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Capítulo 3- Revisão Bibliográfica.

3.1- Por que elaborar uma Revisão Bibliográfica?

* O autor explica que muitos começam seu Projeto de Pesquisa com um capitulo dedicado a
“Revisão Bibliográfica”, da mesma forma que alguns colocam essa revisão no “Quadro
Teórico”, enquanto outros começam com uma Introdução em que está apresentada a Revisão
Bibliográfica para explicar que seu Projeto vai preencher lacunas vistas através dessa revisão
bibliográfica. O estabelecimento de uma Revisão Bibliográfica se dá por muitas vias, em que
interessa é que ela seja feita, uma vez que ninguém começa uma reflexão acadêmica de um
“ponto zero”, sendo a conduta mais comum o inicio de um trabalho ou reflexão cientifica a
partir de sucessos ou questionamentos já feitos em pesquisas anteriores.

*Mesmo que o recorte temático do autor seja inédito ou pioneiro, sempre vão existir aqueles
recortes próximos já estudados por outros autores que precisam ser levados em conta para que
se tenha um posicionamento ante ao problema. Com isso, uma Revisão Bibliográfica é
apresentar alguns “interlocutores” com os quais o pesquisador vai dialogar em termos
científicos e historiográficos. Além disso, a revisão de uma bibliografia de algum assunto
pode ajudar no sentido de achar as lacunas e “buracos” que o pesquisador pode trabalhar de
maneira inédita, assim como funciona para inspirar o delineamento de um recorte temático
inédito, e quando se faz uma revisão da bibliografia munido de uma postura critica,
retificações, objeções, recolocações do problema podem aparecer.

3.2- Que livros incluir na Revisão Bibliográfica?

*Segundo o autor, o que se pede na Revisão Bibliográfica são comentários ou ponderações


críticas quanto alguns itens da bibliografia considerados pertinentes ao pesquisador, para se
apoiar neles ou para criticar, da mesma forma que não podem ser comentadas todas as obras
pertinentes ao trabalho do pesquisador, uma vez que as obras colocadas na Revisão
Bibliográfica devem ser as mais relevantes para investigação e estabelecimento do problema,
e, igualmente, a Revisão Bibliográfica trata de apresentar o posicionamento do pesquisador
quanto ao estado atual do tema estudado, e de mostrar que ele tem conhecimento das obras
existentes. Na Revisão Bibliográfica devem estar os livros em que o autor vai se apoiar e que
vai criticar, e ainda existe a possibilidade do pesquisador concordar com alguma idéia de uma
obra e discordar com alguma outra dessa mesma obra.
*A escolha das obras a serem listadas na Revisão Bibliográfica deve contemplar as obras de
vanguarda e aquelas mais novas e recentes, para mostrar que o pesquisador está atualizado
quanto aos últimos trabalhos feitos dentro de seu tema, ao passo que apresentar essa
atualização da bibliografia não é somente uma obrigação, é também uma necessidade
elementar para o pesquisador que pretende elaborar um trabalho sério e respeitável. Além
disso, os artigos publicados em periódicos especializados não podem faltar tanto na Revisão
Bibliográfica quanto na Bibliografia final do Projeto. Para os casos de estudos eruditos, e
especificamente o caso de uma Revisão Bibliográfica visada em um trabalho universitário,
são os periódicos especializados, sejam jornais ou revistas, voltados para o estudo acadêmico
ou erudito. Em História e nas C. Sociais, existem diversas revistas especializadas em assuntos
como historiografia, sociologia, antropologia, filosofia e afins.

*Algumas que são célebres em âmbito internacional são a Revista dos Annales, na França,
Past and Present, na Inglaterra, e Quaderni Storci, revista italiana voltada à micro-história,
assim como houve caso de revistas que serviam de órgão de comunicação de algum grupo de
historiadores e pesquisadores com marcas em comum, como foi o caso da Revista de
Pesquisa Social, que desde os anos 1930 virou veiculo da Escola de Frankfurt, e há as revistas
ligadas a alguma faculdade ou Instituto de pesquisa, como a revista Tempo e História da UFF
e a Revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, estes sendo casos brasileiros.
Quanto a isso, o pesquisador vai citar os artigos produzidos dentro desses periódicos e que
apresentam alguma relação com seu tema, e não vai citar as revistas em si. O autor também
afirma que alguns artigos relevantes de algum autor publicados em revistas mais reconhecidas
podem ser colocados numa coletânea, e que vira um livro, contudo, o importante para a
pesquisa é o conteúdo e não o seu tipo de suporte, da mesma forma que existe um intervalo de
tempo entre a publicação do artigo e a sua incorporação em algum livro, e se estiver lidando
com debates mais recentes, o pesquisador não pode esperar que o artigo faça parte de algum
livro.

*Mesmo que a bibliografia baseada em livro seja imprescindível, é preciso saber do fato de
que muitas controvérsias atuais e as ultimas descobertas não entram nos livros com a mesma
velocidade que entram nos periódicos especializados, que possuem por função principal
continuar um processo de atualização mais imediato do saber. Com isso, o autor ressalta que
os motivos para a consulta de periódicos estão explícitos, visto que, mormente, um livro de
qualidade demora a ser feito por algum autor, e ainda não tem a mesma velocidade em que os
artigos são feitos para jornais e revistas, e quando esse livro ganhe reconhecimento e prestigio
em sua área, ele pode ganhar reedições, contudo, o conhecimento desse livro tem suas
limitações, no que tange ao seu conteúdo, em virtude da data de publicação, a não ser que o
seu autor se dedique a fazer edições atualizadas desse livro, algo que nem sempre viável.
Enquanto que numa rede de artigos feitos sobre algum tema especifico, é possivel ver o
debate de forma clara feito entre diversos pesquisadores, já que os artigos presentes nos
periódicos especializados carregam uma grande quantidade de criticas quanto aos livros
canônicos e aos outros artigos que são escritos. Como exemplo, ele aborda o conceito de
“modo de produção escravista colonial”, que foi beneficiado de uma discussão na década de
1980 em congressos de História e em algumas das mais importantes revistas historiográficas
do Brasil, ressaltando o número XIII da revista Estudos Econômicos publicada em SP em
1983, que teve artigos feitos pelos formuladores do conceito supracitado, no caso foram eles
Jacob Gorender, Ciro Cardoso e Roberto Borges Martins.

*Igual aos livros, não podem ser comentados e mencionados todos os artigos na Revisão
Bibliográfica, visto que na Bibliografia pode ser feito o registro de todos os artigos
pertinentes. Além dos artigos, as teses e dissertações também podem ser consultadas, que
podem ser buscadas nas bibliotecas de suas respectivas universidades, visto que “conversar”
com as teses elaborados dentro do tema do trabalho do pesquisador não se resume a trazer
novos elementos para a discussão, mas também pode aumentar a intertextualidade
(referências a outros textos) que vai ser feita pelo pesquisador com a incorporação das
“revisões bibliográficas” presentes nessas teses.

3.3- Como organizar a Revisão Bibliográfica?

*Pode subdividi-la em itens relativos aos traços ou tipos de obras citadas, e essa subdivisão
pode ser implícita, ou seja, não tem subtítulos presentes. Assim, o autor escolhe o tema
“Repressão à Educação Feminina no Islamismo Afegão do final do século XX”, do qual pode
começar abordando as obras quanto ao tema “repressão à educação feminina” de maneira
geral, depois abordar a produção do “islamismo no século XX”, para depois falar criticamente
das obras que lidam com o islamismo nos últimos anos. Ao unir todos esses pontos, o autor
poderia falar das obras que lidam com a Repressão à Educação Feminina no Islamismo
Afegão, se não houver nenhuma feita, é legitimo apontar a lacuna a ser preenchida pela
Pesquisa do historiador.
*Outro modo de organizar a Revisão Bibliográfica seria o pesquisador começar com as obras
existentes quanto ao Afeganistão, depois falar dos livros sobre o islamismo afegão, depois se
ater a radicalização fundamentalista que vai formar o governo talibã, e depois falar investigar
seus efeitos dentro da educação feminina. Então, o autor ressalta que não existe um único jeito
de se mostrar a bibliografia existente de algum tema, por diversas causas, e cita que o
importante é que o pesquisador sinta que a bibliografia de seu tema tenha sido discutida nos
seus principais traços.

*Além disso, pode ser feito um balanço historiado de algum tema, mostrando como foi
trabalhado em momentos anteriores da historiografia até chegar ao tempo presente do
pesquisador, quando ele comentará as controvérsias mais atuais, na medida em que, segundo
o autor, essa alternativa de fazer um balanço do desenvolvimento histórico do tema é
vantajosa ao mostrar que as teorias e polemicas do presente são conseqüência das polemicas e
teorias do passado. E também pode juntar as duas alternativas citadas, “organização por
subtemáticas” e “balanço historiado da questão”, e nesse caso, deve ser feita uma divisão
maior por subtemáticas, juntando livros e artigos nos diversos conjuntos separados de
parágrafos. Com tema da repressão contra a educação feminina, o autor poderia dedicar algum
bloco de parágrafos para falar das obras que lidam com a “repressão à educação feminina” de
maneira geral, e mais outro bloco para falar das obras sobre “O islamismo no século XX”, e
dentro desses blocos pode ser feita uma discussão historiada, comentando as obras e visões
mais antigas até as mais recentes.

*Mas ainda constam outras maneiras de organizar a Revisão Bibliográfica, como o


agrupamento por “âmbitos teóricos” (comentário de obras marxistas que falaram do tema,
depois as estruturalistas) e “agrupamentos por afinidade no tratamento do tema (independente
da filiação teórica). O que importa, segundo o autor, é colocar um padrão de organização
interna, e não simplesmente fazer comentários quanto aos livros conforme surgem na cabeça
do pesquisador.

3.4- Distinção entre Bibliografia e Fontes

*O autor salienta que se deve lembrar a diferença entre “fontes” e “bibliografia”, em que a
“fonte” é o documento que coloca o historiador diretamente em contato com seu problema,
sendo o material por meio do qual analisa ou examina uma sociedade humana no tempo, e
uma fonte pode ter duas funções: um meio de acesso aos fatos históricos que o pesquisador
tem que reconstruir e dar sentido ou ela pode ser o fato histórico em si mesma, e nesse ultimo
caso, o texto dado como fonte é considerado como discurso da época a ser decifrado. Então a
fonte pode ser tanto um “testemunho” de uma época como um “discurso” dessa época. A
bibliografia, entrementes, é conjunto de obras com as quais o pesquisador dialoga, para se
amparar nelas ou tecer alguma objeção, e engloba obras de autores que versaram quanto ao
mesmo tema escolhido pelo pesquisador, e não um material direto para o estudo do tema.

*Esse tipo de bibliografia é aquela que aparece na Revisão Bibliográfica, enquanto que as
fontes em si devem estar em outro capitulo relativo à “Metodologia”, muitas vezes chamado
de “Fontes e Metodologia”. A mesma observação da diferença entre fontes e bibliografia vale
para a diferença entre periódicos “fontes” e “bibliografias”, visto que um historiador pode
usar um periódico para tentar entender uma sociedade, e também usá-lo para como fonte para
entender alguma camada social relacionada com esse tipo de leitura e publicação. Então ele
inventa uma tese sobre “o pensamento historiográfico brasileiro na segunda metade do século
XIX”, cujas fontes devem ser a Revista do IHGB, e com isso, o periódico é uma “fonte” e não
uma “bibliografia”, mas quando eu uso nessa mesma tese os textos do historiadores atuais do
IHGB, para fazer uma conexão com os historiadores do meu tempo, o uso do periódico se
daria como “bibliografia”.

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