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O moleque era um zero à esquerda na escola, faltava à maioria das aulas e encarnava
um pestinha com os colegas. Seis décadas depois, aquele por quem ninguém daria
um tostão estava no alto do carro alegórico da Tradição, no Domingo de Carnaval,
abrindo o desfile em sua homenagem. Quando o abre-alas entrou na concentração,
Silvio Santos (nome artístico de Senor Abravanel) ficou petrificado com a cena que
viu: o Sambódromo, em peso, gritava o seu nome.
‘Silvio, desse jeito você não vai ser ninguém na vida. Só pensa em futebol". Por ironia
do destino, essa era a frase que Senor Abravanel, aos 12 anos, ouvia diariamente de
sua professora de 5ª série, Maria Lourdes Bruce, da Escola Primária Celestino da
Silva, na Rua do Lavradio, Centro do Rio. A ladainha era sempre a mesma, já que
Silvio gostava mais de falar do que de estudar. Era comum ver o menino contar
histórias para os alunos sobre a atuação dos times de futebol. Silvio é torcedor do
Fluminense.
"Ele era um capetinha. Não havia quem o controlasse, apesar da rigidez da mãe",
lembra Lydia Marques da Silva, 68 anos, colega de turma de Silvio e vizinha na Vila
Rui Castro.
"No Odeon, nós nos infiltrávamos entre o público que saía e caminhávamos em
sentido contrário, andando para dentro do cinema", contou Silvio, em entrevista
reproduzida no livro A Fantástica História de Silvio Santos, da Editora do Brasil, escrito
pelo jornalista Arlindo Silva. O dinheiro economizado com os ingressos era gasto em
outra mania de Silvio: ele colecionava figurinhas que vinham em balas.
O cinema realmente fascinava Silvio. Ainda mais a série O Vale dos Desaparecidos,
todas as quintas-feiras, no extinto Cine OK. Era a única sessão em que ele pagava
para entrar. "Não podíamos correr o risco de não poder entrar de carona (...). No Cine
OK, nossa pilantragem não dava certo, porque o porteiro e o guarda de serviço já nos
conheciam", recorda Silvio, no livro.
Foi numa dessas tardes de quinta-feira que a estrela de Silvio começou a brilhar.
Gripado e com febre alta, ele foi impedido pela mãe de sair de casa para assistir a seu
seriado preferido. Ficou arrasado e chorou. Mas a palavra da mãe prevaleceu. Pouco
depois, ele descobriu que havia escapado da morte. O Cine OK pegou fogo e muitos
espectadores ficaram feridos. Foi o primeiro de uma série de golpes de sorte na vida
de Silvio.
Depois de acompanhar Silvio Santos por 25 anos, o jornalista Arlindo Silva (foto)
decidiu escrever a história do patrão. Em novembro do ano passado, o assessor de
imprensa do apresentador lançou o livro A Fantástica História de Silvio Santos, pela
Editora do Brasil. O interesse do público garantiu o primeiro lugar em vendagem no
País por algumas semanas.
"Vi que Silvio Santos despertava o interesse de muita gente. Mas só pude escrever o
livro quando me aposentei. Antes, não tinha tempo para me dedicar como queria",
disse.
Pelas livrarias de todo o País, foram distribuídos 80 mil exemplares do livro, com 277
páginas. A biografia já está na oitava edição. Arlindo garante que Silvio não participou
da elaboração do texto. O jornalista usou uma entrevista que Silvio Santos concedeu
a ele, quando ainda trabalhava na revista O Cruzeiro, em 1972, reproduzida no início
do livro.
VIDA MILITAR.
Aos 18 anos, na Escola de Pára-quedista, em Deodoro
Com a venda de um simples porta-título, o início de uma fortuna. Aos 14 anos, Silvio
Santos decidiu ganhar a vida como camelô. Comprou uma carteira para guardar título
de eleitor e saiu pela rua dizendo que era a última. Vendeu de imediato. Com o lucro,
comprou mais duas peças. "É a última", alardeava, escondendo a outra no bolso.
Esperto, o garoto havia descoberto o filão na Avenida Rio Branco. Há dias observara
os camelôs em ação. Queria encontrar uma maneira de ganhar dinheiro, sem muito
esforço. Chamou-lhe atenção um homem que vendia porta-título a rodo. À espreita,
seguiu o vendedor para descobrir onde se conseguia a mercadoria a preço de banana.
Silvio conta que muitas pessoas consideram que a moeda com que comprou o
primeiro porta-título foi como a do Tio Patinhas, personagem de Walt Disney. Deu-lhe
muita sorte.
Ele não queria mais depender da família. Afinal, o pai, Alberto Abravanel, perdia o que
ganhava com o jogo. A mãe, severa, ameaçava-o: "Vai ter de trabalhar, senão não
vai ter o que comer, e ainda vai apanhar mais", disse ele, em passagem citada no
livro A Fantástica História de Silvio Santos, de autoria de Arlindo Silva.
Foi então que decidiu apostar na carreira de camelô, profissão também ilegal naquela
época. Nas ruas do Centro, havia, no máximo, 15 pessoas trabalhando como
ambulantes. O campeão de venda era um tal de Seu Augusto, que vendia quase 200
canetas em apenas uma hora. O faro de comerciante de Silvio Santos sabia que ali
poderia estar a fórmula do dinheiro fácil. Mais uma vez, observou um outro ‘mestre’.
Era preciso, antes de tudo, atrair a atenção do público. Falar do produto, de suas
funções e, só no fim, do preço.
A lição foi bem assimilada. Até a bancada para colocar o produto acabou copiada de
Seu Augusto. Mas Silvio Santos foi além do ‘mestre’. Usou até manipulações de
moedas e baralhos para atrair novos fregueses. Com alguns dias de experiência,
passou a vender mais que Seu Augusto. Chegou a ganhar cinco salários mínimos por
dia. E tudo isso no horário do almoço do rapa.
O diretor de fiscalização da prefeitura, Renato Meira Lima, não prendeu Silvio, como
fez com os outros camelôs. Decidiu dar uma chance ao rapaz, que tinha uma
aparência melhor do que os colegas, falava bem e tinha boa voz. Em vez de levá-lo
para a delegacia, Renato entregou-lhe um cartão para tentar um emprego na Rádio
Guanabara. Mais uma vez, a sorte lhe batia à porta.
Na emissora, Silvio disputou uma vaga com outros 300 candidatos. Entre eles
estavam nomes que despontariam na vida artística, como o dos humoristas Chico
Anysio e José Vasconcellos (o gago Ruy Barbosa, da Escolinha do Barulho, na Rede
Record). Acabou abocanhando o primeiro lugar. Mas a carreira na Rádio Guanabara
durou apenas um mês. Como camelô, Silvio ganharia mais, trabalhando bem menos.
Então, voltou às ruas, para negociar e faturar.
O jovem locutor fazia anúncios nos intervalos das músicas. Mais tarde, percebeu que,
nas travessias para Paquetá, os passageiros costumavam dançar quando ligava o
equipamento de som. Cansados, formavam até fila para beber água no bebedouro.
Oportunista, Silvio fez acordo com a Antarctica para vender cerveja e refrigerante na
viagem. Quem comprasse uma bebida, recebia uma cartela de bingo. Como prêmio,
oferecia bolsa de plástico, jarra e quadro da Última Ceia.
Ele garante ter passado a ser o primeiro freguês da cervejaria no Rio. E acabou
fazendo amizade com um diretor da empresa. Quando a barca sofreu um acidente e
precisou ficar no estaleiro, Silvio foi convidado pelo diretor para passar uma
temporada em São Paulo. Mais uma vez, abriu-se a porta da esperança e sua vida
mudou ainda mais.
A carreira de vendedor na barca
Era nas barcas Lagoa, Maracanã e Neves que o vendedor e os clientes cobriam o
trajeto Rio–Niterói. Dessas, só a primeira encontra-se em funcionamento, fazendo o
percurso Rio–Paquetá. As outras transformaram-se em sucata e lembrança.
Mas, para Silvio Santos o céu sempre foi o limite. "Tinha dias que o via com barraca
montada em Niterói de manhã e depois, à tarde, no Centro da cidade. O homem
parecia ser dois", fala o contra-mestre.
PARCERIA.
Silvio se associou ao amigo Manoel da Nóbrega,
dono do Baú da Felicidade, para salvar o negócio.
Na foto, os dois,na Praça da Alegria
A primeira vez que Silvio Santos entrou no Baú da Felicidade foi uma decepção. Ele
nada tinha a ver com aquilo. Estava ali, na Rua Líbero Badaró, colado ao Othon Palace
Hotel, em São Paulo, a pedido do amigo e dono da empresa, Manoel da Nóbrega, para
fechar aquela bodega e prometer aos clientes enganados que a dívida seria paga. No
lugar, estranhou ver um prédio aos cacos e, na frente, um bando de camelôs que
vendiam gravatas e camisas. Desorientado, perguntou onde era a loja. Ficou surpreso
com a resposta: "É lá no fundo, mas lá embaixo, no porão".
No Baú, outra cena de abandono. Na pequena loja, havia apenas uma secretária, um
alemão e uma máquina de escrever. A primeira providência de Silvio foi mandar
embora o tal alemão – dono da idéia de montar o Baú da Felicidade.
Nóbrega fez a sua parte. Mil pessoas compraram a idéia, atraídas pelos anúncios, mas
o sócio perdeu todo o dinheiro. Resultado: virou um baú de despesa para Manoel da
Nóbrega, que recorreu a Silvio Santos para salvar a pele. Bom de papo, sua função
era convencer as pessoas a não fazer escândalos no jornal, já que o dinheiro seria
devolvido.
No quinto dia, Silvio, então com 27 anos, percebeu que o negócio, bem administrado,
poderia render uma fortuna. Ele fez a mesma proposta que o alemão: Nóbrega
continuaria com os anúncios, enquanto ele tocaria a empresa. A primeira medida foi
trocar a caixa de veludo bordô que envolvia os presentes e mais parecia um "caixão
de defunto". Passou a vender em catálogo e diversificou as mercadorias. Chegou a
encomendar 40 mil bonecas, na Estrela, e fez negócio com a fábrica Nadir Figueiredo
para entregar 20 mil jogos de jantar.
Nóbrega ficou receoso com volume do negócio. "Olha, Silvio, eu nunca fui ao Baú,
nem com o alemão e nem com você. Acho que qualquer dinheiro que o Baú possa me
dar é desonesto, porque nunca fiz nada pela firma, a não ser os anúncios. Como você
é um rapaz corajoso demais, tenho medo que possa fazer um negócio muito grande e,
com seu entusiasmo, dê uma cabeçada", disse Nóbrega, em passagem citada no livro
A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva, da Editora do Brasil. "Não
tenho nenhuma intenção de ser o dono do Baú. É melhor que você fique com ele",
completou.
Por acaso, Silvio encontrou um amigo em suas andanças por São Paulo. Era um
locutor que conhecera na Rádio Tupi, no Rio. Ele comentou que a Rádio Nacional
precisava de locutores. Silvio fez o teste e passou, em primeiro lugar. Foi quando
conheceu Manoel da Nóbrega.
Em São Paulo, Silvio atuou em várias frentes. Para pagar a dívida do bar que montara
na barca, no Rio, entrou em sociedade com o cunhado de Hebe Camargo, Ângelo
Pessutti, lançou uma revistinha com prêmio e atuou até em circo.
Em caravanas pelo interior de São Paulo, Silvio ganhou um novo apelido: o Peru que
Fala. Nas apresentações, ficava envergonhado, e seu rosto logo ruborizava. Ele
trabalhava intensamente. Nos intervalos, para agüentar o tranco, parava nas
farmácias e tomava injeções de Cálcio Cetiva na veia.
"Agüentei, perdi cinco quilos, fiquei branco, dizia que eu ia estourar. Foi nessas
‘Caravanas do Peru que Fala’ que eu adquiri a facilidade que hoje tenho para animar
meus programas", disse Silvio a Arlindo Silva.
O sucesso do Baú fez Silvio Santos se lançar em outro negócio. Em 1961, ele estreou
na televisão com um programa noturno na TV Paulista, atual TV Globo. O Peru que
Fala deu o pulo do gato.
Para Stella Matutina Bicalho, 70 anos, O Baú da Felicidade também poderia se chamar
Baú da Saudade. Compradora assídua dos carnês, ela tem motivos pessoais para
torcer. O apresentador, que ela não vê há 52 anos, foi de sua turma na 4ª e 5ª séries
(1941/42) na Escola Primária Celestino da Silva. "Ele estava sempre impecável, com o
cabelo engomado", lembra Stella.
No fim de 1942, os amigos foram para colégios diferentes, mas Stella sempre
encontrava Silvio vendendo canetas na Rua da Carioca. No último encontro, em 1949,
o futuro apresentador mostrou sua aliança do noivado com a primeira mulher,
Aparecida Honória Vieira, a Cidinha. "Ele estava muito feliz e orgulhoso", conta. A
partir daí, Stella acompanhou de longe seu sucesso, tornando-se cliente fiel de seus
produtos. "Torço diariamente por sua vitória. Ele é um batalhador", justifica.
PASSADO.
A primeira loja do Baú no Rio funcionava na Rua Frei Caneca, 73
O patrão famoso nunca esteve na loja e nem sequer conhece Edmílson. "É um homem
muito ocupado e, se viesse aqui, a loja seria invadida", justifica. Em janeiro, o
funcionário visitou pela primeira vez que o estúdio do SBT, onde os clientes escolhidos
tentam a sorte. "Foi um momento de muita emoção, inesquecível", confessa. Em sua
opinião, sentimento igual, só quando Silvio diz para os participantes do programa:
"Agora, vamos girar a roleta".
INÍCIO
Na Rádio Mauá, ainda no Rio, Silvio conheceu artistas e se empolgou
Silvio chegou ali como quem não quer nada. O primeiro programa, ainda na TV
Paulista, chamava-se Vamos Brincar de Forca e era baseado na manjada brincadeira
em que os concorrentes são vão sendo enforcados à medida que erram a resposta.
Era apresentado à noite, em 1961. Foi um sucesso.
Mas, para conquistar seu espaço na TV, Silvio Santos contou com a ajuda do
deputado Carlos Kherlakian, dono das Casas Econômicas de Calçados, para quem
havia feito comícios durante as apresentações das Caravanas do Peru Que Fala. Foi
nesse período que o Baú da Felicidade mudou o esquema de cobrança: as pessoas
compravam e só depois escolhiam as mercadorias. Com sua potência empresarial, o
Baú, já naquela época uma mina de ouro, deu suporte aos comerciais do programa.
Em 1966, quando Roberto Marinho comprou a TV Paulista, Silvio foi mantido com seu
programa dominical. Fechou um contrato por cinco anos. Ele era o dono do horário, e
nunca foi empregado.
Por de trás das câmeras, Silvio decidiu se casar. Ninguém poderia saber. Para ele,
todo o ídolo deveria manter uma mística. As colegas de trabalho, como ele chama o
seu público, deveria permanecer na dúvida sobre o seu estado civil. A amada se
chamava Aparecida Honória Vieira. Filha de uma dona de pensão, Cidinha costumava
freqüentar a Rádio Nacional, em São Paulo, para conhecer artistas. Ficaram amigos.
O anonimato incomodava Cidinha. Em certa ocasião, ela chegou a comentar com uma
amiga que tinha vontade de pregar a certidão de casamento na porta de casa. Era
comum baterem a sua porta e perguntarem: "Você é a mulher do Silvio?" Um dia, o
apresentador se arrependeria da atitude. O casal teve duas filhas: Silvia e Cíntia.
Aos domingos, era o rei, e imperava do meio-dia às 20h com os programas: Show de
Calouros; Show da Loteria; Vamos Fazer Média; Disco de Ouro; Quem Sabe Mais, o
Homem ou a Mulher?; Sinos de Belém e Boa Noite, Cinderela. Este último encantava e
emocionava, principalmente as crianças. Em um cenário de conto de fadas, uma
garota, geralmente de família humilde, passava um dia de Cinderela, com direito a
sapatinho de cristal, coroa e trono. Sempre ao som de uma canção que embalava a
emoção dos telespectadores. Fez tanto sucesso que ficou 10 anos no ar.
Mas o programa que mais preocupava a produção era Sinos de Belém. As tarefas
aventureiras eram executadas também por Silvio, que até subiu e desceu um prédio
de 15 andares pela escada dos bombeiros. Seus colaboradores o convenceram a
maneirar.
Para ajudar um amigo, Silvio Santos aceitou até, em 1971, aparecer careca na capa
da Revista Melodias, que estava quase na falência. Arlindo Silva, que escreveu o livro
A Fantástica História de Silvio Santos, garante que foi feita uma fotomontagem para
atrair a atenção do leitor. Mas a revista ajudou a aumentar um outro mistério em
torno de Silvio: Lombardi, ele é careca ou não é?. "Careca, ele não é. Se fez implante,
foi só um tufinho na testa", afirma Arlindo Silva.
Ao estrear na TV, Silvio convidou Pedro para participações em seu programa e, graças
ao sucesso, ele acabou ficando. Foram mais de 10 anos nos quais Pedro acabou com a
raça de pobres calouros nas tardes de domingo. "Nosso linguajar é o mesmo, somos
povão ", diz.
Apesar de admirar o apresentador, Pedro confessa que não queria ser ele por nem por
apenas 20 minutos. "É um homem que não se pertence. O trabalho o domina. Ele
nasceu para ser um líder, mas, para isso, abdicou de muitas coisas", opina.
Quanto à vida pessoal do patrão, o comediante afirma nada saber. "Ele sempre foi
reservado e eu o respeito. Estou no SBT até hoje porque sei o meu lugar", diz, com
humildade.
Uma das brincadeira prediletas de Pedro de Lara com Silvio era falar do jeito
econômico do patrão. "Uma vez, comecei a elogiá-lo, falando que ele era um grande
multiplicador. Quando ele abriu um sorriso, disparei que, infelizmente, eu só sabia
dividir, e aproveitei para pedir R$10 mil", conta, recordando a resposta. "Ele foi rápido
e direto: Vai chatear outro, Pedro!".
Um canal de influências
Silvio age nos bastidores para sair à frente na luta pelas concessões de TV.
Com o refrão ‘é coisa nossa’, conquista a simpatia das autoridades
Nos bastidores do programa de Silvio Santos, havia uma ordem expressa: ninguém
podia chegar perfumado perto do patrão. Nem mesmo com perfume francês. O ex-
camelô sofria de alergia a qualquer fragrância, o que o deixava sem seu principal
instrumento de trabalho: a voz. O perfume provocava, na garganta e nas vias
respiratórias do apresentador, uma reação que o deixava rouco; muitas vezes, sem
poder falar.
Durante muito tempo, Silvio dividiu-se entre Brasil e Estados Unidos. Os americanos
aplicavam injeções de cortisona no nariz do apresentador a cada quatro meses. Era a
única maneira que ele encontrara, até então, para inibir a doença. "Um dia, durante a
gravação do programa, ele ficou rouco e começou a se queixar: ‘Acho que os
americanos não aplicaram essa injeção direito’", lembra Arlindo Silva, assessor de
imprensa de Silvio Santos por 25 anos. Foi o suficiente para que ele procurasse outro
profissional: o alergista Tufik Mattar (foto abaixo).
"Ele sofria de edema de Quink, alergia muito comum. Eu o obriguei a parar de tomar
a tal injeção com cortisona e fiz uma autovacina", conta Tufik. Durante três anos,
religiosamente, ele tomou doses da nova vacina e, segundo o médico, ficou curado.
"Agora, podem até beijá-lo com perfume, que não tem problema", afirma.
Nos negócios, o fôlego continuava invejável e Silvio foi montando seu império. O
sucesso na TV alimentou ainda mais as vendas do Baú da Felicidade. Para atender
novos clientes e manter o lucro em suas mãos, Silvio criou novas empresas. A
primeira era de publicidade, para agenciar outros anunciantes. Com o lançamento do
Plano para a Casa Própria, surgiu a necessidade de montar uma construtora. Depois,
uma financeira, para facilitar o crédito, e uma concessionária, para entregar carros –
outra novidade do Baú. Não satisfeito, Silvio lançou também uma companhia de
seguros.
Silvio continuava na TV Globo, mas como seu próprio patrão. Pagava o horário à
empresa, vendia comerciais e embolsava o lucro. Mas a emissora começou a esticar o
olho sobre o horário ocupado por ele, no domingo. Inicialmente, a Globo lhe ofereceu
um novo contrato, em que o apresentador perderia parte do poder. Há muito, queria-
se interferir no programa, considerado fora do padrão global. Silvio não aceitou os
novos termos. A saída parecia irreversível.
Por baixo dos panos, Silvio começou a articular a consolidação de um canal de TV. A
oportunidade surgiu quando João Batista Amaral quis vender os seus 50% de ações
da TV Record. O outro sócio, Paulo Machado de Carvalho, foi quem sugeriu a compra
a Silvio. Mas o grupo Gerdau passou a frente na oferta. Seis meses depois, por
divergências com o sócio, o grupo recolocou as ações à venda. Foi então que Silvio
fechou o negócio e ficou com metade da Record.
Pelo contrato com a Globo, ele não poderia ser acionista de nenhuma outra emissora
de televisão. Por isso, a negociação foi mantida em sigilo, e Silvio usou um testa-de-
ferro: o empresário Joaquim Cintra Gordinho.
"O Raphael Baldacci é coisa nossa... O general Golbery é coisa nossa", cantava aos
domingos, para milhares de telespectadores. Raphael era o deputado que opinava, no
Ministério das Comunicações, sobre concessões; e Golbery, o chefe da Casa Militar da
Presidência da República. O resultado não poderia ser outro: em 22 de outubro de
1975, o presidente, o general Ernesto Geisel, assinou o decreto que outorgava o canal
11 (TVS) a Silvio Santos. E Silvio saiu da Globo no dia 5 de janeiro de 1976.
"Sempre quis falar do fenômeno Silvio Santos. Ele poderia ter sido um homem como
milhões, mas resolveu construir seu futuro amparado numa determinação e intuição
incríveis. Quando ele decide apostar, pode ter certeza: vai dar certo! Líder nato, mais
fala do que ouve, mas consegue captar o instante em que uma idéia deva ser
colocada em prática. Outra coisa: é difícil dizer não a ele. Por ser mais que um patrão,
um vitorioso, humilde apesar do seu poder, Silvio sempre acaba conseguindo fazer
valer sua opinião. E é mesmo complicado discordar da lógica de um homem que vive
televisão 24 horas por dia.
Às vezes, eu e outros profissionais não entendemos a aversão que ele mostra por
alguns aspectos importantes de uma grade de televisão, como o jornalismo, por
exemplo. Mas eu acho que isso vai acabar mudando, e o SBT acabará abrindo espaço
para mais notícia. Mesmo assim, confiamos no faro dele, pois seu maior segredo é a
cumplicidade com o público."
HEBE CAMARGO, 72 anos, apresentadora
O apresentador Wagner Montes, 46 anos, idolatra Silvio. "Quando sofri o acidente, ele
ligou para o meu pai e falou que não se preocupasse, pois buscaria para mim a
melhor prótese do mundo. Nunca esquecerei isso", disse, emocionado. Mas Sônia
Lima, 39 anos, sua mulher há 14, não compartilha a opinião: "Gosto muito do Silvio,
mas acho que ele não valorizou as pessoas que começaram com o SBT. Sempre soube
criar seus produtos, usar e depois jogar fora".
A urna da felicidade
Silvio Santos se casa pela segunda vez,
sofre com problemas na garganta e o
poder cada vez mais o seduz. Ele tentou,
em vão, ser candidato a prefeito e
também à Presidência
É namoro ou amizade? Nem um nem outro. O caso de Silvio Santos com a funcionária
Íris Pássaro, do Baú da Felicidade, filha de um pequeno empresário, foi paixão
avassaladora. Os dois se casaram, longe da Imprensa, em 20 de fevereiro de 1981.
Exatamente como no primeiro casamento, Silvio – que tem fama de pão-duro – se
uniu à amada em regime de separação de bens. Contou com o apoio da mulher nos
momentos mais delicados, até quando se candidatou a Presidência da República (na
foto, ainda se recuperando da cirurgia que precisou fazer nas cordas vocais, Silvio, ao
lado de Íris, decide sair candidato à prefeitura de São Paulo).
O casal tem quatro filhas: Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata. Certa vez, durante um
programa, ele falou emocionadamente sobre a paixão. "Me satisfaço com ela, sou feliz
com minha família. Não tenho necessidade de mais nada", disse.
Silvio estava amadurecido. Nada lembrava aquele menino da Lapa, aos 14 anos, que
realizou a primeira relação sexual com uma prostituta francesa. Uma experiência que
lhe agradou. Satisfeito, procuraria mais tarde outra francesa. O garoto ficaria
assustado com as manobras radicais, que se definiam - é tudo que sabia - como
bouchet.
Entre as atrações da rede, estavam Moacir Franco Show, O Homem do Sapato Branco,
Feira do Riso, Almoço com as Estrelas e Raul Gil e o palhaço Bozo. Marcou época o
programa O Povo na TV, com Wilton Franco, que relatava casos policiais com
estardalhaço.
Com os dramalhões mexicanos, pelo menos 25% mais baratos que as novelas
nacionais, Silvio encontrou novo filão. O primeiro sucesso foi Os Ricos Também
Choram, com Verônica Castro.
Mas o programa que mais surpreenderia seria uma produção de cenários de papelão,
piadas velhas e atores de segunda linha. Ninguém contava com a astúcia de "Chaves",
personagem do mexicano Roberto Boloños. Apesar de ninguém levar fé, o programa
permanece há 17 anos no ar.
O maior comunicador do Brasil perdeu a voz. No final de 1987, Silvio começou a ficar
rouco. Chegou a importar um aparelho para ampliar o som quando falava ao telefone.
O programa era interrompido quando quase não conseguia ouvi-lo.
A volta à TV ocorreu, um mês depois, num domingo. Silvio era outro homem. No
programa, expôs suas inquietações, negou boatos de que teria tido caso com Sônia
Lima, explicou a doença e falou sobre as preocupações com o povo. Foi o que bastou
para o homem do Baú ser taxado até de novo Messias.
Era a deixa para Silvio entrar na política. Assessores do PFL entraram em ação para
viabilizar a sua candidatura à Prefeitura de São Paulo.
Silvio queria ser um político diferente e não gostava de fazer campanha. Ele fora
alertado sobre as pressões que sofreria. À época, argumentou que não temia os
ataques. Citou até reportagem da revista Contigo que bancava a versão de que ele e
Gugu eram amantes. "O Gugu não é o meu tipo", brincou Silvio, segundo Arlindo
Silva.
Uma articulação no PRN ainda tentou convencê-lo a ser o vice de Fernando Collor.
"Olhe, na minha vida, eu nunca fui vice, só fui presidente", rebateu Silvio, segundo o
seu assessor Arlindo Silva.
O Tribunal Superior Eleitoral impugnou o registro do partido por não ter feito
convenções em nove estados. Durante o pleito, houve acusações de que um outro
partido teria tentado vender a legenda para que Silvio Santos se candidatasse.
No livro A Fantástica História de Silvio Santos, o autor Arlindo Silva, conta uma outra
passagem polêmica: o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, teria
rompido uma amizade com o então Presidente da República, José Sarney, por
acreditar que ele teria lançado Silvio Santos como candidato pelo PMDB. Silvio ainda
tentou entrar na política mais duas vezes: para governador e de novo para prefeito.
Também não deu certo. Pessoas ligadas ao apresentador garantem: Silvio nunca mais
trocará o Baú pela urna.
Na campanha para a Presidência da República, uma parte do PFL queria que Silvio
Santos fosse candidato pelo partido. As articulações não deram certo. Silvio usou seu
programa para explicar o caso e leu um trecho da carta da mulher, Íris:
"...Contar vantagem, todo o mundo conta. Mas é a coragem da luta que tem valor,
porque daí surgirá a vitória final. Seja constante e persistente. (...) Se a resposta,
hoje, for a favor da sua candidatura, não tema, pois terá Deus a seu lado para realizar
sua missão."
Silvio Santos não gosta de expor sua intimidade. Não é à toa que raramente concede
uma entrevista. Mas, no fim de 1992, um escândalo fez sua vida pessoal extrapolar os
muros da mansão do casal Abravanel, no Morumbi, em São Paulo. Ele e Íris se
desentenderam, e a briga foi parar na delegacia. Íris registrou queixa, garantindo que
o marido teria aproveitado a ausência dela para retirar obras-de-arte, móveis, tapetes
e até um cofre. Para configurar abandono de lar, ela fez questão de que constasse no
boletim que o apresentador havia passado o fim de semana fora de casa. Silvio
Santos, por sua vez, também registrou queixa contra a mulher, e o caso acabou na
Justiça.
À época, uma reportagem do jornal paulista Diário Popular atribuía a briga dos
Abravanel à Rainha dos Caminhoneiros, Sula Miranda. Irmã da também cantora
Gretchen, Sula tinha um programa no SBT e manteria, segundo a reportagem, um
romance com o patrão. Sula, na ocasião, negou o caso. O ex-assessor de imprensa de
Silvio Santos, Arlindo Silva, garante que o relacionamento não passou de um boato.
"Foi uma idéia suicida da assessora de imprensa da Sula. Ela achou que isso poderia
promover a Sula. Mas foi tudo uma mentira. Silvio ficou furioso da vida, tirou o
programa do ar, e a assessora de imprensa perdeu o emprego", contou Arlindo, que
se aposentou no ano passado e escreveu o livro A Fantástica História de Silvio Santos.
Arlindo contou que o real motivo da briga do casal foi o pouco tempo que Silvio
passava com a família. O apresentador se dedicava demais aos negócios. "Íris
reclamou que as filhas não tinham convivência com ele. Não viam o pai nem nos fins
de semana", afirmou.
O empresário Silvio Santos tirou do baú as armas na luta por pontos no Ibope, a
partir de 1987: Hebe Camargo, A Praça É Nossa e Jô Soares. A fórmula,
aparentemente despretensiosa, deu certo. O Sistema Brasileiro de Televisão está no
segundo lugar em audiência.
O primeiro aviso de que Silvio viera para incomodar aconteceu durante a exibição,
pela TV Globo, da novela Roque Santeiro, em 1985. Com a maior cara-de-pau, ele
convidava, em seu programa, os telespectadores a, depois de assistir à novela da
Globo, mudar de canal para acompanhar Pássaros Feridos, um filme exibido em cinco
capítulos.
A surra foi mais forte que um tapinha: o SBT obteve média de 47% de audiência,
contra 27% da concorrente. Para tentar reverter o quadro, a Globo usou uma
estratégia que não deu certo: esticou os capítulos da novela o quanto pôde. Silvio não
esquentou; mudou também o horário do filme.
"É um filme muito bom, um filme a que eu já assisti várias vezes. É a história de um
padre que se apaixona. Mas podem ver a novela. Esse filme só vai começar depois
que a novela acabar", repetia no ar, durante seu programa.
Silvio fez isso várias vezes. O telespectador cansou de ouvir as dicas do apresentador
sobre filmes que exibia em sua emissora. Quando o empresário não assistia, havia a
impressão de alguém da sua família sobre a fita. "Podem ver. Minha filha assistiu e
disse que é ótimo", comentava, como se estivesse falando com um colega de
trabalho.
Mas, no fim dos anos 80, ele decidiu melhorar a qualidade dos programas. Investiu o
dinheiro que recebera com a venda da TV Record para a Igreja Universal. Abandonou,
por exemplo, atrações como O Povo na TV e o Moacir Franco Show. A audiência era
boa, mas o faturamento não alcançava as cifras necessárias para manter uma
empresa como o SBT.
A fórmula que escolheu era simples: bonito e barato e, principalmente, dando lucro.
"A Globo faz questão de estar em primeiro lugar, nem que, para isso, tenha que
gastar milhões. Silvio pensa em não perder dinheiro", observa o humorista Carlos
Alberto de Nóbrega, um de seus grandes amigos.
O jornal do SBT, com Lilian Witte Fibe, o TJ Brasil, com Boris Casoy, e o Jô Onze e
Meia atenderam classes mais altas, que não costumavam apertar no controle o canal
do SBT. O apresentador Gugu foi substituindo o patrão, aos poucos, aos domingos. O
programa do Faustão passou a perder no Ibope para o colega de horário. Virou uma
gangorra de audiência. A cada semana, um era o vencedor. A estratégia de Gugu foi
concentrar suas melhores atrações no momento em que Faustão está no ar. No resto
do dia, podia até perder para a Xuxa e o Tom Cavalcanti, mas nunca do Faustão. Deu
certo: ganhou a briga dos domingos.
Gugu já esteve com um pé na Globo, mas Silvio Santos abriu o baú para mantê-lo na
sua emissora. Quando Jô Soares assinou com o SBT, a Globo contratou Gugu para
competir com Silvio nas tardes de domingo. O dono do canal 11 agiu rápido e jogou
pesado: fez uma proposta irrecusável a Gugu, que à época, comandava no SBT o Viva
a Noite, e levou a mulher, Íris, e as quatro filha à tiracolo para o encontro. A pressão
deu certo. Silvio Santos pegou um avião com Gugu, e os dois conversaram com
Roberto Marinho. Foi tudo resolvido. Menos a multa pela rescisão do contrato, que não
foi perdoada.
Em outro episódio, Silvio conversou com os Marinhos. Ligou para o Roberto Irineu
Marinho, filho do dono das Organizações Globo. O apresentador queria levar José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para trabalhar no SBT. "Eu não vou dispensar o
Boni. Não me interessa que ele opere em outra televisão", teria afirmado Marinho, em
frase reproduzida no livro A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva.
Outras emissoras levaram peças-chaves do SBT. Foi o caso de Eliana e Boris Casoy,
que arrumaram as malas para a TV Record. Silvio manteve o formato dos programas,
com exceção do Jô Soares. Mas decidiu abandonar o investimento no jornalismo para
priorizar o entretenimento.
Pessoas ligadas ao apresentador garantem que Silvio Santos nem sempre é um bom
negociador. "O Ratinho queria muito trabalhar no SBT. Silvio não quis. Ele me ligou
um pouco antes de assinar contrato com a Record e pediu R$ 70 mil. Não teve jeito.
Quatro meses depois, Silvio o chamou e pagou R$ 400 mil", lembra Luciano Callegari,
primeiro homem do SBT até 1997.
O que Carlos Alberto de Nóbrega tenta entender é como A Praça É Nossa perdeu a
liderança. Até um ano atrás, A Praça emplacava média próxima de 20 pontos de
audiência. O máximo que o Zorra conseguia era reduzir a diferença para 1 ponto,
quando entrava em cena o espetacular Alberto Roberto, personagem de Chico Anysio.
Depois da saída de Chico, A Praça começou a perder. E feio. Crava 14 ou 15 pontos,
contra mais de 22 pontos da Globo. Carlos Alberto pediu ainda uma pesquisa para
saber o que o público acha da Praça.
Não é fácil dobrar o homem do Baú. Silvio é autoritário e gosta das coisas a seu
modo. "Ele tem um temperamento danado. Cansei de bater de frente com ele quando
cheguei à emissora, em 1987", relembra Carlos Alberto, filho de Manoel de Nóbrega,
aquele que passou o Baú para Silvio.
"Hoje, eu sei me relacionar com o Silvio. Imagina quantos problemas ele tem. Faço o
pedido no momento certo, e ele nunca diz não", observou.
Os dois são amigos desde o tempo em que Silvio vendia muamba, nos anos 50.
Fizeram juntos a primeira viagem ao exterior, a Buenos Aires, na Argentina. Carlos
Alberto pretendia comprar coisas para o enxoval de seu casamento. Silvio o
convenceu a comprar isqueiros e presilhas para gravata. "Disse que venderia tudo em
São Paulo. Com o lucro, compraria o enxoval e ainda sobraria dinheiro", recordou.
Em outra época, Silvio comprara um carro aos pedaços. Na viagem para São Paulo,
Carlos Alberto dirigia e Silvio segurava as portas. Ao chegar a São Paulo, ele anunciou
e vendeu o carro ali mesmo. Era uma amizade de passeios, festas e confidências.
Os dois ficaram sem se falar por 11 anos. Segundo Carlos Alberto, por causa de um
mal-entendido. Sem entrar em detalhes, disse que o problema envolvia ações da TV.
"Meu pai me contou uma coisa. Só depois, o Silvio me explicou tudo. Meu pai (morto
em 1976), que tinha Silvio como um filho, estava enganado", conta.
Carlos Alberto é grato a Silvio por ter salvado o pai da falência, em 1975. Manoel de
Nóbrega se envolvera em um malfadado negócio. Silvio pagou a dívida e,
provisoriamente, ficou com os bens de Nóbrega. Um belo dia, Nóbrega, que pensara
que perdera tudo, recebeu todas as escrituras de volta (dois ou três apartamentos,
uma casa e dois terrenos). Silvio viajou em seguida. "Ele não queria receber o
telefonema de agradecimento do meu pai", relembrou.
O baú ficou pesado. Cheio de dinheiro. Por ano, o apresentador Silvio Santos recebe
R$ 55 milhões de salário como empregado do Baú da Felicidade e da Liderança
Capitalização. Ninguém no País paga mais Imposto de Renda, como pessoa física, do
que ele. São R$ 15 milhões para o Leão. O faturamento de suas empresas é superior
a R$ 1,5 bilhão, anualmente.
Não é à toa que ele é também conhecido como "o homem do sorriso". Desde 1957,
quando iniciou a saga com o Baú, Silvio construiu uma carreira de conquistas.
"Achava que ele subiria na vida por ter uma visão comercial. Mas nunca poderia
imaginar que chegaria tão longe", confessa Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador
de A Praça É Nossa e amigo dos tempos bicudos.
Não adianta. Ele quer mais. Já chegou a anunciar que se aposentaria dos palcos aos
60 anos. Passados 10 anos, continua com todo o vigor. À frente do Show do Milhão,
respira mais um sucesso.
Ao que parece, Silvio sonha ir mais longe. E ele se prepara para tanto. Hoje, o SBT já
fatura um quarto do que a Rede Globo abocanha.
Silvio também está de olho no mercado lucrativo das TVs por assinatura. Formou
consórcio com a Bandeirantes, fundos de pensões norte-americanos e o Grupo
Associados (ex-Diários Associados) e criou a TV Cidade. Tem autorização para operar
em 16 municípios brasileiros, entre eles, Niterói e São Gonçalo.
Hoje, ele vive com a mulher, Íris, e suas quatro filhas em uma mansão no Morumbi.
Contou com o conforto da família para enfrentar grandes perdas. Seu pai, Alberto,
morreu em 1976. Léo, o irmão mais chegado, foi enterrado em 1982. E a mãe,
Rebecca, sete anos depois. Durante a campanha para prefeito de São Paulo, em 1992,
um outro baque.
Sua irmã Sara, mais conhecida como Sarita, foi seqüestrada no Rio. Ela saia de casa,
na Tijuca, para o SBT, onde trabalhava como diretora regional da emissora. Quatro
bandidos inexperientes a obrigaram a entrar no porta-malas de um Chevette, sob a
mira de um revólver. Os seqüestradores exigiram 500 mil dólares (quase R$ 1 milhão)
e mais meio quilo de ouro. A polícia foi logo mobilizada pelo governador Leonel Brizola
e, em 15 horas, os bandidos foram presos. O erro deles foi ligar para um número com
bina. Sarita ficou o tempo todo amarrada, no porta-malas.
O engraçado é que o homem que conseguiu tudo isso, o maior comunicador do Brasil,
peca pela timidez. "Ele é terrivelmente tímido. Sozinho com alguém numa sala, é um
desastre. Mas, ponha um público ali, e ele arrebenta", avalia o amigo Carlos Alberto.