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Apostila MÁQUINAS HIDRÁULCIAS - profa Ana Kelly Guedes – out 2017 - rev 3 - Pag 1 / 14

MÁQUINAS HIDRÁULICAS

1- INTRODUÇÃO
Máquina é a designação dada a tudo aquilo capaz de transformar energia. A máquina pode absorver
energia numa forma e restituí-la em outra (por exemplo: o motor elétrico é uma máquina, porque absorve
energia elétrica e restitui energia mecânica) ou absorver energia em uma forma e restituí-la na mesma
forma (por exemplo: um torno mecânico absorve energia mecânica e restitui energia mecânica).

As máquinas podem ser agrupadas em máquinas de fluido, elétricas e de ferramentas. As primeiras são
capazes de promover intercâmbio entre a energia do fluido e a energia mecânica; elas se classificam em
máquinas hidráulicas e térmicas.

Nas primeiras, o fluido utilizado para promover o intercâmbio de energia não varia sensivelmente de peso
específico ao atravessá-las, sendo, portanto, o escoamento através delas considerado como praticamente
incompressível. As bombas hidráulicas, as turbinas hidráulicas e os ventiladores são exemplos de
máquinas hidráulicas.

2- BOMBAS HIDRÁULICAS

2.1 Conceitos:
Bombas hidráulicas são máquinas que recebem energia potencial (força motriz de um motor ou turbina) e
transforma parte desta potencia em energia cinética (movimento) e energia de pressão (força), cedendo
estas duas energias ao fluido bombeado de forma a transporta-lo de um ponto ao outro.
- Utiliza-se sempre que há necessidade de aumentar-se a pressão de trabalho, velocidade ou ambas.
- São máquinas que recebem trabalho mecânico e o transformam em energia hidráulica, fornecendo
energia ao líquido.

2.2 Classificação das bombas


a) Bombas centrífugas ou turbo-bombas: o movimento do fluido ocorre pela ação de forças que se
desenvolvem na massa do mesmo, em consequência da rotação de um eixo no qual é acoplado
um disco (rotor) dotado de pás o qual recebe fluido pelo seu centro e o expulsa pela periferia, pela
ação da força centrifuga.
- Funcionamento: cria área de baixa pressão (sucção) e alta pressão (recalque).
- As bombas centrifugas dividem-se em: centrifuga radial (movimento do fluido perpendicular ao
eixo de rotação do rotor); centrifuga de fluxo misto (o movimento ocorre na direção inclinada –
diagonal) ; e centrifuga de fluxo axial (o movimento do fluido ocorre paralelo ao eixo de rotação).

b) Bombas volumétricas (ou de deslocamento positivo): o movimento do fluido é causado


diretamente pela ação do órgão de impulsão da bomba que obriga o fluido a executar o mesmo
movimento a que está sujeito este impulsor (embolo, engrenagens paletas).
- As bombas volumétricas dividem-se em: êmbolo ou alternativas (pistão, diafragma, membrana,
...) e rotativas (engrenagens, lóbulos, paletas, ...)

Entre os tipos de bombas deve-se dar atenção especial às centrífugas, que podem ser classificadas em:
- Movimento do fluido: sucção simples (1rotor) ou dupla (2 rotores);
- Posição do eixo: vertical, inclinado e horizontal;
- Pressão: baixa (hman ≤15m), média (15m ≤ hman ≤ 50m) e alta (hman ≥ 50m)
- Instalação: afogada ou aspirada.
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2.3 Fenômeno da Cavitação

Na ebulição, um líquido “ferve” quando a sua temperatura aumenta com a pressão mantida constante. Sob
condições normais de pressão (760 mmHg), a água ferve a 100ºC.
Na cavitação, um líquido “ferve” quando a sua pressão diminui, com a temperatura sendo mantida
constante. À temperatura de 20ºC a água ferve a pressão absoluta a 0,24 mca ou 7,4 mmHg. A pressão
com que o líquido começa a “ferver” chama-se pressão de vapor. A tensão de vapor é função da
temperatura (diminui com a diminuição da temperatura).
Ao atingir a pressão de vapor, o liquido libera bolhas de ar, dentro das quais se vaporiza.

Uma pressão absoluta na entrada da bomba, menor ou igual à pressão de vapor no líquido,
na temperatura em que este se concentra, poderá ocasionar os seguintes efeitos:
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3- DIMENSIONAMENTO

3.1- EQUAÇÃO DE BERNOULLI (sem perda de carga – FLUIDO IDEAL)


- A equação de Bernoulli, aplicada entre a seção de entrada (seção 1) e a seção de saída (seção 2) de
uma bomba, fornece:
 Equação de Bernoulli para Fluidos Perfeitos com a presença de uma máquina no escoamento
Máquina: qualquer dispositivo
introduzido no escoamento, o qual
forneça (bomba) ou retire (turbina)
energia dele na forma de trabalho.

Equação geral com máquina hidráulica:

ρg ρg

a) No caso de bomba
H1 + HB = H2, onde:

H1 = carga de escoamento no ponto 1


H2 = carga de escoamento no ponto 2
HB: Energia fornecida ao fluido pela bomba por unidade de
peso. (“Carga ou altura manométrica da bomba”)

b) No caso de turbina
H1 + HT = H2, onde:

H1 = carga de escoamento no ponto 1


H2 = carga de escoamento no ponto 2
HT: Energia retirada do fluído pela turbina por unidade de
peso. (“Carga ou altura manométrica da turbina”)
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c) Genericamente:
Hm > 0 → M é Bomba (Hm = HB)
Hm < 0 → M é Turbina (Hm = - HT)

H1 + HM = H2

3.2 EQUAÇÃO DE BERNOULLI (com perda de carga – FLUIDO REAL)

Considerando a perda de carga (fluido real) e a presença de uma máquina hidráulica:


H1 + HM = H2 + HP1,2 onde:
H1 = carga de escoamento no ponto 1
HM = carga ou altura manométrica da bomba ou turbina
H2 = carga de escoamento no ponto 2
HP1,2 = perda de carga entre os pontos 1 e 2

+ HP1,2

3.3. POTÊNCIA FORNECIDA OU RETIRADA DO FLUIDO NA PASSAGEM PELA MÁQUINA (N)

→ unidades: N.m = J = W; 1 CV = 75 kgf.m/s ; 1 CV = 736 W = 0,736 kW


s s
onde: Ƴ peso específico (N/m3) , Q = vazão (m3/s) , HM=carga manométrica (m)

3.4. RENDIMENTO DE UMA MÁQUINA ()

 = Potência útil = N
Potência máquina NM

a) Bomba:
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b) Turbina

Para obter a potencia em CV:


 QH B  QHT sendo NB = potência da bomba em CV ,e
N B ( cv )  e NT 
75 75 NT = potência da turbina em CV

4- SISTEMAS ELEVATÓRIOS

Os condutos com escoamento devido à gravidade são o ideal quando se pretende transferir fluido no espaço.
Mas à medida que se vão esgotando os locais topograficamente propícios são necessários métodos mecânicos
para a elevação e transporte de fluido. Em alguns sistemas é necessário fornecer energia ao fluido para se
obter maior pressões, velocidades, vazões ou atingir cotas geométricas elevadas, nestes sistemas utilizam-se
bombas. Entre as inúmeras aplicações dos sistemas elevatórios, pode-se citar: Captação de água em rios;
Extração de água em poços; Adução com bombeamento; sistema de esgoto; distribuição de água potável; etc.

A altura geométrica, hG, é o valor do desnível geométrico vertical (diferença entre a cota do nível do fluido
superior e inferior), podendo ser dividida nas parcelas:
altura de sucção, hS e altura de recalque, hR.
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A altura manométrica, hman, corresponde à distância vertical


mínima para que o fluido chegue ao ponto elevado, ou seja, altura
geométrica, hG, acrescida das perdas de energia.
O cálculo das perdas de energia de um sistema elevatório, sucção
e recalque, segue as expressões convencionais científicas ou
empíricas de dimensionamento conhecidas.

Um sistema elevatório é composto: sucção, recalque e bomba

4.1 Sucção
Compõe a sucção o conjunto de condutos e conexões que conduzem o fluido até a bomba, seus
elementos principais são:
- Poço de sucção: sua função e criar uma área preferencial para captação de fluido com baixa
aceleração;
- Crivo: peça especial na extremidade da captação, ficando submersa no poço, para impedir o acesso de
material sólido evitando danos;
- Válvula de pé: uma válvula instalada na extremidade da captação de uma bomba aspirada, com a
função de impedir o retorno do fluido mantendo o conduto de sucção cheio ou seja escorvado;
- Sistema de Escorvamento: destina-se a encher o conduto de sucção para iniciar a operação da bomba;
- Condutos de sucção: interligam a captação com a bomba devendo ser com menor comprimento
possível para gastar pouca energia. Via de regra o diâmetro do conduto de sucção é maior do que o de
recalque.

A sucção trabalha em escoamento permanente uniforme, isto é, com vazão e velocidade média
constantes, por isso os problemas são resolvidos através de Bernoulli e da Continuidade.

4.1.1 Fenômenos especiais na sucção


- Vórtice: ocorrem devido a pouca submergência que pode facilitar a entrada de ar, alterando e
prejudicando o rendimento do sistema;
- Cavitação: caso a pressão do fluido atinja um valor menor do que a de vapor , surgirão bolhas que
explodirão com alto potencial de danificação. A cavitação ocorre em locais de pressão muito baixa ou
velocidade excessiva. A cavitação contínua causa desagregação da partícula do metal (“pitting”).

⇨ NPSH (net positive suction head)


A pressão na seção de alimentação, sucção, das bombas é baixa, normalmente, e nestas condições existe
a possibilidade de ocorrer cavitação dentro da bomba, que provoca perda de eficiência e danos sensíveis.

A energia ou carga total na entrada da bomba é conhecida como NPSH, existindo dois valores: requerido,
fornecido pelo fabricante pois é experimental, que deve ser excedido para que não ocorra a cavitação e o
disponível que representa a energia ou carga no sistema elevatório.
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⇨ Altura da Submergência, S
A velocidade do fluido no poço de sucção deve ser inferior a 1m/s e oferecer um recobrimento de fluido
entre a entrada do fluido e a cota do nível de fluido para evitar a entrada de ar e vorticidade.

4.2 Recalque
Compõe o recalque o conjunto de condutos e conexões que conduzem o fluido da
bomba até o reservatório superior.

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

1- Na instalação da figura, verificar se a máquina é uma bomba ou uma turbina e determinar sua potência, sabendo-
se que seu rendimento é de 75%. Sabe-se, ainda, que a pressão indicada por um manômetro instalado na seção 2 é
de 1,6 kgf/cm2, a vazão é 10 l/s, a área da seção dos tubos é 10 cm 2 e a perda de carga entre a seção 1 e 4 é de 2 m.
Não é dado o sentido do escoamento. H2O = 1000 kgf/m3.

10 m

1,6 kgf/cm2
10 m 2

4m 3 4

Resolução:

P1 v12 P v2
 z1   Hm  2  z2  2  H p1,2
 2g  2g

V = Q/A = (10.103)/(10.10-4) = 10m/s


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10=1,6.104 + 102 + -10 + HP1,2

102 2.10
HP1,2 = -16 - 5 + 20 = -1m

Escoamento 4 --->1

H4 +Hm = H1 + HP4-1

P1 v12 P v2
 z1   Hm  2  z2  2  H p1,2
 2g  2g

Hm + z4 = z1 + Hp4-1

Hm - 14 = 10 + 2

Hm = 26 m .....................(bomba)

N N  QH B
  NB  
NB  

NB = (103.10.10-3.26) / (0,75.0,75) = 4,6cv

2- O reservatório de grandes dimensões da figura fornece água para o tanque indicado com uma vazão de 10 l/s.
Verificar se a máquina instalada é uma bomba ou uma turbina e determinar sua potência, sabendo-se que seu
rendimento é de 75%. Supor fluido ideal. Dados água = 1000 kgf/m3; Atubos = 10 cm2 e g = 10 m/s2.
(1)

(2)
20 m
5m

Podemos escrever:

H1 + Hm = H2

P1 v12 P v2
 z1   Hm  2  z2  2
 2g  2g

adotando o plano horizontal de referência na base do reservatório 1, teremos z1= 20 m e z2= 5 m. A pressão tanto na
seção 1 quanto na seção 2 é igual a pressão atmosférica, anulando-se. Além disso, a velocidade na seção 1 é nula,
devido à grande área do reservatório, que é muito maior que a área das tubulações. Mas:
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Q2 10.103
v2    10 m/s , Logo:
A2 10.104

P1 v12 P 102
 20   Hm  2  5 
 2g  2.10
Hm  10  20  10m

Como, no sentido do escoamento, Hm forneceu um valor negativo, conclui-se que a máquina é uma turbina. A
potência fornecida pelo fluido a turbina é:

 QHm 103.10.103.10
N   4 cv
75 75 3

Considerando-se o rendimento, a potência da turbina fica:

4.0, 75
NT  N .   1 cv
3
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ANEXOS

A.1 -POTENCIA DE UMA BOMBA

A.2 VELOCIDADE E RENDIMENTO


A velocidade específica é definida como a rotação (rpm) de uma bomba ideal para transportar
1m3/s à altura de 1m:
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A.3 – ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS

Várias são as razões que levam à necessidade de associar bombas:


- Quando a vazão é grande e não há no mercado comercial, bombas capazes de atender a demanda
pretendida,
- Ampliações;
- Inexistência de bombas comerciais para grandes alturas manométricas.

Basicamente quando as vazões são amplas utilizam-se bombas em paralelo e para grandes alturas
manométricas, utiliza-se em série.

A.3.1 Bombas em paralelo


As bombas em paralelo trabalham sob a mesma manométrica mas com vazões somadas.

A.3.2 Bombas em série


Quando duas bombas operam em série a vazão é a mesma mas as alturas manométricas somam-se:
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A.4 Bombas “Booster”


Booster é uma bomba para aumentar a pressão no fluido.

A.5 Seleção das bombas


Para escolha de uma bomba deve-se conhecer a vazão e altura manométrica e, consultando o gráfico de
seleção de cada fabricante onde se encontram as bombas de uma série com mesmo tipo, escolhe-se,
preliminarmente, a bomba.
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Escolhida a bomba no gráfico de seleções, procura-se no catálogo as respectivas curvas características


que fornecem: diâmetro do rotor, rendimento, potência, NPSH, rendimento e outros dados úteis que
podem ser comparados com os valores calculados esperados para verificação da eficiência do sistema
elevatório.

A.6 Curvas características


A maioria dos problemas com os sistemas elevatórios podem ser resolvidos com o auxílio das curvas
características. As curvas características são a representação gráfica, ou em forma de tabela, das funções
que relacionam os parâmetros envolvidos no funcionamento do sistema.

As curvas características são obtidas experimentalmente, isto é, fornecida pelo fabricante da bomba, num
banco de ensaio, onde se medem:

Os catálogos dos fabricantes de bombas, via de regra, possuem gráficos com uma família de curvas com:
Hman versus Q;  versus Q, NPSHreq versus Q, Pot versus Q.
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A.7 – PONTO DE FUNCIONAMENTO

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