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LIMPÍADA CAPI ABA DE MATE ÁTICA

Segunda Fase – 24 de setembro de 2005

NÍVEL 3 – Ensino Médio

SOLUÇÕES DAS QUESTÕES

1) Ache todas as soluções inteiras e positivas da equação 2 p + 1 = q 2 .

A única solução inteira dessa equação é p = q = 3 .


Solução 1:
Da igualdade 2 p + 1 = q 2 vem que 2 p = (q + 1)(q − 1) . Logo q + 1 = 2 s e q − 1 = 2 r , onde s > r .
Subtraindo essas igualdades obtém-se 2 = 2 s − 2 r = 2 r (2 s − r − 1) . Como 2 s −r − 1 é um número impar,
segue-se que 2 s −r − 1 = 1 e 2 r = 2 . Assim s = 2 e r = 1 . Portanto q = p = 3 são as únicas soluções.

Solução 2:
Como 2 p + 1 = q 2 , q 2 é ímpar e, portanto, q é impar. Escrevendo q = 2n − 1, com n ≥ 1 , vem que
p −2
2 p + 1 = (2n − 1) 2 = 4n 2 − 4n + 1 . Portanto 2 = n(n − 1) e daí, n ≥ 2 . Assim, um dos números n ou
n − 1 é impar e fator de 2 p −2 . O único fator ímpar de 2 p −2 é o número 1. Logo n − 1 = 1 , isto é, n = 2 .
Portanto 2 p −2 = n(n − 1) = 2 , o que implica p = 3 e, consequentemente, q = 2 p + 1 = 3 .

2) Ache todas as raízes reais da equação 4


386 − x + 4 x = 6 .

As únicas raízes reais dessa equação são x = (3 ± 2 ) 4 = 193 ± 132 2 .


Solução 1:
Chamando a = 4 386 − x e b = 4
x obtém-se que
⎧a + b = 6
⎨ 4
⎩a + b = 386
4

Elevando a primeira equação ao quadrado obtemos


a 2 + b 2 = 36 − 2ab
Elevando novamente a primeira equação ao quadrado
a 4 + 2a 2 b 2 + b 4 = 1296 − 144ab + 4a 2 b 2
Usando que a 4 + b 4 = 386 nessa equação e simplificando obtemos
a 2 b 2 − 72ab + 455 = 0 .
Resolvendo essa equação em ab chega-se que ab = 7 ou ab = 65 . O caso ab = 65 não pode ocorrer
porque a e b são números positivos menores do que 6 . Portanto ab = 7 e, como a + b = 6 , tem-se
b 2 − 6b + 7 = 0 , isto é, b = 3 ± 2 . Como x = b 4 , obtém-se x = (3 ± 2 ) 4 = 193 ± 132 2 . As duas
raízes são x 1 = 6,32 e x 2 = 379,67 , aproximadamente.

Solução 2:
Elevando-se a igualdade 4
386 − x = 6 − 4 x à quarta potência obtém-se
4
386 − x = 1296 − 864 4 x + 216 x − 24 x 3 + x .
Chamando 4 x = t obtém-se t 4 − 12t 3 + 108t 2 − 432t + 455 = 0 .
Completando quadrados nos três primeiros termos dessa expressão vem que
(t 4 − 12t 3 + 36t 2 ) + 72(t 2 − 6t ) + 455 = 0 .
(6t − t 2 ) 2 − 72(6t − t 2 ) + 455 = 0 .
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Chamando y = 6t − t 2 = t (6 − t ) vem que y 2 − 72y + 455 = 0 , o que dá ( y − 7)( y − 65) = 0 . Mas
0 < t < 6 ⇒ y < 6 ⋅ 6 = 36 . Logo y ≠ 65 e, portanto, y = 7 , isto é, t 2 − 6t + 7 = 0 . Daí segue-se que
t = 3 ± 2 e x = t 4 = (3 ± 2 ) 4 = 193 ± 132 2 .

3) Uma aranha está parada no ponto N de uma teia em forma de icosaedro regular de aresta 1cm. A
aranha quer pegar uma mosca que está presa no ponto S da teia. Qual o comprimento do menor
caminho que a aranha deve percorrer sobre as faces da teia para pegar a mosca?
N

Solução: O comprimento do menor caminho ligando N a S é 7.


Com efeito, podemos planificar quatro faces adjacentes do tetraedro e obter um paralelogramo
NTSR , como mostrado na figura abaixo.
N

T
T

A diagonal NS do paralelogramo é o menor caminho no plano, ligando N a S . Pela lei dos cosenos
2
obtemos NS = 2 2 + 12 − 2 ⋅ 2 ⋅ 1 ⋅ cos 120º . Isto fornece NS = 7 (veja a figura acima à direita).

Qualquer outro caminho que liga os pontos N e S tem comprimento maior.

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Para mostrar isto, considere um caminho C que liga N a S. Podemos dividir o icosaedro em
três partes: a região R1 formada pelas cinco faces em volta do vértice N, a região R 2 formada pelas
cinco faces em volta do vértice S e a faixa intermediária R 3 , formada pelas dez faces restantes. Seja P
o ponto em que o caminho C deixa a região R1 e seja Q o ponto do caminho C quando ele penetra na
região R 2 . Assim o arco PQ do caminho C está totalmente contido em R 3 . Podemos supor que o
caminho C é uma linha poligonal NPQS , senão o comprimento fica ainda maior.

Há dois casos a considerar: o ponto Q está no paralelogramo NTSR ou não. A figura abaixo
representa uma planificação do icosaedro, onde os pontos Q e Q′ indicam essas duas situações.

N
R1

T
P
R3
R
Q’ Q

R2
S S

No primeiro caso o comprimento do caminho C é maior ou igual ao comprimento da linha poligonal


NPQS , que por sua vez é maior ou igual à diagonal NS . No segundo caso, existe um ponto Q' na
aresta da face do paralelogramo que contém o vértice S de modo que SQ = SQ ′ . Então a poligonal
NPQS é maior do que a poligonal NPQ ′S , que por sua vez é maior ou igual ao comprimento NS = 7.
Por último, como há cinco faces em volta do vértice N e em cada face há duas maneiras de se
obter o paralelogramo NTRS, concluímos que há dez caminhos diferentes ligando N a S e de
comprimento 7.

4) De quantas maneiras é possível colocar 6 anéis diferentes em 4 dedos da mão, exceto no polegar?
Uma troca de posição de dois anéis num mesmo dedo caracteriza duas maneiras diferentes.

Resposta: Há 60.480 maneiras.


Solução 1:
Inicialmente colocamos os anéis numa fila e os separamos em grupos 4 ordenados. Cada grupo
de anéis será colocado em cada dedo, podendo eventualmente algum grupo estar vazio o que
corresponde ao dedo ficar sem anel. Representando os anéis por bolas, podemos separá-las por 3
traços. Por exemplo, a figura abaixo representa a situação em que há 1 anel no 1º outro no 2º dedo e 2
anéis nos dedos 3 e 4.

A figura seguinte indica que há 1 anel no 1º dedo, 5 anéis no 3º e nenhum anel nos demais:

Inicialmente há 6! maneiras de dispormos os 6 anéis em fila.


9!
Para cada uma dessas disposições há C 39 = de os separarmos em quatro grupos.
3!⋅ 6!
9! 9!
Portanto há um total de 6! ⋅C 93 = 6! ⋅ = = 60.480 de colocarmos os 6 anéis em 4 dedos.
3! ⋅ 6! 3!

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Solução 2:
De acordo com a quantidade de dedos que recebem anéis, podemos distribuir os anéis de nove
maneiras possíveis

Casos Maneiras
1º 1 dedo 6+0+0+0 4 ⋅ 6! = 2880
2º 2 dedos 5+1+0+0 4 ⋅ (6 ⋅ 5 ⋅ 4 ⋅ 3 ⋅ 2) ⋅ 3 = 8640
3º 2 dedos 4+2+0+0 4 ⋅ (6 ⋅ 5 ⋅ 4 ⋅ 3) ⋅ 3 ⋅ 2 = 8640
4º 2 dedos 3+3+0+0 4 ⋅ (6 ⋅ 5 ⋅ 4) ⋅ 3 ⋅ (3 ⋅ 2 ⋅ 1) / 2 = 4320
5º 3 dedos 4+1+1+0 4 ⋅ (6 ⋅ 5 ⋅ 4 ⋅ 3) ⋅ 3 ⋅ (2) = 8640
6º 3 dedos 3+2+1+0 4 ⋅ (6 ⋅ 5 ⋅ 4) ⋅ 3 ⋅ (3 ⋅ 2) ⋅ 2 = 17280
7º 3 dedos 2+2+2+0 4 ⋅ (6 ⋅ 5) ⋅ 3 ⋅ ( 4 ⋅ 3) ⋅ 2 ⋅ (2 ⋅ 1) / 3! = 2880
8º 4 dedos 3+1+1+1 4 ⋅ (6 ⋅ 5 ⋅ 4) ⋅ 3! = 2880
9º 4 dedos 2+2+1+1 4 ⋅ (6 ⋅ 5) ⋅ 3 ⋅ ( 4 ⋅ 3) ⋅ 2 / 2 = 4320
Total 60 .480

Solução 3:
Podemos verificar a quantidade de maneiras da tabela anterior do seguinte modo:
Para cada mão do tipo 6 + 0 + 0 + 0 anéis há 3 mãos com 5 + 1 + 0 + 0 anéis, pois podemos
retirar o último dos anéis dos 6 e passá-lo para um dos outros 3 dedos, de 3 maneiras diferentes. E cada
mão do tipo 5 + 1 + 0 + 0 pode ser obtida dessa forma. Logo há 3 ⋅ 2880 = 8640 maneiras de dispor
anéis na forma 5 + 1 + 0 + 0.
O 3º caso tem a mesma quantidade de maneiras do 2º porque podemos passar um anel de um
dedo para o outro ocupado,
O 4º caso tem a metade das maneiras do 2º caso porque duas mãos com dedos contendo 4 + 2
anéis e contendo 2 + 4 anéis estão associadas a uma mão com 3 + 3 anéis.
O 5º caso é 3 vezes maior do que o 1º caso pois para cada mão com um dedo contendo 6 anéis
há 3 mãos contendo 4 + 1 + 1 + 0 anéis.
O 6º caso tem o dobro de maneiras do 5º caso, pois há duas maneiras de trocar um anel do
dedo com 4 anéis para um dos dedos com apenas 1 anel.
O 7º caso tem o mesmo número do 1º caso pois podemos passar 2 anéis e depois mais 2 da
mão de 6 para a mão de 2 + 2 + 2 + 0 anéis, mantida a ordem dos anéis e dos dedos, com o dedo vazio
continuando vazio.
O 8º caso tem a mesma quantidade do 1º caso, basta tirar 3 anéis dos 6 e passar cada anel para
cada um dos 3 dedos vazios seguintes, mantida a ordem dos anéis.
O 9º caso e o 4º caso têm a mesma quantidade. È só retirar um anel de cada dedo com 2 e
passar cada um para um dos dedos vazios, mantendo a ordem de retirada.

5) Mostre que em todo polígono convexo com 2n lados existe uma diagonal que não é paralela a
nenhum lado. (Uma diagonal de um polígono convexo é um segmento que liga dois vértices não
consecutivos.)

Solução:
Num polígono com 2n lados há um total de n(2n − 3) diagonais.

Num polígono de 2n lados, há no máximo (n – 2) diagonais paralelas a um lado fixo.

Por outro lado, cada lado do polígono admite no máximo ( n − 2) diagonais paralelas a ele. Logo
há no máximo 2n( n − 2) diagonais que são paralelas a algum lado. Como n(2n − 3) − 2n(n − 2) = n ,
segue-se que existem pelo menos n diagonais do polígono que não são paralelas a nenhum lado.
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