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Curso Gratuito Educação


Ambiental e Sustentabilidade
Carga horária: 40 hs
Conteúdo programático:

Introdução
Princípios básicos da Educação Ambiental
Objetivos fundamentais da Educação Ambiental
Características da Educação Ambiental
O meio ambiente no Ensino Fundamental
Conteúdos de meio ambiente para o primeiro e segundo ciclo
Educação ambiental no ensino fundamental
Meio Ambiente e Sustentabilidade
Sustentabilidade
Pensamento sistêmico
Educação ecológica
Meio ambiente e sociedade
Conflitos ambientais
Água
Ecoturismo
Referências
Introdução

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais Meio Ambiente, a perspectiva


ambiental consiste em ver o mundo no qual se evidenciam as interrelações e a
interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da vida
(BRASIL, 1997, p. 19).
Nos últimos séculos, a industrialização, a mecanização da agricultura o uso
intenso de agrotóxicos e a concentração populacional nas cidades fizeram com que a
exploração dos recursos naturais se intensificasse muito e adquirissem outras
características (BRASIL, 1997, p.19).
A demanda global dos recursos naturais deriva de uma formação econômica
cuja base é a produção e o consumo em larga escala. A exploração da natureza hoje,
e responsável por parte da destruição dos recursos naturais, fazendo com que haja
um crescimento sem fim das demandas quantitativas e qualitativas desses recursos
(BRASIL, 1997, p.19).
Os rápidos avanços tecnológicos viabilizaram formas de produção de bens
com consequências indesejáveis que se agravam com igual rapidez, como a
exploração dos recursos naturais intensamente, de forma a por em risco a
renovabilidade da mesma (BRASIL, 1997, p.19).
Como o desenvolvimento provocou efeitos negativos mais graves, começaram
a surgir movimentos e manifestações em busca da reflexão sobre o perigo que a
humanidade estava correndo por afetar de forma tão violenta o meio ambiente em que
viviam (BRASIL, 1997, p. 19).
Em vários países, a preocupação com a preservação de espécies surgiu há
muitos anos, assim como no Brasil. Contudo, ainda é preocupante a forma como os
recursos naturais são tratados no Brasil.
Na metade do século XX, juntamente com o conhecimento cientifico da
Ecologia juntou-se um movimento ambientalista voltado para a preservação de
grandes áreas e ecossistemas até então intocados pelo ser humano (BRASIL, 1997,
p.20).
Após a Segunda Guerra Mundial, intensificou-se a percepção de que a
humanidade estava se encaminhando aceleradamente para o esgotamento ou a
inviabilização de recursos indispensáveis a sua própria sobrevivência, e que a vida
dependia unicamente do avanço da ciência e da tecnologia (BRASIL, 1997, p.20).
É nesse contexto que se iniciam as grandes reuniões mundiais sobre o tema,
instituindo-se assim um fórum internacional em que os países, apesar de suas
imensas divergências, se veem politicamente obrigados a se posicionar quanto as
decisões ambientais de alcance mundial, de forma que os direitos e os interesses de
cada nação possam ser minimamente somados em função do interesse maior da
humanidade do planeta (BRASIL, 1997, p.21).
Assim a questão ambiental, impõe as sociedades à busca de novas formas de
pensar e agir, individualmente e coletivamente, de novos caminhos e modelos de
produção de bens, para suprir necessidades humanas, que garantam a
sustentabilidade ecológica. Isso implica um novo universo de valores no qual a
educação tem um importante papel a desempenhar.

A preocupação com a questão ambiental não é algo recente, pois no início da


década de 60, os problemas ambientais já mostravam a irracionalidade do modelo
econômico, mas ainda não se falava em educação ambiental. Somente em março de
1965, na Inglaterra, colocou-se pela primeira vez a expressão Educação Ambiental,
com a recomendação de que ela deveria se tornar uma parte essencial de educação
de todos os cidadãos (EFFTING, 2007).
Os conceitos de Educação Ambiental estão diretamente relacionados à
evolução dos conceitos de meio ambiente, havendo, portanto vários conceitos de
Educação Ambiental (EFFTING, 2007).
A Educação Ambiental é descrita ao longo dos anos conforme as preocupações
com o meio ambiente foram se agravando, estando sempre voltada à orientação de
como resolver os problemas que afetavam o meio ambiente, priorizando a
interdisciplinaridade e a participação ativa e responsável de cada indivíduo e da
coletividade.
Muito se tem discutido a respeito do melhor ou mais adequado conceito de
Educação Ambiental, mas o que se nota é que todos eles são importantes para
delinear a metodologia de trabalho da prática da educação ambiental em todos os
seguimentos da sociedade (ALVES E COLESANTI, 2005).
Não é tarefa fácil definir a Educação Ambiental, pois há inúmeras definições
encontradas em artigos da área (RODRIGUES, 2009). Segundo o Ministério do Meio
Ambiente: “Educação Ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos e
a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,
valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir
individual e coletivamente e resolver problemas ambientais presentes e futuros”.
"A Educação Ambiental é a ação educativa
permanente pela qual a comunidade educativa tem
a tomada de consciência de sua realidade global,
do tipo de relações que os homens estabelecem
entre si e com a natureza, dos problemas derivados
de ditas relações e suas causas profundas”. Ela
desenvolve, mediante uma prática que vincula o
educando com a
comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido a
transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como
sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita
transformação (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – Conferência Sub-regional de
Educação Ambiental para a Educação Secundária Chosica/Peru 1976).
De acordo com o Art. 1º da Lei 9.795/99, entende-se por Educação Ambiental
os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade.
No que se refere ao Art. 2º desta mesma lei, a Educação Ambiental é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente,
de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não-formal.
De acordo com a Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977), “"A
Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de
conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes
em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres
humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está
relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a
melhora da qualidade de vida". (ALVES E COLESANTI, 2005).

Princípios básicos da Educação Ambiental

Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 4º, são os princípios básicos da Educação
Ambiental:
I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a
interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque
da sustentabilidade;
III – o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da
inter, multi e transdisciplinaridade;
IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as praticas sociais;
V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI – a permanente avaliação critica do processo educativo;
VIII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,
nacionais e globais.

Objetivos fundamentais da Educação Ambiental

Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 5º, são os objetivos fundamentais da


Educação Ambiental:
I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente
em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,
psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;
II – a garantia de democratização das informações ambientais;
III – o estímulo e fortalecimento de uma consciência crítica sobre a
problemática ambiental e social;
IV – o incentivo a participação individual e coletiva, permanente e
responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa
da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o
estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e
macroregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente
equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,
democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;
VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a
tecnologia;
VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e
solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.

Características da Educação Ambiental

De acordo Marcatto (2002), a Educação Ambiental tem como principais


características ser um processo:
• Dinâmico integrativo: processo permanente onde a comunidade toma
consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimento que os torna aptos a agir
em busca da resolução dos problemas ambientais;
• Transformador: objetiva a construção de uma nova visão das relações
do ser humano com o seu meio e a adoção de novas posturas individuais e coletivas
em relação ao meio ambiente;
• Participativo: atua na sensibilização e na conscientização do cidadão,
estimulando-o a participar dos processos coletivos;
• Abrangente: ultrapassa as atividades internas da escola tradicional e
envolve toda a família e a coletividade;
• Globalizador: considera o ambiente em seus múltiplos aspectos;
• Permanente: envolvido com as questões ambientais continuamente,
sem interrupção;
• Contextualizador: atua de acordo com a realidade de cada comunidade.
Pensar globalmente, agir localmente;
• Transversal: as questões ambientais devem permear todos os
conteúdos, objetivos e orientações didáticas de todas as disciplinas.

O meio ambiente no Ensino Fundamental

O termo meio ambiente tem sido utilizado para indicar um espaço em que um
ser vive e se desenvolve, e sua interação com o mesmo. A principal função de se
trabalhar com o meio ambiente em sala de aula é contribuir para a formação de
cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental
de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da
sociedade, local e global (BRASIL, 1997, p.25).
Para se trabalhar o tema meio ambiente é necessária a aquisição de
conhecimento e informação por parte da escola para que se possa desenvolver um
trabalho adequado junto dos alunos. Isso não quer dizer que os professores deverão
saber tudo para que possam desenvolver um trabalho junto dos alunos, mas sim que
deverá se dispor a aprender sobre o assunto, constantemente (BRASIL, 1997, p.35 e
36).
Os conteúdos de meio ambiente deverão ser integrados ao currículo através
da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de
modo a impregnar toda a prática educativa, e ao mesmo tempo, criar uma visão global
e abrangente da questão ambiental (BRASIL, 1997, p. 36).
A lei Federal n 9.795, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental,
estabelece que todos tenhamos direito a educação ambiental, e esta é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente
em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
nãoformal (MARCATTO, 2002).

Conteúdos de meio ambiente para o primeiro e segundo ciclo

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente, a questão


ambiental no ensino de primeiro grau, centra-se principalmente no desenvolvimento
de valores, atitudes e posturas éticas, e no domínio de procedimentos, mais do que
na aprendizagem de conceitos, uma vez que vários dos conceitos em que o professor
se baseara para tratar dos assuntos ambientais pertencem às áreas disciplinares
(BRASIL, 1997, p. 43).
O tema meio ambiente consiste em oferecer aos alunos instrumentos que lhes
possibilitem posicionar-se em relação às questões ambientais. Para que isso ocorra,
os conteúdos de meio ambiente para os primeiros ciclos foram reunidos em três
blocos gerais: os ciclos da natureza; sociedade e meio ambiente e manejo e
conservação ambiental. Estes conteúdos referem-se aos dois primeiros ciclos do
ensino fundamental (BRASIL, 1997, p.43).
Ao longo das oito séries do ensino fundamental, a escola deverá oferecer
meios efetivos para cada aluno compreender os fatos naturais e humanos referentes
a esta temática, desenvolver suas potencialidades e adotar posturas pessoais e
comportamentos sociais que lhe permitam viver numa relação construtiva consigo
mesmo, colaborando para que a sociedade seja ambientalmente sustentável e
socialmente justa (BRASIL, 1997, p.43).

Educação ambiental no ensino fundamental

Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 9º, entende-se por Educação Ambiental
na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de
ensino públicas e privadas englobando:
I – educação básica:
a) educação infantil;
b) educação fundamental e
c) ensino médio;
II – educação superior;
III – educação especial;
IV – educação profissional;
V – educação de jovens e adultos.

De acordo com o Art. 10 da mesma lei, a Educação Ambiental será


desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos
os níveis e modalidades do ensino formal, e não deverá ser implantada como
disciplina no currículo de ensino.
No que se refere à Educação Ambiental não- formal, entende-se pela mesma
as ações e práticas educativas voltadas a sensibilização da coletividade sobre as
questões ambientais e a sua organização e participação na defesa da qualidade do
meio ambiente.
Já a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA é uma proposta
programática de promoção da Educação Ambiental em todos os setores da
sociedade. Diferente de outras leis, não estabelece regras ou sanções, mas
estabelece responsabilidades e obrigações. A Política de Educação Ambiental
legaliza a obrigatoriedade de trabalhar o tema ambiental de forma transversal,
conforme foi proposto pelos Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais.
Quanto ao desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental nos
diferentes ciclos, os professores entendem que há uma maior facilidade entre a
primeira e a quarta séries, por ser um professor ministrando as quatro disciplinas do
ensino fundamental, ficando a cargo dos professores de ciências a principal
responsabilidade no enfrentamento do desafio da educação ambiental (NOVICKI E
MACCARIELLO, 2002).
A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS

A Educação Ambiental é um tema de grande relevância na atualidade, pois


está ligada a interação do homem com o ambiente em que vive e consequentemente
as implicações que esta interação causa (GOBARA, AYDOS, SANTOS, PRADO E
GALHARDO, 1992).
De acordo com Amaral (2001), uma polêmica que se manifestou desde os
primórdios da Educação Ambiental, é se ela deveria se constituir e uma nova e
autônoma disciplina do currículo escolar ou deveria encaixar-se nas já existentes.
Apesar da UNESCO indicar o segundo caminho, sempre houve influencias quanto a
outra alternativa. As argumentações baseavam-se em torno das dificuldades que os
professores das disciplinas tradicionais teriam caso isso acontecesse.
O currículo escolar ainda não oferece através de suas disciplinas, a visão do
todo, do curso e do conhecimento, e não favorece a comunicação e o diálogo entre
os saberes. De forma clara, as disciplinas e seus conteúdos não se integram ou
complementam, dificultando a perspectiva de conjunto e de globalização (SANTOS,
2007).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais tratam o tema Educação Ambiental
como um tema transversal chamado de Meio Ambiente, convivendo com o bloco de
conteúdo ambiente, ainda no currículo de ciências, nos demais blocos temáticos,
incluiu conteúdos inegavelmente pertinentes ao ambiente, portanto individualizando-
os e fragmentando-os (AMARAL, 2001).
Estes temas transversais dizem respeito as grandes questões sociais que
afligem a humanidade na era contemporânea, não devendo ser abordados como mais
uma disciplina escolar, e sim como um conjunto de temas que aparecem
transversalizados, permeando a concepção das diferentes áreas, seus objetivos,
conteúdos e orientações didáticas (CUNHA, 2007).
Outra controvérsia relativa a este tema, seria a integração do tema meio
ambiente com as diferentes disciplinas do ensino fundamental. De acordo com os PCN
(Parâmetros Curriculares Nacionais) o tratamento transversal dessa temática deve
considerar que as áreas de Ciências Naturais, História e Geografia são as tradicionais
parceiras para o desenvolvimento dos conteúdos aqui relacionados, pela própria
natureza dos seus objetivos de estudo. Faz-se necessário analisar os eixos de
sustentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais, tomando
sua concepção de Meio Ambiente como referencial para uma melhor compreensão do
ensino dessa disciplina e de sua relação com a educação ambiental, de acordo com
o que preconizam os PCN’s (CUNHA, 2007).
Sabe-se que o ato de educar é uma necessidade de nossa espécie e um
fenômeno que deve ser compreendido e analisado para que possa ser eficientemente
realizado. O ensino de ciências é uma das formas de ajudar na construção do
conhecimento, utilizando recursos e materiais didáticos que permitem aos alunos
exercitarem a capacidade de pensar, refletir e tomar decisões, iniciando assim um
processo de amadurecimento (RODRIGUES, 2009).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional para o Ensino de Ciências, deixa claro
que todas as escolas deverão garantir a igualdade
de acesso para os alunos a uma base nacional
comum, que vise estabelecer a relação entre a
educação fundamental e a vida cidadã por meio
de articulações entre vários dos seus aspectos
como: saúde, sexualidade, vida familiar
e social, meio ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura e as linguagens
(BRASIL, 1996).
O educador em Ciências diariamente é exposto a grandes desafios a fim de
exercer sua profissão de forma a transmitir os conhecimentos que os alunos precisam
adquirir. Algumas dessas deficiências são agravadas por deficiências em
suas licenciaturas, pois a rapidez com que os conceitos se ampliam e surgem novas
tecnologias faz com que a formação do professor possa ser considerada ultrapassada
poucos anos após sua graduação (LIMA E VASCONCELOS, 2006). Alunos do Ensino
Fundamental da rede pública se deparam com metodologias que nem sempre
promovem a efetiva construção do conhecimento. Cabe ao educador unificar
experiências e estratégias de ensino, para qualificar a educação desenvolvendo novas
competências a serem aplicadas nas escolas. Não haverá métodos ideais para
ensinar, mas sim haverá alguns métodos potencialmente mais favoráveis do que
outros (LIMA E VASCONCELOS, 2006).
Não ensinar Ciências nas primeiras
idades invocando uma suposta incapacidade
intelectual das crianças é uma forma de
discriminá-las como sujeitos sociais. Este é
um forte argumento para sustentar o dever
inevitável da escola de ensino fundamental
de divulgar e trabalhar o conhecimento
científico (MALAFAIA, E RODRIGUES,
2008).
A Educação tradicional ainda é adotada e resiste às novas propostas
pedagógicas. Este modelo é caracterizado por concepções de ensino como uma
transmissão/transferência de conhecimentos (LIMA E VASCONCELOS, 2006).
No Ensino de Ciências, atividades práticas são fundamentais, afinal o
desenvolvimento da capacidade investigativa e do pensamento científico são
diretamente estimulados pela experimentação. Ensinar Ciências é muito mais que
promover a fixação dos termos científicos. O Ensino de Ciências busca privilegiar
situações de aprendizagem que possibilitem ao aluno a formação de sua bagagem
cognitiva. (VASCONCELOS E SOUTO, 2003).
O novo paradigma da Educação acredita ser a Transdiciplinaridade que
entende o intercâmbio e as articulações entre as disciplinas. Na transdisciplinaridade
há a superação e o desmoronamento de toda e qualquer fronteira que inibe ou
reprime, reduzindo e fragmentando o saber isolando o conhecimento em territórios
delimitados (SANTOS, 2007).
Neste sentido, tornou-se indispensável à ideia de que a educação
desenvolvida no ambiente escolar seria incumbida de reorientar nossas formas de
relacionamento com o restante da natureza, destacando-se a necessidade do
desenvolvimento de uma educação ambiental (MAKNAMARA, 2009).
Para enfrentarmos os problemas ambientais em busca de uma sociedade
sustentável, é necessário que haja uma articulação entre todos os tipos de intervenção
ambiental, incluindo as ações de Educação Ambiental (EFFTING, 2007). A Educação
Ambiental é um processo educacional criado ao longo dos anos através de estudos
de especialistas, com visão das necessidades do homem e da natureza entrelaçadas
em um objetivo comum que é a manutenção da qualidade de vida de todos os seres
do planeta. Torna-se importante o desenvolvimento deste processo educacional,
visando à reversão ou a minimização dos problemas
ambientais (SANTOS, 2007).
A Educação Ambiental é uma das ferramentas de orientação para a tomada de
consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, por isto sua prática faz-
se importante para solucionar ou mitigar os problemas ambientais que fazem parte do
nosso dia-a-dia (ALVES E COLESANTI, 2005). É um dos eixos fundamentais para
impulsionar o processo de prevenção da deterioração ambiental, de aproveitamento
sustentável de nossos recursos e de reconhecimento do direito do cidadão a um
ambiente de qualidade (SANTOS, 2007).
O ambiente escolar é um dos locais para a discussão a respeito das
problemáticas ambientais, tendo em vista a formação de opinião, a construção de
valores e a promoção da mudança de comportamento, fundamentais para que sejam
resolvidos ou mitigados os problemas ambientais (ALVES E COLESANTI, 2005).
A Educação Ambiental deve ser efetiva no Ensino de Ciências, mais de maneira
interdisciplinar, ser agregada em outras disciplinas, pois é na conjugação das diversas
disciplinas que compõem o currículo escolar que a discussão ganhará amplitude. A
ideia de tema transversal possibilita a discussão e análise do tema meio ambiente em
diferentes áreas do conhecimento, permeando todas as disciplinas. É um instrumento
importante para se alcançar a sustentabilidade (ALVES E COLESANTI, 2005).
A Educação Ambiental é um processo de formação contínua, e deve expandir-
se a todo sistema educacional, mas implementar este tipo de educação nas escolas
tem se mostrado uma tarefa exaustiva. Existem grandes dificuldades nas atividades
de sensibilização e formação, na implantação de atividades e projetos e,
principalmente, na manutenção e continuidade dos já existentes (EFFTING,
2007). Englobar a Educação Ambiental no currículo escolar implica mudanças nas
estruturas profundas do sistema e a maneira como se organizam o ensino e os
métodos que imperam no sistema educativo formal, pois a partir do momento que são
aceitos novas formas de educar, consequentemente o sistema educativo tradicional
estará sendo criticado (SANTOS, 2007).

Torna-se evidente que a Educação Ambiental exige um modelo educativo


novo, onde as teorias sejam expandidas para todas as disciplinas do âmbito cientifico,
buscando a interdisciplinaridade. O propósito desta nova forma de ensinar é o de se
construir coletivamente o conhecimento, sem negligenciar o rigor científico. Portanto,
a Educação Ambiental deve ser trabalhada dentro do Ensino de Ciências por estar
contido neste os temas transversais propostos pelos parâmetros curriculares
nacionais, pois tornar a educação ambiental como disciplina específica no currículo
escolar, demanda uma reestruturação do sistema de ensino, o que no momento torna-
se inviável.
A inserção da Educação Ambiental no Ensino de Ciências proporciona uma
melhor abordagem do meio ambiente como um todo, e não demanda entendimento
deste conteúdo por todos os professores, pois sabe-se que nem todos estão abertos
a novas descobertas e desafios. Professores tradicionalistas não veem propósito
alguma em aderir em suas disciplinas, temas atuais. Deste modo é respeitável que
fiquei a critério de cada professor em sua determinada disciplina, trabalhar temais
atuais e importantes.
Discutir Ciências e Educação Ambiental não é só debater conceitos e
concepções já existentes, é resgatar atitudes, valores e comportamentos, discutir a
política, o dia-a-dia e os diversos aspectos relacionados com a vida em si. É despertar
a criticidade e a busca por uma melhor qualidade de na vida.
Faz-se necessário a ambientalização do Ensino de Ciências tornando explicito
a todos os sujeitos envolvidos no processo pedagógico de alfabetização científica que
todos os conteúdos de Ciências são ambientais, ou seja, fazem parte de um ambiente,
e como tal, pode ajudar a solucionar o atual estado de crise ambiental. Como o Ensino
de Ciências constitui uma disciplina escolar em que tradicionalmente são abordados
diferentes elementos e fenômenos da natureza, fica claro que esta é uma disciplina
que pode contribuir muito para a superação das formas degradantes pelo qual o meio
ambiente vem passando (MAKNAMARA, 2009).
De forma a despertar no aluno o desejo de trabalhar no sentido de exercer um
papel ativo e indispensável na preservação do meio ambiente, é fundamental que este
seja instigado por meio de questionamentos que desafiem seu senso crítico e o façam
perceber que tudo que o rodeia é o meio ambiente e que ele faz parte do mesmo
(OLIVEIRA, OBARA, RODRIGUES, 2007).
Sugere-se aos professores, seriam a
utilização de oficinas e projetos ambientais
oferecidos dentro da escola, como opção de
contra-turno. Estas oficinas estimulam
professores e alunos no entendimento e na
compreensão, em busca de encontrar soluções
para a atuação e consequente solução dos
problemas ambientais abordados na escola.
Este tipo de trabalho estimula o envolvimento da escola nas grandes questões ligadas
à realidade dos alunos, proporcionando-lhes a percepção da efetividade educacional,
e interagindo entre as diversas disciplinas curriculares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Ambiental é um tema polêmico, com um leque muito grande de
conceitos e caracterizações, porém, deve ser efetivamente tratada com a relevância
e urgência que ela necessita.
O problema socioambiental ainda é encarado como um problema de
comportamentos individuais e acreditam na sua solução através da mudança de
comportamento dos indivíduos em sua relação com o ambiente.
O foco principal é a reciclagem do lixo, possuem as lixeiras específicas e fazem
a correta separação.
É fundamental que os professores compreendam a importância de renovar das
relações interdisciplinares dos vários campos do saber, o que requer o compromisso
de refletir sempre sobre concepções particulares, atitudes e práticas pedagógicas em
sala de aula.
Portanto, ressalta-se que deve existir a preocupação em estabelecer, no
contexto educativo, a compreensão do respeito à sociedade com enfoque na
perspectiva de transformação social e na formação de alunos críticos, humanizados e
emancipados.
Ressalta-se que é um tema amplo, portanto, fica sugestão de continuidade ou
desenvolvimento de novos estudos sobre o tema.
A Educação Ambiental é hoje o instrumento mais eficaz para se conseguir criar
e aplicar formas sustentáveis de interação entre o homem e a natureza. É o caminho
para que cada indivíduo assuma suas responsabilidades em busca de uma melhor
qualidade de vida e redução dos impactos ambientais.
Com base na literatura consultada conclui-se que a disciplina de ciências, por
se tratar de uma potencial ponte entre as demais disciplinas, consiste em um ambiente
ideal para a inserção da educação ambiental, permitindo, por meio dessa interação a
extensão da educação ambiental para as demais disciplinas interrelacionadas.

Meio Ambiente e Sustentabilidade

Neste início de século, as questões


ambientais têm tomado o centro das atenções,
tornando-se manchete nos jornais, prioridade
em programas governamentais e assunto discutido nos principais fóruns
internacionais. O mundo tem caminhado, principalmente no último século, em direção
a uma crise de sustentabilidade, devida principalmente ao excesso de ambição
econômica, que leva as pessoas a procurar resultados financeiros sempre imediatos,
não se preocupando se no futuro será possível continuar extraindo lucro pelos
mesmos meios. A principal característica desta crise é a devastação do meio
ambiente, de onde são retirados os insumos necessários para a sobrevivência e para
o crescimento econômico. Como não existe uma real preocupação com a perenização
destes recursos, a tendência é de esgotamento dos mesmos, com a provável extinção
de várias espécies, devido à exploração excessiva, sem a necessária reposição.
É fundamental que a academia volte-se para temas relativos à preservação
ambiental, para que a crise não se agrave e haja perspectiva de reverter o atual
quadro de destruição em que o mundo natural se encontra, pois é nas universidades
que surgem as discussões, o que possibilita a busca de ideias e soluções para os
problemas debatidos, e posterior transmissão para a sociedade.

Sustentabilidade

Tornou-se lugar comum afirmar que o grande desafio para o século XXI é
construir e manter sociedades sustentáveis, o que só será possível com um meio
ambiente também sustentável. Atualmente, a maioria dos governantes faz questão de
sempre falar que sem desenvolvimento sustentável o mundo se tornará inviável, assim
como os grandes industriais declaram que estão buscando a sustentabilidade em suas
empresas, pois sem isso não existe possibilidade de garantir um futuro para a
produção e o comércio mundiais.
Mas afinal, o que é “sustentabilidade”? Antes de tudo, temos de pensar no que
significa “sustentar”, ou seja, manter, amparar, nutrir, perpetuar. Sustentabilidade,
então, seria a capacidade de impedir a queda ou degradação da sociedade ou do
meio ambiente. Desenvolvimento sustentável, por sua vez, é a capacidade de uma
sociedade se desenvolver econômica e tecnologicamente, sem, no entanto,
comprometer a qualidade de vida das gerações futuras e a capacidade do meio
ambiente de se regenerar ou, pelo menos, de evitar uma degradação crítica,
irreversível.
A Comissão Mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento definiu o
desenvolvimento sustentável em termos de presente e futuro, desta maneira: “o
desenvolvimento sustentável é o que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer as suas”.
Existem outras definições usadas com frequência: relação entre
desenvolvimento social e oportunidade econômica por um lado e exigências do meio
ambiente por outro. Melhoramento das condições de vida para todos, especialmente
pobres e carentes, dentro dos limites da capacidade de sustento dos ecossistemas.
Equilíbrio dinâmico entre muitos fatores, incluídas as exigências sociais, culturais e
econômicas da humanidade e a necessidade imperiosa de proteger o meio ambiente
do qual a humanidade faz parte.
A visão de um mundo mais equitativo é inerente ao conceito de
desenvolvimento sustentável, considerando que a capacidade de satisfação das
necessidades não deve ser privilégio de alguns, e sim direito de todos, condição
necessária para que a humanidade sobreviva enquanto sociedade. Sem um mínimo
de justiça social, a sociedade tende a entrar em crise, pois não se sustenta num
cenário de extrema desigualdade, onde seja impossível um convívio social
equilibrado.
O Relatório Brundtland, encomendado pela ONU, afirma que “A humanidade
tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja, de atender às
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de
atender às próprias necessidades”. Mas é importante observar que nem sempre
potencial se traduz em resultado. Se a humanidade tem essa capacidade, deve desde
já compreender que tem de começar imediatamente a tomar providências para evitar
um colapso socioambiental, pois no atual ritmo de devastação dos recursos naturais,
muito em breve não será mais possível uma recuperação, o que resultará num planeta
sem condições de manter os requisitos vitais básicos para os seres humanos.
Também temos de levar em consideração que as definições de
sustentabilidade se limitam, por enquanto, a exortações morais, não existindo ainda
definições objetivas aceitas mundialmente, pois cada povo, cada cultura, tem sua ideia
sobre o que seja sustentabilidade, e sua própria lista de prioridades quanto ao
desenvolvimento econômico e à proteção ou recuperação ambiental. Quando
pensamos em sustentabilidade, logo nos vem à mente uma questão próxima de nós,
um problema com o qual convivemos, e que temos nosso próprio jeito de resolver. É
difícil pensar na sustentabilidade de um país distante, sobre o qual não temos
informações detalhadas, do qual não conhecemos as questões críticas.
Desse modo, como realizar a sustentabilidade? Em primeiro lugar, respeitando
as características locais, pensando globalmente, mas agindo localmente. Não é
plausível solucionar problemas que não conhecemos, que estão distantes de nós.
Assim, devemos resolver as questões locais, e a partir daí, ampliar a atuação. Para
que seja possível um desenvolvimento sustentável, antes de qualquer coisa devemos
considerar as diferenças regionais, pois só são possíveis soluções a partir de
problemas reais, que levem em conta as características do local, da cultura, do meio
ambiente.
Considerando todos esses aspectos, é importante compreender que as
comunidades sustentáveis devem ser moldadas a partir dos ecossistemas naturais,
pois é deles que extraímos toda a matéria-prima necessária para o desenvolvimento
tecnológico e para a produção dos bens necessários ao nosso sustento. Assim, a base
para o planejamento de uma economia sustentável deve partir do ecossistema natural
local, que, uma vez respeitado, permitirá que a produção se perenize, evitando o
colapso resultante do desrespeito às necessidades da natureza, como esgotamento
dos recursos naturais e doenças causadas pela poluição, por exemplo.

Pensamento sistêmico

Só é possível desenvolver um projeto de sociedade sustentável se pensarmos


sistemicamente. O pensamento sistêmico é aquele que considera todos os fatores
que estejam envolvidos no processo. No caso do desenvolvimento de uma sociedade
ecologicamente sustentável, devem ser contemplados inúmeros fatores, como a
escassez de alguns recursos, que devem ser importados, a abundância de outros,
cujo excedente deve ser aproveitado para captar recursos externos, e não
desperdiçado, a capacidade de regeneração do meio ambiente, que não pode se
esgotar em pouco tempo, o que inviabilizaria a manutenção da ocupação local, o
estabelecimento de regras de convivência e instituições que garantam o respeito a
essas regras, a capacidade de absorção de mão-de-obra, pois nenhuma sociedade
se sustenta no longo prazo se não houver possibilidade de seus membros se
manterem empregados e, por consequência, capazes de consumir, o que permite a
sobrevivência da própria economia. O pensamento sistêmico se baseia na
compreensão de relações, padrões e contexto. Devem ser consideradas todas as
relações entre os agentes envolvidos, os padrões existentes nessas relações e o
contexto em que elas ocorrem. Sempre devem ser tomadas como base as
características locais. Não faz sentido planejar uma sociedade sustentável no interior
da África utilizando o contexto da sociedade norte-americana, pois as características
ambientais, culturais e econômicas são totalmente distintas. Nesse sentido, devemos
respeitar as limitações e recursos existentes no local para podermos planejar sem ser
surpreendidos com resultados totalmente diversos dos esperados. Se forem
contemplados os aspectos do ambiente, efetuando o planejamento de acordo com o
potencial da localidade, pensando sistemicamente, a probabilidade de cometer
equívocos será consideravelmente menor.
Para que seja possível pensar o meio ambiente de forma sistêmica, é
imprescindível compreender os princípios de organização que os próprios
ecossistemas desenvolveram para manter a teia da vida, o que Capra chama de
“alfabetização ecológica”. A chamada “Ecologia rasa” é antropocêntrica, ou seja,
considera que o ser humano é a razão de ser do meio ambiente, e a natureza existe
para servi-lo, tendo ele todo o direito de usufruir dela o quanto quiser, preocupando-
se apenas com suas próprias necessidades. O problema deste tipo de pensamento é
que não existe perspectiva de longo prazo. Os recursos que hoje são abundantes, em
pouco tempo podem escassear e o homem terá de buscar alternativas, o que nem
sempre será viável, e neste caso será difícil a sobrevivência da sociedade.
O norueguês Arne Naess foi o primeiro a conceituar a chamada “Ecologia
profunda”, no início dos anos 1970. A Ecologia profunda considera que o meio
ambiente baseia-se em uma rede de fenômenos intrinsecamente interligados, e
qualquer abalo em apenas um dos pontos desta rede pode provocar sérios danos a
todo o sistema existente. Para compreender esta ideia, basta pensar na cadeia
alimentar. Eliminando um dos componentes da cadeia, todos os que dependem dele
serão afetados, e o desequilíbrio será inevitável. As redes são o padrão básico de
organização de todo ser vivo, tanto externamente quanto internamente. Cada ser vivo
é composto de sistemas de órgãos que permitem sua sobrevivência, cada órgão
sendo responsável por um aspecto da manutenção do todo. Se um deles falha, coloca
a vida do indivíduo em risco. Ou o corpo se adapta, substituindo aquele órgão por
outro que supra a sua falta, ou não será possível a sobrevivência. O
mesmo ocorre num organismo mais complexo, como o exemplo anterior da cadeia
alimentar.
A rede das comunidades humanas, por sua vez, tem um elemento fundamental:
a comunicação. Segundo Capra, “à medida que as comunicações acontecem em uma
rede social, elas acabam produzindo um sistema compartilhado de crenças,
explicações e valores – um contexto comum de significados, conhecido como cultura,
que é sustentado continuamente por novas comunicações. Através da cultura, os
indivíduos adquirem identidades, como membros da rede social. "
Não é à toa que a cultura é o conceito básico da antropologia, pois é o elemento
que define o ser humano enquanto ser social, e a cultura está intrinsecamente ligada
à comunicação, que permite o compartilhamento e a perenização de conhecimentos,
hábitos e valores, essenciais para a vida em comunidade. Neste contexto, tanto as
redes de relacionamento humano como as redes ecológicas podem ser consideradas
redes vivas, uma vez que elas estão em constante transformação e adaptação,
conforme as necessidades advindas da situação em que se encontram. A cada
momento podemos verificar alterações no ambiente e na vida social, alterações estas
provocadas por infinitos e constantes acontecimentos, que têm consequências no
funcionamento futuro das redes.
As redes vivas, podemos concluir, são redes funcionais, redes de relações
entre vários processos que ocorrem nos mais variados níveis, baseados nas
comunicações entre os elementos das redes, que estão continuamente interagindo e
provocando reações.
O pensamento sistêmico, então, muda o enfoque dos objetos, como era a
preocupação da Ecologia rasa, para as relações. Estas relações, entretanto, não
podem ser mensuradas. Para podermos analisá-las, temos de mapeá-las em busca
de padrões, que nos permitirão encontrar semelhanças e diferenças entre as redes
existentes, e a partir daí estabelecer correlações entre as mesmas, o que torna
possível uma análise sistemática.
Existem alguns princípios da ecologia, da sustentabilidade ou da comunidade,
a partir dos quais podemos realizar análises sistêmicas das redes, como por exemplo:
nenhum ecossistema produz resíduos, já que os resíduos de uma espécie são o
alimento de outra. A poluição ocorre quando os resíduos estão acima da capacidade
de absorção pelo ambiente. É raro isso ocorrer sem a interferência humana, mas o
homem, por sua cultura sedentária, tem a enorme capacidade de
concentrar seus resíduos e assim impedir sua absorção pelo ambiente, o que causa
desequilíbrio na rede e consequentes problemas em seu funcionamento normal.
A matéria circula continuamente pela teia da vida, sempre se transformando e
sendo reaproveitada em outro estágio da rede, o que permite a continuidade da
mesma. A energia que sustenta estes ciclos ecológicos vem do Sol, e toda
transformação de matéria depende desta fonte de energia. Um dos graves problemas
que a humanidade vem enfrentando, e que se agrava paulatinamente, é a capacidade
do meio ambiente conservar e filtrar essa energia, o que vem causando desequilíbrios
aparentemente irreversíveis, que podem comprometer a vida no planeta. A
diversidade assegura a resiliência, pois quanto maior a variedade de espécies, maior
a chance de adaptação aos problemas enfrentados, pois haverá maior probabilidade
de surgimento de indivíduos capazes de suportar condições adversas e
consequentemente garantir a preservação. Como resultado, o meio ambiente pode se
recuperar dos danos eventualmente sofridos. E finalmente, é importante lembrar, a
vida, desde seu início há três bilhões de anos, não conquistou o planeta pela força, e
sim através de cooperação, parcerias e trabalho em rede.
O contraponto a esta tradição é o ser humano, que insiste em desrespeitar as
leis naturais, buscando exclusivamente sua própria satisfação, sem se preocupar com
a preservação do mundo que o sustenta. Platão já observou, séculos atrás, que “os
homens constroem como se fossem viver para sempre e comem como se fossem
morrer amanhã.” Da Grécia clássica até os dias de hoje, essa afirmação só tem se
confirmado e agravado, como consequência do desenvolvimento tecnológico e da
acumulação de capital. Apenas no final do século XX o ser humano se deu conta de
que seu estilo de vida não é sustentável, e existirá um limite para a expansão de seu
domínio sobre a natureza. É possível que o quadro já seja irreversível, tal o nível de
degradação do meio ambiente, então torna-se mister tomar atitudes para reduzir o
comprometimento dos recursos naturais, garantindo pelo menos uma sobrevida que
permita que as próximas gerações tomem atitudes corretivas, evitando o colapso do
meio ambiente global.
Educação ecológica

Até aqui, vimos dois conceitos fundamentais para que o homem possa
continuar a usufruir do planeta durante um período de tempo razoável:
sustentabilidade e pensamento sistêmico. Mas nada disso pode ser alcançado
sem a pedra fundamental, que é a educação. Não é possível atingir o objetivo de uma
sociedade econômica e ecologicamente sustentável sem um nível avançado de
consciência ambiental difundido por toda a população. Se a quantidade de pessoas
esclarecidas permanecer por muito tempo diminuta como é hoje, e a maioria
esmagadora da sociedade continuar na total ignorância a respeito das questões
ambientais mais básicas, não teremos a menor perspectiva de reduzir os impactos
ambientais negativos, quanto mais de avançar na mitigação dos danos já causados
ao ambiente.
O principal meio para atingirmos essa difusão da consciência ambiental é a
educação, que deve se dar em todos os níveis, a fim de alcançar todas as
estratificações sociais e etárias, em todas as partes do planeta, de modo que sejam
viabilizadas ações de espectro amplo, com ampla participação, sem o que dificilmente
serão auferidos resultados satisfatórios no processo de recuperação e preservação
do ambiente.
A educação ambiental, no entanto, não deve se limitar apenas ao período
escolar formal tradicional, e sim ser estendida por toda a vida, pois todos nós, mesmo
após concluirmos o ensino formal, devemos acompanhar as mudanças ambientais e
nos preparar para suas consequências. Assim, o processo educacional
deve ser contínuo, iniciando-se em casa, desde a mais tenra idade, e prosseguindo
durante todas as fases da vida, tanto na escola como na comunidade, já que as
questões ecológicas mudam de acordo com a época e os tipos de problemas e
relações do ser humano com o meio ambiente, e a educação deve,
consequentemente, acompanhar pari passu todas essas alterações. Assim, é tarefa
de toda a sociedade contribuir para o desenvolvimento educacional de seus membros.
Os pais, em casa, devem preparar o filho para os conceitos básicos relativos ao meio
ambiente, mostrando como respeitar a natureza, evitando poluir o ambiente e
desperdiçar recursos importantes, como alimentos e água.
A educação fundamental é o alicerce de toda a educação e do aprendizado
futuro. A meta da educação formal deve ser suscitar crianças contentes consigo
mesmas e com as demais, que se entusiasmem com o ensino e que desenvolvam
mentes inquisitivas, que comecem a acumular um acervo de conhecimentos sobre o
mundo e adotem um enfoque para buscar um conhecimento que possam usar e
desenvolver ao longo da vida. Concomitantemente, durante o processo educacional,
a criança deve aprender a fazer, a saber, a ser e a viver juntamente com os outros,
pois no futuro viverá em sociedade, interagindo com outras pessoas, de diferentes
opiniões e formações, e terá de compartilhar suas experiências e conhecimentos,
assim como também aprenderá com aqueles com quem mantiver contato.
Uma das provas mais exigentes da educação para o desenvolvimento é ajudar
as pessoas a compreenderem e adaptarem-se às mudanças que ocorrem em uma
velocidade ainda antinatural para todas as culturas. No século XX, os avanços
tecnológicos e suas consequências ambientais foram superiores aos de toda a história
da humanidade, o que gerou uma crise sem precedentes, e nenhuma cultura estava
preparada para isso, já que sempre houve a crença de que a natureza por si só
resolveria todos os problemas, considerando que sempre ocorreu desta forma.
Só muito recentemente, após
muitos alertas de entidades
ambientalistas, os governos
perceberam a gravidade da situação,
e passaram a pensar a respeito, mas
a convicção necessária para tomar
atitudes efetivas quanto à questão
ambiental ainda se encontra muito aquém do necessário, inclusive no que tange à
educação, pois, mesmo onde existe um projeto formal de inserção da educação
ambiental no currículo escolar, a prática ainda não apresentou resultados
convincentes, o que, em se tratando de tema tão significativo, é preocupante, devido
às prováveis consequências futuras.
Segundo a ONU, em todo o mundo, mais de cem milhões de crianças entre
seis e onze anos de idade nunca foram à escola, e dezenas de milhões retiram-se
poucos meses ou poucos anos após ingressarem no ensino formal. Existem
atualmente cerca de oitenta e oito milhões de adultos analfabetos, a maioria dos quais
nunca frequentou uma escola.
O acesso à educação é condição sine qua non para uma participação eficaz
em todos os níveis da vida do mundo moderno. Neste sentido, é necessário
proporcionar meios de progressão aos menos favorecidos, através da educação, para
que estes possam acompanhar o restante da sociedade em sua evolução,
contribuindo também no processo. Caso contrário, haverá uma multidão de excluídos
que, por não compreenderem a importância do meio ambiente para a vida no planeta,
não contribuirão para sua preservação, além de, por falta de informação, tornarem-se
agentes da degradação ambiental que, por sua quantidade, têm um potencial
destrutivo avassalador. Observe-se a quantidade de favelas que ocupam áreas de
preservação, que devastam as florestas, poluem o ambiente, contribuem para o
desmoronamento dos morros e contaminação dos rios e do solo, geram enorme perda
de energia elétrica ao furtar da rede, entre inúmeros outros fatores.
Para que o processo de educação ambiental tenha realmente sucesso, é
essencial que haja uma inter-relação entre quase todas as disciplinas do currículo,
pois a consciência ambiental não pode ficar restrita a uma disciplina específica, já que
o tema permeia todas as áreas do conhecimento, e é responsabilidade de todo o
sistema educacional trabalhar para que ocorra uma progressão na conscientização da
população quanto à temática ecológica. Então, a coordenação pedagógica e os
professores devem estar sempre em contato uns com os outros, a fim de trabalharem
conjuntamente os temas ligados à ecologia, de forma que os alunos percebam a
relação entre as matérias e, fundamentalmente, a importância desta interligação,
tomando consciência de um mundo integrado, passando a pensar sistemicamente, e
não mais de forma fragmentada.
Isso é o que chamamos de “interdisciplinaridade”, termo tão em voga no meio
acadêmico atualmente, que tem como objetivo um currículo integrado que valorize o
conhecimento contextual, permitindo que sejam elaborados projetos em conjunto por
professores de várias disciplinas, mostrando a relação entre as diferentes áreas e
como o meio ambiente está integrado em tudo o que diz respeito ao conhecimento e
à vida na Terra. Um dos objetivos primordiais dos currículos deve ser o
desenvolvimento da cidadania, destacando virtudes morais, motivação e ética, além
de capacidade para trabalhar com outros, respeitando as diferenças de cultura e
pensamento. Estudos de caráter biofísico e geofísico também são pré-requisitos
necessários, mas insuficientes, para compreender o desenvolvimento social. É
importantíssimo também focar as ciências humanas e sociais para o desenvolvimento
sustentável, solucionando problemas locais na relação homem/meio ambiente. Sem
este tipo de enfoque, dificilmente será possível obter resultados eficientes em termos
de educação para um futuro sustentável. A educação é essencial para que as pessoas
possam usar seus valores éticos a serviço de opções conscientes e éticas. A
interdisciplinaridade depende em primeiro lugar da atitude dos educadores e
pesquisadores, dos quais depende a eficiência do processo de integração entre as
disciplinas e inserção dos temas ambientais nos currículos, de forma integrada e
organizada.
A luta por uma educação ambiental que considere comunidade, política e
transformação, preservação dos meios naturais, que incorpore aspirações dos grupos,
que consubstancie lutas efetivas em direção à diversidade, em todos os níveis e todos
os tipos de vida no planeta, considerando os universos social, cultural e natural é,
indiscutivelmente, a luta por uma nova educação. Não podemos, portanto, nos ater ao
estilo de ensino tradicional, em que o professor, onipotente, “permite” que os alunos
bebam de sua sabedoria passivamente. A participação dos alunos é fator significativo
no desenvolvimento das aulas, por exemplo, e devemos repensar a educação,
concebendo formas de aumentar o interesse dos alunos e a eficiência da transmissão
dos conceitos.
A Conferência Mundial sobre Educação para todos optou por definir a educação
em termos de resultados educativos, e não em termos de níveis de instrução, uma
vez que os critérios para determinar níveis de instrução podem variar de país para
país, além de poderem ser manipulados por governos interessados apenas em
autopromoção, sem uma real preocupação com o desenvolvimento educacional de
sua população. Já os resultados educativos podem ser aferidos
segundo critérios definidos pelo conjunto das nações representadas na ONU, o que
permite uma melhor avaliação dos progressos e uniformização das análises.
Para os adultos, a educação ambiental focada na sustentabilidade é a chave
para estabelecer e reforçar o regime democrático, para um desenvolvimento ao
mesmo tempo sustentável e humano, e para uma paz fundada no respeito mútuo e
na justiça social.
“Ensinar esse saber ecológico, que também corresponde à sabedoria dos
antigos, será o papel mais importante da educação no século XXI. A alfabetização
ecológica deve se tornar um requisito essencial para políticos, empresários e
profissionais de todos os ramos, e deveria ser uma preocupação central da educação
em todos os níveis do ensino fundamental e médio até as universidades e os cursos
de educação continuada e treinamento de profissionais.”
A educação é, em síntese, a melhor esperança e o meio mais eficaz que a
humanidade tem para alcançar o desenvolvimento sustentável. Dessa forma,
devemos pensar uma pedagogia centrada na compreensão da vida, experiência de
aprendizagem no mundo real que supere a alienação da natureza e reacenda o senso
de participação, elaborando um currículo que ensine os princípios básicos de ecologia,
além de fomentar o desejo de aprender sempre mais, com o intuito de auxiliar na
preservação do planeta para que seja aproveitado pelas gerações vindouras. Esta
pedagogia deve privilegiar o ecocentrismo e percepção sistêmica da vida.
Existe um consenso entre os mais importantes teóricos da educação, entre eles
Jean Piaget, Maria Montessori e Rudolf Steiner, quanto ao desenvolvimento das
funções cognitivas na criança em processo de crescimento, tanto físico quanto mental.
Parte desse consenso é o reconhecimento de que um ambiente de aprendizagem rico,
multissensorial é essencial para o pleno desenvolvimento cognitivo e emocional da
criança.
Quanto à educação ambiental propriamente dita, voltada para o pensamento
sistêmico, deve haver uma tentativa de incentivar a busca de significados, procurar
dar sentido às experiências. Busca de significados é busca de padrões, e essa é a
base do pensamento sistêmico, é o que permite a compreensão do todo e a avaliação
dos progressos obtidos ou dos objetivos não alcançados. É fundamental procurar
relacionar fenômenos físicos e seus desdobramentos, relações de causa e efeito,
realizar experiências que exemplifiquem essas relações. E também deve ser
destacada a necessidade de novos saberes para apreender processos sociais que se
complexificam conforme o crescimento das populações e riscos ambientais que se
intensificam de acordo com o desenvolvimento econômico.
A educação ambiental deve, desta forma, passar a ter um caráter formativo, em
substituição ao tradicional, informativo, que prioriza o acúmulo de informações, sem
perceber que a compreensão do todo é que leva ao desenvolvimento e à apreensão
do conhecimento, que depende de todo um processo de acúmulo de experiências, de
implicações de causa e efeito, além da interiorização de valores ligados à
preocupação com o futuro da humanidade e do meio ambiente. Hoje, a
interdisciplinaridade peca pela precariedade e pelo simplismo
Um conceito essencial a ser trabalhado com os alunos é a cooperação, que virá
concomitante ao desenvolvimento do pensamento sistêmico, pois a criança perceberá
que a cooperação resulta em maior facilidade e eficiência na busca de objetivos
comuns. Assim, será natural chegar a conceitos como ética, moral e valores,
compreendendo a importância da formação do comportamento através de valores
ambientalmente e socialmente corretos. Os alunos devem aprender a ter preocupação
com questões graves, que representem obstáculos para a construção plena da
cidadania, ferindo a dignidade das pessoas e diminuindo, assim, seu nível de
qualidade de vida, como o uso indiscriminado dos recursos naturais, a competição
extremada visando apenas o lucro pessoal, entre outras.
Nas sociedades democráticas, as atividades encaminhadas para o
desenvolvimento sustentável dependem, em última instância, do surgimento do
interesse público, da compreensão e do apoio da população. Isso é decorrência da
educação, o que significa que é necessária a criação de um círculo virtuoso, em que
a educação promova essa conscientização, que servirá de estímulo para a
continuidade do processo educacional, com o envolvimento da população e a
consequente difusão da temática da sustentabilidade.
Talvez o maior problema encontrado pelas pessoas que promovem o
desenvolvimento sustentável consista em convencer não apenas os que se opõem a
suas ideias, mas também aqueles que simplesmente “não querem saber”, que
representam fatia significativa da população mundial. Em geral, os ambientalistas são
considerados “ecochatos”, que estão mais preocupados com o mico- leãodourado e
com as samambaias que com a fome e a miséria. O grande desafio é demonstrar que
todos os temas estão interligados, e a sobrevivência da humanidade
e a possibilidade de uma justiça social dependem inteiramente da conservação da
biodiversidade e da preservação do meio ambiente.
Assim como a biodiversidade, o respeito à diversidade cultural e ideológica é
essencial para que possamos almejar um mundo economicamente sustentável,
porquanto só a diversidade de ideias e opiniões, assim como de referências, pode
permitir o surgimento de avanços na área do conhecimento. Neste sentido, é
fundamental a troca de experiências entre as diferentes correntes de pensamento,
provenientes de variadas culturas e lugares do mundo.
A consciência ambiental deve ser fundamentada tendo em vista os 5 “E’s”:
ecologia, economia, espiritualidade, ética e educação. É imprescindível compreender
que estes cinco aspectos estão intrinsecamente ligados, e um não pode se sustentar
sem os outros. Devemos pensar esses fatores sistemicamente, percebendo sua inter-
relação e as consequências de sua interação. O habitante de um mundo
eminentemente capitalista se preocupa, em primeiro lugar, com a economia, que
permitirá o avanço tecnológico que terá como efeito um maior conforto pessoal. Mas
esse conforto não será completo e sustentável se não for estendido à maioria da
população, pois num quadro de injustiça social os menos abastados tendem a se
revoltar e impedir que os privilegiados usufruam de seu conforto pessoal, através de
revoltas populares ou aumento nos índices de criminalidade, por exemplo. Para que
as riquezas produzidas pela economia sejam permanentes, ou pelo menos durem por
um longo tempo, é necessário que a ecologia seja respeitada, já que os recursos para
que a economia funcione vêm da natureza, e se estes se esgotarem, a economia
entrará em crise. O respeito à ecologia está ligado a uma ética ambiental, que norteará
os passos dos agentes no sentido de aproveitar ao máximo os recursos, causando o
menor impacto negativo possível. Para que essa ética possa ser difundida, aprimorada
e consolidada, o meio mais eficaz é a educação. E, por fim, a espiritualidade é um
fator que facilita uma introspecção, através da qual a consciência ambiental pode se
instalar no ser humano, permitindo uma maior compreensão desta relação entre os
vários enfoques que devemos dar ao ambiente em que vivemos.
Além das disciplinas teóricas do currículo escolar, as artes também são um
instrumento muito eficaz para desenvolver e refinar a capacidade natural de uma
criança de reconhecer e expressar padrões. Com elas podemos ensinar o
pensamento sistêmico, além de reforçar a dimensão emocional, cada vez mais
reconhecida como componente essencial do processo de aprendizagem. Ao propor à
criança a realização de uma obra artística, fomentamos uma série de estímulos, tanto
visuais como intelectuais, que em conjunto possibilitarão o planejamento de um
objeto, e a criança poderá perceber todas as dimensões que compõem o mesmo,
assim como os efeitos de seu resultado.
A execução de uma horta escolar também é um projeto perfeito para
experimentar o pensamento sistêmico e os princípios da ecologia em ação. Com ela,
podemos compreender os ciclos biológicos, visualizando como os nutrientes circulam
pelo ambiente, passando pelos estágios de plantio, cultivo, colheita, compostagem e
reciclagem, e a cada etapa apreender todos os fatores envolvidos, como qualidade e
quantidade de terra, adubo e água necessárias, como os limites de cada elemento, e
como qualquer um destes componentes pode significar risco à vida, se utilizado em
excesso.
O enfoque da educação ambiental deve privilegiar problemas locais, de acordo
com a máxima “pensar globalmente, agir localmente”, com o intuito de aproximar os
educandos de sua realidade, apresentando a eles uma forma de pensar e solucionar
seus problemas mais familiares. Nesse sentido, há uma maior possibilidade tanto de
interesse por parte dos alunos como de surgirem soluções apropriadas e exequíveis,
uma vez que existe uma chance real de o aluno executar uma ação e verificar suas
consequências, coisa improvável em caso de questões que envolvam países distantes
ou mesmo o mundo inteiro. Segundo o
“Levantamento Nacional de Projetos de Educação Ambiental” dos Ministérios
do Meio Ambiente e da Educação e Cultura, apresentado durante a I Conferência
Nacional de Educação Ambiental, realizada em Brasília, em setembro de 1997, os
temas mais abordados foram locais, enquanto questões metodológicas, avaliação de
projetos entre outros temas mais complexos e/ou elaborados foram pouco citados, o
que confirma o argumento acima.
Ao executar um projeto de educação ambiental, devemos sempre considerar
que há envolvimento de interesses, por parte do governo local, das empresas
envolvidas e mesmo da comunidade. Estes interesses se mostram comumente
conflitivos, principalmente quando se trata de utilização de recursos naturais ou de
intervenções que impactem no meio ambiente. Assim, antes da implantação de um
projeto nesse sentido, temos de pensar nas estratégias de aplicação das ações
educacionais, de forma que atendam à expectativa do público alvo, sem afrontar os
interesses das partes envolvidas. Mais à frente, falaremos sobre negociação de
conflitos, e essa questão ficará mais clara.
Outro ponto muito importante é a complexidade das mensagens. A forma de
um projeto educacional deve ser condizente com a realidade do público a que se
destina. Não é possível utilizar o mesmo discurso numa sala de aula de pré-primário
num bairro de classe média-alta e numa favela. As realidades são muito diferentes,
assim como as referências a que as crianças têm acesso. Do mesmo modo, não
podemos repetir em uma conferência de empresários a mensagem utilizada com uma
associação de bairro ou com um grupo de pescadores. Cada público tem suas
próprias referências, de acordo com seu ambiente e suas experiências, e é primordial
respeitar essas características. Esse respeito é básico para que o educador possa ter
sucesso no processo de comunicação, que é o início do desenvolvimento educacional.
Talvez fosse recomendável fazer uma consulta à população quanto à
possibilidade de uma reforma curricular no sentido de priorizar a educação ambiental,
repensando toda a estrutura curricular vigente, mas isso só teria efeito satisfatório num
cenário em que a população estivesse suficientemente informada a respeito. É ilusório
acreditar que em países com baixo nível educacional, como o Brasil, os cidadãos
tenham preparo e informação que possibilitem a tomada de decisões a respeito de
temas importantes e complexos como a questão da educação ambiental. Em países
com essas características, o poder público deve ter consciência e introduzir esta
temática nos parâmetros curriculares sem o preciosismo de procurar o referendo do
povo. Não se trata de impor autoritariamente um programa de ensino
homogeneizador, mas de priorizar questões mais amplas, que demonstrem a
importância do pensamento sistêmico, respeitando as peculiaridades de cada grupo
social.
No Brasil, devido à urgência social, o meio ambiente é sugerido como tema
transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ministério da Educação
e Cultura, mas trata-se apenas de proposta, os professores não estão obrigados a
aceitar, e os temas transversais ainda não são satisfatoriamente valorizados pelo
professorado, em parte por causa da falta de formação e informação, em parte pelo
comodismo de grande parte dos professores, que preferem continuar com suas aulas
tradicionais, que demandam menos trabalho para o preparo, dispendendo, assim,
menos tempo e esforço intelectual.
Por esses motivos, os governantes devem fomentar o aperfeiçoamento dos
professores, oferecendo cursos e bolsas de estudos para que estes estejam sempre
em desenvolvimento, tomando contato com as novidades de suas áreas e aprendendo
a inovar em suas aulas, além de conhecer novas pessoas e trocar experiências, o que
sempre contribui para o autodesenvolvimento e para o crescimento individual, e como
consequência, o professor volta para a sala de aula com um novo ânimo para repassar
aquilo que aprendeu no curso.
Algumas questões que devem ser pensadas pelos educadores ambientais e
por seus alunos, e que podem nortear o trabalho educacional no sentido de buscar a
participação coletiva: O que cada um entende por educação? O que entende por ser
humano? O que entende por cidadania? O que entende por meio ambiente? O que
entende por educação ambiental? O que entende por autoconhecimento? O que julga
importante para que o ser humano desenvolva a educação ambiental? O que cabe a
cada um fazer pela educação ambiental?
Atividades práticas devem ser desenvolvidas em paralelo ao ensino teórico,
para que haja uma potencialização do aprendizado, pois quando um aluno tem
experiências práticas, ocorre um outro nível de compreensão, e isso permite que
absorva com maior eficiência e rapidez o que acabou de conhecer.
Um bom sinal para a perspectiva de avanços na educação ambiental, e
consequente desenvolvimento da conscientização popular, é o fato de, recentemente,
muitos órgãos públicos virem desenvolvendo projetos de educação ambiental no
Brasil. Além do Estado, várias empresas e escolas estão criando setores e/ou
passando a apoiar projetos, surgiram inúmeras ONG’s ambientalistas, multiplicaram-
se as iniciativas particulares, alguns financiamentos começam a exigir como
contrapartida desenvolvimento de projetos com temática ambiental, e a
responsabilidade social e ambiental vem tomando espaço importante dentro das
organizações, que percebem que este tipo de atitude pode ser utilizada como
propaganda de suas empresas, como consequência do aumento de pessoas
preocupadas com este tipo de questão. Um outro aspecto é o crescimento do número
de consumidores conscientes, que selecionam os produtos e serviços que irão utilizar
de acordo com os selos de responsabilidade social e ambiental. Então, as
certificações passam a ter importância no sentido em que o consumidor passa a exigir
mudanças na atitude das empresas.
“Hoje não seria exagero falar-se em milhares de experiências de educação
ambiental em todo o país, atestando a riqueza e diversidade de ações voltadas à
proteção do meio ambiente, à melhoria da qualidade de vida, à preservação das
espécies e ecossistemas, e à participação dos indivíduos no planejamento e gestão
de seus espaços e de seu futuro. (...) Como reforçar estas experiências e a partir delas
influenciar na elaboração de políticas públicas?”
Além das ações governamentais, entidades privadas também têm se envolvido
crescentemente no sentido de incentivar projetos de educação ambiental. A Second
Nature, de Boston, por exemplo, é uma organização educacional que colabora com
muitas instituições de ensino para tornar a educação para a sustentabilidade parte
fundamental na vida universitária. No Brasil, este tipo de incentivo ainda é incipiente,
pois as organizações privadas não têm a estrutura necessária para implementar
grandes projetos. Entretanto, muitas organizações não governamentais têm se
prontificado a dar um suporte aos estudantes, além de realizar projetos em convênios
com as universidades.
Pensar o ambiente ecologicamente sustentável, atualmente, nos mostra que a
“verdade” científica é insuficiente, agora se trata de viver a “aventura do
conhecimento”, ou seja, procurar um ousar permanente, que não permita
acomodação, que esteja sempre instigando a ampliar e melhorar o conhecimento, já
que a natureza e o avanço tecnológico não param de mudar continuamente, e a
ciência ambiental deve acompanhar a evolução.
É muito importante, quando se estiver pensando a elaboração de um projeto,
que anteriormente à apresentação, seja efetuada uma pesquisa, que contenha
informação a respeito do projeto, fundamentação técnica, vise um desenvolvimento
permanente, preveja aprofundamento durante a execução, além de cruzar temas, o
que enriquece o projeto, ao mesmo tempo em que abre a possibilidade de integração
com outros projetos, já existentes ou que venham a ser formulados.
Existem atualmente diversas correntes do pensamento em educação
ambiental, sendo que as principais serão brevemente apresentadas a seguir,
ressalvando que não existe uma mais correta que outra, ou mais preocupada com o
meio ambiente que as demais. As diferenças de visão são o que anteriormente
destacamos como a diversidade de opinião que permite o avanço nas teorias, e que
só contribui para a sustentabilidade e o desenvolvimento do pensamento ecológico.
Uma das principais correntes é a chamada “conservacionista” que está
presente principalmente em países economicamente desenvolvidos, que prioriza a
divulgação de impactos ambientais causados pelo atual modelo de desenvolvimento,
demonstrando que a utilização excessiva e desenfreada de recursos naturais terá
como resultado o colapso dos ecossistemas, e consequentemente dos meios de
produção, o que levará à insustentabilidade da economia e à incapacidade da
sociedade de se perpetuar.
Outra corrente, designada “educação ao ar livre”, é formada principalmente
pelos naturalistas, escoteiros, grupos de espeleologia, montanhismo, caminhadas,
acampamento etc., e procuram incentivar o turismo ecológico, através do qual
acreditam que será possível conscientizar boa parte da população, principalmente os
chamados “formadores de opinião”, aqueles que têm condições financeiras de viajar
para países distantes, onde os ecossistemas estão bem melhor conservados que em
seus países de origem, e retornar passando suas experiências, multiplicando esse
novo saber através do fazer cotidiano, individual e social, possibilitando significativas
mudanças em seu ambiente, a partir da percepção pessoal.
A corrente denominada “gestão ambiental” pauta-se pela resistência a regimes
autoritários, embates contra a poluição e as mazelas de um sistema predador do
ambiente e do ser humano. Está presente em muitos países do hemisfério Sul, onde
é ainda incipiente a conscientização ambiental, países em que é alto o índice de
analfabetismo e, consequentemente, baixo o nível de consciência social e ambiental
da população. Os adeptos desta corrente visam conscientizar a população do país
através de ações locais, e acreditam que as mudanças são possíveis a partir do
momento em que haja participação popular, já que a pressão da população é arma
importante contra governantes ilegítimos e autoritários, bem como contra empresários
mais preocupados em auferir lucros a qualquer custo, sem se preocupar com os riscos
ambientais provocados por suas indústrias, mesmo porque geralmente suas matrizes
se encontram em países distantes, e caso os recursos se esgotem num lugar, poderão
ser buscados em outros países.
A última corrente que será aqui apresentada tem duas denominações:
“economia ecológica” ou “ecodesenvolvimento”, baseada na geração e difusão de
tecnologias alternativas. Esta corrente é formada por grandes empresários e
intelectuais conscientes da situação em que se encontra o planeta, e que sabem de
seu papel para viabilizar o desenvolvimento sustentável e sociedades sustentáveis.
No Brasil, ocorrem algumas dificuldades no processo de desenvolvimento da
educação em função das dimensões e diversidade do país, e da falta de tradição de
comunicação entre educadores. Isso prejudica a troca de experiências e informações
entre as escolas e entidades, que poderiam se aperfeiçoar utilizando experiências
alheias. Não se trata de homogeneizar o ensino em todo o país, pois este tipo de
educação tende a afastar o interesse do aluno e a se distanciar da realidade local,
mas de permitir que, através da troca de informações e experiências, possam surgir
novas ideias, que permitirão um melhor aproveitamento do ensino ecológico. A
educação ambiental deve ser um instrumento para esse objetivo, evitando ações
isoladas, desencontradas, que possam fragilizar as propostas e ações.
A seguir, são sugeridos alguns temas e objetivos que devem ser considerados
no processo de educação ambiental:
 Biológicos: proteger, conservar e preservar espécies, ecossistemas e o
planeta como um todo; conservar a biodiversidade e o clima; detectar as causas da
degradação da natureza, incluindo a espécie humana como parte desta; estabelecer
as bases corretas para a conservação e utilização dos recursos naturais.
 Espirituais/culturais: promover o autoconhecimento e o conhecimento do
Universo, através do resgate dos valores, sentimentos e tradições e da reconstrução
de referências espaciais e temporais que possibilitem uma nova ética fundamentada
em valores como verdade, amor, paz, integridade, confiança, respeito mútuo,
responsabilidade, compromisso, solidariedade sincrônica e diacrônica, iniciativa,
cooperação, pluralismo, ética, criatividade, afetividade, resistência, participação,
igualdade, espiritualidade, diversidade cultural, felicidade e sabedoria, visão global e
holística.
 Políticos: desenvolver uma cultura de procedimentos democráticos;
estimular a cidadania e a participação popular; estimular a formação e aprimoramento
de organizações, o diálogo na diversidade e a autogestão política.
 Econômicos: contribuir para a melhoria da qualidade de vida através da
geração de empregos nas atividades “ambientais”, não alienantes e não exploradoras
do próximo; caminhar em direção à autogestão de seu trabalho, de
seus recursos e de seus conhecimentos, como indivíduos e como
grupos/comunidades.
 Debate entre pontos de vista.
Fabio Cascino, ao propor uma reflexão sobre os currículos, levanta com muita
propriedade a questão da espiritualidade, da importância da paz tanto interior como
exterior para que o ser humano tenha condições de lutar por um mundo mais
equilibrado. E afirma que “não lutar por esses romantismos pode significar aceitar a
barbárie”, pois a mentalidade competitiva do capitalismo, ao ignorar a importância dos
valores espirituais, acaba relegando o bem-estar psicológico das pessoas a um plano
inferior.

Meio ambiente e sociedade

No contexto apresentado, fica claro que o homem é o agente de soluções e


realizações, tanto quanto das destruições e degradações do meio ambiente. Assim,
depende do próprio ser humano conscientizar-se desse fato e tomar as devidas
providências para que seja modificada sua atitude em relação às questões ecológicas,
possibilitando a tão almejada sustentabilidade. Ademais, não é possível resolver os
problemas do meio ambiente a menos que os problemas sociais e econômicos que
assolam a humanidade sejam enfrentados seriamente por toda a sociedade
organizada, incluídos aí os governos, as grandes corporações e as organizações não
governamentais.
É essencial, nesta conjuntura, perceber a importância da cultura e do
conhecimento como alimentos do crescimento, da liberdade e do desenvolvimento
social; valores como humanismo, fraternidade e respeito devem ser adotados como
direitos universais, no intuito de contribuir para uma maior coesão da sociedade, em
busca de um mundo mais justo socialmente, em que a economia tenha como objetivo
o desenvolvimento de toda a sociedade, e não o enriquecimento de alguns
privilegiados.
Outro aspecto importante é o respeito à diversidade de culturas e etnias, pois,
como visto anteriormente, são as diferenças que permitem o aprendizado e o
crescimento, através das trocas de experiências e do surgimento de ideias novas e
diferentes. Respeitar culturas e modificá-las na medida do necessário, sempre
levando em consideração suas particularidades e seu próprio tempo de mudança,
para que não haja alterações profundas em um período curto, o que pode gerar
traumas e resistências, além da descaracterização daquela cultura.
O respeito aos demais seres vivos também deve ser desenvolvido,
compreendendo, ao pensar sistemicamente, o porquê de ser e coexistir na natureza,
o que, como visto anteriormente, é imprescindível para a continuidade do equilíbrio
ecológico, fundamental para que seja possível um desenvolvimento sustentável. Caso
contrário, ocorrendo desequilíbrios significativos, dificilmente o ambiente e seus
recursos poderão ser aproveitados no longo prazo, lembrando que é da natureza que
provêm as matérias primas e recursos naturais utilizados em nosso dia a dia, sem os
quais teríamos de alterar de forma importante os nossos hábitos diários, substituindo
os produtos consumidos por outros, nem sempre apropriados para os mesmos fins.
Outro modo importante de perenizar os recursos naturais é a reciclagem e
utilização consciente de materiais e insumos, como forma de preservação e respeito
à vida. À medida que reaproveitamos os resíduos dispensados, deixamos de utilizar
uma parcela de recursos naturais, que ficará mais tempo no meio ambiente, podendo
ter seu uso adiado, além de reduzir a degradação do ambiente ao diminuir a
quantidade de lixo, que poderá ser dispensada posteriormente, após reutilização por
mais um período.
A sociedade tem um sério problema com a geração de energia, da qual toda a
produção industrial e o conforto doméstico dependem. Nesse sentido, é essencial
desenvolver formas de energia que sejam sustentáveis, levando em conta que as
formas de geração de energia mais utilizadas hoje em dia são, além de rapidamente
esgotáveis, extremamente poluentes, o que prejudica em muito a sustentabilidade do
planeta. Desenvolvendo alternativas sustentáveis, que poluam em menor escala e que
tenham menor risco de se esgotar, estaremos contribuindo para uma melhor qualidade
de vida, ao reduzir a poluição atmosférica ao mesmo tempo em que ampliamos a vida
útil dos recursos energéticos, e reduzimos os riscos de crises na geração de energia.
A comunidade, para que haja possibilidade de justiça social, deve se tornar
solidária, as boas ações em grupo podem mudar situações dramáticas em melhores
oportunidades para construir um futuro melhor. Se todos pensarem no interesse
coletivo, todos lucrarão, pois, o ambiente urbano tenderá a se tornar mais habitável
para todos os seus habitantes. As melhores maneiras de conseguir mudanças
importantes são o exemplo e o trabalho, pois a partir da observação daqueles que se
preocupam com o coletivo, existe a chance de os outros perceberem as vantagens,
principalmente espirituais, pois as atitudes do altruísta geralmente são mais pensadas,
dificilmente ele toma decisões precipitadas, sob estresse. Aqueles que têm
consciência disso são os potenciais formadores de opinião, que podem contribuir com
a coletividade ao demonstrar as vantagens de se pensar no todo, priorizando a
convivência harmônica em detrimento de seus interesses privados, que não trarão
satisfação se não estiverem acompanhados de um ambiente salutar e agradável. A
partir do momento em que alguém percebe esse tipo de relação causa/consequência,
passa a mudar suas atitudes em relação à coletividade e ao seu cotidiano, aprendendo
a respeitar as opiniões dos outros e a contribuir melhor para o conforto dos que estão
ao seu redor.
Toda aprendizagem é fundamentalmente social. Cada indivíduo está
necessariamente inserido em um sistema social, em uma comunidade. Parte de nossa
identidade depende de laços que tentamos estabelecer na comunidade e boa parte
de nossa aprendizagem depende das comunidades a que pertencemos. Os desafios
intelectuais e as experiências devem ser realmente vivenciados, e não apenas
verbalizados.
“Até muito pouco tempo, o planeta era um vasto mundo no qual a atividade
humana e seus efeitos podiam ser agrupados em nações, em setores com amplos
campos de interesse (ambiental, econômico, social). Atualmente essas categorias
começaram a dissolver-se. Isso se aplica, em especial, às diversas “crises” mundiais
que despertaram a preocupação pública.
Não se trata de crises isoladas: crise ambiental, crise do desenvolvimento, crise
energética. Trata-se da mesma crise”.
É necessária a colaboração e associação de todos: indústrias, empresas,
organizações de base, população em geral, para elaborar políticas ambientais
factíveis, que tenham condições de sair das salas de reuniões e serem
verdadeiramente implantadas na prática. Para isso, é necessário o envolvimento e a
conscientização de todos os setores da sociedade, pois são eles os responsáveis pela
viabilização e realização das ações ambientais. Deve ser atentada também a
complexidade dos discursos e das ações, pois informações truncadas ou
aparentemente incoerentes podem causar falta de credibilidade, e inviabilizar a
correta implementação de ações que, após muita discussão, pareciam perfeitamente
adequadas e planejadas.
Os maiores obstáculos para uma sociedade justa e equilibrada são a fome e a
pobreza, causadas em geral pela má distribuição de renda. Mas como é possível
mudar isso? Em primeiro lugar, em se considerando o atual panorama mundial, não
existe escassez de alimentos. Se fosse distribuída toda a produção mundial de
alimentos pela população do planeta, haveria alimento para todos em quantidades
recomendadas pela Organização Mundial de Saúde. Então, qual é o problema? Por
que existem países onde grande parte da população passa fome ou vive na miséria?
Mais uma vez voltamos para a questão da desigualdade social, em que uns poucos
têm alimento e recursos em abundância, e por isso desperdiçam os recursos
excedentes, e a maior parte da população tem de se contentar com migalhas, pois
não têm recursos próprios para sustentar-se.
Para que o desenvolvimento sustentável seja possível, é essencial que a
população tenha esclarecimento e passe por um processo de formação de
responsabilidade individual, a fim de que cada um compreenda seu papel no todo, e
de responsabilidades coletivas, para perceber como é possível trabalhar em conjunto
visando objetivos comuns. Isso é tarefa, principalmente, do sistema educacional, e
devemos ter sempre em mente que, em qualquer nível, o comportamento individual
deve ser respaldado pela política pública, que deve fornecer condições para que o
indivíduo possa executar seu papel no todo.
Por exemplo, se um cidadão se propõe a reciclar seus resíduos, o poder público
deve providenciar local apropriado para a disposição, transporte, sistema de coleta
etc., devemos ter em mente que participação sem consciência não transforma nada,
ou seja, não adianta mobilizar a população em projetos de reciclagem de lixo ou
redução do consumo de energia sem deixar bem claro quais são os reais motivos
destas atitudes. Tomemos o exemplo do “apagão”, em que a população brasileira se
mobilizou, economizou energia, mas não porque tivesse se conscientizado da crise
ambiental, da falta de água disponível para a geração de energia, mas porque o
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987 governo as
“obrigou” a cumprir uma meta de consumo, para obter desconto nas contas mensais
de energia elétrica, sob risco de ter o suprimento de energia interrompido em caso
contrário. Passado o risco de colapso no sistema, ninguém mais se preocupou em
continuar poupando energia ou água, pois aparentemente o problema está
definitivamente solucionado.
As empresas devem buscar a ecoeficiência, ou seja, o aumento do valor
agregado das atividades, com redução de uso dos recursos e das repercussões no
meio ambiente. Isso se torna possível a partir do momento em que se inicia um
planejamento e se elaboram estudos para viabilizar os projetos. Deve-se reestruturar
produção e consumo para satisfazer melhor as necessidades básicas de todos, de
forma ecologicamente responsável, visto que não é possível desenvolvimento
sustentável sem um mínimo de justiça social. Para isso, também é imprescindível
reduzir as disparidades sociais e econômicas, buscando formas de distribuir as
riquezas produzidas, além de moderar o crescimento demográfico, pois não adianta
incrementar a produção se a população continua crescendo desreguladamente, e o
que é mais preocupante, as maiores taxas de crescimento ocorrem nas camadas mais
carentes da população. O resultado é que, a cada geração, as desigualdades sócio-
econômicas tendem a se agravar, na medida em que os mais favorecidos
economicamente têm índices de fecundidade cada vez menores, ao contrário do que
ocorre entre os mais necessitados.
Os que têm condições de propor e induzir mudanças, como governos,
organizações internacionais, instituições científicas e universidades, têm de sacudir a
inércia e evitar a tentação de recorrer a soluções parciais e de curto prazo, sem se
deixar levar pelo comodismo, que na maioria dos casos, ao negligenciar possibilidades
mais apropriadas e elaboradas, gera resultados insatisfatórios, quando não deletérios,
para o meio ambiente. Os projetos adotados dependem também de continuidade, já
que está em jogo a viabilidade do planeta, e se tivermos de conviver com mudanças
de projetos e rumos a cada governo de turno, estaremos fadados à ruína em termos
de sustentabilidade. Essa responsabilidade também deve ser repassada às gerações
futuras, que terão a obrigação de tomar para si essa consciência e preservar toda a
estrutura que receberem, para no futuro poderem reencaminhar um planeta com
condições de aproveitamento no longo prazo.
Devemos considerar a “Ética do tempo”, um imperativo moral de atuar antes de
chegar a uma situação irreversível, pensando sempre com antecipação, para que seja
possível uma atitude de prevenção, evitando que as crises venham a ocorrer. Quando
prestamos atenção nos avisos que a natureza nos dá, podemos perceber
que algo está errado, e tomar atitudes corretivas antes que o problema se agrave a
ponto de se tornar crítico. Com a tecnologia atual, muitos dos desastres ambientais
podem ser evitados com ações preventivas, através da percepção dos sinais emitidos
pelo ambiente, como alteração do comportamento de certas espécies animais,
alteração nos ciclos biológicos de plantas, variações no microclima, entre muitos
outros.
Experimentação e inovação são as palavras de ordem na busca de soluções
adequadas para o desenvolvimento sustentável. É preciso “fazer mais com menos”,
ou seja, aproveitar ao máximo os recursos, produzindo o melhor resultado possível,
gerando o mínimo de resíduos.
A lógica capitalista se baseia na competição, no individualismo, na produção
em série e no consumismo. Isso vai totalmente contra a ideia de sustentabilidade, pois
nessa lógica os recursos se esgotam rapidamente, tornando-se necessário buscar os
recursos necessários cada vez mais distante do local da produção, ou mudar toda a
estrutura para um novo local onde haja recursos disponíveis. Muitas sociedades
nômades viviam muito bem com este tipo de sistema, mas a natureza se incumbia de
recuperar os recursos após um tempo sem sua exploração. No ritmo da produção
industrial da atualidade, não há tempo para a recuperação da natureza, e a
consequência disso é o esgotamento total dos recursos, impossibilitando a reposição.
Para que possamos nos dedicar à busca de um futuro social e ambientalmente
sustentável, antes de tudo devemos confiar em mudanças de comportamento e de
atitudes básicas dos seres humanos, que serão o princípio de um planejamento para
tornar o futuro melhor. Temos de repensar a percepção que o homem tem de si
próprio, em todos os aspectos: físicos, psicológicos e sociais, até envolvimento e
responsabilidade com o outro e a natureza. De que forma atitudes e comportamentos
criam culturas e hábitos capazes de definir destinos em uma escola, que interfere em
outros ambientes formando uma rede, considerando que a criança leva o que aprende
na escola para casa, para o clube etc., de casa, os pais levarão esse novo
conhecimento para o trabalho, para o lazer, os colegas retransmitirão a outras
pessoas, e assim por diante. E a rede está formada, tendendo a se expandir
exponencialmente, na medida em que houver uma interiorização dos conceitos
ambientais, e uma consequente conscientização que se difundirá por toda a rede.
Deve ficar claro para todos os agentes sociais que pequenas interferências no
ambiente podem gerar grandes repercussões. A inserção de uma espécie estranha
ao ambiente pode gerar um desequilíbrio com potencial para dizimar inúmeras outras
espécies, da mesma forma que a extinção de uma espécie, ou a alteração repentina
da população.
Impactos negativos de problemas ambientais são, em grande parte, resultado
de precariedades dos serviços e omissão do poder público, assim como de descuido
e omissão da população, que em geral sofre com a desinformação, falta de
consciência ambiental e déficit de práticas comunitárias baseadas na participação
popular e envolvimento dos cidadãos. Para alterar este quadro, é imperativo que os
governos e as entidades invistam em projetos que levem a uma verdadeira
transformação social, que permita à população a educação e a informação
necessárias para reverter a grave situação em que se encontra o nosso meio
ambiente. A população tem de perceber que os recursos naturais são esgotáveis, e o
principal responsável pela degradação do ambiente em que vivemos e do qual
dependemos é o homem, e apenas ele próprio tem o poder de mudar este quadro.
É mister, então, que todos se conscientizem do conceito de cidadania, que está
intimamente ligado ao pertencimento e identidade numa coletividade, o que pressupõe
respeito às normas vigentes nessa coletividade, cooperação no sentido de manter o
funcionamento da mesma, através de atitudes comprometidas com o todo, abdicando
de alguns desejos individualistas que são potencialmente causadores de
instabilidades na ordem à qual a comunidade está adaptada. Desta forma, os cidadãos
devem ter comprometimento com a vida, o bem-estar de cada um, buscar sempre o
caminho da negociação para solucionar e gerir os eventuais conflitos que possam
surgir.
Nesse sentido, mudanças no estilo de vida ou modalidade de consumo são
essenciais para que possamos caminhar em direção a um futuro sustentável. É
fundamental repensar as principais questões urbanas: poluição do ar, saúde pública,
transporte sustentável, resíduos sólidos, consumo consciente, políticas públicas,
ecoturismo, esgotamento sanitário, doenças de veiculação hídrica, uso e ocupação
do solo, impermeabilização do solo, quantidade e distribuição de áreas verdes...
Lixo é matéria-prima proveniente principalmente de recursos não-renováveis, e
pode causar impactos negativos ao meio ambiente. A produção provoca custos
financeiros e energéticos. O homem joga o lixo longe do alcance dos olhos, mas não
fora do ambiente. Todo material disposto, mesmo que distante das aglomerações
urbanas, retorna, de alguma forma, ao dia-a-dia das pessoas. Ou através da poluição
do ar, do solo, ou do lençol freático, ou por meio de vetores, como ratos, baratas,
insetos, ou mesmo diretamente, via enchentes, por exemplo. Então, dispor os
resíduos não é solução para o problema, apenas adiamento (com provável
agravamento) da questão. Desta forma, a mentalidade de afastar o lixo o máximo
possível da vista deve ser substituída pelo pensamento de reduzir ao máximo a
criação de resíduos, reaproveitando o que for possível e realizar tratamento de forma
a tornar estes resíduos as mais biodegradáveis possível.
A Agenda 21 propõe reduzir a geração de resíduos, reciclar, realizar o manejo
sustentável dos recursos naturais e reduzir o desperdício. Reciclagem e coleta seletiva
do lixo são opções de redução deste problema, e ainda permitem geração de renda
com inclusão social, pois os mais beneficiados são os que têm baixa renda. É viável,
assim, gerar renda à população carente sem poluir ou danificar o meio ambiente, e
melhor, reduzindo os níveis de poluição.
Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba mostram como é possível implementar
políticas públicas contemplando o meio ambiente. Nestas capitais, foram implantados
projetos de coleta seletiva de lixo, programas de educação ambiental, sistemas de
zoneamento que respeitam e recolocam convenientemente as áreas verdes,
transporte público eficiente e menos poluente, sempre pensando na qualidade de vida
da população. Isso também serve de estímulo às empresas instaladas nestas cidades
e arredores, que desenvolvem, por sua vez, formas de reaproveitamento dos resíduos
e redução do desperdício. A FIAT, em Minas Gerais, é a única empresa do Brasil que
recicla isopor, um dos grandes vilões do meio ambiente, por ser de difícil absorção
pelo ambiente, e por se tratar de um processo dispendioso, que demanda enormes
quantidades de material para ser viável economicamente.
Então, é possível perceber que, para viabilizar o crescimento ecologicamente
sustentado nas grandes cidades, é necessária a sensibilidade política dos
governantes. Estes devem providenciar a capacitação de agentes governamentais e
voluntários, que terão a função de multiplicar a informação e as ações ambientais, a
fim de conquistar o engajamento da população, peça fundamental na transformação
da cultura sócio-ambiental. Os governantes também devem procurar estabelecer
parcerias com setores da sociedade civil, com co-responsabilização na condução
das iniciativas.
Podemos concluir, então, que existem várias alternativas para a gestão de
resíduos sólidos, entre elas: coleta seletiva de lixo, formação de cooperativas de
reciclagem, participação de indústrias, escolas e ONGs, troca de material reciclável
por mudas de árvores, incentivando a arborização urbana, aumentar a vida útil dos
aterros sanitários, estabelecer incentivos fiscais para as construtoras que
desenvolverem tecnologia de reciclagem de entulho, produzir e comercializar adubo
orgânico a partir da poda de árvores e resíduos de restaurantes e lanchonetes.
Os principais resultados são visíveis em pouco tempo: catadores saem do lixão,
aumenta a possibilidade de recuperação ambiental da área do depósito de lixo, reduz-
se a produção de resíduos sólidos e consequentemente o risco de contaminação
ambiental, e é possível até gerar renda através deste tipo de iniciativa.
Outro caminho que deve ser contemplado pelos governos é criar incentivos
econômicos à preservação e recuperação de áreas degradadas, como descontos no
IPTU para áreas florestadas, reflorestadas e agriculturáveis, com o objetivo de
potencializar a preservação e indução de atividades compatíveis com os mananciais.
Como também é imprescindível a conscientização da comunidade sobre a importância
da preservação dessas áreas, para que o trabalho não seja em vão.
Um caminho importante para atingir estes objetivos é o fortalecimento
institucional das Secretarias do Meio Ambiente e suas estruturas, criação de
conselhos municipais do meio ambiente, capacitação e cadastramento de agentes
voluntários de proteção ambiental, assim como definição de políticas e uso dos
recursos com participação comunitária. Deve ocorrer, também, um permanente
exercício de observação dos problemas, construção de propostas de intervenção,
avaliação de erros e acertos, retorno de resultados e alimentação de novas leituras
para constituição de outras ações, com participação dos diversos agentes envolvidos.
Algumas posturas são fundamentais para o poder público:
1- compartilhar o poder de decisão, respeitando a realidade local instituída
e reconstruída a partir de referenciais socioambientais;
2- aprender a planejar a partir de referenciais fornecidos pela sociedade,
podendo contar com sua participação na construção e realização do sonho.
O projeto “Observando o Tietê” é um programa de educação ambiental que,
através do monitoramento da qualidade da água, demonstra a importância de se
preservar o rio, e as consequências de sua poluição. Este programa é desenvolvido
em cerca de 50 municípios ribeirinhos, envolvendo a população na discussão da
recuperação e preservação da bacia hidrográfica do Tietê, rio que atravessa boa parte
do estado de São Paulo e que se encontra extremamente poluído, principalmente na
Região Metropolitana. Formam-se grupos de ação ambiental, escolas, entidades
ecológicas, grupos de escoteiros, igrejas etc., e a Fundação SOS Mata Atlântica é
responsável por oferecer os recursos técnicos e metodológicos para a coleta e análise
da água. A população determina as prioridades ambientais de cada região, através de
caracterização por percepção, após discussões e análises em que tomam parte todos
os envolvidos.
Além da poluição dos corpos d’água, outro grave problema enfrentado pelas
populações urbanas é a poluição do ar. Quase 80% dos brasileiros vivem atualmente
em cidades, e nessas aglomerações urbanas existe um excesso de individualismo, e
uma consequente falta de consciência de cidadania. Cada um se importa apenas com
o seu próprio conforto, sem a menor preocupação com seus concidadãos. Assim, cada
indivíduo considera ter um veículo automotor para se locomover condição básica para
a vida na cidade, uma vez que o transporte público é insatisfatório, além de um carro
ser muito mais confortável, e não fica na dependência de itinerários. Isso até pode ser
considerado verdade, até o ponto em que a excessiva quantidade de veículos passa
a atrapalhar o trânsito mais do que permite a locomoção mais rápida. Chegamos então
a uma situação em que, apesar de os veículos terem um potencial para desenvolver
velocidades altas, levando-nos a nossos destinos cada vez mais rapidamente, não
conseguimos passar dos vinte quilômetros por hora devido ao trânsito engarrafado.
Se todos tivessem consciência de que, utilizando o transporte coletivo, todos seriam
beneficiados, pois tanto os automóveis como os ônibus poderiam se locomover com
maiores velocidades, e seriam reduzidos os congestionamentos.
A Operação Rodízio, implantada pela SEMA12 desde 1995, foi muito importante
porque levantou o debate sobre trânsito, poluição e cidadania na cidade de São Paulo.
Praticamente toda a sociedade paulistana participou de discussões sobre o tema, que
levantou realmente a importância da cidadania, mostrando à população da cidade de
São Paulo a importância de preservar o ar que é respirado
diariamente por todos os habitantes da metrópole. E um dos caminhos foi a redução
da quantidade de veículos automotores em circulação nas ruas, através do rodízio de
placas. No início, era implantado apenas em momentos críticos, principalmente no
inverno, quando aumenta a probabilidade de inversão térmica e a qualidade do ar
piora significativamente. Depois, foi estendido a quase todo o ano, com exceção do
período de férias escolares, quando naturalmente diminui o número de carros em
circulação, pois muitos paulistanos estão viajando. A questão passou a não ser mais
exclusivamente poluição do ar, mas se estendeu ao trânsito, que tem a cada dia
inviabilizado mais e mais o deslocamento através da cidade.
Mas o maior problema do excesso de carros nas ruas não é o trânsito. A
poluição gerada por essa quantidade de veículos, é de cerca de 90% de toda a
poluição (basicamente gases poluentes e partículas) atmosférica, principalmente com
o trânsito congestionado, torna-se responsável pela péssima qualidade do ar que as
pessoas são obrigadas a respirar diariamente. Isso somado à grande concentração
de indústrias nas regiões mais urbanizadas (a Região Metropolitana da Grande São
Paulo tem aproximadamente 50 mil indústrias: 1250 são responsáveis por 90% da
poluição emitida pelo parque industrial, o que denota falta ou ineficiência de
fiscalização por parte do poder público) e às condições climáticas desfavoráveis à
dispersão de poluentes, também estas decorrentes da poluição crescente da
atmosfera, torna o ar das grandes cidades praticamente irrespirável, causando muitas
doenças respiratórias como bronquite, asma, enfisema, infecções pulmonares,
conjuntivite química, lacrimejamento e agravamento de sintomas cardíacos, além de
tumores e alterações a nível genético. Essa poluição também é causadora de um
fenômeno atmosférico conhecido como inversão térmica, além de contribuir para o
aquecimento global, conhecido como efeito estufa.
Enquanto o poder público der pouca prioridade para transporte coletivo,
continuar mantendo poucas áreas verdes, além de permitir o adensamento da
urbanização, dificilmente haverá perspectiva de melhoria na qualidade do ar nas
grandes cidades. Por outro lado, devido à evolução da legislação ambiental, cada dia
mais restritiva, as indústrias têm reduzido as emissões de gases poluentes, e isso tem
contribuído para uma desaceleração dos níveis de poluição atmosférica nas grandes
cidades.
Conflitos ambientais

A questão ambiental é conflitiva por si só, uma vez que lida com interesses
geralmente inconciliáveis, por se tratar de recursos imprescindíveis à vida e ao
desenvolvimento econômico. Os recursos naturais podem ter várias utilidades, de
acordo com a necessidade daqueles que os utilizam. Os maiores problemas ocorrem
quando existem vários interessados em fazer uso do mesmo recurso, mas com formas
diferentes. Existe uma séria dificuldade em determinar regras claras e que atendam
às reivindicações de todos os envolvidos no conflito.
Tomemos um rio como exemplo. Uma população pode utilizá-lo como fonte de
abastecimento de água para as residências. Uma indústria pode necessitar dessa
mesma água para refrigeração de caldeiras, o que demandaria grande volume, ou o
governo pode utilizá-lo para geração de energia, o que exigiria a construção de uma
represa, com consequentes desapropriações e alterações importantes no meio local.
Ou ainda, um clube poderia utilizar o rio para a prática de esportes. Um agricultor para
irrigar sua plantação. Um criador, para dessedentação de seu rebanho. Isso entre
outras inúmeras opções. Como decidir qual o uso mais apropriado para este rio?
Quem decide a respeito? Este tipo de questão está presente em quase todo tipo de
ambiente, a respeito de quase todo tipo de recurso natural. Conflitos ambientais,
então, são uma constante onde quer que haja um grupamento humano. Sua origem
histórica remonta aos movimentos sindicais, onde ocorrem as disputas entre capital e
trabalho, e entre sociedade e poder público.
Assim como nos conflitos de ordem sindical, para solucioná-los é necessário
que haja negociação, pois nem sempre é possível satisfazer a todas as partes. Toda
negociação de conflitos ambientais deve se iniciar com a análise de todos os
interesses envolvidos, e a informação a respeito deve ser repassada a todas as partes
(sociedade civil, indústria, poder público, entidades). A partir daí, será possível
encontrar eventuais pontos de interesse comum, pensar em alternativas para colocar
projetos em prática e analisar as diferenças buscando, se possível, um consenso em
torno das mesmas.
Alguns dos maiores custos ambientais estão embutidos nos modelos
agropecuários mais utilizados atualmente, como monoculturas, e mecanização
intensiva, que causam significativa perda da biodiversidade, erosão do solo,
degradação de bacias hidrográficas, assoreamento dos rios e esgotamento do solo,
que se torna infértil em pouco tempo, necessitando cada vez mais de fertilizantes
químicos para manter a produção, o que também contamina o solo e os lençóis
freáticos. Este tipo de cultura também tem um importante efeito socioeconômico: à
medida que a mão de obra se torna dispensável, ocorre o êxodo rural, que contribui
para a concentração da população nas áreas urbanas, reduzindo as perspectivas de
distribuição de renda, pois pessoas que tinham emprego na agricultura passam a ser
desempregados na cidade, e os grandes agropecuaristas cada vez concentram mais
riquezas.
No ambiente urbano, as principais questões são a relação entre infraestrutura
e integração regional. Primeiramente a demanda por energia, que gera uma disputa
sobre a produção, o uso e a conservação da energia disponível, conflito que envolve
vários setores da economia e da sociedade. Devido a essa disputa, é necessária a
intervenção governamental na definição dessas questões, por se tratar de recurso
essencial para todas as atividades urbanas, desde habitação até indústria de ponta.
As prefeituras devem pensar na possibilidade de redirecionamento dos
transportes públicos, com o objetivo de reduzir o uso de transporte individual, pois,
como já foi apontado anteriormente, é uma questão crítica nas grandes cidades. O
grande conflito ocorre entre os proprietários de veículos e a população em geral, que
depende do transporte público. Os primeiros acreditam que têm a prerrogativa de se
locomover livremente, quando quiserem e na velocidade que quiserem, o que é uma
ilusão, a partir do momento em que o espaço ocupado pelos carros se aproxima do
espaço existente para o deslocamento. Se apenas uma parcela dos motoristas de
automóveis particulares percebesse as vantagens de se utilizar transporte coletivo,
uma vez que a probabilidade de congestionamentos diminuiria, diminuindo também o
tempo parado no trânsito, haveria uma grande chance de melhoria neste tipo de
transporte, pois a exigência dos formadores de opinião pressionaria as autoridades a
tomarem atitudes nesse sentido.
Outra questão muito conflitiva é a emissão de resíduos. A maioria das indústrias
gera uma quantidade significativa de resíduos, tanto sólidos, como por exemplo
embalagens, aparas e sobras de material, como líquidos, que são dispostos
geralmente junto com o esgoto, e gasosos, através da fumaça expelida pelas
chaminés. A redução da geração desses resíduos tem custo alto, pois significa
investimento em tecnologias e não gera retorno financeiro direto. Assim, fica difícil
convencer um industrial a reduzir suas emissões. Se uma indústria não trata seus
resíduos, a população a seu redor sofre com isso, pois ocorre mau cheiro, poluição do
solo, contaminação das águas e de eventuais hortas que estejam próximas. Além
disso, o ar também fica poluído, e aumenta a incidência de doenças. Este tipo de
conflito normalmente é mediado pelo poder público, através da legislação e da
fiscalização.
Os governos sempre devem propor políticas compensatórias para poder
negociar com os grandes empresários e com a população, a fim de obter acordos com
os quais todos os envolvidos concordem. Isenção ou descontos em taxas e impostos
é uma alternativa bastante comum para convencer ambos os lados a aceitar medidas
de controle da poluição. Por outro lado, em caso de desrespeito à legislação ou aos
termos acordados devem ser aplicadas medidas punitivas severas, para que não
ocorram reincidências. O princípio do poluidor-pagador é uma punição bastante
adotada atualmente, em que podem ser aplicadas pesadas multas pecuniárias aos
infratores, ou adoção de medidas mitigadoras a fim de recuperar áreas degradadas
ou criar áreas de preservação, por exemplo. As penalidades devem, na medida do
possível, ser proporcionais aos danos causados ao meio ambiente.
Mas a adoção de medidas contra os poluidores ou para preservação ecológica
são tarefas para toda a sociedade, não apenas para os governantes. A população
deve estar preparada para agir positivamente na preservação dos recursos naturais e
na denúncia de irregularidades.
A participação comunitária também é elemento chave na proteção de Unidades
de Conservação, que foram criadas quando as pressões sobre os ambientes naturais
se tornaram sem controle. Seu objetivo principal era afastar o humano, considerado o
“vilão” causador de todos os impactos ambientais negativos. Como os recursos
naturais são escassos, é necessário o apoio de toda a população na criação e no
gerenciamento das Unidades de Conservação.
Estas se tornaram “ilhas de vida”, pois são os locais onde acaba se
concentrando a biodiversidade remanescente da ampla destruição dos ambientes
naturais, causada por invasões, desmatamento, extração de produtos naturais,
atividades agrícolas, mineração, especulação imobiliária, caça, pesca e até lazer
descontrolado. Para que a população possa contribuir nesta preservação, é
fundamental trabalhar valores ambientais, como foi explicitado no capítulo sobre
educação ambiental. Faz-se necessária, então, uma mudança significativa de
comportamento e atitude social. As pessoas devem ter oportunidade de
experimentação direta com o meio, o que pode motivar interesse e integração com o
ambiente, e desenvolver a consciência ambiental.
Para efetivar o controle das Unidades de Conservação, primeiramente deve
ocorrer a identificação de problemas e busca de soluções, o que deve ser analisado
por todos os envolvidos, sem esquecer a valorização de culturas regionais e o respeito
à diversidade de ideias. É primordial deixar claras as finalidades da proteção da área,
e promover o engajamento dos moradores locais em todas as fases do projeto. É
importante ressaltar que compartilhar resultados leva à reflexão sobre o trabalho e à
recriação de conceitos e modelos. Com isso, vêm a conscientização, o conhecimento,
a mudança de comportamento, o desenvolvimento de competências, a capacidade de
avaliação e participação dos envolvidos.
Outro conflito, este de âmbito mundial, é a questão recursos naturais versus
tecnologia industrial. Em geral, temos um quadro em que os países do hemisfério sul,
basicamente aqueles em que há menor desenvolvimento econômico, detêm a maior
parte da biodiversidade do planeta. Por outro lado, os países do hemisfério norte
detêm a indústria farmacêutica, ou seja, a tecnologia para transformar a
biodiversidade em produtos utilizáveis pelas pessoas de todo o mundo. A grande
questão é quem tem os direitos sobre as matérias-primas e sobre os produtos, e qual
o valor financeiro. A indústria tem o poder de retirar espécimes endógenos sem pagar
por isso? Além do que, existe a indústria do tráfico, em que são retirados
clandestinamente espécies da floresta e encaminhados para os grandes laboratórios,
o que, além de desrespeitar a soberania local, ainda prejudica o meio ambiente,
contribuindo para a exploração de materiais escassos e para a invasão das poucas
áreas preservadas ainda existentes.
Um dos principais conflitos deste início de século XXI é a questão da água, a
qual será tratada mais detidamente no próximo capítulo. A distribuição de água no
planeta é muito desigual. Alguns países, como o Brasil, têm abundância deste recurso
natural, que pode ser utilizado com vários fins, como gerar energia elétrica através de
usinas hidroelétricas, abastecimento da população, resfriamento de caldeiras
industriais entre outros. Por outro lado, alguns países, como os do norte da África e
os do Oriente Médio, sofrem com a escassez deste recurso. Isso pode, em médio
prazo, gerar um conflito mundial pelo controle e uso da água. Hoje em dia, em muitos
lugares, já se pratica o reuso da água esgotada, que sofre um tratamento
para que possa ser utilizada em atividades menos nobres, como rega de jardins,
lavagem de ruas e prédios etc., mas isso talvez não seja suficiente para acabar com
o risco de uma crise no abastecimento mundial, principalmente considerando que não
se trata de um bem renovável, já que a água existente hoje no planeta é a mesma
desde sua formação, e quanto maior a quantidade de água poluída, menor a
quantidade de água potável.

Água

Foi reservado um capítulo especialmente para a água por se tratar do principal


tema ambiental, e por representar um exemplo da forma como um tema pode ser
abordado no processo de educação ambiental. Não existe vida na Terra onde não
existe água, por menor que seja a quantidade. Todos os seres vivos conhecidos se
adaptam à disponibilidade e às características da água existente em seu ambiente
natural, mas nenhum deles consegue sobreviver sem este, que é o principal
componente do corpo de todos os animais e vegetais que habitam o nosso mundo.
Inclusive, o tema da Campanha da Fraternidade promovida pela Confederação
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 2004 foi “Água, fonte de vida”,
demonstrando como a importância deste bem inestimável transcende o ambiente
científico.
Compreender o ciclo hidrológico é fundamental para que o ser humano possa
respeitar o meio ambiente e os ciclos biológicos. É preciso ficar claro que a água não
se reproduz, apenas muda de forma, de acordo com o momento do ciclo. Como dito
anteriormente, dependemos hoje da mesma quantidade de água de milênios atrás,
mas a disponibilidade se reduz no mesmo passo em que aumenta a poluição das
águas.
Os seres humanos e seus ancestrais, desde sua aparição na superfície do
planeta, tendem a se concentrar na periferia dos corpos d’água, assim como a grande
maioria dos mamíferos. É essencial para a sobrevivência que haja água à disposição,
o que levou os primitivos a viver sempre nas proximidades dos rios e lagos. Quando
desenvolveu tecnologia para se fixar a um terreno, deixando de ser caçador/coletor, o
homem procurou locais onde houvesse água em abundância, para poder se
abastecer, irrigar a terra e dessedentar os animais. Assim puderam surgir as primeiras
cidades, das quais se originaram as aglomerações urbanas. Na
mesopotâmia foi originado o gerenciamento das águas, que permitiu a chamada
revolução agrícola, com o surgimento de tecnologias de irrigação do solo e transporte
de água.
Assim, o ser humano desenvolveu tecnologias para levar a água onde era
preciso, pois ficava cada vez mais difícil ir até o local onde a água se encontrava,
devido à disputa por territórios mais próximos aos mananciais. Com essa tecnologia,
o homem pôde ocupar terras mais distantes dos rios, e desse modo aumentar a área
das cidades. Por volta do ano zero, durante o auge do Império Romano, foi construído
o aqueduto “Via Appia”, com 90 km de comprimento, que tinha capacidade para
abastecer cerca de um milhão de romanos. No Egito antigo, foram desenvolvidas
técnicas de tratamento de água semelhantes ao que hoje conhecemos como flotação
e coagulação, isso há mais de 4000 anos.
O resultado foi que aumentou muito a capacidade de reprodução e sustentação
das comunidades, e isso levou a um crescimento populacional nunca antes visto. E
então, com a concentração urbana, vieram os problemas sanitários. As aglomerações
geravam uma grande quantidade de resíduos, que eram dispostos nas proximidades
das cidades ou jogados in natura nos corpos d’água.
Isso veio a causar disseminação de doenças, poluição, contaminação do solo,
proliferação de pragas, entre outros muitos problemas. A escassez de água, causa do
excesso de pessoas nas cidades distantes dos corpos d’água, e a falta de
saneamento, vieram a causar uma série de doenças devastadoras, que reduziram
significativamente a população da Europa. Ironicamente, esta foi chamada de “idade
da água”, por ser um período em que foram muito utilizadas as navegações interiores,
para transporte de produtos comerciais.
Nos anos 1900 d. C., ocorreu a revolução industrial, com forte urbanização e
êxodo rural, adensando ainda mais as cidades já superpovoadas. Com a
superpopulação, ocorreu a globalização da poluição e o aumento da contaminação,
que atingia principalmente as camadas mais pobres da população, os trabalhadores
que viviam em condições subumanas, e se proliferavam em excesso, e por isso foram
chamados de proletários.
Quando o homem percebeu a gravidade daquela situação, começou a
preocupação com a educação sanitária, pois era a saúde humana que estava em jogo.
Encontrar soluções para a disposição dos resíduos era questão primordial, pois isso
evitaria uma série de riscos à saúde. Com isso, surgiu também a educação
ambiental, que está intrinsecamente ligada à questão anterior, e que passou a tratar
da saúde do planeta. Muitas das soluções encontradas para os problemas sanitários
foram também de grande utilidade para os problemas ambientais.
No final do século XX, ocorreram diversas conferências internacionais,
organizadas pelas Nações Unidas, que passaram a discutir o desenvolvimento
sustentável e como a preservação do meio ambiente é quesito básico para sua
viabilidade. A água sempre esteve no centro dessas discussões, por se tratar do bem
fundamental tanto para a manutenção da vida como para produção de energia em
vários países do mundo. Daí a evolução da gestão ambiental, forma de possibilitar o
desenvolvimento econômico com o uso racional dos recursos naturais, respeitando ao
máximo os limites do ambiente, garantindo a perenização destes recursos e evitando
uma crise de abastecimento.
Nas décadas de 1950 a 1970, o desenvolvimento econômico era adversário do
meio ambiente, a mentalidade dos empresários e governantes era urbanizar todo o
terreno possível, ou plantar em qualquer área de solo fértil, sendo que as florestas só
teriam utilidade no fornecimento de madeira. De 1970 a 1990, iniciou-se o controle da
poluição, pois foi possível perceber os danos causados pela contaminação do ar, dos
corpos d’água e do solo. Em São Paulo, surgem a CETESB e a SABESP, com o
intuito de controlar a emissão de poluentes e oferecer saneamento básico à
população. Dos anos 1990 em diante, começou a preocupação real com o
desenvolvimento sustentável, e a legislação ambiental pôde avançar no sentido de
respeitar o ambiente e punir aqueles que causassem danos ao patrimônio natural do
país. Compreendeu-se, finalmente, a importância dessa preservação.
Alguns resultados da evolução do saneamento no Brasil foram a política
nacional dos recursos hídricos, o fato de bacias hidrográficas serem consideradas
unidades de planejamento e ação, com a constituição dos Comitês de Bacia, a água
passou a ser considerada um valor econômico, o que possibilita a cobrança pelo seu
uso, definiu-se o princípio do usuário poluidor/pagador, a gestão passou a ser
descentralizada e participativa, sendo efetivamente controlada pelos diversos setores
da sociedade, além da implantação do sistema nacional de informações sobre a água.
Tudo isso contribui para que a água passe a ser respeitada como bem finito e cada
vez mais escasso, e possibilita a criação de ações para prolongar o período de
utilização deste recurso tão precioso.
Ecoturismo

O ecoturismo é uma excelente oportunidade de desenvolver projetos em


educação ambiental. Os turistas que procuram locais onde a natureza está
preservada, tendem a aceitar novas informações a respeito do meio ambiente e têm
um grande potencial multiplicador desse novo conhecimento. Uma das opções para a
utilização desse expediente é a visita a parques e unidades de conservação.
Os municípios que têm áreas como essas sob sua jurisdição devem ter clara a
responsabilidade sobre o tema, e dedicar atenção especial aos parques turísticos,
pois se trata de uma opção de lazer cada vez mais procurada, principalmente por
turistas estrangeiros, que geralmente consomem bastante dentro do país, deixando
quantias significativas de dinheiro, que pode, inclusive, ser reinvestido na própria área.
Em primeiro lugar, deve-se eliminar a incompatibilidade entre a legislação incidente
sobre a área e a realidade econômico-social, respeitando as características da
população local e seus costumes, tornando-os aliados na tarefa de manter o parque.
Assim, o manejo e a ocupação do parque devem passar por planos de gestão,
que envolvam a comunidade, o poder público, as ONGs que atuem na região e os
operadores de ecoturismo, para que todas as partes possam ser ouvidas e tomar
decisões conjuntas sobre como aproveitar melhor o parque sem degradá-lo. É
importante divulgar os atrativos do parque, para que haja interesse por parte dos
turistas, mantendo sempre material informativo e pessoal treinado para esclarecer
dúvidas dos turistas, além de orientar no sentido de preservação. É preciso também
avaliar se há necessidade de monitores acompanhando todos os grupos turísticos, e
se for considerado necessário, preparar quantidade suficiente de monitores para
atender à demanda. É importante, também, estabelecer parcerias com instituições
locais, que possam dar apoio e divulgar as atividades no parque, fomentando a
visitação entre os moradores do município. Estas instituições também podem
contribuir na organização de cursos de formação de monitores.
O município e as autoridades responsáveis pela administração do parque
devem dispor de um cadastro de operadores de ecoturismo e de ONGs que atuem na
área, para manter um controle sobre sua atuação, evitando que ocorram depredações
por parte de pessoas despreparadas que possam ter acesso ao parque.
As discussões entre os envolvidos devem determinar a metodologia de
trabalho, mapear os pontos atrativos, operacionalizar as trilhas e demais atrativos,
definir os parâmetros de utilização adequados a cada caso, estabelecer qual a
necessidade e como serão contratados os recursos humanos, solucionar o problema
da escassez de recursos financeiros, dura realidade do nosso país na atualidade, e
determinar qual será a política municipal de ecoturismo.
A seguir, algumas sugestões de temas a serem abordados nos cursos para
capacitação de monitores:
 Ecoturismo e Educação Ambiental.
 Ecossistemas da Mata Atlântica.
 Histórico da ocupação humana.
 Orientação e cartografia.
 Unidades de Conservação, programas de gestão.
 Técnicas de condução de grupos.
 Prática de interpretação de trilhas.
 Acidentes, pronto-socorro, animais peçonhentos.
 Prática de relação com operadoras.
Algumas orientações didáticas devem ser utilizadas nos cursos, para que os
efeitos sejam satisfatórios, como por exemplo, levantamento de conhecimento prévio
dos alunos, através de questionário e entrevista inicial com os participantes.
Participação, diálogo, interação entre os participantes. Dinâmicas de grupo (jogos,
dramatização, desenhos), estudo em campo, trabalhos individuais e coletivos.
Apresentação prévia do que riam fazer em cada módulo e avaliações diárias a cada
bloco de atividades. Ênfase na escolha dos profissionais da própria cidade e dos
profissionais especialistas de fora ou vinculados ao parque e às operadoras, para
tratarem da conceituação sobre ecoturismo e educação ambiental. A cada vivência
bloco, elaboração de produtos por parte dos alunos: reflexão, sínteses, roteiros para
implantação de trabalhos, elaboração e credenciamento. Elaboração e assinatura de
um Termo de Responsabilidade pelos monitores e operadoras credenciados junto ao
parque, com comprometimento com normas de condução de grupos.
A política estadual de ecoturismo deve contemplar o uso sustentável dos
recursos naturais, a manutenção da diversidade biológica e cultural, a integração do
turismo no planejamento, o suporte às economias locais, o envolvimento das
comunidades locais, a consulta ao público e aos atores envolvidos, a capacitação de
mão-de-obra, o marketing turístico responsável, a redução de consumo supérfluo e
desperdício e o desenvolvimento de pesquisas. Isso já ocorre no estado de São Paulo,
e deve ser pensado nos outros estados da Federação, para que haja uma
possibilidade de implantação de uma política nacional de ecoturismo, que seja
efetivamente seguida em todo o país.

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