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Joaocalvino Daniel 150711221716 Lva1 App6891 PDF
Joaocalvino Daniel 150711221716 Lva1 App6891 PDF
Volume I
(João ffalvino
Tradução
Eni Dell Mullins Fonseca
Publicado cm 1 9 9 3 por W m . B . Eerdmans Publishing Co. e The
Paternoster Press. Edição baseada na tradução para o Inglês de T.
H . L. Parker, da Série de Comentários de Calvino do Antigo
Testamento, vol. 20.
Revisão final:
José A ndré
Editoração:
Eline Alves M artins
Capa:
Eline Alves M artins
Distribuição:
S O C E P - Sociedade Cristã Evangélica de Publicações Ltda.
Rua Floriano Peixoto, 103 •Centro •Caixa Postal 98
1 3 4 5 0 -9 7 0 •Santa Bárbara D ’oeste, SP
Telefax: ( 0 * * 1 9 ) 4 5 5 - 1 1 3 5 •c-mail: socep@ dglnet.com .br
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/
índice
20a Exposição........................................................................................270
21a Exposição........................................................................................283
22a Exposição........................................................................................296
23a Exposição........................................................................................309
24a Exposição........................................................................................322
25a Exposição........................................................................................334
26a Exposição........................................................................................345
27a Exposição........................................................................................357
28a Exposição........................................................................................368
29a Exposição........................................................................................380
30a Exposição........................................................................................392
31a Exposição........................................................................................404
índice onomástico......................................................................................... 417
índice de referências bíblicas.......................................................................421
Indicc dc palavras..........................................................................................423
rejááo à versão
brasifeira
7
DANIEL
em outro, era preciso que o Deus dos patriarcas, dos profetas, dos
apóstolos, dos reformadores da Igreja, também levantasse alguém
para dar continuidade ao pensamento desses invictos reformadores.
A Igreja das grandes nações logo fez seu povo conhecer a infinita
contribuição desses gigantes da fé, menos o Brasil. Sabemos que
essa lacuna sempre trouxe perplexidade a muitos no seio da Igreja
brasileira. Ouso qualificar-me como membro dessa perplexa confra
ria, porém impotente diante de tão incomensurável desafio.
O comentário de Calvino a Daniel me inspira ousadia para vi
sualizar o tempo de meu novo nascimento, numa pequenina igreja
numa também pequena cidade do Triângulo Mineiro, Tupaciguara,
há quarenta anos atrás. Dali fui para o Instituto Bíblico Eduardo
Lane, em Patrocínio, também Minas Gerais. Uma de minhas pri
meiras tarefas escolares foi memorizar o Breve Catecismo. Desde en
tão vivi indagando dos grandes da Igreja, ouvindo, lendo, meditan
do, sem jamais entender a razão por que a Igreja não fazia João
Calvino falar português, quando Lutero, desde muito, já estava fa
lando nosso idioma. Inconformado e impotente, como muitos no
bres calvinistas brasileiros, orava, meditava e esperava que algum
dia, cm algum lugar, se erguesse alguém qualificado para tão gigan
tesca tarefa. Homens e mulheres de indiscutível cultura não falta
vam nem faltam para pôr isso em obra. Faltava, sim, visão c dispo
sição. Jamais pensei em minha pessoa; aliás, isso jamais poderia ocor
rer, pois minha visão da pessoa e obra de Calvino é semelhante àquela
do teólogo Karl Barth.' Esperava, sim, que o Supremo Concílio de
nossa Igreja designasse alguém, ou um grupo de eruditos, para tal
empresa.
Certo dia Deus me tirou do pastorado de igrejas goianas e me
trouxe para ser um dos diretores da Editora Cultura Cristã, como
parceiro do Presb. Antônio Soares e do grande teólogo, Rev. Sabati-
ni Lalli. Quase oito anos ali, minhas aspirações visavam a ver aquela
editora, órgão oficial da Igreja, realizar tal tarefa. Meu sonho, po
rém, nunca se concretizou. Muitos escritores continuam falando e
' Teologia dos Reformadores, Tim othy George, p. 163, Sociedade Religiosa Vida N ova, São
Paulo, SP.
8
P R E F Á C IO À V E R SÃ O B R A SIL E IR A
escrevendo sobre o reformador. Não quero ler apenas sobre ele, quero
lê-lo diretamente! Foi então que tive plena consciência de que o
presbiterianismo brasileiro não era realmente calvinista.
Ao deixar a Editora Cultura Cristã, resolvi traduzir a segunda
epístola de Paulo aos Coríntios comentada por João Calvino, como
mero passa-tempo. Encontrei na Primeira Igreja Presbiteriana de
São Bernardo do Campo, onde por cerca de dez anos sirvo a Deus
(muito modestamente), na pessoa do Rev. Alceu Davi Cunha, dos
Presbíteros Lauro Medeiros da Silva e Denivaldo Bahia de Melo,
não só estímulo, mas também apoio financeiro. Com seu compa
nheirismo leal, sacrificando-se financeiramente sem esperanças de
retorno, começamos uma jornada de heróis, sem o sermos. Sempre
envolvendo alguns dos eruditos da Igreja, como os Revs. Alceu Davi
Cunha, Cleómenes A. de Figueiredo, Hermisten Maia Pereira da
Costa, Boanerges Ribeiro, Carlos Aranha Neto, Alvara Almeida Cam
pos, Ademar de Oliveira Godoy, Fouiton Nogueira, o Presb. Antô
nio Soares e sua distribuidora SOCEP, c muitas outras pessoas, além
de centenas de ardorosos leitores. Esses homens nos têm ajudado
com profundo zelo. E assim temos hoje em português o décimo
comentário de João Calvino. Costumo dizer que estamos fazendo o
trabalho de “gente grande”, brincadeira seria, pois realmente esta
mos fazendo algo que somente pessoas qualificadas deveriam fazer.
Mas e assim que Deus usa pessoas: é ele quem qualifica com sua
bênção, pois quando os grandes não fazem, os pequenos devem ten
tar. Hoje nosso esforço já é ponto de referencia nas obras dos escri
tores evangélicos brasileiros e nos estudos dos seminários. Pastores,
seminaristas, professores da Bíblia, teólogos, leigos de ambos os
sexos e de todas as idades se deleitam com a acessível leitura dos
comentários do reformador. H oje somos uma empresa registrada e
sediada, com Elinc, minha filha e sócia, responsável por toda arte e
editoração, com o firme propósito de publicar todas as obras de
João Calvino, bem como outras obras preciosas.
Neste comentário envolvi mais alguém na tradução. Alguém
que vi nascer c crescer; alguém que foi minha ovelha durante anos;
alguém que, quando se dirige a mim, diz: “tio Valter!”, porquanto
em seu coração eu sou irmão de seus pais. De fato, Alan e Ézia são
9
DANIEL
Março de 2000
Valter Graciano Martins
Editor
10
refácio
11
DANIEL
Editores Gerais
Rutherford House
17 Claremont Park
Edinburfjb
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/ •
reracio a versão
jftrefi
inaíesa
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DANIEL
14
P R E F Á C IO À V E R SÃ O IN G LESA
T.H.L. Parker
15
d V o ta
bibfiográfica
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DANIEL
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edxcatória
João Cafvino
A todos os sinceros adoradores de Deus que almejam
o reino de Cristo com justiça estabelecido na França.
Graça e Paz!
19
DANIEL
20
DEDICATÓRIA
21
DANIEI.
/
E importante considerar quantas foram as perturbações que cruza
ram o caminho do profeta durante os setenta anos dc seu exílio. Por
nenhum outro rei, com a excessão de Nabucodonosor, foi ele tão bem
tratado, e até mesmo este descobriu-se ser um animal. Nas mãos dos
demais sofreu crueldades, até que, com a queda repentina de Belsazar e
a pilhagem da cidade, foi transferido para novos governantes - os me
dos e os persas. Sua invasão encheu a todos de espanto, e sem dúvida
isso o assustou também. Apesar de singularizar-se como o favorito dc
Dario, ao ponto de sua escravidão ser quase tolerável, a inveja dos prín
cipes, com sua perversa conspiração, o colocava em grande perigo. No
entanto, Daniel preocupava-se mais com a segurança comum da igreja
do que com sua própria tranqüilidade; quanto sofrimento não sentiu,
quanta ansiedade quando os negócios de Estado prometiam a seu povo
uma interminável, dura e vil opressão! Ele cria na profecia de Jeremias,2
com toda certeza. Todavia, vemos uma incomparável resistência no fato
de sua fé não haver falhado após ter ficado tanto tempo em suspenso,
quando, jogado de um lado para o outro por ondas tempestuosas e su
cessivas, não se afogou.
Agora trato das profecias propriamente ditas. As mais antigas fo
ram projetadas para os babilônios; cm parte, porque Deus desejava ador
nar seu servo com uma insígnia definida, a qual seria capaz de compelir
a nação mais orgulhosa e conquistadora a respeitá-lo; e, por outro lado,
porque o nome de Daniel deveria ser digno dc respeito entre os gentios,
para que pudesse usar essa autoridade mais livremente no exercício do
ofício profético entre seu próprio povo. Depois dc se haver tornado
famoso entre os caldeus, Deus o incumbiu dc profecias mais importan
tes, profecias exclusivas ao povo eleito.
Ademais, Deus de tal maneira acomodou as profecias ao uso do
povo de tempos passados, atenuando a tristeza com recursos oportunos
e sustentando mentes hesitantes ate o advento dc Cristo, que tornou-as
não menos relevantes para o nosso próprio tempo. Pois aquilo que foi
previsto do flutuante c efémero resplendor das monarquias c do estado
perpétuo do reino dc Cristo não é menos benéfico hoje do que o foi no
passado. Deus nos mostra que todo poder terreno não fundamentado
1 Jr 2 5 .1 2 ; 2 9 .1 0 .
22
DEDICATÓRIA
J Dn 5.26-28.
4 Um título assumido por alguns reis europeus, Calvino, porem, tem em mente o rei da
França.
5 Mr 2.3, 16.
23
DANIEL
um olhe cm direção aos outros para que uma união mútua os coloque a
todos numa associação mortal sob o jugo da impiedade. Pois, se hou
vessem considerado seriamente as questões corretas e verdadeiras, se
apenas tivessem abertos seus olhos, o conhecimento não seria obscuro.
Mas porque é um tanto comum ocorrerem sérias comoções quando
Cristo se apresenta com seu evangelho, pensam somente na ordem pú
blica e assim granjeiam uma honesta justificativa para rejeitarem o ensi
namento divino. Concordo que qualquer mudança causadora de pertur
bações pode ser mcrecidamente reconhecida como detestável. No entan
to, constitui séria injúria contra Deus se ele não houver nos outorgado o
poder para estabelecer o reino de seu Filho enquanto quaisquer tumul
tos possíveis não sejam resolvidos. Mesmo se terra e céu fossem virados
de cabeça para baixo, o serviço de Deus continuaria tão precioso que
qualquer diminuição dele, por menor que seja, seria de mais peso que
qualquer vantagem. Entretanto, aqueles que fingem que o evangelho é
fonte de perturbações, derramam sobre ele verdadeira infâmia. Certa
mente e verdade que Deus troveja no evangelho, com voz tão poderosa
que faz tremer os céus e a terra. Quando o profeta logra a aceitação de
sua pregação pelo que diz, então temos um tremor feliz e desejável.6 E,
com toda certeza, se a glória de Deus não se faz preeminente ate que
toda carne seja humilhada, então o orgulho humano, que se opõe a essa
glória e nunca se submete a ela de vontade própria, precisa ser lançado
fora pela poderosa e forte mão do próprio Deus. Pois, se com a publica
ção da Lei toda a terra tremeu,7 não surpreende que a força e a eficácia
do evangelho surjam ainda mais majestosas. Portanto, deveríamos abra
çar com maior prazer aquele ensinamento que soergue os mortos do
inferno e abre as portas do céu para os indignos da terra; ensino que
desencadeia um poder tão extraordinário que é como se todos os ele
mentos estivessem de acordo para nossa salvação.
Mas olhe e veja! As chuvas e tempestades fluem de uma outra fonte.
Os nobres e maiorais do mundo não se submetem livremente ao jugo de
Cristo c as massas ignorantes rejeitam tudo o que é para sua salvação,
antes mesmo de experimentar qualquer coisa. Alguns se alegram na imun
* Ag 2 .7 .
7 M g. (m argem ), Êx 19.1 8 .
24
DEDICATÓRIA
25
DANIEL
pes? “Deixai que Cristo parta, no caso de haver algum distúrbio”. En
tão, logo vereis o quanto teria sido melhor ter Deus ao vosso lado, para
confiardes em sua ajuda e desprezardes todos os vossos medos, em vez
de provocá-lo para uma batalha, cuidando excessivamente para não en
raivecer os perversos e vis.
Obviamente, quando tudo houver sido pesado, a superstição que
até hoje prevalece entre os defensores do papa nada mais é que o mal
bem apresentado; pois acreditam que ele não deve ser removido, princi
palmente em decorrência do medo do resultante prejuízo. Entretanto,
aqueles que têm a glória de Deus em seus corações e são dotados de
sincera piedade, deveriam ter um objetivo muito diferente - devotar
todas as suas atividades a Deus, confiando todos os resultados à sua
providência. Se ele não nos houvera feito promessa alguma, provavel
mente deveríamos ter uma justa causa para o medo c a vacilação contí
nuos. Mas, como ele tão abundantemente declarou que nunca negaria
ajuda no momento em que o reino de seu Cristo estivesse sendo manti
do, a única maneira de agir corretamente é descansar nessa confiança.
Mais ainda, é vossa incumbência, amados irmãos, tomar prudente
cuidado para que a verdadeira religião possa novamente readquirir uma
posição sã; isto é, até onde cada um tiver o poder e a vocação. Não é
necessário dizer o quanto tenho lutado para remover toda e qualquer
ocasião geradora de tumultos até agora. Clamo aos anjos c a vós para
testemunhardes diante do supremo juiz que não é de minha responsabi
lidade que o progresso do reino de Cristo não tenha sido calmo e ino
fensivo. De fato, julgo ser cm decorrência de meu cuidado que pessoas
particulares ainda não passaram dos limites.
Ora, apesar de Deus, através de seu maravilhoso poder, ter feito
avançar a restauração de sua Igreja mais do que eu poderia ter imagina
do, ainda precisamos lembrar-nos de que Cristo comanda seu povo - e
que este precisa possuir sua alma em paciência.1J A visão explicada por
Daniel14 é relevante aqui: a pedra que destruiu todos os reinos cm guer
ra com Deus não foi formada por mãos humanas, e, por mais áspera e
rústica que seja, cresceu até transformar-se numa grande montanha. Te-
13 Mg. Lc 21.19.
14 Dn 2.31-35.
26
DEDICATÓRIA
15 Mg. Jr 2 5 .1 2 , 2 9 .1 0 .
27
DANIEL
28
DEDICATÓRIA
16 M g., Is 5 4 .1 1 .
17 M g., SI 1 2 9 .1 -4 .
" D n 1 1.35.
29
DANIEL
^ Dn 12.10.
2U M g .,2 C o 2 .1 6 .
21 SeA nffdus c a leitura correta, a referência se faz a Dn 9 .2 0 -2 7 ; se emendado a Apostolus,
a referencia seria a 2C o 2 .1 6 . Talvez Calvin» esteja transferindo inconscientemente as
palavras dc Paulo ao anjo.
30
DEDICATÓRIA
da doutrina de Cristo, prega sobre a justiça eterna, que foi selada pelo
sacrifício de sua morte e, ao mesmo tempo, expressa a maneira c o pro
pósito pelos quais a iniqüidade deve ser destruída e expiada. Assim, en
quanto o mundo continua deleitando-se cm licenciosidade, que o co
nhecimento da condenação merecida nos amedronte e nos humilhe pe
rante Deus. Enquanto os ímpios se entregam gananciosamente aos seus
prazeres terrenos, abracemos com igual desejo o tesouro incomparável
no qual se acha escondida a real bem-aventurança. Que nossos inimigos
falem o quanto quiserem que seu único cuidado e preocupação é ter
Deus propício para com eles. Enquanto pensarem que ele só pode ser
invocado na incerteza, estão certamente derrubando o fundamento da
salvação. Que ataquem nossa fé usando de quantas irritações quiserem,
mas que deixemos bem claro que só através de seu benefício é que al
guém pode desfrutar da prerrogativa de clamar a Deus, o Pai, livre e
confiadamente, agarrando-se ao amparo de Cristo. Entretanto, nossas
mentes são muito atraídas pelo mundo, e o zelo pela santidade nunca
florescerá cm nós como deveria até que aprendamos a levantar-nos e a
exercitá-la em meditação e práticas contínuas da vida eterna. Neste as
pecto, o vazio incrível da humanidade trai a si próprio. Apesar de quase
todos os filósofos falarem claramente sobre a brevidade desta vida, ne
nhum deles aspira o que é eterno. Então, quando Paulo elogia a fé e o
amor dos Colosscnses, tem boas razões para dizer que são animados
pela esperança que está preservada nos céus.22 E, em outra instância, ao
discorrer sobre o objetivo da graça revelada a nós em Cristo, o apóstolo
afirma que quando tivermos renunciado a todos os desejos vis e terre
nos precisamos ser instruídos a viver sóbria, justa e piedosamente neste
mundo, aguardando a bendita esperança e o advento da glória do gran
de Deus c nosso Salvador Jesus Cristo.23 Permiti que esta expectativa
destrua todos os obstáculos c nos embaracem, e quanto mais o mundo
estiver saturado da praga do epicurismo, mais sinceramente devemos
lutar para alcançar o objetivo antes que também sejamos contaminados.
Mais ainda, apesar de ser necessária nossa compaixão c pena pela
perdição voluntária de tão grande multidão, sabemos que estão corren
22 M g., Cl 1.5.
” M g .,T t 2 .1 2 -1 3 .
31
DANIEL
24 D n 12.1.
32
Oração que João Calvino costumava fazer
no início de suas preleções:
Que o Senhor nos perm ita engajarmo-nos nos mistérios celestiais de sua
sabedoria, para que progridamos em verdadeira santidade, para o
louvor de sua glória e para nossa própria edificação.
Amém.
livro do profeta Daniel vem em seguida. Sua utilidade é
35
DANIEL
clc foi divinamente adornado com uma ilustre insígnia, para que
os judeus fossem bem assegurados (a não scr que desejassem
ser maus e ingratos para com Deus) de que haviam sido presen
teados com um profeta. Entre os babilônios, clc era m uito co
nhecido e reverenciado. Se os judeus desprezassem àquele que
era admirado até pelos gentios, não seria com o se estivessem
deliberadamente abafando c esmagando sob os pés a graça divi
na? Daniel, então, possuía uma insígnia certa c evidente, pela
qual pudesse scr reconhecido com o profeta de Deus e que colo
cava seu chamado acima de qualquer dúvida.
Logo depois vem a segunda parte, na qual Deus prediz, atra
vés dele, o que aguardava o povo eleito. Portanto, do capítulo sete
até o final do livro, temos visões pertinentes particularmente à
Igreja de Cristo. Nestes capítulos, o Senhor prediz o futuro, e esse
aviso prévio era mais do que necessário. Havia sido tentação sufi
cientemente difícil para os judeus suportarem setenta anos de exí
lio, mas após haver retornado para sua própria nação, Deus esten
deu a libertação total de setenta anos para setenta ‘semanas’, au
mentando o atraso em sete vezes.2S As mentes de todos poderiam
muito bem haver-se abalado c desanimado mil vezes, pois os pro
fetas haviam falado tão majestosamente sobre a redenção que os
judeus possivelmente esperavam, de um estado feliz e completa
mente abençoado, assim que fossem libertados da escravidão ba
bilónica. N o entanto, quando foram oprimidos por tantas aflições
(e não por pouco tempo, mas por mais de quatrocentos anos, en
quanto que permaneceram em exílio por apenas setenta anos), a
redenção pode ter parecido um conto de fadas. N ão há dúvida de
que Satanás provou a várias pessoas, tentando fazê-las deixar o
caminho - estaria Deus conduzindo um jogo quando os tirou da
Caldéia e os levou de volta à sua pátria? E por isso que o Senhor
mostrou a seu servo numa visão quantas e quão graves aflições
aguardavam o povo eleito.
36
I a EXPOSIÇÃO
37
DANIEL
38
I a EXPOSIÇÃO
39
DANIEL
40
I a EXPOSIÇÃO 1 1 2]
[ . ,
d a p ítu â o 1
41
1 1 2]
[ . , DANIEL
42
P EXPOSIÇÃO 1 1 2]
[ . ,
43
1 1 2]
[ . , DANIEL
44
I a EXPOSIÇÃO 1 1 2]
[ . ,
M M g., SI 1 3 2 ; isto c, 1 3 2 .1 3 -1 4 .
,4 M g., SI 8 0 e 9 9 ; Is 3 7 etc.; isto <í, SI 8 0 .1 ; 9 9 .1 ; Is 3 7 .1 6 .
35 Aqui, "tácita antítese” significa "uma conscqiicncia implícita”. Porque Deus c Deus,
portanto Ele pune a Jeoaquim.
45
[1.31 DANIEL
M g., Gn 3 7 , 4 0 ; isto í , 3 7 .3 6 ; 4 0 .3 -4 .
46
I a EXPOSIÇÃO [1.3]
47
DANIEL
48
2a
£ xposição
49
14
[ . ] DANIEL
Portanto, Daniel põe as duas coisas aqui - que deveriam ter co
nhecimento e também ser aptos a expressar seus pensamentos.
E que fossem dotados de força: pois l"D, cocth, é quase sem
pre usada para força, com o vemos em Isaías 4 0 : “Os que espe
ram no Senhor renovam suas forças”; 38 isto é, “serão renovados
em seu vigor”. Novamente: “Minha força falha” (Salm o 2 2 ) ; 39
ou seja, “secou-se meu vigor”. Portanto, à sabedoria, aprendiza
do e eloqüência, ele soma força ou vigor; ou, ainda, atividade
física, que é a mesma coisa.
P ara assistirem n o palácio do rei e lhes ensinasse a cu ltu ra
(erudição) - não consigo traduzir o termo 1DD, sepher, de outra
m aneira. Literalm ente, quer dizer “uma carta” ; mas tam bém
significa ‘ensinamento’ ou ‘instrução’ - e a língua dos caldeus.
Agora vemos que o rei pediu que lhe trouxessem jovens no
bres de sangue real ou principesco, não tendo em vista somente
sua alta descendência, mas também porque sua intenção era se
lecionar com o servos aqueles que fossem talentosos, bem nasci
dos, com o dizem, bons oradores e capazes de fazer bem o que
lhes fosse requerido, além de, tam bém , desfrutarem de excelen
te saúde física. Sem dúvida nenhuma, ele desejava mantê-los em
seu favor para atrair alguns outros judeus. Então, depois de se
rem investidos de autoridade, pudessem (se a situação assim o
exigisse) tornar-se governadores designados sobre a Judeia e
reinar sobre sua própria nação, mantendo-se, contudo, servos do
império babilônio.
Este era o propósito do rei. Portanto, não temos razões para
louvá-lo por sua generosidade. Pois o fato de ele correr após seus
próprios benefícios está mais do que claro. M esm o assim, verifica
mos que a bondade e liberalidade humanas não eram tão des
prezadas naquela época com o são hoje c têm sido durante os
'* Is 4 0 .3 1 .
JVSI 2 2 .1 5 .
50
21 EXPOSIÇÃO [1.4]
51
[1.4] DANIEL
4(1 Calvino usa o term o “língua da Caldéia” para o que atualm ente é cham ado dc
“aramaico imperial”.
41 Ccticthlincs: aqueles que calculam a natividade. Calvino demonstra não ter um conhe
cim ento preciso dos diferentes tipos dc mágicos babilônios; e por isso utilizei a tradu
ção literal do vocábulo gcncxhUaci.
52
2a EXPOSIÇÃO [ 1 .4 ,5 ]
53
15
[ . ] DANIEL
54
2a EXPOSIÇÃO [ 1.5-7]
55
[1.6, 71 DANIEL
56
2a EXPOSIÇÃO |1.7, 8]
57
[ 1. 8 ] DANIEL
58
2a EXPOSIÇÃO 18
[ . ]
59
[1.8] DANIEL
60
2a EXPOSIÇÃO
61
3a
£ xposição
9 Ora, Deus concedeu a Daniel miscri- 9 Dedcrat autem Deus Daniclem in cle-
córdia e compreensão da parte do che- mentiam et miscrationes coram prefcc-
fc dos eunucos. to eunuchorum.
62
3a EXPOSIÇÃO [1.9]
63
19
[ . ] DANIEL
17 Êx 3 .2 1 -2 2 .
64
31 EXPOSIÇÃO [1.9, 10]
65
[1.10-13] DANIEL
66
3a EXPOSIÇÃO [1.11-13]
dos eunucos tinha muitos servos sob seu poder, o que é comum
no caso de grandes governadores. E provável que a posição de
supervisor fosse equivalente à de lc Granei Ecuyer48 na França de
hoje. Este, portanto, era um dos servos responsáveis por Daniel
c seus companheiros. O profeta tinha uma solução para esse pro
blema e conseguiu seu desejo - ainda assim, não sem certo grau
de engenhosidade, com o veremos. Entretanto, isso mostra a cons
tância incomum de Daniel. Quando tentou, e não obteve suces
so, não desistiu. Quando não nos desanimamos diante das rejei
ções c não cremos que nosso cam inho esteja interditado, isso
equivale uma prova de fé real e genuína. Portanto, se não retro
cedermos da reta vereda, em vez de tentar outras vias, m ostra
mos que de fato a piedade está radicada cm nossos corações.
Seria admissível que Daniel se resignasse após a primeira
rejeição. Pois quem seria capaz de dizer que ele não fizera o que
podia? N o entanto, superou o obstáculo, c quando não conseguiu
nada do governador-chefc, aproximou-se de seu servo. E o fez
de maneira extraordinariamente sábia, pois o servo não poderia
fazer a mesma objeção que acabamos de ouvir do chefe dos eu
nucos. Sem dúvida alguma, ele conhecia algo acerca do pedido
de Daniel, sua rejeição e recusa. Portanto, Daniel antecipou a
objeção do servo e lhe mostrou com o concordar sem correr ris
cos. Era com o se houvera dito: “Nós não tivemos êxito com o
chefe dos eunucos, porque ele temeu por sua vida. Então pensei
cm outra solução; solução através da qual poderás satisfazer nos
sos desejos sem seres pessoalm ente incrim inado. O caso será
inteiramente secreto. Exp erim en ta teus servos dez dias e nos
dês um a chance; perm ite que com am os apenas legum es e que
nos dês apenas água para beberm os. Ora, se após esse período
nossos rostos estiverem belos c saudáveis, não haverá suspeição
majjni Scutarii: cm franccs lc Grand Écuycr, o escudeiro real. Neste caso, é óbvio que
se pretende gritar Ecuyer de boucht , o funcionário que supervisionava o preparo da
com ida.
67
1 11 - 13 ]
[ . DANIEL
68
3a EXPOSIÇÃO [1.13-15]
1M g., Nm 6 ; isto c, 6 .1 -4 .
69
[1.14, 15] DANIEL
70
3a EXPOSIÇÃO [1.14, 15]
71
(1.14, 15] DANIEL
53 M g., F1 4 ; isto c, 4 .1 2 .
72
3a EXPOSIÇÃO [1.15, 16]
73
[1.16] DANIEI.
amigos sem correr risco algum (de fato perccbcu que poderia ate
mesmo tirar vantagem de tudo isso), mostrou-se bem-humorado
e bondoso. Não havia necessidade de discutir o assunto! Pois, fre
qüentemente, qualquer oposição nos desanima, se esperamos o b
ter algo, ou logo desistimos, se o que desejamos exige um esforço
grande demais. Entretanto, quando o prêmio está cm nossas mãos
c não há risco algum, nos mostramos totalmente favoráveis. Por
tanto, percebemos o que Daniel quis dizer neste versículo: que
Melzar percebeu que lhe seria útil, e que poderia lucrar com a
comida que fora destinada aos jovens, servindo-lhes apenas legumes.
Mas devemos observar também o que Daniel tem cm m en
te. Ele deseja esclarecer aqui que o favor que conservou a ele e a
seus amigos saudáveis c fortes não poderia ser atribuído a ho
mens. Em que sentido? N o fato de que ele jamais teria apresen
tado o pedido ao homem Melzar sc não soubesse que o mesmo
lhe seria infalivelmente atendido. Pela maneira com o Melzar con
sultou seu próprio bem-estar, vantagem pessoal, e desejou evi
tar qualquer argumento ou problema, podemos facilmente de
duzir que não sc podia atribuir a Daniel e seus companheiros o
atendimento de seu pedido. Tudo foi tão afortunadamente diri
gido pela providência de Deus que o homem sc fez bondoso. E o
Senhor mostra claramente que todo louvor deve ser rendido a
ele, com o fim de incitar a gratidão de Daniel e seus amigos.
74
4 a
'
17 Ora, a csscs quatro jovens Deus deu 1 7 E t pueris illis quatuor, dedit, in-
conhccimcnto e a cultura em toda cru- quatn, illis Deus cognitionem et seien-
dição e sabedoria; mas Daniel possuía tiam in omni literatura et sapientia: et
discernimento cm todas as visões c so- Daniel intcllcxit in omni visione ct
nhos. somniis.
75
[1.171 DANIEL
por assim dizer, condecorá-lo com sua insígnia oficial, para que
seus ensinamentos já encontrassem uma recepção de antemão
preparada. Diz ele, portanto, a estes q u atro jovens (isto é, ‘ra
pazes’) fo ram dados co n h ecim en to e cu ltu ra em to d a eru d i
ção e sabed oria; Daniel, porém, foi dotado com o singular dom
da interpretação de sonhos c discernimento de visões.
Ao falar Daniel aqui de ‘erudição’, sem dúvida ele tem em
mente apenas as artes liberais, c não a todas aquelas artes mági
cas que, se já não eram praticadas então, mais tarde proliferaram
entre os caldeus. Todavia, sabemos também que entre os des
crentes não havia sinceridade alguma. Já sugerimos antes que
Daniel não se deixara manchar pelas superstições que então eram
altamente valorizadas por aquela nação. Eles corrompiam a as
tronom ia, insatisfeitos com a genúnia ciência. N o entanto, D ani
el e seus amigos foram treinados entre os caldeus de tal maneira
que não se engajaram naqueles pseudo-exercícios, ou, melhor,
corrupções, as quais devem ser sempre distinguidas da verdadei
ra ciência. Também seria absurdo dizer que Deus aprova tais
artes mágicas, quando elas, com o todos nós sabemos, são estri
tamente proibidas e condenadas pela Lei em D cuteronôm io 1 8 .55
Desde então, Deus abominava as superstições mágicas com o tru
ques do diabo, e não teria havido se Daniel e seus amigos fossem
divinamente dotados com o dom de progredir excelentemente
em toda a erudição da Caldéia. Isso deveria, portanto, restringir-
se à ciência natural c legítima.
Quanto ao próprio Daniel, diz que ele tam bém tin ha dis
cern im en to de visões e sonhos. Conhecem os, à luz de Núm e
ros 12, as duas maneiras pelas quais os profetas poderiam en
tender qual era a vontade de D eus.56 Ali Deus, reprovando a
Arão e M iriã, diz que, ordinariamente, sempre que quisesse re
velar seu propósito aos profetas, falaria com eles “através de
55 Dr 1 8 .1 0 -1 2 .
50 Nm 12.6.
76
4a EXPOSIÇÃO [1.17-20]
77
[1.18-20] DANIEL
78
4a EXPOSIÇÃO I1.21J
79
[2.1] DANIEL
dapítuÊo Z
1 E no segundo ano do reinado de 1 Anno autem secundo regni Ncbu-
Nabucodonosor, este sonhou sonhos; chadnezzar somniavit Nebuchadnezzar
e seu espírito perturbou-se, e seu sono somnia: et contritus fuit spiritusejus,
foi-lhe interrompido. et somnus cjus interruptus est ei.
80
4 a EXPOSIÇÃO [ 2 .1 , 2 ]
antes que seu pai houvesse m orrido, já que ele fora chamado
para dividir o trono. Depois disso, reinou sozinho, e no segundo
ano de seu reinado ocorreu o evento ora relatado. Não há nada
forçado nesta explicação; ela é consistente com a história. Por
essa razão, prefiro esta opinião.
Ele diz que ele son hou sonhos, não obstante relata apenas
um sonho. Mas não surpreende que isso fosse expresso no plu
ral, pois que tantas coisas estavam envolvidas nesse sonho.
A isso ele soma que seu esp írito p ertu rbo u -se, para fazer-
nos entender que o sonho era algo fora do comum. Pois esse não
foi o primeiro sonho que Nabucodonosor teve em sua vida, nem
sentia-se terrificado todas as noites ao ponto de mandar chamar
todos os seus magos. Portanto, havia nesse sonho algo de extra
ordinário, o qual Daniel quis expressar por meio destas palavras.
Não sei se realmente cabe aqui a tradução um tanto estranha do
final do versículo, seu son o foi in terro m p id o ; e a outra exposi
ção, feita por nosso irmão Dominus Antony,57 adequa-sc melhor
- que “seu sono estava sobre ele”; ou seja, ele com eçou a dormir
novamente. Portanto, o sentido genuíno e simples das palavras
parece-me ser que seu espírito estava confuso; isto é, um terror
extremo apoderou-se dele e então percebeu que o sonho vinha
de Deus. Então, com o se houvera sido atingindo por um raio, caiu
no sono novamente, com o se estivesse morto. Enquanto se preo
cupava incessantemente com a interpretação do sonho, finalmente
aquietou-se, um tanto estupefato, e dormiu. Esta é também a
razão por que ele esquecera o sonho, com o veremos adiante.
E prossegue:
2 E o rei ordenou que chamassem os 2 Et edixit rcx ut vocarcntur astrologi,
astrólogos, os adivinhos, os feiticeiros et conjcctorcs, et divinit, et Chaldei,
c os caldeus, para que declarassem ao annuntiarent regi somnia sua: et vene
rei seus sonhos; c eles vieram e apresen- runt et steterunt in conspectu regis.
taram-se diante do rei.
81
[2.2] DANIEL
82
4a EXPOSIÇÃO [2.2]
83
(2.2] DANIEL
tia] do que acontece por acaso. Ele não consegue admitir que os
sonhos sejam divinamente enviados, c para explicar isso diz que
muitos homens estúpidos sonham e têm o mesmo tipo de so
nhos que os mais sábios. E então se volve para as bestas brutas,
pois algumas delas, com o os elefantes, sonham. Portanto, já que
os sonhos são comuns entre as bestas brutas, e já que os sábios
sonham mais raramente do que o mais crasso dos idiotas, a Aris
tóteles parece improvável que os sonhos sejam divinamente en
viados. Por conseguinte, ele nega que sejam 0c-ÓTTf(íttto: [ theopempta,
“enviados de Deus”] ou 0ela [ theia , “divinos”], mas afirma que
são õainóvia \daimonia, “enviados do diabo”]; isto c, ele inventa
um certo m eio-term o entre o divino e o demoníaco. E sabemos
em que sentido os filósofos tomam o term o ‘dem oníaco’, o qual
nas Escrituras tem um sentido ruim. Aristóteles diz, portanto,
que os sonhos são enviados por inspirações etcrcas e não por
Deus. Porque, afirma ele, a natureza humana não é divina, mas
inferior; todavia, c superior à terra; ou seja, é angelical.60
Cícero discute isso longamente no livro 1 de Sobre o Pressá
gio61 (em bora refutar, no livro 2, algumas das coisas que dissera
anteriormente quando era um acadêm ico).62 Entre outros argu
mentos para provar que existem deuses, ele adiciona os sonhos:
“Se há algum presságio nos sonhos, segue-se que há uma ccrta
divindade nos céus. N ão obstante, não que a mente humana não
possa conceber qualquer sonho sem a inspiração celestial”. O
raciocínio de C íccro é válido: “se há algum presságio nos so
nhos, então há uma certa divindade”.63
Observe-se também a distinção que Macrobius faz - ainda
que desastradamente confunda gencra e specics64 (pois ele não era
84
4a EXPOSIÇÃO [2.2]
85
[2.2] DANIEL
86
4a EXPOSIÇÃO
87
5a '
88
5J EXPOSIÇÃO
M Ariolc: aquele que adivinha através dc augúrios. Com o no caso do vocábulo ‘gene-
thliacs’, preservei a tradução literal dc arioli.
89
12.3, 4] DANIEL
90
5a EXPOSIÇÃO [2.3, 4]
91
[2.5] DANIEL
5 Respondeu o rei, e disse aos caldeus: 5 Respondit rcx et dixit Chaida:is, Scr-
A palavra se foi de mim. Se não me mo a ne cxiit, si non indicaveritis mihi
fizerdes saber o sonho e sua interpreta- somnium et interpretationem ejus,
ção, sereis despedaçados c vossas casas frusta efficiem ini, et donius v e str*
serão feitas cm monturos. ponentur sterquilinium.
92
5a EXPOSIÇÃO [2.5]
71 Qtiod libet, licct. cf. Seneca, Irojans (As troianas) 3 3 6 -3 7 c freqüentemente cm outros
escritores.
71 Fragmento 7 8 8 em A. Nauck, cd., Iragicorum Graccorum Fragmenta (Leipzig, 1 8 5 6 ),
p. 25 3 .
93
[2.5, 6] DANIEL
n M g., Lv 2 0 ; isto c, 2 0 .2 7 .
94
5* EXPOSIÇÃO [2.6]
74 M g., 2 0 » 2 ; isto é, 2 .1 7 .
95
[2.7-9] DANIEL
75 Pv 15.1.
96
5a EXPOSIÇÃO [2.7-9|
97
[2.7-9] DANIEL
98
5a EXPOSIÇÃO [2.9]
99
6a
£ xposição
100
6a EXPOSIÇÃO [2.11]
101
[2.11, 12] DANIEL
102
6a EXPOSIÇÃO [2.12-14]
103
[2.13-15] DANIEL
104
6a EXPOSIÇÃO [2.13-15]
105
[2.13-15] DANIEL
76 Gn 3 9 .1 .
106
6a EXPOSIÇÃO [2.16]
Este versículo não contém nada novo, a não ser que deve
mos observar algo que não foi expresso. O comandante aceitou
o pedido de Daniel c o levou ao rei, embora estivesse um tanto
apreensivo, pois sabia quão furioso o rei estava. Deixar de cum
prir seu decreto imediatamente era cm extremo ofensivo. Mas,
com o já mencionei, visto que Deus havia posto Daniel sob sua
proteção, ele converteu a mente do comandante a tamanha bon
dade que este não hesitou em levar Daniel ao rei.
Outra coisa pode ainda ser inferida do contexto, ou seja, que
Daniel obteve o que pediu. Pois o texto diz que ele v oltou para
sua casa; sem dúvida porque ele havia obtido do rei um dia de
prazo, para cumprir sua promessa no dia seguinte. Todavia, é
surpreendente que isso lhe fosse permitido, pois o rei queria que
seu sonho fosse relatado sem delonga. Daniel não apresenta ex
pressamente as razões que apresentou ao rei, mas, provavelmen
te, confessou o que veremos em m om ento oportuno - que ele
não era dotado com tal discernimento ao ponto de explicar os
sonhos, senão que esperava, pela benção divina, que voltaria no
dia seguinte com uma nova revelação. O rei nunca teria dado sua
permissão se Daniel transpirasse dúvida ou não declarasse que
esperava por uma revelação secreta de Deus. Ele logo teria sido
rejeitado, provocando ainda mais a ira real. (E é comum cm he
braico omitir-se algo de seu lugar próprio e considerá-lo depois
em outro contexto.) Entretanto, quando modestamente confes
sa a verdade, que ele não poderia satisfazer o rei até ter recebido
107
[2.17, 18] DANIEL
108
6a EXPOSIÇÃO [2.18, 19]
109
[2.19] DANIEL
110
ja
Exposição
2 0 Daniel falou c disse: Bendito seja 2 0 Loquutus est Daniel et dixit, Sit
o nome de Deus para sempre c sem- nomen Dei benedicitum a século et in
pre; sua c a sabedoria, e seu é o poder. scculum: cjus est sapientia, et robur
ipsius.
111
[2.20] DANIEL
112
T EXPOSIÇÃO [2.20, 21]
Por meio dessas palavras, Daniel põe com mais elareza o que
poderia ficar obscuro. Ele ensina que Deus é a fonte da sabedoria e
do poder, a tal ponto que não mantem dentro dc si o que lhe per
tence com exclusividade, mas o faz resplandecer por todo o céu c
terra. E devemos atentar para isso cuidadosamente. Pois aparente
mente não revestiu-se de sublimidade a afirmação de Paulo de que
somente Deus é sábio.82 Entretanto, quando reconhecemos que a
sabedoria dc Deus se expõe diante de nossos olhos em todos os
quadrantes do céu c da terra, percebemos melhor com o c cm que
113
[2.21] DANIEL
114
T EXPOSIÇÃO [2.21]
115
[2.21] DANIEL
116
T EXPOSIÇÃO [2.21]
M g., SI 7 5 ; isto é, 7 5 .6 -7 .
117
[2.21, 22] DANIEL
118
T EXPOSIÇÃO [2.22]
119
2 22 , 23 ]
[ . DANIEL
M M g., lT in 6 ; isto é, 6 .1 6 .
120
T EXPOSIÇÃO [2.23]
121
|2.23] DANIEL
12 2
7a EXPOSIÇÃO
123
ga
Exposição
2 4 E assim Daniel foi ter com Ario- 2 4 Itaquc ingressus est Daniel ad Ari-
que, ao qual o rei constituíra para des- och, quem prcfccerat rcx ad perdeii-
truir os sábios dc Babilônia. Portanto, dum sapientes Babylonis: venit ergo,
ele entrou c assim lhe disse, Não des- et sic loquutus est ci, Sapientes Babylo-
truas os sábios de Babilónia. Leva-me nis nc perdas: introduc me ad regem
ao rei, e revelarei ao rei a interpretação. et interpretationem regi indicabo.
124
8'1 EXPOSIÇÃO [2.24, 25]
125
[2.25, 26] DANIEL
126
8" EXPOSIÇÃO 2 27 , 28 ]
[ .
Então prossegue:
2 7 Respondeu Daniel ao rei e disse: 2 7 Rcspondit Daniel regi, et dixit,
O segredo que o rei exige, nem sábi- Arcanum quod rex postulat sapientes,
os, nem magos, nem astrólogos, nem magi astrologi, gcncthliasi non pos-
‘genethliacs’ o podem resrclar ao rei. sunt indicarc regi.
2 8 Mas ha um Deus nos céus que rc- 2 8 Sed est Deus in ccclis, qui revelat
vela os segredos; pois mostrou ao rei arcana; ct indicavit regi Ncbuchadnc-
Nabucodonosor o que acontcccrá no zzar quid futurum sit in fine dicrum:
fim dos dias. O teu sonho c a visão dc somnium tuum, ct visio capitis tui su-
tua cabeça, teu leito, são estes: per lcctm tuum, hxc est.
127
2 27 , 28 ]
[ . DANIEL
128
8a EXPOSIÇÃO 2 27 , 28 ]
[ .
Todavia, Daniel exclui os meios humanos e diz que este sonho pro
cedeu do Espírito de Deus.
Ele acrescenta: o que acon tecerá no fim , ou, no término, dos
dias. Pergunta-se o que ele quer dizer com ‘térm ino’. Os intérpretes
concordam que isso deve referir-se ao advento de Cristo; no entan
to, não explicam por que o advento de Cristo está cm pauta por
este vocábulo. Além disso, não é de todo obscuro que o advento de
Cristo receba o título de término dos dias, pois ele foi uma espécie
de renovação do mundo. Ainda hoje o mundo está em revolução,
assim com o estava há muito tempo atrás antes de Cristo manifes-
tar-sc. Mas, com o veremos mais adiante, Cristo veio para esse fim,
para que pudesse renovar o mundo. E porque o evangelho é, por
assim dizer, a perfeição de todas as coisas, diz-se que estamos nos
últimos dias, ou dias terminais. Daniel também compara todas as
eras que precederam ao advento de Cristo com este “término de
dias”. E portanto Deus quis mostrar ao rei N abucodonosor o que,
por fim, viria a acontecer, quando monarquia tivesse aniquilado
monarquia. Ele queria mostrar que, finalmente, haveria um fim
para tais mudanças, porque o reino de Cristo viria. Toco neste pon
to só de leve, pois há muitas coisas que ainda precisam ser expressas.
Diz c l c :0 son h o e a visão de tua cabeça, em teu leito , são
estes. Pode parecer absurdo que Daniel aqui afirme que explicará
ao rei qual foi seu sonho c qual sua interpretação, c ainda fale de
outras coisas. N o entanto, ele não acrescenta nada de irrelevante e
não devemos nos perguntar por que afirma que “esta foi a visão do
rei e este seu sonho”. Pois ele precisava instigar o rei mais e mais,
para fazc-lo mais atento ao sonho e à sua interpretação. E também
é digno de nota que o profeta insista nisso para que o rei se conven
ce de que Deus era o autor do sonho sobre o qual perguntava a
Daniel. Porque as palavras são pronunciadas em vão a não ser que
os homens estejam solidamente convictos de que o que lhes está
sendo exposto proccde de Deus. H oje, muitos alegremente ouvem
qualquer coisa que possa ser dita sobre o evangelho, mas isso não
os toca interiormente. O que concebem é cvanesccnte e imediata-
129
2 27 -29 ]
[ . DANIEL
130
8a EXPOSIÇÃO 2 29 , 30 ]
[ .
131
2 30 ]
[ . DANIEL
132
8a EXPOSIÇÃO 2 30 ]
| .
1,6 Calvino confunde o significado do verbo (‘Ku posso revelar’) com a sua forma plural
indefinida cm hebraico.
133
DANIEL
134
9a
Exposição
31 Tu olhaste, ó rei, e eis uma grandio 3 1 Tu rcx videbas, et cccc imago una
sa imagem, c seu resplendor era pre grandis, imago ilia magna, et splendor
cioso; estava em pc diante de ti; c sua ejus pretiosus stabat coram te, et spe-
aparência era terrível. cies cjus terribilis.
3 2 A cabeça dessa imagem era de fino 3 2 Hujus iniaginis caput ex auro bono,
ouro;87 o peito c os braços, de prata; o pcctus cjus et brachia cjus ex argento,
ventre c as coxas, de bronze.87 venter cjus et femora cjus ex ære, £s.
3 3 As pernas, dc ferro;87 os pes, cm 3 3 Crura cjus ex ferro, pedes cjus par
parte dc ferro c cm parte dc barro. tim ex ferro, et partim testa.
3 4 Tu estavas olhando ate que uma pe 3 4 Videbas, quousque cxcisus fuit la
dra foi cortada, sem o auxílio de mãos, pis, qui non ex manibus, et pcrcussit
c feriu a imagem nos pés, os quais eram imaginem ad pedes qui crant ex ferro
dc ferro c dc barro, c os quebrou. et testa, et contrivit cos.
3 5 Então o ferro, o barro, o bronze, a 3 5 Tune contrita sunt simul ferram,
prata c o ouro foram quebrados ao testa, æs, argentum, et aurum: et fuc-
mesmo tempo, c eram como as varre runt quasi quisquila: ex area æstivali:
duras das eiras no estio; c o vento os et abstulit ca ventus, et non inventus
levou c o lugar deles não foi encontra est locus corum; et lapis qui pcrcusse-
do; c a pedra que feriu a imagem.se rat im aginem ,fuit in m ontem mag
tornou cm grande montanha e cnchcu num, et implcvit totam terram.
toda a terra.
*7 Nestes três casos, Calvino dá o nominativo após o ablativo (governados pela preposi
ção). Por que? M eramente para substituir uma tradução próxima com uma mais correta
com o em 5.2ss.? No segundo caso, a razão pode ter sido o desejo de remover a am bigüi
dade cm acre, que é o ablativo dc ambos era (‘ar’) e aes (‘bronze’), mas isso mal se aplica
aos outros dois.
135
[2.31-35] DANIEL
** Por ‘os judeus’, Calvino quer dizer comentaristas rabínicos em particular. A linguagem
imoderada que usualmente utiliza contra eles (veja-se também p. 150, etc.) era extrema
até mesmo para o seu tempo francamente polemico.
136
9a EXPOSIÇÃO [2.31-35]
137
[2.31-35] DANIEL
138
9 J EXPOSIÇÃO [2.31-35]
139
[2.31-35] DANIEL
140
9 a EXPOSIÇÃO [2.31-35]
M g., SI 2.9.
141
[2.31-35] DANIEL
142
9a EXPOSIÇÃO [2.31-35]
143
[2.31-35] DANIEL
144
9 1 EXPOSIÇÃO [2.31-35]
manecia. Pois sc eram o povo de Deus, por que ele pelo menos não
revelava o mínimo de consideração por eles ao ponto de salvá-los
de tão selvagem tirania? Por que não lhes dava o descanso e o livra
m ento de tantos problemas e injúrias? Todavia, quando o reino
macedônio predominou, então maior foi a desgraça. Pois eram ex
postos quase que diariamente à pilhagens, e toda sorte de cruelda
de era usada contra eles. Quanto aos romanos, sabemos quão inso
lentemente governaram. Pois, embora Pompcu, na primeira inva
são, não haja despojado o templo, depois de algum tempo sc torna
ram mais ousados, e Crasso, um pouco depois, não deixou absolu
tamente nada. Por fim vieram os massacres horríveis, dificilmente
qualificáveis de naturais. Quando, pois, os judeus consideraram es
tas coisas, fazia-se necessário que se lhes consolasse de que, afinal, o
Redentor viria, aquele que destruiria todos estes impérios.
Não posso explicar agora o fato de Cristo ser chamado um a
pedra co rtad a sem o auxílio de m ãos hum anas, e então ser hon
rado por outros títulos.
145
10a
fexposição
146
10a EXPOSIÇÃO [2.36-38]
147
12. 36 - 39 ] DANIEL
148
IO1 EXPOSIÇÃO 2 39 ]
[ .
« M g ., Is 1 3 .1 8 ; is to c , 1 3 .15-18.
w M g., Is 8 .7 ; isto c, 8 .7 -8.
149
2 39 ]
[ . DANIEL
150
10* EXPOSIÇÃO [2.40-43]
151
[2.40-43] DANIEL
152
10* EXPOSIÇÃO [2.40-43]
153
[2.40-43] DANIEL
154
10a EXPOSIÇÃO [2.40-43]
155
[2.40-43] DANIEL
” M g , Is 1 1 .1 .
M g., Ez 2 1 .2 7 ; isto é, 2 1 .2 5 -2 7 .
156
10a EXPOSIÇÃO
157
a 1 1
Exposição
158
11a EXPOSIÇÃO [2.44, 45]
159
[2.44, 45] DANIEL
160
1 I a EXPOSIÇÃO [2.44, 45]
161
[2.44, 45] DANIEL
162
11a EXPOSIÇÃO [2.44, 45]
163
[2.44, 45] DANIEL
164
11a EXPOSIÇÃO [2.44, 45]
'"■•Mg., Is 6 0 .1 2 .
165
(2.44, 45] DANIEL
166
I I 1 EXPOSIÇÃO [2.44, 45]
167
[2.44, 45] DANIEL
168
11a EXPOSIÇÃO [2.44-46]
111 Hom ero. A Odisséia 1 9 :5 6 2 : ‘Dois são os portais dos sonhos umbrosos; um c talhado
de um chifre e um de marfim’ - os ‘marfim’ são enganosos, os ‘chifre’ verdadeiros; Virgí
lio. Acneida 6 :8 9 3 -9 4 .
169
[2.46] DANIEL
170
12a
Exposição
171
DANIEI.
172
12-' EXPOSIÇÃO
173
2 47 ]
[ . DANIEL
'M g ., Gn 4 2 .1 5 .
174
12a EXPOSIÇÃO 2 47 ]
[ .
175
2 47 ]
[ . DANIEL
metendo séria injúria contra seus ídolos, caso existisse alguma di
vindade neles. Pois sabemos que o Deus de Israel era profunda
mente odiado e até mesmo abominado pelas nações gentílicas. Ao
exaltá-lo acima de todos os deuses, ele coloca em seus devidos lu
gares a Bei e a toda a turba de falsos deuses que os babilônios ado
ravam. Contudo, com o já dissemos, ele se deixara arrebatar dema
siadamente, falando irrcfletidamcntc. Era uma espécic de ‘entusias
m o’; o Senhor o tornou embotado e cm seguida o transportou ao
assombro e então à proclamação dc seu poder.
Ele também o chama S en h o r dos reis; portanto, reivindican
do a cie o reinado supremo sobre a terra. Portanto, significa que o
Deus dc Israel não só suplanta a todos os deuses, mas também está
no com ando deste mundo. Pois se ele é o “Senhor dos reis”, todos
os povos estão debaixo de sua mão e autoridade. Porquanto as pes
soas comuns com o um todo não podem ficar isentas do poder de
Deus, já que ele mantém os próprios reis sob seu domínio. Portan
to, agarremo-nos ao que estas palavras significam - que todo c
qualquer deus adorado está subordinado ao Deus dc Israel, por
quanto ele está acima de todos os deuses; ademais, que sua provi
dência governa o mundo, para que povos c reis estejam sob seu
dom ínio c todas as coisas sejam governadas segundo sua vontade.
O rei acrescenta que Deus é o revelador de segredos. Esta é
uma das evidências da Deidade, com o já dissemos cm outro lugar.
Pois quando Isaías quis provar que havia um só Deus, ele form u
lou estes dois princípios: que nada acontece senão dc conform ida
de com o governo dc Deus, c a isso ele acrescenta a presciência de
todas as coisas.115 Essas duas coisas estão unidas com o que por
uma corrcntc inquebrável. Apesar dc N abucodonosor não enten
der bem o que realmente significava o carátcr da divindade, a não
ser quando impelido por um instinto secreto do Espírito de Deus,
mesmo assim proclamou retumbantemente o poder c a sabedoria
de Deus. Portanto, confessou que o Deus de Israel suplanta a todos
176
12a EXPOSIÇÃO [2.47]
177
2 47 , 48 ]
[ . DANIEL
178
12» EXPOSIÇÃO [2.48, 49)
116 M g., 2 C o 2 .1 7 .
117 M g., Gn 4 1 .4 0 .
179
2 49]
[ . DANIEL
qual, perguntamos, foi a fonte de seu pedido ao rei para que conce
desse administração aos outros? Com o já sugeri, Daniel poderia
aqui ser suspeito de ambição. Ele também poderia ser acusado de
ter tirado proveito do ensinamento que lhe fora divinamente reve
lado. M as, cm vez disso, seu pensamento estava posto em seu pró
prio povo; ele queria levar algum conforto aos oprimidos. Porque,
então, os caldeus reinavam sobre seus escravos de form a tirânica, e
sabemos que os judeus eram praticamente odiados pelo mundo
inteiro. Portanto, quando Daniel se viu movido por piedade c bus
cou um pouco de alívio para o povo de Deus, não há razão para
que o acusemos de algum erro. Ele não era impelido por lucro
pessoal; não se sentia ávido por honras, para si ou para seus ami
gos; mas se convencera da habilidade de seus amigos em prover
ajuda para os judeus em seus problemas. Por isso, a autoridade que
obtém para eles tinha com o única alvo os judeus, para que fossem
tratados com mais humanidade, para que sua condição não fosse
tão àrdua e desumana, tendo agora por governadores seus próprios
conterrâneos, os quais visariam o seu bem-estar de forma fraternal.
Agora percebemos que, neste aspecto, Daniel pode ser justamente
escusado, sem nenhuma dissimulação ou sofisma. Porque o caso é
por si mesmo suficientemente claro, e é fácil de deduzir-se à luz do
fato deque Daniel era piedoso e humano c não pecava no que fazia.
Quando se diz que ele estava n o p o rtão do rei, não devemos
entender que ele cra o porteiro. Alguns dizem que ele estava “no
portão” porque lá cra o lugar onde tinham o costume de adminis
trar justiça. N o entanto, estão transferindo para os caldeus o que as
Escrituras ensinam sobre os judeus. Eu o interpreto de maneira
mais simples, a saber, que Daniel era o governador na residência do
rei, de modo que exercia ali governo supremo; e este sentido é mais
procedente. Sabemos também que o acesso ao rei, entre os caldeus
e assírios, costumava ser demasiadamente difícil. Por conseguinte,
declara-se que “Daniel estava no portão”, no sentido cm que nin
guém podia entrar no palácio real a não ser com seu endosso.
Então prossegue:
180
12a EXPOSIÇÃO [3.1]
(Zapítiíâc 3
1 O rei Nabucodonosor fez uma ima- 1 Nebuchadnezer rcx fccit imaginem
gem de ouro; sua altura era de sessen- cx auro, altitudo cjus cubitorum sexa-
ta côvados, sua largura de seis. Levan- ginta, latitudo cubitorum sex: crcxit
tou-a na planície de Dura, na provín- eam in planitic Dura, in provincia B a
cia de Babilônia. bylonis.
181
31
[ . ] DANIEL
182
13a
ê • '
183
[3.2, 3] DANIEL
184
13a EXPOSIÇÃO [3.2-7]
185
(3.2-7] DANIEL
" * M g., IC o 2 .1 4 .
186
13a EXPOSIÇÃO [3.2-7]
187
13.2-7] DANIEL
188
13a EXPOSIÇÃO 327
[ . - ]
189
[3.2-7] DANIEI.
190
13J EXPOSIÇÃO 327
[ . - ]
122 Lei.vse illam ( = estátua ou imagem, ambos sendo substantivos femininos) por illum
(m asculino).
191
[3.2-7] DANIEL
Mg., Jo 4.24.
m Mg., ICo 7.34; ITs 5.23.
192
13a EXPOSIÇÃO [3.2-7]
193
[3.2-7] DANIEL
194
13a EXPOSIÇÃO
195
14a
£ xposição
196
14a EXPOSIÇÃO [3.8-12]
197
[3.8-12] DANIEL
198
14a EXPOSIÇÃO [3.8-13]
199
[3.13-15] DANIEI.
200
14a EXPOSIÇÃO [3.13-15]
201
[3.15-18] DANIEL
202
14J EXPOSIÇÃO [3.16-18]
203
[3.16-18] DANIEL
Pois revelam que é em vão que o medo da m orte seja posto dian
te deles; porquanto já determinaram, e isso está profundamente
arraigado em seus corações, ou seja, que não se esquivarão um
palmo sequer da verdadeira e legítima adoração devida a Deus.
Alem do mais, usam uma dupla razão para rejeitarem a proposta
do rei. Dizem que Deus possui suficiente poder e condição para os
libertar; e, em segundo lugar, ainda que tenham de morrer, nem
assim atribuem tanto valor à vida ao ponto de negar a Deus em
troca de seu prolongamento. Eles se declaram prontos a morrer,
caso o rei obstinadamente os obrigue a adorar a estátua.
Esta é uma passagem muitíssimo digna de nota. Pois esta
primeira resposta precisa ser comentada: quando os homens nos
tentam a negar a Deus, que fechemos nossos ouvidos e não de
mos chance a qualquer deliberação. Porque, enquanto pensamos
cm discutir sc é legítim o ou não desistir desta adoração pura,
começamos a injuriar injustamente a Deus, seja qual for nossa
razão. Quem dera fosse bem conhecido por rodos que a glória de
Deus é infinitamente transcendental, tão vital que tudo deve ser
posto em seu devido lugar quando há alguma intenção de dimi
nuir ou de obscurecer aquela glória. Entretanto, atualmente a
falácia leva muitos a pensarem que é certo pesar em balança, por
assim dizer, se não seria preferível desistirm os da verdadeira
adoração devida a Deus por algum tempo, caso alguma vanta
gem se nos apresente do outro lado. Assim com o hoje vemos
dissimuladores (dos quais o mundo está repleto) apresentando
suas justificativas a fim de encobrirem seus crimes, quando ou
adoram ídolos com os ímpios ou negam a genuína piedade, ora
indiretamente, ora pública c claramente. “O que acontecerá?”,
pergunta aquele que possui alguma posição: “Vejo o quanto posso
lucrar se simplesmente fingir um pouquinho c não revelar o que
verdadeiramente sou. Pois tanta sinceridade não só feriria a mim,
pessoalmente, com o também a outros. Se o rei não conta com
ninguém para aplacar a sua ira de vez cm quando, os perversos
estarão cada vez mais livres para conduzi-lo a toda sorte de bar
204
14a EXPOSIÇÃO [3.16-18]
205
[3.16-18] DANIEI.
206
14a EXPOSIÇÃO
2 07
15a
& "
208
15a EXPOSIÇÃO
209
DANIEL
210
15a EXPOSIÇÃO [3.19, 20]
211
[3.19, 20] DANIEL
212
15a EXPOSIÇÃO [3.19, 20]
131 M g., Mt 5 .1 1 ; 1 0 .3 2 ; M c 8 .3 8 .
213
3 19 - 23 ]
[ . DANIEL
quer dúvida; de sorte que da escuridão uma luz ainda mais clara
brilha, ante a tentativa satânica de obscurecê-la. Portanto, Deus
está habituado a frustrar os ím pios; e quanto mais astuciosa
mente atacam sua glória, mais ele irradia sua glória e sua doutri
na. Por isso aqui, com o numa imagem, Daniel descreve o rei
N abucodonosor nada om itindo quando desejou imbuir de medo
a todos os judeus por meio de um castigo extremamente cruel. E
contudo seus planos de nada serviram, salvo para revelar ainda
mais claramente o poder e a graça de Deus cm prol de seus servos.
Então prossegue:
2 1 Então aqueles homens foram pre- 2 1 Tunc viri illi vincti sunt, vel, kjjati,
sos com seus mantos, seus turbantes c in suis chlamydibus, et cum tiaris suis:
suas túnicas; e foram lançados na for- in vestitu suo: et projccti sunt in for
nalha de fogo ardente. naccm ignis ardentis.
2 2 Visto ser a ordem do rei urgente e 2 2 Proptcrea quod urgebat, vcl,fcsti-
haver ele ordenado que a fornalha fos- nabat, iui verbum, pra:ccptum regis, et
se excessivamente aquecida, os homens fornaccm vchcmcntcr jusserat accen-
que estavam levantando Sadraquc, Mc- di, viros iI los qui cxtulcrant Sadrach,
saque c Abede-Nego foram m ortos Mcsach, ct Abcdnego occidit favilla,«/«
pelas cinzas quentes do fogo. vertuntflammam , ignis.
2 3 E estes três homens, Sadraquc, Me- 2 3 Et viri illi tres Sadrach, Mcsach, ct
saque c Abcde-Ncgo, caíram atados no Abcdnego cccidcrant in medium for-
meio do fogo da fornalha. nacis ignis, ardentis vincti.
214
15a EXPOSIÇÃO [3.21-23]
132 Atos 1 2 .3 -1 9 .
215
3 23 - 25 ]
[ . DANIEL
216
15a EXPOSIÇÃO [3.24, 25]
133 M g., 2 Rs 6 .1 5 .
'•'« Mg., SI 91.11.
155 M g., SI 3 4 .8 ; isto í , 3 4 .7.
2 17
3 24 , 25 ]
[ . DANIEL
218
15a EXPOSIÇÃO
219
16a
£ xposição
220
16a EXPOSIÇÃO [3.26]
não pôde resistir a Deus por mais tempo. Mas isso não durou,
com o veremos um pouco mais adiante.
E então percebemos que os ímpios, os quais não são real
mente regenerados pelo Espírito de Deus, são freqüentemente
compelidos a adorar a Deus, porém apenas parcialmente; esse
enaltecim ento não permanece uma essência uniforme ao longo
de todo o curso de sua vida. Quando, porém, Deus regenera os
seus, concom itantem ente assume seu governo neles até o fim, c
os anima à perseverança, fortalecendo-os através de seu Espíri
to. M esm o assim, devemos notar que Deus é glorificado por essa
conversão temporária e evanescente dos réprobos, porque, quer
queiram quer não, eles o reconhecem pelo menos por um instan
te. E por esse meio seu grande poder se faz notório. Portanto,
Deus adequa para sua glória aquilo que não traz lucros aos ré
probos, senão que, ao contrário, os conduz a um juízo mais sé
rio. Nabucodonosor, ao reconhecer o Deus de Israel com o o Su
premo e único Deus, tornou-se menos desculpável. Logo depois,
subitamente voltou às suas superstições.
O texto diz, portanto, que ele aproxim ou-se da en trad a da
forn alh a e assim falou : Sad raqu e, M esaque e A bed e-N ego,
servos do D eus A ltíssim o, saí e vinde. Um pouco antes, orde
nava que sua estátua fosse adorada e proclamada com o a supre
ma divindade nos céus e na terra - simplesmente porque essa
era sua vontade. Nós o vimos reivindicar tanto para si, ao ponto
de sujeitar a religião c a adoração pertencentes a Deus a seu
arbítrio, ou, melhor, permissão. Agora, porém , com o se fosse
um novo homem, chama Sadraque, Mesaque c Abede-Nego “ser
vos do Deus Altíssimo”. Em que categoria isso colocava a ele e a
todos os caldeus? Simplesmente na categoria daqueles que ado
ram os deuses e ídolos fictícios, os quais inventa para si próprios.
Deus, porém, arrancou esta frase do cruel e orgulhoso rei, da
mesma maneira que os criminosos, quando forçados pela tortu
ra, dizem o que não querem. Portanto, N abucodonosor confes
sou que o D eus de Israel é o D eus A ltíssim o, com o se houvera
221
3 26 , 27 ]
[ . DANIEL
222
161 EXPOSIÇÃO 3 27]
[ .
estavam chamuscados e suas vestes não et vestibus corum non esset mutatus,
estavam mudadas c o cheiro de fogo et odor ignis non pervasisset, ve/, non
não os alcançara. penetrasset, ad cos.
223
[3.27, 28] DANIEL
dores dessa graça divina, pois não teria sido afiançado138 por eles.
Todavia, já que era certo que estes representavam os inimigos
confessos da verdadeira santidade, seguramente teriam escondi
do o milagre se tal coisa estivesse em seu poder. Entretanto, Deus
os arrasta involuntariamente, forçando-os a ser testemunhas ocu
lares, forçando-os a confessar o que não podia ser admitido com
um mínimo resquício dc dúvida.
Então prossegue:
2 8 Nabucodonosor falou c disse: Bcn- 2 8 Loquutus est Ncbuchadnczcr, et
dito seja o Deus destes homens, a sa- dixit, Bencdictus Deus ipsorum, nem-
ber, dc Sadraquc, Mcsaquc c Abedc- pe Sadrach, Mcsach, et Abcdnego, qui
Nego, que enviou seu anjo c resgatou misit angclum suum, ct eripuit, serva-
scus servos, que confiaram nele c mu- vit, servos suos, qui confisi sunt in ipso,
daram a palavra do rei c entregaram seus ct verbum regis mutarunt, ct tradide-
corpos em vez dc servirem ou adora- runt corpora sua, ne colercnt, vcl ado
rem todos os deuses c não ao seu pró- rarent omnem dcum, prcetcr Dcuin
prio Deus. suum.
224
161 EXPOSIÇÃO |3.28]
225
[3.28] DANIEL
226
16a EXPOSIÇÃO [3.28]
22 7
[3.28] DANIEL
228
16a EXPOSIÇÃO [3.28, 29]
229
[3.29] DANIEL
que trouxer algo contra o Deus destes et Iingua qua: protulerit nliqmd trans-
homens, ou seja, Sadraque, Mesaquc c versum, contra Dcum ipsorum, neni-
Abede-Nego, será desmembrado cm pe Sadrach, Mesach, et Abednego, in
pedaços e sua casa reduzida a latrina. frusta fiet, et domus ejus in latrinam,
Porque não há outro Deus que possa vel, in sterquilinium , redigetur: quia
livrar desta maneira. non est Deus alius qui possit servare
hoc modo.
230
16a EXPOSIÇÃO [3.29]
231
[3.30] DANIEL
232
1JCn
£ xposição
233
[4.1-3] DANIEL
234
17a EXPOSIÇÃO [4.1-3]
235
4 13
[ . - ] DANIEL
143 M g., Epistola 166 (Aos donatistas ) et al.\ isto c. Epistola 1 0 5 :2 :7 . Cf. Epistolas 9 3 :3 :9 ;
1 8 5 :2 :8 .
236
17a EXPOSIÇÃO [4.1-3]
237
4 13
[ . - ] DANIEL
mente fizera cm seu favor. Todavia, isso foi fortuito. Agora, por
tanto, depois de ser reprovado por Deus uma segunda c uma
tcrccira vez, finalmente confessa que é glorioso declarar as ma
ravilhas e sinais do Senhor. Depois disso, fez uma manifestação:
Q u ão grandes são seus sinais! Q u ão poderosas são suas m a
ravilhas! Seu rein o é um reino sem piterno, e seu dom ínio de
geração em geração. Não resta dúvida de que N abucodonosor
desejava incitar seus súditos a uma leitura muito cuidadosa de
seu edito, para que percebessem o quanto era im portante que se
devotassem ao verdadeiro c único Deus.
Indubitavelm ente, é ao Deus de Israel que ele chama de
“Deus Altíssimo”. Porém não se sabe se ele renunciou ou não às
suas superstições. Prefiro inclinar-me à conjetura oposta, de que
não deitou fora seus erros, senão que simplesmente se deixou
com pelir a render glória ao Deus supremo. Por isso chegou a
reconhecer o Deus de Israel, mas ainda o associava a deuses in
feriores com o aliados ou companheiros - da mesma maneira que
todos os incrédulos crêem existir alguma deidade suprema, mas
concebem uma multidão de deuses. D aí N abucodonosor confes
sar que o Deus de Israel era o Deus Altíssimo; não obstante, não
chegou a corrigir a idolatria que então proliferava sob seu dom í
nio; o fato é que ele fez uma confusa mistura dos falsos deuses
com o Deus de Israel. Conseqüentemente, ele não deixou suas
corrupções. É evidente que celebrou a glória do Deus Altíssimo
de maneira magnificente. Entretanto, isso não era suficiente; não
sem que antes abolisse todas as superstições, de modo que so
mente a religião designada pela Palavra de Deus tivesse lugar, e
sua adoração se expandisse pura c sólida. Em suma, este prólo
go poderia ser uma indicação de uma grande conversão, mas
veremos imediatamente que N abucodonosor não estava interi
orm ente limpo de seus erros. Devemos sentir-nos m uito abala
dos, vendo o rei ainda emaranhado cm tantos erros, e ao m es
m o tem po arrebatado pelo milagre provindo do poder divino
que, não conseguindo expressar seus pensam entos, afirm a:
238
17* EXPOSIÇÃO [4.3-6]
239
[4.4-6] DANIEL
240
17a EXPOSIÇÃO [4.4-6]
241
[4.6, 7] DANIEL
242
17a EXPOSIÇÃO [4.8, 9]
243
DANIEL
244
18a
£ xposição
9 Bcltcssazar, chcfc dos magos, já que o espírito dos deuses santos está em ti, e
nenhum segredo te escapa; relata-me as visões de meu sonho; o sonho que eu vi,
e sua interpretação.
245
[4.9] DANIEL
246
18a EXPOSIÇÃO 49
[ . ]
247
(4.9-16] DANIEL
248
18a EXPOSIÇÃO [4.10-16]
249
[4.10-16] DANIEL
250
18J EXPOSIÇÃO [4.10-16]
147 Jcrônim o. Comentário sobre Ezcquicl 5.5: ‘O profeta aqui declara que Jerusalém está
situada no centro da terra, mostrando que a cidade é o um bigo da terra’.
141 Orígenes. Frnjjm. Ex Catenis sobre SI 7 4 .1 2 , ed. J. B. Pitra, Analecta Sacra , vol. III
(Veneza, I8 8 3 ) / p - 99.
,,w Fonte não encontrada.
IS” Barbincl: veja-se p. 16 0 , nota 102.
251
[4.10-16] DANIEL
252
18* KXPOSIÇÃO [4.10-16]
253
[4.10-16] DANIEL
254
18J EXPOSIÇÃO [4.10-16]
255
[4.10-16] DANIEL
256
19a
Exposição
153 Et 1.19.
257
4 17 ]
[ . DANIEL
258
19a EXPOSIÇÃO |4.17]
259
[4.17] DANIEL
154 M g ., SI 7 5 .7 ; isco é, 7 5 .6 -7 .
155 M g ., SI 1 1 3 .6 ; isto c, 113.7.
IS6M g ., Lc 1.52.
157 M g ., Rm 1 3 .1 .
260
19a EXPOSIÇÃO [4.17]
os hom ens. Numa mudança tão clara, o poder de Deus brilha ain
da mais forte, pois levanta do monturo aqueles que haviam sido
ofuscados e desprezados, pondo-os acima até mesmo dos reis. Quan
do isso acontece, os infiéis afirmam que Deus está fazendo um
jogo e que os homens são, por sua mão, arremeçados para cima
com o se fossem bolas; ora sobem, ora são arremeçados para o chão.
Mas não levam em conta a causa. A razão é que Deus deseja forne
cer claras evidências dc que todos nós estamos à mercê de sua von
tade, de tal modo que nosso estado depende dele. V isto que não o
compreendemos para nós mesmos, exemplos precisam ser postos
diante dc nossos olhos; exemplos nos quais somos forçados a ver o
que quase todos nós ignora. Agora temos a afirmação do profeta
com o um todo; os anjos imploram a Deus, através dc orações in
cessantes, que declare aos mortais seu poder e lance por terra os
orgulhosos que acreditam distinguir-se por sua própria virtude e
diligência, ou através da sorte ou do auxílio humano. Pedem que
Deus lance bem longe o orgulho incrédulo; os anjos rogam que ele
os abata e dessa forma revele que ele é o Rei e Soberano, não só do
céu, mas também da terra.
O ra, isso não aconteceu apenas a um rei; pois sabemos que as
histórias estão repletas de tais exemplos. Pois, dc que antecedentes,
dc que posição social, os reis freqüentemente eram feitos? E com o
não havia no mundo um orgulho maior do que aquele do Im pério
Rom ano, podemos descobrir o que lá aconteceu. Porquanto Deus
produziu certa monstruosidade, a fim de que tal espetáculo pusesse
os gregos, e todos os habitantes do O riente, e os espanhóis, e os
italianos, e os franceses cm estado de estupor. Porquanto não exis
tia nada mais monstruoso do que alguns dos imperadores. Sua ori
gem era tão infame e vergonhosa, que Deus não poderia haver
dem onstrado de maneira mais clara que os impérios não eram
transferidos pela vontade dos hom ens, nem adquiridos por seu
poder, propósito e grandes exércitos; senão que se encontravam
todos debaixo de sua mão, a fim de pôr no com ando a quem bem
lhe aprouvesse.
261
[4.18] DANIEL
Continuem os:
18 Eu, rei Nabucodonosor, vi este so- 18 Hoc somnium vidi ego Rcx Ncbu-
nho; c tu, Bcltcssazar, narra sua inter- chadnezcr: et tu Bcltsazar, interpreta-
pretação; porquanto todos os sábios tionem enarra, quoniam cuncti sapi-
de meu reino são incapazes de revelar- entes regni mei non potuerunt inter-
me sua interpretação. Tu, porem, o p o - pretationem patefacere mihi: tu vero
des, porquanto está em ti o espírito dos potes: quia spiritus deorum sanctorum
deuses santos. in te.
262
19a EXPOSIÇÃO [4.18, 19]
158 M g., Jr 2 9 .7 .
263
4 19 ]
[ . DANIEL
posto sobre eles, e o mesmo devia ser visto com o alguém que fora
posto com o rei legitimo. Portanto, já que Daniel fora tratado hu
manamente pelo rei, c além disso fora levado para o exílio de confor
midade com as leis da guerra, era seu dever manter-se leal para com
seu rei, ainda que esse homem haja afligido o povo de Deus com
tremenda tirania. Tal fato em si foi a razão pela qual Daniel sentiu-se
triste diante do doloroso oráculo. Alguns acreditam que foi ‘inspira
ção’. N o entanto, minha explicação parccc mais adequada, visto que
não diz simplesmente que ele ficara estupefato, mas também que
sentira-se perturbado ou aterrorizado em seus pensamentos.
Enquanto isso, devemos observar que os profetas experimen
tavam sentimentos mistos quando Deus denunciava seus iminen
tes juízos por meio deles. Então, sempre que Deus apontava os
profetas com o arautos de catástrofes severas, eles experimentavam
sentimentos ambíguos. Por um lado, compadcciam-se dos homens
infelizes cuja destruição sabiam estar próxima. M as, por outro lado,
corajosamente proclamavam o que fora divinamente ordenado; e a
tristeza nunca os impedia dc cumprir suas obrigações pronta e re
solutamente. Aqui podemos perccbcr ambos os sentimentos em
Daniel. Constituía um afeto correto condoer-se dc seu rei, de modo
a ficar quase mudo por aproximadamente uma hora. Mas o fato de
o rei aqui dizer-lhe que tivesse bom ânimo e não se preocupasse,
ilustra a auto-segurança daqueles que jamais compreenderam a vin
gança divina. O profeta está aterrorizado, mas não está em perigo.
Deus não o ameaçou. O próprio castigo que vê preparado para o
rei até mesmo lhe imprimiu alguma esperança dc futura libertação.
Por que, então, estava atemorizado? Até mesmo os crentes, quan
do Deus os livra e se revela misericordioso c gracioso para com
eles, não conseguem olhar para seus juízos sem medo. Porquanto
sabem que eles mesmos estão sujeitos aos mesmos castigos, a m e
nos que o Senhor os trate com indulgência. Além disso, nunca se
despem de seus sentimentos humanos, c a misericórdia os cons
trange quando contemplam os incrédulos destruídos ou, pelo m e
nos, a vingança pendente sobre suas cabeças. Assim, por essas duas
264
19a EXPOSIÇÃO [4.19]
265
[4.20-22] DANIEL
Pois diz:
2 0 A árvore que viste, que [era] gran- 2 0 Arborquam vidisti, qux magna «'aí
de e forte, c cuja grandeza chegou até et robusta, et cujus magnitudo pertin-
o céu e a visão dela a toda a terra; gcbat ad coelos, et aspectus ejus ad to-
tam terram.
21 E sua folhagem, formosa, e seu fru- 21 Et folium ejus pulchrum erat, et
to, abundante; e na qual havia susten- fruetus ejus copiosus: et in qua, cibus
to para todos; debaixo da qual viviam cunctis: sub qua habitabant bestia:
os animais do campo, e em cujos ra- agri, et in cujus ramis quiescebant aves
mos as aves dos ccus descansavam; cocli.
2 2 Es tu mesmo, ó rei, que te multi- 2 2 Tu « ipse rex, qui multiplicatiis es
plicaste e fortaleceste, de modo que tua et roboratus, ita ut m agnitudo tua
grandeza multiplicou-sc c chegou ate m ultiplicata fuerit, et pertigerit ad
o céu, e teu poder, até a extremidade coelos, et potestas tua ad fines terra:,
da terra.
266
19a EXPOSIÇÃO [4.22-24]
267
[4 .2 3 ,2 4 ] DANIEL
268
19a EXPOSIÇÃO [4.24]
269
20a
Exposição
270
20a EXPOSIÇÃO [4.25]
271
[4.25] DANIEL
272
20* EXPOSIÇÃO [4.25, 26]
l6J Dei ffratin-, parte do título dc alguns monarcas europeus, inclusive do rei da França.
Ainda é vista em algumas das moedas britânicas com o se segue: D cigratia Rcg. ou D.G. R.
273
4 26 ]
[ . DANIEL
274
20'’ EXPOSIÇÃO [4.26, 27]
275
[4.27] DANIEL
276
20a EXPOSIÇÃO [4.27]
pregando para seu próprio povo, pois com eles teria exercido sua
autoridade profética. N o entanto, sabia que o rei não conhecia nem
mesmo os rudimentos básicos da piedade, e portanto simplesmen
te assume o papel de conselheiro, pois não era nenhum doctorordi-
narius.164 As convocações de N abucodonosor não eram um acon
tecim ento diário em sua vida; e nem foi chamado porque o rei
desejasse submeter-se a sua instrução. Logo, Daniel tinha em mente
com quem estava lidando e que tipo de homem era o rei, e temperou
suas palavras, dizendo: “que meu conselho seja aprovado por ti”.
A seguir explica seu conselho em poucas palavras: Q u eb ra (ou
“lança fora”), diz ele, teus pecados pela [prática da] ju stiça , e tu a
iniqüidade usando de m isericórdia para com os pobres. Indu
bitavelmente, Daniel pretendia exortar o rei ao arrependimento;
no entanto, toca apenas num de seus aspectos, o que bem sabemos
ser [uma atitude] bem comum entre os profetas. Quando chamam
o povo de volta à vereda irrepreensível, nem sempre descrevem por
inteiro o que significa arrependimento, nem o definem em termos
gerais, descrevendo-o por meio de sinédoque165 ou pelos deveres
externos da contrição ou por alguma parte dela. Daniel segue esse
costume. Quando nos perguntam o que é arrependimento, respon
demos que é a conversão de uma pessoa ao Deus de quem se acha
va alienada. Entretanto, tal conversão se encontra simplesmente
nas mãos, nos pés e na língua? Ao contrário disso, ela tem início na
mente, depois no coração e só então se transfere para as atividades
externas. O verdadeiro arrependimento, portanto, tem seu início
na mente do indivíduo, para que, aquele que deseja premiar-se de
mais, renuncie sua própria argúcia ou rejeite sua insensata confian
ça cm sua própria razão; c ainda, que domine seus depravados afe
tos e os submeta a Deus; finalmente se seguirá a vida exterior. C on
tudo, as atividades constituem apenas testemunhos da compunção.
IM Doctor ordinarius: nas universidades medievais, um palestrante regular, oposto aos oca
sionais, em determinado assunto.
I6S Sinédoque: term o retórico que denota a indicação de toda uma entidade por uma de
suas partes.
277
[4.27] DANIEL
164 Obsequias (latim obsequia): 1 1 0 sentido dc atos de obediência solenes, por vezes ceri
m oniosos. Consulteyl New Enjilisb Dictionary (O novo dicionário dc inglês), cd. J. A. H.
Murray, s.v. ‘O bscqiiy’.
278
20a EXPOSIÇÃO [4.27]
279
[4.27] DANIEL
280
20a EXPOSIÇÃO [4.27]
281
[4.27] DANIEL
282
21a
fexposição
283
[4.28-32] DANIEL
284
21a EXPOSIÇÃO [4.28-32]
285
[4.28-32] DANIEL
286
21a EXPOSIÇÃO [4.28-32]
287
[4.28-32] DANIEL
288
21a EXPOSIÇÃO [4.28-32]
289
[4.28-32] DANIEL
de ti”. Isso era quase inacreditável, pois a posse total do reino esta
va nas mãos de Nabucodonosor. Ninguém demonstrava qualquer
hostilidade; ele havia domesticado a todos os seus vizinhos; sua
monarquia era um terror para todas as nações. Mesmo assim, Deus
declara: “o reino passou de ti”. E isso corrobora a infalibilidade do
oráculo, para que Nabucodonosor soubesse que o tempo já se cum
prira e que o castigo não mais poderia ser adiado; porquanto ele
zombara da indulgência divina.
E prossegue: E serás expulso dentre os h om en s, e tu a m o
rada será com os anim ais do cam po (ou, “bestas selvagens”); e
far-te-ão exp erim en tar ervas co m o o gado. Alguns crêcm que
N abucodonosor foi transformado num animal, mas isso é muito
brutal e absurdo. Portanto não devemos imaginar que ocorrera al
guma metamorfose. Senão que foi tão rejeitado pela sociedade
humana que, salvo sua forma humana, ele em nada diferia das bes
tas selvagens; mais ainda, com aquele banimento ocorreu tamanha
desfiguração, que ele se transformou numa visão horrível - com o
veremos mais adiante, todos os pelos de seu corpo cresceram de
maneira tal que aparentavam as penas de uma águia, c suas unhas
eram com o as garras de pássaros. Eis o que se assemelhava com os
animais, pois o resto conservou sua forma humana.
Não se sabe se Deus atingiu o rei com a demência, de modo a
fugir e esconder-se por algum tempo, ou se foi expulso por uma
revolta ou conspiração dos nobres, ou mesmo com o consentim en
to de todo o povo. A última hipótese é duvidosa, pois a história
dessa época não nos é conhecida. Nabucodonosor, porém, ou foi
dominado pela insanidade, ou, vendo-se louco, deixou a sociedade
humana, ou foi expulso, com o freqüentemente sucede aos tiranos.
O fato de haver ele vivido com os animais por algum tempo cons
tituiu um exemplo memorável. E ainda é provável que ficasse to
talmente bestializado; Deus lhe conservou a forma humana, mas
lhe tirou a razão, o que transparecerá melhor à luz do contexto.
Portanto: serás expulso dentre os h om en s; tu a m orad a será
com os anim ais do cam p o; e também: far-te-ão exp erim en tar
290
21a EXPOSIÇÃO [4.28-32]
291
[4.28-32] DANIEL
292
21a EXPOSIÇÃO [4.33]
293
[4.33, 34] DANIEL
294
21a EXPOSIÇÃO [4.34]
295
22a
^xposição
172 M g ., Is 9 .1 3 .
296
22a EXPOSIÇÃO
297
[4.35] DANIEL
298
22a EXPOSIÇÃO |4.35]
‘com pletar’; às vezes significa também ‘consum ir’; por isso, crêem
que a palavra é tirada - que os homens são considerados dc confor
midade com sua medida, mas que Deus é imensurável. N o entan
to, isso é grave. A opinião mais aceita é que il, he, é aqui expressa
no lugar dc K,nlcph\ de maneira que Nabucodonosor está dizendo
que os homens são reputados em nada; isto é, perante Deus. Agora
percebemos o quanto as duas cláusulas se completam - Deus é o rei
eternal; todavia, os homens não são nada. Pois se alguma coisa lhes
é atribuída em separado, é, na mesma extensão, tomada pelo poder
e reino supremos de Deus. Logo, segue-se que a vontade infalível
dc Deus não será mantida até que todos os mortais tenham sido
reduzidos a nada. Ainda que os homens se façam importantes,
Nabucodonosor aqui declara, pela ação do Espírito, que eles são
nada - isto é, diante de Deus. A única razão pela qual tão altaneira
mente se exaltam é porque são ccgos mergulhados em sua própria
escuridão. Contudo, quando são arrastados à luz, sentem sua pró
pria oòôéi/tiav [oudeneian]-, ou seja, que são simplesmente ‘nada’.
Entretanto, o que quer que sejamos, depende da graça dc Deus, a
qual minuto após m inuto nos sustenta e acresce novas forças. As
sim, nossa parte é não fazer outra coisa senão subsistir cm Deus.
Pois, no mesmo instante cm que ele retirar sua mão c o poder de
seu Espírito, desapareceremos. Portanto, somos alguma coisa - mas
em Deus. Em nós mesmos não somos nada.
Então prossegue: D eu s opera segu ndo sua vontade com a
h oste do céu e os m orad ores da terra. Pode parecer absurdo
dizer que Deus age de acordo com sua vontade, com o se não hou
vesse nele nenhuma moderação nem justiça nem norma de retidão.
No entanto, devemos ter em mente o que já disse noutra instância,
que os homens são governados por leis porque sua vontade é per
vertida c exercida sem moderação, aqui ou acolá, por meio dc seus
desejos. Todavia, Deus é lei para si mesmo, porque sua vontade é
justiça mais que perfeita. Assim, até onde as Escrituras põem dian
te dc nós o poder divino c ordena que nos contentem os com ele,
não está atribuindo a Deus um reinado tirânico, com o dizem calu-
299
[4.35] DANIEL
300
22a EXPOSIÇÃO [4.35]
301
[4.35] DANIEL
302
22a EXPOSIÇÃO [4.35, 36]
‘ M g., SI 113 .7 .
303
[4.36, 37] DANIEL
304
22a EXPOSIÇÃO [4.37]
305
[4.37] DANIEL
306
22a EXPOSIÇÃO [4.37]
307
DANIEL
308
23a
Exposição
(Zafiítiilo 5
1 O rei Bclsazar deu um grande ban- 1 Beltsazar rcx fccit convivium mag-
quete a mil de seus nobres, c bebeu num proceribus suis millc, et coram
vinho na presença dos mil. millc vinum bibit.
309
[5.1] DANIEL
310
23a EXPOSIÇÃO [5.1]
311
[5.1] DANIEL
180 C.yropaedia 7 :5 :1 5 .
1,1 Cym paedia 4 :6 :2 - 7 ; 5 :2 :2 8 .
312
23a EXPOSIÇÃO [5.1]
313
[ 5 .1 ,2 ) DANIEL
1,4 M g., Jr 2 5 .2 6 .
314
23a EXPOSIÇÃO [5.2]
grandes, suas mulheres e concubinas illis rex, et próceres ejus, uxores et con-
bebessem neles. cubinæ.
315
52
[ . ] DANIEL
316
23a EXPOSIÇÃO [5 .3 ,4 ]
ditam ser reis. Então, o será dos verdadeiros reis quando esquecem
de si próprios e sonham não apenas em ser reis dos reis, mas até
mesmo deuses? Esse, pois, é o vício que o profeta quis indicar quan
do afirmou: Belsazar ordenou na degustação do vinho que os utensílios
lhe fossem trazidos.
E prossegue:
3 Então trouxeram os utensílios dc 3 Tunc attulcrunt vasa aurca quic ex-
ouro, que foram tirados do templo da tulcrant cx templo domus Dei qua: crat
casa dc Deus, que está cm Jcrusalcm. in Jerusalém: et biberunt in illis rcx, et
E o rei bebeu neles, seus grandes, sua próceres cjus, et uxor, et concubina:
mulher c suas concubinas. ipisus.
4 Beberam o vinho, c deram louvores 4 Biberunt vinum, et laudarunt deos
aos deuses dc ouro, dc prata, dc bron- aurcos, et argênteos, aircos, ferreos,
zc, dc ferro, de madeira c dc pedra. ligneos, et lapideos.
'M g ., H c 1.16.
317
[5 .3 ,4 ] DANIEL
318
23a EXPOSIÇÃO [5.4, 5]
319
55
[ . ] DANIEL
Pois é certo que não era a mão de hom em ; mas porque tinha a
forma desta, ele assim a chamou. E as Escrituras freqüentemente
usam essa forma de expressão, especialmente quando se referem à
sím bolos exteriores. Portanto, esta é, por assim dizer, uma expres
são sacramental. Porquanto Deus mesmo escreveu através de seu
poder; contudo, o rei Belsazar viu a figura de um homem escreven
do na parede.
E su rg iram , portanto, os dedos de um a mão. Ao afirma que
os dedos surgiram, isso confirma sobejam ente a certeza do mila
gre. Pois, se Belsazar não houvera presenciado esse estágio inicial,
poderia haver imaginado que a mão fosse ali posta com o um tru
que. Todavia, visto que antes a parede estivera completamente va
zia, e de repente apareceu uma mão, e facilmente dcduzível que ela
era um emblema celestial pelo qual o Senhor queria mostrar ao rei
algo significativo.
E surgiram os dedos de um a m ão, diz ele, e escreviam de
fro n te do candelabro. Naturalmente, esse banquete foi realizado
à noite; e Babilônia foi capturada no meio da noite. Nem surpreen
de o fato de a festa haver prosseguido por um bom tempo. Pois os
intemperantes não acreditam cm moderação e vivem habituados a
festas luxuriantes. Admito que, geralmente, não festejavam no meio
da noite, mas quando realizavam algum banquete esplendido e sun
tuoso, não criam que a luz do dia fosse suficiente, a menos que
houvessem comido tanto ao ponto de estourar (por assim dizer).
E assim, um a m ão apareceu d efro n te do can d elab ro ; por
tanto, era ainda mais nítido. E , acrescenta o profeta, “a mão escre
via no reboco da parede do palácio”. Se porventura alguém disses
se ao rei que a semelhança de uma mão aparecera, poderia surgir
dúvida; o profeta, porém, afirma que o roi era a própria testem u
nha ocular. Porquanto Deus queria aterrorizá-lo, com o veremos
em breve. Por isso, o Senhor expõe diante dele um espetáculo.
O rei com preendeu; é provável que os nobres não hajam en
tendido. Posteriormente, veremos que somente o rei foi tomado
320
23a EXPOSIÇÃO [5.5]
321
24a
fcxposição
Aqui Daniel mostra que o rei foi dominado pelo medo; nem é
preciso concluir que ele estava aterrorizado sem razão. Usando m ui
tos detalhes, ele expressa que o rei ficou perturbado; c assim fica
fácil de notar que o caso era sério. Pois ele deveria estar tão abatido
ao ponto de todos perceberem que Deus estava, por assim dizer,
em seu trono de juízo e o julgava culpado. Dissemos anteriorm en
te (e Daniel também o mostra) quão presunçosa era a soberba real,
c sua displicência era clara prova de sua culpa. Pois enquanto deve
ria estar cuidando diariamente dos assuntos relacionados ao cerco,
ele celebrava um banquete solene, com o se tudo estivesse na mais
perfeita paz. Disso fica evidente que uma certa intoxicação do espí
rito se apoderara dele, de tal modo que nem mesmo podia sentir
sua maldade. E por essa razão que Deus o desperta; ou, melhor, o
sacode de seu torpor, pois já não podia mais ser levado de volta a
uma mente sadia por um método comum. Entretanto, estar ele em
extremo atemorizado pode parecer um oportuno preparo para o
arrependimento. Todavia, ele nos mostra, em sua pessoa, o que
notamos cm Esaú, o qual não só demonstrou uma certa tristeza
quando sc viu deserdado, mas buscou ainda a bênção de seu pai,
322
24a EXPOSIÇÃO [5.6]
1,0 M g., Gn 2 7 .3 4 .
323
15.6] DANIEL
324
241 EXPOSIÇÃO [5.6, 7]
Ciro, seu genro, entendeu que não alcançara a vitória por interm é
dio de sua própria diligência e poder, nem porque foi auxiliado
pelos dois sátrapas, Gobrias e Gábata, mas porque todo o sucesso
fora realizado pelo poder de Deus. E assim Deus mostra, com o
num espelho, que ele é o Vingador de seu povo, com o havia pro
metido setenta anos atrás.
E prossegue:
7 O rei ordenou cm alta voz que os 7 Clamavit rcx forticr, ut introduccrcn-
magos, os caldeus e os astrólogos fos- tur magi, Chaldxi, et astrologi, et lo-
sem trazidos; c o rei falou c disse aos quutus est rcx, ct dixit sapientibus Ba-
sábios de Babilônia: Qualquer que ler bylonis, Quisquis legerit scripturam
esta escritura c mc declarar sua inter- hanc, ct interpretationem cjus indica-
pretação, será vestido dc púrpura c tra- verit mihi, purpura vestietur, ct torques
rá uma corrente dc ouro cm seu pesco- cx auro, boc est, atireus, super collum
ço, c reinará como o terceiro no reino. cjus, ct tertius in regno dominabitur.
325
[5.7] DANIEL
1,1 D e origem desconhecida, encontrado no livro Ship o f Fools (Navio dc tolos) de Sebas
tian Brant (1 4 9 4 ), Lurcro (exemplo dado, Werke [Weimarer Ausgabe], vol. 2 9 , p. 4 0 ), c
na obra Paradoxa de Sebastian Franck (1 5 5 4 ).
326
24a EXPOSIÇÃO [5.7]
327
15.7-9] DANIEL
Aqui Daniel relata que o rei foi ludibriado em sua crença, de
positando suas esperanças nos magos, astrólogos, caldeus e genc-
thliacs para a interpretação da escritura. Nenhum deles foi capaz de
lê-la. Assim, ele sofre cm virtude de sua própria ingratidão, ao con
siderar com o alguém sem valor o profeta de Deus, ainda que sou
besse que o que fora previsto em relação a seu avô tinha se concre-
IM O argumento dc Calvino parccc ser que, se a rainha fosse a mulher de Belsazar, ela
seria a segunda no reino e Daniel então poderia ser o terceiro.
328
24a EXPOSIÇÃO [ 5 .8 ,9 ]
329
[ 5 .8 ,9 ] DANIEL
330
24a EXPOSIÇÃO [5.10, 11]
assombrados; pois não somente o rei, mas toda a corte, teriam que
ser perturbados, para que o relatório de tudo isso ecoasse não só
por toda a cidade, mas também por todas as nações estrangeiras.
Pois não há dúvida de que Ciro, posteriormente, tenha se deixado
instruir por esta profecia. Daniel não teria sido tão favorecido c
tratado com tamanha honra se o caso não fosse conhecido.
E então prossegue:
10 Por causa das palavras do rei c dos 10 Regina propter verba regis et pro-
nobres, a rainha entrou na casa do ban- cerum in domum symposii, ingressa
quete, e falou e disse: O rei, vive para est, loquuta est ct dixit, Rcx, in xter-
sempre! Não permitas que teus pen- num vive: nc terreant te cogitationcs
sarnentos te atemorizem, nem que sc tu x, et vultus tuus nc mutetur.
mude teu semblante.
11 Há um homem cm teu reino, no 11 Est vir in regno tuo, in quo spiri-
qual habita o espírito dos deuses san- tus est deorum sanctorum: ct in dic-
tos; c nos dias de teu pai, nele foram bus patris tui intclligcntia, ct scientia,
encontrados entendimento c erudição ct sapientia quasi sapientia deorum
c sabedoria, como sc fosse a sabedoria reperta est in co: ct Rcx Ncbuchadnc-
dos deuses. E o rei Nabucodonosor, zer pater tuus magistmm niagorum,
teu pai, o constituiu chcfc dos magos, astrologorum, Chalda:orum, aruspi-
astrólogos, caldcus c vaticinadorcs - cum constituit ipsum, pater tuus rcx,
teu pai o rei. inquam.
Aqui Daniel relata que foi trazido perante o rei para ler e inter
pretar a escritura. Ele diz que a rainha foi responsável por isso. Não
há dúvidas quanto à sua identidade - sc ela é a mulher do rei Bclsa-
zar ou sua avó. E provável que fosse uma mulher idosa, que podia
contar sobre os tempos do rei Nabucodonosor. M esm o assim, tal
conjetura talvez não seja suficientemente forte. Prefiro suspender
qualquer juízo aqui do que fazer afirmação imprudente; apesar de
já termos visto que sua mulher estava sentada junto dele.
Todavia, o que podemos inferir com certcza, à luz das palavras
do profeta, precisa ser cuidadosamente avaliado, ou seja, que o rei é
repreendido por sua ingratidão, não admitindo Daniel entre seus
magos, caldcus e astrólogos. E claro que o santo homem não pre
tendia ser contado entre eles, e preferiria merecer que Deus destru
ísse nele o espírito profético do que misturar-se com os im posto
res. Portanto, fica bem claro que cic não estava com eles. O rei
331
[5.10, 11] DANIEL
332
24a EXPOSIÇÃO [5.10, 11]
333
25a
Exposição
334
25a EXPOSIÇÃO [5.12]
335
[5.13-16) DANIEL
Continuemos:
13 Então Daniel foi levado à presença 13 Tunc Daniel adductus est coram
do rei. O rei falou, c disse a Daniel: Es rege: loquutus est rex, et dixit Danie-
tu, Daniel, dentre os filhos dos cati li, Tu ne es illc Daniel, qui, ex fillis cap-
vos de Judá, a quem o rei, meu pai, tivitatis Jchudah, quem abduxit rex pa
trouxe de Judá? ter meus c Jchudah.
1 4 Tenho ouvido dizer a teu respeito, 1 4 Et audivi de te, quod spiritus deo-
que o espírito dos deuses está cm ti, c rum in te, et intclligcntia, et cognitio,
que entendimento, inteligência e exce et sapientia cxcellens, inventa sit in te.
lente sabedoria se acham cm ti.
15 E então os sábios c os arioles fo 15 E t nunc producti sunt coram me
ram trazidos perante mim para lerem sapientes, arioli, qui scripturam hanc
esta escritura c me revelarem sua in legcrcnt, et interpretationem ejus pa-
terpretação; e não puderam dar a in tefacerent mihi: et non potucrunt in
terpretação do enigma. terpretationem sermonis indicarc.
1 6 E ouvi dizer de ti, que podes solu 1 6 Et ego audivi de te, quod possis
cionar casos difíceis e explicar enigmas. nodos solvere, et arcana cxplicarc:
Ora, se puderes ler a escritura c reve- nunc si poteris scripturam legere et
lar-me sua interpretação, serás vestido interpretationem ejus patcfaccre mihi,
de púrpura e terás uma corrente de purpura vestieris, et torques ex auro
ouro ao pescoço, e governarás com o o super collum tuum, et tertius in regno
terceiro no reino. dominaberis.
336
25a EXPOSIÇÃO [5.13-16]
337
[5.16, 17] DANIEL
338
25J EXPOSIÇÃO [5.17]
339
[5.17-20] DANIEL
340
25J EXPOSIÇÃO [5.18-20]
sujeitara o mundo todo sob seus pés, que todos tremiam em sua
presença; e, então, que fora derribado do trono de seu reino - tudo
isso para que ficasse ainda mais claro que Belsazar não pecara por
ignorância; pois deveria ter se comportado com modéstia, manten
do diante dos olhos aquele extraordinário e memorável exemplo de
seu avô. Já que aquela admoestação familiar de nada adiantara, Da
niel mostra que é chegado o tempo de Deus declarar publicamente
sua ira, e isso por meio de um portento aterrorizante. Eis a síntese.
Quanto às palavras, porém, primeiramente ele diz: A o rei N a-
b u co d o n o so r fo i dado, das m ãos de D eu s, o rein o , a m ajesta
de, a grandeza, e o esplendor; com o se estivesse afirmando: “Ele
foi magnificamente adornado a fim de ser o supremo monarca do
mundo inteiro”. Dissemos noutro lugar, e Daniel o reitera em vári
as instâncias, que os reinos não são dados aos homens por acaso,
mas pela divina providência - com o também declara Paulo: “N ão
há poder senão o que vem de Deus”.197 E o Senhor quer que a sua
providência seja contemplada de um modo especial nesses reinos.
Pois ainda que cuide do mundo todo, e no governo da raça huma
na o que parece ser um detalhe m ínim o ainda é governado por sua
mão, todavia sua providência especial brilha através dos reinos deste
mundo. Não obstante, já que tratei deste assunto com mais detalhe
noutra instância, c ainda nos depararemos com esta doutrina mais
vezes, baste-nos um leve toque neste ponto principal, ou seja, que os
reis terrenos são entronizados pela mão de Deus, e não pelo acaso.
E para confirm ar essa doutrina, Daniel acrescenta: p o r causa
da grandeza que D eus lhe co n feriu , to d os os m ortais trem iam
em sua presença. E com estas palavras o profeta tem em mente
que a glória de Deus é gravada nos reis por tanto tem po quanto o
Senhor quiser que reinem. Isso não pode ser descrito com precisão,
mas a realidade demonstra suficientemente que os reis são divina
mente investidos com autoridade a fim de manter em suas mãos e
sob sua vontade uma grande multidão de pessoas. O ra, não há
341
5 18- 20 ]
[ . DANIEL
1911 M g ., Jó 1 2 .1 8 .
342
25a EXPOSIÇÃO [5.18-20]
calam. Pois todos são forçados a aprovar tudo quanto lhes agrade,
ou, pelo menos, ninguém ousa contestar. Já que tamanha é a licen
ciosidade dos reis, aqui Daniel (com o intuito de mostrar que o rei
N abucodonosor fora exaltado, não por m érito de sua própria dili
gência, nem por seus próprios planos e m uito menos por sua pró
pria sorte) diz que fora armado com reinado supremo, e era terrível
para com todos, pois o Senhor lhe havia conferido a insígnia de sua
própria glória. Entrementes, é mister que os reis observem cuida
dosamente o que lhes é lícito e o que Deus lhes permite. Pois,
assim com o possuem o reino, também deveriam considerar que
algum dia terão de prestar contas ao Rei Altíssimo. Desse fato não
deduzimos que os reis são designados por Deus sem qualquer con
dição, de modo que se vêem livres para fazerem o que bem quise
rem; contudo, com o disse, o profeta está falando do poder real. E
já que os reis possuem o poder de vida e/ou m orte, ele afirma que
a vida de todos estava nas mãos do rei Nabucodonosor.
Então acrescenta: quando seu coração exalto u -se, en tão foi
abatid o, ou ‘expulso’, d o tro n o do rein o e o desp ojaram de sua
excelência. Ele prossegue com sua narrativa, pois deseja mostrar
ao rei Belsazar que Deus tolera por algum tempo a insolência daque
les que sc esquecem dele quando obtêm o poder supremo. Assim,
querendo mostrar isso, em seguida afirma: “o rei Nabucodonosor,
teu avô, foi um monarca supremo. Não recebeu o governo nem o
manteve por si mesmo, senão porque o obteve da mão de Deus.
Ora, sua mudança foi extraordinária prova de que o orgulho daque
les que são ingratos a Deus c não reconhecem que estão no governo
cm virtude de seu benefício não pode ser tolerado para sempre”. Por
isso, quando seu coração, diz ele ainda, exaltou-se e seu espírito
fortaleceu-se em soberba, uma mudança repentina ocorrcu. C om
pete a ti e a toda tua posteridade deixar-sc instruir com isso, para
que o orgulho não mais vos engane. Ao contrário, deixa que o
exemplo de teu pai te atinja (com o veremos mais tarde). “Desse
modo esta escritura é posta diante de ti, ó rei, para que possas com
preender que a destruição de tua vida e de teu reino está próxima”.
343
DANIEL
344
26a
^xposição
345
[ 5.211 DANIEL
346
26a EXPOSIÇÃO [5.21]
347
[5 .2 1 ,2 2 ] DANIEL
■w M g., SI 10.6.
J" " M g ., Is 2 8 .1 5 .
348
26a EXPOSIÇÃO (5.22, 23)
349
[5.23, 24] DANIEL
350
26a EXPOSIÇÃO [5.24-28J
dizer que Deus precipitou-se neste castigo. D etém -te para pensares
e considera de quantas maneiras e por quanto tempo tens provoca
do sua ira. E no tocante a este último crime, certamente chegaste
ao clímax da incredulidade quando aquela mão te apareccu. Por
isso o Senhor agora está te arrastando rumo ao castigo cm tempo
hábil ou oportuno. Até aqui ele tolerou a ti e a teus crimcs. Depois
de tanta tolerância, o que resta, quando te gabas contra ele com
incrível soberba, a não ser puxar ele o freio? - pois tu és irreversi
velmente sem condição de reforma; não há esperança de correção.
Ele diz ‘dele’ para que Bclsazar não mais pciguntassc donde
veio a mão. D a parte dele, diz o profeta; ou seja, “esta mão é
testemunha da vingança do céu. Não penses que ele constitui al
gum espectro passageiro, mas aprende que Deus revela por inter
médio dessa figura que teus crimcs o desagradaram c que agora
chegaste ao ponto culm inante, o castigo está sazonado e pronto”.
D iz ainda: E tra ço u esta escritu ra ; com o se quisesse dizer que
os olhos do rei Belsazar não se enganaram: esta era a mão dc
D eus; isto é, “enviada da parte dele”, com o infalível testem unha
de sua vingança.
Em seguida ele acrescenta:
2 5 E esta, pois, c a escritura que sc 2 5 Et base est scriptura qua: n o ta ta « f,
traçou: M e n e , M e n e , T e k e l , U p h a r - M e n e , M e n e , numeratum est, nume-
sin . ratum est, T e k e l , appcnsum est,
U p h a r s in , e t d iv id en tes.
2 6 Eis a interpretação da escrita: 2 6 Hasc interpretado est sermonis:
M e n e , Deus contou c cumpriu [termi- M e n e , numeravit Deus regnum tuum
nou] teu reino. et complevit.
2 7 T e k e l , foste pesado em balança c 2 7 T e k f .l , appende, vel, appensum esty
achado em falta. appensus es in trutina, et inventus es
dcílcicns.
2 8 P e r e s , teu rein o c d iv id id o c d a d o 2 8 P f.r e s pro upharsin, d ivisu m est reg-
aos m ed o s e aos persas. nu m tu u m , e t d a tu m M ed is e t p ersis.
351
15.25-28] DANIEL
ser dito acerca dos magos e arioles. Pois poderiam ter lido a escritu
ra se não fossem cegados por Deus.
Portanto, cm primeiro lugar, Daniel recita as quatro palavras,
M en e, M en e, Tekel, U ph arsin . Em seguida fornece a interpreta
ção. U m vocábulo, M ene, c traçado duas vezes. Alguns fazem dis
tinção, dizendo que os anos da vida do rei foram contados, e de
pois o tempo de seu reinado. Todavia, isso não me parece suficien
tem ente sólido. Creio que a palavra foi traçada duas vezes à guisa
de ênfase; com o se o profeta estivesse dizendo que o número já
havia sido completado. Porquanto os deslizes célere se acumulam,
conform e afirma o ditado comum. Portanto, para que o rei Belsa-
zar compreendesse que tanto sua própria vida quanto seu reino
chegaram ao fim, o Senhor confirma que o número está com pleto;
com o se dissesse que nem sequer um segundo de tem po se poderia
acrescentar ao fim predeterminado. E é assim que o próprio Daniel
interpreta a seqüência: D eus co n to u teu rein o, diz ele; ou seja,
Deus determinou c definiu um fim para teu reino. Portanto, é ne
cessário que aceites o fim; e teu tempo esgotou-se.
Ainda que o Senhor aqui se dirija a um rei em particular, e
embora ponha diante de seus olhos a escritura, podemos deduzir
uma doutrina geral do evento: Deus prefixa um tempo definido
para todos os reinos. As Escrituras também declaram o mesmo
sobre a vida de cada um de nós.201 Sc o Senhor prescreve os dias
para cada indivíduo, certamente essa atitude é ainda mais pertinen
te cm relação a todos os impérios, pois sua existência é ainda mais
notável. Por conseguinte, saibamos nós que não só os reis vivem c
morrem segundo a vontade de Deus, mas também seus reinos são
transformados (com o dissemos antes) c são por ele estabelecidos
de maneira tal que ele mesmo prescreve infalivelmente seu fim.
Deveríamos buscar consolo neste fato sempre que virmos os tira
nos seguindo em frente desesperadamente, sem qualquer m odera
ção em sua licenciosidade c selvagcria. Sempre que se excederem,
352
26a EXPOSIÇÃO [5.25-28]
353
[5.25-28] DANIEL
354
26a EXPOSIÇÃO [5.29]
Então prossegue:
2 9 Então Belsazar ordenou c vestiram 2 9 Tunc jussit Beltsazar, et vcsticrunt
a Daniel de púrpura, e puseram uma Danielcm purpura, et torques aurcus
corrente de ouro em seu pescoço. E super collum cjus: et clamabant coram
proclamaram que passaria a ser o ter- ipso quod dominaretur tertius in reg-
ceiro no governo de seu reino. no.
355
DANIEL
356
a 2 1
^xposição
3 0 Naquela mesma noite o rei dos cal- 3 0 In illa nocte occisus fitit Beltsazar
deus foi morto. rcx Chaldasorum.
31 E Dario, o medo, recebeu o reino, 3 1 E t Darius thc Medus accepit reg-
quando contava com sessenta c dois num, cum natus esset annos sexaginta
anos de idade. et duos.
1Xenofonte, C yropaciiia 7 :5 :2 4 -3 2 .
357
[5 .3 0 ,3 1 ] DANIEL
2IMCyropncdia 8:5:19-20.
358
27’ EXPOSIÇÃO [ 6 .1 ,2 ]
Babilônia.205 Pois seu sogro-tio lhe pedira que lhe trouxesse refor
ços quando se viu cm desigualdade com os babilônios e assírios.
Seja com o for, o que o profeta aqui relata não é inconsistente: Da-
rio, o rei dos medos, manteve o domínio, porque Ciro, a despeito
de ser mais forte e superior, lhe permitiu ser o rei de Babilônia
com o que uma espécie de arrendamento. E assim ele reinava sobre
os caldeus apenas em título.
E prossegue:
dajiíUíúo 6
1 Pareceu bem a Dario constituir so- 1 Placuit coram Dario, et praefccit su-
bre o reino cento c vinte governado- per regnum prassides provinciarum
res das províncias, que estivessem por ccntum et viginti, qui essent in toto
todo o reino; regno.
2 E sobre eles três sátrapas, dos quais 2 Et super illos essent, atquc ut essent
Daniel era um, c aos quais os gover- super eos, satrapx tres, quorum Daniel
nadores das províncias deveriam pres- unus esset: et ut pra:sides provinciarum
tar contas, para que o rei não sofresse illis rcddcrent rationem : et rex non
dano. paterctur damnum.
359
[6.1-3] DANIEL
360
27* EXPOSIÇÃO [6.3-5]
361
[6.3-5] DANIEL
362
27a EXPOSIÇÃO |6.3-5]
363
[6.3-5] DANIEL
364
27a EXPOSIÇÃO [ 6 .5 ,6 ]
365
[ 6 .6 ,7 ] DANIEL
366
2 7 1 EXPOSIÇÃO [6.6, 7]
367
28a
Exposição
368
28a EXPOSIÇÃO [6 .8 ,9 ]
369
[6.8-10] DANIEL
370
28a EXPOSIÇÃO [6.10]
371
[6.10] DANIEL
grande era o desejo dos nobres que, para destruir Daniel, busca
ram, ate as últimas conseqüências, livrar-se de toda devoção, ten
tando arrancar o próprio Senhor Deus do céu. Pois o que resta
quando os homens crêem ser capazes de sobreviver sem a ajuda
divina e displicentemente esquecem-se de Deus? Sabem os que, se
ele não nos segurasse por seu poder a todo instante, seríamos redu
zidos a nada. E assim, quando o rei proibiu que se fizesse alguma
oração durante um mês, seu intuito era, com o eu disse antes, exigir
que todos os indivíduos negassem a Deus. Por tal motivo, Daniel
não podia obedecer ao decreto sem injuriar gravemente ao Senhor
e sem distanciar-se de sua prática religiosa; pois, com o afirmei, este
é o principal sacrifício requerido por Deus. Portanto, não surpre
ende que Daniel houvesse destemidamente desrespeitado tão sacrí
lego edito.
Ora, no tocante à profissão religiosa, também se fez necessário
que ele testificasse perante os homens que se mantinha firme no
serviço cúltico do Senhor. Porque, se mudasse qualquer coisa em
seus hábitos, isso constituiria uma indireta abjuração. Ele não teria
dito abertamente que desprezava a Deus em virtude da ordem de
D ario, mas a simples mudança teria sido um sinal de traiçoeira
apostasia. E sabemos que Deus demanda não apenas fé no coração
e afeição íntima, mas também o testemunho e a confissão de nossa
piedade. Se Daniel não quisesse ser considerado o mais infame dos
apóstatas, então teria que manter-se firme na santa prática segundo
seu costume.
Não obstante, ele se acostumara a orar a Deus com suas janelas
abertas. Ele se mantém em sua trajetória para que ninguém o b je
tasse dizendo que ele se pusera temporariamente a agradar a um rei
terreno e a degradar a adoração devida a Deus. Ah, se nos dias de
hoje esta doutrina estivesse gravada nos corações de todos com o
deveria! Não obstante, muitos riem do exemplo do profeta; aliás,
não abertamente, mas fica em plena evidência que, para eles, D ani
el revelou-se muito ingênuo e inconseqüente, enfrentando o peri
go desnecessariamente ou a troco de nada. Pois dessa form a sepa-
372
28a EXPOSIÇÃO [6.10]
373
[6.10] DANIEL
374
28a EXPOSIÇÃO [6.10]
375
[6.10, 11] DANIEL
2,18 M g., Fp 4 .6 .
376
28a EXPOSIÇÃO [6.11]
3 77
[6.12] DANIEL
378
28a EXPOSIÇÃO
379
29a
Exposição
y
/ ( _ / calúnia sobre ele lançada perante o rei Dario. Os nobres do
V_ _ reino, com o dissemos, atacaram o rei com sagacidade. Se
houvessem feito de Daniel seu ponto de parrida, o rei poderia ter-
lhes interrompido abruptamente. Com eçam, porém, falando dos
editos reais. Mostram quão perigoso seria se a autoridade de todos
os decretos reais não fosse sólida. E notamos que, com esse subter
fúgio, eles conseguiram o que almejavam. Com isso, o rei confirma
o que disseram, ou seja, que seria grave erro se o que fora promul
gado cm nome do rei se tornasse ineficaz. Pois os reis se deleitam
em sua importância pessoal c procuram fazer com que tudo o que
lhes é aprazível seja considerado um oráculo. O edito de Dario,
proibindo orações dirigidas a Deus, era algo impiedoso c detestá
vel. Todavia, ele ainda queria que o decreto permanecesse inviolá
vel; pois, do contrário, sua majestade estaria minada entre seus sú
ditos. Entretanto, ele não vê as conseqüências. E assim somos ensi
nados, por esse exemplo, que não há virtude mais rara nos reis do
que a moderação; não obstante, nenhuma se fazia mais necessária.
Pois, quanto maior a liberdade, mais cuidado deveriam ter tomado
em soltar as rédeas de seus desejos. Seu pensamento, porém, é que
qualquer desejo seu seria lícito.
E prossegue:
13 Então falaram c disseram diante do 13 Tunc loquuti sunt, et dixerunt co-
380
29* EXPOSIÇÃO [6.13]
rei, esse Daniel, que e dos filhos dos ram rege: Daniel, qui est cx filiis capti-
cativos de Judá, não prestou atenção vitatis Jehudah, non posuit super te,
em ti, ó rei, nem no interdito que se- rex, sensum, neque ad cdictum quod
laste; e três vezes ao dia faz sua peti- obsignasti: et vicibus tribus in die pre-
çáo. catur petitionem suam.
381
[6.13-15] DANIEL
382
291 EXPOSIÇÃO [6.14, 15]
383
[6.15, 16] DANIEL
384
29a EXPOSIÇÃO [6.16]
385
[6.16] DANIEL
386
29a EXPOSIÇÃO [6.16, 17]
vontade. Não obstante, ele não o serve nem permite que outros o
sirvam. Pois, até onde isso lhe era possível, destituiu o Senhor de
seus direitos. E assim, a despeito de aqui atribuir a Deus o poder de
livramento, ele não o faz de coração. Mesmo que o fizesse, sua impi
edade é pior ainda, privando de seus direitos Àquele que crê ser o
verdadeiro c único Deus, Aquele que é dotado de poder supremo; e
não passando ele de cinzas e pó, ousa colocar-se no lugar dele.
E assim prossegue:
17 E uma pedra foi trazida c posta 1 7 Ed adduetus fuit lapis unus ct po-
sobre a boca da cova; sclou-a o rei com situs super os spcluncx: ct obsignavit
seu anel, c com o anel de seus nobres, cum rcxannulo suo et annulo proce-
para que nada se mudasse a respeito rum suorum, ne mutarctur placitum
de Daniel. in Danicle.
387
[6.17] DANIEL
388
29a EXPOSIÇÃO [6.17, 18]
389
[6.18-20] DANIEL
390
29a EXPOSIÇÃO [6 .1 9 ,2 0 ]
meza; ou seja, quando vai à cova. Anteriorm ente, ele ficara tão
assustado que dera causa ganha aos nobres e esqueceu-se de sua
dignidade real, com o se houvera com eles se com prom etido com o
um escravo. Agora, porem, não teme sua inveja ou suas vis pala
vras. Portanto, veio cedo à cova dos leões, afirma ele, com os
prim eiros raios de luz; isto e, antes que o sol surgisse no horizon
te, um pouco antes da alva; veio à cova, e apressadam ente. E
assim vemos que ele estava possuído de uma dor amarga, a qual
superou a todos os seus medos anteriores. Pois é possível que ainda
estivesse amedrontado e naturalmente não se esquecera da terrível
ameaça: “Tu não possuirás mais poder, a menos que te vingues de
tamanho insulto contra teu decreto”. Não obstante, com o já disse,
a angústia superou o medo. E ainda assim nos sentimos im possibi
litados de exaltar qualquer piedade nesse hom em , ou mesmo al
gum vislumbre de humanidade; porque, em bora viesse à cova c
chamasse por Daniel com lastimosa voz, ele não indignou-se con
tra os nobres enquanto não veio ver se o servo de Deus fora preser
vado com vida. Só então concebeu um novo espírito, com o vere
mos. Entretanto, ele ainda persiste em sua pusilanimidade e se en
contra, por assim dizer, naquele grau mediano entre os perversos
polemistas c os sinceros servos do Senhor que, munidos de justo
afeto, seguem o que acham ser direito.
391
30ü
Exposição
J " M g., Is 4 2 .8 .
392
30a EXPOSIÇÃO
212 C f., SI 9 7 .1 , 7.
393
[6.21, 22] DANIEL
co Deus, mas foi dominado por um temor cego que, querendo ele
ou não, o compeliu a tributar ao Deus de Israel a mais elevada honra.
Não obstante, essa não foi uma confissão espontânea, e, sim, forçada.
Ele prossegue:
2 1 Então Daniel falou ao rei: O rei, 2 1 Tunc Daniel cum rege loquutus est,
vive para sempre. rex, in eternum vive.
2 2 Meu Deus enviou seu anjo c fechou 2 2 Deus meus misit angclum suum,
a boca aos leões, c eles não me fizeram et conclusit os leonum, et non nocue-
dano algum, porque diante dele achou- runt mihi: quoniam coram ipso inno-
se inocência cm mim; e também dian- ccntia, inventa est in me: atque atiam
te de ti, ó rei, não cometi delito algum. coram te, rex, pravitatem non commisi.
394
30-' EXPOSIÇÃO [6 .2 1 ,2 2 ]
395
[6.21, 22) DANIEL
396
30 a EXPOSIÇÃO [6.21, 22]
397
[6.21, 22] DANIEL
então ele não admire isso honestamente? E ainda, por que insiste
que não havia pecado contra o rei? Simplesmente porque ele se
conduzira com fidelidade cm todas as suas obrigações devidas à
justiça; e por isso podia isentar-se da calúnia, a qual bem sabia lhe
haver sido imputada, de haver desprezado a autoridade real. Por
quanto Daniel não estava tão ligado ao rei dos persas que o Senhor
não pudesse reivindicar para si o que não lhe podia ser tirado. Sa
bemos que os impérios terrenos são estabelecidos por Deus, po
rém com a condição que não se detraia dele nada, e que só ele seja
supremo, e assim todos os governantes e os grandes do mundo se
vêem forçados, cm suas posições, a submeter-se a sua glória. Por
tanto, já que Daniel não podia obedecer ao edito real sem renegar a
Deus, com o vimos anteriormente, ele não com etia pecado contra
o rei quando firmemente continuou sua costumeira e pia prática da
oração, oferecida ao Senhor três vezes ao dia.
E para que isso se torne ainda mais claro, devemos lembrar-
nos das palavras de Pedro: “Temei a Deus, honrai ao rei”.214 Essas
duas coisas estão entrelaçadas e não podem separar-se uma da ou
tra. Desse modo, o tem or do Senhor deve vir primeiro, se é que os
reis desejam manter sua autoridade. Pois se alguém se esquece de
Deus e passa a reverenciar príncipes terrenos, o mesmo se põe a
andar de costas para frente, pervertendo toda a ordem da natureza.
Portanto, em primeiro lugar, que Deus seja temido; os príncipes
terrenos manterão sua autoridade, mas de forma tal que Deus seja
sempre supremo, com o já disse antes.
Daniel, pois, aqui corretamente se defende, dizendo que ele
não havia co m etid o falta algum a perante o rei - precisamente
porque fora compelido a obedecer à lei de Deus, desconsiderou o
que o rei ordenara cm contrário. Pois os príncipes terrenos abdi
cam de seu poder quando se levantam contra Deus - pior ainda,
são indignos de ser tidos no número dos homens. Em vez de o be
decê-los quando se mostram tão insolentes ao ponto de quererem
398
30a EXPOSIÇÃO [6.23]
399
6 23]
[ . DANIEL
400
30a EXPOSIÇÃO [6.23]
401
[6.23, 24] DANIEL
2111 M g ., Dn 3 .1 7 -1 8 .
119 M g ., Vp 1.21.
402
30a EXPOSIÇÃO [6.24]
403
31a
Exposição
4 04
31a EXPOSIÇÃO [6.25-27]
405
[6.25-27] DANIEL
406
31a EXPOSIÇÃO [6.25-27]
407
[6.25-27] DANIEL
408
31a EXPOSIÇÃO [6.25-27]
409
[6.25-27] DANIEL
410
31a EXPOSIÇÃO [6.25-27]
411
[6.25-27] DANIEL
seu Pai; porque está atento às orações; porque perdoa quando pe
cam. A não ser que a esperança de libertação tenha com o funda
m ento a livre adoção e misericcSrdia de Deus, certamente resultará
em conhecim ento e eficiência parciais. Dario não fala aqui com o se
fora instruído verdadeira e corretamente sobre a misericórdia divi
na, mas simplesmente afirma que ele é o libertador daqueles que
lhe pertencem. Ele corretamente deduz que o Senhor é o liberta
dor, pois salvou a D aniel das garras dos leões; isto é, “do poder
e da fúria dos leões”. Dario raciocina corretam ente, quando à luz
de tal exemplo deduz a doutrina de forma mais plena, ou seja, que
está no poder de Deus salvar c resgatar seu próprio povo tantas
vezes quantas lhe aprouver. Mas, ainda assim, em bora reconheça o
poder visível do Senhor, num ato, a causa principal lhe escapa, ou
seja, que Deus abraçara Daniel, assim com o fez com outros filhos
de Abraão, e o salvou em virtude de seu favor paterno.
Daí, para que esta doutrina nos seja útil e toque eficazmente
nossas mentes - que Deus é o libertador - , devemos cm primeiro
lugar decidir que somos recebidos em sua graça sob os termos de
que ele nos perdoa e não trata conosco segundo merecemos, mas
nos trata amavelmente, com o se fôssemos crianças, em consonân
cia com sua imensurável bondade. Que tenhamos isso em mente.
Finalmente, ele afirma que dá sinais e m aravilhas n o céu e
na terra. Isso deve ser uma referência a seu reinado e dom ínio, os
quais foram mencionados anteriormente. Dario, porém, continua
insistindo no atual espetáculo. Ele percebe que Daniel conservado
incólume junto dos leões; assistira a todos os demais serem despe
daçados; constituindo-se estas em manifestas provas do poder de
Deus. Corretamente, pois, ele diz que [Deus] dá milagres c sinais.
Mas não há dúvida alguma de que Dario também tinha se inteira
do dos outros sinais que foram feitos antes que ele se apoderasse da
monarquia. Indubitavelmente, o rei ouvira falar de tudo o que su
cedera aos reis Nabucodonosor e Belsazar; o último, a quem o pró
prio D ario assassinara para ocupar seu reino. Assim, ele coleciona
vários testemunhos do poder de Deus, juntamente com a forma
412
31a EXPOSIÇÃO 6 28 ]
[ .
413
6 28 ]
[ . DANIEL
414
31a EXPOSIÇÃO [6.28]
415
DANIEL
416
/
Indice onomástico
417
DANIEL
418
ÍN DICE ONOMÁSTICO
419
/
(Jndice de referências
bí£>ficas
421
DANIEL
Zacarias 2 Coríntios
3 .9 (1 5 6 ) 2 .1 6 (3 0 )
422
/
D’ m in n - hartummin ( 8 8 ) UW p - kesot ( 3 0 5 )
D 'm o 31 - r a b tabbahim ( 106 )
ÜVÜ - teem ( 105 , 3 16 )
m u - tabah ( 105 ) iO 'n u ; -sebiba ( 2 1 4 )
-seleb ( 2 3 9 )
nD - coab ( 5 0 ) nV?U; - saluah ( 2 4 0 )
- kala (kela) ( 2 9 8 )
□'HÜD - casdim ( 8 9 ) ■ppn - tekel ( 3 3 0 )
ib n n - mehallech ( 2 8 4 )
CTDTOtt -mecasphim ( 8 8 )
ib n - malacb ( 2 7 5 )
'jbü - tnilcbi ( 2 7 5 )
n rfrn - milletlmb ( 9 2 )
423
DANIEL
Palavras Gregas
caiTOKpátojp (298)
6ai(ióina (84)
fK ôióç íotiu õ^ap (85)
(tela (84)
Scóneunta (84)
HauTiKií (83)
oúôíveLav (299)
ou(iTió0íia (266)
424
DANIEL
Declaração de João Caívino:
SR. Pauakletos