Tópicos PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL: 1. INÉRCIA, 2. IMPARCIALIDADE, 3. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, 4. NEMO TENETUR SE DETEGERE. 1. DEVIDO PROCESSO LEGAL - “Princípio guarda-chuva” (acima dos demais): ferramenta para impor o respeito aos direitos individuais
AÇÃO JURISDIÇÃO PROCESSO
Direito de Poder de aplicar Meio, ritual, provocar a a lei instrumento jurisdição) para avaliar a procedência ou não do direito alegado A)É uma das características importadas do siste ma acusatório. 1.1. INÉRCIA B) Determina que a jurisdição é inerte e não pode ser exercida de ofício pelo juiz.
C)Decorre a impossibilidade de o juiz julgar além
/fora/ou aquém do que foi imputado ao acusado na peça inicial: quando o juiz proferir sua decisão, não poderá modificar a imputação fática realizada na peça acusatória (thema decidendum), devendo haver sempre uma correlação exata entre a imputação e a sentença. PRISÃO PREVENTIVA (CAUTELAR) REDAÇÃO ORIGINAL (1941) REDAÇÃO ATUAL
Art. 311. Em qualquer fase do Art. 311. Em qualquer fase da
inquérito policial ou da instrução investigação policial ou do processo criminal, caberá a prisão preventiva, penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, a decretada pelo juiz, a requerimento do requerimento do Ministério Público, ou Ministério Público, do querelante ou do querelante, ou mediante do assistente, ou por representação da representação da autoridade policial, autoridade policial. (Redação dada quando houver prova da existência do pela Lei nº 13.964, de 2019) crime e indícios suficientes da autoria. Pedido de absolvição do MP Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. Positivismo: Wertfreiheit (ciência livre de valores). ▪ Freud: pré-conceitos inconsciente, juízo de valor antecipado. 1.2. ▪ Psicologia cognitiva: efeito de perseverança → tendência a buscar um argumento que reforça o IMPARCIALIDADE modo de pensar. ▪ Conceito: guardar equidistância da causa e das partes ▪ Hipóteses legais em que se presume não haver imparcialidade: ▪ 252 (impedimento) ▪ 253 (incompatibilidade) ▪ 254 (suspeição) Artigo 8. Garantias judiciais PACTO DE SAN 1. Toda pessoa tem direito a ser JÓSÉ DA COSTA ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal RICA (DADH) competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. NATUREZA OBJETIVA Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: IMPEDIMENTO I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, (252, CPP) inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha; III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive. INCOMPATIBILIDADE (253, CPP) NATUREZA SUBJETIVA (ROL TAXATIVO) Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; SUSPEIÇÃO II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter (253, CPP) criminoso haja controvérsia; (Filho do juiz é preso com pequena quantidade de drogas) III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; (Juíza julga Auditor da Receita por homicídio culposo, o qual julgará processo fiscal do marido da Juíza). IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. SCHÜNEMANN: quanto maior for o nível de conhecimento/envolvimento do juiz com a investigação preliminar e IMPARCIALIDADE o próprio recebimento da acusação, menor é o interesse dele pelas perguntas que a defesa faz para a testemunha e (muito) mais E DISSONÂNCIA provável é a frequência com que ele condenará → efeito confirmador-tranquilizador (Teoria da dissonância cognitiva). COGNITIVA 1. é uma ameaça real e grave para a imparcialidade a atuação de ofício do juiz, especialmente: 1.1. A gestão e iniciativa da prova (ativismo probatório do CRÍTICAS DE juiz); 1.2. A decretação (de ofício) de medidas restritivas de direitos AURY LOPES fundamentais (prisões cautelares, busca e apreensão, quebra de sigilo telefônico etc.), tanto na fase pré-processual como na processual (referente à imparcialidade, nenhuma diferença existe com relação a qual momento ocorra); 1.3. O fato de o mesmo juiz receber a acusação e depois, instruir e julgar o feito; 2. É imprescindível a exclusão física dos autos do inquérito, permanecendo apenas as provas cautelares ou técnicas irrepetíveis, para evitar a contaminação e o efeito perseverança. Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia IMPARCIALIDADE E do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) JUIZ DE GARANTIAS Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com (LEI ANTICRIME) o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código. § 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento. § 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias. Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo. Caso o juiz reconheça sua suspeição, o que ele deve fazer? Art. 97. O juiz que espontaneamente afirmar suspeição deverá fazê-lo por escrito, declarando o motivo legal, e remeterá imediatamente o processo ao seu substituto, intimadas as partes. E se o juiz não se declarar suspeito ou impedido? Art. 96. A argüição de suspeição precederá a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo superveniente. Art. 98. Quando qualquer das partes pretender recusar o juiz, deverá fazê-lo em petição assinada por ela própria ou por procurador com poderes especiais, aduzindo as suas razões acompanhadas de prova documental ou do rol de testemunhas. Art. 99. Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a marcha do processo, mandará juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que a instruam, e por despacho se declarará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto. Caso o juiz não reconheça sua suspeição, como ele deve proceder? Art. 100. Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em apartado a petição, dará sua resposta dentro em três dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da exceção remetidos, dentro em 24 vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento. § 1o Reconhecida, preliminarmente, a relevância da argüição, o juiz ou tribunal, com citação das partes, marcará dia e hora para a inquirição das testemunhas, seguindo-se o julgamento, independentemente de mais alegações. § 2o Se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou relator a rejeitará liminarmente. Art. 101. Julgada procedente a suspeição, ficarão nulos os atos do processo principal, pagando o juiz as custas, no caso de erro inescusável; rejeitada, evidenciando-se a malícia do excipiente, a este será imposta a multa de duzentos mil-réis a dois contos de réis. Os jurados são equiparados a juízes para efeito de suspeição? Art. 106. A suspeição dos jurados deverá ser argüida oralmente, decidindo de plano do presidente do Tribunal do Júri, que a rejeitará se, negada pelo recusado, não for imediatamente comprovada, o que tudo constará da ata.
Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:
I – marido e mulher; II – ascendente e descendente; III – sogro e genro ou nora; IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio; V – tio e sobrinho; VI – padrasto, madrasta ou enteado. § 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar. § 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados. É possível arguir a suspeição dos auxiliares da justiça? Art. 105. As partes poderão também argüir de suspeitos os peritos, os intérpretes e os serventuários ou funcionários de justiça, decidindo o juiz de plano e sem recurso, à vista da matéria alegada e prova imediata. E a suspeição do MP? Art. 104. Se for argüida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de ouvi-lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo de três dias. O DELEGADO DE POLÍCIA É OBRIGADO A SE DECLARAR SUSPEITO?
Art. 107. Não se poderá opor
suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal. ▪Em 1764, Cesare Beccaria, em sua célebre obra Dos delitos e das penas, já advertia que “um homem não pode ser chamado réu antes da sentença do juiz, e a 1.3. PRESUNÇÃO sociedade só lhe pode retirar a proteção pública após ter decidido que ele violou os pactos por meio DE INOCÊNCIA dos quais ela lhe foi outorgada”. ▪Na jurisprudência brasileira, ora se faz referência ao princípio da presunção de inocência, ora ao princípio da presunção de não culpabilidade. ▪Do princípio da presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade) derivam duas regras fundamentais: a regra probatória (também conhecida como regra de juízo) e a regra de tratamento. Antônio Magalhães Gomes Filho destaca: a) a incumbência do acusador de demonstrar a culpabilidade do acusado (pertence-lhe com exclusividade o ônus dessa prova); Regra b) a necessidade de comprovar a existência probatória dos fatos imputados, não de demonstrar a (In dubio pro inconsistência das desculpas do acusado; c) tal comprovação deve ser feita reo) legalmente (conforme o devido processo legal); d) impossibilidade de se obrigar o acusado a colaborar na apuração dos fatos (daí o seu direito ao silêncio) Interna: é a imposição – ao juiz – de tratar o acusado efetivamente como inocente até que sobrevenha eventual sentença penal condenatória transitada Regra de em julgado, com reflexos no uso tratamento excepcional das prisões cautelares. Externa: exige uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização (precoce) do réu. Art. 5º, LVII, da CF – “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;” ▪ Entre fevereiro de 2016 e novembro de 2019, Execução prevaleceu, no Supremo Tribunal Federal, por força do HC 126.292, o entendimento de que provisória da não havia necessidade de se aguardar o trânsito em julgado, justificando-se, assim, a pena denominada execução provisória da pena. ▪ Em 07/11/2019, porém, por ocasião do julgamento definitivo das Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43/DF, 44/DF e 54/DF, houve uma mudança de orientação. ▪ Exigência de suficiência probatória para um decreto condenatório.
Regra de ▪ Incide não apenas no “julgamento”
julgamento em sentido estrito, mas ao longo de (Aury Lopes) toda a persecução criminal, da fase de inquérito até o trânsito em julgado (e inclusive na fase de revisão criminal). ▪Tradução: “ninguém é obrigado a se deixar descoberto”. 1.4. NEMO ▪ Os Miranda rights ou Miranda warnings têm origem no famoso julgamento Miranda V. Arizona, verificado em 1966, TENETUR SE em que a Suprema Corte americana, por cinco votos contra quatro, firmou o entendimento de que nenhuma validade DETEGRE pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes ela tenha sido claramente informada de: ▪ 1) que tem o direito de não responder; ▪ 2) que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele; ▪ 3) que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado. ▪ Art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal, “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. ▪Direito ao silêncio: não responder às perguntas formuladas pela autoridade.
▪Direito de não ser constrangido a confessar a prática
de crime: atenuante (art. 65, III, d, CP). CONSEQUÊNCIAS
▪Inexigibilidade de dizer a verdade: direito de negar
falsamente a prática de infração penal (dimensão negativa) x direito de mentir (dimensão positiva). ▪Dar causa à instauração de investigação policial, processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém que o sabe inocente → denunciação caluniosa (CP, art. 339) ▪ Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: ▪ o acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de verificação de interlocutor; ▪ o acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico; ▪ ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa CONSEQUÊNCIAS destes em participarem de reconstituição do crime; ▪ Mera tolerância (reconhecimento de pessoa): não viola nemo tenetur. ▪ Embriaguez ao volante: etilômetro e exame de sangue. Ex: filme (O voo).
▪ Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora
invasiva: ▪ Prova invasiva: exames de sangue, o exame ginecológico, a identificação dentária, a endoscopia (usada para localização de droga no corpo humano). ▪ Prova não invasiva: exame de DNA de fio de cabelo caído ao chão, urina, ponta de cigarro, raio-X. Prof. Bruno Cortez