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Redação e Administração
Rua Rubino de Oliveira, 85
A IDÉIA É COMO A GOTA D'ÁGUA. PODE REFLETIR A IMENSIDADE. Correspondência: Caixa Postal 5739
> São Paulo
ANO II NÚMEROS 14 E 15 SÃO PAULO, ABRIL E MAIO DE 1968 PREÇO NCr$ 0,20

ORIGEM DO 1.° DE MAIO


Você tem uma divida de honra para com aqueles que deram sua vida, para que trabalhássemos apenas 8 horas por dia
Desejosos de conhecer um e principalmente, deu ciência aspirações. Diz ainda Ricardo rico e livre e, sem embargo,
pouco da História que envol- aos trabalhadores da sua po- Mella que, tanto os trabalha- os trabalhadores sofrem tão
ve a celebração universal da derosa força quando conscien- dores europeus como os ame- terrível exploração e vivem
Festa do Trabalho, iniciamos temente organizados e instrí- ricanos devem as suas mais tão miseravelmente que tem
acurada procura de documen- dos. firmes idéias sociológicas ã que atirar seus filhos à ru-
tos fidedignos que nos pu- Confessamos o nosso as- Associação Internacional dos des fainas durante muitas
dessem conduzir seriamente, sombro quanto ao silêncio e Trabalhadores, fundada em horas do dia; num país tal,
à verdadeira fonte que deu a omissão que os jornais, re- Londres no ano de 1864. E repetimos, é lógico e neces-
origem a esta comemoração. vistas e outros meios de di- como prenuncio da tragédia « sário que se lute decidida
Dentre os vários documentos vulgação sempre fizeram em de Chicago, Mella relata o se- mente contra a burguezia, e
que nos vieram às mãos, en- relação a este fato Histórico. guinte: «O inverno de 1873 e que se dê o impulso a outros
contramos um libreto de Ri- Evidenciando falsas intenções, 74 foi rigorozíssimo e a países onde os trabalhadores
cardo Mella, que leva como cada governo e cada Nação paralização dos trabalhos ainda não compreenderam
título: «A Tragédia de Chi- imprime a essa memorável foi tão grande que muitos mi- bem a extensão e a grande
cago» e como subtítulo: data, as feições mais absur- lhares de homens sofreram os verdade de seus males».
«Mártires e precursores das das e contraditórias que jul- horrores de uma morte len- Finalmente no ano de 1880
Oito Horas», que foi escrito ga conveniente, sempre, po- ta pela fome e pelo frio. Os ficou organizada a Federação
em 1889, precisamente dois rém, em premeditado detri- obreiros sem trabalho de dos Trabalhadores dos Esta-
New York reuniram-se em dos Unidos e Canadá, e, em
imponente manifestação no outubro de 1884, acordou-se,
dia 13 de janeiro de 1872, pa- numa reunião realizada em
ra que o público visse seu es- Chicago, que se declarasse
tado de pobreza; e quando a em V de Maio de 1886, a gre- Saúde! Tempo em que nosso O socialismo libertário de-
praça pública estava material- ve geral pela conquista das silêncio será mais poderoso monstra que todos devemos
mente coberta de homens, mu- oito horas de trabalho. E as- que as nossas vozes que hoje evitar o mal onde quer que
lheres e crianças, a polícia sim foi de fato. Conforme sufocam com a morte ! êle esteja.
acometeu brutalmente por havia-se estabelecido dois
todos os lados, dissolvendo a anos antes, chegado que foi Samuel Fielden
manifestação em meio ao o dia 1' de Maio de 1886, de- Augusto Spies
; '•■'■'•

maior espanto daqueles fa- clarou-se a greve geral em to-


mintos indefesos. Este ato do o território americano e sava estabelecer a jornada de Luís Ligg, Oscar W. Neebe,
bárbaro. flrtã . iagttaüfi^ãsaJ^JfiaLé j^suKsram os, entendi "i- oi Io horas, alguns homens se e Rodolfo Schmaubelt.
conduta dá Força Pública, de- 'met.tns
merítos e riesentend
desentendimentos
.menloi destacaram ' peio ieu laieiilo" Alberto Páísóílâ" qufc havia
vem anotá-la em carteira os que são próprios da luta en- e pela abnegação e carinho tido atuação destacada em
apologistas das liberdades tre o capital e o trabalho. Ri- com que abraçaram a causa toda aquela campanha, era o
norte americanas». cardo Mella diz ainda que, se proletária. E foi contra esse único que não estava em po-
Para dar uma pálida idéia o triunfo não fora total, a pugilo de militantes de iliba- der da polícia; mas quando
da situação em que se encon- da conduta moral e de reto chegou o momento preciso,
travam os operários naquela procedimento que a «justiça» certo da sua inocência apre-
Wma&immm americana descarregou todo sentou-se no banco dos acu-
época, seguiremos mais um
pouco a narração de Ricardo o seu ódio mortal e o seu sados para oferecer, com
Anunciamos' uma mudança Sempre supuz que tinha o di- Mella: «Num país em que as rancor de classe. As coisas seus companheiros, a vida em
no sistema de produção e de reito de expressar as minhas indústrias têxteis mantém em se passaram da seguinte ma- holocausto as suas idéias. De
consumo em todos os países; idéias, como cidadão e como Pensilvânia 5.300 meninos me- neira: em conseqüência da todo esse longo processo ju-
essa mudança não pode im- Homem. Se isso é delito, sou nores de 15 anos; 4.300 me- resistência oferecida por al- diciário o único que ficou
pedir-se, ela chegará. então um delinqüente. ninas menores de quatorze guns donos de fábricas que bem claro é, que, foram con-
anos e 27.000 mulheres e jo- não queriam ajustar-se ao denados por professar idéias
Michel Achwab Oscar Neebe vens de maior idade num tra- novo horário de trabalho, anarquistas. E assim, no dia
balho penoso; num país em realizou-se um comício em 20 de agosto de 1887, se fêz
anos após aos acontecimen- mento da sua legítima signi- que há uma cidade como Fi- Haymarket, no dia 4 de Maio público o veredicto dos jura-
tos que ora nos ocupam. Sur- ficação. Tudo fazem para de- ladélfia, onde os meninos onde devia discutir-se a ati- dos. Augusto Spies, Adolfo
preendidos que fomos pelo tí- turpar-lhe a índole combativa, trabalham em armazéns, lo- tudes daqueles patrões. O co- Fischer, George Engel, Luís
tulo da obra, pois sempre se transformando-o em dia fes- jas e fábricas, quatorze e até mício decorria na melhor or- Lingg e Alberto Parsons, con-
falou em «festa do trabalho» tivo com bailes, piqueniques, dezesseis horas diárias; num dem e serenidade, a ponto denados a morte. Michael
e não em «Tragédia de Chica- excursões, competições espor- pais em que somente em New que, o Major de Chicago que Schwab, e Samuel Fielden, a
go», adentramo-nos, sôfrega- tivas, e, o pior de tudo é fei- Jersey exploram-se 15.000 me- estava ali presente com pro- 18 anos de prisão, e Oscar W.
mente, na leitura do citado to pelos contraditórios e mal ninos de oito a quinze .anos pósitos de até dissolvê-lo se Neebe a 15 anos.
documento. Qual não foi a chamados países «socialistas» de idade; num país onde a re- era preciso, como fizera ou-
nossa surpresa ao constatar- que preparam agressivas de- lação dos meninos menores tras vezes, abandonou o lo-
mos que, em verdade, o 1° de monstrações bélicas com sun- de quinze anos ocupados em cal dando ordens ao Capitão
Maio longe de ser uma data tuosas paradas militares. Dir- diferentes trabalhos dá uma Banfield para que recolhesse
festiva é, antes de mais na- se-ia que há o propósito deli- percentagem de 40%, quase Grande é a verdade e a ver- as tropas para o quartel. En-
da, um dia protestatório e de berado de ocultar à imensa a metade; num país tal tem tretanto, o Capitão Banfield
invulgar significação social e coletividade operária do mun- que ser, necessariamente, dade prevalecerá. assim não o entendeu, e, uma
humana. É data que marca do, o exemplo edificante dos vez retirado o major de Chi-
uma das mais resplandecen- trabalhadores de Chicago do Adolfo Fischer. cago, deu ordens aos solda-
tes conquistas da História do ano 1886. dos para que dissolvessem
proletariado, que vem a ser, Certos de que os nossos aquela reunião. Quando já
o advento das oito horas de leitores gostariam também, era iminente e inevitável a
greve, entretanto, podia se investida das tropas, cruzou
trabalho, em contraposição como nós, conhecer alguns considerar vitoriosa e os tra-
às dez e mais horas que, ofi- rasgos históricos destes acon- o espaço um corpo luminoso
balhadores do mundo teriam, que foi explodir com formi-
cialmente ainda se trabalha- tecimentos, passamos a des- daquela data em diante, uma
vam em 1886. Ademais disso, crevê-los mui sucintamente dável estrondo entre a solda-
jornada de trabalho mais hu- desca, matando alguns e fe-
embora, na medida que o es- mana e com maior respeito.
paço disponivel no-lo permi- rindo outros. Instantanea-
Não nos é possível dizer mente a polícia fêz descargas
tir. Ricardo Mella começa di- nestas poucas palavras, as pe-
zendo que já em 1803 e 1806, cerradas sobre aquele povo,
ripécias, as arbitrariedades e deixando a praça juncada de
organizam-se os primeiros os atropelos que os traba-
sindicatos em New York e mortos e feridos. A seguir
lhadores vinham sofrendo prenderam a torto e a direito,
que em 1832 em Boston, fa- desde o ano 1803, quando fun-
ziam-se movimentos para a invadiram domicilios e mal-
daram os seus primeiros sin- trataram pacatos cidadãos. Não, não é por um crime que
conquista das dez horas de dicatos, até 1886 quando se nos condenai a morte; é por-
trabalho. Essa inquietação e Todos os oradores e os que
decidiram humanizar um pou. mais se haviam destacado no que somos anarquistas; e
esses movimentos operários co a faina operária com a posto que é pelos nossos prin-
fizeram com que em 1853 em movimento operário foram
conquista das oito horas. Co- presos. Jornais foram supri- cípios que nos condenai, eu
quase toda a república Norte mo a violência fatalmente grito sem temor: sou anar-
Americana não se trabalhas- midos e os impressores e edi-
sempre gera a violência, e co- tores foram encarcerados; quista !
se mais de onze horas em mo as grandes conquistas so-
contrapartida às quatorze ho- Por que razão se me acusa reuniões e comícios foram
de assassino? Pela mesma ciais foram sempre tintas do também proibidos. Luia Lingg
ras que eram oficialmente es- generoso sangue proletário,
tabelecidas. Em 1869 em Bos- razão que tive que abandonar Em conseqüência dos fatos
Alemanha, pela pobreza e pela era de prever-se que o esta- que acabamos de narrar, ini-
ton organiza-se a «Liga das belecimento da nova jornada
Oito Horas» que adotou um miséria da classe trabalha- ciou-se o correspondente pro- No dia 10 de Novembro,
dora. de trabalho reclamasse o tri- cesso. No dia 17 de Maio reu- Luís Lingg burlando a vigi-
programa nitamente socialis- buto de sacrifício dos mais
ta, e já nos anos de 1870 e niu-se o Grande Jurado com- lância do carcereiro e para
Jorge Engel destacados militantes. Era posto por elementos por de- não dar o gosto aos Juizes
1871 começaram a se organi- esse o pensamento dos gover-
zar entre os alemães residen- mais conhecidos como rea- que o condenaram, suicidou-
nos e dos patrões e assim o cionários e inimigos das re- se em sua cela; e no dia se-
tes nos Estados Unidos, as fizeram em ostensivo conluio.
primeiras forças da «Associa- muito enérgica a atitude dos formas sociais. A acusação guinte, às onze e cinqüenta
Que espécie de Justiça é a ção Internacional dos Traba- trabalhadores para suprimir continha sessenta e nove minutos, Spies, Parsons, En-
de vez todas essas infâmias A TRAGÉDIA cláusulas, complicando na gel e Fischer, se encaminha-
vossa que leva para a forca lhadores» que havia de exer-
homens aos quais não se lhes cer notável influência entre a que matam lentamente os morte do policial Degan, a ram Dará a forca cantando
prova nenhum delito ? massa trabalhadora que ain- pais e filhos, adultos e rapa- No envolvimento penoso, Augusto Spies, Michael em alta voz a Marcelheza.
da não estava bem compene- zes e mulheres e anciães. Num lento e perseverante desse Schwab, Samuel Fielden,
país tal, que goza fama de processo de agitação que vi- Adolfo Fischer, George Engel, (Conclui na última página)
ALBERTO PARSONS trada das suas verdadeiras

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IRREVERÊNCIA DO TEMPO
A lembrança da Bastilha do Cambuci é uma evocação dolo-
rosa, mormente quando se relembra que esse vulto sim-
pático não foi tão «nobre» como o seu nome.
As novas gerações não sa- inúmeras vezes teve o des- ram ali registrados por vá-
bem e talvez nem imaginam prazer de se defrontar com rias vezes. Precisamente, foi
a grande manifestação de so- o empertigado e sanhudo de- numa destas celas que Do-
lidariedade humana que a po- legado. Amparado na impu- mingos Passos esteve reclu-
pulação de São Paulo pres- nidade ilimitada de policial so por mais de três meses por
tou, nos anos de 1925 a 1927, nato, «Nobre» mandava bus- ordem e recreação do célebre
aos dois anarquistas italia- car em casa os honestos e delegado da «ordem» política
nos, Nicola Sacco e Bartolo- probos promotores daquela e social, Hibrain «Nobre». A
meo Vanzetti, condenados à digníssima campanha — to- pesar do nosso esforço, nem
cadeira elétrica por um pre- dos cidadãos de elevada cul- roupa e nem comida permi-
meditado erro judiciário dos tura social e ilibado compor- tiam que se lhe entregá-se e
famigeradas tribunais norte tamento — e tratava-os co- até os «Habeas Corpus»
americanos. Presos em Mas- mo marginais, proferindo eram cavilosamente burlados
sachusset em 1920 sob a acu- , rançosos sermões «jurídicos» pela astúcia de «Nobre».
sação de haver cometido um e repetidas ameaças que de- Quando dali foi removido pa-
crime, os juizes apressada- pois materializava. Um dos ra ser atirado a uma das sel-
mente forjaram testemunhas homens que mais sofreu nas vas que já nem mais lembra-
e condenaram-nos à morte. mãos do senhor delegado mos a região, Domingos
O mundo inteiro, consterna- «Nobre», foi Domingos Pas- Passos estava com o corpo
do, interessou-se por aquele sos, em memória de quem coberto de chagas e todas as
célebre processo que se pro- endereçamos esta recordação roupas em fiapos. Tivemos
longou por mais de sete como uma homenagem fra- depois, apenas esparças notí-
anos devido a que o Comitê ternal ao seu grande sacrifí- cias e tudo fizemos para man-
Central de defesa sediado em cio. Domingos Passos era um dar-lhe roupas e dinheiro...
New York, conseguiu sustar moço carpinteiro dono de mas nunca mais tivemos no- Para que a herva não apague da memória dos povos, os 4 milhões de poloneses
por várias vezes a execução uma cultura invulgar e ora- tícias dele. Foi uma rara in- cremados. Um monumento se ergue em Auschvitz.
da sentença. Personalidades dor acachapante e envolven- teligência truncada pela tru-
de todos os matizes sociais, te. Acudiam a centenares as culência de um delegado que
menos padres, comunistas e
fascistas, somaram-se àquela
histórica campanha que visa-
va arrancar das garras dos
pessoas para ouvir a palavra
fácil e eloqüente desse mesti-
ço que honrava o Brasil e
podia ser orgulho do cruza-
se chama «Nobre» mas bem
pobre de nobreza.
Vale registrar que esse de-
legado tão cioso da «ordem»
Para que ninguém esqueça
furibundo juizes ianquis a mento da raça branca com pública e que não hesitava Por Campio Carplo
vida daqueles dois inocentes. índio, das quais descendia. em tolher aos cidadãos a li-
São Paulo também, com Pois bem, esse moço toda vre rríanifestação de pensa- Um editorial de «La Pren- monumentos bem altos, a da um. Para que não sejam
sua fervilhante população bondade e cuja erudição a mento garantida pela Cons- sa» de Buenos Aires, de abril praça de touros de Badajóz, esquecidas — mas lembradas
cosmopolita onde predomina- ninguém devia porque era um tituição do país, em 1932, de 1967, informava que «em Carabanchel, Nanclares de — as vítimas do «espaço vi-
va o elemento italiano, não extraordinário auto-didata, e quando os Perrepistas a pre- Auschwitz, Polônia, num Oca, Vale dos Caídos, cons- tal»: 125.000 na Holanda,
podia ficar indiferente ao que participava também, da testo de «reconstitucionalizar» canto do que fora um dos truído pela mão escrava dos 20.000 na Bélgica, 1.000.000
clamor daquela agitação uni- meritória campanha a favor o pais tentaram reconquistar maiores campos de extermí- prisioneiros. Todos esses as- na França, 60.000 na Checos-
versal que dia a dia tomava fie Sacco e Vanzetti, depois os exorbitantes privilégios nio montados pelos nazistas, sassínios devem ser registra- lováquia, 5.000.000 na Polônia,
vulto impressionante. Foi sa- de várias vezes arrastado pe- perdidos, o senhor «Nobre» realizou-se, no dia 17 daquele dos por conta dos governos 100.000 na Iugoslávia e 685.000
sim que, no começo de 1925, la sujeira dos cubículos da mais uma vez amparado na mês, a inauguração solene do europeus, serventes de Hitler na Grécia; apenas computan-
sindicatos e uniões operárias rua dos Gusmões, à mando de impunidade que sempre o momento erguido em memó- e Mussolini no implacável e do os mortos, executados ou
reunidos em memorável as- Hibrain «Nobre» foi encerra- acompanhou, assenhoreou-se ria dos 4 milhões de polone- impiedoso extermínio da re- assassinados, em apenas al-
sembléia pública no então sa- do na «Bastilha do Cambuci», das ruas de São Paulo, e dei- ses mortos nesse campo. sistência ao nazi-facismo, com guns países».
lão Itália Fausta, na rua Flo- um dos cárceres mais tétricos tou falação onde quis e co- Mais de 100 mil pessoas reu- atuação direta da Inglaterra Essa estatística pavorosa
rêncio de Abreu, fundaram o e espantoso de que se tem mo quis. Usou e abusou de niram-se ali, procedentes de e a França, para que fique não registra 1.000.000 de es-
Comitê de Agitação Pró Sac- memória no Brasil. Quem um direito que poucos anos todos os países do mundo, lembrado como um período panhóis que sucumbiram du-
co e Vanzetti, que devia quizer sofrer um impacto antes negara àqueles homens com o fim de conhecer os oprobioso que jamais deverá rante os três anos da terrível
orientar e esclarecer o povo emocional, basta consultar, que lutavam para arrancar campos onde se jogavam as repetir-se. «guerra civil», nem mais
brasileiro sobre àquele histó- sobre a «bastilha do Cambu- dos verdugos ianques a vida cinzas das vítimas quando os Os causadores da derrota 1.000.000 de resistentes e re-
rico processo judiciário. ci», os jornais que relatam a de Nicola Sacco e Bartolo- fornos crematórios incinera- ibérica pela fome e por falta fratários ao regime imposto
A campanha teve inicio invasão do povo paulista meo Vanzetti. Como sempre: vam 60 mil cadáveres por dia de munições, depois de apri- na Espanha por Hitler, que
com grande entusiasmo, e, àquele sepulcro negro, por dois pesos e duas medidas. e andaram por entre os si- sionados os fugitivos e exter- ainda perdura apesar do tem-
em pouco tempo, comícios, ocasião da revolução triun- nistros pavilhões, agora dete- minados muitos na Espanha, po e das circunstâncias, e que
reuniões, conferências, jor- fante de 1930. Alguém perguntará: por riorados pelo tempo e meio
Escadas eletrificadas por que essa evocação agora? entregaram em mãos de Hi- foram exterminados por fuzi-
nais e boletins, multiplica- cobertos por pastagens». tler, a débil resistência che- lamento e nas prisões, ou
vam-se na mais perfeita or- onde se faziam subir e des- Desejos de vingança? Até ura
cer os presos a fim ' de tor- certd pohto, quem" §3bft^ f«««-*Bsfla imagem da «herva* que ■ cosk>vaoa: ajeelharam-se em «condenados à foroj* e àh.mij^-
dem, cumprindo Um dever de
consciência que visava salvar turá-los, de cujos gritos era Mas é que, por estranho que apaga lentamente as marcas Munich diante do senhor da ría. Também não estão na-
da cadeira elétrica duas ino- testemunha a própria vizi- pareça, agora, aos 80 anos da ignomínia hitlerista lem- Europa, e seus valentes ofi- quela lista os 8.000 comba-
nhança. Pequenos cubículos de idade, Hibrain Nobre, esse bra a propensão humana pa- ciais lustraram as botas das tentes espanhóis queimados
centes criaturas. Tudo cor-
ria muito bem em São Pau- chamados «cofres» de 1 me- homem que fora um furibun- ra o esquecimento, muito bem Panzer Divisionem que cerca- nos fornos crematórios de Hi-
lo, onde poetas, jornalistas, tro e 80 de comprimento por do e truculento delegado de descrita por Carl Sandburg ram a linha Maginot. Depois, tler.
50 centímetros de largura, to- polícia, se tornou um «pala- em seu poema Herva: «Amon- quando o invasor não encon- Para estes desgraçados que
professores, médicos, dentis-
tas, operários, escritores, em dos pintados de piche, sem dino» da liberdade. Num ca- toai-os alto em Austerlitz e trou resistência e invadiu a serviram de pasto à impiedo-
fim, de todas as classes so- aberturas para a respiração e nal de televisão de São Pau- Waterloo / Cobri-os com ter- Polônia para iniciar seu sa e democrática sociedade
ciais acudiam ao chamado do com canos d'água furados ao lo, depois duma estertórica ra e deixai-me trabalhar | Eu avanço para o Leste, foi que capitalista nos campos de
Comitê Pró Sacco e Vanzetti, redor das paredes, para mo- estirada literária fazendo ga- sou a herva; cubro tudo. | as sujas democracias se pre- morte da Europa, não há mo-
' no único objetivo de prestar lhar, de vêz em quando, os la de recordações do São Pau- Amontoai-os alto em Gettys- pararam para o combate. numento. Os regimes ociden-
solidariedade a um movimen- infelizes ali sepultados. Ce- lo antigo e esquecendo o ho- burg, em Ypres e em Ver- «Para que jamais sejam tais que venceram o nazismo,
: ■ que abrangia o mundo in- las completamente obscuras, mem reacionário que foi, dis- dum | Cobri-os com terra e esquecidos os anos de dor, pactuam com os verdugos do
teiro. Mas, como toda regra sem nenhuma comunieaçuo so enfaticamente em sua pe- deixai-me trabalhar. / Pas- doenças, fome, crueldade, de- povo ibérico, e com emprésti-
tem a sua excepção, a excep- com o exterior, segregadas de r'ração: A liberdade não se sam dois anos, dez anos e os gradação, torturas, sujeira, mos em dinheiro ou com ar-
cio daquela ordeira e meritó- luz e de ruidos que pudes- pede, conquista-se, mesmo que passageiros perguntam ao terror e morte que ali vive- mas, agrilhoam as vozes dos
via campanha foi um Promo- sem lembrar a existência de seja de fusil na mão». condutor: | Que lugar é este? ram» acrescenta «La Prensa». sobreviventes que não se en-
tor Público de nome Hi- gente do lado de fora, cons- Remorços ou caduquice? Onde estamos? / Sou a her- Para que sejam lembradas as tregaram.
brain Nobre, que já se havia truídas com a satânica inten- Simplesmente: irreverência do va; deixai-me trabalhar». «dietas científicas», que fa- «Tudo isto deve ser lembra-
• distinguido como delegado em ção de matar ou endoidecer tempo ! ! ! «Para que isso não acon- ziam perder 20 quilos em do» — continua o órgão bo-
Santos pelas suas repressões o preso pelo silêncio e a so- teça em Auschwitz, para que duas semanas, reduzindo o naerense — «como medida
'Violentas contra trabalhado- lidão. Casos de loucura fo- PEDRO CATALIJO o sofrimento dos seus márti- peso dos prisioneiros de 30 a preventiva, para evitar que
res. De caso pensado assumiu res e o inaudito crime de 40 quilos em poucos meses; ressurjam os culpados ou
o posto de delegado da Or- seus verdugos não fiquem co- as «câmaras letais» construí- seus imitadores e procurem
dem Política e Social, com o bertos pela relva — como tan- das com todos os aperfeiçoa- repetir o genocídio».
único fito de desbaratar a tas vezes ficou o sacrifício mentos técnicos; as valas de Que sentimento de terror
honrosa e justa manifesta-
ção de sentimentos humanos
Contribuições dos heróis, em todos os con- cadáveres e os minuciosos re- e espanto. Tais atrocidades
fins da terra onde os homens gistros que anotavam os no- não podem repetir-se jamais,
que o povo de São Paulo tri- lutaram pela lberdade — er- mes e a data da morte de ca- nunca mais!
butava à vida de Sacco e Rojo, 5,00; El Paso, 5,00; Cecílio, 5,00; Paço, 2,00; Pacifico, gue-se naquele local um seve-
e Vanzetti. Em cada reu- ro monumento de pedra.»
nião, comício ou conferência, 5,00; Terêncio, 1,00; Maria T. Lopes, 0,50; J. M. da Rosa, «Seria preciso levantar mui-
redadas de participantes eram
levadas por ordem de Hi-
0,50; S. T. Lopes, 0,50; J. M. da Rosa, 0,50; A. F. de Moura,
1,00; J. L. S. Cardoso, 0,50; J. A. D. Braga, 0,50; S. O. Lo-
tos outros: em Dachau, em
Nordhausen, em Buchenvald, A P A Z
brain Nobre, para os infectos em Lublin, em Belsem, em
e pestilentos xadrezes do en- pes, 1,00; Bichow, 0,50; G. Azul, 0,40; G. E. Furtado, 0,50; Ohrdurf, em Gettingen, em XJndolf Bell
t--o Gabinete de Investigações Jena, em Leipzig, em Alter-
da rua dos Gusmões. Paula, 15,00; Carlos Aldeghiere, 8,50; GAF, 1,50; Gumer- dorn, em Gotha e em tantos Eu conheço a paz
O autor destas linhas que cindo, 5,00; Odair, 1,00; Dr. 20,00; Eurico, 10,00; Um ami- outros lugares tristemente A rotunda paz
fi o único remanescente em célebres por seus campos de A paz pregada
Sío Piulo, daquele Comitê go, 5,00; J. Valverde, 1,00; Maria Valverde, 4,00; Maria concentração». A paz relegada
formado em 1925, passou Valverde, 1,00; Vendas/Jaime, 0,20; Jaime, 3,60; Saccheta, Nesses antros da morte de-
inúmeras vezes por aqueles vem ser incluídos os de Ar ge- Conheço a paz pregada à pele das ruas
imundos cubículos, e por 10,00; Dr. 30,00; O Magro, 1,00; Castor, 5,00; Anônimo, Ao muro de Berlim
les sur Mer, Saint Ciprien,
5,00; J. H. A. Viana, 5,00; Atílio, 3,00; Emílio, 0,40; Be- Barcarés, onde, em 1939, a
França jogou como feras, cer. A paz pobre
beoduro, 5,00; Atílio, 3,00. A paz colada às bandeiras dos países
cados de arame farpado e vi-
DEALBAR giados por gendarmes sene- A paz com bolor
São Paulo 15/4/68 galeses, meio milhão de ho- A paz histérica das nações fortes
PUBLICAÇÃO MENSAL A paz imposta aos pequenos
mens à mercê das inclemên-
Registrado no Io Oficio de Re- cias do inverno. Era um con-
gistro de Títulos e Documentos tingente de seres convertidos Conheço a paz preta
Li ro B n. 3 sob n. 2.097
em restos de uma derrota, Não a branca paz da pomba
EXPEDIENTE entre «homens, mulheres e
A homeopática paz
Reda* ío e administração :

RUA .iUBINO DE OLIVEIRA, 85


LEIA E DIVULGUE «0 PROTESTO» crianças que chegavam às
portas do mundo a pedir asi-
lo para salvar suas vidas e
A pálida Paz
A paz do cartaz
sua liberdade». Era maio de A paz do púlpito
Corre pondSncli : A paz política
1942, precisamente três anos
C. POSTAL, 5739 — S. PAULO Um jornal vibrante, de Idéias, Críticas depois, o senhor Petain, glo-
Conheço a ridícula paz
Diretor responsável :
rioso marechal francês e pa-
triótico colaborador de Hitler, da gorda senhora chamada ONU
PEDRO CATALLO e Combates pôde anunciar ao mundo que
Conheço o cachimbo da paz
Composto e impresso nas oficinas mais de 72 mil daqueles rebel-
da Gráfica Trevo — Rua Gari- des haviam encontrado sepul- Que é uma bomba sem paz
baldi, 1093 — P. Alegre, (RGS) tura em terras da França. Que é uma paz ponteaguda
Os artigos são de responsabili-
dade de seus autores. Porto Alegre — Rio Grande do Sul E a todos esses recintos da Esta é a paz que eu conheço
Aonde estará a Paz ?
morte politicamente mecani-
zada é necessário somar, com

DEALBAR — abril e maio do 1968 — Pag. 2

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A JUVENTUDE E A REALIDADE BRASILEIRA
É que falamos a moços, fa- cia no eqüacionamento das lhe cabe, pela sua posição no no Brasil, o governo preten- quimérico; só uma elite mi-
Trechos de uma palestra pro- de na verdade fazer da uni- noratória consegue chegar lá.
lamos nesta querida Bahia soluções dos nossos proble- mundo futuro. Um Brasil on-
nunciada pela Vereadora IDA neste ano decisivo de 1968. mas. Os jovens estão vincu- de desapareçam as desigual- versidade uma casa fechada, O baixo rendimento do nos-
Falamos, sobretudo, nesta lados às aspirações do povo dades gritantes e onde não cujas portas somente se so sistema educacional, cons-
REGO em Itapetinga, Bahia, abrem para uma elite minori- titui outro dos principais pro-
hora extraordinária e indeci- e, como êle, marginalizado seja possivel negar aos seus
por ocasião do Congresso Es- sa, em que se faz mister lan- do processo histórico do bra- filhos o dever de instruí-los, tária e privilegiada. O ensino blemas nacionais a ser equa-
çar os mais vibrante toque de sil Todas as portas lhes es- de prepará-los para ombrear superior marcha a passos cionado e resolvido. Vamos
tudantil, em 15 de fevereiro largos para uma descrimina- reformar o sistema educacio-
reunir todas as forças vivas tão fechadas, desde uma es- com os cidadãos de outras
de 1968 e sãs da nacionalidade. È nin- drúxula estrutura partidária, pátrias. Pois, infeliz a demo- ção econômica. O estudante nal fugindo à alienação 6er-
guém pode negar que a mo- reservada com exclusividade cracia que chegue a esque- pobre não pode aspirar ao vil para poder mobilizar as
Meus jovens compatriotas: cidade seja uma dessas ener- aos privilegiados, até os pro- car a alfabetização do povo. seu acesso à universidade. forças intelectuais adormeci-
1 !
gias poderosas, senão mesmo cessos políticos atuais de uma É justamente esta referência das da Nação. Com um gran-
Cedemos, de bom grado, a mais de todas, principal- pseudo-democracia que con- sobre alfabetização que che- Esta é a realidade irrefu- de número de escolas tere-
ao encanto do mais honroso mente em nosso país onde dena e abomina. ga a envergonhar-nos, pois tável que os homens de go- mos a possibilidade de desen-
mais da metade dos habitan- apesar de todos os labores pa- verno tentam confundir à volver o povo, formando, des-
e amável convite para falar custa de um palavrório cheio tarte, os técnicos necessários
aos moços da nossa terra so- tes é constituída de moços. Assim é que falamos aos ra solucionar o problema da
bre os principais problemas Dois terços da população bra- estudantes baianos, falamos alfabetização, ela continua de contradições e a custa de ao desenvolvimento do país.
da mocidade brasileira. Aqui sileira tem menos de 25 anos aos moços que são e não lhe tão falada quanto esquecida, uma manipulação maliciosa O Brasil tem de dar escolas
entre vocês prazeirosamente e desses, cerca de 15 milhões encaramos somente a profis- aviltada pelas dissipações da de estatísticas, estabelecendo para todos, a fim de assegu-
são os estudantes, os novos são, consideramos especial- politicalha. Como acentua- imagens falsas, apesar de to- rar, sobre a natural desigual-
nos encontramos. Fora pois, dade dos homens, aquela
naturaf viéssemos falar-lhes trabalhadores, os moços re- mente a mocidade que lhes mos, malgrado os esforços dos reconhecerem que a edu-
com os surrados chavões da beldes de hoje. pulsa nos corações e irradia para solucionar a questão, cação é a base fundamental igualdade inicial sem a qual
retórica imperante a respeito nas frontes, fazendo-os mais mais de 50% dos nossos ir- do desenvolvimento econômi- é iniqüidade. Por isto mesmo,
da nossa realidade. Pensa- A velha classe política bra- abertos ao progresso e mais mãos brasileiros, que escapa- co e do progresso social. É não pode tratar a educação
mos, porém, que a festa de sileira se demite pela omis- sensíveis as causas justas da ram de morrer na primeira bem mais fácil entrar na es- como um prêmio aos cam-
hoje, festa juvenil, que é são, e o chamado «homem de humanidade. Não teremos a idade pela desnutrição, ainda cola do que permanecer lá. peões da política de clientela,
sempre um sorriso de beleza amanhã» se mostra muito estulta pretenção de inculcar- não analfabetos. Há apenas De cada 100 crianças brasi- aos parasitas do orçamento
e esperança, não deve redu- mais adulto do que o «ho- lhes o dever nesta hora gra- 160 mil jovens nas Universi- leiras que ingressam no cur- nacional, aos fantasmas escu-
zir-se aos moldes sedições mem de hoje». Ninguém se ve, queremos, apenas, como dades do país, representando so primário, apenas 18 o com- sos da rotina e da mediocri-
desses estilos da praxe. Pre- iluda quanto a determinação uma jovem mais experimen- menos de 2% da população pletam. O numero de crian- dade, da corrupção e da indi-
vimos mesmo a emoção que da mocidade, a nova geração tada, apontar o modo a con- entre 19 e 25 anos. Em com- ças excedentes na área da es- gêhçia intelectual. Todas es-
nos embarga, em lhes dirigir- que surge sabe perfeitamen- sagrarmos nossas vidas em paração, 7% dos jovens in- cola primária, eleva-se a mais sas questões precisam da con-
mos, como jovem, a nossa te o que quer. Idealista e en- flor, à salvação e redenção gleses, 10% dos franceses, de 5 milhões. Não há escolas ciência e do coração dos bra-
palavra. E sentimos, em ver- gajada, não se conforma com do Brasil nos dias apreensi- 40% dos norte-americanos secundárias suficientes para sileiros, sobretudo, da com-
dade, que a pequenina tribu- a estrutura social injusta em vos que vai vivendo e retome cursam universidades e 22% abrigar todos os estudantes preensão da juventude que
na a que ora nos assoma- que vivevos, onde questões o caminho da redemocratiza- dos cidadãos soviéticos tem que deixam a escola primária. tem energias bastantes para
mos, se alarga e ilumina, fundamentais são preteridas ção e o lugar de destaque que seu grau universitário. Mas, A universidade é um sonho solucioná-las.
transformando-se, como por por interesses mesquinhos. A
encanto, na majestade destas juventude é despida de pre-
tribunas populares de que
tanto necessita o povo para
as suas reivindicações.
conceitos e se faz agora cai-
xa de ressonância do nosso
século, no sentido de urgên- ETAS DE ISRAEL tados árabes devemos simultaneamente falar dos russos
A guerra é permanente entre os Estados árabes e o
A fome a doença e a morte Estado de Israel, ou antes contra os judeus, pois de fato,
os árabes fizeram antes guerrilhas, pogroms contra os ju-
os quais tem interesses imperialistas aqui no Oriente Mé-
dio; todas as guerras entre nós foram provocadas pelos
deus da Palestina, tanto em 1929 como antes, mas consi- russos em nome, dizem, do comunismo, razão pela qual
rondam nosso povo deremos as datas; assim em 1929 todos os judeus de Jerico
foram massacrados, abatidos como o gado, com facas; o
eles nos chamam os... imperialistas, os nazistas, a rea-
ção fascista e eles chamam os árabes de... homens do
baixa renda per capita e da mesmo se passou em Jerusalém e em toda a Palestina. A progresso social... A verdade é inteiramente diferente; é
Diariamente, cem crianças preciso olhar os kibbuts, as comunas coletivas, os salários,
brasileiras morrem de fome, explosão demográfica. culpa? As duas raças são circoncisas e se consideram
«primos», segundo a história... mas as igrejas, os muesins, as condições do lavrador da terra, do trabalhador de Israel
por absoluta falta de recur- e compará-lo aos salários dos homens de Alá onde a reli-
sos, pois o país tem um défi- MEDIDAS URGENTES os juizes muçulmanos, os bonzos dos árabes pregaram a
Jihad, a santa sacro-santa guerra os «infiéis»... assim pro- gião é a lei do Estado. No momento os vencidos não que-
cit de 21.220 leitos infantis e rem falar com os vencedores... pois os russos não querem
45.587 médicos. Dois milhões Segundo o relatório «se não letários e empreendedores se reuniram, pois tratava-se,
forem tomadas medidas enér- duma Jihad como este de simplesmente se enriquecer em permitir e é preciso obedecer, senão Moscou não enviará
o meio de bebês — quase a mais os canhões, as metralhadoras, os aviões de guerra:
população do Uruguai — ca- gicas, eficientes e práticas nome de Alá, poderoso — Alá, com o auxílio do Onipo-
neste momento decisivo que tente... Abateram-se crianças, velhos todos... Aqui e ali apa- Viva a PAZ? entre árabes e judeus e abaixo os imperia-
minham para a subnutrição listas de todas as cores; mas o petróleo árabe e o Oriente
crônica: morrerão precoce- atravessamos, a situação den- recia um sujeito bom, mas então eram os próprios árabes
tro de cinco anos, adquirirá que o cortavam em pedaços, um «infiel» de tal calibre... Médio são mais interessantes aos russos.
mente ou contrairão doenças
que os deixarão parcialmente tal volume em profundidade
e extensão que será absolu- E no entanto os árabes tinham vivido na miséria an- (Ch. Hochhauser Armony)
deformados. tes da imigração dos judeus na Palestina onde aliás eles Haifa, Fin 1967
Isto o que consta, entre ou- tamente incontrolável, como
ocorre em alguns países da não eram numerosos, trezentos mil no máximo; mas dian-
tras coisas, no relatório que te do progresso observado na Palestina os árabes de todos
a Legião Brasileira de Assis- Ásia». Traduzido do francês
os países que contorjiaijS^a,,Palestina vieram para essa re- pelos Serviços do C.I.R.A.
tência, presidida por Dona A tese preconizada pela gião. Enquanto que os britânicos barravam os imigrantes
lolanda Costa e Silva, prepa- LBA — da legalização do jo- judeus ilegais, os árabes entraram em massa e encontra-
rou para enviar à Comissão go do bicho — é endossada ram trabalho no meio dos judeus, trabalho esse que foi
de Saúde da Câmara. No mes- por figuras de projeção da remunerado, coisa inabitual entre árabes, pois eles tinham toda espécie e de todos os
mo relatório, está escrito que vida brasileira — religiosos, geralmente um «salário» de gorjeta em troca de uma es- setores do pensamento huma-
a questão da maternidade, in- parlamentares e educadores cravidão de cavalo- no, ocupa lugar de destaque
fância e adolescência no Bra- — para quem a salvação da em todas as livrarias do Bra-
sil é das mais graves, atual- criança brasileira merece Os judeus entretanto, vindos principalmente da Euro- sil. O Dr. Mário Ferreira dos
mente, com as agravantes da qualquer sacrifício. pa, lavraram a terra, construíram o país, organizaram-se Santos, que tivemos a ventu-
em sindicatos e infelizmente também em partidos, de tal ra de conhecer como dono de
Assim, simplesmente assim, assim friamente foi noti- maneira que nas últimas eleições no Knesset (Parlamento) uma livraria (que era o ele-
ciado por um jornal desta Capital, essa espantosa tragédia nós contamos 24 partidos, entre os quais encontramos tam- > mento por êle sempre prefe-
infantil. Se não nos causa maior assombro é porque per- bém meio-faseistas, mas para felicidade do país eles são rido) em 1946, foi, sem dú-
tencemos àquela faixa da população onde as hecatombes pequenos. Eles queriam imitar os nazis, mas os 87% res- vida nenhuma, o homem mais
sociais alcançam sempre proporções superlativas, e, por . tantes são tão fortes que vai tudo bem... Nós temos tam- culto que conhecemos em n/
por conseguinte, o assombro se desvanece em consonância
com aquele velho adágio que diz: «O hábito mata a im-
pressão». Mas, mesmo assim, saturados das soturnas notí-
cias que são o repasto cotidiano da maioria dos jornais,
bém religiosos, os quais atrapalham a vida dos pensadores
em geral; mas aqui eles incomodam os passantes; aos sá-
bados eles jogam pedras contra os motoristas, aqueles que
passam em automóveis. Por outro lado eles fazem demons-
triste que conhecemos em nossa
longa vida de militante liber-
tário. A sua erudição não ti-
nha limites, artes, ciências,
não podemos furtar-nos a um pequeno comentário sobre trações contra as autópsias dos mortos; eles deveriam sa- filosofias, sociologia, línguas
esse inquietante flagelo que se abate desastrosamente e ber esses pobres diabos que as operações post-mortem são e História, não tinham se-
precisamente, sobre as pobres e indefesas criancinhas que feitas, sem piedade e sem valor medicinal, pelos vermes NOTA DE TRISTEZA gredos para aquele cérebro
já, nos primeiros meses de existência, sentem na própria que comem os pobres cadáveres, antes da chegada do Mes- singularmente privilegiado.
carne os impiedosos efeitos dos malefícios sociais codifi- sias que não virá. Durante a maldita guerra eles carre- Fomos surpreendidos com Confereneista exímio, expo-
cados. gam armas, pois é preciso confiar em si-próprio... Deus a dolorosa notícia do sepul- sitor de recursos inconmensu-
As sombrias perspectivas dessas nascentes gerações não ajudou nunca, nem em Auschwitz, nem na Rússia nem tamento na sexta-feira dia 12 ráveis, e polemista tranqüilo,
que consoante o relatório — «morrerão preeocemente ou em seus satélites onde o antisemitismo está crescendo. de abril, do nosso grande seguro e inperturbável, pren-
contrairão doenças que os deixarão parcialmente deforma- amigo e colega de ideais dia qualquer assistência por
dos» — dão a medida exata da completa disjunção existen- Dir-se-ia que a última guerra era mesmo necessária,
simplesmente pois os Nasser e companhia, 13 Estados ára- Prof. Dr. Mário Ferreira dos mais culta e exigente que
te entre os poderes Governamentais e os fundamentais de- Santos. A notícia deixou-nos fosse.
veres da Nação, uma vêz que, como única via de solução bes se uniram com o único fito de terminar ou extermi- Nós que tivemos o ensejo
nar todos os judeus de Israel como também com aqueles aparvalhados, pois custava-
para essas vergonhosas mazelas que depõem contra o de- nos aceitar que aquele homem de privar com êle por quase
coro Naciona), a Legião Brasileira de Assistência preconiza que se encontram nos países árabes e que não obtém o
direito humano de emigrar, de deixar a terra natal; cos- relativamente ainda jovem e trinta anos e de conhecer-
a legalização do jogo do bicho. A insolvência Estatal é tá- cheio de atividades literárias, lhe o manancial de sabedoria
cita e clara nessa transação pretendida pela entidade que tume que está em vigor na. Rússia bolchevista onde ju-
deus ou outros não podem sair, pois a lei do Estado não tivesse deixado de existir. que possuía debaixo daquela
dirige a primeira Dama do país. Resulta, porém, e é de Mas a dura realidade é essa, sublime modéstia que o ca-
pode se abster de escravos. A última guerra salvou os
domínio público, que o jogo do bicho foi suprimido por
judeus de Israel e os dos países árabes, pois os judeus o nosso grande professor Má- racterizava, podemos avaliar
governos anteriores, como medida de saneamento e, prin- rio Santos, deixou um vasio a grande perda que o mundo
eram os mais fortes. Posto que uma morte certa lhes tinha
cipalmente, porque é um jogo largamente praticado pelo
sido prometida, eles se bateram como leões, eles se joga- muito grande na esfera do teve com o falecimento do
proletariado que na ânsia de mitigar a sua pobreza põe saber. nosso inesquecível amigo
ram no fogo como selvagens que na realidade não são.
no «bicho» os esquálidos centavos que diminui no arroz Dominado por uma imensa Prof. Dr. Mário Ferreira dos
da família. A França de um de Gaulle traiu seu amigo Israel de- modéstia que o colocava aci- Santos.
Este foi, pelo menos, o preponderante arrazoado clarando seu Embargo, seu boicote contra Israel; os Es- ma de qualquer espírito de Os libertários e o Centro
quando da sua supressão; e também, porque foi conside- tados Unidos do Sr. Jonhnson não fizeram nada, mas os exibicionismo, Mário Santos de Cultura Social, associam-
rado inescrupuloso engodo e uma prodigiosa fonte de ex- russos estavam desavantajados e não podiam intervir para passava quase despercebido se à dor e o luto de sua es-
ploração popular. Vemos agora, com surpresa, que o jogo ajudar os 100.000.000 de árabes armados até os dentes pela crônica literária. O seu posa, filhas e genros.
do bicho veste roupagens filantrópicas, altruístas e benefi- em sua guerra contra os dois milhões e meio de judeus is- grande número de obras de P. Catai Io
centes, recebendo as honras do Estado e incumbindo-se-lhe raelenses que fizeram uma verdadeiramente boa impres-
a sublime e piedosa missão de salvar da morte e da defor- são sobre os árabes entre os quais foram encontradas ar- FALECIMENTO
mação física a milhões de criancinhas que compõem a des- mas russas das mais modernas; os poloneses cuja popu-
valida infância brasileira. Neste ponto a emoção nos em- lação não tem calçados, tinha enviado os calçados para Deixou de existir no dia 13 de março de 1968, aos 63
barga e não sabemos se aplaudir a legalização dessa con- os bravos soldados da Síria «comunista»; no Egito os co- anos de idade o nosso companheiro José Dias, que se en-
tagiosa praga social que como a lei do semelhante destina- munistas se encontram, naturalmente que são encontra- contrava doente há quase dois anos, vítima de insidioso
se a combater outra pior, ou se vociferar clamando em dos comunistas lá mas bem aprisionados, pois eles são mal.
voz alta, toda a nossa cólera, contra essa desaforada afron- fora da lei. Entretanto isto não impede os russos de os José Dias era oriundo de Portugal, onde, por profes-
ta que se faz a um, povo que precisa escolas e bem estar ajudar, de maneira que os pobres proletários russos devem sar idiéas libertárias, sofreu a perseguição e o encarcera-
e não corrupção e vícios. trabalhar horas suplementares e se calar, pois a ditadura mento pela ditadura salazarista, de cujos sofrimentos, se
Se o desejo da LBA, se consumar, outorgando alfor- vos permite: Uma coisa só: se calar. Se falarmos em Es- lhe instalou uma certa perturbação mental. Conseguiu fu-
ria ao proletário jogo, uma escalafriante metamorfose po- gir para a África e de lá passou para o Brasil no ano de
derá nos surpreender: os «banqueiros» que exploram e 1941, onde residiu até a época do seu falecimento.
controlam o jogo do bicho, que sempre foram tidos como Apesar de sofrer, periodicamente, ligeiras crises men-
gangsters, perseguidos, presos, espancados e até proces-
sados como contraventores, serão içados à categoria bene- PENSAMENTO tais, José Dias, mantinha-se ordeiro e equilibrado, levando
vida normal e de bom companheirismo. Não tinha família
mérita de Cidadãos Benfeitores com todas as honras cor- em São Paulo, e, em sua prolongada doença, tanto em
respondentes. Disto tudo, porém, uma coisa sobressai, gri- Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar casa como no hospital, teve ao seu lado o aconchego e o
tante, desoladora e triste: é a fria e insolvente posição do o mundo, mas uma coisa é certa : haverá na terra um carinho dos companheiros libertários de São Paulo.
Estado ante esse magno problema de tão funda significa- desonesto a menos. Vai aqui a nossa sentida e respeitosa homenagem.
ção Patriótica e Nacional.
COUFÜCIO DEALBAR
P. Drtnho
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Poderíamos definir «Para-
psicologia» uma palavra no-
va para «Algo» antiquíssimo.
UMA PALAVRA NOVA normais ou paranormais? Te-
mos condições em nós mes-
mos para uma «ciência pa-
De fato, os fenômenos que A telepatia difundida no passado, sério perigo no presente. rapsicológica»? Tem a huma-
a «ciência parapsicológica» nidade a capacidade a possi-
hoje estuda e abrange no melhor de cérebro para cére- Além disso, devido às modi- da telepatia em si: o proble- ta «abertura» possa continuar bilidade de reativar em si
seu campo de pesquisas, exis- bro. Além disto o vocabulá- ficações das relações entre ma é a aplicação concreta na involuntariamente? Um ma- mesma, nos seus ocmponen-
tiram desde épocas imemo- rio mental era estremamente seres humanos: da família ao prática das relações huma- rido, uma esposa, um namo- tes individuais, os poderes
riais sendo, sem dúvida, con- pobre e conseqüentemente de grupo, ao clan, à tribu, à na- nas da telepatia. rado teriam realmente a co- «normais» que tinham seus
naturais ao ser humano. fácil transmissão. ção com conseqüente dispari- Porque, na realidade da ragem de desejar relações de ancestrais desenvolvendo es-
A cada passo, folhando os Nas experiências de hoje dade e antagonismo de inte- nossa sociedade humana a- telepatia (transmissão de to- tes poderes harmônicamente
livros os mais antigos, sejam transmitem-se pequenos si- resses não terá surgido uma tual, a única e verdadeira e dos os pensamentos) ou não até ao atual estágio de sua
eles livros de caráter religio- nais aos quais podemos atri- tendência instintiva de con- última defesa do indivíduo é prefeririam a covardia tran- civilização?
so, sejam obras de escritores buir valores em termos de trolar ou despistar a trans- qüila, cômoda e talvez neces- A verdade, a verdade pura
leigos, encontramos uma do- linguagem do mesmo modo missão do pensamento? o «FECHAMENTO DO SEU sária para a vida em comum e absoluta é fenômeno «nor-
cumentação imensa dos fenô- de que os pontos e alíneas do Porque telepatia deve ser PENSAMENTO». de o «não saber»? mal» ou «paranormal» ?
menos que hoje «impropria- alfabeto Morse. Não é absolu- considerada não somente co-
mente» chamamos «paranor- É uma triste e dolorosa Temos então fenômenos Walter TomatLs
tamente difícil neste caso mo transmissão consciente constatação, mas terrlbümen-
mais». Aliás ocorre conside- imaginar um telégrafo.telePá- dum pensamento para capta- te verdadeira.
rar que tais fenômenos eram tico e talvez certas experiên- ção consciente deste pensa-
tão comuns e até corriqueiros De qual forma então a pa-
que ninguém, naquelas lon-
gínquas eras, pensava em con-
cias sob sigilo militar tenham
efetivamente esta finalidade.
mento por outrem, más na
captação consciente (e até in-
rapsicologia pode pensar em
aperfeiçoar, divulgar, coleti- ESPERANTO
Portanto a transmissão de si- consciente — temos muitas vizar o uso da telepatia? Co- SEMINÁRIO CONVENCEU POyo SANDUMONENSE
siderá-las paranormais. nais e às vezes de uma intei- provas disto) dum pensamen- mo pode-se imaginar a difu-
Intenflemos dizer e anotar ra palavra é atualmente pos- to transmitido incônsciamen- Graças ao II Seminário Esperantista, realizado recente-
aqui que o conceito de para- são prática da telepatia numa mente em Santos Dumont, Minas, o Lion's Club local está
sível e cientificamente prova- te. sociedade na qual o maior e patrocinando mais um curso de Esperanto, com cerca de
normal é um conceito recen- da. O cérebro tem então ainda
te, moderno devido talvez a Aqui está o verdadeiro e mais constante esforço de ca- 200 alunos matriculados. As aulas são ministradas pelo
esta capacidade corresponden- terrível perigo da telepatia: da indivíduo consiste em im- Professor Benito Palmieri.
uma série secular de sobrees- do talvez às mesmas caracte-
truturas e condicionamentos pode-se facilmente imaginar pedir que o «OUTRO» possa
rísticas dos nossos ancestrais. as conseqüências que acarre- perceber ou captar os seus ESPERANTO E TURISMO
do nosso pensamento e quiçá
das nossas condições biológi- Porém dizem alguns: o ser taria à nossa atual sociedade pensamentos?
humano se desenvolveu e en- humana a captação dos pen- O esforço instintivo do in- Entre os últimos prospectos editados por Departamentos
cas, ambientais e sociais. Ve- de Turismo de diversas cidades, com texto em Esperanto-
jamos por exemplo a telepa- tretanto tal característica do samentos totais dos indiví- divíduo nesse sentido de «fe-
seu cérebro ficou diminuído duos que a compõem: indiví- chamento» faz imaginar que destacam-se os de Mohács, Aggtelék-Jósvafõ e Esztergom'
tia: imaginemos então o ho- na Hungria; Turku, na Finlândia; Norrkõping, na Suécia;
mem primitivo com solicita- até a atrofia. duo por indivíduo, esposo por também instintivamente êle
esposa, chefe por dependente «sabe» que seu pensamento Ostrava e Roznov, na Checoslováquia.
ções primárias, tais somente Não seria melhor conside-
como satisfação da fome ou rar que o desenvolvimento do e assim em diante. pode «fugir-lhe» ou . «ser «AUSTRÁLIA — TERRA DA ESPERANÇA» : FILME EM
da sede, vivendo numa comu- ser humano, no que se refere Devemos aceitar possível captado».
nidade de poquíssimos mem- à sua linguagem, às suas re- uma tal telepatia na infância, Teremos então atrofia ou
mas impossível no adulto as- impedimento e proibição? Sob os auspícios da Embaixada da Austrália será apre-
bros, não tendo à sua dispo- lações com outros seres, aos sentado na sede da Esperanto-Pres, o filme «Austrália —
sição uma linguagem. Isso seus pensamentos e suas soli- sim como talvez se deu a te- Um ser treinado instintiva-
citações foi tão rápido que lepatia na infância da huma- mente desde a mais tenra in- Terra da Esperança», falado em Esperanto. Entrada fran-
talvez por motivos estruturais ca : Breve
de formação de cordas vocais. não permitiu à sua conforma- nidade sendo instintivamente fância ao uso mental da
Nessas condições é eviden- ção cerebral de acompanhá- considerada impossível, des- «proibição» pode de imediato «SOU A FAVOR DE UM CALENDÁRIO UNIFICADO,
te que o esforço de comuni- lo com a mesma velocidade e truidora para a atual huma- por-se em condição de trans- UMA MOEDA ÚNICA PARA TODOS OS POVOS BEM
cação tendia a focalizar-se eom as mesmas possibilidades nidade adulta. mitir ou captar? Temendo COMO ADVOGO A CAUSA DO IDIOMA INTERNACIO-
diretamente no cérebro: ou técnicas de transmissão? O problema portanto não é ainda, no seu íntimo, que es- NAL ESPERANTO».

COMUNISMO E LIBERDADE Stephen Spender

(Extraído do livro «O Deus que Falou», que reúne o tes- culose sem ter recebido auxílio do Estado, merecia o reconhecimento submeter meu pensamento ao seu, por muito atrativo que seja o deles
de ser uma vítima do capitalismo. O mesmo escritor afirmou que a e muito ineficaz que seja o meu.
temunho de seis intelectuais que em determinado mo-
obra «O Despertar de Finnegan», de Joyce, ilustra a desintegração do Os comunistas representam um grau de centralização até agora
mento pertenceram às fileiras do comunismo. O poeta e pensamento e da linguagem do mundo individualista burguês. Quando desconhecido. O próprio partido político é centralizado e depende de
crítico literário Stephen Spender nasceu em 1903; edu- Virgínia Woolf se suicidou, em 1941, o citado poeta felicitou-se por ter umas poucas pessoas. Todas as demais funções estão, também, centra-
cou-se na Suíça e no University College, de Oxford. a mesma escolhido o caminho de uma necessidade histórica e indican- lizadas sob uma direção política.
Depois de publicar «Além do Liberalismo», em 1937, filiou- do que outros escritores burgueses deviam seguir o seu exemplo. Eu A submissão da arte à política significa que a arte chegará à
, ouvia aborrecido o dogmatismo aberrante dessas pessoas de talento sua total destruição e que o povo será afligido por grandes desgraças.
se ao partido comunista, abandonando-o depois de algu-
inferior. Havia algo degradante no suposto de que uma teoria política Na Rússia as artes foram, certamente, destruídas, como os próprios co-
mas semanas.) da sociedade pudesse situar uma pessoa em tal posição de rejeitar os munistas admitem. (Ilia Ehremburgo explicou-me em Paris, em 1945, que
Ao escrever este ensaio percebo que nenhuma crítica do comu- pontos de vista dos gênios, a menos que se prestassem ao uso da tal os russos não tomariam parte em uma exposição internacional de pin-
nismo destrói os argumentos contra o capitalismo. As experiências dos teoria. tura porque não possuíam bens pintores. Disse-me, também, que* a
últimos anos revolam quo ambos produzem a opressão, c injustiça, a Tcanbém me repugnava cipbarti dítica literária marxista que in- novela do di<;i era americana e que o único destaque na Rússia era a
destruição das liberdades e outros males comuns. Diz-se, em favor do terpreta a literatura como um conjunto de mitos inventados conciente música. Mas um comunista húngaro disse-me, em 1946, que assim como
capitalismo, que, dado o tempo de sua existência, pode permitir-se o ou inconcientemente por alguns escritores a uma classe historicamente os russos haviam destruído a literatura e a pintura, estavam agora
luxo da liberdade na arte e na discussão entre partidos políticos. Ao superior. Em meu parecer, poetas como Dante e Shakespeare mesmo destruindo a música).
mesmo tempo, o capitalismo, como se pratica nos Estados Unidos, o tendo sido homens de seu tempo e pensadores políticos, suas experiên- O artista é simplesmente o indivíduo mais bem desenvolvido de
maior país capitalista, não parece oferecer alternativa à guerra, à ex- cias têm aspeto transcendental que está além do interesse humano. A uma sociedade. Não possui pontos de vista oficiais sobre as necessida-
ploração e à destruição dos recursos mundiais. Se o comunismo atin- sociedade pode segui-los em suas luminosas revelações acerca da na- des humanas ou as atividades do homem, mas tem profunda visão dos
gisse o iniernacionalismo e a socialização dos meios de produção, po- tureza universal da vida, que estão situadas fora das preocupações de sentimentos, do estado de felicidade ou de infelicidade dos indivíduos.
deria estabelecer um mundo que não fosse um caos de contradições uma determinada época histórica, e neste sentido a sociedade pode Dizer que o artista é um individualista, não é afirmar que cria por si
.econômicas. ser elevada por eles; mas estas desbravações não são a expressão de e para si: É dizer que cria partindo de suas próprias experiências, que
estão estreitamente ligadas às experiências de outras pessoas em um
Contudo, ainda supondo que a revolução mundial pudesse ser desejos de sua própria sociedade.
nível em que não são apenas a expressão das necessidades sociais.
alcançada e que estabelecesse em todo o mundo o sistema de comu- Para mim, as crenças dos poetas são revelações sagradas de
. ■ A literatura e a arte são, portanto, um testemunho da situação
nismo político e econômico, a cultura e o bem estar da nova socieda- uma realidade acerca da natureza da vida que posso não aceitar, mas
humana em determinadas circunstâncias de tempo e de espaço. Fazer
de sem desses dependeria de novo pressuposto: a ditadura do proleta- que não posso nem desejo explicar como um «fenômeno social». Se a
com que a experiência pessoal se submeta à generalização do ponto de
riado teria que desaparecer arte nos pode ensinar algo, é que o homem não está completamente
vista oficial, é separar a humanidade do meio de se conhecer a si"
Marx e os escritores comunistas supõem sempre que isto deverá preso na sociedade. A sociedade pode aprender através da arte a
própria como uma comunidade de indivíduos que têm vidas pessoais
suceder e não necessitam esclarecer como será. Pensam que a destrui- íugir da sua própria prisão.
separadas. É difícil crer que uma autoridade central do Estado que
ção do capitalismo se verifica de acordo com umas leis que atuam me- Não admitir que a arte seja a comunicação de uma experiên-
nega aos escritores e aos artistas a liberdade de expressão, quando
canicamente em conseqüência das contradições econômicas do próprio cia única para o artista, é afirmar que a arte ó simplesmente a expres-
suas expressões são contrárias à política do Estado, possua vitalidade
sistema; pensam que o fato de o proletariado atingir o poder, em parte são de necessidades sociais. Isto significa, também, que não sendo os
e força moral para fazer um povo feliz. Tudo o que possui é uma ma-
devido à vontade humana, é portanto, também, do mesmo processo me- artistas e os poetas os melhores juizes de determinada ideologia da
quinaria e uma organização que substitui a vida. Destruir a liberdade
cânico. Desde que a evolução fatalmente se produziu, a necessidade sociedade, os teóricos políticos estão em condições de apontar-lhes o
da arte é certamente uma forma de loucura, como é destruir a liberdade
mecânica do processo degenerativo do capitalismo e a elevação do que a sociedade pede a sua arte, É esta a atitude dos comunistas.
Lembro-me de que nos anos de 1930 e seguintes assisti algumas do indivíduo. É o mesmo que ter ouvidos para ouvir todos os sons e
proletariado, perdem sua razão de ser. A ditadura do proletariado de- substituí-los por fones que só deixam ouvir as ordens do Estado. Con-
saparecerá automaticamente num mundo em que os operários não te- reuniões dos organizadores de um grupo teatral para discutir uma das
minhas obras em verso chamada «Processo de um Juiz». Uma comunista tudo, a destruição desta liberdade é justificada com esta frase: A liber-
nham inimigos.
jovem e muito bem vestida levantou-se para protestar contra minha dade é o reconhecimento de uma necessidade. A liberdade política
Se isso fosse verdade, aa objeções contra o comunismo seriam
comédia. Disse que ela e seus camaradas comunistas estavam decep- corresponde à versão dada pelo Estado das necessidades do homem
por inconvenientes temporários. Grandes inconvenientes, por certo, para coletivizado. A liberdade da arte fala da individualidade de cada ser
as vítimas da ação revolucionária e da propaganda, mas que, ao cionados com minha peça. Esperavam que nela tivesse criado a situaçÕo
de modo a que os fascistas fossem capitalistas, os liberais fossem débeis humano. Mesmo não sendo a arte igual que a política, é política en-
final, seriam o preço para alcançar um mundo internacional em que
e os comunistas fossem os heróis. Mas minha peça mostrava tendência quanto amplia nossa concepção da liberdade humana, e este processo
todas as nações vivam em harmonia. amplificador altera nossa concepção da vida de geração a geração
simpática para com o ponto de vista liberal. Além disso, no último ato
Não sendo verdade o desaparecimento da ditadura do proleta- para exercer sua influência nos fins políticos da sociedade.
riado, a crítica do comunismo e de seus métodos cctaverte-se na crítica havia um elemento de misticismo. E conforme ela disse, não é libera-
lismo ou misticismo o que os comunistas pedem a seus escritores, mas Quando olho para trás posso ver que minha autocrítica começa
da ditadura de amanhã, de depois de amanhã e de sempre. com minha primeira entrevista com Pollitt, quando me disse que era
unicamente comunismo.
-A lição dos últimos trinta anos é que qualquer ditadura esta- necessário odiar o capitalismo. Na realidade, eu não sentia tal ódio.
Seu ponto de vista era exatamente o mesmo de Harry Pollitt,
belecida no mundo moderno com todos os recursos de polícia secreta, Hoje sei com clareza que não necessitava unir-me aos comu-
que sempre que me encontrava, dizia-me: «Por que não escreve canções
de propaganda, de terror, etc. torna-se impossível derrubar. Stalin, nistas porque, na realidade, já havia tomado meu partido. Meu partido
pára os operários, como fizeram Byron, Shelley e Wordsworth?». Per-
Hítler e Mussolini nunca foram seriamente ameaçados por Tebeliões era aquele que acreditava na justiça social, na liberdade e na verdade
dentro de seus próprios domínios. As que caíram, foi resultado da gunta irrespondível, a menos que quizesse afundar os poetas românti-
ruína completa de suas nações, causada por outras «ações. Parece, cos ingleses na deshonra póstuma. Parece que a jovem comunista e sobre os métodos necessários para atingir estes fins. Se os políticos não
pois, razoável pensar que uma ditadura mundial seria a mais irremo- Harry Pollitt são exemplos crus, mas Stalin teria sido mais cru e mais podem criar um partido honrado e livre, os intelectuais devem apoiar
vível de todas. Também pode deduzir-se, à luz da experiência russa, efetivo. Às vezes uma rudeza expressá-se suülmente. Por exemplo, em aqueles políticos mais honestos, ajudando-os ou criticando-os quando
que o comunismo ou qualquer outro partido, produza ditadores, fun- Tchecoslováquia, em 1947, o professor de russo de uma das grandes utilizem métodos de violência e mentira.
cionários ou polícias que desejem alguma vez abandonar o cargo. universidades, que era russo, comunista e inteligente, defendeu um O conflito da conciência liberal dos homens de boa vontade,
Estudar as características dos comissários e dos ditadores de ataque da União Soviética de Escritores a Pasternak, Zoschenzo e outros, nos idos de 1930 e seguintes, atualizou o problema dos meios e dos
hoie, é apreender algo das leis naturais do Estado comunista que, uma afirmando que a Rússia não necessitava bons escritores. «Naturalmen- fins. Dizia-se que para alcançar o poder se deveriam utilizar maub
vez estabelecidas, jamais se abandonam. te — disse o professor — estes são nossos melhores escritores, mas meios, ao mesmo tempo que se deveria negar que eram utilizados.
Entre os intelectuais comunistas pude comprovar, nos anos 1930 não podemos ter bons escritores. Nossos melhores poetas escrevem Meu dever como escritor era esclarecer este dilema.
e seguintes, uma conduta que se converteu em sistema com a criação poemas que deprimem o povo ao expressar um sentido suicida da uti- De certo modo, depois de meu erro inicial, expressei esta idéia.
dos sindicatos de Escritores da Europa Oriental, os quais determinam lidade da vida. Queremos que o povo trabalhe como nunca trabalhou Contudo, preocupava-me algo que existia em mim e que além de es-
aos novelistas e poetas o que devem pensar e escrever. A principal e por isso não podemos permitir que os escritores digam que são sencial era um dever, isto é, um sentido de angústia social juntamente
preocupação dos grupos de escritores que se reuniram para discutir o desgraçados». com algo real de minha personalidade que não me permitiria participar
eterno problema da «arte e a sociedade», era que a literatura devia Em meio desta loucura, não quero perder de vista a idéia prin- de um movimento social.
mostrar as teorias marxistas da superioridade do proletariado e a ne- cipal. Talvez a violência, os campos de concentração, a perversão da Admiti em mim um sentimento de culpabilidade, não somente
cessidade da revolução. Esta visão intelectual da sociedade ia inevita- ciência e das artes se justifiquem, desde que estes métodos consigam por minhas indecisões, mas por aquelas virtudes de amor e piedade e
velmente muito além da experiência individual. A experiência pode algum dia algum dia criar a sociedade sem classes. Sempre tive pre- por minha paixão pela liberdade individual que me haviam impulsado
ilustrar um aspeto da conclusão a que se liga independentemente de sente este argumento, porque é de tanto valor que se fosse verdadeiro para o comunismo. Os comunistas disseram-se que esses sentimentos
toda a experiência. faria com que as objeções ao comunismo fossem triviais. eram «burgueses». Os comunistas, quando se filiam ao partido, têm
Por sinceros que sejam os escritores marxistas, a dominação de Minha conclusão é que os partidos comunistas do mundo todo, que abandonar as razões que os levaram a fazê-lo.
suas mentes por uma teoria anterior à experiência oferece resultados do modo por que estão organizados hoje, não podem criar um mundo É evidente para mim que é meu dever declarar aquilo qu'ej
inevitáveis. Desde o momento em que o mais importante é ser mar- melhor, mas ao invés, um mundo muito pior. Creio nisto por estar con- merece meu apoio sem tomar partido e que penso defender. Nenhum
xista teórico, os melhores marxistas, que freqüentemente são os piores centrado um excesso de poder em mãos de poucas pessoas. Estas pou- bloco na época atual representa o que para mim é a única solução
escritores, levam grande vantagem sobre aqueles que humildemente cas pessoas estão tão protegidas contra as críticas que nem elas pró- dos problemas do mundo. Esta solução é que todos os povos e nações
buscam a arte em sua própria experiência. Os teóricos convertem-se prias, nem ninguém podem proteger-se de suas piores qualidades hu- que amam a liberdade formem um movimento universal para melhorar
automaticamente era críticos literários que analisam toda a literatura manas: selvagismo, vingança, inveja, sede de riqueza e ambição de a situação de milhões de pessoas que preferem o pão à liberdade, ele-
passada e presente de acordo com os pontos de vista ideológicos do poder e outros males. vando-os a um nível de vida em que possam aspirar, também, à liber-
escritor. Eu ouvi um poeta comunista explicar numa sociedade literária Como não creio que a organização central dos comunistas seja dade. Os interesses dos poucos homens que se interessam pelos valo-
de Hapstead, por ocasião do aniversário de Keats, que este, embora capaz de criar uma sociedade sem classes, nem de estabelecer outra res da liberdade, devem identificar-se com os da multidão que necessita
não tendo sido marxista, por ser filho de tropeiro e ter sofrido a tuber- regra que ,não a vingança e a burocracia, não posso admitir que deva pão. Só assim poderá conservar-se a liberdade.

DEALBAR — abril e maio de 1968 — Pág. 4

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A Presente Condição Humana


Quando o mundo medieval foi destruído, o homem oci- cessita de homens que se sintam livres é independentes, mos a humanidade no domínio, para que possa governar
as coisas». É outra forma de dizer que o homem deve su-
dental parecia aproximar-se da realização final de seus não sujeitos a nenhuma autoridade, princípio ou consciên-
mais ardentes sonhos e visões. Libertara-se da autoridade cia, e não obstante estejam dispostos a receber ordens, perar a alienação que faz dele um adorador de ídolos, im-
de uma Igreja totalitária, do peso do pensamento tradicio- fazer o que deles se espera, enquadrar-se na máquina so- potente e irracional. Isso significa, na esfera psicológica,
nal, das limitações geográficas de nosso mundo então ape- cial sem atrito. Homens que possam ser guiados sem que tem de superar _as atitudes mercantis e passivas, que
nas meio descoberto. Criou uma nova ciência que levou, força, liderados sem lider, movidos sem objetivo, exceto o hoje o dominam, o escolher um caminho maduro e pro-
finalmente, à libertação de forças produtivas até então objetivo de estar em marcha, de funcionar, de avançar. O dutivo. Deve readquirir o senso do eu, deve ser capaz de
desconhecidas e à completa transformação do mundo ma- industrialismo moderno conseguiu produzir esse tipo de amar e tornar seu trabalho uma atividade concreta e com
terial. Criou sistemas políticos que pareciam garantir o homem — o autômato, o homem alienado, de tal maneira sentido. Devo sair da orientação materialista e chegar a
i esenvolvimento livre e produtivo do indivíduo, reduziu as que seus atos e suas forças se tornaram estranhos a êle. um nivel em que os valores espirituais — amor, verdade
horas do trabalho em proporções tais que o homem ociden- Permanecem acima dele e contra êle, governando-o ao e justiça — se tornem realmente fundamentais. Mais qual-
tal pôde gozar horas de lazer com que seus antepassados invés de serem por êle governados. As forças de sua vida quer tentativa se modifica apenas um aspecto da vida, o
foram transformadas em coisas e instituições, que por sua homem ou o espiritual, está destinada ao fracasso. Na ver-
nem sonhavam. dade, o progresso que ocorre apenas numa esfera destrói o
Apesar disso, onde nos encontramos hoje ? vez se tornaram ídolos. São sentidas não como resultado
O perigo de uma guerra capaz de destruir tudo paira dos esforços do homem, mas como algo destacado dele, progresso em todas as esferas. O evangelho que se ocupa
sobre a humanidade, perigo não superado pelas hesitantes que êle cultua e a que se submete. O homem alienado se apenas da salvação espiritual levou à Igreja Católica Ro-
tentativas dos governos de evitá-lo. Mesmo os represen- inclina ante o trabalho de suas mãos. Seus ídolos repre- mana.
tantes pqlíticos do homem tenham ainda bastante bom- sentam suas próprias forças vitais, de forma alienada. O A Revolução Francesa, com sua preocupação exclu-
senso para impedir uma guerra, a condição humana está homem se sente não como o portador ativo de suas forças siva com a reforma política, levou a Robespierre e Napo-
longe de realização das esperanças dos séculos XVI, XVII e riquezas, mas como uma «coisa» empobrecida, depen- leão. O socialismo, na medida em que se ocupa apenas da
dente de outras coisas fora dele, e nas quais projetou sua transformação econômica, levou ao stalinismo.
e XVIII. . . Aplicando o principio da transformação simultânea a
O caráter do homem foi moldado pelas exigências do substância vital.
mundo que construiu com as próprias mãos. Nos séculos Os sentimentos sociais do homem são projetados no todas as esferas de vida, devemos pensar nas modificações
XVIII e XIX, o caráter social da classe média revelava Estado. Como cidadão, êle se dispõe até mesmo dar sua econômicas e políticas necessárias à superação da realida-
fortes tendências à exploração e ao entesouramento. Esse vida pela de seu companheiro; como pessoa, ê governado de psicológica da alienação. Devemos conservar os progres-
caráter foi determinado pelo desejo de explorar os outros pelo interesse egoísta em si mesmo. Tendo feito do Esta- sos tecnológicos da produção em grande escala, com a má-
e poupar os ganhos, para obter deles novos lucros. No sé- do a representação de seus sentimentos sociais, cultua-o e quina e a automatização. Mas devemos descentralizar o
culo XX, o caráter do homem revela considerável passivi- aos seus simbolos. Projeta seu senso de poder, inteligên- trabalho e o Estado, dando-lhes proporções humanas, admi-
dade e uma identificação com os valores do mercado. O cia e coragem em seus líderes e os adora como ídolos. Co- tindo a centralização apenas na medida necessária às exi-
homem contemporâneo é, sem dúvida, passivo durante a mo trabalhador, funcionário ou administrador, o homem gências da indústria. Na esfera econômica, precisamos de
maioria do seu tempo do lazer. É um consumidor eterno, moderno está alienado do trabalho. O operário tornou-se uma democracia industrial, um socialismo democrático ae-
que «aceita» bebidas, alimentos, cigarros, conferências, pa- um átomo econômico que dança segundo a música ad ad- racterizado pela co-administração por todos os que traba-
noramas, livros, cinema — tudo isso é consumido, engoli- ministração automatizada. Não tem parte na planificação lham numa empresa, a fim de permitir-lhes uma participa-
do. O mundo é um grande objeto de seu apetite, uma gar- do processo do trabalho, não partilha de seu resultado, e ção ativa e responsável. É possível encontrar formas de
rafa grande, uma maçã grande, um seio grande. O homem raramente tem contato com o produto total. O administra- participação que permitam essa realização. Na esfera polí-
tornou-se o amamentado, o que espera sempre — e o eter- dor, por sua vez, está em contato com o produto total, tica, podemos estabelecer a democracia efetiva criando mi-
mas alienado dele como coisa concreta, útil. Sua finalida- lhares de grupos de contato direto, que sejam bem infor-
namente desapontado. mados, realizem discussões sérias e cujas decisões sejam
Na medida em que o homem moderno não é consu- de é empregar lucrativamente o capital, e não algo que,
midor, passa a ser negociante. Nosso sistema econômico como entidade concreta, tenha importância para êle. O ad- integradas numa nova «câmara baixa». O renascimento
está centralizado na função do mercado que determina o ministrador tornou-se um burocrata que trata das coisas, cultural terá de combinar um trabalho educativo para os
valor de todas as mercadorias e regula a parcela de todos dos números e dos seres humanos como simples objeto de jovens, a educação de adultos e um novo sistema de arte
no produto social. Não é força, nem a tradição, nem a sua atividade. Sua manipulação é chamada de preocupação popular e ritual secular, através de toda a nação.
fraude ou os truques que governam as atividades econô- com as relações humanas, embora o administrador trate Tal como o homem primitivo estava impotente frente
micas do homem. Êle pode produzir e vender, o dia do das relações mais inumanas, entre autômatos que se tor- às forças sociais e econômicas por êle mesmo cri idas.
mercado é o dia do Juízo para o êxito de seus esforços. naram abstrações. Adora a obra de suas mãos, curva-se aos novos ídolos, e
Não somente as mercadorias são oferecidas e vendidas no Nosso consumo é igualmente alienado, determinado não obstante jura por Deus que lhe ordenou a destruição
mercado, como também o trabalho tomou-se uma merca- pelos refrôes publicitários e não pelas nossas necessidades de todos os ídolos. O homem só pode proteger-se das con-
doria, transacionada no mercado nas mesmas condições de reais, nosso paladar, nossos olhos ou nossos ouvidos. seqüências de sua própria loucura criando uma sociedade
concorrência justa. Mas o sistema mercantil desdobrou-se A falta de sentido e a alienação do trabalho resultam sadia que se conforme às suas necessidades, necessidades
além da esfera econômica das mercadorias e trabalho. O no desejo de ociosidade completa. O homem odeia sua vida essas que devem ter raízes nas próprias condições da exis-
homem transformou a «si mesmo» numa mercadoria, sen- de trabalho porque ela o faz sentir-se prisioneiro e equi- tência. Uma sociedade na qual os homens estabeleçam en-
te a sua vida como um capital a ser investido com lucro. vocado. Seu ideal se torna a ociosidade absoluta — na qual tre si relações de amor, na qual se liguem pelos laços de
Se consegui-lo, terá «êxito» e sua vida tem um sentido; êle mo tenha de fazer nada, onde tudo se processa de acor- fraternidade e solidariedade, ao invés dos laços de sangue
se não, «é um fracasso». Seu «valor» está na sua venda- do com um refrão publicitário: «Você aperta o botão, nós e terra; uma sociedade que lhes dê a possibilidade de trans-
bilidade, não nas suas qualidades humanas de amor e ra- fazemos o resto». Essa tendência é reforçada pelo tipo de cender a Natureza, criando e não destruindo, na qual todos
zão, não em sua capacidade artística. Daí o seu senso de consumo necessário para a expansão do mercado interno, ainiam a um sentido do eu, pela consciência de sua força
valores depender de fatores estranhos — do seu êxito, se- levando a um princípio que Huxley expressou sucintamen- e n&o pela conformidade, na qual exista um sistema de
gundo a opinião dos outros. Daí a sua dependência desses te em seu Brave New World. Uma das afirmações que esta- orientação e dedicação sem lhe exigir a deformação da
outros, e sua segurança está na conformidade, em não se mos habituados a ouvir desde a infância é: «não deixe pa- realidade e a adoração dos ídolos.
ra amanhã o que é possível fazer hoje». Se eu não adiar a A construção dessa sociedade significa um passo à
distanciar jamais dois passos da manada. frente, significa o fim da história «humanóide», a fase na
Não é, porém, apenas o mercado que determina o ca- satisfação do meu desejo (e estou condicionado a desejar
ráter do homem moderno. Outro fator, Intimamente rela- apenas o que posso obter), não tenho conflitos, nem dú- qual o homem ainda não chegou a ser plenamente huma-
cionado com a função mercantil, é a forma de produção vidas; nenhuma decisão a tomar; jamais estarei a sós no. Não representará o «fim dos dias», a «conclusão», o
industrial. As empresas tornam-se cada vez maiores, o nú- comigo mesmo, porque estou sempre ocupado — traba- estado de harmonia perfeita no qual não há problemas
mero de pessoas por elas empregadas como trabalhadores lhando ou me divertindo. Não tenho necessidade de estar nem conflitos. Pelo contrário, é destino do homem ter sua
ou funcionários aumenta sem cessar. A propriedade é dis- consciente de mim, pois estou constantemente absorvido existência perturbada pelas contradições que tem de en-
tir.guida da administração e os gigantes industriais são go- pelo consumo. Sou um 3istemjl cb desejos e satisfações; frentar sem poder jamais resolvê-las Quando tiver supe-
vernados por uma burocracia profissional interessada tenho de trabalhar para satisfazer meus desejos — e estes rado o estado primitivo do sacrifício humano, seja na for-
principalmente no funcionamento perfeito e na expansão são constantemente estimulados e dirigidos pela máquina ma ritual dos sacrifícios humanos dos astecas ou na for-
da empresa, e não na ambição pessoal do lucro em si. econômica. _ ma, secular da guerra, quando fôr capaz de regular suas
Que tipo de homem, portanto, necessita nossa socie- Alegamos serem nossos os objetivos da tradição ju- relações com a Natureza razoavelmente, e não cegamente,
dade a fim de funcionar sem atrito? Precisa de homens daico-cristão: o amor de Deus e o de nossos vizinhos. Ou- quando as coisas se tiverem realmente tornado servas, e
que cooperem facilmente dentro de grandes grupos, que vimos dizer que atravessamos um período de promissora não ídolos, êle enfrentará problemas e conflitos realmente
desejem consumir mais e mais, e cujos gostos padroniza- renascença religiosa. Nada poderia estar mais longe da humanos, terá de ser corajoso, aventureiro, imaginativo,
dos possam ser facilmente influenciados e previstos. Ne- verdade. Usamos símbolos pertencentes a uma tradição capaz de sofrimento e de alegria, mas sua fftrça estará a
religiosa autêntica e os transformamos em fórmulas, que serviço da vida, não a serviço da morte. A nova fase da
servem às finalidades do homem alienado. A religião tor- história humana, se chegar a ocorrer, será um novo come-
nou-se uma concha vazia, foi transformada num sistema ço e não um fim.
MAIO PROLETÁRIO de auto-serviço para aumentar a nossa capacidade de êxito.
Deus tornou-se um sócio nos negócios. A Força do Pensa- (Do livro «O Dogma de Cristo» de Erich Fromm)
Homenagem aos mártires de Chicago mento Positivo é a sucessora de Como Fazer Amigos e In-
fluenciar Pessoas.
Pedro Catei Io O amor do homem é um fenômeno raro, também. Au-
tômatos não amam, homens alienados não se importam
CENTRO DE CULTURA SOCIAL
com o amor. O que os peritos em amor e os conselheiros
Oh! Maio venturoso! Oh! Grande dia! matrimoniais louvam é uma relação entre duas pessoas «POESIA NEGRA»
O teu ardente sol é a alegria que se manipulam com as técnicas adequadas e cujo amor Germinal de Amor
Que arpeja nos corações doridos é essencialmente um egoísmo a dois — um abrigo contra
Da multidão que espalha seus gemidos uma solidão que sem isso seria insuportável. Como poesia humana, entende-se facilmente o
Na tortuosa e negra escravidão O que devemos, então, esperar do futuro? Se igno- profundo desejo de reconhecimento de igualdade e confra-
E na cruenta luta pela redenção. rarmos os pensamentos que são apenas os produtos de ternização, frente aos que inversamente agiram e agem,
Saúdo em ti, oh! Maio promissor! nossos desejos, receio que tenhamos de admitir que a pos- malgrado os propalados direitos das pessoas, povos e na-
A heróica e sublime proletária dor. sibilidade mais possível é ainda a de que a discrepância en- ções entre si, talvez nunca como hoje a poesia da negri-
tre a inteligência técnica e a razão levará o mundo a uma tude requeresse um estudo mais íntegro e a devida ditusão
Qual flámula que ao vento esvoaça, guerra atômica. A conseqüência mais provável dessa guer- por parte dos que, ao invés de baterem o punho nas lus-
Brilhas assim na escuridão que passa, ra é a destruição da civilização industrial e o regresso do trosas mesas de conferências e congressos, o coração lhes
De ódios, de rancor, de guerras e matanças. mundo ao nível agrário primitivo. Ou, se a destruição não salta ao sentirem a injusta falha justiça injustiçan io o
Saudam-te, oh! Maio! as crianças, fôr tão completa quanto muitos especialistas no assunto homem por ser negro, amarelo, branco ou o que quer que
Os velhos, a mãe que chora, o proletário, supõem, o resultado será a necessidade de que o vencedor seja, mas sobre e acima de tudo pela vontade de ser, sim-
O atrista, o pensador, o visionário, organize e denomine todo o mundo. Isso só poderia ocor- plesmente, em desconfronto às convenções do hipócrita hu-
A juventude ardente onde viceja rer num Estado contralizado baseado na força, e pouca di- manismo que prima pela total castração dos valores au-
A liberdade que a humanidade almeja. ferença faria se Washington ou Moscou fossem a sede de tênticos, humanos...
Saudam-te os povos subjugados tal governo. Foi dessa poesia, ■— ilustrando-nos com belíssimos poe-
Pela tirania de monstros renegados, Infelizmente, nem mesmo a superação do perigo de mas —, que nos veio falar, de maneira altamente catego-
Transfugas da vida, da vida vendilhões guerra encerra a promessa de um futuro brilhante. Na rizado, a amável poetisa Maria José de Carvalho, na sede
Que aos homens livres deram-lhes grilhões evolução do capitalismo e do comunismo, como a imagi- do Centro de Cultura Social, aos seis de maio deste ;mo.
Pensando aprisionar o pensamento. namos nos próximos cinqüenta ou cem anos, os processos Como sinal de agradecimento à conferencista, em ho-
Mas já a revolta ruge o seu lamento. que levam à alienação humana continuarão. Ambos os menagem a todos los hermanos negros, pela tristeza mais
A tempestade roe a cidadela. sistemas se estão transformando em sociedades adminis- triste nas calçadas de Memphis, este duro poema de Langs-
Da liberdade sente-se a procela. trativas, com habitantes bem aumentados, bem vestidos, ton Hughes :
com os desejos satisfeitos e sem ter anseios que não pos- K KLÜX
Oh! Maio proletário e de esperanças! sam ser atendidos.
O teu hino é um poema de lembranças Os homens são, cada vez mais, autômatos que fazem Eles me arrastaram para fora,
Da história missão de quem trabalha. máquinas que agem como homens e produzem homens que para um lugar solitário.
És o refulgir da luz que espalha agem como máquinas; sua razão deteriora, enquanto sua E perguntaram: «Acredita
O mirifico Ideal que rumoreja inteligência aumenta, criando com isso a perigosa situa- na grandeza da raça branca ?»
Na esplendorosa aurora da peleja. ção de dar aos homens um formidável poder material, sem
És a primavera da vida que se apresta a prudência de saber usá-lo. Eu respondi, «Senhores,
Trazer aos povos a sua grande festa. Apesar do aumento crescente da produção e de con- para dizer a verdade
forto, o homem perde dia a dia o senso de si mesmo, pas- acreditarei no que quiserem
Salve Maio! Símbolo que traz sando a sentir que sua vida é sem sentido, embora esse conquanto me deixem ir embora».
A redenção humana de justiça e paz. sentimento seja, em grande parte, inconsciente. No século
Fôste tu, do oprimido a fala ! O homem branco então disse: «Rapaz
XIX o problema era a morte de Deus; no século XX, o quem me garante
Libertaste o negro da senzala problema é a morte do homem. No século XIX a inumani-
E da senzala recolheste o grito que você não fique por aí
dade significava crueldade; no século XX, significa a alie- à espera, pra me assassinar ?»
Do escravo vil, acorrentado e aflito. nação esquizóide. O perigo do passado era tornarem-se os
E na dolorosa senda proletária, i homens escravos. O perigo do futuro é que eles se podem Então me deram uma pancada na cabeça
Foste tu que iluminaste o Pária! tornar autômatos. É certo que os autômatos não se rebe- e me derrubaram atordoado,
Eu te saúdo, oh Maio! Aspiração e luz! lam, mas, levando em conta a natureza do homem, êle e me encheram de pontapéa,
Saúdo o Mártir e o povo que produz ! não pode viver como um robô e continuar mentalmente no chão.
Saúdo o pária, a orfandade aflita sadio — destruirá o mundo e a si mesmo, porque já não E o valentão gritou : «Negro,
A esperança dum porvir melhor. poderá suportar a monotonia de uma vida sem sentido. olhe pra mim, negro,
Ouvi de Maio o épico clangor?!... Qual a alternativa à guerra e ao automatismo? A res- e jure que você acredita
Da sociedade velha e agonizante posta talvez pudesse ser dada, de forma fundamental, mo- na grandeza da raça branca».
Surgirá uma nova e livre! Avanta! dificando-se a frase de Emerson «As coisas dominam o ho-
mem e governam a humanidade», e dizendo-se «Coloque-
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Em defesa da liberdade morre um estudante
Estamos escrevendo esta nota sob o impacto dos do- O Grêmio Politécnico distribuiu nota intitulada «Re-
Hidai.Hu e AduiiiiMliiKjJit
lorosos acontecimentos que culminaram com a morte do púdio ao Crime», na qual seus representantes acentuam : Rua Itubiao de Oliveira, iT>
Corrupondêocta: Caiia Poual 5739
jovem estudante Edson Luiz Lima Souto, de 17 anos de «De uma coisa podem estar certos os homens do Go- Üo 1'aulo
idade, friamente assassinado pela polícia militar da Gua- verno : não há repressão, não há violência, não há assas-
nabara. Dispensamo-nos de entrar em maiores detalhes sino que nos faça abandonar a última arma que nos resta Ano 2 - Números 14e15 — Abril e Maio de 1968 — Preço NCrS 0,20
porque esse lamentável fato mereceu a atenção de toda — a manifestação pública — na luta por uma profunda re-
a imprensa do país, visto que não se trata de um simples formulação na vida nacional».
caso isolado, mas sim, de uma manifestação de vulto que
abrange todo o território nacional. Não obstante as res-
trições que os poderes constituídos lhe fazem, essas ma-
nifestações revelam o choque tácito existente entre tudo o
que é velho e que precisa ser renovado e as novas gera-
«Estou aqui para compreender, para saber o que
pensa um homem que mata o outro, sem ao menos
Autoritarismo
ções estudantis que são as portadoras dessas mesmas reno- ERICH FROMM
conhecê-lo. Estou aqui para provar algo em que
vações. É uma nova concepção de vida que se manifesta (Continuação do número anterior)
através da autenticidade duma juventude esclarecida que acredito: que a guerra é inútil, estúpida, que é a
compreende a precariedade e o curto alcance das institui- prova mais bestial da estupidez da raça humana. Es- Esta necessidade do auxiliar mágico pode ser estuda-
ções que nos governam. É a mocidade estuante de energias tou aqui para provar o quanto o mundo é hipócrita da em condições semi-experimentais na técnica psicanalí-
que quer participar como força viva na elaboração de um tica. É comum a pessoa que está sendo analisada apegar-
quando exalta o transplante de um coração, ou a se profundamente ao psicanalista e relatar toda sua vida,
convívio social justo e humano. São moços que sentem
horror em viver num mundo como o nosso, semeado de tra- descoberta de um soro que curará o câncer, enquan- seus atos, pensamentos e sentimentos a este. Consciente
gédias, de injustiças, de guerras por toda parte e do ferino to milhaers de criaturas jovens e sadias, sem câncer, ou inconscientemente, o analisado pergunta-se: será que
antagonismo entre os homens. Querem um mundo melhor, com o coração perfeito, estão aqui para morrer co- o analista gostará disto, não gostará daquilo, concordará
de paz e de fraternidade e desejam cooperar para que isso mo animais, bois que vão para o matadouro». com isto, repreenderme-á por aquiloutro? Nas relações
seja uma radiante realidade e não um sonho que passa de amorosas, o fato de escolher-se esta ou aquela pessoa como
geração em geração. parceiro serve como prova de que esta determinada pes-
(Palavras duma reportagem da soa é amada somente porque ela é «ela»; na situação psi-
A morte desse jovem e de outros que caem nas re- jornalista Oriana Falacci que
fregas que ora se ferem nos diversos quadrantes do mun- viveu uma batalha no Vietnã). canalista, porém, esta ilusão não pode ser sustentada. Os
do, é o tributo brutal que todos os grandes movimento de mais diversos tipos de pessoas apresentam os mesmos sen-
renovação social exigem. A mente petrificada e ancilosada timentos face aos mais diversos tipos de analistas. A re-
dos que gozam o «dolce far niente» das sinecuras políticas, lação parece-se com o amor e muitas vezes é acompanhada
não permite o sopro de novas aragens que trazem o per-
fume das inquietações juvenis. Preferem da gente moça
apenas os bailarinos, àqueles que se esgoelam nos cam-
ORIGEM DO 1.° DE MAIO de desejo sexual; contudo, é, essencialmente, um relacio-
namento com o' auxiliar mágico personificado, papel esse
que um analista, evidentemente, como outras pessoas que
pos de futebol, os rapazelhos de roupas exentricas que fu- (Conclusão da l.a página) trar a culpabilidade dos con- tenham certa autoridade (médicos, sacerdotes, professo-
mam maconha e tomam «picadas». Quando se defrontam denados. res), é capaz de desempenhar satisfatoriamente para a pes-
com os jovens que pensam, que sabem falar e que sabem E concluiu: «Tal ferocida- soa que está em busca de tal auxiliar personificado.
dizer qual é o mundo que desejam encontrar no dia de VERDADE E JUSTIÇA de não tem precedentes na As razões pelas quais uma pessoa se acha acorren-
amanhã, porque lhes pertence e porque são eles que vão História». tada a um auxiliar mágico são, em princípio, as mesmas
vivê-lo, mandam-lhe a polícia militar, aquela «especializa- Seis anos apenas haviam Considero um dever inilu- que vimos na origem dos impulsos simbióticos. uma inca-
da» na repressão ao pensamento para que mate os inde- passado da tremenda tragé- dível, nestas circunstâncias e pacidade para manter-se por si só e para expressar ple-
fesos rapazolas como Edson Luiz Lima Souto. Na verdade dia de Chicago, quando um pelas razões antes expostas, namente suas próprias potencialidades individuais. Nos
nada de melhor podia se esperar da polícia, sendo como é novo governador, um honra- proceder de acordo com es- anelos sadomasoquistas esta incapacidade conduz a uma
uma corporação feita à base de violências e agressões. Os do e probo governador, man- tas conclusões e ordeno, ho- tendência para a pessoa descartar-se de seu ego indivi-
seus argumentos prediletos são os murros, os cacetétes, os dou rever aquele fatídico pro- je, 25 de junho de 1893, se- dual por meio da dependência do auxiliar mágico na for-
tiros, e quando é chamada a intervir não sabe distinguir a cesso e consternado procla- jam postos em liberdade sem ma mais branda de dependência que agora estamos exa-
grande distância que vai entre um marginal e um estudan- mou perante o mundo : condições, a Samuel Fielden, minando ela apenas conduz a um desejo de orientação e
te, entre o sujeito que se apodera do que lhe não pertence 1' — que os condenados fo- Oscar Neebe e Michel Schwab. proteção. A intensidade do relacionamento com o auxiliar
e o Cidadão desinteressado que luta por um Brasil melhor. ram vítimas de odiosa ma- O Governador do Estado mágico varia na razão inversa da capacidade para a pes-
De resto conhecemos sobejamente em que consiste a quinação judicial, prepara e de Illinois, M. Alt. Angelet». soa exprimir espontaneamente suas próprias potenciali-
«liberdade» democrática dentro da Democracia. É a liber- executada sistematicamente Com este breve e reduzido dades intelectuais, emocionais e sensoriais. Por outras pa-
dade de ver, sentir e pensar tal e qual pensam, vêem e com o objetivo exclusivo de resumo da histórica Tragédia lavras, a pessoa espera obter tudo que deseja da vida, gra-
sentem os usufrutuários do poder, àqueles que pelas po- levá-los ao patíbulo. de Chicago fica bem claro ças ao auxiliar mágico e não a suas próprias ações. Quan-
sições que galgaram jamais poderão sentir os prementes 2» — foram julgados e con- que o dia V de Maio não po- to mais isso ocorre, tanto mais o centro da vida desvia-se
problemas Nacionais, com a mesma intensidade do Cida- denados por um Tribunal ile- derá ser nunca uma Festa da própria pessoa para o auxiliar mágico e as personifi-
dão comum e do estudante, neste caso. O crime que co- gal e ilegalmente constituído. de Trabalho, mas sim uma cações deste. Não se trata mais, então, de como a pessoa
briu de luto a classe estudantil, mas que também cobriu de 3* — que a despeito das in- data combativa e de grandes deve viver, porém de como deve manipulá-«lo», de molde
vergonha a nossa decadente Civilização é uma amostra fiel dignas maquinações do Juiz, reivindicações sociais e hu- a não perdê-lo, e de como deve torná-lo aquilo que se quer,
da resistência reacionária da democracia que se diz encar- o Tribunal não pôde demons- hanas. inclusive torná-lo responsável pelo que se é responsável.
nar uma revolução que chegou a despartar floridas espe- Nos casos mais exagerados, a vida inteira da pessoa
ranças ao povo brasileiro, e que prometeu fazer aquilo consiste quase inteiramente na tentativa de manipulá-«lo»;
que os estudantes estão hoje reclamando. Pretende-se enxo- as pessoas diferem nos meios empregados: para alguns
valhar essas manifestações espontâneas dos estudantes bra- é a obediência, para outros ser «bonzinho», e para outros
sileiros, acoimando-as de «coisa teleguiada» procada por ainda o sofrimento é o meio de manipulação a que recor-
«agitadores profissionais», e fingem desconhecer que é um rem. Vemos, assim, que não há sentimento, pensamento
fator de renovação social que se processa em todo o mundo ou emoção que não seja pelo menos matizado pela neces-
através dos estudantes. Inclusive nos países reacionários sidade de manipulá-«lo»; por outras palavras, nenhum ato
por excelência como sejam Espanha e Portugal, a contenda psíquico é realmente espontâneo ou livre.
estudantil reclama a instituição da liberdade e a reformu- Esta dependência, brotando e ao mesmo tempo favo-
lação estruturas políticas. E de que modo explicar como recendo o aparecimento de uma obstrução da espontanei-
«coisa teleguiada» essa manifestação da juventude estudan- dade, não só proporciona certa dose de segurança como
til nos países mui injustamente chamados de socialistas ? também produz uma sensação de fraqueza e cativeiro.
Quem são lá os «teleguiadores» e os «ajitadores profissio- Tanto quanto isto é verdade, a própria pessoa que depen-
nais»? Serão «agentes» dos países democráticos ? de do auxiliar mágico também se sente, se bem que comu-
Convençam-se os testudos mandatários do mundo que mente de forma inconsciente, escravizada por «êle». e, em
a transformação social precipita-se ao nosso encontro encar- grau maior ou menor, revolta-se contra «êle». Esta rebel-
nada no arrojo, na abnegação e nos sacrifícios de vidas da dia contra a própria pessoa em quem ela depositou suas
. classe estudantil de todo o mundo. esperanças de segurança e felicidade cria novos conflitos.
Associando-nos ao luto da família do jovem Edson Ela tem de ser suprimida para a pessoa não o «perder»,
Luiz Lima Souto, e a consternação de toda a classe estudan- mas o antagonismo latente constantemente ameaça a se-
til brasileira, registramos a seguir trechos de algumas gurança procurada na relação.
veementes manifestações de entidades dos estudantes de Se o auxiliar mágico fôr personificado em uma pes-
São Paulo. Na Universidade Mackenzie, os estudantes de- soa real, e o desapontamento proveniente desta não cor-
cretaram luto por três dias e enviaram ao governador da responder ao que dela se espera —, e como a expectativa
Guanabara, telegrama de protesto. A Escola de Comuni- é ilusória, qualquer pessoa infallvelmente desapontará —,
cações, no manifesto que lançou dizia entre outras coisas : além do ressentimento oriundo da própria escravizaçâo
«Cremos que este não é o momento propício para ilu- àquela pessoa, leva a contínuos conflitos. Estes, às vezes,
sões. Repressão armada às manifestações significa a morte só terminam com a separação, que geralmente é seguida
de todos os direitos do homem, a começar pelo direito de de escolha dum outro objeto que se espera satisfazer to-
viver. O Governo não titubeia no recurso às armas». E das as esperanças associadas ao auxiliar mágico. Se esta
mais adiante: relação também mostrar-se infrutífera, pode ser novamen-
«Esse fato reflete a restrição progressiva dos direitos te rompida ou então a pessoa interessada pode concluir
do país, como parte do processo de sufocamento crescente que assim é a «vida», e resignar-se. O que ela não reco-
que tem vitimado o povo brasileiro nestes últimos anos». nhece é o fato de que seu insucesso não é, em última
Os estudantes da Faculdade de Medicina em seu ma- análise, decorrente de não haver escolhido a pessoa mági-
nifesto afirmam que «a brutal agressão praticada pelos ca adequada; é o resultado direto de ter procurado obter
órgãos de repressão do Governo evidencia bem as soluções pela manipulação de uma força mágica aquilo que só o
oficiais para os problemas da sociedade brasileira». indivíduo pode alcançar por meio de sua própria atividade
Esse manifesto foi assinado também pelo Grêmio da espontânea.
Filosofia da USP, da Politécnica, Santa Casa, XI de Agosto, O fenômeno de dependência que dura a vida inteira,
Filosofia São Bento, Mackenzie, 22 de Agosto, Saboia de com relação a um objeto exterior à própria pessoa, foi
Medeiros, Pereira Barreto (Paulista), FAU, Escola de Bi- visto por Freud. Ele o interpretou como a continuação
blioteconomia, UEE, DCE Livre da USP e DCE Livre da pela vida afora de laços arcaicos, essencialmente sexuais,
PUC.- com os pais.
O Diretório Acadêmico da Faculdade de Ciências Mé- JBft Em verdade, o fenômeno impressionou-o tanto que
dicas da Santa Casa divulgou ainda outro manifesto, em êle asseverou ser o complexo de Édipo o núcleo de todas
que diz que o que houve no Rio «é um produto da política Monumento erigido no túmulo dos Mártires, em Waldhei- as neuroses, vendo na superação deste o problema capital
educacional do Governo: as verbas para a Universidade são me Cementery. em Chicago, levantado no ano 1893, depois do desenvolvimento normal.
suprimidas e desviadas, o que leva os estudantes a reivin- que o Governador Altel Angelet reconheceu a inocência
dicarem melhores condições. A resposta do Governo é a (continua no próximo número)
. repressão violenta e até criminosa». das vítimas.
Do eopioso material de protesto publicado na impren-
sa desta capital destacamos os seguintes:
O Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de
Direito do largo de São Francisco, reuniu-se em assembléia
para tomada de posição. Disto resultou um manifesto di-
vulgado bem cedo, que conmeçava assim :
«Neste país, em que o governo oprime todos, começa
agora, a matar. Matar a juventude que pensa, que racio-
MIGALHAS J. G. DE ARAÚJO JORGE
cina, que age.»
Em seguida faz considerações sobre o que chama O resto de teu prato, o resto E essa avalanche há de arrastar, passando,
«Estado militarista policialesco», para afirmar: «Repetem - de milhares de outros pratos enfastiados a humanidade toda,
-se, em nossa pátria, os mesmos atos que caracterizaram a são o autoflagrante do crime sem protesto e há de deixar um campo devastado
ascenção do facismo e do nazismo : o terrorismo cultural, perpetrado só com o sangue dos homens adubado
o espancamento de estudantes, a redução ao silêncio das — por aqueles que têm pão e teto para uma nova criação...
organizações sindicais. E agora, colegas, supremo ultraje à e a segurança de seu próprio nome,
nossa consciência de homens livres : o assassínio de um contra os que vivem sem um lar sequer Das ruínas de uma tal devastação
estudante e um popular no restaurante universitário «Ca- e os que caem esquálidos de fome. dos destroços e escombros
labouço». da nossa humanidade derrubada,
O Grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Como uma gota d'água pequenina surgirá
da Universidade de São Paulo fez divulgar uma proposta, a gigantesca massa de um oceano uma outra humanidade mais perfeita
com algumas considerações : «No dia 28 de março, mais pode fazer, um dia, transbordar, e uma mentalidade mais formada !
uma vez no Brasil, estudantes e populares foram assassi- é essa migalha, — a sobra e o esperdício, —
nados por um Governo ditatorial e militarista. A violência, É essa migalha de pão
que há de fazer rolar num dia adiante que tu jogaste fora sem notar,
a arbitrariedade, a força, a injustiça, a irresponsabilidade, no mais sombrio e rude precipício
o assalto à razão e a dignidade humana, sempre foram a — a gota pequenina que há de um dia
característica de todos os governos militaristas, ditatoriais a avalanche da fome e da miséria ! fazer todo um oceano transbordar !
e fascistas de todo o mundo e em todas as épocas».

unesp* Cedap
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