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Direitos Reais 1-120
Direitos Reais 1-120
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compreendidas, a atribuição ao respectivo titular de poderes de uso ou de fruição
sobre uma coisa.
No Livro III do C.C., encontramos a chamada categoria de direitos reais de gozo. Mas,
os direitos reais não se esgotam nesta categoria. O a. 1539.º Faz mesmo contraposição
entre direitos reais de gozo e de garantia, sendo esta categoria pacificamente admitida
pela doutrina.
Nos direitos reais de garantia mantém-se (como no Código de Seabra de 1867) a
sistematização, que se justifica pela ligação especial com os direitos de crédito. Assim,
encontramos esta matéria regulada no Livro II do C.C. dedicado ao Direito das
Obrigações (Cf. aa. 656.º a 761.º).
Mas, para além destas duas categorias ou modalidades de direitos reais, também no
C.C. (para não falar de legislação avulsa) há figuras caracterizadas por terem eficácia
real e, atribuírem ao respectivo titular o poder potestativo de, mediante o seu
exercício, adquirirem certo direito sobre determinada coisa. Estamo-nos a referir aos
direitos reais de aquisição.
Os direitos reais de aquisição têm um tratamento disperso, em função do seu campo de
aplicação, em várias partes do C.C.
A sua fonte pode ser legal ou convencional. É caso do contrato promessa com eficácia
real e do pacto de preferência, também com eficácia real (cfr. aa. 413.º e 421.º), e
ainda, múltiplos direitos de preferência legal que têm eficácia real (cfr. aa. 1409.º
e1535.º).
Os direitos reais de aquisição constituem a categoria menos bem definida de
direitos reais.
Uso consiste no poder de utilizar a própria coisa para a satisfação das necessidades.
Fruição: este termo implica uma ideia de aproveitamento de bens, ou seja, no poder de retirar da coisa utilidades que
periodicamente se desprendem (Ex: frutos naturais ou civis).
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No regime dos direitos reais, se verifica a interferência de institutos próprios do
direito público, como acontece com as expropriações e a requisição. O próprio
legislador civil sentiu a necessidade de lhes fazer referência específica (cfr. aa. (37º
CRA); 1308.º e 1310.ºCC). Também não podemos esquecer das limitações ao
conteúdo dos direitos reais decorrentes de razões de interesse público (ex: é o caso da
requisição..)
Os DR têm marcada natureza patrimonial e constituem mesmo, ao lado dos direitos de
crédito, uma das mais importantes categorias de direitos patrimoniais.
4. ASSENTO LEGAL DE MATÉRIA. FONTES DO DIREITO DAS COISAS
1. O Código Civil, e nele, o seu Livro III, constitui a sede fundamental do regime dos
DR. Porém, nem o C.C. nem o Livro III, constituem as únicas fontes do direito das
coisas, nem contêm todo o regime dos direitos reais.
2. Em primeiro lugar, é de mencionar a CRA enquanto base de todo o sistema jurídico
e que contém a máxima protecção à propriedade privada, encontrando-se vigentes
normas que respeitam à matéria dos direitos reais art.37º.
3. Refira-se ainda, para além da CRA e do CC, as leis especiais como o CRP, o CPI,
etc., também são fontes de DR.
4. Todavia, no que diz respeito aos DR, o diploma mais importante de todos é sem
dúvida, o CRP, O Registo Predial refere-se aos factos relativos aos direitos reais
que incidem sobre coisas imóveis, em particular sobre os prédios rústicos e
urbanos. No que diz respeito às coisas móveis sujeitas a registo, o regime do seu
registo encontra-se, disperso em diversos diplomas que, regem para cada uma das
modalidades de coisas que integram esta categoria.
5. CONFRONTO ENTRE OS DIREITOS REAIS E OS DIREITOS DE
CRÉDITO
1. É áureo, desde já, demarcar os direitos reais da categoria dos direitos subjectivos
creditórios, com que mantém relevantes relações.
2. Desde logo, os dr são direitos sobre uma coisa, enquanto que os dc traduzem-se no
direito à prestação a efectuar pelo devedor, a qual pode consistir num dare, facere e
non facere.Em suma, natureza absoluta dos direitos reais projecta-se na
inerência, que por sua vez se desenvolve na sequela (o direito de perseguir a
coisa onde quer que ela se encontre e fazer valer o seu direito, reivindicando-a.→
excepções. 243.º e 291.º.) e na prevalência.(A. Varela, AO )
3. Os dr são absolutos, isto é valem “erga omnes(cfr. aa. 413.º, 421.º, 1305.º)”,
enquanto os dc são relativos (inter partes) apenas vinculam pessoas certas e
determinadas (ou determináveis) (406.º n.º2). que são os sujeitos da relação;
valem pois em princípio apenas a favor do credor contra o devedor. No entanto a
relatividade do direito de crédito não obsta a que: a) a lei considere
excepcionalmente oponíveis a terceiros algumas situações que, na sua essência,
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são autênticas relações obrigacionais; b) a relação de crédito, na sua
titularidade, constitua um valor absoluto, como tal oponível a terceiros. Tal se
sucede com a relação locatícia, que embora sendo de natureza intrinsecamente
obrigacional ou creditória, não deixa se ser oponível pelo locatário ao terceiro
adquirente do direito (normalmente de propriedade) com base no qual o contrato
foi celebrando. Deste modo se A, dono de certo imóvel, o arrendar a B e, em
seguida, o vender a C, o locatário B, poderá opor o seu direito relativo a C apesar
de com ele não ter contratado.
4. Os direitos reais gozam do direito de preferência (ou prevalência), que consiste
no facto de o direito real sacrificar toda a situação jurídica posteriormente
constituída sobre a mesma coisa, sem concurso de vontade do título daquele, na
medida em que uma e outra sejam incompatíveis entre si.
5. Os direitos reais gozam de sequela, que se traduz na faculdade conferida ao
titular de fazer valer o seu direito sobre a coisa onde quer que ela se encontre,
de resto esta resulta da inerência isto é “ ligação íntima entre o direito e a coisa”.
6. O direito real é um poder directo e imediato sobre a coisa, prescindido da
colaboração de outrem para obter as utilidades que esta visa proporcionar-lhe (não
obstante de por vezes o exercício do direito tornar necessário o recurso aos
tribunais, como sucede em regra nos direitos reais de garantia. A obrigação, pelo
contrario, consiste num direito à prestação, só realizável através do
intermediário, que é o devedor.
7. O direito real encontra-se subordinado ao princípio da tipicidade ou numerus
clausus, isto é a lei só admite os direitos reais criados por via legal com o
conteúdo que esta lhes imprime, não sendo como tal possível atribuir eficácia real
ao contrato-promessa ou ao pacto de preferência que versem sobre coisa móvel não
sujeita a registo. Por outro lado para as obrigações vigora a regra da atipicidade
ou numerus apertus, sendo que deste de que a prestação estipulada corresponda a
um interesse do credor digno de protecção legal (398º nº2), nenhuma restrição se
cria, em principio, à constituição de qualquer obrigação, podendo como tal as
partes fixar livremente o conteúdo positivo ou negativo da prestação
SÍNTESE
DIFERENÇA ENTRE DR E DC (CRIT´TRIOS)
8. Quanto à relação: D O = relaçõ es dos homens entre si. D R = relaçã o dos
homens com as coisas, sempre movido por interesse econó mico.
9. Quanto à violação: DR: por acçã o ex: invadir propriedade alheia DO: por
omissã o (em geral) ex: deixar de pagar a dívida
10.Quanto à duração: DO: temporá rio; DR: permanentes: Quanto mais é
exercido mais forte o direito real se torna, através da ostensibilidade, ou seja, a
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sociedade sabe. Exercer o direito obrigacional é extingui-lo. Exercer o direito
real é fortalecê-lo.
11.Quanto à tipicidade: DR: típicos 1306ºCC de enumeraçã o taxativa (criados
pela lei tã o somente) DO: atípicos (art. 425 – criaçã o de contrato
12.Quanto à usucapião: DR: usucapíveis; DO: nã o se adquirem pela usucapiã o.
Usucapiã o (1287º) é a aquisiçã o da propriedade pela posse prolongada,
respeitando-se os requisitos legais, em determinado período de tempo,
continuamente.
13.Quanto ao Sujeito passivo: DR: absoluto (toda a sociedade) ERGA OMNES*
pois toda a sociedade precisa respeitar minha propriedade sobre meus bens; DO:
relativo (o devedor); só posso cobrar a dívida do devedor e nã o de todos * a
característica erga omnes acarreta a oposiçã o a toda e qualquer pessoa.
14. Quanto à tipicidade: DR: típicos 1306ºCC de enumeraçã o taxativa (criados
pela lei tã o somente); DO: atípicos 425º – criaçã o de contratos
TÍTULO I
DOS DIREITOS REAIS EM GERAL. 1. NOÇÃO DE DIREITO REAL
1.1. Teoria clássica e Teoria moderna ou personalista
O debate sobre a noção de direito real é uma questão dogmática que ocupa a doutrina
há longo período de tempo.
TEORIA CLÁSSICA
Segundo uma concepção que se pode designar por clássica, o direito real é entendido
como um poder directo e imediato sobre uma coisa (certa e determinada).
Esta teoria ou concepção desprezava o conceito de relação jurídica tal como hoje a
caracterizamos com todos os seus elementos - (sujeito, objecto facto e garantia). Ao
dizer-se poder directo está implícita a ideia de domínio ou de senhorio sobre certa
coisa. Já poder imediato significa a faculdade, atribuída ao titular do direito, de
aproveitar das utilidades da coisa sem ser necessária a colaboração de outros, como se
verifica nos direitos de crédito, em que ao credor assiste o direito de exigir do devedor
a realização da prestação (397.º).
Esta concepção realça a posição da coisa como objecto do direito, deixando
transparecer, a ideia da existência de relação entre o titular do direito e a coisa. Refira-
se porém que, os direitos reais, como no que respeita a todos os direitos subjectivos,
envolvem uma relação entre pessoas e não com coisas ou com uma coisa determinada.
TEORIA PERSONALÍSTA
À concepção clássica contrapõe-se outra, dita moderna ou personalista, que constrói a
noção de direitos reais, partindo da ideia de relação jurídica. Esta teoria também é
designada por obrigacionista e define o direito real como o poder que tem o seu
titular de excluir todas as pessoas de qualquer ingerência na coisa, incompatível com o
seu direito.
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De acordo com esta teoria, existe um vínculo pessoal entre o titular do direito real e
todas as pessoas (sujeito passivo) que têm a obrigação de se abster de violar ou
perturbar o titular do direito (obrigação negativa). Recordemos, que nos direitos de
crédito, o dever de prestar recai sobre um sujeito certo e determinado ou
determináveis.
Os críticos de ambas as doutrinas consideram que nenhuma destas teorias está errada e
que as mesmas não são entre si incompatíveis, porém ambas são insuficientes. Por este
motivo, as várias doutrinas eclécticas procuram construir uma teoria do direito real
que concilie a doutrina clássica com a personalista. Embora existam autores a
entenderem que as duas concepções se completam, e a aceitarem a existência de uma
teoria mista, que concebe o direito real como o poder directo e imediato sobre uma
coisa determinada com eficácia erga omnes, isto é, oponível a toda e qualquer pessoa
que possa interferir com a coisa.
DOUTRINAS ECLÉCTICAS
Escola de Lisboa (Prof. O A e M C): O direito real é um direito absoluto inerente a
uma coisa e funcionalmente dirigida à afectação dessa coisa aos fins do sujeito.
Escola de Coimbra (Prof. M P): No direito real existe um lado interno e um lado
externo. O lado externo é a obrigação intersubjectiva ─ o poder de exigir dos outros a
obrigação passiva universal. No direito real a intersubjectividade é estabelecida entre o
titular do direito e todos os outros, enquanto, nas obrigações, ela se estabelece apenas
entre o credor e o devedor. O lado interno é constituído pelos poderes que o titular
está legitimado a exercer sobre a coisa, objecto do direito.
2. PRINCÍPIOS CARACTERÍSTICOS DOS DIREITOS REAIS
2.1. Princípio da actualidade e Princípio da determinação ou individualização:
O objecto do direito real tem de existir, ser certo e determinado no momento da
constituição ou da aquisição do direito. (≠consequência=1476.º, n.º 1 al. d). Por
contraposição, nos direitos de crédito a prestação pode respeitar a coisas genéricas
(539.º)., ou seja, individualizadas apenas pelo seu tipo ou género e quantidade, só se
tornando necessário a sua determinação no momento do cumprimento. (408.º n.º2).
2.2. Princípio da totalidade: Duvidosa é esta característica, segundo a qual, o direito
real afecta a totalidade da coisa que tem por objecto. Estamos assim, perante uma
característica tendencial e, não essencial, dos direitos reais, a qual explica que, em
regra, eles se estendem às coisas que no seu objecto se incorporem ou, a ela sejam
unidas. Por outro lado, refira-se que, nada impede a constituição de direitos reais sob
partes de uma coisa. V.g.: hipoteca (688.º), propriedade horizontal (1414.º), direito de
superfície (1524.º) e direito de uso e habitação (1489.º).
2.3. Princípio da permanência: Esta característica não pode ser entendida de forma
absoluta. A ideia de perpetuidade dos direitos é incorrecta, uma vez que há direitos
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reais que, por natureza, são temporários como é o caso do usufruto e do uso e
habitação ( 1439.º a 1490.º).
2.4. Princípio da compatibilidade: Significa este princípio que, os dr devem ser
compatíveis entre si e que, portanto, não se excluam uns aos outros. Assim, não é possível
existirem dois direitos de propriedade sobre a mesma coisa ou, dois Δ de uso, uma vez que
são direitos que conferem exactamente as mesmas faculdades a pessoas diferentes (têm o
mesmo conteúdo) sendo por isso incompatíveis. Porém, já é possível, existirem dois
direitos de conteúdo diferente, como é o caso de um direito de propriedade e um Δr de
usufruto, ou um Δr de gozo — a propriedade — e, um Δr de garantia — a hipoteca
2.5. Princípio de elasticidade: o Δr tem a capacidade de comprimir-se ou distender-se
consoante exista sobre ele um outro Δr, cuja existência determina que os poderes
incompatíveis com este segundo direito real fiquem inactivos. Assim, O Δ de propriedade
é o Δr por excelência, o Δr pleno. E os vários Δr foram como que recortados do direito de
propriedade. Ora, quando sobre a mesma coisa que é propriedade de alguém, é constituído
a favor de outrem, um Δr menor, aquele fica esvaziado de parte do seu conteúdo,
limitando o direito de propriedade.
2.6. Princípio da tipicidade ou numerus clausus: Um dos instrumentos de que o
Δr se socorre na regulamentação da vida económico-social é o da fixação de certas
categorias jurídicas, que ele próprio delimita, de modo directo ou indirecto. vg, a
compra e venda, o testamento, o direito de propriedade, etc. Tipicidade significa
que os direitos reais têm por fonte exclusiva a lei, não vigorando o disposto no
405.º. Por numerus clausus entenda-se, que o número de tipos de Δr, são só
aqueles que se encontram definidos na lei. O numerus clausus é, pois, uma
consequência do princípio da tipicidade.
2.7. Princípio do consensualismo ou consentimento: ligado fundamentalmente à
transmissão convencional dos Δr. Estabelecido no Δ francês, esta tese foi acolhida
pelo nosso Código Civil no a. 408.º, disposição que se aplica exclusivamente à
aquisição derivada, seja ela constitutiva ou translativa. Decorre do a. 408.º n.º 1
que, para se constituir ou transferir um Δr, basta o acordo entre as partes ―
consagrando-se o chamado sistema do título (justa causa). Assim, se através do
contrato de compra e venda ou de doação se transmite a propriedade (de forma
imediata e instantânea), aquele contrato é o título de aquisição do Δr, Este p. está
ligado com o p.causalidade, pois basta o título para que o Δr se transmita ou, se
constitua, mas o título tem que ser justo, isto é, a causa de aquisição tem de ser
válida. Por isso, se o contrato é nulo ou anulável, verifica-se a não produção do
efeito real (875.º, 220.º, entre outros).
2.8. Princípio da inerência do direito real
É comum nos Δr, a inerência entre o Δ e o seu objecto. d) do n.º1 do a. 204.º.
A inerência é um nexo de intima ligação entre o Δ e a coisa, podendo mesmo afirmar-
se que o Δ se torna inseparável da coisa que é seu objecto. Na verdade, o seu titular
pode opor o seu Δ a todos, perseguindo a coisa sequela.
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São corolários da inerência: a inseparabilidade do Δ em relação à coisa;
oponibilidade erga omnes; repercussão, no Δ, das vicissitudes da coisa (sequela
1311.º).
2.9. Princípio da Publicidade Δr é um Δ com eficácia absoluta e, por isso é
necessário que os terceiros saibam da sua existência para no Δ não interferirem,
cumprindo deste modo dever de abstenção. Para segurança do comércio jurídico.
Mas, esta publicidade não constitui requisito de validade do Δr, que foi
validamente constituído, por mero efeito do contrato, apenas válido inter partes.
Porém, este requisito é condição de eficácia relativamente a terceiros. A
publicidade é conseguida através do registo das coisas imóveis (Registo Predial)
e das coisas móveis de considerável valor (como os aviões, helicóptero,
automóveis, quotas de sociedade). A relevância económica, social e jurídica da
publicidade, neste sector, como em outros, levou o Estado a intervir e, a
organizar serviços públicos, especialmente encarregados de a promover e
organizar sistematicamente.
2.10. Publicidade Registal
Nos termos do a. 1.º do C.R.Predial, a função essencial do registo predial é a de:
“dar publicidade à situação jurídica dos prédios”. Através desta função, realiza-se o
fim a que o registo predial está votado: “a segurança do comércio imobiliário”.
2.11. Características Gerais do Sistema de Registo Predial angolano O sistema de
registo predial angolano são de natureza pública e real.
O carácter público revela-se, desde logo, na circunstância de o Registo Predial estar a
cargo de serviços públicos — Conservatória do Registo Predial (26ºCRP). Estas
dependem, por sua vez, de um serviço central comum, a Direcção Geral de Registos e
Notariado, integrado na orgânica do Ministério da Justiça.
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3.2. Δr de Gozo, Garantia e de Aquisição: Esta é a classificação tradicional das
categorias dos Δr. O seu critério de distinção assenta no modo como se efectua o
aproveitamento das utilidades da coisa, que é o objecto do Δr.
Direitos reais de gozo
Nos Δr de gozo, o aproveitamento da coisa é feito de modo directo e imediato no
sentido de que, o titular do Δr de gozo pode fazer suas as utilidades que a coisa lhe
proporciona. Pode colher os frutos naturais, perceber frutos civis, consumir a coisa,
alterá-la, etc. Portanto, o titular do Δr de gozo, satisfaz o seu interesse através do
aproveitamento do valor de uso da coisa, retirando da sua substância todas as
utilidades dessa coisa.
São Δr de gozo: a posse, 1252º); o Δ de propriedade1305º (compropriedade e
propriedade horizontal1403º a 1413º), as servidões1543ºss, o Δ de superfície, o Δ de
uso e habitação1484ºss, o Δ de usufruto1439ºss) e o Δr de habitação periódica.
Δr de garantia
Nos Δr de garantia, as utilidades proporcionadas ao seu titular são aproveitadas de
modo indirecto, isto é, através do valor económico, do valor de troca, e não através do
seu valor de uso. Estes Δr são acessórios de uma relação creditória e por isso
encontram-se regulados no Livro II, tendo a função de assegurar eficazmente ao
credor, o pagamento preferencial do seu crédito pelo valor da coisa sobre que recaem.
Os Δr de garantia caracterizam-se pelo facto de incidirem sobre o valor ou os
rendimentos de bens certos e determinados, do próprio devedor ou de um terceiro.
O C.C. admite os seguintes direitos reais de garantia:
1. Consignação de rendimentos; 2. Penhor; 3. Hipoteca; 4. Privilégios creditórios; 5.
Direito de retenção
1. Consignação de rendimentos: consiste na aplicação dos rendimentos de certos
bens imóveis ou móveis sujeitos a registo à garantia do cumprimento de uma
obrigação (que pode ser condicional ou futura), e do pagamento dos respectivos
juros, se devidos, ou tão só do cumprimento da obrigação ou do pagamento dos
juros. 657.º n.º1, que: “Só tem legitimidade…
Pode ser: voluntária, ou judicial, ( 658.º).
2. Penhor: constitui um direito real de garantia, que consiste em o devedor ou
terceiro se desapossarem voluntariamente de certa coisa mobiliária, para que fique
especialmente afecta à segurança de determinado crédito, e que, por ele responde
preferencialmente, no caso de não cumprimento da obrigação por parte do devedor.
Efeitos (a. 667.º; 669.º).
Quanto ao objecto, a lei permite que sejam dadas em penhor, coisas móveis como
créditos ou outros direitos não hipotecáveis.
Modalidades fundamentais de penhor: o penhor de coisas (a. 669.º e ss.) e o penhor de
Δ(a. 679.º e ss.
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3. Hipoteca
A hipoteca traduz-se no Δ concedido a certos credores de serem pagos, pelo valor de
certos bens imobiliários do devedor e, com preferência a outros credores estando os
seus créditos devidamente registados. Além dos bens imobiliários, podem ser objecto
de hipoteca, os automóveis, navios e, aeronaves (bens móveis registáveis).
A hipoteca incide sobre coisas imóveis ou havidas como tais, indicadas nos ara.688.º a
691.º. Não é requisito da hipoteca, que os bens saiam da posse do autor da garantia,
diferente do que se verifica no penhor. No entanto, compreende-se a diferença, dada a
especial natureza dos bens sobre que recaem as duas garantias: a hipoteca sobre
coisas imóveis ou equiparadas que não podem ser facilmente ocultadas ou sonegadas,
como acontece com a generalidade dos móveis.
A hipoteca carece de ser registada sob pena de não produzir efeitos, mesmo em
relação às partes (cfr. a. 687.º).
Existem três modalidades de hipotecas previstas na lei (cfr. a. 703.º): legais (cfr.
a. 704.º) judiciais (cfr. a. 710.º) voluntárias (cfr. a.712.º)
4. Privilégios creditórios É um Δ conferido a certos credores, de serem pagos,
em atenção à natureza dos seus créditos, de preferência a outros credores. Esta
garantia não necessita de ser registada (c733.º). O privilégio creditório constitui
uma garantia mais forte do que a hipoteca, porque se houver concurso entre
credores, os privilégios imobiliários preferem à preferência, assim como preferem à
consignação de rendimentos e ao direito de retenção, ainda que estas garantias se
mostrem anteriores (a. 751.º). Nos termos do a.734.º esta garantia, abrange os juros
de crédito respeitantes aos últimos dois anos, se forem vencidos.
A modificação dos Δr pode ser objectiva e subjectiva. Sempre que se opera uma a.d
translativa existe uma modificação subjectiva.vg.: A vende a B um automóvel.
Quanto à modificação objectiva, esta verifica-se sempre que, nos encontramos perante
a.d constitutivas. vg : A constitui a favor de B um direito de usufruto.
Renúncia: ( 731.º, 664.º, 677.º, 752.º, 761.º, 1267.º, 1476.º, 1490.º) os Δr são
renunciáveis, por manifestação de vontade, nesse sentido, do respectivo titular
(Princípio da renunciabilidade). O titular do Δ de propriedade de um bem móvel
pode simplesmente abandoná-lo, desligando-se da sua posse (causal), passando a
coisa a ser considerada uma res nullius (coisa de ninguém) e, fica susceptível de ser
adquirida por ocupação 1318.º).
O proprietário de um imóvel tb pode renunciar ao seu Δ, embora haja opinião
diversa. Por efeito da renúncia (que deve ser feita por escritura pública e sujeita a
registo) o imóvel integra-se ex vi lege no património do Estado, não sendo
susceptível de ocupação.
Confusão: esta figura aparece-nos como causa extintiva dos Δr limitados (cfr. aa.
1476.º n.º1, al. b); 1536.º n.º1, al. d), 1569.º n.º1, al. c). Quando o titular de um Δr
menor, passa a titular de um Δr maior, dá-se a confusão. Ex: A. usufrutuário
adquire a propriedade a B (nu proprietário).
Extinção de um Δr pelo decurso do prazo, quando o mesmo tenha sido constituído
a termo.
TÍTULO II
DOS DIREITOS REAIS EM ESPECIAL
1. DA POSSE (aa. 1251.º a 1301.º do Código Civil)
1.1. Noções Gerais. A ideia de posse sugere imediatamente uma situação de poder
sobre uma coisa e, por outro lado, sugere também a existência de uma relação
material entre uma pessoa e uma coisa. Para compreensão da noção de posse, é
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forçoso uma abordagem da distinção que, a doutrina estabelece entre posse causal,
posse formal e, posse precária ou detenção.
1.2. Posse causal, posse formal e posse precária
A posse é um Dtº real, pois é um dt° subjectivo que apresenta todas as
características de que se revestem os demais direitos reais. É através da posse
que a propriedade adquiriu dinâ mica econó mica. A posse é responsá vel pela
produçã o de bens pela propriedade.
A posse, em si mesmo, constitui fundamento para accionar direitos (art. 2°/2 CPC)
Posse causal: Quando há coincidência entre a exteriorizaçã o e a titularidade
substantiva, isto é, quando o exercício das faculdades correspondentes ao
conteú do decerto Δr é acompanhado da titularidade desse Δ. A posse é o poder
de uso e, neste caso, é causal, porque tem como causa a titularidade de um Δr, cujo
conteúdo integra um poder de uso.
A posse causal não tem autonomia, é inerente à titularidade de um Δ e não é mais do
que a manifestação exterior da titularidade do direito real.
O proprietário e o possuidor embora actuem do mesmo modo perante todas as outras
pessoas, não têm o mesmo Δ, dado que um é proprietário e, tais actos traduzem o
exercício do seu Δ, o outro não é proprietário e, os seus actos traduzem uma mera
actuação de facto.
Na posse formal, o possuidor não é titular de qualquer direito real sobre a coisa, em
cujo conteúdo se integre o poder exercido, isto é, não há qualquer causa que justifique
o uso.
A posse diz-se precária (caso do comodatário), quando o sujeito tem apenas uma
autorização do titular do Δr para possuir a coisa em seu nome, isto é, em nome do
titular do Δ. O possuidor precário é tão somente o possuidor em nome de outrem em
cujo conteúdo se integra o poder de uso. A noção de posse do 1251.º é uma noção de
posse formal: “quando alguém actua por forma correspondente ao exercício do
direito de propriedade ou de outro direito real”.
1.3. Estrutura da Posse
Existem duas correntes:
1. A corrente objectivista perfilhada por Jhering para a qual basta o corpus, ou seja, a
apreensão material ou o poder de facto para existir uma situação possessória.
2. Para a corrente subjectivista perfilhada por Savigny, além do corpus, será também
necessário o animus, a intenção demonstrada pelo possuidor no seu modo de agir
em relação à coisa, objecto da posse.
3. No entender da maioria da doutrina, a corrente perfilhada pelo nosso Código Civil
é a corrente subjectivista de Savigny, no sentido de que não basta a apreensão da
coisa e a vontade de a manter, mas é também necessário o animus. O Prof.
Menezes Cordeiro partilha de opinião contrária.
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4. No entanto, o a. 1251.º: “releva claramente o animus. E mais, em justificação da
tese subjectivista, o 1252.º pode ser invocado no sentido de que, o detentor tem a
apreensão material da coisa e pode manifestar a vontade de manter essa apreensão,
mas não é considerado possuidor.
5. Para que exista uma situação possessória, não se exige que o possuidor pratique
directamente actos materiais sobre a coisa possuída, dado que a mesma pode ser
exercida por intermediário de outrem,. 1252.º,. Esta é a chamada situação de
detenção identificadas nas al. a), b) e c) do a. 1253.º.
Natureza Jurídica da Posse
6. Existem vários entendimentos, mas de um modo geral, e sem pretensão de
aprofundar esta questão, entender-se-á a posse como um direito real subjectivo. No
nosso Código Civil, a posse opera e releva ora, como mero facto jurídico
1252.º, nº2, 1254.º, 1257.º, nº1, 1260.º, 1287.º ora, como situação jurídica
subjectiva, fonte de importantes efeitos jurídicos para o possuidor 1263.º,
1266.º, 1267.º, 1268.º n.º1, 1270.º e 1273.º.
7. Fundamento da Protecção PossessóriaDestaco dois dos principais
fundamentos do instituto possessório:
a paz pública
e o valor económico e social autónomo da posse.Vigora entre nós um sistema de
justiça pública ( 1.º do C.P.C.), a defesa da posse só pode operar por meios
processuais regulados na lei. Deste modo, havendo protecção legal da posse,
evitam-se conflitos sociais e esta pode funcionar como instrumento de conservação
e de produção de efeitos funcionais da coisa.
8. Objecto da Posse O objecto material da posse corresponde há existência material
da coisa.
9. O objecto jurídico da posse (1251.º), é a forma de actuação correspondente ao
exercício do direito de propriedade e dos demais direitos reais de gozo, passíveis de
serem adquiridos por usucapião.
10.Portanto, o objecto da posse pode ser não só o direito de propriedade como
também outro direito real de gozo, susceptíveis de serem adquiridos por
usucapião, ficando excluídos os direitos reais de garantia e de aquisição.
11.Modalidades da Posse
Posse exclusiva: é aquela que é exercida por um único possuidor.
Posse simultânea: corresponde às situações em que, sendo alguém possuidor, por
uma ou outra razão e, sem a sua vontade, existe alguém que também adquire a
posse.
Composse: é uma situação de comunhão do direito que é a posse. Cada um dos
compossuidores exerce a posse correspondente à parte que lhe caiba na posse
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comum, à semelhança da figura da compropriedade, cujas regras lhe são
extensíveis com as necessárias adaptações. (cfr. a. 1404.º).
12.Caso as posses, que incidem sobre a mesma coisa, sejam de natureza diferente (Ex:
A actua como se fosse proprietário e, B como usufrutuário) não há composse, mas
sim convergência de posses que não são incompatíveis entre si.
13.. Modos de Aquisição da Posse
14.a) Pela prática reiterada, com publicidade dos actos materiais
correspondentes ao exercício do direito (é o chamado apossamento1263.º, al. a)
Por prática reiterada entende-se a prática continuada. o sujeito tem a intenção de
passar a comportar-se como possuidor nos termos do a. 1251.º.
Com publicidade (...)”, significa que a prática reiterada tem que ser realizada de
modo a poder tornar-se conhecida dos interessados.
O apossamento consiste na apropriação de uma coisa, (adquire-se o corpus.)
Porém, a posse só surge com – animus.
15.b) Pela tradição material ou simbólica da coisa efectuada pelo seu anterior
possuidor (1263.º, al. b)
Neste caso, sucede que o anterior possuidor cede a sua posse a outrem, através da
entrega material ou simbólica da coisa. Este modo de aquisição, é um modo de
aquisição derivada, ou seja, a posse é aqui adquirida através de um acto de
transmissão da posse (causal ou formal), anteriormente constituída.
16.c) Constituto possessório (1263.º al. c) e 1264.º) Na fase de aquisição da posse, a
apreensão material é importante, no que respeita ao constituto possessório. Pelo
constituto possessório, o adquirente torna-se possuidor e o transmitente torna-se
detentor.
17.d) Inversão do título da posse (1263.º al. d) e 1265.º) A inversão do título da
posse traduz-se numa mudança da atitude do detentor. al. d) 1263.º complementada
pelo regime contido no a. 1265.º.Nesta forma de aquisição da posse, dá-se a
transformação de uma situação de mera detenção em posse formal, isto é, o título
por que se exerciam certos poderes sobre a coisa muda.
18.. Sucessão na Posse Na sucessão na posse verifica-se um fenómeno de aquisição
mortis causa. um fenómeno especial1255.º,
19.A sucessão não é considerada de entre os modos de aquisição da posse, porque
quando alguém sucede na posse em virtude da morte do anterior possuidor, não se
trata de uma nova posse, cujos caracteres tenham que ser determinados, como
acontece nos outros casos, de aquisição da posse. Neste caso, a transferência da
posse verifica-se por mero efeito da lei e, com a abertura da herança não se inicia
uma nova posse, dado ela ser a mesma. A posse do sucessor forma um todo com a
do de cujus, havendo apenas uma modificação subjectiva. A posse adquirida por
morte é a mesma que já existia, no sentido de que, o seu título não é a sucessão por
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morte, mas sim o título do próprio de cujus. Assim, se se tratava de posse de má fé,
continua a ser posse de má fé, se se tratava de posse não titulada, continua a ser não
titulada. Existe apenas uma excepção ao que foi referido e que reside no carácter da
posse violenta. A posse violenta pode purificar-se transformando-se em posse
pacífica. Ex: A adquiriu a posse mediante coacção moral (posse violenta). Porém,
se a ameaça cessar, a posse purifica-se. Mas, embora a posse deixe se ser violenta,
não deixa de ser considerada posse de má fé. (cfr. a. 1260.º n.º 3 – presunção
inilidível). No caso da sucessão, se a posse era violenta mas, com a morte do
anterior possuidor, a violência cessou, a posse transforma-se em pacífica,
continuando, no entanto, a ser de má fé.
20. Acessão na Posse No caso do disposto no a. 1256.º, houve uma transmissão
da posse inter vivos (ex. compra e venda). A acessão da posse significa que aquele
que adquirir de forma derivada, pode juntar à sua posse, a posse do antecessor.
21.A---------------------------------B---------------------------------------C
(Possuidor) (Possuidor) (Possuidor
(5 anos) + (5 anos) = (10 anos)
22.Requisitos da acessão:
23.— As posses só podem ser somadas se a aquisição tiver sido derivada.
24.— Os tempos de posses têm que ser referentes a posses contíguas.
25.— As posses a somar têm que ser públicas (cfr. a. 1262.º) e pacíficas (cfr. a.
1261.º).
26. Caracteres da Posse. 1258.º, a posse pode ser titulada ou não titulada, de boa
fé ou de má fé, violenta ou pacífica, pacífica ou oculta.
27. a) Posse Titulada e Não Titulada 1259.º n.º1 O carácter da posse titulada só
é relevante se a modalidade da aquisição da posse for derivada, isto é, para
estarmos perante uma posse titulada, esta tem que ter sido adquirida através de um
negócio jurídico translativo ou constitutivo. A posse é titulada porque foi
adquirida por meio de negócio jurídico idóneo para transmitir o Δ de propriedade
28.b) Posse de Boa Fé ou de Má Fé O critério que preside à distinção entre posse de
boa ou má fé, é o do conhecimento ou desconhecimento que o adquirente tenha
ou não de estar a lesar direitos de outrem (c1260.º). A boa-fé a que alude o a.
1260.º, reporta-se ao momento da aquisição da posse. Mas, a posse de boa-fé pode
convolar-se em posse de má-fé, a partir do momento em que o possuidor tome
consciência de que está a lesar o direito de outrem ( 1270.º n.º 1 e 2). Assim, a
existência ou falta de título leva a presumir que a posse é, respectivamente de boa
ou de má fé (cfr. n.º2 do a. 1260.º).
29.No entanto, e por força do n.º3, ainda que a posse seja titulada, mas se tiver sido
adquirida com violência, presume-se sempre de má fé. Estabelece-se no n.º3 uma
presunção inilidível ao contrário do que se verifica no n.º 2 em que a presunção é
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ilidível Compreende-se a diferença de regimes estabelecida, uma vez que a falta de
título justo não significa que se esteja em presença de um acto ilícito, como sucede
na violência. Assim, não será necessário punir civilmente quem adquiriu a posse
sem título. Em conclusão, o possuidor sem título não está impedido de invocar e
fazer prova da sua boa fé, no momento de aquisição da posse. Se o não fizer, a
posse considera-se de má fé.
30.c) Posse Pacífica ou Posse Violenta (cfr. a. 1260.º) A posse é pacífica se foi
adquirida sem violência. Há violência, de acordo com o n.º2 do a.1261.º, quando a
posse é obtida com coacção física ou moral Não pode deixar de se fazer um reparo,
à técnica infeliz e inadequada utilizada neste artigo, dado que a expressão coacção
física a propósito do negócio jurídico não se aplica neste âmbito. Pretendeu o
legislador referir que a violência tanto pode ser sobre as pessoas como sobre as
coisas. Só assim se compreende que o legislador apenas remeta para a noção de
coacção moral constante do a. 255.º e, não para o a. 246.º. Refira-se que a posse
violenta não serve para adquirir, isto é, não serve para a usucapião, enquanto não se
tornar pacífica (cfr. a. 1297.º A posse violenta é violenta enquanto se mantiver a
coacção, mas passa a pacífica quando ela cessa com relevantes consequências,
nomeadamente quanto à contagem do prazo de usucapião. Porém, a posse
considerar-se-á sempre de má fé por força do a. 1260.º n.º3.
31. d) Posse Pública ou Posse Oculta Tanto a posse oculta como a posse
violenta não tem qualquer relevância, sendo necessário que ela seja pública. O a.
1262.º atende ao modo por que a posse é exercida.
Posse pública (1262°). Posse pú blica é a que se exerce de modo a poder ser
conhecida pelos interessados. Pode, porém, a posse constituir-se ocultamente,
como decorre de regime do esbulho (. 1282.º a 1297.º) com relevantes
consequências no seu regime, nomeadamente, quanto à contagem do tempo de
posse, para efeito de registo de mera posse (1295.º) e de usucapião (1297.º e 1300.º
32. Exercício e Conservação da PosseA posse pode ser exercida directamente (posse
imediata) ou, por intermédio de outrem (posse mediata).Na posse mediata existe
uma dissociação no plano subjectivo entre o animus e o corpus. O animus
encontra-se no possuidor mediato enquanto que o corpus encontra-se no possuidor
imediato. Este possuidor não é mais do que o possuidor precário.Esta é uma
situação simultânea de uma posse imediata e outra mediata sobre a mesma coisa
(1252.º). Esta situação de posse, por intermédio de outrem, pode dar origem a
conflitos, sobretudo quando o possuidor mediato não conseguir provar a sua posse
e justificar a detenção do possuidor imediato.Nestes casos de conflito, quando o
possuidor não consegue provar a sua posse aplica-se o n.º2 do a. 1252.º.
33.A posse conserva-se pelo seu exercício, não sendo necessário que a mesma seja
exercida através de uma actuação contínua.A partir do momento, em que se
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adquire a posse, esta conserva-se, ainda que, o corpus não se manifeste
claramente (cfr. a. 1257.º n.º1), se bem que seja necessário, que persista a
possibilidade de continuar a actuação correspondente ao exercício do direito.
34.Nestes termos, o possuidor só terá que provar ter tido início a sua posse,
presumindo-se que, uma vez adquirida, a posse persistiu até ao momento actual
(cfr. aa. 1257.º n.º2 e 1254.º n.º1).
35.1.13. Perda da Posse A perda da posse verifica-se: 1 por abandono, ex: a. 1318.º;
2 pela perda ou destruição material da coisa ou, porque esta foi colocada fora do
comércio (cfr. a. 202.º);3 pela cedência, (sempre que há transmissão) – cfr. aa.
1267.º, al. c) e 1263.º, al. b).4 pela posse de outrem, se esta durar mais de um ano.
36.Qual a importância da chamada posse de um ano e um dia?
Em primeiro lugar, a consolidação da situação possessória de um determinado
possuidor face a anteriores possuidores. Decorrido um ano sobre a aquisição da
nova posse, extingue-se o direito de intentar a acção possessória.
37.Esta consolidação da nova posse tem como consequência a extinção das posses
anteriores. Em segundo lugar, a posse de ano e um dia releva, quando é necessário
encontrar entre várias situações possessórias, qual é a melhor posse (cfr. a. 1278.º
n.º1 e 2).
38.vg. A _______esbulho ______ B _____ esbulho____________C(Possuidor)
(Possuidor) (Possuidor há menos de ano)
B é para todos os efeitos possuidor e, como tal, pode defender-se do esbulho mas,
como B não tem a posse de um ano e um dia, de acordo com as regras dos n.ºs 2 e
3 do a. 1278.º, C pode ficar em vantagem, se tiver melhor posse.
39. Efeitos da posse. Conteúdo da posseA posse, enquanto Δr, atribui ao
seu titular um conjunto de faculdades que constitui o seu conteúdo. O Código Civil
ocupa-se desta matéria nos aa. 1268.º a 1275.º sob a epígrafe “efeitos da
posse”.Efeitos da posse: a) Presunção da titularidade do direito (a. 1268.º) b)
Direitos aos frutos (cfr. a. 1270.º, nº1 e 213.º, n.º1 e 2) e direito a indemnização por
benfeitorias (cfr. aa. 1273.º a 1275.º e 216.º) c) Usucapião (a. 1287.º).d) Direito às
acções possessórias
40.a) Presunção da titularidade do direito
Estes efeitos referem-se ao lado activo, dado que no lado passivo, existe a obrigação
de responder pela perda da coisa e de suportar os seus encargos.
De acordo com o a. 1268.º, o possuidor goza de presunção de titularidade do direito.
Mas titularidade de que direito?
Quem possui, possui sempre pela referência ao conteúdo de um determinado direito
real. Assim, se o possuidor actuar por forma correspondente ao exercício de certo
direito, considera-se que é ele o titular desse direito, isto é, se o possuidor agir como
proprietário, presume-se ser ele o titular do direito de propriedade.
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Se A, possuidor, age como proprietário e, anos mais tarde, B vem dizer que a coisa lhe
pertence, diremos que A tem a apreensão material da coisa e actua como se fosse o
proprietário e não tem que provar a titularidade do direito (cfr. a. 1268.º, n.º1). B se
quiser, que prove o contrário, ilidindo a presunção do a. 1268.º, n.º1.
Porém, se B tiver a certidão de registo do facto aquisitivo do direito de propriedade
gozará igualmente do direito por força do a. 7.º do Código de Registo Predial.
Existem assim duas presunções ilidíveis, uma fundada na posse e outra, fundada no
registo.
Ora, nos termos do a. 1268, n.º1, o legislador vem dar prioridade à presunção fundada
em registo, o que significa que, a vantagem fica agora a favor de quem tiver o registo,
no caso, B. Logo, será A que terá de ilidir a presunção de registo provando o seu
direito.
O a. 1268.º, n.º2 trata do caso de concorrência de presunções legais baseadas em
registo, e aqui, funcionam as regras da prioridade de registo fixadas no Código de
Registo Predial.
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O direito aos frutos e a indemnização pelas benfeitorias realizadas, só têm relevância
quando o possuidor venha, por alguma razão, a ter que entregar a coisa, objecto da sua
posse.
Caso o possuidor de boa-fé, antes da colheita, tiver alienado os frutos como coisa
futura, para além dos interesses deste e do titular do direito, há que analisar os
interesses do terceiro adquirente. Ver o a. 1270.º, nº3 ao adquirente interessa-lhe
que a alienação subsista e, é esta a solução na lei.
Assim, o titular do direito não pode fazer seus os frutos em si mesmos, a titulo
sucedâneo, é-lhe atribuído o direito ao produto de alienação.
Quanto ao possuidor é reconhecido o mesmo direito que lhe cabe quanto aos frutos
pendentes não alienados, isto é, indemnização das despesas de produção com os
limites referidos (a. 1270º, nº2).
Os frutos podem denominar-se pendentes, que são aqueles em que ainda não se fez a
sua separação da coisa (a. 215.º, n.º2 do C. C.); percebidos, aqueles que já se
separaram da coisa (aa. 213.º, n.º1 e 215.º, n.º 1 do C. C.); maduros, aqueles que,
quando separados, reúnem condições para sobreviver por si mesmos (a. 214.º do C.
C.) e percipiendos, aqueles que podiam ter sido colhidos e, por uma qualquer razão,
não o foram (a. 214.º do C. C.).
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Direito à indemnização por benfeitorias (aa. 216º e 1273º do C. C.)
Relativamente, às benfeitorias úteis, o possuidor, tanto de boa –fé como de má-fé, têm
direito a levantá-las, isto é, de as separar da coisa. Porém, o direito ao levantamento
cessa, se a separação não puder ser feita materialmente ou, se implicar danos para a
coisa principal.
Se o levantamento implicar detrimento para a coisa, tem o possuidor, em sua
substituição, o direito a ser indemnizado, pelo titular do direito, do valor das
benfeitorias, calculado, neste caso, segundo as regras do enriquecimento sem causa (a.
1273º, nº2 e n.º 1, 2ª parte).
c) Usucapião
Como já foi referido, a posse oculta e a posse violenta não servem para a usucapião (a.
1297.º do C. C.). Já a posse de má-fé e a posse não titulada servem a usucapião. No
entanto, a melhor posse para a usucapião é a posse titulada e de boa-fé, uma vez que, o
título e a boa-fé da posse, são factores importantes, na medida em que fazem variar o
lapso de tempo para adquirir por usucapião o direito que possuído. Caso a posse fosse
menos boa, mais tempo seria preciso para se verificar a usucapião.
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O art. 1295.º tem a redacção dada pelo D.L. nº 273/2001 de 13 de Outubro e entrou em
vigor em 01/01/2002, não se aplicando aos processos pendentes. E é apenas aplicável
a bens imóveis,
O possuidor exerce o seu direito de aquisição por acção se, sabendo que estão
preenchidos os requisitos de usucapião, intenta uma acção de simples apreensão, a fim
de ser declarado titular do direito.
A declaração de aquisição do direito por usucapião faz extinguir direitos
incompatíveis com o direito assim adquirido. Os efeitos de usucapião retroaem-se à
data do início da posse (a. 1288.º).
O possuidor defende-se por excepção e exerce o direito de aquisição, também por
excepção se, face a uma acção de reivindicação de um proprietário, o possuidor se
defende invocando a usucapião.
A defesa judicial da posse, pode ser ainda exercida através de meios cautelares. Assim,
quando haja esbulho violento, pode o esbulhado intentar um procedimento cautelar
especificado: a restituição provisória da posse (a. 395.º do C.P.C.). Não havendo
violência, o esbulhado poderá socorrer-se do procedimento cautelar comum (a. 395.º
do C.P.C.). Esta via processual está aberta aos casos de mera perturbação da posse.
a) Acção de prevenção
Esta acção tem pouca relevância prática, porque a posse ainda não foi atingida e,
porque é um meio pouco eficaz. Através desta acção, não fica assegurada a efectiva
abstenção de terceiro uma vez que, de acordo com o a. 1276º, a procedência deste
pedido gera apenas a aplicação de uma multa e indemnização pelos prejuízos
causados, não sendo por conseguinte dissuasor de terceiros que pretenda levar a efeito
o seu contento.
Por ex., A odeia B e ameaça-o verbalmente que em breve invadirá a sua casa e a fará
sua.
Este meio é activado quando o possuidor tenha «justo receio» de ser esbulhado 3. O
pressuposto de facto desta acção é a ameaça.
A finalidade desta acção, é a de que seja intimado o autor de ameaça, de se abster de
fazer agravo ao exercício da posse, sob pena de multa ou indemnização pelo prejuízo
que causar. Apenas o possuidor tem legitimidade para intentar esta acção (a. 1276.º).
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b) Acção de manutenção da posse (a. 1278.º)
Pode recorrer-se a este meio, se houver perturbação da posse, sem que contudo, chegar
a haver esbulho.
A finalidade desta acção é a de manter a posse e a de condenar o réu a não perturbá-la.
É pressuposto desta acção a perturbação, ou seja, qualquer acto material de terceiro
que, sem privar o possuidor da sua posse, afecte o seu normal e pleno
3
De acordo com a doutrina dominante é necessário tratar-se de um receio
consistente e não vago.
exercício, reduzindo o gozo da coisa possuída e, independentemente de lhe causar
dano. Exemplos: A, todos os dias passa com o carro pelo terreno de B, sem o seu
consentimento. A estende a roupa no terraço de B, por ser mais soalheiro.
A acção de indemnização não pode ser intentada a todo o tempo, pois caduca no prazo
de um ano, a contar do acto de perturbação, se esta for pública.
Se tiver sido praticada de forma oculta, o prazo só começa a contar, quando o
perturbado dela tenha conhecimento (a. 1282.º). O tempo enquanto existiu a
perturbação não prejudica a contagem do tempo da posse, pois tudo se passa como se
não tivesse havido perturbação (a. 1283.º).
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Tem ainda o perturbado direito a ser indemnizado de todos os danos que a perturbação
lhe tenha causado (a. 1284.º, n.º1). É importante notar que o possuidor só poderá
manter a sua posse contra quem não tiver melhor posse (a. 1278.º, n.º1 e 3).
A ofensa à posse pode não se limitar a meros actos turbativos e assumir contornos
mais graves. Esta acção está reservada para os casos em que tenha havido esbulho,
independentemente de este ser violento ou não (a. 1279.º).
Se o esbulho foi violento, o possuidor pode, com dependência da acção principal de
restituição, intentar providência cautelar com vista à restituição provisória, sem
audição prévia do esbulhador (a. 1279.º).
d) Embargos de terceiro
2. DIREITO DE PROPRIEDADE
2. 1. Noção legal
O nosso Código Civil não fornece uma definição de direito de propriedade, porém o a.
1305.º enumera alguns poderes que integram o conteúdo do direito de propriedade.
Refira-se que o direito de propriedade não se esgota nos poderes enumerados no a.
1305.º do C. C., pelo que, se conclui, que tal enumeração é meramente
exemplificativa.
O direito de propriedade, permite todos os poderes susceptíveis de se referirem a uma
coisa, incluindo o poder de destruí-la, desde que, não colidam com os limites impostos
pela lei, limitações essas que podem ser de direito público ou de direito privado.
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Entre as restrições de direito público refira-se desde logo, a possibilidade de
expropriação para utilidade pública (a. 1308º) mas, existem também limitações ao
direito de construir por motivos ambientais, de higiene, estéticos, etc.
As restrições de direito privado são as que resultam das relações de vizinhança. A
generalidade destas restrições, encontram-se previstas e reguladas, no capítulo relativo
à propriedade de imóveis, que estudaremos mais adiante.
De acordo com o a. 1305.º, o proprietário tem poderes de usar, fruir e dispor, de modo
pleno e exclusivo. Isto não significa que, o direito de propriedade seja o único direito
real, em cujo conteúdo se incluam tais poderes, de modo geral, todos os direitos reais
de gozo permitem «usar e fruir» dentro dos limites fixados na lei para cada um deles,
ou seja, qualquer direito real de gozo implica os poderes de usar e fruir, porém a
amplitude destes poderes é definido por cada um deles de acordo com o especificado
pela lei.
No que diz respeito à propriedade, os poderes de usar e fruir são plenos, no sentido de
que, permitem ao seu titular, retirar do objecto de que é proprietário, tudo aquilo que
ele é susceptível de dar.
Além dos poderes de usar e fruir, o titular do direito de propriedade tem o poder de
disposição, que compreende quer o poder de praticar actos jurídicos de alienação ou
oneração da coisa, quer o de realizar actos materiais de transformação, incluindo o de
poder destruir o objecto do seu direito.
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Além das restrições e limitações impostas pela lei, que são as mais comuns, o direito
de propriedade também sofre restrições e limitações resultantes de cláusulas gerais,
como é o caso, p. ex. do abuso de direito.
2. 5. Modalidades de propriedade
a) Ocupação
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A ocupação dá-se pela apreensão material de coisas móveis sem dono, isto é, consiste
na apropriação ou, tomada de posse, de uma coisa móvel, sobre a qual não recaiam
quaisquer direitos. O a. 1318.º do C.C. não nos dá uma noção de ocupação, limitando-
se a enumerar as coisas susceptíveis de ocupação.
Desta forma podemos enumerar: a res nullius, coisas que nunca tiveram dono, dando
direito à aquisição imediata do direito de propriedade; as coisas abandonadas, que
consiste na extinção do direito de propriedade, por uma declaração de vontade, do seu
anterior proprietário (res perelictae); as coisas perdidas (sem intenção de
desprendimento) ou escondidas pelo anterior proprietário (tesouros enterrados), que
não são propriamente uma res nullius, na medida em que, o direito de propriedade
sobre elas, não se extingue; os animais (cfr. aa.1319.º e 1322.º).
A formulação do a. 1318.º merece uma crítica, uma vez que estende a ocupação às
coisas perdidas ou escondidas pelos seus donos. Nos casos referidos nos aa. 1314.º a
1322.º, estamos perante uma situação de verdadeira ocupação, o mesmo não sucede
quanto ao achamento de coisas perdidas (a. 1323.º) ou de tesouros (a. 1324.º).
A aquisição da propriedade sobre coisas e animais que nunca tiveram dono ou que
foram abandonadas, opera-se no próprio momento da ocupação, sem haver
necessidade de se invocar o reconhecimento desse direito.
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Assim, só podem ser ocupadas coisas abandonadas, perdidas ou escondidas, que nunca
tiveram dono. Essas coisas têm forçosamente que ser coisas no comércio, já que as
coisas fora do comércio, não são reguladas no Direito Privado (cfr. a.202.º).
O elemento formal: é a própria tomada de posse com a intenção de «querer para si a
coisa». O momento da aquisição é o momento a que se refere o a. 1317.º, al. d), isto é,
o momento que, no caso da ocupação, é o momento de tomada de posse (cfr. aa.
1319.º a 1324.º).
b) Acessão
A acessão dá-se quando a coisa que é propriedade de alguém, se una e incorpora outra
coisa, que não lhe pertencia (cfr. a. 1325.º).
Existem duas espécies de acessão, a acessão natural que, consiste em atribuir ao dono
de uma coisa (p. ex. um prédio), tudo quanto, por acção de forças naturais, a ela
acrescer (a. 1326.º). A união ou incorporação de uma coisa noutra coisa, pertencente a
outrem, é feita unicamente pelas forças da natureza.
Ainda, como acessão natural, distingui-se a acessão por aluvião (a. 1328.º) e por
avulsão (a. 1329.º). A diferença entre estas duas formas de acessão reside no facto de
na acessão por aluvião, a união ou incorporação, é feita de modo lento e imperceptível,
enquanto que na acessão por avulsão é feita de modo violento e brusco.
A aluvião é uma aquisição que se opera imediatamente e automaticamente,
independentemente da vontade do adquirente. A avulsão é uma aquisição diferida,
embora automática.
O proprietário da coisa que, por alvulsão, for levada para prédio alheio, tem um prazo
(legal) para as recolher, caso o não faça, perderá a favor do dono do prédio, onde a
coisa se depositou.
Os aa. 1330.º e 1331.º do C.C. referem-se, também, a outras duas espécies de acessão
natural, que é a mudança de leito e a formação de ilhas ou mouchões (terreno
arborizado nas Lezírias ou, ilhota que se forma no meio de um rio ou à beira do mar).
Entende a maioria da doutrina, estas não serem, verdadeiras formas de acessão natural,
uma vez que não se verifica qualquer união ou incorporação, característica essencial
da acessão.
A acessão industrial pode ser mobiliária (união ou incorporação de coisa móvel a coisa
móvel) e imobiliária (união ou incorporação de coisa imóvel a coisa imóvel)
Artigo 1334.º:
Se o adjuntor ou incorporante estiver de má-fé e, a coisa alheia puder ser separada,
esta será restituída ao seu dono e, este indemnizado com os danos que sofreu com a
acessão. Se a coisa não puder ser separada, o autor da união ou confusão, deve restituir
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o valor da coisa e, indemnizar o seu dono. Mas, a lei dá também oportunidade ao dono
da coisa incorporada, de este, ficar com as duas e pagar ao dono adjuntor ou, da coisa
incorporante, o valor que for calculado pelas regras do enriquecimento sem causa.
A boa-fé ou a má-fé, do autor da união ou confusão, deve ser avaliada segundo os
critérios do a. 1260.º, n.º 1.
Artigo 1335.º:
Verifica-se uma situação de confusão ou adjunção casual e de as coisas não se
poderem separar.
Neste caso, a coisa fica pertencendo ao dono da mais valiosa, que pagará o justo valor
da outra. Se este não quiser, assiste o mesmo direito ao dono da menos valiosa. Caso
as partes não se usarem deste direito, aplica-se o disposto no n.º 2 deste artigo. Se as
coisas unidas tiverem igual valor, aplica-se o disposto no a. 1333.º, n.º 2 e 3.
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O nosso código regula diferentes espécies de acessão imobiliária:
- obras, sementeiras ou plantações feitas pelo dono do terreno, sendo as sementes e as
plantas de outrem (cfr. a. 1339.º);
- obras feitas com materiais próprios, em terreno alheio (a.1340.º);
- obras feitas em terreno alheio com materiais alheios (a. 1342.º) e,
- parcela de terreno alheio ocupada de boa-fé, por prolongamento de edifício
construído em terreno alheio (a. 1343.º)
De acordo com o a. 1317.º, al. d) a aquisição da propriedade por acessão tem lugar no
momento da verificação do respectivo facto, é o mesmo que dizer, que a acessão opera
automaticamente, no sentido de, a aquisição do direito de propriedade, ter lugar ipso
facto e, imediatamente, verificado o correspondente facto.
Conforme foi dito, o direito de propriedade não se extingue pelo não uso (cfr. a. 298.º)
O não uso é uma causa de extinção de direitos reais como consequência do seu não
exercício prolongado e, só opera nos casos especialmente regulados na lei.
Assim, ao contrário do que acontece com o direito de superfície (a. 1536.º, n.º 1, al. b)
e e); nas servidões (a. 1569.º, n.º 1, al. b) e, no usufruto (a. 1476.º, n.º 1) não existe
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nenhuma disposição que, em geral, submeta o direito de propriedade à extinção pelo
não uso.
Resulta assim, que o direito de propriedade é insensível às omissões de exercício da
parte do seu titular, por mais prolongadas que sejam.
Porém, a referência que o a. 298.º faz à propriedade não é totalmente irrelevante, uma
vez que, tal preceito existe no domínio do direito de propriedade das águas (cfr. a.
1397.º).
Relativamente à ideia da extinção do direito de propriedade, por vontade do seu titular,
a mesma, não é isenta de dúvidas.
Existem, autores que entendem que, face à renúncia não se extingue o direito de
propriedade sobre imóveis, uma vez que, tal direito, passa a pertencer à esfera jurídica
do Estado (cfr. a. 1345.º).
Esta aquisição do estado, não é uma aquisição originária, nem uma aquisição que
dependa da vontade das partes, é uma aquisição por força da lei e, como tal, opera
automaticamente.
O regime estabelecido nos aa. 1311.º a 1314.º para além de admitir o recurso à acção
directa, limita-se a referir alguns aspectos da chamada acção de reivindicação.
a) acção de reivindicação
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Quanto à legitimidade activa, é ao proprietário esbulhado que cabe intentar a acção
contra qualquer possuidor ou detentor da coisa (legitimidade passiva),
independentemente da sua boa-fé ou má-fé.
Esta acção é uma acção de duplo pedido — o proprietário esbulhado, pede ao juiz que,
reconheça o direito de propriedade a seu favor, mediante prova desse mesmo direito
(1.ª parte do a. 1311.º).
Uma vez reconhecido o direito de propriedade a favor do requerente, pede-se a
condenação do réu, na entrega da coisa, na sua restituição (2.ª parte do a. 1311.º).
Quando o primeiro pedido (reconhecimento do direito de propriedade) requerido
judicialmente é procedente, não significa forçosamente, que o segundo (restituição da
coisa esbulhada), o seja. A recusa da restituição da coisa, demonstrada a titularidade
do direito de propriedade, só pode justificar-se se, o possuidor ou detentor, for titular
de algum direito real ou pessoal sobra a coisa, oponível ao reivindicante (cfr. a. 1311,
n.º 2 do C.C. Casos especiais: aa 754.º; 1323.º, n.º 4 do C.C. e 929.º do C.P.C.).
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possuidor tiver a posse da coisa há menos de um ano, só poderá intentar esta acção,
contra quem não tiver melhor posse (a. 1278.º, n.º 2 e 3).
A acção de reivindicação, de que dispõe o proprietário ou, o titular de outro direito
real, serve para exigir do possuidor ou detentor da coisa, o reconhecimento do seu
direito e a respectiva restituição da coisa de que foi privado. Esta acção é
imprescritível e, pode ser intentada, contra qualquer possuidor ou detentor.
A situação de comunhão pode existir relativamente aos vários direitos reais, mas
quando surge, a propósito do direito de propriedade, denomina-se compropriedade.
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Admite-se, no entanto, a hipótese de um ou mais comproprietários, se eximirem das
despesas decorrentes da conservação da coisa comum, desde que renunciem ao seu
direito. (cfr. a. 1411.º, n.º 1, 2.ª parte e n.º 3).
Também a lei pode, em certos casos, operar como fonte directa de constituição da
compropriedade. Assim, p. ex., em caso de achamento de tesouro, a coisa móvel
achada, fica a pertencer ao achador e, ao proprietário da coisa móvel ou imóvel, onde
ela estava escondida ou enterrada, na proporção de metade para cada um (a. 1324.º, n.º
1). Registe-se ainda, os casos em que, a compropriedade assenta em presunções,
legalmente estabelecidas, como ocorre com paredes ou muros divisórios entre
edifícios ou, com muros entre prédios rústicos ou, entre pátios e quintas de prédios
urbanos, tudo nos termos do a. 1371.º.
A lei atribui aos comproprietários legitimidade para exercerem, cada um por si, certas
faculdades que, integram o conteúdo do direito de propriedade. As mais relevantes
respeitam, ao uso da coisa (a. 1406.º), à disposição e oneração da quota (a. 1408.º) e à
reivindicação da coisa comum (a. 1405.º, n.º 2).
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O direito legal de preferência ocupa o primeiro lugar, no conjunto das preferências
legais. Assim, se o comproprietário pretende, alienar a título oneroso, a sua quota a
terceiro, deve dar a conhecer aos seus consortes, o projecto de alienação e as
condições do negócio em causa.
Sublinhe-se mais uma vez, que o direito de preferência limita-se à compra e venda e à
dação em cumprimento da quota.
Caso sejam, dois ou mais comproprietários preferentes, estabelece o a. 1409, n.º 3 que,
será adjudicada a quota alienada a todos eles, na proporção das suas quotas.
Se o direito legal de preferência for violado, tem o preferente, o direito de fazer sua, a
quota alienada, em acção judicial, proposta contra quem seja parte no acto de
alienação, no prazo de 6 meses, contados da data em que tomou conhecimento dos
elementos essenciais de alienação. Ainda, o preferente terá que depositar o preço nos
15 dias subsequentes à propositura da acção, de acordo com a redacção dada pelo D/L
n.º 68/96, de 31 de Maio, do a. 1410.º, n.º 1.
Como já se referiu, por acordo entre todos os condóminos, podem os consortes exercer
todas as faculdades que integram os seus direitos de propriedade.
São poderes de necessário exercício unânime, os de disposição e de oneração de coisa
comum ou de parte específica dele.
Quanto à validade dos actos de disposição ou de oneração praticados por algum dos
consortes, em violação da norma, contida no n.º 1 (2ª. parte) do a. 1408.º, e no n.º 2 do
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mesmo artigo, resulta que, tais actos são havidos como de disposição ou, de oneração
de coisa alheia.
Assim, se um comproprietário, sem consentimento dos restantes, alienar parte
específica de coisa comum, ou toda ela, como alheia, estabelece o a. 893.º valer o acto
como venda de coisa futura, com eficácia obrigacional, nos termos do a. 408., n.º 2.
Porém se, o comproprietário proceder à venda, como se de coisa própria se tratasse,
prevê a 1.ª parte do a. 892.º, a nulidade do acto, por falta de legitimidade do alienante.
Esta nulidade é restrita às relações entre as partes, pois no que concerne aos restantes
proprietários, a alienação é ineficaz.
Por fim, refira-se que os actos de administração das partes comuns podem ser
ordinários, e estes são os actos praticados para prover à conservação dos bens e
extraordinários, que promovem a realização de benfeitorias ou melhoramentos no
prédio.
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2.10. PROPRIEDADE HORIZONTAL
2.10.1. Noção legal
A afectação de, uma parte comum, ao uso exclusivo de um condómino, pode constar
do próprio titulo constitutivo (a. 1421.º, n.º 3) ou, pode ser, posteriormente, deliberada
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por unanimidade dos condóminos, alterando-se assim, o título constitutivo (a. 1419.º,
n.º 1).
Por usucapião
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A propriedade horizontal pode também ser constituída por usucapião, que pressupõe a
existência de uma situação de posse.
Por decisão judicial
Como resulta do a. 1417º. A propriedade horizontal pode ser constituída por várias
formas, entre elas, por decisão judicial proferida em acção de divisão da coisa comum
ou, em processo de inventário, desde que, seja requerida a constituição da propriedade
horizontal.
Qualquer consorte pode requerer a constituição da propriedade horizontal desde que se
verifiquem os requisitos do a. 1415º.
Exemplo: A. e B. são co-herdeiros de um prédio, em que cada um deles tem direito a
uma quota ideal do prédio. A., pode intentar uma acção de divisão de coisa comum e
requer a constituição da propriedade horizontal, sendo que a sentença proferida é
constitutiva do regime de propriedade horizontal desse mesmo prédio, tal como é
definida no a. 1414º.
Acrescenta o a. 1424.º, n.º 1 que, estas despesas serão pagas pelos condóminos, na
proporção do valor atribuído às suas fracções, no título constitutivo. E, o n.º 2 da
mesma disposição legal estabelece, a possibilidade do pagamento dos serviços de
interesse comum, serem pagos em partes iguais, pelos condóminos ou, em proporção à
respectiva fruição.
As despesas relativas aos lanços de escadas ou, às partes comuns do prédio que,
sirvam exclusivamente alguns dos condóminos, ficam a cargo destes (cfr. a. 1424.º, n.º
3) — o mesmo espírito legislativo se estende aos condóminos que se sirvam dos
elevadores. As despesas, relativas ao uso destes, são suportadas pelos condóminos, a
cujas fracções os elevadores servem (cfr. a. 1424.º, n.º 4).
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Só a assembleia, que se realiza todas as primeiras quinzenas de Janeiro de cada ano, é
ordinária; reunida essencialmente para discutir e aprovar as contas do ano anterior e,
eleger novo administrador (cfr. a. 1431.º, n.º 1 e 1435.º). Todas as outras são
extraordinárias.
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- há deliberações que são tomadas por unanimidade dos condóminos presentes como é
o caso de se pretender modificar o título constitutivo, cfr. a. 1419.º,
- para deliberar sobre obras que constituem inovações ou melhoramentos para o prédio
é necessária um quorum representativo de 2/3 do valor total do edifício;
Por inovações entende-se as alterações introduzidas na substância ou forma das partes
comuns de um edifício em propriedade horizontal. De entre as obras mais frequentes
destacam-se, a instalação de elevador, o alargamento da porta de entrada, a
transformação de uma garagem em lojas, a instalação de ar condicionado etc.
A invalidade de uma deliberação não afecta tudo o mais que, então, se tenha
deliberado.
De acordo com o a. 1437.º é ao administrador que compete estar em juízo, quer como
autor quer como réu, nas acções respeitantes às partes comuns do edifício.
De acordo com o a. 6º al. e) do C.P.C., o condomínio tem personalidade judiciária,
caso se trate de acção que se insira no âmbito dos poderes do administrador. Assim,
para que esteja assegurada a legitimidade passiva basta intentar a competente acção
contra o condomínio, que será, contudo, citado e notificado na pessoa do seu
representante, ou seja, o administrador.
d) Regulamento do Condomínio
Havendo mais de quatro condóminos, e caso não faça parte do título constitutivo,
dever ser elaborado um regulamento de condomínio disciplinado o uso, a fruição e a
conservação das partes comuns. Dever ser elaborado pela assembleia de condóminos,
ou pelo administrador, se aquela o não tiver elaborado. Cfr. a. 1429-A.º.
3. USUFRUTO
3. 1. Noção legal
A plenitude de gozo (a. 1446.º), é outra das características do usufruto e que faculta ao
titular do usufruto, um gozo da coisa bastante amplo. Assim, o usufrutuário pode gozar
de todas as utilidades de que a coisa é susceptível de proporcionar. O a. 1446.º dá-nos
uma ideia desta amplitude, definindo os poderes que integram o direito do
usufrutuário: “O usufrutuário pode usar, fruir e administrar a coisa ou o direito (...)”.
No entanto, esta norma legal, é supletiva em relação à existência de um título
constitutivo que, fundamente o usufruto.
Mas, esta plenitude de gozo, não é arbitrária, o usufrutuário tem que gozar da coisa,
mas, acrescenta a mesma disposição legal, “(...) como faria um bom pai de família
(...)”. É caso para perguntar: pode o usufrutuário destruir a coisa gozada, como por
exemplo o pode fazer o proprietário? A resposta é necessariamente negativa, porque o
usufrutuário tem que agir diligentemente, enquanto que o proprietário usa e frui a
coisa com total liberdade, podendo até destruí-la.
Também temos que excluir desta plenitude de gozo, o direito de dispor da coisa, mas
mesmo aqui, o usufrutuário pode dispor do seu direito de usufruto, como mais à frente
se verá. Por outro lado, convém não esquecer que o usufruto não é um direito
exclusivo, pois pressupõe sempre a existência de outro direito ¾ a propriedade de raiz.
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Também se pode constituir por usucapião, aplicando-se as regras da aquisição de um
direito por usucapião, tendo como pressuposto a posse da coisa.
A disposição legal é, outra das modalidades, de constituição de usufruto que, melhor
se entende, ilustrada com exemplos. O primeiro exemplo é fornecido pelo a. 1481.º
“seguro da coisa destruída”: B é usufrutuário de um automóvel. Tem um acidente e o
carro fica destruído, sem culpa de B.. B. paga um seguro do automóvel contra todos os
riscos. Neste caso, o proprietário terá direito a uma indemnização, mas é o
usufrutuário quem vai recebê-la.
O direito do usufrutuário deixa de ser um direito real, ou seja, um direito sobre a coisa,
para passar a ser um direito sobre um crédito, neste caso, a indemnização que, a
seguradora vai pagar ao proprietário do veículo usufruído. Esta disposição legal cria
este novo usufruto, no fundo transfere-o.
Outro exemplo, é aquele que consta do a. 1482.º sobre o mau uso da coisa usufruída.
Caso o usufrutuário dê um mau uso à coisa usufruída, o proprietário pode exigir que, a
coisa lhe seja entregue, mas tem que pagar ao usufrutuário, anualmente o produto
líquido dela. O usufrutuário não deixa de ser o usufrutuário, mas agora, o seu direito
de usufruto é, sobre a prestação, por força da própria lei.
3. 4 Modalidades de usufruto
O direito de usufruto pode ser singular, quando seja constituído a favor de uma só
pessoa; plural, quando constituído a favor de duas ou mais pessoas.
A lei (a. 1441.º) estabelece como única restrição, a existência dos usufrutuários ao
tempo em que, o direito do primeiro usufrutuário, se torne efectivo. O mesmo é dizer
que, os concepturos e os nascituros não podem ser usufrutuários. O usufruto, a favor
de vários titulares, pode ser constituído a todos ao mesmo tempo, e chamamos a este
facto, usufruto simultâneo, ou sucessivo. A importância desta modalidade de usufruto,
quanto os titulares do mesmo, é a de saber que, consequências daí derivam, quanto à
duração do usufruto.
Assim, no usufruto simultâneo, há uma situação de contitularidade. Neste caso, o
usufruto extingue-se com a morte do último usufrutuário (a. 1442.º), se não tiver sido
estabelecido um prazo certo de duração do usufruto. Este regime implica também um
direito de acrescer entre os titulares do usufruto.
No sucessivo, os titulares entram na titularidade do usufruto, segundo a ordem
indicada no título e, após ter cessado o direito do anterior usufrutuário. A extinção, dá-
se também, com a morte do último dos titulares do direito de usufruto, ou da
verificação do seu termo.
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Quanto ao objecto do usufruto, este reveste duas modalidades: usufruto de coisa e
usufruto de direito. O usufruto recaí sempre num bem alheio, seja uma coisa, seja um
direito.
Como não há direitos sem deveres, o Código Civil dedicou os artigos 1468.º a 1475.º
aos deveres do usufrutuário, como o dever de inventário; de prestar caução; a consentir
a intervenção do proprietário; reparações; encargos fiscais e defesa dos interesses do
proprietário.
Além destes deveres particularizados na lei, o usufrutuário deve ser zeloso para com o
seu usufruto, “agir como um bom pai de família”, conforme resulta do a. 1446.º e,
extinto o usufruto, restituir a coisa usufruída.
Tanto o trespasse, como a hipoteca, podem ser poderes de disposição afastados pelas
partes, no título constitutivo, sendo poderes que, pela sua natureza, são atípicos do
usufruto.
Os aa. 1463.º e 1467.º levantam a questão de o usufruto de créditos ter natureza real ou
obrigacional.
Para além dos casos de não uso e, de perda total da coisa usufruída, o usufruto
extingue-se por morte do usufrutuário, caso seja, pessoa singular ou, também, se tiver
sido aposto no título constitutivo, um termo de duração do usufruto ou, no caso de
pessoas colectivas, o prazo de 30 anos; por confusão e por renúncia do usufrutuário.
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4. DIREITO DE USO E HABITAÇÃO
4. 1. Noção legal
O direito de uso e habitação vem, regulado nos aa. 1484.º a 1490.º do nosso Código
Civil, num capítulo que faz parte integrante, do título do usufruto.
Conforme se extrai pela leitura das diversas disposições referentes ao direito de uso e
habitação, este direito real de gozo é muito limitado às necessidades do seu titular ou,
da sua família. É preciso não confundir, a figura do locatário ou, do arrendatário com a
do usuário ou, do morador usuário, pois neste caso não há transmissibilidade do direito
inter vivos ou mortis causa (cfr. aa.1485.º e 1488.º).
4. 2. Modo de aquisição
4. 3. Âmbito
Como se pode constatar, pela definição legal, estes direitos não são direitos reais de
gozo pleno, pois estão circunscritos às necessidades do seu titular ou da sua família.
(Cfr. a. 1484.º e a. 1487.º).
4. 4. Extinção do direito de uso e habitação
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Nesta matéria, remetemos para o ponto 3. 8., a propósito do usufruto (cfr. a. 1485.º).
Entende-se, no entanto, com base na definição do a. 1484.º que, não tendo o seu titular
ou, a sua família necessidade de exercer o direito de uso e habitação, este extinguir-se-
à, pois a sua finalidade é servir o seu titular na medida das suas necessidades.
5. DIREITO DE SUPERFÍCIE
5. 1. Noção legal
O direito de superfície é um direito real, que permite ter coisa própria, incorporada em
terreno alheio (cfr. a. 1524.º).
O titular do direito de superfície, diz-se superficiário e, o titular do direito sobre o solo,
diz-se fundeiro.
O direito de superfície vem permitir uma separação de domínios entre, uma superfície
e, o que nela se implante.
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Este direito, criado em 1948, pelo Dec.-Lei, n.º 2030, de 23 de Julho, constitui uma
excepção ao princípio romano, segundo o qual: “o proprietário de uma determinada
superfície, seria também, o proprietário, de tudo quanto nela se construísse, tanto em
altura, como em largur”.
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O direito de superfície pode começar por ser um direito de construir ou plantar ou, um
direito sobre a obra ou plantação já existentes. Neste último caso, o objecto do direito
superficiário só pode ser essa obra ou plantação. Tanto assim é, que superficiário é o
titular de um direito de propriedade superficiário sobre a obra ou plantação.
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5. 8. Canon superficiário
O direito de superfície é transmissível quer, inter vivos quer, mortis causa, nos termos
do a.1534.º
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A lei (cfr. a. 1543.º) define a servidão como um encargo imposto num prédio em
proveito exclusivo de outro prédio pertencente a dono diferente.
O legislador optou por definir a servidão pela negativa, ou seja, como um encargo, o
que realça a importância fundamental desta oneração prédio a prédio. Além do
encargo ou oneração, é necessário que os dois prédios pertençam a donos diferentes.
Se pertencerem aos mesmo dono, estamos perante uma serventia.
Refira-se ainda que a servidão é um direito real sobre coisa alheia.
Ligação objectiva que resulta do facto de a ligação ser entre prédios e, não entre
pessoas A subjectividade que existe na servidão é sempre indirecta, ou seja, não são
as pessoas as primeiras beneficiárias.
A servidão importa sempre uma obrigação de nada fazer por parte do dono do
prédio serviente. As servidões são todas de não faccere, ou seja, o conteúdo da
servidão, não pode incluir a prática de actos, que tenham em vista preencher as
utilidades que a servidão visa satisfazer.
legais ou voluntárias.
As servidões voluntárias são aquelas que são constituídas por negócio jurídico ou acto
voluntário. Esta desta distinção, tem consequências importantes, no que diz respeito, à
extinção das servidões. A servidão legal extingue-se por todos os modos de extinção
da servidão voluntária (a. 1569.º) e, para além destes, extingue-se pela desnecessidade.
positivas ou negativas.
A servidão positiva constitui um pati (uma tolerância) para o dono do prédio serviente;
enquanto que, a servidão negativa constitui um non facere, uma abstenção do poder de
actuação, por parte do dono do prédio serviente.
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Pode-se também, considerar positivas, as servidões, cujo conteúdo implique a prática
de actos materiais no prédio serviente, como a passagem e as águas; e a servidão
negativa, aquela, cujo conteúdo, não importa a prática de actos no prédio serviente, p.
ex. a servidão de vistas.
A distinção destas características, reflecte-se na usucapião, de onde se conclui, que a
servidão negativa não pode constituir-se por aquele.
As servidões aparentes são as que se revelam, por sinais evidentes (cfr. a. 1548.º),
como p. ex. a servidão de vistas, que se revela mediante, a existência de janela aberta
sobre prédio vizinho, sem as salvaguardas legais; as servidões não aparentes são as
que não se revelam, por sinais visíveis e permanentes.
A servidão não aparente não se pode constituir por usucapião
activas e passivas.
O exercício da servidão está relacionado com o seu conteúdo. Quer isto dizer, que a
servidão é constituída para satisfazer as necessidades do prédio dominante e, acarretar
para o prédio serviente, o mínimo de prejuízo ou encargos.
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As servidões legais de águas, para gastos domésticos ou, para fins agrícolas
extinguem-se, no caso de, o prédio serviente pretender fazer da água um
aproveitamento justificado (cfr. a. 1569.º, n.º 4).
•Usucapio libertatis identifica uma das causas de extinção das servidões e, quer dizer:
«aquisição, por usucapião, da liberdade do prédio» (cfr. a. 1569, n.º 1, al. c) e 1574.º).
Na verdade, não se verifica a aquisição de qualquer direito, mas sim a extensão de um
direito, com a consequente expansão do conteúdo de outro direito, antes limitado e,
agora, extinto.
Os requisitos da usucapio libertatis são: a oposição do dono do prédio serviente; a
inércia do titular da servidão e, o decurso do tempo (a. 1574.º). Estes três elementos
funcionam juntos, ou seja, não se pode verificar um só dos requisitos, para estarmos
perante esta forma de extinção das servidões, é necessário que se reunam os três
requisitos.
Quanto ao prazo, ou seja, o decurso do tempo, aplicam-se subsidiariamente, as regras
da usucapião, em matéria de imóveis.
BIBLIOGRAFIA
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Moreira e Carlos Fraga), Coimbra, Almedina, 1975;
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António Menezes Cordeiro – DIREITOS REAIS, Lisboa, Lex, 1993;
Penha Gonçalves – DIREITOS REAIS, 2ª edição, Lisboa, 1993;
Luís A. Carvalho Fernandes – LIÇÕES DE DIREITOS REAIS, 3ª edição, Lisboa,
Quid Juris?, 2000;
Pires de Lima e Antunes Varela, Código Civil Anotado, vol. III, 2ª. ed. revista e
actualizada, Lisboa, 1987;
Ana Prata, Dicionário Jurídico, Coimbra, 1990;
Abílio Neto, Código Civil Anotado, Lisboa, 2003.
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