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Ao escrevermos, como evitar que escrevamos sobre aquilo que não sabemos ou que sabemos mal? É necessariamente
neste ponto que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade de nosso próprio saber, nesta ponta extrema
que separa a nossa ignorância e que transforma um no outro. (DELEUZE)
Resumo
Um grande número de artigos, livros e textos abordam aspectos variados em diversos campos do saber e
da cultura sobre a pós-modernidade. Esse fato torna difícil encontrar um caminho que possa ajudar, sem
restringir, o campo no qual a pós-modernidade vem sendo debatida, numa tentativa de aproximação temática
com a prática educativa. Assim, apanhando alguns pensadores da atualidade – Lyotard, Baudrillard, Jame-
son e Harvey, a preocupação central deste texto é revelar insights pós–modernos altamente esclarecedores
das condições históricas em que vivemos, na esperança de serem levados em conta pelos que se dispõem
a refletir sobre nosso tempo enquanto trabalhadores na educação.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-modernidade; Metanarrativas; Simulacro; Acumulação Flexível; Ensino da
Geografia.
Abstract
A large number of articles, books and texts address varied aspects in diverse fields of knowledge and culture
about the post-modern time. This makes it difficult to find a way to help, with no limitations, the field in
which post- modern has been discussed, in an attempt to approach the theme to the educational practice.
Thus, based on some of today’s philosophers – Lyotard, Baudrillard, Jameson and Harvey, the main concern
of this text is to reveal post – modern insights which are highly clarifying of the historical conditions under
which we live, hoping to have them taken into consideration by those who are willing to reflect upon our
time as educational professions.
Key Words: Post–modern Time; Metanarrative; Simulacrum; Flexive Accumulation – Geography Teaching.
* Coordenadora do Curso de Geografia, Professora de Geografia Regional e Professora do Programa de Mestrado da Universidade
de Sorocaba (UNISO). Doutora em Ciências: Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Av. Dr. Eugênio Salerno,
140 – Campus Seminário – Santa Terezinha – 18.035-430 – Sorocaba – SP. E-mail: maria.soares@uniso.br.
Diante desse processo de acumulação fle- Como informado na introdução, este texto
xível, Harvey afirma ainda que a velocidade com pretendeu revelar, didaticamente, alguns insights
que a sociedade se transforma e a volatilidade e esclarecedores das condições sociais em que vive-
efemeridade que transmitem essa rápida transfor- mos através das ideologizações produzidas por qua-
mação trazem mudanças nos valores e na psicologia tro intelectuais orgânicos – Lyotard, Baudrillard,
humana, interferindo na consciência dos indivídu- Jameson e Harvey. Outros ficaram à margem, dada
os porque exige que ocorra maior intensidade de a limitação de um artigo.
manipulação do gosto e da opinião. A volatilidade Esse quatrilho foi selecionado porque Lyo-
transforma as imagens em mercadorias (base eco- tard e Baudrillard pertencem à posição chamada
nômica), mas elas são apropriadas também para de radical, aquela que considera a modernidade
manutenção do poder, na competição entre as uma coisa do passado acreditando que a situação
empresas, na confecção de hábitos e de símbolos presente é hiper–real. Todos os conceitos, princí-
de importância e na montagem de um padrão de pios, leis e teorias, assim como toda a formatação
imagem pessoal (poder político). social, econômica, política e cultural da moder-
A condição pós–moderna não revela só mo- nidade estão totalmente desgastados, dizem os
dificações temporais, como também espaciais. Com autores, e uma nova conformação toma lugar. Já
a queda de barreiras espaciais, diz Harvey, ocorre Jameson e Harvey, com nuances, ao diagnosticarem
uma universalização do capital via intensificação o desgaste da modernidade e o surgimento de uma
da exploração e do controle de diferentes espaços, condição pós-moderna, não o fazem concebendo
numa gama de variedades geográficas e dentro essa nova condição como produto de uma ruptura
das diferentes características que essas variedades absoluta com a modernidade: a pós-modernidade
geográficas possuem. As localidades são reconsti- é entendida como produto do desenvolvimento
tuídas como elementos internos da própria lógica do capitalismo que, no seu percurso, engendrou a
abrangente, imposta pela acumulação flexível já modernidade, desgastou-a e no momento engendra
que as exigências são sempre “internacionais”, uma condição pós–moderna.
mas implementadas pelos governos locais que A modernidade alterou a face do mundo
tudo fazem com o objetivo de participar da “nova com suas conquistas materiais, tecnológicas, cien-
ordem mundial”. Nesse caminho, o capitalismo tíficas e culturais. Ninguém pode negar que algo
cria sua própria geografia: ele cria de maneira de abrangência semelhante ocorreu nas últimas
intrinsecamente articulada, novas tecnologias, décadas, fazendo surgir novos estilos, costumes de
novos espaços e localizações, bem como novos vida e formas de organização social, trazendo como
processos de trabalho, trabalho que precisa ser conseqüência o declínio da esfera pública e da polí-
barato e qualificado. tica nos moldes consagrados; a crise ecológica; os
Em suma, Harvey analisa a pós–modernida- tribalismos; a expansão dos fundamentalismos; as
de como manifestação cultural de um determinado novas formas de identidade social; as conseqüên-
estágio do desenvolvimento do capital. Diz que a cias da informatização sobre a produção material
condição pós–moderna não pode ser entendida a e o cotidiano; a fragmentação do eu e a violência
não ser como produto subjetivo das contradições em todos os níveis de vida.
objetivas que o capitalismo produz em seu de- Na escola, esse conjunto de fenômenos
senvolvimento. Para ele não vivemos uma nova provoca alterações de tal magnitude que solicitam
etapa do capitalismo, vivemos, sim, as aspirações considerações de teorias compatíveis com os trans-
do capital em seu estágio atual, através do qual a tornos didáticos–pedagógicos que no seu interior