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Prevenir

e tratar
as alergias

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INSTRUÇÕES DE NAVEGAÇÃO

ÍNDICE GERAL

A ÍNDICE REMISSIVO

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PREVENIR E TRATAR AS ALERGIAS

Título do original: Oui, l’allergie se soigne


© 1989, Éditions de l’Association des Consommateurs S.C., Bruxelles

Tradução e revisão técnica da obra original: Sofia Peleteiro


Revisão técnica da presente edição: Anabela Jorge
Redação e coordenação editorial: Paula Sofia Silva e Carla Oliveira Esteves
Formato digital: Alda Mota e Isabel Espírito Santo
Capa e paginação: Alexandra Lemos
Fotografias: Euroconsumers, Morguefile, Photodisc,
Shutterstock, Stock.XCHNG
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Coordenador dos guias práticos: João Mendes

© 2011 DECO PROTESTE, Editores, Lda.


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Internet: www.deco.proteste.pt/guiaspraticos

1.ª edição em língua portuguesa: setembro de 1998


2.ª edição: julho de 2011
Versão digital: fevereiro de 2019

Depósito legal n.º 327371/11


ISBN 978-989-8045-69-0

Impressão:
PERES-SOCTIP, Indústrias Gráficas, S.A.
Estrada Nacional 10, Km 108,3
Porto Alto
2135-114 SAMORA CORREIA

Esta edição respeita as normas


do novo Acordo Ortográfico.

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e escrita da editora.
Prevenir
e tratar
as alergias
A

Prefácio
As doenças alérgicas afetam cada vez mais pessoas. Na verdade, nin‑
guém está totalmente livre de, mais cedo ou mais tarde, sofrer uma rea‑
ção deste tipo.

O fenómeno da alergia é extremamente complexo, mas, ao longo dos


anos, os investigadores aprenderam a conhecê­‑lo e a combatê­‑lo melhor.
Há cada vez mais medicamentos disponíveis para o tratamento das
diversas manifestações de alergia, cuja escolha deve ser orientada
pelo médico.

Os primeiros cuidados voltam‑se para a prevenção. Esta começa logo


após o nascimento, com a opção, sempre que possível, pelo aleitamento
materno. Quando, apesar de tudo, se manifestam os primeiros sinto‑
mas, a prioridade deve ser dada à identificação das substâncias que pro‑
vocam a alergia. Muitas vezes, o ambiente quotidiano revela­‑se, para
as pessoas mais sensíveis, uma fonte de agressões múltiplas, contra as
quais não existem soluções totalmente eficazes. Isto pode significar, por
exemplo, que tenha de arranjar novo dono para o seu gato ou livrar­
‑se dos brinquedos de peluche ou das almofadas de penas. Em para‑
lelo, pode ser necessária uma limpeza minuciosa e frequente da casa.
Na impossibilidade de evitar o contacto com as substâncias que provo‑
cam alergia, passa­‑se então ao tratamento disponível.

Neste guia prático da DECO PROTESTE encontra, numa linguagem


simples e acessível, o essencial da informação existente sobre o tema,
tanto no que respeita às causas, como aos mecanismos de desenvolvi‑
mento e aos tratamentos disponíveis. Insistimos, sobretudo, nos meios
de prevenção e na melhor forma de as pessoas alérgicas se defenderem
no dia­‑a­‑dia.
A

Índice Os tratamentos clássicos . . . . . 35


O tratamento dos sintomas . . . . . . . 35
A imunoterapia . . . . . . . . . . . . . . 37

Capítulo 1 Outras formas de tratamento . . 38


Noções gerais As psicoterapias . . . . . . . . . . . . . 38
As terapias alternativas . . . . . . . . . 39
O que é a alergia? . . . . . . . . . . 11
As principais
manifestações alérgicas . . . . . . 13 Capítulo 4
As rinites alérgicas
Os tipos de reação alérgica . . . . 14
Reação do tipo I . . . . . . . . . . . . . . 14 O que é uma rinite? . . . . . . . . . 43
Reação do tipo II . . . . . . . . . . . . . 15
Reação do tipo III . . . . . . . . . . . . . 16 A rinite alérgica sazonal
Reação do tipo IV . . . . . . . . . . . . . 17 ou febre­‑dos­‑fenos . . . . . . . . . 44
Os alergénios responsáveis . . . . . . . 44
Definir conceitos . . . . . . . . . . 18 Os sintomas . . . . . . . . . . . . . . . 46
Hereditariedade e terreno alérgico . . . 18 O diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . 47
Alergia e intolerância . . . . . . . . . . 19 O tratamento . . . . . . . . . . . . . . . 47
A incidência da alergia . . . . . . . . . . 19
A rinite alérgica perianual . . . . 49
Os alergénios responsáveis . . . . . . . 49
Os sintomas . . . . . . . . . . . . . . . 51
Capítulo 2 O diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . 51
Os meios de diagnóstico O tratamento . . . . . . . . . . . . . . . 52
O questionário . . . . . . . . . . . . 25
Os testes cutâneos . . . . . . . . . 25 Capítulo 5
Os testes de laboratório . . . . . . 27
A asma e as alergias
A contagem dos eosinófilos . . . . . . . 27
respiratórias
O doseamento da IgE . . . . . . . . . . 27 Algumas noções de anatomia
O RAST . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 e fisiologia . . . . . . . . . . . . . . . 57
Os testes de provocação ou exposição . 28
O que é a asma? . . . . . . . . . . . . 58
Conheça os culpados… . . . . . . . . . . 59
Capítulo 3 Os sintomas . . . . . . . . . . . . . . . 60
Prevenção e tratamento O tratamento . . . . . . . . . . . . . . . 65
Asma, hereditariedade e gravidez . . . 71
A prevenção . . . . . . . . . . . . . . 33 Asma e medicamentos . . . . . . . . . . 71
A

As doenças pulmonares O tratamento . . . . . . . . . . . . . . . 98


de origem alérgica . . . . . . . . . . 72
A aspergilose . . . . . . . . . . . . . . . 72
A conjuntivite vernal . . . . . . . . 99
As alveolites alérgicas . . . . . . . . . . 73 O eczema das pálpebras . . . . . . . . . 99

Otite do ouvido médio e alergia . 75 As blefarites . . . . . . . . . . . . . 100


Problemas com as lentes
de contacto . . . . . . . . . . . . . . 100
Capítulo 6
As alergias da pele
Algumas noções de anatomia
Capítulo 8
e fisiologia . . . . . . . . . . . . . . . 79 As alergias alimentares
A epiderme . . . . . . . . . . . . . . . . 80 Em que consistem? . . . . . . . . .105
A derme . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
A hipoderme . . . . . . . . . . . . . . . 80 Os mecanismos . . . . . . . . . . . 105
Órgãos anexos da pele . . . . . . . . . . 81
As falsas alergias alimentares . 106
O eczema . . . . . . . . . . . . . . . . 81
O eczema atópico . . . . . . . . . . . . . 82 Conheça os culpados… . . . . . .107
O eczema de contacto alérgico . . . . . 86
Os sintomas . . . . . . . . . . . . . .111
O eczema de contacto irritativo . . . . 89
O diagnóstico . . . . . . . . . . . . .112
A urticária . . . . . . . . . . . . . . . 89
Os testes cutâneos e sanguíneos . . . .112
Conheça os culpados… . . . . . . . . . 90
Testar a reação aos alimentos . . . . . 113
O tratamento . . . . . . . . . . . . . . . 92
O tratamento . . . . . . . . . . . . .113
Um caso particular:
o angioedema . . . . . . . . . . . . . 92 As dietas de evitamento . . . . . . . . 113
Os medicamentos . . . . . . . . . . . .114
E os cosméticos? . . . . . . . . . . . 93

Capítulo 9
Capítulo 7 As alergias
As doenças alérgicas  aos medicamentos
dos olhos
Um problema difícil . . . . . . . . 119
Algumas noções de anatomia
e fisiologia . . . . . . . . . . . . . . . 97 Os medicamentos envolvidos . 120
A penicilina e outros antibióticos . . . 120
A conjuntivite alérgica . . . . . . . 97 As sulfamidas . . . . . . . . . . . . . . 121
Os sintomas . . . . . . . . . . . . . . . 98 O ácido acetilsalicílico . . . . . . . . . .121
A

Os anestésicos locais . . . . . . . . . . 122 As dermatites


Os produtos de contraste . . . . . . . .122 de origem alérgica . . . . . . . . . 138
A insulina . . . . . . . . . . . . . . . . .122 O eczema atópico . . . . . . . . . . . . 139
Os anti­‑histamínicos em creme . . . . 123 O eczema de contacto . . . . . . . . . .139

A crise de asma . . . . . . . . . . . .140


Capítulo 10 Os fatores psicológicos
As alergias às picadas na alergia . . . . . . . . . . . . . . . 142
de insetos O fator psicológico é uma causa
da crise de asma? . . . . . . . . . . . 142
Conheça os culpados… . . . . . .127 A asma provoca
problemas psicológicos? . . . . . . .143
Os sintomas . . . . . . . . . . . . . .127
Se o seu filho é alérgico... . . . . .144
O diagnóstico . . . . . . . . . . . . .129
O tratamento . . . . . . . . . . . . .130
Em caso de urgência . . . . . . . . . . .130 Glossário . . . . . . . 149
Os casos benignos . . . . . . . . . . . .130
A imunoterapia . . . . . . . . . . . . . 131
Índice remissivo . . . . 157

Capítulo 11
As alergias das crianças
Alergias e hereditariedade . . . .135
As alergias alimentares . . . . . .136
Nos bebés . . . . . . . . . . . . . . . . .136
Nas crianças . . . . . . . . . . . . . . .137
Capítulo 1

Noções gerais
A Noções gerais

O que é a alergia?
★★ Os fenómenos alérgicos sempre existiram e podem mesmo encontrar­‑se
algumas descrições precisas em textos dos médicos da Grécia antiga.
Nos tempos de Hipócrates, os médicos já tinham elaborado uma lista
dos alimentos suscetíveis de provocar reações indesejáveis em certas
pessoas (queijo, mariscos, nozes, ovos, etc.). No entanto, foi apenas a
partir do final do século passado que os médicos começaram a estu‑
dar realmente tais fenómenos. É interessante notar que muitos desses
médicos sofriam, eles próprios, de alergias.

★★ Em 1893, Ch. Blackley demonstrou que a febre­‑dos­‑fenos era provocada


pelo pólen. Nos anos 20 do século XX, tornou­‑se evidente que as reações
alérgicas se produziam através de uma substância presente na circu‑
lação sanguínea. Esta só foi identificada no fim dos anos sessenta do
século XX. Trata­‑se de uma proteína, uma imunoglobulina específica
chamada IgE.

★★ O estudo das alergias, ou alergologia, faz hoje parte dessa disciplina da


medicina, em evolução permanente, que é a imunologia clínica.

★★ Para compreender o que é a alergia, tornam­‑se necessários alguns


conhecimentos básicos de imunologia.
O sistema imunitário tem a função de proteger o organismo de corpos
que lhe são estranhos, como, por exemplo, os vírus ou as bactérias. Este
sistema caracteriza­‑se por três propriedades fundamentais:
– a capacidade de distinguir entre o que é próprio do organismo e o que
não é;
– a especificidade das reações. Quando uma molécula estranha, a que
chamaremos antigénio, irrompe no organismo, o sistema imunitário
reage contra este invasor de um modo completamente específico;
– a memória. Determinados linfócitos (uma categoria de glóbulos bran‑
cos), quando estimulados por um antigénio, permanecem no organismo
durante um período mais ou menos longo, sensibilizando­‑o a um novo
contacto. Se ocorrer outra exposição ao mesmo antigénio, a reação
poderá ser muito mais rápida e intensa.
Anatomicamente, o sistema imunitário é constituído por linfócitos,
que são, como dissemos, glóbulos brancos. Existem diferentes tipos
de linfócitos, mas os mais importantes, no que diz respeito às reações

11
A Prevenir e tratar as alergias

Esquema do mecanismo imunitário

medula óssea

linfócitos T
(glóbulos brancos) linfócitos B
(glóbulos brancos)

estimulação antigénica

linfócitos ativados
plasmócitos

resposta imunitária celular resposta imunitária humoral

A medula óssea produz diversos tipos de glóbulos brancos que, quando


identificam uma molécula estranha ao organismo (antigénio), dão início
a um processo de defesa que visa destruir o intruso

12
A Noções gerais

imunoalérgicas, são designados por linfócitos T e linfócitos B. Eles pro‑


vêm da medula óssea (veja a ilustração Esquema do mecanismo imunitário,
na página anterior), de onde se deslocam para os tecidos linfáticos peri‑
féricos, ou seja, principalmente, o timo, o baço e os gânglios linfáticos
(pequenos nódulos situados no percurso dos vasos linfáticos).
Os linfócitos T são responsáveis pela imunidade celular: uma vez postos
em contacto com um antigénio, ou seja, com uma molécula estranha ao
organismo, têm a capacidade de o reconhecer, identificar e de participar
na sua destruição.
Os linfócitos B são responsáveis pela imunidade humoral. Quando
contactam com o antigénio, multiplicam­‑se e transformam­‑se em plas‑
mócitos. Os plasmócitos, que são também uma variedade de glóbulos
brancos, vão então elaborar e segregar anticorpos contra esse antigénio
particular. Os anticorpos são um tipo específico de proteínas, as imuno‑
globulinas, de que existem cinco classes: IgA, IgD, IgE, IgG e IGM. Estes
dois mecanismos de imunidade, celular e humoral, estão intimamente
ligados entre si.
É de salientar que nem todas as moléculas estranhas ao organismo pos‑
suem o mesmo poder antigénico (capacidade de provocar a formação
de anticorpos). Isso depende da própria molécula e do indivíduo. Uma
insuficiência deste sistema leva, sobretudo, à dificuldade em controlar
o desenvolvimento de infeções e em combatê-las totalmente. É o que se
passa, por exemplo, com a Síndroma da Imunodeficiência Adquirida,
vulgarmente conhecida por Sida.

A ALERGIA É…

Trata­‑se de uma reação imunitária considerada excessiva e inadequada que aparece,


com mais frequência, nos indivíduos geneticamente predispostos.

As principais manifestações alérgicas


As manifestações clássicas da alergia, que podem aparecer de forma iso‑
lada ou combinadas, são de ordem:
– cutânea: urticária, eczema, angioedema;
– respiratória: rinite alérgica, edema da glote, crise de asma;

13
A Prevenir e tratar as alergias

– ocular: conjuntivite, eczema das pálpebras, blefarite;


– digestivas: desconforto abdominal, diarreia.
Os sintomas manifestam­‑se de forma mais ou menos acentuada e, em
casos extremos, podem pôr em risco a vida do doente. É o caso das cri‑
ses de asma graves ou do choque anafilático, uma reação brutal e gene‑
ralizada do organismo que pode incluir perda de consciência e pertur‑
bações cardiovasculares.

Os tipos de reação alérgica


Considerando o tempo que decorre entre o contacto com a substância
na origem da alergia e o aparecimento dos sintomas, as reações podem
dividir­‑se em três categorias:
– imediata: alguns minutos;
– semi­rretardada: algumas horas;
– retardada: alguns dias.
As reações alérgicas podem ainda classificar­‑se em quatro categorias
principais, em função do mecanismo imunológico envolvido (classifica‑
ção de Gell e Coombs).

Reação do tipo I
Também conhecida por reação anafilática (não confundir com choque
anafilático), é o tipo de reação alérgica mais frequente.
A palavra anafilaxia foi introduzida no vocabulário médico pelo inves‑
tigador francês Ch. Richet, prémio Nobel da Medicina em 1919, para
nomear o inverso de uma proteção (designada por profilaxia). Trata­‑se
de uma reação do tipo imediato.
O antigénio, chamado também neste caso alergénio, reage com um anti‑
corpo do tipo IgE, ele próprio fixo a recetores específicos de diversas
células como, por exemplo, os mastócitos.
Quando o alergénio se combina com o anticorpo, libertam­‑se substâncias
designadas por mediadores, das quais a mais conhecida é a histamina. A
este fenómeno dá­‑se o nome de desgranulação (veja a ilustração Reação do
tipo I, na página seguinte). As substâncias libertadas nesta reação são respon‑
sáveis pelos sintomas alérgicos como espirros, tosse, prurido ou comichão.
Como exemplos de reações do tipo I, podemos referir a rinite alérgica,
a asma, certas alergias cutâneas, entre outros.

14
A Noções gerais

Reação do Tipo I

mastócito

grânulos contendo alergénios


mediadores
químicos
anticorpos IgE
vaso sanguíneo

fixação do alergénio

desgranulação

Reação do tipo II
Também conhecida por reação citotóxica, provoca a destruição das célu‑
las (veja a ilustração Reação do tipo II, na página seguinte).
O antigénio está fixo na superfície de algumas células ou entra na com‑
posição da membrana celular. A reação produz­‑se entre o antigénio e
um anticorpo em estado livre na circulação sanguínea.
Este tipo pode ocorrer nos acidentes de transfusão, devido a incompati‑
bilidade sanguínea, e em certas formas de alergia a medicamentos.

15
A Prevenir e tratar as alergias

Reação do Tipo II

antigénio fixo sobre


a parede da célula

antigénio fixo
sobre o antigénio

reação bioquímica

desintegração da célula

Reação do tipo III

Também designada reação por imunocomplexos (veja a ilustração Reação


do tipo III, na página seguinte), caracteriza­‑se pela formação de um com‑
plexo entre um antigénio introduzido no organismo e um anticorpo em
circulação no sangue. A presença do imunocomplexo vai induzir uma série
de reações bioquímicas que provocam lesões nos tecidos, essencialmente,
ao nível dos vasos sanguíneos, do tecido pulmonar, da pele ou do rim.
Esta reação é do tipo semi­rretardado, já que os sinais clínicos surgem
entre 4 a 6 horas após a exposição ao agente antigénico. As alveolites

16
A Noções gerais

alérgicas extrínsecas, como a doença dos criadores de aves ou o pulmão


do fazendeiro, são alguns exemplos das reações do tipo III.

Reação do Tipo III

antigénio introduzido
no organismo

formação
de imunocomplexos

reação bioquímica

Lesões dos tecidos

Reação do tipo IV
Trata­‑se de uma reação retardada, porque apenas se manifesta 24 a 72
horas após o contacto com o antigénio.
As reações do tipo IV ocorrem por intermédio de linfócitos T, capazes
de identificar determinados antigénios e reagir à sua presença (veja a
ilustração Reação do tipo IV, na página seguinte). Estas levam a lesões
inflamatórias dos tecidos que podem ser irreversíveis. Observam­‑se em
caso de rejeição de transplantes ou em certos tipos de alergias cutâneas.

17
A Prevenir e tratar as alergias

Ao contrário das reações que apenas aparecem em indivíduos genetica‑


mente predispostos (as do tipo I, por exemplo), a alergia do tipo IV pode
manifestar­‑se em qualquer indivíduo.

Atenção: esta classificação é uma simplificação da realidade, já que, na prá‑


tica, os quatro tipos de reação não são assim tão fáceis de distinguir.

Reação do Tipo IV

célula­‑alvo
linfócito T com antigénios
(glóbulo branco)

a célula­‑alvo é agredida
pelo linfócito

Infiltrações dos tecidos


e lesões inflamatórias

Definir conceitos
Hereditariedade e terreno alérgico
O terreno alérgico é uma característica inerente a alguns indivíduos,
igualmente designada por atopia. Este termo, de origem grega, signi‑
fica estranho ou não habitual. A atopia é uma predisposição genética

18
A Noções gerais

e, portanto, hereditária, para produzir mais anticorpos (imunoglobu‑


linas E) do que o normal. Estas imunoglobulinas estão na origem da
reação alérgica.
No entanto, este património genético parece ser uma condição necessária,
mas não suficiente, para alguém ter manifestações alérgicas. Por outras
palavras, a influência genética está demonstrada, mas o desencadear
da doença depende, sobretudo, do ambiente envolvente. Portanto, pode
evitar­‑se parcial ou totalmente uma manifestação alérgica, desde muito
cedo, através do aleitamento materno (veja também o capítulo 11) e elimi‑
nando ou reduzindo a exposição aos alergénios mais vulgares (pelos dos
animais domésticos, poeiras, etc.).
De uma maneira geral, um indivíduo atópico tem cinquenta por cento
de probabilidades de transmitir essa predisposição aos filhos. Existem
diferentes graus de atopia e, quanto mais importante for, mais cedo apa‑
recem os sintomas. Em geral, as doenças atópicas tendem a melhorar
espontaneamente com a idade (veja o quadro Grupos etários e apareci‑
mento dos sintomas, na página seguinte).

Alergia e intolerância
Nem todas as reações ditas alérgicas o são no sentido próprio do termo.
Alguns fenómenos observados (como, por exemplo, as erupções cutâ‑
neas e a asma) não parecem ter como origem o mecanismo imunológico.
Apesar de as reações bioquímicas serem semelhantes, são provocadas
por outros mecanismos. É, portanto, mais correto, falar de pseudoaler‑
gia ou de intolerância, especialmente, quando se trata de uma reação a
alimentos e, sobretudo, a algumas substâncias que entram na composi‑
ção de medicamentos (o ácido acetilsalicílico, por exemplo). Voltaremos
a este assunto no capítulo 9.

A incidência da alergia
É difícil precisar uma percentagem realista das pessoas que sofrem de
alergias. Os números variam muito consoante os estudos e, também,
com as regiões do mundo. De facto, a proporção pode mesmo dupli‑
car se, em vez de se contabilizarem apenas as pessoas com sintomas
óbvios de natureza alérgica, considerarmos também os indivíduos com
resultados positivos nos testes cutâneos. Sabe­‑se, no entanto, que a
maior proporção de pessoas que sofrem de alergias tem entre quinze e
trinta anos.

19
A Prevenir e tratar as alergias

Grupos etários e aparecimento dos sintomas


(segundo N. Mygind, Essencial Allergy, Blackwell
Scientific Publications)

alergias alimentares

eczema atópico

urticária

angioedema alérgico

asma alérgica

asma intrínseca

rinite alérgica

rinite espasmódica

pólipos nasais

lactentes adolescentes adultos idosos

20
A Noções gerais

★★ Alguns estudos mostram uma tendência para o aumento constante do


número de pessoas que sofrem de alergias diversas. Isto pode explicar­
‑se pela evolução dos conhecimentos neste domínio, o que facilita o
diagnóstico das doenças alérgicas, mas também pelo aumento de subs‑
tâncias sintéticas com as quais somos postos em contacto no dia­‑a­‑dia,
seja através de produtos de utilização específica, da alimentação ou da
poluição.

★★ No caso de um indivíduo alérgico, além do contacto com um ou mais


alergénios, certos fatores exteriores podem precipitar ou acentuar o apa‑
recimento dos sintomas. Trata­‑se, essencialmente, de infeções simul‑
tâneas ou de perturbações emocionais, sobretudo, no caso da asma
brônquica. Ainda que seja impossível de quantificar, a influência do
fator emocional no sistema imunitário é, cada vez mais, reconhecida de
forma unânime.

VÁ E VOLTE… SEM ALERGIAS!

O contacto com um alergénio pode ocor‑ bicicleta, os óculos de natação ou as


rer, sistematicamente, durante uma ativi‑ máscaras e fatos de mergulho, tal como
dade específica ou de uma forma total‑ as resinas e outros vernizes que cobrem
mente episódica. É o caso, por exemplo, os punhos das raquetes, podem provocar
de uma atividade desportiva ou da mani‑ reações alérgicas. O mesmo pode acon‑
pulação ocasional de uma substância a tecer com as madeiras ou os couros exó‑
que não se está habituado. Muitas vezes, ticos, as plantas dos países quentes e dos
esquece­‑se, por exemplo, que as colas desertos, bem como as especiarias a que
para kits ou para remendos de câmaras­ não estamos habituados.
‑de­‑ar, a borracha dos tapetes nas salas Pense nessa possibilidade, se tiver pro‑
de ginástica, os punhos do guiador da blemas durante as férias ou no regresso.

21
Capítulo 2

Os meios
de diagnóstico
A
A Os meios de diagnóstico

O questionário
A primeira etapa para estabelecer o diagnóstico de uma doença alérgica
consiste numa vasta série de perguntas, orientadas em função dos sin‑
tomas descritos. Este questionário pode focar:

★★ os seus antecedentes familiares:


– há outros membros da família que sofram de alergia?
– a quê?
– em que grau?

★★ uma descrição precisa dos sintomas:


– quais são?
– onde e quando aparecem? Dentro de casa, no exterior, no local de tra‑
balho? Em que momento do dia ou período do ano?
– quando começaram?
– qual a gravidade?

★★ uma descrição detalhada do seu estilo de vida:


– o tipo de habitação e de local de trabalho: na cidade ou no campo? Há
alcatifas ou tapetes? Que género de detergentes utiliza?
– manipula ou está exposto a determinados produtos, a nível profissio‑
nal ou nos seus tempos livres?
– tem animais domésticos? Quais e desde quando?
– quais são os seus hábitos alimentares?
– utiliza produtos de higiene? Quais?
– toma medicamentos? Quais?
– quais os fatores que agravam os sintomas: exposição ao pó, pelos de
animais, fumo de cigarro, cheiros ativos, variações de temperatura e
humidade, stresse, exercício físico?

Os testes cutâneos
Os testes cutâneos são um recurso essencial no diagnóstico das alergias.
A história clínica do doente e dos familiares mais próximos, bem como
os sintomas manifestados, podem dar uma ideia mais ou menos precisa
do tipo de substâncias a testar, mas o mais frequente é que seja utilizada

25
A Prevenir e tratar as alergias

uma bateria padronizada dos alergénios mais comuns. Recorre­‑se a dois


tipos de testes:
– o teste Prick, que consiste em colocar sobre a pele uma gota de extrato,
muito concentrado, de um alergénio. Depois, faz­‑se uma pequena inci‑
são na pele, com uma lanceta ou uma agulha esterilizada, introduzindo
uma quantidade muito pequena de alergénio;
– o teste intradérmico, que resume­‑se a injetar na pele uma pequena
quantidade (0,02 mililitros) de extratos de alergénio. Começa por se uti‑
lizar uma solução com uma pequena concentração de alergénio, seguida
de injeções de concentração crescente.

★★ Os testes Prick são os mais utilizados, por se tratar do método mais


sensível, rápido e económico de comprovar o diagnóstico. Os testes
intradérmicos reservam­‑se para situações especiais (alergias a medica‑
mentos, por exemplo), ou para quando os testes Prick são negativos e a
história clínica indica que pode existir uma doença alérgica.
Regra geral, os testes cutâneos são feitos no antebraço ou nas costas.
Uma reação positiva traduz­‑se pelo aparecimento quase imediato de
vermelhidão, de inchaço e de comichão em redor do ponto da injeção.
A fim de evitar qualquer reação violenta ou um choque anafilático, os
testes por via intradérmica devem ser feitos em hospitais ou clínicas
devidamente preparados para o efeito.

★★ Alguns alergénios dão resultados mais fiáveis do que outros. É o caso,


por exemplo, dos pólenes, dos pelos dos animais domésticos, dos ácaros
existentes no pó das casas e, também, do veneno das vespas e abelhas.
Os testes cutâneos podem ainda ser úteis para identificar alergias ali‑
mentares. No entanto, resultados negativos não permitem, por si só,
concluir que não existe alergia.

Atenção: não tome quaisquer medicamentos anti­‑histamínicos nas


48 horas que antecedem os testes! Estas substâncias diminuem bastante
a intensidade da reação da pele e interferem com a validade do teste.

★★ Os extratos alergénicos padronizados dão, regra geral, excelentes resul‑


tados. Infelizmente, existem extratos cuja potência varia de lote para
lote, o que pode alterar os resultados e, pior ainda, a eficácia do trata‑
mento. Por isso, os resultados dos testes cutâneos devem ser sempre
confrontados com a história clínica do doente e nenhum tratamento
deve ser baseado, unicamente, nestes.

26
A Os meios de diagnóstico

★★ Algumas pessoas podem ter uma reação cutânea positiva a certos aler‑
génios, ainda que não tenham quaisquer sintomas. A probabilidade de
estas pessoas virem a desenvolver sintomas alérgicos é cerca de dez vezes
superior à daquelas cujos testes foram negativos. Os resultados dos tes‑
tes cutâneos também podem permanecer positivos durante vários anos
após o desaparecimento dos sintomas.

★★ Em conclusão, os testes cutâneos continuam a ser um excelente meio de


diagnóstico, desde que efetuados cuidadosamente e interpretados em
função de outros elementos clínicos.

Os testes de laboratório
A contagem dos eosinófilos
Os eosinófilos são uma categoria de glóbulos brancos, assim chamados
porque podem ser corados com uma substância denominada eosina.
Quando existe uma alergia, o seu número aumenta de forma acentu‑
ada no próprio local da reação alérgica e também, frequentemente, na
circulação sanguínea. Este tipo de glóbulos brancos é pesquisado nas
secreções nasais e brônquicas e no sangue.
No entanto, existem outras afeções em que o número total de eosinófilos
também aumenta. Além disso, os medicamentos utilizados nas doen‑
ças alérgicas (corticosteroides e broncodilatadores, entre outros) podem
diminuir, de forma acentuada, o número de eosinófilos em circulação.
Portanto, a contagem dos eosinófilos pode ajudar a precisar o diagnós‑
tico e, eventualmente, a avaliar a gravidade da doença alérgica, mas não
permite, por si só, estabelecer um diagnóstico fiável e específico.

O doseamento da IgE
★★ O teor normal de imunoglobulina E no sangue é muito baixo, mas as
pessoas com predisposição para as alergias produzem mais imuno‑
globulinas deste tipo. O doseamento da IgE pode ser, portanto, um
método de diagnóstico útil, sobretudo em alguns tipos de alergia (cutâ‑
nea, respiratória, etc.). O seu valor como diagnóstico varia também
com a idade do doente, sendo maior para as crianças. Sobretudo nas
crianças muito pequenas, filhas de pais alérgicos, este teste permite

27
A Prevenir e tratar as alergias

prever o aparecimento de sintomas alérgicos e acionar as medidas


preventivas necessárias.

★★ O doseamento também pode ser um apoio muito útil para o diagnóstico


de doenças cutâneas, respiratórias ou digestivas cuja natureza alérgica
não está confirmada.

Atenção: as infeções parasitárias e algumas doenças imunológicas tam‑


bém podem provocar um aumento do teor de imunoglobulina E.

O RAST
O Radio Allergo Sorbent Test, mais conhecido por RAST, permite quan‑
tificar os anticorpos de imunoglobulina E específicos de um determi‑
nado alergénio. O teste é praticado em laboratório, com uma amostra
de sangue do doente.

★★ Se o preparado que contém o alergénio for de boa qualidade, haverá uma


perfeita correlação entre os testes cutâneos e o RAST. Contudo, o RAST
tem um grau de precisão maior e permite a quantificação, que é difí‑
cil de obter apenas com o teste cutâneo. Estas conclusões são sempre
válidas no caso das alergias respiratórias. No que diz respeito às aler‑
gias alimentares, onde os testes cutâneos são menos fiáveis, o RAST
pode fornecer informações preciosas, ainda que variáveis consoante
os alergénios.

★★ O RAST tem a vantagem de ser muito sensível e preciso, sem apre‑


sentar qualquer risco para o doente. Por outro lado, é um teste caro e
demorado, pois, ao contrário dos testes cutâneos, não permite obter
resultados imediatos. Regra geral, só deve ser utilizado quando existem
dúvidas no diagnóstico (por exemplo, quando há discordância entre o
resultado dos testes cutâneos e a história clínica). Também é de grande
utilidade quando não se podem executar testes cutâneos. Por exemplo,
em crianças muito pequenas ou quando existe um eczema extenso ou
uma sensibilidade exagerada da pele.

Os testes de provocação ou exposição


★★ Este tipo de testes é utilizado nos casos de manifestações alérgicas das
vias respiratórias. Na prática, os testes consistem em pôr a mucosa nasal

28
A Os meios de diagnóstico

ou a mucosa brônquica em contacto com o alergénio eventualmente res‑


ponsável pelos sintomas e, em seguida, observar as reações.

Atenção: os testes de provocação brônquica devem ser praticados por


pessoal qualificado, num estabelecimento de saúde adequado, já que o
risco de reação grave não está totalmente excluído!

★★ Por regra, é também avaliada a reação a um medicamento broncodilata‑


dor dado posteriomente .

29
Capítulo 3

Prevenção
e tratamento
A
A Prevenção e tratamento

A prevenção
Como dissemos, a atopia, ou terreno alérgico, é uma predisposição gené‑
tica e, portanto, hereditária. Os filhos de uma pessoa alérgica têm maior
probabilidade de também sofrerem manifestações alérgicas. Além
disso, o desenvolvimento de alergias específicas está relacionado com
a frequência da exposição aos alergénios. Portanto, torna­‑se necessário
que a família tome algumas medidas preventivas.
De um modo geral, a prevenção é aconselhável a todas as pessoas, crian‑
ças ou adultos, com uma predisposição elevada para as alergias. No caso
de pessoas menos sensíveis, as medidas preventivas podem ser menos
rigorosas e mais específicas.

Atenção: além dos alergénios propriamente ditos, alguns agentes irri‑


tantes também devem ser evitados, principalmente pelos asmáticos.
Trata­‑se, por exemplo, do fumo do tabaco e da poluição atmosférica,
sobretudo nos locais de intenso tráfego automóvel.

Substâncias a evitar em casa

bolores objetos que


acumulam pó
pólen

mantas de lã

ar exterior
poluído

fumo de tabaco
fumo do escape e das lareiras
dos automóveis
pó das
pelos e fezes alcatifas
dos animais
domésticos

33
A Prevenir e tratar as alergias

★★ Eis uma lista das principais medidas preventivas:


– sempre que possível, um recém­‑nascido deve ser amamentado. Isto
é particularmente importante quando existem antecedentes familiares
de alergia, o que aumenta o risco para o bebé. O ideal é que o aleita‑
mento materno se prolongue até aos cinco ou seis meses de vida, sem
recurso a outro tipo de alimentação;
– evite ter animais dentro de casa;
– a limpeza do quarto e da roupa de cama é primordial. É aí que pas‑
samos, em média, um terço do nosso tempo, mais ainda tratando­
‑se de crianças. O quarto de uma pessoa alérgica deve servir apenas
para dormir;
– limpe o quarto com frequência. Evite os objetos que facilmente acu‑
mulam pó, tais como bibelôs, vergas, cinzeiros, peluches, etc. Opte por
móveis fáceis de limpar e cortinas simples de lavar;
– areje o quarto regularmente. Nunca fume nesta divisão e evite o mais
possível o fumo do tabaco;
– as mantas de lã acumulam muito pó. Por isso, é preferível escolher
cobertores sintéticos;
– substitua o colchão com alguma regularidade (cinco a dez anos, con‑
soante a evolução dos sintomas) e dê sempre preferência aos de material
sintético. Se for caso disso, coloque­‑lhe uma cobertura antiácaros de boa
qualidade. Para o efeito, aconselhe­‑se com o seu médico alergologista.
Do mesmo modo, substitua as almofadas e os edredões de penas por
outros de material sintético. Coloque, também, uma cobertura antiáca‑
ros nas almofadas;
– prefira um revestimento do soalho fácil de lavar, em vez de alcatifas;
– se for alérgico ao pólen, não durma com a janela aberta nos períodos
de polinização (veja o quadro Período de polinização de algumas árvores e
plantas, na página 45) nem conduza com os vidros do carro abertos;
– se tiver alergias alimentares, deixe de consumir as substâncias
responsáveis.

PREVENIR OU REMEDIAR?

Na prática, nem sempre é possível controlar todos os fatores ambientais responsáveis


pelas doenças alérgicas. Quando a prevenção não é suficiente, torna­‑se necessário
recorrer ao tratamento.

34
A Prevenção e tratamento

★★ O tratamento preventivo é possível, sobretudo em casos de asma alér‑


gica, através de alguns medicamentos. Trata­‑se do cromoglicato de sódio,
que deve ser inalado, assim como de medicamentos anti­‑histamínicos e,
mais recentemente, de recetores de leucotrienos, como o montelucaste.

Os tratamentos clássicos
Poderá encontrar uma explicação detalhada sobre o tratamento de cada
tipo de manifestação alérgica (asma, eczema, etc.) nos capítulos especí‑
ficos. Por agora, damos apenas algumas noções gerais acerca dos trata‑
mentos mais utilizados. Existem dois tipos principais:
– os sintomáticos, que procuram atenuar e, se possível, suprimir os sin‑
tomas logo que a alergia se manifesta;
– os preventivos, como a imunoterapia, que procuram evitar esses
episódios.

O tratamento dos sintomas


Existem diferentes tipos de medicamentos para aliviar os sintomas da
alergia:

Os corticosteroides
★★ Estes medicamentos contêm cortisona ou uma das numerosas subs‑
tâncias que dela derivam (hidrocortisona, betametasona, etc.). Têm
uma ação anti­‑inflamatória extremamente eficaz e rápida, mas quando
utilizados por via sistémica, durante muito tempo, aumentam o risco
de efeitos secundários graves, principalmente nas crianças. Por isso, a
utilização regular destes medicamentos deve limitar­‑se a situações de
maior gravidade e ser feita sob estrita vigilância médica. Quanto aos
corticosteroides de aplicação local (uso externo ou via inalatória) são de
utilização bem mais segura e com menor risco de efeitos secundários.

★★ Os corticosteroides podem apresentar­‑se sob diferentes formas:


– para uso externo, em pomadas com diversas concentrações;
– em inaladores;
– para uso sistémico, em comprimidos ou injeções.

35
A Prevenir e tratar as alergias

Os anti­‑histamínicos

★★ Estes medicamentos inibem os efeitos da histamina, uma das princi‑


pais substâncias libertadas quando ocorrem reações alérgicas. São par‑
ticularmente eficazes nas reações alérgicas da pele, tais como urticária
ou picadas de insetos. Também aliviam a rinite alérgica, mas não são
suficientemente úteis contra as reações alérgicas mais graves, como a
asma brônquica.

★★ Os anti­‑histamínicos estão disponíveis sob a forma de:


– comprimidos;
– xaropes ou gotas para via oral;
– injeções intramusculares;
– colírios (gotas para os olhos);
– spray nasal.

Encontram­‑se, também, sob a forma de pomadas para aplicação local.


No entanto, o uso destes preparados é fortemente desaconselhado, dado
o risco de sensibilização da pele.

★★ A administração de anti­‑histamínicos por via sistémica (não localizada)


era sempre acompanhada de sonolência. Nos últimos anos, surgiram
novos medicamentos deste tipo que, habitualmente, quando tomados
nas doses indicadas, não têm este efeito desagradável (e potencialmente
perigoso). Entre as substâncias anti­‑histamínicas desta nova geração,
destacam­‑se o astemizol, a azelastina, a cetirizina, a desloratadina, a
loratadina e a terfenadina.

Os broncodilatadores
São medicamentos usados para lutar contra o espasmo brônquico da
crise asmática. Descrevemo­‑los de forma mais detalhada no capítulo
dedicado a esta doença.

A adrenalina
É um produto extremamente potente, utilizado apenas sob a forma
injetável. O seu uso deve ser reservado aos acidentes alérgicos gra‑
ves (choque anafilático), uma vez que pode ter efeitos cardíacos
perigosos.

36
A Prevenção e tratamento

A imunoterapia
Esta forma de tratamento preventivo, também conhecida por hipos‑
sensibilização, consiste na administração de injeções subcutâneas com
quantidades gradualmente maiores de extrato alergénico. Isto é, de
uma solução que contém a substância responsável pelo aparecimento
dos sintomas alérgicos, com o objetivo de diminuir a intensidade
dos mesmos.

A sua eficácia tem sido, muitas vezes, posta em dúvida. Não será, cer‑
tamente, aplicável a todas as formas de alergia, mas demonstra eficácia
em alguns tipos de asma, rinite alérgica e, sobretudo, nas alergias pro‑
vocadas por venenos de insetos himenópteros (a abelha, por exemplo).
Mas, de um modo geral, este tratamento só é eficaz se for baseado num
diagnóstico preciso e, também, se durar o tempo suficiente (geralmente,
entre três e cinco anos).

★★ Os investigadores tentam apurar os extratos alergénicos, de forma a


obter rapidamente o máximo de proteção e reduzir ainda eventuais efei‑
tos secundários. Estes podem surgir logo após uma injeção do extrato,
com diferentes graus de gravidade, que vão de uma reação local, mais ou
menos significativa, a uma reação alérgica geral (sistémica), chegando,
por vezes, ao choque anafilático (veja Glossário). Existem diferentes
tipos de extratos, conforme o método de preparação utilizado:
– os extratos aquosos, utilizados desde 1911, implicam um grande
número de injeções e comportam o risco, não negligenciável, de uma
reação grave após a injeção. Por outro lado, permitem uma grande flexi‑
bilidade de utilização;
– os extratos de ação prolongada, requerem menos injeções para serem
eficazes. Além disso, alguns estudos demonstram que provocam menos
reações de intolerância e não são mais difíceis de controlar. Devido a
estes fatores são, atualmente, os mais utilizados.

★★ Alguns extratos contêm alergénios parcialmente desnaturados, o que


diminui o risco de reações secundárias e o número de injeções neces‑
sárias. Existem outras vias de administração, que também podem ser
utilizadas com sucesso, como, por exemplo, a sublingual ou através da
mucosa nasal. As dificuldades técnicas na procura de bons extratos aler‑
génicos explicam, em parte, que a imunoterapia não tenha a mesma efi‑
cácia em todas as formas de alergia. Os melhores resultados são obtidos

37
A Prevenir e tratar as alergias

com as alergias aos pólenes, ao veneno de himenópteros (abelhas e ves‑


pas) e aos ácaros do pó.

★★ Na prática, o tratamento de hipossensibilização começa com a injeção


de doses muito pequenas, que vão aumentando, progressivamente,
até atingirem a dose máxima tolerável. Este limite varia, de forma
considerável, de pessoa para pessoa. A frequência das injeções tam‑
bém depende do tipo de extrato utilizado e do tipo de alergia (sazo‑
nal ou não). Recomenda­‑se que as injeções sejam administradas num
estabelecimento de saúde com capacidade para fazer face a efeitos
secundários graves.

IMUNOTERAPIA: A FAVOR OU CONTRA?

A imunoterapia não é, obviamente, um – a existência de bons extratos alergénicos,


remédio para todos os males. Mas a efi‑ ou seja se são normalizados e assegurem a
cácia deste tratamento em certas formas mesma eficácia em todos os lotes;
de alergia está suficientemente provada. A – a gravidade dos sintomas. Se forem
decisão de iniciar o tratamento deverá ter muito graves, o tratamento pode ser mal
em conta diversos fatores, entre os quais: tolerado;
– a idade do doente. Quanto mais jovem – o tipo de sintomas (rinite, asma, etc.);
for, maiores serão as probabilidades – a eficácia e os efeitos secundários de
de êxito; outras formas de tratamento, bem como
– um diagnóstico preciso; a impossibilidade, na prática, de evitar o
– o número de alergénios. Regra geral, alergénio;
as imunoterapias que melhor funcionam – eventuais fatores sociais e económicos,
são as que contêm apenas um único pois trata­‑se de um tratamento longo, que
tipo de alergénios (ácaros ou pólenes, exige disciplina e disponibilidade por parte
por exemplo); do paciente.

Outras formas de tratamento


As psicoterapias
A intervenção de fatores emocionais na manifestação (frequência, inten‑
sidade, etc.) dos sintomas alérgicos pode ser significativa, sobretudo
no caso das crises de asma (veja o capítulo 5). De facto, alguns doen‑
tes podem melhorar com o recurso ao apoio psicoterapêutico. A opção

38
A Prevenção e tratamento

entre as várias formas de psicoterapia (individual, familiar, de grupo,


etc.) deve ser feita em função de cada caso particular.

As terapias alternativas
Muitas pessoas alérgicas, desapontadas com os resultados obtidos pelos
tratamentos tradicionais, procuram terapias alternativas. Os resultados
obtidos por estes métodos são variáveis e a sua eficácia difícil de avaliar
por estudos científicos. Em regra, as mais utilizadas são:

A homeopatia
O princípio da homeopatia consiste em dar ao doente, em doses muito
diluídas, a mesma substância que, em doses elevadas e no homem são,
produz os sintomas da doença a combater. O objetivo desta terapia é
estimular o poder natural do corpo para se curar a si próprio.
A homeopatia difere da medicina clássica, no sentido em que baseia o
tratamento na teoria de que os sintomas representam, não os efeitos da
doença mas a reação do corpo a esta. Devem ser, portanto, estimulados
e não suprimidos.

★★ Mais do que o tratamento de um certo número de sintomas, a homeopa‑


tia visa o tratamento de todo o organismo. O conhecimento do passado
do doente e do seu modo de vida constitui a própria base do tratamento.
É por isso que doentes com sintomas idênticos podem ser tratados com
remédios diferentes. Pode acontecer que o doente piore durante os pri‑
meiros dias, antes de sentir melhoras significativas, embora esta não
seja uma regra geral.

VALE A PENA TENTAR, MAS…

A lei do enquadramento base das tera‑ tivas. Conclui que ainda procuram pouco
pêuticas não convencionais (Lei 45/2003) estas terapias quando comparados com
reconhece a acupuntura e a homeopatia. os cidadãos de outros países: só quatro
No entanto, estas terapias continuam sem por cento as utiliza. O estudo mostra tam‑
regulamentação e os seus praticantes bém que os doentes, muitas vezes, usam
não estão registados ou credenciados. as medicinas alternativas e as convencio‑
Um inquérito feito pela DECO PROTESTE, nais em simultâneo, por acreditarem que a
em 2007, analisa o grau de satisfação dos combinação pode melhorar os resultados.
portugueses com as medicinas alterna-

39
A Prevenir e tratar as alergias

★★ Os remédios homeopáticos estão disponíveis em algumas farmácias,


sem receita. No entanto, como o tratamento deve ser adaptado a cada
indivíduo, é aconselhável consultar um médico homeopata antes de
tomar o que quer que seja.

A acupuntura
Literalmente “inserção de agulha”, a acupuntura é praticada na China há
milénios. As agulhas são inseridas em pontos específicos do corpo, de
forma a desencadear mecanismos naturais de autocura. A acupuntura é,
muitas vezes, acompanhada de dietas, massagens, hidroterapia, admi‑
nistração de plantas medicinais e exercícios físicos diversos.

★★ O princípio básico da acupuntura assenta no pressuposto da existên‑


cia de um duplo fluxo de energia no corpo humano. Os dois vetores
deste fluxo são designados por yin e yang e estão também presentes
no universo com o dia e a noite, o quente e o frio, a vida e a morte.
Yin, a força negativa, tende para o repouso e a expansão; yang, a força
positiva, tende à estimulação e à contração. Nos organismos vivos, a
saúde depende do equilíbrio destas duas forças. Elas circulam ao longo
de canais vitais designados por meridianos, passíveis de serem deteta‑
dos através de meios eletrónicos. No caso de uma doença, os fluxos de
energia yin e yang ficam desequilibrados. O fluxo de energia pode ser
estimulado ou acalmado e o equilíbrio entre o yin e o yang restabelecido
através da perfuração da pele em certos pontos.

★★ Entre as principais indicações da acupuntura, encontram­‑se as alergias.


A asma, principalmente, parece reagir bem a este tratamento, em espe‑
cial nas crianças e em doentes que não apresentem complicações devi‑
das a outras doenças. Também as rinites alérgicas, assim como as afe‑
ções cutâneas de origem alérgica, podem beneficiar desta terapêutica.

UM BOM CONSELHO…

No que diz respeito às alergias, talvez menor capacidade para se curar a si pró‑
mais do que noutras doenças, os cuida‑ prio. Por isso, considere complementar a
dos de saúde deveriam ter em conta não medicina tradicional com outras formas
só a saúde física, mas também o estado de tratamento, como, por exemplo, o
psicológico ou emocional. Isto quer relaxamento, os exercícios físicos e respi‑
dizer que cada indivíduo detém maior ou ratórios e a dieta.

40
Capítulo 4

As rinites alérgicas
A As rinites alérgicas

O que é uma rinite?


O termo rinite designa uma inflamação da mucosa nasal, em que coe‑
xistem, de forma frequente e acentuada, três sintomas:
– espirros e comichão no nariz;
– corrimento nasal;
– obstrução (nariz entupido).

Obviamente, estes sintomas podem ser sentidos, de forma ocasional,


por qualquer pessoa. Nem todas as rinites são alérgicas.

Quais são as rinites não alérgicas?


Podem ser de três tipos:
– infecciosas: virais ou bacterianas, o corrimento nasal é espesso e pode
ficar infetado. A vulgar constipação é um exemplo;
– de obstrução mecânica: a passagem do ar é dificultada, por exemplo,
pela presença de um corpo estranho, por um desvio do septo nasal, pela
existência de um pólipo (veja a caixa Os pólipos nasais);
– vasomotoras: esta designação é reservada às rinites cuja origem é des‑
conhecida. Não são infecciosas nem, aparentemente, alérgicas e podem
estar relacionadas com mudanças bruscas de temperatura.

OS PÓLIPOS NASAIS

Os pólipos são formações salientes, Os pólipos não são tumores. Por vezes,
que surgem quando a mucosa nasal desaparecem espontaneamente, mas
fica inflamada e incha. Estas formações o mais vulgar é terem de ser retirados.
crescem, espalham­‑se pelas cavidades Os corticosteroides tomados por via
dos seios perinasais (veja a ilustração oral também podem ser eficazes, mas
As vias respiratórias), ocupam a cavi‑ devem ser utilizados apenas por curtos
dade nasal e bloqueiam a passagem do períodos, devido aos efeitos secundá‑
ar. Encontram­‑se, frequentemente, em rios que se verificam a longo prazo. Uma
pessoas asmáticas. São mais graves alternativa mais segura, embora menos
e recorrentes nas pessoas sensíveis a eficaz, são os corticosteroides adminis‑
determinados medicamentos, como os trados por via nasal. Apesar destes tra‑
que contêm ácido acetilsalicílico e os tamentos, na maior parte dos casos os
anti­‑inflamatórios. pólipos reaparecem.

43
A Prevenir e tratar as alergias

Quais são as rinites alérgicas?


As rinites alérgicas, as que interessam para este guia, podem ser de dois
tipos: sazonais e perianuais, consoante os sintomas se manifestem em
determinados períodos do ano ou apareçam em qualquer altura.

A rinite alérgica sazonal


ou febre­‑dos­‑fenos
Trata­‑se, mais precisamente, de uma rinoconjuntivite, dado que, na sua
forma mais comum, a rinite é acompanhada por uma irritação da con‑
juntiva do olho.
A designação popular de febre­‑dos­‑fenos provém de, desde longa data,
se ter verificado que o aparecimento dos sintomas coincidia com a época
dos fenos. Por extensão, esta designação passou a aplicar­‑se a todas as
rinites alérgicas sazonais.

Os alergénios responsáveis
As rinites alérgicas são provocadas, essencialmente, pelo contacto com
o pólen. As maiores fontes de pólen alergénico são as árvores e certas
plantas. Regra geral, as pessoas alérgicas não são sensíveis a todos os
tipos de pólen, mas apenas a um ou dois (parietária e dente­‑de­‑leão,
por exemplo). Os pólenes mais suscetíveis de desencadear sintomas de
alergia variam muito com as regiões.

★★ As árvores: algumas produzem um pólen de forte poder alergizante.


Regra geral, a polinização dá­‑se na primavera e tem uma duração vari‑
ável (entre três semanas e vários meses). No nosso país, a oliveira, o
cipreste e o plátano são os tipos de árvore que mais vulgarmente pro‑
vocam alergias. Os pinheiros produzem grandes quantidades de pólen,
mas de fraco efeito alergizante.

Atenção: os pinheiros de Natal provocam, a algumas pessoas, sintomas


de alergia! Quando colocados numa atmosfera aquecida, os pinheiros
exalam uma essência chamada terpina, responsável por desenvolver,
nas pessoas predispostas a isso, fenómenos alérgicos do tipo da febre­
‑dos­‑fenos. Nestes casos, a solução é simples: basta comprar uma árvore
artificial.

44
A As rinites alérgicas

★★ As gramíneas: constituem uma vasta família de plantas, entre as quais


se contam os cereais, mas, também, uma grande parte das ervas. No
entanto, só um número reduzido produz pólenes alergizantes em quan‑
tidades significativas. Este tipo de alergia polínica é a predominante no
centro da Península Ibérica, entre maio e junho.

★★ Os arbustos e algumas ervas: nesta categoria, a alergia à parietária


(alfavaca­‑de­‑cobra, planta que cresce nas paredes) é a mais frequente na
região mediterrânica. No nosso país, também surgem muitos casos de
sensibilização à tanchagem ou plantago.

O risco de alguém vir a desenvolver uma febre­‑dos­‑fenos depende de


predisposições genéticas (aquilo a que chamámos, no capítulo 1, atopia),
mas, também, do grau de exposição aos pólenes com elevada potencia‑
lidade de sensibilização. Estes fatores permitem compreender melhor
porque é que este problema varia muito em função das regiões e, na
mesma região, consoante as zonas (urbanas ou rurais). No entanto, os
alérgicos contam com uma ferramenta online muito útil. No sítio da
Rede Portuguesa de Aerobiologia têm acesso ao boletim polínico nacio‑
nal. Este agrupa as previsões de libertação de pólenes em todo o territó‑
rio português. Vá até www.rpaerobiologia.com e selecione a sua região.

PERÍODO DE POLINIZAÇÃO DE ALGUMAS ÁRVORES E PLANTAS


DEZ. JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT.
Artemisa
Aveia
Centeio
Cevada
Cipreste
Dente-de-leão
Grama
Milho
Oliveira
Parietária
Plantago
Plátano
Tília
Trigo
Urtiga
Como pode verificar, maio e junho são os meses em que o ar fica mais carregado de pólen. É também
neste período que aumentam as crises de alergia.

45
A Prevenir e tratar as alergias

★★ Na prática, os pólenes transportados pelo vento são os mais suscetíveis


de entrar em contacto com as mucosas das pessoas alérgicas. A época
de polinização varia com a espécie e a latitude (veja o quadro Período
de polinização de algumas árvores e plantas, na página anterior). Depende
da temperatura do solo e no nosso hemisfério começa mais tarde no
norte do que no sul. Devido às variações ambientais, os períodos críti‑
cos podem mudar ligeiramente de ano para ano.

★★ Os pólenes são libertados, unicamente, durante o dia. A quantidade em


suspensão no ar é muito maior quando o tempo está quente e seco do
que nos dias chuvosos e frescos. Este valor também pode variar de ano
para ano.

O PÓLEN

O pólen é constituído pelas células sexu‑ onde se efetua a fecundação. O reconhe‑


ais masculinas das plantas de semente e cimento entre as espécies é assegurado
é, por isso, indispensável à sua reprodu‑ por uma estrutura proteica e são estas
ção. Esta substância é libertada por uma proteínas que possuem um efeito alergi‑
determinada planta e transportada, por zante. Cada planta tem, portanto, um per‑
um inseto ou pelo vento, até outra planta, fil alergénico próprio.

Os sintomas
★★ A rinite alérgica manifesta­‑se por diversos sintomas:
– comichão no nariz e espirros em série;
– corrimento abundante, o que leva a pessoa a assoar­‑se constante‑
mente. Podem surgir pequenas hemorragias, na sequência da irritação
e fragilização dos vasos sanguíneos que cobrem as paredes internas do
nariz;
– congestão nasal, acompanhada pela sensação de cabeça inchada;
– possibilidade de perda temporária do olfato e do sabor, já que as ter‑
minações do nervo olfativo podem estar inflamadas ou estar bloquea‑
das por secreções muito abundantes;
– dilatação das trompas de Eustáquio (que ligam o ouvido médio à parte
posterior da garganta), com sensação de pressão, dor e estalidos nos
ouvidos. As crianças, mais do que os adultos, podem acumular líquido
no ouvido médio, o que provoca perda parcial de audição e, eventual‑
mente, infeções;

46
A As rinites alérgicas

– irritação e comichão nos olhos, o que leva a um círculo vicioso de


coçar­‑irritar­‑coçar.

★★ A intensidade dos sintomas varia bastante de pessoa para pessoa.


É mesmo provável que alguém tome por uma constipação de verão pro‑
longada aquilo que é, de facto, uma alergia sazonal.
O mais habitual é que as primeiras manifestações apareçam na infân‑
cia. Os sintomas agravam­‑se durante duas ou três estações, regra geral a
primavera ou o verão, em anos consecutivos. Depois, tornam­‑se estáveis
durante muitos anos para, finalmente, se atenuarem progressivamente.
As pessoas idosas raramente sofrem deste tipo de alergia.

Atenção: Quem sofre de febre­‑dos­‑fenos corre mais riscos de sofrer de


asma (que não será, forçosamente, sazonal).

O diagnóstico
O diagnóstico da febre­‑dos­‑fenos é, regra geral, fácil de fazer. No entanto,
é indispensável realizar testes cutâneos com diferentes antigénios, esco‑
lhidos de acordo com a região em que vive o doente, para determinar
com rigor qual o pólen ou pólenes a que está sensibilizado. Só desta
forma é possível dar início a um tratamento por imunoterapia.

O tratamento
★★ Nestes casos, é quase impossível evitar o contacto com o alergénio. No
entanto, pode tentar limitar a exposição:
– durante o período de polinização, durma sempre com as janelas do
quarto fechadas e areje esta divisão de manhã, sem provocar correntes
de ar;
– lave os cabelos antes de se deitar, para não ficar toda a noite em con‑
tacto com o pólen aí acumulado;
– um aparelho de ar condicionado, que filtra o ar, pode aliviar algumas
pessoas, mas não se esqueça dos cuidados inerentes à conservação deste
equipamento (limpeza e substituição dos filtros, etc.);
– evite passear por zonas onde existem as árvores ou plantas às quais
é alérgico;
– proteja os olhos com óculos escuros assim que sentir sintomas de
alergia. Compressas de água fria e lavagens com água destilada propor‑
cionam, em geral, algum alívio. Não use gotas sem o conselho do seu

47
A Prevenir e tratar as alergias

médico e, em caso algum, se o produto tiver mais de um ano (verifique


a data de validade).

★★ Os medicamentos mais utilizados são:


– os estabilizadores dos mastócitos: estes produtos são utilizados como pre‑
venção, para tentar impedir a manifestação dos sintomas. O tratamento
deve ser seguido durante toda a estação dos pólenes. A substância ativa
mais conhecida deste grupo é o cromoglicato de sódio, aplicado sob a
forma de spray nasal e de gotas para os olhos. Apesar de poder demorar
três a quatro semanas até atingir o seu efeito máximo, esta substância
tem efeitos secundários quase irrelevantes;
– os anti­‑histamínicos: substâncias utilizadas no tratamento dos sin‑
tomas. Existem duas gerações de anti­‑histamínicos. Os da primeira
podem causar efeitos secundários importantes, tais como sonolência,
vertigens, secura da boca e perturbações digestivas. Quanto aos da
segunda, têm menos efeitos secundários. São particularmente desa‑
conselhados aos homens com doenças da próstata, já que favorecem a
retenção de urina; às grávidas e às mães em período de aleitamento por‑
que diminuem a produção de leite; às pessoas que sofrem de glaucoma
(veja o Glossário), já que podem agravar os sintomas;
– os descongestionantes nasais: são utilizados quando o nariz está entupido,
mas não são específicos para as doenças alérgicas. Embora sejam muito
eficazes, o seu uso frequente e prolongado (mais de três dias) é desa‑
conselhado. Nestas condições, pode provocar o efeito contrário (rinite
medicamentosa), obrigando o doente a continuar com a medicação;
– os corticosteroides: existem em spray ou por via oral. São eficazes no tra‑
tamento dos sintomas, diminuindo a congestão nasal e a inflamação.
O tratamento deve ser feito de acordo com prescrição médica ou como
prevenção. Os seus efeitos secundários mais frequentes são os espirros e
irritação ou comichão no nariz. Não devem ser tomados por crianças, nem
em caso de gravidez, aleitamento ou infeções nasais por fungos ou vírus.

Atenção: os corticosteroides por via oral são, regra geral, desnecessá‑


rios e desaconselháveis, devido aos potenciais efeitos secundários que
incluem o aumento da tensão arterial e do peso, bem como a diminuição
da resistência às infeções!

★★ A imunoterapia costuma ser muito eficaz nos casos de febre­‑dos­‑fenos.


A decisão de recorrer a este tratamento deve ser tomada em função da
gravidade dos sintomas ou dos alergénios em causa.

48
A As rinites alérgicas

A rinite alérgica perianual


Numa rinite perianual, os sintomas podem aparecer em qualquer altura
do ano. Regra geral, estas rinites começam na infância, estando fre‑
quentemente associadas a outras doenças alérgicas, como a asma ou
o eczema.

Os alergénios responsáveis

O pó da casa
O principal responsável pelos fenómenos alérgicos, neste caso,
parece ser um animal muito pequeno da família dos ácaros, chamado
Dermatophagoides pteronyssinus. Este nome advém do facto de se ali‑
mentar de pequenas partículas de pele (derma, em grego) que descama‑
mos quotidianamente. Com efeito, o ser humano perde, todos os dias,
entre meio grama e um grama de tecidos mortos.

★★ O abrigo predileto destes ácaros é o colchão e a roupa de cama, particu‑


larmente rica em partículas de pele. Cada leito alberga, normalmente,
uma família numerosa (cerca de dez mil). O seu desenvolvimento é
favorecido pela humidade e, quando esta se encontra abaixo dos 50

O Dermatophagoides pteronyssinus
(aumentado 200 vezes)

49
A Prevenir e tratar as alergias

por cento, os Dermatophagoides não sobrevivem. Este fator explica as


variações sazonais no aparecimento dos sintomas alérgicos devidos a
estes organismos.
Infelizmente, os ácaros têm cerca de 0,3 milímetros, o que os torna
quase invisíveis a olho nu. Além disso, mais do que os ácaros pro‑
priamente ditos, são os seus excrementos que provocam reações
alérgicas.

Os bolores
A alergia aos bolores manifesta­‑se, sobretudo, pela asma (de que falare‑
mos no próximo capítulo) e, mais raramente, pela rinite.

Os animais domésticos
Muitas pessoas sofrem de uma alergia vulgarmente atribuída aos pelos
de gato ou de cão. Potencialmente alergizantes são também os coelhos,
os porquinhos­‑da­‑índia, os hamsteres e os cavalos. Na realidade, o ele‑
mento alergizante não é apenas o pelo, mas também as películas de
pele descamada que ficam coladas aos pelos e se dispersam pelo ar. Isto
explica por que razão uma pessoa alérgica pode manifestar os sinto‑
mas, mesmo sem estar em contacto com o animal responsável pela aler‑
gia. O grau de sensibilidade a estes animais varia bastante de pessoa
para pessoa.

As aves
A alergia às aves manifesta­‑se mais por reações respiratórias do que por
rinites. Este tipo de alergia será tratado no capítulo 5.

Os fatores ocupacionais
Designação dada aos fatores ou substâncias com os quais se entra em
contacto, diariamente, no decurso da atividade profissional. É o caso,
por exemplo, da alergia aos animais de laboratório, cujo princípio é idên‑
tico ao dos animais domésticos. Também aqui, e de um modo mais fre‑
quente, as alergias respiratórias assumem a forma de asma.
De referir, no entanto, a rinite alérgica do padeiro, devida a uma subs‑
tância existente na farinha, bem como a dos trabalhadores da madeira,
entre outros.

50
A As rinites alérgicas

Os alimentos

Os alergénios alimentares raramente são responsáveis pela rinite alér‑


gica. No entanto, o fator alimentar pode precipitar reações alérgicas,
através de mecanismos diferentes dos clássicos. O exemplo mais carac‑
terístico é o das bebidas alcoólicas, pois estas podem provocar sinto‑
mas graças à presença de substâncias químicas, como, por exemplo,
os sulfitos.

Origem desconhecida
Em alguns casos de rinite alérgica, não é possível identificar o alergénio
responsável. A afeção será então designada por rinite intrínseca ou vaso‑
motora. A sua frequência aumenta, consideravelmente, com a idade.

Os sintomas
Os sintomas da rinite alérgica podem ser quotidianos, frequentes ou,
simplesmente, ocasionais. No essencial, são idênticos aos da febre­‑dos­
‑fenos, mas, frequentemente, com menos irritação ocular. Nalgumas
pessoas, predominam os espirros com corrimento nasal; noutras é a
obstrução nasal que se evidencia. Regra geral, o sintoma de obstrução
tende a acentuar­‑se com o tempo.
Os sintomas são desencadeados, essencialmente, pelo contacto da
mucosa com o alergénio responsável, mas, também, por estímulos não
específicos (comuns à maioria dos casos): mudanças na temperatura do
ar, fumos ou gases irritantes, entre outros.
No decurso da evolução destas rinites alérgicas, podem desenvolver­‑se
pólipos nasais (veja a caixa Os Pólipos Nasais, na página 43).

O diagnóstico
O diagnóstico da rinite alérgica é baseado em vários fatores:
– a história clínica;
– os testes cutâneos, eventualmente confirmados por testes
sanguíneos;
– a contagem de eosinófilos e das imunoglobulinas de tipo E (veja o
capítulo 2).
Infelizmente, nem sempre é possível estabelecer um quadro clínico com
precisão.

51
A Prevenir e tratar as alergias

O tratamento
É evidente que o primeiro cuidado é, tanto quanto possível, evitar a
exposição ao alergénio. As medidas preventivas devem ser, por isso,
adaptadas à sua situação particular.

★★ No caso de alergia aos ácaros do pó:


– arejar a casa diariamente; basta abrir as janelas durante 30 minutos.
Durante o período de polinização (veja o quadro Período de polinização
de algumas árvores e plantas, na página 45), faça­‑o à noite ou quando a
pessoa alérgica não está em casa;
– lavar lençóis e fronhas a uma temperatura igual ou superior a 60 ºC;
– usar coberturas antiácaros para colchões e almofadas, se a gravidade
dos sintomas o justificar;
– renovar colchões e almofadas, dando preferência aos materiais
sintéticos;
– manter no quarto condições de humidade pouco favoráveis ao desen‑
volvimento dos ácaros (ou seja, um baixo grau de humidade). Se neces‑
sário, pode recorrer a um desumidificador de ambiente;
– aspirar e limpar com frequência.

★★ No caso de alergia a um animal doméstico, a medida radical consiste,


evidentemente, em afastá­‑lo, o que nem sempre é fácil para o doente e/
ou para a sua família. Para evitar danos psicológicos, sobretudo no caso
das crianças, estabeleça algumas regras. O animal não deve entrar nos
quartos e é necessário manter o espaço onde se movimenta limpo, de
modo a evitar a acumulação de pelos. As escovagens frequentes tam‑
bém são uma medida útil.

★★ Além destas medidas preventivas, podem ser receitados diferentes tipos


de medicamentos, que devem adaptar­‑se a cada caso particular. É pre‑
ciso utilizá­‑los com discernimento e nunca aumentar as doses sem o
conselho do médico que acompanha o doente. Regra geral, o médico
prescreve, em simultâneo, um anti­‑histamínico e um descongestionante.
O primeiro bloqueia a produção de histamina e, consequentemente, eli‑
mina ou reduz a reação alérgica. O segundo é um vasoconstritor que
alivia a obstrução nasal. Raramente são necessários os corticosteroides
por via oral ou injetável, mas a sua utilização via nasal é, regra geral,
muito eficaz.

52
A As rinites alérgicas

ATENÇÃO!

Os descongestionantes em gotas, muitas em casos de alergia incomodativa, pode


vezes utilizados para aliviar obstruções gerar um verdadeiro círculo vicioso.
nasais, dão um primeiro resultado bastante Quanto aos anti­ ‑histamínicos, alguns
positivo, mas geralmente seguido de uma podem provocar sonolência, embora já
congestão ainda mais intensa. O  abuso existam medicamentos desprovidos deste
deste tipo de gotas, infelizmente habitual efeito.

53
Capítulo 5

A asma e as alergias
respiratórias
A A asma e as alergias respiratórias

Algumas noções de anatomia e fisiologia


Para melhor compreender o que é a asma, é necessário ter algumas
noções de anatomia e saber como funciona o aparelho respiratório.

★★ O aparelho respiratório pode ser dividido em duas partes:


– as estruturas que servem de vias condutoras para o ar que respira‑
mos, ou seja as fossas nasais, a boca, a faringe, a laringe, a traqueia e
a árvore brônquica. A função das vias respiratórias é fornecer ar aos
alvéolos a uma temperatura adequada (a do corpo) e com um bom grau
de humidade. Para isso, as paredes das vias respiratórias estão cobertas
de células especializadas, algumas das quais segregam muco. Mas, se o
muco for muito abundante ou muito espesso pode obstruir os bronquí‑
olos. Este fenómeno parece influenciar o aparecimento dos sintomas
da asma;

As vias respiratórias

seios
perinasais

narinas

laringe

traqueia

brônquios

bronquíolos

57
A Prevenir e tratar as alergias

– os alvéolos pulmonares, onde se fazem as trocas gasosas entre o ar


inspirado e a circulação sanguínea. A sua função consiste em captar o
oxigénio do ar inspirado, introduzi­‑lo na circulação sanguínea e, por
outro lado, eliminar o dióxido de carbono.

★★ Ao longo das vias respiratórias (veja a ilustração As vias respiratórias, na


página anterior), existe o risco de perturbações que impeçam a passa‑
gem do ar:
– é ao nível do nariz que se encontra a passagem mais estreita para o ar
que respiramos. No entanto, em caso de obstrução nasal, a boca assume
facilmente essa função. Do mesmo modo, durante os exercícios físicos,
que aceleram a respiração, o ar passa tanto pelo nariz como pela boca;
– a segunda passagem estreita que o ar encontra ao longo do seu per‑
curso é a laringe, isto é, o espaço situado entre as duas cordas vocais.
Um inchaço dos tecidos da laringe (edema) pode ser fatal se obstruir
completamente as vias respiratórias. Esta situação pode ocorrer quando
há acidentes alérgicos graves;
– a traqueia e a raiz dos brônquios têm, nas suas paredes, anéis cartila‑
gíneos (com cartilagens), pelo que uma contração dos músculos, ainda
que violenta, não poderá levar a uma obstrução completa. No entanto, a
cartilagem reduz­‑se, progressivamente, à medida que também o calibre
dos brônquios diminui. Assim, uma contração da parede dos pequenos
brônquios pode provocar uma obstrução completa. A este fenómeno
chama­‑se broncoconstrição.

O que é a asma?
A asma é uma doença crónica, caracterizada pela inflamação das vias
respiratórias. Nestas condições, as vias respiratórias tornam­‑se parti‑
cularmente sensíveis a vários estímulos ou fatores desencadeantes. Em
caso de exposição a estes fatores, as vias respiratórias ficam com o seu
calibre reduzido, limitando o fluxo de ar.
O estreitamento dos brônquios é uma consequência do espasmo brôn‑
quico, da produção abundante de muco e do edema (inchaço). A obstrução
das vias respiratórias é, regra geral, espontaneamente reversível. Noutros
casos, pode ser revertida com um tratamento adequado. No entanto, em
alguns doentes com asma crónica pode existir um componente irreversí‑
vel, isto é, que não se altera mesmo com a medicação apropriada.

58
A A asma e as alergias respiratórias

É de salientar que as crises de asma têm um caráter episódico, mas a


inflamação das vias respiratórias é crónica. Portanto, a asma é uma
doença que requer tratamento a longo prazo, o que significa que mui‑
tos doentes necessitam de tomar medicamentos preventivos diários
durante muito tempo.

É GRAVE?

O termo asma designa situações de gra‑ existe ainda uma recusa generalizada
vidade muito variável, que vão de um sim‑ em admitir a gravidade do mal.
ples desconforto respiratório ocasional a • Por outro lado, a asma é uma doença
crises repetitivas ou de intensidade tal civilizacional. De facto, as alterações do
que podem, ainda que raramente, pôr a meio ambiente trouxeram elementos
vida em perigo. cada vez mais agressivos para os brôn‑
• A asma pode ser, ou não, de origem quios. Não deixa de ser significativo que
alérgica. De acordo com estudos a frequência e a gravidade da doença
recentes e apesar dos progressos da aumentem consideravelmente nas cida‑
medicina, a mortalidade devida à asma des, sobretudo, nas grandes. Assiste­
continua a aumentar. Este fenómeno é ‑se ao aparecimento de novos tipos de
tanto mais inquietante quanto aparece asma até agora desconhecidos, sem
mais marcado nos jovens. No entanto, que se saiba, exatamente, porquê.

Conheça os culpados…

A asma alérgica, a que nos interessa neste guia, é uma das manifestações
de atopia (veja o capítulo 1). Trata­‑se, portanto, de uma predisposição de
caráter hereditário para reagir, violentamente, a certas substâncias.

★★ Os alergénios responsáveis pelo desencadear de uma crise de asma são,


grosso modo, os que também estão na origem dos sintomas da rinite
alérgica: ácaros do pó, pelos de animais, pólenes, bolores, etc. Além dos
alergénios específicos, os asmáticos são muito sensíveis a diferentes
fatores irritantes que podem, por si só, desencadear uma crise de asma.
Muitas vezes, estas surgem pela ação conjunta da exposição a alergénios
e a fatores irritantes.

★★ Entre estes fatores, são de referir:


– a inalação de fumos, especialmente o do tabaco, mas também o das
lareiras; poeiras abundantes; ar seco e frio; o cloro da água das piscinas,
entre outros;

59
A Prevenir e tratar as alergias

– as infeções respiratórias, que podem ir de uma simples constipação


a bronquites graves, degeneram, frequentemente, em crises de asma.
É, de resto, muito comum, que as primeiras crises de asma numa criança
apareçam por ocasião de infeções agudas das vias respiratórias;
– as emoções. Não há qualquer dúvida de que, entre os asmáticos já
diagnosticados, principalmente as crianças, uma crise de asma pode ser
desencadeada por uma emoção forte;
– os alimentares, pois alguns asmáticos podem sofrer uma crise após
a ingestão de certos alimentos. No banco dos réus estão, sobretudo, os
aditivos. É o caso dos sulfitos e do glutamato (a síndroma do restau‑
rante chinês). A relação entre os alimentos ingeridos e o aparecimento
dos sintomas é, muitas vezes, difícil de estabelecer. Por outro lado, o
mecanismo que está na sua origem não é completamente conhecido.
Admite­‑se, no entanto, que a influência dos fatores alimentares seja
muito menor do que se pensava;
– uma eventual intolerância a medicamentos (veja o capítulo 9). A sus‑
peita de uma reação asmática aos medicamentos deve ser comunicada
ao médico.

A ASMA E O FUMO DO TABACO

O fumo do tabaco não é um alergénio, mas contraria a ação dos broncodilatadores.


aumenta a irritação das vias respiratórias As crianças são muito sensíveis ao fumo
nas pessoas asmáticas. Alguns estudos do tabaco. Por isso, se fumar regular‑
detetaram, nos fumadores, taxas eleva‑ mente em casa, os seus filhos estarão
das de anticorpos IgE (veja o capítulo 1). mais sujeitos a infeções respiratórias e
Além disso, o fumo do tabaco leva ao ao agravamento dos sintomas de uma
estreitamento dos bronquíolos, o que doença asmática.

Os sintomas

A crise de asma
★★ A evolução de uma crise de asma é, regra geral, bastante estereotipada:
sensação de aperto no peito, seguida de um ruído respiratório audível
tipo chiadeira, de dispneia (dificuldade em respirar) sobretudo na expi‑
ração, e de uma acentuada sensação de angústia. A crise pode durar
algumas horas e, na parte final, é acompanhada de expetoração e, nor‑
malmente, de tosse.

60
A A asma e as alergias respiratórias

As pessoas que têm problemas de brônquios estão mais expostas a estas


crises, que podem levar, progressivamente, a lesões graves dos brôn‑
quios e a uma insuficiência respiratória cada vez menos sensível aos
tratamentos. Daí, a importância da prevenção e de um tratamento pre‑
coce e adaptado a cada caso particular. Não hesite em dirigir­‑se às con‑
sultas da especialidade, onde pode informar­‑se sobre as características
da doença, os efeitos dos tratamentos, os limites da automedicação, os
fatores de risco e sobre a possibilidade de um acompanhamento.

★★ As crises de asma surgem periodicamente, a ritmos muito distintos de


uma pessoa para outra. Uma forma de avaliar a gravidade da doença é
estabelecer, com alguma precisão, os reflexos das crises na vida quo‑
tidiana do doente. Por exemplo, o número de dias que faltou à escola
ou ao trabalho, a necessidade de diminuir, em maior ou menor grau,
determinadas atividades físicas, o número de noites em que o sono foi
perturbado por uma crise. O médico terá também em conta:
– a frequência das chamadas de urgência (ou do recurso às urgências de
um hospital) e o número de dias de internamento;
– os medicamentos necessários (número e dose) para melhorar a situa‑
ção do doente;
– a avaliação objetiva do grau de obstrução brônquica, através de um
aparelho que permite medir o débito expiratório (veja a ilustração).

A medição diária do débito expiratório,


através do peak flow meter, é uma medida útil
para algumas pessoas.

61
A Prevenir e tratar as alergias

★★ A asma alérgica, ou extrínseca, começa frequentemente na infância,


quando as crianças contraem uma infeção respiratória. Essas crianças
podem ainda apresentar outros sintomas de natureza alérgica, como
um eczema ou uma rinite. É curioso verificar que, na infância, a asma
é mais frequente nos rapazes do que nas raparigas. Por volta dos vinte
anos, já não existe qualquer diferença.
A asma alérgica raramente surge no início da idade adulta. Nestes casos,
ocorre sobretudo após uma exposição intensiva ao alergénio responsá‑
vel. É absolutamente excecional que apareça mais tarde.

SE PRATICA DESPORTO…

• A situação clínica conhecida como a perda de calor e de humidade das


asma de esforço ou de exercício acon‑ vias respiratórias, resultantes da ina‑
tece com alguma frequência, particu‑ lação de grandes quantidades de ar
larmente nas crianças e nos jovens. muito frio e seco.
Caracteriza­‑se pelo aparecimento de • Algumas medidas preventivas, como os
crises de asma durante ou após um exercícios de aquecimento progressi‑
exercício físico. Apesar de, regra geral, vos, a respiração pelo nariz e, eventual‑
aparecerem em asmáticos já iden‑ mente, a inalação de um medicamento
tificados como tal, podem surgir só apropriado antes da prática desportiva,
com o exercício. Os fatores responsá‑ possibilitam ao asmático continuar a
veis pelo desencadear das crises são fazer desporto.

★★ A par da asma alérgica, existe também a asma não alérgica ou intrín‑


seca. Este tipo de asma manifesta­‑se numa idade muito mais avançada
e tem tendência a tornar­‑se crónica, isto é, o doente manifesta de forma
permanente sintomas respiratórios.

O diagnóstico
★★ Durante uma crise, o diagnóstico da asma é fácil de fazer. Fora desta,
o médico baseia­‑se, normalmente, num interrogatório minucioso,
que inclui:
– a descrição das crises e dos sintomas, a sua frequência e duração, o
momento do dia e a época do ano em que se manifestam, etc.;
– os antecedentes familiares: há outros membros da família mais pró‑
xima que sofram de asma ou de outras manifestações alérgicas?

62
A A asma e as alergias respiratórias

– a história clínica pessoal. Por exemplo, como foi exatamente que se
manifestou a crise? Existem outras manifestações alérgicas?
– o contexto ambiental: Qual o meio em que vive? Com quem e com que
coisas está em contacto?

Para melhor definir e comprovar o diagnóstico, o médico pode ainda


recorrer a exames complementares.

★★ Exames respiratórios funcionais: no caso da asma, estes exames visam


medir os volumes expiratórios, isto é, a quantidade máxima de ar que o
doente pode expirar durante um certo tempo. A broncoconstrição reduz
este volume no asmático, mesmo fora de uma crise. O exame pode ser
repetido após inalação de uma substância broncodilatadora. Tratando­
‑se de asma, os valores tendem a melhorar. Podem ainda ser feitas outras
medições mais sofisticadas.
De entre os exames respiratórios, o peak flow meter é um método muito
simples, que o próprio doente pode executar em casa (veja a ilustra‑
ção, na página 61). Ele permite avaliar a gravidade da situação clínica,
seguir a evolução e a resposta ao tratamento. O valor determinado neste
pequeno aparelho é o débito expiratório máximo instantâneo (DEMI), ou
seja o volume mais elevado que o ar atinge nas vias respiratórias, nas
primeiras frações de segundo de uma expiração forçada. Apesar de ser
fácil de utilizar, existem algumas regras a seguir, que deverão ser expli‑
cadas pelo médico ou pelo técnico. O doente deve executar o teste três
vezes e registar o melhor dos valores obtidos. Se for feito um registo ao
longo de duas ou três semanas, é possível analisar as variações diárias
e ao longo do tempo.
Para instituir um tratamento adequado a cada caso, é indispensável
avaliar, com o maior rigor, a gravidade da doença, através dos sintomas
e dos valores do DEMI.

S.O.S. ASMA

Chame imediatamente o médico, ou recorra às urgências, se o doente:


– sofrer um aumento do ritmo respiratório acima das trinta inspirações por minuto;
– exceder as cento e vinte pulsações por minuto;
– empalidecer, vomitar ou sentir dores no peito.

63
A Prevenir e tratar as alergias

A asma classifica­‑se do seguinte modo:

GRAUS DE GRAVIDADE DA ASMA


GRAUS SINTOMAS GERAIS SINTOMAS NOTURNOS DEMI *
Crises episódicas, menos
Entre 80 e 100
GRAU 1 de uma vez por semana,
Até duas vezes por mês. por cento do valor
Intermitente sem alterações funcionais
normal.
significativas.
Crises até uma vez por
GRAU 2 semana, com uso moderado de Entre 80 e 100
Mais de duas vezes por
Persistente broncodilatadores. A atividade por cento do valor
mês.
ligeira e o comportamento são normal.
ligeiramente afetados.
Crises diárias, com uso
GRAU 3 permanente ou muito frequente Entre 60 e 80
Mais de uma vez por
Persistente de broncodilatadores. por cento do valor
semana.
moderada Alterações significativas da normal.
atividade.
Asma invalidante, com
perturbações respiratórias
GRAU 4 Inferior a 60
constantes, agravadas ao
Persistente Muito frequentes. por cento do valor
menor esforço. Situação
grave normal.
excecional, que exige
internamentos frequentes.
* DEMI = Débito Expiratório Máximo Instantâneo, medido através do Peak Flow Meter

A classificação da gravidade da asma é muito importante, tanto a nível da prevenção como da avaliação
da situação do doente, permitindo definir, de forma correta, o tratamento adequado.

★★ Exames ao sangue: a contagem dos glóbulos brancos eosinófilos, tal como


o doseamento da IgE (veja o capítulo 2), dá apenas informações gros‑
seiras acerca do grau de alergia ou da gravidade da asma. Além disso,
valores normais não permitem excluir a possibilidade da asma.

★★ Análise das expetorações: em caso de asma, as expetorações contêm, no


mínimo, 20 por cento de células eosinófilas.

★★ Radiografia ao tórax: visa detetar outras afeções pulmonares ou a exis‑


tência de complicações provocadas pela asma.

★★ Testes cutâneos: a identificação do ou dos alergénios responsáveis


pelas crises de asma pode ser feita através de testes cutâneos. No
entanto, o resultado destes testes nem sempre é suficientemente
claro. Alguns casos podem requerer a utilização de testes mais com‑
plexos. Não hesite, se for caso disso, em pedir ao seu médico uma
explicação clara.

64
A A asma e as alergias respiratórias

Os aspetos psicológicos

Para que a asma se manifeste, é necessário que estejam reunidas algu‑


mas condições como a predisposição genética, o contacto repetido com
um ou mais alergénios sensibilizantes, etc. Mas é provável que o fator
psicológico também tenha um papel importante (veja o capítulo 11).
A asma pode interferir de forma negativa em diferentes aspetos da vida
quotidiana. É o caso, por exemplo, da prática desportiva ou de dificul‑
dades na vida sexual. O último é um problema difícil de abordar no
consultório médico e, nesta situação, é importante que o doente tenha
um parceiro compreensivo. O apoio psicológico pode, também, revelar­
‑se muito útil.

O tratamento

Evitar o alergénio
A primeira precaução a tomar pelas pessoas que sofrem de asma con‑
siste em evitar a substância que desencadeia as crises. Infelizmente, na
prática, isso nem sempre é fácil. Apesar de tudo, impõem­‑se algumas
medidas preventivas:
– evitar qualquer contacto com animais domésticos;
– suprimir ao máximo todos os locais da habitação onde se acumula pó,
principalmente no quarto (veja os capítulos 4 e 11);
– evitar o contacto com todo o tipo de agentes irritantes, como o fumo;
– abster­‑se de praticar exercício físico em ambientes frios e secos.

UM BOM CONSELHO…

Procure respirar sempre pelo nariz. Desta forma, o ar aquece e humidifica mais facil‑
mente, antes de atingir as vias respiratórias, diminuindo o risco de uma crise de asma.

A imunoterapia
Os tratamentos de hipossensibilização ou imunoterapia são hoje acei‑
tes como a medida mais eficaz para combater as causas de uma asma

65
A Prevenir e tratar as alergias

alérgica. As indicações devem ser claras e o tratamento seguido com


regularidade e orientado por um médico especializado.
A decisão de iniciar um tratamento por imunoterapia deve ser tomada
após o estudo aprofundado de cada caso concreto, com a clara identifi‑
cação do alergénio em causa.

Atenção: a imunoterapia é praticada, apenas, sob vigilância médica e


em locais equipados com o material necessário, já que existe o risco de
desencadear uma crise de asma grave. De facto, existem dois tipos de
reação possíveis: as locais, com vermelhidão na zona de aplicação, e as
gerais, de maior gravidade, que exigem a intervenção do médico.

O tratamento preventivo
★★ O cromoglicato de sódio é um produto utilizado para impedir a liberta‑
ção das substâncias responsáveis pelos sintomas da alergia. Consoante
os casos, o medicamento é inalado antes de uma exposição ao alergénio
ou de modo sistemático. Na segunda possibilidade, deve ser tomado de
uma forma regular (no início, quatro a seis vezes por dia e, mais tarde,
duas a três vezes por dia), seguindo a técnica correta. Os efeitos secun‑
dários são pouco significativos. Pode ocorrer, por exemplo, uma irrita‑
ção na garganta.
No entanto, o cromoglicato não é eficaz em todos os asmáticos e, na
maioria das vezes, é ineficaz nos casos de asma intrínseca.

Atenção: o cromoglicato é um medicamento preventivo e não tem qual‑


quer efeito depois de desencadeada uma crise. Além disso, só é ativo
quando aplicado localmente. Deve ser inalado (aerossóis ou cápsulas de
pó seco), já que, quando ingerido, não produz qualquer efeito.

★★ Existem duas substâncias anti­‑histamínicas com um efeito semelhante


ao do cromoglicato, mas eficazes por via oral: o cetotifeno e a oxato‑
mida. Devem ser tomadas de forma bastante regular e durante muito
tempo. Estes medicamentos podem causar sonolência, efeito que está
ausente nos medicamentos administrados por via inalatória.

Os broncodilatadores
★★ Como o nome indica, são medicamentos que provocam uma dilatação
dos brônquios. De acordo com a gravidade da doença, podem ser uti‑
lizados apenas quando ocorre uma crise de asma, ou então, de forma

66
A A asma e as alergias respiratórias

regular. A maior parte está disponível sob a forma de inaladores, mas


também é possível encontrá­‑los em comprimidos, xaropes ou injeções.
As últimas estão reservadas a situações graves.
Utilizado por via inalatória, o medicamento age diretamente sobre a
zona afetada. Por isso, a dose necessária é muito mais fraca do que a
administrada por via geral (comprimidos, xaropes e injeções).

Atenção: siga à risca as indicações do médico. Uma sobredosagem pode


ter efeitos graves, como, por exemplo, ganhar resistência ao medi‑
camento. Em caso de crise grave, este efeito pode ter consequências
dramáticas.

★★ Entre os broncodilatadores, citamos os simpaticomiméticos, ou


agonistas­‑beta, que têm vindo a ser aperfeiçoados, existindo exemplos
muito eficazes, praticamente sem efeitos cardiovasculares (agonistas­
‑beta 2). Estes produtos podem ser aplicados por via inalatória (inala‑
dores pressurizados e pó seco), proporcionando uma broncodilatação
rápida, que pode manter­‑se durante quatro a seis horas. Durante uma
crise, o doente poderá repetir as inalações quatro a seis vezes por dia.
Com estas doses, os efeitos secundários são, ainda, reduzidos.
Quando a crise é grave e não melhora com os medicamentos, o doente
deve contactar o médico ou recorrer a um serviço de urgências. Neste
caso, os broncodilatadores podem ser injetados.
Existem, broncodilatadores de ação mais prolongada (12 horas). A sua
utilização, de modo permanente, é indicada para os doentes que neces‑
sitam de recorrer muitas vezes aos broncodilatadores de ação curta.

★★ A teofilina e seus derivados também podem ser utilizados para tratar o


broncospasmo. A via retal (supositórios) está hoje posta de parte, pelos
inconvenientes que acarreta: inflamações do reto (rectites) e a possi‑
bilidade de absorção irregular. Existem vários preparados para admi‑
nistração por via oral (comprimidos, cápsulas) que têm uma absorção
retardada, o que lhes concede um efeito broncodilatador prolongado
(12 horas). Mas é necessário estar atento aos efeitos secundários (dores
de cabeça, náuseas, vómitos, alterações do ritmo cardíaco, etc.), pois as
doses terapêuticas estão muito próximas das doses tóxicas.
Trata­‑se de medicamentos de utilização mais complexa. Por este
motivo, mas também porque o tratamento inalatório causa menos
efeitos secundários, são habitualmente relegados para segundo plano
como broncodilatadores.

67
A Prevenir e tratar as alergias

★★ Existem ainda antagonistas recetores de leucotrienos, como o mon‑


telucaste. Funcionam como dilatadores dos brônquios por via oral
(comprimidos).

Os corticosteroides
Os corticosteroides são potentes anti­‑inflamatórios e, atualmente,
os medicamentos mais eficazes no tratamento da asma brônquica.
No entanto, têm efeitos secundários consideráveis, pelo que não podem

COMO UTILIZAR O INALADOR?

• Existem diversos tipos de inaladores, coordenação entre o movimento de


cada um deles com regras de utiliza‑ pressão sobre o spray e a inalação.
ção específicas. No caso dos inaladores Se a coordenação for má, uma parte
pressurizados, que são o modelo clás‑ do produto pode ser engolida em vez
sico, as etapas a cumprir são as seguin‑ de inalada e será, nesse caso, muito
tes (veja a ilustração na página seguinte): menos eficaz.
1. Sacudir o frasco e pegar no aparelho • Quando o doente tem dificuldade
com dois dedos. em executar corretamente esta téc‑
2. Expirar normalmente, introduzir o bocal nica, o  que acontece sobretudo com
entre os dentes e apertar os lábios. as crianças e pessoas idosas, torna­
3. Inclinar a cabeça para trás e inspirar, ‑se indispensável recorrer ao uso de
lenta e profundamente, ao mesmo câmaras expansoras (veja a ilustração
tempo que liberta um jato de aerossol, abaixo), que prescindem da coordena‑
através de uma leve pressão com os ção entre a inspiração e a pressão do
dedos. inalador. Além disso, ajudam a diminuir
4. Suster a respiração durante dez segun‑ o depósito de produto na garganta.
dos (contar até dez). • Existem também dispositivos que não
5. Retirar o bocal e expirar lentamente. são pressurizados. É o caso dos turbo‑
• A utilização correta de um inalador haler e dos diskus que exigem a correta
pressurizado requer, portanto, uma boa inspiração do produto.

A utilização de câmaras expansoras


facilita a tarefa aos asmáticos que têm
dificuldade em coordenar o movimento
de pressão do spray com a inalação.

68
A A asma e as alergias respiratórias

ser usados em doses elevadas nem durante muito tempo. O aparecimento


de corticosteroides ativos por inalação, praticamente desprovidos de
efeitos secundários, foi o maior avanço dos últimos anos no tratamento
da asma. Estes medicamentos são utilizados no tratamento de todos os
casos com sintomas persistentes (mais do que uma crise por semana).
Em situações mais graves, é necessário tomar corticosteroides por via
oral, em doses tão baixas quanto possível. A via injetável utiliza­‑se ape‑
nas nas crises muito graves e sempre por períodos curtos.

1 2

4 5

69
A Prevenir e tratar as alergias

Os tratamentos complementares

Além da imunoterapia e dos medicamentos, existem ainda trata‑


mentos complementares. Mais do que úteis, eles são, muitas vezes,
necessários.

★★ A ginástica respiratória continua a ser o melhor, já que permite aliviar


as crises.

★★ Também está provado que alguns asmáticos quando têm crises associa‑
das à emoção melhoram com o recurso à psicoterapia.

★★ Finalmente, assinalamos a existência de algumas instituições de apoio,


como, por exemplo, a Associação Portuguesa de Asmáticos (APA).

A ASMA NÃO TEM CURA, MAS…

… o objetivo do tratamento é:
– reduzir e, se possível, eliminar os sintomas crónicos;
– evitar as crises agudas e o uso de alguns medicamentos;
– impedir as limitações no desempenho de atividades, incluindo o exercício físico;
– manter a função respiratória o mais próxima possível dos valores normais.

Superar as crises
★★ A opção por um determinado tratamento é adaptada a cada doente,
em função de numerosos fatores:
– a idade;
– o tipo de alergénio(s) em causa;
– a frequência e intensidade das crises;
­‑ a resposta a eventuais tratamentos preventivos;
– o estilo de vida;
– os resultados de um tratamento anterior, se este existir;
– a situação económica, etc.

★★ Além dos tratamentos indicados pelo médico, há um certo número de


regras que devem ser respeitadas:
– acompanhar e acalmar o doente é um fator essencial, já que a sensação
de asfixia é particularmente angustiante;

70
A A asma e as alergias respiratórias

Atenção: nunca recorra a tranquilizantes, porque muitos destes medica‑


mentos têm um efeito depressivo sobre o sistema respiratório.
– na medida do possível, dar de beber ao doente para facilitar a dilui‑
ção das secreções e humidificar o ambiente. Existem aparelhos próprios
para este efeito (humidificadores do ar).

MAIS VALE PREVENIR…

As crises de asma muito graves podem ser mortais, ainda que isso seja extremamente
raro. Por esse motivo, necessitam de uma hospitalização de urgência num serviço de
cuidados intensivos.

Asma, hereditariedade e gravidez


Ao que tudo indica, a asma não é hereditária, mas as tendências alér‑
gicas são­‑no. A influência da hereditariedade levanta ainda numerosas
polémicas.
Por outro lado, a asma não afeta a gravidez ou o parto. Porém, as mudanças
hormonais podem modificar a gravidade da doença. Estatisticamente,
um terço das mulheres asmáticas melhoram durante a gravidez, outro
terço sofre um agravamento das crises e as restantes não parecem sofrer
quaisquer modificações.

Atenção: durante a gravidez, continue a tomar os medicamentos receita‑


dos para a asma, sob estrita observação médica. Eventuais alterações na
medicação devem ser decididas pelo médico.

Asma e medicamentos
Alguns medicamentos podem desencadear crises, por vezes muito gra‑
ves, nas pessoas asmáticas. Trata­‑se, especialmente, dos medicamen‑
tos designados por bloqueadores beta, utilizados para o tratamento da
hipertensão. A probabilidade de que as crises ocorram é menor com os
medicamentos cardioseletivos.
Se sofre de asma crónica, evite tomar medicamentos que contenham
ácido acetilsalicílico, uma vez que cerca de 10 por cento dos asmáticos,
crianças ou adultos, sofrem um agravamento da asma quando o tomam.
O mesmo acontece com outros analgésicos e alguns anti­‑inflamatórios,
sobretudo os que contêm ibuprofeno, naproxeno ou piroxicam. Alguns

71
A Prevenir e tratar as alergias

estudos apontam ainda uma relação entre o paracetamol e a asma (veja


também o capítulo 9).

ALGUNS CONSELHOS…

Os asmáticos devem utilizar todos os 6. Aprenda a reagir de forma positiva, se


meios ao seu alcance para diminuir a as crises tiverem tendência a surgir sob
gravidade e a frequência das crises. o efeito das contrariedades.
Por isso, aqui ficam alguns conselhos 7. Pratique desporto ao ar livre, mas sem
suplementares. perder o fôlego. Evite os de competição,
1. Mantenha uma higiene doméstica rigo‑ onde intervêm fatores emocionais.
rosa. Aspire os colchões, areje a roupa 8. Não opte pelos desportos de interior,
da cama e todos os aposentos quoti‑ que o põem em contacto com a poeira
dianamente, para eliminar ao máximo dos ginásios.
o pó da casa. 9. A natação em piscinas descobertas ou
2. Evite o fumo do tabaco. no mar é uma boa escolha. Conta com
3. Afaste todas as causas possíveis das cri‑ menos riscos de agressão pela humi‑
ses: animais, plantas bolorentas, etc. dade, pelos desinfetantes e pelos ger‑
4. Passeie ao ar livre, mas evite apanhar frio. mes infecciosos, que são mais ativos
5. Respire pelo nariz. nas piscinas cobertas.

As doenças pulmonares
de origem alérgica
A aspergilose
O aspergillus é um fungo que pode provocar diversas doenças
pulmonares:
– asma, nas pessoas predispostas. As crises são desencadeadas pela ina‑
lação dos esporos;
– aspergilose broncopulmonar alérgica, em indivíduos asmáticos. As
vias respiratórias, quando cheias de muco, favorecem o desenvolvimento
do aspergillus, que provoca uma estimulação antigénica permanente e,
em consequência, uma degradação progressiva da função respiratória.
O diagnóstico é confirmado pela análise da expetoração, por radiogra‑
fias pulmonares, testes cutâneos e provas laboratoriais. O tratamento,
à base de corticosteroides, deve iniciar­‑se tão cedo quanto possível.
Só desta forma se podem evitar degradações pulmonares irreversíveis;
– outras afeções não alérgicas e, portanto, fora do âmbito deste guia.

72
A A asma e as alergias respiratórias

As alveolites alérgicas
Trata­‑se de uma inflamação dos alvéolos, de origem alérgica, causada
pela inalação de partículas de diversas matérias orgânicas. A lista
deste tipo de alveolites torna­‑se cada vez mais extensa, à medida que
as pesquisas neste domínio vão evoluindo. Estas doenças são frequen‑
temente contraídas em meio profissional, afetando, entre outros, tra‑
balhadores de diferentes indústrias especializadas: porcelana, maté‑
rias plásticas, resinas, etc. Pode encontrar alguns exemplos no quadro
que se segue.

DOENÇAS ORIGEM
Pulmão do fazendeiro Feno
Pulmão do criador de aves Dejetos de aves
Pulmão do espeleologista Dejetos de morcegos
Doença do apanhador
Húmus
de cogumelos
Doença do queijeiro Bolores
Doença do técnico Água contaminada em circulação
de ar condicionado nos sistemas de climatização

OS BOLORES

Os bolores são um tipo de fungo (plantas um pouco por toda a parte, dentro de
microscópicas sem clorofila). O seu desen‑ casa como no exterior;
volvimento depende de outras plantas ou – a sua cultura em laboratório nem sem‑
de um suporte animal. Além disso, preci‑ pre é fácil;
sam de um grau de humidade bastante – os testes de diagnóstico nem sempre
elevado e de uma temperatura superior a dão resultados satisfatórios, devido à difi‑
10 ºC. Se encontrarem essas condições, culdade em obter extratos de boa quali‑
os bolores produzem um grande número dade que possam conservar a sua potên‑
de esporos, que ficam em suspensão no cia alergénica;
ar e podem introduzir­‑se nas vias respira‑ – cada bolor produz várias substâncias
tórias, provocando reações alérgicas. potencialmente alergénicas.
Os bolores têm um papel importante no Os bolores causam, com frequência, aler‑
sistema ecológico porque permitem a gias profissionais. Eles são usados na
transformação dos resíduos orgânicos indústria alimentar (pão, cerveja, vinho e,
em húmus. O seu papel nas alergias res‑ sobretudo, queijos) e na indústria farma‑
piratórias é difícil de avaliar, pois: cêutica (essencialmente para o fabrico de
– os esporos dos bolores encontram­‑se antibióticos).

73
A Prevenir e tratar as alergias

Os sintomas

A alveolite alérgica pode apresentar­‑se sob a forma aguda, subaguda


ou crónica.

★★ A forma aguda surge quando a exposição ao alergénio é acentuada, mas


intermitente. É o caso, por exemplo, do criador de pombos que, de vez
em quando, faz uma limpeza a fundo aos pombais; do agricultor que
mexe no feno, principalmente se este foi guardado molhado após um
verão chuvoso.
Nestes casos, quatro a seis horas após a exposição ao alergénio, a pessoa
fica febril, tem arrepios, sente­‑se doente, tem dificuldades respiratórias
e tosse. Os sintomas duram cerca de 24 horas e reproduzem­‑se, sistema‑
ticamente, de cada vez que há contacto com a matéria alergizante.

★★ A forma subaguda produz­‑se quando a exposição ao alergénio é ligeira,


mas contínua. Acontece, por exemplo, a quem cria aves em casa.
Manifesta­‑se por dificuldades respiratórias crescentes, tosse, fadiga e
emagrecimento. Os sintomas evoluem discretamente.

★★ A forma crónica resulta de episódios agudos repetidos. Trata­‑se de uma


degradação irreversível da função respiratória: o pulmão é invadido
por uma fibrose (desenvolvimento do tecido conjuntivo) que entope
os alvéolos.

O diagnóstico
Os testes cutâneos só são praticados nos tipos de alveolite em que o
alergénio foi identificado e se existirem extratos de antigénio adequa‑
dos. Os testes de laboratório, as radiografias ao tórax e o estudo da fun‑
ção pulmonar permitem confirmar o diagnóstico.

Atenção: quando for ao médico, tente ser o mais preciso possível na des‑
crição do desenvolvimento da doença. Em muitos casos, os sintomas da
alveolite podem ser confundidos com os de uma simples infeção aguda.
É a reincidência dos sintomas, sempre nas mesmas circunstâncias, que
leva a pensar num mecanismo alérgico.

74
A A asma e as alergias respiratórias

O tratamento

O tratamento consiste, essencialmente, em evitar o alergénio. Esta


medida pode ir do simples uso de uma máscara quando ocorrem mani‑
pulações de materiais alergizantes, até uma mudança radical de pro‑
fissão o que, obviamente, nem sempre é fácil. Os corticosteroides são
necessários em caso de crise aguda.

Otite do ouvido médio e alergia


A otite média é uma inflamação no ouvido médio, situado logo após o
tímpano, com produção de líquido. Trata­‑se de uma doença frequente
nas crianças. Não é, necessariamente, dolorosa, mas provoca uma perda
reversível e parcial de audição, sintoma que é difícil de identificar numa
criança muito pequena.
A influência de eventuais fatores alérgicos na otite média continua a
ser muito discutida. Alguns estudos registam casos frequentes de otite
média quando ocorrem alergias das vias respiratórias superiores. Parece,
pois, indispensável verificar a função auditiva de todas as crianças em
risco: filhos de pais alérgicos ou que apresentem já manifestações alér‑
gicas. Um teste simples consiste em verificar se a criança ouve o tique‑
taque de um relógio colocado perto de cada um dos ouvidos. Se não o
ouve, convém que seja examinada por um otorrinolaringologista.

75
Capítulo 6

As alergias da pele
A As alergias da pele

Algumas noções de anatomia e fisiologia


A pele é uma membrana que cobre todo o corpo e funciona como uma
primeira barreira protetora contra agressões externas. É constituída
por três camadas distintas: a epiderme, a derme e a hipoderme (veja
Esquema de um corte na pele).

Esquema de um corte na pele


e respetivas reações alérgicas

pelo
epiderme

eczema

nervo retrátil
glândula
sebácea
derme

urticária

glândula
sudorípara
hipoderme

angioedema

79
A Prevenir e tratar as alergias

A epiderme
A epiderme é a camada exterior da pele. É fina, a sua espessura varia
entre 0,40 e 1,6 milímetros de acordo com as zonas do corpo. A sua
função é dupla:
– proteção: as células da epiderme segregam uma proteína muito resis‑
tente e insolúvel, a queratina. A pele cria, assim, uma barreira contra
a penetração no corpo de microrganismos (bactérias, vírus, etc.) ou de
substâncias tóxicas. Mas esta proteção deixa de ser eficaz quando a pele
é afetada por um eczema ou pela urticária, por exemplo. A epiderme con‑
tém células que segregam um pigmento, a melanina, que fornece uma
proteção especial contra a luz solar. De salientar que os indivíduos de pele
escura não possuem mais células desse tipo, o que acontece é que elas
segregam mais melanina. Finalmente, a epiderme tem algumas células
de função imunológica, isto é, capazes de reações antigénios­‑anticorpos;
– reserva de água: paradoxalmente, tomar banho ou nadar numa piscina
desidrata provisoriamente a pele, através da eliminação das moléculas
que retêm água na epiderme.
Saiba ainda que a epiderme não tem vasos sanguíneos. As suas células
reproduzem­‑se continuamente e deslocam­‑se do interior para a super‑
fície, onde morrem. Em seguida, são eliminadas. É um processo diário,
designado por descamação.

A derme
A derme é um tecido conjuntivo denso constituído, essencialmente, por
uma proteína (colagénio) e por células que segregam essa proteína. Ao
contrário da epiderme, é muito rica em vasos sanguíneos, cujo papel é
manter a temperatura do corpo constante, qualquer que seja a tempera‑
tura exterior. É na derme que se encontram os mastócitos que contêm
a histamina (e outros mediadores) e desempenham um papel determi‑
nante na alergia. Aqui se localizam, também, as células encarregues de
eliminar corpos estranhos e micróbios, assegurando, deste modo, uma
defesa contra infeções.

A hipoderme
A hipoderme é formada, essencialmente, por gorduras, que constituem
uma reserva de energia. A sua espessura varia consoante as zonas do
corpo e os indivíduos.

80
A As alergias da pele

Órgãos anexos da pele


A pele contém dois tipos de glândulas:
– as sebáceas, que, como o nome indica, segregam o sebo. Esta substância
mantém a elasticidade da pele e impede o desenvolvimento de bactérias. É,
ainda, o veículo dos odores que permitem o reconhecimento individual;
– as sudoríparas, responsáveis pela transpiração. A sua principal função
é participar na eliminação dos resíduos do organismo.
Por último, a pele é um órgão sensorial, graças às suas terminações ner‑
vosas, o que permite a transmissão ao cérebro das sensações de tato,
calor ou frio. A eventual afeção destas terminações nervosas, em caso
de doenças cutâneas, provoca prurido (comichão).

O eczema
O termo eczema provém do verbo grego ekzein e significa fervilhar.
Juntamente com a urticária, é uma das reações cutâneas mais comuns.
O eczema pode surgir na infância, mas existem também manifestações
próprias dos adolescentes e adultos. Trata­‑se de uma doença cutânea
que atinge, essencialmente, a epiderme. Manifesta­‑se pela formação de
manchas vermelhas, chamadas eritemas, nas quais aparecem pequenas
bolhas cheias de líquido que podem abrir e transformar­‑se em crostas.
Estas erupções cutâneas provocam bastante comichão. Ao coçar­‑se,
o doente causa lesões mais graves do que as do eczema propriamente
dito. As lesões podem ser transitórias ou crónicas.
A pele das pessoas que sofrem de eczema tende a ser avermelhada,
seca, escamosa e vulnerável. Por isso, apresenta um risco importante
de infeção.

Atenção: o eczema não é necessariamente alérgico. Sob esta designação,


existem também dermatites da pele causadas pelo contacto com subs‑
tâncias irritantes como, por exemplo, os detergentes.

Existem múltiplas causas para o eczema, que se manifesta, sobretudo,


na forma de:
– eczema atópico;
– eczema de contacto alérgico;
– eczema de contacto irritativo.

81
A Prevenir e tratar as alergias

O eczema atópico
Trata­‑se de manifestações cutâneas alérgicas, que aparecem em pes‑
soas atópicas (veja a definição de atopia, no Glossário). O eczema ató‑
pico afeta, principalmente, crianças de idade inferior a um ano e com
antecedentes familiares de problemas alérgicos. Mas estes antecedentes
nem sempre são muito importantes e podem limitar­‑se, por exemplo,
a uma pele seca. Além disso, a transmissão da predisposição genética
pode saltar uma geração.

Os sintomas
★★ Regra geral, as primeiras manchas vermelhas e pequenas bolhas apare‑
cem na face ou por detrás das orelhas, espalhando­‑se depois ao tronco, aos
membros e aos punhos e tornozelos (veja a ilustração Principais localizações
do eczema, na página seguinte). É uma afeção que causa muita comichão,
sobretudo à noite, o que torna a vida dos doentes particularmente penosa.
A pele das pessoas que sofrem de eczema atópico apresenta duas anoma‑
lias importantes: é muito seca e mais sensível ao prurido do que o habitual.
Para que não ocorram lesões, é essencial que o doente evite coçar­‑se.
O frio pode agravar o eczema atópico, sobretudo quando o ar é muito
seco. Saiba ainda que a roupa de lã tem tendência a causar irritação nas
zonas com eczema.

★★ A relação entre os sintomas e o alergénio é, muitas vezes, menos nítida


no eczema atópico do que noutras manifestações alérgicas, como, por
exemplo, a rinite alérgica e a asma. Ao que parece, estes doentes apre‑
sentam perturbações de natureza não imunológica, mais ligadas ao sis‑
tema nervoso autónomo.

★★ As crianças com eczema atópico têm uma probabilidade elevada de vir


a desenvolver uma alergia respiratória, como a rinite ou a asma, pelo
que é necessário estar atento à evolução dos sintomas. Procure reduzir
ou eliminar a exposição aos alergénios mais comuns e fáceis de evitar,
como o pó da casa e o pelo dos animais domésticos.
Em muitos casos, o eczema atópico melhora com a idade. Apenas cerca
de 25 por cento das crianças atingidas continuam a manifestar sinto‑
mas na idade adulta. No entanto, mesmo que o eczema desapareça,
essas pessoas conservam uma pele seca e vulnerável, estando mais
sujeitas a lesões de eczema de contacto (veja adiante), principalmente

82
A As alergias da pele

nas mãos. Um fator que pode ser importante, por exemplo, na escolha
de uma profissão.
Ainda que o eczema atópico tenda a desaparecer, 50 a 75 por cento das
crianças atingidas têm, como vimos, uma probabilidade elevada de vir a
sofrer de rinite alérgica ou de asma.

Principais localizações do eczema

83
A Prevenir e tratar as alergias

O diagnóstico

★★ Regra geral, o diagnóstico baseia­‑se num exame físico e num interroga‑


tório completo sobre a história clínica do doente e da sua família. A con‑
tagem dos glóbulos brancos eosinófilos e o doseamento da IgE permi‑
tem avaliar a gravidade do problema. Quanto aos testes cutâneos, estes
são muitas vezes positivos, principalmente nas crianças. Têm pouco
interesse no que diz respeito ao eczema, mas podem ajudar a prever e
precaver eventuais manifestações respiratórias.

★★ Caso ocorra um agravamento súbito do eczema, deve suspeitar­


‑se de infeção. Na dúvida, convém fazer uma análise laboratorial,
para que seja possível identificar o agente responsável e adaptar
o tratamento.

O tratamento
A prevenção
A primeira medida a tomar, sempre que possível, é alimentar os recém­
‑nascidos exclusivamente com leite materno, durante três a seis meses
(veja o capítulo 11). No entanto, não é certo que a amamentação possa
evitar, totalmente, o aparecimento de um eczema.
Findo o período de amamentação, os alimentos devem ser introduzidos
um a um, para que seja possível detetar rapidamente os prejudiciais.
Os alimentos a que é necessário dar mais atenção são o leite de vaca, os
ovos e o sumo de laranja.

Além disso, é conveniente evitar a convivência com animais domésti‑


cos, que podem agravar o eczema, pelo contacto direto ou através de
vestígios de saliva e de excrementos.

ATENÇÃO ÀS COMPLICAÇÕES!

As crianças atingidas pelo eczema atópico são muito vulneráveis às infeções cutâ‑
neas. Por isso, impõem­‑se algumas precauções. Evite, em especial, que entrem em
contacto com pessoas que sofram de herpes labial. Este vírus pode causar graves
infeções cutâneas.

84
A As alergias da pele

Os cuidados gerais da pele

Cada caso é um caso, razão pela qual convém proceder por tentativas.
No entanto, existem algumas regras básicas:
– ao contrário dos banhos de mar, os banhos de água doce têm um
efeito desidratante sobre a pele. Evite, tanto quanto possível, os contac‑
tos repetidos com a água, o uso de leites desmaquilhantes e, sobretudo,
os banhos de espuma. Os banhos relaxantes à base de extratos de aveia
ou de gérmen de trigo podem ser benéficos. Isto, claro, se não sofrer de
sensibilização aos cereais. Escolha um sabonete de pH ácido (entre 4,5
e 5,5) ou neutro (7), porque os usuais são demasiado alcalinos. Se neces‑
sário, aconselhe­‑se com o seu farmacêutico ou dermatologista. Quando
sair do banho, espalhe no corpo uma loção gorda, de forma a evitar que
a pele seque;
– para reduzir os contactos com a água, evite lavar louça ou roupa à mão.
Use luvas forradas de algodão, mas não muito apertadas, para fazer as
limpezas;
– a transpiração pode aumentar o prurido. Convém evitar os tecidos
sintéticos (nylon, poliéster e outros) bem como a lã, pois dificultam a
evaporação do suor. Prefira os de algodão e use roupas largas. Ao lavar o
vestuário, passe­‑o por água duas vezes em vez de uma;
– hidrate regularmente a pele. Existe, para o efeito, uma grande varie‑
dade de produtos e terá de escolher o que mais lhe convém. Ao contrário
do que possa pensar, os cremes gordos são melhores do que os hidra‑
tantes, pois cobrem a epiderme com uma película que impede a água,
indispensável à boa conservação dos tecidos, de se evaporar;

CONTRA AS COMICHÕES, UM BOM BANHO?

Sim, mas respeite algumas regras: este limite;


– a água deve estar morna, à tempera‑ – ao sair do banho, não esfregue a
tura do corpo. Adicionar amido, óleo de pele para a secar: limpe­‑a, levemente,
linhaça ou óleo para bebé (5 a 25 milili‑ com uma toalha macia. Atenção: as
tros por banheira de água) pode revelar­‑se toalhas devem estar bem lavadas e
benéfico; enxaguadas, para evitar os vestígios de
– se as comichões forem muito irritantes, detergentes!
pode tomar dois ou três banhos por dia, – por fim, espalhe pelo corpo óleo de
de 15 minutos cada, mas não ultrapasse amêndoas doces.

85
A Prevenir e tratar as alergias

– não se esqueça de cortar as unhas rentes às crianças, para diminuir o


risco de lesões devidas ao coçar;
– a exposição ao sol (ou aos raios ultravioletas) deve ser moderada.

Os medicamentos
★★ Os anti­‑histamínicos diminuem o prurido e, portanto, a necessidade
de coçar. No entanto, alguns têm uma ação sedativa. Prefira os anti­
‑histamínicos de segunda geração, que produzem menos sonolência.

★★ Os corticosteroides em pomada são muito eficazes no controlo do


eczema, já que suprimem o prurido e a inflamação. A sua utilização deve
ser feita sob controlo médico e respeitar instruções precisas, adaptadas
a cada caso particular. Deste modo, evita efeitos secundários como, por
exemplo, a atrofia da pele ou o aumento do risco de infeções locais.

Atenção: siga à risca as indicações dadas pelo médico quanto à frequên‑


cia e quantidade de pomada a aplicar. Utilize­‑a apenas nas zonas para
onde foi prescrita. Por exemplo, não se utiliza a mesma concentração de
produto ativo para a face e para as mãos.

★★ Quanto aos antibióticos, são utilizados apenas em caso de infeção, o


que acontece frequentemente nos períodos de irritação do eczema. São
escolhidos em função do tipo de infeção e recomenda­‑se, uma vez mais,
nada fazer sem o conselho do médico.

“TENHO MANCHINHAS BRANCAS…”

Por vezes, aparecem pequenas manchas brancas na pele, mais visíveis quando a pele
está bronzeada. Trata­‑se de uma forma benigna de eczema, que se cura facilmente
com uma pomada de corticosteroides.

O eczema de contacto alérgico


Esta forma de eczema é frequentemente designada por dermatite
de contacto.
O mecanismo de aparecimento do eczema de contacto é muito diferente
do descrito para o eczema atópico. Neste caso, fala­‑se de uma hipersen‑
sibilidade retardada do tipo IV (veja classificação no capítulo 1). Com

86
A As alergias da pele

efeito, a substância na origem do eczema de contacto combina­‑se com


uma proteína da pele e é esta combinação que constitui o alergénio pro‑
priamente dito. As pessoas que sofrem de eczema de contacto não têm,
habitualmente, qualquer predisposição. No entanto, a sensibilização
pode estender­‑se do ponto de contacto a toda a superfície da pele.

Conheça os culpados…
Existe uma grande variedade de substâncias identificadas como causas
de eczemas de contacto. No entanto, trata­‑se de um assunto em perma‑
nente atualização. A reter, entre outros:
– o níquel, seguramente o mais alergénico de todos os metais. Encontra­
‑se, combinado com outros metais, em muitos objetos de uso comum,
como, por exemplo, os utensílios de cozinha em aço inoxidável, os aces‑
sórios de bijuteria (colares, braceletes, brincos, anéis, relógios e respeti‑
vas correias), fechos de correr, fivelas, ilhós, etc.;
– a borracha artificial, que se encontra nas luvas, sapatos, elásticos, etc.;
– alguns champôs, produtos de limpeza, detergentes, verniz das unhas;
– solventes derivados do petróleo, matérias plásticas, resinas,
tricloroetileno;
– certos corantes e tintas (eczema dos cabeleireiros);
– o látex de origem natural, muito utilizado em objetos de proteção dos
profissionais de saúde ou mesmo em preservativos. Esta substância
pode também causar urticária e angioedema na pele e mucosas. A uti‑
lização de luvas de borracha pode agravar lesões pre­‑existentes, porque
evitam a evaporação da transpiração cutânea.

NEM TUDO O QUE LUZ…

Saiba que a moda do piercing, que con‑ e o aço cirúrgico, mas, mesmo nestes
siste em perfurar determinadas partes casos, o risco não está eliminado. Vá de
do corpo (umbigo, nariz, lábios, etc.) imediato ao médico se a zona perfurada
para introduzir um brinco, pode causar inchar e se verificarem outros sintomas
eczema. Os metais mais indicados para como vermelhidão, dor ao tato e pus
a perfuração e cicatrização são o ouro amarelo­‑esverdeado.

Os sintomas
Os sintomas do eczema de contacto são semelhantes aos do eczema ató‑
pico: a pele fica vermelha, a comichão é intensa e formam­‑se pequenas

87
A Prevenir e tratar as alergias

bolhas que rebentam ao coçar. A pele tem tendência a tornar­‑se seca


e escamosa.
Estes sintomas aparecem no ponto de contacto da substância alergénica
com a pele. Podem, eventualmente, estender­‑se a uma superfície muito
maior e permanecer alguns dias depois de cessado o contacto. Regra
geral, os sintomas surgem após exposição prolongada e/ou repetida à
substância em causa. O eczema agudo também pode ser acompanhado
de inchaço e febre.

O diagnóstico
Ao princípio, o diagnóstico é relativamente simples porque o eczema
está bem localizado no ponto de contacto inicial. Algum tempo depois,
torna­‑se mais difícil estabelecer uma análise. Podem ser utilizados tes‑
tes de contacto, mas não devem ser feitos durante o período de ativi‑
dade do eczema.

CAUSAS POSSÍVEIS DO ECZEMA DE CONTACTO

Axilas e tronco: desodorizantes, depila‑ loções para depois de barbear, medica‑


tórios, antisséticos, têxteis, alças, fechos mentos (sobretudo antibióticos), produ‑
metálicos e joias, detergentes da roupa. tos voláteis (formol, terebintina, resinas
Costas das mãos: antisséticos, luvas epoxy), plantas ornamentais, óculos.
(borracha, couro com crómio). Lábios: cosméticos, dentífricos, louro,
Cotovelos: cimentos, metais (níquel e alho, cascas de laranja e de limão, boqui‑
crómio), pó de madeiras. lhas, harmónicas, bocais de instrumentos
Couro cabeludo e testa: tintas para o de sopro.
cabelo, loções perfumadas, revitalizadores, Orelhas: brincos, auscultadores, gotas
champôs, frisadores, travessões e ganchos para os ouvidos, tintas para o cabelo.
de cabelo, adesivos de postiços, chapéus Palmas das mãos: detergentes, objetos
de couro, capacetes de proteção. niquelados, borrachas, cimentos.
Coxas e pernas: ligas, objetos nos bol‑ Pálpebras: maquilhagens, champôs,
sos (chaves, canivete, isqueiro, fósforos), verniz das unhas, medicamentos (colírios
meias e collants. e pomadas).
Dedos: anéis, detergentes, antisséticos e Pés: couro, borracha, fivelas do calçado,
produtos retidos debaixo dos anéis, resi‑ antitranspirantes.
nas sintéticas, terebintina, analgésicos, Pescoço: colares (níquel, resinas), per‑
cosméticos para unhas e cabelo, aces‑ fumes, verniz das unhas, peles e tecidos
sórios de vestuário, botões, ganchos de sintéticos.
cabelo, fechos de braceletes, dedeiras em Pulsos: joias e braceletes (níquel, crómio,
borracha, dedais. resinas, colas), cimentos.
Face: perfumes, cremes de barbear, Virilhas: cuecas, cintas.

88
A As alergias da pele

O tratamento

A primeira coisa a fazer é evitar por completo qualquer contacto com


a substância responsável pela reação, o que, na prática, pode colocar
sérios problemas na vida quotidiana, profissional ou doméstica.
Os corticosteroides em pomada são muito eficazes para combater os sin‑
tomas e devem ser escolhidos em função da zona a tratar. Estas poma‑
das não devem conter lanolina nem antibióticos (veja o capítulo 9), já que
se trata de agentes potencialmente irritantes. É importante dar à pele
o tempo necessário para cicatrizar totalmente, para que esta possa, de
novo, desempenhar a sua função protetora.

O eczema de contacto irritativo


Facilmente confundidos com os do precedente, os sintomas do eczema
de irritação surgem em pessoas atópicas, quando estas entram em con‑
tacto com agentes irritantes, não alergénicos. Esses agentes podem ser,
entre outros, poeiras (cimento, amianto, lã de vidro), certos plásticos,
colas, tintas, cosméticos, perfumes e detergentes.
Os sintomas são muito idênticos aos do eczema de contacto, mas a iden‑
tificação das causas é mais difícil. Os sintomas aparecem, no máximo,
algumas horas após o contacto irritante. As lesões desaparecem rapida‑
mente, depois de suprimido o contacto.
Este tipo de eczema cede facilmente ao uso de cremes diversos (pasta de
água, linimento óleo­‑calcáreo, pomadas à base de alcatrão, entre outros)
e, sobretudo, aos corticosteroides.

A urticária
A urticária é frequente, mas não necessariamente de origem alérgica.
A erupção da urticária caracteriza­‑se por um inchaço avermelhado,
acompanhado de pequenas borbulhas que provocam muita comichão.
A dimensão da zona afetada é muito variável e pode ir de um milíme‑
tro a alguns centímetros. Estas erupções estão agrupadas e podem apa‑
recer, de forma muito rápida, em qualquer zona do corpo. Costumam
durar menos de 12 horas, mas geralmente surgem novos focos nou‑
tros locais da pele. O processo pode durar dias, meses ou mesmo anos.

89
A Prevenir e tratar as alergias

Aproximadamente 20 por cento das pessoas sofrem um episódio agudo


de urticária, pelo menos, uma vez na vida.
Além das urticárias agudas, existem formas de urticária crónica.

★★ A urticária aguda dura entre 24 e 48 horas ou, mais raramente, alguns


dias, para depois desaparecer por completo. O seu diagnóstico e a sua
origem são relativamente fáceis de determinar;

★★ A urticária crónica dura alguns meses e a sua causa, pelo contrário,


raramente é encontrada de forma inequívoca. Alguns casos de urticária
crónica podem ser um sintoma de outras doenças mais graves, como,
por exemplo, as vasculites (inflamação dos vasos sanguíneos). Existem
também algumas formas hereditárias de urticária, mas são raras.

Regra geral, as manifestações de urticária são provocadas por uma


libertação local de histamina. Os mecanismos que estão na origem
deste fenómeno podem ser de natureza imunológica do tipo I ou do
tipo III (veja o capítulo 1) ou, ainda, de natureza não imunológica.
Alguns dos fatores desencadeantes identificados são de natureza
física (pressão, calor, frio, água, sol), mas também existem fatores
psicológicos.

Conheça os culpados…

Os alimentos
A ingestão de determinados alimentos é a causa mais frequente de urti‑
cária aguda. É o caso do peixe, dos moluscos e crustáceos, morangos,
nozes, avelãs, amendoins, ovos e chocolate. Se sofre deste tipo de rea‑
ção, para além do alimento propriamente dito evite os preparados que
o contenham. Alguns destes alimentos podem também conter agentes
libertadores de histamina (veja o capítulo 8). Certos aditivos podem
causar os mesmos sintomas, por exemplo, a tartarazina (E 102), o BHT
(E 320) e o BHA (E 321). O mesmo se aplica às leveduras (presentes nos
laticínios e cervejas).

Os medicamentos
Existe um grande número de medicamentos suscetíveis de desencadear
urticária em pessoas a isso predispostas. É o caso, entre outros:

90
A As alergias da pele

– da penicilina. Preste atenção ao leite e à carne de animais tratados


com antibióticos;
– de diversas substâncias que entram na composição dos medicamentos
(ácido acetilsalicílico, por exemplo), assim como produtos de contraste
usados em radiologia.
Se, algumas horas após a ingestão de um analgésico, sofrer uma
manifestação de urticária, consulte o médico e evite o medicamento.
Voltaremos a este assunto no capítulo 9.

As plantas e os animais
As urtigas provocam uma reação local do tipo urticária, ao agirem dire‑
tamente sobre as células da pele que contêm histamina. As alforrecas
contêm uma toxina que provoca urticária por contacto. Os insetos tam‑
bém podem provocar urticária, seja através do veneno, que contém uma
substância libertadora de histamina, ou por uma reação alérgica a uma
proteína do inseto.

Os parasitas
A urticária acompanha, frequentemente, as parasitoses intestinais (veja
Glossário). Este fenómeno está ligado à formação de anticorpos dirigidos
contra os antigénios do parasita.

Os alergénios respiratórios
É muito raro que a inalação de alergénios em suspensão no ar provoque
urticária. Mas os sintomas podem surgir durante um tratamento por
imunoterapia, ou aquando o contacto direto de um destes alergénios
com a pele. Por exemplo, se uma pessoa alérgica, com pequenas escoria‑
ções na pele, se deitar na relva ou brincar com um cão ou um gato, corre
riscos de vir a manifestar urticária.

Os agentes físicos
Algumas pessoas desenvolvem urticária por reação a um estímulo físico.
Estes estímulos são muito diversos e cada indivíduo pode reagir a um ou
a vários em simultâneo. Eis alguns exemplos:
– uma pressão local: trata­‑se de um edema subcutâneo que aparece 4 a 6
horas depois do efeito de pressão;

91
A Prevenir e tratar as alergias

– um arranhão na pele: esta forma específica de urticária designa­‑se por


dermografismo;
– o esforço físico: a transpiração, emoções intensas e stresse;
– o frio, o vento ou a chuva: algumas formas de intolerância ao frio são
hereditárias. Normalmente, a sensibilidade dura toda a vida, mas não
provoca acidentes graves;
Atenção: esta forma de urticária pode ser acompanhada de síncope
durante um banho de mar ou de piscina (veja a caixa Cuidado com a
água fria!);
– o sol: a urticária solar é frequente. As lesões são pequenas e fugazes.
O uso de um bom protetor solar é uma medida preventiva útil, mas
não existe um remédio totalmente eficaz. Nalguns casos, as comichões
podem vir a atenuar­‑se espontaneamente;
­‑ o calor: os banhos quentes, as saunas e os exercícios que provocam
aquecimento podem agravar os casos de urticária.

CUIDADO COM A ÁGUA FRIA!

O contacto com a água fria pode desencadear uma urticária generalizada, com queda
de tensão arterial e síncope, que pode ser mortal. Por isso, as pessoas suscetíveis de
ter este tipo de reação nunca devem tomar banho em água fria sem estarem acompa‑
nhadas. Os professores de natação e os nadadores­‑salvadores devem ser alertados
para estes casos.

O tratamento
Quando a origem do mal é conhecida, a primeira medida consiste em
evitá­‑la. Os medicamentos têm uma eficácia variável e resultam melhor
nos casos agudos. Além disso, não existe qualquer medicamento que
cure a urticária. Frequentemente, as lesões desaparecem em poucos dias
e não voltam. Mas podem, também, tornar­‑se crónicas.

Um caso particular: o angioedema


Designado também por edema de Quincke, o angioedema situa­‑se na
derme profunda e na hipoderme. Manifesta­‑se por um inchaço que apa‑
rece, sobretudo, nas regiões onde o tecido cutâneo está menos esticado:

92
A As alergias da pele

pálpebras, lábios, face e pescoço. Se afetar a laringe, torna­‑se perigoso e


pode mesmo provocar asfixia.
O angioedema não desperta comichão, mas pode causar dor. Se for
de origem alérgica é, frequentemente, acompanhado de urticária.
A  doença evolui ao longo de vários anos, através de surtos que rara‑
mente são febris.
Existe uma forma hereditária, felizmente muito rara, que resiste ao
tratamento com corticosteroides e anti­‑histamínicos. O angioedema
hereditário deve­‑se à ausência de uma enzima no sangue e é facilmente
identificado através de testes sanguíneos. É tratado pela adminis‑
tração da dita enzima, nas fases agudas, e com hormonas sintéticas,
nas crónicas.

E os cosméticos?
As alergias da pele podem ter origem no uso de cosméticos. Desconfie,
sobretudo, das tintas para o cabelo (um teste localizado antes da utili‑
zação é indispensável), das lacas (sobretudo em aerossol), dos champôs
em pó, dos antitranspirantes à base de formol, dos desodorizantes e
dos perfumes com essência de bergamota. Evite também os produtos de
maquilhagem com vestígios de crómio, mercúrio, formol ou de corantes
sensibilizantes (a eosina de alguns bâtons, por exemplo).

AS ALERGIAS PROVOCADAS POR COSMÉTICOS


Cremes, loções, perfumes, verniz
das unhas, tintas para o cabelo, lacas,
Eczemas e dermatites
produtos para permanentes, produtos
solares.
Fotodermatites, eczemas, eventualmente
Bâtons, perfumes, produtos solares.
edemas à luz
Maquilhagem, champôs, perfumes, lacas
Conjuntivites (inflamações dos olhos)
e tintas para o cabelo.
Irritação das mucosas dos órgãos sexuais
Sprays íntimos e lubrificantes
(inflamação, edema)
Irritação da mucosa nasal Cremes, loções, pós, perfumes.
Urticária Cremes, bâtons, loções, pós, perfumes.
Febre-dos-fenos e asma Maquilhagem, produtos para permanentes.
Bâtons, perfumes, dentífricos e outros
Irritação nos lábios
produtos para a boca.

93
A Prevenir e tratar as alergias

★★ Os sabonetes, sobretudo os que contêm fixadores de perfume do tipo


benjoim e bálsamo­‑do­‑peru, ou ainda antisséticos do tipo bithionol e
salicilamida são uma causa comum de alergias. Também os sabonetes
gordos à base de lanolina ou de glicerina provocam fenómenos de sensi‑
bilização. O verniz das unhas e algumas loções para depois do barbear
podem dar origem a numerosas reações alérgicas.

★★ É importante saber que, em rigor, não existe qualquer produto antialér‑


gico ou, mais precisamente, não alergénico. Quanto muito, pode falar­
‑se de produtos hipoalergénicos (o termo hipo exprime a ideia de redu‑
ção), de onde foram eliminados potenciais alergénios. A probabilidade
de eventuais reações encontra­‑se, assim, bastante diminuída.

★★ Mesmo assim, foi possível identificar algumas essências naturais alergi‑


zantes, como a lavanda, a citronela, a bergamota e as madeiras de cedro
e de sândalo. Na lista de suspeitos está ainda uma quantidade apreciável
de produtos sintéticos, como o geraniol, o citronelol, o aldeído cinâmico,
a fucocumarine e o mentol. Como vimos, alguns fixadores de perfume
podem também ser alergizantes.

ATENÇÃO AOS PERFUMES!

Entre as substâncias alergénicas, os num só perfume, se encontram dez a


perfumes merecem uma referência sessenta essências diferentes, cuja iden‑
especial. Existem, pelo menos, cinco tificação é inacessível ao grande público
mil fragrâncias conhecidas, que são por causa do segredo de fabrico. Desta
utilizadas na composição de perfumes, forma, é extremamente difícil descobrir
águas­‑de­‑colónia e outros produtos de quais são as substâncias que provocam
higiene pessoal. De salientar ainda que, a alergia.

94
Capítulo 7

As doenças
alérgicas dos olhos
A As doenças alérgicas dos olhos

Algumas noções de anatomia e fisiologia


O olho é um órgão muito especial. Para assegurar a visão, proporciona
aos raios luminosos a passagem através de estruturas absolutamente
transparentes, como a córnea e o cristalino (veja a ilustração Anatomia
do olho). Estas estruturas são protegidas pelos tecidos que as rodeiam,
principalmente pela conjuntiva, ou seja a membrana que liga o globo
ocular às pálpebras. Nestas, a pele é mais fina do que em qualquer outra
parte do corpo. É, igualmente, muito lassa, o que favorece o inchaço
característico dos edemas.
A componente alérgica está presente em muitas doenças dos olhos.
Falaremos apenas das mais frequentes.

Anatomia do olho

conjuntiva

cristalino retina
córnea
nervo ótico

A conjuntivite alérgica
A conjuntivite alérgica é a manifestação mais frequente de alergia ocu‑
lar. Afeta mais os adultos do que as crianças e pode manifestar­‑se de
forma sazonal ou, mais raramente, durante todo o ano. Os sintomas são
desencadeados pelo contacto com alergénios em suspensão no ar (póle‑
nes, poeiras, etc.). O alergénio dissolve­‑se rapidamente nas lágrimas e
entra em contacto com os anticorpos de tipo IgE que se encontram na

97
A Prevenir e tratar as alergias

conjuntiva, dando lugar à libertação de histamina. É esta substância que


provoca a vermelhidão e o prurido, levando à produção de lágrimas.
De salientar que uma afeção da mucosa nasal também pode, por via
reflexa, provocar lacrimejo e vermelhidão do olho, sem causar prurido.
Estes sintomas estão frequentemente associados a uma rinite, situação
em que se deve suspeitar de uma alergia ao pólen.

Os sintomas
O prurido nos olhos é o sintoma mais importante. A conjuntivite alérgica
não está associada à fotofobia, isto é ao desconforto ou dores devidos à
luz. No entanto, o olho fica lacrimejante e a pessoa queixa­‑se, frequen‑
temente, de ficar ofuscada pela televisão ou pela luz fluorescente. Os
olhos ficam, também, particularmente sensíveis ao fumo dos cigarros.

Atenção: esfregar os olhos traz um alívio imediato, mas de curta dura‑


ção. Além disso, cria um círculo vicioso, pois o olho fica irritado, mais
por ser esfregado do que pela própria alergia.

O tratamento
É quase impossível evitar o pólen que se encontra em suspensão no ar,
mas podem reduzir­‑se ao mínimo as poeiras em casa (veja os capítulos
4 e 11). Usar óculos de sol no exterior diminui a quantidade de pólen que
entra em contacto com os olhos, mas o tratamento será, na maior parte
dos casos, necessário.

★★ A imunoterapia permite diminuir a intensidade dos sintomas, particu‑


larmente no caso de alergia às gramíneas e à parietária.

★★ Os medicamentos anti­‑histamínicos produzem uma melhoria dos sin‑


tomas, ainda que temporária. Podem ser utilizados em comprimidos ou
em gotas e são aplicados quando há comichão, para evitar esfregar os
olhos. Estes medicamentos são frequentemente associados a um vaso‑
constritor, produto que provoca uma constrição ou estreitamento dos
pequenos vasos sanguíneos. Desta forma, reduz­‑se a vermelhidão do
olho e diminui­‑se a reabsorção do medicamento, prolongando a sua
ação. No entanto, os anti­‑histamínicos são contraindicados em caso de
glaucoma (veja Glossário).

98
A As doenças alérgicas dos olhos

★★ O cromoglicato de sódio e o nedocromil (em gotas) são habitualmente


usados como tratamento preventivo da conjuntivite que acompanha
as rinites alérgicas sazonais, mas, neste caso, também atuam sobre os
sintomas. Estes podem ainda ser aliviados lavando os olhos com água
destilada.

A conjuntivite vernal
Trata­‑se de uma doença muito mais rara que atinge, principalmente, os
rapazes entre os cinco e os vinte anos. A conjuntivite vernal apresenta­
‑se como uma inflamação crónica marcada por agravamentos sazo‑
nais, em particular na primavera: o olho fica vermelho e a comichão
é intensa. Mas é a fotofobia (incómodo causado pela luz) que caracte‑
riza esta forma muito particular de alergia. O mecanismo desta doença
ainda não está completamente esclarecido e persistem as interrogações
sobre a sua origem. A doença desaparece espontaneamente, após um
período que varia entre cinco e dez anos. Até que isso aconteça, os tra‑
tamentos locais, sob a forma de colírios, devem ser cuidadosamente
aplicados a fim de se evitar qualquer alteração irreversível do olho. Os
anti­‑histamínicos também são recomendados para estes casos, mas os
antibióticos só são úteis no caso de sobreinfeção.

O eczema das pálpebras


Regra geral, trata­‑se de um eczema de contacto, com origem numa
hipersensibilidade de tipo retardado (veja, respetivamente, os capítulos
6 e 1). É, com frequência, acompanhado por conjuntivite.

★★ Entre as principais causas do eczema das pálpebras, encontram­‑se:


– medicamentos de aplicação local (a atropina, por exemplo), sob a
forma de colírios, loções ou pomadas (xilocaína e óxido amarelo de mer‑
cúrio); sulfamidas e antibióticos, como a penicilina, a aureomicina e a
terramicina;
– produtos de beleza, quer se trate de loções à base de flores ou de cre‑
mes à base de óleo, sobretudo se não são de fabrico recente e foram dei‑
xados em contacto com o ar. São de evitar todas as maquilhagens para
as pálpebras e os eye­‑liners que contêm corantes;

99
A Prevenir e tratar as alergias

– as armações de óculos em níquel ou em certas matérias plásticas,


assim como os óculos de natação;
– os aerossóis.

★★ É necessário identificar e suprimir, de imediato, o alergénio em causa,


especialmente se for a maquilhagem, e aplicar um tratamento antialér‑
gico receitado pelo médico.

As blefarites
A blefarite é uma inflamação do rebordo da pálpebra, zona que é muito
sensível às infeções. Caracteriza­‑se por uma sensação de queimadura,
acompanhada de comichão intensa. O papel desempenhado pelos fato‑
res alérgicos é variável e, muitas vezes, difícil de determinar. A imunote‑
rapia pode dar bons resultados, mas é um caminho longo e difícil.
Saiba ainda que os terçolhos não têm origem alérgica. Trata­‑se de um
furúnculo da pálpebra, isto é, uma inflamação devida à infeção das
glândulas sebáceas da raiz das pestanas.

Problemas com as lentes de contacto


★★ O uso de lentes de contacto pode agravar os sintomas de conjuntivite
alérgica, principalmente porque as lentes prolongam a permanência de
partículas alergénicas no olho. Algumas pessoas podem desenvolver
alergias ao material da lente ou, o que é mais provável, aos produtos
usados para a desinfeção das lentes.

★★ Parece que as lentes flexíveis causam mais problemas do que as rígidas,


já que absorvem, mais facilmente, os vestígios dos produtos químicos
incorporados nas soluções de manutenção e desinfeção. Pode tentar
resolver o problema escolhendo outra marca de produtos. No entanto,
não deixe de consultar o seu oftalmologista, logo que sentir qualquer
mal­‑estar com as suas lentes.

100
A As doenças alérgicas dos olhos

CONSELHOS PARA OLHOS SENSÍVEIS…

• Se tem olhos sensíveis, utilize com Se tiver necessidade de lavar os


extrema prudência eye­‑liners, lápis ou olhos para aliviar qualquer descon‑
outras maquilhagens para as pálpe‑ forto, use soro fisiológico (à venda
bras ou pestanas. Opte por produtos nas farmácias, parafarmácias e
hipoalergénicos de qualidade garantida. supermercados).
Experimente uma pequena quantidade • Consulte o oftalmologista logo que
antes da utilização e, se tiver qualquer sentir mal­ ‑ estar ou observar qual‑
reação, mude de marca. quer anomalia, quer esta ocorra nos
• Se é sensível à luz, não hesite em usar olhos ou nas pálpebras. Peça­ ‑ lhe
uns bons óculos de sol. indicações precisas quanto à forma
• Nunca aplique colírios ou pomadas de utilizar os produtos e respeite­‑as
para os olhos sem conselho médico. escrupulosamente.

101
Capítulo 8

As alergias
alimentares
A As alergias alimentares

Em que consistem?
★★ A alergia alimentar é uma reação provocada pela hipersensibilidade do
organismo a um ou a vários alimentos que não causam qualquer efeito
noutras pessoas. No caso dos bebés e das crianças pequenas, isso acon‑
tece porque as defesas normais ainda não estão estabelecidas. Nos adul‑
tos, trata­‑se de um distúrbio nessas defesas.

★★ O maior problema consiste em efetuar testes de diagnóstico fiáveis,


dos quais seja eliminado qualquer fator subjetivo, tanto do técnico
como do doente. De facto, não se deve negligenciar o aspeto emocio‑
nal da nossa relação com a comida. Para facilitar a identificação dos
alimentos que causam a alergia, estes devem ser administrados de
uma forma controlada não reconhecível e intercalados com alimentos
bem tolerados.

★★ A incidência das alergias alimentares é difícil de avaliar, mas sabe­‑se que


a maior parte destas reações ocorre no primeiro ano de vida. Algumas
estimativas relativas à população ocidental apontam para 5 a 10 por
cento nas crianças e 1 a 3 por cento nos adultos. No caso das pessoas
com predisposição genética para as alergias, os números sobem para 40
por cento nas crianças e 15 por cento nos adultos.

Os mecanismos
A mucosa intestinal é posta em contacto, diariamente, com grandes
quantidades de substâncias suscetíveis de provocar alergias. Para se
proteger e reduzir ao mínimo a absorção destas substâncias, o orga‑
nismo dispõe de algumas defesas:
– uma barreira anatómica, que é a própria parede intestinal. É muito
menos eficaz nos bebés do que nas crianças mais velhas. Em caso de
inflamação, a sua eficiência fica diminuída;
– uma barreira imunológica, proporcionada pelas imunoglobulinas do
tipo A (IgA) segregadas pela parede intestinal. As IgA reagem aos anti‑
génios do bolo alimentar e permitem a sua eliminação.

★★ Estas duas barreiras reduzem a quantidade de moléculas suscetíveis de


estimular o sistema imunitário. O mesmo é verdade para o processo de

105
A Prevenir e tratar as alergias

degradação enzimática dos alimentos, ao longo do aparelho digestivo.


Além disso, depois de cozinhados ou simplesmente conservados alguns
alimentos perdem parte do seu potencial alergénico.

★★ Para explicar as alergias alimentares, podem ser invocados diferentes


mecanismos. De acordo com a classificação das reações alérgicas dada
no capítulo 1, podem observar­‑se:
– reações do tipo I: a ingestão de um determinado alimento é seguida,
num intervalo máximo de seis horas, de sintomas alérgicos (digestivos,
respiratórios ou cutâneos). Estes sintomas resultam de uma maior secre‑
ção de imunoglobulinas E (IgE) e aparecem em pessoas com predisposi‑
ção alérgica. Quantidades mínimas de alergénio podem ser o suficiente
para provocar a reação;
– reações do tipo III, dependentes de uma secreção de imunoglobulinas
G (IgG). Estas reações aparecem depois da ingestão de grandes quanti‑
dades da substância que provoca a alergia e afetam, apenas, as pessoas
não atópicas. Regra geral, estão associadas a uma fragilização da parede
intestinal. O aparecimento dos sintomas pode ser imediato ou retar‑
dado algumas horas.

Ainda estão por esclarecer muitos aspetos relativos aos mecanismos de


ação das alergias alimentares.

As falsas alergias alimentares


Nem todas as reações indesejáveis a certos alimentos são, necessaria‑
mente, alergias. A distinção baseia­‑se na repartição de responsabilida‑
des entre o organismo e a substância alimentar.

★★ Na toxicidade, o alimento é inteiramente responsável pela reação.


É importante estar atento a este tipo de reações, porque os sintomas
podem ser semelhantes aos causados pelas reações alérgicas.

★★ Na intolerância, o alimento é responsável por reações mais ou menos


graves, em indivíduos cujo organismo apresenta uma anomalia:
– muitas pessoas apresentam deficiências numa enzima intestinal, a
lactase, o que provoca intolerância à lactose, uma substância presente
no leite;

106
A As alergias alimentares

– o abuso de farináceos (pão, bolachas, entre outros) e de leguminosas


(favas, feijões, etc.), aumenta o processo de fermentação intestinal, com
a produção de ácidos irritantes para as mucosas digestivas.

★★ Na alergia, qualquer alimento pode provocar problemas, através de uma


reação imunológica específica. Esta reação surge apenas em indivíduos
previamente sensibilizados e pode ocorrer após a ingestão de quantida‑
des muito pequenas do alimento.

Por outro lado, alguns alimentos contêm, no seu estado natural, subs‑
tâncias biologicamente ativas. Entre estas incluem­‑se a histamina que,
como já vimos, favorece as reações alérgicas, mas também a tiramina
que liberta histamina (veja o quadro Alimentos envolvidos em acidentes
alérgicos, na página seguinte). Estas substâncias ativas são suscetíveis
de provocar dores de cabeça e urticária, sem a intervenção de um meca‑
nismo imunológico. Podem levar à manifestação de uma grande varie‑
dade de sintomas, em quase todos os indivíduos, mas o limiar de sensi‑
bilidade varia bastante de pessoa para pessoa.

Conheça os culpados…
Virtualmente, todos os alimentos podem causar manifestações alérgi‑
cas. No entanto, alguns são mais alergizantes do que outros. Referimos
aqui os mais frequentes, na origem de cerca de 80 por cento das reações
alérgicas mediadas por imunoglobulinas do tipo E.

★★ O leite de vaca ou, mais exatamente, as proteínas do leite de vaca são


pelo menos vinte, cinco das quais têm uma ação alergizante signifi‑
cativa. Note­‑se que, tratando­‑se de proteínas do leite, consumir leite
magro não reduz o risco de alergia. Entre as pessoas sensíveis a estas
substâncias, não se observa qualquer reação provocada pela ingestão de
carne de vaca. No entanto, uma pessoa alérgica ao leite de vaca também
o é ao de cabra e de ovelha.

Atenção: o leite, tal como a carne, pode conter vestígios de penicilina,


se esta tiver sido utilizada para tratar um animal doente. Uma situação
que pode desencadear uma reação alérgica nas pessoas sensíveis a este
antibiótico (veja o próximo capítulo).

107
A Prevenir e tratar as alergias

★★ Os ovos são um alimento muito ALIMENTOS ENVOLVIDOS


importante, tanto do ponto de EM ACIDENTES ALÉRGICOS...
vista nutritivo como alérgico. … RICOS EM HISTAMINA
Queijos fermentados até 1.330 mg/g
A parte alergénica do ovo é uma Conservas 10 - 350 mg/g
das proteínas da clara (ovoalbu‑ Filetes de anchova 44 mg/g
mina) e está presente tanto nos Espinafres 37,5 mg/g
de galinha como nos de codorniz Fígado de porco 25 mg/g
Tomate 22 mg/g
ou de qualquer outra ave.
Bebidas fermentadas (vinho) 20 mg/g
A alergia aos ovos é a causa mais Sardinhas 15,8 mg/g
frequente de alergia alimen‑ Carnes menos de 10 mg/g
tar nas crianças que apresen‑ Salmão 7,35 mg/g
tam também eczema atópico Atum 5,4 mg/g
Peixe ultracongelado 1 mg/g
(veja os capítulos 6 e 11). Não se
Crustáceos frescos menos de 0,2 mg/g
observa qualquer reação cruzada Legumes vestígios
com a carne de frango, mas con‑ … RICOS EM TIRAMINA
vém ser muito prudente com a Chocolate elevado
QUEIJOS
administração de vacinas pro‑
Cheddar muito elevado
duzidas a partir de culturas em Gruyère muito elevado
embrião de frango (as vacinas Emmenthal muito elevado
tríplice e da febre­‑amarela, por Brie muito elevado
exemplo), já que existe o risco de Camembert muito elevado
Queijo de cabra muito elevado
choque anafilático.
Parmesão médio a elevado
Roquefort médio a elevado
★★ O peixe, sobretudo quando já Mozzarella médio a elevado
não é fresco, contém alergénios CARNES, PEIXES
muito fortes. Certas pessoas Salame e outros enchidos muito elevado
Arenque em conserva muito elevado
são alérgicas a todos os peixes, Caviar elevado
enquanto outras o são apenas Arenque salgado, seco elevado
em relação a algumas espécies. Atum elevado
Esses alergénios, quando inge‑ ÁLCOOL
Extrato de leveduras muito elevado
ridos por pessoas sensibilizadas,
Cerveja fraco
provocam crises de asma, rini‑ Vinhos tintos fraco
tes, urticária e/ou angioedema. Vinhos brancos fraco
Nas pessoas particularmente FRUTOS, LEGUMES
sensíveis, o cheiro do peixe ou o Uvas elevado
Batatas elevado
vapor da cozedura podem ser o Couves elevado
suficiente para desencadear sin‑ Abacate, favas, figos médio
tomas alérgicos. Couve-flor médio
Espinafres, pepinos médio
Tomate médio

108
A As alergias alimentares

★★ Os bivalves e os crustáceos são suscetíveis de desencadear violentas


reações do tipo urticária e/ou angioedema. Os acidentes acontecem
mais facilmente com os camarões (atenção aos preparados que os con‑
tenham), os mexilhões e as ostras. Quando se é alérgico aos camarões,
a reação cruzada com o caranguejo e outros crustáceos é frequente. No
entanto, regra geral, as pessoas alérgicas aos bivalves ou aos crustáceos
não o são aos peixes e vice­‑versa.

★★ As nozes, avelãs, amendoins e outros frutos secos podem provo‑


car manifestações alérgicas. Entre as pessoas que lhes são sensíveis,
encontram­‑se, muitas vezes, as que também o são ao pólen. As nozes
têm um forte poder alergizante e estão entre os alimentos que mais
frequentemente causam manifestações alérgicas nos adultos. A alergia
às nozes manifesta­‑se por comichão na garganta ou em torno da boca,
logo após a ingestão. Ainda que isso seja raro, também pode tomar a
forma de um edema grave ou provocar um choque anafilático. Por isso,
atenção aos bombons e a outros doces recheados com creme de nozes ou
de avelãs. Apesar de os amendoins poderem causar reações alérgicas, o
óleo de amendoim não apresenta qualquer risco, já que o poder alergi‑
zante se perde no processo de extração.

★★ A sensibilidade aos frutos e legumes manifesta­‑se por sintomas muito


discretos: alguns espirros, comichão na boca ou, mais raramente, angio‑
edema. Os citrinos (laranjas, limões, tangerinas, toranjas), nos bebés
e crianças pequenas, são responsáveis por rubores na pele e eczemas.
Mexer nesses frutos pode ser suficiente para suscitar o aparecimento
de eczema nas mãos. A alergia às bananas, quivis e abacate é cada vez
mais frequente, não sendo de excluir as reações cruzadas com o látex.
Entre os frutos, são ainda de referir a maçã, o ananás, o morango e o
pêssego. O tomate e o aipo cru são fortemente alergénicos. Os rabanetes
e o rábano podem dar origem a dermatites de contacto. O mesmo pode
ocorrer quando se descascam batatas, mas as alergias a este alimento
cozinhado é rara. Finalmente, a alergia à soja é frequente em bebés e
crianças pequenas. Por isso, cuidado com os alimentos que a contêm.
No entanto, o óleo de soja não é alergénico.

★★ O café só é suscetível de causar alergias enquanto está verde, isto é,


antes da torrefação.

109
A Prevenir e tratar as alergias

★★ Os cereais que mais frequentemente provocam alergias são o trigo, o


centeio e a cevada, mas o primeiro é, sem dúvida, o mais consumido.
As proteínas do trigo (das quais o glúten constitui 10 por cento) podem
causar três tipos de doença:
– a enteropatia do glúten, também designada por doença celíaca, que
não é uma alergia, mas sim uma intolerância, devida a um defeito
metabólico;
– a alergia alimentar, que aparece após a ingestão de produtos à base da
farinha de trigo;
– a asma do padeiro, que surge após a inalação da farinha de trigo.

As duas últimas reações, apesar de serem provocadas pelo mesmo pro‑


duto, não surgem, necessariamente, nas mesmas pessoas. Parece, tam‑
bém, que certos preparados à base de cereais, quando aquecidos com
açúcar, podem aumentar o risco de sensibilização. Esta seria, por exem‑
plo, a explicação para a alergia aos cornflakes.

★★ As bebidas alcoólicas não são, normalmente, alergizantes. Porém,


o seu consumo, quer se trate de cerveja, de vinho ou de bebidas bran‑
cas, pode precipitar o aparecimento de sintomas diversos nas pessoas
alérgicas. Estas bebidas contêm uma série de substâncias biologica‑
mente ativas.

★★ Além dos alimentos, deve desconfiar­‑se de certos corantes e conservan‑


tes, especialmente da tartarazina (E 102), presente na composição de
refrigerantes e produtos de pastelaria; do ácido benzóico e respetivos
sais (E 210 a 213); e dos sulfitos (E 220 a 227). Estes são principalmente
perigosos para os asmáticos e, tal como os benzoatos, podem encontrar­
‑se no vinho, refrigerantes, molhos, compotas e margarinas. Verifique
sempre o rótulo.

Atenção: o quinino e seus derivados, utilizados na composição de muitas


bebidas, estão na origem de reações que podem ser muito graves.

SE VAI PRATICAR DESPORTO…

Alguns doentes têm reações curiosas, apresentando sintomas alérgicos quando com‑
binam a ingestão de determinado alimento com a prática de exercício físico. Nestes
casos, a solução passa por só praticar desporto de estômago vazio ou quase.

110
A As alergias alimentares

Os sintomas
De acordo com o mecanismo imunológico acionado, os sintomas podem
aparecer de imediato ou de modo retardado (alguns dias depois). Este
fator dificulta o diagnóstico. Os sintomas de uma alergia alimentar são
muito variados e manifestam­‑se, com maior incidência, nas zonas ou
órgãos que entram em contacto com os alimentos.

Ao nível do aparelho digestivo


Regra geral, quanto mais jovem for o indivíduo alérgico, maiores são as
repercussões no aparelho digestivo, que pode mesmo ser o mais afetado.
Todas as zonas do aparelho digestivo podem ser atingidas, consoante o
tipo de reação, o grau de sensibilidade da pessoa, a solubilidade do aler‑
génio e a sua eventual destruição pelos sucos gástricos e intestinais.
Verificam­‑se, por exemplo, manifestações:
– nos lábios: inchaço, acompanhado ou não por rubor ou erupção em
torno da boca;
– na boca e na garganta: sobretudo, prurido. De referir, também, o edema
da glote, que surge no quadro de um angioedema e pode pôr a vida em
perigo pelo risco de asfixia;
– no estômago: vómitos;
– no intestino: vómitos e diarreias, mais graves nas crianças pequenas.
Nos adultos, os transtornos digestivos são relativamente discretos,
como cólicas ou desconforto abdominal, e podem ser considerados
como problemas funcionais dos intestinos. A verdadeira causa alérgica
é, muitas vezes, difícil de determinar.

Ao nível cutâneo
Em cerca de 30 por cento das pessoas que sofrem de eczema atópico
(veja o capítulo 6) os sintomas são agravados pela ingestão de alimentos
como o leite, os ovos, o chocolate, etc.
A urticária e o angioedema são as manifestações extra digestivas mais
frequentes de alergia alimentar. Os sintomas podem aparecer muito
rapidamente e chegam a ser impressionantes, sobretudo, em caso de
alergia aos crustáceos.

Ao nível respiratório
A ingestão de certos alimentos pode provocar problemas respiratórios
agudos (rinite e asma) em pessoas sensíveis. A relação de causa/efeito, tal
como o mecanismo exato, são frequentemente difíceis de estabelecer.

111
A Prevenir e tratar as alergias

Outros
Algumas escolas médicas defendem que grande parte das doenças atuais
deve­‑se à proliferação de substâncias potencialmente alergizantes no ar,
na água e nos alimentos. Por isso, tendem a explicar um grande número de
sintomas pelos mecanismos alérgicos: desde dores de cabeça e enxaquecas
aos transtornos digestivos persistentes e a diversas perturbações compor‑
tamentais, como a hiperatividade, na criança, ou a depressão, no adulto.

O diagnóstico
Regra geral, tratando­‑se de manifestações precoces, o diagnóstico é fácil
de estabelecer. Nos bebés e nas crianças muito pequenas, os vómitos
e diarreias frequentes podem ser causados por outras doenças, mas
também é possível que apontem para uma alergia. No caso dos recém­
‑nascidos, é importante que o diagnóstico seja definido rapidamente,
para evitar consequências graves. É frequente encontrar antecedentes
familiares de alergia nestas crianças.
Pelo contrário, no que respeita a manifestações tardias, o problema é
muito mais complexo. Nesses casos, torna­‑se indispensável um interro‑
gatório minucioso.

Os testes cutâneos e sanguíneos


Estes testes são pouco fiáveis, sobretudo no caso de alergias do tipo
retardado. Com efeito:
– o número de eventuais alergénios é muito elevado e os extratos são
pouco padronizados;
– o conteúdo alergénico do alimento é variável, consoante este está
verde ou maduro, cru ou cozinhado, fresco ou em conserva, etc.;
– alguns alergénios são desativados quando passam pelo estômago ou
pelo intestino.

ATENÇÃO AOS TACHOS E PANELAS!

Se for alérgico ao níquel, desconfie dos utensílios de cozinha que o contenham. Embora
isso seja pouco frequente, estes objetos podem contaminar os alimentos a ponto de
induzirem manifestações de urticária ou de eczema.

112
A As alergias alimentares

★★ Os testes cutâneos e sanguíneos devem ser interpretados com muita


cautela, em função de outros sintomas diretamente observáveis.

Atenção: estes testes devem ser efetuados apenas em estabelecimentos


de saúde devidamente equipados porque as reações podem ser muito
violentas!

★★ Outros testes, particularmente os de laboratório, podem servir de com‑


plemento ao diagnóstico, mas não permitem, por si só, estabelecê­‑lo.

Testar a reação aos alimentos


Uma forma de o médico chegar ao diagnóstico é submeter o doente,
durante duas ou três semanas, a uma dieta de onde o alergénio esteja
completamente excluído. Este tipo de dieta nem sempre é fácil de exe‑
cutar. De facto, o alergénio pode fazer parte da composição de muitos
cozinhados, sem estar claramente identificado.
Quando são obtidas melhorias consideráveis, podem­‑se então reintro‑
duzir pequenas quantidades do alergénio e observar a evolução. São os
chamados testes de provocação ou exposição. Durante esse tempo, deve
manter um diário detalhado.
Se seguir uma dieta deste tipo, evite também o consumo de alimentos
com substâncias biologicamente ativas (veja o quadro Alimentos envolvi‑
dos em acidentes alérgicos, na página 108).

O tratamento
Mais vale prevenir e a melhor prevenção é o aleitamento materno.
Falaremos mais em detalhe sobre este assunto no capítulo 11. Quanto
ao tratamento, a imunoterapia nem sempre é eficaz. Os medicamen‑
tos e as dietas que excluem da alimentação as substâncias prejudiciais
podem ser úteis. No entanto, a eliminação da substância que causa a
alergia é o único tratamento cem por cento seguro.

As dietas de evitamento
Este tipo de dieta revela­‑se, muitas vezes, difícil de seguir. Por isso, é
essencial um diagnóstico preciso para evitar regimes complicados e

113
A Prevenir e tratar as alergias

desnecessários. Se nem sempre se pode evitar a ingestão de certos ali‑


mentos, é possível, pelo menos, diminui­‑la de modo apreciável. Deve
habituar­‑se a ler os rótulos com atenção, antes de comprar alimentos
preparados, para evitar as substâncias indesejáveis. Saiba ainda que
existe uma vasta gama de produtos de substituição.

★★ Em primeiro lugar, é preciso corrigir eventuais erros alimentares.


As  pessoas alérgicas seguem frequentemente dietas desequilibradas,
onde predomina um alimento ou uma categoria de alimentos ricos
em histamina (veja o quadro Alimentos envolvidos em acidentes alérgi‑
cos, na página 108). Sabe­‑se que essas substâncias podem aumentar a
permeabilidade da mucosa intestinal e, desta forma, facilitar a passa‑
gem dos alergénios. É por isso que quem sofre de urticária ou de asma
melhora depois de se submeter a dietas bem definidas, excluindo todos
os alimentos suscetíveis de libertar histamina.

★★ Depois de uma abstenção de algumas semanas, pelo menos, poderá


introduzir, progressivamente, o ou os alimentos em causa, procurando
ao mesmo tempo manter o equilíbrio alimentar. No caso das crianças,
um alimento considerado indesejável, num determinado momento,
pode ser reintroduzido alguns meses mais tarde, dada a tendência natu‑
ral para uma diminuição da sensibilidade.

★★ É necessário também ter em conta que todos os alimentos da mesma


família provocam, regra geral, as mesmas reações. Assim, se for alérgico
ao limão, há nove probabilidades em dez de ter os mesmos problemas se
comer laranjas, toranjas ou tangerinas.

Atenção: em certas dietas prolongadas é conveniente colmatar eventuais


carências alimentares através de um suplemento de vitaminas e sais
minerais. No entanto, no caso da intolerância ao leite, pode não ser
necessário deixar de consumir este alimento. Existem medicamentos
à base de lactase que, tomados em simultâneo com o leite, reduzem a
intolerância. No mercado encontra ainda leites com redução do conte‑
údo de lactose.

Os medicamentos
Exceto algumas situações específicas, os medicamentos são de pouca
utilidade no tratamento deste tipo de alergias. O cromoglicato de sódio

114
A As alergias alimentares

pode ser eficaz, a nível preventivo, em situações bem definidas. Por


exemplo, no caso de doentes com múltiplas alergias alimentares con‑
firmadas ou numa situação em que é difícil, ou impossível, eliminar as
substâncias alergénicas da alimentação. Quanto aos anti­‑histamínicos,
diminuem fortemente o prurido e, por isso, podem ser úteis nos casos
de urticária.
Em reações muito violentas, com inchaço na laringe, pode tornar­‑se
necessária uma injeção de adrenalina. Nesta situação, pode haver indi‑
cação para a pessoa ter sempre consigo um medicamento autoinjetável
para usar numa emergência.

SAIBA QUE…

As alergias alimentares são, felizmente, outras bebidas alcoólicas;


mais raras do que se pensa. São favo‑ – Evite condimentos (mostarda, vinagre,
recidas por problemas funcionais do pimenta) e outros alimentos irritantes;
aparelho digestivo e, eventualmente, por – Não tome qualquer medicamento
perturbações do fígado. Para atenuar ou sem o conselho do seu médico. Muitos
eliminar este tipo de alergia é preciso, deles podem favorecer a absorção dos
antes de mais, tratar esses problemas e alergénios;
corrigir os erros dietéticos: – Tente variar e equilibrar a sua dieta. Se
– Reduza o consumo de cerveja, vinho e for necessário, consulte um nutricionista.

115
Capítulo 9

As alergias
aos medicamentos
A As alergias aos medicamentos

Um problema difícil
Os mecanismos que permitem explicar as alergias aos medicamentos
são múltiplos e nem sempre podem ser classificados, com exatidão,
numa das quatro categorias de que falámos no capítulo 1.
O modo de administração do medicamento (injeção ou via oral, por
exemplo), a dose, frequência e duração do tratamento são apenas alguns
dos fatores que fazem variar as reações.
Todos os medicamentos podem gerar efeitos secundários, de intensi‑
dade muito variável consoante a sensibilidade de cada um. No entanto,
nem todos os efeitos secundários são de natureza alérgica.

★★ Quando os efeitos secundários são graves, fala­‑se de intolerância e, em


certos casos, de idiossincrasia. Trata­‑se, geralmente, de uma anomalia
metabólica (deficiência de uma enzima, por exemplo), o que explica a
manifestação de sintomas muito diferentes dos efeitos previstos para
um determinado medicamento, independentemente da dose e da sen‑
sibilização prévia.

★★ Indivíduos que não têm qualquer predisposição genética podem apre‑


sentar reações pseudoalérgicas graves. Essas manifestam­‑se como uma
alergia, mas não envolvem qualquer processo imunológico. Isto acon‑
tece, principalmente, quando os medicamentos reagem diretamente
com os mastócitos, provocando a libertação de histamina.

★★ As reações alérgicas aos medicamentos podem ser imediatas ou retarda‑


das, de intensidade e gravidade muito variáveis. Podem manifestar­‑se
a nível cutâneo, respiratório, digestivo ou de forma mais generalizada.
Não é preciso ser atópico para desenvolver reações alérgicas a um medi‑
camento. No entanto, esta predisposição genética constitui um fator de
risco importante. A frequência das alergias aos medicamentos também
aumenta com a idade. Podem estar relacionadas com um único produto,
com uma família específica de produtos ou com uma grande diversidade
de medicamentos.

★★ O diagnóstico baseia­‑se, essencialmente, num interrogatório minucioso


e preciso. Para responder corretamente às perguntas do médico:
– anote, nos folhetos informativos, o tipo de reação e o seu grau de
gravidade;

119
A Prevenir e tratar as alergias

– guarde cuidadosamente os folhetos ou, na sua ausência, o nome dos


medicamentos de que suspeita.
Os testes cutâneos podem ser úteis, sobretudo no caso da penicilina.
Apesar de, regra geral, apresentarem poucos riscos, devem ser efetuados
sob a supervisão de um especialista.

UM BOM CONSELHO…

Se já teve qualquer reação grave a algum medicamento, mencione esse facto, por
exemplo, através de uma etiqueta colada no seu Cartão do Cidadão ou Bilhete de
Identidade. Isso pode evitar­‑lhe muitos inconvenientes, principalmente em caso de
hospitalização urgente.
O médico e/ ou o técnico de saúde devem estar a par deste tipo de situações.

Os medicamentos envolvidos
A lista dos medicamentos suscetíveis de provocar reações alérgicas é
longa e inclui, entre outros:
– vários antibióticos;
– anti­‑inflamatórios e analgésicos, principalmente os que contêm ácido
acetilsalicílico;
– anestésicos locais;
– a insulina;
– os barbitúricos;
– a codeína (principalmente, na composição de antitússicos);
– a efedrina (principalmente, na composição de descongestionantes);
– as pílulas contracetivas;
– o quinino;
– as sulfamidas.

A penicilina e outros antibióticos


★★ A penicilina é o medicamento mais associado a reações alérgicas e estas
manifestam­‑se sob várias formas: urticária, angioedema e reações
muito mais graves que podem ir até ao choque anafilático. As estatísti‑
cas mostram que as reações alérgicas à penicilina, ampicilina e amoxi‑
cilina aparecem em menos de um por cento das pessoas que as tomam
e que só 10 por cento destas reações envolvem um verdadeiro risco. De

120
A As alergias aos medicamentos

entre as pessoas que sofrem reações graves, três em cada quatro nunca
tinham tido acidentes alérgicos aos antibióticos. Na maioria dos casos,
as reações ocorrem menos de uma hora depois da administração do
medicamento.
No caso da penicilina, a sensibilidade pode ser confirmada através de
testes cutâneos estandardizados.
Regra geral, este antibiótico tomado por via oral provoca reações menos
graves do que sob a forma de injeções. Além disso, existem antibióticos
de substituição para a maior parte dos doentes alérgicos à penicilina. As
pessoas com esta sensibilidade devem evitar totalmente esta substância,
mas também outros antibióticos da mesma família (ampicilina e amoxi‑
cilina) e as cefalosporinas, com as quais pode haver reação cruzada.
Quando a utilização da penicilina for realmente indispensável, é pos‑
sível tomá­‑la, sob vigilância médica. Existe mesmo um tratamento de
imunoterapia especial para estes casos.

★★ Outros antibióticos, como as tetraciclinas e a eritromicina, são muito


menos alergizantes. No entanto, nunca deve tomar antibióticos sem
receita médica. Mesmo as pomadas que contêm antibióticos podem
provocar reações locais de tipo alérgico. Por isso, utilize­‑as com
moderação.

As sulfamidas
Todas as sulfamidas podem provocar reações alérgicas mais ou menos
graves. Com a mais utilizada, o sulfametoxazol, observam­‑se frequen‑
temente várias formas de prurido e urticária. Esses sintomas são geral‑
mente benignos e desaparecem com a interrupção do tratamento.

O ácido acetilsalicílico
O ácido acetilsalicílico entra na composição de vários medicamentos
e é a substância mais suscetível de provocar crises de asma. Este tipo
de reação encontra­‑se, sobretudo, nas pessoas que são alérgicas a algum
alimento e/ou a um alergénio de inalação (poeiras, etc.). Esses indiví‑
duos podem reagir, também, a outros analgésicos e anti­‑inflamatórios.
As reações mais frequentes são a urticária e, por vezes, o angioedema.
O choque anafilático é raro.
No entanto, não parece tratar­‑se de uma alergia propriamente dita, pois
o mecanismo envolvido não é de natureza imunológica. Tratar­‑se­‑ia

121
A Prevenir e tratar as alergias

antes de uma hipersensibilidade, também designada por idiossincrasia


(veja o título Um problema difícil, na página 119).
Nestes casos, o único tratamento é evitar por completo a substância
que provoca a alergia. Não tome qualquer medicamento sem verificar
atentamente a composição. Esta precaução é mais importante no caso
dos analgésicos, anti­‑inflamatórios e dos medicamentos receitados para
evitar acidentes cardiovasculares (anticoagulantes e antitrombóticos).

Atenção: algumas pessoas sensíveis ao ácido acetilsalicílico apresentam


sintomas quando ingerem tartarazina (E 102), um corante amarelo
muito utilizado em refrigerantes e outros produtos alimentares. Por
isso, também nesta situação, a leitura do rótulo é essencial.

Os anestésicos locais
São produtos muito utilizados, sobretudo em estomatologia e em
pequena cirurgia, para a sutura de uma ferida, por exemplo. Alguns,
como a xilocaína, podem induzir reações alérgicas de gravidade variável.
Se tiver quaisquer antecedentes alérgicos, não se esqueça de prevenir o
médico ou o dentista antes de uma anestesia local. A substância susce‑
tível de causar reações deve ser estudada através de testes cutâneos, em
diluições progressivamente crescentes.

Os produtos de contraste
São utilizados em alguns tipos de radiografia, para permitir a visualiza‑
ção de órgãos internos (os rins, por exemplo).
Eventuais acidentes são, frequentemente, reações ao iodo existente
na maioria dos produtos de contraste e não são, necessariamente, de
natureza alérgica. Os sintomas podem ser graves: náuseas, vómitos,
queda da tensão arterial e até choque anafilático. Normalmente, todos
os serviços de radiologia estão equipados para fazer face a este género
de acidentes. As pessoas suscetíveis de reagir desta forma podem ser
tratadas preventivamente (isto é, antes da administração do produto de
contraste), com anti­‑histamínicos e corticosteroides

A insulina
Existem diferentes tipos de insulina: purificada de boi ou de porco,
sintética humana e semissintética. Em maior ou menor grau, todas

122
A As alergias aos medicamentos

podem induzir reações de sensibilização, mas os preparados de estru‑


tura humana são menos sensibilizantes do que os de origem animal
purificados.
Durante o tratamento com insulina, a maioria dos doentes forma anti‑
corpos contra eventuais vestígios de proteínas estranhas no preparado.
Regra geral, isso provoca poucos sintomas ou mesmo nenhuns. Quando
surgem, tomam a forma de pequenas reações cutâneas no local da inje‑
ção, que desaparecem espontaneamente com o tempo.

Os anti­‑histamínicos em creme
Paradoxalmente, os anti­‑histamínicos em creme podem induzir reações
na pele. É o caso, principalmente, do prometazine (Fenergan®), mas
também do dimetindeno (Fenistil Gel®). Nestes casos, pode ser preferí‑
vel tomar os anti­‑histamínicos por via oral ou injetável.

OS MEDICAMENTOS E O SOL

• As fotodermatoses de contacto podem os  diuréticos à base de tiazidas, as


ser provocadas pela ação conjugada tetraciclinas (cuidado com os medi‑
da luz, de medicamentos ou de subs‑ camentos antiacne), a amiodarona e
tâncias fotossensibilizantes aplicadas alguns antipaludismo.
na pele. Estas reações manifestam­‑se, • Os sintomas podem surgir muito rapi‑
geralmente, sob a forma de insolação. damente, variando com a dose utilizada
• As reações fotoalérgicas são mais raras. e a intensidade do sol. Mas nem sem‑
Neste caso, os produtos combinam­ pre é assim. Por vezes, a evolução é
‑se com as proteínas da pele e provo‑ lenta e não tem qualquer relação com
cam reações alérgicas do tipo eritema estes fatores. Neste caso, os sintomas
(vermelhidão), erupções ou urticária, manifestam­‑se, também, nas zonas do
principalmente na face e nas mãos. corpo que estão cobertas.
Os sintomas reaparecem a cada nova Se tiver este tipo de reação, pare de tomar
exposição ao sol. o medicamento se souber qual é, caso
• Muitos medicamentos podem estar contrário procure informar­ ‑se junto do
na origem destes problemas, mas os seu médico ou farmacêutico. Evite ainda
mais frequentes são as sulfamidas, a plena exposição ao sol e utilize um pro‑
alguns tranquilizantes, os antisséticos tetor solar de fator elevado que tenha a
(atenção aos sabonetes medicinais), aprovação do seu dermatologista.

123
Capítulo 10

As alergias
às picadas de insetos
A As alergias às picadas de insetos

Conheça os culpados…
★★ Os acidentes alérgicos graves resultantes de picadas de insetos não
acontecem, felizmente, com muitas espécies destes. No nosso país,
são principalmente as vespas e as abelhas (insetos himenópteros) que
podem causar este tipo de reação. Cerca de um quinto dos europeus são
alérgicos a himenópteros. Mesmo assim, convém estar prevenido, já que
as consequências podem ser muito graves.

★★ Existem outros pequenos animais que podem provocar alergias. É o


caso, por exemplo, dos ácaros, a que já nos referimos no capítulo 4, e
das baratas. No entanto, nestes casos, não são as picadas que provocam
as alergias, mas os próprios animais e os seus excrementos.

Os sintomas
★★ As reações alérgicas ao veneno das picadas dos insetos manifestam­
‑se, regra geral, de forma localizada: inchaço vermelho e doloroso no
ponto da picada, que desaparece em poucas horas. No entanto, nalgu‑
mas pessoas, os sintomas podem alastrar ou as picadas infetar e durar
vários dias.

★★ A alergia às picadas de insetos pode também provocar uma reação gene‑


ralizada, mais ou menos grave, e revestir­‑se de diversas formas, eventu‑
almente associadas:
– urticária generalizada;
– manifestações respiratórias, como rinite, asma;
– angioedema, com eventual inchaço da laringe;
– no pior dos casos, choque anafilático com risco de morte súbita.
Estas reações aparecem rapidamente, por vezes nos minutos que se
seguem à picada. Alguns estudos indicam que o risco de sofrer uma
reação grave atinge, aproximadamente, 0,8 por cento das pessoas, mui‑
tas das quais não têm quaisquer antecedentes alérgicos. Podem atingir
seres humanos predispostos ou não, mas os primeiros parecem apre‑
sentar um risco ligeiramente superior. Quando há múltiplas picadas
em simultâneo, podem verificar­‑se reações graves e mesmo mortais de
origem não alérgica. Calcula­‑se que quinhentas picadas de abelha pro‑
duzam uma dose de veneno mortal para o homem.

127
A Prevenir e tratar as alergias

★★ O veneno dos insetos himenópteros contém diversas substâncias:


– algumas, como a histamina, a serotonina, os quininos, etc., são res‑
ponsáveis por reações locais, comuns a todos os indivíduos;
– outras são proteínas (essencialmente enzimas, como fosfolipase, hia‑
luronidase, etc.) que, pelas suas propriedades antigénicas, são responsá‑
veis pelos acidentes alérgicos.

★★ Não há alergias cruzadas entre os venenos de vespa e de abelha. Regra


geral, só se é alérgico a um destes venenos. Por isso, é importante saber
identificar o inseto e conhecer os seus hábitos, a fim de evitar ao máximo
o risco de picadas.

APRENDA A DISTINGUI­‑LOS

Estes insetos vivem em colónias orga‑ abrigados em árvores ocas.


nizadas, em que cada grupo tem uma • Para evitar que estes insetos entrem
função específica. Regra geral, fora da em sua casa, utilize mosquiteiros nas
colmeia, apenas se encontram algumas portas e janelas e mantenha uma boa
fêmeas estéreis, providas de ferrão (as higiene em casa e na zona que a rodeia.
obreiras), mas pode suceder que venha a No lar como nos piqueniques, guarde
encontrar­‑se perante um enxame de abe‑ os alimentos em embalagens bem
lhas provenientes das colmeias de um api‑ fechadas.
cultor. Quando se sentem ameaçadas, as • Pode ainda manter os insetos à distân‑
obreiras podem picar, o que é perigoso, cia utilizando repelentes, sprays contra
sobretudo, para as pessoas alérgicas. insetos voadores ou armadilhas para
Quanto aos abelhões, é raro picarem. vespas (veja a ilustração Contra as ves‑
• As vespas constroem ninhos em forma pas, na página seguinte).
de balão, enquanto que os ninhos dos • Aos apicultores é recomendado fato de
abelhões estão enterrados no solo ou proteção adequado.

abelhas vespas abelhões

128
A As alergias às picadas de insetos

Contra as vespas

Os piqueniques atraem alguns insetos que


chegam sem convite e que é difícil expul‑
sar. No caso das vespas e das abelhas,
o caso complica-se. Para evitar picadas,
basta utilizar uma armadilha muito simples:
corte a parte superior de uma garrafa
de plástico e coloque um pouco de doce
ou de sumo no fundo da garrafa. Em
seguida, volte a fechá-la, deixando apenas
o gargalo aberto, pendure-a numa árvore
ou arbusto a alguns metros de distância
do local escolhido para o piquenique e
deixe a tentação trabalhar por si...

O diagnóstico
★★ A história clínica é um fator importante, mas o grau de sensibilidade
individual ao veneno destes insetos pode variar, ao longo do tempo, em
função de aspetos pouco conhecidos. Por exemplo, nem sempre uma
pessoa potencialmente sensível apresenta nos testes uma reação impor‑
tante. Também pode acontecer que o mesmo indivíduo reaja de forma
diferente, quando picado em momentos distintos.

★★ Os testes cutâneos são efetuados com extratos de veneno muito diluí‑


dos, para reduzir o efeito das reações positivas. O objetivo destes testes
é determinar o limiar de sensibilidade.

★★ Os testes sanguíneos permitem detetar anticorpos do tipo IgE, dirigi‑


dos contra o veneno do inseto considerado. Neste caso, a correlação com
os testes cutâneos é, geralmente, boa.

129
A Prevenir e tratar as alergias

O tratamento
Em caso de urgência

O tratamento de urgência impõe­‑se em caso de choque anafilático ou de


edema da laringe. Consiste, principalmente, numa injeção subcutânea
de adrenalina, que deve ser rapidamente administrada. Quando surgem
os primeiros sintomas, é indispensável chamar um médico ou dirigir­
‑se a um serviço de urgências. Lembre­‑se de que estas manifestações
aparecem, frequentemente, em pessoas que nunca tinham apresentado
quaisquer perturbações alérgicas.
Quem já sofreu acidentes com uma picada de inseto ou é suscetível de ter
reações graves, deve trazer sempre consigo o material necessário para a
injeção subcutânea. Os pormenores sobre o momento, a quantidade e o
modo de aplicação, serão explicados pelo seu médico.

O QUE FAZER?

• Quando alguém é picado por uma que decorrer entre a picada e a extra‑
vespa ou abelha, a primeira coisa ção do ferrão.
a fazer é extrair o ferrão. É preferí‑ • Uma picada na boca ou na garganta
vel fazê­‑lo com uma pinça, para não pode provocar inchaço e dificultar
beliscar ou pressionar a pele, aju‑ a respiração. Para evitar que isto
dando a espalhar o veneno. Em todo aconteça, cubra a zona afetada com
o caso, a palavra de ordem é rapidez. pedras de gelo envoltas num saco de
Por isso, se não tiver uma pinça ou plástico ou num pano limpo para evi‑
algo semelhante à mão, utilize mesmo tar uma eventual queimadura pelo frio.
as unhas. A gravidade do inchaço Dirija­‑se, imediatamente, às urgências
dependerá, essencialmente, do tempo do hospital.

Os casos benignos

Os medicamentos anti­‑histamínicos podem ser eficazes em caso de rea‑


ção moderada. Devem ser tomados por via oral ou intramuscular, logo
após a picada. Lembre­‑se de que alguns anti­‑histamínicos provocam
sonolência, o que pode ser perigoso se tiver de conduzir.

130
A As alergias às picadas de insetos

MAIS VALE PREVENIR…

Contra as picadas de insetos, todos os – esteja particularmente atento aos inse‑


cuidados são poucos. Eis algumas regras tos nas zonas de piquenique ou perto
que convém seguir, sobretudo em situa‑ das árvores de fruto, dos expositores de
ções de maior risco: alimentos e dos caixotes do lixo;
– tenha sempre consigo um medica‑ – evite comer ao ar livre, principalmente
mento anti­‑histamínico de ação rápida alimentos açucarados; embrulhe e deite
ou, então, o material necessário para uma fora, rapidamente, os restos de comida;
injeção subcutânea de adrenalina; – evite utilizar perfumes, sabonetes e
– após uma picada, consulte de imediato lacas perfumadas;
um alergologista; – se for assediado por uma vespa ou
– se já tiver tido um acidente alérgico às abelha, não procure matá­‑la; fique calmo
picadas de insetos, use uma bracelete ou e movimente­‑se devagar;
uma medalha mencionando este risco. – os enxames de abelhas não são a
Pode também referi­ ‑lo num pequeno melhor vizinhança. Se encontrar um perto
papel junto ao seu Cartão do Cidadão ou de sua casa, faça­‑o capturar por um api‑
Bilhete de Identidade; cultor ou, na falta deste, pelos bombeiros,
– no verão, nunca ande descalço; mas não use inseticida porque as abelhas
– em caso de exposição a numerosos são muito úteis. Nunca feche a entrada
insetos, use calças e mangas compridas; de um ninho de vespas ou abelhões que
– evite as cores claras e vistosas; se encontre, por exemplo, numa parede
– use luvas para todos os trabalhos oca. Caso contrário, arrisca­‑se a que a
de jardim; sua casa seja invadida.

A imunoterapia
A eficácia da imunoterapia para tratar a alergia às picadas de insetos é
indiscutível. Este tratamento consiste em várias injeções subcutâneas,
com dose crescente, de um extrato de veneno do inseto a que a pes‑
soa é sensível. Se for necessário obter resultados rápidos, pode fazer­
‑se um tratamento intensivo de alguns dias. No entanto, isso só deve
fazer­‑se em estabelecimentos de saúde especializados e sob vigilância
médica permanente.

★★ Uma vez iniciado, o tratamento deve continuar durante, pelo menos,


cinco anos. Daí a importância de uma prescrição criteriosa. A decisão de
iniciar o tratamento depende da história clínica da pessoa e, também,
dos resultados dos testes cutâneos e sanguíneos.

★★ A eficácia do tratamento é avaliada através da evolução dos sinto‑


mas, por ocasião de uma nova picada. Neste sentido, alguns serviços

131
A Prevenir e tratar as alergias

de alergologia fazem testes de provocação realistas, isto é, infligem à


pessoa sensibilizada o equivalente a uma ou duas picadas verdadeiras.
Parece que, nestas condições, é possível obter uma proteção total em 95
por cento dos casos. No entanto, também podem ocorrer curas espon‑
tâneas. Certos estudos indicam mesmo 40 por cento de curas sem trata‑
mento. Isto deriva da multiplicidade de fatores que intervêm no desen‑
volvimento de uma reação alérgica e, principalmente, das variações do
sistema imunológico ao longo do tempo.

132
Capítulo 11

As alergias
das crianças
A As alergias das crianças

Alergias e hereditariedade
★★ Nem mesmo as crianças ou os bebés estão livres de alergias. O sis‑
tema imunológico de um recém­‑nascido ainda não está completa‑
mente estabelecido e, regra geral, o aparelho digestivo é o mais afe‑
tado. Os bebés são particularmente vulneráveis a distúrbios gastrin‑
testinais e, especialmente, às gastrenterites. Por outro lado, a mucosa
intestinal do recém­‑nascido é mais permeável a moléculas volumosas,
de grande potencial alergizante. Este fenómeno é agravado em caso de
infeções locais.

★★ A probabilidade de os sintomas gastrintestinais serem causados por


alergias é maior quando existem antecedentes familiares de alergia.
A manifestação precoce destes sintomas pode estar também relacio‑
nada com o aparecimento, na infância, de casos de asma. Isto não
significa, naturalmente, que todas as cólicas das crianças tenham
origem alérgica. No entanto, em caso de persistência dos sintomas,
é de considerar a hipótese da alergia. Neste caso, deve consultar
o pediatra.

★★ A manifestação de um eczema atópico (veja o capítulo 6), no bebé,


aumenta a probabilidade de a criança vir a sofrer de rinite ou de asma.
Estas situações podem mesmo persistir até à idade adulta.

★★ Para ajudar uma criança com eventuais problemas alérgicos, o médico


começa por estabelecer o historial dos sintomas, a sua gravidade e as
circunstâncias em que surgem. Informar­‑se­‑á, com maior detalhe, sobre
o ambiente familiar, o comportamento habitual, as relações da criança
com os pais e com os amigos e, ainda, sobre eventuais problemas alérgi‑
cos que afetem outros membros da família.

Atenção: seja qual for a idade da criança, não dramatize nem modifi‑
que a sua rotina. Faça os possíveis por controlar os sintomas, mas evite
perturbá­‑la mais do que o necessário. Lembre­‑se de que os fatores emo‑
cionais podem ter uma influência considerável e tornar o tratamento
mais nocivo do que a própria doença.

135
A Prevenir e tratar as alergias

As alergias alimentares
Calcula­‑se que cerca de 85 por cento dos fenómenos alérgicos nas crian‑
ças mais pequenas são de origem alimentar. Depois dos cinco anos, são
mais frequentes as de origem respiratória.

Nos bebés
As moléculas responsáveis pela alergia são mais facilmente absorvidas
pelo aparelho digestivo dos bebés, dado que as defesas do organismo
ainda não estão completamente estabelecidas. Os sintomas podem sur‑
gir poucas horas após a absorção do alimento, mas, também, um ou dois
dias mais tarde. Neste caso, é muito mais difícil identificar a substância
que causou a alergia.

Quais são as reações?


Na maior parte dos casos, trata­‑se de sintomas digestivos, como dores
abdominais, vómitos ou diarreia. Mas também podem surgir casos de
urticária, asma, rinite ou um edema. Os sintomas duram algumas horas
e a sua intensidade é variável.

Quais os alimentos a evitar?


O leite de vaca é o alimento que mais frequentemente provoca aler‑
gias no bebé, causando, sobretudo, diarreia e vómitos. Na maioria dos
casos, é uma situação passageira. Com efeito, a maior parte das crianças
entre os dezoito meses e os dois anos já assimila bem o leite. A alergia
a outros alimentos é menos frequente, mas pode ocorrer com a soja e o
trigo (glúten).

Atenção: os produtos lácteos passíveis de causar alergia incluem os iogur‑


tes, os queijos frescos e os não fermentados. Ferver o leite não elimina a
sua capacidade de provocar alergias.

Que fazer?
★★ O leite materno é a melhor prevenção contra as alergias das crianças
pequenas:
– fornece imunoglobulinas A, substância insuficiente no recém­‑nascido

136
A As alergias das crianças

e, aparentemente, em falta nalgumas crianças com predisposição gené‑


tica para as alergias;
– ao contrário do leite de vaca, não contém substâncias passíveis de cau‑
sar alergias;
– reduz consideravelmente o risco de infeções intestinais, favoráveis ao
aparecimento de sintomas alérgicos.

Atenção: é muito raro, mas pode acontecer que uma criança desen‑
volva sintomas alérgicos durante a amamentação. Neste caso, a subs‑
tância alergénica encontra­‑se na alimentação da mãe, que deve tentar
modificá­‑la.

★★ Na falta do leite materno, peça um conselho ao pediatra sobre o leite de


substituição mais indicado.

★★ Findo o período de amamentação, os alimentos devem ser introduzidos


progressivamente, um a um, para que seja possível identificar rapida‑
mente um que não convenha. Além do leite de vaca, os alimentos a intro‑
duzir com maior precaução são os ovos (sobretudo a clara) e também o
sumo de laranja, quando se trata de uma criança em risco. A diversifica‑
ção da dieta do bebé deve iniciar-se depois dos quatro meses. Os bebés
amamentados em exclusivo podem adiá-la para os seis meses

UM BOM CONSELHO

Se algum familiar já manifestou sinais representa para a criança o maior risco de


de alergia, seja ela qual for, é ainda mais alergia a este alimento.
importante que o bebé seja amamentado A amamentação melhora a resistência
durante os três primeiros ou, de preferên‑ às infeções e às alergias, bem como o
cia, durante os seis primeiros meses de crescimento. Trata­‑se, portanto, de uma
vida. Evite dar­‑lhe leite de vaca ou seus recomendação útil para todos os lacten‑
derivados. Com efeito, é a combinação tes, mas assume ainda maior importância
dos dois fatores, antecedentes familiares no caso das crianças com pais alérgicos.
e consumo precoce de leite de vaca, que

Nas crianças
As alergias alimentares podem aparecer em crianças de qualquer idade.
Os sintomas são reveladores: diarreia, vómitos, rinites, edemas e,

137
A Prevenir e tratar as alergias

também, determinados tipos de eczema. Outros sintomas são menos


evidentes. É o caso da gastrite, da anemia, dos problemas de rins ou das
enxaquecas e irritabilidade.

★★ A doença celíaca começa após o termo da amamentação e manifesta­‑se


por alterações gerais e diarreias crónicas. Trata­‑se de uma intolerância
ao glúten, que pode estar relacionada com as alergias alimentares (veja o
capítulo 8). É por isso que os pediatras recomendam adiar a introdução
do trigo para depois dos seis meses de idade.

★★ O leite (atenção aos chocolates e gelados), os ovos (sobretudo a clara), o


peixe, o sumo de laranja, as maçãs, as nozes e outros frutos secos são
apenas alguns dos alimentos que podem causar fenómenos alérgicos
nas crianças. Entre as carnes, a de porco é a mais suscetível de causar
alergias. A carne de frango, pelo contrário, é pouco alergizante.

★★ Além dos alimentos propriamente ditos, existem algumas substâncias


alergizantes a considerar, principalmente:
– conservantes alimentares, como os benzoatos (E 110 a E 113);
– intensificadores de sabor, como o glutamato monossódico (E 621);
– corantes, como a tartarazina (E 102).

★★ O tratamento dos sintomas passa, evidentemente, por retirar da dieta


os alimentos e aditivos envolvidos. Uma leitura atenta dos rótulos é, por
isso, essencial.

Atenção: este tratamento deve ser cuidadosamente controlado, de modo


a evitar dietas desequilibradas ou incompletas, que podem ter graves
repercussões no crescimento da criança. Por isso, não hesite em pedir o
conselho do médico e/ou do nutricionista.

As dermatites de origem alérgica


As crianças, sobretudo as mais pequenas, são vulneráveis a toda a
espécie de erupções cutâneas. Algumas são benignas e locais, devi‑
das, por exemplo, ao calor, ao excesso de transpiração ou ao contacto
com as fraldas sujas. Outras são manifestações de doença infecciosa,
como o sarampo, a rubéola ou a varicela. Nestes casos, é a infeção

138
A As alergias das crianças

que deve ser tratada em primeiro lugar. Mais raramente, surgem ver‑
dadeiros sintomas de alergia, tais como o eczema atópico e o eczema
de contacto.

O eczema atópico
O eczema atópico da infância é uma doença crónica, que surge muitas
vezes antes dos três meses. Começa por atingir o couro cabeludo, a face
e as nádegas. Os sintomas são, habitualmente, atenuados com a aplica‑
ção de pomadas anti­‑histamínicas e de emolientes. Pode ser necessária
a aplicação de corticoide tópico (só com indicação médica).
Como é evidente, é preciso encontrar a causa da alergia. Atribui­‑se a
origem deste tipo de eczema a uma reação ao meio ambiente, mas pode
ser extremamente difícil identificar o culpado. Na lista de suspeitos
estão o clima invernoso, o meio urbano, a mudança de domicílio e até
os alimentos.
O eczema não tem cura, mas o tratamento é indispensável para controlar
três fatores agravantes: a sobreinfeção, a secura da pele e a inflamação.
Além disso, a terapia permite reduzir substancialmente as comichões.
Um banho diário, ou mesmo duas vezes por dia, é indispensável.

AS REGRAS DO BANHO

• A temperatura da água não deve lave­‑ a bem sob o duche, com


ultrapassar 36 ºC. Muito quente pode água morna.
desencadear prurido (comichão). • Em seguida, aplique sobre a pele
• Os sabonetes vulgares tendem a secar e húmida as pomadas receitadas pelo
irritar a pele. Por isso, prefira um ácido, médico. Seque com uma toalha turca
com pH entre 4,5 e 5,5 (veja os rótulos). muito macia e sem vestígios de deter‑
• Mantenha a criança na água durante, gentes, tocando na pele em vez de a
pelo menos, cinco minutos. No final, esfregar.

O eczema de contacto
É um eczema que aparece, essencialmente, nas crianças e adolescentes.
Caracteriza­‑se por uma inflamação da pele em contacto com um pro‑
duto químico, um metal, um medicamento ou o couro. Ao contrário do
que se verifica no eczema atópico, a cura é completa depois de se elimi‑
nar a causa, mas os sintomas reaparecem em caso de nova exposição.

139
A Prevenir e tratar as alergias

A crise de asma
A asma afeta entre 3,5 e 14 por cento das crianças. Como em todas as
doenças alérgicas, a proporção de doentes é de dois rapazes por cada
rapariga. Regra geral, esta doença surge por volta dos três anos. No
entanto, o bebé pode apresentar sintomas que se instalam, na maioria
dos casos, no primeiro inverno. O bem­‑estar, o apetite e o crescimento
podem não ser afetados e os sintomas desaparecerem na primavera,
mas a criança pode ter uma recaída no inverno seguinte. Na maioria dos
casos, o grande responsável é o pó da casa. O pólen de algumas plantas
e ervas, os animais domésticos e os bolores alergénicos também têm
alguma influência, mesmo nos bebés. Nestes casos, o diagnóstico nem
sempre é fácil de estabelecer.
As crises de asma podem ter consequências graves ou mesmo mortais.
A longo prazo, se a doença for bem tratada, as crises desaparecem ou
manifestam­‑se apenas em situações de exposição perigosa. Nalguns
casos, porém, a asma persiste toda a vida ou transforma­‑se, eventual‑
mente, noutro tipo de alergia.

Que fazer em caso de crise?


Uma crise de asma numa criança pode revelar­‑se uma experiência muito
traumatizante. Não hesite em chamar o médico ou, se a crise for parti‑
cularmente grave, em levá­‑la ao serviço de urgências mais próximo.

★★ Enquanto aguarda a chegada do médico, procure ficar tão calmo quanto


possível. Este fator é essencial, já que é necessário tranquilizar a criança.
Utilize os medicamentos eventualmente receitados pelo médico para a
crise de asma. Não se inquiete demasiado com o sibilo que acompanha
a respiração. Deve­‑se ao inchaço ou à obstrução das vias respiratórias
pelo muco.

★★ Coloque a criança na posição que ela considerar mais confortável.


Geralmente, ficar sentado no leito, com umas boas almofadas a apoiar
as costas, ajuda a acalmar a crise. Procure distrair o doente, contando­
‑lhe a sua história favorita ou pondo a tocar uma música de que ele goste
particularmente. Se a criança aceitar, dê­‑lhe de beber. Convém que ela
ingira bastante água ou sumo, mas em pequenos goles, para não acen‑
tuar eventuais náuseas.

140
A As alergias das crianças

Tratar a brincar!

Os exercícios respiratórios são uma prática benéfica para as crianças


com asma. Se puderem ser feitos a brincar, tanto melhor. Aprender um
instrumento de sopro ou inventar brincadeiras que obriguem a treinar a
respiração são uma boa opção. Aqui ficam algumas sugestões:

Encher balões de uma


só vez, soprando
com força e lentamente.

Soprar apitos, cornetas


ou quaisquer outros
instrumentos de sopro.

Eis uma versão original de pingue-pongue,


que deve ser jogada com um sopro forte e
lento, uma só vez em cada jogada.

141
A Prevenir e tratar as alergias

★★ O médico procura as causas da doença e receita os medicamentos a


tomar. Trata­‑se dos mesmos que são receitados para adultos, mas em
quantidades mais reduzidas. Se a criança tiver idade para os compreen‑
der, o médico pode também propor exercícios respiratórios. Esta forma
de cinesiterapia constitui um fator importante para o desenvolvimento
da caixa torácica da criança e a melhor abordagem para uma prática pos‑
terior de atividades desportivas (veja atrás a ilustração Tratar a brincar).

Os fatores psicológicos na alergia


A asma é a alergia mais associada a fatores psicológicos. Qualquer
médico que trate de asmáticos fica impressionado com a influência dos
fatores emocionais nos sintomas da doença.
Mas qual é, exatamente, o seu papel? Serão a causa da asma ou a sua
consequência? A resposta é importante porque pode influenciar o tra‑
tamento e também a atitude das pessoas que rodeiam o doente. Para a
criança asmática, uma postura sã das pessoas com quem convive pode
ajudar ao abrandamento dos sintomas. Basta estas não estigmatizarem
nem limitarem a sua vivência do dia­‑a­‑dia.

O fator psicológico
é uma causa da crise de asma?
Para testar esta hipótese, os investigadores tentaram definir um tipo
de personalidade comum aos asmáticos, mas não encontraram nada de
significativo. Por outras palavras, não parece existir um perfil psicoló‑
gico mais predisposto à asma.
No entanto, o stresse ou um estado emocional intenso modificam o
ritmo respiratório, podendo agir como fatores desencadeantes das cri‑
ses. Estes fatores não parecem ser, por si só, a causa de uma crise de
asma. É preciso, antes de mais, que a pessoa alérgica esteja na presença
de um alergénio ao qual é sensível. Nesta situação, o ritmo respiratório
acelerado pode transformar­‑se em dispneia (dificuldade respiratória) e
degenerar numa crise de asma. Apesar de não estarem na origem do
mal, os fatores psicológicos podem aumentar a frequência e a intensi‑
dade das crises.
Um conflito interior, sobretudo quando não é verbalizado, pode colocar
a criança asmática num estado de tensão que reduz a sua resistência

142
A As alergias das crianças

imunitária e a torna mais recetiva ao alergénio. Saiba ainda que a criança


asmática é hipersensível e se apercebe facilmente da ansiedade que a
rodeia. A sensação de ser ela própria a causa dessa ansiedade alimenta
sentimentos de culpa, que é preciso combater. Embora consciente da
influência dos fatores psicológicos no desencadear das crises, evite inter‑
pretações psicológicas abusivas (veja a caixa Um caso vivido). Até por‑
que, uma manifestação alérgica nunca pode ser interpretada apenas do
ponto de vista psicológico.

UM CASO VIVIDO

O Pedro tem dez anos e é filho de pais a casa do pai, inicia uma crise de asma.
divorciados. Vive com a mãe que, não A mãe aproveita a situação para afirmar
tendo feito o luto do fracasso conjugal, que o Pedro não é feliz em casa do pai,
critica e arrasa o pai aos olhos dele. mas que não é capaz de o dizer. Procura,
O Pedro é uma criança meiga e sensível, também, obter uma suspensão do direito
muito ligado à mãe, que o sobreprotege de visita.
por causa da asma. Mas está também Alarmado, o pai consulta um alergolo‑
muito ligado ao pai, que procura fortalecê­ gista, que procede a uma série de testes
‑lo e levá­‑lo a fazer desporto. O Pedro para despistar o alergénio. Esses testes
sente­‑se muito dividido entre ambos mas, identificam uma alergia aos ácaros aloja‑
devido à má relação existente entre eles, dos nos colchões que, em casa do pai,
não lhes fala deste conflito interior. já não eram substituídos há muitos anos.
A perspetiva de passar um fim de semana Depois de ter sido submetido a um tra‑
com o pai fá­‑lo rejubilar por antecipação, tamento por imunoterapia, o Pedro não
já que se sente mais crescido na com‑ voltou a ter crises de asma em casa
panhia dele. No entanto, quando chega do pai.

Procure atenuar os conflitos, através do diálogo, mas não caia na ten‑


tação de sobreproteger a criança, atitude que a tornará dependente
e insegura.

A asma provoca problemas psicológicos?


★★ A asma é uma doença assustadora, penosa e crónica, que dá àquele que
sofre, em plena crise, angústias de morte. É preciso não esquecer que
a criança asmática tem medo de morrer, mesmo que nem sempre ouse
exprimi­‑lo. Nem tão pouco é de estranhar que as pessoas que convivem
com ela vivam num clima de ansiedade. Além disso, é frequente que a
mãe tenha uma relação próxima com a criança e, querendo evitar­‑lhe
novas crises, tenda a sobreprotegê­‑la.

143
A Prevenir e tratar as alergias

Estudos efetuados com crianças asmáticas detetaram uma atitude


sobreprotetora por parte da mãe, atingindo, por vezes, um nível pato‑
lógico. Nestes estudos, as crianças revelaram também uma inteligência
elevada nos testes verbais, mas fraca capacidade de desempenho, uma
angústia muito marcada, falta de autoconfiança e uma agressividade
latente considerável. Outros autores, baseando­‑se no testemunho de
pessoas que seguiram uma terapia, concluem que esses doentes con‑
servam, durante toda a vida, o medo de perder o amor e a proteção da
figura materna.

★★ Para ajudar a criança asmática, é indispensável tornar saudável o clima


ansioso. Evite interdições e recomendações excessivas, cujo único efeito
consiste em reforçar a ansiedade da criança, mesmo fora das crises, não
contribuindo em nada para a sua cura.
Em síntese, face a uma criança (ou mesmo um adulto) que sofra de asma,
deve agir­‑se a três níveis, e nesta sequência:
– ao nível médico: encontrar a causa e proceder ao tratamento;
– ao nível educativo: ter atitudes positivas, assim como um projeto educa‑
tivo que possa tornar a criança mais autónoma e segura de si;
– ao nível psicológico: ser sensível às tensões e conflitos que agitam a
família e tentar verbalizá­‑los no momento em que a criança está dis‑
ponível para os ouvir. Um apoio psicológico de curta duração pode ser
muito benéfico, se for conseguida a colaboração dos pais.

Se o seu filho é alérgico...


A alimentação, nos primeiros seis meses de vida, tem uma incidência
importante no aparecimento e desenvolvimento das alergias, princi‑
palmente nas crianças com predisposição alérgica. Mas é preciso não
esquecer, também, os riscos inerentes ao meio ambiente, sobretudo se
abundam pelos de animais, poeiras, pólenes e todo o tipo de poluição.
Por fim, convém lembrar a influência dos fumos, principalmente de
tabaco. Se um dos seus filhos, em particular se ainda for bebé, apresen‑
tar risco de alergia, abstenha­‑se de fumar em casa.

★★ É praticamente impossível eliminar de sua casa todas as substân‑


cias alergénicas, mas procure reduzi­‑las ao mínimo. Simplifique a
decoração, para facilitar uma limpeza frequente, e evite os animais

144
A As alergias das crianças

domésticos e as alcatifas. Dê particular atenção ao quarto da criança,


pois é lá que ela passa uma grande parte do tempo. O ideal é que esta
divisão não tenha mais de uma cama, mas, se isso não for possível,
todas devem ser submetidas a uma limpeza minuciosa: lave os estra‑
dos uma vez por semana e mude as roupas, pelo menos, duas vezes
por semana.

★★ A roupa de cama deve ser lavada a uma temperatura superior a 65 ºC.


Prefira lençóis e cobertores de algodão, bem como colchas macias;
rejeite as almofadas, colchões e edredões de penas ou lã. Utilize,
somente, almofadas e colchões de espuma ou de outro material antia‑
lergénico. Se a criança for sensível aos ácaros, cubra o colchão com um
revestimento antiácaros.

★★ Nas janelas, utilize cortinas de algodão puro ou de fibras sintéticas


(a lavar quinzenalmente) ou estores fáceis de limpar. Para cobrir o chão,
use apenas tapetes de algodão e lave­‑os todas as semanas. Mantenha no
guarda­‑roupa pouco vestuário, sempre limpo, e evite guardar aí quais‑
quer outras coisas.

★★ O quarto de uma criança alérgica deve ser limpo todos os dias e as pare‑
des lavadas com frequência. Se a criança for alérgica aos ácaros, utilize
acaricidas. Para limpar o chão, o melhor é utilizar uma esfregona e um
pano húmido. No entanto, se preferir aspirar, faça­‑o na ausência da
criança, de preferência com um aparelho munido de filtros especiais
para impedir a passagem dos ácaros. Aquando da limpeza anual, retire
do quarto os móveis, os tapetes, as cortinas e os lençóis; lave as paredes,
os tetos, o soalho, os armários (por dentro e por fora), as camas e os
respetivos estrados.

★★ Mantenha a porta do quarto fechada e esvazie­‑o de qualquer objeto,


incluindo brinquedos ou livros, que acumulem muito pó. Os brinque‑
dos com enchimento (peluches, por exemplo) devem ser evitados, bem
como os móveis estofados.

★★ Um aparelho de ar condicionado pode ser útil, já que filtra os pólenes


e algumas partículas de pó ao mesmo tempo que controla a humidade
ambiente. Não se esqueça de mudar os filtros com regularidade. Um
purificador eletrónico é mais eficaz para a filtragem do pó, mas não tem
qualquer efeito sobre a temperatura e a humidade, fatores que podem

145
A Prevenir e tratar as alergias

ser prejudiciais quando está calor. Também existem aparelhos específi‑


cos para a humidificação do ar.

★★ Evite usar inseticidas ou outros sprays com cheiro intenso.

146
Glossário
A Glossário

Aqui encontra o significado de alguns dos termos mais utilizados quando se


fala de alergias. As expressões que fazem parte da explicação, mas cujo signi‑
ficado também poderá encontrar neste glossário, estão assinaladas a itálico.

Acaricida: produto capaz de destruir ‑se de uma reação de natureza imuno‑


os ácaros. lógica, em que a substância sensibiliza‑
dora provoca a formação de anticorpos
Ácaros: animais microscópicos, pre‑ específicos que reagem ao segundo con‑
sentes no pó da casa. Os ácaros pro‑ tacto com a mesma substância.
vocam, nas pessoas sensibilizadas,
alergias respiratórias ou da pele. Alveolite: inflamação dos alvéolos
pulmonares.
Aditivos: substâncias adicionadas
aos alimentos, para lhes dar qualida‑ Anafilaxia: inverso de profilaxia.
des de que carecem ou para melhorar Designa as reações imediatas de
as que possuem. As principais cate‑ hipersensibilidade a uma substância,
gorias de aditivos são os corantes, os quando reintroduzida no organismo,
conservantes, os antioxidantes, os com libertação de histamina e outros
emulsionantes e espessantes, os aro‑ mediadores. Um primeiro contacto
matizantes, os intensificadores de com a substância antigénica provoca
sabor e os edulcorantes. a formação de anticorpos específicos,
que reagem de imediato com este anti‑
Adrenalina: hormona segregada génio num segundo contacto, desen‑
pelas glândulas suprarrenais, que cadeando os sintomas de alergia.
também é possível obter por síntese.
A adrenalina acelera e intensifica Angioedema: veja Edema de Quincke
os batimentos do coração, aumenta e Edema.
a tensão arterial, inibe a contração
muscular dos brônquios e dos intes‑ Antialérgico: substância que contra‑
tinos. As injeções de adrenalina são ria a ação de qualquer elemento capaz
reservadas para os acidentes alérgi‑ de desencadear uma reação alérgica.
cos graves (choque anafilático).
Anticorpos: proteínas de um tipo
Alergénio: substância capaz de pro‑ particular, designadas por imunoglo‑
vocar alergias como, por exemplo, bulinas, que reagem de forma espe‑
o pólen. cífica às substâncias identificadas
como estranhas ao organismo, os
Alergia: reação excessiva do organismo antigénios, defendendo­‑o de agres‑
a uma substância à qual é sensível. Trata­ sões externas (bactérias, vírus, etc.).

149
A Prevenir e tratar as alergias

Antigénico: que tem propriedades Atopia: predisposição genética para


de antigénio. apresentar, de forma isolada ou em
associação, um certo número de sin‑
Antigénio: substância que estimula tomas alérgicos, ao contactar com
a formação de anticorpos no orga‑ alergénios inofensivos para a maio‑
nismo. Os antigénios podem ser ria das pessoas (pó da casa, pólenes,
organismos vivos (bactérias, células pelos de animais, por exemplo).
de tecidos) ou produtos elaborados
(secreções celulares, toxinas). Blefarite: inflamação do rebordo das
pálpebras, com vermelhidão, sensa‑
Anti­‑histamínicos: medicamentos ção de picadas ou de queimadura.
que inibem os efeitos da histamina
ao eliminar a reação alérgica. São Broncoconst r itor: subst â nc i a
mais eficazes nas reações alérgicas que diminui o calibre interno dos
da pele (urticária, picadas de insetos, brônquios.
etc.), diminuindo o prurido. Também
aliviam a rinite alérgica, mas não são Broncodilatador: medicamento uti‑
suficientemente eficazes nas reações lizado contra o espasmo brônquico
mais graves, como a asma brônquica. da crise asmática, aumenta o calibre
As versões mais recentes produzem interno dos brônquios.
menos sonolência.
Broncospasmo: contração brusca e
Asma: afeção caracterizada por difi‑ repentina das paredes dos brônquios,
culdades respiratórias ligadas à con‑ diminuindo o seu calibre interno e
tração (broncospasmo), ao edema e dificultando a passagem do ar.
à secreção anormal dos brônquios,
em episódios recorrentes. Entre Choque anafilático: reação brutal
esses acessos, o aparelho respirató‑ e generalizada do organismo, na
rio funciona normalmente. A alergia sequência da introdução de uma
é o principal fator no desencadear substância antigénica numa pessoa
da crise. já sensibilizada. Os sintomas apa‑
recem de forma quase imediata e
Aspergilose: doença provocada por agravam­‑se rapidamente; vão do pru‑
um fungo (Aspergillus fumigatus), rido generalizado à perda de consci‑
possível de encontrar nos meios ência, eventualmente com vómitos,
húmidos, na superfície dos grãos e dos diarreia, asma e perturbações cardio‑
vegetais. No ser humano manifesta­ vasculares. A recuperação raramente
‑se, geralmente, sob a forma de uma é espontânea, mas pode ser conse‑
alveolite pulmonar, após inalação dos guida através de uma injeção subcu‑
esporos. tânea de adrenalina.

150
A Glossário

Cinesiterapia: tratamento de doen‑ Dermografismo: sensibilidade exa‑


ças através do movimento. É indi‑ gerada da pele.
cado, entre outras situações, para
re­‑educação de certas insuficiências Dispneia: dificuldade respiratória
respiratórias. refletida, sobretudo, na expiração.

Conjuntiva: membrana que reveste Doença celíaca ou intolerância ao


internamente as pálpebras, ligando­ glúten: afeção caracterizada por diar‑
‑as ao globo ocular. reia súbita, seguida de emagrecimento
acentuado e atraso no crescimento.
Conjuntivite: inflamação da conjun‑ Deve­‑se à intolerância a um dos com‑
tiva, com afluência de sangue, secre‑ postos do glúten. Suspeita­‑se de pre‑
ção e prurido. disposição genética. Deteta­‑se quase
sempre na infância, quando começam
Corticosteroides: medicamentos de a ser introduzidos diversos alimentos
ação anti­‑inflamatória que contêm na dieta. Os doentes são obrigados a
substâncias derivadas da cortisona. O um regime sem glúten, ou seja não
seu uso prolongado, por via sistémica, podem comer alimentos com farinha
comporta o risco de efeitos secundá‑ de trigo, aveia, centeio ou cevada.
rios graves, sobretudo nas crianças.
Os inaladores e pomadas de aplicação Eczema: lesão da pele de origem alér‑
local são de utilização mais segura. gica ou provocada pelo contacto com
diversos materiais ou substâncias.
Dermatite: inflamação da pele. Caracteriza­‑se por comichão e man‑
chas vermelho­‑vivo, muito sensíveis,
Dermatose: designação genérica sobre as quais aparecem pequenas
para qualquer doença de pele. As der‑ bolhas que rebentam rapidamente,
matoses reacionais ou de origem alér‑ deixando escorrer um líquido viscoso.
gica dependem tanto de fatores exter‑
nos como da reação do organismo; Edema: inchaço provocado pela acu‑
os eczemas são um exemplo disso. mulação excessiva de líquido (soro,
por exemplo) em diversos tecidos e,
Dermatophagoides pteronyssi‑ em particular, na pele ou nas muco‑
nus: organismo microscópico, da sas. Indolor e sem rubor, mantém por
família dos ácaros, que se alimenta algum tempo a marca da pressão de
de pequenas partículas da pele e se um dedo. O edema pode igualmente
abriga, sobretudo, nas roupas de infiltrar o pulmão.
cama e no colchão. Pode provocar
alergias respiratórias, por inalação, Edema da laringe: edema grave em
ou alergias da pele, por contacto. que o inchaço pode impossibilitar a

151
A Prevenir e tratar as alergias

passagem do ar e provocar asfixia. O intraocular, dureza do globo ocular e


tratamento consiste na injeção sub‑ diminuição da visão. Se não for tra‑
cutânea de adrenalina. Pode ocorrer tado, pode levar a uma redução irre‑
isolado ou com edema de Quincke. versível da acuidade visual.

Edema de Quincke:  caracteriza­‑se Glutamatos: intensificadores de


pelo aparecimento brusco de inchaços sabor, um tipo de aditivo utilizado
acentuados na face. É isento de perigo em alguns alimentos. Também iden‑
e espontaneamente reversível. tificados pelos códigos E 620 a E 625,
são extraídos de uma alga muito
Eosinófilos: categoria de glóbulos utilizada na cozinha chinesa. Em
brancos, facilmente corados com grandes quantidades, os glutama‑
eosina. Em caso de alergia, a sua tos podem provocar a síndroma do
presença no organismo aumenta de restaurante chinês, caracterizada
forma considerável. por diversos sintomas, como náu‑
seas, enxaquecas, insensibilidade na
Eritema: designação geral de uma nuca, nos braços e nas costas, sensa‑
série de afeções inflamatórias da ção de ardor no estômago e reações
pele, caracterizadas por um rubor alérgicas.
mais ou menos intenso. Este rubor
Gramíneas: tipo de plantas, cujo
deixa de ser visível sob a pressão dos
dedos. O eritema pode ser provocado pólen pode causar alergia a algumas
pela exposição ao sol ou pelo frio, pessoas. É o caso, por exemplo, dos
entre outros fatores. cereais. Regra geral, o período de
polinização é mais acentuado em
Erupção cutânea: aparecimento na maio e junho.
pele, ou nas mucosas, de manchas,
rubores ou bolhas. É um sintoma de Himenópteros: classe de insetos
doenças infecciosas, afeções da pele que inclui as abelhas, as vespas, os
ou alergias. abelhões e as formigas.

Febre­‑dos­‑fenos: designação vulgar Hipersensibilidade: aumento da


da rinite alérgica sazonal. Os sinto‑ sensibilidade com manifestações
mas, que incluem inchaço das pál‑ de doença, através de uma rea‑
pebras e da mucosa nasal, espirros e ção antigénio­‑ anticorpo excessiva.
corrimento nasal e ocular, são mais Os  sintomas podem ser imediatos
incómodos do que realmente graves. ou retardados.

Glaucoma: afeção do olho, carac‑ Hipossensibilização: veja Imunote‑


terizada pelo aumento da pressão rapia.

152
A Glossário

Histamina: substância ativa exis‑ Linfócitos: categoria de glóbulos


tente nos diversos tecidos do corpo e brancos interveniente nas defesas do
que, entre outros efeitos, aumenta a organismo. Existem diversos tipos,
secreção do suco gástrico, contrai as mas, nas reações imunoalérgicas, os
fibras da musculatura lisa e as arterí‑ mais importantes são os linfócitos
olas, dilata os vasos capilares. A his‑ T e B.
tamina intervém na hipersensibilidade
e noutras manifestações alérgicas. É Mal asmático: crise de asma muito
uma das principais substâncias liber‑ violenta e prolongada. O estado de
tadas quando ocorrem reações alér‑ mal asmático caracteriza­ ‑ se pela
gicas. Também se encontra presente resistência da crise a todas as terapias
nalgumas proteínas alimentares. habituais e por durar, sem melhoras,
Pode surgir, por exemplo, quando o mais de três dias. O risco de asfixia
alimento perde frescura ou é subme‑ é elevado e impõe, com frequência, a
tido a algum tratamento. hospitalização.

Imunidade: Capacidade de não ficar Otite: inflamação aguda ou crónica


doente após exposição a determi‑ do ouvido. Os sintomas variam com
nado micro­‑organismo. Esta resis‑ a localização e a gravidade das lesões.
tência do organismo pode ser natural Nas otites médias agudas, a dor, a
ou adquirida. surdez e a febre são acentuadas.

Imunoglobulinas: proteínas espe‑ Parasitose: infeção no intestino,


cíficas, que funcionam como anticor‑ provocada por um parasita.
pos. Existem 5 classes: IgA, IgD, IgE,
IgG e IgM, de acordo com a sua estru‑ Parietária: erva que cresce nas pare‑
tura e atividade biológica. des. É um tipo de urticácea, comum
em Portugal, a que vulgarmente se
Imunologia: estudo dos fenómenos chama alfavaca­‑de­‑cobra.
relativos à imunidade biológica.
Patch­‑test: método de diagnóstico,
Imunoterapia: tratamento preven‑ que consiste em pôr as substâncias
tivo, de forma a evitar a manifestação que se suspeita estarem na origem
dos sintomas. Consiste numa série de da alergia, em determinadas concen‑
injeções subcutâneas de extrato aler‑ trações, em contacto com a pele do
génico. No caso das alergias, a imuno‑ doente. A reação é observada 48 a 72
terapia é utilizada no tratamento de horas depois.
alguns tipos de asma, na rinite alér‑
gica e, principalmente, nas que são Peak flow meter: pequeno apa‑
provocadas pelas picadas de insetos. relho que permite medir o débito

153
A Prevenir e tratar as alergias

expiratório nos asmáticos. Desta RAST (Radio Allergo Sorbent


forma, é possível seguir a evolução da Test): teste diagnóstico que permite
doença e a resposta ao tratamento. quantificar os anticorpos IgE espe‑
cíficos de um determinado alergénio.
Plasmócitos: variedade de glóbulos Trata­‑se de uma análise ao sangue.
brancos, resultantes da reação dos
linfócitos B com um antigénio; elabo‑ Rinite: inflamação aguda ou crónica
ram e segregam anticorpos dirigidos da mucosa do nariz. Pode ter uma
contra um antigénio específico. causa alérgica, como no caso da febre­
‑dos­‑fenos, ou viral (uma constipação,
Polinose: conjunto de sintomas alér‑ por exemplo).
gicos sazonais provocados pelo con‑
tacto do pólen com uma mucosa espe‑ Sulfitos: aditivos com propriedades
cificamente sensibilizada. Por exem‑ de conservação. Encontram­‑se na
plo, febre­‑dos­‑fenos, asma, conjuntivite, carne e nas bebidas alcoólicas. Podem
etc. Os sintomas manifestam­‑se nas induzir sintomas alérgicos.
estações polínicas, regra geral, entre
maio e julho para as gramíneas e um Teofilina: substância utilizada em
pouco mais cedo para as árvores. medicamentos para o tratamento da
crise de asma. Uma utilização exces‑
Produtos hipoalérgicos: produtos siva pode provocar perturbações
de cuja composição foram elimina‑ digestivas e palpitações.
das algumas substâncias passíveis
de causar alergia. Terreno alérgico: veja atopia.

Profilaxia: conjunto de medidas Tosse espasmódica: tosse seca,


que visam a prevenção das doenças acompanhada por irritação na gar‑
(a vacinação, por exemplo). ganta, que surge por acessos de
manhã ou ao deitar.
Prurido: comichão.
Urticária: erupção da pele, caracteri‑
Pseudoalergia: reação do organismo zada pelo aparecimento de pápulas
(erupções cutâneas, asma, etc.) com sin‑ rosadas ou vermelhas, acompanha‑
tomas que se assemelham aos da aler‑ das de comichão intensa. Os sin‑
gia, mas cuja origem se encontra, não tomas podem surgir, por exemplo,
no sistema imunológico, mas nou‑ depois da ingestão de alguns ali‑
tros mecanismos. No caso das rea‑ mentos ou medicamentos. A erupção
ções a alimentos ou a medicamentos pode desaparecer em poucas horas
fala­‑se, sobretudo, em intolerância. ou persistir durante mais tempo.

154
Índice remissivo
Índice remissivo

A Bolores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33, 50, 73


Borracha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Ácaros. . . . . . . . . . . . 26, 34, 38, 49-50, 52, 59, Broncoconstrição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127, 145, 149, 151 Broncodilatadores. . . . 27, 36, 60, 64, 66, 150
Ácido acetilsalicílico. . . . . 19, 43, 71, 91, 120
Acupuntura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Adrenalina. . . . . . . . . . . . . . 36, 114, 130, 149 C
Alergénio. . . . 14, 19, 26, 44, 49, 59, 91, 149
Café. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Alergia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Câmaras expansoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
a alimentos. . 11, 20, 28, 34, 51, 84, 90, 105
Cereais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
a medicamentos. . . 15, 19, 26, 60, 90, 119
Choque anafilático. . . . . . . . 26, 36, 108, 127,
e desporto. . . . . . . . . . . . . . . . . . 21, 62, 110
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130, 150
e fatores psicológicos. . . . . . . . . . . . . . . . 142
Colas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21, 89
e grupos etários . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19-20
Conjuntivite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
e hereditariedade . . . . . . . 18-19, 25, 33, 71,
alérgica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82, 93, 135
vernal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
e intolerância. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Corantes e conservantes. . . . . . . . . . 110, 138
e terreno alérgico . . . . . . . . . . . . . . . . 18, 33 Corantes e tintas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87, 89
o que é? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11, 13, 149 Corticosteroides. . . . . . . . . 27, 35, 43, 48, 68,
Alveolite alérgica. . . . . . . . . . . . . . . 16, 73, 149 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75, 86, 89, 151
Amamentação. . . . . . . . . . 19, 34, 48, 84, 136 Cosméticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88, 93
Anestésicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121-122 Crianças. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Angioedema. . . . . . . . . . . . . . . . 20, 87, 92, 149 e alergia a alimentos. . . . . . . . 105, 111, 136
Antibióticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86, 91, 120 e asma. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
Anticorpos. . . . . 13, 19, 28, 91, 149, 153-154 e eczema atópico. . . . . . . . . . . . 82, 135, 139
Antigénio. . . . . . . . . . . . . . . . . . 11, 14, 91, 150 Crise de asma . . . . . . 14, 36, 60, 70, 108, 121,
Anti-histamínicos. . . . . . . . 26, 36, 48, 66, 86, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140, 153
. . . . . . . . . . . . . . . . . . 98, 115, 123, 130, 150 Crustáceos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Asma. . . . 14, 33, 40, 47, 57, 82-83, 127, 150
alérgica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20, 62
de esforço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 D
do padeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Dermatite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93, 138, 151
e gravidez. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
de contacto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
e medicamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Dermografismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92, 151
graus de gravidade da. . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Descongestionantes nasais. . . . . . . . . . 48, 53
intrínseca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20, 62
Desgranulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14-15
Aspergilose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72, 150
Diagnóstico
Atopia. . . . . . . . . . . . . . 18, 33, 45, 59, 82, 150
da alveolite alérgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
da asma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
B da rinite alérgica. . . . . . . . . . . . . . . . . . 47, 51
de alergia a picadas de insetos . . . . . . . 129
Banho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85, 139 de alergia alimentar. . . . . . . . . . . . . . . . . 112
Baratas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 do eczema atópico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Bebidas alcoólicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 do eczema de contacto. . . . . . . . . . . . . . . . 88
Bivalves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 meios de. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Blefarite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100, 150 Dietas de evitamento. . . . . . . . . . . . . 113, 138
157
Prevenir e tratar as alergias

E L
Eczema. . . . . . . . . . . . . . . 28, 81, 93, 112, 151 Látex. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
atópico. . . . . . . . . . . . . . . . 20, 82, 107, 139 Legumes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108-109
das pálpebras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Leite de vaca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107, 136
de contacto alérgico. . . . . . . . . . . . . 86, 139 Lentes de contacto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
de contacto irritativo. . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Linfócitos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11, 153
Edema de Quincke. . . . . . . . . . . . . . . . 92, 152
Eosinófilos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27, 152
Exercícios respiratórios. . . . . . . . . . . . . . . . 141 M-N
Extratos alergénicos. . . . . . . . . . . . . . . . 26, 37 Mecanismo imunitário . . . . . . . . . . . . 12, 105
aquosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Medicamentos . . . . . . . . . 35, 48, 60, 99, 114
de ação prolongada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Níquel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87, 100, 112

F O
Febre-dos-fenos . . . . . . . 11, 44, 93, 152, 154 Olhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Frutos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108-109 Otite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75, 153
secos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108-109 Ovos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108, 137
Fumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33, 60, 98, 144

P
H
Parasitose. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91, 153
Hereditariedade . . . . . . . . . . 18-19, 25, 33, 71, Peak flow meter . . . . . . . . . . . . . . . . 61, 63, 153
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82, 93, 135 Peixe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108, 138
Hipossensibilização. . . . . . . . . . . . . . . 37, 152 Pele. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Histamina . . . . . . . . . 14, 36, 90, 98, 107-108, Pelos de animais. . . . . 19, 26, 33, 50, 82, 144
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114, 149, 153 Penicilina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91, 107, 120
História clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25, 129 Perfumes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89, 94
Homeopatia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Período de polinização. . . . . . . . . . . . . . 34, 45
Piercing. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Plásticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
I Pó da casa. . . . . . . . . . . 19, 25, 33, 49, 82, 145
IgE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11, 13 Pólen. . . . . . . . . . . . 26, 33, 38, 44, 46, 98, 144
doseamento da. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Pólipos nasais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20, 43
Imunidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 Prevenção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33, 65, 84
celular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Produtos de contraste . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
humoral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Psicoterapia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38, 70, 143
Imunoglobulinas. . 11, 13, 19, 105, 137, 153
Imunoterapia. . . 37, 48, 65, 98, 100, 131, 153
Inalador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Q-R
Insetos. . . . . . . . . . . . . . . 26, 36, 91, 127, 153 Questionário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Insulina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 RAST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28, 154
Intolerância alimentar. . . . . . . 106, 110, 114, Reação alérgica. . . . . . . . . . . . . . . . 11, 36, 120
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138, 151 imediata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14, 106

158
Índice remissivo

retardada. . . . . . . . . . . . . . . . . 14, 17, 86, 99 Terreno alérgico . . . . . . . . . . . . . . . 18, 33, 154


semirretardada. . . . . . . . . . . . . . 14, 16, 106 Testes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
tipos de. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 cutâneos. . . . . . . . . . . . . . . 19, 25, 112, 129
Reação anafilática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 de laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27, 112
Reação citotóxica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 de provocação ou exposição . . . . . . 28, 113
Reação por imunocomplexos . . . . . . . . . . . . 16 intradérmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Rinite. . . . . . . . . . . 43, 98, 108, 127, 152, 154 Prick. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26-27
alérgica. . . . . . . . . . . . . . . . 13-14, 20, 44, 82 sanguíneos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112, 129
espasmódica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Tiramina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107-108
Toxicidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Tratamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
S da alveolite alérgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Sintomas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 da asma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
da alergia alimentar. . . . . . . . . . . . . . . . . 111 da conjuntivite alérgica. . . . . . . . . . . . . . . 98
da alveolite alérgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 da rinite alérgica. . . . . . . . . . . . . . . . . 47, 52
da conjuntivite alérgica. . . . . . . . . . . . . . . 98 da urticária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
da rinite alérgica. . . . . . . . . . . . . . . . . . 46, 51 das alergias a picadas de insetos. . . . . . 130
do eczema atópico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 das alergias alimentares. . . . . . . . . . . . . 113
do eczema de contacto. . . . . . . . . . . . . . . . 87 do eczema atópico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
tratamento dos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 do eczema de contacto. . . . . . . . . . . . . . . . 89
Sistema imunitário. . . . . . . . . . . . . . . . 11, 105
e fatores emocionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Sol. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86, 92
U-V
e medicamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Urticária. . 20, 36, 87, 89, 108, 114, 127, 154
Sulfamidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Vasculites. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

T
Terapias alternativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Terçolhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

159
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