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Conceito sobre a identidade:

HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da


Silva e Guacira Lopes Louro. 10ª ed. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2005.

“Este livro é escrito a partir de uma posição basicamente simpática à afirmação de que as
identidades modernas estão sendo “descentradas”, isto é, deslocadas ou fragmentadas.
Seu propósito é o de explorar esta afirmação, ver o que ela implica, qualificá-la e discutir
quais podem ser suas prováveis consequências. Ao desenvolver o argumento, introduzo
certas complexidades e examino alguns aspectos contraditórios que a noção de
“descentração”, em sua forma mais simplificada, desconsidera.” (p. 8)
Três concepções de identidade
a) sujeito do Iluminismo:
b) sujeito sociológico e
c) sujeito pós-moderno.
Sujeito do Iluminismo: “O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção de
pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das
capacidades da razão, e consciência e ação, cujo “centro” consistia num núcleo
interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se
desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou
“idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a
identidade de uma pessoa.” (p. 11)

Sujeito sociológico: “A noção de sujeito sociológico refletia a crescente


complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do
sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras
pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e
símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava.” (p.11)
“De acordo com essa visão, que se tornou a concepção sociológica clássica da
questão, a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito
ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e
modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as
identidades que esses mundos oferecem.” (p. 11)

Sujeito pós-moderno: “O sujeito assume identidades diferentes em diferentes


momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro
de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo
que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas.” (p. 13)
A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao
invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se
multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante
de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao
menos temporariamente. (Hall, 2005, p. 13)

Conceito sobre a Diáspora:


MENDES, Ana Claudia Duarte. A ancestralidade no centro da narrativa, em Lueji de
Pepetela. Dourados -MS: Nicanor Coelho Editor, 2012.
“(...) Hall (2008), em seus escritos sobre a diáspora, discorre acerca de como a
questão da identidade está inscrita no imaginário da maioria das pessoas, pois segundo o
pesquisador:

O conceito fechado de diáspora se apoia sobre uma concepção binária


de diferença. Está fundado sobre a construção de uma fronteira de
exclusão e depende da construção de um “Outro” e de uma oposição
rígida entre o dentro e o fora. (HALL, 2008, p. 32) [grifo do autor]

Esse conceito, a que o pesquisador chama de “fechado” refere-se à compreensão


da identidade como uma construção fixa, impermeável. Consideramos que, nesse caso, a
imagem que se tem é a do início das colonizações, com apenas o contato de duas culturas
diferentes, a do branco e a dos “outros”, como se fosse apenas o confronto entre o
“civilizador” e o “civilizado”, construção ideológica colonialista” (p. 96-97).
“Ao fazer a crítica da questão da identidade no contexto da diáspora, ainda tendo
com base o conceito considerado por aqueles que a pensam em termos de diferença
cultural, o pesquisador afirma:

Essencialmente, presume-se que a identidade cultural seja fixada no


nascimento, seja parte da natureza, impressa através do parentesco e da
linhagem dos genes, seja constitutiva de nosso eu mais interior. É
impermeável a algo tão “mundano”, secular e superficial quanto uma
mudança temporária de nosso local de residência. A pobreza, o
subdesenvolvimento, a falta de oportunidades – os legados do Império
em toda parte – podem forçar as pessoas a migrar, o que causa o
espalhamento – a dispersão. Mas cada disseminação carrega consigo a
promessa do retorno redentor. (HALL, 2008, p. 28)

A questão da identidade cultural, sendo compreendida como se esta fosse fixada


em nossa herança genética, é uma construção ideológica que guarda muito do pensamento
hegemônico da época do imperialismo colonial. De acordo com o pesquisador, considerar
a identidade sem levar em conta a migração e sua influência na construção da imagem de
si e, principalmente, em sociedades em que não há apenas o contato entre duas culturas,
mas de diversas, gera muitos equívocos e reducionismos” (p. 97).
“Nessa perspectiva, seus estudos analisam a população que se encontra no
Caribe, a presença de uma diversidade cultural, pois foram acomodados em um mesmo
espaço indivíduos de diferentes continentes. Ao elaborar a questão da diáspora, em solo
caribenho, Hall recupera o sentido adquirido pelo termo diáspora:

Essa interpretação potente do conceito de diáspora é a mais familiar


entre os povos do Caribe. Tornou-se parte do nosso recém-construído
senso coletivo do eu, profundamente inscrita como subtexto em nossas
histórias nacionalistas. É modelada na história moderna do povo judeu
(de onde o termo “diáspora” se derivou), cujo destino no Holocausto –
um dos poucos episódios histórico-mundiais comparáveis em barbárie
com a escravidão moderna – é bem conhecido. (2008, p. 28)

Outro elemento apontado pelo pesquisador refere-se ao mito da volta à terra de


origem, que intitula “retorno redentor”, que está inserido no contexto de discussão acerca
do sentido da diáspora. Como esse termo que se fez corrente para designar, em um
primeiro momento, a comunidade judaica e depois se tornou também uma expressão
usada para referir-se aos cidadãos africanos que foram retirados a força de África, uma
aproximação entre os mitos fundadores parece natural.
O pesquisador analisa que essa identificação do termo tem suas raízes culturais,
mas não é o retorno atual a Jerusalém que serve de modelo exemplar, quando relaciona
os mitos fundadores da comunidade judaica com os adquiridos pelos africanos na
diáspora. A aproximação se dá via imagem mítica, dos desterrados de seu espaço de
origem, pois a compreensão e aproximação inicial é com o mito de Moisés e a jornada
rumo à terra prometida. Hall (2008) considera que há necessidade de não apenas se
compreender essas imagens, que se apoiam nos mitos, mas de se propor alternativas para
essas concepções, pois as considera equivocadas” (p. 98)

Os mitos fundadores são, por definição, transistóricos: não apenas estão


fora da história, mas são fundamentalmente aistóricos. São anacrônicos
e têm a estrutura de uma dupla inscrição. Seu poder redentor encontra-
se no futuro, que ainda está por vir. Mas funcionam atribuindo o que
predizem à sua descrição do que já aconteceu, do que era no princípio.
Entretanto, a história, como a flecha do Tempo, é sucessiva, senão
linear. A estrutura narrativa dos mitos é cíclica. Mas dentro da história,
seu significado é frequentemente transformado. (2008, p. 29)

O mito, segundo o pesquisador, como metáfora representativa, tem o poder de


ligar o passado ao futuro, de restaurar o tempo original, e assim restabelecer o significado
das vidas que foram dispersadas, ao mesmo tempo em que reforça o conceito de uma
identidade fixa, imutável, pois ancorada no passado e projetada no futuro. Como estamos
analisando as duas formas de ser no mundo, a sagrada e a profana, nos parece que esta
crítica de Hall (2008) aos mitos fundadores, auxilia nas discussões acerca do que vem a
ser identidade cultural, e como ela se consolida no imaginário das pessoas” (p. 99).
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Organização Liv Sovik;
Tradução Adelaine La Guardia Resende ... [et al]. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2003. 2ª reimpressão revista, 2008.

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