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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO V

DIREITO PROCESSUAL PENAL

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DA AÇÃO PENAL

1.1. Conceito

Ação penal é o instrumento pelo qual o Estado busca, por intermédio de


seu representante, a imposição de uma sanção para o acusado de ato praticado
e tipificado como crime ou contravenção na legislação penal pátria.

1.2. Classificação

Segundo o art. 100 do CP, que traça diretrizes básicas sobre a


classificação da ação penal, esta pode ser ação penal pública ou ação penal de
iniciativa privada.

1.2.1. Ação penal pública

A ação penal pública tem como titular exclusivo (legitimidade ativa) o


MP (art. 129, I, da CF/88). Para identificação da matéria incluída no rol de
legitimidade exclusiva do MP, deve-se observar a lei penal. Se o artigo ou as
disposições finais do capítulo nada mencionar ou mencionar as expressões
“somente se procede mediante representação” ou “somente se procede
mediante requisição do Ministro da Justiça”, somente o Órgão Ministerial
poderá propor a denúncia (peça inicial de toda a ação penal pública). Vale
lembrar que, apesar de a matéria constar no rol de legitimidade exclusiva do
MP, ante a sua inércia (MP não oferece a denúncia no prazo legal), pode o
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ofendido ou seu representante legal ingressar com ação penal de iniciativa


privada subsidiária da pública (art. 5.º, LIX, da CF/88).

A ação penal pública subdivide-se em ação penal pública incondicionada


e ação penal pública condicionada.

a) Ação penal pública incondicionada

O MP independe de qualquer condição para agir. Quando o artigo de lei


nada mencionar, trata-se de ação penal pública incondicionada. É regra no
Direito Penal brasileiro.

b) Ação penal pública condicionada

Apesar de o MP ser o titular de tal ação (somente ele pode oferecer a


denúncia), depende de certas condições de procedibilidade para ingressar em
juízo. Sem estas condições, o MP não pode oferecer a denúncia.

A condição exigida por lei pode ser a representação do ofendido ou a


requisição do Ministro da Justiça.

 Representação do ofendido: Representação é a manifestação do


ofendido ou de seu representante legal, autorizando o MP a ingressar
com a ação penal respectiva.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a


expressão “somente se procede mediante representação”, deve o
ofendido ou seu representante legal representar ao MP para que este
possa ingressar em juízo. A representação não exige formalidades,
deve apenas expressar, de maneira inequívoca, a vontade da vítima de
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ver seu ofensor processado. Pode ser dirigida ao MP, ao Juiz de


Direito ou à autoridade policial (art. 39 do CPP). Pode ser escrita
(regra) ou oral, sendo que, neste caso, deve ser reduzida a termo.

A representação tem natureza jurídica de condição de


procedibilidade.

A vítima (ou seu representante legal) tem o prazo de seis meses


da data do conhecimento da autoria (e não do crime) para ofertar sua
representação (art. 38 do CPP). Tal prazo é contado da oferta da
representação e não do ingresso do MP com a ação penal, podendo o
MP oferecer a denúncia após os seis meses. Tal prazo não corre contra
o menor de 18 anos, ou seja, após completar 18 anos, a vítima terá
seis meses para representar ao MP. Em qualquer caso, tal prazo é de
direito material (segue as regras do art. 10 do CP – computa-se o dia
do começo e não se prorroga no último dia).

Se a vítima for menor de 18 anos, somente seu representante


legal pode oferecer a representação. Se maior de 18 e menor de 21
anos, tanto ela como seu representante legal, com prazos
independentes (Súmula n. 594 do STF), podem oferecer a
representação e, caso haja conflito entre os interesses de ambos,
prevalece a vontade de quem quer representar.

Se houver conflito entre o interesse do ofendido e o do seu


representante legal, será nomeado um curador especial, que verificará
a possibilidade ou não da representação.

Segundo o art. 25 do CPP, pode o ofendido retratar-se (ou seja,


desistir da representação) até o oferecimento da denúncia.

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Pode haver a retratação da retratação (a pessoa retira a


representação e depois a oferece de novo – sempre dentro dos seis
meses da data do conhecimento da autoria).

A representação não vincula (obriga) o MP a ingressar com a


ação; o MP só oferecerá a denúncia se vislumbrar a materialidade do
crime e os indícios de autoria (poderá pedir o arquivamento do feito).

A requisição é autorização para a persecução penal de um fato e


não de pessoas (eficácia objetiva).

 Requisição do Ministro da Justiça: Requisição é o ato político e


discricionário pelo qual o Ministro da Justiça autoriza o MP a propor
a ação penal pública nas hipóteses legais.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a


expressão “somente se procede mediante requisição do Ministro da
Justiça”, para que o MP possa oferecer a denúncia, é necessária a
requisição do Ministro. Tem natureza jurídica de condição de
procedibilidade e, como a representação, não vincula o MP a oferecer a
denúncia (pode requerer o arquivamento).

A requisição é autorização para a persecução penal de um fato e


não de pessoas (eficácia objetiva).

O Ministro da Justiça não tem prazo para oferecer a requisição,


quer seja, pode oferecê-la a qualquer tempo (não se sujeita aos seis
meses de prazo como na representação).

A lei silencia sobre a possibilidade de representação. Sobre o


assunto, a doutrina apresenta duas orientações:

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 segundo o Prof. Damásio de Jesus, entre outros, deve-se aplicar a


analogia à representação (art. 25 do CPP), sendo, portanto, possível
a retratação;

 segundo outra parte da doutrina, a requisição é irretratável, pois o


art. 25 do CPP não prevê tal possibilidade.

2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA

2.1. Princípio da Oficialidade

Somente o MP pode oferecer a denúncia (art. 129, I, da CF/88). Esse


princípio extinguiu o chamado procedimento judicialiforme, também chamado
de “jurisdição sem ação” (nas contravenções penais - art. 26 do CPP; nas
lesões corporais culposas e no homicídio culposo). Nesses casos, o Juiz, por
meio de portaria, iniciava a ação penal (não havia denúncia por parte do MP).

2.2. Princípio da Obrigatoriedade

O MP tem o dever, e não a faculdade, de ingressar com a ação penal


pública, quando identificar a hipótese de atuação, ou seja, se o MP concluir
que houve um fato típico e ilícito. Como o Órgão Ministerial tem o dever de
ingressar com a ação penal pública, o pedido de arquivamento deve ser
motivado (art. 28 do CPP). Esse princípio foi mitigado (restrito) com a entrada
em vigor da Lei n. 9.099/95 (arts. 74 e 76). Antes de oferecer a denúncia, o MP
pode oferecer a transação (um acordo) com o autor do fato (princípio da
discricionariedade regrada).

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2.3. Princípio da Indisponibilidade da Ação Penal Pública

Depois de proposta a ação, o MP não pode dela desistir (art. 42 do CPP).


O art. 564, III, “d”, do CPP prevê que o MP deve manifestar-se sobre todos os
termos da ação penal pública. Também foi mitigado pela Lei n. 9.099/95
(somente em crimes de menor potencial ofensivos e nas contravenções penais -
art. 89). O MP pode celebrar a transação com o réu.

2.4. Princípio da Indivisibilidade

O MP não pode escolher, dentre os indiciados, qual vai processar.


Decorre do princípio da obrigatoriedade.

2.5. Princípio da Intranscendência

A ação penal não pode passar da pessoa do autor e do partícipe. Somente


estes podem ser processados (não pode ser contra os pais ou representante
legal do autor ou partícipe).

Tanto a ação penal pública incondicionada como a condicionada se


norteiam por tais princípios. Quando se tratar, porém, de ação penal pública
condicionada, deve ser observada a representação do ofendido ou a requisição
do Ministro da Justiça (condições de procedibilidade).

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