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Introdução
Princípios básicos da Educação Ambiental
Objetivos fundamentais da Educação Ambiental
Características da Educação Ambiental
O meio ambiente no Ensino Fundamental
Conteúdos de meio ambiente para o primeiro e segundo ciclo
Educação ambiental no ensino fundamental
Meio Ambiente e Sustentabilidade
Sustentabilidade
Pensamento sistêmico
Educação ecológica
Meio ambiente e sociedade
Conflitos ambientais
Água
Ecoturismo
Referências
Introdução
Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 4º, são os princípios básicos da Educação
Ambiental:
I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a
interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque
da sustentabilidade;
III – o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da
inter, multi e transdisciplinaridade;
IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as praticas sociais;
V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI – a permanente avaliação critica do processo educativo;
VIII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,
nacionais e globais.
O termo meio ambiente tem sido utilizado para indicar um espaço em que um
ser vive e se desenvolve, e sua interação com o mesmo. A principal função de se
trabalhar com o meio ambiente em sala de aula é contribuir para a formação de
cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental
de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da
sociedade, local e global (BRASIL, 1997, p.25).
Para se trabalhar o tema meio ambiente é necessária a aquisição de
conhecimento e informação por parte da escola para que se possa desenvolver um
trabalho adequado junto dos alunos. Isso não quer dizer que os professores deverão
saber tudo para que possam desenvolver um trabalho junto dos alunos, mas sim que
deverá se dispor a aprender sobre o assunto, constantemente (BRASIL, 1997, p.35 e
36).
Os conteúdos de meio ambiente deverão ser integrados ao currículo através
da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de
modo a impregnar toda a prática educativa, e ao mesmo tempo, criar uma visão global
e abrangente da questão ambiental (BRASIL, 1997, p. 36).
A lei Federal n 9.795, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental,
estabelece que todos tenhamos direito a educação ambiental, e esta é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente
em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
nãoformal (MARCATTO, 2002).
Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 9º, entende-se por Educação Ambiental
na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de
ensino públicas e privadas englobando:
I – educação básica:
a) educação infantil;
b) educação fundamental e
c) ensino médio;
II – educação superior;
III – educação especial;
IV – educação profissional;
V – educação de jovens e adultos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Ambiental é um tema polêmico, com um leque muito grande de
conceitos e caracterizações, porém, deve ser efetivamente tratada com a relevância
e urgência que ela necessita.
O problema socioambiental ainda é encarado como um problema de
comportamentos individuais e acreditam na sua solução através da mudança de
comportamento dos indivíduos em sua relação com o ambiente.
O foco principal é a reciclagem do lixo, possuem as lixeiras específicas e fazem
a correta separação.
É fundamental que os professores compreendam a importância de renovar das
relações interdisciplinares dos vários campos do saber, o que requer o compromisso
de refletir sempre sobre concepções particulares, atitudes e práticas pedagógicas em
sala de aula.
Portanto, ressalta-se que deve existir a preocupação em estabelecer, no
contexto educativo, a compreensão do respeito à sociedade com enfoque na
perspectiva de transformação social e na formação de alunos críticos, humanizados e
emancipados.
Ressalta-se que é um tema amplo, portanto, fica sugestão de continuidade ou
desenvolvimento de novos estudos sobre o tema.
A Educação Ambiental é hoje o instrumento mais eficaz para se conseguir criar
e aplicar formas sustentáveis de interação entre o homem e a natureza. É o caminho
para que cada indivíduo assuma suas responsabilidades em busca de uma melhor
qualidade de vida e redução dos impactos ambientais.
Com base na literatura consultada conclui-se que a disciplina de ciências, por
se tratar de uma potencial ponte entre as demais disciplinas, consiste em um ambiente
ideal para a inserção da educação ambiental, permitindo, por meio dessa interação a
extensão da educação ambiental para as demais disciplinas interrelacionadas.
Sustentabilidade
Tornou-se lugar comum afirmar que o grande desafio para o século XXI é
construir e manter sociedades sustentáveis, o que só será possível com um meio
ambiente também sustentável. Atualmente, a maioria dos governantes faz questão de
sempre falar que sem desenvolvimento sustentável o mundo se tornará inviável, assim
como os grandes industriais declaram que estão buscando a sustentabilidade em suas
empresas, pois sem isso não existe possibilidade de garantir um futuro para a
produção e o comércio mundiais.
Mas afinal, o que é “sustentabilidade”? Antes de tudo, temos de pensar no que
significa “sustentar”, ou seja, manter, amparar, nutrir, perpetuar. Sustentabilidade,
então, seria a capacidade de impedir a queda ou degradação da sociedade ou do
meio ambiente. Desenvolvimento sustentável, por sua vez, é a capacidade de uma
sociedade se desenvolver econômica e tecnologicamente, sem, no entanto,
comprometer a qualidade de vida das gerações futuras e a capacidade do meio
ambiente de se regenerar ou, pelo menos, de evitar uma degradação crítica,
irreversível.
A Comissão Mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento definiu o
desenvolvimento sustentável em termos de presente e futuro, desta maneira: “o
desenvolvimento sustentável é o que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer as suas”.
Existem outras definições usadas com frequência: relação entre
desenvolvimento social e oportunidade econômica por um lado e exigências do meio
ambiente por outro. Melhoramento das condições de vida para todos, especialmente
pobres e carentes, dentro dos limites da capacidade de sustento dos ecossistemas.
Equilíbrio dinâmico entre muitos fatores, incluídas as exigências sociais, culturais e
econômicas da humanidade e a necessidade imperiosa de proteger o meio ambiente
do qual a humanidade faz parte.
A visão de um mundo mais equitativo é inerente ao conceito de
desenvolvimento sustentável, considerando que a capacidade de satisfação das
necessidades não deve ser privilégio de alguns, e sim direito de todos, condição
necessária para que a humanidade sobreviva enquanto sociedade. Sem um mínimo
de justiça social, a sociedade tende a entrar em crise, pois não se sustenta num
cenário de extrema desigualdade, onde seja impossível um convívio social
equilibrado.
O Relatório Brundtland, encomendado pela ONU, afirma que “A humanidade
tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja, de atender às
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de
atender às próprias necessidades”. Mas é importante observar que nem sempre
potencial se traduz em resultado. Se a humanidade tem essa capacidade, deve desde
já compreender que tem de começar imediatamente a tomar providências para evitar
um colapso socioambiental, pois no atual ritmo de devastação dos recursos naturais,
muito em breve não será mais possível uma recuperação, o que resultará num planeta
sem condições de manter os requisitos vitais básicos para os seres humanos.
Também temos de levar em consideração que as definições de
sustentabilidade se limitam, por enquanto, a exortações morais, não existindo ainda
definições objetivas aceitas mundialmente, pois cada povo, cada cultura, tem sua ideia
sobre o que seja sustentabilidade, e sua própria lista de prioridades quanto ao
desenvolvimento econômico e à proteção ou recuperação ambiental. Quando
pensamos em sustentabilidade, logo nos vem à mente uma questão próxima de nós,
um problema com o qual convivemos, e que temos nosso próprio jeito de resolver. É
difícil pensar na sustentabilidade de um país distante, sobre o qual não temos
informações detalhadas, do qual não conhecemos as questões críticas.
Desse modo, como realizar a sustentabilidade? Em primeiro lugar, respeitando
as características locais, pensando globalmente, mas agindo localmente. Não é
plausível solucionar problemas que não conhecemos, que estão distantes de nós.
Assim, devemos resolver as questões locais, e a partir daí, ampliar a atuação. Para
que seja possível um desenvolvimento sustentável, antes de qualquer coisa devemos
considerar as diferenças regionais, pois só são possíveis soluções a partir de
problemas reais, que levem em conta as características do local, da cultura, do meio
ambiente.
Considerando todos esses aspectos, é importante compreender que as
comunidades sustentáveis devem ser moldadas a partir dos ecossistemas naturais,
pois é deles que extraímos toda a matéria-prima necessária para o desenvolvimento
tecnológico e para a produção dos bens necessários ao nosso sustento. Assim, a base
para o planejamento de uma economia sustentável deve partir do ecossistema natural
local, que, uma vez respeitado, permitirá que a produção se perenize, evitando o
colapso resultante do desrespeito às necessidades da natureza, como esgotamento
dos recursos naturais e doenças causadas pela poluição, por exemplo.
Pensamento sistêmico
Até aqui, vimos dois conceitos fundamentais para que o homem possa
continuar a usufruir do planeta durante um período de tempo razoável:
sustentabilidade e pensamento sistêmico. Mas nada disso pode ser alcançado
sem a pedra fundamental, que é a educação. Não é possível atingir o objetivo de uma
sociedade econômica e ecologicamente sustentável sem um nível avançado de
consciência ambiental difundido por toda a população. Se a quantidade de pessoas
esclarecidas permanecer por muito tempo diminuta como é hoje, e a maioria
esmagadora da sociedade continuar na total ignorância a respeito das questões
ambientais mais básicas, não teremos a menor perspectiva de reduzir os impactos
ambientais negativos, quanto mais de avançar na mitigação dos danos já causados
ao ambiente.
O principal meio para atingirmos essa difusão da consciência ambiental é a
educação, que deve se dar em todos os níveis, a fim de alcançar todas as
estratificações sociais e etárias, em todas as partes do planeta, de modo que sejam
viabilizadas ações de espectro amplo, com ampla participação, sem o que dificilmente
serão auferidos resultados satisfatórios no processo de recuperação e preservação
do ambiente.
A educação ambiental, no entanto, não deve se limitar apenas ao período
escolar formal tradicional, e sim ser estendida por toda a vida, pois todos nós, mesmo
após concluirmos o ensino formal, devemos acompanhar as mudanças ambientais e
nos preparar para suas consequências. Assim, o processo educacional
deve ser contínuo, iniciando-se em casa, desde a mais tenra idade, e prosseguindo
durante todas as fases da vida, tanto na escola como na comunidade, já que as
questões ecológicas mudam de acordo com a época e os tipos de problemas e
relações do ser humano com o meio ambiente, e a educação deve,
consequentemente, acompanhar pari passu todas essas alterações. Assim, é tarefa
de toda a sociedade contribuir para o desenvolvimento educacional de seus membros.
Os pais, em casa, devem preparar o filho para os conceitos básicos relativos ao meio
ambiente, mostrando como respeitar a natureza, evitando poluir o ambiente e
desperdiçar recursos importantes, como alimentos e água.
A educação fundamental é o alicerce de toda a educação e do aprendizado
futuro. A meta da educação formal deve ser suscitar crianças contentes consigo
mesmas e com as demais, que se entusiasmem com o ensino e que desenvolvam
mentes inquisitivas, que comecem a acumular um acervo de conhecimentos sobre o
mundo e adotem um enfoque para buscar um conhecimento que possam usar e
desenvolver ao longo da vida. Concomitantemente, durante o processo educacional,
a criança deve aprender a fazer, a saber, a ser e a viver juntamente com os outros,
pois no futuro viverá em sociedade, interagindo com outras pessoas, de diferentes
opiniões e formações, e terá de compartilhar suas experiências e conhecimentos,
assim como também aprenderá com aqueles com quem mantiver contato.
Uma das provas mais exigentes da educação para o desenvolvimento é ajudar
as pessoas a compreenderem e adaptarem-se às mudanças que ocorrem em uma
velocidade ainda antinatural para todas as culturas. No século XX, os avanços
tecnológicos e suas consequências ambientais foram superiores aos de toda a história
da humanidade, o que gerou uma crise sem precedentes, e nenhuma cultura estava
preparada para isso, já que sempre houve a crença de que a natureza por si só
resolveria todos os problemas, considerando que sempre ocorreu desta forma.
Só muito recentemente, após
muitos alertas de entidades
ambientalistas, os governos
perceberam a gravidade da situação,
e passaram a pensar a respeito, mas
a convicção necessária para tomar
atitudes efetivas quanto à questão
ambiental ainda se encontra muito aquém do necessário, inclusive no que tange à
educação, pois, mesmo onde existe um projeto formal de inserção da educação
ambiental no currículo escolar, a prática ainda não apresentou resultados
convincentes, o que, em se tratando de tema tão significativo, é preocupante, devido
às prováveis consequências futuras.
Segundo a ONU, em todo o mundo, mais de cem milhões de crianças entre
seis e onze anos de idade nunca foram à escola, e dezenas de milhões retiram-se
poucos meses ou poucos anos após ingressarem no ensino formal. Existem
atualmente cerca de oitenta e oito milhões de adultos analfabetos, a maioria dos quais
nunca frequentou uma escola.
O acesso à educação é condição sine qua non para uma participação eficaz
em todos os níveis da vida do mundo moderno. Neste sentido, é necessário
proporcionar meios de progressão aos menos favorecidos, através da educação, para
que estes possam acompanhar o restante da sociedade em sua evolução,
contribuindo também no processo. Caso contrário, haverá uma multidão de excluídos
que, por não compreenderem a importância do meio ambiente para a vida no planeta,
não contribuirão para sua preservação, além de, por falta de informação, tornarem-se
agentes da degradação ambiental que, por sua quantidade, têm um potencial
destrutivo avassalador. Observe-se a quantidade de favelas que ocupam áreas de
preservação, que devastam as florestas, poluem o ambiente, contribuem para o
desmoronamento dos morros e contaminação dos rios e do solo, geram enorme perda
de energia elétrica ao furtar da rede, entre inúmeros outros fatores.
Para que o processo de educação ambiental tenha realmente sucesso, é
essencial que haja uma inter-relação entre quase todas as disciplinas do currículo,
pois a consciência ambiental não pode ficar restrita a uma disciplina específica, já que
o tema permeia todas as áreas do conhecimento, e é responsabilidade de todo o
sistema educacional trabalhar para que ocorra uma progressão na conscientização da
população quanto à temática ecológica. Então, a coordenação pedagógica e os
professores devem estar sempre em contato uns com os outros, a fim de trabalharem
conjuntamente os temas ligados à ecologia, de forma que os alunos percebam a
relação entre as matérias e, fundamentalmente, a importância desta interligação,
tomando consciência de um mundo integrado, passando a pensar sistemicamente, e
não mais de forma fragmentada.
Isso é o que chamamos de “interdisciplinaridade”, termo tão em voga no meio
acadêmico atualmente, que tem como objetivo um currículo integrado que valorize o
conhecimento contextual, permitindo que sejam elaborados projetos em conjunto por
professores de várias disciplinas, mostrando a relação entre as diferentes áreas e
como o meio ambiente está integrado em tudo o que diz respeito ao conhecimento e
à vida na Terra. Um dos objetivos primordiais dos currículos deve ser o
desenvolvimento da cidadania, destacando virtudes morais, motivação e ética, além
de capacidade para trabalhar com outros, respeitando as diferenças de cultura e
pensamento. Estudos de caráter biofísico e geofísico também são pré-requisitos
necessários, mas insuficientes, para compreender o desenvolvimento social. É
importantíssimo também focar as ciências humanas e sociais para o desenvolvimento
sustentável, solucionando problemas locais na relação homem/meio ambiente. Sem
este tipo de enfoque, dificilmente será possível obter resultados eficientes em termos
de educação para um futuro sustentável. A educação é essencial para que as pessoas
possam usar seus valores éticos a serviço de opções conscientes e éticas. A
interdisciplinaridade depende em primeiro lugar da atitude dos educadores e
pesquisadores, dos quais depende a eficiência do processo de integração entre as
disciplinas e inserção dos temas ambientais nos currículos, de forma integrada e
organizada.
A luta por uma educação ambiental que considere comunidade, política e
transformação, preservação dos meios naturais, que incorpore aspirações dos grupos,
que consubstancie lutas efetivas em direção à diversidade, em todos os níveis e todos
os tipos de vida no planeta, considerando os universos social, cultural e natural é,
indiscutivelmente, a luta por uma nova educação. Não podemos, portanto, nos ater ao
estilo de ensino tradicional, em que o professor, onipotente, “permite” que os alunos
bebam de sua sabedoria passivamente. A participação dos alunos é fator significativo
no desenvolvimento das aulas, por exemplo, e devemos repensar a educação,
concebendo formas de aumentar o interesse dos alunos e a eficiência da transmissão
dos conceitos.
A Conferência Mundial sobre Educação para todos optou por definir a educação
em termos de resultados educativos, e não em termos de níveis de instrução, uma
vez que os critérios para determinar níveis de instrução podem variar de país para
país, além de poderem ser manipulados por governos interessados apenas em
autopromoção, sem uma real preocupação com o desenvolvimento educacional de
sua população. Já os resultados educativos podem ser aferidos
segundo critérios definidos pelo conjunto das nações representadas na ONU, o que
permite uma melhor avaliação dos progressos e uniformização das análises.
Para os adultos, a educação ambiental focada na sustentabilidade é a chave
para estabelecer e reforçar o regime democrático, para um desenvolvimento ao
mesmo tempo sustentável e humano, e para uma paz fundada no respeito mútuo e
na justiça social.
“Ensinar esse saber ecológico, que também corresponde à sabedoria dos
antigos, será o papel mais importante da educação no século XXI. A alfabetização
ecológica deve se tornar um requisito essencial para políticos, empresários e
profissionais de todos os ramos, e deveria ser uma preocupação central da educação
em todos os níveis do ensino fundamental e médio até as universidades e os cursos
de educação continuada e treinamento de profissionais.”
A educação é, em síntese, a melhor esperança e o meio mais eficaz que a
humanidade tem para alcançar o desenvolvimento sustentável. Dessa forma,
devemos pensar uma pedagogia centrada na compreensão da vida, experiência de
aprendizagem no mundo real que supere a alienação da natureza e reacenda o senso
de participação, elaborando um currículo que ensine os princípios básicos de ecologia,
além de fomentar o desejo de aprender sempre mais, com o intuito de auxiliar na
preservação do planeta para que seja aproveitado pelas gerações vindouras. Esta
pedagogia deve privilegiar o ecocentrismo e percepção sistêmica da vida.
Existe um consenso entre os mais importantes teóricos da educação, entre eles
Jean Piaget, Maria Montessori e Rudolf Steiner, quanto ao desenvolvimento das
funções cognitivas na criança em processo de crescimento, tanto físico quanto mental.
Parte desse consenso é o reconhecimento de que um ambiente de aprendizagem rico,
multissensorial é essencial para o pleno desenvolvimento cognitivo e emocional da
criança.
Quanto à educação ambiental propriamente dita, voltada para o pensamento
sistêmico, deve haver uma tentativa de incentivar a busca de significados, procurar
dar sentido às experiências. Busca de significados é busca de padrões, e essa é a
base do pensamento sistêmico, é o que permite a compreensão do todo e a avaliação
dos progressos obtidos ou dos objetivos não alcançados. É fundamental procurar
relacionar fenômenos físicos e seus desdobramentos, relações de causa e efeito,
realizar experiências que exemplifiquem essas relações. E também deve ser
destacada a necessidade de novos saberes para apreender processos sociais que se
complexificam conforme o crescimento das populações e riscos ambientais que se
intensificam de acordo com o desenvolvimento econômico.
A educação ambiental deve, desta forma, passar a ter um caráter formativo, em
substituição ao tradicional, informativo, que prioriza o acúmulo de informações, sem
perceber que a compreensão do todo é que leva ao desenvolvimento e à apreensão
do conhecimento, que depende de todo um processo de acúmulo de experiências, de
implicações de causa e efeito, além da interiorização de valores ligados à
preocupação com o futuro da humanidade e do meio ambiente. Hoje, a
interdisciplinaridade peca pela precariedade e pelo simplismo
Um conceito essencial a ser trabalhado com os alunos é a cooperação, que virá
concomitante ao desenvolvimento do pensamento sistêmico, pois a criança perceberá
que a cooperação resulta em maior facilidade e eficiência na busca de objetivos
comuns. Assim, será natural chegar a conceitos como ética, moral e valores,
compreendendo a importância da formação do comportamento através de valores
ambientalmente e socialmente corretos. Os alunos devem aprender a ter preocupação
com questões graves, que representem obstáculos para a construção plena da
cidadania, ferindo a dignidade das pessoas e diminuindo, assim, seu nível de
qualidade de vida, como o uso indiscriminado dos recursos naturais, a competição
extremada visando apenas o lucro pessoal, entre outras.
Nas sociedades democráticas, as atividades encaminhadas para o
desenvolvimento sustentável dependem, em última instância, do surgimento do
interesse público, da compreensão e do apoio da população. Isso é decorrência da
educação, o que significa que é necessária a criação de um círculo virtuoso, em que
a educação promova essa conscientização, que servirá de estímulo para a
continuidade do processo educacional, com o envolvimento da população e a
consequente difusão da temática da sustentabilidade.
Talvez o maior problema encontrado pelas pessoas que promovem o
desenvolvimento sustentável consista em convencer não apenas os que se opõem a
suas ideias, mas também aqueles que simplesmente “não querem saber”, que
representam fatia significativa da população mundial. Em geral, os ambientalistas são
considerados “ecochatos”, que estão mais preocupados com o mico- leãodourado e
com as samambaias que com a fome e a miséria. O grande desafio é demonstrar que
todos os temas estão interligados, e a sobrevivência da humanidade
e a possibilidade de uma justiça social dependem inteiramente da conservação da
biodiversidade e da preservação do meio ambiente.
Assim como a biodiversidade, o respeito à diversidade cultural e ideológica é
essencial para que possamos almejar um mundo economicamente sustentável,
porquanto só a diversidade de ideias e opiniões, assim como de referências, pode
permitir o surgimento de avanços na área do conhecimento. Neste sentido, é
fundamental a troca de experiências entre as diferentes correntes de pensamento,
provenientes de variadas culturas e lugares do mundo.
A consciência ambiental deve ser fundamentada tendo em vista os 5 “E’s”:
ecologia, economia, espiritualidade, ética e educação. É imprescindível compreender
que estes cinco aspectos estão intrinsecamente ligados, e um não pode se sustentar
sem os outros. Devemos pensar esses fatores sistemicamente, percebendo sua inter-
relação e as consequências de sua interação. O habitante de um mundo
eminentemente capitalista se preocupa, em primeiro lugar, com a economia, que
permitirá o avanço tecnológico que terá como efeito um maior conforto pessoal. Mas
esse conforto não será completo e sustentável se não for estendido à maioria da
população, pois num quadro de injustiça social os menos abastados tendem a se
revoltar e impedir que os privilegiados usufruam de seu conforto pessoal, através de
revoltas populares ou aumento nos índices de criminalidade, por exemplo. Para que
as riquezas produzidas pela economia sejam permanentes, ou pelo menos durem por
um longo tempo, é necessário que a ecologia seja respeitada, já que os recursos para
que a economia funcione vêm da natureza, e se estes se esgotarem, a economia
entrará em crise. O respeito à ecologia está ligado a uma ética ambiental, que norteará
os passos dos agentes no sentido de aproveitar ao máximo os recursos, causando o
menor impacto negativo possível. Para que essa ética possa ser difundida, aprimorada
e consolidada, o meio mais eficaz é a educação. E, por fim, a espiritualidade é um
fator que facilita uma introspecção, através da qual a consciência ambiental pode se
instalar no ser humano, permitindo uma maior compreensão desta relação entre os
vários enfoques que devemos dar ao ambiente em que vivemos.
Além das disciplinas teóricas do currículo escolar, as artes também são um
instrumento muito eficaz para desenvolver e refinar a capacidade natural de uma
criança de reconhecer e expressar padrões. Com elas podemos ensinar o
pensamento sistêmico, além de reforçar a dimensão emocional, cada vez mais
reconhecida como componente essencial do processo de aprendizagem. Ao propor à
criança a realização de uma obra artística, fomentamos uma série de estímulos, tanto
visuais como intelectuais, que em conjunto possibilitarão o planejamento de um
objeto, e a criança poderá perceber todas as dimensões que compõem o mesmo,
assim como os efeitos de seu resultado.
A execução de uma horta escolar também é um projeto perfeito para
experimentar o pensamento sistêmico e os princípios da ecologia em ação. Com ela,
podemos compreender os ciclos biológicos, visualizando como os nutrientes circulam
pelo ambiente, passando pelos estágios de plantio, cultivo, colheita, compostagem e
reciclagem, e a cada etapa apreender todos os fatores envolvidos, como qualidade e
quantidade de terra, adubo e água necessárias, como os limites de cada elemento, e
como qualquer um destes componentes pode significar risco à vida, se utilizado em
excesso.
O enfoque da educação ambiental deve privilegiar problemas locais, de acordo
com a máxima “pensar globalmente, agir localmente”, com o intuito de aproximar os
educandos de sua realidade, apresentando a eles uma forma de pensar e solucionar
seus problemas mais familiares. Nesse sentido, há uma maior possibilidade tanto de
interesse por parte dos alunos como de surgirem soluções apropriadas e exequíveis,
uma vez que existe uma chance real de o aluno executar uma ação e verificar suas
consequências, coisa improvável em caso de questões que envolvam países distantes
ou mesmo o mundo inteiro. Segundo o
“Levantamento Nacional de Projetos de Educação Ambiental” dos Ministérios
do Meio Ambiente e da Educação e Cultura, apresentado durante a I Conferência
Nacional de Educação Ambiental, realizada em Brasília, em setembro de 1997, os
temas mais abordados foram locais, enquanto questões metodológicas, avaliação de
projetos entre outros temas mais complexos e/ou elaborados foram pouco citados, o
que confirma o argumento acima.
Ao executar um projeto de educação ambiental, devemos sempre considerar
que há envolvimento de interesses, por parte do governo local, das empresas
envolvidas e mesmo da comunidade. Estes interesses se mostram comumente
conflitivos, principalmente quando se trata de utilização de recursos naturais ou de
intervenções que impactem no meio ambiente. Assim, antes da implantação de um
projeto nesse sentido, temos de pensar nas estratégias de aplicação das ações
educacionais, de forma que atendam à expectativa do público alvo, sem afrontar os
interesses das partes envolvidas. Mais à frente, falaremos sobre negociação de
conflitos, e essa questão ficará mais clara.
Outro ponto muito importante é a complexidade das mensagens. A forma de
um projeto educacional deve ser condizente com a realidade do público a que se
destina. Não é possível utilizar o mesmo discurso numa sala de aula de pré-primário
num bairro de classe média-alta e numa favela. As realidades são muito diferentes,
assim como as referências a que as crianças têm acesso. Do mesmo modo, não
podemos repetir em uma conferência de empresários a mensagem utilizada com uma
associação de bairro ou com um grupo de pescadores. Cada público tem suas
próprias referências, de acordo com seu ambiente e suas experiências, e é primordial
respeitar essas características. Esse respeito é básico para que o educador possa ter
sucesso no processo de comunicação, que é o início do desenvolvimento educacional.
Talvez fosse recomendável fazer uma consulta à população quanto à
possibilidade de uma reforma curricular no sentido de priorizar a educação ambiental,
repensando toda a estrutura curricular vigente, mas isso só teria efeito satisfatório num
cenário em que a população estivesse suficientemente informada a respeito. É ilusório
acreditar que em países com baixo nível educacional, como o Brasil, os cidadãos
tenham preparo e informação que possibilitem a tomada de decisões a respeito de
temas importantes e complexos como a questão da educação ambiental. Em países
com essas características, o poder público deve ter consciência e introduzir esta
temática nos parâmetros curriculares sem o preciosismo de procurar o referendo do
povo. Não se trata de impor autoritariamente um programa de ensino
homogeneizador, mas de priorizar questões mais amplas, que demonstrem a
importância do pensamento sistêmico, respeitando as peculiaridades de cada grupo
social.
No Brasil, devido à urgência social, o meio ambiente é sugerido como tema
transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ministério da Educação
e Cultura, mas trata-se apenas de proposta, os professores não estão obrigados a
aceitar, e os temas transversais ainda não são satisfatoriamente valorizados pelo
professorado, em parte por causa da falta de formação e informação, em parte pelo
comodismo de grande parte dos professores, que preferem continuar com suas aulas
tradicionais, que demandam menos trabalho para o preparo, dispendendo, assim,
menos tempo e esforço intelectual.
Por esses motivos, os governantes devem fomentar o aperfeiçoamento dos
professores, oferecendo cursos e bolsas de estudos para que estes estejam sempre
em desenvolvimento, tomando contato com as novidades de suas áreas e aprendendo
a inovar em suas aulas, além de conhecer novas pessoas e trocar experiências, o que
sempre contribui para o autodesenvolvimento e para o crescimento individual, e como
consequência, o professor volta para a sala de aula com um novo ânimo para repassar
aquilo que aprendeu no curso.
Algumas questões que devem ser pensadas pelos educadores ambientais e
por seus alunos, e que podem nortear o trabalho educacional no sentido de buscar a
participação coletiva: O que cada um entende por educação? O que entende por ser
humano? O que entende por cidadania? O que entende por meio ambiente? O que
entende por educação ambiental? O que entende por autoconhecimento? O que julga
importante para que o ser humano desenvolva a educação ambiental? O que cabe a
cada um fazer pela educação ambiental?
Atividades práticas devem ser desenvolvidas em paralelo ao ensino teórico,
para que haja uma potencialização do aprendizado, pois quando um aluno tem
experiências práticas, ocorre um outro nível de compreensão, e isso permite que
absorva com maior eficiência e rapidez o que acabou de conhecer.
Um bom sinal para a perspectiva de avanços na educação ambiental, e
consequente desenvolvimento da conscientização popular, é o fato de, recentemente,
muitos órgãos públicos virem desenvolvendo projetos de educação ambiental no
Brasil. Além do Estado, várias empresas e escolas estão criando setores e/ou
passando a apoiar projetos, surgiram inúmeras ONG’s ambientalistas, multiplicaram-
se as iniciativas particulares, alguns financiamentos começam a exigir como
contrapartida desenvolvimento de projetos com temática ambiental, e a
responsabilidade social e ambiental vem tomando espaço importante dentro das
organizações, que percebem que este tipo de atitude pode ser utilizada como
propaganda de suas empresas, como consequência do aumento de pessoas
preocupadas com este tipo de questão. Um outro aspecto é o crescimento do número
de consumidores conscientes, que selecionam os produtos e serviços que irão utilizar
de acordo com os selos de responsabilidade social e ambiental. Então, as
certificações passam a ter importância no sentido em que o consumidor passa a exigir
mudanças na atitude das empresas.
“Hoje não seria exagero falar-se em milhares de experiências de educação
ambiental em todo o país, atestando a riqueza e diversidade de ações voltadas à
proteção do meio ambiente, à melhoria da qualidade de vida, à preservação das
espécies e ecossistemas, e à participação dos indivíduos no planejamento e gestão
de seus espaços e de seu futuro. (...) Como reforçar estas experiências e a partir delas
influenciar na elaboração de políticas públicas?”
Além das ações governamentais, entidades privadas também têm se envolvido
crescentemente no sentido de incentivar projetos de educação ambiental. A Second
Nature, de Boston, por exemplo, é uma organização educacional que colabora com
muitas instituições de ensino para tornar a educação para a sustentabilidade parte
fundamental na vida universitária. No Brasil, este tipo de incentivo ainda é incipiente,
pois as organizações privadas não têm a estrutura necessária para implementar
grandes projetos. Entretanto, muitas organizações não governamentais têm se
prontificado a dar um suporte aos estudantes, além de realizar projetos em convênios
com as universidades.
Pensar o ambiente ecologicamente sustentável, atualmente, nos mostra que a
“verdade” científica é insuficiente, agora se trata de viver a “aventura do
conhecimento”, ou seja, procurar um ousar permanente, que não permita
acomodação, que esteja sempre instigando a ampliar e melhorar o conhecimento, já
que a natureza e o avanço tecnológico não param de mudar continuamente, e a
ciência ambiental deve acompanhar a evolução.
É muito importante, quando se estiver pensando a elaboração de um projeto,
que anteriormente à apresentação, seja efetuada uma pesquisa, que contenha
informação a respeito do projeto, fundamentação técnica, vise um desenvolvimento
permanente, preveja aprofundamento durante a execução, além de cruzar temas, o
que enriquece o projeto, ao mesmo tempo em que abre a possibilidade de integração
com outros projetos, já existentes ou que venham a ser formulados.
Existem atualmente diversas correntes do pensamento em educação
ambiental, sendo que as principais serão brevemente apresentadas a seguir,
ressalvando que não existe uma mais correta que outra, ou mais preocupada com o
meio ambiente que as demais. As diferenças de visão são o que anteriormente
destacamos como a diversidade de opinião que permite o avanço nas teorias, e que
só contribui para a sustentabilidade e o desenvolvimento do pensamento ecológico.
Uma das principais correntes é a chamada “conservacionista” que está
presente principalmente em países economicamente desenvolvidos, que prioriza a
divulgação de impactos ambientais causados pelo atual modelo de desenvolvimento,
demonstrando que a utilização excessiva e desenfreada de recursos naturais terá
como resultado o colapso dos ecossistemas, e consequentemente dos meios de
produção, o que levará à insustentabilidade da economia e à incapacidade da
sociedade de se perpetuar.
Outra corrente, designada “educação ao ar livre”, é formada principalmente
pelos naturalistas, escoteiros, grupos de espeleologia, montanhismo, caminhadas,
acampamento etc., e procuram incentivar o turismo ecológico, através do qual
acreditam que será possível conscientizar boa parte da população, principalmente os
chamados “formadores de opinião”, aqueles que têm condições financeiras de viajar
para países distantes, onde os ecossistemas estão bem melhor conservados que em
seus países de origem, e retornar passando suas experiências, multiplicando esse
novo saber através do fazer cotidiano, individual e social, possibilitando significativas
mudanças em seu ambiente, a partir da percepção pessoal.
A corrente denominada “gestão ambiental” pauta-se pela resistência a regimes
autoritários, embates contra a poluição e as mazelas de um sistema predador do
ambiente e do ser humano. Está presente em muitos países do hemisfério Sul, onde
é ainda incipiente a conscientização ambiental, países em que é alto o índice de
analfabetismo e, consequentemente, baixo o nível de consciência social e ambiental
da população. Os adeptos desta corrente visam conscientizar a população do país
através de ações locais, e acreditam que as mudanças são possíveis a partir do
momento em que haja participação popular, já que a pressão da população é arma
importante contra governantes ilegítimos e autoritários, bem como contra empresários
mais preocupados em auferir lucros a qualquer custo, sem se preocupar com os riscos
ambientais provocados por suas indústrias, mesmo porque geralmente suas matrizes
se encontram em países distantes, e caso os recursos se esgotem num lugar, poderão
ser buscados em outros países.
A última corrente que será aqui apresentada tem duas denominações:
“economia ecológica” ou “ecodesenvolvimento”, baseada na geração e difusão de
tecnologias alternativas. Esta corrente é formada por grandes empresários e
intelectuais conscientes da situação em que se encontra o planeta, e que sabem de
seu papel para viabilizar o desenvolvimento sustentável e sociedades sustentáveis.
No Brasil, ocorrem algumas dificuldades no processo de desenvolvimento da
educação em função das dimensões e diversidade do país, e da falta de tradição de
comunicação entre educadores. Isso prejudica a troca de experiências e informações
entre as escolas e entidades, que poderiam se aperfeiçoar utilizando experiências
alheias. Não se trata de homogeneizar o ensino em todo o país, pois este tipo de
educação tende a afastar o interesse do aluno e a se distanciar da realidade local,
mas de permitir que, através da troca de informações e experiências, possam surgir
novas ideias, que permitirão um melhor aproveitamento do ensino ecológico. A
educação ambiental deve ser um instrumento para esse objetivo, evitando ações
isoladas, desencontradas, que possam fragilizar as propostas e ações.
A seguir, são sugeridos alguns temas e objetivos que devem ser considerados
no processo de educação ambiental:
Biológicos: proteger, conservar e preservar espécies, ecossistemas e o
planeta como um todo; conservar a biodiversidade e o clima; detectar as causas da
degradação da natureza, incluindo a espécie humana como parte desta; estabelecer
as bases corretas para a conservação e utilização dos recursos naturais.
Espirituais/culturais: promover o autoconhecimento e o conhecimento do
Universo, através do resgate dos valores, sentimentos e tradições e da reconstrução
de referências espaciais e temporais que possibilitem uma nova ética fundamentada
em valores como verdade, amor, paz, integridade, confiança, respeito mútuo,
responsabilidade, compromisso, solidariedade sincrônica e diacrônica, iniciativa,
cooperação, pluralismo, ética, criatividade, afetividade, resistência, participação,
igualdade, espiritualidade, diversidade cultural, felicidade e sabedoria, visão global e
holística.
Políticos: desenvolver uma cultura de procedimentos democráticos;
estimular a cidadania e a participação popular; estimular a formação e aprimoramento
de organizações, o diálogo na diversidade e a autogestão política.
Econômicos: contribuir para a melhoria da qualidade de vida através da
geração de empregos nas atividades “ambientais”, não alienantes e não exploradoras
do próximo; caminhar em direção à autogestão de seu trabalho, de
seus recursos e de seus conhecimentos, como indivíduos e como
grupos/comunidades.
Debate entre pontos de vista.
Fabio Cascino, ao propor uma reflexão sobre os currículos, levanta com muita
propriedade a questão da espiritualidade, da importância da paz tanto interior como
exterior para que o ser humano tenha condições de lutar por um mundo mais
equilibrado. E afirma que “não lutar por esses romantismos pode significar aceitar a
barbárie”, pois a mentalidade competitiva do capitalismo, ao ignorar a importância dos
valores espirituais, acaba relegando o bem-estar psicológico das pessoas a um plano
inferior.
A questão ambiental é conflitiva por si só, uma vez que lida com interesses
geralmente inconciliáveis, por se tratar de recursos imprescindíveis à vida e ao
desenvolvimento econômico. Os recursos naturais podem ter várias utilidades, de
acordo com a necessidade daqueles que os utilizam. Os maiores problemas ocorrem
quando existem vários interessados em fazer uso do mesmo recurso, mas com formas
diferentes. Existe uma séria dificuldade em determinar regras claras e que atendam
às reivindicações de todos os envolvidos no conflito.
Tomemos um rio como exemplo. Uma população pode utilizá-lo como fonte de
abastecimento de água para as residências. Uma indústria pode necessitar dessa
mesma água para refrigeração de caldeiras, o que demandaria grande volume, ou o
governo pode utilizá-lo para geração de energia, o que exigiria a construção de uma
represa, com consequentes desapropriações e alterações importantes no meio local.
Ou ainda, um clube poderia utilizar o rio para a prática de esportes. Um agricultor para
irrigar sua plantação. Um criador, para dessedentação de seu rebanho. Isso entre
outras inúmeras opções. Como decidir qual o uso mais apropriado para este rio?
Quem decide a respeito? Este tipo de questão está presente em quase todo tipo de
ambiente, a respeito de quase todo tipo de recurso natural. Conflitos ambientais,
então, são uma constante onde quer que haja um grupamento humano. Sua origem
histórica remonta aos movimentos sindicais, onde ocorrem as disputas entre capital e
trabalho, e entre sociedade e poder público.
Assim como nos conflitos de ordem sindical, para solucioná-los é necessário
que haja negociação, pois nem sempre é possível satisfazer a todas as partes. Toda
negociação de conflitos ambientais deve se iniciar com a análise de todos os
interesses envolvidos, e a informação a respeito deve ser repassada a todas as partes
(sociedade civil, indústria, poder público, entidades). A partir daí, será possível
encontrar eventuais pontos de interesse comum, pensar em alternativas para colocar
projetos em prática e analisar as diferenças buscando, se possível, um consenso em
torno das mesmas.
Alguns dos maiores custos ambientais estão embutidos nos modelos
agropecuários mais utilizados atualmente, como monoculturas, e mecanização
intensiva, que causam significativa perda da biodiversidade, erosão do solo,
degradação de bacias hidrográficas, assoreamento dos rios e esgotamento do solo,
que se torna infértil em pouco tempo, necessitando cada vez mais de fertilizantes
químicos para manter a produção, o que também contamina o solo e os lençóis
freáticos. Este tipo de cultura também tem um importante efeito socioeconômico: à
medida que a mão de obra se torna dispensável, ocorre o êxodo rural, que contribui
para a concentração da população nas áreas urbanas, reduzindo as perspectivas de
distribuição de renda, pois pessoas que tinham emprego na agricultura passam a ser
desempregados na cidade, e os grandes agropecuaristas cada vez concentram mais
riquezas.
No ambiente urbano, as principais questões são a relação entre infraestrutura
e integração regional. Primeiramente a demanda por energia, que gera uma disputa
sobre a produção, o uso e a conservação da energia disponível, conflito que envolve
vários setores da economia e da sociedade. Devido a essa disputa, é necessária a
intervenção governamental na definição dessas questões, por se tratar de recurso
essencial para todas as atividades urbanas, desde habitação até indústria de ponta.
As prefeituras devem pensar na possibilidade de redirecionamento dos
transportes públicos, com o objetivo de reduzir o uso de transporte individual, pois,
como já foi apontado anteriormente, é uma questão crítica nas grandes cidades. O
grande conflito ocorre entre os proprietários de veículos e a população em geral, que
depende do transporte público. Os primeiros acreditam que têm a prerrogativa de se
locomover livremente, quando quiserem e na velocidade que quiserem, o que é uma
ilusão, a partir do momento em que o espaço ocupado pelos carros se aproxima do
espaço existente para o deslocamento. Se apenas uma parcela dos motoristas de
automóveis particulares percebesse as vantagens de se utilizar transporte coletivo,
uma vez que a probabilidade de congestionamentos diminuiria, diminuindo também o
tempo parado no trânsito, haveria uma grande chance de melhoria neste tipo de
transporte, pois a exigência dos formadores de opinião pressionaria as autoridades a
tomarem atitudes nesse sentido.
Outra questão muito conflitiva é a emissão de resíduos. A maioria das indústrias
gera uma quantidade significativa de resíduos, tanto sólidos, como por exemplo
embalagens, aparas e sobras de material, como líquidos, que são dispostos
geralmente junto com o esgoto, e gasosos, através da fumaça expelida pelas
chaminés. A redução da geração desses resíduos tem custo alto, pois significa
investimento em tecnologias e não gera retorno financeiro direto. Assim, fica difícil
convencer um industrial a reduzir suas emissões. Se uma indústria não trata seus
resíduos, a população a seu redor sofre com isso, pois ocorre mau cheiro, poluição do
solo, contaminação das águas e de eventuais hortas que estejam próximas. Além
disso, o ar também fica poluído, e aumenta a incidência de doenças. Este tipo de
conflito normalmente é mediado pelo poder público, através da legislação e da
fiscalização.
Os governos sempre devem propor políticas compensatórias para poder
negociar com os grandes empresários e com a população, a fim de obter acordos com
os quais todos os envolvidos concordem. Isenção ou descontos em taxas e impostos
é uma alternativa bastante comum para convencer ambos os lados a aceitar medidas
de controle da poluição. Por outro lado, em caso de desrespeito à legislação ou aos
termos acordados devem ser aplicadas medidas punitivas severas, para que não
ocorram reincidências. O princípio do poluidor-pagador é uma punição bastante
adotada atualmente, em que podem ser aplicadas pesadas multas pecuniárias aos
infratores, ou adoção de medidas mitigadoras a fim de recuperar áreas degradadas
ou criar áreas de preservação, por exemplo. As penalidades devem, na medida do
possível, ser proporcionais aos danos causados ao meio ambiente.
Mas a adoção de medidas contra os poluidores ou para preservação ecológica
são tarefas para toda a sociedade, não apenas para os governantes. A população
deve estar preparada para agir positivamente na preservação dos recursos naturais e
na denúncia de irregularidades.
A participação comunitária também é elemento chave na proteção de Unidades
de Conservação, que foram criadas quando as pressões sobre os ambientes naturais
se tornaram sem controle. Seu objetivo principal era afastar o humano, considerado o
“vilão” causador de todos os impactos ambientais negativos. Como os recursos
naturais são escassos, é necessário o apoio de toda a população na criação e no
gerenciamento das Unidades de Conservação.
Estas se tornaram “ilhas de vida”, pois são os locais onde acaba se
concentrando a biodiversidade remanescente da ampla destruição dos ambientes
naturais, causada por invasões, desmatamento, extração de produtos naturais,
atividades agrícolas, mineração, especulação imobiliária, caça, pesca e até lazer
descontrolado. Para que a população possa contribuir nesta preservação, é
fundamental trabalhar valores ambientais, como foi explicitado no capítulo sobre
educação ambiental. Faz-se necessária, então, uma mudança significativa de
comportamento e atitude social. As pessoas devem ter oportunidade de
experimentação direta com o meio, o que pode motivar interesse e integração com o
ambiente, e desenvolver a consciência ambiental.
Para efetivar o controle das Unidades de Conservação, primeiramente deve
ocorrer a identificação de problemas e busca de soluções, o que deve ser analisado
por todos os envolvidos, sem esquecer a valorização de culturas regionais e o respeito
à diversidade de ideias. É primordial deixar claras as finalidades da proteção da área,
e promover o engajamento dos moradores locais em todas as fases do projeto. É
importante ressaltar que compartilhar resultados leva à reflexão sobre o trabalho e à
recriação de conceitos e modelos. Com isso, vêm a conscientização, o conhecimento,
a mudança de comportamento, o desenvolvimento de competências, a capacidade de
avaliação e participação dos envolvidos.
Outro conflito, este de âmbito mundial, é a questão recursos naturais versus
tecnologia industrial. Em geral, temos um quadro em que os países do hemisfério sul,
basicamente aqueles em que há menor desenvolvimento econômico, detêm a maior
parte da biodiversidade do planeta. Por outro lado, os países do hemisfério norte
detêm a indústria farmacêutica, ou seja, a tecnologia para transformar a
biodiversidade em produtos utilizáveis pelas pessoas de todo o mundo. A grande
questão é quem tem os direitos sobre as matérias-primas e sobre os produtos, e qual
o valor financeiro. A indústria tem o poder de retirar espécimes endógenos sem pagar
por isso? Além do que, existe a indústria do tráfico, em que são retirados
clandestinamente espécies da floresta e encaminhados para os grandes laboratórios,
o que, além de desrespeitar a soberania local, ainda prejudica o meio ambiente,
contribuindo para a exploração de materiais escassos e para a invasão das poucas
áreas preservadas ainda existentes.
Um dos principais conflitos deste início de século XXI é a questão da água, a
qual será tratada mais detidamente no próximo capítulo. A distribuição de água no
planeta é muito desigual. Alguns países, como o Brasil, têm abundância deste recurso
natural, que pode ser utilizado com vários fins, como gerar energia elétrica através de
usinas hidroelétricas, abastecimento da população, resfriamento de caldeiras
industriais entre outros. Por outro lado, alguns países, como os do norte da África e
os do Oriente Médio, sofrem com a escassez deste recurso. Isso pode, em médio
prazo, gerar um conflito mundial pelo controle e uso da água. Hoje em dia, em muitos
lugares, já se pratica o reuso da água esgotada, que sofre um tratamento
para que possa ser utilizada em atividades menos nobres, como rega de jardins,
lavagem de ruas e prédios etc., mas isso talvez não seja suficiente para acabar com
o risco de uma crise no abastecimento mundial, principalmente considerando que não
se trata de um bem renovável, já que a água existente hoje no planeta é a mesma
desde sua formação, e quanto maior a quantidade de água poluída, menor a
quantidade de água potável.
Água
Referências