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Os fármacos sedativo-hipnóticos mais antigos têm sobre o SNC uma ação depressora dependente da
dose, produzindo progressivamente sedação, sono, inconsciência, anestesia cirúrgica, coma e, finalmente,
depressão fatal da respiração e da regulação cardiovascular.
Um fármaco sedativo diminui a atividade, modera a ex-citação e acalma quem o recebe, ao passo que um
fármaco hipnótico produz sonolência e facilita o início e a manutenção de um sono que lembra o sono natural em
suas características eletroencefalográfïcas e do qual o indivíduo pode ser facilmente acordado.
Os sedativo-hipnóticos não-benzodiazepínicos pertencem a um grupo de agentes com ação
depressora dose-dependente sobre o SNC que progressivamente produzem acalmia ou sonolência
(sedação), sono (hipnose farmacológica), inconsciência, coma, anestesia cirúrgica e depressão fatal da
respiração e da regulação cardiovascular.
Benzodiazepínicos
Propriedades farmacológicas:
Quase todos os efeitos dos benzodiazepínicos resultam de suas ações sobre o SNC. Os mais
proeminentes desses efeitos são a sedação, a hipnose, a redução da ansiedade, o relaxamento muscular, a
amnésia anterógrada e a atividade anticonvulsivante. Apenas dois dos efeitos desses fármacos resultam de
ações periféricas: a vasodilatação coronária, observada após administração intravenosa de doses
terapêuticas de certos benzodiazepínicos, e o bloqueio neuromuscular que se observa apenas com doses
muito altas.
Exercem a maior parte dos seus efeitos interagindo com receptor de neurotransmissores inibitórios
ativados diretamente por GABA, que podem ser divididos em dois subtipos principais: GABA A e GABAB. Os
receptores ionotrópicos GABA A, local de ação dos benzodiazepínicos, são responsáveis pela maior parte da
neurotransmissão inibitória no SNC.
Os benzodiazepínicos não ativam os receptores GABA A diretamente, mas, em vez, requerem GABA
para expressar seus resultados, isto é, apenas modulam os efeitos do GABA.
Os benzodiazepínicos e os compostos a eles relacionados podem agir como agonistas, antagonistas
ou agonistas inversos no local de ligação sobre os receptores GABA A. Um desses antagonistas, o flumazenil,
é usado clinicamente para reverter os efeitos de altas doses de benzodiazepínicos. Os resultados
comportamentais e eletrofisiológicos dos benzodiazepínicos também podem ser reduzidos ou prevenidos pelo
tratamento prévio com antagonistas do local de ligação do GABA (p. ex., bicuculina).
A intensificação pelos benzodiazepínicos das correntes de cloreto induzidas por GABA resulta
principalmente de um aumento na freqüência dos surtos de abertura do canal de cloreto produzidos por
quantidades submáximas de GABA.
Respiração:
Doses hipnóticas de benzodiazepínicos não têm efeitos sobre a respiração em indivíduos normais,
mas deve-se ter especial cuidado no tratamento de e indivíduos com comprometimento da função hepática.
Em doses mais altas, como as usadas para medicação pré-anestésica a para endoscopia, os
benzodiazepínicos deprimem levemente a ventilação alveolar e causam acidose respiratória como
conseqüência do estímulo hipóxico. Esses efeitos se exageram em pacientes com DPOC. Eles podem causar
apnéia durante a anestesia ou quando dados com opióides. Pacientes gravemente intoxicados por
benzodiazepínicos requerem assistência respiratória apenas quando ingerirem um outro fármaco depressor
do SNC, mais comumente o etanol.
Doses hipnóticas de benzodiazepínicos podem piorar as desordens respiratórias relacionadas o sono,
por afetarem de forma adversa o controle sobre' músculos das vias respiratórias superiores, ou por
diminuírem a resposta ventilatória ao CO 2. Isso pode causar hipoventilação e hipoxemia em alguns pacientes
com DPOC grave. Em pacientes com apnéia obstrutiva do sono (AOS), doses hipnóticas de
benzodiazepínicos podem diminuir o tônus muscular das vias respiratórias superiores e exagerar o impacto
dos episódios apnéicos sobre a hipóxia alveolar, a hipertensão pulmonar e a carga ventricular cardíaca.
Sistema cardiovascular:
Os efeitos cardiovasculares dos benzodiazepínicos não têm importância em indivíduos normais,
exceto na intoxicação grave. Em doses pré-anestésicas, todos os benzodiazepínicos diminuem a pressão
sanguínea e aumentam a freqüência cardíaca. Com o midazolan, os efeitos parecem estar relacionados com uma
da resistência periférica, mas com o diazepam eles são secundários a um decréscimo no trabalho ventricular
e no débito cardíaco.
Trato gastrintestinal:
Eles protegem parcialmente contra as úlceras de estresse em ratos, e o diazepam diminui
notavelmente a secreção gástrica noturna em seres humanos.
Farmacocinética
Há uma rápida captação dos benzodiazepínicos para o interior do cérebro e de outros órgãos
altamente perfundidos após a administração intravenosa (ou a administração oral de um composto
rapidamente absorvido); seguida por uma fase de redistribuição para o interior dos tecidos menos bem
perfundidos, especialmente os músculos e a gordura. As cinéticas de redistribuição do diazepam e de outros
benzodiazepínicos lipofílicos tornam-se mais complexas pela existência de circulação êntero-hepática. Os
volumes de distribuição dos benzodiazepínicos são grandes e em muitos casos maiores nos pacientes
idosos. Esses fármacos cruzam a barreira placentária e são secretados no leite materno.
Os benzodiazepínicos são extensamente metabolizados por enzimas do citocromo P450,
particularmente CYP3A4 e CYP2C19. Eritromicina, claritromicina, ritonavir, itraconazol, cetoconazol,
nefazodona e suco de pomelo são inibidores da CYP3A4 e podem afetar o metabolismo dos
benzodiazepínicos. A duração da ação de muitos benzodiazepínicos tem pouca relação com a meia-vida de
eliminação do fármaco administrado. A taxa de biotransformação de agentes inativados pela reação inicial é
um importante determinante da duração da sua ação.
Como os benzodiazepínicos aparentemente não induzem de modo significativo a síntese de enzimas
do citocromo P450, a sua administração crônica em geral não resulta em aceleração do metabolismo de
outras substâncias ou dos próprios benzodiazepínicos. A cimetidina e os contraceptivos orais inibem a N-
desalquilação e 3-hidroxilação dos benzodiazepínicos. O etanol, a isoniazida e a fenitoína são menos
eficazes a respeito. Nos pacientes idosos e naqueles com doença hepática crônica essas reações são
habitualmente reduzidas em maior extensão do que as que envolvem conjugação.
Usos Terapêuticos
Efeitos Adversos
No pico, é previsível que doses hipnóticas causem graus variáveis de delírio, lassidão, aumento dos
tempos de reação, incoordenação motora, comprometimento das funções mentais e motoras, confusão e
amnésia retrógrada. A cognição parece ser menos afetada que o desempenho motor. Todos esses efeitos
podem comprometer grandemente a capacidade de dirigir veículos e outras habilidades psicomotoras,
especialmente quando combinados aos do etanol. Quando o fármaco é dado na hora de dormir, a
persistência desses resultados durante as horas que se seguem ao despertar é considerada um efeito
adverso. Esses efeitos residuais, relacionados com a dose, podem ter caráter insidioso, porque a maior parte
dos indivíduos subestima o grau de seu comprometimento. Pode ocorrer também sonolência diurna residual,
mesmo que um tratamento farmacológico bem-sucedido possa reduzir a sonolência diurna resultante da
insônia crônica. A intensidade e a incidência de toxicidade para o SNC geralmente aumentam com a idade;
estão ao mesmo tempo envolvidos fatores farmacocinéticos e farmacodinâmicos .
Outros efeitos colaterais relativamente comuns são fraqueza, dor de cabeça, visão borrada, vertigem,
náuseas e vômitos, desconforto epigástrico e diarréia; mais raras, dores articulares, torácicas e incontinência.
Às vezes, os benzodiazepínicos aumentam a freqüência de convulsões em pacientes com epilepsia.
Estão incluídos nessa classe a zolpicona, o zolpidém, a zaleplona e indiplona. Admite-se que a sua
eficácia terapêutica se deva a efeitos agonistas sobre os locais dos benzodiazepínicos no receptor GABA A.
A zaleplona e o zolpidém são eficazes em aliviar a insônia motivada pela incapacidade de conciliar o
sono. Têm eficácia hipnótica prolongada, sem ocorrência de insônia de rebote na interrupção súbita. Têm
graus similares de eficácia. O zolpidém uma meia-vida de cerca de 2 h, suficiente para cobrir a maior parte de
um período típico de 8 h de sono e é atualmente voltado apenas para uso ao deitar. A zaleplona tem meia-
mais curta, de cerca de l h, o que oferece a possibilidade de dose segura mais tarde à noite, até 4 h antes da
hora prevista para levantar.
A zaleplona se conecta preferencialmente ao local de ligação dos benzodiazepínicos sobre os
receptores GABAA que contêm subunidades α1.
Embora suas ações se devam a efeitos agonistas sobre os receptores GABA A e geralmente lembrem
às dos benzodiazepínicos, o zolpidém produz apenas efeitos anticonvulsivantes fracos, e suas ações
sedativas relativamente fortes parecem mascarar os efeitos ansiolíticos. Tem pouco efeito sobre os estágios
do sono. É tão eficaz quanto os benzodiazepínicos em diminuir a latência do sono e em prolongar o tempo de
sono total em pacientes com insônia.
Liga-se com alta afinidade a locais específicos sobre o receptor GABA A, onde antagoniza
competitivamente a ligação e os efeitos alostéricos dos benzodiazepínicos e de outros ligandos.
Está disponível apenas para administração intravenosa. As principais indicações para o seu uso são o
tratamento das suspeitas de superdosagem por benzodiazepínicos e a reversão dos efeitos sedativos
produzidos por benzodiazepínicos administrados durante a anestesia geral ou durante procedimentos
diagnósticos e/ou terapêuticos.
Barbitúricos
Exceto por uns poucos usos especializados, foram em grande parte substituídos; por
benzodiazepínicos muito mais seguros.
Propriedades Farmacológicas
SNC
Locais e mecanismo de ação: agem por todo o SNC. A facilitação é reduzida e a inibição habitualmente se intensifica.
O local de inibição é ora pós-sináptico, ou pré-sinápticos A intensificação da inibição ocorre primariamente nas sinapses onde a
neurotransmissão é mediada pela ação do GABA sobre os receptores GABA A. Os mecanismos subjacentes às ações dos
barbitúricos sobre os receptores GABAA parecem ser diferentes dos do GABA ou benzodiazepínicos. Embora os barbitúricos
também intensifiquem a ligação do GABA com os receptores GABAA de modo dependente de cloreto e sensível a picrotoxina,
eles promovem (em vez de deslocar) a ligação dos benzodiazepínicos. Os barbitúricos potencializam as correntes de cloreto
induzidas por GABA, prolongando os períodos durante os quais ocorrem os surtos de abertura do canal. Aumentos induzidos
por barbitúricos na condutância de cloreto não são afetados pela deleção dos resíduos de tirosina e treonina na subunidade β
que governa a sensibilidade dos receptores GABAA à ativação por agonistas. Concentrações subanestésicas de barbitúricos
também podem reduzir despolarizações induzidas por glutamato. Também inibem os receptores excitatórios AMPA. Podem
produzir todos os graus de depressão do SNC, variando desde leve sedação até anestesia geral. Certos barbitúricos
(fenobarbital e o mefobarbital), têm atividade anticonvulsivante seletiva. A sua ação contra a ansiedade é inferior à dos
benzodiazepínicos. Possuem baixo grau de seletividade e pequeno índice terapêutico, não sendo possível obter um efeito
desejado sem sinais de depressão geral do SNC. A percepção e a reação à dor são relativamente poupadas.
Efeitos sobre os estágios do sono: Doses hipnóticas aumentam o tempo de sono total e alteram os estágios do sono
de modo dependente da dose. Diminuem a latência do sono, o número de despertares e as durações REM e de ondas lentas.
Com a repetição da administração, ocorre tolerância. A interrupção leva a aumentos de rebote em todos os parâmetros.
Tolerância: A tolerância aos efeitos sobre o humor, a sedação e hipnose ocorre mais prontamente e é maior que a
tolerância aos efeitos anticonvulsivantes e letais; assim, à medida que ela aumenta, o índice terapêutico diminui. A tolerância
aos barbitúricos confere tolerância a todos os fármacos depressores do SNC, inclusive o etanol.
Uso abusivo e dependência: estão sujeitos ao uso abusivo e alguns indivíduos desenvolvem dependência.
Farmacocinética
Por via oral, absorção rápida e provavelmente completa. O início da ação varia de 10 a 60 min e sofre
retardo pela presença de alimentos no estômago. As injeções intramusculares devem ser feitas profundamente em
músculos grandes, para evitar a dor e a possível necrose de injeções mais superficiais. Há preparações especiais
disponíveis para administração retal. A via intravenosa habitualmente é reservada para o tratamento do estado epiléptico
(fenobarbital sódico) ou para a indução e/ou manutenção de anestesia geral (p. ex., tiopental ou metoexital). Distribuem-
se amplamente e cruzam prontamente a placenta. Os altamente lipossolúveis sofrem redistribuição após a injeção
intravenosa. A captação pêlos tecidos menos vasculares leva a um declínio da concentração no plasma e no cérebro
levando os pacientes a despertarem em 5 a 15 min após a injeção de doses anestésicas habituais. O metabolismo
quase completo e/ou a conjugação no fígado precedem a sua excreção renal que pode ser grandemente aumentada
por diurese osmótica e/ou pela alcalinização da urina. A eliminação metabólica dos barbitúricos é mais rápida em
pessoas jovens do que em idosos e lactentes e as meias-vidas aumentam durante a gestação, em parte por causa da
expansão do volume de distribuição.
Usos terapêuticos
SNC
Fenobarbital e o butabarbital "sedativos" (eficácia questionável) para o tratamento de desordens
gastrintestinais funcionais e asma. Estão incluídos em combinações analgésicas. São usados às vezes para antagonizar
os indesejáveis efeitos estimulantes do SNC de vários fármacos. O fenobarbital ainda é usado para tratar a abstinência
de hipnossedativos.
Os barbitúricos são empregados no tratamento de emergência das convulsões, como as que ocorrem no
tétano, eclâmpsia, estado epiléptico, hemorragia cerebral e envenenamento por convulsivantes; entretanto, os
benzodiazepínicos são superiores para essas finalidades. O diazepam é habitualmente escolhido para o
tratamento de emergência das convulsões.
Agentes de ação ultracurta, como o tiopental e o metoexital, continuam a ser empregados como
anestésicos intravenosos. Barbitúricos de ação curta ou ultracurta são ocasionalmente usados como
adjuvantes com outros agentes, para anestesia obstétrica. Como a avaliação dos efeitos sobre o feto e o
neonato é difícil, torna-se prudente evitar o uso dos barbitúricos nesse contexto. Doses anestésicas de
barbitúricos atenuam o edema cerebral resultante de cirurgias, traumatismo cefálico ou isquemia cerebral e
podem diminuir o tamanho do infarto e aumentar a sobrevida.
Usos visando a interferência sobre o metabolismo hepático: Como os barbitúricos aumentam a
glicuronil transferase hepática e a proteína Y de ligação à bilirrubina, o fenobarbital já foi usado com sucesso
para tratar a hiperbilirrubinemia e o kernicterus no neonato. O fenobarbital pode melhorar o transporte
hepático de bilirrubina em pacientes com icterícia hemolítica.
Efeitos adversos
Pós-efeitos: A sonolência pode durar apenas umas poucas horas após uma dose hipnótica de barbitúricos,
mas a depressão residual do SNC é, às vezes, evidente no dia seguinte; alterações sutis do humor podem ser
demonstráveis, bem como o comprometimento do julgamento e das habilidades motoras finas. Os efeitos residuais
também tomam a forma de vertigens, náuseas, vômitos ou diarréia, ou às vezes podem manifestar-se como franca
excitação.
Excitação paradoxal: Em algumas pessoas, produzem excitação em vez de depressão e o paciente pode
parecer embriagado. Podem causar inquietação, excitação e até mesmo delírio quando ministrados na presença de dor
e podem piorar a percepção da dor.
Hipersensibilidade: Ocorrem reações alérgicas, especialmente em pessoas com asma, urticária, angioedema
ou condições similares. As reações de hipersensibilidade incluem tumefações localizadas, particularmente das
pálpebras, bochechas ou lábios, e dermatite eritematosa. Raramente, dermatite esfoliativa potencialmente fatal. A
erupção cutânea pode associar-se a febre, delírio e notáveis alterações degenerativas do fígado e de outros órgãos
parenquimatosos.
Interações medicamentosas: Combinam-se com outros depressores do SNC para causar grave depressão,
como etanol e anti-histamínicos de primeira geração. Inibem por competição o metabolismo
de certos outros fármacos; entretanto, o maior número de interações medicamentosas resulta da indução das enzimas
do CYP hepáticas e da aceleração da eliminação. O metabolismo das vitaminas D e K se acelera, o que pode
comprometer a mineralização óssea e diminuir a absorção de Ca2+ e responder pelos defeitos de coagulação em
neonatos cujas mães estiveram tomando fenobarbital. A indução de enzimas hepáticas aumenta o metabolismo de
hormônios esteróides endógenos, o que pode causar distúrbios endócrinos; e falha dos contraceptivos orais, o que pode
resultar em gestação indesejada.