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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Recursos

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Recursos

1. RECURSOS

1.1. Introdução

O Professor Fernando Capez1 ensina que: “recurso é a providência legal


imposta ao juiz ou concedida à parte interessada, consistente em um meio de
se obter nova apreciação da decisão ou situação processual, com o fim de
corrigi-la, modificá-la ou confirmá-la. Trata-se do meio pelo qual se obtém o
reexame de uma decisão”.

1.2. Características

O recurso é meio voluntário; é extensão do direito de ação. O Poder


Judiciário só atua se provocado. Ao prolatar a sentença, o órgão jurisdicional
entrega a prestação tornando-se inerte. Logo, para que volte a apreciar a
questão, deve ser provocado novamente com a interposição de um recurso. A
inércia da jurisdição é a garantia da imparcialidade.

O princípio da voluntariedade do recurso é mitigado pelo recurso de


ofício (recurso obrigatório, recurso necessário), ou seja, o juiz deve interpor
recurso da decisão.

A natureza jurídica do reexame necessário é uma condição de eficácia da


decisão, não transitando em julgado a sentença em que tiver sido omitido.
1
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 384.
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O artigo 574 do Código de Processo Penal estabelece: “Os recursos serão


voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos
de ofício, pelo juiz:

I – da sentença que conceder habeas corpus;

II – da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de


circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do artigo
411."

Há outras hipóteses de cabimento de recurso de ofício, além das


mencionadas no artigo 574 do Código de Processo Penal:

 sentenças absolutórias referentes aos crimes contra a economia


popular ou a saúde pública;

 despachos que determinarem o arquivamento dos autos do


inquérito policial referentes a esses crimes;

 indeferimento in limine da revisão pelo relator que dará recurso


para as câmaras reunidas ou para o tribunal (artigo 625, § 3.º, do
Código de Processo Penal);

 decisão que conceder a reabilitação.

1.3. Classificação dos Recursos

1.3.1. Quanto ao conteúdo

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 Total ou pleno: quando se questiona toda a decisão. O órgão ad


quem reexaminará toda a decisão.

 Parcial ou restrito: quando se questiona apenas parte da


decisão. Será reexaminada pelo tribunal apenas a parte impugnada.

1.3.2. Quanto às fontes informativas

 Constitucionais: previstos pela Constituição Federal com a finalidade


de levar aos tribunais superiores o conhecimento ou a defesa dos
direitos fundamentais do indivíduo.

 Legais: previstos no Código de Processo Penal e nas leis processuais


especiais.

 Regimentais: instituídos nos regimentos dos tribunais.

1.3.3. Quanto à motivação

 Ordinário: é o recurso que visa à defesa de um direito subjetivo.


Baseia-se no mero inconformismo.

 Extraordinário: é o recurso que possui requisitos próprios, como, por


exemplo, protesto por novo júri.

1.4. Pressupostos Recursais

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Pressupostos recursais são os requisitos de admissibilidade que o recurso


deve possuir.

1.4.1. Pressupostos objetivos

a) Cabimento

O recurso deve estar previsto em lei.

b) Adequação

Não basta que o recurso esteja previsto em lei; é necessário que seja
adequado à decisão que se deseja impugnar. Esse pressuposto confere lógica
ao sistema recursal.

Cada decisão, em regra, só comporta um recurso, em face da aplicação


do princípio da unirrecorribilidade das decisões. Esse princípio, da
irrecorribilidade das decisões, é mitigado por algumas exceções legais, como,
por exemplo, protesto por novo júri pelo crime doloso contra a vida e apelação
pelo crime conexo; interposição simultânea de recurso extraordinário ao
Supremo Tribunal Federal e de recurso especial ao Superior Tribunal de
Justiça.

P.: Qual a conseqüência para a parte que interpõe recurso incorreto?

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R.: O recurso, ainda que inadequado, pode ser recebido e conhecido pelo
princípio da fungibilidade. É exceção ao princípio da adequação (artigo 579 do
Código de Processo Penal). Portanto, o recurso, mesmo equivocado, deve ser
oferecido dentro do prazo correto e que não esteja de má-fé o recorrente.

c) Regularidade formal

O Código de Processo Penal estabelece a forma segundo a qual o


recurso deve ser interposto. São formalidades legais para o recurso ser
recebido. Ex.: a apelação pode ser interposta por petição ou por termo nos
autos.

*0

d) Tempestividade

O recurso deve ser interposto no prazo legal. Os prazos começam a


correr a partir do primeiro dia útil após a intimação, e, conforme prevê a
Súmula n. 310 do Supremo Tribunal Federal: “quando a intimação tiver lugar
na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o
prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver
expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”.

No caso de carta precatória, o prazo é contado a partir da juntada da carta


aos autos do processo.

e) Ausência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer

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Fatos impeditivos são aqueles que impedem a interposição do recurso ou


seu recebimento, quais sejam:

 Renúncia: é ato de disposição, ou seja, abre-se mão do direito de recorrer. É


diferente de deixar escoar o prazo sem interpor recurso. Na renúncia há
manifestação expressa nesse sentido.

O Ministério Público não pode renunciar.

A renúncia antecipa o trânsito em julgado.

P.: Em sentença condenatória, o defensor e o réu têm de ser intimados da


sentença e ambos podem interpor recurso. Se houver divergência de vontades,
um deles quer renunciar e o outro não, qual prevalece?

R.: Na doutrina, prevalece entendimento de que a vontade do acusado


deve prevalecer sobre a do defensor. Na jurisprudência, sustenta-se que
prevalece a vontade técnica do defensor. Há, no entanto, entendimento que
sustenta prevalecer a vontade daquele que quer recorrer, com base na garantia
da ampla defesa.

 Não recolhimento à prisão nos casos previstos em lei (artigo 594 do


Código de Processo Penal).

Fatos extintivos são fato supervenientes à interposição do recurso:

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 Desistência: é ato de disposição, porém sempre posterior à


interposição do recurso. O Ministério Público não pode desistir dos
recursos interpostos (artigo 576 do Código de Processo Penal).

 Deserção: ato de abandonar o recurso. Pode ocorrer pelo não


pagamento das custas processuais (artigo 806, § 2.º, do Código de
Processo Penal).; ou pela fuga do réu no caso de apelação, sempre
quando for negada a possibilidade de apelar em liberdade.

1.4.2. Pressupostos subjetivos

a) Legitimidade

A legitimidade refere-se às partes legítimas para interposição do recurso


(artigo 577 do Código de Processo Penal).

b) Interesse jurídico

O interesse deriva da sucumbência. A sucumbência ocorre sempre que a


parte teve frustrada alguma expectativa legítima. Estabelece o parágrafo único
do artigo 577 do Código de Processo Penal: “não se admitirá, entretanto,
recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da
decisão”.

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2. APELAÇÃO

2.1. Conceito

O Professor Fernando Capez2 ensina que apelação é: “recurso interposto


da sentença definitiva ou com força de definitiva, para a segunda instância,
com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a conseqüente
modificação parcial ou total da decisão”.

2.2. Classificação

2.2.1. Quanto à extensão

 Ampla ou plena: devolve o conhecimento pleno de toda a matéria


decidida.

 Restrita, limitada ou parcial: impugna tópicos da sentença; pede-se


apenas o reexame de parte da decisão.

O que fixa a extensão da apelação é o ato de interposição. Caso isso não


ocorra entende-se que a apelação foi total.

2.2.2. Quanto ao procedimento

 Ordinária: ocorre nos casos de apelação de crimes punidos com


reclusão (artigo 613 do Código de Processo Penal).

2
Op. cit. p. 403.
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 Sumária: ocorre nas contravenções e nos crimes punidos com


detenção.

2.3. Hipóteses de Cabimento da Apelação

2.3.1. Decisões proferidas por juiz singular

São hipóteses em que cabe a apelação:

 decisões definitivas de condenação ou absolvição;

 decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz


singular nos casos não previstos no artigo 581 do Código de Processo
Penal, pois a apelação tem caráter subsidiário;

P.: Todas as decisões condenatórias e absolutórias são apeláveis?

R: O fato de serem apeláveis não significa que são sinônimos de


recorríveis. Todas as decisões condenatórias e absolutórias são recorríveis, mas
nem todas apeláveis. A decisão de absolvição sumária no júri é recorrível
mediante recurso em sentido estrito e não apelação (artigo 581, inciso VI, do
Código de Processo Penal).

2.3.2. Decisões proferidas pelo júri (artigo 593, inciso III, §§ 1.º a
3.º, do Código de Processo Penal)

Nas decisões proferidas pelo júri, a apelação é cabível se prevista em


uma das hipóteses do inciso III do artigo 593 do Código de Processo Penal:

 Nulidade posterior à pronúncia: a nulidade posterior, se relativa, o


momento de arguição é imediatamente depois de anunciado o
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julgamento e apregoada as partes. Se o tribunal reconhecer a nulidade


anula o ato e todos os demais dele decorrente (artigo 571, inciso VI,
do Código de Processo Penal). Se a nulidade relativa tiver ocorrido
durante o julgamento, o protesto deve ser feito logo após a sua
ocorrência, sob pena de ser convalidada (artigo 571, inciso VIII, do
Código de Processo Penal).

 Decisão contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos jurados.

 Quando houver erro ou injustiça na aplicação da pena ou medida de


segurança.

 Decisão dos jurados manifestamente contrária a prova dos autos:


decisão arbitrária. Essa apelação só é cabível uma vez.

2.4. Artigo 593, § 4.º, do Código de Processo Penal

Quando de parte da decisão for cabível apelação e de outra parte for


cabível recurso em sentido estrito, o único recurso cabível será a apelação,
ainda que se recorra somente de parte da decisão. A apelação absorve o
recurso em sentido estrito.

2.5. Apelação na Lei n. 9.099/95

Hipóteses de cabimento:

 sentença do procedimento sumaríssimo;

 sentença homologatória da transação penal;

 rejeição da denúncia ou da queixa no procedimento sumaríssimo.


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O prazo dessa apelação é de 10 dias para a interposição e apresentação


das razões de apelação.

2.6. Efeitos da Apelação no Código de Processo Penal

Os efeitos da apelação no Código de Processo Penal são:

 Devolutivo (tantum devolutum quantum appellatum): o Judiciário irá


reexaminar a decisão; devolve-se o conhecimento da matéria à
instância superior.

 Suspensivo: efeito que impede que a decisão proferida produza


efeitos, que seja eficaz. Obsta os efeitos da sentença.

 Regressivo: efeito que permite ao próprio órgão prolator da decisão


reexaminá-lo. Permite o juízo de retratação. A apelação do Código de
Processo Penal não tem efeito regressivo.

 Extensivo: todos os recursos nos processos penais têm esse efeito


(artigo 580 do Código de Processo Penal). A decisão proferida no
recurso interposto por um co-réu beneficia os demais que não
recorreram, salvo se o recurso for fundado em motivos de ordem
pessoal.

2.7. Reformatio in Pejus

A reformatio in pejus é a situação na qual o réu tem a sua situação


prejudicada em razão de recurso exclusivo da defesa. A reformatio in pejus é
proibida com base no princípio do “tantum devolutum quantum appellatum”,
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segundo o qual só é devolvido ao tribunal o pedido recursal. O tribunal só pode


reexaminar o que foi pedido. Ex.: a defesa recorre pedindo a absolvição. O
tribunal nega a absolvição e coloca uma agravante.

O artigo 617 do Código de Processo Penal proíbe expressamente a


reformatio in pejus.

2.7.1. Reformatio in pejus indireta

Segundo ensinamento do Professor Fernando Capez3: “anulada sentença


condenatória em recurso exclusivo da defesa, não pode ser prolatada nova
decisão mais gravosa do que a anulada. Por exemplo: réu condenado a um ano
de reclusão apela e obtém a nulidade da sentença; a nova decisão poderá
impor-lhe, no máximo, a pena de um ano, pois do contrário o réu estaria sendo
prejudicado indiretamente pelo seu recurso. Este é o entendimento pacífico do
STF (RTJ 88/1018 e 95/1081).

(...)

Obs.: No caso de a sentença condenatória ter sido anulada em virtude de


recurso da defesa, mas, pelo vício da incompetência absoluta, a jurisprudência
não tem aceitado a regra da proibição da reformatio in pejus indireta (...)”.

2.7.2. Reformatio in pejus no júri


3
Op. cit. p. 419.
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A lei que proíbe a reformatio in pejus (artigo 617 do Código de Processo


Penal) não pode prevalecer sobre o princípio constitucional da soberania dos
veredictos.

Anulado o júri, em novo julgamento, os jurados poderão proferir


qualquer decisão.

Se o réu foi pronunciado e condenado por homicídio simples, a defesa


interpõe apelação. O tribunal dá provimento e anula o primeiro julgamento. No
segundo julgamento o júri condena por homicídio qualificado. Houve
reformatio in pejus, a pena aumentou só por recurso da defesa, e, no caso,
reformatio in pejus indireta.

2.8. Reformatio in Mellius

A reformatio in mellius ocorre quando o tribunal melhora a situação do


réu em recurso exclusivo da acusação.

Parte da doutrina sustenta que é possível a reformatio in mellius, com


base no próprio artigo 617 do Código de Processo Penal, que apenas proíbe a
reformatio in pejus.

2.9. Processamento da Apelação

O prazo para a interposição da apelação, segundo o Código de Processo


Penal, como regra é de cinco dias, salvo para o assistente de acusação não-
habilitado, pois o Supremo Tribunal Federal manteve posicionamento no
sentido de que o prazo é de cinco dias, a contar da intimação, para assistente

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habilitado, e 15 dias, após o vencimento do prazo para o Ministério Público


apelar, para o não-habilitado.

A apelação é interposta por termo ou petição, no juízo que proferiu a


decisão. Ele fará o exame do preenchimento dos pressupostos recursais. Se o
juiz denegar a apelação ou a julgar deserta, caberá recurso em sentido estrito
(artigo 581, inciso XV, do Código de Processo Penal).

Interposta a apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo


de oito dias cada um para oferecer razões (exceto nos processos de
contravenção em que o prazo será de três dias).

Após a apresentação das razões ou contra-razões do Ministério Público,


se houver assistente, este arrazoará, no prazo de três dias.

Se a ação penal for movida pelo ofendido, o Ministério Público oferecerá


suas razões, em seguida, pelo prazo de três dias.

Com as razões ou contra-razões, podem ser juntados documentos novos.

O artigo 576 do Código de Processo Penal estabelece que: “O Ministério


Público não poderá desistir de recurso que haja interposto”.

Inexiste juízo de retratação na apelação.

É praticamente pacífico que a apresentação tardia das razões de apelação


não impede o conhecimento do recurso.

2.10. Artigo 600, § 4.º, do Código de Processo Penal

O § 6.º do artigo 600 do Código de Processo Penal estabelece que: “Se o


apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja

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arrazoar na superior instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem


onde será aberta vista às partes, observados os prazos legais, notificadas as
partes pela publicação oficial”.

O apelante pode requerer a apresentação das razões no tribunal.

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