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EAD
Escola de Aconselhamento Integral à Distância
Área: Cura interior
Famílias psicossomáticas
Coordenado por
Alcione Emerich
A.
Introdução
O tema “Família” nos convoca a um olhar para o cenário familiar numa dimensão mais profunda, a fim de
identificarmos as questões que afetam a estruturação do indivíduo e que produzem o seu adoecimento.
E este é um grande desafio, porque refletir sobre família significa caminhar por cenários primários bem
conhecidos de cada ser humano – o primeiro abrigo depois da expulsão do paraíso. E estou me referindo não ao
primeiro Éden, o que abrigou a origem da raça humana, mas ao éden que, todos os dias, em todos os lugares, se
abre para receber a semente que vai dar origem a uma vida humana, o paraíso uterino. Este lugar tão especial,
preparado por Deus, é lugar de vida, acolhimento, aconchego, mas pode também ser lugar de morte, de solidão, de
abandono. Portanto, falar de família significa identificar paradoxos e também penetrar nos conflitos que permeiam
a existência humana, nossas luzes e nossas sombras.
No entanto, a família continua sendo o cenário no qual construímos a nossa identidade. Nela recebemos as
crenças e valores que vão nortear nossos comportamentos. Esta trajetória é marcada por sentimentos ambivalente:
amor e ódio, e deixa na alma humana traços que se transferem através das gerações – feridas no corpo e na alma
que viajam através dos tempos em sucessivas gerações.
A Constituição do Sujeito
A existência de uma família pressupõe sempre a união de duas pessoas que fazem uma aliança conjugal movidas
pelo amor. “Dois que se fazem um”. E a existência de uma criança é esperada, desde o princípio, como o fruto
desse amor.
A criança começa a existir desde o momento em que se começa a falar dela. A criança existe antes de nascer e
mesmo antes de ser gerada. Existe na linguagem do pai e da mãe, na fala. Ela existe no desejo dos pais. Cada marca
simbólica vai delimitar o lugar da criança na vida dos pais, na família.
“Eles nascem antes, nascem no momento em que se anunciam, quando há realmente desejo de que venham ao
mundo”.
Carlos Drummond de Andrade
Independente do desejo de vida ou de morte – da aceitação ou rejeição, a vida humana é sempre marcada pelo
desejo de Deus. O “Haja” de Deus para nossa vida. Nascemos pelo desejo de Deus – na sua linguagem, antes que
houvesse um só dia de nossa vida – antes da concepção. (Salmo 139).
No contexto da Família, há duas funções: função materna e função paterna. A função paterna é o terceiro elemento
que entra na relação mãe/bebê, e é o que vai introduzir o mundo para a criança. Ao passar a linguagem para a
criança, o pai está passando para ela leis, normas, limites.
Esta é uma importante compreensão do papel da mulher na função materna. É a mãe que inscreve o pai para a
criança, ainda no ventre. A mãe legitima a liderança do pai. E o pai nutre a sua mulher de amor, cumprindo a
missão determinada por Deus no texto que registra as funções familiares: Efésios 5. 22-32.
Infelizmente, como família, não temos compreendido a profundidade das orientações bíblicas e ainda não demos
importância nem a primeira lei universal para o casamento, inscrita no tempo e no espaço, registrada em Gn 2:
“Deixar pai e mãe”. Mais do que uma orientação bíblica, esta ordem se constitui como um princípio universal para
a fundamentação de uma família e quando deixamos de observar a sua importância, repetimos modelos que
intensificam os conflitos que vivenciamos nos relacionamentos familiares.
Quando desconhecemos a importância dos princípios bíblicos e não buscamos a orientação divina para
exercermos as funções familiares, sofremos as conseqüências. O desamor é a marca da negligência: o mais cruel e
destruidor sentimento, pois a fome de amor é o mal que mais mata no mundo em que vivemos. O lar deixa de ser
um lugar seguro, acolhedor, amoroso para produzir desajustes, distúrbios, doenças e outros males físicos e
psíquicos em seus membros.
FAMÍLIAS PSICOSSOMÁTICAS
Quando a dinâmica familiar adoece seus membros
“Já não distingo os que foram dos que restaram. Percebo apenas a estranha idéia de família viajando através da
carne”. (Carlos Drummond de Andrade.)
A família, criada por Deus para ser o nosso lugar de abrigo e refúgio pode se constituir como mediadora de doenças
na vida de seus membros, em conseqüência das disfunções que alteram a dinâmica familiar.
Neste cenário, as relações se transformam em jogos de interesses e a comunicação é afetada. Relacionamentos
frios, distantes, sem afetividade e sem espontaneidade produzem doenças, pois as angústias que não transformamos
em palavras são manifestas em sintomas: as doenças falam mais alto.
A dinâmica da família disfuncional favorece a psicossomatização de seus membros. Alguns sintomas são visíveis
num processo de análise da estrutura familiar:
Indiferença; Hostilidade;
Distanciamento / independência;
Super envolvimento emocional;
Exagero nas respostas emocionais;
Padrões rígidos de comportamento;
Desordens psicossomáticas.
Quando a família não dá conta de lidar com todas as questões de suas disputas internas, além das pressões do
mundo moderno, só resta muitas vezes o adoecimento como possibilidade de união e afetividade.
O grau de empobrecimento da relação e da comunicação é muito alto na família disfuncional. Todo mundo se
queixa de tudo para não expressar a sua verdadeira queixa. E quando falam é com agressividade, omitindo a
verdadeira queixa. O adoecimento fornece a oportunidade de uma queixa real e visível.
Há poucas pesquisas validadas sobre o papel da família nas doenças psicossomáticas e muita coisa é compreendida
apenas intuitivamente através de leituras e do trabalho clínico, mas podemos concordar com Freud quando diz que
“a história pessoal e a biografia familiar determinam, na maioria das pessoas, a forma e a ocasião de adoecer”.
Fica, porém, bem claro para nós, que para trabalhar com família, precisamos compreender como se processa a
dinâmica familiar, em que tipo de contexto familiar o indivíduo está inserido, para, a partir daí, estruturarmos uma
linha de trabalho como mediadores das mudanças que se apresentam necessárias no processo de construção de
novas relações familiares.
É através de um efetivo processo de elaboração que o sujeito pode reescrever a sua história, e retomar a maestria da
sua vida que estava na mão das figuras significativas de sua história familiar.