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Trabalho: definições,

evolução histórica e
importância
Unidade 2 | Camila Masson
Yamada
Trabalho: definições, evolução histórica e importância

O trabalho e a compreensão sobre ele vêm mudando constantemente, desde os


primórdios da história da humanidade. Porém, podemos sinalizar que as mudanças
mais drásticas ocorreram a partir da Revolução Industrial do século XIX.

Desde esse momento até a atualidade, vimos que as mudanças no mundo do trabalho
foram cada vez mais rápidas e radicais. A Psicologia, como ciência e profissão, e mais
especificamente a psicologia organizacional e do trabalho, tem evoluído em
consonância com esse movimento, assumindo, de certa forma, as demandas que
emergem do contexto.
Trabalho: definições, evolução histórica e importância

Nesta seção, vamos discutir o trabalho, algumas definições, a evolução das formas e da
organização do trabalho ao longo da história e a sua importância nos dias atuais. Para
tanto, vamos construir um caminho do qual você faz parte, ao (re)conhecer algumas
passagens históricas importantes, rever alguns conceitos e refletir sobre o trabalho, sob
o ponto de vista da psicologia.
Trabalho
Comecemos, então, pela essência da palavra “trabalho”. Uma versão bastante aceita
para a etimologia (estudo da origem e evolução das palavras) é que a palavra
“trabalho” tem origem no latim, e teria vindo do termo tripalium, que era um
instrumento utilizado na lavoura, que por sua vez originou o termo tripaliare, ou seja,
trabalhar, que poderia ser entendido como estar sujeito ao tripalium ou como uma
espécie de tortura. Essa referência foi tomando novos significados ao longo da história
e, atualmente, temos diferentes formas de pensar o trabalho.
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa:

Trabalho
Dicionário de Psicologia da APA:

Trabalho
Simples busca na internet:

Trabalho
Trabalho Assim, inicialmente, podemos entender que o
trabalho pode ser considerado como uma forma de
aplicação de energia, esforço, que tem algum
propósito, um objetivo, ou seja, o trabalho é uma
ação humana que promove transformação.
A condição humana
e o trabalho
O trabalho vem sendo objeto de estudo da
psicologia há muito tempo e pode ser tomado por
um ou mais dos aspectos envolvidos, de muitas
formas e por diferentes abordagens. Como
exemplos de possibilidades de o trabalho ser objeto
de estudo, temos:
Vamos agora pensar que, sob o ponto de
vista de nossos estudos na psicologia
organizacional e do trabalho, focaremos no
trabalho como uma atividade
iminentemente humana, caracterizado e
diferenciado do trabalho animal a partir da
intencionalidade (definição e compreensão
dos objetivos esperados) e da capacidade
cognitiva. Essa atividade laboral pode trazer
percepções negativas sobre as experiências
vividas, como desgaste físico, mental e
emocional.
Também pode fazer emergir percepções
positivas, como uma possibilidade de
aplicação de habilidades e conhecimentos
ou como um caminho para a realização
pessoal e/ou profissional ou, ainda, ambas
combinadas, de acordo com o momento
pessoal e com o contexto em que cada um
desenvolve o seu trabalho. Essas percepções
serão discutidas de forma mais aprofundada
ao longo da disciplina.
✓O “trabalho” como forma de aplicação das
Por outro lado, os termos capacidades humanas que transforma a natureza
gerando produtos e serviços existe desde a
“trabalho”, “ocupação” e antiguidade.
“emprego” muitas vezes ✓ A “ocupação”, por sua vez, demonstra uma
são utilizados como certa organização de atividades específicas a
sinônimos na literatura, partir do que hoje poderíamos entender como
“área de atuação” ou, mais especificamente,
mas, por questões “profissão”;
didáticas, é importante ✓ Já o “emprego” diz respeito à uma ideia mais
diferenciá-los, como o fez contemporânea da existência de uma “força de
Melgasso (1998): trabalho” que é negociada entre quem a detém
(trabalhador) e quem dela precisa, a quer e pode
comprá-la (detentores de capital ou
empregadores).
Assim, é possível compreender que o
trabalho sempre esteve presente na história
da humanidade, enquanto as ocupações/
profissões surgiram posteriormente e o
emprego é um termo utilizado até os dias
atuais, designando uma relação de trabalho
legalmente estabelecida.
As formas de
trabalho ao longo
da história
Essa delimitação inicial é fundamental para que possamos compreender como essa
história transformou a forma de se trabalhar e sua organização desde a pré-história até
os dias de hoje. Para compreendermos esse longo e rico trajeto desenvolvido, vamos
tentar sintetizá-lo em alguns períodos e informações essenciais, mostrando em cada um
deles a forma de trabalho predominante.
Pré-História
Quando dizemos que a história do trabalho está ligada à história da
humanidade, não é exagero, pois desde a Pré-História o homem já
trabalhava. Nesse período, o trabalho era aplicado na busca da sobrevivência
da espécie humana, sendo inicialmente baseado na caça, pesca e colheita de
frutos silvestres.
Nesse período, o homem já vivia em grupos, residia em cavernas e era
nômade, ou seja, mudava de lugar em função da disponibilidade de recursos
para sua sobrevivência. Já nesse período, o ser humano teve que
desenvolver ferramentas (pedra lascada, ossos) e técnicas específicas para
essas atividades.
Pré-História
Mais tarde, com o domínio do fogo, o homem começou a desenvolver
técnicas de plantio e domesticação de animais. Com isso, passou a fixar-se
em terras produtivas, o que possibilitou o início da formação de
agrupamentos e a divisão sexual do trabalho, quando as mulheres teriam
ficado com responsabilidade pela criação dos filhos e pelo plantio, e os
homens pela caça.
A partir do desenvolvimento de ferramentas utilizando metais (princípios da
metalurgia), foi possível aumentar a produção e o estoque de alimentos,
podendo-se realizar trocas de excedentes com outros grupos, como se fosse
o início de uma atividade comercial, mas ainda só havia o trabalho.
Idade Antiga
Já na Idade Antiga, começaram a se formar agrupamentos maiores,
que mais tarde deram origem às cidades (polis), sendo que as grandes
civilizações da época situavam-se na Europa, Ásia e norte da África
(por exemplo, as civilizações romana, grega e egípcia).
Conforme as lutas pelo domínio de terras aumentavam, o comércio se
expandia e os “mais fortes” foram acumulando poder e recursos.
Idade Antiga
Assim, foi se criando uma divisão do trabalho, em que os senhores de
terras eram donos da “força de trabalho” dos demais, que eram
escravos. Havia, também, parte da população que era “livre”, tal como
os artesãos, que tinham como ocupação a produção de armas e
artefatos ligados à necessidade dos senhores e guerreiros. O fim dessa
era foi marcado pela queda dos impérios.
Já havia, então, o que chamamos de trabalho (escravo) e ocupação
(dos artesãos, que, comparada aos dias de hoje, seria o trabalho
autônomo ou empreendedorismo).
Idade Média
Na transição para a Idade Média, o trabalho escravo foi sendo substituído
pelo trabalho dos camponeses, e a relação estabelecida era de “servidão”.
Essa relação era diferente da escravidão, pois o servo era livre para sair dos
domínios do senhor das terras e ir para onde quisesse, desde que não
tivesse dívidas junto ao “senhor”. Também não havia remuneração, a troca
era de trabalho (agricultura, criação de animais) pelo direito de permanecer
nas terras (feudo). Os senhores feudais, por sua vez, pagavam impostos ao
reinado a que pertenciam. Nesse período havia “trabalho” e “ocupação”,
mas não “emprego”.
Idade Moderna
Na Idade Moderna, com o comércio cada vez mais crescente e
lucrativo, e com o crescimento da população nas cidades, teve início
uma nova configuração econômica e social.
Os donos do capital, predominantemente mercadores (hoje seriam
como empresários e comerciantes), começaram a formar uma nova
classe social: a burguesia (comparável a atual classe média/alta). Com
isso, foram constituindo empresas, baseadas no comércio e nas
primeiras indústrias.
Idade Moderna
Nesse período, na Inglaterra, houve a Reforma Protestante, promovida
por Martinho Lutero, que pregava uma “nova ética do trabalho”,
segundo a qual trabalhar de forma árdua, diligente e abnegada
equivalia a cultivar a virtude, ligando o trabalho a religião.
Assim, unindo demanda e procura, as empresas começaram a captar
mão de obra para o trabalho e inicia-se a constituição da ideia de
“profissão” e “emprego”. Os trabalhadores, que começaram a vender a
sua força de trabalho, constituíram também uma nova classe social: o
proletariado.
Idade Moderna
Foi ainda nesse período que ocorreu a Revolução Industrial, também
na Inglaterra, transformando de forma significativa a forma de
trabalhar e as relações de trabalho, a partir da criação de máquinas à
vapor, que produziam mais e em menos tempo.
Ao mesmo tempo, as indústrias começaram a substituir a força braçal
(mão de obra humana sem qualificação) e absorver mais mão de obra
qualificada (agora para operar as “novas máquinas”).
A organização social
do trabalho
Toda a história que vimos até agora, além de ilustrar o
caminho que a “noção de trabalho” percorreu ao longo
do tempo, mostra também que ele:

✓Esteve ligado à evolução da espécie humana desde seus primórdios, sendo


essencial para sua sobrevivência.
✓Exigiu a aplicação das capacidades físicas e intelectuais do homem para a
criação de novas ferramentas e tecnologias para desenvolvê-lo com cada vez
mais eficiência e produtividade.
✓Teve sua evolução marcada por mudanças ocorridas no contexto social,
econômico e político de cada época, ou seja, como parte desse contexto.
Toda a história que vimos até agora, além de ilustrar o
caminho que a “noção de trabalho” percorreu ao longo
do tempo, mostra também que ele:

✓ Foi condicionado, desde o início, ao atendimento das demandas pessoais ou


coletivas de cada período.
✓ Sofreu influência e influenciou as relações de poder, de capital e das
tensões que essas relações provocam.
No Brasil...
Pois bem, vamos pensar nessas relações tomando como base a
história e a contexto brasileiro, mas forma resumida, afinal essa
história você conhece.
O Brasil entra nessa história a partir de seu descobrimento, ou seja, na
Idade Moderna, no momento em que os países, recém constituídos
depois de muitas guerras, buscavam expandir seu poder através do
comércio.
No Brasil...
No primeiro período (entre 1550-1530), chamado Pré-Colonial, o
objetivo era basicamente extração do pau-brasil e, para tanto, os
portugueses contaram com o trabalho exercido pelos arrendatários de
terra (degradados de Portugal), apoiados pelo trabalho de indígenas.
Esse trabalho era baseado no escambo, ou seja, troca da força de
trabalho por objetos e utensílios que eram do interesse dos nativos.
No Brasil...
Já a fase Colonial representa a intenção de povoar e ocupar o território
conquistado, defendendo-o de outros países interessados nas outras
riquezas descobertas (ouro, pedras preciosas, etc.). Nesse momento, as
relações de trabalho com os indígenas mudaram. Estes foram tornados
escravos para trabalhar nos engenhos de açúcar, que demandavam um
grande volume de mão de obra.
O trabalho escravo dos indígenas foi gradualmente sendo substituído pela
escravidão de negros africanos (de 1538 até 1888). Havia também os
colonos, que eram relativamente livres e exerciam funções como pequenos
comerciantes e artesãos ou trabalhavam nas terras como capatazes
(portanto, empregados). Muitas vezes, abandonavam o trabalho nas terras
em busca de aventuras e maiores ganhos (como parte das expedições e
mineração).
No Brasil...
Depois desse período, muitos acontecimentos históricos importantes
ocorreram no Brasil. Apenas para citar alguns deles, destacamos: a
vinda da Família Real (em 1808), que transformou o Brasil em sede do
governo de Portugal; a Independência do Brasil (21/04/1822), que
libertou o país do domínio político, administrativo, econômico e social
de Portugal; a Abolição de Escravatura (Lei Áurea”), em 13/05/1888,
que pôs fim a escravidão no país; e a Proclamação da República, em
15/11/1899, que mudou o regime de governo de Monarquia para
República que, novamente, provocou profundas transformações em
todos os níveis da vida brasileira.
No Brasil...
Mesmo com tanta ebulição, quando se trata das formas de trabalho no
Brasil o quadro das relações de trabalho sofreu alterações
significativas.
Porém, mantivemos, concomitantemente, uma mistura de trabalho
escravo com o aumento da diversidade de ocupações, como o trabalho
autônomo (artesãos, trabalho de intelectuais e políticos) e o
fortalecimento do empresariado (comércio, agricultura e primeiras
indústrias), gerando algumas formas de emprego mais próximas das
que conhecemos hoje.
No Brasil...
A Revolução Industrial, que ocorreu na Inglaterra, no final do século
XVIII, alcançou o Brasil apenas por volta de 1930.
Essa nova forma de trabalho, agora “emprego assalariado”, gerou
desemprego dos trabalhadores brasileiros sem qualificação, que foram
substituídos por imigrantes europeus, com mais qualificação, na época.
O lugar do trabalho
na vida das pessoas
Estamos agora em outra fase de nossa história relativa ao trabalho, e para dar início a
essa discussão, vamos pensar um pouco sobre alguns dados:

✓Uma pesquisa divulgada pela Revista Você S.A., em 2016, mostra o Brasil em 5º lugar
entre os países que tem maior jornada de trabalho semanal (45 horas), igual aos EUA.
Isso nos coloca atrás, apenas, de países como: Índia (52 horas), México, Singapura e
China (48 horas), Suíça e Grécia (47 horas) e Japão (46 horas). Estes são dados de uma
pesquisa realizada por uma empresa de consultoria, envolvendo 25 países, dos 5
continentes.
Estamos agora em outra fase de nossa história relativa ao trabalho, e para dar início a
essa discussão, vamos pensar um pouco sobre alguns dados:

✓O trabalho e o tipo de trabalho ao qual uma pessoa se dedica, de alguma forma,


influenciam o “papel social” que assume.
Estamos agora em outra fase de nossa história relativa ao trabalho, e para dar início a
essa discussão, vamos pensar um pouco sobre alguns dados:

✓ No Brasil, atualmente, vivemos uma fase de transição, em que, embora o nível de


emprego esteja aumentando (em fevereiro de 2018 tivemos o melhor resultado
desde fevereiro de 2014), o número de pessoas desempregadas que procuraram e
não encontraram “emprego fixo” ainda é muito alto (cerca de 12,2% da população,
segundo dados do IBGE) (PATI, 2016).
Significado do trabalho...
Essas constatações nos levam a considerar questões como o significado do trabalho, a
sua importância na vida das pessoas (centralidade, tempo que ocupa, necessidade de
trabalhar) e também o desemprego (falta de oportunidade de trabalho, falta de
qualificação para o mercado e políticas públicas) ou, ainda, a aposentadoria (novo
período produtivo, segunda carreira ou, simplesmente descanso?).
São questões importantes, que podem variar de acordo com a percepção de cada um.
Estamos falando, dentre outras coisas, sobre a centralidade do trabalho.
Significado do trabalho...
Além de todas essas questões, temos ainda que considerar as transformações no
mundo do trabalho a partir do evento da globalização e da evolução das Tecnologias
da Informação e Comunicação (TIC), das profissões que surgiram e desapareceram,
de outras profissões que ainda não existem, mas estão sendo previstas e, também, das
novas formas de “emprego”.
Significado do trabalho...
Enfim, todas essas questões são inerentes ao estudo da psicologia organizacional e do
trabalho. Parece complexo e abrangente, mas fique tranquilo, pois, para minimizar
possíveis dificuldades de compreensão, caminharemos aos poucos, esclarecendo e nos
aprofundando nas discussões de cada um dos temas ao longo das próximas seções.

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