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As raízes míticas da
família e cultura
Jorge Luiz de Oliveira Braga
Teogonia, Cultura e História – O surgimento do deuses – Pág. 2
1
NEUMANN, Erich. História da Origem da Consciência. São Paulo:Cultrix,1990.
2
NEUMANN, Erich. A grande mãe – Um estudo fenomenológico da constituição feminina do inconsciente.São
Paulo:Cultrix, 1995
3
NEUMANN, Erich. A Criança Estrutura e dinâmica da personalidade em desenvolvimento desde a sua
formação.São Paulo:Cultrix, 1991
4
BACHOFEN, J. J. Mith, religion and mother right. New York: Princeton, 1991.
Do feminino à totalidade
Preservar a
Natureza Humana Matriarcal
Vida
Criar Cultura Espírito Humano Patriarcal
Encontrar o Busca da
outro complementação
Alteridade
Encontrar o
Si-mesmo
Busca da Alma Transcendência
Processo de individuação
Arquétipos e Inconsciente
Humanidade
Coletivo
Padrões culturais ligados e
Cultura
sujeitos ao Zeitgeist
Padrões familiares sujeitos à
Família
história do Estado e Nação
História pessoal e
Indivíduo
singularidade pessoal
O Argumento
Não há nenhuma intenção dramática ou enredo, e sim um plano expositivo.
Hesíodo descreve a criação do mundo e a seguir relaciona, cronologicamente,
cada uma das gerações divinas. O argumento gira em torno de três temas
básicos:
1. a criação do mundo;
2. genealogia das gerações divinas;
3. a ascensão de Zeus ao poder.
Resumo do poema
O poema tem 1022 versos e ocupa 39 páginas da edição de Evelyn-White
(1920), na qual se baseia este resumo. O narrador é o próprio poeta.
Após uma invocação às Musas, Hesíodo relata como as deusas inspiraram
seu canto ao cuidar de ovelhas perto do Monte Hélicon (1-35); a origem das
Musas, filhas de Zeus, é também contada (36-115).
Segue-se a origem dos primeiros deuses, que personificavam os elementos
primordiais do Universo (116-153): Caos, o vazio primitivo; Gaia, a terra;
Tártaros, a escuridão primeva; Eros, a atração amorosa. Os descendentes
imediatos são também relacionados: Hemêra, o dia; Nix, a noite; Urano, o céu;
Ponto, a água primordial. Os mais notáveis descendentes de Uranos e Gaia
foram os titãs, como Crono, Oceano, a água doce, Jápetos e o gigantesco Ceos;
as titânides, como Têmis, a lei, e Mnemósine, a memória; os ciclopes, que
tinham um único olho; e os hecatônquiros, gigantes com cem braços e cinqüenta
cabeças.
Depois, o poeta descreve como Crono assumiu o poder (154-200) e
inadvertidamente deu origem a Afrodite, deusa do amor sensual; relaciona os
descendentes de Nix, entre eles Tânato, a morte, Hipno, o sono, e Oneiro, o
sonho (211-232); os descendentes de Ponto (233-336), entre eles Nereu, o mais
antigo deus do mar e pai das nereidas e Fórcis, progenitor de monstros como as
Górgonas, Equidna, com tronco de mulher e cauda de serpente, e a Esfinge; os
descendentes de Oceanos (337-403), entre eles os rios e fontes, as ninfas da terra
firme, os ventos, Métis, a sabedoria, e Hélio, o sol; os descendentes de Ceos
(404-452), especialmente Hécate, a dádiva.
A história de Zeus, filho de Crono, e como conseguiu destronar o pai é
contada nos versos 453-506. A lenda de Prometeu, filho de Jápeto, e a criação
da primeira mulher são relatadas nos versos 507-616. Nos versos 617-721 é
descrita a titanomaquia, luta entre Zeus e os titãs pelo domínio do mundo.
Auxiliado entre outros por seus irmãos Hades e Posídon, pelos ciclopes e pelos
hecatônquiros, Zeus vence os titãs e prende-os no Tártaros, descrito juntamente
com o mundo subterrâneo nos versos 722-819. Vencidos os titãs, Zeus teve
ainda de enfrentar e vencer o monstruoso Tífon, filho de Gaia e Tártaro (820-
880), mas logo depois consegue se tornar o soberano supremo dos deuses.
Algumas de suas aventuras com deusas e mortais são descritas nos versos 881-
964, e notável é a lenda da filha de Zeus e Métis, Atena, que ao nascer saiu da
cabeça de Zeus. Nos versos 965-1020 são descritos os amores entre deusas e
mortais. Os dois últimos versos, 1021-1022, contêm uma nova invocação às
Musas e ligam a Teogonia a um poema autônomo perdido, o Catálogo das
Mulheres, do qual restam apenas alguns fragmentos.
Fontes
Numerosos manuscritos completos e diversos fragmentos significantes de
papiros chegaram até nós. Os mais antigos manuscritos são o Rylands 54, de
Edições
A edição princeps da Teogonia é a aldina, de 1495. As principais edicões
modernas são as de Gaisford (1814/1820), Koechly e Kinkel (1870), a de Rzach
(1902), a de Evelyn-White (1914) e a de Mazon (1928). A mais moderna e a
mais utilizada atualmente é a de Solmsen (1966). Aqui, foi utilizada a edição
revisada de Evelyn-White (o.c.).
A primeira tradução completa da Teogonia para o português é a de Torrano
(1981), recentemente reeditada (Iluminuras, 1991), seguida posteriormente pela
de Jabouille (1999).
De Caos a Crono
CAOS
____________________|_____________________
GÉIA ÉREBO EROS NIX TÁRTARO
GÉIA
_________________________
URANO PONTOS MONTES
GÉIA ~ URANO
_______________________|_____________________
Titãs Titânidas Ciclopes Hecatonquiros
CRONO ~ RÉIA
__________________________|_____________________
HÉSTIA HERA DEMÉTER HADES POSÍDON ZEUS
Depois de atingir a maturidade Zeus retorna para a luta final contra o pai e
obtém de PRUDÊNCIA um remédio que faz com que CRONO vomite
todos os seus filhos. ZEUS vence então todas as lutas e liberta os
prisioneiros da tirania de CRONO assumindo o lugar de PAI de todos os
homens e dos deuses.
A entronação de Zeus
A entronação de ZEUS como o senhor dos deuses e dos homens aliada à
vitória sobre a tirania de CRONO encerra o triunfo da ordenação mandálica do
kosmo sobre o caos criando as condições e possibilidade de estabelecimento de
uma nova ordem e um novo tempo. ZEUS inaugura um novo eon5 e constitui,
junto a POSIDON e HADES, a trindade divina que regerá as relações entre os
deuses e os homens.
Os conflitos Pai x Filho, ou seja Puer x Senex foram, na verdade,
representações simbólicas da dinâmica de aprimoramento do espírito humano,
ou seja, iniciações que tiveram por objetivo a renovação da vida e atualização do
Zeitgeist de uma época. A sutileza fundamental foi a participação do elemento
matriarcal representado por GÉIA e RÉIA que, a seu modo, participaram de
forma indireta em todas as ações realizadas pelos filhos caçulas, uma autêntica
imagem do puer. Ao contrário do mito de Édipo, onde a mãe Jocasta participa
passivamente do assassinato do filho permitindo a Laio que extermine o filho
recém-nascido, as mães desses heróis lhes forneceu as condições de
possibilidade de viver o rito iniciático da renovação do poder patriarcal.
ZEUS desposou METIS (Sabedoria, Prudência), mas quando estava grávida
foi avisado que essa teria uma filha e depois um filho que o destronaria como
fez com CRONO. O deus a engoliu a conselho de GEIA e de onde nasceu
ATENÁ das meninges do deus. A incorporação do elemento feminino faz de
ZEUS um elemento dotado de uma múltipla natureza que parece sugerir as
condições de alteridade.
A entronação de ZEUS cria não só os espaços definidos pela trindade como
o livre trânsito entre homens e deuses o que nos sugere um livre transito entre as
dimensões arquetípicas e culturais. Podemos até concluir que o caminho
arquetípico rumo à consciência, objetivamente, tem sua base na dimensão
matriarcal para, a partir do espírito humano, criar cultura e instituir-se como uma
criação essencialmente humana. Assim sendo mesmo sendo o mundo fenomenal
uma sombra ou réplica do mundo dos deuses será através da instituição que o
homem poderá criar seus mitos, ritos e símbolos culturais para poder conviver o
sagrado e o profano.
5
Eon significa época, era ou mesmo dinastia.