sim. Eu odiaria ser uma refeição fácil de algum animal.
—É muito pequeno para um urso, muito alto para os lobos. A
única coisa que realmente precisamos nos preocupar é algum tipo de
gato, puma, provavelmente. Nós apenas teremos que procurar e
ver. Vamos lá.
Neal seguiu Rock pelo prado aberto que rodeava o pequeno lago
até chegar ao pé da escarpa que o rodeava. A caverna ficava alguns
metros acima deles em uma rocha baixa, mas havia apoio para a mão
para chegar lá em cima. Rock foi o primeiro, fazendo com que
parecesse fácil. Então ele estendeu a mão e ajudou Neal a se levantar.
—Fique aqui—, ele ordenou, em seguida, pegou o telefone e ligou
o aplicativo lanterna.
Ele guiou a luz brilhante nos cantos da caverna, e eles perceberam
que era mais rasa do que eles pensaram inicialmente. Na verdade,

KM
parecia apenas o suficiente para um homem se deitar lá dentro com
os pés na boca da caverna.
Rock se agachou e passou os dedos pela terra no chão da
caverna. Seus olhos penetrantes e intensos absorviam tudo, enquanto
Neal estava desajeitadamente na entrada. Finalmente Rock levantou-
se e olhou para ele.
—Não há impressões na terra, nenhuma… tenho certeza que
ninguém mora aqui.
—Bom. Ótimo— disse Neal, reprimindo um tremor. Na teoria, ele
sabia que haveria... criaturas na natureza, mas cruzar o caminho
delas? Ele não era um cara fã de animais. Apenas não.
—Isto é. Agora teremos um teto sólido sobre nossas cabeças, para
o caso de o tempo piorar. —Ele bateu as mãos enluvadas, fazendo Neal
pular. —Então você vai pegar lenha e eu vou caçar. Não vá muito
longe.
—Não se preocupe—, resmungou Neal enquanto descia da rocha
para a grama. Mesmo que Rock estivesse sendo um pouco mais legal
agora, seu tom condescendente ainda era irritante. Então,
novamente, Neal não tinha exatamente dado a Rock qualquer razão
para pensar que ele poderia lidar com as coisas sozinho. Ele teria que
fazer melhor. Ele saiu por entre as árvores, e quando ele olhou para
trás, Rock já havia desaparecido.
Ele decidiu começar uma pilha na borda da floresta. Marcando o
local com um punhado de folhas secas e agulhas de pinheiro que
poderiam usar para acender, e partiu em busca de peças maiores. Não
parecia ter chovido recentemente, então a maioria das árvores mortas

KM
e caídas que ele encontrou estavam secas o suficiente. Não demorou
muito para que ele tivesse um bom estoque de lenha.
Neal queria fazer mais uma passagem para garantir que eles
tivessem bastante, ele não queria deixar Rock na mão, já que ele já
estava se sentindo incompetente o suficiente, e ele notou uma grande
árvore morta perto da borda da floresta quando voltava com uma
braçada. Ele retornou e usou o pé para arrancar vários galhos
grandes.
O último tronco em que ele estava de olho já estava
principalmente destacado e encostado a uma pedra plana, então Neal
segurou e começou a arrastá-lo para sua pilha. Ele congelou, seu
sangue se transformando em gelo quando ouviu um som fraco, mas
distinto de um chocalho. Com medo de mover um músculo, ele fechou
os olhos brevemente. Não, não, não, isso não está acontecendo.
Quando os abriu, procurou no local onde havia removido o tronco
e viu. A cobra era da cor da terra, com manchas vagas. Ela se misturou
tão bem, ele poderia facilmente ter pisado nela, e ela estava enrolada
e pronta para atacar... olhando para ele.
Neal começou a tremer violentamente, enquanto sua mente
corria para pensar em uma saída para a situação. Se ele recuasse,
tinha certeza de que não conseguiria mais dar um passo antes que a
cascavel atacasse. Ele estava com medo de gritar pela mesma
razão. Ele não veio até aqui para morrer no primeiro dia. Sim, ele
assistiu muitos shows de sobrevivência, mas por incrível que fosse, ele
não conseguia pensar no que ele deveria fazer nessa situação.

KM
—Rock—, ele sussurrou, na chance do homem estar por
perto. — Rock...
Nada aconteceu. O crepúsculo caía e a luz fraca deu uma ideia a
Neal. Movendo-se glacialmente, ele deslizou seu telefone do bolso e
começou a piscar a lanterna em direções aleatórias, apontando tão
alto quanto ousava, apenas rezando para chamar a atenção de
Rock. Ele não estava orgulhoso de confiar em outro homem para vir
salvá-lo, mas ele com certeza não queria morrer.
Ele se encolheu quando um graveto quebrou no silêncio.

KM
Acampamento - Lago Pine

Rock estava voltando sem comida. Ele tinha visto alguns esquilos,
mas eles tinham sido muito rápidos para ele. Ele tentou pescar nas
águas geladas do lago, mas não conseguiu pegar nada. Ele tinha
certeza pra caralho que eles teriam que procurar minhocas pra comer
em sua primeira noite fora.
Ele estava voltando para o prado aberto para ver se Neal teve
alguma sorte com a lenha quando ele pensou ter ouvido alguma
coisa. Seus músculos ficaram tensos enquanto esperava que o som,
seja lá o que fosse, repetisse. Isso não aconteceu. Andando
novamente, ele quase chegou à clareira quando ele congelou. Ele
poderia jurar que ouviu uma voz.
Não havia mais ninguém por perto, então tinha que ter vindo de
Neal, mas se o homem precisava dele, por que ele simplesmente não
gritava? A menos que ele não possa. A menos que ele esteja
machucado. Era um pesadelo ambulante quando se estava na
natureza selvagem, tudo podia acontecer. A adrenalina correu pelo
sistema de Rock, acelerando o ritmo cardíaco, mas ele tentou ficar
quieto para o caso de o som voltar.
De repente, ele viu um flash fraco de luz de algum lugar através
das árvores, três flashes rápidos para ser preciso. Eles foram seguidos

KM
por três longos e lentos flashes e três mais rápidos. O código Morse
universal para SOS. Neal estava em apuros e, por algum motivo, não
podia pedir ajuda.
O mais silenciosamente que pôde, Rock avançou na direção da
luz. Ele se escondeu atrás das árvores enquanto progredia, no caso de
Neal estar sendo ameaçado por um urso ou algum outro animal
predatório. O elemento surpresa sempre era uma vantagem.
Finalmente, ele avistou o homem, ainda de pé, pálido, segurando
o telefone com tanta força que era uma maravilha que ele não
rachasse. Rock amaldiçoou silenciosamente quando pisou em um
galho que se estalou sob os pés, e o olhar de Neal bateu em seu
rosto. Mesmo na luz fraca, ele poderia dizer que o homem estava
suando muito, mas ele não podia ver qualquer outra coisa ao redor
que causasse tal medo paralisante.
Os olhos de Neal baixaram para o chão, em direção a uma rocha
que estava alguns metros à sua frente. Então ele olhou para Rock
novamente, arregalando os olhos. Algo estava no chão, um predador
fora da linha de visão de Rock. A única coisa em que ele conseguia
pensar que podia se esconder à vista de todos e colocar esse tipo de
medo no rosto de um homem era uma cobra.
Rock começou a se mover para frente e a respiração de Neal
engatou. Ele estendeu as mãos na frente dele em um gesto calmante,
e Neal deu-lhe um pequeno aceno de cabeça. Procurando em torno de
onde ele estava, Rock encontrou uma pedra pesada e plana que seria
uma boa arma. Claro, ele tinha a faca, mas ele precisava de algo que

KM
pudesse atirar de uma distância que tivesse uma grande área de
impacto.
Com a pedra na mão, aproximou-se mais de Neal, esperando que
a cobra mantivesse os olhos na presa, em vez de na outra criatura se
esgueirar por trás. Quando ele estava muito mais perto da rocha que
a cobra usava como seu covil, ele finalmente deu uma olhada. Ela
estava enrolado, com a cauda levantada e o chocalho tocando sua
sentença de morte, mas ainda não estava em posição de destaque. Sua
cabeça ainda estava no chão, perfeito.
Quando ele estava a trinta centímetros da cobra, Rock jogou a
pedra com a maior precisão e força que conseguiu. Foi um tiro
perfeitamente apontado. Pode não ter matado a cobra, mas prendeu
a cabeça. Rock pulou na pedra com os dois pés, colocando todo o seu
peso para trás. Enquanto ainda de pé sobre ele, ele puxou sua faca e
separou a cabeça do corpo da criatura.
Assim que a serpente parou de se contorcer, Rock saltou e foi
verificar Neal. Ele passou as mãos pelos ombros e braços do homem,
procurando por ferimentos não vistos.
—Você está bem?
Neal não respondeu, e Rock pôde sentir os tremores de seus
músculos. Ele segurou o rosto de Neal em suas mãos, notando que sua
pele estava fria ao toque, e forçou o cara a olhar para ele.
—Ei. Você está comigo? Por favor, eu realmente não quero ter que
te bater depois do susto que você levou.
Diante de seus olhos, as pupilas de Neal se dilataram de volta ao
tamanho normal e ele finalmente se concentrou no rosto de Rock.

KM
—Ela... foi embora?
—Está morta—, respondeu Rock. Ele sabia que em situações de
choque, era melhor ser muito específico. — Entretanto. Eu preciso
que você me responda. Ela te picou em algum lugar? Preciso chamar
o transporte aéreo?
Neal lambeu os lábios rachados, e Rock notou que eles estavam
tingidos de azul, e ele definitivamente iria para o inferno por ter ficado
atraído por eles como um imã.
—Vamos lá, precisamos acender um fogo e aquecê-lo. O choque
pode roubar o calor do seu corpo mais rápido do que você imagina.
Sem esperar por uma resposta, Rock pegou Neal pelo pulso e
puxou-o para a borda da floresta. Ali encontrou a pilha de lenha de
bom tamanho que Neal coletara; seria mais que suficiente. Ele
agarrou o máximo que pôde carregar enquanto ainda liderava seu
cliente e foi para a caverna.
Assim que chegaram ao abrigo temporário, Rock moveu Neal
contra a rocha e gentilmente o empurrou para a base. Felizmente ele
tinha função motora suficiente para subir o resto do
caminho. Quando Rock subiu atrás dele, Neal estava sentado de
pernas cruzadas no chão da caverna, curvado com os braços em volta
de si mesmo. Cristo, mas Rock queria abraçar o cara, e isso era um
impulso muito fora do personagem para ele.
Foco. Fogo primeiro, depois conforto.
—Normalmente eu te ensinaria a fazer o fogo, mas nós vamos
guardar isso para amanhã à noite, ok?

KM
Neal estava perturbadoramente silencioso, então Rock fez o fogo
rapidamente. Ele improvisou uma camada de folhas secas e agulhas
de pinheiro no chão da caverna, depois empilhou alguns dos troncos
maiores em um padrão entrelaçado. Depois de construir o pavimento
mais no centro, ele pegou sua pederneira24 e procurou por uma pedra
pequena e afiada. Quando ele encontrou uma que funcionaria, ele
rapidamente atingiu a haste com a pedra até que lançou faíscas na
lenha.
As faíscas acenderam e Rock soprou a chama suavemente até ter
certeza de que continuaria a queimar. Ele colocou alguns galhos e
troncos de tamanho médio no centro do monte de pedras, depois
recuou para assistir ao fogo crescer. Assim que ficou satisfeito, voltou-
se para Neal. O homem tinha envolvido os braços ao redor dos joelhos
dobrados e claramente ainda tremia.
Rock sentou-se ao lado dele e segurou o queixo de Neal para que
olhasse para ele.
—Ok, cara, você precisa falar comigo agora. Você está bem?
Os dentes de Neal batiam, mas ele tentou ao máximo falar.
—Eu acho que sim... Por que está tão frio?
—Fica frio aqui quando o sol se põe. Mas o que você está sentindo
agora é o choque da adrenalina, choque, lembra? Você levou um susto
e você está em choque agora. Venha, aproxime-se do fogo. Isso deve
ajudar.

24
é um pedaço de aço carbono do qual as faíscas são atingidas pela borda afiada de sílex ou rocha
semelhante.

KM
Rock o ajudou a deslizar até que ele estivesse a menos de trinta
centímetros do fogo, e o corpo de Neal relaxou ligeiramente. Mas
então ele ouviu um fungar aquoso. Esperando salvar a dignidade do
homem, Rock não olhou para o rosto dele; ele apenas olhou para o
fogo e cuidadosamente colocou um braço em volta dos ombros de
Neal. O calor do corpo ajudaria com os calafrios, e às vezes o conforto
físico era a melhor coisa para tirar alguém do choque. Neal endureceu
apenas brevemente antes de se inclinar para o abraço de Rock.
—Eu poderia ter morrido.
—Sim—, respondeu Rock. Ele descobriu que a honestidade
sempre era melhor. —Eu teria feito primeiros socorros em campo
enquanto estivéssemos esperando que um helicóptero viesse. Mas
teria sido próximo, sim.
—Você salvou minha vida—, disse Neal, finalmente se virando
para olhá-lo.
Rock viu que suas bochechas estavam molhadas de lágrimas
silenciosas, e ele realmente não podia culpar o cara. Cascavéis eram
muito assustadoras, até para ele. Inferno, ele odiava cobras, na
verdade.
—Esse é o meu trabalho. Embora eu prefira que você não entre
em situações de risco de vida para começar.
Ele tentou rir, mas ficou surpreso quando Neal saltou para a
frente e envolveu os braços fortes em volta de seu pescoço. Oh,
Cristo. O cara estava realmente agradecido, ou talvez procurando
calor, mas Rock não conseguia controlar a excitação traiçoeira que ele
sentiu por ter Neal enrolado em volta dele.

KM
Quando finalmente se separaram, Neal olhou para ele por alguns
segundos tensos. Rock mordeu o lábio inferior, um hábito nervoso do
qual não se orgulhava, mas seu pênis saltou quando notou os olhos de
Neal se desviando para a sua boca de forma tão breve. Rock queria
insistir, questioná-lo sobre sua orientação, mas era
uma péssima ideia arriscar sua carreira e arriscar-se a irritar um
policial grande, possivelmente hétero, especialmente um que acabara
de levar o susto de sua vida.
—Merda—, disse Rock, gentilmente empurrando Neal para longe
dele. —Eu esqueci completamente do jantar. Ainda bem que já
pegamos alguma coisa.
—Nós pegamos?—, perguntou Neal. Sua testa franziu em
confusão.
—Sim. Volto já—, respondeu Rock. Saltou da rocha da caverna e
correu pelo prado até encontrar o local onde Neal teve seu impasse
com a cascavel. Ele chutou a pedra que jogou para matar a criatura e
ficou aliviado ao ver que a carcaça da cobra ainda estava intacta.
Depois de enterrar rapidamente a cabeça venenosa, Rock pegou
o corpo inerte e correu de volta para a caverna. Foi quase cômica a
maneira como os olhos de Neal se arregalaram quando ele
orgulhosamente levantou o jantar.

KM
Acampamento - Lago Pine

Droga. O homem iria cozinhar a cobra e fazer com que Neal a


comesse. Ele realmente não deveria ter ficado surpreso. Ele tinha
visto o que os programas de sobrevivência mostravam, então ele sabia
o quão ruim poderia ficar. Sabendo que deveria se considerar com
sorte que o jantar não fosse de vermes e minhocas, Neal se forçou a
assistir Rock preparar a cascavel.
De alguma forma, Rock conseguiu separar a pele da carne e retirá-
la em uma longa bainha com as entranhas e a cauda presas. O que
restou foi um tubo magro de carne branca que ele habilmente
enfaixou. Ele envolveu um filete - cerca de metade do tubo - em torno
de um galho e colocou-o sobre o monte de fogo para ser assado. Ele
cruzou alguns paus sobre a outra parte do monte de pedras para fazer
uma espécie de grelha, sobre a qual ele colocou algumas tiras de carne.
—Nós vamos comer o assado esta noite, e o resto será defumado
durante a noite, por isso vai parecer como carne seca de manhã.
Embora ele estivesse impressionado com a ingenuidade, Neal
olhou a configuração duvidosamente. Ele nunca comeu nenhum tipo
de réptil, e a ideia de comê-lo deixou-o um pouco enjoado. Mas então,
ele estava morrendo de fome e também incrivelmente feliz por ser ele
a afundar seus dentes na cobra, em vez do contrário.

KM
Rock sorriu quando avistou a careta de Neal.
—Não é ruim. Confie em mim, esta é uma iguaria da floresta. Nós
tivemos sorte - em mais de uma maneira.
—Inferno, eu acho que deveria estar feliz que não seja algum tipo
de inseto ou algo assim.
—Você deveria, meu amigo. Esta é de longe uma das melhores
refeições de trilha que você já recebeu.
—Eu acho que se Indiana Jones pode comer cérebros de macacos,
eu posso comer uma pequena cascavel.
Rock apenas balançou a cabeça e cutucou o fogo.
—Isso é apenas Hollywood, cara. Aqui é a coisa real. Como você
está se sentindo agora? Mais quente?
Neal se obrigou a realmente checar. Ele ainda estava
completamente vestido com o que ele começou a pensar como sua
calça de aventura e sua jaqueta multi-camada resistente. Fisicamente,
ele estava principalmente caloroso, mas sua mente ainda estava
gelada por ter estado tão perto da morte. Ele supôs que deveria ser
parte da emoção da sobrevivência na natureza.
—Estou bem. Ainda um pouco abalado, mas me sinto bem.
Assentindo, Rock pegou a ponta fria do espeto e tirou a cobra do
fogo. Ele cortou um pedaço de carne queimada e entregou a
Neal. Depois de cortar um pedaço, eles brindaram suas fatias e
comeram. Neal ficou, de certa forma, agradavelmente surpreso com o
gosto. Não era muito característico, quase como frango, mas um
pouco mais afiado e muito mais duro. Era duro, mas não muito difícil

KM
de mastigar. Antes que ele percebesse, ele terminou o seu pedaço e
Rock entregou-lhe outro.
—Então, qual é o veredicto?— Rock perguntou.
—Não é ruim. Não é tão ruim assim.
Eles encheram suas barrigas em silêncio, olhando para o fogo,
cada um perdido para seus próprios pensamentos. Neal queria
interrogar Rock, perguntar-lhe tudo o que ele podia pensar sobre sua
vida como especialista em sobrevivência, mas ele não conseguia criar
coragem. E ele ainda não gostava muito do cara, então ele foi com um
assunto mais neutro.
—Então podemos nadar aqui?— Ele perguntou, acenando na
direção do lago. —Quero dizer, durante o dia quando estiver quente?
—Não. Quer dizer, nós poderíamos fazê-lo se precisássemos, se
fosse algo de vida ou morte, mas teríamos que tomar muitas
precauções para evitar a hipotermia. Esses lagos de alta altitude são
preenchidos pela neve derretida, então a temperatura é bastante
glacial. Daqui a alguns meses, tudo isso ficará congelado. Você
poderia dar uma chance, mas suas bolas provavelmente nunca
funcionariam novamente,— ele disse com uma risada.
Neal engoliu em seco e cobriu a virilha protetoramente.
—Exatamente—, Rock concordou. —Quando chegamos a uma
altitude mais baixa e encontramos água corrente, poderemos usá-la
para nos lavar. Ainda será muito fria, mas contanto que você não
submerja, não é muito arriscado.
Neal estremeceu só de pensar nisso. Então ele percebeu que
estava ficando mais frio porque a temperatura começou a cair depois

KM
que o sol se pôs. Antes que ele percebesse, ele estava soltando um
bocejo de rachar o queixo. Que horas eram mesmo?
Como se lendo sua mente, Rock se levantou.
—Eu peguei algumas folhas para espalhar no chão para ajudar a
nos isolar do frio.— Ele se aproximou de uma pilha no canto que Neal
nem notou e pegou um punhado de coisas. —Eu não vou mentir,
porém, com a nuvens que temos hoje, vai ficar muito frio. Teremos
que dormir perto para compartilhar o calor do corpo.
Neal assentiu imediatamente.
—Claro. Tudo bem.— Embora de repente ele se sentisse um pouco
nervoso com a ideia de se aproximar desse corpulento sobrevivente
que era a própria definição de heterossexual. Neal esteve dormindo
com um parceiro por anos, e ele definitivamente gostava de se
aconchegar, então ele se perguntou se ele poderia acordar com uma
faca em sua garganta.
Para se distrair, Neal se levantou e ajudou Rock a espalhar as
folhas no chão da caverna, a poucos metros de distância da
boca. Depois de terem a pedra dura relativamente acolchoada, Rock
jogou suas mochilas na parte de trás da caverna. Eles as usariam como
travesseiros.
—Devemos tentar dormir um pouco—, disse Rock. —Vamos
levantar cedo amanhã.
Neal assentiu e se inclinou para rastejar até a mochila. Estava
ficando mais frio a cada minuto, então Rock o aconselhou a manter
todas as suas roupas, até mesmo suas luvas e botas. Ele disse que,

KM
mesmo que não fosse tão ruim agora, assim que seus corpos
diminuíssem a velocidade com o sono, o frio se infiltraria.
Deitados no leito de arbustos que estenderam, Neal percebeu o
pouco que realmente fazia para aliviar a dureza do chão. Pelo menos
impedia que ficasse muito frio. Ele socou sua mochila algumas vezes,
tentando deixar a coisa confortável, depois abaixou a cabeça. Rock fez
o mesmo, acomodando-se com apenas alguns centímetros entre eles.
—O fogo deve nos dar um pouco de luz e calor durante as
primeiras horas. Levantarei de vez em quando para checa-lo e mantê-
lo vivo, mas, na maioria, ele queimara lentamente e não será de muita
ajuda quando esfriar de verdade. Se você começar a sentir que o frio
está ficando demais para você, me acorde. Você me ouviu? Não tente
bancar o durão.
Neal rolou a cabeça na mochila para poder olhar para Rock. O
homem não parecia tão perto quanto ele acreditava, mas, novamente,
para estranhos, eles estavam muito próximos.
—Eu entendo. Eu estou bastante quente, então acho que vou ficar
bem, mas vou te dizer se não puder aguentar.
Sem responder, Rock assentiu e fechou os olhos. Dentro de
alguns minutos, ele estava roncando levemente. Neal olhou para ele
incrédulo. Ele não conseguia entender como diabos o cara poderia
adormecer assim, dormir em uma maldita rocha. Ele já podia sentir a
pressão da superfície dura em seus ossos, e ele sabia que estaria
dolorido pela manhã.
—Inacreditável—, ele sussurrou, olhando para Rock. Seu rosto
forte e áspero relaxou durante o sono, fazendo-o parecer mais jovem,

KM
e menos intimidante. Ainda assim, mesmo quando Neal se viu
checando Rock, ele ficou chocado que o cara achasse tão fácil apenas
desmaiar em uma caverna. Talvez fosse por causa de muita
prática. Ele ainda estava pensando nisso quando dormiu segundos
depois.

Frio. Foi o primeiro pensamento registrado no cérebro de Neal


quando ele acordou. Dor e frio de gelar os ossos o rodeava. Ele podia
ver as brasas do fogo queimando, apenas o suficiente para não
morrer, mas elas estavam praticamente sem calor. Ele estava
tremendo tanto que estava realmente com medo de deslocar algo.
Mordendo o lábio para não choramingar, ele se abraçou e tentou
se enrolar em uma bola para conservar o calor. Ele não podia fazer
isso porque seus membros eram tão duros e ele era tão alto. Neal não
queria acordar Rock, mas ele estava seriamente começando a
se preocupar com hipotermia. Ele ainda estava atolado em indecisão
quando a voz rouca ao lado dele o surpreendeu.
—Fale comigo, Hesse. Você está congelando?— Rock parecia
sonolento, mas alerta e preocupado.
No começo, Neal tentou parecer bem, ser um homem, como seu
pai sempre dizia.
—N-não congelando...— Bem, isso foi muito convincente. O
silêncio de Rock falou volumes. —Ok, estou tremendo bastante, quase

KM
como se fosse uma convulsão. Que porra é essa? A temperatura caiu
muito .
Roupas farfalharam quando Rock se aproximou.
—São as Cascatas—, ele disse com naturalidade, como se isso
explicasse tudo. —O pessoal do ar livre sempre diz que há apenas duas
estações aqui em cima, julho e inverno.
—Oh, Deus—, Neal gemeu. Ele se perguntou se seria tão frio no
resto de suas noites na viagem.
—Aqui. Role de lado, abra o zíper da jaqueta e puxe os braços para
fora.
—Está maluco?
Rock lançou-lhe um olhar fulminante.
—Apenas confie em mim.
Ele rolou para encarar Neal e se moveu para fazer a mesma
coisa. Ele abriu o zíper da jaqueta e puxou os braços para fora,
mantendo-o enrolado no torso. Relutantemente, Neal seguiu o
exemplo, embora a lixiviação fria em seu corpo através do zíper aberto
fosse como um chute rápido nas bolas.
Tirando as luvas com os dentes, Rock agarrou um dos lados da
jaqueta de Neal e o lado oposto ao da dele, encaixou os zíperes e os
fechou juntos. Ele fez o mesmo para o outro lado até que eles estavam
dentro de um pequeno casulo isolado. Neal imediatamente sentiu o
calor do corpo compartilhado penetrando em sua pele.
—Você quer me encarar ou virar?— Rock perguntou rudemente.
Neal ponderou suas opções, imaginando o que seria o menos
embaraçoso. Finalmente, ele decidiu ser a parte de dentro dessa

KM
colher, virando-se para a parede da caverna, enquanto Rock impedia
que os casacos ficassem emaranhados. O casulo deles não deixava
muito espaço sobrando, então Rock basicamente colou seu peito nas
costas de Neal. Então ele deslizou um braço ao redor da caixa torácica
de Neal, não segurando ou puxando, apenas descansando lá para o
calor.
Surpreendentemente, Neal parou de tremer e suas pálpebras
ficaram pesadas quase imediatamente. Não era tão estranho, já que
estar tão perto era primordial para a sobrevivência deles. Ele disse a
si mesmo que era por isso, de qualquer maneira. Quando ele estava
quase dormindo, sentiu uma rajada de ar quente sobre sua orelha e
pescoço.
—Melhor?— Rock murmurou.
Neal emitiu um som estrangulado e assentiu, esperando que Rock
pudesse sentir. Ele não podia falar, porque o sussurro de Rock em seu
ouvido tinha acabado de deixa-lo dolorosamente duro.

Neal estava abençoadamente aquecido na próxima vez que ele


acordou, à luz da manhã. Ele estava tão quente e se sentia... ótimo.
Ele aninhou seu rosto ainda mais na fonte do calor, então congelou
quando ela se moveu. Um forte aumento e queda. Um pescoço e peito,
de Rock. De alguma forma, durante o sono, Neal se virou e se cobriu
metade do homem, provavelmente procurando mais calor. Essa era a
coisa que ele temia, como ele sempre acordou nessa posição com Tony

KM
ao longo dos anos. Os braços de Rock estavam envoltos em suas costas
e Neal tinha a perna jogada sobre a pélvis dele. Neal ostentava uma
impressionante ereção matinal, que ele parecia ter estado
inconscientemente esfregando no quadril de Rock.
Estava bom. Incrível, até antes que ele se permitisse pensar no
que estava acontecendo. Fazia quase seis meses desde que dormira a
noite toda com outra pessoa, e ele sentia muita falta
disso. Eventualmente, a neblina do sono recuou o suficiente para ele
perceber que estava se esfregando em Rock McCreary, ex-guarda
florestal, especialista em sobrevivência, durão de renome mundial, e
babaca de primeira classe, e se ele acordasse agora, bem, Neal
provavelmente seria esfaqueado. Embora ele achasse que estivesse
sentindo... nah.
Apenas quando ele estava prestes a rolar o mais silenciosamente
que podia enquanto ainda dentro do seu casulo, Rock gemeu e se
esticou debaixo dele. Os braços ao redor dele se apertaram por um
breve momento antes que todo o corpo de Rock congelasse.
Neal entrou em pânico e rolou para fora dele, quase
estrangulando os dois no processo.
—Eu sinto muito! Eu sou um macaco aranha total quando eu
durmo com outra pessoa. Eu deveria ter te avisado. Eu não ... eu não
...
—Neal, está tudo bem—, disse Rock, sua voz ainda rouca de
sono. —Acontece muito quando as pessoas são forçadas a dividir
calor.— Ele tirou o braço do casaco combinado e abriu o zíper
facilmente.

KM
Apesar de suas garantias, Rock saiu de sua paleta no chão mais
rápido do que o estritamente necessário. Ele não conseguia encontrar
os olhos de Neal e seu rosto estava vermelho... de
constrangimento? Raiva? Resmungando alguma coisa sobre precisar
procurar algumas coisas antes de começar, ele saiu da caverna com
pressa.
Neal gemeu e colocou um braço sobre os olhos. Ótimo... agora o
cara provavelmente poderia adivinhar que ele era gay e talvez até
pensasse que Neal estivesse atrás de sua bunda, e eles estavam presos
na floresta juntos. Isso deveria tornar a viagem longa e desconfortável
pelas Cascatas.

KM
Lago Pine

Rock tinha que dar o fora dali, tinha que colocar alguma distância
entre ele e seu cliente, seu cliente e um homem, ele precisava se
lembrar disso. Neal passou a maior parte da ultima hora moendo
nele, obviamente tendo um delicioso sonho sexual. Rock deveria tê-lo
acordado imediatamente, mas ele não fez isso por mais de um
motivo. Neal teve uma noite difícil, e ele precisava de todo o sono que
pudesse conseguir até o dia seguinte... mas principalmente Rock não
queria que ele parasse porque estava muito bom, e tinha sido um
longo tempo.
Eventualmente, a decisão foi retirada de suas mãos. Neal poderia
perceber que ele estava acordado e se afastar ou ele entraria em suas
calças, então Rock fingiria acordar. Ele odiou a culpa e o embaraço
que ele colocou nos olhos de Neal, ao se afastar, mas a situação se
tornara terrível. Murmurando uma desculpa, ele fugiu da caverna.
Ele estava mentindo, ele não precisava se preparar para a
próxima etapa da jornada, na verdade, ele só precisava cuidar de sua
dolorosa situação. Ele mal tinha chegado à beira da floresta antes de
abrir suas calças e empurrar sua camada de roupa para chegar ao seu
pênis dolorido.

KM
Rock rosnou quando ele espalmou sua ereção pelo material de
suas luvas, tendo esquecido que ele as usava. Soltando-se, ele
arrancou as vestes ofensivas com os dentes e cuspiu na mão. Ele
recostou-se contra uma árvore, a casca áspera raspando-o através de
sua camisa, lembrando-o de que ele fugira sem a jaqueta. Graças a
Deus, era uma manhã quente, pelo menos para um intervalo nos
alpes.
Ele agarrou seu eixo pesado com uma mão áspera e começou a se
esfregar em um ritmo punitivo. Ele tentou manter sua mente
confortavelmente em branco. Ele queria se afastar das fantasias de
um cliente, com quem ele teria que passar os próximos dias dormindo
junto, mesmo que o homem fosse a causa de seu estado de excitação
para começar.
Sim, ele falhou miseravelmente. Primeiro, ele imaginou os lábios
carnudos e cheios e a mandíbula esculpida de Neal. Depois disso, não
foi muito difícil imaginar aqueles lábios esticados ao redor da largura
de seu pênis. Então, é claro, sua mente voltou à sessão sonolenta de
Neal. Fazia muito tempo desde que ele tinha sido tão íntimo com um
homem, na sequência de uma série de encontros secretos fracassados
e conexões abortadas, mesmo que não tivesse sido intencional. O
corpo inteiro de Rock estremeceu com a lembrança do corpo magro,
mas forte, de Neal pressionado contra ele, de seu pau duro cutucando
a ereção de Rock. Mais alguns golpes, cada um com uma torção da
palma da mão sobre a cabeça, e ele estava acabado, atirando seu
semem por toda a mão e o chão da floresta.

KM
A intensidade disso o sacudiu, deixando seu corpo ondulando
com os tremores secundários. Ele ficou surpreso por não ter
desmoronado quando seus joelhos se dobraram. Ele apenas deixou a
árvore tomar seu peso até que ele pudesse ficar em pé novamente.
Inclinando-se, ele limpou a mão ensopada em um pouco de musgo,
limpando-a o melhor que pôde, até chegar ao lago. Então, para ter
certeza de que ele não pareceria um mentiroso, ele pegou uma
braçada de agulhas de pinheiro para poder fazer o chá de pinheiro
para Neal como planejara.

Quando Rock voltou, descobriu que Neal voltara a dormir,


enterrado sob a pilha de jaquetas. Ele imaginou que o cara
provavelmente precisava do descanso extra, então ele tirou um copo
de alumínio de sua mochila e correu até o lago para enchê-lo com água
para ferver. De volta à caverna, ele tirou a carne seca da sua
churrasqueira improvisada, acendeu o fogo e colocou a xícara na
grelha.
Ele precisava da água para ferver o chá, mas também erradicaria
quaisquer toxinas na água. Embora parecesse cristalina, a água
parada de um lago derretido era cheia de coisas desagradáveis como

KM
E. coli25 e giardia26. O chá estaria tratado, e o cheiro fresco de pinho
ajudaria a acordar Neal.
Usando sua faca de caça, ele cortou as agulhas jovens que ele
coletou sobre uma pedra plana. Depois que a água ferveu, ele
despejou as agulhas no copo e recolocou da chama. O chá teria que
ficar por mais alguns minutos para atingir a potência, então Rock
sentou-se e afiou sua faca com a sua pedra de amolar de bolso.
Depois de alguns segundos, Neal se levantou como o Drácula de
seu caixão, quase quebrando a cabeça no teto da caverna. A jaqueta
deslizou lentamente de seu rosto, revelando um cabelo loiro
adoravelmente amarrotado, olhos azuis sonolentos e um rubor
furioso.
—Sinto muito!— Ele disse sem preâmbulo. —Eu vou entender se
você quiser me dar um soco. Você tem o direito a um.
Rock suspirou e esfregou a mão no rosto.
—Hesse, sério. Eu não vou bater em você. Era muito frio no
deserto e costumávamos dormir em montes como cães, alguém
sempre acabava duro e se esfregava em outro, ok?
A postura de Neal relaxou um pouco e sua coloração começou a
voltar ao normal.
—No deserto ... você esteve no Iraque?

25
é um grupo de bactérias que habitam normalmente no intestino humano e de alguns animais, no
entanto, nem todas E. Coli são inofensivas. Certos tipos são nocivos e causam uma gastroenterite com
intensa diarreia com muco, semelhante ao catarro ou sangue, ou uma infecção urinária.
26
é um protozoário microscópico que parasita o intestino dos mamíferos, inclusive de seres humanos.
Nos seres humanos, costuma parasitar o intestino delgado, principalmente em segmentos de duodeno e
jejuno.

KM
—Sim,— Rock respondeu rispidamente. —Não é algo que eu
fale. Apenas… pare de se preocupar, tudo bem? Aproveite a viagem.
Neal soltou um suspiro e franziu a testa.
—Ok, desculpe.— Ele começou a libertar-se dos casacos e rastejou
até o fogo. —Que cheiro é esse?
—É chá de pinheiro. Não temos café aqui, então este é o melhor
despertador que você vai conseguir.
Rock soprou o líquido fumegante e entregou o copo a Neal. Ele
cheirou delicadamente um par de vezes antes de tomar um gole muito
hesitante. Ele fez uma careta e tentou esconder seu estremecimento
no gosto.
—Bem, isso é... diferente—, disse ele. Então, de repente, ele
cuspiu na terra ao lado dele. —Então, com chá de pinheiro, você quis
dizer… chá de pinheiro. Com agulhas de pinheiro e tudo mais.
—Com a falta de um chá mais adequado, nós usamos elas, Sua
Alteza—, Rock brincou em um falso sotaque britânico.
Neal bufou e tomou mais alguns goles do chá, ainda incapaz de
manter a expressão ligeiramente enojada fora de seu
rosto. Finalmente ele desistiu e entregou o copo de volta para Rock.
—Eu acho que vou ficar com a água por um tempo.
Rock assentiu, tomando um grande gole do chá.
—Temos que poupar a água, no entanto. Faz parte da viagem, só
tenho água suficiente para um dia ou dois. Cabe a nós encontrar uma
fonte de água.
Parando brevemente com o cantil quase nos lábios, Neal olhou
para Rock intensamente e suspirou.

KM
—Tudo bem, me dê a maldita água da agulha de pinheiro.
—Chá.
—Se você diz.
Rindo, Rock chegou ao seu lado para pegar a pedra plana que
segurava a serpente e a estendeu para Neal.
—Café da manhã?
—Eu acho que ovos Benedict é demais para esperar—, disse Neal,
observando as tiras de carne. Ele pegou uma entre o polegar e o
indicador, levou-a aos lábios e cautelosamente deu a menor mordida
possível. Seus olhos ficaram todos apertados enquanto ele mastigava,
mas ele acabou comendo toda a tira.
—Não é tão ruim, sim?— Rock perguntou.
—Eu acho que não. Quero dizer, eu normalmente não teria algo
assim para o café da manhã, mas acho que tem gosto de peru, com
ossos perdidos.
Rock assentiu e encolheu os ombros, comendo sua porção de café
da manhã. Quando eles terminaram de comer, ele guardou o resto da
carne em sua mochila para a trilha. Pegando outro copo de metal, ele
saiu da caverna e correu para o lago para pegar água para apagar o
fogo. Depois de voltar, ele derramou lentamente sobre as brasas,
criando uma nuvem de vapor.
—Nunca confie apenas na água—, ele instruiu enquanto
trabalhava. —Isso é apenas para nos livrar das chamas.— Ele pisou na
madeira fervendo com a bota para quebrá-la, em seguida, começou a
chutar um monte de sujeira no anel de fogo. —Quando não há mais
fumaça, você provavelmente está pronto para ir, mas sempre

KM
verifique mais uma vez antes de sair. A última coisa que queremos
fazer é começar um incêndio.
Neal não falou muito, mas prestou muita atenção em tudo que
Rock fazia. Rock queria ver mais sobre isso, assumir que o homem
estava interessado nele, o que era idiota, já que ele não podia fazer
nada sobre isso, mas ele sabia que Neal só queria aprender. Eles se
encararam por um breve e tenso momento, até que Neal sacudiu a
cabeça e pegou a jaqueta.
Assim que eles estavam completamente vestidos e equipados,
Rock verificou se o fogo estava apagado. Ele virou-se para Neal e deu-
lhe um sorriso um pouco mal porque sabia o que viria a seguir.
—Você está pronto para a próxima etapa da viagem?
Neal engoliu em seco audivelmente.
—Claro. Siga em frente.

KM
Lago Pine

Neal ficou mortificado. Ele não se importava com o que Rock


disse sobre dormir empilhado com outros homens no deserto, ele
ficaria com o rosto vermelho por causa de sua ereção matinal durante
um bom tempo. Ele sabia que era uma função corporal básica, às
vezes não intencional, e ele ser gay não tinha nada a ver com isso. Mas
a parte humilhante era que ele realmente estava tendo um sonho com
Rock no momento, se o homem sabia ou não, parecia não importar
para o subconsciente de Neal.
Tony realmente fez o atingiu quando deu seu ultimato, deixando
Neal questionando praticamente tudo o que ele acreditava sobre
relacionamentos e sexo. Ele também não namorou muito antes de
Tony, e o atual clima social era totalmente diferente do que quando
começaram o relacionamento. Neal não fazia ideia de qual era o
comportamento aceitável quando se tratava de descobrir se outro
homem era gay e estava interessado.
As mulheres e os homens heterossexuais sempre pareciam acha-
lo um pouco difícil de lidar, com sua estranha combinação de rabugice
irreverente e natureza tátil. Eles tendiam a pensar que ele era ou um
esquisito tentando apalpa-los ou totalmente inapto com sinais e
limites sociais. Essas coisas nunca tinham sido um problema ao lidar

KM
com a maioria dos homens, porque a maioria dos homens com quem
ele saía era gay, bi ou suficientemente confortável em sua
masculinidade para não ter problemas em estar perto de outros
homens.
Então, infelizmente, isso deixou Neal sem uma pista sobre como
lidar com Rock. Na pior das hipóteses, ele tinha que encontrar uma
maneira de gentilmente deixar o homem saber que ele era gay, por
isso não saiu mais tarde durante outro processo. Se ele fosse mantido
sob a mira de uma arma, Neal teria que admitir que achava Rock
atraente, embora pelo menos metade disso fosse uma espécie de culto
ao herói. Ele só esperava que Rock não fosse assumir que Neal queria
pular em seu corpo à noite. Fechando os olhos, ele estremeceu mais
uma vez com a lembrança embaraçosa. Ainda assim, ele não queria
deixar isso arruinar sua viagem. Isso era algo de uma vez na vida,
então, se Rock estivesse disposto a ignorar o que aconteceu, Neal
precisava fazer o mesmo.
Rock tinha desaparecido por alguns minutos, presumivelmente
para tomar dar uma mijada ou explorar uma trilha ou alguma outra
coisa que os homens da montanha faziam, então Neal se ajoelhou no
lago para lavar o rosto. Ele estava consciente do que Rock havia dito
sobre a água não ser segura para beber, ele só esperava que eles
pudessem encontrar água limpa em breve para que ele pudesse
escovar os dentes de alguma forma.
Quando uma sombra de repente caiu sobre ele por trás, Neal se
encolheu e se levantou. Jesus, o homem se movia como um
gato. Tentando minimizar o susto, Neal tentou sorrir.

KM
—Pronto para ir?
Rock acenou com a cabeça e partiu para a extremidade leste da
bacia plana. Neal não tinha certeza de como interpretar a expressão
estranha que o homem lhe dera quando ele perguntou se ele estava
pronto, mas Rock parecia sério agora.
—Então, o que está na agenda hoje?—, Perguntou Neal.
Rock olhou para o céu, que continha apenas algumas nuvens em
oposição ao dia anterior.
—O tempo parece ter recuado, então manterei a minha rota
original. Nós temos algumas horas de caminhada pela floresta, então
nós faremos rapel na face leste do Monte Ford. Nós vamos entrar em
uma floresta muito mais espessa ao redor de alguns dos lagos mais
baixos. Espero pegar comida lá embaixo.
O estômago de Neal deu uma guinada dolorosa. Rapel? Já? Ele
tinha que confiar que Rock sabia o que estava fazendo e poderia
mantê-lo seguro, então ele engoliu seu medo e continuou se
movendo. Por um tempo, ele se perdeu nos arredores. A densa
floresta alpina coberta de samambaias e agulhas caídas parecia
estranhamente quieta, protegendo-os do mundo externo a ela.
Enquanto seguia a silhueta de ombros largos de Rock à sua frente,
Neal começou a notar um penetrante odor fecundo de terra ao redor
deles.
—Que cheiro é esse?
O andar de pernas soltas de Rock parou e ele levantou o rosto para
a brisa. Parecia que ele estava realmente cheirando o ar.
—Chuva.

KM
—Chuva?— Neal guinchou, não animado com a perspectiva. Frio
era uma coisa, mas molhado e frio? Não.
Rock assentiu.
—Hoje não. Talvez nem mesmo amanhã, mas em breve. O cheiro
é a floresta se abrindo para receber a hidratação.
Neal estudou o rosto com cuidado para ver se estava falando sério,
a afirmação parecia um pouco fantástica para ele, mas parecia que ele
estava.
—Parece frio. Nós ficaremos bem?
—Eu vou me certificar disso. Nós estamos indo para baixo, mas
no momento em que ela chegar, será para algum terreno elevado
novamente. Picos e vales.
Rock gesticulou para uma clareira que Neal nem notou que estava
lá. Neal caminhou até a borda e quase mergulhou no espaço
vazio. Rock firmou-o com um aperto em sua mochila.
—Calma lá. Este é o nosso caminho para baixo, mas você precisa
segurar em algo antes de mergulhar.

KM
Descida - Monte Ford

Neal Hesse estava se mostrando uma distração, e Rock McCreary


odiava distrações. Ele estava tentando não descontar em seu cliente,
mas tinha certeza de que ele não estava conseguindo esconder seu
mau humor. Ele tinha que se concentrar em uma coisa, descer os dois
pela face nua da montanha, vivos e de preferência inteiros.
Sem falar, ele puxou uma corda de escalada de sua mochila, junto
com algumas outras ferramentas. Ele enroscou uma âncora no tronco
de um pinheiro branco e enfiou a corda, enrolando-a em volta da
árvore para mais fricção e agarre. Então ele passou a outra
extremidade por vários mosquetões no equipamento de Neal.
—Diga-me. Já fez rapel antes?
Neal engoliu em seco, mas assentiu.
—Apenas em uma arena de escalada menor. Nunca em uma
situação de vida ou morte. —Ele se ergueu em toda a sua altura e
ergueu os ombros, como se tivesse chegado a alguma decisão
interna. —Apenas me diga o que fazer. E eu vou.
Rock deu-lhe um olhar duvidoso. Claro, ele poderia se virar, mas
assim que ele aterrisse, ele poderia tropeçar no ar e quebrar seu
pescoço. Ele suspirou.

KM
—Você vai primeiro para que eu possa te ancorar daqui de
cima. Dessa forma, se você encontrar algum problema, eu posso te
abaixar.
—Problema?
—Na verdade, eu guiei um grupo de uma firma em uma viagem…
Um deles desmaiou no caminho, peso morto completo. Ele jurou que
foi a altitude, mas acho que ele estava apavorado—, disse Rock com
uma risada. Era uma história verdadeira, mas ele gostava de pensar
que isso daria a Neal alguma confiança. Enquanto ele permanecesse
consciente, isso era uma vitória.
—O que acontece quando eu descer?
—Então você me ajuda. Apenas segure a corda, contrabalance
meu peso enquanto desço. Bastante fácil.
Neal acariciou seu queixo como se estivesse refletindo sobre a
situação.
—Uh-huh, uh-huh. Fácil. Mas como eu chego lá?
Rock suspirou. Ele sabia que era o seu trabalho, mas esperava que
Neal não precisasse de tantas explicações. Depois de verificar o
equipamento do homem mais uma vez, ele gentilmente empurrou o
ombro de Neal até que ele recuou para a borda.
—Segurando firme com a mão do freio, você tem que se inclinar
para trás até que esteja em um ângulo de trinta e cinco graus. Então
você pode fazer isso de duas maneiras. Você pode dar pequenos
passos enquanto mantém uma leve pressão com a mão do freio,
dando-se folga quando você precisar...
—Ou?— Neal solicitou.

KM
Mal resistindo à vontade de revirar os olhos, porque os novatos
nunca escolhiam a segunda opção, Rock continuou.
— Ou … você pode empurrar com os dois pés enquanto solta a
mão do freio. Quando seus pés se reconectam com a rocha, você
aperta o freio. E assim por diante, repita até chegar ao fundo... ou a
primeira base.
Os olhos de Neal se arregalaram com a explicação do segundo
modo. Ele lambeu os lábios nervosamente, mas então sua mandíbula
flexionou e sua expressão endureceu. Ele deu um breve aceno de
cabeça, recostou-se e deu alguns passos trêmulos até ficar em posição
de rapel. Então ele pulou.
Foi impressionante, encontrar sua coragem para fazer isso
mesmo quando aterrorizado, mas Rock não queria ficar
impressionado. Enquanto ele gostaria de ver como Neal estava se
comportando, ele tinha que se concentrar em ser sua âncora.
—Puxe a corda com força quando chegar ao fundo!—, Ele gritou.
Rock dobrou os joelhos para baixar o centro de gravidade e
recostou-se para contrabalançar a descida de Neal. Apesar do frio da
manhã, o suor escorria pelas têmporas até fazer cócegas no
queixo. Ele queria muito coçar a porra do rosto dele, mas sabia que
não deveria soltar nenhuma das mãos. Não era possível deixar algo
acontecer a Neal. O cara estava obviamente lidando com alguma
merda pesada e tinha vindo nessa excursão para…
esquecer? Curar? Quem sabia? Mas Rock tinha que ter certeza de que
ele saísse dali melhor do que começara.

KM
Ele obviamente divagou, porque antes que ele percebesse, Rock
sentiu um puxão na corda, forte o suficiente para fazê-lo dar um passo
para frente. Andando até a borda, ele olhou cuidadosamente e deu um
suspiro de alívio quando viu Neal de pé na grama no fundo do
penhasco. O homem acenou para ele e sorriu, mas Rock apenas deu a
ele um aceno severo em resposta. Você não pode gostar desse
homem. É só um trabalho.
Rock arrancou a âncora da árvore, determinado a usar o tronco
para segurar seu peso. A ideia era nunca deixar o equipamento para
trás se pudesse evitar. Ele rapidamente enfiou a ponta da corda
através do arreio e se acomodou na beira da rocha.
—Descendo! Mantenha a tensão na ponta da corda— gritou ele
por cima do ombro.
Rapel era uma de suas coisas favoritas para fazer, então ele
limpou sua mente e apreciou a sensação de ausência de peso enquanto
se afastava e soltava sua mão de freio. Acabou muito em breve, e ele
estava tocando o chão macio abaixo. Antes que ele pudesse se
orientar, ele foi agarrado por trás por braços fortes e espremido. Neal
estava rindo enquanto abraçava Rock e, felizmente, ele soltou o mais
rápido que pôde.
—Eu não posso acreditar que eu fiz isso!
A excitação do cara era contagiante. Rock se viu sorrindo
enquanto enrolava a corda em volta do antebraço e a colocava de volta
na mochila.

KM
—Você fez bem. Eu tive clientes se mijando no primeiro rapel. Se
você repetir isso, eu vou negar até o dia que eu morrer, —ele disse com
uma risada.
Era como se Neal não tivesse limites. Rock não estava
acostumado a estar perto de pessoas que simplesmente corriam e o
abraçavam. Um tapa nas costas ou um soco no punho aqui e ali, era
algo que ele estava acostumado. Por exemplo, quando eles partiram
na trilha e Neal o deixou passar para a liderança, ele colocou a mão na
parte de baixo das costas de Rock para guiá-lo na frente. Como ele
carregava sua mochila pela alça, Rock sentiu o calor da mão de Neal
atravessar suas camadas. Ele ficou tenso porque era exatamente o tipo
de coisa que faria ele baixar a guarda.
O rosto de Neal entristeceu; ele obviamente notou a reação de
Rock. Ele diminuiu os passos para colocar mais distância entre eles, e
parecia que a alegria havia sido sugada para fora. Rock
imediatamente perdeu o lado lúdico dele, mas ele não podia arriscar
a exposição, então ele apenas continuou caminhando. Ele lidaria com
Neal e seu toque inadequado, assim que eles acampassem.

KM
Monte Ford

Estou irritando ele. Era apenas o segundo dia de trilha de Neal, e


ele já estava esfregando sua homossexual em todo o guia da natureza
selvagem. Mas honestamente não era nem a coisa gay. Ele era uma
pessoa muito tátil e piorava quanto mais animado ou nervoso
ficava. Acontece que a maioria das pessoas com quem ele saía não se
importava com esse tipo de coisa. Mas Rock não parecia muito o tipo
que abraçava. Em absoluto.
Mas ele era quente, então havia aquilo.
Ele não era tão amigável quanto parecia nos poucos vídeos que
Neal tinha visto. Houve momentos em que parecia que Neal estava
chegando ao cara, mas depois ele se fechava e ficava todo rude
novamente. Neal não podia dizer se Rock o odiava e estava apenas
tentando o seu melhor para ser legal, ou se ele gostava dele, mas
estava tentando manter a distância por algum motivo. A dupla face da
coisa toda estava realmente ficando sob a pele de Neal.
Naquele momento, ele resolveu quebrar essa roda, sem
trocadilhos. Ele sorriria, ele tocaria, inferno, talvez ele até flertasse o
máximo que pudesse até que Rock se inclinasse para um lado ou para
o outro. Ou isso, ou ele acabara por confrontar o homem quando

KM
acamparam naquela noite. Eles iriam dormir juntos pelas próximas
noites, então eles tinham que descobrir uma maneira de se dar bem.
—Onde vamos acampar hoje à noite?
Rock não olhou para trás.
—Eu gostaria de ir até o lago Charneau antes de escurecer. É um
lago alpino alto, mas não tão alto quanto o anterior. Também é muito
exposto ao sol, por isso não deve estar nevado. Podemos nos lavar lá
e talvez pegar alguns peixes. Soa bem?
Neal encolheu os ombros, indiferente que Rock não podia vê-lo
fazer isso. Ele ficou quieto enquanto atravessavam a trilha
razoavelmente plana. Não havia muita cobertura das árvores, então o
sol escorria sobre eles e o aquecia. A grama era musgosa e macia, mas
tinha muitas rochas escondidas. Neal tropeçou em uma e quase
caiu. Ele torceu o tornozelo um pouco, e doeu, mas ele não disse nada
porque Rock enviou-lhe um olhar irritado por cima do ombro.
—Desculpe—, ele murmurou.
—Apenas observe seus pés.
Eles se arrastaram em silêncio por alguns minutos antes de o
caminho começar a ganhar uma leve inclinação. Rock apontou para a
esquerda.
—Cabras da montanha.
Neal viu algumas bolinhas brancas desgrenhadas, então ele
assumiu que Rock estava falando, mas seu coração não estava
nisso. Seus pensamentos sobre o aborrecimento de Rock
se transformaram em contemplação do modo como as coisas haviam
acontecido com Tony, e como ele perdera todos os sinais. Neal pensou

KM
em quando seu namorado começou a agir de forma estranha. Neal
tentara fazer planos de férias para eles e simplesmente não conseguia
que Tony se comprometesse com nada. Ele era cauteloso e reservado,
e Neal começou a andar em cascas de ovos em volta dele por tanto
tempo no último ano que quase lhe deu uma úlcera.
Rock parou em frente a ele, então Neal bateu nas costas
dele. Rock grunhiu, mas não se mexeu.
—Não se mova—, ele sussurrou.
Com o coração martelando em sua garganta, Neal examinou a
floresta diante deles e tentou entender o que Rock estava
olhando. Finalmente ele viu. Apenas uma sombra, uma forma grande
e escura se arrastava entre as árvores, aparentemente imperturbável
por sua presença. Era um urso negro, um adulto muito grande.
—O que diabos nós faremos?— Neal assobiou.
—Nós ficamos aqui e não movemos um músculo até que ela siga
o caminho para longe de nós. Então teremos que sair da trilha. Temos
que dar a ela um amplo espaço. Ela tem filhotes.
—Como você pode saber disso?
—Porque—, disse Rock, seus lábios mal se movendo. —Ela está
caçando.
Isso explicava tudo para Neal.
De repente, o urso congelou, erguendo o nariz para farejar o
ar. Ela olhou para a esquerda, depois para a direita, e finalmente
começou a andar novamente, desaparecendo na folhagem mais
espessa.

KM
—Agora é a nossa chance—, Rock sussurrou. —Precisamos descer
para pegar a trilha quando virar para o leste. Nós não temos tempo
para amarrar você na corda, então você terá que ser muito
cuidadoso. Precisamos sair de seu território antes que ela nos
encontre. Vamos lá.
Antes que Neal tivesse a chance de responder, Rock começou a
meio deslizar, andando pela encosta leste até o lado da trilha. Ele
realmente não teve muita escolha a não ser seguir seu guia e esperar
que ele não morresse ao longo do caminho.
Rápido. Eles foram a uma velocidade alucinante, assim Rock teria
certeza de que eles estavam fora do alcance da audição do urso. Seu
olfato seria muito mais agudo, por isso tinham que continuar se
movendo. Neal tentou o seu melhor para acompanhar, mas logo ele
mal podia ver os refletores na mochila de Rock enquanto o homem o
deixava na poeira. Então Neal tropeçou e começou a rolar. Ele tentou
o seu melhor para não gritar muito alto quando ele bateu contra os
troncos de árvores e uma rocha estranha. Parecia que ele estava
caindo para sempre antes que o chão se nivelasse novamente, e ele
caiu em uma pilha indigna aos pés de Rock.
Jesus Cristo, que carranca. Rock definitivamente não estava feliz
com ele.
—Você está ferido?—, Ele perguntou com uma voz tingida de
impaciência, mas também apertada de preocupação.
Sim.
—Não. Eu vou viver. Apenas doeu um pouco.— Neal ficou
dolorosamente de pé. Seu corpo latejava em uma dúzia de lugares

KM
diferentes, mas ele não ia estremecer na frente de Rock. Ele poderia
lidar com algumas contusões.
—Tudo bem então, vamos embora. Há outra trilha logo à
frente. Você pode fazer isso?
—Claro. Quanto tempo vai demorar para chegar ao lago que você
quer acampar?
—Lago Charneau. Provavelmente cerca de duas horas, se
mantivermos o ritmo que estivemos fazendo a manhã toda.— Rock
não olhou para trás enquanto continuava descendo a trilha.
Dando um passo no tornozelo machucado, Neal fez uma careta
quando a dor subiu por sua perna. Ele tinha trabalhado com pior
antes, então ele manteve a boca fechada e continuou. Ele estava
acostumado a empurrar através da dor, era a razão pela qual ele se
tornou um paramédico e, em seguida, um policial, mas Rock não
precisava saber sobre isso. Neal não gostava de falar ou sequer pensar
em seu passado, quando era jovem demais e terrivelmente indefeso.
Ele nunca seria novamente.
—Eu tenho algumas coisas interessantes planejadas para nós
amanhã. Quando chegarmos ao Lago Charneau, vamos acampar cedo
e ver se podemos guardar algumas provisões para a segunda metade
da viagem— disse Rock por cima do ombro. —Assim que acertarmos
o acampamento, tentaremos chegar ao cume da rocha Taber. Se tudo
correr bem, vou levá-lo na alta rota do Pine Flats. É uma pequena
caminhada que dá uma ótima vista das Cascatas do Norte Central.
—Isso soa bem—, respondeu Neal. E era verdade. A ideia de
acampar cedo era próxima ao orgasmo para seu corpo dolorido, e

KM
realmente parecia que seria uma bela caminhada no dia seguinte. Foi
o suficiente para dar a Neal uma segunda onda de energia.
A floresta parecia engrossar quando se aproximaram do lago, e a
trilha quase desapareceu. Neal podia sentir o aroma fresco e limpo
que era típico de uma grande massa de água doce. Água. Pelo menos
isso estaria em sua casa do leme. Esticando o pescoço para ver o topo
do dossel, Neal verificou as enormes árvores que os ladeavam.
—Quem são esses?
—Pinheiros Ponderosa.— Rock grunhiu quando um galho baixo
bateu-lhe no ombro.
Neal assentiu e eles seguiram em frente. De repente, as árvores se
abriram para um manto de vegetação que cercava um lago grande e
cristalino. As montanhas ao redor eram espelhadas em perfeita
reflexão em sua superfície, sem serem perturbadas e sem
mácula. Tomou o fôlego de Neal. Ele respirou profundamente o ar
alpino fresco e sorriu, sentindo seus músculos se soltarem um a um.
—Isso é perfeito—, ele sussurrou reverentemente.
Rock se virou para estudá-lo, uma expressão pensativa em suas
feições duras.
—O que você passou?
—Muito, cara. Demais. Mas eu definitivamente preciso de um
lugar para descansar e algo para comer antes de eu entrar em
qualquer um desses,— ele disse com um sorriso. Ele não tinha
intenção de contar a Rock sua história triste, mas queria acabar com
isso educadamente. —O que fazemos agora?

KM
—Precisamos procurar um bom lugar para dormir e acender o
fogo. Você virá comigo desta vez para aprender como fazer um bom
acampamento.
A principal coisa que Neal notou quando começaram a rondar a
beira do lago foi o fato de que não havia cavernas como a que tinham
dormido na noite anterior, sem cabanas, tendas ou barracas. Eles
estavam completamente sozinhos. Em todos os shows de
sobrevivência que Neal assistiu, o anfitrião costumava construir um
tipo diferente de abrigo cada vez que dormia na natureza, e o mesmo
acontecia com os poucos vídeos de Rock que ele havia visto. Neal não
conseguia ver nada que pudesse ser usado para manter a chuva fora
de suas cabeças, caso começasse a cair.
Como se o homem lesse sua mente, Rock parou e olhou para ele.
—Bem? Você vê alguma coisa que possamos usar?
Com um encolher de ombros, Neal olhou em volta
novamente. Ele não estava conseguindo encontrar nada. Rock
provavelmente achava que ele era completamente inútil.
—Eu não sei. Agulhas de pinheiro?
Em vez de tirar sarro dele, Rock assentiu.
—Definitivamente, usaremos muitas delas para isolamento
quando a temperatura começar a cair. Mas estou pensando mais nas
linhas do que podemos usar para nos cobrir. Esta não é uma área de
cobra ou escorpião, então não precisamos de bivy27. Dormir no chão
é bom, mas precisamos de alguma proteção contra os
elementos. Alguma ideia?

27
Tipo de saco de dormir que parece uma barraca deitada.

KM
Parecia que ele estava fazendo um maldito SAT28. Em busca de
algo, qualquer coisa, para fazer parecer que ele tinha uma pista, Neal
realmente viu algo que poderia funcionar. Ele apontou para o oeste.
—Aquela árvore caída ali? Está basicamente descansando na
horizontal no chão. Nós poderíamos usá-la como uma espécie de pilar
para um abrigo. Colocar folhas e galhos em cima dela e ficar por baixo.
Rock sorriu e deu um tapa no ombro dele.
—Bom homem.
—Você já viu isso, não viu?
—Claro—, disse ele, sem um pingo de arrogância. —Mas a ideia é
que você aprenda a sobreviver.
—Sim—, Neal murmurou. —Sim.
A árvore caída tinha, de fato, aterrissado entre duas outras
árvores, criando algo como um travessão, meio que como um gol de
futebol, só que mais baixo. As duas árvores vivas pareciam maples
para o olho não praticado de Neal, enquanto a abatida era algum tipo
de conífera.
—Vamos nos separar para coletar o isolamento. Galhos de folhas
de lariço ou longas agulhas de pinheiro servirão como um
telhado. Samambaias e musgo para nos cobrir—, disse Rock,
apontando a flora variada enquanto falava.
Ele nem sequer esperou para ver se Neal tinha ouvido, ele
simplesmente foi para as árvores. Neal ficou olhando para ele por

28
(uma vez sigla para Scholastic Aptitude Test ou Scholastic Assessment Test) é um exame educacional
padronizado nos Estados Unidos aplicado a estudantes do ensino médio, que serve de critério para
admissão nas universidades norte-americanas.

KM
alguns instantes, imaginando, não pela primeira vez, o que ele fez
para irritar o cara.
Recolher suprimentos na verdade não demorou tanto quanto
Neal teria pensado. Eles acumularam suas descobertas e, quando
tinham o suficiente, trabalharam em silêncio para construir o
abrigo. No final, era um pequeno bangalô aconchegante... para uma
árvore caída em uma floresta. De lá, eles tinham uma excelente vista
do lago e as pontas das montanhas se erguendo de trás das árvores.
A voz de Rock veio de repente por trás, fazendo Neal pular.
—Se você quer se lavar no lago, agora seria a hora, antes que fique
mais frio. Ainda vai ser frio pra caralho, mas pelo menos o sol ainda
está brilhando. Enquanto isso, vou tentar pegar alguns peixes.
Mais uma vez, ele não esperou.
—Vou ter que colocar um sino em você— resmungou Neal,
decidindo ignorar o humor de seu companheiro de viagem e apreciar
a paisagem. Ele foi para o fragmento rochoso que encontrou e depois
cavou a mochila para encontrar sua única muda de roupa. Ele lavaria
as que ele estava usando no lago enquanto estivesse lá, colocaria em
uma rocha e esperava que eles secassem antes que ele tivesse que
empacotá-las novamente. Depois de um rápido olhar ao redor, ele não
viu Rock em lugar algum, então começou a se despir.
Ele cuidadosamente colocou sua roupa longe da borda da água
para que ela não ficasse desnecessariamente molhada. Então ele tirou
as camadas de base e as deixou em uma pilha onde ele seria facilmente
capaz de alcançá-las quando terminasse o banho. Um arrepio
percorreu seu corpo enquanto ele entrava até as canelas. A água

KM
estava fria, mas ele se condicionou durante anos para suportar a
temperatura da água fria, no caso de um resgate não planejado na
água. Se a patrulha do porto soubesse que eles iriam mergulhar, eles
usavam roupas de mergulho, mas às vezes havia emergências.
Assim que o corpo de Neal se acostumou ao frio, ele entrou ainda
mais, as coxas, a cintura, os ombros. Rock o aconselhara a não ir
debaixo d'água se pudesse evitá-lo, então Neal apenas inclinou a
cabeça para trás e esfregou as mãos pelos cabelos. Foi apenas o
suficiente para que ele não precisasse se preocupar com o fato de ficar
molhado por muito tempo. Deus, ele amava a água. Ele podia sentir
toda a tensão que ainda carregava derreter com alguns golpes através
do líquido cristalino.
—Perfeição—, ele sussurrou.
—O que você está fazendo?
O grito de Rock surpreendeu tanto Neal que ele inalou uma
baforada de água e começou a tossir. Irritado, ele nadou para a
margem, onde ele podia ver Rock em pé com as mãos nos quadris e
uma carranca no rosto.
—Eu estou me lavando. Como você disse.
—Jesus, eu quis dizer como um banho de gato ou algo assim. Eu
não quis dizer para você nadar. Você ficará hipotérmico em um piscar
de olhos.
Nas águas rasas, Neal levantou-se até ficar nu diante de Rock. Os
olhos dele se arregalaram e seu rosto ficou vermelho. Neal revirou os
olhos porque não tinha paciência para lidar com o desconforto desse
cara. Ele andou até a rocha e pegou suas roupas, trazendo-as para

KM
algumas pedras para esfregar um pouco da sujeira delas. Ele se
agachou na água rasa para fazer o trabalho e olhou por cima do ombro
para Rock, que parecia estar cuidadosamente evitando olhar para ele.
—Eu não vou ficar hipotérmico. Eu sou um oficial de patrulha do
porto no noroeste do Pacífico. Sou intensamente treinado para lidar
com água fria.
O olhar de Rock cintilou para ele novamente, então rapidamente
se afastou.
—Você tem hematomas e está mancando. Você está bem ou
preciso chamar o helicóptero?
Neal se virou para dar-lhe a imagem completa e falou enquanto
tentava secar seu corpo com as mãos.
—Eu vou ficar bem. Você é o único que parece um pouco
perturbado.— Ele não pôde resistir a uma escavação sutil na maneira
como Rock estava tentando realmente não checá-lo.
Rock resmungou algo ininteligível, mas ele não insistiu mais,
então Neal aceitou isso como uma vitória.
—Você pegou algum peixe?
—Não—, ele disse enquanto se jogava no chão gramado. —O
litoral é tão raso que dificulta a pesca. Parece que teremos larvas a la
Rock para o jantar hoje à noite.
—Que tipo de peixe você costuma pegar em um lago como
este? Truta?
Rock assentiu.
—Eastern Brook Trout, mais especificamente.

KM
Neal arrastou as roupas encharcadas para fora do lago,
espalhando-as na grama, o tempo todo descaradamente nu. Ele podia
sentir Rock olhando e então claramente não olhando. Agora que ele
estava fora da água e não se movendo tanto, o frio estava começando
a se instalar. Sua pele se arrepiou, então ele limpou mais água de seu
corpo com as mãos. Assim que ele estava consideravelmente mais
seco, Neal vestiu suas roupas limpas.
—Se importa se eu quiser uma chance?—, Ele perguntou
enquanto voltava para onde Rock estava sentado.
Rock olhou para ele.
—Com o que?
—Pescaria. Eu sou um pescador recreativo.
Com um escárnio, Rock entregou-lhe o longo galho o qual ele
havia feito improvisado um lança com sua faca e paracord.
—Pegue. Apesar de a caça improvisada ser muito diferente de
sentar em um barco com uma vara e uma cerveja.
—Não eu sei. Mas talvez seja um pouco como a pesca submarina
na costa da Califórnia.— Com um aceno de despedida, Neal agarrou o
galho e saiu.

KM
Acampamento - Lago Charneau

Cristo, o cara é gostoso. Essa era realmente a única coisa que


passava pelo cérebro de Rock, enquanto Neal tão casualmente lavava
suas roupas. Quando ele viu o cara na água, Rock ficou furioso. Neal
continuou se metendo em confusão, tanto que Rock estava pensando
em colocá-lo na coleira. Mas quando ele explicou a natureza de seu
treinamento, Rock pode ver a lógica, então ele recuou. A coisa da
pesca, no entanto. Isso foi como um espinho.
Ainda estava pensando nisso quando tirou as roupas e se limpou
apressadamente antes que o frio pudesse congelar sua carne. Ao
contrário de seu companheiro, Rock odiava a água fria, mas era um
mal necessário. Sete dias na floresta sem tomar banho? Não iria
acontecer.
Ele estremeceu enquanto vestia suas roupas de volta e resistiu à
vontade de fazer uma fogueira. Ele não foi capaz de ensinar Neal
sobre a construção da fogueira na noite anterior, e essa era uma das
primeiras habilidades que ele gostava que seus clientes aprendessem,
apenas no caso de algo acontecer com ele e eles realmente precisarem
sobreviver.
Isso não significava que ele não poderia ser produtivo, no
entanto. Enquanto esperava Neal desistir da pesca, ele reuniu pedras

KM
para eventualmente fazer um anel de fogo e usar para cozinhar. Ele
encontrou folhas secas e agulhas de pinheiro e gravetos e varas
maiores e troncos caídos para usar como lenha. Quando ele voltou
com sua braçada final, Neal estava voltando para o acampamento...
carregando dois peixes pelas brânquias com uma mão.
O sorriso de merda de Neal dizia que ele mal resistia a regozijar-
se com seu sucesso. Rock não lhe daria a satisfação de ficar sob sua
pele. Ainda havia muitas coisas que ele poderia ensinar a Neal, como
a construção de uma fogueira, por exemplo.
—Coloque o peixe naquela pedra lá. Você vai fazer uma fogueira.
—Mas eu peguei...
—Você quer aprender a sobreviver, não é?
Neal olhou para os pés.
—Sim—, ele resmungou.
—Então você faz o fogo. Eu vou te ensinar um método divertido
de qualquer maneira. Você provavelmente já viu isso nos vídeos.
Rock se sentou na beira do anel de fogo e gesticulou para que Neal
fizesse o mesmo. Ele montou uma pequena pilha de gravetos, depois
pegou um pedaço de chiclete do bolso e uma pilha de sua mochila.
—Sim! O método com a pilha e goma. Adorei.— Neal
praticamente vibrou de excitação.
Mal reprimindo um sorriso, Rock entregou a pilha a Neal. Em
seguida, dobrou o envoltório da goma no sentido longitudinal, de
modo que ficou comprido e fino, depois torceu-o de modo que ficou
mais fino no meio. Enquanto Neal segurava a pilha, Rock moldou
uma borda da embalagem em torno do eletrodo positivo da bateria.

KM
—Segure isso. Agora, quando você estiver pronto, segure-o sobre
o graveto e toque a outra extremidade do invólucro para o lado
negativo. Ele vai se acender rapidamente, então segure-o sobre o
graveto até que ele pegue.
Mesmo que tenha levado várias tentativas para que acender, Neal
sorriu o tempo todo. Seu senso infantil de diversão continuava
tentando derreter a casca gelada que Rock esculpira para se
proteger. Eventualmente, uma pequena chama envolveu o invólucro,
e o graveto começou a fumegar.
Pegando a pilha inteira, Rock entregou a Neal.
—Agora sopre, muito gentilmente. Você tem que encontrar o
equilíbrio entre sufocá-lo e alimentar a chama.— Seus rostos estavam
próximos, e quando ele disse as palavras, seus olhos se encontraram,
e Rock sentiu uma sacudida através dele. Fogo. Ele estava falando
sobre fogo. Não luxúria. Não atração. Não... mais nada.
Obedientemente, Neal franziu os lábios e soprou até que o fogo
aceso se transformou em uma pequena fogueira. Rock o guiou para
colocar a pilha no anel de fogo em cima do resto dos gravetos. Então
ele mostrou a Neal como empilhar a madeira para alcançar o tempo
máximo de queima. Logo depois, eles tinham uma boa fogueira e duas
trutas gordas assando em espetos dentro dela.
O silêncio constrangedor desceu enquanto a truta cozinhava
lentamente. Rock pegou a faca e começou a cortar um graveto, só para
lhe dar algo para fazer com as mãos. Havia um milhão de coisas que
ele queria saber sobre Neal, o que era incomum para ele, porque
normalmente ele não se importava com a vida de seus clientes. Ok,

KM
isso pareceu horrível, ele se importava com eles na medida em que ele
era encarregado de mantê-los a salvo, mas não era para fazer
conversa. Ele normalmente gostava de sentar e saborear o silêncio,
mas as perguntas que corriam pela sua cabeça simplesmente não se
acalmavam. Claro, se ele conhecesse Neal, aumentaria a
probabilidade de que Neal quisesse conhecê-lo e isso os colocaria em
território perigoso.
Mas ele simplesmente não conseguia parar.
—Então, o que te traz aqui, Neal?— Ele perguntou sem olhar para
cima do pedaço de madeira que ele estava lentamente raspando para
suavizar. Então ele ouviu em vez de ver Neal sobressaltado com um
suspiro.
—Você não se importa com meus problemas idiotas—, ele disse
sem malícia.
Se nada mais, Rock acreditava na honestidade.
—Normalmente não, não. Eu normalmente não faço perguntas
pessoais aos meus convidados. Mas por algum motivo, estou
interessado. Você não precisa responder, claro.
Neal estava tão quieto que Rock ergueu os olhos, quase esperando
encontrar o homem fora. Em vez disso, ele fechou os olhos com ele
novamente, os maravilhosos azuis de Neal quase tirando o fôlego. E
ele tinha uma expressão estranha em seu rosto.
—Você realmente quer saber?—, Perguntou Neal.
Rock encolheu os ombros, mas respondeu: —Sim.
—Para ser honesto, Rock, tem sido um ano infernal. Ou dois.
—Continue.

KM
—Você parece um psiquiatra.
—Para algumas das pessoas que eu trago aqui, acho que sou. Mas
e quanto a um amigo? Nos próximos dias pelo menos.
Neal pareceu surpreso, o que fez Rock pensar de novo e se
perguntar quão idiota ele tinha sido até agora. Ele não conseguia se
lembrar. Ah bem. Ele sempre poderia começar de novo.
Parecendo decidir algo, Neal assentiu.
—Bem, primeiro, um dos meus melhores amigos, Paddy ...
Patrick, se amarrou. Ele ainda não se casou, mas tenho certeza que
está em andamento. Ele era o único que todos pensávamos
que nunca se estabeleceria. Ele gostava muito de se divertir... grande
bastardo irlandês.
Rock riu.
—Esses são sempre os que caem primeiro, cara.
—Isso não é verdade? Então não muito tempo depois disso, o
relacionamento que eu estava há dez anos terminou. De forma
terrível.
—Droga, isso é uma merda. É sempre difícil ver seus amigos
felizes quando você está infeliz. Eu posso com certeza lamentar.
—Hmm… sim, e então, no meio de toda aquela situação de reféns
que eu te falei, meu outro melhor amigo, e parceiro da força, Bennett,
se amarrou também, e ele é um idiota apaixonado. Vai se casar em
breve. E nossa outra amiga Jessie também acabou de se casar. É como
se todos eles estivessem caindo como moscas, e eu estava apenas me
afundando em minha unicidade forçado a basicamente foder todos os
corpos bonitos e quentes que eu pude encontrar.

KM
Rock piscou e mordeu o interior de sua bochecha para não
imaginar como Neal pareceria com alguém. Isso não era sobre isso.
Neal era solteiro em um mar de casais, e essa era uma sensação que
Rock conhecia muito bem. Ter que esconder sua sexualidade
significava que ele via muitos relacionamentos felizes indo e vindo,
enquanto ele estava preso do lado de fora olhando para dentro.
—O que aconteceu? Com o seu relacionamento, quero dizer.
Encarando o fogo, Neal soltou um suspiro profundo.
—Não foi nada dramático, como traição ou abuso ou qualquer
coisa. Meu parceiro conseguiu uma oferta de emprego no outro lado
do país e decidiu aceitar sem sequer mencioná-lo para mim em
primeiro lugar. Foi quando percebi que ele não tinha respeito por
mim ou pela minha carreira. Como se eu fosse apenas um marido
troféu para ser mostrado, e ele tinha como certo que eu iria para onde
quer que ele me levasse, como um cachorrinho demente.
Ele estava brincando com uma folha de grama enquanto falava, e
então jogou-a com raiva no fogo. Rock assistiu queimar por alguns
segundos antes que as palavras de Neal realmente afundassem.
—Espere. Ele?
A cabeça de Neal se levantou e ele estreitou os olhos, avisando a
Rock que precisava falar com cuidado.
—Sim. E?
Ele ficou congelado quando realmente precisava dizer alguma
coisa, Rock só conseguia olhar para ele. Ele era um tolo por comprar
estereótipos sociais, mas é como ele foi criado. O homem forte,
viril, másculo na frente dele era alguém que ele nunca teria apontado

KM
como gay. Então, novamente, o próprio Rock não se encaixava
exatamente no ideal ‘estereotipado de gay’.
O rosto de Neal ficou nublado de raiva e ele começou a ficar de pé.
—Sim, eu entendi. Eu vou manter minha distância até que isso
termine. Você não terá que se preocupar comigo molestando você em
seu sono.
Rock agarrou seu pulso e o puxou de volta para baixo quando ele
teria ido embora.
—Fique. Desculpe, eu só fui pego de surpresa. Isso não é um
problema. Mesmo.
Embora Neal o olhasse com cautela, ele não tentou fugir
novamente. Rock se ocupou tirando as cuspidas do fogo e servindo as
trutas em pedras planas, aproveitando o tempo para recolher seus
pensamentos. Certamente seria mais difícil controlar sua atração por
Neal, agora que ele sabia que o homem era gay, mas sua própria
situação não mudara. Ele vivia em um mundo onde ele simplesmente
não podia ser abertamente gay.
Ele estava tão distraído com seus pensamentos em espiral que
falou sem checar com o cérebro primeiro.
—Eu acho que não estou realmente surpreso, dado como você é
tão… inepto ao ar livre. Quero dizer, você não parece gay, mas...—
Jesus, Rock ouviu quando saiu de sua boca, e soou mal. Muito ruim.
Às vezes, ele não podia evitar, anos de vida como um soldado, e
crescer em uma família batista primitiva antes disso, tinha dado a ele
uma tendência para a homofobia internalizada e uma aceitação
doentia de estereótipos. Ele ficou muito melhor desde que deixou o

KM
exército, mas algo sobre Neal deixou seus nervos tão fritos que ele
perdeu o autocontrole.
O rosto de Neal endureceu e seus olhos se estreitaram. A única
indicação de sua raiva foi o músculo flexionando repetidamente em
sua mandíbula.
— Com licença?— ele perguntou em um tom quieto e perigoso.
Rock lutou contra o desejo de se afastar dele porque ele não se
encolhia. Não na frente de qualquer um.
—Eu só quis dizer-
—Eu não pareço gay? Como exatamente alguém parece
gay?— Ele ficou de pé de modo que se elevou sobre Rock, as sombras
da luz da fogueira lançando os ângulos de seu rosto em
nítido contraste. —Da última vez que verifiquei, o único requisito para
ser um homem gay era desfrutar de homens, caralho—, ele rosnou.
Porra, desse jeito, Rock ficou mais duro do que ele poderia se
lembrar. Em seus encontros clandestinos, ele geralmente preferia
garotos mais jovens, twinks, por falta de um termo melhor, que não
sonhariam em desafiá-lo. Era mais fácil desse jeito. Então o fato de
que o homem de pé em cima dele, estava ameaçando-o, o excitou
muito... bem, isso era nova informação.
Rock engoliu em seco e lambeu os lábios secos.
—Eu-
Neal estendeu a mão para interrompê-lo.
—Você sabe o que? Não. Eu já tive mais do que o suficiente dessa
sua atitude. Eu vou caminhar. Amanhã você pode ligar para nos
pegarem.— Com essa frase de despedida, ele foi em direção às árvores.

KM
—Não vá longe!— Ele ainda estava encarregado de manter Neal
seguro. Eles não tinham que gostar um do outro para isso. —O sol está
se pondo, logo estará escuro. Eu não quero ter que ir atrás de você
quando você se perder!— Ele gritou para as costas de Neal,
rapidamente ignorando o problema.
E agora ele voltou a ser o idiota.
Uma hora depois, estava escuro e Neal não tinha voltado. Rock
sabia que deveria estar preocupado, mas seu instinto dizia que seu
cliente estava bem. Neal só precisava se livrar de sua raiva, e ele tinha
seu telefone com ele. Talvez fosse irresponsável confiar em seus
instintos, mas eles nunca falharam antes.
Rock lhe daria mais uma hora antes de ir procurar. E ele ia ficar
chateado se tivesse que ir encontrá-lo. Rock soltou um bocejo de
rachar o maxilar, percebendo que ele estava mais cansado do que ele
achava que estaria em seu segundo dia na trilha. Estar cansado o
deixou mal-humorado. Maldito Neal e sua birra. Rock ia se arrumar
para dormir. Se ele acabasse tendo que levantar e ir procurar por
aquele grande desastre, ele mostraria sua raiva a Neal.
Não estava tão frio quanto a noite anterior. Eles construíram o
fogo perto o suficiente e isolaram seu pequeno abrigo bem o suficiente
então estava bem quentinho no interior. Rock alimentou o fogo com
um pouco mais de madeira antes de entrar e remover sua roupa. Ele
deitou em cima de sua camisa e usou a jaqueta como um
cobertor. Deitando a cabeça na mochila, Rock olhou para o tronco de
árvore caído que servia de teto. Ele tentou ouvir qualquer som de Neal

KM
andando ao redor como um touro em uma loja de porcelana, mas ele
não ouviu nada fora do comum.
Apenas quando o pensamento fugaz de que deveria se levantar e
ir encontrar Neal passou pela sua cabeça, a escuridão se aproximou e
o sono o engolfou.

A próxima coisa que Rock registrou foi o leve farfalhar de alguém


entrando no abrigo. Deitado de bruços, ele nem sequer acordou, ele
apenas relaxou em sua névoa de sono, sabendo que Neal estava de
volta e ele não precisava mais se preocupar. Até que um peso pesado
caiu em cima dele.
Rock despertou totalmente com um grunhido surpreso.
—O que-
Antes que ele pudesse terminar, uma grande mão agarrou seu
cabelo e pressionou seu rosto contra o casaco, sobre o qual ele estava
deitado. Que diabos? Isso era altamente inapropriado e ele poderia
matar Neal se ele fosse um homem hetero. Mas ele não era. Rock foi
imediatamente abalado pelo raio de luxúria que surgiu através dele
enquanto o corpo pesado de Neal o pressionava contra o chão.
O pau duro de Neal empurrou para cima entre as bochechas da
bunda dele, e as calças térmicas que ambos usavam não deixaram
nada para a imaginação. Rock mordeu o interior do lábio para abafar
um gemido. O hálito quente se espalhou por sua orelha e ele não pôde
evitar tremer.

KM
—Eu... fui... humilhado muitas vezes... nos últimos... meses—,
disse Neal, pontuando cada afirmação com um impulso de seus
quadris. —Eu não vou aceitar isso... não de você.
A voz de Neal estava tão tensa e agitada que Rock não ficaria
surpreso se dissesse “Sou o Batman”. Ele sabia que deveria estar
empurrando o cara e socando-o no rosto, mas já fazia tanto tempo, e
era incrível ter alguém apenas seguindo em frente. Se Neal não
perguntasse, Rock não precisava dizer não - ou sim, o que era
infinitamente mais difícil, mas definitivamente o que ele queria dizer.
Rock estava tão difícil que ele provavelmente poderia gozar sem um
toque em seu pau, só por estar preso e sendo maltratado. Ninguém fez
isso com ele. Ninguém se atreveu. Aparentemente, já era a maldita
hora.
Ofegando contra a nuca, Neal começou a puxar o cós das longas
calças de Rock. Ele pausou apenas brevemente quando o material
passou o topo da bunda de Rock, como se seu senso comum tivesse
subitamente voltado. Ligeiramente em pânico com a ideia de Neal
parar antes que ele gozasse, Rock soltou um gemido silencioso e
ergueu os quadris muito ligeiramente.
Neal respirou fundo, ele parecia surpreso, como se talvez
estivesse esperando que Rock lutasse contra ele. Ele se recuperou
rapidamente, porém, porque cuspiu na mão e na fenda de Rock. Logo,
ele sentiu os dedos de Neal espalhando a umidade entre suas
bochechas. A pressão em seu buraco, quando veio, foi...
doloroso. Fazia muito tempo, e ele sabia que estava apertado, mas ele

KM
queria. Queria tanto que ele se concentrou em empurrar até o dedo de
Neal poder deslizar para dentro.
Neal grunhiu seu incentivo quando ele começou a bombear seu
dedo gentilmente. Incapaz de se conter por mais tempo, Rock gemeu
e se esfregou no chão macio, tentando desesperadamente obter algum
atrito em seu pênis. Ele não conseguia chegar lá. Sem aviso, Neal
empurrou outro dedo ao lado do primeiro. Antes que Rock pudesse
registrar a queimação, sua próstata estava com força total. Ele
enterrou o rosto no tecido da jaqueta para abafar o uivo.
Então a pressão desapareceu e o peso do corpo de Neal
também. O rock não sentia nada, não ouvia nada além do farfalhar de
tecido. Quando Neal retornou, seu pênis escorregadio descansou
quente e pesado ao longo da fenda de Rock. Suor rolou pela testa de
Rock e em seus olhos. Isso era tão errado, mas ele queria tanto. Ele
não queria agir como uma prostituta sedenta mais do que ele já
estava, mas ele precisava que Neal fizesse alguma coisa. Qualquer
coisa. Então ele levantou os quadris um pouco, esfregando a bunda
contra a ereção do outro homem.
Neal estremeceu em cima dele.
—Eu não tenho nada—, ele murmurou.
Deus, foda-se. Ele tinha que usar palavras.
—Não importa—, Rock forçou para fora através da areia em sua
garganta.
—Você deveria. Eu deveria.— Neal flexionou sua espinha,
deslizando seu pênis entre as bochechas de Rock e sobre seu buraco
sensível.

KM
Rock gemeu, desistindo de tentar lutar contra o que estava
acontecendo.
—Eu faço o teste regularmente.
—Eu também.
—Então, foda-me já!— A pedra latiu.
Aparentemente, Neal não gostava que seus parceiros fossem
mandões. Com um grunhido, ele cuspiu em seu pau novamente e
forçou a cabeça na abertura de Rock, esticando o músculo
apertado. Rock mordeu o interior de sua bochecha, desta vez para não
gritar, porque foda-se, queimou. Neal não era um cara pequeno, em
qualquer lugar. Apesar de parecer tão agressivo, Neal parou para
deixá-lo se ajustar. Ele agarrou o quadril de Rock com uma mão,
pressionando a parte inferior de suas costas com a outra, mantendo-
o imóvel.
Parecia uma eternidade para Neal trabalhar seu pênis com nada
além de cuspi e pré-gozo, ao menos era o que parecia para Rock que
estava rangendo os dentes contra a dor. Era uma dor boa, no entanto.
Uma dor bem-vinda. Depois de uma quantidade interminável de
tempo, Rock sentiu as bolas de Neal contra sua bunda. Ele estava
totalmente dentro. O pulso de Rock estava acelerado. Em sua cabeça,
em seu peito, em sua bunda. Ele era como um grande nervo cru. Mas
quando a queima começou a desvanecer e a sensação de plenitude
tomou conta, era quase perfeito. Ele começou a se contorcer debaixo
de Neal, precisando que o cara se movesse.
Neal abaixou-se para ficar de frente para ele, de trás para frente,
para poder falar diretamente no ouvido de Rock novamente.

KM
—Isso é o que você quer?— Ele fez um rápido movimento com
seus quadris, apunhalando Rock com seu pênis e fazendo-o
grunhir. —Você quer saber como é um homem de verdade?— Ele
rosnou.
Rock estava muito ocupado para responder, porque Neal manteve
os golpes curtos e rítmicos. Neal empunhou uma mão no cabelo dele,
e ele prendeu o outro braço ao redor do pescoço de Rock, apertando
enquanto empurrava com força. Os olhos de Rock reviraram em sua
cabeça porque era perfeito. Ele ainda podia respirar, mas apenas um
pouco, então ele se sentiu deliciosamente tonto e desconectado de si
mesmo enquanto ele ofegava por ar.
Quando parecia que Neal poderia estar deixando a pressão em seu
pescoço, Rock agarrou seu antebraço para detê-lo. Isso o fez ofegar e
bater ainda mais forte. Neal começou a bater em sua próstata uma e
outra vez, então Rock não pôde evitar, ele começou a esfregar o pênis
contra o casaco, ainda no chão. Não havia espaço para a mão dele com
o peso de Neal nas costas, mas o atrito era quase o suficiente.
—Você gosta de ser fodido por um homem gay? Travis— Neal
assobiou no ouvido de Rock, antes de morde-lo na nuca com força.
O som de seu nome naquele tom rosnado, a dor da mordida e o
prazer de ser empalado no pau grande de Neal foram o suficiente para
mandar Rock para o limite. Ele gritou quando gozou, mas o som foi
cortado quando o braço de Neal se apertou no pescoço dele. Neal
bombeou seus quadris, batendo algumas vezes mais, antes que o calor
líquido inundasse a bunda de Rock e escorresse por suas coxas.

KM
Ele podia sentir a respiração de Neal sacudindo seu peito
enquanto soltava a garganta de Rock e tentava se controlar. Rock
estremeceu quando Neal se retirou e caiu de costas como se fosse feito
de chumbo. Ele enfiou o pau flácido de volta em suas calças e jogou
um braço sobre os olhos.
Rock foi essencialmente abandonado à sua própria sorte, e foi
quando a vergonha começou a se infiltrar. Ele estava deitado no chão,
ainda vestido, exceto por suas calças empurradas até o meio da
coxa. Enquanto o ar da noite esfriava sua bunda, Rock sentiu um
rubor de vergonha subindo por seu pescoço e por seu rosto. Cristo, o
que Neal deveria pensar dele. Só Deus sabia o que ele pensaria à luz
da manhã.
—Vou me lavar—, ele murmurou, quase inaudível.
Neal não emitiu nenhum som em resposta. Rock puxou as calças,
depois pegou o casaco sujo e a roupa reserva. Sem olhar para trás,
para Neal, ele saiu da tenda improvisada e foi para o lago. Tremendo,
com os dentes batendo forte o suficiente para lhe causar dor de
cabeça, ele limpou o casaco, que graças a Deus, era à prova de
intempéries. Depois lavou as calças térmicas, usou a roupa molhada
para se enxugar e enxaguou-as de novo.
Depois de colocar as calças para secar, ele vestiu a roupa reserva
e voltou para o calor aconchegante do fogo. Ele o cutucou e alimentou
por um tempo, principalmente para evitar encarar Neal. Ele não
precisava se preocupar, porque quando ele finalmente rastejou de
volta para o abrigo, Neal estava deitado de lado e de costas para ele,
roncando como se ele estivesse dormindo por um bom tempo. Rock

KM
deitou ao lado dele, perto o suficiente para compartilhar um pouco do
calor do corpo, mas longe o suficiente para não ser estranho, mais do
que já seria. Ele ficou ali, olhando para o teto improvisado, tentando
- e fracassando - não reviver todos os humilhantes... mas quentes...
detalhes de seu encontro.
Será uma noite longa.

KM
Lago Charneau

Rock ainda estava dormindo quando Neal acordou e fugiu do


abrigo. Isso deu a Neal a oportunidade de andar em volta do fogo
agonizando como um animal enjaulado. O que diabos ele fez? Ele
praticamente- não, Rock foi a favor disso... Isso ele notou...
eventualmente. E dera a Neal a impressão de que ele queria aquilo,
como consentimento no fio de uma faca.
Neal nunca havia perdido a calma assim antes em sua
vida. Nunca. Mas, entre Tony tratando-o como uma maldita esposa
troféu e Rock dizendo que ele era inapto ao ar livre porque ele era gay
- não importa o que isso significasse - ele havia atingido seu
limite. Ele estava determinado a ensinar uma lição a Rock. Se ele
achava que os gays eram fracos, desajeitados ou inaptos... se ele
achava que os gays não eram homens de verdade... Bem, Neal tinha a
intenção de ensinar-lhe uma lição sobre o quão frágil e feminino esse
gay em particular era.
Não era como se Neal quisesse força-lo; Ele só queria assustar o
homem, mesmo que fosse uma coisa muito ruim de se fazer. Ele tinha
a intenção de levar um soco e ser enviado para casa por causa disso,
mas pelo menos ele teria se levantado por si mesmo. Foi chocante,
para dizer o mínimo, quando Rock respondeu aos seus avanços

KM
indesejados. Então, novamente, ele era um idiota, não era muito
estranho ele ser um desses homos reprimidos, auto-odiadores e
profundos que gostavam de tornar miserável a vida das pessoas que
estavam vivendo suas próprias verdades.
Naquele momento, Neal decidiu que ele ia ajudar a arrastar Rock
para fora do armário, pelo menos até onde ele se importava. Ele nunca
faria isso em circunstâncias normais, mas se o homem tentasse usar
sua fachada hétero para envergonhar Neal e fazê-lo pensar que ser gay
era de alguma forma inferior, ele mereceria. Com a cabeça decidida,
Neal foi até a beira do lago e rapidamente se despiu antes de entrar
para se lavar.
Ele estava de costas para o acampamento quando Rock emergiu,
mas Neal podia ouvi-lo se arrastando, desmontando o
acampamento. Assim que ele terminou de lavar, ele puxou as calças
sem prendê-las e deixou o peito nu. O lago Charneau ficava em um
belo vale plano que tinha muito sol, então parecia que, desde que o
tempo estivesse bom, ia ficar bem quente.
Colocando um pouco de orgulho em seu passo, Neal foi até onde
Rock estava jogando água na fogueira. Ele sabia que Rock o notou por
causa da maneira como seus ombros ficaram tensos, mas ele se
recusou a encontrar os olhos de Neal. Sufocando uma risada
malévola, Neal sentou-se, acomodando-se para poder comer o café da
manhã de ração da trilha - uma barra de granola com algumas sobras
de cascavel.
—Como você dormiu?— Neal perguntou enquanto Rock se
movimentava, fingindo que ele não existia.

KM
Em suas palavras, Rock congelou e olhou para ele.
—Olha, isso vai ser uma coisa? Nós temos que falar sobre
isso? Aconteceu e é o fim da história. Eu ainda tenho que levá-lo em
segurança para o nosso ponto de saída e para fora dessas montanhas,
e não posso me dar ao luxo de me distrair.
O cara parecia tão desconfortável e estressado que Neal teve pena
dele... no momento.
—Bem. Não vou mencioná-lo novamente. Vamos apenas passar
por essa viagem.— Ele se levantou e foi para o abrigo para pegar suas
camisas e casaco.
—Obrigado,— Rock murmurou atrás dele. —Além disso, isso
nunca vai acontecer de novo, então podemos esquecer.
Neal parou de andar e olhou por cima do ombro porque ele não
iria mais aceitar esse comportamento merda de Rock quando não
estivesse relacionado à sobrevivência.
—Claro, se eu quiser assim.

Pine Flats Ridge

Bem, isso abalou Rock, Neal sabia. O homem não disse outra
palavra enquanto conduzia Neal pela floresta alpina e pelos botões
rochosos abertos. A trilha que eles seguiram, que só parecia visível
para Rock, tinha toneladas de ziguezagues, então Neal teve que se

KM
concentrar para não tropeçar ou cair para trás. Ele estava
determinado a não parecer um tolo na frente do Rock novamente. Ele
ganhou de volta um pouco de sua confiança ao ajudar o homem na
noite anterior, mas ele nunca seria um tipo de montanhista.
Enquanto subiam a Pine Flats Ridge, procurando por algo que
Rock se referia como os tarns29 que sinalizariam o início da rota mais
alta, eles passaram por uma área que tinha sido completamente
queimada há algum tempo. Troncos de árvores-esqueletos se
projetavam da terra como lanças, embora relva verde-viva e musgosa
cobrisse o antigo chão da floresta. Neal queria perguntar a Rock sobre
isso, descobrir o que havia acontecido lá, mas eles ainda estavam
dando um ao outro o tratamento silencioso.
Foi uma viagem difícil e acidentada durante a maior parte do dia,
e Neal bufava e ofegava quando partiu para um almoço tardio em
outro pequeno lago alpino. Ele não queria perder nada do que ganhou
com Rock se queixando, então ele agradecidamente caiu sobre uma
rocha para descansar. Ele começou a cavar através de sua mochila
para procurar por rações de trilha quando Rock o parou.
—Não. Nós só temos ração o suficiente para um dia. Nós
deixaremos para o café da manhã.
Neal não estava orgulhoso do gemido em sua voz.
—Vamos, cara, estou morrendo de fome.
Rock levantou uma sobrancelha e Neal sabia que ele não gostaria
do que estava por vir.

29
um pequeno lago em uma montanha.

KM
—Faminto, huh? Bem, devo ensiná-lo a sobreviver.— Ele deu um
tapinha no joelho de Neal. —Vamos pegar proteína.
—Eu não vou gostar disso, vou?— Neal perguntou quando ele se
levantou e seguiu Rock para as árvore.
—Não.
Rock levou-o através das folhas e em um grande bosque de
árvores até que ele encontrou uma árvore morta que ainda estava de
pé. Ele tirou uma grande parte da casca para poder espiar lá
dentro. Tudo o que Neal podia ver era um monte de... insetos. Ele não
deveria ter ficado surpreso. Ele sabia que esses especialistas em
sobrevivência gostavam de se exibir comendo todos os tipos de coisas
repugnantes em nome da proteína. Mas ele também não tinha
pensado que ele realmente teria que comer nada disso. Estavam nas
Cascatas, não no Deserto da Namíbia ou alguma merda assim.
Neal deve ter tido algum tipo de expressão no rosto porque Rock
riu quando se virou para olhar para ele. Alcançando o tronco da
árvore, ele pegou um punhado dos desgraçados e jogou-os em seu
copo de lata.
—Estes devem nos manter alimentados até que possamos
acampar e caçar.
Ótimo. Sentindo-se completamente fora de seu elemento mais
uma vez, Neal seguiu de volta ao seu local de descanso. Rock estendeu
o copo para Neal como se esperasse que ele escolhesse um como se
fosse uma variedade de chocolates.
—Vamos cozinhá-los, certo?

KM
Rock encolheu os ombros e colocou um dos insetos gordos e
segmentados em sua boca, mastigando pensativamente. Ele parecia
alheio ao fato de que Neal estava quase vomitando só de assistir.
—Honestamente com essas larvas, cozinhar só faz com que elas
tenham um gosto pior... e mata metade da proteína.— Ele empurrou
o copo para Neal novamente. —Faça sua escolha.
Engolindo a bílis ameaçadora, Neal cutucou os insetos e
estremeceu.
—Hmm... eu quero o mole ou... o pernilongo?— Ele escolheu um
bicho que parecia uma formiga, mas um pouco maior. —Por que de
repente sinto que estou no Rei Leão?
—'Hakuna matata'—, brincou Rock, jogando outro inseto em sua
boca e mastigando-o.
Finalmente, Neal fechou os olhos, segurou o nariz e engoliu o
inseto que se contorcia. Realmente não tinha gosto de muita coisa, e
ele estava grato por esse inseto não... esguichar. Mas a sensação de
todas aquelas pernas se movendo quase o fizeram vomitar sua ração.
—Mmm ...—, ele mentiu. —Você sabe o que, eu estou realmente
cheio. Aquele carinha estava cheio de... qualquer coisa.
Claramente não acreditando, Rock empurrou o copo para ele
novamente.
—Ugh. Tudo bem.— Neal engoliu mais dois insetos antes de
declarar sua rendição. —Eu vou ficar bem até o jantar—, disse ele.
Naquela momento, Rock pareceu acreditar nele. Eles caíram em
um silêncio constrangedor enquanto descansavam. Neal não se dava
bem com o silêncio, ele era uma criatura social. Depois de suportar o

KM
que pareceram horas, mas provavelmente foi apenas alguns minutos,
ele teve que dizer alguma coisa.
—Então, nós realmente não vamos falar sobre a noite passada?
—Nós realmente não vamos—, Rock rosnou.
—Devemos falar sobre isso.
—O que somos nós, mulheres no salão de beleza? Você quer
fofocar sobre isso?
—Então você realmente é um idiota da igualdade de
oportunidades, hein? Não são apenas homens gays que você é rude.
—Chore sobre isso até encher o rio.
—Jesus Cristo, acalme-se! Eu só estou tentando ter certeza de que
você está bem. Eu basicamente forcei ...
Rock virou os olhos ardentes para Neal.
—Você teria que se esforçar muito para me forçar a fazer
qualquer coisa, e teria sido muito mais sangrento. Relaxe, garoto da
cidade. Você está bem.
Arrependimento desapareceu e raiva subiu para a frente
novamente. Esse cara só não sabia quando segurar sua língua
afiada. Neal apertou os dentes para não deixar escapar o discurso que
queria sair, mas no final, ele perdeu a batalha.
—Você é incrivelmente idiota, sabe disso? É como se você
estivesse apenas me pedindo para arrancar essa atitude de você de
novo.
Algo brilhou nos olhos de Rock. Algo que fez o pau de Neal prestar
atenção imediatamente. Rock estava tentando irrita-lo para provocar
Neal a fodê-lo novamente? Porque ele era muito reprimido para

KM
apenas pedir? Ele queria que Neal o forçasse para que ele não tivesse
que dizer as palavras. Neal não deveria se envolver. Ele não deveria
dar a esse cara o que ele queria se ele não estava nem mesmo disposto
a admitir que ele era gay. Mas Deus, a sensação que ele teve ao
dominar um homem tão viril e voluntarioso foi indescritível.
—É isso que você quer, Travis? Você precisa que eu lhe dê outra
coisa para fazer com essa sua boca espertinha?
Rock o encarou, mas seu peito estava arfando, e Neal podia ver
seu pênis começando a armar suas calças.
—É, não é? Levante-se—, ele ordenou.
Rock não moveu um músculo, mas seus olhos se arregalaram e
seu olhar se concentrou na boca de Neal.
—Eu disse… levante-se. Agora.
Desta vez, Rock obedeceu, de pé e abrindo as pernas na largura
dos ombros e apoiando os antebraços na parte inferior das costas, algo
que Neal reconheceu como a posição mais à vontade de um
soldado. Isso fez todos os tipos de coisas para a pressão sanguínea de
Neal, mas ele não queria que a emoção aparecesse em seu rosto.
Levantando-se em toda a sua altura, Neal olhou para Rock antes
de agarrar seu ombro e forçá-lo a se virar. Rock resistiu um pouco,
então Neal apertou mais forte, fazendo sua respiração engatar. Neal
empurrou entre as omoplatas de Rock, empurrando-o para frente. Ele
tropeçou ligeiramente quando Neal o pressionou contra uma
árvore. Rock se segurou com as mãos e empurrou para trás, para não
ser esmagado contra a casca. Ele olhou por cima do ombro.

KM
Neal estendeu a mão na frente de Rock e desabotoou as calças, o
tempo todo mantendo a expressão irritada. Ele sentiu o impulso
absurdo de beijá-lo, de ver qual seria o gosto dele. Neal queria saber
se ele lutaria ou se cederia ao beijo. Mas beijar era sobre emoções, e
porra, era sobre ser bom, e Neal sabia do que eles precisavam.
Ele empurrou as calças de Rock até os joelhos em um movimento
rápido. Então ele abriu o zíper da sua própria, mas apenas baixou o
suficiente para que ele pudesse puxar seu pau para fora. Ele chutou as
botas de Rock, depois rosnou contra seu pescoço.
—Abra.
Rock obedeceu.
Neal nunca saberia o que o possuiu para fazer o que ele fez em
seguida. Ele ficou de joelhos, de modo que ele estava cara a cara com
a bunda de Rock. Ele teve que admitir que o cara tinha uma bunda
legal, musculosa, mas perfeitamente redonda, um bom
punhado. Então ele aproveitou. Ele amassou os globos carnudos
antes de dar uma bofetada em cada uma. Isso recebeu um grito de
Rock, seguido imediatamente por um gemido quebrado. Alguém
realmente gosta de jogar duro.
Querendo explorar um pouco mais, Neal mordeu a nádega
esquerda de Rock. Ele grunhiu e alcançou seu pênis. Neal puxou a
mão dele e empurrou-a para a árvore.
—O único tronco que você pode acariciar é este.— Antes que Rock
pudesse responder, Neal separou as bochechas e enterrou o rosto
entre elas. Ele lambeu ao longo da fenda de Rock antes de rodar a
língua ao redor do buraco de Rock.

KM
As pernas de Rock balançaram com o esforço de continuar de pé,
então Neal apoiou as mãos nos isquiotibiais30 de Rock para fornecer
algo para encostar enquanto ele fazia uma refeição de bunda de
Rock. Neal não tinha comido muitos caras, Tony nunca gostou tanto
assim disso, então ele estava praticamente improvisando enquanto
continuava, mas os choramingos vindos do Rock lhe disseram que ele
provavelmente estava indo bem.
Depois de provocar o aro de Rock por alguns minutos, Neal
endireitou a língua e penetrou em seu interior.
—Oh, porra !— Rock gritou quando ele empurrou para o rosto de
Neal.
Neal trabalhava em sua abertura, deixando-a agradável e
escorregadia e solta, já que não tinham nada pra usar de
lubrificante. Finalmente, quando Rock estava gemendo e
empurrando como uma prostituta, Neal deu um último tapa na bunda
dele e se levantou. Ele cuspiu no seu pênis algumas vezes,
aumentando o pré semem e deixando-o bem liso.
—Você está pronto para o meu pau?— Ele murmurou.
Os antebraços de Rock estavam cruzados e descansavam contra a
árvore. Ele baixou a testa para eles e assentiu vigorosamente.
—A noite passada foi um brinde. Você tem que usar suas palavras
de agora em diante.— Ele esfregou seu pênis pingando ao longo do
buraco de Rock algumas vezes para acentuar o ponto. —Você está
pronto para mim?

30
são um conjunto de 3 músculos localizados na região posterior da coxa.

KM
—Sim está bem? Sim,— ele sibilou quando Neal cutucou seu
buraco com a cabeça de seu pênis.
Neal pegou um punhado de cabelo de Rock, puxando a cabeça
para trás, e usou a outra mão para guiar seu pênis para dentro da
passagem de Rock. Ele ainda estava tão apertado, segurando o pau de
Neal como um punho quente. Neal estremeceu e debruçou-se sobre
as costas de Rock, enquanto ele se forçava até o fim. Rock ficou em
silêncio tenso, Neal sabia que ele estava com dor, mas o cara parecia
precisar da dor com prazer. Talvez fosse sua penitência subversiva por
ceder ao “gay”.
Ele passou o braço em volta da barriga musculosa de Rock,
mantendo a outra mão em seu cabelo, e começou a bater nele,
arrancando um grunhido da garganta de Rock cada vez que ele
chegava ao fundo. Rock se aproximou e agarrou um punhado de
bunda de Neal, o que poderia ter sido a primeira vez que ele o tocou
fora do propósito do treinamento de sobrevivência. Isso só estimulou
Neal, batendo na bunda de Rock como se sua vida dependesse disso.
Neal empurrou o braço de Rock pelas costas e segurou-o
enquanto ele continuava batendo. Com a mão na cabeça, ele
pressionou o lado do rosto de Rock contra a árvore. Rock soltou uma
espécie de gemido rosnado e empurrou de volta para o pênis de
Neal. Arrepios subiam e desciam pela espinha de Neal enquanto seu
eixo era espremido naquele corpo perfeito.
Usando seu aperto no braço de Rock para alavancar, Neal dobrou
os joelhos e empurrou para cima com força. Dos gemidos estridentes
que ouviu, percebeu que estava atingindo a próstata de Rock a cada

KM
estocada. Finalmente, Neal soltou o cabelo de Rock e começou a
esfregar o pênis do homem ao ritmo de seus quadris.
Rock lutou contra o aperto em seu braço, lutando para recuperar
algum controle, mas Neal não permitiria isso. Ele o segurou enquanto
o usava, mas pelos barulhos que ele fazia, Rock não parecia ter
objeções. Neal tentou lutar contra a conexão, tentou se manter
separado do que estava acontecendo, mas não conseguia parar de
querer garantir que Rock gostasse também. Então, Neal o
acariciou mais rápido e com mais força até que ondas de prazer o
alcançaram e ele perdeu o ritmo, esvaziando-se dentro da bunda
apertada de Rock.
Neal continuou dentro, empurrando lentamente, enquanto ele
acariciava Rock que se contorcia através de seu próprio
orgasmo. Quando ele saiu, novamente a vergonha entrou, estendendo
a mão para ele com dedos silenciosos, espantando Neal pela maneira
como ele tratou Rock, apesar de que o homem obviamente
queria. Mau. Mas não era o lugar de Neal usar o corpo de outra pessoa
para resolver seus próprios problemas, não importando o quanto eles
gostassem.
Afastando-se, sentindo-se imediatamente desolado, Neal limpou-
se com a pequena toalha que havia sido colocada em sua mochila. Ele
pensou em fazer o mesmo com Rock, mas de alguma forma pareceu
muito íntimo... talvez até mais do que o que acabaram de fazer. Então,
em vez disso, ele se enfiou de volta em suas calças e caminhou de volta
para pegar suas coisas.

KM
Quando Rock voltou, completamente vestido e parecendo
impassível, Neal ficou horrorizado ao ver que havia arranhões em sua
bochecha e sobrancelhas de onde seu rosto havia sido empurrado
contra a casca da árvore. Ele não disse nada; ele apenas se sentou e
tirou seu mapa e bússola. Neal supôs que estava se certificando de que
estavam no caminho certo ou planejando a próxima etapa da jornada.
—Então, ainda não vamos falar sobre isso?—, Perguntou
Neal. Quando Rock não respondeu imediatamente, ele tentou ser a
voz da razão. —Vamos lá, cara. Estamos na floresta no meio do nada,
não há ninguém por perto. Que melhor hora há para tirar as coisas do
seu peito do que agora?
Rock olhou para ele com olhos escuros, sua expressão ilegível.
—Você quer que eu me abra para um completo estranho? Então,
você pode ir online e dizer a todos quando voltarmos? Eu posso não
ser uma celebridade, mas sou famoso o suficiente para ser novidade
para alguém.
Neal não pôde deixar de rir disso.
—Cara, você está tão seguro comigo. Eu não sei fazer nada na
internet.
Rock revirou os olhos e olhou para o mapa.
—Não, eu estou falando sério. Pergunte a qualquer um dos meus
amigos quando voltarmos e eles vão te dizer. Quando se trata de
merda on-line e redes sociais ou qualquer outra coisa, sou o
equivalente a um avô de noventa anos com Alzheimer. Tão sem
esperança.

KM
Isso realmente fez com que o misterioso e esculpido em pedra
McCreary risse. Os pés-de-galinha em volta dos olhos e as covinhas
profundas que envolviam sua boca deixaram Neal realmente
interessado em ver a expressão com mais frequência.
—Se isso fizer você se sentir mais confortável, você pode
perguntar algumas coisas pessoais sobre mim primeiro, e depois nós
mudamos para você. Pode começar,— ele disse com uma piscadela.
Rock pareceu pensar por um momento antes de tomar uma
decisão.
—Tudo bem, eu vou aceitar. Então esse homem. Seu
namorado? Parceiro?— Ele esperou, mas Neal apenas encolheu os
ombros. —Ele simplesmente deixou você quando você não quis se
mudar para...
—Boston.
—… Para Boston com ele. O que ele esperava que você fizesse
sobre sua carreira?
—Para ele, ser policial não é uma carreira. É só um trabalho. Você
pode ser um funcionário público em qualquer lugar—, disse ele. —Não
importa que eu ame Seattle, eu tenha crescido lá.
—Uau. E as pessoas acham que eu sou um babaca —, brincou
Rock.
Neal bufou.
—Bem, você é. Mas tenho a sensação de que há mais para você do
que isso. Você sabe, quando você não está sendo um idiota total.
Rock realmente corou e não encontrou os olhos de Neal.

KM
—Eu gostaria de pensar assim. Mas tenho certeza que você ficará
chocado ao saber que não é a primeira pessoa a reclamar da minha
péssima atitude.
Neal cutucou o joelho de Rock com o seu.
—Meh, você não é tão ruim. Um pouco rabugento - e, você sabe,
ofensivo - às vezes, mas quem não é?
Assim, os dois estavam sorrindo novamente.
—Devemos voltar a trilha. Eu quero chegar ao Tarns antes do
anoitecer, porque há um bom lugar para acampar lá. Se chegarmos
cedo o suficiente, talvez consiga montar uma armadilha para coelhos.
Neal estremeceu ao se levantar e seguiu Rock de volta à
floresta. Ele ainda estava com fome, e seu corpo realmente ansiava
por carne naquele momento, mas a ideia de matar um coelhinho
pobre deu-lhe calafrios. Mas ele certamente não ia admitir isso em voz
alta.
—E você?—, Ele perguntou enquanto se arrastavam pelo caminho
rochoso e irregular.
—E eu o que?— Rock parecia completamente focado na rota à
frente, mas Neal não o deixaria escapar tão fácil.
—Relacionamentos. Tem alguém? E aquela mulher com quem
conversei quando reservei a viagem?— Neal secretamente esperava
que Rock não estivesse se passando por namorado de uma pobre
mulher enquanto fodia homens as escondidas. Estar fora sempre era
uma luta, mas uma situação como essa só terminava com todo mundo
se machucando.

KM
—Hmm? Rena? Não, ela é apenas minha gerente de
publicidade. Minha garota sexta-feira31 - nunca diga a ela que eu a
chamei assim.
Neal soltou uma risada ofegante desde que ele estava tendo
dificuldades em respirar por causa da altitude e atividade física.
—Ninguém mais?
—Não. Eu não sou exatamente uma boa aposta. Eu também
trabalho demais.
—Cara, eu entendo... Eu continuo me perguntando como eu vou
encontrar alguém agora que Tony está fora de cena. Eu trabalho
muito mais agora do que quando nos conhecemos.
—Qual é a coisa mais louca que já aconteceu com você no
trabalho?
Era óbvio que Rock estava tentando desviar a conversa dos
relacionamentos. Neal não queria particularmente ter
a sua conversa gay enquanto estava na trilha, conversando com a
parte de trás da cabeça do homem, então ele foi junto.
—Como policial ou quando eu era paramédico?
—Ou. Ambos. Qualquer que seja.
—Hmm… Muitas histórias de paramédico para lembrar,
enquanto metade do meu poder cerebral está alocado em passar o ar
através dos meus pulmões. Vou ter que pensar em algumas boas para
você depois que pararmos. Mas a patrulha do porto tende a ser
bastante mansa em comparação com outras missões policiais. Houve

31
É referente ao filme His Girl Friday ou como é chamado no Brasil, Jejum de Amor (Puta que pariu,
deixasse no original que era melhor).

KM
a coisa de refém no ano passado que eu mencionei antes... A vítima
era o namorado do meu parceiro, e o atacante era o irmão da ex-
mulher - do namorado, não de Bennett.
—Jesus Cristo! Todo mundo está bem?
—Sim. Quero dizer, bem, Bennett baleou o suspeito para que
libertasse Rory, mas ninguém mais se machucou.
—Espere, Bennett é gay também?
—Sim.
—E o outro amigo que você mencionou... Patrick?
Neal assentiu, então lembrou que Rock não estava olhando para
ele.
—Gay.
—Jesus.
—Seattle, cara. Traz o gay em todos.
Rock soltou uma gargalhada, mas ele se aquietou rapidamente.
—Eu acho que é uma coisa boa que eu não moro lá, então.
Ele falou tão baixo que Neal se perguntou se Rock não pretendia
que ele ouvisse. Mas ele ouviu.
—Eu não vou insistir com você agora porque não posso
respirar. Mas é uma conversa que vamos ter... especialmente se você
quiser que eu seja seu dono novamente em breve.
Rock fez um som estrangulado no fundo da garganta, mas não
disse nada. Eles ficaram em silêncio, mas foi muito mais confortável
do que em qualquer outro momento. Neal não tinha tropeçado, caído
ou batido em nada desde que seu descanso parou, então ele começou

KM
a ficar otimista que ele poderia fazer isso o dia inteiro sem fazer algo
desajeitado.
Então Rock parou, e eles estavam cara a cara com um gigantesco
penhasco rochoso.
—Deixe-me adivinhar—, Neal começou. —Vamos subir.
—Vamos subir.

KM
Pine Flats Ridge

O muro de pedra era uma espécie de esquina contra alguns


pedregulhos enormes que haviam sido empilhados uns sobre os
outros, provavelmente de uma inundação. Rock imaginou que eles
poderiam abrir caminho em vez de tentar manipular alguns
equipamentos para chegar ao fundo. É claro que havia uma maneira
de contornar - quase sempre existia - mas acrescentaria meio dia de
paisagens aborrecidas em sua jornada, possivelmente fazendo com
que perdessem alguns dos marcos mais espetaculares. O desafio seria
fazer com que Neal realmente tentasse bouldering32.
—Podemos fazer chaminé por esta rampa aqui sem muita
dificuldade. Isso nos colocará à frente do cronograma. Se realmente
nos esforçássemos, poderíamos empacar o pico antes do anoitecer,
mas há um lugar que eu gostaria de mostrar a você. Poucas pessoas
sabem disso, mas se você o fizer, é imperdível.
Neal balançou a cabeça e beliscou a ponte do nariz.
—Chaminé. Empacar o pico… Escute, você vai ter que começar a
usar palavras de pessoas normais.

32
é uma das modalidades da escalada em rocha, praticada sem o uso dos equipamentos de segurança
convencionais como cordas e mosquetões.

KM
Irritado que a total inépcia de Neal quando se tratava do exterior
quando ele estava se tornando um pouco amável, Rock revirou os
olhos e falou com o homem como se ele fosse uma criança
—Empacar o pico é sobre chegarmos ao topo da montanha.
—Ok…
—A chaminé é um pouco mais complicada de explicar. Imagine
se, por algum motivo, você tivesse que subir no interior de uma
chaminé sem corda ou escada ou qualquer coisa. Uma maneira de
fazer isso seria apoiar os braços e as pernas em paredes opostas e
empurrar para fora enquanto você se arrasta para o alto. O atrito e as
forças opostas de suas mãos e pés contra o tijolo impediriam que você
caísse. Compreendeu?
—Eu entendo isso, sim, mas...— Ele arrastou o olhar do fundo do
penhasco até o topo. —Eu não vejo como isso se aplica a isso.
Com um suspiro, Rock se aproximou da rampa.
—Deixe-me mostrar-lhe.— Ele encontrou uma boa posição em
um canto da pedra e usou-a para içar o corpo para cima. Então ele
encontrou uma posição no lado da pedra para o pé direito. Ele abriu
os braços, colocando uma mão na ardósia fria e outra mão na pedra,
colocando-se em uma espécie de posição de rã. Puxando-se mais alto
com as mãos, ele pulou um pouco para conseguir pontos mais
altos. Então ele fez isso mais algumas vezes antes de pular de volta
para o chão.
—Você usa força oposta contra as duas paredes para mantê-lo na
posição vertical. Ou de outra forma, mais segura, mas mais lenta, é

KM
apoiar as costas contra um lado e os pés contra o outro e subir de um
lado para o outro. Entendeu agora?
Neal olhou para o espaço.
—Oh, eu entendi tudo muito bem. Não posso fazer isso, mas eu
entendo.
—Oh sim? O que aconteceu com a besteira ‘eu sou um homem
viril mesmo sendo gay’. Quer que eu consiga uma carruagem de
abóbora pra você, princesa?
Rock sabia o momento exato em que a provocação reforçou a
coragem de Neal. Seu rosto ficou vermelho e ele encarou a brecha no
muro de pedra. Arregaçando as mangas, ele se aproximou da rocha
com determinação. Rock sabia que ele pagaria por esse comentário
mais tarde. Com minha bunda, ele pensou, tremendo.
—Você tem que ir primeiro para que eu possa ajudá-lo se algo der
errado. Apenas vá devagar, dê passadas solidas e não olhe para baixo.
—Não olhe para baixo diz ele...— Neal murmurou enquanto
apoiava as pernas nas pedras e levantava o corpo para encontrar os
apoios para as mãos. —Vai ser divertido—, ele diz.
—Eu nunca disse nada sobre diversão—, brincou Rock. —Você
está bem. Continue indo, estou bem atrás de você.
Sempre era estressante quando um cliente tentava uma escalada,
especialmente uma sem uma corda de segurança. E por alguma razão,
Rock se viu preocupado com Neal ainda mais do que normalmente
faria, algo que o perturbou bastante. Ele observou Neal como um
falcão enquanto ele subia, e seu desajeitado cliente chegou a quase
dois terços do caminho antes de seu primeiro tropeço.

KM
Não foi nem mesmo culpa de Neal. A rocha sob o pé esquerdo
apenas desmoronou. Neal gritou quando ele começou a deslizar, mas
ele acabou se segurando com o joelho. Isso vai doer mais tarde.
—Você está bem. Quase lá. Não pare agora.— Ele ficou surpreso
com o quão calmo ele conseguiu soar enquanto tentava segurar seu
coração de sua garganta.
—Parar, não é exatamente uma opção agora. Se eu parar, eu caio.
—Descobriu isso, não é?
—Você é um idiota.
—E você está a um metro do topo—, disse Rock casualmente. Ele
havia começado sua subida quando Neal estava na metade do
caminho, e ele estava a poucos metros abaixo dele. Ele não respirou
com facilidade até que viu Neal se arrastar até a borda e gritar que ele
conseguiu.
Já que ele não tinha mais que assistir Neal, Rock acelerou e
chegou o topo em pouco tempo. Instantaneamente ele foi envolvido
em um abraço apertado novamente. Ele podia sentir o coração de
Neal batendo descontroladamente onde seus peitos pressionavam
juntos. Dando a Neal um tapinha desajeitado nas costas, ele o
empurrou para longe.
—Eu não posso acreditar que eu fiz isso!— Neal disse, radiante.
—Estou surpreso que você também não tenha caído, para ser
honesto.
Neal riu e empurrou-o de brincadeira - e quando eles passaram
de odiar um ao outro para trocar brincadeiras? - e se afastou dele.

KM
—Você é um idiota. Mas nem mesmo você pode me atingir
agora. Eu sinto que estou no topo do mundo!
—Você meio que está—, disse Rock. Ele acenou para algo atrás de
Neal para fazê-lo se virar. Eles estavam em uma prateleira inferior na
trilha até Silver Peak e dava-lhes uma excelente vista panorâmica.Os
Alpes com ponta de neve se espalhavam ao redor deles, elevando-se
tão alto que faziam cócegas nas nuvens.
—Fodaaaaa—, Neal suspirou. Ele virou três círculos completos
para obter o efeito de estar sozinho no céu. —Esta é a melhor coisa
que eu já vi.
Rock viu como pura maravilha jogou sobre características
cinzeladas de Neal. Ele estava feliz por ser capaz de colocar essa
expressão em seu rosto depois de tudo que ele passou. Ele se
perguntou como seria estar desimpedido. Deixar de lado toda a sua
dor, não ter um enorme e horrendo segredo sobre sua cabeça. Ele teve
que desviar o olhar antes dizer algo estúpido.
—Nós devemos continuar. Podemos acampar nos tarns e depois
vou levá-lo para a coisa que queria mostrar a você.— Ele realmente
esperava que não fosse um erro levar Neal até lá. Era um dos seus
lugares favoritos, um que ele nunca mostrou a ninguém. Parecia
muito para compartilhar com esse homem que mal o tolerava, mas
seu instinto o estimulava a fazê-lo.
Neal deu um passo atrás dele enquanto Rock cuidadosamente
escolhia seu caminho pelo terreno que era alternadamente rochoso e
gramado.
—O que exatamente é um tarn?

KM
—É uma espécie de lago de montanha, mas é mais como uma
grande poça.
—Uma poça?— Neal perguntou, rindo.
—Mesmo conceito de qualquer maneira. A água da chuva e o
derretimento da neve se acumulam nas rochas, formando grandes
poças, algumas grandes o suficiente para serem chamadas de lagoas
ou mesmo lagos em alguns casos. Imagine poças de maré, exceto que
não há maré, então elas nunca drenam.
—Ah, eu entendi.
Assim que estavam de volta à floresta, o cenário era bastante
normal comparado ao panorama do qual eles vieram. Aglomerados
de pinheiros ponderosa, bétulas e plátanos estavam cheios de lariços
e outros arbustos, criando densas paredes de vegetação ao redor do
rastro pouco visível do pé. Antes que eles percebessem, a floresta se
abriu para revelar uma bacia escarpada em um platô no meio do Silver
Peak.
—Oh, legal!— Neal passou por ele, avançando para caminhar ao
redor do tarns.
—Seja cuidadoso. Essa pedra pode ter um verniz nela.
—Verniz?
—Um brilho de água condensado. Não pode ver, mas pode ser
mortal.
—Devidamente anotado. Vou adicioná-lo à longa lista de coisas
que podem ser mortais aqui.
Rock bufou, colocando sua mochila no chão. Ele olhou para o céu
onde as nuvens cinzentas se juntavam enquanto elas estavam sob o

KM
dossel da floresta. Quando ele olhou de volta para Neal, o homem
estava olhando para ele, mordendo o lábio.
—Isso vai ser um problema?
Rock sacudiu a cabeça, mas não ia mentir.
—Ainda não. Não há como saber até que eu veja se e quanto pode
chover. Normalmente, eu não gostaria de acampar perto dos tarns na
ameaça de chuva, mas essa bacia em particular tem um ponto muito
bom que é um pouco mais alto do que eles.
Ele apontou para uma pequena prateleira de pedra alguns metros
acima do nível dos tarns. Havia uma saliência acima dela que se
projetava além da prateleira. Não era exatamente uma caverna, mas
os manteria bem protegidos de qualquer clima ou inundação. E era
muito mais espaçoso que os dois abrigos anteriores.
—Bem, olhe para isso—, disse Neal com um sorriso. —Quase dá
pra acreditar que você sabia o que estava fazendo, Sr. McCreary.
—Quase? Você me contratou, afinal de contas.— Rocha abriu sua
mochila, tirando um rolo de paracord e sua faca menor. —Nessa nota,
precisamos colocar algumas armadilhas para ver se podemos pegar
carne pro jantar. A menos que você queira mais alguns insetos...
—Mostre o caminho, mon Capitaine33. Papai gosta de carne.—
Neal deu-lhe uma piscadela suja, e todo o sangue de Rock correu para
o sul.
Era um momento tão ruim para se distrair. Como se para provar
seu ponto, ele sentiu alguns pingos de chuva caindo sobre seus
ombros.

33
Meu capitão.

KM
—Concentre-se. Comida primeiro.
De volta à linha das árvores, Rock procurou por quaisquer tocas
ou ninhos, buracos em árvores ou caminhos quase invisíveis. Ele
apontou alguns ninhos de esquilos e o que parecia ser um possível
buraco de coelho para Neal.
—Aumente sua chance de sucesso escolhendo um bom lugar.
Agarrando um par de grossos galhos caídos, Rock os cortou em
estacas. Ele pegou uma estaca e reduziu a ponta a um ponto. Uma
polegada abaixo do final sem corte, ele cavou um entalhe com sua
faca. Então ele cortou um pedaço de paracord - cerca de um metro -
cortou o revestimento de vinil e extraiu os fios de dentro. Ele amarrou
um pequeno laço em uma das extremidades com um nó de cima,
depois enfiou o resto até que ele fez um laço grande para o final da
caixa. A outra ponta estava enrolada no entalhe e amarrada com força.
—Só precisa escolher um lugar agora e colocar a estaca.— Ele
escolheu um bom lugar debaixo de uma grande árvore com alguns
buracos. Havia uma trilha clara ali, então ele pensou que deveria
haver uma quantidade decente de tráfego de animais pequenos. Ele
enfiou a parte pontuda da estaca no chão. —Pode colocar seu pé
aqui? Você quer que ele entre em um pequeno ângulo, para dar
alguma resistência.
Neal concordou, aparentemente feliz por ter um trabalho a fazer.
—Então, vou pegar nosso laço grande e apoiá-lo com alguns
paus. Passeie por aí e veja se consegue encontrar algum com uma
ponta bifurcada.

KM
Eles encontraram dois bons, então Rock encravou-os no chão
com as pontas do garfo para cima, e ele colocou o laço sobre os garfos
para que o laço fosse aberto.
—Isso deve resolver. Alguma coisa aparece, passa pelo circuito e,
quando tentar fugir, o laço aperta a perna.
Neal parecia um pouco verde com a ideia de pegar e matar um
animal, apesar de Rock saber que ele não era vegetariano. A maioria
das pessoas da cidade não gostava de ver como era a comida antes de
ser massacrada e embalada. Rock não iria provoca-lo por isso; ele
podia simpatizar, embora sua compreensão fosse diferente. Ver
tristeza durante todo o processo de caça à comida, era uma forma de
respeito para a criatura que iriam tomar a vida, em sua mente, de
qualquer maneira.
—Nós vamos ter que deixar isso por um tempo. Os animais irão
esperar que o nosso cheiro se dissipe antes que eles comecem a se
mover novamente. Nós precisamos verificar isso com frequência,
assim o animal preso não vai atrair predadores. Além disso, é cruel
deixar um animal preso.
Neal engoliu em seco e assentiu. Rock o levou de volta aos tarns,
e eles rapidamente construíram um fogo na pequena alcova, usando
o método simples de pedra e pederneira. Ele empilhou e empilhou a
madeira para que ela queimasse enquanto eles estavam
explorando. Uma fina névoa começara a se instalar na bacia, um
prenúncio da chuva que estava por vir. Eles colocaram seus pertences
na parte de trás da alcova para que tudo ficasse seco.
—O que eu preciso levar para esta excursão especial?

KM
Rock pensou por um minuto. Havia a chance de se molhar, e não
apenas da chuva.
—Leve as roupas em um saco seco, só por precaução.— Ele ergueu
o olhar para o céu, esperando que Neal simplesmente assumisse que
a chuva era o motivo.
O sol estava começando a afundar quando Rock os levou para o
norte, em uma área densamente arborizada. Seu destino não estava
muito longe dos tarns e, de fato, pareceria com outro deles. Até eles
se aproximarem. Ao se aproximarem da pequena piscina, Rock pôde
ver o vapor subindo da superfície. Neal parou e assistiu.
—Espere. Isso é…?
—Acho que existem cerca de doze fontes termais conhecidas em
Washington. Essa não é uma delas. Se alguém mais sabe dela além de
mim, eles também não estão falando.
—Então nós podemos…
—Mergulhar? Claro que sim. Por que você acha que eu te trouxe
aqui?— Ele permitiu que sua guarda baixasse, só um pouquinho, e
sorriu para Neal. O cara pareceu perder o foco por um momento, seu
rosto ficando frouxo, seus olhos semicerrados. —Você está bem?
—Sim, claro.— Neal se sacudiu e se aproximou da fonte para dar
uma olhada melhor. —Então não é o tipo que vai lentamente nos
ferver antes de perceber o que está acontecendo, é?
Balançando a cabeça, Rock se sentou no chão e começou a
desamarrar suas botas.

KM
—Onde você viu essa merda? Não, não vai nos ferver. Será quente
e surpreendente, especialmente quando as nuvens finalmente
despejarem toda aquela chuva sobre nós.
—Então, vamos entrar.
—Sim, Neal. Você precisa de um convite por escrito?
Ele não respondeu. Em vez disso, ele abriu o zíper do casaco,
jogou-o no chão e tirou a roupa em tempo recorde - nem esperou para
ver se Rock também estava nu.
—Jesus, foda-se. Não parecia tão frio quando estava de roupa.
—Geralmente não parece.— Depois de tirar suas botas e meias,
Rock parou para assistir Neal agitar aquela adorável bunda
musculosa dele. —Bem, continue. Estou bem atrás de você.
O pequeno buraco parecia ter sido esculpido na rocha com um
laser, era perfeitamente redondo. A água estava parada e nublada,
com filetes de vapor subindo da superfície. Neal caminhou até a
borda, flexionando a bunda, o pênis pesado balançando entre as
pernas, e mergulhou um dedo no pé.
— Sim—, ele gemeu em um tom que deixou Rock
instantaneamente duro.
Ele não perdeu mais tempo em entrar na pequena
piscina. Quando estava em pé, a água ficava logo abaixo da virilha -
porque ele tinha aquelas pernas ridiculamente longas -, assim como
Rock imaginou quando se sentara no fundo, a superfície chegava até
os ombros. Perfeito.
Rock tirou o casaco e ficou de pé. Enquanto caminhava em
direção à piscina, ele desabotoou primeiro a camisa de flanela, depois

KM
as calças. Neal observou-o com olhos escuros e ilegíveis no crepúsculo
que se desvanecia. Rock desceu suas calças, a calça térmica e roupas
íntimas em um puxão. Ele estava começando a tirar as camisas
quando Neal falou.
—Deixe as camisas por um minuto. Venha aqui e sente-se na
beirada.
As mãos de Rock congelaram em sua camisa porque isso era um
comando se ele já tivesse ouvido um. Ele inclinou a cabeça e estudou
Neal, tentando descobrir o que ele estava jogando. Neal cruzou os
braços esculpidos sobre o peito largo e levantou uma sobrancelha
para Rock. Certo, entendi. A resistência é inútil.
Ele se abaixou até estar sentado na beira da rocha que formava a
piscina, com as pernas engolfadas pelo calor da banheira quente da
natureza. Ele olhou para Neal e esperou por algum tipo de sinal do
que deveria fazer em seguida. Neal andou em direção a ele até que ele
estava de pé entre suas pernas. Rock não tinha certeza de suas
intenções, mas seu pênis não tinha tais preocupações, esforçando-se
para cima, como se pudesse alcançar Neal por sua própria
vontade. Neal notou, e um sorriso sujo passou por seu rosto.
Neal afundou até que ele deveria estar de joelhos debaixo d'água,
porque ele estava no nível do queixo com a virilha de Rock. E ele não
perdeu tempo. Ele passou os braços ao redor da cintura de Rock para
que ele pudesse agarrar sua bunda, e ele engoliu seu pênis até a raiz.
A cabeça de Rock recostou-se em seus ombros com a sensação de
ser completamente engolido pela boca quente de Neal.

KM
—Oh, meu deus... Oh .— Foi a primeira vez - além de come-lo para
lubrifica-lo - que Neal tinha feito algo só para ele. Algo que não era
impessoal, não era um comando. Emocionalmente, Rock tinha
muitos sentimentos mistos sobre isso, mas fisicamente? Seu cérebro
estava derretendo e sendo sugado pela ponta do seu pau.
Rock tentou agarrar a cabeça de Neal. Ele ia desmoronar se não
encontrasse algo para segurar. Neal rosnou em torno de seu eixo
- Jesus! - e empurrou contra seu peito até que Rock se esticou de
costas no chão. Contra sua vontade, suas costas arquearam e suas
pernas se abriram quando ele se entregou à sensação. O arrastar dos
lábios de Neal, o calor de sua boca, tudo funcionou em conjunto para
enviar ondas de choque ricocheteando através do corpo de Rock.
Neal deslizou os braços por baixo das coxas de Rock, erguendo a
pélvis. Ele afundou em seu pênis, engolindo ao redor da cabeça até
que Rock pode sentir as cócegas em suas bolas que indicavam que ele
estava prestes a explodir.
— Ohdeusohdeusohdeus — , ele cantou. —É melhor você parar se
você não quer que isso acabe rápido.
A resposta de Neal foi deslizar dois dedos em sua boca ao lado do
eixo de Rock, em seguida, empurrá-los em seu buraco sem qualquer
tipo de preparação. O choque do estiramento repentino neutralizou a
felicidade orgástica que era a boca de Neal, e isso trouxe Rock de volta
da beira do abismo. Por um momento. Então Neal começou a
bombear os dedos com o ritmo da sucção.
— Neal— , ele choramingou.

KM
Fora de sua mente, Rock alternou entre os dedos e foder a boca
de Neal até que ele a inundou com seu gozo. Neal gemeu quando ele
engoliu, sem perder uma gota. Ele também não deixou Rock ir
imediatamente também. Ele limpou-o com a língua até que Rock era
uma bagunça sensível, choramingando e teve que empurrá-lo para
longe.
Desossado e saciado, Rock lutou para retirar suas camisas e
deslizou o resto do caminho para a água. Lá, ele se ajoelhou na frente
de Neal, de modo que eles estavam quase olhos a olho, e eles se
entreolharam até que a respiração de Rock voltasse ao normal. Rock
não sabia o que fazer a seguir. Esse foi de longe o melhor boquete que
ele já teve, mas esse era um novo território. Em vez de basicamente
odiar um ao outro, mas porra ocasionalmente, eles eram... o que?
Companheiros de foda? Amigos? Tentando descobrir isso deu-lhe
uma dor de cabeça, e foi provavelmente por isso que ele ficou tão
surpreso quando Neal o beijou.
Ele lambeu a costura da boca de Rock até que Rock o deixou
entrar. Ele podia provar a si mesmo na língua de Neal, e era uma das
coisas mais quentes que ele experimentou. Rock não beijava caras. Os
únicos caras que ele fodeu foram encontros de uma noite, e ele nunca
se incomodou em beijá-los. Seus pensamentos se espalharam quando
Neal ficou mais agressivo, beliscando e mordendo os lábios, sugando
sua língua. Espalhando as mãos no cabelo de Rock, Neal esfregou seu
pênis contra a barriga de Rock e gemeu em sua boca.
Ele parou, ofegante.

KM
—Você vai me deixar te foder, Travis?— Ele rosnou no ouvido de
Rock.
Os joelhos de Rock ficaram fracos, deixando Neal para pegá-lo e
mantê-lo em pé.
—Sim—, ele sussurrou. Mais uma vez, Neal o obrigara a dizer isso,
mas daquela vez saíra sem hesitação.
Neal deu uma risada luxuriosa enquanto apoiava Rock contra a
parede da piscina. Então ele agarrou os quadris de Rock e empurrou-
o para frente até que ele estava flutuando, firmado por seus braços ao
longo da parede.
—Por que te excita tanto quando eu te chamo de Travis?—
perguntou Neal.
Rock estava tendo dificuldade em se concentrar porque os dedos
grossos de Neal estavam sondando sua entrada novamente.
—Hã?
Neal espalhou as pernas de Rock e insistiu para que ele as
envolvesse em torno de seus próprios quadris. A ponta do pênis de
Neal estava equilibrada em seu buraco.
—Deixa pra lá. Nós revisitaremos isso depois que você tiver um
bom passeio no meu pau, sim?
Ele não esperou por uma resposta; ele apenas empurrou para
dentro. Eles tinham fodido o suficiente recentemente que, enquanto
Rock ainda estava apertado, havia apenas um pouco de queimação
quando ele levou o grande pau de Neal ao máximo. Neal não lhe deu
tempo para se ajustar. Ele imediatamente começou um ritmo
punitivo, batendo tão forte quanto o arrasto da água permitiria, sua

KM
respiração irregular sacudindo em seu peito. Seus dedos cavaram os
quadris de Rock com tanta força, ele tinha certeza de que ele teria
machucados... e os usaria com orgulho.
De repente, braços fortes envolveram as costas de Rock, puxando-
o para frente até que eles estavam peito a peito. Neal os virou de modo
que suas costas estavam contra a parede de pedra, e ele estava
levantando Rock pela sua bunda e batendo de volta em seu pênis,
criando ondas agitadas na piscina. A mudança de ângulo atrelou a
próstata de Rock, enviando eletricidade de sua bunda para as bolas,
deixando-o totalmente duro novamente. Agarrando-se aos ombros de
Neal, ele inclinou a cabeça para trás e ofegou.
Embora ele temesse pelo equilíbrio, Rock tirou uma das mãos dos
ombros de Neal e começou a esfregar seu próprio pênis
furiosamente. Se ele já não tivesse gozado, ele já teria explodido sem
uma mão em seu pau, estava gostoso pra caralho.
— Travis — , Neal gemeu. Ele rangeu os dentes, e as veias em seu
pescoço se destacaram enquanto ele se esforçava para segurar sua
liberação. Não adiantou nada porque, segundos depois, o pênis de
Neal inchou e explodiu, preenchendo Rock tão perfeitamente que ele
o perseguiu com sua própria liberação, menor dessa vez, mas
igualmente intensa.
Neal segurou-o, acariciando suas costas e pescoço até que Rock
sentiu como se pudesse ficar de pé sozinho. Mesmo que suas pernas
estivessem tremendo, ele foi capaz de sair da piscina e se vestir antes
que o frio noturno se instalasse muito forte. Neal estava bem atrás
dele, vestindo silenciosamente suas próprias roupas.

KM
Eles usaram a lanterna de Rock para encontrar seu caminho no
crepúsculo enquanto Rock navegava de volta ao acampamento. O
fogo estava baixo, mas ainda queimando, então Neal jogou mais
alguns galhos e colocou-o de volta à vida. Sentando-se na alcova, Neal
soltou um grande bocejo ao mesmo tempo em que seu estômago
roncou. Rock de repente se lembrou da armadilha que eles
criaram. Não era como ele esquecer uma armadilha, mas então, ele
estava muito distraído.
—Você espera aqui enquanto eu verifico a armadilha. Eu volto já.
Neal abriu a boca para argumentar, mas Rock o interrompeu com
um olhar.
—Nessa parte? Eu que estou no comando.
Ele esperou até que Neal assentisse, e então desapareceu na
escuridão.

KM
Acampamento - Tarns Silver Peak

Neal não gostava que Rock saísse sozinho no escuro. Ele sabia que
não seria de muita ajuda se o cara encontrasse um urso ou algo assim,
mas parecia que alguém deveria estar lá. Com um suspiro, ele abriu o
casaco ao lado do fogo e se deitou, olhando para o teto saliente de
pedra. O que diabos acabara de acontecer naquela piscina quente?
Não tinha sido a porra da raiva das vezes anteriores, com Neal
tentando provar um ponto, e Rock tentando não gostar. Isso não tinha
sido assim. Isso tinha sido... adoração. Ele devorou o pênis de Rock -
Travis - como um homem faminto, e Rock também parecia
desesperado pela conexão. Era como se algo tivesse mudado
fundamentalmente entre eles... e Neal não tinha certeza se isso era
algo com que ele pudesse lidar.
Antes que ele pudesse refletir mais, ele ouviu os passos de Rock. O
estômago de Neal se agitou imediatamente quando viu o homem
segurando uma espécie de criatura morta de cabeça para baixo pela
cauda. Era definitivamente muito pequeno para ser um coelho.
—Hum ... Então qual o jantar especial?— Neal perguntou
cautelosamente.
—Este é um esquilo cinza oriental. Não deve ser confundido com
o esquilo cinzento ocidental, que é uma espécie ameaçada. Quero

KM
dizer, você faz o que tem que fazer em uma situação de sobrevivência,
mas não estamos morrendo de fome, então eu certamente não
mataria um animal protegido.
—Mas já está...
—Morto. Sim. Achei que você não quisesse ver essa parte.
—Obrigado—, disse Neal. Ele ficou absurdamente tocado por
Rock protegê-lo de algo que ele obviamente não gostaria, em vez de
provoca-lo sobre isso.
—Ainda tenho que esfolar e assar.
—Claro.— Neal engoliu em seco e olhou para o esquilo.
—Eu não vou fazer você fazer isso. Não dessa vez. Mas você tem
que fazer o primeiro corte.
Neal guinchou como uma colegial.
— O que?
Rock colocou o esquilo de costas sobre uma grande pedra. Então
passou para Neal, sua assustadora faca de caça. Neal olhou para o
objeto na palma da mão como se fosse um dispositivo de tortura
alienígena já que ele não sabia manusea-la.
—A faca é afiada e sua pele é muito fina, então você só precisa usar
a ponta. Você só precisa fazer um corte aqui, na base da cauda. Isso
permitirá que eu basicamente descasque a pele em um longo tubo,
não muito diferente da cobra.
Neal apertou a mandíbula e respirou entre os dentes enquanto
ouvia, mal olhando para o pobre animal. Se ele não estivesse quase
tonto de fome naquele momento, duvidava que fosse capaz de fazê-

KM
lo. Quando terminou a tarefa horrível, largou a faca e afastou-se da
cena do crime.
Rindo, Rock esfregou sangue de esquilo em cada uma das maçãs
do rosto de Neal antes que ele percebesse o que estava acontecendo, e
Neal quase desmaiou quando entendeu. Deus, pelo menos, não
cheirava a nada além do vago cheiro de cobre.
—Primeiro sangue—, disse Rock com um sorriso afetuoso.
Apaixonado. Quando isso aconteceu?
—Te odeio.
—Você não odeia.
—Eu gostaria.
Essa resposta só fez Rock rir mais.
—Tudo bem, princesa, se afaste. Eu tenho que esfolar e limpar
esse cara, isso definitivamente ofenderá sua delicada sensibilidade.
Neal provavelmente deveria ter ficado bravo com as insinuações
não masculinas, mas ele sabia que Rock estava apenas provocando ele
agora... quase como seus amigos faziam. Além disso, ele realmente
estava grato por não ter que mutilar o animal ainda mais. Apressou-
se para a beira da plataforma rochosa e, de costas para Rock e para o
malfadado esquilo, deixou as pernas balançarem. Ele ainda estava
protegido da garoa pelo último metro ou dois da saliência, então
pegou seu telefone e começou a mexer nele, afinal, ele ainda tinha
oitenta por cento de sua bateria sobrando.
—Ei, isso é estranho. Eu tenho sinal,— ele disse sem se virar.
—Isso acontece muito ocasionalmente aqui no alto. Se o seu
telefone estiver em um certo ângulo e você mantiver sua língua

KM
corretamente, você poderá obter uma barra por trinta segundos ou
mais.
—Oh. Bem, ei, talvez eu ligue para minha caixa postal e verifique.
—Ligar... seu correio de voz?— Rock perguntou, parecendo
intrigado.
—Sim, para ver se alguém deixou uma mensagem—, Neal afirmou
o óbvio ao tentar ignorar os sons de faca batendo osso.
—Sim, mas… você não tem um smartphone? Basta ir ao aplicativo
de correio de voz e reproduzi-lo.
Neal franziu a testa para o seu telefone de tijolos com o seu estojo
inquebrável - porque ele era um cobrador de todas as coisas caras,
então porra, o que?
—Aplicativo?
Os sons de corte e raspagem pararam.
—Isso é sério?
—Cara, eu costumava ter esse ótimo celular... era pequeno, tinha
botões e tudo, nada dessa besteira de tela sensível ao toque, e você
podia simplesmente abri-lo.
—Eu- eu estou sem palavras.— Rock soou genuinamente confuso,
como se ele estivesse realmente trabalhando duro para descobrir se
Neal estava falando sério ou não.
Ele estava. Ele amava aquele pequeno telefone.
—Mas Bennett me fez pegar este aqui. Ele fez um longo discurso
sobre estar no século XXI e sua filha adolescente provavelmente
poderia hackear o pentágono com seu iPhone, e que um policial

KM
precisava do maldito GPS em seu maldito telefone caso ele entrasse
em apuros... e assim por diante adiante.
—Uh, ele não está errado—, disse Rock.
—E mais, ele é um tenente, então...
—Ele supera você.
—Sim.— Neal achava que Rock provavelmente sabia muito sobre
o instinto arraigado de se submeter a um oficial superior, tendo
estado na ativa no exército. —Então, aqui estou eu, preso a esse
enorme peso de papel, e provavelmente utilizo cerca de três por cento
de sua funcionalidade.
Rock soltou uma risada.
—Você pobre bebê.— Houve algum estalo e crepitante vindo do
fogo. —Você pode se virar agora. Eu tenho os filetes no fogo. Vou
jogar a pedra no tarn para que o sangue não atraia os ursos.
—Cristo, você tinha que dizer a palvra com U antes de dormir?—
Neal disse quando se virou, mas Rock já tinha pulado da prateleira e
desaparecido na escuridão opressiva.
Quando ele acessou sua mensagem de voz, a voz feminina
desencarnada disse que ele tinha duas mensagens. A primeira era,
claro, de Bennett, baseada na conversa, Rory e Addison estavam em
segundo plano. Ele encheu Neal com os detalhes sobre o
planejamento do casamento de Paddy e Rich e sobre o mais recente
drama de Addison-Sarah-Alex. Neal estava feliz apenas por ouvir suas
vozes, mesmo que ele não estivesse com saudades de casa como ele
achava que estaria no meio do nada.

KM
Rindo, ele apagou a mensagem e esperou que a próxima fosse
tocada automaticamente. Quando ele ouviu a voz na linha, seu sorriso
caiu e seu sangue gelou.
—Hey, bebê, é o T.
T. Neal revirou os olhos. Como ele se ele quisesse ser chamado de
T desde que se tornou um advogado experiente.
—Ouça... Algumas coisas aconteceram ultimamente... Jesus, eu
realmente não quero dizer nada disso em uma mensagem de voz.
—Então por que você me ligou?— Neal resmungou em voz
alta. Tony continuou divagando.
—Boston afundou completamente. Estarei de volta a Seattle em
alguns dias. Você não está respondendo ao telefone de casa, ou eu já
teria contado. Eu acho que no seu próximo fim de semana, você pode
me ajudar a mover minhas coisas de volta para o condomínio.
— Esse merda está falando sério?
—Não deve demorar muito. A maior parte ainda está na
unidade de armazenamento em Tacoma. De qualquer forma, olha,
eu sei que nós tivemos um problema recentemente, mas tudo vai
ficar bem de novo quando eu estiver em casa. Ligarei em breve. Amo
você.
Muito tempo depois de a gravação parar de tocar, Neal olhou para
o telefone. Meses atrás, ele era uma bagunça quebrada e soluçante, e
ele também estaria disposto a ignorar o completo desrespeito de Tony
por seus sentimentos, para tentar manter seu relacionamento. Mas
agora? Ele estava com raiva. Com muita raiva.

KM
Maldito daquele homem, pensando que poderia simplesmente
voltar para a vida de Neal e continuar de onde pararam. Como se Neal
estivesse esperando por ele na porta, abanando o rabo como um
cachorro cujo dono estivera trabalhando o dia todo. Tony até pensou
que ainda tinha o condomínio, o que era ridículo. O homem sabia que
não podia pagar o aluguel sozinho, e a última vez que eles falaram,
Neal disse a ele que estava vendendo.
—Foda-se ele. Deixe-o aparecer na porta do lugar onde eu não
moro mais —, disse Neal. —Bem feito.
Neal fez uma pequena cama perto do fogo com seu casaco e
algumas roupas extras. Deitou-se com a mochila recheada sob a
cabeça, olhou para as chamas e fervilhou. A raiva o estava queimando
de dentro para fora. Ele precisava gritar, ele precisava dar um soco em
alguma coisa, ele precisava foder alguém. Isso imediatamente o fez
pensar em Travis... com carinho. E isso não foi bom.
Ele não podia começar a gostar desse homem. Se nada mais, o
telefonema de Tony havia destacado o fato de que Neal
definitivamente não precisava entrar em um novo
relacionamento. Não foi por isso que ele veio na viagem. Essa viagem
era para fugir dos homens e de toda a bagagem deles. Para descobrir
quem Neal era além de toda essa porcaria. Mas ele não conseguia
evitar. Travis estava abrindo caminho sob a pele de Neal. Mas ele não
tinha que gostar disso.

KM
Silver Peak Tarns

Muito mais tarde, os dois homens ficaram lado a lado em cima da


‘cama’ de Neal. Eles usaram o casaco de Rock como um cobertor para
cobri-los. Depois de comer o duro esquilo, Neal não conseguiu mais
conter seus bocejos, e Rock insistiu que era hora de dormir um
pouco. Ele colocou as provisões escassas restantes no suporte ante
urso e as suspendeu em uma árvore com paracord.
De mãos e joelhos, Rock se enfiou na parte de trás da alcova entre
Neal e a parede de pedra. Foi um apertado para os dois na paleta, mas
eles perderiam menos calor desse jeito. Ele previu que não ficaria
muito frio a menos que as nuvens de chuva quebrassem, mas era
melhor estar prevenido.
Ele passou os braços em torno de Neal, segurando-se atrás dele
como haviam feito antes, ambos entendendo a necessidade disso. Mas
como a natureza do arranjo deles tinha mudado, ele começou a
perceber as coisas. A suavidade do cabelo de Neal fazia cócegas em
sua bochecha. Seu cheiro forte e amadeirado, uma mistura de suor,
água torrada e pinho. Músculo denso pressionado contra o peito de
Rock. Uma bunda redonda perfeitamente formada aninhada contra…
outras áreas. Rock teve que morder o lábio com força para não
conseguir uma ereção. Isso definitivamente traria a atenção de Neal

KM
de volta para as perguntas que ele queria fazer, e Rock estava cansado
demais para falar com Neal sobre sua sexualidade hoje à
noite. Espere. Ele queria dizer a Neal que ele era gay? Ele poderia
realmente confiar que esse homem entenderia e não o julgaria por
suas escolhas?
—O que houve?— Neal disse com um suspiro.
—Hã?
—Você estava meio que resmungando para si mesmo.
—Eu estava?— Rock ficou surpreso; ele nem percebeu. —Não é
nada. Apenas algumas coisas em minha mente. Nada para se
preocupar. Volte a dormir.
—Não estava dormindo. Não consigo. É muito cedo.
Uh huh. O cara duraria cerca de três segundos antes de
desmaiar. Mas então, dias na trilha podem fazer isso com
você. Poderia fazer com que uma pessoa se sentisse tão vigorosa e
viva, que possivelmente não conseguiria dormir, especialmente no
chão. Então seu corpo percebe o quanto está desgastado e exausto e
simplesmente desliga.
Neal estava lutando valentemente, no entanto.
—Estou cansado, mas não tão cansado. Sério, Travis, precisamos
conversar. Você pode começar explicando a coisa do apelido. Por que
quando eu te chamando de Travis, você fica duro o suficiente para
bater um prego?
Rock suspirou. Parecia que ele não seria capaz de evitar uma
conversa pessoal. Porra, mas Neal era tenaz.

KM
—Eu acho que é porque meus amigos me deram o apelido antes
de todos os meus vídeos no YouTube e essa merda, antes que eu fosse
semi-famoso. Mas de alguma forma isso se repetiu uma vez que tudo
começou a acontecer, as pessoas o pegaram, e Rena me aconselhou a
rolar com ele porque era como uma marca. Quanto mais férrea minha
marca era, melhor eu pareceria para uma rede de tv quando tentasse
fazer meu próprio show. Às vezes... eu só sinto falta do velho
Travis. Então quando você me chama assim... é como se você me
visse. Eu posso ser ele de novo, com você. Só com você.
Neal olhou por cima do ombro para Rock, sua expressão
ilegível. Mas com a mesma rapidez, limpou, e ele lambeu os lábios
sugestivamente.
—Não há nada claro sobre Travis.
Rock bufou.
—Você é ridículo.
—Ouvi isso uma ou duas vezes.— Ele se afastou de Rock
novamente, e sua respiração desacelerou. Rock achou que ele poderia
ter ido dormir, mas depois falou de novo. —Tão sério. Eu preciso de
algumas respostas. Você é gay? Bi? Andando pelo lado gay para
escapar de uma vida sexual chata com sua namorada? O que? Quero
dizer, tudo aquilo sobre eu ser gay, e depois eu perdi a paciência e
surtei em você... e do jeito que você aceitou meu pau ...— Neal parou
e estremeceu. —Qual é o problema?
Suspirando, Rock esfregou o rosto no cabelo curto de Neal,
absorvendo o cheiro descaradamente masculino dele.

KM
—Eu sou gay. Sempre soube disso. Não é apenas algo que eu
falo. Nunca. Eu não pedi para ser assim. Eu só queria uma vida
simples, onde eu fizesse o que deveria fazer e consegui as coisas que
eu precisava. Eu não pedi para ser diferente. Eu não pedi para ter
esses desejos. Mas a única coisa que posso fazer é controlá-los.
—Controlá-los? Como se fosse um sintoma de alguma doença
incurável. E isso é a vida para você? Isso faz você feliz?— Neal
perguntou. Não havia julgamento em sua voz, apenas perplexidade.
—Estar aqui na natureza me deixa feliz. É por isso que faço o que
faço. Todo o resto, bem, é apenas o que é, eu acho.
—Isso é... muito triste—, disse Neal.
Ele foi completamente sincero. Ele não estava olhando para Rock,
ele honestamente se sentia mal por ele, não que Rock quisesse sua
pena, mas era melhor que condenação.
—Não seria muito melhor se você pudesse...— Neal começou, —
ser quem você é e não... não se preocupar em ser diferente? Tipo,
quem diabos se importa, e se eles se importam, por que
diabos nos importamos com eles?
—Eu não vivo nesse mundo, Neal.
—Há apenas um mundo, Travis.— Houve repreensão em seu
tom. —É o único que temos, faça o que você quiser. Então você pode
fazer o que quiser porque a vida é muito curta.
—Você não entenderia—, disse Rock em uma voz rouca.
—O inferno que não.
—Eu estava no exército durante o DADT—, explicou Rock. —E
agora... Agora estou em uma indústria cheia de bons e velhos garotos

KM
e heróis caipiras. Eles não vão assistir a um show em que algum homo
tenta ensiná-los a sobreviver!
—Você acha que eu não sei o que é estar em uma profissão
homofóbica, dominada por héteros?— A voz de Neal era incrédula. —
Eu sou um policial, Travis.
Bem, ele tinha um ponto. Ainda assim, Rock também tinha um, e
ele não podia admitir este.
—Sim, em Seattle. Você poderia estar no Alabama ou algo assim.
—Seattle é muito progressista e em grande parte gay amigável, eu
vou te dar isso. Mas a força policial não é, independentemente do que
você possa pensar. Eu só recentemente saí no trabalho, e só saí em
apoio a Bennett, que foi visto com o namorado por alguns colegas, e
não foram todas rosas e arco-íris, deixe-me dizer-lhe.
Rock foi imediatamente para o modo de defesa.
—Alguém está lhe dando problemas?— Ele rosnou.
Neal apenas riu disso.
—Rapaz, calma! Embora essa coisa de rosnar... muito
quente. Normalmente sou ativo total, mas você pode me convencer a
fazer todo tipo de coisa com essa voz.
E assim, a conversa foi totalmente desviada. Passou para tópicos
mais alegres, como a faculdade e formatura de Neal e seus amigos se
casando. Rock sabia que ele não tinha ouvido a última discussão de ‘e
se você fosse gay’, mas ele estava feliz por ter um alívio temporário.
Rock sorriu contra o cabelo de Neal durante uma breve pausa na
conversa. Ele não conseguia se lembrar da última vez que gostou de
conversar assim com alguém. Com a intenção de contar mais a Neal,

KM
ele se inclinou, mas percebeu que o cara estava desmaiado... bem,
dormindo. Ele estava morto para o mundo. Rock não podia culpá-
lo. Tinha sido um longo dia de caminhadas difíceis e uma longa noite
de foda extenuante, algo que ele tentou não pensar muito, porque se
ele se esforçasse agora, nunca conseguiria dormir.
Mesmo enquanto pensava nisso, ele foi surpreendido por um
enorme bocejo. Com um suspiro, Rock se encolheu contra as costas
de Neal, absorvendo o calor de seu grande corpo, encapsulado dentro
de seu pequeno abrigo de pedra. Seu último pensamento antes de se
afastar foi, tão dura quanto a ‘cama’ deles era, não estava tão longe de
ser perfeito.

KM
Pico de Prata

O som da chuva acordou Rock antes do sol nascer no dia seguinte.


A chuva finalmente chegou e estava caindo do lado de fora de sua
pequena alcova. Ele queria chegar ao cume do Summit Peak na hora
do almoço, e o tempo serviria para uma subida fria e hostil. Eles
precisavam descer do outro lado da cordilheira nos próximos três dias
para chegar ao ponto extração a tempo para o helicóptero. Eles
estavam fazendo um bom tempo, mas ele não queria arriscar chegar
em cima da hora. Se conseguissem chegar cedo, havia algumas coisas
nas bacias inferiores que ele poderia mostrar a Neal.
Com a chuva surgiram novas preocupações para manter Neal
seguro. Havia perigos de deslizamentos de terra ou deslizamentos de
pedras, e todas as superfícies rochosas estariam incrivelmente
escorregadias. Os níveis de água dos lagos e rios aumentariam, na
melhor das hipóteses, provocando fortes correntes e corredeiras, na
pior das hipóteses, inundações. A visibilidade era baixa, e se molhar
significava que eles lutariam contra a sempre presente batalha contra
a hipotermia.
Rock se ocupou fazendo o temido chá de pinheiro enquanto Neal
vestia o casaco e as calças de chuva e ia resgatar suas rações extras da
bolsa ante ursos. Quando ele se arrastou de volta para dentro da

KM
alcova, a roupa impermeável estava completamente escorregadia do
aguaceiro.
Nenhum dos dois falara de outra coisa senão de necessidades
básicas, mas era um silêncio sociável. Eles tiveram emoções
suficientes na noite anterior para durar o resto da viagem, pelo menos
para Rock. Ele precisava voltar aos trilhos, ensinar a Neal como não
morrer na floresta e de fato levá-lo de volta em segurança.
—Esta vai ser uma corrida difícil—, ele gritou sobre o som da
chuva. —Nós faremos a maior parte do nosso movimento quando a
chuva diminuir ou parar, mas ainda estará traiçoeiramente
escorregadio em todos os lugares. Temos vários campos de boulder
para cruzar a fim de chegar ao cume, e eles não serão divertidos na
chuva.
—O que são campos de boulder?
—Exatamente o que eles soam.— Rock encharcou o fogo com o
copo de lata cheia de água da chuva. Não havia muito risco de um
incêndio a partir de dentro da alcova durante uma tempestade, mas
ele chutou a pouca sujeira que havia sobre as brasas fumegantes e as
bateu com a bota. —Verifique sua mochila, certifique-se de que tudo
de importante esteja dentro do bolso seco. Certifique-se de que o seu
casaco, calças, botas, tudo isso esteja fechado, abotoado, amarrado
tanto quanto puderem. Nós vamos ficar bem molhados. Não vou
mentir, será infernal.
—Bem, eu não estava imaginando que seria agradável, mas é bom
ter minhas suspeitas confirmadas.

KM
Rock sorriu. Ele estava feliz que o cara tivesse senso de humor
sobre isso. Provavelmente não duraria muito. Ser atingido pela chuva
na trilha sempre era uma experiência miserável.
—Hora do seu batismo pelo fogo - er, chuva.
Relutantemente, eles deixaram a segurança relativa da alcova e
mergulharam na escuridão da chuva. Rock amaldiçoou quando a água
atingiu seu rosto, obstruindo sua visão. Enxugando os olhos com as
luvas de escalada sem dedos, ele gesticulou para Neal seguir.
—Se perdermos mais visibilidade, vou ter que colocar você na
corda curta—, ele gritou. —Não quero ficar separado.
Os tarns já estavam crescendo com o influxo de água, então Rock
definitivamente queria sair de lá rapidamente no caso da bacia ser
inundada. Mantendo-se juntos, atravessaram a floresta densa, a
chuva tornando a passagem ainda mais difícil. Rock podia sentir Neal
escorregando e tropeçando, ouvindo-o amaldiçoar, mas eles não
poderiam diminuir a velocidade enquanto tinham a cobertura do
dossel. Seria muito mais difícil passar pela torrente quando
estivessem ao ar livre.
Ele esperava que ele não estivesse empurrando Neal com muita
força, mas ele estava determinado a atingir o pico e preocupado com
a forma como as tempestades afetariam sua viagem. Embora
parecesse uma eternidade, seu relógio à prova d'água dizia que não
demorara muito para chegar ao primeiro campo de bolders. A linha
de árvores abriu-se para revelar… bem, um campo de boulders em
todas as formas e tamanhos diferentes. Eles teriam que atravessar a
paisagem traiçoeira para continuar na trilha até o cume.

KM
—Puta merda—, disse Neal atrás dele. —Quando você disse
campo de boulder, você literalmente quis dizer...
—Campo de Boulder—, Rock fornecido de forma muito útil. —Ok,
não há muitos conselhos que eu possa te dar sobre cruzar isso. Colocá-
lo em uma corda curta não vai ajudá-lo porque não pode impedi-lo de
tropeçar e quebrar seu tornozelo. Você só tem que pisar com muito
cuidado.
—Copiado.
Rock virou a cabeça e encarou Neal com uma expressão severa.
—Eu quero dizer isso, Neal. Você é admiravelmente capaz de
muitas coisas - mas andar sem tropeçar não parece ser uma delas. Só
que se você fizer isso nesse campo, vai ser muito, muito ruim.
O sorriso de Neal sumiu e ele assentiu. Parecia que ele tinha
percebido a gravidade da situação.
—Se você precisar parar, me bata nas costas, porque eu posso não
ouvir você. Tudo bem, vamos embora.— Rock pisou no primeiro
pedregulho, engolindo em seco quando seu pé deslizou alguns
centímetros. Seria um milagre se eles passassem por isso sem quebrar
um osso.
Com os olhos nos pés, ele habilmente se arrastou de pedra em
pedra, contando com a esperança de que Neal estivesse fazendo o
mesmo e sobrevivesse. Rock queria colocar o campo de pedra atrás
deles, em seguida, encontrar algum tipo de abrigo natural para
esperar o próximo intervalo na chuva.

KM
Ele parou quando sentiu um tapinha nas costas. Ele olhou por
cima do ombro e viu Neal olhando para os próprios pés, os ombros
arfando com a respiração rápida.
—Eu quase caí.— Sua voz era quase inaudível sobre o
dilúvio. Ignorando sua própria onda de pânico, Rock deu a Neal um
momento para se recompor antes de chamar sua atenção.
—Você pode continuar? Estamos no meio do caminho.
Com o maxilar cerrado e os lábios em uma linha fina, Neal deu
um rápido aceno de cabeça. Então, Rock continuou.
Inacreditavelmente, nenhum deles escorregou de novo, e quando eles
estavam se aproximando da borda do campo, Rock espiou o que
estava esperando encontrar. Um aglomerado de rochas maiores ficava
ao longo da borda do campo de rochas, provavelmente como
resultado de inundações há muito tempo. Algum tipo de formação
rochosa natural foi corroída por uma delas, e as outras forneciam
proteção adicional. Seria um belo esconderijo para lhes dar uma
trégua da chuva.
—Por aqui!— Ele gritou, esperando que Neal o ouvisse ou pelo
menos notasse que ele havia mudado um pouco de direção. Quando
chegou à estrutura, agradeceu a um deus que não acreditava que
estivesse seco por dentro. Ficando de quatro, Rock rastejou para
dentro da pequena caverna natural. Ele se virou de modo a ficar de
frente, e não pôde deixar de sorrir ao ver Neal se abaixando para
rastejar ao lado dele.
Eles basicamente tinham que ficar agarrados um ao outro para
ficarem completamente fora da chuva. As costas de Neal

KM
pressionaram a frente de Rock, e ele envolveu seus braços e pernas ao
redor do homem para dividir o calor do corpo. Ok, não era como se
não houvesse outras razões para isso, mas ficar aquecido era a
prioridade um. Neal suspirou, inclinando-se contra Rock, só um
pouquinho.
—Quanto tempo precisamos ficar aqui?—, Perguntou Neal.
—Não posso poupar mais de uma hora—, respondeu Rock. —Mas
nós definitivamente devemos continnuar se a chuva diminuir ou
parar.— Ele sentiu o aceno de Neal.
Surpreendendo Rock, Neal virou-se para que eles ficassem face a
face - bem, nariz com queixo. Seu sorriso assumiu uma qualidade
diabólica.
—Então você está dizendo que estamos presos nesta pequena
caverna por uma hora.
—Sim, é isso que eu estou dizendo.— Rock tinha certeza que ele
iria se arrepender.
—No entanto, como vamos preencher o tempo?
Rock encolheu os ombros.
—Uh...
—Eu sei!— Neal inclinou a cabeça e beijou Rock levemente nos
lábios. —Você poderia me contar sobre a sua infância como um pobre,
pequeno e fechado gay.
Rock quase engasgou porque não era onde ele achava que a
conversa iria.
—Confie em mim, cara. Essa não é uma história divertida.
Neal encolheu os ombros.

KM
—Nem a minha. Mas eu ainda quero saber.
Com um suspiro, Rock apertou Neal um pouco mais forte... para
manter o calor do corpo. Certamente não por gratificação física,
e certamente não por coragem.
—É uma história clichê total, isso me faz querer vomitar. Eu cresci
em Indiana. Líbano, especificamente. Meus pais eram extremamente
religiosos. Como fervorosos, eles eram batistas primitivos. Assim que
eles começaram a notar sinais de que eu era... diferente... eles
começaram a me forçar a estudos bíblicos e acampamentos cristãos
em vez de atividades escolares. Então, quando eu tinha quinze anos,
tive meu primeiro namorado.
—Oh não—, Neal murmurou.
—Sim. Em retrospecto, acho que não fomos muito discretos
porque nossos pais descobriram tudo. Chris foi retirado da escola e
nunca mais o vi. Eu fui sentenciado a uma visita ao depósito de
madeira com meu ex-sargento. Ele colocou o medo de Deus em mim
- literalmente. Eles disseram que, se eu não me controlasse e
mantivesse meus caminhos pecaminosos em segredo, que eles me
mandariam para a terapia de conversão. Pior que isso, a terapia de
conversão do ministério ex-gay.
Neal estremeceu em solidariedade.
—Eu estava convencido de que eles iam fazer isso de qualquer
maneira, e eu não estava errado. Alguns anos depois, descobri o que
eles estavam planejando e por isso fugi para me juntar ao
exército. Apesar de ter que estar no armário, ainda era a melhor coisa
que eu poderia ter feito.

KM
—Cristo, Travis—, Neal suspirou em seu rosto.
—Tudo bem, eu lhe disse a minha, agora me diga a sua.
Neal o surpreendeu com um beijo e, em vez de recuar, ele
mergulhou a língua dentro da boca de Rock com muita intensidade,
mas nada da agressão costumeira.
—Mais tarde—, ele sussurrou contra os lábios de Rock.
Então Rock sentiu as mãos brincando com a virilha de suas calças.
—Neal.— Sua voz saiu abafada porque Neal ainda estava tentando
beijá-lo.
Neal simplesmente grunhiu e deslizou a mão pela barriga de
Rock, dentro de suas calças e calças termicas, até seu pênis
rapidamente se enchendo. Rock nem pensara que era possível se
excitar no meio de uma maldita tempestade. Mas definitivamente era
porque Neal tinha envolvido longos e ásperos dedos ao redor do eixo
de Rock e estava esfregando-o furiosamente. Ele deixou os lábios de
Neal e uma língua quente e molhada correu pelo pescoço até a
clavícula.
Rock inclinou a cabeça para trás para dar mais pele a Neal e
bombeou seus quadris para receber mais atrito. Neal grunhiu em
aprovação, prontamente enterrando a outra mão na parte de trás das
calças de Rock e empurrando um dedo seco em seu buraco.
—Ngggh—, foi o som mais eloqüente que Rock poderia fazer.
—Você aguentou por tanto tempo, Travis— Neal disse em seu
ouvido. —Você merece mais alguns orgasmos estelares antes de ter
que voltar para o seu armário.

KM
O pensamento do armário deixou Rock se sentindo brevemente
tão desolado e sufocado que quase perdeu o tesão. Mas então Neal
lambeu e mordeu o lóbulo de sua orelha, fazendo com que Rock caísse
em sua mão como um homem selvagem. Outro dedo se juntou ao
primeiro, e Rock teve que morder o lábio para não uivar.
Cristo, o que esse homem estava fazendo com ele? A deliciosa
queimação em sua bunda, mãos calejadas em seu pau, barba
raspando seu pescoço e rosto, eram todas as sensações que estavam
viciando Rock rápidamente. Outra coisa que ele sentia ao ser Travis,
ser ele mesmo, sem regras, sem expectativas, e certamente sem
julgamentos. Isso era algo que ele não poderia se acostumar, nunca.
Porque seria muito mais difícil voltar à sua vida solitária, onde ele
escolheu trabalhar acima do amor.
Seus pensamentos se espalharam quando ele sentiu algo
deliciosamente sedoso e duro deslizar ao lado de seu pênis
esticado. De alguma forma, durante o tempo em que Rock foi pego em
auto-reflexão, Neal abriu suas próprias calças e colocou seu pênis
coberto de saliva ao lado do de Rock. A mão dele envolveu os dois
juntos e o cérebro de Rock entrou em curto. O calor da pele de Neal
era quase vulcânico, afundando-se nele e chamuscando-o com o fogo
interior do homem.
Neal esfregou a mão com força, esfregando o pau de Rock
enquanto ele fazia isso. Em cada ascendente, as cabeças chamejadas
se esfregavam, fazendo os olhos de Rock rolarem para trás com um
gemido. Ele agarrou os ombros de Neal como um homem morrendo.

KM
—Tão gostoso. Tão perto— ele gritou. Ele estava orgulhoso de si
mesmo por realmente usar palavras coerentes.
Claramente, essa habilidade se apresentou a Neal como um
desafio, então ele beijou Rock, mergulhando sua língua dentro do
mesmo ritmo que ele os acariciava. Então seus dedos na bunda de
Rock se juntaram à festa, e então eles encontraram sua glândula, e
Rock gozou com tanta força que viu estrelas. Seu orgasmo entrou em
erupção sem aviso, enviando-o em convulsões de prazer enquanto
Neal engolia seus gritos no beijo.
Deixando o pau de Rock ir em deferência à sua sensibilidade, Neal
continuou. Enquanto ainda fazia amor com a boca de Rock, ele
preguiçosamente tocou a bunda de Rock, enviando deliciosos
tremores secundários em seu corpo. Quando Neal encontrou sua
libertação, sua boca se abriu em um grito silencioso contra os lábios
de Rock, e o esperma quente espirrou no estômago de Rock e em seu
pau ainda meio duro.
Ambos estavam respirando de forma irregular, olhando nos olhos
um do outro até que Neal finalmente gemeu e enterrou o rosto no oco
da clavícula de Rock.
—O que você está fazendo comigo, Travis?
O uso de seu nome ainda arrepiava sua pele, mesmo que Neal não
o chamasse de Rock desde o primeiro dia de trilha.
—A mesma coisa que você está fazendo comigo, Hesse.
Chegando através de Neal, Rock enfiou a mão do lado de fora do
pequeno buraco e ficou escorregadia com a água da chuva. Ele os
limpou o melhor que pôde, depois enxaguou a mão

KM
novamente. Depois que ele gentilmente endireitou suas roupas, ele
passou os braços em torno de Neal, decidindo que até a chuva parar,
ele iria fingir que não havia mais ninguém no mundo e isso era algo
que ele poderia ter.

KM
Pico Silver Summit

O cume do Silver Peak era glorioso.


Quando a chuva diminuiu um pouco, eles foram para a floresta
em uma corrida íngreme, cruzaram outro campo de pedras e um
pequeno riacho. Felizmente, o riacho ainda não estava tão cheio de
água da chuva, e eles não o atravessariam no caminho de volta. Passar
pelos amieiros tinha sido difícil - aparentemente, era uma árvore
arbustiva de raiz rasa que gostava de crescer em áreas propensas a
avalanches, e não era apenas mais uma coisa divertida para se
preocupar? Rock disse que normalmente eles teriam que atravessar
um leito seco porque o amieiro não crescia lá, mas nada estava seco
no momento presente. Então eles se esgueiraram entre eles até sair
ao ar livre.
Neal recebeu uma visão de 360 graus dos picos íngremes e
escarpados de neve dos Enchantments envoltos em anéis do nevoeiro
enevoado, tendo como pano de fundo uma nuvem escurecida como
uma árvore ao norte. Pequenos lagos e lagos alpinos pontilhavam as
bacias, e nuvens serpenteavam pelos cumes como guirlandas. Ele
estava ofegando da subida no ar, mas ele mal notou. Em alguns
lugares, eles estavam acima das nuvens.

KM
Ele estava literalmente no topo do mundo. Sem trabalho, sem
amigos apaixonados, sem ex babaca. Apenas Neal. No céu. Ele
duvidava que pudesse haver algo mais perfeito do que isso.
Rock o observou pensativo, cauteloso, como se quisesse ter
certeza de que ele não se intrometesse no momento. Por isso, Neal
ficou incrivelmente grato.
A cúpula em si era uma série de penhascos pontudos, entre os
quais havia algumas áreas planas e gramadas cercadas por pedaços de
neve. Quando ele imaginou estar no topo de uma montanha, ele tinha
essa imagem humorística de se equilibrar em uma ponta pontiaguda
como uma cabra montesa de desenho animado. Ele não esperava que
houvesse tantas áreas planas, perfeitas para piqueniques,
acampamentos ou apenas descansar da subida. Ele sorriu para sua
própria ignorância.
Rock tomou isso como um sinal de que era seguro se
aproximar. Ele encontrou uma rocha plana para se sentar e espalhar
as rações de trilha que eles guardaram para o almoço. Ele ainda não
falou; ele apenas comeu e olhou para as montanhas.
Eventualmente, Neal se juntou a ele.
—Obrigado—, ele disse baixinho.
Rock realmente corou.
—Apenas fazendo o meu trabalho.
—Não.— Neal olhou para Rock até que ele encontrou seus
olhos. —Obrigado.
Batendo no joelho, Rock sorriu.
—Nós vamos fazer de você um peakbagger.

KM
—Que inferno é um peakbagger?
Rock soltou um suspiro dramático.
—Então, novamente, talvez não. Garoto da cidade.
Neal empurrou-o de brincadeira.
—Sério, o que é isso?
—É o que você chama de montanhistas que estão sempre
procurando a próxima corrida ou subida. Quem vive para a próxima
aventura, para colocar o próximo entalhe no cinto.
—Ah, eu entendi.— Neal assentiu. —Você é assim?
—Eu costumava ser.
O tom de Rock levou Neal a acreditar que ele não gostaria de
receber perguntas sobre o assunto. Ele decidiu dar ao homem um
alívio e deixá-lo ir, mas ele arquivou para o futuro.
Girando na pedra, Rock enfrentou Neal.
—Então você disse que tinha sua própria história triste. Que tal
você me conta desde que eu fiz todo o compartilhamento pessoal
neste relacionamento?
Neal sabia que ele estava usando a palavra relacionamento de
uma maneira sarcástica, mas ainda assim enviou uma onda de náusea
contorcendo-se em seu estômago. Ele não tinha certeza se poderia
arriscar ou tolerar - mesmo fisicamente - estar em um
relacionamento novamente. O último quase o matara.
—Tudo bem, você bebê gigante.— Rock riu e relaxou, assim como
Neal precisava. Neal bateu o queixo pensativamente.
—Minha história, minha história... por onde começar...?

KM
—Oh, Jesus, enquanto somos jovens, blondie34.
Neal soltou uma risada abafada.
—Tudo bem, goddamn35. A minha não é tão relacionada a eu ser
gay quanto a sua. Quando eu tinha doze anos e minha irmã tinha sete,
nossos pais foram mortos em um acidente de avião - meu pai era um
piloto de recreação, entende? Nós éramos basicamente órfãos, mas os
pais do meu pai, que só encontramos algumas vezes, se aproximaram
para nos acolher. Só que era menos como uma família e mais como
uma pensão ou uma instituição de caridade, então eu fui realmente a
única fonte de afeto da minha irmã e, quando eu era velho o suficiente,
parentalidade.
—Todo mundo sabia que eu era gay quando eu tinha dezesseis
anos. Meu avô ficou lívido, completamente enojado, mas minha avó
agia como uma espécie de amortecedor entre nós. Eles precisavam
dos cheques que o governo continuava enviando, então ela o
convenceu a ficar longe de mim. Mas então ela morreu.
—Oh, merda—, disse Rock.
—De fato. Ela sucumbiu ao câncer pancreático alguns meses
antes do meu décimo oitavo aniversário. No minuto em que o relógio
bateu meia-noite no meu aniversário, aquele babaca me disse para
arrumar minhas coisas e ir embora. Ele queria ficar com Charlotte -
você sabe, pelos cheques -, mas ela insistiu que iria aonde quer que eu
fosse. Ele sabia que ela apenas fugiria, então ele não lutou muito com
ela.

34
Referencia ao filme Atomic Blonde.
35
Referencia ao mesmo filme.

KM
—Então você e sua irmã ficaram na rua?
Neal sacudiu a cabeça.
—Felizmente, eu já tinha um emprego. Eles nunca nos deram
nada além do básico, então eu sempre tinha que trabalhar se quisesse
que minha irmã tivesse alguma coisa especial. Nós ficamos com
amigos por algumas semanas até que eu encontrei um lugar para
alugar que não tinha uma idade limite. Eu mal consegui suportar os
meus últimos dois meses do ensino médio, mas eu era muito rigoroso
com Miri, que estava fazendo 14 anos quando me formei. Então eu
vejo o fato de ela ter ido pra faculdade como um triunfo
pessoal. Depois de estudar no exterior, na Alemanha, acho que ela
estudará em escolas de pós-graduação.
—Isso é incrível, Neal—, disse Rock, sorrindo grande o suficiente
para trazer suas covinhas. —Quero dizer. Você deveria pensar nisso
como um triunfo. Você cuidou da sua família. Nem todas as pessoas
fazem isso.
Neal podia sentir o rubor subindo pelo pescoço e pelas maçãs do
rosto. Ele estava absurdamente satisfeito com o elogio. Sua irmã
realmente era o caminho para o coração dele. E então ele se lembrou
de Tony e como o homem obviamente achava que ele era menos que
nada, apesar do que ele havia passado com Miri. Essa raiva familiar
surgiu dentro de novo.
—Porque essa expressão?— Rock perguntou.
—Hã?
—Seu rosto ficou todo escuro e sombrio do nada.

KM
Neal suspirou. Ele queria mentir, mas ele sabia que Rock não iria
acreditar nem por um segundo.
—Ontem à noite, quando consegui receber o sinal, verifiquei meu
correio de voz e recebi uma mensagem do Tony. Meu ex idiota—
esclareceu ele, porque não conseguia lembrar se alguma vez
mencionara o homem pelo nome.
—O que diabos ele queria de você?
—Aparentemente, seu novo trabalho foi um fracasso, então ele me
ligou para anunciar que ele está voltando, e eu deveria ajudá-lo a
mudar sua merda de volta para o nosso condomínio.
Rock congelou e piscou para ele como se estivesse tendo
problemas para processar.
—Seu... condomínio.
Neal bufou.
—Sim, aquele em que eu nem moro mais. Eu disse a ele que iria
me livrar dele porque não posso pagar o aluguel sozinho, e não iria
viver no limbo até algum tempo inexistente em que ele decidisse
voltar, ou eu iria perder a cabeça e decidir segui-lo.
Um músculo na mandíbula de Rock apertou e soltou
ritmicamente enquanto ele refletia sobre a nova informação. O sol
filtrou-se através de uma fratura nas nuvens, aquecendo o pedregulho
plano em que estavam sentados. Dada a aparência das nuvens ao
leste, eles ainda teriam muito mais chuva, então Neal deveria ficar
aliviado por essa folga.

KM
—Parece-me que ele estava pensando em você como seu plano B—
, disse Rock finalmente. A raiva nublando seu rosto era meio
lisonjeira.
Neal deslizou para a frente na pedra, de modo que suas pernas
pararam na borda e suas botas tocaram o chão.
—Isso é o que eu acho.
—Espero que você não esteja tentado.
—Nem um pouco. Eu estou com raiva. Tanta raiva por ele
marginalizar toda a minha vida tão facilmente.— Ele bateu com o
punho na rocha ao lado dele. —Eu passei por muita merda para
chegar onde estou hoje! Sim, nunca serei milionário. Estou curtindo
minha vida e fazendo o que amo. Para mim, isso é mais
importante. Não foi o suficiente para Tony, e tudo bem, mas serei
amaldiçoado se deixar que ele me faça sentir vergonha disso.
Neal tinha sido tão envolvido em seu discurso apaixonado que ele
não tinha notado quando Rock deslizou para fora da rocha e veio para
ficar na frente dele.
—Você não deveria ter vergonha. De modo nenhum. Eu mataria
pelo que você tem.
A bola apertada de raiva ainda girava no peito de Neal, sem ter
para onde ir porque a causa e o destinatário estavam a milhares de
quilômetros de distância. Isso deixou Neal sentindo-se como um
nervo exposto, um fio vivo esperando pelo menor toque. Seu peito
arfava e suas unhas cavavam pequenas marcas nas palmas das mãos,
onde os punhos estavam cerrados.

KM
—Deus, eu odeio como ele seja capaz de me deixar tão furioso sem
sequer estar aqui. Estou preparado para uma luta e não há ninguém
aqui além de nós e da fada espacial voadora. Nunca deveria ter ouvido
o correio de voz.
—Não é importante agora, mas um dia desses você terá que
explicar o que 'fada espacial voadora' significa—, disse Rock com um
pequeno sorriso. Então seu olhar deslizou do rosto de Neal, para suas
mãos, para sua virilha e de volta para seu rosto. Ele colocou uma mão
leve no joelho de Neal, deu-lhe um aperto suave. —O que você
costuma fazer em uma situação como essa? Com toda essa raiva
impotente e reprimida se esforçando para ser liberada, você tem
algum tipo de saída?
Neal balançou a cabeça ambiguamente.
—Eu luto...—, ele respondeu, observando a mão de Rock
enquanto deslizava do joelho até a coxa. —Ou eu fodo. Com
força. Implacavelmente. Até que eu queime toda a raiva.
Com os olhos escuros piscando, Rock inspirou profundamente
pelo nariz, quase como se estivesse tentando inalar uma molécula de
Neal por vez. Então, com movimentos lentos e deliberados, ele
segurou o pau de Neal através de suas calças.
—Pena que você não está encalhado sozinho no topo da montanha
com alguém que gosta desse tipo de coisa. Oh espere…
Com um grunhido através dos dentes cerrados, Neal colocou as
mãos no ombro de Rock - Travis - e empurrou-o até os joelhos. Neal
tinha parado de pensar nele como qualquer outro além de Travis, até
mesmo dentro de sua própria cabeça.

KM
A grande prateleira de pedra onde Neal estava sentado era da
altura perfeita, colocando Travis ao nível do pênis. Ele desabotoou
suas próprias calças, puxou o cós elástico de sua calça térmica para
baixo de suas bolas, fazendo com que elas se enrolassem bem na base
de seu pênis. Travis lambeu os lábios quando o pênis pesado de Neal
saltou para frente.
Travis se aproximou para poder envolver a mão no eixo de
Neal. Ele bombeou algumas vezes até que Neal afastou sua mão e
agarrou seu pau. Com a outra mão, ele segurou a parte de trás da
cabeça de Travis e empurrou o rosto dele em suas bolas. Travis fez um
ruído ganancioso no fundo da garganta quando ele passou a língua
sobre a pele sensível do saco de Neal.
Neal pressionou mais forte, então Travis chupou suas bolas como
se sua vida dependesse disso. Ele conseguiu colocar as duas em sua
boca ao mesmo tempo, fazendo com que a visão de Neal se
obscurecesse nas bordas. Relutantemente, ele puxou o cabelo de
Travis para que ele soltasse. Com uma mão na base, Neal esfregou a
cabeça nas maçãs do rosto de Travis, depois pintou os lábios carnudos
com pre semem. Eles pareciam muito decadentes, brilhando por
conta de seu pau e inchados de chupar suas bolas. Ele bateu a ponta
de seu pênis contra aqueles lábios, e quando Travis os abriu, Neal
deslizou seu pênis para dentro. Deu algumas pancadas superficiais,
apenas cerca de metade do comprimento, depois deu a Travis um
momento para explorar sua forma e tamanho.
Travis lambeu seu comprimento, sugou a cabeça antes de engoli-
lo e tentar algumas coisas. Quando ele o soltou com um pop, seus

KM
olhos estavam vidrados, suas pupilas explodiram, e ele deu a Neal um
sorriso perverso que fez seu pau pular.
—Foda o meu rosto—, disse ele. —Deixe sair.
Se não fosse pelo fato de que ele não queria perder um minuto,
Neal provavelmente teria desmaiado. Ele enfiou os dedos mais fundo
no cabelo de Travis, e enrolou a outra em volta do pescoço. Enquanto
Travis o sugava de volta, Neal se adiantou na pedra e inclinou a pélvis
para que pudesse empurrar na boca ansiosa de Travis.
Travis cavou suas bochechas e chupou, enquanto Neal empurrava
e puxava para fora. Ele segurou o rosto de Travis enquanto ele
lentamente aumentava sua velocidade. Quando a cabeça de Neal
bateu na parte de trás de sua garganta, Travis engasgou um pouco,
tossindo, mas continuou em frente. Neal teria desacelerado, mas
Travis balançou a cabeça o máximo que pôde com um pau na boca e
bateu no quadril de Neal.
Para Neal, era o sinal universal de que ele poderia continuar.
Então ele deu tudo de si. Ele usou seu aperto na cabeça de Travis para
foder dentro e fora de sua boca quase tão forte quanto ele faria com
sua bunda. Os olhos de Travis rolaram para trás e ele gemeu, o som
vibrando no pênis de Neal e em suas bolas, acendendo um fogo que
aqueceu sua espinha. Ele fodeu a garganta daquele homem até que
lágrimas vazaram de seus olhos e cuspe escorria pelo queixo, e o
tempo todo, Travis estava fazendo os mais barulhentos ruídos que
Neal já ouvira.
Mas, tão perfeito quanto era, ele não queria explodir sua carga na
garganta de Travis. Ele queria dentro de sua bunda. Agarrando seu

KM
cabelo, Neal puxou Travis de seu pênis, puxando sua cabeça para trás
para poder olhá-lo. Ele tinha uma expressão serena e satisfeita no
rosto que dizia a Neal que ele ainda estava bem. Neal o prendeu
debaixo dos braços e o puxou para cima. Ele virou-o para encarar a
rocha e pressionou seu torso com uma das mãos entre as omoplatas.
Alcançando os quadris de Travis, Neal soltou as calças e
empurrou-as para baixo. Travis gemeu e levantou a bunda mais alto.
Neal encontrou algo escondido no bolso de sua mochila na outra
noite, uma velha garrafa de loção para as mãos. Ele não tinha usado
antes porque Travis parecia gostar da queimação de usar apenas
saliva. Mas, por mais que Neal estivesse ansioso para gozar, ele
provavelmente machucaria o homem se ele o fodesse a seco, então ele
silenciosamente cobriu seu pênis dolorido com loção.
Ele chutou as pernas de Travis, agarrou seu pau escorregadio em
uma mão e se enterrou ao máximo em um longo movimento. O
gemido lancinante de Travis mostrou uma coisa, a loção tinha sido
uma boa ideia. Neal ajeitou o casaco de Travis em torno de seus
ombros e usou o punho para pressioná-lo contra a pedra enquanto
fodia sua bunda. Todo aquele calor quente e forte era incrível em seu
pau, e ele adorava que esse homem pudesse aceitar o que ele tinha
para dar.
Curvando-se sobre as costas de Travis, Neal subiu um de seus
joelhos na rocha para conseguir mais alavancagem. Ele soltou o
casaco e colocou as duas mãos nos ombros de Travis, puxando-o para
trás enquanto empurrava seu pênis para dentro.
—Porra!— Travis gritou.

KM
Neal imaginou que ele havia pregado sua glândula, então ele fez
de novo. E de novo. O suor rolou por suas têmporas enquanto ele
fodia Travis mais forte do que ele já havia fodido alguém em sua
vida. E ele levou tudo, alegremente.
—Jesus, eu vou gozar—, disse Travis.
Neal aumentou seu ritmo, algo que ele não imaginaria ser
possível, e entrou no canal de Travis no ângulo certo, até os gritos
ecoarem pela cordilheira. Travis espalhou cordas de esperma na
rocha, e nenhum deles colocou a mão em seu pau. A visão, sons e
cheiro do orgasmo de Travis enviaram calor através do corpo de Neal,
e ele gozou, empurrando e se esfregando mesmo depois de terminar
de inundar o traseiro de Travis.
Puxando gentilmente, Neal endireitou as calças de Travis antes
de Travis se deitar, apoiando as costas na pedra. Neal pulou para cima
e se esticou ao lado dele, a meio caminho de seu corpo. Então ele
abaixou a cabeça para beijá-lo. Embora ambos ainda estivessem
ofegantes da maratona, eles emaranharam as línguas
preguiçosamente até que Neal perdeu a noção do tempo.
Ele se afastou com um beliscão no lábio inferior de Travis.
—Obrigado.
Travis sorriu.
—Eu meio que sinto que deveria estar agradecendo a você.
Neal passou a mão pela mandíbula dele. Um gesto estúpido e
sentimental que ele não tinha o direito de fazer, mas isso não o
impediu.

KM
—Eu quero dizer isso, no entanto. Esse telefonema poderia ter
arruinado toda essa viagem para mim. Mas agora a única coisa em
que estou pensando é você, eu e a natureza.

KM
Silver Peak Summit

Oh, merda.
A ultima frase de Neal se repetiu em um loop no cérebro de
Rock. A única coisa em que estou pensando é você, eu e a natureza.
Essas palavras fizeram Rock sentir medo. Esta coisa com Neal
tinha evoluido de odiar um ao outro para foder um ao outro e agora
para dizer merda assim como num piscar de olhos. Mas Rock não
podia negar a atração que sentia. Ele sentiu como se Neal tivesse
acabado de pegá-lo - sabia as razões pelas quais ele escondia seu
verdadeiro eu, não o julgou por isso, embora não fosse o jeito que ele
fazia as coisas, e definitivamente tinha o que Rock precisava
sexualmente.
Fazia tanto tempo desde que ele tinha estado com alguém com
quem ele não tinha que se esconder. Neal pegou o bom, o ruim e o feio
e lidou com ele do jeito que ele quis... muitas vezes com uma boa foda
dura, mas tudo bem se fosse o que eles precisavam. Mas por eles
encaixarem tão bem, Rock estava começando a sentir... coisas. Coisas
que um homem enterrado tão profudamente no armário, que tinha
encontrado todas as suas meias perdidas, não tinha o direito de sentir.
E com base nessas palavras, Neal também deveria ter alguns
sentimentos em jogo.

KM
Neal era um homem bonito, não apenas fisicamente
mas, caramba, também em espírito. Ele era tão vibrante, vivendo sua
vida do jeito que ele queria. Mesmo que ele tivesse sido
inimaginavelmente ferido, ele ainda avançou, assumindo o mundo. A
vergonha e o ciúme se enroscaram no estômago de Rock, junto com
uma boa dose de admiração. Porra, lá foi ele de novo com os
sentimentos!
Por mais que doesse, Rock tinha que levá-los de volta para onde
eles estavam antes, com tolerância relutante, possível ajuda com
ocasionais momentos de ódio. Ele não estava em um lugar em sua
vida onde ele poderia ser abertamente gay, e ele não poderia forçar
Neal em seu armário se eles fossem buscar um
relacionamento. Mesmo que Neal concordasse, Rock ficaria arrasado
ao ver que a luz e a vibração desaparecerem enquanto Neal escondia
seu verdadeiro eu junto com ele.
Além disso, Neal já havia passado por muita coisa, e não de um
jeito bom, recentemente. Ele certamente não merecia ter suas
emoções remexidas quando ainda estava tão cru. Não, Rock tinha que
fechar firmemente a porta do armário e se certificar de que Neal
estivesse do outro lado. Ele olhou para Neal, cochilando de leve sobre
a pedra plana, e sentiu uma pontada tão aguda no peito que estendeu
a mão e esfregou o local. Lamentando o que poderia ter sido.
Um trovão ecoou pela bacia. Foi o único aviso deles antes que as
nuvens se abrissem e começassem a mijar neles novamente. O olho
da tempestade chegara.

KM
—Foda-se!— Neal gritou quando ele foi acordado por um bocado
de água da chuva.
Ambos vestiram suas roupas de chuva o mais rápido que puderam
para manter suas roupas secas.
—Não deveria ter cochilado por tanto tempo—, rosnou Rock.
Neal lançou-lhe um olhar confuso antes de sacudir a cabeça e
enfiar a mochila nos ombros.
De volta ao inicio.
—Fique perto!— Ele gritou sobre o rugido ensurdecedor da
chuva. —Eu não poderei te ouvir se você pedir ajuda, então você tem
que ficar comigo!
Neal assentiu bruscamente e seguiu os calcanhares de Rock
enquanto mergulhava na densa floresta. Caminhar era quase
impossível. A combinação de chuva e cobertura de árvores tornou a
floresta muito escura. A mesmice infinita das sombras das árvores
através da chuva forte era muito desorientadora. Se Rock não tivesse
sua bússola para mantê-los em um curso para o oeste, eles poderiam
ficar circulando na floresta por dias antes de encontrarem sua saída.
Ele sabia que, na face oeste de Silver, havia um grande riacho que
poderia levá-los ao Bearcat Valley, à trilha que os levaria ao ponto
exfil36. Tudo o que ele tinha que fazer era ajuda-lo e mantê-lo inteiro.
Droga, ele verificou as previsões do tempo! Várias vezes planejou a
viagem, e novamente antes de partirem. Não havia menção a grandes

36
EXFIL (também exfiltration ou Extraction), em combate tático e uso de operações especiais, é o
processo de remover constituintes de um local alvo quando é considerado imperativo que eles sejam
imediatamente transferidos de um ambiente hostil e levados para uma área segura sob controle
amigável.

KM
tempestades, mas ele estava ficando realmente preocupado com a
possibilidade de deslizamentos de terra, o equivalente a uma
avalanche com terra em vez de neve, e ele nem queria pensar sobre o
rio que tinham que atravessar para chegar a um local seguro para o
helicóptero pegá-los. Isso estava rapidamente passando de uma
excursão de sobrevivência para uma situação real de sobrevivência na
selva. E tudo estava em seus ombros.
Ele tinha estado em muitas situações de vida ou morte enquanto
levava outros em seu grupo, mas nunca com alguém que ele se
importasse, nunca com alguém como Neal. Rock olhou por cima do
ombro para se certificar de que Neal ainda estava acompanhando. Lá
estava ele, observando seus pés enquanto caminhava cuidadosamente
pelo mato. Ele parecia tão miserável quanto Rock se sentia.
—Eu acho que o riacho está logo à frente—, ele gritou. —Então,
pelo menos, poderemos ver o céu novamente.
Neal assentiu, com a mandíbula cerrada. Rock lutou contra o
impulso de pegar sua mão, conduzi-lo e certificar-se de que nada de
mal lhe acontecesse, mas depois voltariam para a queixa de Neal de
que ele o estava subestimando.
O local onde ele achava que o riacho deveria estar tinha
desaparecido. Rock não achou que estivesse perdido. Sua percepção
de profundidade apenas tinha sido interrompida por causa da chuva
forte, e eles não estavam tão longe quanto ele pensava. Ele fez uma
oração para qualquer divindade que ele podia lembrar para que a
chuva diminuísse o suficiente para que ele pudesse manter os olhos
abertos e levantar a cabeça para olhar em volta. Ele viu um par de

KM
formações rochosas que pareciam familiares, então ele decidiu que
eles ainda estavam no caminho certo.
Suas suspeitas foram confirmadas quando as árvores se
separaram e eles entraram em uma pequena clareira. Ele esteve lá
antes. O riacho ficava a apenas algumas centenas de metros mais a
oeste. Embora a floresta cercasse o pequeno prado, os picos dos
Enchantments erguiam-se acima da linha das árvores.
Neal levantou o rosto para o céu; a chuva que diminuiu para uma
garoa cobriu seu rosto. Rock encostou-se em uma árvore,
recuperando o fôlego e agradecendo a suas estrelas da sorte por terem
chegado tão longe na chuva sem incidentes. A expressão de Neal era
calma, sem mostrar o estresse e o medo que Rock sentia. Parecia que
Neal confiava nele implicitamente. Ele não estava com medo porque
estava com Rock e Rock sabia o que estava fazendo. Deus, ele
esperava que a confiança não estivesse mal empregada.
—O lago Earle Creek deve estar através desse conjunto de
árvores—, disse ele quando sua respiração voltou ao normal. —Você
provavelmente pode até ver uma pequena trilha.
Neal se virou para ele com um sorriso rápido.
—Eu sabia que você encontraria, Ahab37.
Rock revirou os olhos.
—Sim, eu tinha tudo completamente sob controle. O maldito
furacão foi totalmente planejado. Veja a força dos ventos.
Com uma sacudida de cabeça, Neal bufou.

37
É uma ofensa. Capitão Ahab é um personagem fictício e protagonista principal de Moby Dick, de
Herman Melville. Ele é o capitão monomaníaco do navio baleeiro Pequod.

KM
—Estamos muito no interior para um furacão, chefe. Eu acho que
é provavelmente apenas uma tempestade boa e antiquada com um
lado de chuva torrencial.
—Provavelmente certo—, murmurou Rock.
—Você está bem, cara?— Neal perguntou, com a testa franzida de
preocupação.
—Sim, eu só preciso de um minuto para descansar.
Neal deu-lhe um olhar duvidoso, como se talvez ele não
acreditasse que Rock estivesse cansado, mas ele não comentou mais
nada. Ele andou ao redor do prado um pouco, até que seus
movimentos nervosos começaram a incomodar Rock.
—Eu não vou demorar—, disse ele, puxando seu cantil para um
gole de água.
—Você se importa se eu seguir esse caminho até o riacho e
voltar? Eu prometo que vou tomar cuidado onde piso,— ele disse com
um sorriso.
Rock olhou para as nuvens. Eles ainda estavam cheias e com uma
aparência de raiva, mas a chuva havia diminuído para um
gotejamento. O terreno entre o prado e o riacho era basicamente
plano, sem declives ou buracos que ele pudesse lembrar. Seria bom
surtar discretamente sem Neal assistir, então ele decidiu deixá-lo ir.
—Fique na trilha, e se você se perder, vire-se e volte. Se você
chegar a algo que não tem certeza de ter cruzado, vire-se e volte. Se
você não encontrar o riacho dentro de algumas centenas de metros ...

KM
—Deixe-me adivinhar... vire-se e volte—, disse Neal com um
toque sarcástico de seus lábios que inexplicavelmente fez Rock querer
beijá-lo.
—Você entendeu. Se você encontrar o riacho, pode ficar por um
minuto, mas depois - repita comigo agora - vire-se e volte.
Quando ele desapareceu nas árvores, Rock imediatamente se
sentiu mal por mandá-lo embora. Ele não gostava que ninguém o
visse em um estado enfraquecido, então ele estava disposto a deixar
Neal explorar sozinho. Dado o histórico do cara, foi provavelmente
uma idéia espetacularmente ruim. Rock decidiu que ele levaria
apenas um minuto para se recompor, depois iria atrás de Neal. Eles
realmente deveriam continuar de qualquer maneira.
Sentando em uma pedra próxima, Rock apoiou os cotovelos nas
coxas e baixou a cabeça entre as mãos. Por que Neal estar em perigo
o incomodava muito mais do que com seus outros clientes? Por que
ele estava tão confuso sobre algo acontecer com Neal?
—Porque você se preocupa com ele, idiota—, disse ele em voz
alta. —Não adianta fingir o contrário.
Nada poderia acontecer entre eles, com Rock no armário e Neal
sendo merecidamente desconfiado com relações, mas isso não
significa que Rock poderia simplesmente afastar os sentimentos
florescentes. O melhor que ele podia fazer era manter Neal a salvo até
que eles conseguissem chegar a exfil.
Seguro.
Mantenha Neal seguro.
Neal.

KM
Onde está Neal?
Seu cérebro estava tentando dizer-lhe alguma coisa, mas exaustão
e preocupação estavam deixando-o lento. Não havia muito que Neal
pudesse ter problemas entre o prado e o riacho. O riacho. O riacho.
—Porra, o riacho!— Rocha subiu a pedra, pegou sua mochila pela
alça, e correu a toda velocidade para a trilha.
Um riacho descendo a encosta de uma montanha de mais de dois
mil metros de altura estava fadado a formar quedas de água em certas
áreas. Rock havia esquecido completamente os galões de chuva que
haviam sido despejados no Silver Peak nas últimas vinte e quatro
horas. Chuva como essa poderia transformar um riacho em um rio
rugindo e descendo a montanha? Pode criar enormes cachoeiras. Um
passo errado e uma pessoa pode ser varrida em um instante.
Rock atravessou o mato na direção em que Neal se fora. Deus, e
se ele não chegasse a tempo? O mais provável é que ele estava bem,
mas, considerando o quanto Neal podia ser propenso a acidentes, o
intestino de Rock estava se contorcendo de ansiedade.
—Neal!— Ele gritou. Não houve resposta.
Aumentando sua velocidade, Rock seguiu o caminho ao longo de
um ziguezague afiado, ricocheteando de uma árvore e beliscando seu
ombro. Não importa. Ele tinha que encontrar Neal. Ele contornou
uma curva e lá, pouco antes de onde o riacho deveria estar, Neal
estava em frente a uma parede rochosa de pedras entre dois grandes
pinheiros, olhando para ele, de olhos arregalados.
—Você me chamou?

KM
Neal estava a poucos metros dele, vivo e bem. Por um momento,
a visão de Rock se apagou, e ele pensou que poderia desmaiar com o
alívio absoluto. Ele se inclinou, apoiando as mãos nas coxas e engoliu
em seco. Neal o observava como se esperasse que ele fosse ter uma
convulsão, como se ele não soubesse o que estava acontecendo, mas
sabia que precisava fazer ou dizer algo para ajudar.
—Não vá mais longe—, Rock ofegou. —Não chegue perto do
riacho até eu dar uma olhada.
Neal deu uma leve revirada nos olhos e balançou a cabeça, mas
pelo menos não chegou mais perto de onde o riacho deveria estar. Ele
estreitou os olhos.
—Cara, você est...
Ele tentou dar um passo em direção a Rock, mas quando todo o
seu peso estava em seu pé de trás, a pedra e solo friável sob seus pés
cederam. Ele começou a descer em direção ao que normalmente seria
o leito do riacho, mas agora era um canal para uma enorme cachoeira
rugindo do outro lado das árvores. Rock finalmente ouviu, alto e
claro, mas então já era tarde demais.
Quando Neal caiu, Rock saltou para a frente e agarrou seu braço,
puxando-o para longe do desmoronamento. Ele puxou Neal mais para
frente, mas mais da pedra desmoronou, levando Rock para baixo com
ele. Quando ele caiu, o tempo diminuiu e ele deu uma boa olhada na
cachoeira na frente dele. Queda de água não era nem uma boa palavra
para ela, porque parecia que alguém havia pegado o Old Faithful38 e o

38
é um géiser localizado no Parque Nacional de Yellowstone, em Wyoming, nos Estados Unidos.

KM
colocara de lado, criando esse enorme fluxo saindo do pico e descendo
a montanha.
Então a estranha suspensão terminou e Rock foi atingido com a
força total das quedas, arrastando-o para a parede fervente de água
branca. O impacto expulsou o ar de seus pulmões, enquanto o frio
instantaneamente roubava o calor de seu corpo. Ele ficou tão gelado
que mal sentiu a água esmurrando-o enquanto ele se movia para
frente e para trás ao longo do leito do riacho, descendo. Quando seus
pulmões começaram a queimar, ele percebeu que tinha estado
submerso o tempo todo que esteve tentando avaliar o que estava
acontecendo com seu corpo. A água aerada fez com que ele afundasse
como uma pedra.
Ele lutou para subir a superfície, sua cabeça levantando apenas o
tempo suficiente para pegar um pouco de ar antes de ser derrubado
novamente, agitando-se no ciclo de fiação do inferno. Ele repetiu a
ação de novo e de novo, mas ele não estava recebendo ar
suficiente. Ele tinha ficado preso em tipo de corrente hidráulica, onde
a água corre sobre uma borda submersa e flui para trás, arrastando
para baixo qualquer um que tivesse a sorte de ser sugado para dentro
de um. Pontos negros nublaram sua visão, sua mente girou, e
justamente quando ele pensou - novamente - que ele ia desmaiar, ele
colidiu com a obstrução que causou a corrente hidráulica, e tudo ficou
preto.

KM
Fora da trilha - Upper Earle Creek

Neal olhou para o local onde Travis estivera por uns bons dez
segundos antes que o impacto do que acabara de acontecer o atingisse
como um trem de carga. Ele nadou para a borda, pendurado em uma
árvore jovem para evitar cometer o erro que os colocou nessa bagunça
em primeiro lugar. Com o peito arfando com as respirações em pânico
se aproximando da hiperventilação, Neal se inclinou e olhou para
dentro da água. Ele procurou por qualquer sinal revelador do casaco
vermelho brilhante de Rock. Ele não viu nenhum.
— Travis! — Ele gritou tão alto, ele tinha certeza que ele quebrou
algo em sua garganta. E ele gritou novamente. Não houve resposta,
não que ele esperasse que houvesse. Se Travis ainda estivesse vivo, ele
provavelmente estava lutando para respirar, não poderia gritar de
volta.
Neal tentou reprimir o pânico se contorcendo em seu estômago.
Ele precisava de um plano. Não havia como ajudar Travis lá de cima.
Ele precisava descer rio abaixo, interceptá-lo de alguma forma. Se ele
encontrasse a trilha e a seguisse, nunca alcançaria o riacho que fluía
rápido. Subir a colina íngreme parecia ser a única opção.

KM
Quando ele deu alguns passos de teste, a rocha e o solo abaixo
dele desmoronaram precariamente. Provavelmente, as únicas coisas
que o impediam de cair no rio como Travis foram as raízes das poucas
árvores que cresciam perto do leito. Vasculhando seu cérebro por uma
ideia para descer em segurança, porque ele não faria bem a Travis se
quebrasse o pescoço tentando salvá-lo, ele se lembrou de um episódio
de um dos shows de sobrevivência que ele assistiu, onde alguém
cortou um longo poste para cavar no chão como uma maneira de
atravessar uma montanha em colapso com rapidez e segurança.
Com as mãos trêmulas, ele abriu o zíper da mochila e tirou a
maior faca que tinha. Ele pegou uma muda, mas de aparência forte, e
cortou sua base o mais rápido que pôde. Assim que ele conseguiu, ele
cortou a parte superior da folha e raspou o fundo em algo de um
ponto. O mastro deveria consolidar seu peso em um ponto de contato
menor com o solo, ajudá-lo a se equilibrar e manter o equilíbrio se a
terra começasse a desmoronar.
Assim que ele terminou seu poste, ele encolheu os ombros em sua
mochila e desceu a colina o mais rápido que pôde, sobre o chão
rochoso e cheio de arbustos, tecendo através das árvores
esporádicas. Quando ele sentiu os escombros se moverem, ele
espetou o mastro no chão e se inclinou diagonalmente para baixo. Ele
conseguiu com sucesso e repetiu a ação várias vezes, viajando a uma
velocidade muito maior do que ele poderia ter feito caminhando
sozinho.
Seu próximo pouso não foi tão bem. Ele bateu no chão em um
ângulo estranho e levou um tombo. O chão pedregoso o arrebentou

KM
um pouco, mas quando ele se levantou, ficou feliz ao ver que a
inclinação da terra estava no fim. Ele estava se aproximando da base
da montanha, onde esperançosamente o fluxo do riacho diminuiu.
Por fim, ele subiu na clareira plana na base da montanha. O
riacho se alargou e, enquanto ainda corria rápido, mas não era nem
de perto tão torrencial quanto o sopro da colina. Neal examinou
freneticamente os redemoinhos e piscinas em busca de qualquer sinal
de Travis. Finalmente, do outro lado do riacho na margem leste, ele
viu um lampejo vermelho balançando na água. O casaco de Travis.
Merda, ele teria que atravessar o riacho, arriscando ser levado,
embora não tão rápido quanto Travis tinha sido. Neal não sabia que
ele seria testado tão cedo. Ele teria que invocar todo o conhecimento
que aprendera de conversar e observar Travis, e de todos os shows de
sobrevivência que ele assistira religiosamente, para tirá-los dessa
situação. E ele esperava que não fosse tarde demais.
A primeira coisa que ele tinha que fazer era tirar Travis da água,
então ele poderia avaliar... o dano. A água estava, sem dúvida, gelada,
e nada daria hipotermia a um homem mais rápido do que estar ao ar
livre com roupas molhadas, então Neal despiu suas roupas e enfiou
todas as roupas em seu bolso seco. Recolocando sua mochila de volta,
ele pegou suas calças de chuva e amarrou nós nas pernas. Ele podia
capturar ar nas calças e usá-los como um dispositivo de flutuação. A
água não deveria estar acima de sua cabeça, mas no caso de ele ser
arrebatado, ter algo para mantê-lo acima da água poderia salvar sua
vida.

KM
Com a outra mão, ele agarrou seu mastro, depois entrou na água
até os joelhos. O frio foi um choque entorpecedor para o seu sistema,
quase tanto quanto a força da corrente. Segurando o poste com força,
ele espetou-o no leito do riacho. Ele o usou para ajudar a combater a
corrente enquanto ele avançava até a água estar em sua cintura. Ele
forçou a calça debaixo d'água até que uma bolha de ar se formou no
interior, e então ele apertou a cintura aberta em seu punho para
prender o ar. Arrancando o mastro do chão, ele apunhalou de volta a
poucos metros de distância. Quando chegou ao meio do riacho, a água
tocou seus ombros, e parecia que não ficaria mais fundo a menos que
ele entrasse em um buraco - o que provavelmente seria o fim dele.
Neal continuou com seu método até estar a poucos metros da
margem. Apesar da ajuda do poste, a corrente o empurrou um pouco
abaixo do local onde ele havia visto o casaco de Travis. Ele se
preocuparia com isso quando estivesse em terra seca novamente.
Quando ele estava erguendo o mastro, dentes batendo, pele cinza
pálida do frio, ele tropeçou. Ele se ajoelhou com força e perdeu o
poste, mas ainda tinha a calça impermeável e estava perto o bastante
da margem para se arrastar para fora da água.
Com um engantinhar ridículo, ele rolou de costas no chão coberto
de musgo, olhando para o céu enquanto recuperava o fôlego. Ele
estava tão cansado, e a tentação de fechar os olhos por um minuto era
tão sedutora, mas ele sabia que era a hipotermia crescente falando.
Sua primeira prioridade era vestir roupas secas, ou ele não ajudaria
Travis.

KM
—Cristo—, ele murmurou enquanto arrancava tanta água fora de
sua pele quanto ele podia. Ele tirou as cuecas encharcadas e correu
para colocar suas roupas secas e roupas de baixo. Felizmente ele
mantinha o cabelo muito curto, então secou quase instantaneamente.
Assim que ele estava coberto, ele parou de tremer, mas suas mãos
tremiam enquanto ele percorria a margem do rio procurando aquela
jaqueta. E se ele só encontrasse a jaqueta? E se fosse Travis e ele
estivesse... Neal sacudiu a cabeça com força. Não, ele não pensaria
nisso. Não era possível, não em sua mente. O universo não poderia ser
tão cruel.
Vislumbrando o casaco balançando em um redemoinho, Neal
decolou em uma corrida. Quando ele se aproximou, viu que era
definitivamente Travis, ainda vestido com o casaco, ainda com a
mochila presa a ele, o arnês de peito e quadril naquela coisa não era
brincadeira. Seu rosto estava meio dentro e meio fora da água, ele
tinha sido impulsionado um pouco por sua mochila e uma bolha de ar
em seu casaco.
Sua pele estava cinza e com hematomas, e seus lábios estavam
azuis. Neal não podia dizer sem chegar perto, mas ele não achava que
Travis estivesse respirando. Engolindo a bílis que tentava se erguer
em sua garganta, ele se estendeu na margem. Ele mal conseguiu pegar
a alça da mochila de Travis sem cair na água também. Com cada
pedaço de força deixada em seu corpo, ele arrastou Travis para a
grama ao lado do riacho. Ele esperava como o inferno que ele não o
tivesse machucado ainda mais, puxando-o dessa maneira, mas

KM
realmente não havia outra escolha - e a prioridade era fazê-lo respirar
de qualquer maneira.
Usando sua experiencia de socorrista, Neal avaliou Travis o mais
rápido que pôde. Não havia sinais externos de fraturas, mas isso
poderia ser uma ilusão. Ele queria movê-lo o mínimo possível. Havia
uma grande ferida na testa, perto da linha do cabelo, onde ele
obviamente tinha sido atingido por alguma coisa. Isso poderia
explicar a inconsciência, mas também poderia ter sido o afogamento.
Neal não se incomodou em verificar o pulso, porque, mesmo se tivesse
um, Travis estava com tanto frio que ele provavelmente não
conseguiria sentir de qualquer maneira. Ele se inclinou perto do rosto
de Travis para ouvir sons de respiração enquanto observava seu peito
ao mesmo tempo. Nada. Para evitar causar problemas a uma possível
lesão no pescoço, Neal colocou os dedos de ambas as mãos na
mandíbula de Travis, logo abaixo das orelhas, e projetou a mandíbula
para a frente. Então ele beliscou Travis no nariz com uma das mãos e
selou a boca nos lábios de Travis e soprou até o peito subir. Ele fez isso
duas vezes seguidas antes de retirar e começar as compressões, trinta,
direto no peito.
Depois de repetir o processo mais uma vez, ainda não havia
reação.
—Vamos lá, porra!— Ele rosnou, indiferente as lágrimas frias que
rolavam por suas bochechas. —Travis, respire!
Duas respirações.
Trinta compressões.
Duas respirações.

KM
Trinta compressões.
Nesse ponto, Neal estava soluçando abertamente. Suas
compressões eram quase socos. E quando ele estava prestes a desistir,
a cabeça de Travis virou para o lado e ele convulsionou em um ataque
de tosse, cuspindo o que parecia um galão de água do rio. Puxando
grandes respirações ofegantes, ele desabou de novo e olhou para o céu
sem se concentrar. E então ele começou a tremer violentamente.
—Jesus, nós temos que te secar.— Neal freneticamente olhou em
volta procurando por qualquer coisa que pudesse ser usada como
abrigo enquanto ele aquecia Travis. Ele viu um ponto entre uma
grande formação rochosa e uma pequena colina inclinada que teria
que servir. Agarrando as duas alças da mochila de Travis, ele o
arrastou até a árvore caída e debaixo dela. Agora que ele sabia que
Travis podia pelo menos mover a cabeça e a parte superior do corpo,
concentrou-se mais na velocidade do que na gentileza.
Com movimentos rápidos e seguros, ele desamarrou as botas de
Travis, puxando-as e suas meias para longe. Em seguida, ele arrancou
as calças de chuva e as camadas de base encharcadas por baixo. As
calças eram à prova d'água, mas não resistiram à submersão total - e
o mesmo aconteceu com o casaco, que ele abriu rapidamente. A
camisa de flanela e de base de Travis apresentava um problema maior
porque, mesmo depois de observar, Neal sabia que algo estava errado
com o ombro. De jeito nenhum ele conseguiria passar os braços pelas
mangas.
Neal tirou a grande faca de caça da mochila e cortou as camisas
do colarinho até a bainha, depois fez o mesmo com as mangas. Ele

KM
tinha feito a jogada centenas de vezes quando era paramédico e até
mesmo algumas vezes na patrulha do porto. Durante o processo de
despir, Travis ficou em silêncio e com os olhos vidrados. Suas pupilas
eram responsivas, mas ele não parecia estar todo lá, então Neal achou
que ele provavelmente estava machucado.
—Calor primeiro, depois avaliação de lesões—, disse ele em voz
alta, mais para si mesmo do que Travis.
Usando as mãos nuas, limpou o máximo de água possível do
corpo de Travis enquanto continuava o estremecimento convulsivo,
depois envolveu todo o corpo em volta dele, segurando o máximo que
pôde e esfregando vigorosamente os músculos ao seu alcance. A
respiração ofegante de Travis engatou e ele se enterrou no calor até
que ele colocou muita pressão em seu ombro machucado e gritou de
dor.
Neal abraçou-o até que o tremor diminuiu para níveis
administráveis. Nem mesmo se incomodando em verificar como o
bolso seco de Travis estava, ele tirou sua própria roupa de reposição e
começou a vesti-lo. As calças seriam um pouco longas demais, mas ele
não se importaria contanto que elas estivessem secas. Neal não
conseguia tirar uma camisa dele sem fazer algo sobre o ombro, então
ele colocou todas as camisas sobre o torso. E tirou o próprio casaco e
cobriu-o com ele.
—Isso vai ter que te segurar por alguns minutos. Eu tenho que
fazer uma fogueira ou nenhum de nós vai conseguir aguentar a
noite. Claro que você sabe disso. Vou calar a boca.— Ele estava

KM
divagando porque estava tão desconcertado com a falta de resposta
de Travis.
Encontrar madeira seca foi uma tarefa demorada, especialmente
quando Neal continuava checando Travis a cada poucos
minutos. Eventualmente ele teve o suficiente para começar um
pequeno fogo; ele sempre poderia procurar mais depois Ele empilhou
todas as suas descobertas perto do ponto que abrigava Travis. O fogo
só podia ser construído tão perto porque ele não queria que eles
saíssem do seu covil, especialmente quando Travis não podia se
mover.
Enquanto estava tudo bem para aprender todas as maneiras de
construir um fogo, Neal precisava de velocidade, então ele foi direto
para a pederneira. Assim que ele conseguiu um pequeno fogo, ele se
arrastou para o abrigo ao lado de Travis.
—Temos sorte que a chuva parou. Por enquanto, eu acho.
—Já acabou—, Travis murmurou.
—Hã? Como você pode saber? —Neal perguntou, enquanto seu
coração pulava de alívio ao ouvir a voz de Travis.
—Cheiro—, veio a resposta fraca.
—Sim, ok. Bem, é bom o suficiente ter parado. Tenho que avaliar
seus ferimentos.
Travis observou-o através das pálpebras entreabertas. Neal não
tinha certeza se ele estava inteiramente coerente, mas consciente e
receptivo era uma bênção que ele não achava que receberia.
—Vamos começar dos dedos dos pés e seguir de lá, ok? Mais fácil
para mais difícil? Pelo menos parece assim. Pés para os joelhos?

KM
—Contusões… Contusões em todo lugar. O tornozelo esquerdo,
possivelmente está torcido, mas pode ser apenas um machucado
muito ruim— Travis respondeu em uma voz de lixa. Ele lambeu os
lábios secos que, felizmente, não estavam mais azuis.
Neal pegou o cantil e segurou-o nos lábios de Travis, ajudando-o
a beber uma pequena quantidade.
—Estamos quase sem água—, observou ele.
—Encontre um local onde o riacho flua sobre rochas rasas e colete
exatamente onde a água rola sobre a pedra. A ebulição é sempre
melhor, mas deve ser bem… bem limpa lá.— Suas palavras foram
ligeiramente ofegantes, e parecia que era difícil forçar as palavras a
passar por seus lábios.
—Eu vou descobrir. Ao contrário da crença popular, eu não
sou completamente inapto. —Ele estava tentado faze-lo sorrir, e ele
conseguiu. Um minúsculo e exausto sorriso. —Joelhos para quadris?
—Parece uma boa raspagem ou corte na parte de trás da minha
coxa esquerda. Então mais hematomas. Até minhas contusões têm
hematomas.
Neal deu uma risada sem fôlego.
—Quadris para peito.
—Costelas. Lado esquerdo. Dor. Possivelmente uma ou duas
quebradas.
—Parece que você foi muito maltratado no seu lado
esquerdo. Passando para o óbvio, me fale sobre o ombro. Você acha
que está quebrado? Não quero mexer muito para descobrir.

KM
Travis fechou os olhos e engoliu em seco. Quando os abriu
novamente, Neal pôde ver a dor no brilho dos olhos e as linhas tensas
no rosto.
—Deslocado.
—Certeza?
—Sim. Já aconteceu antes.
—Mesmo ombro?
—Sim.
Neal deu-lhe um olhar severo porque algo lhe dizia que Travis
provavelmente não recebeu o atendimento médico adequado na
primeira vez.
—Se eu conseguir nos tirar dessa situação, vou me certificar
pessoalmente de que você veja um médico. Cada vez que você o
desloca, torna mais fácil que isso aconteça novamente. Você pode até
precisar de cirurgia.
Travis resmungou sem compromisso. Então ele olhou para Neal.
—Você nos tirará disto. Você é muito mais capaz do que pensa.
O coração de Neal bateu rapidamente, e uma sensação
desconfortável chamejou em seu peito. Uma que parecia muito com...
carinho. Ele não podia se permitir pensar nisso. Ele não estava mais
preparado para relacionamentos, Travis estava no armário e... oh,
sim, eles estavam presos nas montanhas com um homem abatido.
—Você vai ter que colocar isso de volta no lugar—, Travis
resmungou, acenando com a cabeça para seu ombro esquerdo
desajeitadamente posicionado.

KM
—Sim, eu sei. Tenho que checar algumas coisas primeiro. Estes
podem ser desconfortáveis, mas tenha paciência comigo. Eu preciso
ter certeza de que é seguro encaixar o ombro.
—Faça o que você precisar.
Primeiro, Neal colocou dois dedos no pulso de Travis para
verificar seu pulso. Ele queria ter certeza de que o braço esquerdo
ainda tinha circulação. O pulso estava lá, mas era fraco - então,
novamente, provavelmente estava fraco em todos os lugares após a
quase hipotermia.
—Agora pegue minha mão e aperte o mais forte que puder.
Quando Travis cumpriu, Neal perguntou: —Você pode sentir
isso?
Ele assentiu.
—Bom, ainda tem sensação, controle motor e circulação.— Em
seguida, Neal moveu levemente as camisas e o casaco do pescoço e do
ombro de Travis e começou a pressionar cuidadosamente os dedos ao
longo da clavícula. —Eu não sinto nenhuma ruptura na clavícula. Essa
é a maior quantidade de informação que posso obter sem um raio-
X. Esta pronto?
Travis parecia um pouco verde, mas ele assentiu novamente.
—Eu posso desmaiar com a dor. E com a lesão na cabeça ...
Ele não precisava dizer mais, Neal entendia.
—Eu vou fazer tudo que puder para te acordar quando acabar.
—Ok. Vamos fazer isso.
Neal moveu o cotovelo de Travis até que ele foi pressionado
contra o seu lado, então ele inclinou seu antebraço para um ângulo de

KM
noventa graus. Manteve uma das mãos no cotovelo, mantendo o
braço dobrado, depois agarrou a mão de Travis com a outra e
lentamente girou o braço para longe do corpo. Depois de alguns
centímetros, ele fez uma pausa para deixar todos os músculos e
ligamentos se ajustarem ao movimento.
A cabeça de Travis estava pressionada contra o chão, sua
mandíbula estava presa e os tendões de seu pescoço se projetavam da
tensão.
—Mãe de todas as fodas! A pessoa que fez isso comigo da última
vez simplesmente foi rápida. Droga!— ele gritou quando Neal moveu
o braço um pouco mais.
—Sim, bem, essa pessoa não era um ex-paramédico, eu
aposto. Estou tentando não causar danos permanentes - mais do que
você provavelmente já tem.
Travis fez um som que só poderia ser descrito como um rugido
quando Neal alcançou o ponto de resistência.
—Não me pergunte se eu estou pronto, apenas...
Neal habilmente colocou a cabeça do úmero de volta na tomada,
satisfeita com o som suave de clunking que ouviu. Travis uivou, então
empalideceu quase imediatamente, seguido por seus olhos revirando
em sua cabeça. Segurando firme o braço com uma mão, Neal lhe deu
um tapa na bochecha. Então ele deu um tapa na outra face.
Aqueles ricos olhos castanhos se abriram para olhar para ele,
obrigada porra. Neal ficou tão aliviado que sorriu e beijou Travis nos
lábios. Apenas um beijo rápido, mas foi o suficiente para deixar seu
coração acelerado com uma mistura de afeição e apreensão.

KM
—Bem-vindo de volta, cowboy.
Travis bufou. Ele ainda estava pálido, mas parecia mais alerta.
—Eu tenho que estabilizar seu ombro agora.— Neal gentilmente
colocou o braço de Travis em seu corpo. —Vou ter que improvisar uma
tipóia.
Ele pegou os pedaços da camisa de Travis que ele cortou e abriu o
resto das costuras com a faca de caça. Ele atou as extremidades de
uma metade, formando um laço que ele deslizou sobre a cabeça de
Travis, em volta do pescoço. Ele esticou até que ele pudesse deslizar o
antebraço do ombro machucado dentro da tipóia improvisada.
—Você pode se sentar? Isso provavelmente machucará tanto sua
cabeça quanto seu ombro, mas eu preciso imobilizar seu braço.
—Eu posso tentar—, disse Travis.
Neal ajudou-o com um braço nas costas até que ele mudou para
uma posição sentada. Ele estava suando muito, provavelmente por
causa da dor extrema de sua multidão de ferimentos, e ele estava
branco como uma folha.
—Não desmaie agora.
—Sem promessas—, ele respondeu com os dentes cerrados.
Pegando a peça restante da camisa, Neal atou-a ao redor do torso
de Travis, envolvendo-a sob o braço bom enquanto prendia o braço
machucado contra o peito. Ele amarrou tão apertado quanto
ousou; ele não queria causar dor adicional tanto do ombro quanto das
costelas quebradas, mas o braço precisava ficar completamente
imóvel mesmo se Travis se movesse.
—Como se sente?

KM
Aqueles olhos de uísque se estreitaram.
—Como se... estivesse sendo lambido por gatinhos até a morte.
Neal soltou uma risada aliviada.
—Se você está disposto a falar merda, você deve estar se sentindo
melhor.
Travis suspirou quando Neal o ajudou a se deitar e apoiou a
cabeça na mochila.
—Melhor é relativo. A cabeça dói pra caralho... bem, tudo dói,
mas minha cabeça é o que pode causar problemas mais tarde.— Ele
olhou para o céu ainda cinza. —Estamos perdendo a luz. Precisamos
encontrar comida antes que seja tarde demais para procurar.
— Nós não faremos nada. Seu trabalho é ficar aqui e não
morrer. Apenas descanse junto ao fogo e eu vou buscar alguma
comida para nós.
—Você poderia pescar. Você é bom com um arpão improvisado, e
durante uma inundação como essa, é realmente muito fácil
encontrar… peixes. Procure por áreas de águas agitadas... como
redemoinhos ou buracos. Os peixes... vão se reunir lá para escapar da
correnteza... atual, ou até mesmo ficar presos.
—Ok. Eu vou encontrar uma vara para amarrar a faca e ir pescar
o jantar.— Ele encarou Travis com os olhos estreitos. —Qual é o seu
trabalho?
—Ficar aqui... não morrer.
—Você entendeu. Volto assim que puder.

KM
Fora da trilha - Upper Bearcat Valley

Apesar do medo de uma concussão, Rock se deixou cochilar logo


abaixo da superfície da consciência. A dor nunca permitiria que ele se
aprofundasse de qualquer maneira. Mesmo agora, quando ele
acordou completamente, ela ricocheteava dentro de seu corpo como
uma bala perdida. Enquanto a ferida na cabeça era a mais perigosa,
as costelaseram o que mais doía. Ele mal conseguia respirar sem
sentir que suas costelas estavam sendo perfuradas por uma faca sem
ponta. Sua cabeça latejava. Seu ombro latejava. Suas costelas e a parte
de trás de sua coxa e tornozelo latejavam. Era como se seu corpo fosse
apenas um hematoma gigante e pulsante. Oh, espere, ele é.
Uma vez consciente e alerta, a gravidade de sua situação
lentamente se assentou em torno de seus ombros. Eles só tinham um
dia para chegar ao ponto exfil em Dalles Meadow e dois dias para o
fim da viagem porque eles tinham perdido muito por conta do
acidente. Claro, quando eles não chegassem ao helicóptero, o piloto
alertaria as autoridades, mas quanto tempo levaria para alguém
encontrá-los?
Se Rock não estivesse incapacitado, eles ficariam bem. Ele
poderia sobreviver por semanas na natureza sem suprimentos, se
fosse necessário. Neal tinha sido impressionantemente até agora -

KM
além de salvar sua vida - mas ele não podia fazer tudo. Ele não podia
carregar Rock para dos Enchantments. Cristo.
—O telefone via satélite—, ele lembrou a si mesmo. Ele tentou
voltar para a posição sentada, mas seus músculos abdominais se
apertaram ao redor das costelas quebradas, enviando tentáculos de
dor através de seu peito e costas. Ele gritou e desmoronou de volta
contra o chão. Droga, ele teria que esperar que Neal voltasse antes que
eles pudessem checar se o telefone estava no rio. Ele estava guardado
no bolso de carga de suas calças quando ele caiu na água. Estava em
um estojo à prova d'água, então ele não havia pensado duas vezes em
mantê-lo ali durante a chuva.
Mesmo com todas as tremendas dores que atormentavam seu
corpo, Rock ainda podia sentir a cãibra enfadonha de fome enquanto
torcia seu intestino. Tirou uma pinha de um ramo baixo de uma
ponderosa, abriu-a e comeu os pinhões lá dentro. Ele esperava que
Neal tivesse sucesso porque precisava da energia para curar - e
descobrir como eles sairiam disso.
Deus, ele chegou a acreditar que era um caso perdido, com
certeza. Ele tinha sido um caso perdido até que Neal o tirou da água e
o ressuscitou. Ele nem sabia como Neal desceu a montanha rápido o
suficiente para ter dar uma chance. Se Rock estivesse nessa viagem
com alguém que não fosse um ex-paramédico com a experiencia em
chegar primeiro a resgates, ele não tinha dúvidas de que estaria
morto.
Do sul, Neal veio andando entre as árvores como um touro em
uma loja de porcelana. Era uma coisa boa que eles não estivessem se

KM
escondendo de nada porque o cara era barulhento. Eles seriam
encontrados em segundos. Mas Rock sorriu quando viu o homem
carregando duas pequenas trutas.
—Bem, olhe para você, Daniel Boone39—, disse ele com um sorriso
que ele esperava que não parecesse muito dolorido.
—Eu preciso de um chapéu de pele de carneiro?
—Isso é muito Davy Crockett40, e um mito total, a propósito.
—É isso aí, você pode simplesmente morrer de fome.— Não havia
raiva real na voz de Neal.
A brincadeira insolente realmente fez Rock se sentir um pouco
melhor até que um pensamento se apoderou dele.
—Inferno, você vai passar fome também, já que eu só tenho um
braço bom. Você terá que estripar o peixe.
Neal olhou para ele enquanto pegava uma pedra chata e jogava o
peixe no chão.
—Jesus, eu sou um barqueiro. Eu sei manusear um peixe. É como
manusear um bastão - eu sei como, simplesmente escolho não fazer
isso.
Rock balançou as sobrancelhas e tentou dar um sorriso.
—Eu não sei, você manuseou meu pau muito bem.
Revirando os olhos, Neal puxou a grande faca e limpou e cortou a
truta. Ele estava certo, ele sabia o que fazer com um peixe, mesmo que
seu rosto estivesse congelado em uma careta horrorizada o tempo

39
é uma série de televisão estadunidense de Ação-Aventura estrelada por Fess Parker como Daniel
Boone que foi ao ar nos Estados Unidos.
40
foi um político, militar, herói nacional estadunidense e um caçador de ursos, famoso por sua precisão
extraordinária no uso de rifle.

KM
todo. Rock riu, então apertou as costelas com o braço bom quando o
movimento o machucou
—Você poderia ficar quieto?— Neal repreendeu. —Espero que
sejam apenas fraturas, mas se forem ruins, qualquer movimento
poderia parti-las. Uma costela completamente quebrada poderia
perfurar seu pulmão em um piscar de olhos, e nem mesmo eu seria
capaz de salvá-lo.
Sentindo-se mal-humorado ao receber um sermão do Capitão
Klutz41 - mesmo que ele tenha pensado no apelido com carinho - Rock
franziu o cenho para ele.
—Salvei sua bunda primeiro—, ele resmungou.
Neal olhou para ele surpreso, depois seu rosto suavizou e sua
expressão ficou carinhosa.
—Você fez. Obrigado.
Rock começou a dar de ombros, mas se conteve a tempo.
—Eu diria que estamos bem até agora. Isto é, se você colocar essas
malditas trutas no fogo nos próximos dois minutos. Caso contrário,
eu posso ter que agir como Donner Party42 na sua bunda.
Com um bufo, Neal se inclinou para jogar o peixe no fogo, mas
Rock o parou.
—Coloque algumas folhas frescas em parte do fogo, depois
coloque as trutas sobre elas e cubra-as com mais folhas. Elas irão

41
é um personagem de banda desenhada criado em 1967 por Don Martin . Ele é uma paródia de
personagens de super-heróis .
42
Foi um grupo de pioneiros americanos que ficaram presos em um vagão a caminho da California
durante o inverno de 1846-47 e praticaram canibalismo para sobreviver.

KM
proteger da fumaça, fazer com que cozinhem mais rápido e evitar que
queimem. Folhas frescas e vivas levam uma eternidade para queimar.
Neal fez o lhe foi dito e, em poucos minutos, eles mastigavam
trutas assadas no fogo. Apesar de seus ferimentos, Rock se sentiu
muito melhor com a barriga um pouco cheia. Foi quando suas
pálpebras começaram a fechar. Ele quase dormiu quando algo o
sacudiu com força.
—Hã? Porra?
—Você está machucado, lembra? Eu só tenho que ter certeza de
que você está dormindo, em vez de desmaiar ou apagar.
—Eu não estou fazendo nenhuma dessas coisas. Estou cansado
pra caralho, e meu corpo sabe que teremos uma longa e quase
impossível jornada pra fora daqui. Preciso curar.
Neal olhou para ele por alguns segundos, depois assentiu
decididamente.
—Tudo bem, você me convenceu. Mas eu vou te acordar e checar
suas pupilas a cada duas horas. Não é negociável.
—Ugh, tudo bem. Vamos dormir.
Com a ajuda de Neal, Rock colocou o casaco em volta dos ombros
e enfiou o braço bom na manga. Então Neal passou a manga esquerda
solta por cima da tipóia. Os olhos de Rock começaram a se fechar
novamente até que ele sentiu um caloroso e delicioso peso contra seu
lado bom.
—O que você está fazendo?

KM
—Afago, seu idiota. Tem algum problema com isso? Sem a
desculpa de que precisamos compartilhar o calor do corpo. Eu quase
perdi você hoje, então sim, eu irei afagar você, idiota irritado.
—Oh, acalme-se. Eu não estava dizendo que você precisa parar.
Neal passou o braço por baixo do pescoço de Rock e enrolou
cuidadosamente o outro em volta da cintura, logo abaixo da tipóia.
—Costelas—, disse Rock automaticamente.
—Eu sei. Eu estou tomando cuidado. Mas me diga se eu te
machucar.
—Eu vou te chutar se você me machucar, mas é o mesmo
princípio, eu acho.
A risada de Neal fez cocegas na orelha de Rock, dando-lhe bons
arrepios pela primeira vez desde o acidente. Ele suspirou
contente. Ele não tinha ideia do que eles iam fazer quando o sol
nascesse, mas naquele momento ele estava vivo e eles estavam juntos,
então ele colocou isso na coluna da vitória. Dessa vez, quando ele se
fechou os olhos, nada o interrompeu, exceto as suaves respirações de
Neal, que balançavam seu cabelo. A última coisa que ele sentiu antes
de dormir foi um beijo suave logo abaixo da orelha.

Quando Rock acordou na manhã seguinte, seu corpo era um


pedaço gigante de agonia. Dormir no chão duro e ficar parado por
tantas horas deixara seus membros rígidos e desabrochando com um
caleidoscópio de novos hematomas. Ele não tinha ideia de como ele

KM
se manteria em pé, muito menos como faria a caminhada até o ponto
exfil.
Ao som das folhas farfalhantes, ele olhou para cima e viu Neal
caminhando em sua direção com uma mão cheia de pinhas. Seu belo
rosto tinha uma expressão cautelosa que Rock não entendia
direito. Neal parou a poucos metros do acampamento e ergueu as
sobrancelhas.
—É seguro me aproximar agora?
Rock inclinou a cabeça, o que causou um quente golpe de dor em
seu pescoço.
—Huh?— Ele perguntou com uma careta de dor.
Neal lentamente se aproximou.
—Você não se lembra da noite passada?
Ele vasculhou sua mente para encontrar um fragmento de
qualquer coisa que lhe dissesse o que Neal estava falando.
—Uh...
—Oh, bem, você não aceitou muito gentilmente eu te acordar para
checagens de concussão.
Rock estremeceu.
—Uh-oh.
Neal encolheu os ombros e pousou as pinhas ao lado de Rock.
—Você tentou alguns socos… e assim que você tentou com a mão
esquerda. A dor te irritou ainda mais.
—Jesus, me desculpe.
—Tudo bem. Eu estou apenas provocando você, eu estou feliz que
você ainda esteja vivo. Eu tive muito pior quando dirigia a ambo.

KM
—Ambo?
—Ambulância. Desculpe, era como Paddy chamava. Ele é
irlandês, e essa é a gíria do Reino Unido pra ambulância. Eu meio que
peguei.
Rock sorriu porque gostava de obter pequenos vislumbres da vida
de Neal fora desta viagem. Era ótimo que ele tivesse um grupo tão
sólido de amigos, muitos dos quais eram gays, o que devia ajudar Neal
a se sentir confortável com sua orientação. Isso era algo que Rock
nunca teve. Ele se perguntou, talvez, se ele tivesse algumas fortes
amizades com outros homens ou mulheres gays, ele sentiria o mesmo
sobre sair. Seu primeiro instinto foi dizer sim, ele faria, mas ele não
tinha mais tanta certeza.
Neal olhou para cima enquanto quebrava pinhas para coletar
nozes no café da manhã, até que pudessem encontrar algo melhor.
—Então, o que precisamos fazer primeiro?
—Primeiro… encontrar minhas calças que você tirou de mim
quando me resgatou. Preciso pegar o telefone e ver se ainda
funciona. Passar por uma cachoeira pode ser difícil para produtos
eletrônicos.
Neal bufou.
—E humanos também, caso você tenha esquecido.
—Merda, lembro das minhas contusões a cada batida do coração,
obrigado.
Assim que Neal encontrou o par certo de calças, ele as jogou para
Rock. Dois minutos depois, Rock estava esfregando as têmporas
enquanto olhava para o inútil pedaço de tecnologia. Eles estavam tão

KM
fodidos. O telefone estava frito, e lá estavam sentados sem uma porra
de saco de arroz à vista. Tanto para o maldito case à prova
d'água. Todas as outras palavras na cabeça de Rock no momento
eram foda, e não do tipo bom.
—Está morto—, disse ele quando conseguiu falar sem xingar.
—Tudo bem, não vamos entrar em pânico—, disse Neal, e quando
ele se tornou a voz da razão? —Qual é o plano B?
—Plano B, plano B—, Rock se moveu quando ele bateu na testa e
tentou pensar através da dor em sua cabeça. —O plano B seria...
continuar conforme o planejado para as coordenadas do
encontro. Tenho noventa e cinco por cento de certeza de que não
conseguiremos chegar a tempo, mas, como há uma chance de que eles
esperem um pouco, precisamos tentar. Além disso, se o helicóptero
voltar sem a gente, eles informarão que estamos desaparecidos. O
primeiro lugar que qualquer grupo de busca vai começar é onde
deveríamos estar. Isso significa que precisamos ficar o mais próximo
possível do local.
Neal assentiu, entregando a Rock alguns pinhões e seu cantil.
—Como chegamos lá?
—Se estamos onde eu acho que estamos...— Deus, Rock esperava
que sim. —Então podemos seguir este riacho para o sul até chegar a
outro riacho. Há um belo prado plano no ponto de encontro dos dois
riachos, que é onde eu programei para o helicóptero pousar.
—Seguir o riacho ao sul até chegarmos a um prado e/ou outro
riacho. Parece bastante simples.

KM
—No planejamento, sim. Fisicamente, não tanto. Vai ser uma
caminhada longa e lenta comigo na minha condição atual. E ainda
não estamos fora da floresta, literalmente. Pode haver obstáculos.
Muito provavelmente serão obstáculos que podem nos atrasar ou nos
deter completamente.
—Bem, eu acho que a primeira coisa que temos que fazer é colocar
você em pé e ver como você está—, disse Neal.
O estômago de Rock se agitou com a idéia de puxar seu corpo
ferido e quebrado do chão, mas tinha que ser feito. Se
ele pudesse andar, ele iria andar. Se ele não pudesse, bem, ele
encontraria um jeito de forçar Neal a continuar sem ele. Ele sabia que
Neal resistiria como um gato indo para a banheira, então ele nem
sequer falou sobre isso. Ele veria como as coisas estavam primeiro,
mas de um jeito ou de outro, ele iria tirar Neal das montanhas.
Agachando-se no lado esquerdo de Rock, Neal enfiou um ombro
por baixo do braço bom, depois olhou-o nos olhos.
—Pronto?
—O mais próximo disso.
Ele puxou os joelhos para o peito suavemente, de modo que seus
pés ficassem sob ele quando Neal o ajudasse a se levantar. Mesmo
aquele pequeno movimento enviou dor zumbindo através de sua caixa
torácica. Neal ergueu Rock para cima como se não pesasse nada, mas
para Rock parecia que pesava mil quilos, todos caindo sobre o corte,
torção e pernas machucadas. Ele rangeu os dentes e rosnou através
da dor até que ele estava em pé e sob sua própria força, na

KM
maioria. Neal ainda tinha aquele braço robusto enrolado em suas
costas.
—Como se sente?— Neal perguntou, depois estreitou os olhos em
advertência. —Não me dê sarcasmo agora - porque eu sei como seu
cérebro funciona - apenas me diga o que dói e onde.
Rock soltou uma risada silenciosa porque ele tinha certeza que
tinha queimado suas cordas vocais com a imitação de homem das
cavernas que acabara de fazer.
—O tornozelo é o pior, mas acho que vou poder andar nele se tiver
cuidado. A ferida na parte de trás da minha coxa é pouco mais do que
um incomodo também. Enquanto eu mantiver a maior parte do meu
peso do lado esquerdo, acho que posso andar. Se você cortar alguns
galhos fortes, talvez eu possa fazer uma muleta.
—Eu vou ser sua muleta.
Balançando a cabeça, Rock se moveu para o pé direito e rolou o
tornozelo ruim experimentalmente.
—Isso vai cansar você demais. Você precisa manter suas forças o
máximo que puder, porque terá muito trabalho a fazer se tivermos
que acampar novamente.
Neal abriu a boca para argumentar, mas Rock o interrompeu.
—Eu vou me cansar, mesmo com uma muleta, então você pode
me ajudar depois. Ok?
—Tudo bem— resmungou Neal enquanto se dirigia às árvores,
presumivelmente para encontrar madeira para a muleta.
O que Rock não queria dizer era que, agora que ele estava de pé,
estava quase certo de que não conseguiria. Não era pessimismo, era

KM
ser realista. Em algum momento, ele teria que convencer Neal a
chegar ao ponto exfil e depois enviar ajuda. O principal objetivo de
Rock era garantir que Neal subisse naquele helicóptero. Se a maneira
de conseguir isso era mandá-lo para lá sozinho, é o que Rock faria, por
qualquer meio necessário.

KM
Vale de Upper Bearcat

Alguma coisa estava errada. Neal não conseguia identificar, mas


Travis estava estranho. Ele estava quieto. Alerta. Não só isso, mas ele
voltou para seu modo ranzinza e grosseiro. Poderia ser a dor. Neal
tinha certeza de que ele mal tolerava andar, mas tinha a sensação de
que Travis tivera sua parcela de dor intensa. Ele tinha sido um
soldado ativo das Forças Especiais, sem mencionar suas inúmeras
excursões de escalada e sobrevivência, além de saltar de base, saltar
de paraquedas, salto de helicóptero e praticamente todo o resto
perigoso. Era por isso que a ideia de ele se desligar por causa da dor
não parecia verdade.
Ele havia silenciosamente cortado os galhos que Neal havia
trazido, com um braço só, usando as pernas para alavancar, até que
elas estavam do tamanho certo para amarrar com paracord e fazer
uma muleta. Neal não se incomodou em tentar fazer isso por ele,
porque sabia exatamente como aquela conversa iria acabar, rosnando
e sangrando. Mesmo depois que Travis envolveu o apoio das axilas
com uma camisa extra, a engenhoca parecia extremamente
desconfortável. Mas Neal sabia que ele nunca iria admitir isso.
Agora que estavam andando, Neal se sentiu um pouco melhor
sobre o fato de “estar preso nas montanhas”. Pelo menos eles tinham

KM
um plano e estavam executando-o. Ainda estavam descendo a
encosta, mas o terreno era muito mais fácil a 1.600 metros do que a
oito mil. Enquanto desciam, o ar ficava mais quente, portanto o solo
era muito menos escorregadio. Mas ainda era um labirinto traiçoeiro
de árvores, pedras e lama da chuva torrencial.
Travis tropeçou, soltando um pequeno grunhido que
provavelmente era um grito dentro do maldito crânio macho
dele. Com um suspiro, Neal alcançou-o de seu lugar na parte de trás
de sua procissão heterogênea.
—Você pode simplesmente deixar sair, sabe. Não há ninguém
aqui para ouvir isso além de mim.
—Eu estou bem—, disse ele em um tom conciso que estava mais
perto de um chiado do que seu grunhido costumeiro.
—Bem, isso é besteira e nós dois sabemos disso, mas vou deixar
passar. Por agora.
—Tão— Grunido. Rosnado —-magnanimu-— Rosnado —...de
você.—Grunido .
Era literalmente doloroso para Neal até ver Travis tentar fingir
que estava bem.
—Olha, por que não paramos para um rápido des-
As costas de Travis se enrijeceram e ele levantou a muleta sobre
a cabeça com o braço bom e jogou-a no chão.
—Jesus Cristo, eu disse que estou bem , droga!— O gesto foi meio
que arruinado pelo jeito que ele teve de pular basicamente em uma
perna - oh, e havia a tipóia do ombro - mas Neal teve a sensação de
que era o orgulho dele que estava doendo mais no momento.

KM
Mas ele também era... adorável. Seu cabelo se soltou e estava
escovando o capuz de seu casaco. Seu peito se projetava em uma
postura de guerreiro com o punho cerrado ao lado do corpo.
Sobrancelhas grossas cortavam os olhos encapuzados e
brilhantes. Aquela mandíbula quadrada flexionada e solta, quase
como se ele estivesse esperando Neal dar um soco.
Com movimentos cuidadosos e medidos, Neal foi pegar a muleta,
mas não devolveu a Travis. Ele colocou por cima do ombro quando se
virou para encará-lo.
—Não—, disse Neal em voz baixa.—Você não está bem. Mas eu
entendi. Agora você sabe como me senti.
A postura agressiva de Travis esvaziou e ele baixou o olhar para
o chão. Então um pequeno sorriso curvou seus lábios.
—Sim, e nós dois sabemos o que você fez sobre isso, não é?—
Seus olhos eram maliciosos quando ele olhou para Neal. —É isso que
você quer que eu faça?
Um súbito ímpeto de desejo inundou os sentidos de Neal, porque
ele tinha certeza de que Travis estava falando em fode-lo. Com as
costelas quebradas, uma perna e meia, Travis falava em fode-lo. Ele
teria rido do absurdo disso se todo o ar não tivesse saído de seus
pulmões quando a luxúria o acertou como um soco no plexo solar. Ele
engoliu em seco.
—Você sabe, se não parecesse que uma brisa forte poderia
derrubar você, eu estaria ansioso por isso.
Isso tirou o sorriso e o rubor do rosto de Travis. Ele olhou para
Neal por alguns segundos, respirando com dificuldade de novo, antes

KM
de perceber que Neal estava segurando a muleta. Ele pegou com um
resmungado “obrigado”. Várias maldições e algumas caretas
doloridas depois, ele teve a barra de apoio situada debaixo do braço
mais uma vez.
—Talvez quando nós...— Ele balançou a cabeça.
O estômago de Neal deu uma cambalhota. Travis estava prestes
a dizer o que ele achava? Que ele queria se encontrar com Neal
quando voltassem para casa? O que isso significava para um homem
tão profundamente no armário? O que isso significaria para Neal?
—Talvez quando nós o quê?
Travis inclinou a cabeça, colocou o peso na muleta e deu alguns
passos trêmulos.
—Nada. Deixa pra lá. Precisamos continuar nos movendo.
Neal suspirou e balançou a cabeça. Era sempre o mesmo ao
envolver-se com caras no armário. Era sempre uma má ideia. Ele
deveria estar agradecido que Travis não parecia disposto a perseguir
qualquer coisa. Ele resolutamente tomou seu lugar atrás de Travis
para o caso de ele tropeçar, e eles continuaram para o sul. A paisagem
permanecia praticamente a mesma, com os pinheiros altos
bloqueando qualquer visão das majestosas montanhas ao redor deles
e os larios espessos escondendo rochas perigosas e mergulhando no
chão. Quando chegaram a um bosque de amieiros, tiveram que
contorná-lo, em vez de abrir caminho, porque Travis não tinha a
mobilidade para um movimento tão delicado.
Por mais doloroso que fosse assistir, Travis nunca reclamou. Ele
continuou se arrastando pela floresta apesar de seus ferimentos. Em

KM
um momento, Neal conseguiu convencê-lo a fazer uma pausa, só
porque ele próprio precisava descansar. Ele estava com fome, mas
eles não tinham tempo para caçar, e eles só tinham mais um dia de
rações de trilha - eles precisavam guarda-las para emergências no
caso de ficarem presos por mais tempo do que esperavam.
À sua frente, Neal viu Travis parar quando ele se aproximou de
uma clareira. Seus ombros caíram quando ele se afastou.
—Merda. Grande problema— disse Travis.
—O que é?— Neal perguntou, levantando-se para olhar por cima
do ombro de Travis para ver qual obstáculo estava diante deles. Ele
engasgou com o que estava por vir. Eles estavam na borda da
floresta... em cima de um pequeno cume. Pequeno era relativo - não
era nada parecido com os cumes que atravessaram enquanto subiam
o monte Silver, mas era algo que eles não podiam escalar
livremente. Neal era um completo amador, mas mesmo ele podia ver
que não havia como eles descerem sem uma corda.
—Nós poderíamos passar ao redor?— Neal perguntou.
Travis examinou a extremidade oeste da cordilheira e depois o
leste.
—Não é muito alto, mas é largo. Se dermos a volta, vai
acrescentar meio dia à nossa caminhada... pelo menos. Nós já
estamos propensos a perder a nossa carona.— Ele balançou a cabeça,
a mandíbula cerrada. —Não, nós temos que descer.
—Mas… Quero dizer, faz anos que eu trabalhei como
paramédico, alguns de meus conhecimentos podem estar

KM
desatualizados, mas posso dizer com confiança que o rapel não está
na lista de coisas que você pode fazer com uma tipóia e uma muleta.
Travis enviou-lhe um olhar de reprovação que Neal leu como
“Duh, cadela”, ou algo nesse sentido.
—Eu sei disso. Eu sou louco, não estúpido. —Ele acenou para a
mochila, que Neal insistiu em carregar para ele. —Retire a corda de
escalada, os arreios e todas as caixas que você puder encontrar. Você
vai ter que fazer um rapel de resgate.
—Um o que?— Neal guinchou em um tom geralmente reservado
para banshees43 e assobios de cachorro.
—Fácil. Você consegue. Você vai descer de rapel primeiro e fazer
o cerco de um bombeiro...
—Eu não sei o que isso significa!
Travis apertou o ombro de Neal com força suficiente para
concentrar seus pensamentos embaralhados.
—Acalme-se. Se você parar de interromper, vou explicar para
você.
Engolindo audivelmente, Neal assentiu.
—Por favor faça.
—Você descerá primeiro e eu localizarei você. Vou usar uma
árvore para alavancar e tirar um pouco do seu peso. Assim que você
chegar no chão abaixo, você vai assumir a postura e controlar a minha
descida, já que eu só tenho um braço. Eu coloquei um Rescue 844, um

43
é um ente fantástico da mitologia celta que é conhecida como Bean Nighe na mitologia. Fala-se que a
Banshee seria um ser malígno, o qual capturava e se alimentava do cérebro de sua vítima.

44

KM
dispositivo de controle de descida, apenas para emergências, então
vamos usa-lo para facilitar as coisas para você.
—Espere, você teve essa... coisa o tempo todo, mas nós fizemos
rapel com nada além de seus extravagantes nós? Jesus.
Travis sorriu, embora seus olhos ainda estivessem vidrados de
dor.
—A ideia era ensiná-lo a sobreviver com o mínimo possível. Se
você estivesse perdido, provavelmente não teria equipamentos de
escalada aleatórios, não é mesmo?
—Eu acho que não—, Neal murmurou.
—Assim que você estiver lá embaixo, você dê uma folga na
corda. Eu vou ficar sentado na borda, preso, então eu só terei que me
soltar e deixar a corda pegar meu peso. Quando você puxar a corda
que está presa no Resgate 8, irá parar minha descida.
—Ok, eu acho que não temos muita escolha, mas você vai ter que
me encorajar como se eu fosse um idiota, então eu não matarei nós
dois.
—Você vai ficar bem—, disse Travis.
Neal não podia dizer se a carranca era de dor, nervosismo ou
apenas a expressão ‘cadela’ dele, mas ele teve a sensação de que Travis
não estava tão confiante em suas chances quanto fingia.
—Coloque seu equipamento, porque você vai ter que me ajudar
com o meu.
Neal entrou em seu equipamento e apertou-o em torno de sua
cintura e coxas, com cuidado para não beliscar muito sua
virilha. Então ele puxou Travis para ele e apoiou seu peso enquanto o

KM
ajudava. Neal se ajoelhou para puxar a corda e prendê-la, o que
colocou o seu rosto exatamente na virilha de Travis. Era o momento
mais inoportuno para ficar excitado, mas ele não pôde evitar. Por
mais dominante que ele tenha sido em seu... flerte até agora, ele
realmente gostava de se ajoelhar para um homem.
Travis olhou para ele, seus olhos escuros e ilegíveis. Ele engoliu
em seco, depois passou a mão pelo cabelo curto de Neal.
—Vamos acabar com isso, sim? Haverá tempo para outras coisas
quando acamparmos.
Neal assentiu, incapaz de afastar o olhar da intensidade de
Travis. Finalmente ele se levantou, então olhou em volta, impotente,
para descobrir o que fazer a seguir.
—Aperte uma âncora naquela grande árvore ali. Este já é um
rapel bastante arriscado. Não precisamos piorar confiando na fricção
e na flora para nos dar força.
Neal mal entendeu o que ele queria dizer, mas menos arriscado
parecia bom para ele, então ele pegou uma das duas âncoras e
caminhou até a árvore.
—Coloque tudo bem alto. Isso tornará mais fácil para mim
quando for descer.
Ele fez o que lhe foi pedido. Travis o convenceu a enfiar a corda
na âncora e depois no dispositivo Rescue 8, algo que ele
definitivamente não seria capaz de repetir sem ajuda. Travis prendeu
o dispositivo ao laço de segurança em seu cinto.
—Eu não quero que você use o engate de Munter, que é o que eu
usei em você quando nós descemos antes. Porque não é a coisa mais

KM
segura do mundo. Não podemos ter ambos feridos. Podemos usar os
mosquetões extras para improvisar um DCD45 para você.
—O... kay—, disse Neal. Isso soou muito complicado. Maldito
Travis e seu braço problemático. Neal estava escolhendo esquecer que
ele tinha sido a causa de toda a bagunça para começar.
—Agarre o mosquetão de segurança...
Neal olhou impotente para a pilha de equipamento de escalada,
que poderia ter sido armas medievais por tudo o que sabia sobre elas.
Travis suspirou.
—O grande e grosso com o anel de metal no lado do portão.
Neal piscou para ele.
—O grande e aberto.
—Ah, entendi.— Neal pegou o clipe de metal e começou a
entregá-lo para Travis, mas ele levantou a mão, indicando que Neal
deveria mantê-lo.
—Então você precisa de quatro do tipo normal.— Ele esperou até
que Neal os pegasse. —Prenda o grande ao seu laço de segurança. Em
seguida, prenda dois comuns no biner46 - certifique-se de que as
pontas estejam em lados opostos e que as extremidades do biner
estejam orientadas também.
Neal não tinha certeza se entendia o que Travis estava dizendo,
mas prendeu os mosquetões no lugar. Quando ele olhou para Travis e
ele assentiu, Neal sentiu uma onda de orgulho por ter acertado pela
primeira vez.

45
Dispositivos de controle de descida.
46
Gíria para mosquetão.

KM
—Passe um laço da corda pelos dois biners e prenda mais dois no
laço.
—Assim?— Neal perguntou depois que ele concordou.
—Quase. Você precisa que a corda passe por cima das lombadas
em vez das entradas. Esses biners se tornarão o seu sistema de freio,
então você não quer que eles se abram espontaneamente. Certifique-
se de que as extremidades também sejam opostas.
Neal removeu os mosquetões e os recolocou da maneira
correta. Quando ele terminou, a forma da conflagração de clipes de
metal se assemelhava à forma do Rescue 8.
—Legal—, ele disse, impressionado com o conhecimento de
Travis.
—Idealmente, estaríamos fazendo isso com duas cordas, mas eu
fiz as malas apenas com o mínimo para sobrevivência. Se você decidir
fazer escalada, não será assim.
—Você sabe, depois disso, acho que vou ficar em baixo por um
tempo. Terra firme.
—Eu não culpo você.— Travis olhou para o céu e franziu o
cenho. —Estamos perdendo a luz do dia e não tenho certeza se não vai
chover de novo depois do anoitecer. Nós precisamos ir agora. Está
pronto?
Neal se arrastou para trás até a borda da cordilheira.
—Hum, mais ou menos?
Travis tentou um sorriso encorajador, mas ficou aquém.
—Você vai ficar bem. Você controla isso da mesma maneira que
fez com o engate de Munter.

KM
—O-ok—, disse Neal. Ele segurou a corda levemente com a mão
esquerda e firmemente com a mão direita - a mão do freio. Seu
estômago estava se revirando quando se inclinou para trás, longe da
segurança e na direção de uma possível desgraça iminente. Quando
seus pés estavam apoiados na face vertical do monte e seu corpo
estava quase reto, ele deu um pouco de folga na mão de freio e deu um
passo. Então outro.
Travis estava segurando o excesso de corda com o braço bom, no
caso de Neal mergulhar de repente, mas sabia que Travis
provavelmente seria puxado também. Ele tinha que conseguir.
Arrastando-se um pouco mais perto da borda, Travis olhou para ele.
—Dê-me um grito e um puxão quando você descer.
Com um breve aceno de cabeça, Neal continuou com seu passo
para trás, tentando esquecer que ele estava realmente descendo um
penhasco. Assim que ele estava a cerca de um terço do caminho, seu
batimento cardíaco diminuiu, ele parou de suar como um porco em
um espeto, e ele realmente começou a se divertir. Foi o seu... terceiro
rapel, então ele estava começando a pegar o jeito. No momento em
que ele se deixou sorrir e respirar, seu pé bateu em uma pedra que se
desintegrou, e isso o fez girar na corda.
—Foda-se!— Ele lutou contra o medo puro para tentar obter o
controle do corpo.
—O que aconteceu?— Travis gritou de cima, tensão e dor
evidente em seu tom.
—Perdi meu apoio. Estou tentando parar de girar.

KM
—Apenas role com isso. Ficar agitado só fará você girar mais
rápido. Fique parado até que diminua o suficiente para agarrar um
apoio. Se você não puder voltar à posição, apenas abaixe-se.
Neal gostou do som daquela última parte, então assim que o giro
parou e ele estava de frente para o penhasco mais uma vez, ele soltou
o freio. Ele mergulhou completamente rápido demais, então segurou
a corda com força para se conter, arrancando uma camada de pele de
sua mão no processo. Ele podia ver porque os escaladores tendiam a
usar luvas.
Ele manteve o ritmo sob controle e continuou baixando até que
seus pés finalmente estavam no firme musgo na base do penhasco.
—Eu consegui!— Ele gritou até o topo. Então ele deu à corda um
forte puxão. Sabendo que a próxima parte seria mais difícil, ele não
comemorou muito.
—Solte!— Travis gritou, e Neal soltou a corda. O cascalho choveu
em Neal quando Travis se aproximou do penhasco. Ele se inclinou
para trás e deixou-se escorregar até que ele estava pendurado na
corda na mesma posição sentada. A tipóia estava em seu braço
esquerdo, então ele não podia segurar a corda para se firmar, mas ele
pelo menos tinha uma mão de freio para começar.
—Tudo bem, estou pronto. Agora você lentamente afrouxa a
corda para me abaixar. Entendido?
De seu tom truncado, Neal percebeu que Travis estava rangendo
os dentes contra a dor. Ele só podia imaginar o que essa posição
estava fazendo em suas costelas - para não mencionar suas outras
torções. Deixando de lado a corda, Neal se concentrou na descida de

KM
Travis. Quando ele o abaixou rápido demais, Travis começou a
girar. Se ele girasse demais, ele acabaria sendo esmagado na rocha
como Neal, só que seria muito pior para uma pessoa já ferida.
Parecia que demoraria uma eternidade no ritmo que eles
estavam, mas, eventualmente, os pés de Travis também tocaram o
chão. Quando ele se endireitou, ele balançou até que Neal deslizou seu
ombro debaixo do braço bom de Travis.
—Calma lá. Você está bem?
Travis estava ofegante e pálido de dor.
—Sim. Eu só... preciso descansar por... um minuto.
—Boa ideia. Eu também gostaria de me sentar.— Neal guiou
Travis até um ponto claro ao sol e ajudou-o a sentar-se. Então ele se
jogou no chão ao lado dele.
Neal respirou fundo várias vezes até que a respiração de Travis
desacelerou para combinar com a sua. Então Travis se inclinou para
trás até que ele estava em uma posição deitada no chão macio.
—Normalmente eu não recomendo deitar depois de uma
atividade extenuante, mas foda-se, tudo dói.
Neal riu, ridiculamente satisfeito por Travis se sentir confortável
o suficiente com ele para admitir fraqueza. Ficaram em silêncio
enquanto os minutos passavam, até que finalmente Neal não
aguentou mais.
—O que fazemos agora? Ainda estamos no caminho certo?
—Sim, ainda estamos.— Travis rolou a cabeça para olhar na
direção de Neal. —Temos uma decisão a tomar. Você poderia
continuar em direção ao ponto exfil e provavelmente acabar

KM
acampando no escuro, ou você pode acampar agora e recomçar
amanhã.
—Qual é a vantagem de acampar na trilha?
—Não vai ter de caminhar no escuro. Deveria ser claro com o
luar, mas com essas nuvens, ou você pode usar a lanterna do celular.
—Então, qual é a vantagem de continuar esta noite?
—Bem, você chegará muito mais rápido ao local correto - o local
para o qual o piloto do helicóptero tem as coordenadas. Nosso
encontro deveria ser essa tarde, então você vai perde-lo,
independentemente... mas e se você não continnuar e eles voltarem e
checarem novamente de manhã? Você irá perde-los novamente
enquanto estava a caminho.
—Eu digo para continuarmos. Não adianta aumentar nossas
chances apenas para perd- espere. Por que você continua
dizendo você e não nós?— Neal perguntou, quando seu coração
acelerou de novo. Ele sabia que algo estava errado com Travis.
—Porque você vai continuar sem mim. Você aprendeu o
suficiente para poder acampar, e não posso correr o risco de atrasá-
lo, e assim, ambos perdermos o helicóptero. Você pode enviar ajuda
quando chegar lá.
—Absolutamente não, porra!—, Neal disse com um grunhido de
raiva.

KM
Vale inferior no Bearcat

Filho da puta teimoso.


Rock olhou para Neal de seu lugar no chão. Ele se machucou
todo. Seu corpo inteiro doía e latejava como um dente podre, e ele
estava tão cansado. O pensamento de se mover daquele ponto
alternadamente quase o fez chorar e o fez querer vomitar. Ele estava
subvertendo muito disso para o bem de Neal, o cara estava
preocupado o suficiente como estava, mas estava chegando ao ponto
em que ele não poderia mais continuar Rock estava duvidando
seriamente de sua capacidade de chegar ao ponto de encontro.
A voz aguda de Neal era como um picador de gelo em sua
têmpora.
—Eu posso ser completamente incompetente aqui fora, mas até
eu sei que você nunca deve se separar quando se está na floresta.
Rock forçou uma tragada pela garganta seca e lambeu os lábios
rachados.
—Isso é só se você for fisicamente capaz e puder viajar. Quando
alguém está ferido, às vezes o outro precisa pedir ajuda.
—Eu não vou deixar você congelar até a morte ou se tornar
comida de coiote.— Neal mostrou os dentes, e se Rock não estivesse
com tanta dor, essa expressão o teria deixado duro.

KM
—Se você pensar com seu cérebro em vez do seu pau por meio
segundo, Hesse, percebera que essa é a coisa mais inteligente a
fazer. Meu trabalho é levá-lo a esse helicóptero com segurança, e se a
única maneira de fazer isso é ficar para trás, então é isso que irei fazer.
Os olhos de Neal se estreitaram e seu rosto ficou vermelho
quando Rock sugeriu que sua razão para não querer sair era
sexual. Claro que não era, mas se Rock estava tentando deixar Neal
irritado o suficiente para sair, ele tinha que jogar sujo.
—Você é um idiota, mas eu sei o que você está tentando
fazer. Mas nós dois iremos para o ponto de encontro, mesmo que eu
tenha que te jogar por cima do ombro e carregar você, —Neal disse,
os olhos brilhando.
A maneira como ele estava reagindo ao tom de comando de Neal,
Rock estava começando a questionar quem exatamente estava
pensando com o pau.
—Nós dois podemos morrer aqui.
—Ou nós dois podemos sair. Não estou disposto a arriscar o
segundo tentando evitar o primeiro. Digo para seguimos para o ponto
de encontro e aproveitamos o pôr do sol. Nós dois.
Rock soltou um suspiro pesado, depois fez uma careta quando
suas costelas quebradas se moveram com o movimento de seus
pulmões.
—Bem. Mas há algo que tenho que fazer para conseguir
continuar andando.
—Ok. Como posso ajudar?

KM
—No compartimento principal da minha mochila, do lado
esquerdo, perto da parte de baixo, há um minúsculo bolso com zíper
que uso para guardar coisas que não podem ser perdidas, como
minhas chaves ou carteira quando as trago. Abra e me entregue o saco
de plástico que está lá dentro.
Neal vasculhou a mochila até encontrar o bolso, depois tirou a
bolsa Ziploc em miniatura. Ele aproximou do rosto, encarando as três
pílulas dentro. Ele olhou para Rock, levantando uma sobrancelha
loira.
—Você tem um hábito que eu não conheço?
Rock revirou os olhos e pegou a bolsa de Neal.
—Sério? Claro que não. Eles são com prescrição, idiota. Eu tenho
um esporão de osso no meu tornozelo, que provavelmente
enfraqueceu e tornou mais suscetível a lesões durante a minha queda
na cachoeira. Esse é o Percocet47 que o médico tentou me
empurrar. Eu não gosto de toma-los, mas eu tomo alguns em caso de
emergência. Eu acho que isso se qualifica. Se eu não empurrar esses
analgésicos na minha garganta, não vou me levantar deste chão.
—Inacreditável. E você não considerou ser arrastar pelo lado da
montanha e quase morrer como uma emergência?
Rock encolheu os ombros.
—Como eu disse, não gosto de tomá-los. Não gosto do que eles
fazem para mim. Mas não vou andar mais dez metros se não toma-
los.

47
Remedio para dor.

KM
—Bem, vamos continuar com isso então—, disse Neal com um
sorriso, tentando mas não conseguindo mascarar sua apreensão, e
entregou a Rock um dos cantís.
Rock tirou um dos comprimidos ovais da sacola, depois devolveu
o restante a Neal para voltar ao bolso. Ele jogou a pílula na boca e
engoliu com um gole de água. Mesmo que fosse um remédio para dor
narcótico, não o deixaria sonolento a menos que ele parasse de se
mexer. Poderia, no entanto, deixá-lo um pouco tonto - mas não mais
do que a dor que já sentia. Ele esperava ser capaz de continuar se
concentrando além do nevoeiro.
Depois de esperar o tempo suficiente para que a dor diminuísse
um pouco, mas não tempo o bastante para seu cérebro ficar confuso,
Rock permitiu que Neal o ajudasse a se levantar. Então ele olhou para
o penhasco que eles tinham acabado de descer.
—Puxe a corda para baixo e enrole-a.— Ele espalmou uma das
facas de caça e começou um arrastar desajeitado para as árvores.—Eu
tive que deixar minha muleta lá em cima, então vou encontrar um
galho para fazer uma bengala. Entre isso e você, eu poderei me virar.
—Tem certeza de que não precisa que eu...
—Eu posso cortar uma árvore fina com uma mão—, disse ele,
tentando não gritar, mas falhou espetacularmente. Neal levantou as
mãos em sinal de rendição e recuou em direção aos penhascos. A
maneira como sua boca se contorceu em um sorriso disse a Rock que
ele estava mais divertido do que ofendido. Bastardo.
Quando Rock olhou ao redor, ele teve a sorte de encontrar uma
árvore derrubada recentemente que havia endurecido bem no ar seco

KM
dos Alpes. Usando a faca grande, ele cortou a ponta do galho e nivelou
com a outra. Usando o bastão como uma terceira perna, inclinando-
se para manter seu peso fora do lado esquerdo, voltou para Neal, que
acabara de arrumar o equipamento de rapel.
—Nós só temos um par de horas do dia sobrando, então temos
que nos mover.— Ele apontou com o queixo para o galho que ele
estava carregando. —Não é tão bom quanto uma muleta, mas vai
servir por um tempo. Quando eu ficar muito dolorido, vou ter que me
apoiar em você.
—Você pode se apoiar em mim a qualquer momento.— Os olhos
de Neal estavam muito intensos para um assunto simples, mas Rock
se recusou a se deixar ler qualquer coisa nisso. Não adiantava
começar a querer coisas que ele não poderia ter.
Continuaram andando para o sul enquanto o sol continuava
baixando em direção ao horizonte à direita. O Percocet lentamente fez
seu trabalho em Rock. Onde antes, cada passo tinha sido agonia com
a coxa, o tornozelo, as costelas, o ombro e a cabeça latejando, agora
ele estava sentindo apenas um desconforto moderado. Ele não estava
feliz com a maneira como sua cabeça girava levemente, e sua boca
parecia um pouco relaxada, mas era um sacrifício que ele estava
disposto a fazer para poder se mover.
Quando ele tropeçou, encontrou Neal ao seu lado, deslizando por
baixo do braço para ajudá-lo a ficar de pé. Rock odiava ser dependente
mais do que qualquer outra coisa no mundo, mas ele estava grato pela
ajuda. Se ele estivesse sozinho, ele nunca teria chegado tão longe.

KM
Quando o sol quase se pôs atrás das árvores, quase de repente,
os arbustos sumiram e a floresta se abriu para revelar um prado plano
e gramado.
—Bem, eu estou surpreso—, Rock suspirou. —Conseguimos.
—Certo, certo, nós conseguimos—, disse Neal ferozmente, e a
expressão em seu rosto era a coisa mais quente que Rock tinha visto
em muito tempo. —E eu não sou um cara legal o suficiente para não
dizer que eu te avisei.
Rock olhou para ele.
—Eu não consigo nem me concentrar o suficiente pra isso fazer
sentido. Tanto faz. Neste caso, estou feliz por estar errado. Temos que
correr para montar acampamento, entretanto.
—Devemos voltar para a floresta e procurar por ruínas ou
cavernas?
—Normalmente nós o faríamos, mas desde que estamos
tecnicamente presos agora e esperando pelo resgate, precisamos
escolher um local muito visível. Ninguém vai procurar à noite, mas
sempre há uma chance minúscula de um avião sobrevoar e ver nossa
fogueira, ou outros caminhantes podem cruzar nosso caminho. É
extremamente improvável, mas também podemos estar preparados.
Acho que vamos dormir sob as estrelas esta noite.
Rock examinou o prado sob a luz fraca procurando um local ideal
para acampar ao ar livre. Quando ele avistou uma enorme formação
rochosa à distância, mais alta do que ele, mostrou para Neal.

KM
—Lá. Podemos colocar o acampamento de costas para ele. Dessa
forma, se algum predador se aproximar, eles não poderão se esgueirar
por trás.
Neal engoliu em seco.
—Uh... eu não tenho certeza se isso me faz sentir muito melhor
sobre um acampamento ao ar livre.
—É mais provável que eles nos persigam para a
floresta. Normalmente não há muitas presas para eles no meio do
prado.
—Se você diz. O que eu preciso fazer para o acampamento? —
Neal perguntou.
—O fogo é a prioridade número um. Eu preciso que você colete
grandes pedaços de madeira seca, em seguida, leve para o fogo. Vou
juntar algumas agulhas de pinheiro, samambaia e folhas de lariço
para servirem de cama e isolamento. Isso é tudo o que posso fazer com
um braço só.
Neal lhe deu um tapinha e um aperto no ombro bom antes de
desaparecer na floresta atrás da grande pedra. A dor estava
começando a rastejar de volta, junto com a rigidez. Rock não queria
fazer isso, mas apesar de seu intenso desgosto, ele pegou outro
Percocet e engoliu seco. Ele só precisava aguentar até a manhã, e
então ele poderia avaliar se o resgate era ou não iminente.
Ficando na beira da linha das árvores, ele reuniu o máximo de
folhas que pôde carregar com seu único braço bom. Ele até enfiou
algumas nos bolsos e na tipóia. Não só faria uma boa cama, como
também seria bom para isolar a sua área onde dormiriam alguns

KM
centímetros ou mais, para evitar perder o calor do corpo no chão,
quando esfriasse durante a noite.
Quando o crepúsculo deu lugar à noite, antes que a lua subisse,
eles foram cobertos pela escuridão. Rock não teve escolha a não ser
usar a lanterna do telefone para continuar procurando as folhas, e ele
sabia que Neal provavelmente teve que fazer o mesmo. Assim que ele
construiu uma boa cama na frente da grande pedra, ele lutou com o
zíper de sua mochila até que ele foi capaz de retirar as roupas de
reposição. Ele colocou-as sobre as folhas, e isso realmente criou uma
pequena cama. Depois disso, ele procurou por algumas pedras para
usar como ferramentas e para cercar o seu fogo, o que ele esperava
que eles fossem capazes de fazer.
Quando Rock retornou de sua última viagem, Neal estava
subindo com uma braçada de madeira, que ele deixou cair na frente
da cama de Rock. Ele largou a mochila e começou a esvaziar o que
tinha guardado nos bolsos.
—Devo começar a construí-lo?
—Você pode começar e terminar. Você me viu fazer o suficiente,
jovem Padawan48.
Neal riu quando ele empilhou alguns gravetos e puxou a
pederneira. Rock colocou sua mochila na cama e deitou-se com as
costas apoiadas nela, usando o volume para se apoiar, de modo que
pudesse observar a construção do fogo. Ele sentiu uma onda de
orgulho enquanto assistia Neal usar a pedra para acender o fogo. A
maneira como ele construiu a fogueira com gravetos e varas menores,

48
Significa aprendiz, é usado em Star Wars.

KM
até a madeira maior, até que ele teve uma fogueira crepitante, estava
muito perto do nível de um especialista. Seu aluno pode ter começado
como uma bagunça desajeitada, mas ele aprendeu rápido.
Quando Neal terminou, sentou-se ao lado de Rock e tirou as
rações restantes: um par de barras de ceral e o restante da
cascavel. Ele entregou a Rock sua parte antes de pegar a dele. Eles
comeram em silêncio até que o último pedaço de comida se foi.
Neal deu-lhe um olhar preocupado.
—Se não virmos nenhum sinal de resgate pela manhã, eu irei
procurar comida. Talvez eu até tente uma daquelas armadilhas que
você me mostrou,— ele disse com um pequeno sorriso.
—Eu posso encontrar algumas larvas deliciosas. Isso é fácil o
suficiente para fazer com um braço,— Rock disse com um sorriso
maligno. Ele estava apenas brincando. Se o piloto do helicóptero
decidisse chamar as autoridades em vez de voltar no dia seguinte, eles
teriam que esperar que uma busca fosse organizada. Isso significaria
outro dia ou dois na natureza, então eles precisariam de comida. O
riacho ficava perto, então ele não estava tão preocupado com o
suprimento de água.
Estremecendo, Neal balançou a cabeça.
—Eu acho que você só gosta da ideia de me fazer comer coisas
estranhas.
—É muito agradável—, brincou Rock.
O sorriso de Neal desapareceu.
—O riacho diminuiu para algo que parece mais um lago, então
duvido que eu encontre algum peixe.

KM
Rock acenou com a cabeça em concordância.
—Larvas e armadilhas são definitivamente nossas melhores
opções. Além disso, assim que o sol nascer, usarei algumas brasas da
fogueira para fazer um sinal de fogo.
—Oh, legal.— Neal brincou com seu invólucro de barra de
granola por meio segundo antes de olhar para Rock. —O que faz com
que seja um sinal de fogo?
Rock riu, surpreendendo-se. Agora que ele estava deitado, o
Percocet estava começando a fazer efeito. As estrelas acima estavam
girando um pouco, sua boca estava seca, seus membros pareciam
confusos e leves, e tudo parecia apenas um pouco... mais engraçado
do que antes. Ele apontou para a fogueira.
—Um incêndio normal produz fumaça branco-acinzentada. As
chances de ser vista com o céu como pano de fundo, seja azul ou
nublado, são mínimas.
—Oh—, disse Neal. —Não tenho certeza se teria pensado nisso.
—A maioria das pessoas não foi colocada na posição de precisar
usar fogo para serem resgatadas, então não é algo em que você
geralmente pensa. Para um sinal de fogo, queremos um pouco de
fumaça grossa e negra. Você consegue fumaça preta queimando
coisas que não deveriam queimar, folhas vivas, especialmente
sempre-vivas, e materiais sintéticos. Plástico, um certo tipo de pano,
borracha. Borracha é o melhor. Você tem que ter cuidado onde você
coloca, se é algo que pode derreter. Não vai querer que isso apague
seu fogo.

KM
Bocejando largamente, Rock enfiou o braço bom atrás da cabeça
e deixou as pálpebras caírem. Neal acrescentou madeira ao fogo e
deitou ao lado dele. Com o fogo e o calor gerado pelo corpo de Neal
combinados, Rock estava envolto em um casulo de calor que tornava
difícil ficar acordado. E falando de duro49…
Ele olhou para o pau ansioso que esticava suas calças. Às vezes,
os medicamentos narcóticos tinham o efeito colateral desconfortável
de deixá-lo com tesão. Isso era inconveniente porque seu corpo
traidor estava muito machucado e quebrado para fazer algo a
respeito. Suspirando, ele balançou os quadris para tentar se ajustar a
uma posição mais confortável. Ele deveria saber que não seria capaz
de fazer isso sem que Neal percebesse.
Ele sentou-se, sorrindo para Rock antes de acenar na direção de
sua óbvia situação.
—Tem um problema aí, chefe?
Rock riu um pouco antes de limpar a garganta.
—Para ser honesto, entre o oxi e o cansaço do meu corpo, estou
apenas um pouco alto. E essa é uma das coisas que acontece quando
eu estou assim.
—Você precisa de uma mão, então? Ou boca?
As palavras enviaram um choque elétrico direto para o pau de
Rock. Seu cérebro praticamente se confundiu, porque se ele fosse
capaz de pensar racionalmente, a resposta teria sido “inferno, não,
isso não é uma boa idéia porque eu tenho dores em cem lugares

49
No original Hard, pode ser traduzido como difícil ou duro. Por isso o trocadilho.

KM
diferentes, dores e ferimentos” mas na realidade o que ele disse foi:
— Porra, sim.
Lambendo os lábios, Neal abriu o zíper das calças de Rock e ficou
de joelhos. Ele envolveu os dedos calejados ao redor dele e deu alguns
golpes experimentais. Com a droga deslizando através de seu sistema,
Rock era hipersensível a tudo. Gemendo, ele tentou se sentar e
observar, um movimento que fez suas costelas protestarem
veementemente. Ele não escondeu seu grunhido e estremecimento a
tempo. Neal se inclinou sobre ele, segurando-se pelos braços de cada
lado dos quadris de Rock.
—Você vai ter que ficar parado, ou não podemos fazer isso.
Rock mordeu os lábios e assentiu um pouco maníaca.
—Eu vou ficar quieto, eu prometo—, ele conseguiu dizer, mesmo
que ele já estivesse com falta de ar.
Com cuidado para não tocá-lo em qualquer lugar que ele
estivesse ferido, Neal abaixou a cabeça e lambeu o pau de Rock da raiz
até a ponta, parando a língua na cabeça e colidindo na fenda. Rock
tremeu todo com o esforço que levou para ficar parado, e a doce
tortura estava apenas começando. Neal não perdeu tempo em ficar
um pouco desagradável. Ele mergulhou o pau de Rock na boca e
levou-o até o fundo de sua garganta. Então ele foi um pouco mais
longe. E mais longe, até que seu nariz foi pressionado contra o
abdômen de Rock na base de seu eixo.
Rock bateu a cabeça contra a mochila, causando uma pequena
pontada na área de sua ferida na cabeça, mas a névoa de medicação e
excitação a entorpeceram consideravelmente. Tudo o que ele podia

KM
prestar atenção era Neal, engolindo em torno da cabeça de seu pau e
não engasgando nem um pouco. Rock sabia que Neal tinha muito
mais experiência com o sexo gay do que ele, mas ele ainda ficou
surpreso quando o cara começou a fazer garganta profunda nele como
especialista do caralho.
E ele fez isso várias vezes, muito além do que Rock achava que
alguém teria energia. Rock gemeu e abriu as pernas o máximo que
pôde com as calças em volta das coxas.
—Oh... Jesus Cristo, como você...?— Seus pensamentos se
espalharam quando Neal puxou as bolas de Rock e deslizou a outra
mão pelo rastro do tesouro de Rock, reverentemente adorando seu
abdômen, mas ficando longe de suas costelas e da tipóia. Mais uma
vez, Neal o engoliu todo e olhou para ele com a expressão mais
debochada, como se ele sentisse prazer só por se banquetear com o
pau de Rock.
Foi isso, a rachadura em sua resistência. Apesar de seus
ferimentos, com um uivo, Rock empurrou seus quadris para cima
para encontrar a boca disposta de Neal e atirou sua carga na garganta
do homem. Neal cantarolou ao redor de seu eixo enquanto ele lambia
cada gota. Mesmo depois que Rock ficou mole, e ele jurou que estava
sensível demais para ser tocado, Neal não o deixou ir. Ele tocou seu
pênis carinhosamente até que Rock estava flutuando em algum tipo
de euforia saciada de quase superestimulação.
Tão bom quanto estava, Rock não conseguia manter suas
pálpebras abertas. Cada pedaço dele parecia solto e quente, e ele não
achava que poderia ficar acordado por mais um minuto.

KM
—Mmm… preciso levar você para a minha cama. Se eu tivesse
isso toda noite, me livraria da minha insônia rapidinho,— ele
murmurou, oscilando no fio da navalha entre a vigília e o
esquecimento.
Ele recebeu alguns momentos de silêncio preenchidos apenas
pelo creptar do fogo, até que ele sentiu um beijo suave na testa.
—Durma um pouco. Você conseguiu. Espero que a esta hora
amanhã, você esteja em sua própria cama. Boa noite,— Neal
sussurrou. A última coisa que Rock notou foi um corpo quente
enrolado perto dele. Então só havia escuridão.

KM
Acampamento - Ponto Exfil - Dalles Meadow

Porra, ele estava quente. Esse foi o primeiro pensamento que


Neal teve quando acordou com os primeiros raios da aurora. Ter o
corpo compacto e grosso de Travis ao lado dele era tão bom quanto
uma garrafa de água quente e um cobertor elétrico combinado. Ele
rolou para longe da forma adormecida de Travis, caindo de costas e
se espreguiçando. Ele estremeceu quando várias juntas estalaram,
seus ossos doíam por tantas noites dormindo em superfícies duras.
Assim que ele foi separado de seu parceiro de dormir, ele
percebeu que era uma manhã relativamente fria. Ele correu para
colocar um pouco de madeira na fogueira e traze-la de volta à vida. Ele
ficou surpreso que Travis ainda estivesse dormindo. O homem
geralmente acordava antes do amanhecer apenas para irritar o sol,
bastardo irreverente que ele era. Então, novamente, ele teve um par
inimaginável dias difíceis, fisicamente falando. Adicionando os
analgésicos a isso, não era de admirar que ele estivesse apagado.
—Hora de se levantar, bela adormecida—, ele chamou, sem
desviar o olhar do fogo.
Quando não houve resposta, Neal se virou e foi até Travis.

KM
—Wakey, wakey, ovos e bacon50!— Era algo que Bennett
costumava dizer a ele na parte da manhã, o que o fazia querer sair da
cama só para dar um soco no cara, então ele esperava que tivesse
algum tipo de reação.
Nada.
Neal franziu a testa. Isso parecia incomum para Travis, mas Neal
não podia dizer como ele era normalmente de manhã, depois de uma
noite de Percocet e sexo oral. Ele tirou o casaco que Travis estava
usando como cobertor, para que ele pudesse vê-lo melhor. O rosto de
Travis estava pálido, mas a pele estava envernizada com um brilho de
suor.
—Você está bem, cara?— Neal perguntou com a voz trêmula.
Com cuidado para evitar as lesões, ele deu uma pequena sacudida em
Travis. Não houve nem uma contração em resposta. Seu coração
disparou com o pânico crescente. O que diabos estava errado? Travis
possivelmente poderia ter tido uma OD51? Até onde Neal sabia, ele só
tinha tomado uma pílula. Mesmo que ele tivesse tomado outra
enquanto eles estavam separados, isso não seria o suficiente para uma
overdose, diabos, ele só trouxe um total de três, e Neal tinha visto
muitos viciados em oxi usando muito mais do que isso e ainda
continuavam de pé.
Neal estendeu a mão para afastar uma mecha de cabelo da testa
de Travis, depois recuou com um suspiro. Sua pele estava ardendo em
febre, e agora que Neal estava sentindo um problema, notou que o

50
Algo que você diz para acordar alguém gentilmente. Implica que o café da manhã está pronto.
51
Overdose.

KM
peito de Travis estava subindo e descendo a uma velocidade não
natural. Esperando que ele não encontrasse o que ele imaginava, Neal
pressionou os dedos contra o lado do pescoço de Travis e contra o
interior do pulso em seu braço bom. Seu pulso estava acelerado de
uma forma que definitivamente não era saudável.
—Tudo bem, amigo. Vamos descobrir essa infecção.— Como o
fogo estava rugindo mais uma vez e emitindo um calor agradável, ele
conseguiu tirar Travis de sua fina camada isolante de folhas. Neal
passou as mãos por toda a superfície do corpo que conseguiu alcançar,
procurando por bolsos de inchaço ou calor.
Se Travis estava tendo um choque séptico, tinha que haver uma
infecção em algum lugar, sugando seu sangue. Neal não tinha notado
nenhuma ferida aberta, além do corte na cabeça que estava
cicatrizando bem, mas poderia facilmente ser algo interno. Ele
esperava que uma daquelas costelas fraturadas não tivesse finalmente
se partido e perfurado algo. Sentindo e não vendo nada na posição
atual de Travis, Neal cruzou para o outro lado dele, para que ele
pudesse rolar para o lado direito, o ombro bom.
Ele moveu Travis tão gentilmente quanto pôde e imediatamente
viu algo preocupante. Na parte de trás da perna esquerda de Travis,
no meio da coxa, havia uma mancha do que parecia sangue
escorrendo por suas calças térmicas. Era quase tão grande quanto a
mão de Neal. Com um grunhido, Neal levantou os quadris de Travis
do chão para que ele pudesse puxar as calças.
Neal respirou fundo quando viu o corte de mais ou menos dez
centímetros, com sangue e purulência.

KM
—Jesus, Trav. Maldito seja por ser um homem tão viril que não
pode nem me dizer o quanto você se machucou. Eu poderia ter tratado
isso. Bastardo.— As bordas da ferida estavam irregulares e vermelhas.
Pequenas linhas rosadas serpenteavam para longe do corte, dizendo
a Neal que a infecção estava transgredindo da ferida para o resto do
corpo de Travis e, eventualmente, para o sangue dele, se já não o
tivesse feito.
Neal tinha que trabalhar rapidamente para fechar a ferida, e
mesmo assim... bem, o resgate era mais imperativo do que nunca. Ele
não queria pensar sobre o que aconteceria com Travis se o piloto do
helicóptero esperasse mais um dia para voltar para eles ou pedir
ajuda. E se Travis morresse, Neal não sabia quanto tempo poderia
sobreviver sem ajuda. Ele aguentaria um pouco mais agora, ele
aprendeu muito com Travis, com certeza. Mas ele não era especialista.
—Uma coisa que eu sei fazer—, Neal disse em voz alta para seu
parceiro inconsciente, —limpar e fechar uma ferida—. Ele derramou
um pouco de água em seu copo de lata e colocou-o no fogo para
aquecer. Enquanto isso, ele fez a curta caminhada até a floresta para
procurar plantas que pudesse usar em um cataplasma52. Eles eram
incrivelmente sortudos que enquanto ele estava estudando para se
tornar um paramédico, ele tinha tomado uma aula de ervas e holística.
Era apenas algo em que ele estava interessado, sem saber que algum
dia isso poderia salvar a vida de alguém. Preocupação e medo eram

52
papa medicamentosa feita de farinhas, polpas ou pó de raízes e folhas que se aplica sobre alguma
parte do corpo dolorida ou inflamada.

KM
como tentáculos se enrolando sob sua pele, mas Neal tinha que se
controlar ou ambos estariam mortos.
Ele encontrou um conjunto de gengibre selvagem que se
espalhava pelo chão. A erva tinha folhas muito grandes em forma de
rim que ele poderia usar para aplicar o cataplasma. Ele recolheu um
punhado e enfiou-as no bolso do casaco. A próxima coisa que ele
estava procurando era mais difícil de encontrar. Yarrow, uma erva
que era um antisséptico natural, algo que poderia ser usada em uma
ferida aberta. Poderia até ser esmagada e transformada em um chá
que, teoricamente, diminuiria a febre. Plantas de milefólio não eram
necessariamente raras, mas como não floresciam nessa época do ano,
elas eram mais difíceis de identificar entre as outras.
Ele procurou no pequeno bosque até começar a ficar nervoso ao
deixar Travis por tanto tempo. Quando ele estava prestes a se afastar,
ele notou algumas folhas familiares. Elas pareciam quase como
samambaias em miniatura.
—Oh, graças a Deus—, ele murmurou para as árvores.
Recolhendo cada pedacinho que encontrou, Neal voltou à borda
do prado, onde havia vários grandes pinheiros ponderosa. A resina
dos pinheiros podia ser usada para selar feridas, então ele procurou
por uma que tivesse sido danificada por um raio ou, Deus os proteja,
as garras de um urso. Eventualmente, ele encontrou uma árvore que
escorria seiva de um corte. Tirando a faca do cinto, ele raspou um
pouco da resina com a lâmina.
Com um crescente senso de urgência, Neal correu para o
acampamento com seus suprimentos. Ele encontrou Travis

KM
exatamente no mesmo lugar de quando ele saiu, mas pelo menos ele
ainda estava respirando. Ele pegou a xícara de água fervente do fogo
para deixar esfriar um pouco, depois alimentou o fogo. Um pedaço de
paracord foi sacrificado para o cataplasma, juntamente com a toalha
de mão.
Depois de colocar a mochila debaixo das costas de Travis para
mantê-lo parcialmente de lado, Neal mergulhou a toalha na água
quente e limpou a ferida o melhor que pôde. Travis gemeu e o músculo
sob as mãos de Neal se contraiu. Ele estava muito longe da
consciência, mas fez Neal se sentir muito melhor por receber algum
tipo de resposta. Ele teria que fazer o trabalho rápido do cataplasma,
porque ele precisava começar o sinal de fogo, caso o helo fizesse outra
passagem.
Usando uma pedra pequena contra uma rocha maior e achatada,
Neal esmagou as folhas de milefólio e transformou em uma pasta
grossa. Ele colocou na ferida, ganhando mais um recuo de Travis, e
imediatamente espalhou a resina de pinheiro sobre a coisa toda. Para
finalizar o cataplasma, ele colocou várias folhas de gengibre sobre ele
e envolveu paracord em torno delas o mais firmemente que pode, sem
interromper a circulação. Virar Travis foi uma tarefa difícil, mas ele
conseguiu. Neal o deixou tão confortável quanto possível antes de sair
para o meio do prado e encontrar um local para o sinal de fogo.
Depois de construir uma base de galhos de pinheiros cercados
por pedras, Neal empilhou gravetos secos no meio. Ele voltou para o
acampamento e puxou um bastão flamejante do fogo. Era fácil
acender outro fogo daquela brasa, então ele teve uma egunda fogueira

KM
em pouco tempo. A parte seguinte foi mais difícil, pois ele teve que
correr de volta para a linha das árvores e recolher o máximo de folhas
vivas que pudesse. Ele encheu os braços com tudo, desde samambaias
e cicuta até agulhas de pinheiro e folhas de larício.
Enquanto Neal acrescentava folhas no alto de seu ninho de
gravetos, a fumaça grossa e cinzenta começou a subir em direção ao
céu. Ele se deitou e soprou suavemente a base do fogo para fazer as
chamas subirem mais e engolfar as novas folhas. Ele repetiu o
processo mais duas vezes e, assim que terminou, criou uma pesada
coluna de fumaça. Satisfeito, Neal correu de volta para Travis.
Ele preparou um pouco de chá de Yarrow no copo de lata e tentou
forçar um pouco na garganta de Travis. Neal não tinha certeza do
quanto ele derramara e quanto escorreu pelo queixo, mas valeria a
pena se conseguisse abaixar a febre. Ele estremeceu quando um
pouco do líquido quente espirrou em sua mão.
—Me desculpe, cara. Espero não ter queimado sua boca, mas
acho que nós dois temos problemas maiores.
Neal sabia que ele eventualmente teria que pensar sobre o que
aconteceria quando ele e Travis voltassem para suas próprias vidas,
assumindo que eles saíssem disso inteiros. Será que eles se veriam de
novo ou Travis voltaria ao seu armário enquanto Neal voltava para
suas conexões sem emoção? Mas tudo o que ele pode fazer foi
observar o céu até que seus olhos lacrimejaram por não piscar.
Olhando de novo para Travis, Neal acaricioou sua bochecha logo
acima da linha da barba curta. Sua pele ainda estava pegajosa, mas
Neal achou que talvez ele estivesse apenas um pouco menos febril.

KM
—Ou pode ser apenas um pensamento positivo—, disse a si
mesmo.
O zumbido abafado no ar quase não se registrou a princípio; Neal
estava tão envolvido em sua preocupação por Travis. Sua espinha
ficou rígida e seu corpo inteiro se imobilizou enquanto ele se esforçava
para ouvir mais. As batidas do seu coração estavam abafando muito
do barulho do ambiente, mas ele finalmente ouviu de novo, um
zumbido de rotor.
—Merda, Trav!— Ele disse para seu parceiro inconsciente. —
Acho que é o helicóptero.— Neal removeu o casaco de Travis, que
tinha sido colocado sobre o seu corpo supino, em seguida, substituiu-
o com o seu próprio. O casaco de Travis tinha as grandes manchas de
vermelho que ajudaram Neal a encontrá-lo na água, então ele
esperava que isso fosse servir como um sinalizador. Com o casaco na
mão, ele correu em direção ao centro do prado perto do sinal de fogo.
Neal acrescentou mais alguns galhos de pinheiro e cutucou o
fogo até que ele estava fumaçando como uma locomotiva a vapor mais
uma vez. Ele olhou para a linha das árvores na direção que ele achava
que o barulho estava vindo. Depois de alguns momentos tensos de
animação suspensa, ele viu o elegante helicóptero verde e branco
elevar a crista e a cabeça através do prado. Neal entrou em ação,
agitando o casaco vermelho, pulando para cima e para baixo,
gritando. O helo provavelmente estava lá para pega-los, mas ele
preferia prevenir do que remediar. Quem quer que estivesse dirigindo
aquilo, ele queria que soubessem que estavam em perigo.

KM
Lágrimas escorreram de seus olhos, tanto de alívio quanto do
vento com a funmaça, quando o helicóptero pousou entre o sinal de
fumaça e a fogueira. Inacreditavelmente, os homens que saltaram
dele foram os mesmos que trouxeram Neal, Floyd e Willie. Ele acenou
e se aproximou deles, abaixando-se para evitar perder a cabeça para
os rotores giratórios.
—Nós pensamos que tivessemos perdido vocês—, Willie disse,
seu sotaque sulista completamente fora de lugar nas Cascatas do
Norte. —Voltei para mais uma passagem antes de chamarmos a busca
e salvamento.
Neal assentiu com a cabeça, impaciente para falar a eles sobre
Travis.
—Trav- Rock sofreu um acidente, passou por uma queda
d’água. Ele estava bem, mas ele teve um corte que está infectado. Eu
acho que ele está em choque séptico. Você precisa chamar no rádio
por um Life-Flight53 imediatamente.
—Jesus Cristo—, Floyd respirou antes de desaparecer de volta no
helicóptero para fazer a chamada.
A hora seguinte voou em um redemoinho de helicópteros e
macas. Neal estava muito preocupado com Travis para prestar
atenção em qualquer coisa além de se certificar de que ele se fosse
resgatado e estivesse a caminho de um hospital. Assim que Neal foi
amarrado com segurança no helicóptero doméstico, ele adormeceu

53
A Life Flight Network é um serviço de ambulância aérea e terrestre no Oregon, Washington, Idaho e
Montana, nos Estados Unidos.

KM
olhando pela janela e se perguntou o que aconteceria quando ele
voltasse à realidade.

KM
KM
Seattle

Dois dias depois de Neal ter sido abandonado sem cerimônia na


pista de pouso, sentindo-se como se tivesse aterrissado em uma
realidade alternativa onde coisas como carros e edifícios realmente
existiam, o toque incessante de seu celular debaixo de sua cabeça o
acordou de um sono profundo. Uma olhada na tela disse a ele que
Tony era o interlocutor. Por mais que ele não quisesse falar, Neal
sabia que ele continuaria ligando e ligando. Relutantemente, ele
apertou o botão Aceitar.
—O que?
—Onde diabos você está?— A voz de Tony resmungou em seu
ouvido. —Fui ao condomínio e havia estranhos morando lá. Eles
disseram que já moravam lá há algumas semanas.
Neal não podia acreditar que ele uma vez achou o talento de Tony
para fazer drama, cativante. Agora isso apenas irritou seu último
nervo.
—Eu lhe disse repetidamente que iria vende-lo, então eu vendi.
—Bem ... eu apenas assumi...
—Esse é o problema. Você sempre supõe, mas nunca pensa. E
você com certeza nunca escuta. Eu lhe disse que não podia me dar ao
luxo de pagar o aluguel depois que você me deixou.

KM
—Isso é ridículo. Onde vou morar?
—Como é que você ainda não entendeu isso? Eu não vou te
ajudar. Você me deixou, não o contrário. Resolva sozinho e me deixe
em paz.
Depois que ele desligou na cara de seu ex idiota, Neal puxou seu
corpo dolorido para fora da cama. Ele estava se escondendo da vida
desde que voltou porque sua cabeça era um turbilhão de emoções
conflitantes e seu corpo estava dolorido. Ele queria caçar Travis, ir
visitá-lo no hospital, no mínimo, para ver se ele estava bem. O
problema era que Neal não sabia se ele seria bem-vindo, e ele não
poderia lidar com uma rejeição pública, não depois de Tony tê-lo
deixado tão cru e continuar a puxa-lo para o passado.
Bennett ameaçara vir e jogar Neal no chuveiro se não
concordasse em se limpar e sair para tomar café com os meninos. Eles
assumiram que ele ainda estava confuso com Tony o que estava
fazendo com que ele entrasse no modo eremita, isso era parte
verdade, mas ele não estava pronto para explicar tudo o que havia
acontecido com Travis. Ele realmente não entendia ainda.
Então Neal se arrastou para o chuveiro, fez a barba e até mesmo
penteou o maldito cabelo. Ele tinha um encontro com seus amigos
intrometidos, e ele foi até o café tentando descobrir o que diabos ele
ia dizer para eles.

—Oi, Hesse!

KM
Neal ergueu os olhos do lugar que tinha escolhido no Clean Bean
para ver Patrick indo em sua direção, com Bennett e Rory logo atrás,
seguidos por Justice e Nic. Bennett dissera que Rich precisava
trabalhar, e Neal estava infinitamente grato por terem deixado os
adolescentes fora disso. Era a primeira vez que ele deixava seu
apartamento desde que retornara das montanhas três dias antes,
depois de basicamente ter dormido por dois dias seguidos.
—Ele está de volta do além — Paddy brincou com seu leve
sotaque irlandês. Ele se sentou ao lado de Neal e se inclinou para
ele. —Todo mundo sentiu sua falta. Vamos, me dê um beijo.— Ele
franziu os lábios comicamente.
Neal afastou o rosto de Paddy com a palma da mão.
—Eu te odeio—, ele resmungou.
Bennett e Rory se sentaram em frente a eles, rindo, e Nic e
Justice puxaram outra pequena mesa. Patrick fingiu fazer beicinho,
ele parecia ridículo.
—Aww, não seja assim, cara. Tudo bem, então, vamos
ouvir. Como foi sua aventura com MacGyver? Você não está morto,
então isso é uma vantagem,— ele disse, então franziu a testa. —
Embora eu tenha ouvido que as coisas ficaram um pouco perigosas no
final.
Neal ainda estava um pouco atordoado com tudo o que havia
mudado em tão pouco tempo.
—Isso foi…
Depois de esperar um pouco, Patrick preencheu o silêncio.

KM
—Bem, isso é uma permissão se eu já ouvi uma. Você pelo menos
encontrou o que estava procurando, então?
Ele encontrou?
—Eu… sim, acho que sim. Mas isso veio com muitos problemas
novos.
—Como assim?— Bennett perguntou em um tom muito mais
silencioso do que seu amigo irlandês descarado.
—MacGyver é gay.
—Espera. O quê?— Patrick perguntou. Então ele deu de
ombros. —Eh, culpa dos anos oitenta. Todo mundo era gay naquela
época.
Neal teve que rir do puro absurdo de seu amigo.
—Não o verdadeiro MacGyver54, idiota. Rock McCreary. Gay e
enterrado no armário.
—Oooh—, seus amigos disseram em uníssono.
—Ah, bem, não é como se você tivesse transado com ele na
floresta, não é?— Patrick respondeu alegremente.
Bennett não foi sutil em nada sobre chutá-lo debaixo da
mesa. Quando Paddy olhou para ele com uma expressão de cachorro
ferido, ele olhou para Neal. O rosto de Neal estava ardendo com o que
ele só podia imaginar um rubor ardente; maldita sua palidez alemã.
—Cristo, você não fez.
Neal se ressentiu do julgamento de Patrick porque ele arrasou
Seattle antes de se estabelecer com Rich.

54
Personagem de uma serie de tv.

KM
—Olha, estava frio. Dois adultos consentindo em compartilhar o
calor do corpo. Uma coisa levou a outra... Enfim, esse não é o ponto.
—Foder o sobrevivencialista não é o ponto? Bem, então, qual é a
porra do ponto?
—Jesus, Paddy, você consegue ser tão grosseiro.— Bennett deu
uma expressão simpatia a Neal, e tanto quanto Neal amava Bennett,
isso o fez querer dar um soco nele. —O ponto é que ele obviamente se
apegou ao cara. O cara do armário.
Neal esfregou a mão no rosto.
—Eu acho que é um daqueles negócios apegos de eventos
traumáticos. Certo? Tem que ser. Só conheço o cara há uma semana.
—Às vezes é tudo o que é preciso—, disse Justice calmamente,
olhando para o marido com olhos grandes e límpidos. Eles se
conheceram e se apaixonaram durante as curtas férias de Justice em
Seattle para o primeiro casamento de Rory. Claro, eles tiveram muito
a superar antes de conseguirem ficar juntos.
—Só porque as coisas são tipicamente feitas de uma certa
maneira não significa que elas sempre acontecerão dessa maneira,—
Justice continuou, quando Bennett, Rory, e Patrick saíram para pegar
bebidas.
—Não, eu entendo o que você está dizendo, e se todo o resto fosse
fácil, eu procuraria pelo cara, ver onde iriamos... Mas eu não acho que
conseguiria suportar a coisa toda do armário.— Neal olhou para
Justice, imaginando que pepitas de sabedoria ele tinha
para aquela situação.
Ele apenas deu de ombros.

KM
—Você espera que eu diga 'Foda-se o armário, vá buscar o seu
homem'? Desculpe, não te culpo por não querer entrar nesse ninho de
vespas. Fiquei tracado no meu - por algumas razões muito reais - e
posso dizer que isso deixa uma bagunça no estado emocional de uma
pessoa. Isso torna difícil se abrir e quase impossível amar.— Ele deu
a Neal um sorriso simpático. —Eu sinto pelo cara porque eu posso me
identificar totalmente com ele, mas você é meu amigo e eu não quero
ver você machucado. Novamente.
Com um sorriso triste, ele se levantou para pegar as bebidas dele
e de Nic, apertando o ombro do marido quando ele passou.
Para ser honesto, Neal tinha esperado uma conversa
estimulante, alguém para dizer a ele que a conexão que ele sentiu com
Travis valeria a pena tentar. Mas honestamente, se Justice e Rory,
duas das pessoas mais doentiamente otimistas e amorosas que ele já
conheceu, não lhe disseram para ir em frente, isso era a morte de toda
esperança.
—Justice não está te dando toda a história, você sabe—, disse Nic.
Neal pulou porque ele tinha completamente viajado e esquecido
que o homem ainda estava sentado lá.
—Que história?
—Toda a história do armário. Eu estive nessa situação antes de
conhecer Justice. Eu estava com um homem que estava no armário,
ele era um advogado, como Tony, mas ele achava que estar
fora afetaria sua carreira, então eu era basicamente seu pequeno
segredo sujo. Não terminou bem e só em parte porque ele estava me
traindo. Eu estava vivendo uma meia-vida e não aguentava mais.

KM
Neal suspirou pesadamente e apoiou a cabeça nos braços. Então
todo mundo estava praticamente de acordo que ele deveria esquecer
isso.
—Mas…
Neal levantou a cabeça.
—Mas?
—Mas então eu conheci Justice. Quem também estava no
armário?
—Bem maldição. Então você-
—Eu saí com ele de qualquer maneira. Tornar-se outro amante
secreto não era uma situação que eu queria estar de novo, e eu disse a
Justice desde o começo, mas isso não nos impediu de explorar o que
estávamos sentindo. Eu pensei comigo mesmo: “E se ele for meu
único?” As circunstâncias mudam, as pessoas mudam e sei que estaria
sempre pensando nessa oportunidade perdida.
—Mas Justice está fora agora. Não vejo Rock- Travis fazendo
isso.
Nic assentiu.
—Ele pode não fazer. Isso é algo que ele tem que fazer por si
mesmo, mas isso não significa que você não pode mostrar a ele o que
ele poderia ter do outro lado da porta, sabe? Foi o que fiz com
Justice. Não foi fácil. Ele teve que levar algum tempo, trabalhar em
algumas coisas, endireitar as coisas em sua própria cabeça, mas ele
conseguiu. E eu estive lá para ele. Agora, não posso imaginar ter
passado essa oportunidade.— Ele teve um pequeno tremor, como se
estivesse realmente imaginando como seria a vida sem o marido.

KM
A sabedoria vinha de todas as pessoas, até mesmo do aspirante a
surfista e capitão de barco de cabelos compridos. Neal tinha que pelo
menos falar com Travis. Deixá-lo saber o que ele poderia ter. Ele não
podia forçar o homem a sair, mas pelo menos podia dizer como se
sentia.
—Eu tenho que ir—, disse ele, quase distraidamente, enquanto
se levantava.
—Vá em frente, pegue seu homem. Eu direi aos caras que algo
surgiu.
Neal parou e olhou para Nic.
—Obrigado.
—A qualquer momento. Agora vá!

Neal parou em frente ao hospital e respirou fundo algumas vezes


antes de desligar o carro. Ele ligou para o heliporto e falou com Frank,
que soube por Floyd e Willie que Travis havia sido levado a esse centro
de trauma em Wenatchee, que era o mais próximo de onde tinham
sido apanhados nas Cascatas.
Ele não tinha certeza se eles o deixariam entrar se ele não fosse
da família, mas quando ele perguntou na recepção, eles disseram que
Travis tinha saído da UTI e entrado em um quarto de normal, o que
significa que qualquer um poderia visitar durante o horário de
certo. Ele recebeu um número de quarto e foi enviado em seu
caminho.

KM
Quando finalmente encontrou o corredor certo depois de parar
em dois postos de enfermeiras, Neal ficou do lado de fora do quarto,
reunindo sua coragem. Ele sabia que havia uma possibilidade muito
real que Travis não gostaria de vê-lo. Ele poderia querer deixar tudo
o que aconteceu no passado, tornar apenas uma aventura de férias e
seguir caminhos separados. Mas Neal tinha que tentar. Ele limpou as
palmas suadas nas coxas vestidas de jeans e abriu a porta o mais
silenciosamente possível.
Do outro lado da sala, Travis estava deitado em uma cama de
hospital padrão, coberto por um monte de cobertores. Ele parecia
estar dormindo, então Neal se aproximou da cama com passos
silenciosos, esperando não perturbá-lo. Havia um buquê de flores na
mesa de cabeceira, mas esse era o único sinal de que ele teve outros
visitantes. Ele parecia muito menor, deitado lá como se sua vitalidade
tivesse sido sugada para fora dele, e ele fosse apenas um fantasma de
si mesmo. Ele estava ligado a dois IVs diferentes, junto com um
monitor de vitalidade, e seu ombro esquerdo estava em uma tipóia
grossa. Havia hematomas amarelos desbotados em todo o rosto,
círculos escuros sob os olhos e pontos na laceração na testa. Neal deu
um suspiro de alívio. Mas ele está vivo.
Quando Neal chegou à beira da cama, os olhos de Travis se
abriram. Neal se preparou para a rápida rejeição, mas Travis apenas
piscou algumas vezes como se estivesse tentando fazer com que seus
olhos se concentrassem.
—Neal?— Ele perguntou em um sussurro rouco.
—Hey, olá.— Sua própria voz era suspeitosamente rouca.

KM
—Você está aqui.
De todas as emoções que Neal esperava dele, o alívio não tinha
sido uma delas, mas estava escrito em todo o rosto.
—Claro que estou aqui.— Ele limpou a garganta. —Você estava
certo.
—Eu geralmente estou—, disse ele com uma risada fina que se
dissolveu em um ataque de tosse. Depois que Neal o ajudou a beber
um pouco de água, ele perguntou: —Sobre o que eu estava certo?
—Você é muito teimoso para morrer, seu bastardo sortudo.
—Eu não sei o que a sorte tem a ver com isso. Eu acho que foi
provavelmente o ex-paramédico que me fez passar por isso. Eles
disseram que todas as coisas que você fez para mim no campo
provavelmente salvaram minha vida, então eu estava esperando que
você viesse...
O coração de Neal acelerou.
—... então eu poderia te agradecer.
Seu coração afundou de volta aos dedos dos pés. Ele deveria
saber que Travis não lhe daria qualquer tipo de declaração, nem
mesmo dizer como se sentia, se é que sentia alguma coisa, mas ainda
assim doeu.
—Bem, aqui estou eu.
—Por que você demorou tanto?— Dor piscou em seus olhos
momentaneamente, mas foi embora rapidamente.
Neal esfregou a nuca, incapaz de imaginar esse homem
complicado fora da sua vida.

KM
—Sim, desculpe por isso. Cheguei em casa e apaguei. Dormi por
dois dias seguidos. Então, eu não sei, Tony ligou, e então eu meio que
fiquei um pouco deprimido. Meus amigos expulsaram minha bunda
da casa, então aqui estou eu.
—Isso não é incomum. É a mesma coisa que você sente depois de
um pico de adrenalina, só que dura mais quando você sai de uma
viagem como essa. Você é atingido no rosto pela vida mundana e isso
pode te derrubar. Estou feliz que você tenha vindo— disse ele em voz
baixa.
—Estou feliz que você esteja vivo—, respondeu Neal
honestamente. —Qual foi o diagnóstico?
—Sepsis55. A caminho para envenenamento do sangue, mas eles
me curaram a tempo. Inferno, eu não sabia que o corte era tão
ruim. Não podia ver, então eu estava apenas sentindo, e eu tive muito
pior. Engano estúpido— ele rosnou. —Quase morri por causa disso.
—Foi um erro meu também—, disse Neal. —Eu deveria ter rolado
você e verificado, mas eu estava tão assustado com a gente estar
encalhado, eu não fiz um exame completo.
—Não é sua culpa!— Travis gritou, então ofegou com o esforço. —
Eu não estaria vivo se não fosse por você, então eu não quero que você
se sinta culpado por qualquer coisa.
Neal engoliu em seco convulsivamente, apertando a garganta
com todas as palavras que queria, não, que precisava dizer. Ele sabia

55
a presença em tecidos de bactérias prejudiciais e as suas toxinas, tipicamente por infecção de uma
ferida.

KM
como Travis se sentia sobre ser gay, mas ele não podia deixar essa ser
a última vez que se veriam.
—Hum… Então, durante o meu pequeno mini-hiato, eu estava
lutando com algo, e finalmente um amigo meu basicamente me
agarrou pelas bolas e me disse que idiota eu estava sendo por não
tentar.
Travis olhou para ele com cautela, como se soubesse que o que
estava por vir seria algo que ele não queria ouvir.
—E o que é essa coisa com a qual você tem lutado?
—Você e eu—, disse Neal, muito rápido, como arrancar um
curativo.
Travis respirou fundo, parecendo aflito, depois abriu a boca para
falar.
—Ouça-me antes de atirar em mim, ok?
Sua boca se fechou e ele assentiu uma vez.
—Sei que não nos conhecemos há muito tempo e sei que
circunstâncias intensas podem aumentar as emoções comuns, mas
não acho que estou sozinho ao sentir que temos uma conexão. Eu
estou?
A mandíbula de Travis se flexionou e seus olhos se estreitaram
sob as sobrancelhas baixas, mas ele balançou a cabeça.
—Não, você não está. Mas-
Neal levantou a mão para interrompê-lo.
—Apenas espere um pouco, tudo bem? Me deixe terminar. Eu só,
nunca me perdoaria se não tentasse pelo menos.
—Tentar o que?

KM
—Convidá-lo para sair.
—Convidar… você está falando sério? Eu não posso...
—Eu sei, eu sei. Você não está fora. Você não pode estar fora. E
eu entendo que é uma coisa intensamente pessoal e você tem que fazer
o que é melhor para você, mas você precisa ter todas as informações
antes de tomar a decisão de se privar de algo que você obviamente
quer para o resto do futuro previsível.
A boca de Travis se curvou, como se ele estivesse segurando um
sorriso.
—Que informação?
—Deixe-me levá-lo a um encontro. Um encontro de
verdade. Sem ursos ou cobras ou cachoeiras. Só você e eu e talvez um
pouco de vinho e um par de boquetes se tivermos sorte. —Ele parou
com uma risada. —Ok, então mais que isso, mas você entendeu. Eu
conheço alguns lugares em Seattle onde eu garanto que ninguém te
reconhecerá do YouTube. Ou se você está realmente preocupado com
isso, posso arranjar algo particular.
Parecendo incrivelmente cansado, Travis soltou um suspiro.
—Parece… perfeito, mas qual é o ponto se não pode ir a lugar
nenhum?
—O ponto é que você veja como poderia ser. O que você poderia
ter se você decidisse que valeria a pena arriscar. Talvez não agora,
talvez nem comigo, mas pelo menos você saberia.
Travis sacudiu a cabeça e respirou estremecendo, e Neal pôde ver
que estava na ponta da língua recusar. Mas quando ele finalmente
abriu a boca, o que saiu foi: —Tudo bem.

KM
Anacortes

Rock foi liberado do hospital uma semana depois. Ele tinha seu
encontro iminente com Neal aparecendo no horizonte, em dois dias,
e ele pensou em pouco mais enquanto estava preso naquela
cama. Então, quando chegou em casa, ele se enterrou em seu
trabalho, planejando rotas e fazendo storyboards de novos vídeos
para o YouTube, que esperava que chamassem a atenção de uma das
poucas redes que transmitiam programas de sobrevivência.
Quando ele estava até os ouvidos em mapas e fotografias,
prendendo tudo em seu quadro de cortiça gigante, Rena entrou em
seu escritório em casa sem bater. Ele estava aborrecido, mas ele sabia
que não devia incomodá-la porque ela não dava a mínima.
—Eu tenho boas notícias—, ela chiou em uma voz cantada.
Intrigado, Rock abandonou seu planejamento e sentou-se atrás
de sua mesa, gesticulando para ela se sentar também.
—Não me deixe em suspense. Quais são?
—A rede Adventure Earth está interessada. Eles querem se
encontrar com você para discutir sobre um programa.
Um par de meses atrás - inferno, algumas semanas atrás - isso
seria tudo que Rock queria ouvir. E ainda era emocionante, mas
também estava começando a parecer uma viagem à forca. Neal estava

KM
errado. Saber o que estava além de seu alcance tornava as coisas
muito mais difíceis. Mesmo sabendo disso, ele aceitou o encontro
porque não queria que o hospital fosse o fim. Ele deveria estar em
êxtase sobre a possibilidade de um acordo de rede porque isso
significava que ele tinha conseguido. Ele ganhou sua atenção; Ele
conseguiu seu respeito como uma autoridade sobre os assuntos de
sobrevivência. Mas ele não era uma fraude? Não era Travis que eles
queriam, era Rock. Então a questão era, ele poderia ser essa pessoa
pelo resto de sua vida? Escondendo metade de quem ele realmente
era? Valeria a pena?
—Uh, olá—, disse Rena, interrompendo seus pensamentos
desconexos. —Terra para Rock. É isso que você queria desde o
começo. Por que você não está saltando pelas paredes com excitação?
Rock se inclinou para trás em sua cadeira, jogando um braço
sobre os olhos. Ele se sentiu tão cansado de repente, como se o mundo
estivesse em seus ombros, apenas pressionando mais e mais forte, e
ele mal podia acompanhar. Era exaustivo.
—Não sei se eu posso fazer isso.
—Fazer o quê ?— Rena gritou. —Eu não sei do que você está
falando.
—Mentir—, ele sussurrou.
—Mentir sobre o que? O que isso tem a ver com a reunião da
rede?
—Eu sou gay, Lorena—, ele murmurou, usando seu nome
completo para que ela soubesse que ele estava falando sério. Ele
moveu o braço para poder observar a reação dela.

KM
Ela congelou por meio segundo, em seguida, soprou a franja de
seus olhos e levantou-se para andar de um lado para o outro.
—Eu gostaria que você não tivesse me dito—, disse ela.
—Eu sei que isso é um choque...
—Não, não é. Eu sei tudo sobre isso, querido. Eu só queria que
você não tivesse me contado sobre isso. Porque agora não é uma
coisa que eu acho, é uma coisa que eu sei, o que significa que é uma
coisa que eu terei que lidar mais tarde.
—Espere um minuto, você sabe?
—Você não é tão sutil quanto você pensa que é, querido. Eu vi
onde seus olhos pousam quando saimos juntos. Além disso, acho que
nunca encontrei um homem hetero que não tenha me cantado pelo
menos uma vez.— Ela sentou-se na cadeira e se inclinou para a frente,
ignorando a expressão espantada dele. —Desde que eu conheço você,
você se contentou em interpretar o papel do bom e velho garoto
carregado de testosterona, então por que você está me dizendo isso
agora? Quando você está prestes a conseguir o que sempre quis...
—Alguém me ensinou recentemente que ser gay não tem nada a
ver com aparência masculina ou ser forte ou bom em coisas ao ar
livre. É completamente separado disso. Então, eu devo viver minha
vida mantendo os mesmos estereótipos que querem forçar a mim, a
ele e a todos os outros gays em uma caixa em particular? Não tenho
mais certeza se posso viver com isso. Estou preocupado com quem eu
poderia estar decepcionando, não menos importante de tudo.
Rena estendeu as mãos na frente dela em um gesto apaziguador.

KM
—Só… não faça nada ainda. Não diga nada. Basta se encontrar
com a rede, ver o que eles têm a dizer. Quem sabe, eles possam não
fazer uma oferta... Ou talvez eles façam... mas você deve encontra-los
antes de fazer algo irrevogável. Você precisa ter todas as informações.
—Todas as informações,— Rock murmurou para si mesmo. —
Sim. Sim, você está certa sobre isso. Quando é a reunião?
—Oito da manhã de segunda-feira.
O encontro de Rock com Neal era na sexta-feira. Ele
definitivamente teria todas as informações até então.
—Aceite.

Seattle

Quando Rock puxou seu velho Land Rover para um


estacionamento na Union Marina, seu estômago se revirando com o
quanto ele estava nervoso. Rock ainda não tinha certeza do que Neal
planejara para ele. Ele disse a Neal que não estava totalmente
confortável em ir a um lugar público, mas Neal estava determinado a
mostrar a ele como seria estar fora como um casal, para ter todas as
informações, então como ele disse: ele teve uma ideia perfeita.
O estômago de Rock se assentou enquanto observava Neal
caminhando em sua direção ao longo do calçadão de madeira
desgasta que ladeava o estacionamento, suas pernas compridas

KM
devorando a distância em um andar de pernas soltas. Ele estava
maravilhoso com jeans apertados que se estendiam sedutoramente
sobre suas coxas grossas e uma camiseta branca simples que fazia o
mesmo com seu peito largo. Com as mãos enfiadas nos bolsos, ele
caminhou na direção de Rock, sorrindo, como se não se importasse
com o mundo.
Neal levantou a mão quando ele fez um movimento para sair do
carro, então Rock ficou parado. Cruzando para o lado do passageiro,
ele abriu a porta e entrou. Rock nunca tinha ficado mais agradecido
pelo tom de janela que ele tinha no Rover, porque permitiu a Neal
inclinar-se sobre o console central e agarrá-lo pelo colarinho, para
puxá-lo em um beijo contundente.
Suas línguas emaranharam quando eles agarraram as roupas um
do outro em desespero. Suas respirações se misturaram e Rock se
interrompeu com um gemido quando Neal mordeu seu lábio inferior.
—Deus, faz muito tempo desde a última vez que eu fui capaz de
fazer isso—, disse Neal, soando tão dolorido quanto Rock se sentia.
—Muito tempo—, Rock concordou.
Neal puxou-o para mais perto para mais alguns beijos
provocantes antes de soltar a camisa e alisar o colarinho.
—Se continuarmos fazendo isso, eu vou ter você me montando
em menos de cinco minutos.
Rock gemeu e espalmou sua ereção, agora causando problemas
com o ajuste de seu jeans.
—Eu não sou contra isso—, ele respondeu, lambendo os lábios.
Neal amaldiçoou e bateu a cabeça contra o encosto de cabeça.

KM
—Você está me matando, McCreary.— Ele levou um momento
para se ajustar também. —Eu prometi a você um fabuloso encontro
gay, e é exatamente isso que você vai conseguir. Mas não se preocupe,
vamos continuar exatamente de onde paramos quando chegarmos a
minha casa.
Assim que Rock estava fora da segurança de seu carro, seguindo
Neal pelo calçadão em direção aos barcos, ele ficou cada vez mais
nervoso a cada passo.
—Não tenho certeza se é uma boa ideia. A parte pública, de
qualquer maneira.
Neal lançou um olhar divertido por cima do ombro.
—Não se preocupe, não é público. Eu te disse que é uma festa
privada com alguns dos meus amigos mais íntimos, todos eles são
gays, com a exceção de um casal que é amigo da família, e nenhum
deles tinha ideia de quem você era antes de eu sair na excursão com
você. Confie em mim, nenhum deles se importa com o quê ou
com quem você faz no quarto.
Rock respirou fundo. Ele poderia fazer isso. Ele devia isso a si
mesmo, para explorar esse lado de si mesmo antes de se comprometer
totalmente a encerrá-lo pelo resto de sua vida profissional. Rock não
estava prestando atenção quando Neal parou, então ele bateu em suas
costas, fazendo Neal rir.
—Aqui estamos—, disse Neal.
‘Aqui’ acabou por ser um iate gigante, um iate legítimo, como o
tipo que você via celebridades descansando no Mediterrâneo no
TMZ. Era um branco reluzente e parecia ter três ou quatro decks, sem

KM
incluir a ponte no topo. As letras do lado diziam "San
Valentino”. Aqui nesta pequena fatia da vida marinha no meio da
cidade, em frente a esse barco chique, Rock estava tão fora de si, que
se sentia completamente desorientado, quase a ponto de tontura.
—Talvez isso não seja uma boa idéia—, disse ele, dando um passo
para trás.
Neal se virou para encará-lo, levantando-se no espaço de Rock
até que seu hálito quente soprou em sua orelha.
—Você confia em mim, Travis?
Ouvir seu nome real naquela voz nunca deixou de causar um
arrepio em Rock. Não o livrou completamente dos nervos, mas foi
muito eficaz em relaxá-lo. Ele soltou um suspiro trêmulo.
—Sim. Sim eu confio.
—Bom.— Neal pressionou um beijo rápido atrás da orelha, então
recuou e pegou a mão dele.
Rock teve que se conter para não olhar ao redor para ver se eles
haviam sido vistos. Ele confiava em Neal e, se Neal disse que seu
anonimato estava seguro, Rock acreditava nele. Ele se permitiu ser
conduzido pelo corredor até o iate ridículo.
—Então, um de seus amigos é um playboy bilionário,
aparentemente?
—Não. O iate pertence a Nic, que, aliás, é quem me disse para ir
atrás de você— disse Neal com um sorriso. Ele ficava lindo sorrindo.
—Ele o aluga e viveu nele por anos, até recentemente, quando ele e
Justice compraram uma casa. Eu realmente não conheço toda a
história sobre como ele conseguiu e seu outro barco, mas eu tenho

KM
certeza que é parte de uma herança e parte de viver de ramen e
chiclete por dez anos.
Rock riu enquanto mais alguns de seus nervos se soltavam. Estar
com Neal era tão fácil, confortável, que ele quase podia esquecer que
ele era um caso perdido no armário. Neal deu a volta no iate como se
tivesse feito isso antes, puxando Rock pelo estreito corredor até se
abrir para um deque na parte de trás do barco. Havia várias pessoas
que já estavam lá, descansando em móveis de veludo que estavam
dispostos em círculo ao redor de uma daquelas fogueiras portáteis de
metal.
Toda a conversa cessou e todo mundo congelou quando Neal
conduziu Rock para o convés com uma mão na parte baixa de suas
costas. Neal fez uma espécie de ruído no fundo da garganta.
—Que bom, rapazes. Não quebrem seus olhos olhando tão forte.
Quando Rock olhou para ele, Neal apenas balançou a cabeça.
—Eu prometo, isso é muito mais sobre mim do que você—, ele
murmurou. —Eu nunca trouxe Tony para passear em nossos
encontros porque ele não estava tão interessado em passar tempo com
meus amigos. Eu acho que deveria ter sido um sinal de que ele
simplesmente não dava a mínima.— Ele deu a Rock um sorriso triste
antes de puxá-lo para uma espreguiçadeira livre.
Rock sentou-se e reclinou-se contra o encosto da cadeira. Achava
que Neal procuraria outra cadeira ou se sentaria ao lado dele,
mas não. Neal empurrou as coxas de Rock até que ele as abriu o
suficiente para que Neal se sentasse entre elas. Então ele se inclinou
para trás, apoiando as costas no peito de Rock. Rock podia sentir-se

KM
corando até as raízes de seu cabelo, totalmente auto-consciente sobre
qualquer tipo de PDA56, mesmo na frente de um grupo gay amigável,
mas ele não podia mentir para si mesmo e fingir que não era ótimo ter
aquele corpo forte pressionado contra ele novamente, finalmente.
Eventualmente ele relaxou o suficiente para enfiar seus braços
frouxamente ao redor da cintura de Neal, e ele se derreteu nele como
manteiga quente, deixando escapar um zumbido feliz que foi direto
para o pau de Rock.
—Gente, esse é o Rock McCreary—, disse Neal, depois apertou a
coxa de Rock. —Deixe-me apresenta-lo a todos. Tenho certeza de que
isso vai parecer o primeiro dia de aula ou algo assim, mas vou ser
rápido.— Neal apontou para o casal à direita - um homem em forma
com cabelo comprido e descolorido pelo sol, olhos azuis marcantes e
m twink moreno sentado em seu colo. —Esse é Nic, que é dono dessa
banheira. O que está em seu colo é seu marido, Justice. Seria meio
estranho se não fosse, hein?
Nic cumprimentou Neal com bom humor, e Justice deu um
sorriso tímido antes de se aprofundar no abraço de seu
marido. Deveria ter envergonhado Rock, assistir a PDA tão
normalmente, mas isso o deixou irracionalmente ciumento. Cristo,
eles eram casados.
—O que vocês fazem?—, Perguntou Rock, curioso para saber que
tipos de profissões existiam, onde homens poderiam ser casados com
homens e isso não seria um problema. Parecia um tipo de universo
paralelo para ele.

56
Demonstração publica de afeto.

KM
—Eu faço fretamento com o iate, principalmente festas de
casamento e passeios corporativos, as ocasionais festas de formatura
para crianças ricas. Também faço viagens de um dia para festas
pequenas no meu outro barco, um veleiro antigo— disse Nic. —Minha
melhor amiga, Samara—, disse ele, apontando para uma mulher
latina atraente conversando com outro homem no bar, —é minha
parceira de negócios e primeiro imediato.
—E eu sou um designer gráfico freelancer—, acrescentou
Justice. —Como posso trabalhar em qualquer lugar, também ajudo
nos passeios de barco.
Isso explica muito, pensou Rock. Eles eram autônomos. Eles
poderiam fazer o que quisessem, desde que seus clientes não
conhecessem seus negócios.
Neal acenou com a cabeça em frente a eles para outro casal. Um
homem de cabelos escuros que parecia polido, mesmo usando apenas
shorts polo e cáqui, talvez fossem os sapatos de barco que davam essa
aparência, estava recostado em outra espreguiçadeira, enquanto um
cara muito maior, de cabelos ruivos e barba grisalha, estava sentado
na ponta, cutucando o fogo.
—Esses são Rich e Patrick-Paddy.
—Ah, aqueles que eram as últimas pessoas que você esperava se
estabelecer?
—Esses seriamos nós, companheiro—, Patrick disse com um
sotaque irlandês que até Rock teve que admitir que ele era quente,
sem desviar o olhar do fogo.

KM
Nic jogou uma tampa de garrafa nele, e ela o atingiu no lado da
cabeça.
—Jesus, Paddy, você está pirando—, ele riu.
—Ow—. Patrick olhou e esfregou a cabeça. Obviamente, não
querendo arriscar mais projéteis, ele se arrastou até a cadeira e se
acomodou ao lado de Rich, colocando a cabeça no colo do outro
homem.
—Rich trabalha com publicidade, e Paddy constrói barcos, caso
você esteja se perguntando—, Neal forneceu.
A atenção de Rock foi atraída para o terceiro casal, à sua
esquerda, porque eles estavam danda uns amassos, a única coisa que
os impedia de foder eram suas roupas. Ambos eram enormes,
honestamente, um homem loiro construído como uma maldita
geladeira e um cara de cabelos negros que era quase tão alto quanto
ele, apenas não tão largo. E eles estavam chupando a língua um do
outro como se estivessem sozinhos.
—Hum ...—, disse Rock, desamparado.
Neal seguiu seu olhar e estremeceu.
—Perdoe-os, eles são recém-casados.— Ele levantou a voz. —
Cristo, Bennett, você não tem que dar a ele o show completo!
O cara loiro, que deve ser Bennett, piscou como se estivesse
saindo de um coma, e sua mão, que estava lentamente se arrastando
pela parte de trás da calça do outro, congelou. Ele olhou para Rock
por alguns segundos, confuso, antes de amaldiçoar e se sentar.
—Você nem percebeu que estavamos aqui, não é?—, Perguntou
Neal.

KM
—Cala a boca—, resmungou Bennett. Ele olhou para o marido,
cujos lábios estavam machucados pelos beijos e a pele pálida estava
rosada, e seus olhos se suavizaram. —Não pude me controlar. Estava
distraído.
Neal olhou por cima do ombro para Rock.
—Sim, então esse é Bennett, obviamente. Ele é meu parceiro na
patrulha do porto. E esse é o marido novinho em folha, Rory.
—Prazer em conhecer todos vocês—, disse Rock, soando um
pouco brusco até para seus próprios ouvidos. —Hum, Neal me contou
muito sobre você.— Rock notou algumas outras pessoas no bar e na
mesa de sinuca. —E eles?
—Ah, tudo bem.— Nic apontou Samara. —O casal com quem ela
está falando são Jessie e Rod. Jessie é a melhor amiga de Bennett
desde o ensino médio e a mãe de sua filha.— Neal acenou com a
mão. —Longa história. Rod é o marido dela. As crianças estão ali ao
lado da mesa de bilhar - a loira de cabelo curto é Addison, a filha de
Bennett e sua namorada, Sarah, e seu amigo Alex.
Eram muitos nomes.
—Eu provavelmente vou esquecer todos esses nomes no
primeiro par de vezes—, ele disse honestamente.
—Normalmente, 'ei, você' funciona muito bem—, disse Patrick
com uma risada.
—História interessante, antes de Bennett e Rory se juntarem,
Rory teve Addison em uma de suas aulas. Ele ensina fotografia na
escola deles—, disse Neal.

KM
Isso realmente surpreendeu Rock. Um homem gay ensinando no
ensino médio. Embora não fosse uma profissão movida a testosterona
como a de Rock, ainda era uma que tendia a manter um estigma para
os gays, especialmente os homens. Ele se perguntou se Rory tinha
experimentado qualquer reação, mas ele pensou que era uma
pergunta bastante inapropriada a se fazer a alguém que você acabou
de conhecer.
Então os pensamentos de Rock escaparam quando Neal cobriu a
sua mão, que estava descansando levemente na barriga do homem, e
usou-a para apertar o braço de Rock ao redor dele. Graças aos nervos,
sua ereção da sessão de amassos no carro havia desaparecido, mas
voltou como uma vingança. O jeito que Neal se mexeu, pressionando-
se contra ele, disse a Rock que ele estava bem ciente de como a
proximidade estava afetando-o.
Ele estava distraído por seus pensamentos impuros quando a
mulher alta e loira, Jessie, veio com sua filha magra, igualmente loira,
ambas sentaram de pernas cruzadas no chão perto do fogo.
—Estamos contentes que você possa se juntar a nós, Rock. Eu sei
que esse grupo pode ser um pouco...
—Desagradavel?— Rich forneceu.
—Esmagador—, disse Justice.
—Devastadoramente bonito?— Patrick disse com um sorriso
cheio de dentes.
Jessie revirou os olhos.

KM
—Eu ia dizer um pouco intimidante, mas estamos realmente
felizes por você estar aqui. Neal tem nos contado tudo sobre o que
você faz. Parece tão excitante!
Feliz em ter um assunto que conhecia, finalmente, o trabalho
sempre era algo que ele poderia falar - Rock sorriu para ela.
—É realmente. É a minha coisa favorita no mundo, apenas entrar
na floresta em algum lugar e viver da terra. É a única vez que sinto
que posso realmente respirar.
Os dedos de Neal se flexionaram em sua mão, então ele se
acomodou mais profundamente nos braços de Rock.
Quando Jessie sorriu de volta, uma covinha piscou em sua
bochecha esquerda.
—Meu marido, Rod, ficará animado em falar com você. Seu dia
de trabalho malévolo é contabilidade, mas ele é um caçador de
emoções - adora escalar, base jumping57, mergulho, qualquer coisa
que estimule a adrenalina.
—Ei, falando de armários58—, interrompeu Rich. —Você está
gostando de ser um turista?
Todos os olhos se voltaram para ele. A testa de Rock franziu
porque ele não tinha ideia do que o homem estava falando.
—Cara, eu pensei que você tivesse se aposentado de ser um
idiota—, Neal rosnou.

57
é uma modalidade na qual o base-jumper salta de penhascos, prédios, antenas e até pontes. Para esse
tipo de atividade, o base-jumper faz o uso de um pára-quedas apropriado para aberturas a baixas
altitudes.
58
O trocadilho se perdeu na tradução, ela usou a frase “closet thrill-seeker”, por isso ele citou armário.

KM
Rich apenas revirou os olhos e deitou na cadeira, cobrindo os
olhos com óculos escuros. Patrick sacudiu a cabeça, mas esfregou a
coxa de Rich.
—Ignore-o. Ele está irritado com alguma coisa no trabalho. Está
tendo problemas em controlar as emoções como um adulto faria.
Ele se levantou e estendeu a mão para Rich, que baixou os óculos
escuros e estreitou os olhos.
—O que é O'Dowd?
—Vamos para uma das cabines para que eu possa dar-lhe algo
mais para fazer com essa sua boca espertinha.
Os olhos de Rich brilharam, mas ele não disse não. Ele ficou
obediente e deixou Patrick levá-lo embora.
Neal se contorceu no meio dos braços de Rock.
—Eu sinto muito por isso. Rich é...— Ele olhou para Rory.
—Um trabalho em andamento—, respondeu Rory.
Rock ainda estava confuso e se aborreceu com isso.
—Eu nem sei do que ele estava falando.
Neal suspirou pesadamente.
—Ele chamou você de turista... é o que as pessoas dizem sobre os
heterossexuais que vão a clubes gays apenas para, bem... assistir os
gays em seu habitat natural.
Rock franziu a testa, ainda mais intrigado.
—Ele acha que eu sou hetero?
—Não tanto, não... eu acho que é o mesmo princípio quando uma
pessoa que está no armário vem para observar.

KM
—É isso que você acha que eu estou fazendo?— Rock perguntou,
em pânico. — É isso que eu estou fazendo?
Neal se inclinou para frente e capturou seus lábios. O que Rock
achou que seria um rápido beijo se transformou em um beijo longo e
provocante que o deixou um pouco atordoado.
—Não é. Isso foi minha ideia, lembre-se. Egoisticamente, quero
mostrar o que você está perdendo. E me corrija se eu estiver errado,
mas não acho que você teve muitas experiências apenas saindo com
os amigos, especialmente aqueles de quem você é próximo.
—Você não está errado—, disse Rock em uma voz arenosa.
—Nessa nota—, Nic disse, puxando um Justice cochilando do seu
colo, —eu vou ligar o motor e vamos andar ao redor do lago por uma
hora ou mais.
Ele desapareceu, presumiu Rock, para subir até a cabine. Não
muito tempo depois, o estrondo profundo do motor vibrou através de
seu corpo enquanto o barco sai do lugar. O sol estava beijando o
horizonte e as luzes noturnas do convés piscavam uma a uma. O ar
esfriou quando o barco acelerou. Neal se aninhou de volta nos braços
de Rock, e eles olharam para a água enquanto Justice dormia e
Bennett e Rory voltavam a se beijar.
Jessie, Rod e os adolescentes foram para a popa, olhando para o
rastro dos enormes motores. Adolescentes, pensou Rock.
—Então Addison e Sarah, elas são um casal?— Ele perguntou.
—Mmhmm—, respondeu Neal, parecendo meio adormecido.
—E todo mundo ... todo mundo sabe disso?
Mais alerta, Neal virou de lado para poder olhar para Rock.

KM
—Sim. Na verdade, Addison foi para Rory primeiro, e ele a
ajudou a contar para o pai dela. Não é realmente uma coisa de sexo,
no entanto - o senhor sabe, Bennett teria um ataque cardíaco só de
pensar nisso - mas Addy se identifica como demissexual59 e Sarah é
bi.
—E Alex?
—Alex é gay. Ele teve alguns probelmas com os valentões em sua
antiga escola, mas ele está indo bem desde que ele foi
transferido. Estar perto de Bennett e Rory o ajudou muito, eu acho,
vendo que não há problema em ser gay.
Rock fechou os olhos e engoliu a pílula amarga. Eles eram apenas
crianças, mas eles estavam fazendo algo que ele nunca teve coragem -
eles estavam vivendo livres e orgulhosos. Isso o fez se sentir com uma
polegada de altura. Mas as razões pelas quais ele não podia sair ainda
estavam lá. Era improvável que ele conseguisse um acordo com a rede
se ele começasse a se vender como o Especialista Gay de
Sobrevivência. Apenas não eram esses os caras assistindo os
programas. Exceto... Neal assistia. Então Rock teve que se perguntar
quantos outros gays homens e mulheres estavam lá assistindo quando
os programas passavam tanto tempo fazendo marketing para a
multidão de machões. Rock estava deixando essas pessoas para
baixo? O seu povo? E valeria a pena arriscar sua carreira, seu sonho,
para mudar isso?

59
é uma pessoa cuja atração sexual surge somente quando existe envolvimento e/ou laço emocional,
afetivo, e/ou intelectual com a outra pessoa, não sendo a estética o único fator determinante para o
surgimento da atração sexual.

KM
Porque ele estava tendo dúvidas. Muitas delas. E não apenas por
causa de Neal, embora ele tivesse feito o máximo para abrir seus olhos
para o que ele estava desistindo. Mas quando Rock imaginou o mesmo
resultado supostamente perfeito que vinha imaginando há anos -
conseguindo seu próprio programa com um orçamento decente,
viajando pelo mundo, ensinando às pessoas suas habilidades
duramente conquistadas, pensou qual seria a sensação de obter
exatamente o que ele queria, mas ficar sozinho com tudo isso. E
sozinho indefinidamente porque ele não tinha ideia de quanto tempo
teria que fazer isso, quão segura sua posição teria que ser antes que
ele pudesse sair e ainda ter uma chance de manter tudo pelo que ele
trabalhou tão duro. E se não fosse sem limite de tempo? E se o público
nunca mudasse? E se o mundo nunca mudasse? Ele teria que esperar
até que ele se aposentasse para ser tão feliz em sua vida pessoal
quanto ele esperava estar em sua vida profissional?
Era tanto sobre o que pensar. A cabeça de Rock doía. Seu coração
doeu. Ele se sentiu triste por si mesmo; Sentia-se covarde e culpado
quando pensava nas pessoas que o rodeavam e que estavam vivendo
suas verdades. Era quase demais para conter, essa onda dolorosa de
perguntas, torturando-o com o que, se e por que agora e o que diabos
eu faço. Mas seus pensamentos se acalmaram quando Neal colocou a
mão em sua bochecha. Ele olhou para aquele rosto rude, tão aberto e
carinhoso, mas forte e seguro ao mesmo tempo, e sua respiração ficou
presa. Ele estava sentindo coisas que ele não deveria... não, coisas que
ele não tinha o direito de sentir.
Então Neal acariciou o polegar sobre a maçã do rosto de Rock.

KM
—Apenas deixe ir, Travis. Só por esta noite. Pare de se
torturar. Dê a si mesmo uma pausa por um maldito minuto e apenas
viva.

KM
Seattle

Neal sabia que Travis estava pensando em algumas coisas muito


pesadas apenas pelo quão quieto ele estava. Não que ele não fosse um
cara quieto, mas sua introspecção profunda estava escrita em todo o
seu rosto. Ele se sentiu mal por Travis estar lutando. Ele se sentia pior
pela profissão de Travis ser tão fechada que ele não se sentia
confortável em ser ele mesmo. Neal entendia de onde vinha essa
percepção, mas ele não tinha certeza de que não poderia ser
mudada. Então, novamente, talvez Travis não achasse que ele deveria
lutar nessa batalha.
Mas ele quis dizer o que ele disse antes. Neal queria que Travis
tivesse uma noite com pessoas que não o julgariam, então ele poderia
simplesmente relaxar. Ele sabia que era exaustivo constantemente
manter uma parte de si mesmo escondida, ele tinha feito isso por anos
no trabalho e, infelizmente, nunca ficou mais fácil. Neal teve que
reconhecer, quando ele olhou para cima para encontrar aqueles olhos
escuros observando-o, que ele estava se apaixonando por esse
homem. Era cedo demais, e ele deveria ter aprendido sua maldita
lição com Tony, mas ele não pôde evitar. Esse cara, com seu exterior
rude e assustador, cobrindo camadas de dor e incerteza, envolvendo
seu coração macio e luxuoso, estava se tornando sua ruína. Neal sabia

KM
que ele ficaria magoado com isso. Seriamente. Era inevitável. Mas se
uma pessoa passou a vida tentando evitar a dor, eles também
evitavam viver.
—O quê?— Travis perguntou, seus lábios se curvando em um
sorriso questionador.
Neal sorriu.
—Nada. Estou feliz por você estar aqui.
Os olhos de Travis se suavizaram, e ele inclinou a cabeça como
se quisesse roubar um beijo, mas eles foram interrompidos por Nic
trazendo duas caixas de pizza para a área do salão, com todos os
outros a tiracolo.
—Quem está dirigindo o barco?— Travis perguntou.
—Sammy é apenas a primeira-dama cerimonial, porque ela não
sabe pilotar—, disse Nic com uma piscadela. —Ela é mais como minha
primeira companheira na vida. Meu primeiro imediato, Jack, está
pilotando. Sirvam-se, pessoal.
Rod se inclinou para a frente no assento que ele comandou e se
dirigiu a Rock.
—Qual foi a coisa mais assustadora que aconteceu com você na
natureza?
O sorriso disse a Neal que ele estava prestes a receber uma
resposta espertinha.
—Vamos ver… Teve a hora em que quase morri, a outra vez que
quase morri e… ah! A hora que quase morri.
Todos riram, mesmo Rich, que ficou muito mais contido desde
que Patrick o levou de volta ao convés.

KM
—Uh, mas seriamente, provavelmente a mais assustadora foi
muito tempo depois que eu fui dispensado do exército. Eu tinha
estado solto tentando descobrir o que eu queria fazer da minha vida,
e eu estava começando a formular um plano para fazer todo o
treinamento de sobrevivência. Eu entrei nisso antes que eu realmente
soubesse o que estava fazendo e cometi muitos erros, um deles foi
montar acampamento em uma caverna de ursos ainda em uso.
—Puta merda!— A exclamação veio de Addison.
—Linguagem!— Bennett, Rory e Jessie gritaram em
uníssono. Neal tinha certeza de que Bennett não dava a mínima para
o xingamento; ele apenas a repreendeu porque Jessie o fez.
Travis riu, olhando para Addison como se ela fosse algum tipo de
criatura mítica. Neal não tinha certeza se eram adolescentes em geral
ou adolescentes esquisitos que o deixavam perplexo, mas o sorriso de
Travis era afetuoso, então Neal relaxou.
—Sim, bem, minha língua era muito pior quando aquela mamãe
ursa voltou para sua toca, com certeza.
—Como você saiu disso?—, Perguntou Rod.
—Pura sorte idiota. Se ela já tivesse seus filhotes, eu teria sido
ração de urso. Mas no fim das contas ela estava gravida e obviamente
cansada de sua caçada, então eu consegui deslizar pelos cantos da
caverna e sair. Tenho certeza que minha vida passou diante dos meus
olhos, várias vezes.
—Uau, isso é muito foda—, disse Alex.

KM
—Eu vou te dizer o que é foda—, disse Neal. —O que vocês
fizeram na escola no ano passado. Addy, por que você não conta ao
Rock sobre o show de arte?
A bochecha de Addison brilhou como a de sua mãe quando ela
sorriu e olhou para Sarah, antes de se lançar à história de como ela e
suas amigas haviam organizado uma enorme exposição de arte para
falar contra o bullying, principalmente de crianças LGBT, mas
diferente, e para arrecadar dinheiro para o transplante de células-
tronco de Sarah que enviou a leucemia para a remissão.
Travis ouviu tudo com muita atenção, tanto que nem notou que
estavam voltando para a marina. Na verdade, ele parecia estar se
concentrando tanto, que Neal praticamente podia ver as rodas
girando em seu cérebro. No que ele está pensando? Neal se
perguntou. Independentemente disso, ele não gostou da carranca que
viu no rosto de seu homem. Cristo, seu homem? então ele soltou seu
prato vazio e cutucou Travis para frente para que ele pudesse se sentar
atrás dele na espreguiçadeira. Assim que ele passou os braços em
volta da cintura de Travis e apertou, Neal sentiu-o relaxar os
músculos. Sua mente não sabia o que fazer, mas seu corpo sabia que,
quando Neal estava no comando, era seguro relaxar.
Depois que o barco atracou, os convidados começaram a sair em
dois e três. Os primeiros a sair foram Jessie, Rod e as crianças.
—Foi bom conhecer você, Rock—, disse Jessie, enquanto Rod e
os adolescentes acenavam.
Com o público mais jovem fora do alcance, Neal passou o nariz
ao longo da parte de trás do pescoço de Travis, enquanto deixava as

KM
mãos à deriva sobre o abdômen firme e plano e o esfregou com as
pontas dos dedos.
Patrick foi visto arrastando Rich pelo corredor, com os olhos
brilahntes e a pele corada pela excitação. Eles teriam uma festa
infernal quando chegassem em casa. Neal esperava algo parecido com
Travis, mas ele ainda não parecia pronto. E Neal estava tentando ser
paciente. Isso não significa que ele se absteve de passar os polegares
pelos mamilos de Travis, provocando-os através da camisa apenas
para senti-lo contorcer-se.
Bennett e Rory se levantaram em seguida. Cada um deles
revezou-se apertando a mão de Travis.
—Foi ótimo conhecer você—, disse Rory.
Bennett revirou os olhos quando viu o que as mãos de Neal
estavam fazendo.
—Sim, eu espero ver você por aqui mais vezes.
Neal sentiu Travis tenso depois do comentário, embora não
soubesse se era desconforto ou anseio. Ele tinha certeza de que Travis
gostaria de estar fora, mas por alguma razão, ele achava que teria que
desistir de sua carreira como dano colateral.
Depois que Rory e Bennett saíram, Neal e Travis estavam
relativamente sozinhos, abrigados na área do salão, enquanto Nic,
Justice e Samara ficavam no bar. Neal esticou as pernas e deu um
aperto em Travis antes de se sentar.
—Nós provavelmente devemos sair também.

KM
—Oh. Sim, eu tenho muito trabalho para fazer amanhã —, disse
Rock, obviamente erroneamente assumindo que a noite acabou. Neal
fez uma dança mental porque Travis parecia desapontado.
—Não, eu quis dizer que nós provavelmente deveríamos sair,
então poderemos voltar para a minha casa antes que seja tarde
demais.
Travis olhou para Neal por cima do ombro com olhos famintos e
mordeu o lábio. Ele claramente queria o que Neal estava oferecendo,
mas sua mente ainda estava meio presa naquele armário.
—Eu não sei, talvez não devêssemos...
—Sinto muito, eu fiz parecer que eu estava perguntando?— Neal
se levantou, afastou-se e estendeu a mão. Ele levantou uma
sobrancelha quando Travis apenas olhou para ele. —Levante sua
bunda. Vamos lá.
Neal podia ver o estremecimento quando ricocheteou pelos
músculos de Travis. Ele sabia o que seu homem gostava. Ele gostou
disso. Ele não gostava de D/s60 especificamente, mas gostava de
receber comandos, de saber o que fazer e quando fazer. Ele gostava de
dançar à beira do precipício porque o mundo lhe dizia que ele não
deveria querer o que queria. E Neal estava feliz em dar a ele.
Quando Travis se levantou e passou por ele para se dirigir ao
corredor, Neal se inclinou e grunhiu em seu ouvido.
—É melhor você estar pronto, porque quando voltarmos para a
minha casa, sua bunda é minha.

60
Dominação/ submissão.

KM
Neal empurrou Travis pela porta de seu apartamento e mal teve
tempo de fechar e trancar a porta antes de empurrá-lo contra ela e
devorar sua boca. Travis gemeu em sua boca e empurrou seus quadris
tentando obter algum atrito. Neal quebrou o beijo para passar seus
lábios pelo pescoço de Travis, parando para beliscar sua mandíbula.
—Deus, isso foi uma tortura—, Neal rosnou contra a pele de
Travis.
—Oh, eu não sei ...— Travis parou com um suspiro quando Neal
chupou com força sua pulsação. —Seus amigos... parecem legais.
Neal se atrapalhou com os botões da camisa de Travis. Foda-
se, por que tem de haver roupas?
—Sim, claro, eles são ótimos. Mas cada minuto sentado lá,
tocando você, até sentindo seu cheiro e não podendo estar dentro de
você, foi uma maldita tortura.
Travis soltou um gemido estrangulado e caiu de joelhos, as mãos
indo para a braguilha do jeans de Neal.
—Você fica com a boca suja quando está excitado, sabe disso?—,
Disse ele, olhando para Neal enquanto desabotoava a calça jeans e
puxava-a para baixo o suficiente para libertar o dolorido pau de Neal.
Neal estendeu a mão e espalmou seu eixo, para poder esfregar a
cabeça nos lábios de Travis.
—E o que tem isso, caralho?
Travis encolheu um ombro e deu um golpe áspero no pênis de
Neal.

KM
—Então, eu gosto disso.— Ele substituiu a mão dele com os
lábios, deslizando para baixo no eixo de Neal até que a cabeça bateu
na parte de trás de sua garganta.
—Oh, foda-se!— Com um gemido, Neal colocou uma mão na
porta e a outra na parte de trás da cabeça de Travis. Ele bombeou seus
quadris algumas vezes, deslizando seu pênis dentro e fora da boca de
Travis. Ele gemeu e aceitou tudo que Neal deu.
Quando Neal ouviu Travis se atrapalhar com suas próprias
calças, ele relutantemente se afastou do calor requintado daquela
boca. Travis choramingou e seguiu, tentando deixar sua boca cheia.
Neal gentilmente o segurou com uma mão no ombro.
—Não, bebê. Nenhum de nós vai gozar até que eu esteja dentro
de você.— Ele puxou Travis de pé e deu-lhe um tapa forte na bunda
antes de se afastar. —Me siga. Perca as roupas— disse ele por cima do
ombro.
Neal sorriu ao ouvir os sons de roupas batendo no chão enquanto
ele liderava o caminho para seu quarto. Ele sabia que se ele se virasse
para olhar, eles estariam fodendo ali mesmo no chão, então ele
manteve os olhos para frente até que ele estava de pé na frente de sua
cama king-size, tirando sua camiseta, jeans e cuecas... Finalmente ele
arriscou um olhar atrás dele. Travis estava lá, gloriosamente nu, seu
pau duro apontando diretamente para Neal. Suas mãos estavam
fechadas em punhos ao seu lado, ele estava respirando com muita
força, e ele tinha uma expressão selvagem em seu rosto. Era óbvio que
Travis queria tudo que Neal estava disposto a dar, mas não sabia como
pedir. Isso estava bem com Neal, ele não era fã de palavras floridas.

KM
—Em cima da cama. Deite de costas,— Neal ordenou. —E se você
tocar o seu pau, eu vou fazer você esperar horas para gozar.
Os dedos de Travis se flexionaram e seus olhos reviraram, mas
ele finalmente fez o que lhe foi mandado, rastejando pelo edredom
azul-marinho de Neal e caindo de costas no meio. Ele cerrou
punhados do tecido macio nas mãos, provavelmente para não quebrar
as regras.
Deus, ele era fantástico. Neal se moveu para atravessar os
quadris de Travis. Ele amava tudo sobre Travis, desde seus longos
cabelos, amarrados em um nó bagunçado e esquecido, e a barba curta
sobre sua mandíbula angular, até seu peito quadrado e coberto por
um punhado de cabelos escuros. Neal adorava estar com um homem
que não deixava dúvidas de que a pessoa sob ele era um homem.
Neal revirou os quadris, arrastando o pênis e as bolas ao longo
de Travis, fazendo-o apertar os quadris de Neal e empurrar para cima.
—Deus, Neal, por favor—, ele gemeu. —Eu preciso…
Ele deve ter perdido a noção de seu pensamento quando Neal
colocou os dois pênis na mão e deu-lhes alguns movimentos
preguiçosos.
Neal riu.
—Eu sei o que você precisa, querido.— Ele pegou o lubrificante
em sua mesa de cabeceira - porque, sim, ele se masturbou pensando
em Travis desde que voltou para casa - abriu a tampa e regou seu
pau. —Você quer que eu te estique?— Neal perguntou, sabendo qual
seria a resposta.
Os olhos de Travis estavam fechados e ele rangia os dentes.

KM
—Não… eu apenas- não. Eu vou morrer. Apenas entre em mim.
Com um sorriso, Neal ajustou sua posição para que ele estivesse
deitado entre as coxas de Travis. Ele enganchou um braço debaixo de
uma das pernas de Travis e agarrou seu pênis com a outra, lentamente
empurrando para dentro. Travis soltou um gemido estrangulado,
dizendo a Neal que ele estava sentindo a queimação, mas suas unhas
cavando na bunda de Neal lhe disseram para continuar pressionando.
—Tão apertado—, Neal sussurrou, já sem fôlego. Ele manteve a
pressão constante até que Travis estava arqueando as costas e
agarrando as cobertas.
—Por favor, por favor,— Travis engasgou, revirando os quadris
para tentar levar Neal mais fundo.
Neal passou a mão frouxamente ao redor da garganta de Travis,
apenas o suficiente para sentir o pulso martelando sob sua pele.
—Não se preocupe, eu vou te dar o que você precisa - em meus
termos.
Abaixando-se, Neal começou a empurrar a sério, gemendo com
o jeito que o corpo de Travis o agarrava. Travis envolveu as pernas ao
redor dos quadris de Neal e enfiou os calcanhares em sua bunda,
puxando-o o mais perto que podia, até que Neal caiu para frente e eles
estavam peito a peito. Ele bateu em Travis com tanta força que ele
teve que esticar o braço acima de sua cabeça e se apoiar contra a
cabeceira da cama.
E ainda não foi o suficiente. Houve um zumbido distinto na voz
de Travis quando ele disse: —Mais.

KM
Então Neal se retirou. Travis gemeu, empurrando seus quadris
contra o ar vazio e puxando seu cabelo. Com um sorriso, Neal se
deitou de costas e deu um tapinha na coxa.
—Levante-se aqui e venha comigo. Pegue o que você precisa.
Os olhos de Travis, que tinham sido cobertos de luxúria,
focalizaram e afiaram. Ele olhou para Neal por meio segundo,
lambendo os lábios antes de se sentar e rastejar para o lado. Então ele
surpreendeu Neal por sentar em seu colo de costas para ele. Neal
levantou uma sobrancelha quando Travis olhou por cima do ombro.
—Pensei que você quisesse apreciar a vista—, disse Travis,
levantando-se de joelhos e posicionado o pênis de Neal.
Eles gemeram juntos quando Travis afundou devagar até que sua
bunda estava nivelada com os quadris de Neal. Neal passou as mãos
pelas costas de Travis, sentindo as saliências e os cumes de sua coluna,
antes de apertar suas bochechas e espalhá-las para que pudesse ver
onde estavam unidos. Era a coisa mais perfeita que ele já tinha visto,
o corpo ganancioso de Travis engolindo-o, agarrando-o, e ele não
conseguiu controlar o modo como seus dedos se cerraram com a
visão.
Travis levantou-se de joelhos e afundou-se novamente com um
suspiro. Quando ele colocou as pernas sob ele para alavancar, ele
começou a saltar sobre o pau de Neal como se fosse morrer sem
ele. Neal já podia sentir seu orgasmo formigando em suas bolas, e ele
não estava pronto para isso. Ele se inclinou para a frente e agarrou os
ombros de Travis para acalmar seus movimentos, depois enfiou

KM
alguns travesseiros atrás das costas para que ele tivesse um melhor
ponto de vista. Travis estava certo, era uma ótima vista.
Em vez de saltar, Travis parou no colo de Neal, girando os
quadris e gemendo.
—Cristo—, Neal respirou, rangendo os dentes. Ele espalhou as
bochechas de Travis novamente com uma mão e acariciou o local onde
eles estavam juntos. Ele correu um dedo primeiro ao longo do
comprimento de seu eixo quando Travis levantou, em seguida, ao
longo da borda esticada de Travis. Travis ofegou e virou a cabeça para
que Neal pudesse ver seu perfil. Seus olhos eram fendas escuras, sua
testa estava franzida e ele estava mordendo o lábio.
Neal bombeou seus quadris um par de vezes, então deslizou seu
polegar ao lado de seu pênis, esticando Travis ainda mais. Travis
choramingou e mordeu o lábio com mais força. Neal teve a sensação
de que Travis estava se segurando, e ele não permitiria isso. Ele puxou
o polegar para fora e bateu na bunda de Travis ao mesmo tempo em
que ele deu um forte impulso.
—Deixe me ouvir você. Mesmo que não estejamos mais na
floresta, você não precisa se segurar. Não comigo.
Travis levantou os quadris e Neal se contorceu, fodendo-o.
—Ah, porra!— Travis gritou. Depois disso, seus ruídos ficaram
mais altos e cada vez mais ininteligíveis, mas ele não se segurou mais.
O ombro de Travis se moveu espasmodicamente, e Neal
percebeu que ele estava se masturbando. Neal respirou o cheiro do
sexo, e algo exclusivamente masculino, e traçou o suor que rolou pelas
costas de Travis. Deus, ele queria esse homem. E por mais de uma

KM
noite. Tudo o que Neal podia fazer era continuar mostrando a ele
como poderia ser. Neal baixou o ombro de Travis e o pressionou por
baixo. Seus quadris sacudiram quando seu orgasmo rolou através
dele. Assim que ele começou a atirar, ele ouviu Travis gemer com sua
própria libertação.
Relaxado, Travis se jogou de costas, e Neal o cobriu e deslizou de
volta para dentro, enquanto ele ainda estava meio duro. Ele beijou
Travis devagar e profundamente, mergulhando a língua na boca de
Travis, imitando o ritmo lento de seus impulsos enquanto ambos
desciam da felicidade.
Eventualmente Neal suavizou, e ele rolou para o lado, puxando
Travis com ele. Neal quase esperou ver o arrependimento rastejando
nos olhos de Travis, antecipando o fim do encontro e o retorno à
realidade. Mas ele parecia adoravelmente corado e desgrenhado, e o
melhor de tudo, satisfeito e completamente confortável na cama de
Neal. Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios enquanto olhava
para Neal.
Envolvendo um braço ao redor dele, Neal puxou Travis para
ele. Travis rolou para que Neal ficasse encostado em suas costas.
—Está tudo bem?—, Ele perguntou.
—Perfeito—, disse Neal, acariciando o cabelo em sua nuca.
Travis ficou quieto por tanto tempo, que Neal achou que ele
tivesse adormecido, então ele ficou surpreso quando Travis
entralaçou seus dedos juntos em seu estômago.
—Obrigado—, ele sussurrou.
—Pelo quê?—, Perguntou Neal.

KM
—Por hoje a noite. Eu não sei, mesmo que eu nunca seja capaz
de sair, estou feliz por ter feito isso com você. Obrigado por me dar
todas as informações.
Neal sorriu contra o cabelo de Travis.
—Disponha.
Embora quisesse sacudi-lo e dizer-lhe que as coisas seriam muito
melhores se ele pudesse ser ele mesmo, Neal sabia que era uma
decisão que Travis tinha de tomar sozinho. Embora ele se recusasse a
colocar um nome nos sentimentos que haviam começado a se
acumular em seu peito, Neal esperou egoisticamente que, se Travis
decidisse sair, pudesse dar uma chance a essa coisa - o que quer que
isso tenha se construído lentamente entre eles desde o dia na
cachoeira.

Quando Neal acordou, sua cama estava vazia. Os lençóis estavam


frios e não havia nenhum som vindo de nenhum lugar do
apartamento. Travis tinha ido embora - Neal tinha esperado tanto,
mas se permitiu esperar por algo diferente. Algo mais. Se enganou por
esperar que um encontro legal e um sexo espetacular consertasse
tudo. Com um suspiro, Neal arrastou seu corpo dolorido para fora da
cama. Eles realmente deram um ao outro um bom exercício,
acordando durante a noite para mais algumas rodadas de foda suada
e intensa. Ele estremeceu com a lembrança.

KM
Depois de um banho rápido, Neal foi para a cozinha tomar um
café, mas congelou no meio do caminho quando avistou Tony sentado
em seu sofá.
— Que porra você está fazendo no meu apartamento?
Tony pigarreou e ficou de pé.
—Seu ... amigo me deixou entrar quando saiu.
Jesus, porra, se Travis viu Tony e não tinha nenhuma explicação
para quem ele era, Deus sabia o que ele poderia ter pensado. Neal
estava de repente cansado de toda a situação, sempre de um lado para
o outro com Tony, que parecia não ter ideia de como ler pistas sociais.
—Você não é bem-vindo aqui.
—Ah, querido, não seja assim.
—Pare, escute. Eu tenho tentado ser um cavalheiro sobre isso,
mas já é o suficiente. Você me deixou. Eu não segui o seu plano
mestre, então você foi para Boston e me deixou. Eu não fui o suficiente
para você... talvez eu nunca tenha sido. Mas, de qualquer forma, eu
segui em frente. Eu sofri por você, pelo fim da última década da
minha vida, mas uma coisa que não vou fazer é ser o seu plano de
B. Então não me ligue mais, não me chame de querido, não apareça
mais sem ser convidado. Você precisa me deixar em paz e me deixar
continuar com a minha vida.— Assim como já estava.
Os ombros de Tony caíram e sua boca se abriu como um
peixe. Quando Neal realmente olhou, ele pôde ver a sombra do
homem que ele amava sob o corte de cabelo de cem dólares e o terno
de mil dólares. Mas ele também viu círculos escuros sob os olhos e
linhas que não estavam lá antes.

KM
—M-mas eu… me desculpe. Eu cometi um erro.
—Sim, você cometeu. Mas você vai ter que viver com isso e parar
de me fazer pagar por isso. Eu não posso continuar fazendo isso com
você.
Com um suspiro, Tony recolheu o paletó, que obviamente
removera para se sentir mais confortável.
—Você está certo. Eu sinto muito. Verdadeiramente sinto. Vou
pegar minhas coisas na unidade de armazenamento e sair da sua vida.
Neal sentiu uma pontada de arrependimento quando o foi pegar
a chave extra na cozinha. Ao passar por ele, Tony acariciou o interior
de seu pulso com o polegar.
—Você tem certeza?
—Sim—, respondeu Neal, abrindo a porta da frente e esperando
que Tony entendesse a dica.
Aqueles ombros largos caíram ainda mais quando Tony desceu
na varanda.
—Espero que você encontre alguém que te faça feliz - que te trate
como você merece.
—Eu também—, disse Neal antes de fechar a porta em sua vida
anterior.

KM
Seattle

Rock tinha acordado em um casulo de calor, do tipo que ele só


sentiu quando dormiu com Neal na trilha. Ele se enterrou na fonte,
buscando refúgio da realidade que ele sabia que estava esperando por
ele do lado de fora daquele minúsculo apartamento. Ele esfregou o
rosto contra o pescoço de Neal, sob o queixo, e Neal fungou durante o
sono, mas não acordou.
Eventualmente Rock tornou-se plenamente consciente, o
suficiente para notar a luz da manhã preguiçosamente espiando
através das nuvens e através da janela, o suficiente para perceber que
ele passou a noite e, portanto, uma noite era muito tempo. Ele não
conseguiria se acostumar com isso - na verdade, foi a percepção de
que ele poderia se acostumar com isso, que o estimulou a sair
silenciosamente da cama e sair da sala na ponta dos pés. Ele sabia que
era covarde, mas ele não seria capaz de lidar com isso se Neal
acordasse e olhasse para ele com aqueles olhos sonolentos e
descobrisse aquele corpo ridículo, convidando-o a voltar para a
cama. Ele não seria capaz de dizer não, mas não podia dizer sim, e era
por isso que ele precisava evitá-lo.

KM
Na cozinha, ele encontrou um bloco de notas adesivas, então
uma vez que ele procurou uma caneta, ele rabiscou uma nota rápida
para que Neal não se preocupasse.

Tive que sair mais cedo. Reunião de segunda-feira para me


preparar. Obrigado novamente.

–Travis

Deus, ele se sentia o pior tipo de covarde, mas o fato de que ele
queria ficar reforçou o fato de que ele precisava dar o fora dali antes
de se apegar. Ele abriu a porta da frente e quase foi socado no rosto
pelo homem que estava prestes a bater. Rock olhou para cima e para
baixo, esse cara que parecia ter um milhão de dólares. Esse cara com
seu terno chique e seus mocassins e seu estilo hipster perfeito era o
tipo de cara com quem Neal deveria estar, o tipo de cara que
obviamente lhe daria tudo - o que era muito melhor do que um merda
trancado no armário.
—Quem é você?— O cara perguntou, colocando uma mão
proprietária na moldura da porta.
—Eu não sou ninguém, cara—, resmungou Rock. Ele apontou
para a porta aberta. —Todo seu.
Ele enfiou as mãos nos bolsos e encolheu os ombros contra o
punhado de vento e chuva que finalmente caíra das nuvens
cheias. Rock subiu em seu Rover, sentindo-se muito mais sozinho e
inquieto do que antes do encontro, mas ele não teria voltado para

KM
nada. Foi tão bom ser capaz de respirar facilmente e não se preocupar
com quem estava assistindo e o que eles poderiam estar
pensando. Pena que não é a minha realidade. Ele ligou o motor e se
afastou do meio-fio.
Nos dois dias seguintes, enquanto preparava sua apresentação
para a reunião com a Adventure Earth, Rock passou pela vida como
um fantasma. Seu cérebro estava no piloto automático, fazendo o que
precisava fazer, mas seu coração não estava naquilo. Ele estava
perdido. E o sentimento o fez descontente e irritado. Ele até mesmo
gritou com Rena quando ela veio para verificar o progresso dele, e
Rena simplesmente não era uma mulher que alguém tratava mal.
Mas ele não se importava porque estava tendo problemas em se
importar com qualquer coisa. Qual era o ponto de trabalhar tanto
para algo quando ele sabia que ainda não seria feliz - que ele não
tinha permissão para ser feliz?
—Foda-se—, ele rosnou para o seu escritório vazio, jogando um
lápis pela sala apenas pela satisfação de jogar algo. —Deus, McCreary,
por favor, passe por esta reunião e então você pode ter o seu colapso.
Ele só tinha que fazer o que precisava ser feito. Não foi só ele
quem investiu nesse negócio. Rena tinha estado com ele desde o
início, então ela tinha muito a ver com o resultado, assim como o
cinegrafista Rex, que ele usava quando queria mais do que seus
arreios e bastões de selfie da GoPro poderiam proporcionar. Ele havia
prometido ao homem um emprego se tivesse um acordo de rede, e
faria tudo o que pudesse para que isso acontecesse.

KM
Com um suspiro pesado, Rock vestiu o terno que ele tinha
colocado em sua cama. Era bonito, perfeitamente adaptado à sua
musculosa estrutura, mas deslizou por sua pele como uma
mentira. Ele preferia flanelas e Henleys a aquela alegoria a qualquer
dia.
Rena tinha dito a ele que ela contratou um serviço de aluguel de
carros com motorista para levá-los para a sede da Adventure Earth,
que, felizmente, estava localizada no centro de Seattle e não em LA ou
em algum lugar mais distante - era uma das razões pela qual eles eram
sua primeira escolha. Ele ouviu uma buzina da rua na frente, e quando
chegou lá fora, viu o Lincoln preto esperando na calçada. Deslizando
para o banco de trás, ele deu a Rena um sorriso fraco.
— Travis—, disse ela em uma voz fria como gelo.
—Lorena.
Ela cruzou as pernas e olhou para longe dele, olhando pela
janela.
—Ok, tudo bem. Eu sinto muito. Eu tive algumas dificuldades
ultimamente, e eu não deveria ter descontado em você. Por favor,
Reenie, olhe para mim.
Finalmente ela virou a cabeça e olhou para ele, a raiva se
derretendo para preocupação.
—Você não estava brincando. Você quer falar sobre isso?
Rock sacudiu a cabeça. Ele não queria que ela se preocupasse
com ele. Ela tinha o suficiente em seu prato agora.

KM
—Não, eu vou ficar bem. Vamos apenas atravessar essa
reunião.— Ele tentou sorrir, mas tinha certeza de que não alcançou
seus olhos. Ele não tinha certeza se isso aconteceria novamente.
A sede da Adventure Earth ficava do primeiro ao quarto andar,
em um dos edifícios mais altos do coração de Seattle. Quando o carro
alugado depositou ele e Rena no meio-fio, ele olhou para os monólitos
que se erguiam sobre ele. Ele sabia que os prédios não eram tão altos
quando comparados com outras grandes cidades, mas só de olhar
para eles fez com que sua garganta se fechasse. A selva de concreto
definitivamente não era o lugar para ele. Estrangulou seu fôlego e fez
sua testa franzir de suor.
Rock pulou quando a mão de Rena pousou em seu ombro.
—Você está bem?— Ela perguntou.
Ele respirou fundo algumas vezes antes de responder.
—Sim... você sabe, cidades.
—Não são seus lugares favoritos. Entendo. Bem, isso não deve
demorar muito. Nós estaremos dentro e fora, esperançosamente com
algum tipo de acordo na mesa.
Rock assentiu, incapaz de passar uma palavra além do nó na
garganta. Ele estava infeliz; ele se perguntou se isso aparecia em seu
rosto. O olhar simpático no rosto de Rena disse a ele que
definitivamente sim.
Uma vez no saguão, Rena fez o check-in com a recepcionista e
foi-lhes dito que pegassem o elevador até o terceiro andar. O elevador
os cuspiu em outro saguão, ocupado por outra recepcionista. Ela

KM
estava ciente do por que eles estavam vindo, então ela pediu para eles
se sentarem até que fossem chamados de volta.
Rock sentou-se em uma das cadeiras duras, impedindo-se
fisicamente de andar de um lado para o outro. Não foi até que Rena
apertou a mão em seu joelho que ele percebeu que estava balançando
a perna como um viciado em crack em abstinência. A sala de espera
era de um estilo charmoso, iluminada por lâmpadas fluorescentes que
eram temperadas por capas pintadas com céu azul e nuvens
fofas. Música suave tocava atrás do balcão da recepção, que
provavelmente era para ser reconfortante. Rock sentiu como se ele
fosse vomitar.
—Tem certeza de que você está bem?— Rena sussurrou. —Parece
que vai vomitar.
—Eu ficarei bem. Apenas nervoso.— Rock respirou fundo mais
algumas vezes e tentou se acalmar. Ele não tinha certeza do que
exatamente ele tinha feito. Sim, ele odiava estar na cidade e ele
definitivamente odiava estar dentro de grandes edifícios, mas ele
nunca teve essa intensa reação antes. Não era que ele estivesse
preocupado que eles não gostassem da sua apresentação - ele era bom
no que fazia e sabia de suas coisas. Mas alguma coisa sobre entrar
naquele escritório, ou sala de reuniões, ou em qualquer lugar, parecia
como assinar sua sentença de morte ou aceitar uma mordaça pelo
resto da sua vida. Claro, ele poderia obter tudo o que queria
profissionalmente fora desta reunião, mas também poderia ser o
início de uma longa vida de solidão.

KM
—Sr. McCreary, Sra. Holcomb?— perguntou a recepcionista,
chamando a atenção deles. —Sr. Nupdal e o Sr. Weisman vão vê-los
agora.— Amir Nupdal era o diretor do programa, e Bill Weisman era
um produtor afiliado à Adventure Earth, com quem Rena tinha estado
em contato para fazer a ligação com a rede.
Enquanto o estomago de Rock revirava, ele endireitou a coluna
e seguiu Rena atrás da recepcionista, que esperava na porta dos
escritórios. Quando ele passou por sua mesa, trechos da música que
estava tocando chegaram até ele. Ele não era muito fã de música, mas
uma pessoa provavelmente tinha que estar morta para não
reconhecer Adele. Ele congelou quando um fragmento da letra
penetrou no nevoeiro que nublava sua mente desde a noite de seu
encontro com Neal. Algo sobre querer não apenas sobreviver, mas
realmente viver...
Era como se uma mão invisível tivesse agarrado sua garganta e
começado a sufocá-lo. Seus joelhos se dobraram, então ele se apoiou
no balcão da recepção com uma mão. Era isso, não era? A razão pela
qual ele temia a reunião, a razão pela qual ele se sentiu irritado a
manhã toda. A reunião - se corresse bem - marcaria o começo de uma
vida simplesmente sobrevivendo, da mesma forma que ele vinha
fazendo o tempo todo. Talvez ele tivesse um trabalho que ele amava,
mas seria uma mentira, ou seria outra pessoa vivendo isso.
Sua cabeça girou e ele teve que engolir mais de uma vez para não
cuspir seu café da manhã. Rena colocou a mão em seu braço, olhando
para ele com preocupação.
—Rock?

KM
—Você está bem, senhor?— A recepcionista perguntou,
espelhando a expressão preocupada de Rena.
—Sim, eu estou, só… Um pouco de vertigem, eu acho. Eu sou
mais um tipo de espaço aberto,— ele disse, esperando que ela
comprasse a explicação de merda.
Ela sorriu educadamente.
—Você ficaria surpreso com a frequência com que ouvimos isso
aqui em cima. Dado o assunto dos shows que produzimos, temos mais
tipos de outdoor do que qualquer outra pessoa. Água ajudaria?
Rock deu um suspiro de alívio.
—Isso seria ótimo, sim.
—Deixe-me mostrar a sala de reuniões para que você possa se
sentar, e então eu vou pegar uma para você.
O quarto em que ela os levou era maior do que um escritório, mas
menor do que uma sala de reuniões. Rock adivinhou que era uma sala
de conferências de algum tipo. Tinha uma mesa grande com um
daqueles telefones de alto-falante de aparência espacial e uma enorme
tela de projeção ao longo de uma parede. Quando Rock e Rena se
acomodaram nas confortáveis poltronas de couro, a recepcionista
pediu licença por um momento, antes de voltar com uma garrafa de
água gelada.
Rock tentou sorrir, mas tinha certeza de que provavelmente
parecia mais uma careta. Manchas negras nublavam sua visão, e ele
estava fazendo tudo o que podia para não desmaiar ou vomitar. Ele
segurou a garrafa contra sua bochecha, o frio afugentou um
pouquinho da confusão.

KM
—Sério, Rock, por que você está pirando?— Rena sussurrou. —
Você consegue. Eu sei que você conhece seu trabalho por dentro e por
fora, então qual é o problema?
Ele pensou em usar a mesma desculpa que dera à recepcionista,
mas ele simplesmente não conseguiu. Ele estava tão cansado de
esconder tudo de todos. Ele olhou Rena nos olhos, certificando-se de
que a verdade brilhasse em seu olhar.
—Parece uma mentira. Eu me sinto como um mentiroso.
Seus olhos brilharam com lágrimas, mas ela balançou a cabeça,
como se estivesse determinada a não se permitir sentir.
—Não faça isso, ok? Isso é importante, lembra? Não será para
sempre, é só até você construir uma marca. Então você pode fazer o
que quiser.
Rock deu uma risada sem alegria.
—Deus, você tem dito isso desde meus primeiros dias no
YouTube.
—Sim, e você nunca teve um problema com isso naquela
época. O que mudou?— Ela o encarou por um momento interminável
antes que seus olhos se arregalassem. —Você conheceu alguém?
Travis B. McCreary, você não pode jogar tudo isso fora por causa de
uma foda.
Ele olhou para ela até que seus olhos se arregalaram e ela
empalideceu.
—Desculpe, esqueça que eu disse isso—, ela recuou.
Ele não estava jogando nada fora por causa de Neal. Inferno,
Neal poderia não quere-lo permanentemente, mesmo se ele

KM
saisse. Mas o homem fez Rock perceber que havia muito mais vida do
que trabalho, e Rock estava usando sua carreira como um bloqueio na
porta do armário.
Rena parecia querer dizer mais, mas eles foram interrompidos
por dois homens de terno se juntando a eles na sala de
conferências. Rock entrou no piloto automático quando Rena o
apresentou a Weisman e Nupdal. Eles conversaram brevemente sobre
o tempo de Rock no exército, o pai de Weisman tinha sido um Ranger,
e, é claro, ele teve que contar a história de como ele conseguiu seu
apelido. Ele fez tudo por rotina. Ele estava tão entorpecido que não
conseguia sentir o rosto ou a ponta dos dedos.
Como se sentisse que ele ainda estava tendo um grande colapso,
Rena entrou em cena para descrever sua proposta para o
programa. Eles ensaiaram esse momento centenas de vezes, então
Rock foi capaz de acenar e interpor-se nos momentos apropriados, até
mesmo acrescentou algo aqui e ali, mas principalmente ele estava
trancado na tempestade que rodopiava em sua mente.
Finalmente, Nupdal fez a única pergunta que Rock estava
esperando, a que ele estava pronto para responder por anos.
—Há muitos desses programas de sobrevivência no momento, o
NatGeo os tem, o Discovery os tem, o Travel os tem. O que você vai
fazer de diferente?
Rock limpou as palmas suadas das calças do paletó, escondido
sob a mesa. Ele estava sintonizado na conversa agora e sabia
exatamente o que queria transmitir.

KM
—Eu vi quase todos os shows de sobrevivência. Eu os observei,
estudei-os - principalmente Hawke e Grylls - mas, na minha opinião,
os shows que estão por aí agora são superproduzidos.
—Você pode elaborar?— Weisman perguntou.
—Os espectadores são espertos. Eles sabem quando estão
olhando para algo que não pode ser feito por apenas uma pessoa, mas
está sendo apresentado dessa maneira. E eles sabem quando estão
olhando para algo que foi ensaiado antes de ser feito. O que eu quero
fazer é criar um show com uma sensação muito mais portátil - algo
semelhante ao YouTube, mas produzido o suficiente para que a
qualidade e o artesanato sejam evidentes. Eu proporia que Rex, meu
cameraman - pelo menos, eu preferiria continuar usando ele, porque
ele foi treinado em técnicas de sobrevivência por um ex-SEAL, e ele
sabe tanto quanto eu - seria uma presença tão grande no show como
eu sou, apenas os espectadores não veriam seu rosto com tanta
frequência. Eles devem saber que ele está lá, fazendo as coisas que
estou fazendo, logo atrás da câmera.
Os homens estavam assentindo como se concordassem ou pelo
menos entendessem o que Rock estava fazendo. Ele poderia ter dito
mais, como gostaria de realizar concursos e levar os vencedores em
excursões, mas Rena encontrou uma oportunidade para encerrar a
conversa. Rock achava que ela provavelmente estava tentando
terminar as coisas com um bom encerramento, caso ele começasse a
enlouquecer de novo. Não foi um mau instinto.
Rock não se lembrava de ter saído do prédio, então ficou um
pouco surpreso quando foi novamente abrigado dentro do Lincoln

KM
contratado. Rena estava intencionalmente quieta, então ele suspeitou
que ela estava desviando toda sua energia para evitar estrangulá-
lo. Ele cochilou durante a maior parte do caminho de volta para
Anacortes, então ele ficou surpreso quando Rena finalmente falou.
—Bem, apesar de… o que quer que tenha sido—, ela começou,
acenando com as mãos na direção geral do rosto de Rock, —acho que
a reunião foi bem. Você viajou um pouco no início, mas acho que o
que você disse no final realmente ressoou com eles.
Ela esperou que ele dissesse alguma coisa, mas, obviamente
percebendo que ele não iria, voltou para a janela. Rock se sentiu mal
por trata-la assim, mas só havia espaço para uma coisa em sua mente,
e era o futuro trancado no armário que se estendia diante dele como
uma estrada deserta vazia. Isso estava se envolvendo em torno de seu
pescoço como um laço, sufocando sua vida.
Ele pesnou por todo o caminho até em casa. Ele ainda estava
refletindo as coisas em sua cabeça quando Rena o deixou com um
tchau indiferente. Toda a semana seguinte foi passada editando
vídeos e contemplando suas escolhas de vida, esperando que encarar
a tela do computador dele pudesse ajudá-lo a encontrar uma solução
na qual ele não tivesse apenas felicidade profissional ou felicidade
pessoal, mas ambos.
Quando Rena apareceu na sexta-feira seguinte, Rock tinha
comido muito pouco e dormiu ainda menos. Ele conseguiu tomar
banho algumas vezes, mas não se deu ao trabalho de fazer a barba...
ou trocar o pijama. Ela o olhou de cima a baixo, levantando uma
sobrancelha.

KM
—Você está terrível.
—Obrigado, amo você também—, ele resmungou, entrando na
cozinha para encher sua caneca de café.
Rena seguiu, puxando sua própria caneca para fora do armário e
segurando-a para ser preenchida. Assim que ambos estavam sentados
na sala de estar com café fresco, a expressão de Rena ficou sóbria.
—Sério, o que está acontecendo com você?
Rock esfregou a mão no rosto, depois coçou a barba, que
precisava desesperadamente de um corte.
—Crise de meia idade, eu acho?
Rena soltou um bufo indelicado.
—Você tem trinta e sete anos. Quase de meia-idade.
—Deus, eu sinto muito mais—, disse ele. —Eu me sinto velho. No
entanto, o tempo parece interminável.
—Quão existencial de você. Bem, estou prestes a melhorar muito
o seu dia.
Rock olhou para ela com cautela, inseguro de qualquer coisa que
pudesse fazê-lo se sentir melhor.
—Você acha? Me teste.
—A Adventure Earth ofereceu um acordo para o piloto61—, disse
Rena, sorrindo largamente.
—Inglês, mulher.
—Significa que, uma vez assinado o contrato, filmaremos um
piloto e eles estarão comprometidos em transmitir pelo menos esse
episódio. Se tudo der certo, espero que eles invistam como uma série.

61
Assim é chamado o primeiro episodio de um programa.

KM
Mesmo com as borboletas flutuando no estômago de Rock com
a ideia de finalmente conseguir a coisa pela qual ele vinha
trabalhando na última década, ele sentiu aquele laço apertar ainda
mais. Rena franziu a testa em sua falta de resposta.
—É isso, certo? Isso é o que você queria,— ela disse, sua voz
tingida de confusão e histeria, ou talvez desespero.
Rock suspirou, seus pulmões se expandiram contra o peso das
expectativas.
—Sim, foi.
— Foi?— Ela gritou.
—Posso apenas... eu tenho tempo para pensar sobre isso?
—Pensar nisso...— Ela beliscou a ponte do nariz, mostrando seu
profundo aborrecimento e/ou decepção. —A reunião do contrato é na
próxima quarta-feira, brilhante e antecipada. Você precisa ter sua
merda ordenada até então.
—Eu vou. Rena, obrigado. Eu quero dizer isso.
Ela revirou os olhos e deu um tapinha no joelho dele antes de se
levantar e caminhar até a porta.
—Cuide-se—, ela disse, depois se foi.
O som da porta se fechando ecoou no cérebro de Rock. Ele estava
quebrado. Sua mente estava em tal tumulto que se manifestava em
dor física. Dores, fraqueza, ele era uma casca de si mesmo. Ele não
podia viver assim. Pensar sobre o que o acordo com o piloto
significaria para ele só lhe deu uma dor de cabeça. Ele deveria estar
em êxtase, no topo do mundo, mas tudo o que ele sentia era miséria.

KM
Nunca houve um homem gay estrelando um programa de
sobrevivência, e ele sabia que tinha que haver uma razão para isso.
Então isso significava que se ele assinasse o acordo, ele estava se
condenando a uma vida de se esconder, de mentir. Mas se ele saisse,
ele estava praticamente jogando o negócio de volta em seus rostos.
Era a desistência definitiva, e pensar em círculos não fazia nada além
de deixá-lo nauseado. Felicidade profissional versus felicidade
pessoal, para ele, elas eram mutuamente exclusivas. Ele tinha que
escolher uma e resignar-se a uma meia-vida ou... ou ele poderia
mudar suas circunstâncias.
Ele estava procurando seu próprio programa de rede desde que
começou a fazer vídeos anos atrás; tinha sido seu objetivo final. Mas
e se ele pudesse expandir os limites do que o tornaria
profissionalmente feliz? E se ele pensasse fora da caixa e tivesse um
plano B, se ele saísse e a rede o abandonasse, ele teria algo igualmente
gratificante para voltar?
Uma ideia começou a se formar, fazendo cócegas nos cantos de
sua mente. Poderia ser realmente algo especial, e ele achava que
muitos de seus inscritos também ficariam felizes. Mas primeiro, ele
precisava resolver outra coisa.

KM
Franklin Falls - Snoqualmie

Neal não podia acreditar que ele estava mais uma vez
caminhando até Franklin Falls Trail. Evidentemente, foi muito mais
fácil a segunda vez, após a fisicalidade da viagem as Cascatas, mas as
escadas de terra ainda o incomodavam. Mas desta vez ele estava
sozinho, então ele pode xingar o quanto quis, até recebeu alguns
olhares irritados de alguns caminhantes inocentes ao longo do
caminho. Ele também não podia acreditar que ele estava fazendo a
viagem para se encontrar com o homem que virou sua vida de cabeça
para baixo em questão de semanas e depois escapou enquanto ele
dormia.
Ele passou a semana seguinte depois de chutar Tony, que
aconteceu de ser a última semana de suas férias auto-impostas,
obcecado com todas as coisas sobre Travis. Mesmo que eles se
odiassem quando se conheceram, ele não podia deixar de sentir que
eles se encaixavam de alguma forma. Os dois tinham tido uma
infância difícil, gostavam do ar livre e odiavam a vida na cidade. E,
deixando de lado a ridícula química sexual, eles simplesmente
se divertiram juntos. Neal sentiu como se o universo estivesse
balançando uma cenoura na frente dele, fora do alcance. Ele sabia que
se Travis saísse, eles seriam explosivos juntos como um casal, mas ele

KM
não pediria ao homem que desistisse de sua vida por ele. Ele não
podia forçar esse tipo de escolha para Travis, e Neal não podia
suportar ser deixado de lado por uma carreira da mesma maneira que
foi com Tony. Ele tinha certeza que a segunda vez seria o fim dele.
Neal quase se convencera a seguir em frente, já que não ouvira
um pio de Travis desde que saíra da cama de Neal, quando recebeu
um texto enigmático dele no dia anterior.
Nós precisamos conversar. Encontre-me onde você me derrubou pela
primeira vez. Domingo @ 11. Se você puder.
Por mais que odiasse a si mesmo por isso, Neal nunca pensara
em não ir. Se alguma coisa, eles precisavam obter algum fechamento
e esperançosamente terminanr como amigos... ou algo assim. E assim
ele se viu mais uma vez descendo a estreita escadaria de pedra que
levava até a base das cataratas. Tudo era familiar: a brisa, a névoa, o
rugido da água corrente, o homem que esperava por ele, sentado em
uma grande pedra plana junto à água.
Os nervos de Travis se mostraram no modo hesitante que ele
acenava, mas seu rosto se iluminou quando viu Neal.
—Hey—, disse ele quando Neal se aproximou. —Você veio! Eu
não tinha certeza se você iria.
—Claro que sim—, disse Neal, sentando-se na rocha ao lado de
Travis. Ele puxou a gola da camiseta porque era um dia
excepcionalmente quente, e ele já estava suando da caminhada. Ele
estudou Travis mais de perto assim que ele estava sentado e percebeu
que o homem estava parecendo um pouco maltrapilho. Ele olhou por
cima do ombro antes de arrastar o dedo indicador ao longo das costas

KM
da mão de Travis, que descansava em seu joelho. —Você está
bem? Você parece ter passado por maus bocados.
Travis passou a outra mão pelos cabelos, estremecendo quando
percebeu que ainda estava puxado para trás em um rabo de cavalo.
—Ah não. Eu não estou. Mas eu estarei,— ele disse com um
sorriso fraco.
Bem, isso foi enigmático. Travis parecia uma versão mais pálida
de si mesmo, de alguma forma menor, menos saudável. Neal estava
preocupado.
—Poderia explicar?
—Sim… então. Eu consegui um acordo para um piloto na rede
Adventure Earth,— ele disse, então mordeu seu lábio inferior.
Ah, aí está. Por isso ele queria conversar. Ele queria dizer a Neal
que ele tinha conseguido o emprego dos seus sonhos e, portanto, eles
tinham que terminar o que quer que estivesse acontecendo entre eles.
—Oh. Hum. Isso é...— Ele não conseguia dizer “ótimo” ou
qualquer coisa nesse sentido. —Isso é o que você está querendo. Esse
é o sonho, certo?
Travis suspirou, com os ombros caídos.
—Sim. Sim, eu achava assim.
—Você achava?— Neal perguntou cuidadosamente. Ele tinha a
sensação de que eles estavam à beira de algo importante. Algo que
mudaria sua vida.
—Sim, quando Rena me contou sobre isso, eu deveria ter ficado
em extase, certo? Mas eu estava apenas com medo. Porra, com muito
medo.

KM
—Com medo de que, querido?— Neal perguntou, jogando a
cautela para o vento e entrelaçando os dedos juntos.
Travis torceu a camisa com o outro punho, sobre o coração.
—De morrer sozinho neste maldito armário—, ele engasgou,
soando tão cru e destruído que Neal se viu piscando para conter as
lágrimas.
Neal fechou os olhos por um breve momento até se controlar,
depois puxou Travis para os braços.
—Fodam-se essas pessoas—, ele sussurrou no ouvido de Travis,
sobre o punhado de caminhantes na ravina com eles. —Nós nunca
vamos vê-los novamente de qualquer maneira.— Ele pressionou um
beijo na testa de Travis.
Os ombros de Travis tremeram com uma espécie de soluço antes
de se afastar, respirando fundo.
—Eu gostaria de poder consertar isso para você—, disse Neal
honestamente, mesmo sabendo que não podia. Isso tinha que ser a
decisão de Travis.
Como se tivesse lido a mente de Neal, a expressão de Travis se
transformou em algo como determinação.
—E se eu tiver um novo sonho?— Ele assentiu com a cabeça
resolutamente. —Eu vou sair. Está na hora.
A boca de Neal se abriu.
—Eu espero que você não esteja fazendo isso porque eu-
Travis o calou, beijando-o com força e rapidez antes de se afastar
com um sorriso.

KM
—Você abriu meus olhos para muitas coisas, mas eu estou
fazendo isso por mim. Eu tenho sido infeliz desde que descemos
daquela montanha. Eu nunca me importei com nada tanto quanto o
trabalho, então nunca houve necessidade de sair. Mas agora que tive
um gostinho de qual realmente é a sensação de viver - seja com você
ou com qualquer pessoa, ou mesmo apenas comigo mesmo como
alguém que não está se escondendo, bem, não posso mais continuar
assim.
Neal respirou fundo, enquanto seu peito se enchia de
orgulho. Ele estava tão feliz que Travis tivesse percebido que ele
merecia ser feliz em todos os aspectos de sua vida.
—Bom para você—, ele sussurrou.
Travis o recompensou com um sorriso brilhante que o fez
parecer muito mais jovem, muito menos cansado do mundo.
—Então eu vou fazer isso. Se a rede decidir voltar atrás com o
negócio, eu vou lidar com isso. Eu tenho um plano B.
—Isso é fantástico. Quer me contar sobre isso?
—Eu vou, mas depois. Neste momento, tenho uma transmissão
ao vivo para configurar.
—Espere o que? Você quer fazer isso agora? Comigo aqui?
—Não consigo pensar em uma maneira melhor—, disse Travis,
sorrindo. —Devo aos meus inscritos que eles ouçam primeiro de
mim. Vou levar alguns minutos para configurar o aplicativo do
YouTube para transmissão ao vivo, então apenas relaxe. Eu vou te
dizer quando for a hora.

KM
Seu sorriso era um pouco travesso, como se ele tivesse outras
coisas planejadas que ele não iria mencionar. Neal deu de ombros
porque ele não se importava com o que viria contanto que Travis
sorrisse. Ele tirou a mochila enquanto observava Travis levantar o seu
iPhone em um pequeno tripé que parecia uma espécie de aranha
alienígena. Ele colocou em uma pedra maior do que a que ele estava
sentado, presumivelmente para obter mais da cachoeira no tiro.
—Ok, última chance de sair do alcance da câmera—, avisou
Travis.
Neal apenas revirou os olhos, segurou a bainha da camiseta e
puxou-a.
—Foda-se, está calor.— Ele entrou na água até os joelhos. A água
fria estava perfeita. —Pensei que tivesse ficado em Seattle para me
livrar do calor—, ele murmurou.
Quando ele percebeu que as coisas estavam muito silenciosas
atrás dele, ele se virou para encarar Travis. Ele estava olhando por
cima do ombro para Neal com tanto calor em seus olhos, como se
quisesse devorá-lo inteiro. Travis lambeu os lábios, e a memória
sensorial dessa língua em seu corpo foi direto para o pau de Neal. Ele
espalmou sua virilha, tentando tornar sua ereção menos óbvia, depois
gemeu com o contato.
—Se você continuar me olhando assim isso vai ser mais um
porno do que uma transmissão ao vivo.
As narinas de Travis se alargaram, como se ele gostasse da ideia
de fazer um video. Neal fez uma anotação mental para

KM
definitivamente explorar isso depois, mas certamente não era o
momento para isso.
—Estou pronto. Você pode terminar de fazer sua coisa. Eu
estarei aqui cuidando do meu próprio negócio, a menos que você
precise de mim.— Ele deu a Travis o que ele esperava ser um sorriso
encorajador.
O sorriso que ele recebeu foi doce e tímido, antes que Travis se
voltasse para o telefone e apertasse o botão para iniciar a transmissão.

KM
Franklin Falls - Snoqualmie

—Ei, Rockstars!— Rock disse, dirigindo-se a seus inscritos com


o nome bobo que eles inventaram para si mesmos. Foi um pouco
embaraçoso, mas também lisonjeiro. Embora seu estômago revirasse
com os nervos, ele não tinha vontade de voltar atrás. Ele sabia que
estava fazendo a coisa certa.
—Eu sei que faz tempo demais desde que postei um vídeo, então
estou fazendo uma transmissão ao vivo para mostrar a vocês que não
me esqueci de vocês e nem do quanto me apoiaram nessa jornada.
Ele recuou e sentou em sua rocha original, dando aos
espectadores mais da cachoeira.
—Hoje estou no meu próprio quintal, fazendo uma caminhada
pessoal no Franklin Falls, em Snoqualmie. Estou me recompensando
depois de algumas semanas ocupadas. Acabei de voltar de orientar
uma excursão para as Cascatas, e tenho passado por algumas coisas
pessoais ultimamente, então espero que vocês perdoem a minha
ausência. Eu tenho muitas coisas interessantes no horizonte, e eu
queria compartilhar um pouco disso com vocês. Na verdade, estou
aqui com alguém hoje.
Suas mãos tremiam quando ele se aproximou para girar o tripé,
fazendo com que Neal estivesse no quadro. Ele podia ser visto se

KM
refrescando na água, sem camisa, logo atrás do braço esquerdo de
Rock. —Vejam aquele cara atrás de mim. Aquele é Neal. Ele é
policial. Esse cara teve muito a ver com algumas das mudanças
recentes na minha trajetória. Ele é um grande amigo.— Rock se
inclinou para frente, fingindo um sussurro conspiratório. —E ele é
super gostoso.
Rock fez uma pausa para respirar fundo, para acalmar seus
nervos. Ele tinha duas razões para estar ansioso. Ele já havia
basicamente saído chamando Neal de gostoso, mas ele tinha mais a
dizer.
—Vejam, eu tenho escondido algumas coisas sobre mim porque
pensei que não poderia fazer o que amo e ainda ser quem realmente
sou. Mas me ocorreu que eu poderia estar decepcionando muitos de
vocês enquanto eu estava satisfeito ao interpretar o meu papel.
Neal estava mais perto, uma parede de apoio silencioso, embora
ainda estivesse de frente para a cachoeira, sentado nas pedras sobre a
água ondulante.
Rock respirou fundo e se inclinou para frente novamente, como
se estivesse compartilhando um segredo. Porque ele meio que estava.
—Então, esse cara atrás de mim, eu não o conheço há tanto
tempo, mas nós meio que tivemos uma conexão instantânea. Ele não
é um sobrevivente como eu, e é mais do que provável que ele se afaste
um pouco da natureza agora, mas ele se conectou comigo de uma
forma que não sei descrever. Eu estou apaixonado por ele, então eu
não posso mais manter meu verdadeiro eu em segredo.

KM
Assim que ele percebesse, Neal escorregou em uma pedra e bateu
na água, molhando Rock e sua capa de telefone à prova d'água com
água gelada. Rock engasgou com o frio, depois riu quando Neal
começou a cuspir. Ele parecia ridículo, encharcado e gostoso pra
caralho.
—O que você disse?— Ele sussurrou.
—Você me ouviu—, respondeu Rock sem tirar os olhos do rosto
de Neal.
Com muito cuidado, Neal se levantou e saiu da água,
contornando a pedra plana sobre a qual Rock estava sentado. Ele
ficou parado sobre Rock, então ele teve que olhar para cima e apertar
os olhos para vê-lo. Curvando-se até que seus lábios estivessem a um
sussurro de distancia, ele disse: —Eu também—, suspirando as
palavras através dos lábios de Rock como uma promessa. Pouco antes
de seus lábios se encontrarem completamente, Neal estendeu a mão
para o lado e derrubou o tripé.
—Isso deve ser o bastante—, Rock riu antes de Neal calá-lo
empurrando sua língua em sua boca.

Seattle

KM
De volta ao pequeno apartamento de Neal em North Beach, Rock
estava tendo um estrondo de adrenalina. Ele estava tremendo tanto
que seus dentes estavam batendo. Seu telefone estava tocando desde
cerca de quinze minutos após a transmissão ter terminado. Ele sabia
sem olhar que era Rena, querendo descobrir como ela deveria
arrumar essa bagunça. Mas ele não queria isso. Era a verdade dele e
ele iria vivê-la, fosse no inferno ou no paraíso, ele já tinha tomado essa
decisão.
No entanto, ele também não queria falar sobre isso, então depois
de oito ligações perdidas, Neal enviou um texto dizendo que Rock
estava tirando algum tempo pessoal e que ela não deveria incomodá-
lo até a manhã seguinte. Rock quase sorriu quando imaginou qual
seria a reação dela. Então ele realmente sorriu quando Neal apertou
um copo de uísque em sua mão, que ele esvaziou em um gole,
saboreando a queimadura. Ele encostou a cabeça na parte de trás do
sofá estofado de Neal e fechou os olhos.
O sofá afundou quando Neal se sentou ao lado dele.
—Bem, está feito agora—, disse ele com uma risada calma. —
Nenhum arrependimento?
—Não.— Rock olhou para ele, e ele esperava que tudo o que ele
sentia pudesse ser lido em seu rosto porque, mesmo que seus dentes
batessem e sua mão tremesse, ele não se arrependeu. De nada.
Neal sorriu suavemente e deu-lhe um beijo suave na testa antes
de se levantar e estender a mão.
—Vamos.
—O que? Onde estamos indo?

KM
—Tomar um bom banho quente. Você foi incrível hoje, mas você
também mal consegue se controlar. Deixe-me cuidar de você.
Neal levou-o ao banheiro e pôs a banheira para encher enquanto
Rock se sentava no vaso fechado. Assim que ele considerou que a água
estava na temperatura perfeita para imersão, ele puxou Rock de pé e
metodicamente o despiu. Rock afundou na água quente com um
suspiro vigoroso, o que levou Neal a fazer um som de asfixia quando
tirou as próprias roupas. Neal não fez nenhuma tentativa de esconder
sua ereção ou a expressão dolorida em seu rosto quando ele deslizou
para dentro da banheira atrás de Rock.
Rock fechou os olhos quando se recostou no músculos fortes e
duros do peito de Neal, permitindo que ele suportasse seu peso. Neal
retumbou sua aprovação contra o ouvido de Rock. De algum lugar
atrás deles, Neal pegou uma garrafa de sabonete líquido. Ele abriu a
tampa e derramou sobre o peito de Rock, rindo quando Rock
amaldiçoou do líquido frio batendo em sua pele.
Ele pensou que pudesse ser um prelúdio para alguma coisa, mas
Neal simplesmente o lavou, languidamente, mas com tanto cuidado
que Rock sentiu as lágrimas pinicarem o interior de suas
pálpebras. Ninguém nunca tinha tomado tanto cuidado com ele, e ele
nem em um milhão de anos imaginou que ele seria capaz de permitir
que alguém fizesse isso.
—Você está bem?— Neal perguntou enquanto desenhava
círculos preguiçosos na espuma no peito de Rock.
Rock cantarolou quando os dedos calejados roçaram seus
mamilos.

KM
—Amanhã haverá consequências. Quanto todos descobrirem.
Mas agora mesmo? Eu estou absolutamente perfeito pra caralho.
Neal apertou-o com mais força com um braço e acariciou seu
pênis com o outro. Foi um toque quase inexistente, ainda mais
enlouquecedor pelo sabonete escorregadio. A respiração de Rock
ficou ofegante, mas Neal não fez nenhum movimento para apressar
as coisas.
—Você disse que tinha um plano B. Quer me contar sobre isso?
Rock bufou uma risada que terminou em um gemido.
—Como você espera que eu converse enquanto você está fazendo
isso?
Ele riu também, mas então ele deslizou a mão de volta para o
estômago de Rock.
—Não, espere! Ei, eu não quis dizer que você deveria parar.
A voz de Neal era quente e cheia de promessas.
—Não se preocupe, eu vou continuar, querido. Parei apenas para
que você possa relaxar e me contar o seu plano.
E assim ele fez.
—Eu estava procurando por algo com mais estabilidade que o
YouTube, daí o programa na rede, mas quando eu realmente pensei
sobre isso, percebi que já amo o que faço. Eu tenho muito dinheiro,
salvei e investi bem, então vou continuar produzindo meus próprios
vídeos, talvez fazer Kickstarter62 ou Patreon63. E eu pensei que desde

62
é o maior site de financiamento coletivo do mundo e que busca apoiar projetos inovadores. O site foi
fundado em 2008 por Perry Chen, Yancey Strickler, e Charles Adler.
63
é um web site norte-americano de financiamento coletivo que oferece ferramentas para criadores
gerenciarem serviços de assinatura de conteúdo, bem como formas para os artistas construírem
relações e proporcionarem experiências exclusivas para os seus assinantes, ou "patronos."

KM
que eu já estaria dando este grande salto de fé, que eu poderia muito
bem usá-lo. Talvez fazer alguns vídeos voltados especificamente para
a comunidade LGBT.— Ele deu de ombros, ficando sem energia.
Neal beijou sua têmpora e o abraçou com força.
—Tenho a sensação de que há mais.
—Sim, então eu também pensei, talvez eu continue a fazer
excursões, exceto que posso abrir uma instalação como base de
operações. E poderia ter uma academia de escalada, talvez uma
piscina. Um espaço seguro onde qualquer um, pessoas LGBT
incluídas, poderia se sentir à vontade para aprender habilidades de
escalada e sobrevivência. Você acha que eu sou louco?— Rock
perguntou, de repente incerto.
Neal lambeu o pescoço de Rock, do ombro ao ouvido, o que fez
seu pênis pulsar, ansioso para brincar.
—Eu acho que você é incrível—, ele rugiu, as palavras vibrando
contra as costas de Rock.
Ele suspirou, traçando os músculos da coxa de Neal com as
pontas dos dedos.
—Vai demorar um pouco para executar isso, se... Você sabe.
—Sim—. Neal enfiou os dedos pelos cabelos de Rock, fazendo-o
arquear as costas como um gato. Ele teve a sensação de que Neal não
estava prestando mais atenção, e Rock estava perdendo o fio do seu
próprio monólogo.
Antes que ele se afastasse completamente de uma mistura de
luxúria e exaustão, Rock tinha que dizer mais uma coisa. Ele mordeu
o lábio enquanto procurava pelas palavras certas.

KM
—Olha… Você tem me ajudado muito em tudo isso, e é fantástico
quando estou com você, mas sei que você não necessariamente se
inscreve em outro relacionamento sério. Eu sei que eu disse... o que
eu disse, mas eu não quero que você se sinta obrigado a continuar me
vendo se você não estiver pronto.
Neal empurrou os ombros de Rock até que ele se sentou, então
silenciosamente se levantou e saiu da banheira.
—Levante-se—, disse ele suavemente.
Atordoado em conformidade, Rock levantou-se e saiu da
banheira. Quando ele estava no tapete, nu e molhado, ele ergueu as
sobrancelhas para Neal. O homem enfurecido não disse nada, ele
simplesmente agarrou o pulso de Rock e o puxou para o quarto.
—N-Neal-
—Em cima da cama. Em seu estômago.— Era um comando
indiscutível.
—Mas eu estou molhado...
—Porra, eu pareço me importar? Na cama,— Neal rosnou.
Rock estremeceu e fez o que lhe foi dito. Ele esticou-se de bruços,
pernas abertas, bunda alta e esperou por seu homem. Ele imaginou
que essa era a maneira de Neal dizer que ele ficaria por perto, mas
certamente Rock não iria detê-lo por tempo suficiente para pedir
esclarecimentos.
O colchão afundou quando Neal se ajoelhou atrás dele. Rock
sabia que o estava chegando, mas ainda se assustou quando sentiu a
língua quente e úmida de Neal lambendo seu buraco. A sensação o
dominou quando Neal provocou sua abertura, alternando

KM
movimentos com estocadas até que Rock se retorcia irracionalmente,
seu pênis e bolas negligenciados pendurados pesadamente entre suas
pernas.
—Oh, Deus, por favor—, ele gemeu, sem vergonha. Ele estava
mais do que pronto para sua primeira foda como um homem livre e
orgulhoso. Ele estava engasgado por isso.
Neal pegou o lubrificante, derramou um pouco ao longo da
rachadura de Rock, e rapidamente trabalhou dentro com dois
dedos. Ele obviamente sabia que Rock não queria se muito
alongado. Mas então Neal o surpreendeu acariciando sua bunda antes
de dar-lhe um tapa.
—Vire-se. Eu quero te ver.
Então Rock rolou e olhou para Neal. Com o cabelo molhado
desgrenhado, bochechas e pescoço corados da água quente e
excitação, e gotas de água se arrastando sobre sua forma musculosa,
ele era a perfeição. Rock gemeu e agarrou seu pênis. Sua mão foi
prontamente afastada.
—Isso é meu—, disse Neal. Rastejando entre as pernas abertas de
Rock, Neal estava deitado em cima dele, apoiando-se em um
braço. Ele posicionou seu pênis no buraco de Rock com o outro, mas
ele empurrou apenas um pouco, apenas o suficiente para romper o
anel apertado do músculo, antes de parar.
—Jesus, porra, não pare!— Rock gemeu.
Neal abaixou-se devagar até que seus peitos estavam
presionados juntos. Neal era tão pesado que Rock mal conseguia
respirar fundo, e ele amou isso. Os lábios de Neal pairavam um

KM
milímetro dos de Rock enquanto a cabeça de seu pênis brincava com
seu buraco.
—Diga de novo, o que você disse no vídeo.
—Que parte?— Rock provocou.
Neal rosnou e lambeu a costura de seus lábios.
—Você sabe que parte.— Ele pressionou seu pênis em um
milímetro mais profundo.
Rock ofegou.
—Eu estou apaixonado por você.
Com um rolar de seus quadris, Neal empurrou profundamente,
até o punho, de modo que suas bolas bateram na bunda de Rock,
arrancando um grito estrangulado de Rock.
—Mais uma vez—, Neal sussurrou.
—Eu estou apaixonado por você.
Rock gritou quando Neal puxou todo o caminho, até a cabeça, e
bateu de volta para dentro. O ritmo era enlouquecedor.
—É uma loucura—, disse Neal, batendo na bunda de Rock
novamente.
—Eu sei—, respirou Rock, mal conseguindo encontrar sua voz.
—É muito cedo.— Outro impulso lento e agonizante, e Neal
mergulhou a língua na boca de Rock.
—Eu sei—, disse Rock quando Neal se afastou.
—Eu também estou apaixonado por você.
A respiração de Rock ficou presa quando Neal acelerou o ritmo,
fodendo-o com tanta força que eles avançaram na cama até que a
cabeça de Rock estava contra a cabeceira da cama, e Neal martelava

KM
sua próstata repetidamente. Rock não conseguia falar, ele não
conseguia respirar, o prazer era demais. Neal o amava. Contra todas
as loucas probabilidades, sob circunstâncias ridículas, Neal o amava
e sabia exatamente o que ele precisava.
Neal recostou-se nos calcanhares e agarrou os tornozelos de
Rock, abrindo bem as pernas. A ascensão preguiçosa de Rock ao
orgasmo acelerou exponencialmente quando Neal atingiu sua
próstata novamente. Suas bolas se aproximaram, e seu pênis se
sacudiu no clímax, surpreendendo-o, derramando jato após jato de
gozo em toda a sua barriga. Enquanto sua cabeça ainda girava, Neal
passou os braços ao redor de uma das pernas de Rock e empurrou
com tudo o que tinha, por cerca de cinco segundos antes de gozar bem
fundo dentro dele.
Em vez de rolar para fora dele como era a norma, Neal se esticou
em cima dele e preguiçosamente beijou e lambeu seu pescoço,
mandíbula e bochecha antes de abrir os lábios para enrolar suas
línguas. Quando seus corpos finalmente ficaram pegajosos demais
para serem ignorados, Neal pediu licença para ir ao banheiro e voltou
com uma toalha molhada para limpá-los, sem pressa. Então ele se
esparramou de volta em cima de Rock, enterrando o rosto na curva de
seu pescoço e prontamente adormeceu.
Na manhã seguinte, apenas a segunda vez em que Rock acordou
em uma cama de verdade com Neal enrolado em volta dele como um
polvo, ele não fugiu com o rabo entre as pernas. Em vez disso, ele se
virou no abraço, envolvendo os braços em volta da cintura musculosa
de Neal e puxou-o para perto. Neal fungou em seu cabelo antes de

KM
levantar a cabeça e piscar para ele. Quando a consciência tomou
conta, o pequeno sorriso de Neal se transformou em um sorriso
completo.
—Você está aqui—, disse ele, com muita admiração e apenas um
pouco de descrença.
—Eu estou.— Rock limpou a garganta. —Desculpe, eu fuji de
você antes.
—Você teve seus motivos. Mas você está do outro lado
agora. Estou tão orgulhoso de você.
Neal distribuiu beijos em todo o rosto de Rock até que ele mal
conseguia engolir o nó na garganta.
—Estou feliz que você esteja comigo.
—Eu também, sabe—, disse Neal entre beijos. —Com você, quero
dizer. No caso de minha não-resposta em arrastar você para fora do
banho para te foder com tanta força não ter sido o suficiente, eu estou
falando serio. Claro, é uma loucura, e muito cedo, e toda a merda que
eu disse ontem à noite, mas quem se importa? Eu passei dez anos com
um homem que basicamente me jogou fora como lixo, então eu não
acho que o tempo tenha alguma coisa a ver com o quão forte um
relacionamento pode ser.
Ele parou e lambeu os lábios, um sinal de incerteza que era
incomum para Neal.
—Mas você tem certeza? Quer dizer, você acabou de sair, então
talvez você não queira se amarrar a um cara.

KM
—Cala a boca, Hesse.— Rock agarrou o queixo de Neal e capturou
seus lábios em um beijo duro e sujo que deixou os dois sem fôlego. —
Eu estou muito sério.

KM
Seattle - um ano depois

Neal encostou-se ao batente da porta da sala de escalada e viu


como seu namorado demonstrava técnicas avançadas para sua turma
iniciante de boulder. Travis estava executando um bat-hang64 perfeito
para fazer a transição de uma parede para uma passagem vertical.
Aquele babaca adorava se exibir, especialmente quando Neal estava
em sua aula. Neal esteve lentamente aprendendo a escalar no último
ano, e ele estava no nível intermediário, mas ele não achava que algum
dia seria capaz de se mover com tanta confiança enquanto fazia
boulder - já que era escalada sem nenhum aparato de segurança.
Travis fez contato visual com ele quando ele ficou pendurado de
cabeça para baixo por um tempo, e o bastardo atrevido piscou, o que
deixou os adolescentes rindo. Entre eles estavam Addison e Alex,
Addison tendo sido enviada para as aulas de modo que ela e seu
padrasto pudessem escalar juntos, e Alex tinha sido arrastado para
dar apoio moral. Travis era um bom professor, e ele tornava isso
divertido para as crianças, então eles não pareciam se importar tanto
assim.
Como a aula estava quase no fim, Neal fora direto do trabalho
para levar Travis para tomar café. A vantagem adicional era que

64
É uma manobra onde a pessoa fica de cabeça pra baixo, por isso o bat(morcego).

KM
Travis adorava vê-lo em seu uniforme, então era certo que ele o
colocaria mais tarde. Enquanto esperava que Travis terminasse com
seus alunos e limpasse o equipamento, Neal deixou que seu olhar
viajasse por tudo que Travis havia construído. Travis decidira abrir
sua instalação, a Venture, mais perto da cidade do que perto de sua
casa em Anacortes, porque isso traria mais negócios. Ele vendeu sua
casa e comprou um antigo prédio da Gold's Gym em Ballard, nos
arredores da cidade, e decidiu reformá-lo para atender às suas
necessidades.
Travis tinha dormido muito no sofá nos primeiros dois meses até
transformar um escritório dentro do prédio em um minúsculo
apartamento de um só cômodo. Neal e os meninos ajudaram muito
com as reformas, então ele se orgulhou do resultado final, que era
uma instalação de escalada e recreação de última geração. Travis
ensinava todos os tipos de aulas, desde escalar até habilidades de
sobrevivência, e Neal tinha até feito alguns workshops65 sobre
segurança na água e natação de resgate. Com a ajuda de Rory, eles
montaram vários programas pós-escola para crianças carentes e
LGBT, embora todos fossem bem-vindos para participar de qualquer
programa.
Quando Travis começou a contratar mais funcionários, ele
começou a fazer mais excursões para filmar para seus assinantes do
Patreon. Neal ia com ele toda vez que conseguia tirar uma folga do
trabalho e ficava feliz em dizer que os vídeos com os dois eram sempre

65
é uma reunião de grupos de pessoas interessados em determinado projeto ou atividade para
discussão sobre o que lhes interessar e somente pelo que eles quiserem.

KM
os mais populares. Como Travis esperava, ele perdeu mais do que
alguns seguidores, mas também ganhou alguns novos depois de sua
transmissão nas cascatas, bem como um pouco de notoriedade como
uma semi-celebridade LGBT.
Como todos eles suspeitavam, a rede Adventure Earth havia
retrocedido em sua oferta, afirmando que não era por causa do “estilo
de vida” de Travis, mas que sua saída publica atraíria o “tipo errado
de atenção” para seu programa e para a rede. Travis estava bem com
isso porque ele não queria trabalhar para uma empresa que fosse anti-
LGBT, não importando o que eles negassem. Para grande
aborrecimento de Rena, ele se recusou a buscar mais oportunidades
de rede. Rena tinha ficado chateada no início que ele não tinha
consultado ela sobre sair, mas ela mergulhou de cabeça em marketing
e networking para conseguir mais negócios para a Venture. Ela se
tornou inestimável como a PR66 da empresa.
Mãos quentes deslizaram no cabelo de Neal, e ele sorriu e abriu
os olhos, que se fecharam enquanto ele estava perdido em
pensamentos.
—Você está ficando com linhas brancas no cabelo—, ele brincou.
Travis deu de ombros.
—Agora eu sei como você vai parecer quando for uma raposa
prateada67.
—Morda sua língua!

66
Relações publicas, é a pessoa responsável por cuidar da imagem da impresa.
67
Um homem mais velho atraente. Geralmente, aquele que tem cabelos grisalhos e é frequentemente
desejado por mulheres mais jovens.

KM
—Eu prefiro morder a sua—, disse Travis, estalando os dentes
antes de mergulhar para um beijo.
Estava claro que ele queria que fosse rápido, mas Neal segurou o
cabelo em sua nuca e o segurou exatamente onde ele estava, para que
ele pudesse saquear sua boca bem devagar. Quando ele finalmente
recuou, Travis parecia atordoado e excitado, o que fez Neal sorrir
satisfeito.
—Bem, encerramos por hoje?
—Nós encerramos. Você está pronto para um café, querido?—
Neal mexeu os pés, torcendo para que Travis não o rejeitasse porque
tinha coisas importantes que precisavam conversar.
—Eu estou. Deixe-me apenas ter certeza de que todos saíram e
eu vou trancar.
Neal esperou na frente, saltando com energia nervosa até Travis
sair pela porta da frente e trancá-la atrás dele.
Ele olhou para Neal por um momento, inclinando a cabeça.
—Que há com você?
—Hã? Nada. Longo dia. Pronto para um café.
Travis olhou para ele com dúvida, mas não disse mais nada
enquanto caminhavam pelos três quarteirões até o Clean Bean. Uma
vez no balcão, Travis pediu seu costumeiro latte de soja e Neal pediu
um red eye. Bebidas na mão, eles encontraram um sofá de dois
lugares com uma pequena mesa para suas bebidas.
—Você tem certeza que você precisa de cafeína?— Travis
perguntou, olhando para a perna saltitante de Neal.
—Deus, sim. Eu falei sério, este foi um longo dia.

KM
—Acho que é o que eu vou colocar em sua lápide, então,— Travis
brincou.
—Idiota—, Neal riu, revirando os olhos e batendo as coxas
juntos. —Você planeja estar por perto tempo suficiente para decidir o
que estará na minha lápide?
Ele quis dizer isso como uma piada, e pelo jeito que os olhos de
Travis se arregalaram, Neal percebeu que ele não tinha percebido as
implicações do que ele disse.
—Eu... quero dizer, ninguém pode prever o futuro, mas eu acho
que... eu acho que gostaria disso.
Algo dentro do estômago de Neal se desenrolou e ele finalmente
respirou fundo e aquietou a perna nervosa. Ouvir isso tornou o que
ele queria dizer muito mais fácil.
—Venha morar comigo—, disse ele, certo como Travis tomou um
gole de seu café.
Travis não cuspiu o café que tinha na boca, mas o modo como
seus olhos se arregalaram disse a Neal que foi algo bem
próximo. Travis engoliu o líquido quente com um estremecimento e
teve um pequeno ataque de tosse antes de olhar fixamente para Neal.
—O que?
—Eu queria pedir a você depois que você vendeu sua casa, mas
eu sabia que era cedo demais, e eu poderia dizer que você não queria
depender de mim. Mas agora você tem o seu negócio funcionando, e
as coisas estão indo bem... com a gente. Não há nenhum sentido em
você morar naquela minúscula sala na academia quando você está no
meu apartamento na metade do tempo de qualquer maneira. Eu vou

KM
entender se você sente que ainda é cedo demais e tudo, mas eu
realmente acho que poderia ser...
—Cale a boca, Hesse,— Rock interrompeu, silenciando a
divagação de Neal. —Eu acho que essa é uma ótima ideia. De fato, se
você não me pedisse antes, eu teria aparecido à sua porta e me
ofereceria para pagar aluguel com favores sexuais.
Brincando para mascarar seu profundo alívio, Neal fingiu
levantar a mão.
—Eu ainda posso conseguir esse acordo?
—Querido, se eu for morar com você, você terá mais favores
sexuais do que saberá o que fazer com eles.
Neal se inclinou para a frente e ficou bem próximo do rosto dele.
—Isso parece um desafio. Preciso te levar para casa e te foder por
horas só para ver qual de nós entra em colapso primeiro?
Os olhos de Travis se escureceram, as íris foram engolidas por
suas pupilas dilatadas com luxúria. Ele lambeu os lábios e assentiu
vigorosamente.
—Sim. Sim, é exatamente isso que você precisa fazer. Por que
ainda estamos aqui?
Sem outra palavra entre eles - porque, honestamente, mais uma
palavra da boca suja daquele homem faria Neal se envergonhar, Neal
se levantou, agarrou Travis pelo pulso e o arrastou para fora da loja.
—Agora eu sei que você está duro, já que deixou seu café para
trás—, disse Travis com riso em sua voz.
Neal girou em torno dele e empurrou-o contra a lateral do
prédio, reivindicando sua boca em um beijo brutal. Ele empurrou a

KM
perna entre as coxas de Travis para dar-lhe algo em que moer
enquanto Neal o fodia com sua língua até que ele estava tremendo
todo. Uma vez satisfeito por ter beijado o sorriso atrevido do rosto de
Travis, Neal se virou e puxou o amor de sua vida.
Para retornar a casa deles.

Fim

KM
JK Hogan tem contado histórias desde que consegue se lembrar,
começando por escrever listas de elenco e histórias para seus
brinquedos enquanto crescia. Quando ela finalmente decidiu colocar
a caneta no papel, a mágica aconteceu. Ela é muito inspirada por
todos os tipos de música e frequentemente cria uma “trilha sonora”
para suas histórias enquanto as escreve. JK espera um dia escrever
algo para todos, então ela se separou do romance paranormal e está
no m/m romance contemporâneo. Quem sabe o que vem depois?

JK reside na Carolina do Norte, onde nasceu e cresceu. Uma


verdadeira garota do sul de coração, ela vive no país com seu marido
e dois filhos, um gato e dois cães campeões de agilidade. Se ela não
está no campo da agilidade, JK pode ser encontrada caminhando nas
cachoeiras nas montanhas com o marido, ou em um concerto de
blues. Além de escrever, ela gosta de treinar e competir em esportes
com cães, passar tempo com sua grande família do sul, acampar,
passear de barco e, claro, ler!

KM

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