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2. Direito Financeiro.
O Direito Financeiro, no dizer de Harrison Leite (Manual de Direito Financeiro, 2016, p. 27), é o
ramo do direito público que “estuda as finanças do Estado em sua estreita relação com a sua
atividade financeira. Ou seja, é o conjunto de regras e princípios que estuda a atividade financeira do
Estado, compreendida esta como receita, despesa, orçamento e créditos públicos”.
Os elementos da atividade financeira do Estado: o orçamento público, as receitas públicas, as
despesas públicas e o crédito público. É válido lembrar que o sistema financeiro nacional não é parte
da atividade financeira do Estado e, portanto, não é objeto de estudo do direito financeiro.
1ª Situação: Pedro realiza um empréstimo no Banco a fim de viajar de férias para a Europa.
2ª Situação: João realiza um empréstimo para quitar seu apartamento.
Perceba que Pedro terá uma diminuição em seu patrimônio, já que terá que pagar o empréstimo da
viagem que lhe agregou experiência de vida. Por outro lado, João, embora tenha que pagar o
empréstimo contraído, terá incorporado ao seu patrimônio um apartamento, ocorrendo uma
despesa de capital (aquela em que não há diminuição do patrimônio).
Com os exemplos acima fica mais fácil compreender a Regra de Ouro, segundo a qual o valor das
operações de crédito (empréstimos) não pode ser superior as despesas de capital.
Já Kiyoshi Harada diz que o direito financeiro é “o ramo do Direito Público que estuda a atividade
financeira do Estado sob o ponto de vista jurídico”.
No que diz respeito ao seu OBJETO, o seu principal foco é o estudo da ATIVIDADE FISCAL,
sendo o orçamento público o seu principal instrumento, por meio do qual o governo retira recursos da
sociedade, sobretudo pela via da tributação sobre a renda, o patrimônio e o consumo, alocando-os nas
áreas selecionadas.
Em outras palavras, o Direito Financeiro é o ramo do Direito que estuda as normas que disciplinam
a atividade financeira. Não obstante a indissociável relação com a Ciência das Finanças, com esta não
se confunde. Para Aliomar Baleeiro, a atividade financeira consiste em:
É que a Ciência das Finanças estuda a atividade financeira do Estado como mera observadora
dos fenômenos financeiros. Assim, é correto dizer que esta consiste em atividade pré-jurídica ou pré-
legislativa, na medida em que presta auxílio através do fornecimento de dados no escopo de nortear a
criação de regras que deverão gerenciar a atividade financeira do Estado.
Por outro lado, o Direito Financeiro também não se confunde com o Direito Tributário. Este
descendeu do Direito Financeiro.
Enquanto o Direito Financeiro abarca a atividade financeira do Estado em sua totalidade, o Direito
Tributário apenas trata das receitas derivadas concernentes aos tributos. O direito financeiro tem seu
foco principal em disciplinar a atividade financeira do Estado e estuda tanto as receitas públicas
tributárias quanto as receitas públicas não tributárias, ao passo que o direito tributário estuda apenas
as receitas públicas tributárias.
Nesse ponto, interessante salientar que a própria Constituição Federal de 1988 quis estabelecer
distinção entre o Direito Financeiro e o Direito Tributário, na medida em que dispôs, no art. 24, I, que:
“Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I. Direito tributário,
financeiro [...]”.
Ciência das Finanças Direito Financeiro Direito Tributário
Ciência que estuda a atividade Ramo do Direito que estuda Ramo do Direito que abarca as
financeira do Estado como as normas disciplinadoras da normas que disciplinam a
observadora dos fenômenos atividade financeira do Estado, instituição, arrecadação e
financeiros, prestando auxílio à instrumento de obtenção dos fiscalização de tributos.
atividade legislativa. Consiste recursos necessários à
em atividade pré-jurídica. satisfação do bem comum.
A palavra fonte designa o local onde algo é produzido, indicando, desse modo, a sua origem.
Nesse sentido, por exemplo, significa a nascente, o olho d’água. Na doutrina jurídica, expressa a origem
ou o fundamento do Direito.
Distinguem-se, basicamente, duas espécies de fontes: a material e a formal. No primeiro caso,
afirmam-se como fontes materiais os múltiplos fatos financeiros que influenciam o legislador durante
a criação da norma jurídica. No segundo caso, são fontes formais os meios pelos quais a atividade
jurídica se exterioriza.
Ademais, as fontes formais podem ser diferenciadas em primárias e secundárias. As primárias
dizem respeito à lei e aos atos normativos com força de lei. As secundárias são aquelas que, embora
por vezes dotadas de generalidade e abstração, servem apenas como complemento das fontes
primárias, não apresentando aptidão para, isoladamente, restringir direitos ou gerar obrigações. No
âmbito do Direito Financeiro, podem-se arrolar as seguintes fontes formais:
Art. 35. O disposto no art. 165, § 7º, será cumprido de forma progressiva, no
prazo de até dez anos, distribuindo-se os recursos entre as regiões
macroeconômicas em razão proporcional à população, a partir da situação
verificada no biênio 1986-87.
[...]
§ 2º Até a entrada em vigor da lei complementar a que se refere o art. 165,
§ 9º, I e II, serão obedecidas as seguintes normas:
I - o projeto do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro
exercício financeiro do mandato presidencial subsequente, será
encaminhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro
exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão
legislativa;
II - o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito
meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido
para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa;
III - o projeto de lei orçamentária da União será encaminhado até quatro
meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para
sanção até o encerramento da sessão legislativa.
c) Leis ordinárias: são os atos legislativos típicos produzidos pelo Poder Legislativo, que não demandam
quórum especial nem exigência expressa na Constituição Federal. Destacam-se como principais leis
dessa categoria a Lei Orçamentária Anual (LOA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei do
Plano Plurianual (PPA);
d) Leis delegadas: são espécie normativa cuja autoridade de elaboração é delegada pelo Poder
Legislativo ao Presidente da República. Nos termos do art. 68, §1º, III, da CRFB/88, não será objeto de
delegação a legislação sobre “planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos”. Embora
não constituam fontes relevantes do Direito Financeiro tendo em vista a restrição constitucional
supracitada, é certo que os temas que não se enquadrem nas vedações poderão ser tratados em sede
de lei delegada;
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República,
que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do
Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos
Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
e) Medidas provisórias: são atos normativos com força de lei que, em caso de relevância e urgência,
podem ser baixados pelo Presidente da República. A teor do art. 62, §1º, III, da CRFB/88, É VEDADA A
EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS SOBRE MATÉRIA RESERVADA A LEI COMPLEMENTAR.
Além disso, o mesmo dispositivo, na alínea “d”, do inciso I, proíbe a edição de medidas provisórias
sobre matéria relativa a “planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º”. Assim, em regra, não cabe a
edição de medida provisória em matéria financeira, exceto no caso de abertura de crédito
extraordinário para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra,
comoção interna ou calamidade pública.
Impende salientar que a União, durante muito tempo, valeu-se de Medidas Provisórias para a
abertura de créditos extraordinários em situações distintas das previstas na exceção constitucional.
Assim, foram ajuizadas diversas Ações Diretas de Inconstitucionalidade a fim de declarar a
inconstitucionalidade dessas Medidas Provisórias, todas sem sucesso, sob o fundamento de que não
seria cabível o controle de constitucionalidade em face de leis orçamentárias e suas alterações, bem
como que não caberia ao Judiciário, sob pena de violação a separação dos poderes, avaliar a presença
de relevância e urgência para o cabimento das Medidas Provisórias.
Posteriormente, no julgamento da ADI 4048, em 2008, sob a relatoria do Min. Gilmar Mendes, o
Supremo Tribunal Federal alterou o seu entendimento, passando a permitir a submissão de normas
orçamentárias ao controle abstrato de constitucionalidade e a considerar que os requisitos previstos no
art. 167, §3º, da CRFB/88, representariam realidades ou situações fáticas de extrema gravidade e de
consequências imprevisíveis para a ordem pública, razão pela qual a utilização de Medidas Provisórias
para regular matérias diversas configuraria desvirtuamento dos parâmetros constitucionalmente
previstos.
f) Resoluções do Senado Federal: espécie de fonte formal secundária, não sujeita a sanção ou veto do
executivo, consistente na deliberação tomada pelo Senado Federal destinada a veicular as matérias
constantes no art. 52 da CRFB/88. No âmbito do Direito Financeiro, destacam-se os seguintes
dispositivos:
g) Decisões judiciais: a jurisprudência, em regra, é importante fonte para todo o direito. Entretanto, no
âmbito do Direito Financeiro, considerando o fenômeno recente da judicialização das políticas públicas,
que afeta diretamente os orçamentos públicos, essa fonte tem sido alçada à condição de destaque.
Sem a pretensão de oferecer uma resposta conclusiva ao conflito entre o mínimo existencial e a
cláusula de reserva do possível, deve-se ter em mente que há uma finitude dos recursos públicos
que não pode ser desconsiderada. Assim, o Judiciário deve se resguardar para não criar políticas
públicas além das previstas na Constituição, assim como deve proteger as políticas públicas já existentes,
sem se descurar dos direitos constitucionalmente protegidos e das restrições orçamentárias.
Escolhas Trágicas, Mínimo Existencial e Reserva do Possível.
O termo Reserva do Possível tem origem no Tribunal Constitucional alemão, que em 1972 analisou a
possível inconstitucionalidade da limitação de vagas imposta pela Universidade da Baviera. O Tribunal
entendeu que existia ali uma limitação fática, condicionada à Reserva do Possível, “no sentido do
que pode o indivíduo, racionalmente falando, exigir da coletividade. Isso deve ser avaliado em primeira
linha, pelo legislador, em sua própria responsabilidade. Ele deve atender, na administração de seu
orçamento, também a outros interesses da coletividade, considerando as exigências da harmonização
econômica geral”.”
A doutrina aponta que a expressão “reserva do possível” tem recebimento bastante antipático pela
jurisprudência e pela academia brasileira. Ela tem sido vista como um complô da administração pública
para não implementar direitos fundamentais sociais e não cumprir possíveis determinações judiciais
nesse sentido. O período de neoconstitucionalismo que vivemos, da efetivação imediata de direitos
sociais, age como se a reserva do possível fosse uma desculpa genérica para a omissão estatal no
campo da efetivação dos direitos fundamentais, especialmente de cunho social.
Do outro lado está o mínimo existencial. Nas palavras de Ricardo Lobo Torres, o mínimo existencial
é “um direito a condições mínimas de existência humana digna que não pode ser objeto de
incidência fiscal e que ainda exige prestações estatais positivas.” Para o autor, a dignidade humana
e as condições materiais da existência não podem retroceder “aquém de um mínimo, do qual
nem os prisioneiros, os doentes mentais e os indigentes podem ser privados.”
Para o Professor Fernando Facury Scaff, “o orçamento é o locus adequado para a realização das
escolhas trágicas públicas, também chamadas de escolhas políticas. É no espaço democrático do
Parlamento que devem ser realizadas as opções políticas referentes às receitas e aos gastos públicos
que determinam o caminho escolhido pela sociedade para a realização de seus ideais.”
Para Scaff, considerando que a receita pública advém em sua maior parte das receitas tributárias, e
que esta arrecadação no Brasil atual gira entre 35% e 36% do PIB, os olhos da sociedade devem se
voltar mais do que nunca para o gasto público, para as escolhas que devem ser democraticamente
feitas no Congresso em prol da sociedade — e que, em tese, são feitas pela própria sociedade.”
Ou seja, é principalmente função do Poder Executivo, em conjunto com o Legislativo, de fazer,
democraticamente, as escolhas que estarão no orçamento público. Já afirmamos algumas vezes
durante a nossa aula que não existe direito sem custo. Sobre o assunto, Scaff explica que:
” NÃO EXISTEM DIREITOS SEM CUSTOS PARA SUA EFETIVAÇÃO. NÃO SE TRATA AQUI
APENAS DOS DIREITOS SOCIAIS, MAS DE TODO E QUALQUER DIREITO, FUNDAMENTAL OU
NÃO. PODE-SE IMAGINAR QUE ALGUNS DIREITOS DE LIBERDADE, TAIS COMO O DE IR E VIR,
O DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO OU DE LIBERDADE RELIGIOSA SERIAM DIREITOS SEM
CUSTOS, MAS UM SEGUNDO OLHAR INDICARÁ SER FALSA ESTA SUPOSIÇÃO, POIS PELO
MENOS É NECESSÁRIA A MANUTENÇÃO DE UM APARATO INSTITUCIONAL PARA SUA
DEFESA E MANUTENÇÃO. MESMO O PREGADOR RELIGIOSO QUE SOBE EM UM CAIXOTE E
DISCURSA NO MEIO DE UMA PRAÇA PÚBLICA REQUER UM MÍNIMO DE CUSTOS PARA O
PODER PÚBLICO, AO NECESSITAR DE RECURSOS PARA PROTEGÊ-LO E PARA A
HABITABILIDADE (LIMPEZA E MANUTENÇÃO MÍNIMAS) DAQUELE LOGRADOURO.”
No âmbito do Direito Financeiro, é possível apontar uma série de diretrizes axiológicas e princípios,
alguns ditos genéricos, por também incidirem sobre outros ramos das ciências jurídica; outros nominados
princípios específicos, por dizerem respeito à atividade financeira do Estado, precipuamente o orçamento.
Serão tratados a seguir, de forma indistinta, todos os referidos princípios. Apenas para fins
didáticos, deve-se esclarecer que os quatro primeiros (Legalidade, Economicidade, Transparência e
Responsabilidade Fiscal), podem ser classificados como princípios genéricos, relacionando-se os
demais, diretamente com o orçamento. De toda forma, tal classificação é meramente doutrinária e não
costuma ser relevante para fins de concursos públicos.
4.1. Legalidade.
Em sentido amplo, o princípio da legalidade (art. 5º, II, da CRFB/88) impõe que: “Ninguém é
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Do ponto de vista específico
do Direito Financeiro, o princípio da legalidade pode ser tomado tanto sob o viés dos gastos públicos
quanto sob a perspectiva da aprovação do orçamento.
No primeiro sentido, entende-se que o princípio da legalidade impõe que a realização de gastos
públicos somente é possível caso haja prévia autorização legislativa. Nesse âmbito, é importante a
leitura dos seguintes dispositivos da Constituição Federal de 1988:
Por esse princípio, é vedado o início de projetos não incluídos na Lei Orçamentária Anual
(LOA) e a realização de despesas ou assunção de obrigações que excedam os créditos orçamentários
ou adicionais. Lembrando que o fato de a despesa estar prevista na LOA não obriga o governante
a realizá-la, já que o ORÇAMENTO É AUTORIZATIVO.
É um princípio intrínseco à ideia de Estado Democrático, uma vez que traz disposições tanto para o
cidadão como para o Estado. No direito financeiro, no que tange ao orçamento público, compreende-
se que as finanças públicas NÃO PODEM ser manejadas sem autorização em LEI, nos termos do
art. 167, I e II, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988). Inclusive, em virtude do princípio do
paralelismo das formas, qualquer alteração só poderá ser autorizada por igual instrumento, embora
a Emenda à Constituição nº 85/2015 tenha trazido uma exceção, ao permitir que, no que tange à
ciência, tecnologia e inovação, à transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma
categoria para outra ocorram sem prévia autorização do Poder Legislativo, nos termos da nova redação
do § 5º do art. 167 da CF/1988.
4.2. Economicidade.
4.3. Transparência.
O princípio da transparência, diferentemente da economicidade, não ostenta previsão expressa
na Constituição Federal. Entretanto, manifesta-se em diversos dispositivos da Lei Complementar nº.
101/00, na medida em que estes foram previstos no intento de garantir o amplo acesso dos cidadãos às
contas públicas.
Nesse sentido, a referida Lei, com alterações promovidas pela Lei Complementar nº. 131/09 e
pela Lei Complementar nº. 156/16, em seus arts. 48, 48-A e 49, estipulou instrumentos pelos quais seria
possível aos cidadãos o exercício do controle dos gastos públicos.
Assim, observa-se que o art. 48 impõe o dever de divulgação ampla, inclusive em meios
eletrônicos de acesso ao público, dos planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias, das
prestações de contas e do respectivo parecer prévio, do Relatório Resumido da Execução Orçamentária
e do Relatório de Gestão Fiscal, incluindo-se as versões simplificadas desses documentos. Além disso,
o mesmo dispositivo trata da participação popular, mediante a realização de audiências públicas, da
liberação, em meios eletrônicos de acesso ao público, de informações alusivas à execução orçamentária
e financeira e da adoção de sistema integrado de administração financeira e controle dos mecanismos de
implantação da transparência na gestão financeira.
O art. 48-A, por sua vez, fixa o dever de os entes federados disponibilizarem a qualquer pessoa
física ou jurídica o acesso a informações referentes à despesa e à receita.
Por fim, o art. 49 dispõe que as contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão
disponíveis, durante todo o exercício, junto ao respectivo Poder Legislativo e ao órgão técnico responsável
pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade.
4.5. Exclusividade.
Conforme tal princípio, a lei orçamentária somente deve conter matéria orçamentária. Em
outros termos, o orçamento, em regra, não poderá conter dispositivo estranho à fixação de despesa
e à previsão de receita. Nesse sentido, assim dispõe o art. 165, §8º, da CRFB/88:
Vê-se, portanto, que o mencionado princípio almeja a evitar a introdução na LOA de matérias
diversas a sua função precípua, qual seja a de fixar as despesas e prever as receitas para determinado
exercício financeiro.
Por ele, devemos entender que NÃO SE PODE vislumbrar, na lei orçamentária QUALQUER
MATÉRIA ESTRANHA AO ORÇAMENTO, evitando-se as famosas CAUDAS ORÇAMENTÁRIAS ou
orçamentos rabilongos, expressões de Aliomar Baleeiro (2004, p. 440) que se referiam aos “assuntos
estranhos às finanças”. Entretanto, há exceções permitidas, como no caso da autorização para
abertura de créditos suplementares e contratação de operações de créditos, ainda que por
Antecipação de Receitas Orçamentárias (ARO).
4.6. Universalidade.
Princípio com expressa previsão no art. 2º, da Lei nº. 4.320/64, e implicitamente tratado no art.
165, §5º, da CRFB/88, que assim dispõe:
Tanto as despesas públicas quanto as receitas públicas devem estar previstas na lei
orçamentária. Caso uma despesa ultrapasse o valor previsto, deve haver crédito adicional. Consoante
esse princípio, todas as despesas e receitas devem fazer parte do orçamento, sem quaisquer deduções.
Princípio também previsto expressamente no art. 2º, da Lei nº. 4.320/64, e implicitamente no art.
165, §5º, da CRFB/88, acima reproduzidos.
Por ele, impõe-se a necessidade de haver apenas um orçamento para cada ente da
federação, a cada exercício financeiro, a fim de conferir mais transparência, evitar autorizações paralelas
e facilitar a fiscalização, ainda que tal orçamento seja subdividido em mais de um documento, a
exemplo do que ocorre com a lei orçamentária anual.
Entretanto, por conta da redação do § 5º, art. 165 da CF/1988, que prevê três suborçamentos na
LOA, as bancas de concurso público tentam induzir os candidatos ao erro, ao disporem nas assertivas
que estes desrespeitam o princípio da unidade, algo inverídico, até porque o princípio em questão
pressupõe uma orientação política, de cada ente.
Também, destaca-se que o art. 107 da Lei nº 4.320/1964 não foi recepcionado pela CF/1988,
pois os planos de trabalho de autarquias, fundações e empresas estatais dependentes devem estar
consolidados em uma única lei orçamentária.
Portanto, esses três suborçamentos devem ser incluídos na LOA e pressupõem a harmonia
entre a LOA, o Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
De acordo com esse princípio, o orçamento deve ter a vigência de um exercício financeiro,
correspondente ao intervalo de um ano, deduzindo a necessidade de um novo orçamento a cada 12
meses, coincidindo com o ano civil, conforme o art. 34, da Lei nº. 4.320/64.
A anualidade tem o fim de garantir que as contas públicas sejam objeto de reavaliação anual, de
sorte que sejam estabelecidos novos planos de governo, metas e prioridades, a serem aprovados pelo
Congresso Nacional.
Este princípio não deve ser confundido com o PRINCÍPIO DA ANUALIDADE TRIBUTÁRIA,
o qual não mais subsiste em nosso sistema tributário pátrio. Cumpre salientar que tal princípio do
Direito Financeiro distingue-se daquele referente ao Direito Tributário, - não mais presente no
ordenamento brasileiro – o qual impunha que a lei orçamentária autorizasse a arrecadação do tributo.
Nesse sentido, a Súmula 66 do STF dispõe ser “Legítima a cobrança do tributo que houver sido
aumentado após o orçamento, mas antes do início do respectivo exercício financeiro”.
Ademais, não é despiciendo afirmar que o fato de o Plano Plurianual ter a vigência de quatro anos
não invalida o Princípio da Anualidade, na medida em que, ainda que exista previsão de despesas
relativas a quatro anos adiante, a respectiva execução deverá observar o exercício financeiro, ocorrendo
na forma prevista pela Lei de Diretrizes Orçamentárias e pela Lei Orçamentária anual, que possuem
vigência ânua.
4.9. Programação.
Segundo o princípio da programação, o orçamento não deve conter apenas as estimativas para
as receitas e despesas do próximo exercício financeiro, mas também a previsão de objetivos e metas
relacionados com a realização das necessidades públicas. Esse princípio pode ser extraído da redação
do art. 165, §§ 4º e 7º, da CRFB/88:
Este princípio deve ser analisado tanto pelo aspecto contábil como pelo aspecto econômico. Pelo
contábil, o orçamento deve ser aprovado com igualdade entre receitas e despesas, independentemente
da origem das receitas. Já pelo aspecto econômico, as despesas são financiadas exclusivamente com
receitas próprias, excluindo-se as chamadas receitas creditícias.
Trata-se de princípio norteador da Administração e premissa básica das finanças. Significa que as
despesas autorizadas na lei orçamentária NÃO PODEM ser superiores à previsão de receitas, de
sorte a se manter situação de equilíbrio.
Entretanto, tal princípio não veda de maneira absoluta a eventual existência de déficits públicos.
Ou seja, é possível haver, pontualmente, despesas superiores à receita, desde que seja viável o
pagamento futuro da dívida.
Ainda que não contemplado expressamente na CF/1988, esse princípio se apresenta como uma
exigência relativa às contas públicas, que deverão apresentar o mesmo montante quando se trata de
estimar receitas e despesas.
O princípio do equilíbrio, atualmente, é considerado como doutrinário, apresentando-se como:
Equilíbrio Formal: quando a LOA deve prever receitas e fixar despesas em montantes iguais;
e
Equilíbrio Real ou Material: quando o efetivo equilíbrio das contas públicas, seria uma
execução equilibrada do orçamento, sem a preocupação da publicação de montantes iguais de
receitas e despesas.
No Brasil, a LOA é aprovada em conformidade com o equilíbrio formal, pois o equilíbrio a ser
buscado pela Lei de Responsabilidade Fiscal é o equilíbrio autossustentável, o qual não é baseado em
operações de crédito e no aumento da dívida pública. Assim, de acordo com a LC nº 101/2000, em seu
art. 4º, temos:
E ainda, o dispositivo supracitado, do art. 165, § 2º, da CF/1988, traz: “A lei de diretrizes
orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as
despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária
anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das
agências financeiras oficiais de fomento”.
Uma diferenciação muito cobrada nas provas quanto ao princípio é entre equilíbrio formal e
equilíbrio efetivo. O equilíbrio formal ocorre quando o total de receitas constantes no projeto de LOA
somado às operações de crédito é igual ao total de despesas. O equilíbrio efetivo consiste no total
de receitas do projeto de LOA tornando-se igual ao total de despesas do projeto de LOA, sem considerar
as operações de crédito para alcançá-lo. Logo, o equilíbrio formal do projeto de LOA, isto é, o total de
receita nominal igual ao total de despesa nominal, que o Poder Executivo encaminha para o exame e a
aprovação do Poder Legislativo, é uma premissa básica de finanças públicas que não consta em norma
constitucional expressa.
Outra interessante classificação que decorre desse princípio é quanto ao resultado. Este poderá
ser classificado em resultado primário ou resultado nominal. O resultado primário consiste na diferença
entre receitas não financeiras e despesas financeiras. Considerando as receitas e despesas decorrentes
de operações de crédito, juros, amortizações e outros empréstimos, e indicará se os níveis de gastos
orçamentários dos entes federativos são incompatíveis com suas arrecadações. Isto é, se as receitas não
financeiras não são capazes de suportar as despesas não financeiras. Já o resultado nominal é a
diferença entre as receitas e as despesas públicas. Incluindo despesas e receitas financeiras, os efeitos
da inflação e da variação cambial, equivalendo ao aumento da dívida pública líquida. Pode ser
considerado como a própria necessidade de financiamento do setor público, verificando se haverá ou não
a necessidade de empréstimos de entidades ou do setor privado.
O resultado primário é um bom indicador da solvência do setor público, pois mostra a necessidade,
ou não, de utilização de recursos de terceiros para a cobertura de suas despesas. Cabe, portanto, à LDO
definir o resultado primário a ser obtido com vistas à redução do montante da dívida e das despesas com
juros. O anexo e as metas fiscais estabelecerão metas para receitas, despesas, resultados nominal e
primário e o montante da dívida para o exercício a que se refere e para os dois seguintes.
Interessante é que o art. 167, III, da CF/1988, em regra, vedou a realização de operações de
crédito que excedam o montante de despesas de capital. Isso consiste na denominada “regra de ouro”,
havendo a possibilidade de as operações de crédito superarem os valores de investimentos, mediante
autorização do Poder Legislativo, desde que seja por aprovação por maioria absoluta. Logo, é possível a
existência de um orçamento deficitário.
A regra é que o orçamento não consignará dotações globais para atender às despesas, devendo
ser feitas discriminação das despesas por meio de elementos.
Conforme tal postulado, a fim de facilitar a fiscalização do emprego das verbas públicas, as
receitas e despesas devem ser autorizadas de maneira precisa e detalhada, sendo VEDADA A
AUTORIZAÇÃO DE DOTAÇÕES GLOBAIS.
Entretanto, há duas exceções ao princípio, quais sejam:
a) programas especiais de trabalho; e
b) reserva de contingência.
A teor do parágrafo único, do art. 20, da Lei nº. 4.320/64: “Os programas especiais de trabalho
que, por sua natureza, não possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução da
despesa poderão ser custeadas por dotações globais, classificadas entre as Despesas de Capital”.
Tais programas dizem respeito a investimentos necessários a serem realizados pela
Administração, mas não previstos na LOA, uma vez ainda não conhecidos à época de sua
elaboração.
Por seu turno, de acordo com o art. 91, do Decreto-Lei nº. 200/67, sob a denominação de Reserva
de Contingência: “O orçamento anual poderá conter dotação global não especificamente destinada a
determinado órgão, unidade orçamentária, programa ou categoria econômica, cujos recursos serão
utilizados para abertura de créditos adicionais”.
Assim, tal reserva diz respeito a passivos contingentes (prováveis de acontecer) e outros eventos
fiscais imprevistos.
Tal postulado veda que determinados recursos públicos (os impostos) sejam direcionados
ao atendimento de gastos específicos, de modo que sirvam para financiar as despesas públicas em
geral.
Pelo delineamento constitucional a ele conferido, tal princípio significa que não pode ser criado
imposto cuja receita seja vinculada a uma finalidade específica. Assim, os impostos não podem ser
vinculados a um fim determinado por lei infraconstitucional, ao passo que os demais tributos podem.
O objetivo desse princípio é evitar o engessamento de verbas públicas, de sorte a possibilitar
que o Estado arque com as despesas dentro dos parâmetros que ele elege como fundamentais.
Entretanto, conforme se pode notar pela redação do dispositivo constitucional acima transcrito, a
constituição pode estabelecer hipóteses de vinculação de receita de impostos.
Inclusive, assim o faz estabelecendo oito exceções:
a) repartição constitucional dos impostos (art. 167, IV, da CRFB/88);
b) destinação de recursos para ações e serviços públicos de saúde (art. 167, IV, da CRF/88);
c) destinação de recursos para a manutenção e o desenvolvimento do ensino (art. 167, IV,
da CRFB/88);
d) destinação de recursos para a realização de atividades da administração tributária (art.
167, IV, da CRFB/88);
e) prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita (art. 167, IV,
da CRFB/88);
f) prestação de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com
esta (art. 167, §4º, da CRFB/88);
g) vinculação por Estados e Distrito Federal a programa de apoio à inclusão e promoção
social de até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida (art. 204, parágrafo único, da
CRFB/88); e
h) vinculação por Estados e Distrito Federal de até cinco décimos por cento de sua receita
tributária líquida a fundo estadual de fomento à cultura para o financiamento de programas e
projetos culturais (art. 216, §6º, da CRFB/88).
FIQUE LIGADO: A Emenda Constitucional nº: 94/2016 acrescentou mais uma exceção (portanto, agora
contabilizamos nove) ao Princípio da Não Vinculação, ao incluir o parágrafo 19 ao artigo 100 da CF/88:
As receitas e as despesas deverão constar na lei orçamentária pelos seus totais, sendo vedadas
deduções (não apenas os valores líquidos), conforme o art. 6º da Lei nº 4.320/1964 prevê. Isto é,
embora a CF/1988 preveja algumas transferências quanto à repartição de receitas, a receita deve ser
lançada no orçamento pelo seu valor total a ser arrecadado, e a despesa, pelo valor a ser repartido.
Tal postulado extrapola o conteúdo do Princípio da Universalidade (segundo o qual devem constar
na Lei Orçamentária Anual todas as receitas e as despesas), determinando que as despesas sejam
discriminadas em seus valores brutos, vedadas quaisquer deduções. Nesse sentido, veja-se a redação
do art. 6º, da Lei nº. 4.320/64:
Esse princípio impõe que todos os recursos carreados ao erário sejam dispostos em uma
única conta, de sorte a facilitar sua administração e a fiscalizar o equilíbrio das contas. Nesse
âmbito, a teor do art. 164, §3º, da CRFB/88, as disponibilidades de caixa da “União serão depositadas
no banco central; a dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades
do Poder Público e das empresas por ele controladas, em instituições financeiras oficiais,
ressalvados os casos previstos em lei”.
Considerando que era comum que os Estados fossem proprietários de bancos, realidade
modificada com as privatizações ocorridas na década de 1990, controvérsias surgiram acerca da
aplicabilidade desse dispositivo, dentre as quais se destacam as seguintes:
a) No julgamento do AI 837.677 AgR/MA, assentou o STF que o depósito de salário ou de
remuneração de servidor público em instituição financeira privada não se enquadra no conceito de
disponibilidade de caixa, razão pela qual não afrontaria o art. 164, §3º, da CRFB/88;
b) No julgamento da ADI 2.600/ES, entendeu o STF que o Estado não teria competência normativa
para, mediante ato legislativo próprio, estabelecer ressalvas à incidência da cláusula geral que lhe imporia
a compulsória utilização de instituições financeiras oficiais, na medida em que o art. 164, §3º, da CRFB/88,
demandaria lei nacional para tratar da matéria.
Por fim, importa asseverar que no art. 43, §1º, da Lei de Responsabilidade Fiscal, há exceção a
esse princípio, na medida em que se impede a unificação dos recursos da Previdência Social com os
demais Ministérios, nestes termos:
Assim, as disponibilidades de caixa dos regimes de previdência social dos servidores públicos
deverão ser depositados em conta separada das demais disponibilidades de cada ente e aplicadas nas
condições de mercado, sendo vedado que assim o sejam em ações e outros papéis relativos às empresas
controladas pelo respectivo ente da Federação ou em empréstimos aos segurados e ao Poder Público,
inclusive a suas empresas controladas.
Princípio Conceito
Legalidade Impõe que a realização de gastos públicos deve observar a prévia
autorização legislativa de que depende o Orçamento.
Economicidade Exigência de obter o melhor resultado possível a partir de uma determinada
alocação de recursos financeiros, com o menor gasto.
Transparência Dever do Estado de disponibilizar leis, planos e dados orçamentários de forma
clara e acessível para a sociedade, de sorte a incentivar a participação popular
no exercício do controle dos gastos públicos.
Responsabilidade Partindo do pressuposto que o patrimônio do Estado pertence ao povo, prescreve
Fiscal que os gastos públicos sejam realizados dentro limites estritos sob pena da
imposição de sanções aos entes e agentes públicos.
Exclusividade A lei orçamentária, em regra, não poderá conter dispositivo estranho à
fixação de despesa e à previsão de receita.
Universalidade Todas as despesas e receitas devem fazer parte do orçamento sem quaisquer
deduções.
Unidade Impõe a necessidade de haver apenas um orçamento para cada ente da
federação a cada exercício financeiro, a fim de conferir mais transparência e
facilitar a fiscalização, ainda que tal orçamento seja subdividido em mais de um
documento
Anualidade O orçamento deve ter a vigência de um exercício financeiro, correspondente
ao intervalo de um ano, conforme o art. 34, da Lei nº. 4.320/64.
Programação O orçamento deve ser planejado, ou seja, conter os objetivos e metas
relacionados ao plano de governo.
Equilíbrio Significa que as despesas autorizadas na lei orçamentária não podem ser
orçamentário superiores à previsão de receitas, de sorte a se manter situação de equilíbrio.
Proibição de Veda o remanejamento de recursos sem prévia autorização legislativa. É
Estorno corolário do Princípio da Legalidade.
Especificação As receitas e despesas devem ser autorizadas de maneira precisa e detalhada,
sendo vedada, em regra, a autorização de dotações globais.
Não afetação dos Proíbe que determinados recursos públicos (os impostos) sejam direcionados ao
impostos atendimento de gastos específicos, de modo que sirvam para financiar as
despesas públicas em geral.
Orçamento Extrapola o conteúdo do Princípio da Universalidade (segundo o qual devem
bruto constar na Lei Orçamentária Anual todas as receitas e as despesas),
determinando que as despesas sejam discriminadas em seus valores brutos,
vedadas quaisquer deduções.
Unidade Impõe que todos os recursos carreados ao erário sejam dispostos em uma
de caixa única conta, de sorte a facilitar sua administração e a fiscalizar o equilíbrio das
contas.
5. Competência Legislativa
Segundo previsão do art. 24, I, da CF/88, em matéria de Direito Financeiro, há competência
concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, observe-se:
Desse modo, conjugando-se o art. 24 com o art. 30, da CF/88, verifica-se que:
Competência Legislativa
União Estabelecer normas gerais (art. 24, §1º);
Estados e Exercer a competência suplementar em relação às normas gerais editadas pela
Distrito Federal União (art. 24, §2º) e, na ausência de tais normas, a competência plena (art. 24,
§3º);
Municípios Com base em interpretação sistemática (art. 24 c/c art. 30, I e II) tem
competência legislativa concorrente para suplementar a legislação federal ou
a estadual naquilo que couber, ou seja, quando houver interesse local;
6.1 Introdução.
DOS ORÇAMENTOS
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
III - dispor sobre critérios para a execução equitativa, além de
procedimentos que serão adotados quando houver impedimentos legais e
técnicos, cumprimento de restos a pagar e limitação das programações de
caráter obrigatório, para a realização do disposto nos §§ 11 e 12 do art. 166.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019)
§ 10. A administração tem o dever de executar as programações
orçamentárias, adotando os meios e as medidas necessários, com o
propósito de garantir a efetiva entrega de bens e serviços à sociedade.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019)
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes
orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão
apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do
regimento comum.
§ 11. É obrigatória a execução orçamentária e financeira das programações
a que se refere o § 9º deste artigo, em montante correspondente a 1,2%
(um inteiro e dois décimos por cento) da receita corrente líquida realizada
no exercício anterior, conforme os critérios para a execução equitativa da
programação definidos na lei complementar prevista no § 9º do art. 165.
§ 12. A garantia de execução de que trata o § 11 deste artigo aplica-se
também às programações incluídas por todas as emendas de iniciativa de
bancada de parlamentares de Estado ou do Distrito Federal, no
montante de até 1% (um por cento) da receita corrente líquida realizada no
exercício anterior. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 100, de
2019)
§ 13. As programações orçamentárias previstas nos §§ 11 e 12 deste artigo
não serão de execução obrigatória nos casos dos impedimentos de
ordem técnica. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 100, de
2019)
§ 14. Para fins de cumprimento do disposto nos §§ 11 e 12 deste artigo, os
órgãos de execução deverão observar, nos termos da lei de diretrizes
orçamentárias, cronograma para análise e verificação de eventuais
impedimentos das programações e demais procedimentos necessários à
viabilização da execução dos respectivos montantes. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019)
§ 16. Quando a transferência obrigatória da União para a execução da
programação prevista nos §§ 11 e 12 deste artigo for destinada a Estados,
ao Distrito Federal e a Municípios, independerá da adimplência do ente
federativo destinatário e não integrará a base de cálculo da receita corrente
líquida para fins de aplicação dos limites de despesa de pessoal de que trata
o caput do art. 169. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 100, de
2019)
§ 17. Os restos a pagar provenientes das programações orçamentárias
previstas nos §§ 11 e 12 poderão ser considerados para fins de cumprimento
da execução financeira até o limite de 0,6% (seis décimos por cento) da
receita corrente líquida realizada no exercício anterior, para as
programações das emendas individuais, e até o limite de 0,5% (cinco
décimos por cento), para as programações das emendas de iniciativa de
bancada de parlamentares de Estado ou do Distrito Federal. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019)
§ 18. Se for verificado que a reestimativa da receita e da despesa poderá
resultar no não cumprimento da meta de resultado fiscal estabelecida na lei
de diretrizes orçamentárias, os montantes previstos nos §§ 11 e 12 deste
artigo poderão ser reduzidos em até a mesma proporção da limitação
incidente sobre o conjunto das demais despesas discricionárias. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019)
§ 19. Considera-se equitativa a execução das programações de caráter
obrigatório que observe critérios objetivos e imparciais e que atenda de
forma igualitária e impessoal às emendas apresentadas,
independentemente da autoria. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
100, de 2019)
§ 20. As programações de que trata o § 12 deste artigo, quando versarem
sobre o início de investimentos com duração de mais de 1 (um) exercício
financeiro ou cuja execução já tenha sido iniciada, deverão ser objeto de
emenda pela mesma bancada estadual, a cada exercício, até a conclusão
da obra ou do empreendimento. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
100, de 2019)
Aspectos do Orçamento
Político Reflete o plano de ação do Governo;
Instrumento de intervenção para efetivar direitos fundamentais;
Necessidade de aprovação do orçamento pelo Poder Legislativo;
Econômico Instrumento de otimização dos recursos financeiros, de redistribuição
de renda ou de regulação da economia;
Técnico ou Contábil Necessidade de se elaborar o orçamento de acordo com as regras
contábeis;
Jurídico Obrigatoriedade de observar as normas constitucionais e
infraconstitucionais para a sua elaboração.
6.3 Espécies.
a) Orçamento tradicional: reflexo da perspectiva clássica, essa espécie de orçamento era mera peça
contábil, sem qualquer planejamento ou objetivo a ser atingido. Baseava-se apenas em orçamentos
anteriores;
d) Orçamento base zero ou por estratégia: espécie que não utiliza orçamentos anteriores como
parâmetro. Desse modo, o gestor deve justificar o orçamento proposto detalhadamente sem utilizar
orçamentos anteriores como base. Consiste num método em que todo recurso solicitado é criticamente
analisado a bem de que, quando da elaboração da proposta orçamentária, haja um real questionamento
dos recursos nas respectivas áreas, sem qualquer compromisso com um montante inicial de dotação.
Assim, cada órgão que solicita recurso deve justificar os seus gastos sem utilizar o montante do exercício
anterior como parâmetro para valor inicial mínimo. Diferentemente de alguns orçamentos que são feitos
com base no orçamento do exercício anterior, acrescentado apenas da projeção da inflação, o orçamento
base zero demanda que o administrador justifique o orçamento proposto em cada detalhe, com a
respectiva quantia a ser gasta, sem o parâmetro do exercício anterior.
As decisões orçamentárias são tomadas tendo As decisões orçamentárias são tomadas com base
em vista as necessidades das unidades em avaliações e análises técnicas das alternativas
organizacionais. Não se indagava o motivo da possíveis.
despesa.
O controle visa avaliar a honestidade dos O controle visa avaliar a eficiência, a eficácia, a
agentes governamentais e a legalidade no efetividade e a economicidade das ações
cumprimento do orçamento. governamentais.
• Vinculação ao planejamento;
ORÇAMENTO • Foco no aspecto administrativo da gestão;
PROGRAMA • Valoriza aspectos gerenciais e o alcance de resultados.
O orçamento antigamente – denominado de clássico – era visto apenas sobre o ponto de vista
contábil e financeiro. Bastava, para essa modalidade, haver um equilíbrio em número da receita com a
despesa, sem se importar com atendimento a programas de governo. Vejam como cai em prova:
Orçamento
Natureza Jurídica Lei, tão somente, em sentindo formal
Justamente por ser lei cujos efeitos são concretos, o STF por muito tempo entendeu que as leis
orçamentais não poderiam ser objeto de controle de constitucionalidade. Ocorre que, posteriormente, o
STF revisou seu entendimento, sendo que atualmente as leis orçamentárias podem sofrer controle
de constitucionalidade, ainda que sejam de efeitos concretos. Vejam:
A lei orçamentária anual prevê os gastos que serão realizados e AUTORIZA as despesas. Pelo
fato de apenas autorizar, isso NÃO implica a OBRIGATORIEDADE da realização dos gastos
estabelecidos na lei orçamentária.
Suponha que foram previstos no orçamento para o ano de 2019 no Estado do Ceará a receita de
1 bilhão e, por outro via, a despesa de 950 milhões. Porém, no primeiro trimestre de 2019, constatou-se
que o Estado arrecadou bem menos daquilo que estava previsto. O Estado poderá, nesse caso, deixar
de realizar despesas, de modo que se atenda ao equilíbrio fiscal, pois, como já ressaltado, as despesas
são apenas autorizadas, e, portanto, despidas de obrigatoriedade de sua realização.
É por isso que o orçamento é autorizativo, e não impositivo. Vejam o entendimento do STF:
Vocês perceberam que a questão fez menção ao termo: “em regra”? Então, amigos, há algumas
despesas que serão impositivas. Vale dizer, o governo não terá escolha entre fazê-las ou não. Por serem
impositivas, terá de fazer tais despesas.
Há despesas que, por imposição constitucional, por exemplo, deverão ser não só previstas no
orçamento, como também realizadas. Um bom exemplo disso são os gastos mínimos na educação e na
saúde, que, de acordo com a CRF/88, devem ser, obrigatoriamente, realizas pelo Chefe do Executivo.
Observem que tais despesas não derivam da lei orçamentária. Em verdade, elas são preexistentes ao
orçamento. Por isso, são chamadas de despesas que decorrem de normas pré-orçamentárias.
Outro exemplo é o próprio gasto com a folha de pagamento de servidores. São despesas que,
apesar de constarem no orçamento, não são autorizativas, mas sim impositivas. Trata-se, também,
de despesas que derivam de normas pré-orçamentárias. OK? Harrison Leite faz uma diferenciação entre
tais despesas. Vejam:
Orçamento Público
Autorizativo Impositivo
Despesas incluídas e criadas na lei Despesas preexistentes ao orçamento.
orçamentaria Despesas que, apesar de previstas no
orçamento, não derivam dela, tendo origem em
outras normas, a exemplo da CRF/88
6.5.1 EC nº 86/2015.
Como vocês puderam perceber, as despesas criadas dentro da lei orçamentária não obrigam o
chefe do executivo a ter de realizá-las.
Vejam essa situação: a lei orçamentária, antes de ser aprovada, passa por uma deliberação
aprofundada no poder legislativo (afinal, é um instrumento poderoso para a consecução das
políticas públicas). Suponha que o Congresso nacional decida criar na lei orçamentária uma despesa –
uma ponte que interligará duas regiões prósperas. Porém, pelo seu caráter meramente autorizativo, o
poder executivo decide que aquela ponte não é importante, motivo por que decide não a fazer. Que
situação delicada...
Essa situação e outras fizeram com que surgissem duas Emendas na nossa Constituição, EC nº
86/2015 e EC nº 100/2019. Em termos simples, essas emendas tornaram mais uma parte das despesas
no orçamento como impositivas. Vale dizer, tais despesas serão vinculadas ao chefe do executivo.
Vocês já devem ter ouvido falar sobre emendas parlamentares. A emenda parlamentar é um
instrumento de que se vale os parlamentares para se fazerem presentes na elaboração do orçamento.
Antigamente, todas as emendas parlamentares eram meramente autorizativas. Porém, com a
promulgação de tais emendas constitucionais, uma parte das emendas parlamentares terá caráter
impositivo.
Trata-se de emendas de que decorrem despesas decorrentes de normas preexistentes ao
orçamento. Vejam o que o Harrison assenta:
Sendo assim, (...) Orçamento da União está vinculado por uma norma
constitucional, portanto, pré-orçamentária, às emendas individuais
dos deputados e senadores. Tendo em vista o caráter da vinculação,
neste ponto o orçamento se torna impositivo.
A União deve investir anualmente um percentual mínimo na área da saúde. Pois bem, o
percentual – 0,6% - da receita corrente líquida decorrente das emendas parlamentares impositivas
entrará no cálculo que a União deve investir anualmente nessa área.
Tome nota: o 0,6% das emendas impositivas não poderão ser destinados para pagamento de
pessoal ou encargos sociais.
Amigos, nessa crise fiscal em que vivemos, é muito comum os entes federativos, Estados e
Municípios, estarem inadimplentes perante a União. Isso não poderá servir de empecilho para a União
transferir os valores decorrentes das emendas individuais parlamentares. Mesmo que o Ente
federativo esteja devendo “rios” de dinheiro, a União é obrigada a transferir os valores. Ok?
A despesa com pessoal dos entes federativos tem como parâmetro a receita corrente líquida.
Assim, cada ente federativo poderá gastar até um percentual em cima da sua receita corrente líquida.
Essa transferência obrigatória feita pela União aos entes federativos não integrará a base de cálculo da
receita corrente líquida para fins de aplicação dos limites de despesa de pessoal.
A constituição prevê que as emendas parlamentares impositivas deverão ser atendidas, de modo
igualitário, mediante critérios objetivos e imparciais, sem considerar a autoria delas.
Portanto, independentemente, de quem proponha as emendas impositivas, o critério de
atendimento deverá ser igual para todos.
6.5.2. EC nº 100/2019.
Reparem que, além das emendas individuais dos parlamentares, há as emendas das bancadas
como impositivas.
Tome nota: A bancada de parlamentares do Estado e do DF é a Federal.
Emendas individuais Emendas das bancadas parlamentares
Autoria de cada parlamentar individualmente, Emendas apresentadas por uma bancada, seja
ou seja, por um senador ou por um deputado. estadual ou regional.
O percentual será de até 1% (um porcento) da receita corrente líquida realizada no exercício
anterior. Registra-se que é até 1%. Isso quer dizer que, caso a bancada queira, poderá impor um
percentual menor de que 1%. Aqui, vale as mesmas disposições que já foram faladas sobre as
emendas individuais, quais sejam: a) ainda que o ente federativo esteja inadimplente, a União é
obrigada a ter de transferir as receitas; b) a transferência obrigatória feita pela União aos entes
federativos não integrará a base de cálculo da receita corrente líquida para fins de aplicação dos
limites de despesa de pessoal.
Registra-se que o único parâmetro que vocês devem se ater para esse tipo de emenda é a receita
corrente líquida do exercício anterior. Vejam que, nesse aspecto, é diferente das emendas individuais.
As emendas da bancada de parlamentares poderão ser usadas para investimentos.
Suponha que a bancada federal de parlamentares do Estado do Pará faça uma emenda impositiva
cujos recursos sejam destinados para a criação de um hospital regional de alta complexidade.
Ocorre que, após o exercício, os recursos que foram revertidos à construção não foram suficientes
para a construção da unidade de saúde. Nesse caso, a Constituição prevê que os investimentos
indicados deverão ser objeto de emenda pela mesma bancada estadual, a cada exercício, ATÉ A
CONCLUSÃO da obra ou do empreendimento.
Reparem que essa disposição é uma forma de combater aquelas obras inacabadas, que, apesar
de iniciarem, não terminam.
6.5.3. EC nº 105/2019.
Por fim, na linha das emendas parlamentares (individuais e de bancada) impositivas, a emenda
constitucional nº 105/2019 trata das formas de transferências de recursos aos Estados e ao Distrito
Federal, que não mais necessitam da formalização de convênios ou instrumento congêneres para
tanto, sendo essa a principal inovação, vejamos o regramento constitucional:
O orçamento faz uma previsão da receita do exercício, o que pode se realizar ou não. Se a receita
prevista não for o suficiente, o Chefe do Executivo ficará sem recursos para fazer frente às despesas.
Vocês já devem ter ouvido falar numa situação em que o Presidente da República ou Governador solicitou
a abertura de crédito adicional ao congresso ou a assembleia, respectivamente.
É nesse cenário que o chefe do executivo solicita ao poder legislativo os créditos adicionais. Em
termos simples, é como se houvesse uma emenda ao orçamento, uma alteração na lei orçamentária.
É importante destacar que os créditos orçamentários são apenas mais uma fonte de alteração
de orçamento, que pode também ser alterado por meio de transposição, remanejamento e
transferência.
Conforme ensina Harrison Leite, as alterações do orçamento podem ser qualitativas ou
quantitativas, e servem tanto para reformar as dotações de orçamento para ações já criadas, quanto
para criar novos programas ainda não previstos na LOA.
Os chamados créditos adicionais seguem o mesmo rito da Lei orçamentária anual previsto no
art. 166 da Constituição Federal de 1988.
Os Créditos Adicionais são, pois, autorizações de despesas não computadas no orçamento ou
dotadas de forma insuficiente – o que significa dizer que a despesa se revelou maior do que prevista
inicialmente. Os créditos adicionais são gênero de que são espécies: a) suplementar; b) especial;
c) extraordinário.
Os créditos SUPLEMENTARES servem para reforçar a dotação orçamentária, ocasião em
que, apesar de ter havido previsão do gasto, este não correspondeu ao que estava preestabelecido.
Exemplo: suponha que foi previsto um gasto de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para a construção de uma
ponte. Ocorre que, por conta do tempo, a previsão de recursos se mostrou insuficiente. Nesse caso, o
crédito adicional que deve ser solicitado ao poder legislativo é o suplementar, uma vez que já havia
previsão de tal despesa no orçamento.
Já em relação aos créditos ESPECIAIS e aos EXTRAORDINÁRIOS. Ambos servem para
autorizar DESPESA NÃO PREVISTA NA LEI orçamentária. A diferença entre eles está na urgência
e o motivo de sua solicitação.
Os créditos ESPECIAIS possuem o objetivo de atender a quaisquer despesas para as quais não
houve dotação orçamentária. Ademais, para a sua solicitação, não é necessária a urgência como
causa.
Já os créditos EXTRAORDINÁRIOS só podem ser abertos para despesas urgentes e
imprevisíveis, a exemplo de guerra, comoção interna e calamidade pública. Vejam:
Crédito adicional pressupõe a participação do poder legislativo, já que haverá uma alteração na
lei orçamentária. Pois bem, em razão da urgência que o caso requer, a Constituição permite que, apenas,
os créditos extraordinários sejam criados por medias provisórias.
Que tal uma tabela com as diferenças de cada?
CRÉDITOS ADICIONAIS
Suplementares Especiais Extraordinários
Finalidade Reforço de dotação já Autorização de nova Autorização de nova despesa,
existente na lei orçamentária despesa não prevista na imprevisível e urgente, não
lei orçamentária prevista na lei orçamentária
Autorização É necessária a autorização É necessária a autorização Não é necessária a autorização
Legislativa prévia do poder legislativo prévia do poder legislativo prévia, já que os créditos
para fazer a despesa para fazer a despesa poderão ser feitos mediante MP
Os créditos suplementares têm vigência limitada ao exercício em que ocorreu sua autorização,
ou seja, foram concedidos. A lei orçamentária anual pode conter uma autorização para a abertura de tais
créditos orçamentários, configurando numa exceção ao princípio da exclusividade. Tal característica se
justifica pois há apenas o reforço da dotação de determinado crédito no orçamento aprovado, sem
inovação.
Segundo Leite, a abertura de créditos orçamentários suplementares:
Os créditos especiais são aqueles ainda não previstos na lei orçamentária anual e que trazem
inovação à LOA, adicionando programações de gastos inéditas em determinado exercício, sendo a sua
natureza qualitativa, e não apenas quantitativa como nos créditos suplementares. Os créditos especiais
são abertos por decreto do poder executivo, com a finalidade de criar um programa ou elemento
de despesa com vistas a atender objetivo não previsto no orçamento.
Os créditos especiais devem, também, ser autorizados por lei que não é a LOA, e depende de
recursos disponíveis para a sua existência, bem como de uma justificação para a sua abertura.
ATENÇÃO!! Sobre os créditos especiais, você precisa lembrar que não podem ter vigência além
do exercício em que forem autorizados, exceto se o ato de autorização for promulgado nos últimos
quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites dos seus saldos, poderão viger
até o termino do exercício financeiro subsequente.
O rito específico da Medida Provisória que abre crédito extraordinário é previsto no art. 166
§1º da Constituição Federal, que prevê a submissão à Comissão Mista de orçamento e Finanças para
parecer.
No caso dos Estados e Municípios, a disciplina desse tema está na Lei de Diretrizes
Orçamentárias. Quanto ao instrumento normativo, se não previsto, os créditos extraordinários podem ser
abertos por Decretos do Executivo e, posteriormente, comunicados ao Legislativo, conforme o art. 44
da Lei 4.320/64.
Os créditos extraordinários podem tanto reforçar dotações orçamentárias, como os
suplementares, quanto criar novas dotações, como fazem os créditos especiais. O parâmetro aqui é a
imprevisibilidade e a urgência, conforme casos específicos.
Eles, assim como os especiais, não poderão ter vigência além do exercício em que foram
autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele
exercício, casos em que, reabertos nos limites dos seus saldos, poderão viger até o término do
exercício financeiro subsequente.
QUADRO COMPARATIVO DOS CRÉDITOS ADICIONAIS
SUPLEMENTAR ESPECIAL EXTRAORDINÁRIO
Reforço de dotação Atender a categorias de Atender a despesas
Finalidade orçamentária programação não imprevisíveis
existente na LOA. contempladas na LOA. e urgentes.
Autorização Prévia, podendo ser incluída na Prévia, em lei especial Sem necessidade prévia.
Legislativa própria LOA ou em lei especial.
Decreto do Poder Executivo, Decreto do Poder Executivo, Por meio de Medida
Forma de após autorização Legislativa, após autorização Legislativa, Provisória (União) ou
Abertura até o limite estabelecido em lei. até o limite estabelecido em Decreto (Estados e
lei. Municípios), com remessa
imediata ao Legislativo.
Recursos Indicação obrigatória Indicação obrigatória Independe de indicação,
ou seja, é facultativa.
Valor/ Limite Obrigatório, indicado na lei de Obrigatório, indicado na lei de Obrigatório, indicado na MP
autorização e no decreto de autorização e no decreto de (União) ou no Decreto
abertura abertura (Estados e Municípios).
Vigência Sempre no exercício Em princípio, no exercício Em princípio, no exercício
financeiro em que foi aberto. financeiro em que foi aberto financeiro em que foi
aberto
Não permitida Quando autorizado nos Quando autorizado nos
Prorrogação últimos 4 meses do exercício últimos 4 meses do
financeiro exercício financeiro
O ciclo orçamentário se consubstancia nas etapas pelas quais o orçamento passa. As etapas
(fases) são divididas em: a) iniciativa; b) apreciação (deliberação); c) execução; e d) controle.
Quero que você grave isso: O ciclo orçamentário não se confunde com o exercício financeiro.
Lembre-se de que o exercício financeiro coincidira com o ano civil. Vale dizer, durará um ano apenas.
Ocorre que o ciclo orçamentário é mais amplo, pois começa antes mesmo de o exercício começar e se
estende para depois do seu término (fase de controle).
Vamos falar, agora, sobre cada fase.
6.7.1 Iniciativa.
Conforme o art. 84, XXIII, c/c o art. 61, § 1º, II, b), ambos da CRF/88, as leis orçamentárias (LO,
LDO e PPA) serão elaboradas sempre por iniciativa do Poder Executivo. Trata-se, portanto, de
INICIATIVA EXCLUSIVA e, portanto, indelegável. O Chefe do executivo tem o dever de dar a iniciativa
do projeto de lei, sob pena de responder por crime de responsabilidade (art. 85, VI, da CRF/88).
Ressalta-se que parlamentares podem dar iniciativa de lei que trate sobre benefício fiscal
(tributário), ainda que tenha impacto sobre o orçamento. Isso porque a iniciativa de matéria tributária é
concorrente, podendo o início se dá não só pelo chefe do executivo como também por parlamentar.
Os poderes legislativo e Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública elaboram as suas
próprias propostas, encaminhando-as ao poder executivo, a quem incumbe de consolidá-las, antes de
enviar ao poder legislativo.
Suponha que o Presidente da República queira realizar emendas no projeto. Nesse caso, ele
poderá realizar emendas mesmo depois de ter enviado o projeto ao poder legislativo? Sim, meus amigos.
Vejam o dispositivo da Constituição que trata sobre o tema:
Lembre-se de que o projeto antes de ir ao plenário para votação passará pela comissão mista. O
Chefe do Executivo pode enviar emenda enquanto NÃO INICIADA A VOTAÇÃO, NA COMISSÃO
MISTA, DA PARTE CUJA ALTERAÇÃO É PROPOSTA.
6.7.3 Execução.
O projeto de lei sendo aprovado, promulgado e publicado, passa a ser executado. Até 30 dias
depois de publicado o orçamento, o poder executivo estabelecerá a programação financeira e o
cronograma mensal de desembolso (gasto) (Art. 8º da LRF). O Poder Executivo publicará, até trinta dias
após o encerramento de cada bimestre, relatório resumido da execução orçamentária (§3º do art. 165 da
CRF/88). Tomem nota desse dispositivo:
Percebam que, se a receita não corresponder ao que foi previsto inicialmente, deverá ocorrer a
limitação de empenho.
Atenção: Não serão objeto de limitação as despesas que constituam obrigações constitucionais
e legais do ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento do serviço da dívida, e as ressalvadas pela
lei de diretrizes orçamentárias.
Vejam como é cobrado em prova:
6.7.4 Controle.
O controle da correta aplicação dos recursos poderá ser feito pela controladoria interna dos
órgãos e entidades, pelo controle externo realizado pelo poder legislativo com o auxílio do Tribunal
de Contas. E poderá ser feito, até mesmo, pela sociedade.
A nossa Constituição estabeleceu três leis orçamentárias – Plano Plurianual (PPA), Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LO), as quais devem ser aprovadas e
executadas de modo interligado, cujo conjunto forma o denominado grande orçamento público ou
organização orçamentária.
As leis orçamentárias no Brasil sempre tiveram dupla previsão, ou seja, primeiro há uma lei
detalhada e específica para o exercício financeiro (LOA), a qual pode ser considerada como
propriamente o orçamento de cada ano, com a previsão de todas as receitas e a autorização de todas as
despesas do ente, seja o Município, o Estado ou a União. Além dessa lei, o Brasil sempre teve também
uma outra grande lei para o planejamento de médio prazo (o PPA – plurianual, servindo para vários
anos), daí falar-se em dupla previsão.
Com a Constituição Federal de 1988 (CF/1988), foi inserida uma novidade, intermediária
entre essas duas que sempre existiram, que é a LDO, a qual nos auxilia para que a LOA esteja em
conformidade com o PPA.
Em suma, o Brasil sempre teve o sistema da dupla previsão legal, uma lei detalhada e pontual
para o exercício financeiro (LOA) e outra para o planejamento de médio prazo (PPA).
Ressalta-se que a LOA sempre deve estar em conformidade com o PPA, sendo imprescindível a
harmonia entre todas as leis orçamentárias. Ainda, a partir da CF/1988, a LDO foi introduzida, com o
objetivo de realizar ligação entre o PPA e a LOA. Vejamos o art. 165 da CF/1988, que nos revela as três
principais leis ou instrumentos orçamentários utilizados na implantação das Políticas Públicas:
O PPA vai tratar de despesas de capital e despesas relativas aos programas de duração
continuada. Portanto, o PPA não tem objetivo de tratar de despesas correntes e tampouco de
programas de duração curta. As despesas de capital são atreladas a gastos de investimentos, ao passo
que as despesas correntes são gastos relacionados com a manutenção da máquina pública.
Atenção!! Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá
ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de
crime de responsabilidade (§1º do art. 167 da CRF/88)
O prazo para que o Presidente envie o PPA ao poder legislativo é de até quatro meses antes do
encerramento do primeiro exercício (31 de agosto) e devolvido para sanção até o encerramento da
Sessão Legislativa (22 de dezembro), nos termos do art. 35, § 2°, I do ADCT. A vigência do PPA é de
4 anos, vigorando até o final do primeiro exercício do mandato subsequente do executivo. Portanto, a
vigência do PPA não coincide com o mandato do Presidente. A doutrina majoritária entende que o PPA
é um instrumento de médio prazo, e não de longo. OK?
Vejam como o tema é cobrado em prova:
A LDO surgiu por meio da Constituição Federal de 1988, como elo entre
o planejamento (PPA) e o operacional (LOA). Assim, enquanto o PPA
tem o seu objetivo voltado para o planejamento estratégico do
governo, a LDO tem o conteúdo voltado para o seu planejamento
operacional, de curto-prazo.
A LDO faz a interligação entre o PPA, planejamento estratégico, e a LO, planejamento operacional.
Vejam a norma constitucional que trata sobre essa lei:
Vejam a tabela abaixo para fixar as informações importantes dessa lei orçamentária:
Amigos, reparem que uma das funções da LDO é orientar a elaboração da lei orçamentária anual.
Portanto, a LDO é feita antes da lei orçamentária anual e do PPA.
O prazo para envio da LDO pelo poder executivo ao poder legislativo é, segundo o art. 35, § 2°, lI
do ADCT, até o dia 15 de abril (oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro) e será
devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. Vejam a tabela
abaixo para que vocês possam se situar no tempo:
Reparem que a sessão legislativa é anual e é dividida em dois períodos, o primeiro e o segundo.
Não custa repetir que a LDO será devolvida para sanção até o encerramento do primeiro período da
sessão legislativa.
Atenção: A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos,
empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de
pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive
fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas se houver autorização na LDO,
ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
Normalmente, a LDO entra em vigor após 17 de julho de um determinado exercício e permanece
vigente até 31 de dezembro do exercício subsequente. Portanto, a LDO tem vigência acima de um ano.
A LC nº. 101/00 trouxe algumas novidades à elaboração da LDO.
Nesse sentido, o art. 4º da referida Lei previu que a LDO também deve dispor sobre o equilíbrio
entre receitas e despesas, critérios e forma de limitação de empenho, normas relativas ao controle de
custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos e demais
condições e existências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas.
O mesmo dispositivo impôs, ainda, que a LDO contivesse dois anexos: o Anexo de Metas Fiscais
e o Anexo de Riscos Fiscais, nestes termos:
O Anexo de Metas Fiscais tem por finalidade estabelecer metas anuais, em valores correntes e
constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública,
para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes. Nesse sentido, constitui infração
administrativa propor lei de diretrizes orçamentárias que não contenha as metas fiscais (art. 5º, II, da Lei
nº. 10.028/00).
Já o Anexo de Riscos Fiscais terá por finalidade expor a avaliação dos passivos contingentes e
outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso
se concretizem.
Contudo, importa lembrar que aos municípios com menos de 50.000 (cinquenta mil) habitantes é
facultada a elaboração dos referidos anexos (art. 63, III, da LC nº. 101/00). Ademais, no âmbito da União,
exige-se, também, um anexo específico contendo os objetivos das políticas monetária, creditícia e
cambial, bem como os parâmetros e as projeções para seus principais agregados e variáveis, e ainda as
metas de inflação, para o exercício subsequente (art. 4º, §4º, da LC nº. 101/00).
Notadamente em questões objetivas, é essencial lembrar que somente a LDO demanda tais
anexos. Essa peculiaridade otimiza a fiscalização da gestão pública pelo corpo social.
A LOA é o orçamento, por isso, na prática, recebe uma atenção maior dos parlamentares. A LOA
é a lei mais concreta dentre as três, pois é o lugar em que se encontram de fato as receitas e despesas.
Enquanto o PPA tem função estratégica, a LOA tem função operacional.
Contudo, a rigor o orçamento não tem vida própria, deve estar em consonância com a LDO e com
o PPA, por isso, há hierarquia lógica entre PPA, LDO e LOA:
O envio da LOA pelo Presidente ao poder legislativo deverá ser realizado até quatro meses antes
do encerramento do exercício financeiro (31 de agosto) e devolvido para sanção até o encerramento da
sessão do legislativo (até 22 de dezembro). Reparem que é o mesmo prazo do PPA.
Em respeito ao princípio da anualidade, seu prazo de vigência será de 1 ano, entrando em vigor
em 01 de janeiro com vigência até 31 de dezembro. Em relação à LOA, assim dispôs a LC nº. 101/00:
Assim, impõe a Lei de Responsabilidade Fiscal que o projeto de LOA: a) seja acompanhado de
anexo demonstrando a compatibilidade da programação dos orçamentos com os objetivos e metas
previstos no Anexo de Metas Fiscais; b) seja acompanhado do demonstrativo regionalizado do efeito,
sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de
natureza financeira, tributária e creditícia, bem como as medidas de compensação a renúncias de receita
e ao aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado; e c) contenha reserva de contingência
(Atenção com isso!) cuja forma de utilização e montante serão estabelecidos na LDO.
Salienta-se que o orçamento fiscal e o orçamento investimento devem ser compatibilizados com
o PPA, possuem também a função de reduzir desigualdades entre as regiões, nos termos do §7º do art.
165 da CF. Tal entendimento não se aplica ao orçamento da seguridade social.
Caso não o Poder Legislativo não receba a proposta de LDO, no prazo visto acima, considerará
como proposta a Lei de Orçamento vigente, nos termos do art. 32 da Lei 4.320/64.
Note que não é a proposta do ano passado, mas sim a proposta da lei orçamentária do ano
vigente.
Programação governamental
pelos próximos 4 anos Metas relativas Compatibilidade com a LDO e,
às despesas, receitas, assim, com o Anexo de Metas
Determinação das despesas
dívidas, patrimônio e Fiscais
Providência de capital (+ as despesas
resultado.
delas decorrentes) e de Reserva de contingência, para
durarão continuada (Anexo de Metas Fiscais fazer frente ao Anexo de
– art. 4º, LRF) Riscos Fiscais
Nenhum investimento que
ultrapasse 1 ano será
realizado sem a previsão no Outro anexo: Anexo de
PPA (artigo 167, § 1o, CR) Riscos Fiscais (possíveis
contingências e soluções)
Está disciplinada no art. 165, Está disciplinada no art. 165, §2º, Está disciplinada no art. 165,
§1º, CF. CF e no art. 4º da LRF. §5º, CF e no art. 5º da LRF.
Trata-se de lei de vigência de Tem vigência de 1 ano e Tem vigência de 1 ano e dispõe
4 anos, estabelecendo os estabelecerá os objetivos e metas sobre as receitas e as
grandes objetivos e metas da da administração durante o ano. despesas da Administração
Administração. Estabelece as Visa tornar o plano plurianual neste período de um ano
Diretrizes, Objetivos e Metas. mais concreto. Estabelece as (fixação de despesa e previsão
Metas e Prioridades. de receita). Fixa os orçamentos
de investimento, fiscal e da
seguridade social.
6.9 Vedações Constitucionais.
A constituição em seu art. 167 lista várias vedações em matéria orçamentária. Algumas já foram
faladas no material. Vamos às vedações:
Vedações
I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual;
II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos
orçamentários ou adicionais;
III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital,
ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa,
aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta;
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do
produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos
para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para
realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts.
198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita,
previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem
indicação dos recursos correspondentes;
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação
para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa;
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados;
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos orçamentos fiscal e da
seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, inclusive
dos mencionados no art. 165, § 5º;
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia autorização legislativa;
X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, inclusive por antecipação de
receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de
despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II,
para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência
social de que trata o art. 201.
No material introdutório da disciplina, afirmou-se que o Estado, para atingir sua finalidade, qual
seja a realização do bem comum, desenvolve diversas atividades administrativas, que demandam uma
massa de recursos econômicos.
Nesse sentido, tais recursos não podem ser utilizados de maneira indiscriminada. Dentre outras
formas de utilização, estão diretamente relacionados à satisfação das despesas atinentes aos direitos
fundamentais. Por essa razão, há normas que impõem parâmetros a serem seguidos por aqueles
responsáveis pela satisfação dos interesses da coletividade.
Faz-se necessário, portanto, compreender o que vêm a ser tais despesas e dentro de quais balizas
elas ocorrem.
7.1 Conceito.
Pode-se entender a despesa como a massa de recursos econômicos que o Estado utiliza para
desenvolver as atividades administrativas a fim de satisfazer o bem comum. Nesse sentido, ensina
Harrison Leite que a despesa: Consiste no conjunto de gastos realizados pelo Poder Público para a
consecução de suas atividades principais, com o objetivo de financiar as ações do governo,
sempre com foco na satisfação das necessidades públicas. É, assim, o desembolso realizado pelo
Estado para atender os serviços públicos e os encargos assumidos no interesse geral da
sociedade.
Segundo Aliomar Baleeiro, a quem a maioria dos doutrinadores atribui a melhor conceituação de
despesa, esta pode ser entendida a partir de dois sentidos: a) enquanto parte do orçamento, em que se
encontra o conjunto dos gastos do Estado para o bom funcionamento dos serviços públicos em geral; e
b) enquanto quantia aplicada por parte de indivíduo competente a fim de satisfazer finalidade específica
a cargo do governo.
Em síntese, no primeiro sentido, a despesa é entendida como o conjunto de gastos do Estado
previsto no orçamento; já no segundo sentido, despesa é aplicação específica da receita pública, ou seja,
é gasto isoladamente considerado a fim de satisfazer obrigação determinada.
7.2. Classificação.
Ante tal aspecto, as despesas classificam-se em relação aos entes federativos, podendo ser: a)
Federais; b) Estaduais e c) Municipais.
Federais são as despesas se destinam a atender os fins e serviços que competem à União
Federal, em cujo orçamento estão consignadas.
Estaduais são as despesas que visam a atender os fins e serviços do Estado, estando fixada em
seu orçamento.
Municipais são as despesas relacionadas ao exercício das competências municipais, encontrando
previsão no orçamento municipal.
Trata-se da classificação prevista na Lei nº. 4.320/64. Nesse caso, as despesas podem ser
correntes ou de capital. Considerando a importância dessa classificação, vale tratar de cada uma em
tópicos específicos.
CAPÍTULO III
Da Despesa
Art. 12. A despesa será classificada nas seguintes categorias econômicas:
DESPESAS CORRENTES
Despesas de Custeio
Transferências Correntes
[...]
§ 1º Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para
manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a
atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis.
§ 2º Classificam-se como Transferências Correntes as dotações para
despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou
serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à
manutenção de outras entidades de direito público ou privado.
Da redação do referido dispositivo, podemos inferir que as despesas correntes são aquelas que
resultam como resposta à necessidade de manter as atividades próprias do Estado.
Tais receitas, portanto, almejam apenas a continuidade dos serviços do Estado, não gerando o
aumento de seu patrimônio, sendo denominadas despesas improdutivas. Sobre o tema, assim discorre
Harrison Leite:
São as despesas contínuas, que, a depender da realidade financeira do
ente, não representam ganho de patrimônio e se referem a serviços
realizados pela Administração Direta, Indireta ou àqueles que recebem
recursos públicos para atender a despesas desta natureza.
É por meio das subvenções que o Estado auxilia as instituições assistenciais, sem fins lucrativos.
Nessa situação, em vez de o Estado assumir integralmente determinadas atividades, suplementa
os recursos de origem privada, numa espécie de parceria visando ao interesse de toda a coletividade.
Sobre as despesas de capital, assim preleciona o art. 12, da Lei nº. 4.320/64:
Embora o legislador, novamente, não conceitue o que entende por despesas de capital, podemos
inferir que essas são as despesas que resultarão em acréscimo do patrimônio público, seja a partir da
aquisição de bens, seja pela redução da dívida pública.
Nesse sentido, são entendidas como despesas economicamente produtivas, dividindo-se em
investimentos, inversões financeiras e transferências de capital, conforme já tratado na redação do
dispositivo acima.
Assim, importa ressaltar que a aquisição de imóveis necessários à realização de obras públicas
qualifica-se como investimento, ao passo que a aquisição de imóveis para uso da administração constitui
inversão financeira.
Assim como no âmbito da classificação das despesas, a doutrina diverge no que atine ao número
de fases da despesa pública.
Isso ocorre porque, antes da fase administrativa da despesa, composta pelo empenho, pela
liquidação e pelo pagamento, afirma-se existir a fase da fixação de despesa, consistente na necessária
autorização orçamentária na LOA.
Respeitado tal posicionamento, essa fase já foi estudada quando se tratou das etapas iniciais dos
ciclos orçamentários e das leis orçamentárias, uma vez que as indigitadas leis são responsáveis por
compatibilizar os gastos com os desígnios constitucionais, autorizando e legitimando a execução do
orçamento.
Assim, iremos tratar adiante da fase administrativa da despesa, conforme posto na Lei nº.
4.320/64.
7.3.1. Empenho.
A teor da Lei nº. 4.320/64, é vedada a realização de despesa sem prévio empenho (art. 60, da Lei
nº. 4.320/64).
O empenho de despesa é o ato emanado da autoridade que cria para o Estado obrigação de
pagamento pendente ou não de implemento de condição (art. 58, da Lei nº. 4.320/64). Em outras palavras,
o empenho consiste na reserva de recursos a ser feita no orçamento para determinado gasto que se
deseja realizar.
Assume-se, portanto, um compromisso, não podendo mais a dotação ser gasta por motivo diverso
daquele que originou o seu empenho.
Contudo, isso não significa que a administração possua a obrigação de arcar com a dotação
reservada, nem que o credor possua direito adquirido ao valor objeto de empenho. Assim, o empenho,
por si só, não cria obrigação de pagar, podendo ser cancelado ou anulado unilateralmente.
Considerando se tratar de reserva de fundo a determinada despesa, assim como em atenção à
previsão constitucional do art. 167, II, pode-se inferir que o empenho não poderá exceder o limite dos
créditos concedidos (art. 59, da Lei nº. 4.320/64).
É por essa razão que para cada empenho será extraído um documento denominado “nota de
empenho” que indicará o nome do credor, a representação e a importância da despesa bem como a
dedução desta do saldo da dotação própria (art. 61, da Lei nº. 4.320/64).
A importância do empenho é ressaltada pela previsão do art. 62, da Lei nº. 8.666/93, hipótese na
qual a Administração poderá substituir o contrato administrativo licitatório pela nota de empenho, nestes
termos:
Entretanto, ressalte-se que embora o empenho seja condição obrigatória para a realização da
despesa, a emissão da nota de empenho pode ser dispensada em casos especiais (art. 60, §1, da Lei nº.
4.320/64).
No âmbito jurisprudencial, importa dizer que o empenho tem força de título executivo extrajudicial.
Sobre o tema, veja-se o julgado do STJ:
De mais a mais, pode-se afirmar que o empenho é importante instrumento de limitação do Estado,
na medida em que impede que este arque com dotações orçamentárias em valor excessivo, assim como
garante que o fornecimento do bem ou do serviço seja pago ao particular pela Administração Pública.
7.3.2 Liquidação.
A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base
os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito (art. 63, da Lei nº. 4.320/64). Assim, trata-
se de verificação da legitimidade da despesa empenhada. Essa verificação tem por fim apurar a origem
e o objeto do que se deve pagar, a importância exata a pagar e a quem se deve pagar a importância,
para extinguir a obrigação (art. 63, §1º, da Lei nº. 4.320/64).
No caso de contratos públicos, exige-se a presença do fiscal do contrato. Com efeito, assim dispõe
o art. 67, da Lei nº. 8.666/93:
7.3.3. Pagamento.
O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua regular liquidação (art. 62,
da Lei nº. 4.320/64). Trata-se do momento de desembolso do recurso público, extinguindo-se o débito
correspondente.
Dessa forma, verificada a prestação do serviço ou a entrega da mercadoria, a autoridade
competente dá a ordem de pagamento, determinado que a despesa seja paga (art. 64, da Lei nº.
4.320/64).
O pagamento da despesa será efetuado por tesouraria ou pagadoria regularmente instituídos por
estabelecimentos bancários credenciados e, em casos excepcionais, por meio de adiantamento (art. 65,
da Lei nº. 4.320/64), que será tratado em tópico futuro. No que tange à ordem de prioridade no pagamento
das despesas, assim dispõe o art. 5º, da Lei nº. 8.666/93:
Art. 5º Todos os valores, preços e custos utilizados nas licitações terão como
expressão monetária a moeda corrente nacional, ressalvado o disposto no
art. 42 desta Lei, devendo cada unidade da Administração, no pagamento
das obrigações relativas ao fornecimento de bens, locações, realização de
obras e prestação de serviços, obedecer, para cada fonte diferenciada de
recursos, a estrita ordem cronológica das datas de suas exigibilidades, salvo
quando presentes relevantes razões de interesse público e mediante prévia
justificativa da autoridade competente, devidamente publicada.
Os restos a pagar são as despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezembro
distinguindo-se as processadas das não processadas (art. 36, da Lei nº. 4.320/64).
Restos a pagar distinguem-se em processados e não processados. Nesse ponto, deve-se
relembrar das fases da despesa, em especial do empenho e da liquidação, pois os restos a pagar
processados são aqueles em que o empenho é executado e liquidado, estando prontas para pagamento.
Já os restos a pagar não processadas são aqueles em que há o empenho, mas não há liquidação. Nesse
ponto, segundo escólio de Harrison Leite,
Em tal cenário, os recursos destinados ao seu pagamento passam a ser considerados “outras
receitas”, entrando no orçamento do ano seguinte.
Enquanto as despesas permanecem inscritas em restos a pagar, a prescrição corre a partir desta
data. Entretanto, com o cancelamento dos restos a pagar, ocorre a interrupção da prescrição,
oportunidade na qual o prazo prescricional passa a ser contado novamente (art. 22, §2º, “b”, do Decreto
nº. 93.872/86). É por essa razão que os restos a pagar cancelados são denominados restos a pagar com
prescrição interrompida.
Na hipótese de não liquidação de empenhos vinculados a créditos com vigência plurianual, estes
só serão computados como Restos a Pagar no último ano de vigência do crédito (art. 36, parágrafo único,
da Lei nº. 4.320/64).
Considerando-se que não há a necessidade de recursos financeiros para realizar uma licitação ou
firmar um contrato, ou seja, de efetiva disponibilidade financeira, mas tão somente que haja previsão
desses recursos na lei orçamentária, é comum que diversos gestores empenhem despesas sem levarem
em conta a possibilidade de frustação das receitas.
Nesse caso, ao final do exercício, percebe-se inexistir recursos para efetuar os pagamentos, o
que gera excessiva inscrição de pagamento em restos a pagar. Com vistas a evitar tal prática, que afronta
o Princípio do Equilíbrio Orçamentário, assim reza o art. 42, da LC nº. 101/00:
Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos
dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não
possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a
serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade
de caixa para este efeito.
Parágrafo único. Na determinação da disponibilidade de caixa serão
considerados os encargos e despesas compromissadas a pagar até o final
do exercício.
Ressalte-se que tal regra é dotada de elevada rigidez, aplicando-se inclusive no caso
de reeleição. Ademais, é matéria de dispositivo do Código Penal, nos seguintes termos:
Por fim, cumpre dizer que o art. 50, V, da LC nº. 101/00, em atenção ao princípio da transparência,
determina que as inscrições em restos a pagar sejam feitas de forma a favorecer a fiscalização, nestes
termos:
Conforme afirmado no tópico 4.3, o pagamento da despesa será efetuado, em casos excepcionais,
por meio de adiantamento (art. 65, da Lei nº. 4.320/64).
Segundo disposição da Lei nº. 4.320/64, esse regime é aplicável aos casos de despesas
expressamente definidos em lei e consiste na entrega de numerário a servidor, sempre precedida de
empenho na dotação própria para o fi m de realizar despesas, que não possam subordinar-se ao processo
normal de aplicação (art. 68, da Lei nº. 4.320/64).
Trata-se, portanto, de despesa orçamentária – uma vez que se sujeita as fases comuns a esta –
em que é feita a entrega antecipada de valores à determinado servidor para que este promova
pagamentos em hipóteses definidas por lei.
Verifica-se, então, que a natureza do adiantamento é de modalidade simplificada de pagamento
de despesa pública. Pela previsão legal, vê-se que o numerário objeto do adiantamento somente pode
ser concedido a servidor público, nunca a terceirizado ou estagiário.
Além disso, não se fará adiantamento a servidor em alcance nem a responsável por dois
adiantamentos (art. 69, da Lei nº. 4.320/64). Isso significa que é vedada a concessão de mais de dois
adiantamentos ao mesmo servidor público e que este não poderá receber novo adiantamento enquanto
não prestar as contas do anterior, devendo demonstrar que utilizou os recursos de acordo com a Lei. Nas
palavras de Harrison Leite,
Esse dispositivo trata das denominadas despesas de exercícios anteriores – DEA. Estas
consistem nas despesas resultantes de compromissos que foram assumidos em exercícios anteriores,
mas que somente vieram a ser empenhados e pagos em exercícios posteriores.
Pela redação do referido dispositivo, é possível perceber que há três categorias de despesas que
podem ser dotadas como DEA, a fim de evidenciar que pertencem a exercícios passados:
a) Despesas de exercícios encerrados, para as quais o orçamento respectivo consignava crédito
próprio, com saldo suficiente para atendê-las, que não se tenham processado na época própria: trata-se
daquelas cujo empenho tenha sido considerado insubsistente e anulado no encerramento do exercício
correspondente, mas que, dentro do prazo estabelecido, o credor tenha cumprido sua obrigação (art. 22,
§2º, “a”, do Decreto nº. 93.872/86). Encaixa-se nessa hipótese, também, as despesas urgentes que não
puderam aguardar a realização do empenho.
b) Restos a pagar com prescrição interrompida: diz respeito à despesa cuja inscrição como restos
a pagar tenha sido cancelada, mas ainda vigente o direito do credor (art. 22, §2º, “b”, do Decreto nº.
93.872/86). De fato, conforme visto, os restos a pagar não pagos até o final do exercício são cancelados
e os recursos destinados ao seu pagamento passam a ser considerados “outras receitas” no orçamento
seguinte. Contudo, ainda que haja cancelamento, se, dentro do prazo prescricional, o credor comprovar
o seu direito, o pagamento poderá ser efetuado pela Administração a título de DEA.
c) Compromissos reconhecidos após o encerramento do exercício correspondente: trata-se da
obrigação de pagamento criada em virtude de lei, mas somente reconhecido o direito do reclamante após
o encerramento do exercício correspondente (art. 22, §2º, “c”, do Decreto nº. 93.872/86). Harrison Leite
oferece o seguinte exemplo:
Nesse ponto, vale dizer que as dívidas de exercícios anteriores que dependam de atuação do
favorecido prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou do fato que tiver originado o respectivo
direito.
Deve-se ressaltar, todavia, que assim como qualquer despesa, as decorrentes de exercícios
anteriores também demandam prévio empenho, comprometendo o orçamento vigente à época do efetivo
pagamento.
Assim, não se deve confundir restos a pagar com despesas de exercícios anteriores. Enquanto
estas são despesas orçamentárias, aquelas são despesas extraorçamentárias, na medida em que o seu
pagamento corre à custa do orçamento anterior.