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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 368.510 - PE (2013/0227676-7)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


AGRAVANTE : TIM CELULAR S.A
ADVOGADOS : CRISTIANO CARLOS KOZAN - SP183335
THIAGO CARBALLO ELIAS E OUTRO(S) - SP234865
AGRAVADO : ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DA CIDADANIA E DO CONSUMIDOR
- ADECON
ADVOGADO : SABRINA ANDRADE DE ALCÂNTARA E OUTRO(S) - PE029622
EMENTA
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
TELEFONIA MÓVEL. ESSENCIALIDADE DO SERVIÇO. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE DA ASSOCIAÇÃO DE
CONSUMIDORES. PREENCHIMENTO DO TERMO DE GARANTIA.
DEVER DE INFORMAÇÃO. DIREITO BÁSICO DO CONSUMIDOR.
AGRAVO CONHECIDO PARA NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO
ESPECIAL.

DECISÃO

Associação de Defesa da Cidadania e do Consumidor - Adecon ajuizou ação


civil pública contra Tim Celular S.A. postulando a condenação da ré a se abster de
fornecer nota fiscal dos aparelhos por ela comercializados com o carimbo "72 horas para
troca em caso de defeito", a fornecer o termo de garantia devidamente preenchido no ato
da compra e a substituir os aparelhos que se encontrarem defeituosos dentro do prazo
estabelecido no CDC.

O Magistrado de primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos


para determinar que a ré possibilite aos consumidores a realizarem a troca imediata dos
aparelhos celulares que apresentarem defeito, no prazo de 90 (noventa) dias, a partir da
data da entrega do produto, bem como impor à ré o fornecimento do termo de garantia
contratual devidamente preenchido no momento da tradição do aparelho.

Interposta apelação pela ré, a Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça de


Pernambuco negou provimento à insurgência, estando o acórdão resumido na seguinte
ementa:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE


LIMINAR. TELEFONE CELULAR. PRODUTO ESSENCIAL. SENTENÇA
DE PRIMEIRO GRAU QUE RECONHECE A ESSENCIALIDADE DO
PRODUTO E GARANTE AOS CONSUMIDORES O DIREITO DE EXIGIR
A IMEDIATA ADOÇÃO DE UMAS DAS CONDUTAS DO §1º, DO ART.
18, DO CDC E AINDA DETERMINA A OBRIGATORIEDADE DA
OPERADORA RÉ DE PREENCHER O TERMO DE GARANTIA.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA DA ASSOCIAÇÃO AUTORA
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REJEITADA. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS DA LIVRE INICIATIVA E DA CONCORRÊNCIA NÃO
CARACTERIZADA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DEVIDOS, EM
OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA SUCUMBÊNCIA E DA
EVENTUALIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.
DECISÃO UNÂNIME.

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados.

A companhia telefônica interpôs recurso especial fundamentado na alínea a


do permissivo constitucional, apontando violação aos arts. 81, III, do Código de Defesa do
Consumidor

Sustentou, em síntese, a ilegitimidade da associação para ajuizamento da


demanda coletiva, tendo em vista que o direito tutelado não se encaixa em nenhuma das
categorias de direitos coletivos em sentido amplo. Aduziu, ainda, que o telefone celular não
é produto essencial a fim de possibilitar a imediata troca dos aparelhos defeituosos. Por
fim, alegou que o não preenchimento da nota fiscal no momento da entrega do produto não
acarreta nenhum prejuízo aos consumidores.

Sem contrarrazões.

O Tribunal de origem inadmitiu o recurso sob o fundamento de incidir a


Súmula 83/STJ.

Irresignada, a recorrente apresenta agravo refutando o óbice apontado pela


Corte estadual.

Contraminuta não apresentada.

Brevemente relatado, decido.

Com efeito, ao analisar a questão referente à legitimidade ativa da


associação e à essencialidade do bem, o acórdão recorrido asseverou que os direitos
consumidores ligados à telefonia móvel são direitos individuais homogêneos, já que são
direitos decorrentes de uma situação fática comum. Ademais, as instâncias ordinárias
consignaram que, por seu produto essencial, é permitido aos consumidores exigir a troca
imediata do bem defeituoso, sem necessidade de se aguardar o prazo de 30 (trinta) dias.

A jurisprudência desta Corte Superior possui entendimento no sentido de que


os direitos decorrentes da telefonia móvel possuem grande relevância social, tratando-se

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de direitos individuais homogêneos, já tendo analisado diversas pretensões sobre o
assunto, devendo, portanto, ser afastado o argumento da companhia telefônica acerca da
ilegitimidade da associação para propositura da presente ação civil pública.

Nesse sentido:

CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535, I, DO


CPC. ALEGAÇÃO GENÉRICA. SÚMULA 284/STF. VIOLAÇÃO DO
ARTS. 165, 458 E 535, II, DO CPC. INEXISTÊNCIA. DEVIDO
ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES RECURSAIS. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. SERVIÇO DE TELEFONIA MÓVEL. PRESTAÇÃO
DEFICIENTE. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. POSSIBILIDADE.
REQUISITOS AUTORIZADORES. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ.
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE COM DISPENSA DE
PRODUÇÃO DE PROVA. CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADO
PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REEXAME. SÚMULA 7/STJ. VIOLAÇÃO
DOS ARTS. 128 E 460 DO CPC. JULGAMENTO EXTRA PETITA.
INEXISTÊNCIA. REDUÇÃO DO VALOR DA CONDENAÇÃO. NÃO
INDICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS VIOLADOS. FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO
AMBIENTAL. CONDENAÇÃO A DANO MORAL COLETIVO.
POSSIBILIDADE.
1. Não ofende os arts. 165 e 458, incisos II e III, do Código de
Processo Civil, o acórdão que fundamenta e decide a matéria de
direito valendo-se dos elementos que julga aplicáveis e suficientes
para a solução da lide.
2. A alegação genérica de violação do art. 535, inciso I, do Código de
Processo Civil, sem explicitar os pontos em que teria sido omisso o
acórdão recorrido, atrai a aplicação do disposto na Súmula 284/STF.
3. Inexiste violação do art. 535, inciso II, do CPC quando a prestação
jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com
enfrentamento e resolução das questões abordadas no recurso.
4. É sabido ser "pacífico nesta Corte Superior o entendimento
segundo o qual o Ministério Público, no âmbito de ação consumerista,
faz jus à inversão do ônus da prova, a considerar que o mecanismo
previsto no art. 6º, inc. VIII, do CDC busca concretizar a melhor tutela
processual possível dos direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos e de seus titulares - na espécie, os consumidores -,
independentemente daqueles que figurem como autores ou réus na
ação" (REsp 1.253.672/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 2/8/2011, DJe 9/8/2011).
5. Na espécie, o Tribunal de origem explicitou que, "no caso, a
sentença fundamentou-se em relatório do órgão responsável pela
regulação do serviço de telefonia no país, em que se concluiu que "os
assinantes da prestadora fiscalizada estão sendo prejudicados em
diversos aspectos, particularmente, os usuários não são atendidos
com uma rede com qualidade adequada, ficando impossibilitados de
efetuarem, ou receberem chamadas devido aos altos níveis de
bloqueio, ou quando as chamadas não são interrompidas pelas
quedas." (fl. 77). A despeito da contundência do Relatório de
Fiscalização n° 0072/2010/U0091, a TIM CELULAR S/A defende que
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deveria ter sido oportunizada a produção de novas provas, mas o faz
sem indicar em que pontos a ANATEL teria se equivocado, ou seja,
ela não infirma a contento o relatório produzido pela agência
reguladora. Nesse sentido, em se cuidando de ação civil pública em
que se discute exatamente relação de consumo existente entre a ré e
os usuários dos serviços de telefonia celular por ela prestados no
estado do Rio Grande do Norte, a inversão do ônus probatório
mostrou-se medida acertada, na medida em que a verossimilhança
das alegações dos autores mostrou-se evidenciada. Considero não
ter sido necessário, assim, realizar audiência ou abrir oportunidade
para a produção de novas provas."
6. A pretensão da recorrente em obter nova análise acerca da
existência dos requisitos autorizadores da inversão do ônus probatório
demandaria análise do material fático-probatório dos autos, o que
esbarra no óbice da Súmula 7/STJ.
7. Não é possível o conhecimento do recurso especial quando visa
reformar entendimento do Tribunal a quo pela desnecessidade de
produção de prova, e o recorrente sustenta ter havido, com isso,
cerceamento de sua defesa. Isso porque alterar a conclusão do
julgador a quo pela desnecessidade da prova demandaria o reexame
de fatos e provas, o que é vedado pela Súmula 7 do STJ.
8. Não ocorre julgamento extra petita quando o juiz aplica o direito ao
caso concreto com base em fundamentos diversos aos apresentados
pela parte. Não há falar, assim, em violação dos arts. 128 e 460 do
CPC.
9. Quanto ao pedido de redução do valor de danos morais a que foi
condenado, a empresa recorrente não demonstrou devidamente qual
artigo de lei teria sido violado, o que impede o conhecimento do
pedido de redução do valor arbitrado, ante a incidência da Súmula
284 do STF.
10. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido do cabimento da
condenação por danos morais coletivos em sede de ação civil pública.
Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1526946/RN, Rel. Min.
Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 17/09/2015, DJe
24/09/2015)

PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA. VÍCIO NA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. EXTINÇÃO
DO FEITO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DA
DEMANDA COLETIVA. INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. REPERCUSSÃO SOCIAL. CONTROLE INCIDENTAL
DA CONSTITUCIONALIDADE. POSSIBILIDADE.
1. Cuida-se de ação civil pública ajuizada por associações de defesa
dos consumidores para discutir a fixação do prazo de validade para a
utilização dos créditos adquiridos pelos usuários do serviço de
telefonia celular, sob a modalidade pré-pago, cuja regulamentação foi
realizada pela Norma 03/98 da ANATEL. Na aludida ação, além de ser
pleiteada a obrigação dos réus de não mais limitar a validade dos
referidos créditos, buscou-se também a condenação desses ao
pagamento de indenização por danos morais coletivos, a ser arbitrada
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pelo juízo. O processo foi extinto sem resolução do mérito, ao
fundamento de não ser cabível ação civil pública para discutir a
inconstitucionalidade de lei. O Tribunal Regional Federal anulou a
sentença e determinou o processamento da ação civil pública. Nos
embargos de declaração, a empresa ora recorrente apontou a
nulidade processual, uma vez que, após a interposição do recurso de
apelação, houve a renúncia dos mandatários da parte autora e,
mesmo após intimação para a nomeação de novos patronos para a
causa, não foi sanado o aludido vício, tendo o Tribunal a quo julgado
indevidamente a demanda.
2. Quanto ao recurso da telefônica, não se conhece da alegação de
divergência jurisprudencial, pois não há similitude fática entre o
acórdão paradigma e o acórdão impugnado. Aquele não retrata a
peculiaridade de que se revestem as demandas coletivas, não se
adequando à situação posta no presente caso.
3. No que tange ao recurso da União, não se conhece da alegação de
contrariedade ao art. 535 do CPC, porquanto, a pretexto da indigitada
violação, a recorrente limita-se a fazer alegações genéricas, atraindo,
por analogia, a incidência da Súmula 284/STF.
4. Não há vício de fundamentação no acórdão recorrido. Embora
argumente que não seria possível o saneamento processual no
âmbito dos aclaratórios, a negativa do pleito de nulidade foi
expressamente fundamentada no princípio pas de nullité sans grief e
no § 3º do art. 5º da Lei 7.347/85.
5. A norma inserta no art. 13 do CPC deve ser interpretada em
consonância com o § 3º do art. 5º da Lei 7.347/85, que determina a
continuidade da ação coletiva. Prevalece, na hipótese, os princípios
da indisponibilidade da demanda coletiva e da obrigatoriedade, em
detrimento da necessidade de manifestação expressa do Parquet para
a assunção do pólo ativo da demanda. Em outras palavras, deve-se
dar continuidade às ações coletivas, a não ser que o Parquet
demonstre fundamentadamente a manifesta improcedência da ação
ou que a lide é temerária.
6. A extinção do processo sem resolução do mérito, na forma do art.
267, IV, e 369 do CPC apenas seria admissível, caso o Tribunal a quo
procedesse a prévia intimação do órgão ministerial para a específica
finalidade de prosseguir com a ação e houvesse justificada
manifestação do Parquet em sentido contrário à continuidade da
demanda, dada a atribuição legal deste último em prosseguir com o
feito.
7. No caso, o Ministério Público, intimado para ofertar parecer sobre o
recurso, posicionou-se pelo provimento da apelação, o que,
consoante o princípio da instrumentalidade das formas, demonstra a
viabilidade processual da demanda posta em juízo e reforça a
necessidade da sua continuidade.
8. A legitimidade do Ministério Público para a defesa dos direitos
individuais homogêneos está evidenciada, dada a repercussão social
da matéria em exame, que se refere à prestação de serviço de
telefonia, atingindo milhares de pessoas.
9. A análise da litispendência encontra-se prejudicada no âmbito do
presente apelo, porquanto não constam dos documentos juntados aos
autos a data do protocolo da ação mencionada, nem a situação
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processual da mesma quando da propositura da presente demanda.
Ademais, em consulta ao sítio do Tribunal Regional da 4ª Região, não
foi encontrado processo com a numeração informada pela recorrente.
10. No âmbito da ação civil pública, é possível a declaração incidental
da inconstitucionalidade, quando a controvérsia constitucional não
figura como pedido, mas como causa de pedir, fundamento ou simples
questão prejudicial da questão principal, como é o caso dos autos, em
que as autoras buscam, entre outras providências, a reparação de
danos decorrentes de práticas abusivas cometidas no mercado de
consumo. Precedentes.
11. Recursos conhecidos em parte e, no mérito, não providos. (REsp
855181/SC, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em
01/09/2009, DJe 18/09/2009)

RECURSOS ESPECIAIS. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA BENEFICENTE


DE ASSISTÊNCIA PROTEÇÃO E DEFESA DOS CONSUMIDORES E
BENEFICIÁRIOS DE PLANOS E APÓLICES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
LEGITIMIDADE. NATUREZA DO PEDIDO. CONTRATO DE SEGURO.
SEGURO DE VIDA EM GRUPO. ESTIPULANTE E GRUPO DE
SEGURADOS. RELAÇÃO DE MANDATO. DECISÃO PROFERIDA EM
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ALCANCE TERRITORIAL DE SEUS EFEITOS.
VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO.
1. Não há violação ao artigo 535, II do CPC, pois embora rejeitados os
embargos de declaração, a matéria em exame foi devidamente
enfrentada pelo Tribunal de origem, que emitiu pronunciamento de
forma fundamentada, ainda que em sentido contrário à pretensão da
recorrente.
2. É entendimento assente do Superior Tribunal de Justiça a exigência
do prequestionamento dos dispositivos tidos por violados, ainda que a
contrariedade tenha surgido no julgamento do próprio acórdão
recorrido. Incidem por analogia, na espécie, as Súmulas 282 do STF e
211 do STJ.
3. Conforme entendimento consolidado no âmbito do STJ, as
entidades sindicais e as associações têm legitimidade ativa ad causam
na defesa, em juízo, dos direitos coletivos ou individuais homogêneos
de toda a categoria que representa ou de apenas parte dela.
Precedentes.
4. Nos termos da jurisprudência do STJ, a ação civil pública pode
gerar comando condenatório, declaratório, constitutivo,
autoexecutável ou mandamental.
5. O contrato de seguro é ajuste por meio do qual o segurador
assume obrigação de pagar ao segurado certa indenização, caso o
risco a que está sujeito o segurado, futuro, incerto e especificamente
previsto, venha a se realizar.
6. No contrato de seguro de vida em grupo, cuja estipulação é feita em
favor de terceiros, três são as partes interessadas: estipulante,
responsável pela contratação com o segurador; segurador, que
garante os interesses com a cobertura dos riscos especificados e o
grupo segurado, usufrutuários dos benefícios, que assumem suas
obrigações para com o estipulante.
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7. Nos termos da Resolução n. 41/2000, do Conselho Nacional de
Seguros Privados, estipulante é "a pessoa jurídica que contrata a
apólice coletiva de seguros, ficando investido dos poderes de
representação dos segurados perante as sociedades seguradoras".
8. No seguro de vida em grupo, há entre o estipulante e o grupo
segurado manifesta relação contratual de representatividade, situação
na qual alguém, mandatário ou procurador, recebe poderes de
outrem, mandante, para, em seu nome, praticar atos e administrar
interesses.
9. Mostra-se evidentemente inconveniente o fato de uma empresa
pertencente ao mesmo grupo econômico de uma seguradora exercer,
simultaneamente, o mister de estipulante de seguro em grupo para
com a mesma seguradora.
10. Apesar da constatação da inconveniência feita, a solução da
questão não pode ser a conversão compulsória das apólices coletivas
em individuais, tendo em vista o risco enorme de com essa
providência seja criado um problema sistêmico.
11. A solução que se apresenta viável para o caso dos autos é a
proibição da contratação de novos seguros, seja para renovação dos
já existentes, seja para os contratos futuros, nos moldes do voto
condutor.
12. A verificação dos efeitos de determinada sentença não se
condiciona ao território onde é proferida. Toda sentença atinge
determinados sujeitos (alcance subjetivo) e refere-se à certa questão
fático-jurídica (alcance objetivo), independentemente do limite
territorial.
13. A partir do julgamento do recurso da seguradora, representado
nos itens acima, questões como a referente à taxa de administração,
cuja restituição foi requerida na ação original, e à multa fixada para a
obrigação de fazer, que deixou de existir, porque a obrigação de
conversão das apólices também deixou de existir, ficaram
prejudicadas, fazendo com que deixassem de existir as pretensões
passíveis de execução, com consequências econômicas, portanto, a
evidenciar a subsistência, apenas, de direito difuso dos consumidores
de que não sejam mais pactuados pela seguradora novos contratos,
nos moldes originais.
14. Recursos especiais parcialmente providos, nos termos da
fundamentação. (REsp 1170855/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, julgado em 18/08/2015, DJe 16/12/2015)

DIREITO COLETIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR. ASSOCIAÇÃO.


AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RENEGOCIAÇÃO DE DÉBITOS ORIUNDOS DE
CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR.
1. "As Turmas que compõem a Seção de Direito Privado não
discrepam sobre a legitimidade ativa de associação civil de defesa do
consumidor, preenchidos os requisitos legais, para ajuizar ação civil
pública com o fim de declarar a nulidade de cláusulas do contrato e
pedir a restituição de importâncias indevidamente cobradas" (REsp
313.364/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
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TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2001, DJ 06/05/2002, p. 287).
2. A Carta Magna (art. 5°, XXI) trouxe apreciável normativo de estímulo
às ações coletivas ao estabelecer que as entidades associativas
detêm legitimidade para representar judicial e extrajudicialmente seus
filiados, sendo que, no tocante a legitimação, "[...] um limite de
atuação fica desde logo patenteado: o objeto material da demanda
deve ficar circunscrito aos direitos e interesses desses filiados. Um
outro limite é imposto pelo interesse de agir da instituição legitimada:
sua atuação deve guardar relação com seus fins institucionais"
(ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos
e tutela coletiva de direitos. São Paulo: RT, 2014, p. 162).
3. Chegar à conclusão diversa quanto à existência de previsão
estatutária que autorizasse a representação dos associados, bem
como o cumprimento das finalidades institucionais compatíveis,
demandaria o reexame do contexto fático-probatório dos autos e das
cláusulas do contrato social, o que encontra óbice nas Súmulas n. 5 e
7 do STJ.
4. No tocante ao objeto, a presente ação civil pública bem delimitou a
sua pretensão, tanto com especificação da providência jurisdicional
(objeto imediato) como com a delimitação do bem pretendido (objeto
mediato), havendo nexo de logicidade entre o pedido e a causa de
pedir para fins de delimitação de sua pretensão, não havendo falar em
inépcia da inicial.
5. Tratando-se de ações de massa, deve-se conferir primazia ao
princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito do
processo coletivo, haja vista que o aplicador da lei deve ter em conta
que a solução do litígio, de uma só vez, resolverá conflitos que
envolvem uma gama de indivíduos, quando, para isso, apenas se fizer
necessário uma releitura de elementos processuais, especialmente
para afastar eventual invalidade que esteja em detrimento do direito
em si.
6. É torrencial a jurisprudência do STJ reconhecendo a incidência do
Código do Consumidor nos contratos de cédula de crédito rural.
7. O próprio CDC estabelece (art. 52) que a outorga de crédito ou
concessão de financiamento caracteriza típica relação de consumo
entre quem concede e quem o recebe, pois o produto fornecido é o
dinheiro ou crédito, bem juridicamente consumível.
7. A norma que institucionaliza o crédito rural (Lei n. 4.829/1965)
estabelece como um dos objetivos específicos do crédito rural (art. 3°)
é o de "possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais,
notadamente pequenos e médios" (inciso III) e o de "incentivar a
introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da
produtividade e à melhoria do padrão de vida das populações rurais, e
à adequada defesa do solo" (inciso IV).
8. Dessarte, mesmo que o financiamento por meio de cédula de
crédito rural se destine ao desenvolvimento da atividade rural, há, em
regra, presunção de vulnerabilidade do contratante produtor,
equiparando-o ao consumidor stricto sensu, dando-se prevalência à
destinação fática para fins de qualificação do consumidor.
Precedentes.
9. Conforme jurisprudência consolidada no STJ, "nas cédulas de
crédito rural, comercial e industrial, não se admite a cobrança de
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comissão de permanência. Precedentes" (AgRg no AREsp
129.689/RS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 03/04/2014, DJe 11/04/2014).
10. Recurso especial não provido. (REsp 1166054/RN, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 28/04/2015, DJe
18/06/2015)

Quanto ao preenchimento do termo de garantia do produto, o Tribunal de


origem asseverou que "o simples preenchimento do termo de garantia não trará qualquer
prejuízo para a Apelante, que já deveria realizar tal procedimento" (e-STJ, fls. 392).

Assim, o art. 6º, III, do CDC prevê como direito básico do consumidor "a
informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço,
bem como sobre os riscos que apresentem".

Dessa forma, o preenchimento do termo de garantia apenas concretiza a


determinação legal imposta ao fornecedor, principalmente diante do fato da ausência de
qualquer prejuízo.

A propósito:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. CLÁUSULA LIMITATIVA DO
TEMPO DE INTERNAÇÃO PARA TRATAMENTO DE TRANSTORNOS
PSIQUIÁTRICOS. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. SISTEMA DE COPARTICIPAÇÃO. PREVISÃO
CONTRATUAL CLARA E EXPRESSA. LEGALIDADE. ABUSIVIDADE.
INEXISTÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO.
1. A legislação especial admite a configuração de planos de saúde
com cláusula de copartipação, inclusive para todos os procedimentos
utilizados (art. 16, VIII, do CDC), desde que contratados de forma clara
e expressa.
2. Atendido o direito de informação, mediante a redação de forma
clara e expressa da cláusula limitativa, bem como mantido o equilíbrio
das prestações e contraprestações, não há que se cogitar de
abusividade. Precedente.
3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AgRg no
AREsp 796567/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma,
julgado em 23/06/2016, DJe 30/06/2016)

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSUMIDOR.


PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA VISUAL.
HIPERVULNERÁVEL. CONTRATOS BANCÁRIOS. CONFECÇÃO NO
MÉTODO BRAILLE. NECESSIDADE. DEVER DE INFORMAÇÃO
PLENA E ADEQUADA. EFEITOS DA SENTENÇA. TUTELA DE
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INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS STRICTO SENSU. SENTENÇA
QUE PRODUZ EFEITOS EM RELAÇÃO A TODOS OS
CONSUMIDORES PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL QUE
ESTABELECERAM OU VENHAM A FIRMAR RELAÇÃO CONTRATUAL
COM A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA EM TODO O
TERRITÓRIO NACIONAL. INDIVISIBILIDADE DO DIREITO TUTELADO.
DANO MORAL COLETIVO. INOCORRÊNCIA.
[...] 2. O Código de Defesa do Consumidor estabelece entre os
direitos básicos do consumidor, o de ter a informação adequada e
clara sobre os diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6°, III) e, na
oferta, que as informações sejam corretas, claras, precisas,
ostensivas e em língua portuguesa (art. 31), devendo as cláusulas
contratuais ser redigidas de maneira clara e compreensível (arts. 46 e
54, § 3°). 3. A efetividade do conteúdo da informação deve ser
analisada a partir da situação em concreto, examinando-se qual será
substancialmente o conhecimento imprescindível e como se poderá
atingir o destinatário específico daquele produto ou serviço, de modo
que a transmissão da informação seja adequada e eficiente,
atendendo aos deveres anexos da boa-fé objetiva, do dever de
colaboração e de respeito à contraparte.
[...] 9. Recursos especiais parcialmente providos. (REsp 1349188/RJ,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 10/05/2016,
DJe 22/06/2016)

Assim sendo, tendo em vista que o acórdão recorrido se alinhou à


jurisprudência deste Sodalício, torna-se imperiosa a sua manutenção.

Ante o exposto, conheço do agravo para negar provimento ao recurso


especial.

Brasília (DF), 20 de setembro de 2016.

Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator

Documento: 65366274 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 30/09/2016 Página 10 de 10

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