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Medicina integrativa

A medicina integrativa é a combinação de tratamentos pela medicina convencional e pelas terapias complementares para as
quais haja evidências científicas sobre sua segurança e eficácia. Terapias complementares são as práticas que não são
consideradas atualmente parte da medicina convencional. Embora muitas modalidades terapêuticas não convencionais já tenham
passado pela análise científica, ainda há muito desconhecimento e preconceito por parte dos profissionais de saúde. Esta seção
visa informar e atualizar o leitor nessas práticas.

Marcelo Saad
Cristiane Isabela de Almeida
Editores da seção

ANVISA e a regulação de fitoterápicos Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), autarquia


do Ministério da Saúde, que tem como papel garantir a
no Brasil segurança sanitária de produtos e serviços.
Marcelo Saad1, Roberta de Medeiros2 Uma das ações realizadas pela ANVISA para garan-
tir a segurança da saúde da população é o registro de
1
 Doutor em Ciências; Membro do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São
Paulo (SP), Brasil. medicamentos, etapa nas quais os mesmos são avaliados
2
 Bióloga, Doutora em Fisiologia; Professora titular de Fisiologia do Centro Universitário São Camilo quanto a sua segurança, eficácia e qualidade antes de
– São Paulo (SP), Brasil.
serem colocados à venda para o uso pela população(1).
Fitoterápico, de acordo com a legislação sanitária brasi- A Resolução RDC 48/2004 da ANVISA é o regulamen-
leira, é o medicamento obtido empregando-se exclusiva- to que abrange medicamentos cujos princípios ativos
mente matérias-primas ativas vegetais(1). Sua validação é são exclusivamente derivados de drogas vegetais.
feita pela abordagem etnofarmacológica, que consiste em Os medicamentos obtidos a partir das espécies ve-
combinar as informações do uso tradicional popular com getais que integram a “Lista de Medicamentos Fitote-
os resultados de estudos químicos e farmacológicos. rápicos de Registro Simplificado” já têm suas indicações
O Brasil possui uma Política Nacional de Plantas terapêuticas e segurança de uso validadas(3). Portanto,
Medicinais e Fitoterápicos, que envolve o Ministério da já não precisam comprovar sua segurança e eficácia
Saúde, desde junho de 2006. A validação de um me- terapêuticas, pelo fato destas já serem amplamente re-
dicamento fitoterápico deve levar em consideração o conhecidas pela sociedade científica. Um resumo desta
seguinte tripé(2): lista está no Quadro 1.
• qualidade (potenciais adulterantes ou contaminantes); Fitoterápico é uma classe de medicamentos lar-
• segurança (efeitos colaterais e interações com ou- gamente utilizada no Brasil. Segundo a Organização
tras substâncias); Mundial de Saúde (OMS), 80% da população de países
• eficácia (existência de estudos científicos de boa em desenvolvimento utilizam práticas tradicionais na
qualidade). atenção primária à saúde e, desse total, 85% fazem uso
de plantas medicinais(4). Os serviços de saúde deveriam
A legislação reguladora varia para cada país. No estar bem atentos aos benefícios potenciais da inclusão
Brasil, o principal órgão responsável pela regulamenta- da fitoterapia, em nome do interesse pela melhor assis-
ção de plantas medicinais e seus derivados é a Agência tência ao paciente.

einstein: Educ Contin Saúde. 2009;7(2 Pt 2): 104-5


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Quadro 1 - Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado da ANVISA, que consta na instrução normativa n° 5 de 11 de dezembro de 2008
Nome popular Indicações; ações terapêuticas Via Necessita prescrição?
Alcachofra Colerético, colagogo. Oral NÃO
Alcaçuz Expectorante, coadjuvante em úlceras gástricas e duodenais. Oral NÃO
Alho Hiperlipidemia e hipertensão arterial leve, prevenção da aterosclerose. Oral NÃO
Arnica Equimoses, hematomas e contusões. Não usar em ferimentos abertos. Tópica NÃO
Babosa (áloe) Cicatrizante nas lesões provocadas por queimaduras térmicas (1° e 2º graus) e radiação. Tópica NÃO
Boldo, Boldo-do-Chile Colagogo, colerético, dispepsias funcionais, distúrbios gastrintestinais espásticos. Oral NÃO
Calêndula Cicatrizante, anti-inflamatório. Tópica NÃO
Camomila Uso oral: antiespasmódico intestinal, dispepsias funcionais. Uso tópico: anti-inflamatório. Oral ou tópica NÃO
Cáscara sagrada Constipação ocasional. Não utilizar continuamente por mais de uma semana. Oral NÃO
Castanha da Índia Fragilidade capilar, insuficiência venosa. Oral NÃO
Centela-asiática Insuficiência venosa dos membros inferiores. Oral NÃO
Cimicífuga Sintomas do climatério. Oral SIM
Confrei Cicatrizante, equimoses, hematomas e contusões. Utilizar somente em lesões Tópica NÃO
localizadas, quando abertas. Utilizar por no máximo seis semanas por ano.
Equinácea Preventivo e coadjuvante na terapia de resfriados e infecções do trato respiratório e urinário. Oral SIM
Erva-doce, Anis Expectorante, antiespasmódico, carminativo, dispepsias funcionais. Oral NÃO
Espinheira-santa Dispepsias, coadjuvante no tratamento de gastrite e úlcera gastroduodenal. Oral NÃO
Eucalipto Antisséptico e antibacteriano das vias aéreas superiores, expectorante. Oral NÃO
Gengibre Profilaxia de náuseas causada por movimento (cinetose) e pós-cirúrgicas. Oral NÃO
Ginkgo Vertigens e zumbidos (tinidos) por distúrbios circulatórios; distúrbios circulatórios Oral SIM
periféricos (claudicação intermitente), insuficiência vascular cerebral.
Ginseng Estado de fadiga física e mental, adaptógeno. Utilizar por no máximo três meses. Oral NÃO
Guaco Expectorante, broncodilatador. Oral NÃO
Guaraná Psicoestimulante/astenia. Oral NÃO
Hamamélis Uso interno: hemorroidas. Uso tópico: hemorroidas externas, equimoses. Tópica e interna NÃO
Hipérico Estados depressivos leves a moderados. Oral SIM
Hortelã-pimenta Carminativo, antiespasmódico intestinal, expectorante. Oral NÃO
Kava-kava Ansiolítico/ansiedade e insônia. Utilizar no máximo por dois meses. Oral SIM
Maracujá, Passiflora Ansiolítico leve. Oral NÃO
Melissa, Erva-cidreira Carminativo, antiespasmódico, ansiolítico leve. Oral NÃO
Polígala Bronquite crônica, faringite. Oral NÃO
Sabugueiro Mucolítico/expectorante, tratamento sintomático de gripe e resfriado. Oral NÃO
Salgueiro branco Antitérmico, anti-inflamatório, analgésico. Oral NÃO
Saw palmetto Hiperplasia benigna de próstata e sintomas associados. Oral SIM
Sene Laxativo. Oral NÃO
Tanaceto Profilaxia da enxaqueca. Não usar de forma contínua. Oral SIM
Uva-ursi Infecções do trato urinário. Não usar em crianças com menos de 12 anos. Não utilizar Oral SIM
continuamente por mais de uma semana nem por mais de cinco semanas por ano.
Valeriana Sedativo moderado, hipnótico e no tratamento de distúrbios do sono associados à ansiedade. Oral SIM

Referências 3. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa


nº 5. Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 12 de dezembro de
1. Carvalho ACB, Balbino EE, Maciel A, Perfeito JPS. Situação do registro 2008.
de medicamentos fitoterápicos no Brasil. Rev Bras Farmacogn. 4. Carvalho AC, Nunes DS, Baratelli TG, Shuqair NS, Netto EM. Aspectos da
2008;18(2):314-9. legislação no controle dos medicamentos fitoterápicos. T&C Amazônia.
2. De Smet PA. Herbal Remedies. N Engl J Med. 2002;347(25):2046-56. 2007;5(11):26-32.

einstein: Educ Contin Saúde. 2009;7(2 Pt 2): 104-5

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