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XIII Congresso Estadual das APAEs

IV Fórum de Autodefensores
28 a 30 de março de 2010
Parque Vila Germânica, Setor 2 – Blumenau (SC), BRASIL

ESTIMULAÇÃO DA ATENÇÃO VOLUNTÁRIA ATRAVÉS DE INTERVENÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA COM ADOLESCENTES QUE APRESENTAM DÉFICIT COGNITIVO

Andri, Silvia Maria Barbosa1; Sabel, Francieri Beatrice2; Tontini, Briane Murari Santos3.

RESUMO
As funções mentais são responsáveis pelo desenvolvimento humano; e neste contexto a atenção
é considerada essencial para a aprendizagem; desta forma a presente pesquisa objetivou
investigar a possibilidade de estimular a atenção voluntária de adolescentes com déficit cognitivo
através de intervenção neuropsicológica, por meio de jogos e atividades lúdicas; verificando se os
níveis de atenção podem ser ampliados e até mesmo generalizados; bem como, se estes
recursos lúdicos podem ser utilizados como fins terapêuticos pelo profissional psicólogo e/ou
educadores do ensino especial; a população escolhida foi uma turma de seis adolescentes
inseridos em APAE, e a aplicação da intervenção teve duração de 3 meses consecutivos com
dois encontros semanais; para a avaliação dos resultados foi utilizado um questionário fechado
com a professora de sala, e com os alunos dois subtestes do Teste WISC III, um verbal – Dígitos
e outro de execução – Completar figuras e o Teste AC – Atenção Concentrada, todos aplicados
em dois momentos visando comparar os resultados antes e depois da intervenção; após análise
comparativa dos dados constatou-se aumento significativo nos níveis de atenção dos
participantes da pesquisa; bem como relação íntima entre motivação e aprendizagem.

Palavras – chave: atenção voluntária; déficit cognitivo; neuropsicologia.

O processo de aprendizagem e desenvolvimento humano se inicia desde o nascimento, a


partir das primeiras sensações e percepções do bebê acerca do mundo em que vive, e com o
passar dos anos por meio da interação e da experiência com outras pessoas estas vão se
aprimorando e se transformando em ações inerentes do cérebro, ações estas que resultam em
funções mentais superiores. Neste contexto a atenção é considerada uma função essencial para
aprendizagem, não somente do adolescente com déficit cognitivo, mas de qualquer pessoa.

1
Orientadora, Psicóloga, Professora do curso de pós-graduação em Neuropsicologia da Bagozzi Curitiba-PR.
2
Acadêmica do 9º Período do curso de graduação em Psicologia da FURB – Faculdade Regional de Blumenau.
Natural de Blumenau-SC, D.N. 23/01/1987, RG: 4771096-9.
3
Psicóloga graduada pela UNIVALI; Especialista em Educação Especial pela Faculdade Dom Bosco; Especialista em
Neuropsicologia pela Bagozzi. Natural de Cascavel-PR, D.N. 27/11/1979, RG:5901.980, e-mail:
brimurari@gmail.com, fone: 9936-3574.
Desta forma entendemos que qualquer atividade sejam elas de ordem física, psicológica
ou social, as funções mentais desempenham papel essencial e determinante para o
desenvolvimento de tais atividades. É neste contexto que o cérebro tem um lugar de destaque, já
que a atenção se configura num importante recurso e função do processo de aprender. Sabemos
que níveis baixos de atenção prejudicam em muito a aprendizagem, seja ela de ações cotidianas
como as de conteúdos pedagógicos. O adolescente com déficit cognitivo quase sempre nasce
com dificuldades na manutenção da atenção além de outros prejuízos significativos em outras
áreas do desenvolvimento. Sabe-se que o desenvolvimento intelectual limitado, juntamente com o
comportamento desadaptativo é presente em pessoas com déficit cognitivo, e que seus prejuízos
mais evidentes concentram-se no desenvolvimento das funções mentais como a atenção,
memória, área motora e linguagem.
Segundo Bee (2003) crianças com déficit cognitivo pensam e reagem mais lentamente que
crianças normais; pensam concretamente tendo dificuldades no raciocínio abstrato; exigem
instruções mais completas e repetidas na aprendizagem de novas informações ou estratégias;
não generalizam nem transferem algo que aprenderam em uma situação para um novo problema
ou tarefa.

Muitas vezes as queixas do professor recaem sobre as dificuldades que os alunos têm de
lembrar, ou mesmo da incapacidade de prestar atenção, sendo considerados pelos professores
como dispersos e/ou desatentos. Em meio a este cenário muitas vezes sua dificuldade em
aprender é atrelada diretamente ao seu déficit atencional. Gallagher & Kirk (1996, p. 136)
destacam que “um dos fatores que influencia a memória é a capacidade de prestar atenção, de
ficar alerta. A menos que o aluno mantenha a atenção na tarefa que está desenvolvendo, ele terá
dificuldades em aprender, seja ou não deficiente”.

A pesquisa foi realizada na APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de


Blumenau, mantenedora do Instituto Integrado de Educação e Saúde Professora Estella Maria
Caropreso – IES. Presta atendimentos de habilitação e reabilitação a pessoas com déficit
cognitivo e múltiplo.
Cérebro e Funcionamento Cerebral: O encéfalo ou cérebro sempre foi compreendido pelo ser
humano como algo essencial para sua vida. É através dele que podemos sentir, pensar, mover-
se, comunicar-se. Foi a partir deste conhecimento que desde épocas distantes e remotas o
cérebro tem sido objeto de estudos, investigações e pesquisas.
O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem à alegria, o prazer, o riso e a
diversão, o pesar, o ressentimento, o desânimo e a lamentação. E por isto, de uma maneira especial,
adquirimos sabedoria e conhecimento, e enxergamos e ouvimos e sabemos o que é justo e injusto, o que é
bom e o que é ruim, o que é doce e o que é amargo... E pelo mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes,
e medos e terrores nos assombram... Todas estas coisas suportamos do encéfalo quando não está sadio...
Neste sentido sou da opinião de que o encéfalo exerce o maior poder sobre o homem. (Hipócrates, Acerca
das doenças sagradas séc. IX a.C)
Gazzaniga; Ivry & Mangun (2006) enfatizam que há controvérsias acerca do funcionamento
cerebral; por um lado alguns pesquisadores e cientistas acreditam que o cérebro funciona como
um todo; por outro existe um grupo que defende que ele é formado por partes que trabalham
independentemente constituindo a mente. Estas convicções foram responsáveis pelas pesquisas
modernas, pois a visão dominante acerca do funcionamento cerebral mudou muito nos últimos
100 anos e continua a mudar. Atualmente o local de uma lesão cerebral pode ser identificado em
poucos minutos através de métodos de imagem que mapeiam e fotografam o encéfalo vivo.
Para entender o sistema nervoso central, não bastava apenas estudar o neurônio
isoladamente, precisava-se estudá-lo interagindo e se comportando. Gazzaniga; Ivry & Mangun
(2006, p. 29) destacam que “sabendo-se qual comportamento realmente é produzido, não
precisamos conhecer todas as possibilidades de interações que ocorrem entre os elementos
relacionados”. Ainda hoje algumas pessoas se recusam em aceitar que, compreendendo a
função de um único neurônio ou de áreas menores do encéfalo, pode-se explicar como o encéfalo
funciona. Neste contexto a neurociência continua a revelar a surpreendente complexidade e a
especialização do córtex cerebral.
Neuropsicologia: Enquanto a profissão médica foi pioneira nos estudos do funcionamento do
encéfalo, os psicólogos começaram a defender que tinham condições de mensurar
comportamentos e sem dúvida estudar a mente humana. Na psicologia experimental, a mente era
objeto de estudo dos filósofos, que questionavam acerca do conhecimento, sobre como
conhecemos aquilo que nos cerca. Neste contexto a psicologia, além de um método, buscava
definir seu objeto de estudo, encontrava-se dividida entre mente e comportamento, e sobre
questões pertinentes acerca da hereditariedade e do meio.
Em meio a esta discussão a psicologia cognitiva passou a ser definida como o ramo da
psicologia que estuda cientificamente o processamento da atenção, da memória, das funções
vísuo-motoras, da linguagem, o pensamento, entre outras funções complexas.
Miotto (2007, p. 138) destaca que “a base da neuropsicologia atual é fortemente
influenciada pela neuropsicologia cognitiva devendo esta suas recentes descobertas,
principalmente, no campo da memória, atenção e funções executivas”. Inicia-se então um
novo olhar dos psicólogos em relação aos processos mentais, pois diante dos avanços dos
estudos da mente que foram além de simples métodos de lesão para acessar quais distúrbios
perceptivos ou cognitivos poderiam ocorrer após uma lesão cerebral, emergiu a necessidade de
se explicar à cognição complexa existente na mente humana.
De acordo com Luria (1981) os processos mentais superiores constituem-se em sistemas
funcionais complexos que requerem o funcionamento combinado de áreas individuais do cérebro,
funcionando como uma orquestra harmoniosa.
Atenção e déficit cognitivo: A definição de atenção está longe ser universal, pois existem
divergências e controvérsias acerca da definição e teorias psicológicas que buscam discutir a
função e atuação da atenção. Um exemplo desta divergência pode ser destacado por Nabas &
Xavier (2004) acerca da existência de teorias atencionais que por um lado dizem que a atenção é
um mecanismo interno que determina o que será percebido, e por outra existem aquelas que
defendem a atenção como resultado do trabalho do complexo sistema cognitivo.
Luria (1981, p. 223) destaca que “o caráter direcional e a seletividade dos processos
mentais, base sobre a qual se organizam, geralmente são denominados atenção em psicologia”.
Com este termo designa-se o fator responsável pela escolha dos elementos essenciais para a
atividade mental, ou o processo que mantém uma severa vigilância sobre o curso preciso e
organizado da atividade mental.
Alguns autores destacam que memória e atenção não deveriam ser tratadas como
processos distintos, mas sim como aspectos distintos de um mesmo processo. A atenção é mais
comumente usada para referir-se à seletividade do processamento. William James (apud Nabas
& Xavier, 2004, p. 78) ressalta que:
Todos sabem o que é atenção. É tomar posse da mente, de forma clara e vívida, de um dos que parecem ser
vários objetos ou linhas de raciocínios simultaneamente possíveis. A essência da consciência é a focalização
e a concentração. Isto implica um retraimento de algumas coisas para lidar de maneira efetiva com outras.

Dalgalarrondo (apud Lima, 2005) destaca que a atenção voluntária envolve a seleção ativa
e deliberada de estímulos por parte do indivíduo em uma determinada atividade, estando
diretamente envolvida com as motivações, interesses e expectativas do indivíduo.
Muir (apud Nabas & Xavier, 2004) propõe e existência de três formas básicas de atenção:
vigilância ou atenção sustentada – tarefas que exigem esta atenção demandam que a atenção
seja direcionada para uma fonte de informação por períodos prolongados de tempo. Quanto pior
o desempenho com o passar do tempo indica perda ou instabilidade da concentração, um
aspecto que parece estar relacionado com a intensidade da atenção; atenção dividida – é a
atenção diante da apresentação de duas tarefas ou estímulos concomitantemente, pode envolver
tanto aspectos espaciais como temporais; atenção seletiva – é a capacidade de dirigir sua
atenção para uma determinada porção do ambiente e ignorar os demais estímulos presentes a
sua volta.
Bear; Connors & Paradiso (2002) destacam que os efeitos da atenção podem ser
percebidos em áreas sensoriais, tais como o córtex visual e auditivo, desta maneira a atividade
cerebral muda quando a atenção é dirigida para um estímulo.
Sternberg (2000) destaca que apesar dos estudos sobre a atenção demonstrarem que
muitos destes processos ocorrem distante de nosso conhecimento consciente, muitos outros
processos estão sujeitos ao controle consciente, como a atenção seletiva, a vigilância, a
sondagem e a atenção dividida durante a execução de múltiplas tarefas. Sem dúvida que as
pesquisas cognitivas promoveram entendimento sobre atenção, mas a compreensão adicional
adveio dos estudos e pesquisas dos processos cerebrais da atenção. Este mesmo autor salienta
que os neuropsicólogos têm utilizado frequentemente para mapear as áreas cerebrais envolvidas
em várias tarefas, a tomografia por emissão de pósitrons (TEP/PET), que mapeia o fluxo
sanguíneo cerebral regional. Outro meio alternativo de se estudar a atenção no cérebro é
focalizar os potenciais relacionados ao evento (PREs/ERPs), que indicam variações diminutas na
atividade elétrica em resposta a diversos estímulos. Ambas as técnicas oferecem informações
acerca da localização da atividade cerebral e sobre a cronologia dos eventos cerebrais.
Muitos estudos sobre a atenção envolveram indivíduos normais, porém os neuropsicólogos
cognitivos aprenderam muito estudando os processos atentivos cerebrais de indivíduos que não
apresentavam processos normais de atenção, como nos casos de déficit específico de atenção,
decorrentes de lesões ou de fluxo sanguíneo insuficiente em áreas cerebrais importantes.
Os déficits globais de atenção estavam ligados a lesões no lobo frontal e nos gânglios da base (Lou,
Henriksen & Bruhn, 1984); os déficits de atenção visual relacionavam-se à região posterior do córtex parietal
e ao tálamo, bem como às áreas do mesencéfalo relacionadas com os movimentos oculares (Posner &
Petersen, 1990; Posner, Petersen, Fox & Raichle, 1988). (Sternberg, 2000. p. 105)

Neste contexto a atenção revela-se um sistema complexo de atividade funcional do


cérebro, desempenhando importante papel para o desenvolvimento e sobrevivência humana,
desta forma, o desempenho de tal função torna-se alterado e/ou anormal quando implicações de
ordem física e biológica afetam de sobremaneira este sistema funcional, como é o caso da
pessoa com déficit cognitivo.
Segundo os critérios de Diagnóstico do DSM IV (apud Kaplan & Sadock, 1998, p. 242)
déficit cognitivo é definido como:
Funcionamento intelectual significativamente inferior à média: um Q.I de aproximadamente 70 ou abaixo, em
um teste de Q.I. individualmente administrado (para bebês, um julgamento clínico de funcionamento
intelectual significativamente abaixo da média). B. Deficiência ou prejuízos concomitantes no funcionamento
adaptativo atual (isto é, a efetividade da pessoa para atender aos padrões esperados para sua idade ou
grupo cultural) em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, cuidados pessoais, vida doméstica,
habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, independência, habilidades acadêmicas,
trabalho, lazer, saúde e segurança. C. Início anterior aos 18 anos de idade.

Não é novidade que os adolescentes com déficit cognitivo apresentam processos como a
memória e atenção afetada diretamente em função de sua limitação biológica. Entretanto os
processos atentivos parecem desempenhar importante papel na aprendizagem e
desenvolvimento tanto da criança como do adolescente, associados ao desenvolvimento dos
outros processos mentais fundamentais relevantes na promoção e desenvolvimento do sujeito.
Diante do exposto não temos dúvidas de que o déficit cognitivo afeta o desenvolvimento
normal de vários aspectos da vida do indivíduo, principalmente dos processos mentais superiores
como a atenção, memória, linguagem, movimento, percepção, entre outros. Neste contexto a
atenção configura-se como coadjuvante no desempenho e manutenção de outras funções
cerebrais importantes para o desenvolvimento humano.
O problema de pesquisa consistiu em verificar se é possível estimular a atenção voluntária
de adolescentes com déficit cognitivo utilizando a intervenção neuropsicológica por meio de jogos
e recursos lúdicos no próprio ambiente escolar; verificando ainda se a atenção voluntária poderia
ser melhorada e generalizada se fosse devidamente estimulada. Objetivou ainda estabelecer
possíveis recursos lúdicos para o profissional psicólogo trabalhar com a estimulação da atenção
voluntária de forma terapêutica; e criar estratégias práticas de orientação aos professores na
estimulação da atenção voluntária, com finalidade de aprimorar o atendimento ao adolescente
com déficit cognitivo que freqüenta o ensino especial.
O grupo de pesquisa foi composto por uma turma de seis adolescentes com déficit
cognitivo, sendo quatro meninos e duas meninas, com idades variando entre 13 a 15 anos. Os
alunos foram distribuídos em dois grupos com três alunos, e a intervenção ocorreu duas vezes
por semana durante três meses consecutivos.
Visando estabelecer o rigor técnico e científico da pesquisa foi adotada como estratégia a
aplicação dos instrumentos em dois momentos, início e término da intervenção. A professora
preencheu um questionário fechado com a finalidade de colher informações sobre a atenção e o
comportamento para aprendizagem dos alunos; com os alunos foram aplicados dois subtestes do
Teste WISC III, um verbal – Dígitos e outro de execução – Completar figuras; e o Teste AC –
Atenção Concentrada. A aplicadora procedeu à análise qualitativa das intervenções realizadas
com os alunos durante a realização das atividades propostas.
As atividades e jogos lúdicos utilizados para estimular a atenção voluntária dos
adolescentes foram: Livro Onde está Wally?; Jogo dos sete erros e atividades de passatempo;
Lince e Charada; Jogo Cara maluca e Jogo 60 segundos; Fecha quadrado; Genius adaptado; e
Identificando detalhes em figuras.
Concluída a etapa de coleta de dados, passou-se para análise dos mesmos, com relação
aos questionários preenchidos pela professora verificaram-se poucas alterações tanto de ordem
de aprendizagem como comportamental. Por outro lado foi bastante abordado pela professora a
questão intima entre motivação e aprendizagem, fazendo correlação entre desempenho
acadêmico e motivação para a aprendizagem.
Com relação aos resultados dos testes Completar Figuras, Dígitos e o Atenção
Concentrada seguem os resultados na tabela abaixo:
Tabela 03 – Resultados quantitativos dos testes aplicados com os participantes.
Resultados dos Testes
Participante

Subteste Completar Subteste Dígitos Teste Atenção


Figuras Concentrada
1ª Aplicação 2ª Aplicação 1ª Aplicação 2ª Aplicação 1ª Aplicação 2ª Aplicação
A 6:2 Meses 7:6 Meses 6:2 Meses 8:10 Meses Percentil 1 Percentil 5
Inferior Inferior
B 6:2 Meses 6:10 Meses 6:2 Meses 6:10 Meses Percentil 1 Percentil 1
Inferior Inferior
C 6:6 Meses 7:2 Meses 9:10 Meses 9:10 Meses Percentil 5 Percentil 5
Inferior Inferior
D 6:2 Meses ---- 6:2 Meses ---- Percentil 1 ----
Inferior
E 6:2 Meses 7:6 Meses 6:2 Meses 6:2 Meses Não Percentil 1
pontuou Inferior
F 6:2 Meses 6:2 Meses 6:2 Meses 6:10 Meses Percentil 5 Percentil 10
Inferior Médio
Inferior

De acordo com a tabela acima se pode constatar que houve melhora no nível de atenção
voluntária dos participantes A, B, C, E e F conforme destacado em cor amarela. Isso nos faz
confirmar a hipótese de que se estimulada à função mental específica e utilizando-se materiais
adequados e adaptados às necessidades do indivíduo, podem-se obter melhoras nos níveis de
atenção. Ressalta-se que a participante E não conseguiu melhores resultados no teste dígitos em
razão de sua dificuldade de compreensão acerca da execução do mesmo e não por não ter
conseguido lembrar-se das seqüências, e o participante D deixou de freqüentar a intervenção por
problemas de saúde na família, não retornando até o término da pesquisa.
Conforme o avanço da intervenção, os participantes apresentavam melhores
desempenhos nas atividades e jogos lúdicos propostos como por ex. maior número de acertos
em menor tempo como nos jogos 60 segundos; Cara Maluca; Lince; Charada; e maior número de
acertos no jogo dos sete erros; identificação de detalhes ausentes nas figuras e genius adaptado.
Conclui-se que houve melhora nos níveis de atenção dos participantes A, B, C, E e F de
acordo com os testes formais bem como seu desempenho nas atividades e jogos lúdicos
propostos no decorrer do processo de intervenção, onde gradualmente foram ampliando seus
recursos para o desenvolvimento das mesmas.
Desta forma, foi possível estabelecer recursos lúdicos objetivando trabalhar com a
estimulação da atenção voluntária para serem utilizados com fins terapêuticos pelo profissional
psicólogo; bem como servir de base para orientações de estratégias práticas para o professor.
No entanto não foi possível constatar se houveram generalizações ou se os as
intervenções da aplicadora produziram resultados na atenção das adolescentes em sala de aula,
talvez para avaliar estes aspectos fosse necessário um período maior de intervenção com o
público escolhido, levando em consideração seu déficit cognitivo e a lentidão pelas quais os
progressos e evoluções são alcançados.
Considerações Finais: A presente pesquisa buscou contribuir com novos conhecimentos acerca
da reabilitação da função mental da atenção, freqüentemente prejudicada ou deficitária em
pessoas com déficit cognitivo. Acredita-se que ainda se mantém um campo amplo para novas
descobertas dentro da neuropsicologia, pois existem poucas pesquisas que contemplam este
público na área da Psicologia escolar, talvez isto ocorra pelo fato de que os progressos
alcançados são em longo prazo, necessitando por parte do aplicador paciência, persistência e
autocontrole de suas frustrações, pois se deve reiniciar a intervenção “sempre”. Porém, este
trabalho demonstrou pequena, mas significativa melhora nos níveis de atenção da maioria dos
participantes, bem como a aprendizagem por imitação do comportamento dos colegas.
Contudo, acredita-se que o trabalho do neuropsicólogo é buscar compreender o
comportamento humano relacionando-o com seu funcionamento cerebral em todos os processos
de aprendizagem. Munir-se de instrumentos, criar estratégias, atividades que estejam de acordo
com a necessidade daquele que necessita da intervenção neuropsicológica torna-se uma
premissa para quem escolhe esta profissão. Sabe-se que todo conhecimento é construído, e a
pesquisa faz parte deste processo de descobertas, pensamentos e estratégias de ações, pois ela
provoca, suscita, instiga o pesquisador em testar sua hipóteses, reflexões e verdades.
Minimizar os efeitos causados pelo déficit cognitivo na vida destas pessoas é uma luta
contínua, que a cada passo conquistado surgem oportunidades de adquirir novos conceitos para
demonstrar e constatar que pessoas com déficit cognitivo têm limitações sim, mas não
incapacidade para aprender e se superar.
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