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“Os rins e a melhor parte do fígado” – Em defesa dos bons costumes no exercício eleitoral

Estudar e interpretar as leis é de fato uma arte!


Leis são fruto de preceitos morais, estabelecidos socialmente para manter a harmonia e a coesão da
convivência coletiva. Comunidades pelo mundo, ao longo da evolução humana, estabeleceram
diversas regras, que caracterizavam sua cultura e a sua concepção de mundo.
O livro bíblico de Levítico traz uma série de regras que foram estabelecidas por uma nação em
formação. Israel, ao iniciar sua peregrinação rumo à “terra prometida”, instituiu diversas regras, cuja
crueldade e severidade nos soam como verdadeiras barbaridades. Imaginar que uma pessoa fosse
obrigada e levar animais para cortar, escorrer o sangue e depois queimar, como um ritual obrigatório e
permanente, para que fosse aceito socialmente e pudesse exercer direitos é realmente uma figura
impactante.
Ocorre, contudo, que tais rituais eram e ainda são muito comuns em diversas culturas e sociedades e
simbolizam muito mais do que mera expressão religiosa, uma vez que o seu significado e a extensão
prática que produz no cotidiano das pessoas centraliza uma série de escolhas e atitudes, com impacto
direto nos relacionamentos.
Viver desregradamente, sem observar nenhum tipo de regra ou lei, seja espiritual ou material, traz
evidentes prejuízos sociais, como limitação para frequentar determinados ambientes; privação para
adquirir bens por meio de financiamento; e até limitações no exercício da liberdade, como o próprio
direito de ir e vir, dependendo da conduta praticada.
Pode-se dizer que o comportamento social é um excelente indicador de caráter, inclusive! Escolher um
representante é algo muito mais sério do que assinalar um número numa urna eletrônica, ou num
pedaço de papel. Por isso, é muito importante avaliar a sua conduta. Se não paga impostos; se vive se
embebedando; se está sempre em situações e circunstâncias duvidosas; se não produz ou contribui
em nada, certamente não será um bom representante dos interesses coletivos.
Oferecer no altar do holocausto, a gordura, os rins e a massa de gordura do fígado era uma oferta que
simbolizava a paz entre a pessoa e o seu Deus (no caso, o Deus de Israel – YHWH – Jeová). Na
realidade, foi uma prática repetida inúmeras vezes pelas pessoas, em toda a história da nação, pois
iam festejar, em datas específicas, comemorando coletivamente pelas bênçãos da proteção divina e,
durante as festas ofereciam as ofertas ritualísticas e depois desfrutavam de uma refeição solene,
alegre, demorada, barulhenta e que se tornou um dos elementos centrais da cultura hebraica, cuja
maior expressão atual certamente é a santa ceia ou sacramento cristão.
Fato é que essa simbologia bíblica revela a necessidade de que os nossos bens (os animais
oferecidos) devem servir ao propósito de nos tornar pessoas melhores. Os rins em todas as passagens
bíblicas e na linguagem metafórica, tanto do hebraico, quanto do grego, representam nossas emoções,
o centro que conduz as nossas escolhas e atitudes. A gordura é o símbolo da riqueza e da
prosperidade, é a melhor parte do animal. O fígado é a representação da purificação da vida, a busca
pela santidade, pela honestidade, por “fazer o bem”, pois é o órgão que filtra o sangue (que representa
a vida).
Dessa forma, quando nos deparamos com as nossas regras sociais, como o Código Civil, o Código
Penal e toda a legislação de uma forma geral, precisamos entender que todas as representações e
conceitos ali incorporados foram embasados no raciocínio de tornar a sociedade justa e harmônica,
estabelecendo equilíbrio entre as gigantescas diferenças entre as pessoas (que, por vezes, inclusive,
habitam sob mesmo teto), tanto de condição socioeconômica, quanto de aspectos religiosos e culturais.
Legislar, criar, propor e aprovar leis, que é o cerne da atividade parlamentar, denota esse
compromisso.
Por sorte, hoje temos a “fiança”; as audiências de conciliação; os direitos difusos; o devido processo
legal; o contraditório e a ampla defesa em lugar de todos os rituais de sacrifício. Apesar de tudo, à
Roma o devido reconhecimento por essa enorme contribuição ao mundo hodierno ocidental!
A lei Levítica, portanto, nos fala, por meio de regras e rituais religiosos, que a busca do ser humano em
prosperar, crescer, enriquecer, dominar e SER ELEITO, está (ou pelo menos deveria) diretamente e
intrinsecamente ligada à necessidade de que nos voltemos ao estrito cumprimento de uma série de
deveres morais, éticos e políticos. É, sem dúvida, uma expressão de singela significância do reflexo
dos “bons costumes” na manutenção da paz e da ordem sociais, que se eleva com especial deferência
em tempos de eleições que se aproximam...

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