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PROCESSO

PENAL I

PROF. BRUNO CORTEZ


Tópicos
PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DO
PROCESSO PENAL:
1. INÉRCIA,
2. IMPARCIALIDADE,
3. PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA,
4. NEMO TENETUR SE
DETEGERE.
1. DEVIDO PROCESSO LEGAL
- “Princípio guarda-chuva” (acima dos demais): ferramenta para
impor o respeito aos direitos individuais

AÇÃO JURISDIÇÃO PROCESSO


Direito de Poder de aplicar Meio, ritual,
provocar a a lei instrumento
jurisdição) para avaliar a
procedência ou
não do direito
alegado
A)É uma das características importadas do siste
ma acusatório.
1.1. INÉRCIA B) Determina que a jurisdição é inerte e não
pode ser exercida de ofício pelo juiz.

C)Decorre a impossibilidade de o juiz julgar além


/fora/ou aquém do que foi
imputado ao acusado na peça inicial: quando o
juiz proferir sua decisão, não poderá modificar a
imputação fática realizada na peça acusatória
(thema decidendum), devendo haver sempre
uma correlação exata entre a imputação e a
sentença.
PRISÃO PREVENTIVA (CAUTELAR)
REDAÇÃO ORIGINAL (1941) REDAÇÃO ATUAL

Art. 311. Em qualquer fase do Art. 311. Em qualquer fase da


inquérito policial ou da instrução investigação policial ou do processo
criminal, caberá a prisão preventiva, penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, a decretada pelo juiz, a requerimento do
requerimento do Ministério Público, ou Ministério Público, do querelante ou
do querelante, ou mediante do assistente, ou por representação da
representação da autoridade policial, autoridade policial. (Redação dada
quando houver prova da existência do pela Lei nº 13.964, de 2019)
crime e indícios suficientes da autoria.
Pedido de absolvição do MP
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir
sentença condenatória, ainda que o Ministério Público
tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer
agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
Positivismo: Wertfreiheit (ciência livre de valores).
▪ Freud: pré-conceitos inconsciente, juízo de valor
antecipado.
1.2. ▪ Psicologia cognitiva: efeito de perseverança →
tendência a buscar um argumento que reforça o
IMPARCIALIDADE modo de pensar.
▪ Conceito: guardar equidistância da causa e das
partes
▪ Hipóteses legais em que se presume não haver
imparcialidade:
▪ 252 (impedimento)
▪ 253 (incompatibilidade)
▪ 254 (suspeição)
Artigo 8. Garantias judiciais
PACTO DE SAN
1. Toda pessoa tem direito a ser
JÓSÉ DA COSTA ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou tribunal
RICA (DADH) competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de
qualquer acusação penal formulada contra ela, ou
para que se determinem seus direitos ou
obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou
de qualquer outra natureza.
NATUREZA OBJETIVA
Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no
processo em que:
IMPEDIMENTO I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo
ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
(252, CPP) inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça
ou perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas
funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância,
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo
ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo
processo os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos
ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive.
INCOMPATIBILIDADE
(253, CPP)
NATUREZA SUBJETIVA (ROL TAXATIVO)
Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser
recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
SUSPEIÇÃO II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver
respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter
(253, CPP) criminoso haja controvérsia; (Filho do juiz é preso com pequena
quantidade de drogas)
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o
terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo
que tenha de ser julgado por qualquer das partes; (Juíza julga
Auditor da Receita por homicídio culposo, o qual julgará processo
fiscal do marido da Juíza).
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das
partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade
interessada no processo.
SCHÜNEMANN: quanto maior for o nível de
conhecimento/envolvimento do juiz com a investigação preliminar e
IMPARCIALIDADE o próprio recebimento da acusação, menor é o interesse dele pelas
perguntas que a defesa faz para a testemunha e (muito) mais
E DISSONÂNCIA provável é a frequência com que ele condenará → efeito
confirmador-tranquilizador (Teoria da dissonância cognitiva).
COGNITIVA
1. é uma ameaça real e grave para a imparcialidade a atuação
de ofício do juiz, especialmente:
1.1. A gestão e iniciativa da prova (ativismo probatório do
CRÍTICAS DE juiz);
1.2. A decretação (de ofício) de medidas restritivas de direitos
AURY LOPES fundamentais (prisões cautelares, busca e apreensão, quebra
de sigilo telefônico etc.), tanto na fase pré-processual como na
processual (referente à imparcialidade, nenhuma diferença
existe com relação a qual momento ocorra);
1.3. O fato de o mesmo juiz receber a acusação e depois,
instruir e julgar o feito;
2. É imprescindível a exclusão física dos autos do inquérito,
permanecendo apenas as provas cautelares ou técnicas
irrepetíveis, para evitar a contaminação e o efeito
perseverança.
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da
legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos
individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia
IMPARCIALIDADE E do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
JUIZ DE GARANTIAS Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as
infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com
(LEI ANTICRIME) o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste
Código.
§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão
decididas pelo juiz da instrução e julgamento.
§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o
juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da
denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas
cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias.
Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato
incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará
impedido de funcionar no processo.
Caso o juiz reconheça sua
suspeição, o que ele deve fazer?
Art. 97. O juiz que espontaneamente
afirmar suspeição deverá fazê-lo por
escrito, declarando o motivo legal, e
remeterá imediatamente o processo
ao seu substituto, intimadas as
partes.
E se o juiz não se declarar
suspeito ou impedido?
Art. 96. A argüição de suspeição precederá a
qualquer outra, salvo quando fundada em motivo
superveniente.
Art. 98. Quando qualquer das partes pretender
recusar o juiz, deverá fazê-lo em petição assinada
por ela própria ou por procurador com poderes
especiais, aduzindo as suas razões acompanhadas
de prova documental ou do rol de testemunhas.
Art. 99. Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará
a marcha do processo, mandará juntar aos autos a
petição do recusante com os documentos que a
instruam, e por despacho se declarará suspeito,
ordenando a remessa dos autos ao substituto.
Caso o juiz não reconheça sua
suspeição, como ele deve proceder?
Art. 100. Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em
apartado a petição, dará sua resposta dentro em três dias, podendo
instruí-la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam
os autos da exceção remetidos, dentro em 24 vinte e quatro horas, ao
juiz ou tribunal a quem competir o julgamento.
§ 1o Reconhecida, preliminarmente, a relevância da argüição, o juiz
ou tribunal, com citação das partes, marcará dia e hora para a
inquirição das testemunhas, seguindo-se o julgamento,
independentemente de mais alegações.
§ 2o Se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou relator
a rejeitará liminarmente.
Art. 101. Julgada procedente a suspeição, ficarão nulos os atos do
processo principal, pagando o juiz as custas, no caso de erro
inescusável; rejeitada, evidenciando-se a malícia do excipiente, a este
será imposta a multa de duzentos mil-réis a dois contos de réis.
Os jurados são equiparados a
juízes para efeito de suspeição?
Art. 106. A suspeição dos jurados deverá ser argüida oralmente,
decidindo de plano do presidente do Tribunal do Júri, que a rejeitará
se, negada pelo recusado, não for imediatamente comprovada, o
que tudo constará da ata.

Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:


I – marido e mulher;
II – ascendente e descendente;
III – sogro e genro ou nora;
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;
V – tio e sobrinho;
VI – padrasto, madrasta ou enteado.
§ 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que
mantenham união estável reconhecida como entidade familiar.
§ 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a
suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.
É possível arguir a
suspeição dos
auxiliares da justiça?
Art. 105. As partes poderão
também argüir de suspeitos
os peritos, os intérpretes e
os serventuários ou
funcionários de justiça,
decidindo o juiz de plano e
sem recurso, à vista da
matéria alegada e prova
imediata.
E a suspeição
do MP?
Art. 104. Se for
argüida a suspeição do
órgão do Ministério
Público, o juiz, depois
de ouvi-lo, decidirá,
sem recurso, podendo
antes admitir a
produção de provas no
prazo de três dias.
O DELEGADO DE POLÍCIA É OBRIGADO
A SE DECLARAR SUSPEITO?

Art. 107. Não se poderá opor


suspeição às autoridades policiais nos
atos do inquérito, mas deverão elas
declarar-se suspeitas, quando ocorrer
motivo legal.
▪Em 1764, Cesare Beccaria, em sua célebre obra Dos
delitos e das penas, já advertia que “um homem não
pode ser chamado réu antes da sentença do juiz, e a
1.3. PRESUNÇÃO sociedade só lhe pode retirar a proteção pública
após ter decidido que ele violou os pactos por meio
DE INOCÊNCIA dos quais ela lhe foi outorgada”.
▪Na jurisprudência brasileira, ora se faz referência ao
princípio da presunção de inocência, ora ao princípio
da presunção de não culpabilidade.
▪Do princípio da presunção de inocência (ou
presunção de não culpabilidade) derivam duas regras
fundamentais: a regra probatória (também conhecida
como regra de juízo) e a regra de tratamento.
Antônio Magalhães Gomes Filho destaca:
a) a incumbência do acusador de
demonstrar a culpabilidade do acusado
(pertence-lhe com exclusividade o ônus
dessa prova);
Regra b) a necessidade de comprovar a existência
probatória dos fatos imputados, não de demonstrar a
(In dubio pro inconsistência das desculpas do acusado;
c) tal comprovação deve ser feita
reo) legalmente (conforme o devido processo
legal);
d) impossibilidade de se obrigar o acusado
a colaborar na apuração dos fatos (daí
o seu direito ao silêncio)
Interna: é a imposição – ao juiz – de
tratar o acusado efetivamente como
inocente até que sobrevenha eventual
sentença penal condenatória transitada
Regra de em julgado, com reflexos no uso
tratamento excepcional das prisões cautelares.
Externa: exige uma proteção contra a
publicidade abusiva e a estigmatização
(precoce) do réu.
Art. 5º, LVII, da CF – “ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;”
▪ Entre fevereiro de 2016 e novembro de 2019,
Execução prevaleceu, no Supremo Tribunal Federal, por
força do HC 126.292, o entendimento de que
provisória da não havia necessidade de se aguardar o trânsito
em julgado, justificando-se, assim, a
pena denominada execução provisória da pena.
▪ Em 07/11/2019, porém, por ocasião do
julgamento definitivo das Ações Declaratórias de
Constitucionalidade 43/DF, 44/DF e 54/DF,
houve uma mudança de orientação.
▪ Exigência de suficiência probatória
para um decreto condenatório.

Regra de ▪ Incide não apenas no “julgamento”


julgamento em sentido estrito, mas ao longo de
(Aury Lopes) toda a persecução criminal, da fase
de inquérito até o trânsito em
julgado (e inclusive na fase de
revisão criminal).
▪Tradução: “ninguém é obrigado a se deixar descoberto”.
1.4. NEMO ▪ Os Miranda rights ou Miranda warnings têm origem no
famoso julgamento Miranda V. Arizona, verificado em 1966,
TENETUR SE em que a Suprema Corte americana, por cinco votos contra
quatro, firmou o entendimento de que nenhuma validade
DETEGRE pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a
não ser que antes ela tenha sido claramente informada de:
▪ 1) que tem o direito de não responder;
▪ 2) que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele;
▪ 3) que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou
nomeado.
▪ Art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal, “o preso será
informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado”.
▪Direito ao silêncio: não responder às perguntas
formuladas pela autoridade.

▪Direito de não ser constrangido a confessar a prática


de crime: atenuante (art. 65, III, d, CP).
CONSEQUÊNCIAS

▪Inexigibilidade de dizer a verdade: direito de negar


falsamente a prática de infração penal (dimensão
negativa) x direito de mentir (dimensão positiva).
▪Dar causa à instauração de investigação policial,
processo judicial, investigação administrativa,
inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém que o sabe inocente
→ denunciação caluniosa (CP, art. 339)
▪ Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que
possa incriminá-lo:
▪ o acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a
subsidiar prova pericial de verificação de interlocutor;
▪ o acusado não está obrigado a fornecer material para exame
grafotécnico;
▪ ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa
CONSEQUÊNCIAS destes em participarem de reconstituição do crime;
▪ Mera tolerância (reconhecimento de pessoa): não viola nemo tenetur.
▪ Embriaguez ao volante: etilômetro e exame de sangue. Ex: filme (O voo).

▪ Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora


invasiva:
▪ Prova invasiva: exames de sangue, o exame ginecológico, a identificação
dentária, a endoscopia (usada para localização de droga no corpo
humano).
▪ Prova não invasiva: exame de DNA de fio de cabelo caído ao chão, urina,
ponta de cigarro, raio-X.
Prof. Bruno Cortez

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