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Portugal

natural volume i

DECO PROTESTE DIGITAL


INSTRUÇÕES DE NAVEGAÇÃO

ÍNDICE GERAL

A ÍNDICE REMISSIVO

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ANTERIOR SEGUINTE
PORTUGAL NATURAL
Volume 1

Revisão técnica da presente edição: Centro de Biologia Ambiental


da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
(Otília Correia, Paula Gonçalves e Margarida Santos-Reis)
Coordenação editorial: Alda Mota
Colaborou nesta edição: Rúben Portinha
Revisão de texto: Florbela Barreto
Projeto gráfico, capa e paginação: Alexandra Lemos
Fotografias: Thinkstock Photos (cabeçalhos dos capítulos 2 a 7;
págs. 144-145 e 215 a 223); Paulo de Oliveira (todas as restantes)
Infografias: Isabel Espírito Santo
Fotografia da capa: Thinkstock Photos
Responsável pela edição: João Mendes

© 1995, 2014 DECO PROTESTE, Editores, Lda.


Todos os direitos reservados por:
DECO PROTESTE, Editores, Lda.
Av. Eng. Arantes e Oliveira, 13
1900-221 LISBOA
Tel.: 218 410 800
Correio eletrónico: guias@deco.proteste.pt

1.ª edição: outubro de 1995


2.ª edição, revista e atualizada: junho de 2014
Versão digital atualizada: março de 2018

Depósito legal n.º 375734/14


ISBN 978-989-737-036-6

Impressão:
Agir
Rua Particular, Edifício Agir
Quinta de Santa Rosa
2680-458 CAMARATE

Esta edição respeita as normas


do novo Acordo Ortográfico.

Esta publicação, no seu todo ou em parte,


não pode ser reproduzida nem transmitida
por qualquer forma ou processo, eletrónico,
mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia,
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e escrita da editora.

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Portugal
natural volume i

DECO PROTESTE DIGITAL


Prefácio
Apenas se gosta daquilo que se conhece bem: e é para que possa
amar a natureza que procuramos, através deste guia, dá-la a
conhecer. Levamo-lo através dos campos e dos bosques da nossa
terra, passeamos consigo pelos areais do litoral e pelas serras do
interior, mostramos-lhe os montados e as charnecas do Ribatejo
e as encostas em socalcos do Minho. E, sobretudo, ajudamo-lo
a conhecer as plantas e os animais que partilham connosco este
pedaço de terra ao qual, um dia, Tomás Ribeiro chamou “jardim
da Europa à beira-mar plantado”.

Mas atenção: este livro não é, nem pretende ser, um tratado cien-
tífico e, por isso, não espere, com a sua ajuda, tornar-se um espe-
cialista em eruditos termos latinos. É verdade que vai encontrar
alguns desses termos, mas só os utilizámos quando os considerá-
mos absolutamente necessários para falar de uma planta, de um
animal ou de uma realidade que não poderiam ser descritos de
outra forma. E também não espere encontrar, nesta obra, uma
relação exaustiva de todas as espécies da fauna e da flora do nosso
país. Em primeiro lugar, porque nos restringimos ao território do
Continente, já que a riqueza da flora e da fauna das Ilhas levariam
esta obra a dimensões incomportáveis; e, depois, porque o nosso
objetivo é, tão-somente, ajudar o leitor a familiarizar-se com as
plantas e os animais mais frequentes ou mais interessantes.

Dedicamos este primeiro volume, sobretudo, à flora e à evolução


das paisagens do nosso país, mas também a aspetos mais con-
cretos como os cogumelos e a influência das estações do ano no
curso da natureza. Ao longo das páginas que se seguem, vamos
recordar-lhe, especialmente para lhe espevitar o desejo de se pôr
a caminho, alguns conselhos de bom senso. Selecionámos uma
série considerável de imagens que lhe permitirão visualizar plantas
e animais e reconhecê-los mais facilmente no terreno.

Não hesite, pegue na mochila, ponha as botas de marcha e venha


daí connosco.
Índice
capítulo 1
A natureza em mudança
A evolução natural 10
Um compromisso natural 18
Natureza e cultura 20
Se quiser saber mais 28

capítulo 2
As paisagens
Os tipos de paisagem 35
As paisagens agrárias 37
As manchas de floresta 42
Matos e matagais 45
As paisagens serranas 46
As zonas húmidas 48
As paisagens costeiras 51
Se quiser saber mais 53

capítulo 3
As árvores e os arbustos
As folhosas 59
As resinosas 91
Se quiser saber mais 98

capítulo 4
As pequenas plantas e flores silvestres
Fetos, musgos e líquenes 102
Ervas e flores dos campos 105
Flores dos matos e matagais 118
Plantas de zonas húmidas 125
Plantas carnívoras 131
Plantas trepadeiras 134
Orquídeas 138
Se quiser saber mais 141

capítulo 5
Os cogumelos
A vida de um cogumelo 147
A estrutura de um cogumelo 149
Os grupos de cogumelos 152
Como se alimentam? 164
Se quiser saber mais 167

capítulo 6
O litoral
O mar 170
A praia 176
A costa rochosa 179
Os sapais  182
As dunas 186
Se quiser saber mais 190

capítulo 7
A influência das estações
Primavera, vida nova… 197
O verão 201
O outono vem aí… 205
Inverno, tempo de repouso 208

Bibliografia aconselhada 214


Índice remissivo 216
Parques naturais e outros locais de interesse 223
Associações e instituições  224
CAPÍTULO 1
A natureza
em mudança
A
PORTUGAL NATURAL I

Para conhecermos melhor a natureza, tal como ela existe no nosso


país, é necessário que nos disponhamos a fazer, primeiro, uma
longa viagem. Não tanto em quilómetros, com destino a um qual-
quer paraíso miraculosamente preservado da ação do homem,
mas antes em anos, em séculos. Ou seja: para compreendermos
a forma como a natureza se nos apresenta no limiar do século xxi,
teremos de retroceder várias dezenas de milhares de anos!

A evolução natural
Homens e auroques
Numa época muito, muito longínqua, era possível encontrar,
no território que hoje constitui o nosso país, grandes manadas
de auroques (antepassados dos bovinos atuais). Estes animais cos-
tumavam frequentar locais próximos das clareiras dos bosques,
os quais eram, nessa altura, extremamente abundantes.

Suponhamos que, durante uma tempestade, cai um relâmpago e


que uma parte do bosque se incendeia. Isso não traz problemas de
maior, pois ainda o cheiro a queimado está no ar e já as sementes
das árvores sobreviventes voam, levadas pelo vento, em direção à
clareira formada na sequência do incêndio. Mais tarde, a primavera
chega e, com ela, sol em abundância, o que faz germinar as semen-
tes e surgir os rebentos dos órgãos subterrâneos sobreviventes.
As manadas de auroques, que haviam sido afugentadas pelo fogo,
acabam por voltar a essa região e por devorar com sofreguidão a
verdura tenra, acabada de germinar, ou os rebentos jovens. Dessa
forma, o local volta a ficar nu, e os auroques vão-se embora, em
busca de locais onde a vegetação seja mais abundante.

Mas, como sempre, a história repete-se: o vento continua a sua


obra, as sementes das árvores espalham-se pelos campos e, na
primavera seguinte, novas plantas voltam a surgir na referida
clareira. As manadas de auroques, no seu permanente vagabun-
dear, voltam a encontrar nela sustento, comem as plantas tenras
e regressam à sua vida errante.

Dessa forma, os auroques contribuem para a criação de um novo


biótopo (veja Um pouco de vocabulário, na página 13). Nos bosques

Na página anterior: cegonhas e respetivo ninho num poste


10
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

densos, a sombra era rainha, mas, nas zonas postas a descoberto


pelo fogo e assim mantidas devido à ação dos auroques, a luz volta
a reclamar os seus direitos. As plantas silvestres aí existentes, até
então habituadas a contentarem-se com o pouco de luz que passava
através da densa folhagem, veem-se perante um dilema vital: ou
se adaptam ou morrem. Progressivamente, o local modifica-se,
e surgem novos tipos de vegetação mais bem adaptada à elevada
luminosidade, constituindo o que, na linguagem dos especialistas,
se chama, como referimos anteriormente, um novo biótopo.

Um dia, porém, os errantes auroques acabam por encontrar homens.


Estes matam-nos, para se alimentarem da sua carne, e voltam
ao seu caminho. Em consequência, pela primeira vez em muitos
anos, as plantinhas saídas das sementes espalhadas pelo vento
e os jovens rebentos têm hipóteses de sobreviver à primavera e
de crescerem até se tornarem os gigantes das florestas que o seu
material genético determina. Dessa forma, a clareira fecha-se e
tudo volta ao início, como se nada tivesse acontecido…

Entretanto, os arbustos e a vegetação rasteira do lugar veem-se


gradualmente privados do seu elemento vital, a luz. Por uma
última vez, eles conseguem florir e produzir sementes, que caem
na terra e ficam sepultadas aos pés das árvores de grande porte,
Paisagem ribeirinha

11
A
PORTUGAL NATURAL I

Paisagem costeira

debaixo do húmus resultante da decomposição das folhas caídas


no outono. Até que, um dia, os ditos homens, ou, mais propria-
mente, os seus filhos, voltam a aparecer nessa região e, cansados
da sua existência nómada, decidem, também eles, “criar raízes”
à sombra da rica vegetação do bosque. Para se aquecerem e
cozinharem os seus alimentos, vão abatendo algumas árvores,
de forma que, pouco a pouco, volta a surgir uma clareira onde
a luz pode penetrar.

E eis que, uma vez mais, o milagre da natureza se repete: a semente


das “plantas de luz”, há tanto tempo adormecida sob a terra,
desperta, germina, e as plantas voltam a crescer. Por sua vez,
os homens, agora sedentários, domesticam alguns dos últimos
animais selvagens e dedicam-se ao cultivo da terra, tarefas reto-
madas, incansavelmente, pelos seus descendentes. É a vez de as
sementes das árvores de grande porte ficarem debaixo da terra,
esperando melhores dias para, também elas, voltarem a reclamar
os seus direitos.

Da teoria…
É evidente que a história que acabámos de contar está muito,
muito simplificada e que se trata de uma interpretação bastante

12
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

teórica dos acontecimentos. No entanto, não deixa de sublinhar


alguns aspetos que nos podem servir como pontos de referência.

• A natureza está em contínua mudança e sofre, constantemente,


múltiplas influências: há os seres vivos, como o gado que pasta e
os homens que abatem as árvores; mas há, também, elementos
não vivos, como os incêndios, o vento, as inundações…

• A natureza é, digamo-lo assim, paciente, e possui uma enorme


capacidade de se adaptar às novas situações.

• A natureza está sempre pronta a recomeçar, ou seja, a retomar


a situação inicial, a partir do momento em que a influência per-
turbadora do elemento exterior deixa de se fazer sentir.

No seu permanente esforço de criação de modelos teóricos que


permitam compreender melhor a realidade, os cientistas utilizam
diversos termos específicos. Neste âmbito, o fogo que devasta parte
do bosque, o animal que come as plantas tenras e o lenhador que
abate as grandes árvores são considerados, indistintamente, fatores
de perturbação (veja a ilustração na página seguinte). O regresso
de uma situação gerada por influência de alguns desses fatores
(clareira com “plantas de luz”) à situação inicial (bosque) é deno-
minado sucessão natural; e essa situação, para a qual a natureza
tende espontaneamente, chama-se clímax. Trata-se de uma situa-
ção em que a vegetação se mantém em equilíbrio dinâmico com o
meio ambiente, desde que se cumpram determinadas condições
(humidade do solo, abundân-
cia de alimento, temperatura
ambiente, etc.). um pouco de
vocabulário
Finalmente, há ainda o banco de
sementes no solo ou propágulos biótopo: área geográfica a
que corresponde um conjunto
vegetativos (como raízes, rizomas, homogéneo de fatores físicos
bolbos, etc.), ou seja, o enorme ambientais.
potencial de vida que jaz sob o
bioindicador: seres vivos cuja
solo e que espera apenas, pacien- presença ou ausência fornece
temente, por uma oportunidade informações sobre a qualidade
para vir à superfície. É interes- de um determinado ambiente.
sante saber que as sementes habitat: local onde vive uma
de algumas plantas conservam determinada espécie animal
a capacidade de germinar durante ou vegetal. Cada espécie tem
várias dezenas de anos… o seu habitat próprio.

13
A
PORTUGAL NATURAL I

… à prática
Partindo do modelo que acabámos de esboçar e valendo-nos da
teoria que lhe está associada, procuremos agora perceber como é
que a natureza do nosso país chegou ao estado em que se encon-
tra ou, pelo menos, ao estado em que se encontrava antes de o
homem iniciar a sua destruição sistemática.

Recordemos como se processa a evolução: parte-se de uma situação


natural inicial (livre de influências), acrescenta-se-lhe um fator de
perturbação e obtém-se uma outra situação, fruto dessa influência
e das novas circunstâncias que ela gera. Se esse fator desaparecer,
a situação tende a regressar ao ponto de partida (veja abaixo).

A SUCESSÃO NATURAL DEPOIS DO FOGO

fator
clímax de perturbação clímax (situação inicial)

evolução

fatores de perturbação desaparecimento


reincidentes dos fatores de perturbação

bosque em fase incêndio germinação e rebentação ausência de fatores


de crescimento provocado de propágulos existentes de perturbação: regresso
por um relâmpago no solo à situação inicial

14
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

A charneca
Na nossa região, bem como por toda a orla costeira a norte do
Mediterrâneo, o clímax é geralmente constituído por bosques e
matas. Isto também é verdade para as terras de charneca. Os bosques
que, numa determinada época, aí existiam foram em grande parte
suprimidos; em seu lugar, surgiu essa vegetação típica constituída,
principalmente, por plantas arbustivas, muitas delas aromáticas,
como a urze, a esteva, a alfazema, o rosmaninho, o tomilho, etc.
No entanto, isso apenas aconteceu, e acontece ainda, devido à
influência dos fatores de perturbação, que fizeram e fazem regredir
a sucessão natural: incêndios, queimadas, culturas, pastoreio. Na
ausência desses fatores, o mais provável é que as azinheiras, os
Invasão do montado
sobreiros e os carvalhos voltassem a surgir na maioria dessas terras. abandonado
pelo matagal

As zonas alagadiças
Suponhamos que, num belo terreno laboriosamente arrancado a
um bosque, se escava um espaço de dimensões razoáveis. Muito
provavelmente, essa depressão virá a encher-se de água e, mais
tarde, até pode acontecer que, no pequeno lago assim formado,
se possa pescar à linha. No entanto, a menos que as suas margens
sejam protegidas, por exemplo, com uma boa camada de cimento,
elas ficarão gradualmente cobertas de plantas. À medida que estas

15
A
PORTUGAL NATURAL I

forem morrendo, os seus restos ir-se-ão acumulando no fundo e em


redor do lago, que, com o tempo, ficará cada vez mais pequeno.

Se o pequeno lago não for periodicamente limpo, ou seja, se o


homem não intervier, os sedimentos acabarão por atingir o nível
superficial da água. Este primeiro estádio, “metade-terra/metade-
-água”, constitui aquilo a que se chama uma “zona alagadiça”. Se
a não-intervenção se mantiver, o tempo levará a que a vegetação
volte à situação inicial de bosque. No entanto, esse bosque poderá
ser mais ou menos húmido, se o nível de água se mantiver elevado.

Os terrenos de pastagem
Imaginemos que um criador de gado resolve interromper, durante
algum tempo, a sua atividade e que os terrenos em que os seus ani-
mais costumavam pastar são deixados ao abandono. Rapidamente
surgirão, por entre a erva tenra, algumas plantas “incómodas”
ou “daninhas”, como, por exemplo, os cardos e as urtigas. Isto
acontece porque, ao contrário dos homens, a natureza não tem
férias e, mal desaparecem os fatores de perturbação (neste caso,
os animais que pastavam), ela volta a reclamar os seus direitos.
Assim, as ervas, deixando de servir para a alimentação dos ani-
mais, acabarão por secar e apodrecer no local, formando uma
O pastoreio, útil
manta morta favorável ao desenvolvimento de outro tipo de vege-
para travar o tação, mais densa e de maior porte, e, com o tempo, ao apareci-
desenvolvimento de
plantas “incómodas”
mento gradual de arbustos e até de árvores. Se o nosso criador
ou “daninhas”

16
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

de gado se “distrair” e interromper a atividade durante alguns


anos, poderá ficar surpreendido ao ver que os seus terrenos de
pastagem se transformaram num verdadeiro bosque!

Comunidades inseparáveis
Até agora, para que pudesse ter uma ideia simples e clara de como as
coisas se passam na natureza, limitámo-nos, quase exclusivamente,
ao plano vegetal. A realidade, no entanto, é muito mais complexa.

Primeiro, talvez tenha ficado com a ideia de que as mesmas plantas


crescem nos bosques, nos matos, nos pântanos e até nas dunas.
Mas as espécies vegetais raramente possuem uma tal versatilidade.
Normalmente, trata-se de espécies bem adaptadas às caracterís-
ticas de um determinado habitat, que possui, por exemplo, uma
temperatura, uma humidade, uma quantidade de luz e um grau
de acidez bastante específicos. Por outro lado, a um determinado
ambiente e/ou a uma determinada comunidade de plantas cor-
responde em regra um grupo bem definido de animais. Algumas
borboletas, por exemplo, só põem os seus ovos numa planta ou
num número reduzido de plantas; os gaios são loucos por bolotas de
carvalhos e, portanto, é menos provável encontrá-los, por exemplo,

os jardins e as hortas também evoluem…


A maioria dos jardins muito bonitinhos Trata-se de plantas de ciclo anual (porque
e organizados pouco tem que ver com a duram apenas um ano) que, caso não se
“verdadeira” natureza, que é, por definição, tenha cuidado, rapidamente darão lugar a
espontânea. O mesmo acontece, embora plantas vivazes (que duram vários anos).
em menor grau, com as hortas. Atos como Estas, por sua vez, virão a ser ultrapassadas,
cavar, caminhar, raspar e limpar a terra com se o terreno continuar ao abandono, por toda
o ancinho, tanto no jardim como na horta, uma série de plantas herbáceas anuais ou
constituem, à sua maneira, fatores externos perenes e, com o tempo, por arbustos e até
de perturbação. Não para nós, como é algumas árvores.
evidente (tratar de uma horta ou de um
jardim é uma atividade muito saudável!), mas Esta pequena explicação destina-se apenas
para a natureza. Assim, mal nos deixamos a mostrar aos entusiastas dos jardins e das
invadir por alguma quebra de coragem ou hortas, caso não o soubessem já, que as
falta de vontade, a natureza “interpreta” indesejáveis plantas “daninhas” não existem
essa ausência de intervenção como uma para lhes complicar a vida, mas sim porque
eliminação (parcial) do fator externo e não esses terrenos também podem, tal como
demora a dar sinal de si, na forma do que as charnecas e as zonas alagadiças, evoluir
habitualmente chamamos ervas “daninhas”. naturalmente para o clímax.

17
A
PORTUGAL NATURAL I

nos pinhais; uma determinada espécie de ratos


procura zonas de vegetação esparsa, enquanto
outra prefere locais onde esta seja mais densa; os
texugos gostam de matas que tenham um certo
relevo e, portanto, é difícil vê-los nas planícies,
sobretudo nas que se encontram a descoberto.

Portanto, se queremos proteger uma determi-


nada espécie animal ou vegetal, é importante
que também tenhamos em conta o ambiente que
lhe está associado. A esse respeito, a legislação
atual ainda deixa muito a desejar: por exemplo,
não se pode matar, empalhar ou vender uma
coruja-das-torres, mas é possível, sem que isso
traga quaisquer problemas a quem o faz, fechar
completamente a torre de uma igreja — um dos
seus locais de nidificação favoritos — apenas para
Texugo abrigado evitar que os pombos a sujem…
numa mata

Um compromisso natural
Como dissemos no início do capítulo, os auroques habitavam a
floresta virgem que, em tempos remotos, cobriu os nossos terri-
tórios. Dessa floresta virgem, nem um metro quadrado ficou; não
existe uma única parcela do solo do nosso país, por pequena que
seja, que não esteja sujeita à ação do homem ou que não tenha
sofrido, pelo menos, a sua influência.

É verdade que ainda existem, por exemplo, a mata de Albergaria,


na serra do Gerês, e os magníficos carvalhais da serra da Nogueira;
mas não nos iludamos: antes de mais, convém não esquecer que
uma verdadeira floresta virgem é uma floresta que, tanto quanto
a memória alcança, foi deixada entregue a si mesma, onde nada
se abate e nada se planta, onde as árvores mortas caem por si
e, sob a ação de insetos, fungos e bactérias, se transformam em
componentes úteis ao desenvolvimento de todos os elementos
silvestres que se mantêm vivos.

Ora, os bosques que ainda existem no nosso país, mesmo os que


se encontram em regiões supostamente cobertas de arvoredo
desde a aurora dos tempos, sofreram grande influência humana:

18
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

a madeira morta foi apanhada, algumas árvores foram abatidas para


fornecerem lenha para as lareiras ou para fazer carvão de madeira,
novas espécies foram plantadas, os animais foram caçados… Além
disso, muitos desses bosques apenas se formaram depois de o solo
ter sido usado para fins agrícolas durante vários anos, ou mesmo
vários séculos. E que dizer, então, do resto do território?

Na realidade, podemos considerar, na natureza, três estádios prin-


cipais de desenvolvimento, se pusermos de lado, obviamente, todos
os estádios intermédios possíveis e que darão origem a diferentes
tipos de paisagem.

• Paisagem natural: onde tudo acontece de forma espontânea, sem


intervenção do homem, como numa floresta virgem.

• Paisagem artificial: onde tudo é regulado, até nos pormenores,


pelo homem, de forma que o contributo espontâneo da natureza
se torna praticamente nulo. Exemplos não faltam e vão desde
Floresta “virgem”, sem
campos cultivados, terras de pastagem e plantações de pomares qualquer intervenção
ou eucaliptais a parques e jardins, do homem
pondo de lado, porque dema-
siado óbvio, ruas, habitações e
instalações industriais…
Neste caso, o homem não se
contenta apenas em dar forma
à paisagem, mas decide também
que constituição quer dar à super-
fície (relva, pinheiros, chorões
ou mesmo cascalho, alcatrão ou
cimento…). Neste âmbito, sendo
a evolução espontânea indesejá-
vel, não há qualquer lugar para
a livre ação da natureza.

• Paisagem seminatural: é (como


La Palice teria facilmente adivi-
nhado) tudo o que se encontra
entre o curso da natureza e a
ação das práticas culturais. Neste
caso, o homem determina a forma
da paisagem, mas deixa que a
natureza faça o resto. Assim, num
campo periodicamente limpo

19
A
PORTUGAL NATURAL I

pelo proprietário, mas onde nada é cultivado,


a natureza cria, espontaneamente, as condições
necessárias ao crescimento das plantas e à vida
dos animais, durante o tempo que lhe é conce-
dido entre duas intervenções, geralmente anuais.

Por outro lado, nos terrenos de reduzida e média


altitude onde só há mato, é verdade que o homem
abateu as árvores mas, como não as substituiu,
as plantas e os arbustos crescem espontaneamente.
Outras vezes, o homem planta fileiras de árvores,
mas deixa que a natureza atue espontaneamente
nos espaços entre essas fileiras.

De passagem, convém notar que, como o nosso


país é constituído exclusivamente por regiões que
se encontram nos dois últimos estádios (paisagem
artificial e seminatural), é compreensível uma certa
imprecisão na linguagem corrente: aquilo a que,
vulgarmente, chamamos “natureza” é, na ver-
dade, apenas “seminatureza”, isto é, locais onde
a natureza espontânea coabita, de forma muito
diversa, com as influências humanas.
A desmatação,
responsável pela
desocupação Além disso, convém acrescentar que a “seminatureza” também tem,
dos espaços e tal como a natureza, a sua razão de ser. Razão que justifica plena-
consequente
crescimento mente que façamos um grande esforço para conservar, como um
espontâneo tesouro, tudo o que (ainda) não foi alvo de intervenção!
de espécies

Natureza e cultura
Haja ou não influência direta do homem, o que uma paisagem semi-
natural nos oferece, em termos de riqueza das espécies vegetais e
animais, não deixa de ser, no fim de contas, obra da natureza. O que
vemos crescer e florir nas charnecas, nos terrenos de pastagem,
nas matas, nos pântanos, nas dunas e nas costas rochosas não é,
na maior parte das situações, produto da intervenção humana.
E, apesar dessa intervenção, o potencial natural encontra-se em
estado latente: nos prados onde o homem deixa o gado a pastar
também crescem as plantas e vivem os animais que já outrora se
encontravam nos terrenos onde pastavam os auroques.

20
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

A eterna associação
plantas/insetos

Se alguém tentar destruir uma igreja românica, a edição original


de Os Lusíadas ou um quadro de Malhoa, é certo e sabido que essa
pessoa terá de se sujeitar a uma forte reação por parte da opinião
pública. No entanto, se o mesmo indivíduo provocar algum dano,
mesmo que irremediável, numa paisagem tipicamente portuguesa, é
muito provável que as pessoas sejam bastante mais “compreensivas”.
Ora, as nossas paisagens, mesmo sendo seminaturais, também
fazem parte da nossa herança cultural. Paisagens talvez um pouco
rudes, é verdade, mas, apesar disso, museus vivos da coabita-
ção do homem e da natureza, da sua criatividade, da sua mútua
influência. Elas mostram-nos como os nossos antepassados foram
empreendedores e inventivos, como procuraram tirar o máximo
partido de uma natureza poderosa e, muitas vezes, ameaçadora
e de como essa mesma natureza reagiu às agressões do homem,
graças à sua fantástica capacidade de adaptação. Pensemos, por
exemplo, nos engenhosos sistemas de irrigação (cegonhas ou picotas,
noras, levadas) existentes, sobretudo, no Sul do país; nos socalcos
das encostas do Douro, destinados a sustentar a terra onde se
haveria de plantar a vinha; nas sebes de compartimentação dos
terrenos feitas de árvores e arbustos ou de pedras empilhadas, que
reduzem fortemente a influência do vento e, ao mesmo tempo,
constituem um ótimo refúgio para plantas e animais; nas imensas
searas alentejanas e nos montados de sobro e de azinho, habitats
privilegiados de diversas espécies de animais.

21
A
PORTUGAL NATURAL I

Abetarda das
pseudoestepes
cerealíferas
alentejanas A natureza, aliada do homem
A natureza possui inúmeras riquezas. No entanto, estas estão fre-
quentemente ocultas e, portanto, é necessário descobri-las. Não
é verdade, por exemplo, que todos os medicamentos e outros
produtos a que, muitas vezes sem pensar, chamamos sintéticos
e químicos são parentes mais ou menos afastados de produtos
naturais?

É sabido, sobretudo desde que se descobriram as virtudes cura-


tivas de algumas plantas, que a natureza, a que por vezes até
chamamos “mãe”, é pródiga em recursos úteis ao homem. E isso
dá que pensar…

Por exemplo: no início deste século, quem afirmasse que um


pequeno fungo, denominado penicílio, poderia estar na origem
de um medicamento que viria a salvar milhares de vidas teria sido,
sem dúvida, alvo de grande troça. Mas, contra todas as expec-
tativas, Alexander Fleming demonstrou, 30 anos mais tarde, a
impressionante ação anti-infeciosa da penicilina, que se obtém
a partir daquele fungo.

22
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

O Centro de Ecologia, Evolução


e Alterações Ambientais
O Centro de Ecologia, Evolução e Altera- o ecossistema. A investigação desenvol-
ções Ambientais (cE3c), anteriormente vida abrange uma grande diversidade de
designado por Centro de Biologia Ambiental organismos, incluindo bactérias, fungos,
(CBA), foi criado em 2015, com a fusão do líquenes, plantas, invertebrados e todas
CBA e do grupo de alterações climáticas as classes de vertebrados, para além de
(CCIAM- Climate Change Impacts, Adapta- organismos-modelo.
tion and Modeling), ambos da Universidade
de Lisboa, com o grupo de Biodiversidade A abordagem interdisciplinar e a ampla
da Universidade dos Açores (Azorean Biodi- gama de competências é fundamental para
versity Group- ABG). É atualmente uma das desenvolver programas eficientes de con-
mais importantes unidades de investigação servação com vista à preservação da biodi-
nacionais nas áreas das Ciências Biológicas versidade e da qualidade ambiental, definir
e do Ambiente. Está sediado na Faculdade medidas de sustentabilidade ambiental e
de Ciências da Universidade de Lisboa, com compreender a dinâmica evolutiva e eco-
polos de investigação no Museu Nacional de lógica de populações e comunidades. São
História Natural e da Ciência e na Univer- ainda objetivos do cE3c a formação (a nível
sidade dos Açores (São Miguel e Terceira). do ensino secundário e da pré e pós-gra-
Tem a seu cargo a gestão de uma Estação duação), o estabelecimento de parcerias a
de Campo, uma propriedade de 220 hec- nível nacional e internacional, com enti-
tares localizada na serra de Grândola e que dades públicas e privadas, a comunicação
serve de apoio a atividades de investigação de ciência e a participação em serviços e
sobre o ecossistema montado bem como atividades para a sociedade.
a atividades de formação e divulgação
ambiental (saiba mais em ce3c.ciencias. A abordagem interativa e multidisciplinar
ulisboa.pt – sítio em inglês). traduz a força do cE3c —a diversidade de
equipas e competências — e contribui para
O principal objetivo do cE3c é desen- o sucesso e para o reconhecimento da uni-
volver investigação de ponta visando a dade, a nível nacional e internacional, e para
compreensão da estrutura e do funciona- o seu valor na sociedade.
mento dos sistemas biológicos, das células Para mais informações sobre o cE3c, pode
às paisagens, abrangendo os níveis do contactar o secretariado através do e-mail
organismo, a população, a comunidade e ce3c@fc.ul.pt ou do telefone 217 500 577.

Por isso, é possível que hoje estejam a ser eliminadas — por exemplo,
na floresta tropical ou mesmo em regiões naturais mais próximas
de nós — formas de vida cujo eventual efeito benéfico — na cura do
cancro ou da sida, por exemplo — poderia ser descoberto dentro
de alguns anos.

Além disso, pela sua sensibilidade específica a determinados


fatores, alguns seres vivos permitem-nos avaliar a qualidade do
meio ambiente. É o caso das salamandras, que são extremamente
sensíveis à poluição das águas. Portanto, o seu desaparecimento

23
A
PORTUGAL NATURAL I

de um local que habitualmente


frequentam deve ser visto como
um sinal de alarme. Por sua vez, a
maior parte dos líquenes apenas
cresce num ambiente onde o ar
ainda conserva uma qualidade
razoável; se desaparecerem, é pro-
vável que isso se deva a poluição
excessiva. Esses seres vivos são
chamados bioindicadores, já que
a sua presença ou a sua ausên-
cia nos dão informações muito
importantes sobre determinados
Os líquenes, excelentes indicadores fatores ambientais.
da qualidade do ar

A natureza, ou seja, a paisagem


Cegonha nidificando em estruturas
criadas pelo homemseminatural não faz apelo, ape-
nas, ao nosso sentido prático. É
também uma inesgotável fonte de
beleza, de conhecimentos novos,
de admiração, de respeito. Se deci-
diu encomendar este guia, é pro-
vável que já esteja interiormente
preparado para isso. Com a ajuda
deste livro (e de muitos outros),
mas, sobretudo, com todos os
sentidos despertos, poderá des-
cobrir inúmeras maravilhas, cada
uma mais surpreendente do que
as outras. Depois, à medida que
for ganhando consciência da complexidade e do engenho da “Mãe
Natureza”, aprenderá a respeitá-la. A atitude de respeito não é mais
do que o resultado da tomada de consciência de que, enquanto
seres humanos, não temos o direito de destruir as outras formas
de vida, o seu ambiente e a sua interdependência.

Natureza e espaço
Nas últimas décadas, não faltaram razões para que, de uma forma
ou de outra, fôssemos destruindo as paisagens naturais existentes.
A nossa ação sobre o espaço que nos rodeia tornou-se muito mais
intensa do que era há apenas 50 anos, graças, sobretudo, aos

24
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

fantásticos meios técnicos de que hoje dispomos. Basta pensar


que antigamente se demorava tanto tempo a derrubar uma só
árvore como hoje a abater uma mata inteira! Por causa deste novo
poder, os laços que nos ligam à natureza mudaram radicalmente.
Antigamente, o homem era obrigado a proteger-se da natureza,
porque esta podia, a qualquer momento, deitar por terra todos os
seus esforços. Era necessário proteger, metro a metro, as culturas,
os terrenos de pastagem e as zonas de habitação contra a possível
invasão das forças naturais. No entanto, esta hostilidade aparente
favorecia, apesar de tudo, uma forte ligação à natureza: vivia-se
com a plena consciência de que se estava dependente dela.

Hoje, os papéis alteraram-se: o homem assumiu uma posição


dominante, e são as forças naturais que, de certa forma, têm de
lutar para se defenderem. Isto aconteceu, sobretudo, porque as
nossas necessidades de espaço não só aumentaram bastante como
mudaram de natureza. Dantes, o espaço era organizado numa

AS ZONAS CONCÊNTRICAS

caminhos delimitados
povoado por sebes

prados e campos bosque árvores e


de cultivo pastagens

25
A
PORTUGAL NATURAL I

série de “zonas concêntricas”, que tinham como ponto central


uma povoação. O primeiro círculo à volta desse ponto era utilizado
de forma mais intensiva. A seguir vinha uma zona de terrenos,
mais ou menos extensa, que era utilizada para satisfazer as neces-
sidades diretas do homem: pequenos campos, pomares, jardins.
Finalmente, havia uma zona muito mais alargada, utilizada de
forma preferencialmente extensiva e que servia de pasto para o
gado ou como terreno de cultura do feno necessário à alimentação
dos animais durante o inverno. Fora dessas zonas concêntricas,
a natureza era senhora absoluta, porque o homem não precisava
de mais espaço para viver.

Ultimamente, essa situação sofreu grandes alterações, em diversos


lugares do mundo. Antes de mais, já quase ninguém ganha a vida
nas imediações do local onde reside. Além disso, a população
agrícola tem diminuído fortemente, e as superfícies que um só
homem consegue cultivar têm aumentado, muitas vezes de forma
desmesurada, graças à mecanização (pensemos, por exemplo, nos
excedentes agrícolas…). Em compensação, uma grande parte da
população encontrou trabalho, primeiro, no setor dito secundá-
rio (indústria) e, depois, no terciário (serviços), os quais exigem,
também, um aumento de espaço. Como as zonas de trabalho e de
residência se distanciaram umas das outras, foi necessário criar
vias de comunicação (caminhos de ferro e, sobretudo, estradas),
Paisagem serrana
ainda praticamente
que são, também, grandes devoradoras de espaço. Finalmente,
intacta

26
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

Uma geneta vítima


de atropelamento

a evolução social e técnica levou ao aumento do tempo disponível


para o lazer e, portanto, a criação de zonas adaptadas ao efeito.
Formas de lazer como o desporto, as férias e as viagens, que tam-
bém necessitam do “seu” espaço…

Toda esta área indispensável à cultura é, evidentemente, roubada


à “natureza”, cuja superfície diminui a olhos vistos. Felizmente,
a opinião pública parece estar, finalmente, em posição de tomar
consciência da importância deste problema e de reconhecer o papel
essencial da natureza na vida do homem. O que implica, e neste
aspeto as lacunas são ainda de grande amplitude, intervenções
urgentes e uma forma de atuar mais refletida.

Isso não significa, no entanto, que seja necessário renunciar a


muitas coisas boas que o progresso pôs ao nosso alcance e que
se tenham de suprimir, por exemplo, os parques industriais, as
áreas de recreio e de diversão, as vias férreas e as autoestradas;
mas sim que não devem ser construídos num lugar qualquer e,
sobretudo, nunca em locais onde a paisagem seminatural ainda
desempenhe uma função indispensável. Isso significa, também,
que a produção de carne, produtos agrícolas, tintas, papel, carros
e muitas coisas mais, que pertencem à nossa cultura, se deve fazer
de modo que não seja a natureza a pagar a fatura. É verdade que o
tempo em que os auroques pastavam, serenamente, nas clareiras
de uma imensa floresta virgem já passou e nunca mais voltará.
Mas o próprio homem terá dificuldades em conseguir sobreviver
se não tiver o cuidado de preservar a sua herança.

27
A
PORTUGAL NATURAL I

Se quiser saber mais


Onde ir?
A melhor forma de começar a ter uma ideia sufi-
cientemente concreta do que é a natureza no
nosso país passa por aproveitar algum do seu
tempo disponível para… passear! Felizmente, ainda
há muito por onde escolher. Mesmo que não se
afaste muito da sua zona de residência, procure
visitar os locais onde a paisagem ainda não se
encontra excessivamente urbanizada, mantendo-se
atento às características específicas de cada zona
(campos cultivados, terrenos baldios, charneca,
pequenas matas…). Visite esses locais ao longo do
ano, a fim de ter uma perspetiva da sua evolução,
podendo até anotar as eventuais mudanças, tanto
naturais (decorrentes, por exemplo, da passagem
das estações) como artificiais (fruto da interven-
ção do homem). Mas, para ter uma ideia do que
poderia ser o nosso património natural se tivesse
sido convenientemente protegido, visite as nossas
áreas protegidas, que vão desde parques e reservas
naturais até sítios classificados. Para obter as infor-
mações necessárias (localização, acessos, apoio
turístico, percursos, etc.), contacte o Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas através
do seu sítio da Internet (www.icnf.pt).
Contacto com
a natureza

Tenha em conta que...


Este livro dá-lhe muitas indicações que poderão ser de grande
utilidade no contacto com a natureza tal como ela se apresenta
no nosso país. No entanto, existem algumas formas de ajudar a
natureza a recuperar o lugar a que tem direito e de, ao mesmo
tempo, aprender mais sobre ela. Quem possua um pouco de terreno
disponível, por exemplo, pode aproveitar para construir um viveiro
de árvores; se nele plantar algumas espécies típicas da nossa região,
terá oportunidade de acompanhar a sua evolução e, simultanea-
mente, estará a contribuir para a renovação do nosso património
vegetal. E pode estar certo de que muitos animais também lhe

28
A
A NATUREZA EM MUDANÇA

preservação versus conservação


O conceito de proteção da natureza tem correta gestão dos espaços atuando
vindo a evoluir ao longo dos anos. sempre que preciso para evitar catástrofes
ou repor o equilíbrio. Nalgumas áreas
•• No princípio, falava-se só em preservação protegidas, houve ações de limpeza das
dos elementos naturais dos terrenos, matas para reduzir o risco de incêndio, ou a
impedindo a sua “desnaturalização”. abertura de clareiras, como aconteceu, por
No entanto, quando entregue a si mesma, exemplo, na Reserva Natural da Serra da
a natureza nem sempre responde Malcata, para incrementar as populações
positivamente aos desejos do homem de coelho e contribuir para o eventual
e, por exemplo, um campo inicialmente regresso do lince, espécie emblemática
rico em orquídeas, que se pretenda (endemismo ibérico). Noutros casos,
preservar pela sua beleza, pode adquirir, houve a eliminação de espécies animais
espontaneamente, um aspeto e uma ou vegetais que ameaçavam o equilíbrio
composição diferentes. do conjunto: as ações de controlo da
população de gaivotas, na Reserva Natural
•• Assim, passou-se a uma conservação da Berlenga, e do jacinto-de-água, na
ativa, ou seja, a uma preservação mais Reserva Natural do Paul do Boquilobo,
dinâmica, em que se procura fazer uma são bons exemplos.

ficarão gratos… Também pode construir um lago


artificial, criando uma pequena zona húmida onde
poderá plantar espécies vegetais adequadas a esse
ambiente e que virá certamente a ser procurado
por muitos animais aquáticos, que poderá estudar
à vontade. No segundo volume deste guia mostrar-
-lhe-emos como construir comedouros para aves,
abrigos para morcegos e até uma proteção para
evitar que os sapos morram, durante a época de
migração, atropelados numa qualquer estrada.
Todas estas iniciativas são inegavelmente úteis e
dar-lhe-ão, ao mesmo tempo, a possibilidade de
aumentar os seus conhecimentos sobre a natureza.
Poderá encontrar apoio informativo para a sua
concretização junto do Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas.
Comedouro para aves
instalado num jardim

29
CAPÍTULO 2
As paisagens
A
PORTUGAL NATURAL I

AS DIVISÕES GEOGRÁFICAS

Unidades de paisagem
1. Entre Douro e Minho
2 8
2. Montanha do Minho
3. Montanhas do Norte da Beira 1
e do Douro
4. Terras de média altitude da Beira Litoral
5. Planaltos da Beira Alta
10
6. Beira Litoral 3
4
7. Cordilheira Central
5
8. Planaltos e montanhas 9
de Trás-os-Montes 3
6
9. Planaltos e montanhas
da Beira trasmontana 7
11
10. Alto Douro e depressões anexas
11. Baixo Mondego 12 16
12. Estremadura setentrional 14
geralmente baixa 13
13. Maciços calcários
da Estremadura e da Arrábida
14. Depressões e colinas entre
a Cordilheira Central e os maciços
calcários da Estremadura
17 19
15
15. Estremadura meridional,
geralmente acidentada
16. Beira Baixa 18
17. Ribatejo 21
13
18. Alentejo de planície
com raras elevações isoladas
19. Alto Alentejo
20
20. Alentejo litoral com elevações
21. Depressão do Sado
22. Serra algarvia
23. Algarve litoral ou Baixo Algarve
22

23

Fonte: Orlando Ribeiro, Portugal, o Mediterrâneo


e o Atlântico, Coimbra Editora, págs. 188 e 189 (adaptação).

Na página anterior: escarpa rochosa ao largo de Peniche


32
A
AS PAISAGENS

Nos capítulos que se seguem procuraremos pô-lo


em contacto com os diversos tipos de plantas e
de animais que existem em Portugal continen-
tal. Contudo, como não queremos que “as árvo-
res” o impeçam de ver “a floresta”, convidamo-
-lo, primeiro que tudo, a erguer o olhar para
o horizonte e a detê-lo, durante algum tempo,
nas paisagens; elas constituem os cenários — os
biótopos — em que se enquadram os diversos
ambientes — os habitats — onde esses animais e
essas plantas vivem e crescem.

Se tiver oportunidade de percorrer o nosso país


em toda a sua extensão, dar-se-á conta de que,
apesar da relativa pequenez do território nacio-
nal, as paisagens que se podem encontrar são
extremamente variadas. Não foi por acaso que
alguém se referiu a Portugal como “um país de
contrastes”. Das extensas planícies alentejanas às
regiões montanhosas da Beira Alta e de Trás-os-
-Montes, dos arrozais ribatejanos aos socalcos e aos
lameiros minhotos, do estuário largo e espraiado
do rio Tejo à foz “precipitada” do Douro, dos
montados de sobreiros e azinheiras do Sul aos
pinhais e soutos do Norte, a diversidade da pai-
sagem é, tendo em conta a limitada extensão do
território, deveras impressionante (veja a ilustra- Pequeno curso
de água
ção As divisões geográficas, na página anterior).

Essa diversidade resulta, fundamentalmente, da interação de três


tipos principais de fatores:
— os fatores abióticos, ou seja, tudo o que tem um caráter “não
vivo”: os fatores climáticos (temperatura, humidade, precipitação,
vento), a qualidade do solo (arenoso, pedregoso, argiloso), o tipo
de relevo (planície, planalto, montanha), as superfícies aquáticas
(rios, estuários, lagoas, pauis);
— os fatores bióticos ou ligados à vida em geral: os animais, as
plantas, os fungos e outros;
— os fatores antrópicos, ligados às intervenções humanas, quer
sejam de caráter social, cultural, económico ou político.

O aparecimento do homem teve uma considerável influência sobre


o ambiente, apesar de a sua intervenção ser recente, tendo em

33
A
PORTUGAL NATURAL I

conta os quatro mil milhões de anos de existên-


um pouco de cia estimada do planeta. Mas a verdade é que
vocabulário nenhum outro organismo, por mais antigo que
seja, exerceu uma tal pressão sobre a natureza:
biótopo: área geográfica a às florestas, o homem foi buscar a madeira para
que corresponde um conjunto
homogéneo de fatores físicos se aquecer, para construir casas, barcos, pontes
ambientais. e móveis e, mais recentemente, para produzir a
pasta de papel; as zonas pantanosas e os vales
coníferas: grupo de árvores,
geralmente resinosas, que foram transformados em campos agrícolas ou em
produzem pinhas ou cones, terrenos de pastagem para o gado; aos cursos de
como os pinheiros e os cedros. água, onde havia vida em abundância, o homem
erosão: processo de desgaste levou as descargas poluídas das fábricas e dos
das rochas, provocado pela ação seus esgotos. Com o tempo, as paisagens natu-
da água, do vento e do gelo. rais tornaram-se difíceis de encontrar e muitas
espontânea: planta não das diferenças entre as regiões esbateram-se. As
“importada”, originária da região estradas, as vias de caminho de ferro e as insta-
em que se encontra e onde vive lações industriais são, hoje, idênticas por todo
há muitas gerações. É sinónimo o lado. Outrora, as formas, os materiais e até o
de nativa ou indígena e opõe-se
“espírito” das habitações possuíam um caráter
a exótica ou introduzida.
típico fácil de reconhecer, ao passo que as casas
estepe: planície coberta de ervas, atuais pouco diferem umas das outras, quer se
muito frequente nas regiões
encontrem em Trás-os-Montes, na Estremadura
secas. Na América do Norte,
este tipo de paisagem recebe o ou no Algarve.
nome de “pradaria” e na Argentina
é designado por “pampas”. Por outro lado, ao introduzir no nosso território,
habitat: local onde vive uma em diferentes épocas, uma grande variedade de
determinada espécie animal plantas, com características diferentes, provenientes
ou vegetal. Cada espécie tem o de outras regiões, o homem também produziu
seu habitat próprio. grandes transformações na paisagem. É o caso,
lezíria: terreno nas margens por exemplo, da serra de Sintra, cuja vegetação
de um rio, normalmente alagado luxuriante é, em grande parte, composta por
na época das cheias. espécies “importadas”. E também convém não
monocultura: forma de cultura em esquecer que muitas das plantas cultivadas que,
que grandes extensões de terreno hoje, se encontram um pouco por todo o país
são ocupadas por uma só espécie. — como a batata, o milho ou a laranjeira, por
pousio: terreno agrícola exemplo — não fazem parte das espécies naturais
cujo cultivo se interrompeu, da nossa região.
para “descanso” do solo.
salobra: água resultante da mistura Neste capítulo, iremos “passar em revista” alguns
de águas doces e salgadas. dos diferentes tipos de paisagens que podemos
sequeiro: tipo de cultura que encontrar em Portugal continental, indicando,
quase não precisa de rega para sempre que nos pareça útil, a região onde são
se desenvolver. mais frequentes.

34
A
AS PAISAGENS

Os tipos de paisagem
Se subir ao topo de uma colina suficientemente alta e admirar o
que vê à sua volta, é bastante provável que depare com diversos
tipos de paisagem, tendo cada uma delas uma fisionomia e carac-
terísticas próprias.

Em baixo, logo no sopé da colina ou um pouco mais longe, é


possível que se encontrem algumas hortas rodeadas de pomares
ou outros tipos de campos cultivados, que constituem exemplos
típicos de uma paisagem agrária; nela, a intervenção humana é
facilmente identificável: os terrenos apresentam um aspeto orde-
nado e de contornos perfeitamente definidos; as plantações têm
uma configuração geométrica e alinhada; e é provável que, não
muito longe, se encontrem aparelhos de rega ou utensílios para
trabalhar a terra. É evidente que, neste tipo de paisagem, a com-
ponente “natural” é mínima.

Também é possível que, rodeando essa zona cultivada ou não


muito longe dela, exista uma pequena mancha florestal, consti-
tuída, predominantemente, por pinheiros, carvalhos, sobreiros ou,
muito provavelmente, nestes tempos que correm, por eucaliptos.
Também neste caso, a eventual extração de resina ou de cortiça
e/ou a disposição alinhada das árvores trairão, ao primeiro olhar,
Campo agrícola,
a presença da intervenção humana. exemplo típico
de paisagem agrária

35
A
PORTUGAL NATURAL I

Em certas zonas, a parte não cultivada poderá


estar coberta, não de árvores, mas de plantas
mais baixas (os arbustos), constituindo aquilo a
que se chama matos ou matagais. Neste tipo de
paisagem, a ação do homem quase passa desper-
cebida, devido ao seu aspeto pouco estruturado
e quase selvagem. No entanto, seja porque são
considerados meios improdutivos e degradados
seja como forma de prevenção contra os incên-
dios, muitos matos são periodicamente “limpos”,
isto é, desbastados. Além disso, como explicámos
no capítulo 1 (veja na página 14), a predominância
das plantas arbustivas na nossa região tem que
ver, sobretudo, com a existência de fatores de
perturbação, alguns deles da responsabilidade
direta do homem: é o caso das queimadas, da
exploração agrícola dos campos e do pastoreio.

Também não é impossível que a própria colina a


que subiu, a fim de admirar a vista, possa servir,
se estiver integrada num todo mais vasto, como
um bom exemplo de paisagem serrana. Os meios
rochosos, agrestes e quase nus, como os que se
Extração de resina podem encontrar em muitos locais da serra da
do pinheiro-bravo
Estrela, são, para nós, o protótipo deste tipo de
paisagem; no entanto, as zonas montanhosas constituem, muitas
vezes, um misto de paisagens onde facilmente se podem encon-
trar manchas florestais, matos, zonas cultivadas e outras, como
veremos mais adiante.

O traçado caprichoso de um rio ou de um ribeiro na linha do


horizonte, visível do alto da colina, é, talvez, o mais provável repre-
sentante de um outro tipo de paisagem: as zonas húmidas. Mas
também poderia tratar-se de um paul, de uma pequena lagoa,
de uma albufeira ou até de um estuário. Podendo dividir-se em
águas correntes e águas estagnadas, as zonas húmidas são ambien-
tes interessantíssimos, tanto do ponto de vista paisagístico como
biológico…

Finalmente, se não estiver muito longe do litoral, é provável que


consiga vislumbrar a linha da costa. Por vezes de natureza are-
nosa e muito procuradas pelo homem, outras vezes de natureza
rochosa e constituindo um excelente refúgio para diversas aves e

36
A
AS PAISAGENS

Montado de sobro
em plena exploração

outros animais, as paisagens costeiras são, sem sombra de dúvida,


uma das nossas principais riquezas (seminaturais).

As paisagens agrárias
O meio rural é, pela sua própria natureza, um dos mais diversificados,
já que resulta sempre de um esforço de adaptação do homem
às condições preexistentes. Nas extensas planícies alentejanas,
por exemplo, a facilidade do cultivo deu origem a imensas searas,
aos campos abertos onde a compartimentação dos terrenos é quase
inexistente; já no Minho, a paisagem é muito mais variada, depen-
dendo muito do relevo e da abundância de água de cada região.
Aí aparecem, tipicamente, os socalcos e os lameiros, formas de
utilização do solo que denotam uma intensa ação por parte do
homem, como forma de sujeitar a natureza às suas necessidades.

• Os socalcos são uma espécie de degraus de terreno cultivados


ao longo de uma encosta, formando uma escada. Dessa forma,
a inclinação do terreno é quebrada e, com a ajuda de pedras ou
de plantas, retém-se a terra arável. A paisagem daí resultante é
inconfundível.

As culturas em socalcos mais comuns são as do milho, da vinha e


da oliveira. Curiosamente, também se podem encontrar os típicos

37
A
PORTUGAL NATURAL I

Quebrar a inclinação
do terreno
com a cultura
em socalcos socalcos minhotos e beirões nas encostas da serra de Monchique,
em pleno Algarve.

• Os lameiros são um determinado tipo de prados que se podem


encontrar nos fundos húmidos dos vales e nas encostas de algumas
regiões do Norte do país, nomeadamente nas áreas montanhosas
de Trás-os-Montes. Normalmente, são utilizados para pasto do
gado. Alguns são regados durante o verão, recebendo, por essa
razão, a designação de lameiros de regadio ou prados-lima; outros
apenas são encharcados pela água das chuvas: são os lameiros
de secadal. Normalmente, estes prados encontram-se divididos
por sebes de árvores ou arbustos ou por muros de pedra, o que
confere à paisagem um aspeto compartimentado muito próprio.
No verão, muitos deles transformam-se em campos de milho.
A região de planaltos de Miranda do Douro, no Norte do país,
é um bom exemplo deste tipo de paisagem.

• A pseudoestepe cerealífera alentejana assume feições distintas,


conforme a ocupação dos terrenos ao longo do tempo: as searas
alternam com o regime de pousio, durante o qual os campos são
utilizados como pastagens para o gado. À falta das estepes naturais
que antigamente cobriam esta região, algumas espécies de aves
pouco frequentes noutras paragens, como a abetarda, o sisão, o

38
A
AS PAISAGENS

tartaranhão-caçador e o penei-
reiro-das-torres, têm encontrado
nesses campos um substituto à
altura. Infelizmente, as áreas ocu-
padas pelas estepes cerealíferas
têm vindo a diminuir bastante nos
últimos anos, pois muitos campos
foram abandonados. Mudanças
na agricultura, florestação de
terras agrícolas, perturbação
humana, entre outros fatores, têm
contribuído igualmente para a
fragmentação destas populações.

• Os arrozais resultam, geral- Tartaranhão-caçador


nas pseudoestepes cerealíferas
mente, da manipulação de um
paul, de modo a adaptá-lo à cul-
tura extensiva do arroz. Do paul
inicial apenas se conservam, nas
margens do arrozal, algumas árvo-
res — amieiros e salgueiros, por
exemplo — e, ao longo das valas
de irrigação, algumas plantas
características das zonas húmidas
(veja Plantas de zonas húmidas
no capítulo 4, nas páginas 125 e
seguintes). As grandes extensões
de arrozal, plenas de verde e de
vida, fazem parte das paisagens
típicas das lezírias do Ribatejo
e dos vales do Mondego e do Garça em arrozal
Vouga. Lá podem observar-se aves como as garças e as cegonhas.

preservar as pseudoestepes
Em Portugal, a região de Castro Verde é a mais representativa
das zonas pseudoestepárias, tendo sido classificada em 1999
como Zona de Proteção Especial para Aves (ZPE), da Rede Natura
2000. Vários têm sido os projetos desenvolvidos pela Liga para a
Proteção da Natureza para a preservação destas aves estepárias,
sendo de destacar o Programa Castro Verde Sustentável,
iniciado em 1993.

39
A
PORTUGAL NATURAL I

O verde sem fim dos


arrozais na lezíria
ribatejana

Montados, frequentes
no Alentejo
e no Ribatejo
• As hortas e os pomares podem encontrar-se por todo o país, mas
veem-se especialmente nas zonas que envolvem os centros urba-
nos, devido à maior concentração populacional e à abundância de
água. Milho, feijão, batata, tomate, alface, cebola e hortaliças são
produtos essenciais na nossa alimentação diária e que necessitam
de regas constantes. Por isso, não é de admirar que as hortas ou
os pomares e os cursos de água costumem andar de mãos dadas.

40
A
AS PAISAGENS

• Não é isso o que acontece, porém, com os pomares de sequeiro


(veja Um pouco de vocabulário, na página 34), já que estes são for-
mados por espécies típicas da vegetação mediterrânica: a figueira,
a oliveira, a alfarrobeira e a amendoeira. A estrutura destes poma-
res é, por vezes, muito próxima da dos montados (veja na página
seguinte), pois também aqui o espaço sob as árvores é utilizado
para diversos fins, que vão da vinha ao cultivo de cereais.

O olival, por exemplo, aparece quase por todo o país, mas é mais
frequente nas zonas quentes e secas do interior e do Sul. A capa-
cidade de adaptação da oliveira aos ambientes secos é tal que
parece ser a única cultura possível nas terras quase desérticas de
algumas encostas das serras de Aire e Candeeiros, onde os olivais
aparecem muitas vezes delimitados por muros de pedra. Mas, por
admirável que seja essa capacidade de adaptação, isso não impede,
mesmo assim, que as árvores tenham um aspeto raquítico, que faz
lembrar algumas paisagens algarvias dominadas pela alfarrobeira.

as linhas também são importantes…


Apesar da sua aparente insignificância na em muitas paisagens empobrecidas.
composição da paisagem, as estruturas E, sobretudo, funciona como um corredor
de alinhamento, como as bermas dos ecológico, ou seja, um “oásis” onde os
caminhos e as sebes, também são animais se podem deslocar livremente ao
importantes. Por diversas razões: abrigo de olhares indiscretos, passando
de um biótopo a outro em busca de algo
— antes de mais, as bermas dos caminhos essencial à sua sobrevivência.
e as sebes (mesmo as
constituídas por muros de
pedra!) constituem, para as
plantas e para os pequenos
animais, refúgios extremamente
úteis em ambientes muitas
vezes hostis. Por isso se
encontram, ao longo das
divisões dos campos e na orla
dos bosques, muitas plantas
e pequenos animais que para
aí foram empurrados pelas
modernas técnicas agrícolas;
— esse conjunto de linhas
desenha, com frequência, uma
maravilhosa teia de verde Sebes de pedra, refúgios por vezes úteis para os animais

41
A
PORTUGAL NATURAL I

• Os montados constituem um tipo de paisagem muito frequente


no Alentejo e no Ribatejo, formado por sobreiros e/ou azinheiras
em plantações pouco densas. O espaço sob as árvores costuma
ser aproveitado para culturas extensivas de sequeiro; por isso os
incluímos neste tipo de paisagens. No entanto, devido a uma menor
intervenção do homem, alguns montados evoluem para situações
mais “selvagens”, aproximando-se, dessa forma, do meio florestal,
por oposição ao meio agrícola ou agroflorestal — os sobreirais.

As manchas de floresta
O meio florestal é caracterizado pela predominância de árvores
sobre plantas de porte inferior, em áreas de extensão variável.
No entanto, as áreas onde as árvores crescem de forma espontânea
são cada vez mais raras e localizadas, devido à crescente humani-
Mata do Solitário,
zação do ambiente. Por isso, mais do que florestas, o nosso país
na Arrábida possui, atualmente, pequenas
zonas arborizadas, a que pode-
mos chamar, mais modestamente,
manchas florestais.

• Normalmente, as manchas flo-


restais plantadas pelo homem
são constituídas por uma única
espécie (por exemplo, pinheiros-
-bravos ou eucaliptos). Sofrem
uma exploração intensiva, com
vista à produção, por exemplo,
de madeira e de pasta de papel;
ou, então, são plantadas unica-
mente para proteger os solos da
erosão, sendo periodicamente
desembaraçadas das plantas
que constituem os níveis infe-
riores, como forma de evitar
os incêndios.

• Algumas manchas florestais


adquirem, mesmo quando
semeadas, um aspeto bravio e
natural. É o caso, por exemplo,

42
A
AS PAISAGENS

A rosa-albardeira
é comum na mata
do Solitário

dos bosques de árvores de folha caduca que podemos encontrar


no Norte do país. No Sul, esse tipo de formações é mais raro.

• Em vales protegidos das encostas viradas a norte da serra da Arrábida,


é possível encontrar ainda vestígios da mata mediterrânica primitiva,
como, por exemplo, a mata do Solitário (veja a foto na página anterior),
que escapou, quase incompreensivelmente, às mãos do homem.
Nessa mata, os arbustos que constituem os matos mediterrânicos,
como o medronheiro, a aroeira, a murta, o folhado e o carrasco,
crescem e adquirem aqui um porte arbóreo pouco comum noutras
regiões. Associado a estas árvores de folha perene encontra-se
como árvore dominante um carvalho de folhas marcescentes (que
acabam por cair, mas de forma gradual): o carvalho-cerquinho ou
português e ainda o ácer-de-montpellier, este último, em geral,
com distribuição em zonas mais húmidas e frias. Também não
faltam trepadeiras, como, por exemplo, a salsaparrilha-bastarda,
a hera e a norça-preta. A vegetação é extremamente cerrada e,
poderíamos dizer, até impenetrável nalguns locais; por todo o lado
reina um profundo silêncio e apenas se vislumbra uma luz suave e
difusa; pelo chão crescem alguns fetos e musgos. Tudo nesta mata
parece estar de acordo com a ideia que temos da floresta primitiva.

• As florestas de coníferas (veja Um pouco de vocabulário, na página 34)


também são, geralmente, muito fechadas e sombrias, tendo, por
essa e outras razões, uma vegetação inferior bastante rala. Em
Portugal, o pinheiro-bravo é a conífera mais abundante, esten-
dendo-se por toda a faixa litoral a norte do Tejo e avançando pelo

43
A
PORTUGAL NATURAL I

interior, sobretudo ao longo dos vales do Mondego, do Vouga e do


Douro. Nos carvalhais, que predominam a norte (veja Carvalhos:
uma família portuguesa, na página 59), existe uma luz difusa,
entre outras condicionantes, que permite uma maior ocorrência
de plantas nos níveis inferiores.

É muito provável que, no passado, os carvalhos fossem as árvores


mais abundantes na floresta primitiva que cobria o nosso território.
No entanto, os carvalhais foram, ao longo do tempo, dando lugar
a monoculturas florestais. A pouco e pouco foi-se produzindo uma
artificialização da paisagem, pela instalação de pinhais e, mais
recentemente, de eucaliptais, os quais têm contribuído, em muito,
para a descaracterização do que resta da nossa floresta natural.

• As zonas ocupadas pelo sobreiro ou pela azinheira ocupam cerca


de 35 por cento da área florestal nacional. No entanto, embora essas
árvores sejam tipicamente mediterrânicas, os atuais sobreirais ou
azinhais já pouco ou nada têm que ver com a floresta primitiva.
A azinheira é, tal como a oliveira, uma espécie com uma grande
capacidade de adaptação, muito resistente às variações de tempe-
ratura e, sobretudo, ao excesso de calor e secura do verão. Por isso,
tanto podemos encontrá-la no Alentejo como na chamada Terra
Pinheiro-bravo, Quente do vale do Douro, numa área onde, surpreendentemente,
a conífera mais
abundante o clima é mediterrânico e não atlântico, como acontece com toda
em Portugal

44
A
AS PAISAGENS

Instalação
de eucaliptais e
descaracterização
da floresta natural

Os atuais montados
já nada se parecem
com a floresta
primitiva

a região envolvente. O mesmo acontece com o sobreiro, embora


este também seja muito frequente no Ribatejo e na serra algarvia.

Matos e matagais
Os matos e os matagais são um tipo de paisagem dominado pela
presença de plantas arbustivas, embora neles também possam
existir algumas árvores dispersas. São estádios mais precoces da
sucessão ecológica que pode evoluir para o estádio de clímax
referido no capítulo 1 (veja a página 14).

45
A
PORTUGAL NATURAL I

• Normalmente, as áreas cobertas por matos e


matagais são consideradas meios improdutivos
e de vegetação degradada; por isso, algumas são
periodicamente “limpas”, o que reduz também
o risco de fogos florestais. Mesmo assim, existem
algumas situações em que esse tipo de cobertura
vegetal persiste. Por exemplo, em zonas onde o
solo é tão pobre e improdutivo que apenas alguns
arbustos pouco exigentes nele conseguem sobre-
viver. Ou, então, em áreas onde o homem não
consegue chegar: terrenos extremamente incli-
nados ou muito rochosos, que impedem que o
solo seja utilizado para qualquer outro fim, como,
por exemplo, nos parques naturais das serras de
Aire e Candeeiros e na serra da Arrábida, onde os
matos constituem parte importante da paisagem.

• Os arbustos mais comuns nos matos e matagais


poderão ser, por exemplo, e consoante as regiões,
o carrasco, o medronheiro, a aroeira, a carvalhiça,
as madressilvas, as giestas, os tojos, as estevas ou as
urzes (veja Flores dos matos e matagais, nas páginas
Esteval 118 e seguintes). A designação de muitos matos pro-
vém das espécies neles dominantes: por exemplo,
o carrascal, o giestal, o tojal ou o esteval. A palavra charneca corres-
ponde a matos baixos de vegetação mais dispersa onde dominam
as espécies aromáticas tão características do Mediterrâneo, como
os tomilhos, as lavândulas, as salvas e os orégãos, entre outras.

As paisagens serranas
Em Portugal, as terras baixas predominam: mais de 70 por cento do
solo encontra-se a menos de 400 metros de altitude e só 11 por cento
está acima dos 700 metros. No entanto, a repartição desse relevo
é muito desigual.

De certa forma, o território nacional encontra-se dividido em


duas áreas de relevo perfeitamente distintas: o Sul possui mais
de 60 por cento das terras de altitude inferior a 200 metros e nele
encontram-se as planícies mais extensas e as maiores depressões
fluviais (havendo apenas uma serra cujo cume se encontra a mais

46
A
AS PAISAGENS

de mil metros: a serra de São Mamede); 95 por cento das áreas


superiores a 400 metros estão no Norte e aí as terras altas são
quase omnipresentes: a apenas 50 quilómetros do mar erguem-se
cumes com mais de mil metros de altura!

• Das serras minhotas à região onde o Douro faz fronteira podemos


encontrar zonas rochosas de forma e natureza diversas. Na serra
do Gerês, os amontoados de rochas fazem lembrar o rescaldo de
batalhas entre seres gigantescos. Nas encostas veem-se inúmeras
escarpas, ora extremamente inclinadas ora “caindo” a pique. Nalguns
cumes notam-se cristas rochosas mais ou menos extensas.
Serra algarvia
• É na serra da Estrela que a
rocha aparece com toda a sua
imponência. Paisagens como as
que se podem ver nos Cântaros
ou então nas Penhas Douradas,
por exemplo, locais onde a pedra
aparece nua e crua, deixam uma
impressão profunda e dura-
doura. Mas isso também não
impede que esta zona monta-
nhosa seja cheia de contrastes
e que nela se possam admirar
muitos outros tipos de paisagens
igualmente atrativas: os campos

A crueza da rocha
no Cântaro Magro
(serra da Estrela)

47
A
PORTUGAL NATURAL I

em socalcos, os pastos, os cursos de água e a vegetação ribeiri-


nha, os matos, as manchas florestais…

As zonas húmidas
Recebem este nome todas as zonas onde a presença de água doce
ou salobra constitui o fator principal na caracterização do meio
ambiente. São de tal forma importantes na constituição da paisa-
gem que imediatamente se nota a diferença entre as regiões onde
elas são abundantes e aquelas onde rareiam.

• De acordo com o caudal, a largura do leito e a extensão do seu


percurso, os cursos de água podem ser designados como rios,
ribeiras, ribeiros, riachos e regatos. Estes ambientes acolhem
diferentes tipos de vida, tanto animal como vegetal, pois cada
um deles oferece também diferentes condições de subsistência.
Os regatos de montanha e os riachos de curso rápido, por exemplo,
Regato
são muito ricos em oxigénio; neles vivem espécies como a toupeira-
de montanha -de-água e a truta, que gostam de águas límpidas
e não poluídas e suportam sem problemas de
maior a força da corrente. Os rios de curso lento
possuem, nos locais menos profundos, uma vege-
tação muito abundante e, a não ser que estejam
muito poluídos, possuem condições ideais para
o crescimento de diversas espécies de peixes,
como a lampreia, o robalo, o escalo e a enguia.

No Norte do país existe uma grande variedade


de cursos de água, graças à elevada humidade
e ao relevo acidentado da região, o que leva a
que chova bastante durante uma boa parte do
ano. Só os pequenos ribeiros secam no verão, ao
passo que, no Sul, a seca é quase generalizada,
criando dificuldades até a alguns grandes rios,
como acontece com o Guadiana.

• Os meios de água parada incluem pauis, certos


estuários, pequenas lagoas, albufeiras, represas,
açudes e até charcos. Muitos deles constituem pon-
tos de referência paisagísticos de inegável beleza,
já que quase todos são muitos ricos em espécies

48
A
AS PAISAGENS

Lagoa de Pataias,
Alcobaça

animais e vegetais. Os estuários, por exemplo,


são dos poucos locais onde muitos peixes encon-
tram as condições necessárias para a desova e para
o crescimento inicial, funcionando, assim, como
uma espécie de “creche”. Além disso, também é
de notar que grande parte das atividades humanas
se concentra à sua volta. Não é por acaso, por
exemplo, que duas grandes cidades — Lisboa e
Setúbal — se encontram na periferia dos estuários
do Tejo e do Sado. Os pauis também são locais
que oferecem o recato e as condições alimenta-
res necessárias ao crescimento de muitas aves e
outros animais não habituados a conviver com
o homem.

• No Centro e no Sul do país existem cinco zonas


húmidas de primeira importância, tanto num con-
texto nacional como internacional, e que, por isso,
gozam do estatuto de áreas protegidas: o paul do Sapal de Castro
Marim
Boquilobo (no Ribatejo, perto da Golegã), o estuário do Tejo, o
estuário do Sado, a ria Formosa e o sapal de Castro Marim e o de
Vila Real de Santo António (estes dois últimos no Algarve).

No Norte, a maioria dos meios de água parada tem pouca expressão


ou é mesmo inexistente (caso das lagoas costeiras). As albufeiras
que acompanham as barragens são uma exceção, graças à grande

49
A
PORTUGAL NATURAL I

abundância de cursos de água dessa região e às características


naturais do terreno. Paradoxalmente, no Alentejo, a criação de
albufeiras e represas não se deve à abundância da água, mas antes
à falta dela. Foi essa a melhor forma que o homem encontrou
para gerir, nesta região, este bem extremamente escasso, atuando
muitas vezes o sistema de barragem como uma espécie de conta-
-gotas que apenas deixa passar a quantidade imprescindível do
precioso líquido. Por isso, enquanto no Norte a construção de
albufeiras teve como principal finalidade a produção de energia
elétrica, no Alentejo essa medida deve interpretar-se mais como
um ato necessário de gestão dos recursos da natureza (veja a caixa
Preservação versus conservação, no capítulo 1, na página 29). Isto
foi o que aconteceu, por exemplo, com a construção da barragem
do Alqueva, que gerou artificialmente grandes extensões de olival
de regadio.

Como as águas de muitas albufeiras são bastante profundas, a sua


vegetação aquática e/ou ribeirinha é, muitas vezes, relativamente
pobre. Por isso, também não possuem, geralmente, a riqueza em
espécies animais que caracteriza os estuários e os pauis. Embora
não haja dúvida de que as albufeiras funcionam, essencialmente,
como grandes reservatórios de água criados pelo homem, a grande
beleza de muitas das paisagens existentes nas suas imediações
Água represada
na barragem
é inegável…
do Maranhão

50
A
AS PAISAGENS

As paisagens costeiras
O capítulo 6 deste livro é dedi-
cado ao litoral, e nele falaremos
não só das espécies animais e
vegetais que se podem encon-
trar nas praias, nas dunas e
nas arribas, mas também dos
elementos que compõem cada
um desses ambientes. Por isso,
aqui referir-nos-emos apenas a
algumas paisagens típicas do
nosso litoral.

• Na região de Entre Douro e


Minho, o exemplo mais signifi-
cativo de paisagem costeira é o
que nos é dado pelo litoral de
Esposende, que se encontra atual-
mente classificado como Área de
Paisagem Protegida. É uma zona Dunas em Espinho
baixa e arenosa, composta por
um cordão de praias e dunas, onde a pressão turística é bastante
intensa. Mesmo assim, trata-se de uma interessante paisagem cos-
teira de natureza arenosa, com muitas plantas típicas das zonas
dunares: o cardo-marítimo, o estorno, os cordeiros-da-praia, etc.
(veja As dunas, no capítulo 6, nas páginas 186 e seguintes).

• Outro tipo de costa, com paisagens de grande beleza, é o que


se encontra integrado na Área de Paisagem Protegida da Arriba
Fóssil da Costa de Caparica.

Aqui, as rochas que compõem as arribas são de natureza sedimen-


tar, e o declive é abrupto, formando uma parede de 70 metros de
altura ao longo de uma faixa que vai da Caparica até à lagoa de
Albufeira.

• A maior zona contínua de costa rochosa existente em Portugal


localiza-se na zona da Área de Paisagem Protegida do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina. Muitas aves marinhas fazem ninho
nas arribas escarpadas e inacessíveis que aí se encontram. Também
as plantas desses ambientes apresentam características adaptati-
vas peculiares, devido, sobretudo, à grande quantidade de sal da

51
A
PORTUGAL NATURAL I

água do mar trazida pelo vento


(veja também A costa rochosa,
no capítulo 6, nas páginas 179
e seguintes). Junto à base das
arribas encontram-se muitas
vezes pequenas praias, onde,
em vez de areia, existem peque-
nas pedras, de dimensão e peso
variáveis — os calhaus rolados.
De vez em quando também
surgem algumas zonas areno-
sas, formando pequenas praias
muito convidativas, mas de difícil
acesso.
Aspeto rochoso da
Costa de Caparica

paisagens em perigo
A integridade de uma paisagem depende muito da sua disposição
espacial. Quando se constroem, sem um plano de conjunto, vias de
comunicação, parques industriais e zonas habitacionais, a paisagem
adquire, infelizmente, o aspeto de um puzzle.

Apesar de se tratar de um exemplo que muitos consideram


estafado, nunca é de mais recordar as lamentáveis consequências
paisagísticas que resultaram da ocupação anárquica do litoral
algarvio há algumas décadas. Em poucos anos, muitas zonas de
rara beleza viram-se invadidas por numerosos empreendimentos
turísticos, muitos deles de qualidade duvidosa, que vieram alterar
irremediavelmente a sua qualidade ambiental. Nalguns locais,
construíram-se habitações sobre as dunas, o que é tão prejudicial
para estas como para as próprias habitações. Algumas zonas
húmidas foram destruídas para darem lugar a marinas, portos,
campos de golfe e lagos artificiais. Os cursos de água, um bem
bastante escasso na região, viram-se repentinamente invadidos por
descargas de esgotos cada vez mais volumosas. Devido à grande
pressão populacional, a poluição das águas depressa alcançou
níveis incomportáveis, com terríveis consequências na flora e na
fauna da região…

Este é um caso exemplar, mas, infelizmente, não é o único em


que a ânsia do lucro foi mais forte do que o bom senso. Numa
altura em que também a costa alentejana parece ameaçada,
talvez seja altura de tomarmos consciência da riqueza que se
perderá irremediavelmente se não for feito um esforço para que as
mudanças inevitáveis se façam mantendo o respeito pela natureza.

52
A
AS PAISAGENS

Se quiser saber mais


Onde ir?
A melhor forma de admirar as paisagens seminaturais típicas con-
siste, na maioria dos casos, em visitar algumas das nossas áreas
protegidas, pois as entidades competentes têm feito grandes esfor-
ços para preservar a riqueza biológica e paisagística desses locais.

• No Parque Nacional da Peneda-Gerês, por exemplo, poderá encon-


trar cumes onde os amontoados de rochas nuas constituem belos
exemplos de paisagem serrana; vales e encostas pujantes de verde,
onde dois tipos da paisagem agrária típica do Norte, os socalcos e os
lameiros, se cotejam e complementam; magníficos cursos de água
cristalina que desembocam, muitas vezes, em pequenas cascatas
sussurrantes; e algumas manchas de floresta, onde predominam,
em muitas zonas, o carvalho-roble e o carvalho-negral.

• Se quiser ver um bom exemplo de paisagem de características


tipicamente mediterrânicas, poderá deslocar-se ao Parque Natural
da Arrábida: aí poderá encontrar extensas áreas cobertas de
mato, onde arbustos como o folhado, a aroeira, o medronheiro,
Os flamingos fazem
o carrasco, a esteva, os rosmaninhos, o alecrim e as madressilvas são parte da paisagem
típica dos estuários

53
A
PORTUGAL NATURAL I

extremamente frequentes; junto


à costa, altas arribas caem quase
na vertical sobre o mar; e, mais
para o interior da serra, o homem
encontrou condições ideais para
a instalação de vinhas e olivais
e ótimos terrenos de pastagem
para o gado.

• Zonas húmidas cheias de vida


são o que poderá descobrir se
se der ao “trabalho” de visitar
as reservas naturais do paul do
Boquilobo ou dos estuários do
Tejo e do Sado. Colónias de gar-
ças e colhereiros, diversos ban-
dos de patos, muitos anfíbios e
Pormenor da costa do cortinas de salgueiros, freixos e
Sudoeste Alentejano
choupos são o cartão de visita
do paul do Boquilobo. Bandos de colhereiros, flamingos e outras
aves migradoras e plantas como a morraça, a gramata, a Salicornia
e o valverde-dos-sapais constituem um mostruário da paisagem
típica dos estuários.

• Importantes extensões de areal e dunas fazem parte da paisagem


que poderá encontrar tanto na Área de Paisagem Protegida do
Litoral de Esposende como na Reserva Natural das Dunas de São
Jacinto. Nesta última existe também uma importante extensão de
mata, ocupada, quase integralmente, por pinheiro-bravo.

• Praias de um areal resplandecente e arribas rochosas de cortar a


respiração esperam aqueles que resolverem partir à descoberta da
extensa faixa litoral designada como Área Protegida do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina. Mas também as searas dos planaltos
costeiros, o interessante estuário do Mira, as praias de calhaus
rolados e as colónias de aves que nidificam nas arribas constituem
razões mais do que suficientes para não deixar de conhecer esta
zona do país…

• Imaginamos que, nesta altura, já deve estar com vontade de se pôr


a caminho… Mas como, se ainda não falámos dos parques naturais
de Montesinho, do Alvão, da serra da Estrela e da ria Formosa,
nem das reservas naturais da serra da Malcata e da Berlenga?

54
A
AS PAISAGENS

Está bem, acreditamos que já percebeu que, apesar das nume-


rosas atrocidades que as nossas paisagens naturais têm sofrido
(fogo posto, pedreiras, pisoteamento, construção clandestina…),
existem ainda muitos recantos que vale a pena descobrir! Por isso,
também compreendemos que não queira perder um só instante.
Mas não se esqueça de que a preservação dessas riquezas naturais
também depende de si!

Tenha em conta que...


Não há livro, por muito boas fotografias que tenha, que substitua
o prazer de ver, no próprio local, as paisagens de que acabámos
de referir. Por isso, o importante é mesmo meter-se a caminho,
mas não se esqueça de:
— contactar os serviços do Instituto de Conservação da Natureza e da
Floresta (ICNF), através da página www.icnf.pt, a fim de obter as
informações necessárias sobre a localização, os acessos, o apoio
turístico e os percursos mais interessantes da zona que pretende
visitar;
— fazer apelo ao bom senso: não é a mesma coisa visitar um par-
que ou uma reserva no princípio da primavera (quando é mais
fácil encontrar alojamento e menos confusão no local) ou no pino
do verão (altura em que a probabilidade de haver muita gente é
muito maior);
— levar consigo toda a documentação útil e necessária, para aproveitar
ao máximo a visita, e uma boa máquina fotográfica, para ficar com
uma recordação de tudo o que de mais interessante encontrar;
— deixar os locais tal como os encontrou: não remova pedras do
local onde estão, não colha flores ou cogumelos a não ser que
estes sejam extremamente abundantes, procure sensibilizar as
crianças para a necessidade de preservar a natureza;
— não atravessar campos cultivados nem invadir propriedades privadas;
— levar sacos de plástico, para guardar o lixo até encontrar um
local conveniente;
— não fazer fogueiras!

55
CAPÍTULO 3
As árvores
e os arbustos
A
PORTUGAL NATURAL I

A vegetação reflete sempre as influências geográficas e climáti-


cas da região em que se encontra. Como o nosso país balança
entre o Atlântico e o Mediterrâneo, as árvores e os arbustos que
o percorrem são um misto das duas influências. Algumas, como
a azinheira e, embora em menor grau, a oliveira e a alfarrobeira,
são plantas de ambientes quentes e secos, com folhas pequenas,
duras e persistentes (que se mantêm na árvore
durante todo o ano). Encontram-se, sobretudo,
no Sul do país, onde a influência mediterrânica,
um pouco com os seus verões quentes e sem chuva, se faz
de vocabulário sentir com maior intensidade. Outras, como o
amentilhos: inflorescências carvalho-roble e o castanheiro, são grandes e
(conjuntos) de espigas pendentes frondosas e perdem as folhas no outono. Dão-se
ou eretas, compostas por flores sem melhor no Norte, pois suportam bem o frio e as
pétalas só de um sexo. Veem-se, chuvas abundantes.
sobretudo na primavera, em árvores
como os salgueiros (eretos) ou os
carvalhos (pendentes). De acordo com a denominação normalmente
utilizada em silvicultura — que vamos adotar aqui,
cápsula: fruto seco que contém
várias sementes e que, ao atingir por razões eminentemente práticas —, a maio-
a maturidade, se abre, para que ria das árvores e dos arbustos é “arrumada’’ em
aquelas se disseminem. É o caso dois grupos distintos: as resinosas e as folhosas.
dos frutos do eucalipto. Estas últimas caracterizam-se por terem folhas
espontânea: planta não mais ou menos largas e por as sementes estarem
“importada”, originária da região protegidas por uma espécie de estojo, o que, no
em que se encontra e onde vive conjunto, forma o fruto. Isto é o que acontece,
há muitas gerações. É sinónimo por exemplo, com a macieira, o carvalho e o
de nativa ou indígena e opõe-se a
exótica ou introduzida. castanheiro.

híbrido: planta resultante


As resinosas são, como o nome indica, árvores cuja
de um cruzamento entre espécies
ou variedades diferentes. seiva é de tipo resinoso (é delas que se extraem
as resinas). Correspondem, basicamente, às
nós: pontos do caule onde
coníferas, que são plantas que possuem cones
as folhas se inserem.
ou pinhas e cujas folhas são, regra geral, estreitas
rebento: pequena formação e pontiagudas, em forma de agulha. A este grupo
vegetal, pontiaguda ou
pertencem os diversos tipos de pinheiros, cedros,
arredondada, que dá origem
a flores, folhas ou novos caules. ciprestes, abetos, etc.

simbiose: relação de benefícios sem


Neste livro, procurámos dar especial relevo às
perdas entre espécies diferentes.
árvores e arbustos que crescem, de forma espon-
umbela: tipo de inflorescência tânea (veja Um pouco de vocabulário, à esquerda),
em que as flores crescem sobre
pés diferentes, partindo todas do no nosso país. Mas não quisemos deixar de falar,
mesmo ponto, como as varetas de igualmente, de algumas espécies utilizadas na
um guarda-chuva. ornamentação de parques e jardins e de outras

Na página anterior: abeto

58
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Folhas e frutos
da alfarrobeira

que se deram tão bem por cá que se comportam como se fossem


nativas (como, por exemplo, o pinheiro-bravo).

As folhosas
Carvalhos: uma família portuguesa
A palavra latina Quercus, que significa “carvalho”, aplica-se a um
grupo de árvores de características semelhantes, típicas da nossa
paisagem. Se tivéssemos uma floresta natural virgem, os carvalhos
seriam as árvores que nela predominariam.

Embora muitas pessoas não o saibam, o sobreiro, a azinheira e o


carrasco também pertencem à grande família dos carvalhos. Todos
produzem um fruto muito peculiar, a bolota, tradicionalmente
usada na alimentação do gado suíno, e a maioria possui uma casca
espessa que protege o tronco contra as agressões externas. Isso não
impede, porém, que, como em qualquer família, cada membro
possua a sua identidade própria, que se reflete em características
(por vezes) bastante diferentes.

59
A
PORTUGAL NATURAL I

No nosso país existem oito carvalhos espontâneos. Só não falaremos


do carvalho-das-canárias, por só existir na serra de Monchique
e, mesmo aí, ser escasso. Os carvalhos de nome e a carvalhiça
têm todos folha caduca; a azinheira, o sobreiro e o carrasco têm
folha persistente.

• O carvalho-roble ou alvarinho prefere solos profundos e frescos e é


sensível às secas de verão. É o carvalho que menos resiste à secura.
Por isso quase não existe no Sul do país. Aparece espontaneamente
no Norte, do Minho ao Mondego. Permite obter madeira de muito
boa qualidade, utilizada no fabrico de mobiliário, na construção civil
(vigas e traves) e até, antigamente, na construção naval. Como todos
os carvalhos, cresce muito lentamente, podendo atingir mais de
45 metros de altura. É a espécie de carvalho mais abundante em
toda a Europa.

Pormenor das folhas


do carvalho-roble Amentilhos
ou alvarinho do carvalho-negral

60
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

• O carvalho-negral é predominante nas zonas montanhosas das


Beiras e de Trás-os-Montes, mas também se encontra a sul, nas
serras de Sintra, Ossa e Monfurado. Pode encontrar-se a mais de
mil metros de altitude. Resiste ao frio e à geada, mas não se dá
bem em terrenos calcários. As folhas murcham no outono e caem
no inverno.

São de um verde-acinzentado fácil de distinguir no meio de outras


árvores. A casca do tronco é pouco espessa e de tonalidade acin-
zentada. A madeira é muito utilizada em marcenaria, mas não
tem tanta fama como a do roble. Os carvalhos-negrais raramente
têm mais de 20 metros de altura.

• O carvalho-cerquinho ou carva-


lho-português é pouco exigente
e, ao contrário do negral e do
roble, dá-se particularmente
bem em solos calcários. Também
suporta bem grandes diferenças
de temperatura. É uma espécie
relativamente abundante na faixa
litoral entre Lisboa e o Mondego,
mas também se encontra com
alguma frequência um pouco mais
para sul, na zona da Arrábida e
no litoral alentejano. As folhas
permanecem na árvore ainda
mais tempo do que as do negral,
caindo por vezes quando as novas
folhas estão a aparecer, sendo por
isso designadas como espécies Folhas do
carvalho-cerquinho
de folha marcescente. O tronco é direito, e a casca é acinzentada
e pouco espessa. A madeira das árvores de maiores dimensões,
embora menos procurada do que a das espécies anteriores, é bas-
tante utilizada.

• O sobreiro é muito fácil de reconhecer, graças à característica


casca de grande espessura que possui: a cortiça. Esta pode ser
separada do tronco, sem implicar a morte da árvore, regenerando-
-se uma nova camada de cortiça que vai crescendo em espessura
nos anos seguintes. Nas árvores em que se procede à sua extra-
ção, normalmente para exploração comercial, aparece o tronco,
liso e vermelho-escuro.

61
A
PORTUGAL NATURAL I

Casca de grande
espessura do sobreiro,
que pode ser retirada
sem implicar a morte
da árvore

O sobreiro encontra-se por todo


o descortiçamento o país, de forma espontânea ou
O descortiçamento do sobreiro ocorre no período de cultivada, mas é mais frequente
atividade vegetativa da árvore (final da primavera/ a sul do Tejo, no Alentejo, e no
/verão), altura em que a fragilidade das membranas Ribatejo, nas regiões com influên-
das células de cortiça recém-formadas ou em vias cia atlântica. Na Terra Quente de
de formação permite a despela. Nove anos é o tempo
suficiente para a árvore regenerar uma nova camada
Trás-os-Montes apresenta uma dis-
de cortiça e é, portanto, este o intervalo entre cada tribuição relativamente esparsa.
intervenção. Por coincidir com o período de maior O sobreiro pode encontrar-se em
stresse hídrico, o descortiçamento da árvore leva a dois tipos de formação diferentes:
uma grande perda de água. Contudo, a capacidade os sobreirais e os montados de
de regeneração da cortiça permite a sua reutilização
sobro. Normalmente, não tem
por vários anos, desde que a frequência e o grau de
descortiçamento não sejam exagerados e desde que mais de 20 metros de altura.
não se provoquem feridas durante a despela. Quando descortiçado desde
jovem, pode ultrapassar os 150
anos. Devido ao grande valor
económico, paisagístico e biológico das paisagens associadas ao
sobreiro (forma ecossistemas com elevada biodiversidade), este foi
classificado como Árvore Nacional de Portugal em 2011. A impor-
tância económica do sobreiro está patente no facto de Portugal ser
o maior produtor mundial de cortiça. Esta utiliza-se para muitos
fins, que vão desde o isolamento térmico e acústico ao fabrico de
palmilhas para o calçado, rolhas, tapetes, etc. Mas a utilidade do
sobreiro não fica por aí: as bolotas são utilizadas desde há muitos
anos na alimentação do gado, e a madeira dá ótima lenha para
fornos e lareiras.

62
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

• Juntamente com o sobreiro, a azinheira é a árvore predominante


no Sul do país. Resiste bem ao calor e à secura; por isso, suporta
perfeitamente o clima e o solo característicos do Alentejo interior,
a região onde é mais abundante, sendo menos sensível ao frio
que o sobreiro. É uma árvore de folhagem densa e persistente,
tal como o sobreiro. No entanto, ninguém os confunde, porque
a casca do tronco da azinheira, embora espessa e retalhada, não
tem a consistência da cortiça nem atinge a sua espessura. As azi-
nheiras, tal como os sobreiros, encontram-se dispersas na paisa-
gem alentejana como resultado de muitas décadas de pastoreio
e cultivo, formando os chamados montados de azinho, que fazem
lembrar as savanas das paisagens africanas. A madeira é dura e
homogénea, mas racha com facilidade. Usa-se, sobretudo, como
lenha para fornos e lareiras.

• Finalmente, o carrasco e a carvalhiça. Ambos são frequentes nas


charnecas e matas. São pequenos arbustos, de porte reduzido.
No entanto, pertencem, de pleno direito, à família dos carvalhos.
A prová-lo estão as suas bolotas, que também podem ser dadas ao
gado. Embora se encontre facilmente por todo o país sob a forma
de arbusto, o carrasco toma, nalguns locais, como, por exemplo,
nas matas protegidas na serra da Arrábida, um porte arbóreo tal
como os outros carvalhos, podendo atingir 15 a 20 metros de altura.

Aspeto das bolotas


do carrasco

63
A
PORTUGAL NATURAL I

Quanto às folhas, as do carrasco são pequenas e espinhosas,


fazendo lembrar as do azevinho, embora estas sejam maiores e
de um verde mais escuro. As da carvalhiça são semelhantes às do
carvalho-cerquinho, mas têm um pé muito curto.

os bugalhos
Em muitas árvores existentes no nosso país
encontram-se, sobretudo nos ramos e nas folhas,
certas excrescências de diferente tamanho, cor e
consistência a que se chamam bugalhos (também
designados por “galhas”). São produzidos por um
desenvolvimento anormal dos tecidos vegetais
em pontos que sofreram picadas de determinados
insetos. A forma e a composição dos bugalhos
podem variar não só de acordo com as espécies
de árvores afetadas mas também consoante
o tipo de inseto que os provoca. São muito
frequentes nos carvalhos, especialmente
nos de folha caduca e, de forma particular,
no carvalho-português e na carvalhiça. Muitos
bugalhos são extraordinariamente ricos em tanino,
uma substância usada na curtição do couro e no
fabrico de certas tintas. Por essa razão, muitos são
explorados industrialmente.

Bugalhos do carvalho

Antigamente, os bugalhos do carrasco (veja a caixa acima) eram


usados como fonte de matéria-prima para o fabrico de uma tinta
corante vermelha, a grã-do-carrasco. Essa matéria-prima era for-
necida pelas fêmeas de um dos insetos que originam os bugalhos
(a cochonilha).

O castanheiro: quentes e boas!


Quando chega o outono, depois das primeiras chuvas, há dias
em que um novo aroma se sente no ar. É um aroma doce e suave,
bastante fácil de identificar, que se deve ao facto de alguém estar
a cozer ou a assar uma semente deliciosa: a castanha! É o tempo
dos magustos, dos grupos de pessoas à volta da fogueira, da água-
-pé e do vinho novo!

64
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

O principal responsável por este período anual de festa é o


castanheiro, uma árvore de grande porte que se encontra, sobre-
tudo, no Norte do país. A sua difusão é maior nos concelhos de Vila
Real, Bragança e Guarda, ou seja, nas zonas mais frias. De facto,
esta árvore, embora seja sensível às geadas, resiste bem ao frio e
gosta de alguma humidade. É por isso que raramente se encontra
no Sul, onde o solo e o clima são secos. Por outro lado, a tinta dos
castanheiros, um fungo que ataca as raízes destas árvores, tem
contribuído bastante para reduzir o seu número.

As folhas do castanheiro são compridas (algumas chegam a medir


20 centímetros) e as margens lembram a lâmina de um serrote,
razão pela que qual se dizem serrilhadas (veja Tipos de folha,
nas páginas 74 e 75).

São verde-escuras, mas passam a amarelo-claras no princípio do


outono, até que caem, já no fim da estação, completamente cas-
tanhas. O castanheiro é, portanto, uma árvore de folha caduca.
As matas de castanheiros chamam-se soutos.

As castanhas crescem dentro de uma espécie de bola espinhosa,


o ouriço, que se abre quando aquelas amadurecem, deixando-as
cair. Muitas vezes, os ouriços também caem, juntamente com as
castanhas e as folhas, criando uma espécie de tapete que cobre Castanhas a crescer
completamente o chão por debaixo dos castanheiros. nos ouriços, que
se abrem quando
aquelas amadurecem

65
A
PORTUGAL NATURAL I

Existe uma árvore que produz frutos semelhantes às castanhas,


o castanheiro-da-índia. Foi “importada” dos Balcãs e encontra-se
nalguns parques e jardins. É uma bonita árvore de sombra que,
na primavera, se enfeita com dezenas de grupos de flores brancas
ou cor-de-rosa que formam pequenas pirâmides. Pertence a uma
família de árvores completamente diferente da dos castanheiros
comuns, e os frutos, embora se pareçam com as nossas castanhas,
não são comestíveis. Distinguem-se facilmente, por serem totalmente
redondas e não bicudas, como as verdadeiras castanhas. Os ouriços
também possuem casca mais grossa e espinhos mais duros, embora
menos abundantes do que os ouriços do castanheiro comum.

Pequenas
pirâmides formadas
pelas flores do
castanheiro-da-índia

A nogueira: árvore da fecundidade


A nogueira é uma árvore bastante conhecida e apreciada, devido,
sobretudo, aos seus frutos secos: as nozes. Tem um porte considerável,
já que pode medir mais de 20 metros. As folhas são compostas por
um número ímpar de folíolos (folhas mais pequenas), cujas margens
não são recortadas (veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75). As
nozes amadurecem em outubro. A sua parte externa é inicialmente
verde e lisa; depois, enegrece e acaba por secar e mirrar, deixando
à vista a casca dura e redonda da noz, que é necessário quebrar
para chegar às sementes comestíveis. Curiosamente, é a forma
da casca das nozes que deu origem ao nome latino da nogueira,
Juglans regia. Ao que parece, a palavra Juglans provém da expres-
são glans Jovis, que significa, em português, “a glande de Júpiter”.

66
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

A isto não deve ser alheio o facto


de, na Antiguidade, a nogueira
ser vista como um símbolo de
fecundidade. Hoje, esse simbo-
lismo perdeu-se, mas sabe-se,
em contrapartida, que as nozes
constituem um ótimo alimento.
São oleaginosas e ricas em pro-
teínas, vitaminas (A, B, E e P) e
sais minerais (sobretudo cálcio
e ferro). O que não quer dizer
que deva comê-las à mão-cheia,
porque são também altamente
calóricas: dez nozes represen-
tam nada mais, nada menos que
300 calorias! Folhas e
inflorescências
da nogueira
A nogueira é cultivada um pouco por todo o país, normalmente
isolada ou em pequenos pomares. A madeira é de muito boa qua-
lidade e fácil de trabalhar. A propósito, existe uma outra espécie,
a nogueira-preta, que foi introduzida no nosso país unicamente
para produção de madeira, pois a qualidade desta é tão boa como
a da nogueira-comum. Também se encontra, por vezes, em parques
e jardins botânicos. É originária dos Estados Unidos; a nogueira-
-comum é proveniente da Eurásia.

Amendoeiras e alfarrobeiras
É verdade que a amendoeira não existe apenas no Algarve, e há
até grandes pomares desta árvore na Terra Quente Transmontana
e em Freixo de Espada à Cinta, por exemplo. No entanto, não há
dúvida de que é um dos porta-estandartes daquela província, tal
como os sobreiros o são do Alentejo e do Ribatejo, apesar de não
serem exclusivos dessas regiões. Quanto à alfarrobeira, o seu caráter
regional, no nosso país, é indiscutível. Atualmente, os verdadeiros
alfarrobais apenas se encontram nos concelhos algarvios de Loulé,
Tavira, Olhão, Faro, São Brás de Alportel, Albufeira, Lagos e Silves.

• A amendoeira é uma pequena árvore proveniente da Ásia e do


Norte de África que, quando as condições do solo são favoráveis,
pode atingir dez metros de altura. As amêndoas são muito apre-
ciadas enquanto frutos secos, e as flores, que surgem muito antes

67
A
PORTUGAL NATURAL I

das folhas, são brancas ou cor-de-rosa. As paisa-


gens de amendoeiras floridas, logo em janeiro
ou fevereiro, são célebres pela sua beleza.

As amêndoas demoram muito tempo a amadure-


cer e colhem-se apenas em agosto ou setembro.
No início, parecem-se com pêssegos ou alperces
verdes, mas a parte carnuda mantém-se dura e
não é comestível. Quando maduro, esse invólucro
carnudo e duro abre-se, solta-se e deixa aparecer
a casca da amêndoa. Como se sabe, só o interior,
o miolo da amêndoa (a semente), é comestível.
A amêndoa tem uma riqueza alimentar comparável
à das nozes.

• Em português, a palavra ceratôs, que deu origem


a Ceratonia (parte do nome latino da alfarrobeira),
Amendoeira em flor significa “corno”. Trata-se, sem dúvida, de uma
referência à forma e à consistência do fruto desta
árvore, a alfarroba. É uma vagem comestível, de cor escura (entre
o castanho e o negro) e sabor adocicado (contém 40 por cento de
açúcares), que pode ter entre 10 e 25 centímetros de comprimento e
que demora um ano a amadurecer. Lá dentro encontram-se 10 a 16
sementinhas de cor castanho-escura, os quilates, que eram utili-
zadas, na Antiguidade, para avaliar o peso de joias. A alfarrobeira
mantém as folhas durante todo o ano. Pode atingir 15 metros de
altura, e a copa é arredondada e densa. Geralmente, o tronco é
curto e grosso. A madeira dá boa lenha e bom carvão. Atualmente,
são múltiplas as aplicações da alfarroba, desde o uso direto na
alimentação animal à produção de farinha, fabrico de sucedâneo
de chocolate, produção de antioxidantes e anticancerígenos ou
etanol. Da semente extrai-se uma goma de elevada qualidade para
inúmeras utilizações na indústria alimentar, farmacêutica, têxtil
e cosmética. Tudo se aproveita no fruto da alfarroba!

A aveleira: que delícia!


À mesa, amêndoas e avelãs andam muitas vezes juntas. Mas, quando
estão ainda nas árvores, isso é muito raro, porque a aveleira tem
necessidades e preferências quase opostas às da amendoeira.
Precisa de um clima suave e sem securas prolongadas e, por isso,
dá-se melhor no Norte do país, onde aparece espontaneamente.

68
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Encontra-se, sobretudo, em locais frescos e som-


brios. No Norte, os seus principais “companhei-
ros” são o carvalho-roble e o freixo. Raramente
ultrapassa seis metros de altura e, portanto, é
mais um arbusto do que uma verdadeira árvore.
Que o fruto da aveleira é muito saboroso, isso toda
a gente reconhece, mas poucos saberão que 15
ou 20 avelãs equivalem a uma refeição. A avelã
contém entre 50 e 60 por cento de gorduras, além
de um elevado conteúdo em proteínas e alguns
açúcares, o que faz dela um alimento muito nutri-
tivo. O que significa que se pode e deve comer,
mas não abusar… Frutos da aveleira

Vidoeiros: damas da noite


Apesar de serem bastante diferentes nalguns aspetos, vidoeiros e
aveleiras pertencem à mesma família de plantas. O vidoeiro não
produz frutos comestíveis e é uma verdadeira árvore, que pode
atingir 15 metros de altura. Gosta de zonas húmidas e relativamente
frias e é por isso que se encontra com mais facilidade nas margens
dos cursos de água, em zonas como as serras da Lousã, Estrela
e Gerês. Também é bastante frequente em Trás-os-Montes. Uma
das suas marcas características é a alvura do tronco e as imensas
cicatrizes escuras que o percorrem. Cresce rapidamente, mas,
normalmente, não dura mais de cem anos. A madeira é leve e
por isso utiliza-se no fabrico de esquis e de material de aviação.
Mas também é muito usada em contraplacados e aglomerados.
Por vezes também é utilizado como árvore ornamental, devido à
beleza da casca. Não é por acaso que nuestros hermanos atribuí-
ram aos vidoeiros o bonito nome de damas de la noche! Sem falar
na beleza das folhas, que, no outono, adquirem extraordinárias
tonalidades entre o amarelo e o castanho.

O amieiro: à beira-rio
O amieiro também é parente da aveleira e do vidoeiro. É espon-
tâneo em Portugal, surgindo por todo o país ao longo de cursos
de água e zonas húmidas em geral, onde costuma associar-se a
salgueiros, freixos e choupos. No entanto, também suporta bem
terrenos um pouco mais secos. Pode atingir 25 metros de altura e

69
A
PORTUGAL NATURAL I

produz pequenos frutos que fazem lembrar as pinhas de algumas


resinosas — mas essa semelhança não passa de mera coincidência.
Como esses frutos se aguentam na árvore durante bastante tempo,
mesmo depois de as sementes terem caído, ajudam a distinguir o
amieiro das outras árvores ribeirinhas. Curiosamente, as raízes dos
amieiros fazem simbioses com microrganismos do solo capazes
de absorver o azoto da atmosfera, o que aumenta a fertilidade
do solo. Em contrapartida, estas árvores são relativamente sensíveis
à poluição do ar.

A madeira do amieiro é fácil de trabalhar e de polir. Antigamente


utilizava-se muito para fazer tamancos, mas hoje usa-se mais em
utensílios domésticos (colheres, vasos, garfos) e objetos decorativos.

Amieiro, comum
ao longo de cursos
de água

Salgueiros e vimeiros
Em Portugal existem muitas variedades espontâneas de salgueiros.
Alguns são híbridos (veja Um pouco de vocabulário, na página 58).
Todos produzem amentilhos que, ao contrário do que acontece
com os amieiros e com os choupos, são eretos e não pendentes.
A maioria não passa de pequenos arbustos. É o caso dos salgueiros
a que costumamos chamar vimeiros, cujos ramos (vimes) são muito
utilizados no artesanato e na indústria de cestaria. Distinguem-se
dos salgueiros por terem folhas mais estreitas e compridas e por
os seus rebentos serem mais delgados, compridos e flexíveis.

70
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Normalmente, os salgueiros e
os salgueiros-vimeiros são abun-
dantes nas matas ribeirinhas,
vegetando ao longo dos cursos
de água e terrenos húmidos.

• Os vimeiros mais conhecidos são


o vimeiro-do-norte ou vimeiro-
-francês, o salgueiro-branco, o
salgueiro-de-casca-roxa, o sal-
gueiro-frágil e o salgueiro-chorão.
Quase todos têm porte de arbus-
tos, mas alguns chegam a formar
pequenas árvores. O vimeiro-do-
-norte pode atingir dez metros de
altura, e os ramos são compridos Amentilhos eretos
dos salgueiros
e muito flexíveis, característica natural que a poda
costuma reforçar. Trata-se de uma espécie que
aparece, sobretudo, em cultura, principalmente
na região norte, onde é utilizada no fabrico de
cestos e outros utensílios de verga. O mesmo acon-
tece com o salgueiro-de-casca-roxa, embora este
possua uma outra particularidade: como as folhas
são bastante amargas, o gado e os coelhos não as
comem, o que torna esta espécie especialmente
apropriada para a arborização de margens de rios
e ribeiros e para a formação de sebes.

•  São bem conhecidas as plantações de salgueiro-


-branco, ao longo do Tejo e seus afluentes, na
província do Ribatejo. Muitas aves, sobretudo
garças-boieiras, fazem aí ninho. É o salgueiro
de maior porte e pode atingir 25 ou 30 metros
de altura.

A madeira é utilizada, sobretudo, na indústria de


palitos e de aglomerados, embora também seja Fabrico de
cestos a partir de
apreciada para escultura. vimeiro-do-norte

• O salgueiro-chorão é uma espécie originária do Oriente muito


utilizada na ornamentação de jardins e parques, sobretudo naque-
les que possuem pequenos cursos de água. Os ramos são muito
compridos e pendentes, como se fossem lágrimas que, por vezes,

71
A
PORTUGAL NATURAL I

Salgueiro-chorão,
muito utilizado
na ornamentação
de jardins e parques

quase chegam ao chão. Por isso lhe foi atribuído o nome de salgueiro-
-chorão. Graças a essas características, distingue-se facilmente dos
outros salgueiros. Raramente atinge mais de 12 metros de altura.

• De porte mais elevado (até 25 metros), o salgueiro-frágil deve o


nome ao facto de os ramos mais pequenos e os rebentos serem
frágeis e quebradiços. Encontra-se ao longo de inúmeros cursos de
água por todo o país. Os seus ramos são muito utilizados em cestaria,
e a madeira tem as mesmas aplicações que a do salgueiro-branco.

• Foi a partir da casca de salgueiros que no século xix foi isolada


uma substância (o ácido acetilsalicílico) que, em 1899, daria origem
a um medicamento muito conhecido, a Aspirina (o nome científico
dos salgueiros é Salix). O nome “Aspirina” provém de outra planta,
a rainha-dos-prados (em francês, spirée), de onde se viria a extrair
uma substância parecida…

Choupos: o sussurrar das folhas


Os choupos crescem com grande rapidez. Têm porte elevado (mais
de 30 metros de altura), dão-se mal com a sombra e são capazes
de ocupar, em pouco tempo, terrenos abandonados. Produzem

72
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Alinhamento
de choupos

amentilhos mais compridos do que os dos salgueiros, que ficam


pendentes da árvore. Por outro lado, as folhas dos choupos são
largas, o que leva a que seja quase impossível confundi-los com
os salgueiros. Em Portugal, são espontâneos o choupo-comum
ou choupo-negro, o choupo-branco e os seus híbridos.

• O mais frequente é o choupo-negro, encontrando-se muitas vezes


ao longo de cursos de água, orlas de campos cultivados, caminhos,
estradas, etc. É muito utilizado no Minho como suporte das vinhas
de enforcado. A copa é grande e aberta para os lados ou, nalgu-
mas variedades híbridas (veja Um pouco de vocabulário, na página
58), estreita e em forma de coluna. Neste último caso, costuma
ser utilizado como árvore ornamental. O tronco é alto e grosso,
e a casca acinzentada. A madeira é leve e macia e emprega-se no
fabrico de caixas (de fruta, por exemplo) e em artigos domésticos.

• O choupo-branco costuma ser de maior porte do que o choupo-negro.


O tronco é direito e cilíndrico e menos ramificado. Encontra-se com
bastante frequência em parques e jardins. Por vezes é impropria-
mente chamado faia-branca. Gosta de terrenos frescos e húmidos,
quase sempre junto a rios e ribeiros. É uma árvore elegante, ideal
para alinhamentos, tal como algumas variedades de choupo-negro.
A madeira é de melhor qualidade do que a dos outros choupos.

73
TIPOS DE FOLHA

forma

Cordada
ou cordiforme Lanceolada

Sagitada

implatação

Semiamplexicaule

Séssil

margens
(folhas simples)

Inteira

Crenada

folhas compostas
ou pinuladas

Verticilada

Paripinulada

Digitada
Triangular
Linear ou deltoide

Ovada
Elíptica

Decurrente

Peciolada
Invaginante

Fendida Serrilhada

Palmatilobada Lobada

Trifoliada

Recompostas
ou bipinuladas Imparipinulada
A
PORTUGAL NATURAL I

como fazer um herbário de folhas


Organizar um herbário é uma ótima ou a fotografia das folhas).
forma de aprofundar o contacto com Coloque cada folha entre duas
o mundo vegetal. Para os principiantes, camadas de papel de jornal e
o melhor é começar pelo herbário comprima o conjunto entre dois
de folhas, que é o mais simples. cartões, de dimensões idênticas, que
deverá atar cuidadosamente. Depois,
Quando der um passeio numa mata ou coloque esse “embrulho” sob uma
num bosque, aproveite para apanhar pilha de dicionários ou de listas
algumas folhas que tenham caído da telefónicas. Para que as folhas não
árvore há pouco tempo. No outono, apodreçam, deverá mudar o papel de
pode até juntar diversas folhas jornal de tempos a tempos (de duas
de cores diferentes pertencentes em duas semanas, por exemplo).
à mesma espécie.
Quando as folhas estiverem bem
Se já conhecer o nome da árvore secas, mude-as, com cuidado, para
a que a folha pertence, anote-o. um álbum (que constituirá o herbário)
Caso contrário, experimente consultar e fixe-as por meio de pequenas tiras
este guia (ou, de preferência, de papel gomado. Não se esqueça de
um manual de identificação de escrever o nome da planta, bem como
árvores que contenha o desenho a data e o local da recolha.

O ulmeiro: vítima de fungos e insetos


O ulmeiro é uma espécie espontânea em Portugal, que gosta de
solos frescos e profundos. Encontra-se na maioria das vezes junto
a cursos de água, associado a choupos, salgueiros e amieiros.
No entanto, também tem sido utilizado, com frequência, como
espécie ornamental, ao longo de estradas e em ruas e parques.
Distingue-se das outras árvores por as folhas serem assimétricas
na base. Os frutos (sâmaras) são ovais ou arredondados e pos-
suem uma asa larga, que lhes permite voar de uma forma muito
engraçada, aos “trambolhões”. Amadurecem em abril, antes de
aparecerem as folhas.

O ulmeiro é facilmente atacado por fungos parasitas, cuja trans-


missão, associada à de um pequeno coleóptero que escava galerias
no tronco, tem causado a morte de muitas árvores. Felizmente,
o ulmeiro é uma espécie que se reproduz facilmente. As raízes
causam problemas com frequência, porque dão origem a rebentos
que podem levantar a calçada, os muros, etc. A madeira é muito
apreciada em marcenaria.

76
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

O freixo: anúncio
da primavera
O freixo pertence à mesma família das oliveiras
e dos zambujeiros. No entanto, ao contrário do
que acontece com essas duas espécies, as suas
folhas caem no outono. Mas, na primavera, são
das primeiras a surgir. Produz frutos achatados,
pequenos e amarelados, que são denominados
sâmaras, tal como os dos ulmeiros; também pos-
suem uma pequena asa, que facilita a sua dissemi-
nação. A casca do freixo é cinzento-acastanhada
e lisa, mas adquire profundas fissuras quando a
árvore envelhece. O tronco, longo e cilíndrico,
apenas ganha ramos a partir de uma certa altura.

O freixo encontra-se por todo o país, sobretudo em


terrenos húmidos e férteis, perto de cursos de água,
mas também suporta bem terrenos calcários e um
pouco secos. Por vezes é utilizado como espécie
Freixo em flor

SILHUETAS DE INVERNO

Carvalho (silhueta arredondada) Freixo (silhueta triangular)

77
A
PORTUGAL NATURAL I

ornamental nas estradas e nas ruas de vilas e cidades. A madeira


é muito utilizada em marcenaria e também produz boa lenha e
carvão. Finalmente, as folhas podem servir de alimento para o
gado e, para mais, têm propriedades diuréticas e antirreumáticas.
Uma árvore útil, sem dúvida!

A oliveira: símbolo de paz


Quando pensamos nas árvores características do nosso país é difí-
cil não nos lembrarmos da oliveira. É verdade que a sua grande
proliferação por todo o território deve bastante à agricultura, mas
isso apenas mostra a facilidade com que esta planta se adapta
aos solos mais pobres e às condições mais duras. Apenas se dá
mal em zonas de muita humidade e de grande altitude, pois tem
dificuldade em suportar o frio e a geada. Na Estremadura e no
Ribatejo, sobretudo, existem extensos olivais, explorados para a
produção do azeite.

No século passado, em muitos campos, a azeitona, que é o seu


fruto, foi deixada a apodrecer no chão, sem que ninguém se preo-
cupasse em apanhá-la, enquanto alguns lagares foram abandona-
dos ou transformados em casas de habitação, lojas, armazéns e
Cultura intensiva
até discotecas. Além disso, ao longo dos anos, muitas oliveiras,
de olival no Ribatejo

78
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

tal como os carvalhos, foram arrancadas e no seu lugar surgiram


plantações do omnipresente eucalipto. Atualmente, esta cultura
renasceu, não da forma tradicional, mas através das plantações
intensivas com rega do Alqueva.

• A única árvore que se poderia confundir com a oliveira é o zam-


bujeiro, que é um seu parente silvestre. No entanto, produz ramos
com espinhos, e as suas folhas, que têm a mesma forma, são muito
mais pequenas, o mesmo acontecendo com as drupas, ou seja, as
“azeitonas” que produz. Na maioria das vezes, os zambujeiros não
passam de pequenos arbustos, mas por vezes adquirem o porte
de verdadeiras árvores, atingindo oito a dez metros de altura.
Tal como acontece na oliveira, as folhas aguentam-se nos ramos
durante o ano inteiro.

• Desde a Antiguidade que a oliveira é considerada um símbolo


de paz e boa vontade. Existem diversas lendas, algumas de raiz
bíblica, que envolvem a oliveira. Esse simbolismo não se perdeu e
permanece atual, na forma da conhecida pomba branca que leva
no bico um raminho de oliveira…

A figueira: frutos a seu tempo


É célebre a pequena história bíblica em que Jesus, tendo procurado
figos numa figueira e não os tendo encontrado, porque não era tempo
deles, amaldiçoou a árvore, que secou imediatamente. A história
tem um fim pedagógico, como é evidente, mas para que o leitor
não se sinta tentado a amaldiçoar as figueiras que for encontrando,
é conveniente saber que, no nosso país, elas raramente dão figos Figo pronto a
antes de agosto ou setembro. Por ser colhido
isso, não vale a pena procurá-los
antes dessa altura. Mas procure-
-os depois, porque são realmente
saborosos e, além do mais, pos-
suem ótimas qualidades nutritivas
e terapêuticas: são muito ricos
em açúcares e vitaminas A, B e
C; têm propriedades laxantes;
e são bons para quem sofre de
doenças pulmonares. Além disso,
podem ser utilizados no fabrico
de álcool, aguardente e vinhos.

79
A
PORTUGAL NATURAL I

A árvore que produz esta maravilha não costuma ter mais de seis
ou oito metros de altura, mas a copa é bastante ampla e propor-
ciona boas sombras. Encontra-se atualmente em diversas regiões
do país, do Sul ao Norte, mas mostra preferência por ares quentes
e secos e solos húmidos. Tem raízes de tal forma penetrantes que,
por vezes, chega a desenvolver-se, na forma de pequeno arbusto,
sobre terrenos pedregosos e até paredes rochosas ou muros velhos!

O loureiro: árvore do sucesso


Pequena árvore tipicamente mediterrânica e espontânea no nosso
país, o loureiro sempre esteve ligado à “cultura de sucesso”: no
tempo dos romanos, os triunfadores, quer fossem imperadores,
generais ou poetas, eram coroados com folhas de louro. Na Idade
Média, essa distinção estendeu-se aos artistas, sábios e douto-
res, mas as folhas eram acompanhadas pelos frutos. Parece que
daí deriva a palavra “bacharelato” (bacca lauri significa “baga de
Loureiro em flor loureiro”). Os frutos do loureiro são, com efeito,
pequenas bagas verdes e lustrosas, que ficam negras
quando amadurecem. As folhas, que libertam um
aroma muito agradável quando esmagadas, são
utilizadas como tempero em culinária; por isso,
a sua forma em ponta de lança e a sua rijeza são
bem conhecidas.

Os loureiros costumam ter entre cinco e dez


metros de altura e dão-se bem em quase todos
os tipos de terreno. Crescem espontaneamente
em matas, lugares sombrios e margens de rios
no Centro e no Sul do país. Também se cultivam
por todo o território.

A videira: séculos de história


A videira é uma planta trepadora cultivada em todo o país, devido
aos frutos e ao vinho, que se obtém pela fermentação do sumo das
uvas. Pensa-se que é originária do Sudoeste da Ásia, tendo sido
introduzida há muitos séculos no nosso país; há quanto tempo,
ninguém sabe. Apenas se sabe que as nossas variedades cultivadas
derivam, sem qualquer dúvida, de antigas plantas silvestres. Em todo
o mundo, existem cerca de quatro mil variedades de videiras!

80
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

As flores da videira
surgem em cachos,
que dão origem aos
Quando se deixa crescer livremente, o caule da videira pode atingir cachos de uvas
mais de 30 metros. É retorcido e tortuoso, e a casca desprende-se
em compridas tiras. Os ramos (ou vides) são finos e flexíveis, mas
engrossam bastante nos nós. As folhas, palmatilobadas (veja Tipos
de folha, nas páginas 74 e 75), são grandes e muito recortadas.
As flores surgem em cachos, que darão origem, mais tarde, aos
cachos das uvas. Constituídas, na quase totalidade, por água e
açúcar, as uvas são pobres em calorias, mas ricas em vitamina C.
Quando maduras, têm propriedades laxantes. São um dos frutos
mais apreciados nos países mediterrânicos.

O medronheiro: uma boa aguardente


O medronheiro é uma das poucas plantas que florescem entre
outubro e dezembro. Como resiste mal às geadas, dá-se melhor
em zonas onde o clima seja suave. Também prefere solos frescos
e profundos e suporta bem terrenos calcários. Normalmente não
tem mais de cinco metros de altura, mas, em condições excecio-
nais, pode atingir mais de dez. O tronco é revestido de uma casca
castanho-avermelhada, que se destaca da árvore em pequenas
tiras. As flores são brancas ou rosadas, e os frutos, que demoram
um ano a amadurecer, são bagas vermelho-alaranjadas. As folhas
permanecem na árvore o ano inteiro (trata-se de uma espécie de
folha perene) e têm a forma da ponta de uma lança, daí o nome
lanceolada (veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75).

81
A
PORTUGAL NATURAL I

Apesar de os frutos do medro-


nheiro, os medronhos, serem
comestíveis, são poucos os que
os apreciam, pois o sabor é um
pouco amargo. O mesmo não se
pode dizer, porém, da aguardente
que se obtém através da destila-
ção desses frutos e que justifica,
nalgumas regiões do país (serras
de Monchique e Caldeirão, por
exemplo), a exploração comercial
dos medronheiros.
Frutos do medronheiro
O medronheiro pode encontrar-
-se por todo o país, sobretudo no interior de matas ou matagais
serranos. Aparece muitas vezes acompanhando vários carvalhos
(sobreiro e azinheira, por exemplo). É espontâneo em Portugal.

A tramazeira e o mostajeiro
A tramazeira e o mostajeiro são arbustos ou pequenas árvores, mais
frequentes no Norte do país. Surgem quase sempre em serras ou
montanhas. São parentes da sorveira, que é uma espécie cultivada
Sorveira-dos-
(veja a imagem abaixo). Não são exigentes nas condições do solo.
-passarinhos

82
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

• A tramazeira produz flores brancas reunidas em pequenos rama-


lhetes, donde surgem, em setembro ou outubro, pequenas bagas
polposas e vermelhas, de aspeto apetitoso. Infelizmente, o sabor,
um pouco amargo e ácido, é menos agradável do que o aspeto.

• O mostajeiro, mais raro, dá flores e frutos semelhantes aos da


tramazeira. Vê-se com mais frequência nas Beiras e suporta melhor
os terrenos calcários. Pode atingir 25 metros de altura.

O pilriteiro: bom para o coração


A utilização dos pilriteiros nas sebes e nos valados é relativamente
frequente, graças à sua densa ramagem e aos espinhos. Também
existem nas nossas matas, onde podem atingir oito ou dez metros
de altura, enquanto, nas sebes, não costumam ter mais de quatro.

Em abril ou maio, antes que apareçam as folhas, os pilriteiros


ficam resplandecentes, dada a enorme quantidade de pequenos
ramalhetes brancos que, mais tarde, darão origem a cachos de
bagas vermelhas.

A flor do pilriteiro é utilizada, em tisana (chá), como regulariza-


dor do ritmo cardíaco. Também possui propriedades sedativas
Cachos de bagas
do pilriteiro

83
A
PORTUGAL NATURAL I

e constitui um medicamento muito eficaz contra a angústia e a


irritabilidade. A madeira é muito dura.

O azevinho: cuidado no Natal!


As folhas verdes e as bagas vermelhas do azevinho
constituem um dos tradicionais ornamentos das
casas portuguesas, especialmente durante a quadra
do Natal. Infelizmente, a sua colheita desregrada
pôs em perigo de extinção essa planta, outrora
tão abundante no nosso país. Por isso, desde 1989
que é proibido arrancar, cortar, transportar ou
vender os azevinhos que crescem de forma espon-
tânea nas matas ou noutros locais. No entanto,
estas medidas não têm obtido o efeito desejado,
porque a pressão comercial, sobretudo na época
do Natal, continua a ser muito grande. O azevinho
é muito fácil de reconhecer, graças às caracterís-
ticas folhas sempre verdes, duras e espinhosas
e às bagas vermelhas, muito apreciadas pelos
pássaros. Pode atingir entre oito e dez metros
de altura. Atualmente encontra-se, sobretudo,
em zonas montanhosas e húmidas do Centro e do
Norte do país, quase sempre em áreas protegidas.
Vermelho e verde
característicos
do azevinho
Sanguinhos
O sanguinho-de-água e o sanguinho-das-sebes são dois arbustos
pouco vistosos antes da frutificação, relativamente vulgares no Norte
do país. O primeiro aparece, sobretudo, à beira-rio; o segundo,
em sebes, matos e matas. O sanguinho-de-água tem folhas cadu-
cas, e o das sebes, folhas persistentes, mas ambos dão bagas que
passam do verde inicial ao vermelho e, finalmente, ao negro.
Delas se extraem substâncias corantes.

O sabugueiro: que venham os pássaros!


Graças às suas pequenas e inúmeras flores, agrupadas em umbelas
(veja Um pouco de vocabulário, na página 58), e às sumarentas bagas
negras, o sabugueiro é um arbusto de aspeto muito agradável.

84
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Suporta razoavelmente bem a


sombra, mas apenas floresce em
toda a sua magnitude quando tem
sol em abundância. Encontra-se,
sobretudo, em bosques e matas
de terreno fértil, mas também
é muito frequente em sebes e
beiras dos caminhos. Os pássaros
apreciam muito as suas bagas
e, assim, ajudam a espalhar as
sementes.

Outrora, as bagas do sabugueiro


eram utilizadas, por vezes, para
dar cor ao vinho. Parece que tam-
bém têm propriedades terapêu-
ticas, dando bons resultados no
tratamento da diarreia. Bagas negras
do sabugueiro

O folhado: beleza verde e branca


Trata-se de um arbusto, muito ramificado, que se mantém verde
durante o ano inteiro. As folhas fazem lembrar as do loureiro,
e as flores, tal como as do sabugueiro, são brancas e muito peque-
nas, dispondo-se em umbelas. As bagas, quando maduras, são
azul-escuras.

O folhado encontra-se em matas, sobretudo no Norte e no Centro


do país. É muito conhecido por ornamentar, com as suas folhas
sempre verdes e as florinhas brancas, muitos jardins e espaços
ajardinados. Prefere solos leves, mas também cresce bem em locais
pedregosos.

Macieiras e pereiras
Em matas, sebes e valados é possível encontrar variedades silvestres
de algumas árvores de fruto que conhecemos bem dos pomares.

• A macieira-brava, por exemplo, aparece no Norte, em Trás-os-


Montes, no Alto Minho e na serra da Estrela. Atinge, por vezes,
dez metros de altura. Possui ramos espinhosos e produz frutos

85
A
PORTUGAL NATURAL I

verde-amarelados, normalmente mais pequenos do que os das


variedades cultivadas. Essas maçãs costumam ser demasiado ácidas
para comer em cru, mas podem ser utilizadas em doces e compotas.

• As pereiras-bravas aparecem espontaneamente no país inteiro.


É delas que derivam todas as variedades de pereiras cultivadas
nos pomares e nas hortas. No Gerês chegam a atingir uma estatura
considerável. Os ramos são espinhosos, e as peras que produzem
são amargas.

Cerejeiras e ameixoeiras
A cerejeira e a ameixoeira são aparentadas com a cerejeira-silvestre
e a ameixoeira-silvestre. Têm folhas caducas, de margens serrilha-
das, flores brancas e frutos carnudos com um único caroço, cuja
forma é mais ou menos oval.

• A cerejeira-brava é a ancestral das nossas cerejeiras de pomar.


Os frutos
Cresce rapidamente, tornando-se uma árvore de porte considerável
do abrunheiro cuja madeira é bastante apreciada
na indústria do mobiliário. É fácil
de reconhecer e encontra-se com
frequência nas Beiras e em Trás-
-os-Montes, por vezes a alturas
consideráveis.

• O abrunheiro-bravo ou amei-


xoeira-brava é um arbusto es-
pinhoso que cresce nos vala-
dos, na orla dos bosques e nas
matas de terreno fértil. Os frutos,
os abrunhos, são como pequenas
ameixas azul-escuras, de gosto
amargo.

A robínia ou falsa-acácia
A robínia ou falsa-acácia pode atingir 25 metros de altura. Os ramos
têm espinhos, e as flores são brancas, pequenas e perfumadas e
surgem dispostas em cachos de 10 a 20 centímetros de compri-
mento, que são o principal atrativo desta bonita árvore ornamental;

86
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

mais tarde, darão origem a frutos


em forma de vagem.

As árvores mais velhas têm casca


muito rugosa e ramos retorcidos.
A madeira é amarelada, muito
dura e resistente. Importada da
América do Norte nos princípios
do século xvii, esta árvore adap-
tou-se perfeitamente a algumas
regiões. No pinhal de Leiria, por
exemplo, é fácil observá-la, pois Os cachos de flores da
falsa-acácia, principal
tornou-se uma espécie quase atrativo desta planta
infestante, devido à facilidade da sua propagação. Também se ornamental
encontra frequentemente como ornamento de ruas, parques e
jardins, principalmente a norte do Tejo.

O plátano: que belo aspeto!


Os plátanos têm sido muito utilizados como árvo-
res decorativas, sobretudo nas avenidas de vilas
e cidades. São árvores de grande porte (podem
ter mais de 30 metros de altura), de copa ampla.
No verão, dão uma sombra muito agradável.
Uma característica bem típica do plátano é a casca,
que se destaca anualmente em pequenas placas,
ficando o tronco cheio de manchas irregulares
de vários tons. As folhas, que caem no outono,
fazem lembrar, pela sua forma, as folhas da videira
(veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75). Também
são típicos dos plátanos os “ouriços” penugentos
que lembram, embora vagamente, os ouriços dos
castanheiros.

Trata-se de uma espécie introduzida, bastante


cultivada pelo país fora. É mais viçosa quando
se encontra em solos leves e húmidos, em locais
abertos e iluminados. Dá-se bem junto de rios.
A madeira é de boa qualidade. Infelizmente, os fru-
tos, quando se desintegram no inverno, libertam
um pó que irrita as vias respiratórias de muitas Casca característica
pessoas, provocando alergias. dos plátanos

87
A
PORTUGAL NATURAL I

Bordos: os porta-helicópteros
Todas as crianças conhecem os frutos (sâmaras) dos bordos,
pois parecem hélices de helicóptero; isso acontece porque as sâmaras
se encontram unidas em grupos de duas, e cada uma delas tem uma
extremidade alongada (as asas), o que facilita a disseminação. Além
disso, as folhas palmatilobadas do plátano-bastardo também são
familiares, quanto mais não seja porque fazem lembrar a bandeira
do Canadá (veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75).

• O plátano-bastardo vê-se com mais facilidade no Norte do país.


Produz frutos pequenos, cujas asas estão dispostas em ângulo reto ou
agudo. Enquanto jovem, a casca mantém-se lisa. Com o passar dos
Folhas e “hélices”
anos, começa a descamar, como acontece com a casca do plátano.
de um bordo-comum
Trata-se de uma árvore que suporta bem a som-
bra e que pode atingir uma estatura considerá-
vel (30 metros). A madeira é muito procurada
para utilização na indústria de mobiliário. Com
fins ornamentais, o plátano-bastardo também é
frequentemente cultivado em parques, jardins
e arruamentos.

• O bordo-comum vê-se talvez menos e é de porte


mais modesto. Distingue-se do plátano-bastardo
pela disposição das asas das sâmaras, que se encon-
tram, praticamente, no prolongamento uma da
outra. As folhas são mais pequenas do que as do
plátano-bastardo, mas a madeira é mais densa.

• A zelha é a mais pequena das três espécies.


Ao que parece, já só existe na Arrábida, e em
pequeno número.

A tília: uma árvore “calma”…


As tílias são árvores de grande porte, com folhas em forma de
coração e de margens crenadas (veja Tipos de folha, nas páginas 74
e 75). As flores, de cor branco-amarelada ou esverdeada, surgem
suspensas em pequenos grupos. São muito utilizadas em chás.
As suas propriedades medicinais (têm um efeito comprovadamente
calmante) levaram a que as tílias fossem muito apreciadas, o que

88
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

As flores e as folhas
em forma de coração
da tília

explica a sua abundância, apesar de nenhuma das espécies exis-


tentes no nosso país ser espontânea. Os frutos parecem-se com
pequenas avelãs, mas não são comestíveis.

São árvores que dão uma bela sombra e, por isso, enfeitam muitos
arruamentos e jardins. No entanto, tal como o plátano, também
fazem sofrer muitas pessoas, devido às alergias que provocam.

Eucaliptos: mais é demasiado!


Os eucaliptos são árvores de desenvolvimento rápido e têm sido
utilizados, em Portugal e por toda a Europa, como matéria-prima na
produção de pasta de papel. Podem atingir 40 ou 50 metros e conser-
vam as folhas durante o ano inteiro. As flores são branco-amareladas
e cheirosas e dão origem a frutos em forma de cápsula (veja Um pouco
de vocabulário, na página 58) que libertam uma enorme quantidade
de sementes. Toda a árvore exala um odor muito agradável.

Provenientes da Tasmânia, estas espécies foram introduzidas durante


o século xix na Europa, a fim de serem utilizadas no saneamento
de terrenos pantanosos, devido à grande capacidade de drenagem
das suas raízes. Infelizmente, passaram a ser utilizadas para outros
fins, de forma muito abundante, roubando solos com boas poten-
cialidades agrícolas, que, assim, ficam bastante degradados. Essa é
uma das razões pelas quais a exploração desregrada e desordenada
das plantações de eucalipto tem causado tanta polémica no nosso
país. Outra, não menos importante, é a descaracterização da flora

89
A
PORTUGAL NATURAL I

Folhas e ramos caídos


em eucaliptal adulto

nacional provocada pela substituição do que resta das nossas matas


de árvores tradicionais (carvalhos, sobreiros, azinheiras, oliveiras)
por eucaliptos em extensas zonas do país. Nos eucaliptais adultos
apenas se veem folhas e ramos caídos…

E, no entanto, o eucalipto tem qualidades extraordinárias: o seu


aroma atua como repelente para muitos insetos, e as folhas possuem
uma essência denominada “eucaliptol”, que é utilizada em inúme-
ros preparados farmacêuticos. Só que tudo o que é demasiado…

A palmeira-das-vassouras
É a única palmeira espontânea na Europa, encontrando-se por
toda a costa norte mediterrânica, exceto na Riviera francesa.
Normalmente não passa de um pequeno arbusto, como acon-
tece no Algarve, onde assume geralmente uma forma anã, cons-
tituindo pequenas moitas dispersas. Essa é a única região do país
onde a palmeira-das-vassouras surge espontaneamente, em ter-
renos arenosos ou pedregosos e em colinas e barrancos secos e
ensolarados. Em condições mais favoráveis, pode atingir cinco
ou sete metros de altura. As folhas, perenes, fazem lembrar um

90
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

leque pouco denso. O tronco, ou espique, encontra-se coberto, na


maioria das vezes, por fibras e restos de folhas velhas. As flores são
pequenas e amarelas, e os frutos, não comestíveis, são amarelo-
-escuros ou acastanhados.

As resinosas
Os pinheiros: imigrantes de sucesso
Apesar de persistirem dúvidas de que os pinheiros não fazem
parte da vegetação original da nossa região, a verdade é que as
condições do clima e do solo lhes são extremamente propícias,
o que muito contribui para que os pinhais constituam, atualmente,
uma das principais manchas florestais do país.

• Isto aplica-se, sobretudo, ao pinheiro-bravo, que é o mais difun-


dido, ocupando quase sem quebra toda a faixa
litoral do país, do Minho ao Sado. Constitui,
assim, uma das mais típicas constantes da pai-
sagem portuguesa. Uma das razões para isso é
que, graças à sua excecional tolerância (dá-se bem
em quase todo o tipo de solos), esta espécie tem
sido intensamente cultivada no nosso país. A este
facto não é alheia, certamente, a sua importância
económica, já que a madeira do pinheiro-bravo
tem sido amplamente utilizada na construção,
na indústria do papel e na produção de resina.

• O pinheiro-manso também é vulgar e está bastante


espalhado, embora não tanto como o pinheiro-
-bravo. É mais exigente do que este, tanto a nível
dos solos como das condições climáticas. Dá-se
particularmente bem em terrenos soltos, de tipo
arenoso, e prefere as regiões onde não chova muito.
É por isso que é mais fácil encontrá-lo nos areais
pouco húmidos do Sul do país.

O pinheiro-bravo, constante
na faixa litoral portuguesa

91
A
PORTUGAL NATURAL I

nemátode-da-madeira-do-pinheiro
Considerada uma espécie autóctone legislação comunitária como um
da Península Ibérica, o pinheiro-bravo organismo de quarentena, obrigando
ocupa atualmente a terceira posição em à adoção de medidas de controlo e
termos de área florestada em Portugal, erradicação, pelos Estados membros
a seguir ao eucalipto e ao sobreiro. No afectados.
entanto, desde os anos 80 do século
passado que o declínio do pinhal se A doença do NMP é transmitida às
tem vindo a agravar, resultado dos árvores através de um inseto infetado
fogos florestais e da seca, assim como com o nemátode (o longicórnio-
do abandono e da ausência da gestão -do-pinheiro), que se alimenta
florestal e do impacto de várias pragas. dos raminhos novos de pinheiros
Entre elas, destaque para o nemátode- saudáveis. Também o transporte
da-madeira-do-pinheiro (NMP), que de madeira infetada ou albergando
entre 1995 e 2010 contribuiu para a o inseto contribui para a dispersão
redução de 30 por cento da superfície da doença. Uma vez no interior da
de pinhal-bravo. árvore, o NMP conduz à murchidão
do pinheiro, sendo o primeiro sinal
Originário dos EUA e do Canadá e da doença o aparecimento de ramos
introduzido em Portugal em 1999, o secos e o amarelecimento das agulhas,
nemátode tem sido o responsável que murcham e ficam aderentes por
por uma enorme mortalidade de um longo período. Em poucos meses,
pinhal-bravo, consequência da o pinheiro seca e morre.
chamada doença da murchidão dos
pinheiros. Este nemátode é de facto Há outros agentes bióticos que causam
um dos organismos patogénicos prejuízos no pinhal-bravo, sendo
mais lesivos para as coníferas a um dos mais conhecidos a lagarta
nível mundial e foi classificado pela processionária.

A copa do
pinheiro-manso em
forma de guarda-sol

92
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

• Como distinguir um pinheiro-bravo de um


pinheiro-manso? Há duas maneiras práticas e
seguras de o fazer durante todo o ano (porque,
felizmente, se trata de árvores que não perdem
as folhas todos os anos). Uma delas é olhar para
a copa das árvores: a forma da copa do pinheiro-
-manso faz lembrar um guarda-sol; a do pinheiro-
-bravo é piramidal. Outra consiste em examinar
as pinhas, que também são diferentes. As do
pinheiro-manso são maiores e, na árvore, ficam
viradas para cima; as do pinheiro-bravo crescem
viradas para baixo. Ambas produzem pinhões,
mas só os do pinheiro-manso são comestíveis.

Existem outras espécies de pinheiros, menos


comuns no nosso país, como, por exemplo, o
pinheiro-silvestre e o pinheiro-de-alepo.

• O pinheiro-silvestre é oriundo das regiões con-


tinentais da Europa, onde ocupa áreas bastante
vastas. Em Portugal, no entanto, a sua difusão é Flor do
pinheiro-manso
limitada. Distingue-se bem dos outros pinheiros por ter um tronco
de cor avermelhada, folhas azul-acinzentadas e pinhas pequeninas
(três a oito centímetros). Pensa-se que, na serra do Gerês, o pinheiro-
-silvestre seja espontâneo.

• O pinheiro-de-alepo é uma espécie originária da região mediter-


rânica (Alepo é uma cidade situada no Norte da Síria) que tem
conhecido, entre nós, um êxito assinalável na rearborização de
zonas calcárias, como as serras da Arrábida e Candeeiros, o Parque
Florestal de Monsanto, em Lisboa, e algumas zonas do distrito de
Santarém. Distingue-se dos restantes pinheiros por ter a casca do
tronco fina, sem sulcos e de cor entre o cinzento e o prateado,
Além disso, a copa costuma estar carregada de pinhas, que aí
ficam vários anos, mesmo depois de abrirem.

Finalmente, como curiosidade, talvez lhe interesse saber que


as espécies de que aqui falamos, por serem as mais frequen-
tes em Portugal, não passam de uma pequena gota de água no
“oceano” dos pinheiros! Só no hemisfério norte existem mais de
80 espécies diferentes; e, mesmo que não pense fazê-lo, saiba
que até na ilha de Java, na Indonésia, poderia dormir à sombra
de um pinheiro!

93
A
PORTUGAL NATURAL I

Os altivos ciprestes
Apesar de pertencerem, de corpo inteiro, à grande “família” das
coníferas, os ciprestes apresentam algumas características bem
particulares. As folhas são escamosas e cobrem completamente os
ramos; e as pinhas são tão pequenas e peculiares (máximo quatro
centímetros) que, na verdade, nem merecem esse nome, mas sim
o de gálbulas. Têm uma forma
O perfil elegante e mais ou menos esférica — e não
altivo dos ciprestes
cónica, como as dos pinheiros.

O cipreste mais espalhado no


nosso país é indevidamente
chamado cedro-do-buçaco.
Indevidamente, porque é real-
mente um cipreste e não um
cedro; mas isso deve-se ao facto
de por cá ser costume chamar-se
cedros aos ciprestes cuja copa
abre para os lados, como é o caso.
Mas o cipreste mais conhecido e
familiar será, talvez, o cipreste-
-comum ou cipreste-dos-cemitérios,
assim chamado por ser vulgar-
mente encontrado nesses locais.

Apesar de o cipreste-comum não


ser espontâneo (mas o cedro-do-
-buçaco também não é!), a sua
origem mediterrânica assegura-
-lhe o sucesso na maioria dos
nossos solos. Por outro lado, o
seu perfil elegante e altivo, em
forma de chama, tem ajudado
a combater a associação ao
ambiente fúnebre dos cemitérios
e a promover a sua utilização
como árvore ornamental em par-
ques, jardins e arruamentos, por
todo o país. Por vezes também é
utilizado em sebes, como árvore de alinhamento. Em disposição
cerrada, faz densas barreiras que garantem, nos espaços por eles
delimitados, privacidade e proteção contra o vento.

94
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Cedros: não nos confundam!


Os cedros são árvores de grande porte, muito bonitas e decorativas.
Só aparecem espontaneamente na bacia do Mediterrâneo e nas
montanhas do Himalaia. Por cá, apenas as encontramos nos par-
ques e nos jardins botânicos. Certamente não lhe serão estranhos
os nomes de cedro-do-líbano, cedro-do-atlas e cedro-do-buçaco.
A designação deste último, que não é um cedro nem é do Buçaco
(veja Os altivos ciprestes, na página anterior), é fruto de uma certa
confusão entre ciprestes e cedros. Mas a distinção até nem deveria
ser muito difícil, porque existem apenas quatro espécies de cedros
e as suas folhas e pinhas são bastante diferentes das dos ciprestes!

As folhas dos cedros não são escamosas. Têm forma de agulha, como
as dos pinheiros, mas são muito mais pequenas: normalmente,
não têm mais de três centímetros de comprimento. Não cobrem
os ramos, mas dispõem-se ao longo destes, formando pequenos
tufos semelhantes a pincéis.

As pinhas também não são nada parecidas com as gálbulas dos


ciprestes. São grandes (5-12 centímetros de comprimento) e de
forma ovoide. Tal como acontece com as pinhas dos abetos, vão-se
desfazendo aos poucos na árvore quando ficam maduras.

A chave para a distinção está em não ligar apenas ao perfil da


árvore para, apressadamente, lhe chamar cedro, mas, antes, em

Pinha do cedro-
-do-atlas.

95
A
PORTUGAL NATURAL I

reparar em coisas mais minuciosas como, por um lado, a dispo-


sição das folhas e, por outro, o tamanho e a forma das pinhas. Só
o treino poderá levar a que estas (e outras) diferenças se tornem
cada vez mais claras e que a distinção entre ciprestes e cedros
deixe de criar confusões…

Abetos: as outras árvores de Natal…


Longe de terem, entre nós, a difusão que faz deles uma das espé-
As pinhas dos abetos
caem aos pedaços
cies mais comuns noutras regiões da Europa, os abetos podem,
quando amadurecem mesmo assim, encontrar-se com alguma frequên-
cia no nosso país, sobretudo em parques e jar-
dins. O mais conhecido é talvez o abeto-branco,
espécie de grande porte que pode atingir, em
condições ideais, 60 metros de altura! As folhas
são mais curtas e menos aguçadas do que as dos
pinheiros. As pinhas, que podem atingir 15 centí-
metros de comprimento, são eretas e vão caindo
aos pedaços quando amadurecem, de forma que
é difícil encontrar uma pinha inteira debaixo de
um abeto-branco.

As árvores de Natal dos países do Norte da Europa


são os abetos e os falsos abetos (também cha-
mados píceas ou espruces) jovens, como o abeto-
-branco (um abeto) e o abeto-do-norte (um falso
abeto). O habitat natural destas coníferas situa-se,
sobretudo, nas regiões frias da Europa do Norte
e Central, mas também se encontra nas monta-
nhas do Sul da Europa.

O zimbro: pinhas muito especiais…


Dizem os compêndios de Botânica que as árvores resinosas se
caracterizam, entre outras coisas, por possuírem pinhas. Os zim-
bros não fogem a esta regra, mas as suas pinhas são um bocado
excêntricas, pois parecem-se com bagas. Estas “bagas” são, na
verdade, gálbulas — como as pinhas dos ciprestes —, mas, ao con-
trário destas, são carnudas. Todos são arbustos, embora possam
ter, por vezes, um porte mais elevado e atingir a dimensão de
pequenas árvores.

96
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Zimbros em terreno
pedregoso
Os zimbros mais familiares são o oxicedro ou cedro-de-espanha, que
tem gálbulas vermelhas e se vê por todo o país; a sabina-da-praia,
vulgar nas areias do litoral, de gálbulas também avermelhadas;
e, finalmente, o zimbro-comum, que é mais frequente no Norte.
As suas “bagas”, de cor negro-azulada, são utilizadas, quando
maduras, para dar gosto a algumas bebidas, como a genebra e o
gin, e como condimento na preparação de algumas especialidades
culinárias, como, por exemplo, a choucroute.

Nas zonas de grande altitude, o zimbro-comum transforma-se numa


pequena moita, com o tronco e os ramos deitados no chão. Aparece
muitas vezes ligado ao pinheiro-silvestre. Adapta-se facilmente
a qualquer tipo de terreno e resiste bem ao frio.

O teixo: atenção, veneno!


O teixo é uma conífera de montanha, onde, contudo, já é muito
raro. Também é muito cultivado, para fins decorativos. É uma
árvore de grande beleza: ao contrário de muitas outras coníferas,
o teixo na verdade não apresenta as suas sementes num cone ou
numa pinha. Em vez disso, cada semente cresce sozinha na ponta
de um pequeno ramo, encerrada numa cúpula carnuda vermelha

97
A
PORTUGAL NATURAL I

(o arilo), que é aberta na ponta. As folhas sem-


pre verdes contrastam com estes falsos frutos
vermelhos e vistosos.

Contudo, convém não se deixar enganar pelo


aspeto. O teixo é uma árvore perigosa, pois as
folhas, os rebentos, a casca e a semente são vene-
nosos, tanto para os homens como para os animais!
Mas, como o teixo é uma árvore de contrastes, a
parte carnuda e vermelha que cobre a semente
é, curiosamente, doce e comestível, permitindo
assim a dispersão da parte interior pelos animais.
O crescimento dos teixos é lento e, em certas
regiões, não é raro encontrar espécimes com mais
de 500 anos. Pode suportar ambientes onde haja
muita sombra, mas, nesse caso, cresce ainda mais
lentamente.
Os rebentos, a casca
e a semente do teixo
são venenosos

Se quiser saber mais


Onde ir?
Para aprender a conhecer e a distinguir as diferentes espécies de
árvores e arbustos, o melhor é… passear! Sobretudo nos bosques
e matas, está claro, mas convém ter em conta que até um simples
jardim de bairro lhe pode reservar algumas surpresas interessantes.
Para quem habite próximo dos principais centros urbanos, os jardins
botânicos e as estufas podem revelar-se autênticos tesouros, pois
aí poderá encontrar muitas espécies diferentes, por vezes até eti-
quetadas! Caso contrário, procure documentar-se, adquirindo um
guia das espécies cultivadas nesses locais. Para os seus passeios
nos bosques e matas, é aconselhável munir-se de um bom guia
de identificação. Nesse caso, porém, convém preparar-se para
páginas e páginas de linguagem botânica… Veja também os livros
que aconselhamos nas páginas 214 e 215.

98
A
AS ÁRVORES E OS ARBUSTOS

Tenha em conta que…


• A melhor forma de começar a conhecer uma árvore e de poder
distingui-la de outras é estudar atentamente a sua folhagem.
Isso é mais fácil de fazer no final da primavera e no verão, porque,
nessa altura, todas as árvores têm folhas; mas, no outono, também
pode recorrer às folhas mortas que se encontram caídas junto às
árvores. No inverno, preste atenção, sobretudo, ao aspeto da casca
e do tronco.

• Seja desconfiado quando tentar identificar uma árvore pela


silhueta. Os casos em que a confusão é impossível são raros e,
mesmo assim, só as árvores isoladas são facilmente identificáveis.

• A proximidade de outras árvores, de muros, de casas, de cons-


truções diversas dificulta bastante a perceção do aspeto geral da
árvore.

99
CAPÍTULO 4
As pequenas plantas
e flores silvestres
A
PORTUGAL NATURAL I

No capítulo anterior descrevemos um conjunto de árvores e


arbustos que podemos encontrar no nosso país. Não ligámos às
plantas mais pequenas, porque lhes havíamos destinado um capí-
tulo inteirinho, uma vez que são totalmente merecedoras de um
tratamento especial…

Nessas plantas “mais pequenas” incluímos as herbáceas, a que,


despreocupadamente, chamaremos ervas; e outras plantas que
se encontram a meio caminho entre as herbáceas e as lenhosas —
que não são propriamente arbustos, mas também não são ervas
(alguns chamam-lhes subarbustos). Mas também não podíamos
deixar de fora alguns arbustos de flores bonitas e vistosas, que,
por isso mesmo, toda a gente vê mais como flores silvestres do que
como arbustos.

Como a nossa flora é composta por alguns milhares de espécies


diferentes, a seleção, no âmbito de um livro como este, não
foi nada fácil. Por isso, não estranhe se ela lhe parecer uma
miscelânea um pouco incongruente. A verdade é que, acima de
tudo, procurámos que este pequeno passeio de descoberta não
se transformasse numa viagem enfadonha; por isso, preferimos
falar das espécies mais úteis e/ou interessantes, ao invés de nos
perdermos em excessivas e maçadoras descrições que pouco
significariam para o leitor… O que não quer dizer que, de vez em
quando, não nos detenhamos um pouco mais nos aspetos parti-
culares de uma ou outra planta, a fim de o ajudar a reconhecê-la
com mais facilidade.

Fetos, musgos e líquenes


Fetos, musgos e líquenes são bastante diferentes entre si, mas
possuem uma característica comum muito importante: conseguem
instalar-se em locais agrestes e inóspitos, onde poucas plantas com
flor podem sobreviver, transformando-os, com o tempo, em lugares
“habitáveis” por estas. São, por isso, verdadeiros conquistadores
e pioneiros (veja A evolução natural, no capítulo 1, página 10).

Estes representantes da vegetação pioneira podem encontrar-se


em sítios tão banais como muros, fachada de edifícios, estátuas,
troncos e ramos de árvores e telhados… mas também na terra,
como qualquer outra planta.
Na página anterior: campo de papoilas na primavera

102
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

• Antes de mais, convém pôr os pontos nos is: os líquenes não são
flores silvestres e, na verdade, nem sequer são plantas. São só,
digamos, “meias plantas”. Na realidade, não são um, mas sim dois
organismos, ligados entre si de certa maneira: uma alga e um fungo,
que vivem conjuntamente numa relação de mútuo benefício, a
que se chama simbiose (veja Como se alimentam?, nas páginas 164
e 165). Mesmo assim, resolvemos falar deles, porque, quando são
verdes, passam por plantas aos olhos de muita gente; e, quando
não o são, dão nas vistas na mesma. Já alguma vez reparou, por
exemplo, numas pequenas manchas vermelho-alaranjadas a fazerem-
-se notar, irreverentemente, sobre rochas, troncos de árvores ou
telhados? Às vezes, estão de tal maneira agarradas às rochas que
até parecem fazer parte delas…

Nenhuma planta se compara


aos líquenes na capacidade de
explorar ambientes agrestes e
de suportar condições de secura
extrema e prolongada. Nem
mesmo os musgos ou os fetos.
Basta pensar, por exemplo, na
tundra, uma grande região desa-
bitada que rodeia o Polo Norte
e onde os líquenes são quase
os únicos “vegetais” existentes,
cobrindo vastas extensões de solo
gelado. Quando os líquenes se
fixam na rocha nua, retêm a água
que sobre ela escorre e ali ficam,
ao sabor da intempérie. Tal como Líquenes fixos
na rocha nua
acontece com os musgos e os
fetos, deixam, quando morrem, condições — restos orgânicos e
inorgânicos — que permitem que algumas pequenas plantas aí se
estabeleçam. Além disso, pela sua simples presença, são preciosos
indicadores da qualidade de um determinado ambiente. Por isso
são usados, por exemplo, para aferir a qualidade do ar nas cidades.

• Por sua vez, os fetos e os musgos são plantas, mas não têm flor
e por isso são considerados menos evoluídos do que as plantas
com flor. Ambos se reproduzem por esporos e não através de
sementes. No entanto, os musgos são ainda menos evoluídos do
que os fetos, porque nem sequer possuem verdadeiros canais
condutores de seiva.

103
A
PORTUGAL NATURAL I

• Os musgos são plantas muito pequenas e de cor verde, que, quando
cobrem o chão, nos proporcionam, sempre que os pisamos, uma
agradável sensação de macieza. Uma vez instalados sobre um suporte,
vão tecendo pouco a pouco uma espécie de tapete macio, que se
Musgo ensopa com a água da chuva e
com o orvalho, como se de uma
esponja se tratasse. No tamanho,
são comparáveis aos líquenes,
mas estes têm cores e formas
muito mais variadas e imprevi-
síveis. Seja como for, todos nós
estamos mais ou menos familia-
rizados com os musgos, quanto
mais não seja devido às antigas
tradições natalícias. Durante
muito tempo, o musgo foi um
elemento imprescindível no chão
dos nossos presépios de Natal.

• Os fetos têm folhas muito


peculiares, normalmente muito
recortadas, a que se dá o nome
de frondes. Os esporos são gerados
nuns pequenos recetáculos, de
forma mais ou menos redonda,
que podemos encontrar na parte
inferior das folhas. Esses recetá-
culos recebem o nome de soros.
Os fetos apenas se dão bem em
ambientes húmidos e sombrios.
Pormenor da folha de Evocam, por isso, locais calmos e
um feto. Os pontos
escuros são os soros
bucólicos, apelativos ao romance
e à inspiração artística. Os fetos são plantas vivazes (veja Um pouco
de vocabulário, na página 112) com dimensões muito variáveis,
quase todos herbáceos, mas ainda existem alguns sobreviventes
de porte arbóreo que resistiram ao passar de muitos milhões de
anos… A serra de Sintra, por exemplo, goza de grande reputação
nacional e internacional, graças à coleção de fetos arbóreos que se
encontra, sobretudo, nos Parques de Monserrate e da Pena.

• Um feto muito nosso conhecido é o feto-dos-morangos (também


chamado feto-ordinário e feto-fêmea-das-boticas). As frondes são
muito utilizadas para acondicionar as pequenas caixas de morangos

104
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

para venda e daí o seu nome. Às vezes forma


grandes aglomerados, que chamamos fetais ou
feteiras, em terras devastadas por um incêndio
ou na sequência de uma queimada. Este feto é,
aliás, um pioneiro típico de todos os locais devas-
tados pelo fogo.

• O feto-macho ou dentebrura aparece frequente-


mente nos carvalhais e tem um porte vigoroso.
O seu desenvolvimento, dos tenros rebentos pri-
maveris às frondes majestosas com mais de um
metro de altura, processa-se em poucas semanas. O
rizoma acastanhado deste feto é utilizado, desde a
Antiguidade, como antiparasitário. Ao que parece,
contém uma substância que exerce um efeito tóxico
e paralisante sobre a ténia (vulgarmente conhecida
como bicha-solitária), facilitando a sua expulsão.
Curiosamente, as denominações “feto-macho” e
“feto-fêmea” nada têm que ver com o sexo des-
tas plantas: trata-se, simplesmente, de espécies Frondes jovens do
feto-morangueiro
diferentes. A que se devem, então, esses termos?
Não se sabe muito bem; certo é que eles fazem parte, inclusive,
da própria denominação científica destas plantas…

Ervas e flores dos campos


Escudados neste título, poderíamos referir uma multidão quase
infinita de plantas. Por isso, quando falamos de ervas e de flores
dos campos, é importante definir de que campos estamos a falar.

Além dos campos utilizados para fins agrícolas, há ainda os de


pousio, os de cultivo abandonados, os terrenos de pastagem…
Enfim, todos os terrenos mais ou menos extensos que se encontram
cobertos de ervas e de flores. Mas os matos e os matagais não são
considerados aqui como campos, mesmo quando estão repletos
de flores silvestres. É que os protagonistas, nesses cenários, são
sempre as plantas que anteriormente definimos como subarbustos
e os arbustos.

Um dos tipos de plantas que associamos imediatamente aos cam-


pos são, sem sombra de dúvida, as plantas herbáceas e as ervas,

105
A
PORTUGAL NATURAL I

algumas das quais podem ser ervas daninhas.


Se esses campos se mantêm como tal, é porque
um pouco de algo importante neles acontece que impede a sua
vocabulário evolução natural para uma vegetação de maior
bienal: planta que leva dois anos porte (veja o capítulo 1, nas páginas 10 e seguintes).
a cumprir o seu ciclo de vida.
A floração dá-se apenas no Esse acontecimento pode ser, por exemplo,
segundo ano. o pastoreio de gado ou a ceifa periódica efetuada
cálice: conjunto das sépalas pelo homem. Se essa periodicidade não se veri-
(peças florais externas) de uma ficar, acumular-se-ão restos de plantas mortas,
flor, as quais são, em geral, que acabarão por criar um terreno favorável ao
verdes e de consistência herbácea. desenvolvimento de plantas lenhosas: subarbustos,
capítulo: inflorescência em que as arbustos e árvores. Com o tempo, estes crescem
flores (que geralmente são sésseis e criam um ambiente de sombra, onde as plantas
— sem pecíolo, pedúnculo, pé ou
que inicialmente o colonizaram não conseguirão
suporte) se encontram inseridas
umas ao lado das outras num sobreviver. Ou seja, como explicámos no primeiro
recetáculo achatado, formando capítulo, a natureza retomará os seus direitos,
um grande aglomerado que parece e os campos de ervas e flores deixarão de o ser,
uma só flor. dando lugar a matagais, que mais tarde serão
corola: conjunto das pétalas substituídos por matas.
de uma flor.
espontânea: planta não
“importada”, originária da região Toda uma vida num só ano…
em que se encontra e onde vive
há muitas gerações. É sinónimo A maioria das plantas herbáceas ou são plantas
de nativa ou indígena e opõe-se
vivazes, com partes subterrâneas capazes de asse-
a exótica ou introduzida.
gurar a persistência da planta na terra quando a
estilete: parte mais ou menos parte aérea desaparece; ou plantas anuais, cujas
delgada do pistilo (ou carpelo),
sementes amadurecem e se disseminam antes de
entre o ovário e o estigma.
aquelas serem ceifadas pelo homem ou comidas
fitoterapia: cura através pelo gado.
das plantas.
gavinhas: extremidade de folhas ou É isso que lhes permite voltar à vida na primavera
de ramos que se transformam em seguinte, como se nada tivesse acontecido.
estruturas filamentosas capazes
de se enrolar em hélice, podendo
fixar as plantas a suportes. No fundo, estas ervas têm um papel pioneiro, tal
como os fetos, os musgos e os líquenes, com a
habitat: local onde vive uma
determinada espécie animal ou diferença de “desbravarem”, preferencialmente,
vegetal. Cada espécie tem o seu ambientes diferentes: umas colonizam terras nuas;
habitat próprio. outras, rochas e troncos.
herbácea: planta de caule tenro,
não lenhoso. De consistência • Se pensarmos no colorido das flores, dividi-
não ou pouco lenhosa e verde. remos as ervas em gramíneas e não gramíneas.

106
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

Dentro das características que distinguem as gra-


míneas das outras plantas, são muito óbvias as
suas flores desconsoladas, desprovidas de cores
vivas e, por isso, pouco atraentes para os insetos.

O vento é o agente polinizador e transportador


das suas sementes, que são bastante leves.

Mas, mesmo não sendo atraentes, as gramíneas


não deixam de ser importantes para nós.

São gramíneas, por exemplo, todos os cereais que


cultivamos, as forragens, a cana-de-açúcar e a
relva. Isso significa que o trigo, a aveia, o centeio,
a cevada, o arroz e o milho são gramíneas, o que
mostra a utilidade deste tipo de plantas.

Outras, sendo aparentemente pouco úteis, são,


no entanto, bem conhecidas do nosso povo, que
não tardou em batizá-las, muitas vezes com nomes
muito curiosos: baracejo, talha-dente, rabo-de-zorra-
-macio, linho-de-raposa, estorno, erva-lanar, bole- O bole-bole,
uma gramínea
-bole, panasco, cervum, joio… bem conhecida

“separar o trigo do joio”


Em períodos de escassez de trigo, o joio foi usado para fazer pão.
Curiosamente, as pessoas que comiam pão de joio ficavam, por
vezes, como que embriagadas, algo delirantes, e não se percebia
porquê. Só nas primeiras décadas do século passado se descobriu
que havia um fungo que parasitava algumas espigas de joio e que os
grãos delas provenientes continham uma substância alucinogénica
parecida com o LSD…

• Um exemplo de uma paisagem regional típica


dominada por uma gramínea é o cervunal, que
predomina nas grandes pastagens de rebanhos
da serra da Estrela. O joio, por sua vez, é uma
gramínea anual cujos grãos foram usados, em
tempos difíceis, para fazer pão (veja a caixa acima).
O estorno é uma gramínea muito importante nas
dunas, sendo responsável pela fixação das areias

107
A
PORTUGAL NATURAL I

Estorno, espécie
edificadora das dunas
primárias

e a formação das dunas, sendo por isso conside-


rada a espécie pioneira e edificadora das dunas
primárias (veja a página 187).

• Quanto às não-gramíneas, é mais fácil apelar à


memória visual para as distinguir entre si, já que
as suas cores são, por vezes, bastante caracterís-
ticas. Por exemplo, o azul suave dos fidalguinhos
ou loios-dos-jardins (uma planta bienal) é bastante
comum nos campos de trigo. Parecem pequenas
manchas azuis, surgindo frequentemente associa-
das ao vermelho-flamejante das papoilas. Estas
escapam ao apetite devorador dos animais, por
terem um suco leitoso e amargo. Além disso,
como são mais flexíveis do que os fidalguinhos,
também se adaptaram aos campos abandonados
e às bermas das estradas.

• A camomila é um caso semelhante ao da papoila.


Flores em capítulo Originalmente uma daninha dos campos, acabou
do fidalguinho
por se adaptar a outras paragens. É uma erva de
aroma agradável e de apreciadas qualidades terapêuticas. Usa-se,
sobretudo, em fitoterapia infantil, como anti-inflamatório e desin-
fetante. Possui pétalas brancas à volta de um tufo central de flores
amarelas, como as margaridas e os malmequeres.

108
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

Campo em flor
com camomila

“mal-me-quer, bem-me-quer”
Um costume muito popular que hoje parece um
bocado esquecido é o do “mal-me-quer, bem-me-
-quer”. Crianças e adultos enamorados desfolhavam,
pétala a pétala, aquelas flores amarelas no centro e
brancas à volta que, desde pequeninas, aprendiam
a chamar malmequeres. Pela última pétala se
“depreendia” se o amor era ou não correspondido.
Contudo, na realidade, um malmequer não é uma
flor, mas sim um conjunto de flores (veja “capítulo”,
em Um pouco de vocabulário, na página 106).

• Algumas destas flores dos campos produzem, tal


como as ervilheiras e os feijoeiros, frutos em forma de
vagens. É o caso dos trevos, que, no entanto, são mais
conhecidos pela forma especial das suas folhas, que
se encontram divididas em três folhas mais pequenas
(ou folíolos). Por isso se diz que são folhas trifoliadas.
Como se sabe, encontrar um trevo de quatro folhas
é sinal de sorte, por ser uma raridade…

• As ervilhas-de-cheiro e as ervilhacas têm flores típicas


de cor rosada ou violácea e gavinhas na extremidade Flores violáceas
da ervilhaca
do caule e das folhas, que lhes permite agarrarem-se
às plantas que as rodeiam.

109
A
PORTUGAL NATURAL I

ervas daninhas e pragas


As ervas daninhas e as pragas são, foi crescendo, crescendo… Não há
muitas vezes, plantas que vieram dúvida de que o tapete é bonito, mas
de fora. Mas também as plantas muitas plantas espontâneas são assim
nativas podem tornar-se daninhas impedidas de crescer…
quando proliferam e atrapalham o
esforço humano, por exemplo nas O jacinto-de-água é outra planta que
culturas (onde exigem o trabalho se espalhou pelas regiões tropicais
adicional de as expulsar); ou onde e subtropicais de todo o mundo, a
são visíveis grandes alterações ponto de não se saber ao certo qual
do meio ambiente, resultantes de a sua origem. No século xix já existia
ações humanas: entulhos, beiras nos jardins botânicos da Europa,
de caminhos, jardins e ajardinados, certamente devido às flores lilases
etc. As plantas que se encontram e a outras características exóticas.
nesses locais são chamadas ruderais. No nosso país, a sua presença
As pragas são um caso extremo, foi assinalada pela primeira vez
são espécies invasoras com uma nos anos 30 do século passado.
grande capacidade de colonização Hoje, é vulgar no Tejo e em zonas
e ocupação do espaço. Qualquer húmidas adjacentes. Forma tapetes
daninha é, em princípio, uma praga em intermináveis à superfície da água,
potência. que criam a ilusão de se tratar de terra
firme. Não se consegue penetrar no
Um dos melhores exemplos de pragas espaço coberto pelo tapete; impede a
é o chorão, invasor das areias do litoral. luz de chegar ao interior das águas e,
Como tem flores grandes, cheirosas em consequência, o desenvolvimento
e vistosas, terá começado por ser das plantas verdes submersas;
utilizado como ornamento de jardins. dificulta a entrada de oxigénio na
Depois, alguém terá tido a ideia de o água, comprometendo a respiração
plantar num local com areia e o tapete dos animais e plantas aquáticas.

Tapete formado por jacintos-de-água

110
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

• O amor-perfeito-bravo ou erva-da-trindade pode ter flores brancas,


amarelas ou violetas ou mistura destas três cores. Daí provém o
apropriado nome botânico de Viola tricolor. Floresce no verão,
juntamente com os cereais, mas pode voltar a florescer e a frutificar
várias vezes depois das colheitas.

• A bolsa-de-pastor reconhece-se facilmente, graças aos pequenos


frutos em forma de coração que se dispõem na porção cimeira do
caule. Esta erva daninha de flores brancas é uma imigrante originária
da América do Norte, que se foi disseminando um pouco por todo
o lado (veja a caixa Ervas daninhas e pragas, na página anterior).

À espera de que o tempo passe…


Quase todas as plantas de que falámos até agora são anuais, o que
significa que completam o seu ciclo de vida no decorrer de um
ano: as sementes germinam, a planta cresce, floresce e frutifica,
formando novas sementes; depois, a planta morre, e só as semen-
tes sobrevivem. Essas plantas estão particularmente preparadas
para vingar nos solos trabalhados pelo homem, como os jardins
e os campos de cultivo. Mas, mal o solo deixa de ser trabalhado,
desaparecem rapidamente, porque não resistem à concorrência das
plantas vivazes, pois estas enraízam-se e ocupam o solo de forma
permanente.

• É o caso da urtiga-maior ou urtigão, a única das nossas urti-


Os pelos das urtigas,
gas que é vivaz. São poucos os que não aprenderam a conhecê- responsáveis pela
-la desde a infância, muitas irritação da pele
vezes à custa de um primeiro
contacto pouco encorajador.
O formigueiro irritante que os
pelos das suas folhas causam
em todas as partes do corpo em
que tocam é difícil de esquecer.
Por isso, depois dessa primeira
experiência “traumática”, todos
aprendemos a evitar esta planta
de folhas peludas em forma de
coração, que pode atingir um
metro de altura e surge em quase
todo o tipo de ambientes, desde
quintais e entulhos a orlas de

111
A
PORTUGAL NATURAL I

bosques e margens de cursos de água. E, no


um pouco de entanto, trata-se de uma planta cujas virtudes
vocabulário curativas têm sido louvadas desde a Antiguidade.
Só para ter uma ideia, referimos apenas que as
lenhosa: planta de caule duro
urtigas são aconselhadas, entre outras coisas,
e consistente (que tem a
consistência da madeira). para o tratamento de doenças como a ciática,
a diabetes, a leucorreia e a urticária.
nós: pontos do caule onde
as folhas se inserem.
• A artemísia é também um bom exemplo de planta
pétala: cada uma das unidades que vivaz que gosta de terrenos férteis. Atinge cerca de
compõem a corola de uma flor,
um metro de altura e floresce discretamente; as
geralmente coradas ou brancas;
podem encontrar-se parcialmente flores são pequenas e amareladas. Tem a reputação
ou totalmente fundidas. de ser útil no tratamento de insónias e de doen-
perianto: conjunto formado pelo
ças ginecológicas. É uma das plantas medicinais
cálice e pela corola (veja estes mais antigas do mundo. Quando esfregada, liberta
termos na página 106) e que rodeia um aroma de especiaria. Também é utilizada nas
os órgãos sexuais da flor. zonas rurais para proteger os animais, já que,
pioneira: primeira planta a colonizar pendurada nos estábulos, atrai as moscas.
um terreno ou outro substrato sem
qualquer tipo de vegetação. • O tanaceto ou atanásia pertence à mesma família
rizoma: tipo de caule subterrâneo, da artemísia e atinge mais ou menos a mesma
com aspeto de raiz, que armazena altura. As folhas são verde-escuras e fazem lembrar
reservas nutritivas e a partir do as dos fetos.
qual se originam raízes e novos
caules.
O caule termina com um ramalhete de flores
ruderal: vegetação ou planta que amarelas. Antigamente, era utilizada, depois de
vive em meios resultantes da
seca, para afugentar alguns insetos do interior das
perturbação humana (escombros,
entulhos, estrumeiras, etc.), casas. No entanto, esse uso tem os seus riscos,
caracterizados por elevada já que se trata de uma planta venenosa.
percentagem de azoto no solo.
sépalas: folhas modificadas, quase • Ainda não falámos das umbelíferas, que são uma
sempre verdes, que revestem a família de plantas perfeitamente típicas, muitas delas
flor e que formam o cálice. bastante vulgares nos nossos campos. As flores deste
umbela: tipo de inflorescência em tipo de plantas, geralmente brancas, encontram-
que as flores crescem sobre pés -se, como o nome indica, agrupadas em umbelas
diferentes, mas partindo todas (veja Um pouco de vocabulário, à esquerda): os pés
do mesmo ponto, como as varetas das flores fazem lembrar varetas de guarda-chuva,
de um guarda-chuva.
pois partem todos do mesmo ponto.
vivaz: planta que vive mais
de dois anos (por oposição às O canabrás ou esfondílio é um bom exemplo. É muito
anuais e bienais), subsistindo
por intermédio de órgãos
fácil de identificar, graças às suas florzinhas brancas
subterrâneos, como os bolbos que encimam caules verdes, viçosos e cobertos
e os rizomas. de pelos. As flores, que, como dissemos, formam

112
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

O canabrás,
um bom exemplo da
inflorescência de uma
umbelas, surgem no verão e atraem muitos insetos, sobretudo planta umbelífera
escaravelhos. As folhas são grandes e têm a forma de uma pata
de urso, o que lhe valeu a atribuição de outro nome por que é
conhecida, o de branca-ursina.

• A milfurada, famosa pelo seu uso em medicina popular (produz


efeitos sedativos e anti-inflamatórios, entre outros), costuma
encontrar-se também em sebes e à beira dos caminhos. Quando
não está em flor, também se pode identificar graças às suas folhas,
pequenas e sésseis (veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75), pois
estas deixam aparecer pequenas manchas translúcidas quando
observadas a contraluz. As flores são amarelas e dispõem-se não
muito densamente no cimo do caule.

• O labaçol é um parente das azedas, cujo sabor não é ácido, mas muito
amargo. Tem alguma preferência pelos terrenos húmidos e surge
frequentemente em pastagens e junto aos caminhos. As folhas
são grandes e oblongas (veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75).
São comestíveis, normalmente em salada ou cozidas.

Além disso, também possuem propriedades medicinais


(tónicas e depurativas, entre outras).

113
A
PORTUGAL NATURAL I

• Os dentes-de-leão são extremamente frequentes nos nossos cam-


pos. São célebres pelas suas “bolas” redondas e translúcidas, que
se formam a seguir à floração e constituem os frutos. Muitas vezes,
quando sopra um vento de final de primavera um pouco mais
forte, veem-se pequenos “paraquedas” brancos a voar nos campos:
são as sementes do dente-de-leão, que se soltam da referida bola
branca e partem ao sabor do vento, “à procura” de um terreno
adequado onde possam, mais tarde, germinar.

“o teu pai é careca?”


As crianças gostam de correr
atrás das sementes dos dentes-
-de-leão, que se soltam no ar,
por ação do vento. É também
costume soprarem nas bolas ainda
intactas da planta, para as ver voar,
após dizerem a frase: “O teu pai é
careca?”

A célebre bola redonda


do dente-de-leão

Entre a luz e a sombra…


A meio caminho entre os campos e as zonas de arvoredo mais ou
menos denso existem alguns locais (sebes, valados, bermas de
alguns caminhos, orlas de matas e bosques) onde luz e sombra
se entrecruzam; aí podemos encontrar com mais frequência um
certo tipo de plantas que gostam de um pouco mais de sombra e
humidade do que as dos campos.

• A dedaleira é um bom exemplo. É uma espécie bienal, que só


dá flor no segundo ano de vida. O caule é viçoso e alto. No topo
desse caule solitário surge, entre junho e setembro, um cacho de
flores de cor rosa-púrpura em forma de campânula. Medem três
a cinco centímetros e são uma alegria para quem passa. As crian-
ças, sobretudo, gostam de brincar com essas flores, colhendo-as
por vezes e provocando estalidos ao fazê-las rebentar na mão ou
noutra parte do corpo (na cabeça de um colega, por exemplo).
Nalgumas zonas do país, esse facto levou a que estas plantas

114
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

recebessem o curioso nome de batitestas. Mas, além de estas


brincadeiras não serem muito “saudáveis” para as plantas, tam-
bém é preciso ter cuidado, pois elas têm tanto de bonito como
de venenoso. Sobretudo, nunca se devem levar as flores à boca.
A dedaleira é também muito conhecida pela digitalina (Digitalis
purpurea), uma substância utilizada em medicamentos para a
insuficiência cardíaca.

• A pervinca é uma planta originária das regiões mediterrânicas que


costuma formar, no solo, tapetes sempre verdes, pois mantém as
folhas durante todo o ano e possui caules rastejantes que ganham
raízes com facilidade. Quando o inverno é suave, as flores, de
cor lilás, surgem logo em fevereiro. Têm sempre cinco pétalas e
cinco sépalas e surgem isoladas umas das outras. Toda a planta é
venenosa, tal como a dedaleira.

• A erva-de-são-roberto é muito conhecida, graças às suas celebra-


das propriedades terapêuticas (os ervanários aconselham-na para
o tratamento de aftas, anginas, diabetes, diarreias, hemorragias,
etc.). As flores, formadas por cinco pétalas de um rosa muito vivo
ou com um tom ligeiramente violeta, distinguem-se facilmente no
meio das folhas verde-claras, bordejadas, muitas vezes, a vermelho.
O caule também é avermelhado. É uma planta baixa, que raramente
tem mais de 40 centímetros de altura.

Flores em campânula Frutos e flores


da dedaleira Pervinca em flor da erva-de-são-roberto

115
A
PORTUGAL NATURAL I

• As violetas, por vezes também chamadas violetas-


-de-cheiro, são, entre as diversas espécies de violeta
existentes, as que possuem o aroma mais delicado.
Na Antiguidade eram utilizadas em coroas entran-
çadas, para ajudar a curar as ressacas, e delas
também se extraía um perfume muito agradável.
São fáceis de reconhecer, graças às suas flores de
cor violeta e às folhas em forma de coração de um
verde muito vivo. As flores surgem na primavera.
A planta raramente tem mais de 15 centímetros
de altura.

• Semelhante, à primeira vista, ao lírio roxo que


se pode encontrar nos jardins, o lírío-fétido dis-
tingue-se deste porque as suas flores são lilases
e raiadas de amarelo.

O seu nome provém do facto de libertar um cheiro


As flores da violeta desagradável quando esfregado. É frequente em
todo o país, mostrando, contudo, uma grande
preferência pelos locais húmidos e sombrios.
Jarro-do-campo
•  Se conhece os jarros dos jardins, também não
terá dificuldade em reconhecer os jarros-do-
-campo. Estes encontram-se em sebes, bosques
e até em terras cultivadas, desde que gozem de
uma certa humidade. O mais interessante em
todos os jarros é o tipo de flor, que é diferente
da de quase todas as outras plantas. No cimo
do caule encontra-se um invólucro carnudo de
cor branca ou amarelada — a espata. No cen-
tro desta ergue-se um bastão vertical amarelo,
cujo odor pútrido atrai os insetos — o espádice.
Ambos formam um conjunto, que é a flor do
jarro (que, na verdade, não é uma só flor, mas
sim um conjunto de flores). As folhas são gran-
des, verdes e têm a forma da ponta de uma seta
(veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75). Morrem
depois de aparecer a flor. Mais tarde também a
espata desaparece, ficando o espádice com um
aspeto muito diferente: uma espiga de bagas
vermelhas ou cor de laranja. Estas bagas são
extremamente venenosas. Nessa altura, só o

116
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

a propósito da reprodução
A maioria das plantas silvestres apenas apenas possuem estames ou carpelos.
se pode reproduzir por meio de sementes. São as monogâmicas.
Estas formam-se após a fecundação dos
óvulos contidos nos órgãos de reprodução Algumas espécies, chamadas dioicas,
femininos (carpelos) pelos grãos de pólen têm flores masculinas e femininas, mas
produzidos pelos órgãos masculinos em plantas diferentes. Nas monoicas,
(estames). Em muitas espécies, isso não as flores masculinas e as femininas
traz qualquer problema: os dois tipos existem na mesma planta. Quanto às
de órgãos encontram-se na mesma espécies poligâmicas — que também
flor, que, portanto, é bissexuada ou as há —, essas têm, na mesma planta,
hermafrodita. Mas outras têm flores que flores unissexuadas e bissexuadas.

A FLOR
estigma

estilete carpelo

antera
estame
filete ovário

pétala

sépala

caule, que entretanto adquiriu uma tonalidade


acastanhada, permanece visível, para além do
espádice. Os jarros florescem na primavera.
As bagas vermelhas apenas surgem no verão.

• Atraentes e vistosas, as bagas azul-escuras do


selo-de-salomão são uma tentação. Muitas pessoas
foram já vítimas de envenenamento, por vezes
fatal, porque essas bagas, apesar do seu aspeto
convidativo, também são venenosas.

117
A
PORTUGAL NATURAL I

Flores pendentes
da base das folhas
do selo-de-salomão

O caule desta planta pode ter até meio metro de altura e é arqueado;
as folhas acompanham o caule a todo o comprimento e dispõem-se
em duas filas opostas; além disso, são grandes, ovais e de nervuras
paralelas; as flores são branco-esverdeadas e pendentes da base
das folhas. Basta vê-la uma vez para ser capaz de a identificar
posteriormente. O caule subterrâneo, que é um rizoma, também
apresenta uma particularidade: todos os anos dá origem a um novo
caule aéreo, que, ao desaparecer, deixa uma marca parecida com
a de um sinete. Daí provém o inspirado nome de selo-de-salomão
(veja também Primavera, vida nova…, na página 197).

Flores dos matos e matagais


Como explicámos no primeiro capítulo, a intervenção mais ou
menos direta dos povos que habitaram o nosso país ao longo dos
tempos levou a que as paisagens originais se modificassem bastante.
Grande parte da superfície inicialmente coberta por florestas está
hoje ocupada por um tipo de paisagem que nos é familiar e a
que chamamos matos ou matagais. Estes termos definem espaços
cuja área é bastante diversificada, mas que se encontram cober-
tos por uma vegetação essencialmente lenhosa, onde os arbustos
e os subarbustos predominam (embora também possam existir

118
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

algumas ervas). Neste sentido alargado, podemos até considerar


determinadas sebes como pequenos e estreitos matagais. Alguns
arbustos de que falámos no capítulo 3, como o sabugueiro ou
o pilriteiro, podem encontrar-se nessas sebes, enquanto outros,
como a carvalhiça, preferirão terrenos mais secos.

Os matos tomam conta da paisagem nos campos onde os desbastes


periódicos, feitos pelo homem ou pelo gado, cessam por qualquer
motivo e ficam ao abandono durante muito tempo; mas também nos
bosques cujas árvores e arbustos sejam sistematicamente cortados.

Normalmente, são definidos como estados mais avançados ou


recuados do processo de degradação das matas e dos bosques.

Palavras tipicamente portuguesas como “gândara”, “charneca”,


“brenha”, “tojal” e muitas outras, que designam vários tipos de
matos, são testemunho eloquente da importância que essa forma
de vegetação adquiriu no nosso país.

A “família” das estevas


Esteva, estevão, sargaço, sargaça e sargação. Rima e soa bem, mas
Aspeto das pútegas,
não é uma cantilena. São nomes de plantas, todas pertencentes uma planta parasita
à insigne família das Cistáceas. Quase todas têm das estevas
flores brancas ou rosadas. As folhas dão aquele
aroma inconfundível nos matos mediterrânicos,
que corresponde à essência da esteva e ao láudano.

• A esteva ou xara é uma das plantas de matos


mais conhecidas. É vulgar em todo o país, mas
aparece com especial frequência no Alentejo e
no Algarve. Produz flores brancas, por vezes com
uma mácula púrpura em cada pétala, e é muito
aromática. Agradável para uns, desagradável para
outros, esse aroma inconfundível nos matos medi-
terrânicos (parecido com o da terebintina) deve-
-se a uma substância peganhenta, que cobre as
folhas e os ramos — o láudano —, muito utilizada
em perfumaria. O gosto não deve ser agradável,
porque o gado “não lhe põe os dentes”, o que
ajuda à formação de estevais (matos onde só há
estevas, ou quase…). As flores surgem na primavera,

119
A
PORTUGAL NATURAL I

Roselha em flor

um pouco mais tarde no litoral do que no interior. A flor da esteva


só dura um dia, e as pétalas caem com muita facilidade quando
alguém lhes toca (o mesmo acontece às outras plantas da família).

• A roselha-grande sobressai pelo belo tom rosado das flores,


em realçante contraste com o verde-acinzentado das folhas.
Pode atingir um metro de altura e formar, com alguma facilidade,
aglomerados densos. Encontra-se, sobretudo, em colinas.
Urze-branca,
também chamada
urze-das-vassouras
Urzes e queirós
Em termos de fama e celebridade,
as urzes não ficam a dever nada à
esteva. Tão conhecidas são umas
como a outra. Ambas são, com
efeito, plantas absolutamente
típicas dos nossos matos.

• A urze, torga-comum ou queiró,


distingue-se das restantes urzes
por as suas folhas serem curtas
e muito sobrepostas, quase a
vestirem os ramos. Nas espécies
restantes, as folhas são compri-
das, lineares e muito pequenas
(veja Tipos de folha, nas pági-
nas 74 e 75). A corola das flores

120
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

tem a forma de um jarro de boca estreita, o que é também uma


característica da família das urzes.

• A urze-branca e a urze-das-vassouras são as únicas cujas flores são


brancas ou amarelo-esverdeadas. As restantes — torga, lameirinha,
urze-vermelha, urze-carapaça e outras — têm flores com vários
tons de cor-de-rosa. Como é evidente, quando vários membros
da família se juntam num mesmo local, o quadro é lindíssimo.

Os vários tipos de vagens


Quando chega a altura da frutificação, os matos de Leguminosas
distinguem-se de todos os outros, porque são compostos de
espécies cujos frutos são vagens. Além disso, também são bas-
tante típicos no período da floração, porque a maioria das flores
desses matos são amarelas ou brancas, embora as primeiras
ganhem às segundas. As plantas que compõem esses matos são,
como já deve ter adivinhado, as giestas, os tojos, a carqueja e
os piornos.

• Destas, os tojos são os únicos


que produzem espinhos, capa-
zes de o presentear com algumas
desagradáveis picadelas. Talvez
não saiba, porém, que existem
dois tipos de tojos: uns têm
folhas e espinhos; outros, ape-
nas espinhos. As flores, de um
tom amarelo-brilhante, veem-se
quase durante o ano inteiro. Não
porque as flores se aguentem
todo esse tempo, mas porque
todos têm flores muito parecidas
e se vão revezando na floração,
o que produz uma sensação de
continuidade. Flores amarelas
do tojo

• A carqueja, que também tem flores amarelas, dá, quando seca, um
excelente combustível, muito usado para atear fogos e fogueiras. Forma
arbustos baixos e densos, por vezes eretos, por vezes amoitados.
Normalmente, estes não têm folhas. Florescem de abril a julho,
conforme a região e a altitude.

121
A
PORTUGAL NATURAL I

• As flores da giesta-vulgar são


amarelas e exalam um perfume
bastante agradável. Ao contrá-
rio dos tojos, florescem apenas
durante um curto período, entre
a primavera e o verão. São fre-
quentes nas sebes e beiras dos
caminhos, onde se misturam com
a giesteira-das-sebes, uma espécie
afim. A giesteira-branca, por sua
vez, é famosa por encher mui-
tas paisagens nortenhas de um
Os arbustos branco resplandecente quando
densos formados
pela carqueja
a sua floração se inicia, em abril.

• O piorno-dos-tintureiros, que só existe nas serras do Norte, é


assim chamado porque as flores eram utilizadas, antigamente, para
tingir de amarelo lãs e tecidos de linho. É um arbusto pequeno,
que raramente tem mais de um metro de altura. Muitos confundem-
-no com as giestas. É uma planta venenosa.

Alfazema
Uma família bem cheirosa
Os aromas muito agradáveis que sentimos
quando passeamos nalguns matos devem-se,
muitas vezes, à presença de representantes de
uma família muito apreciada, as Labiadas (este
nome provém do facto de, em todas as plantas
que pertencem a esta família, a corola das flo-
res se assemelhar a um par de lábios). Engloba
plantas bem conhecidas, como o rosmaninho, a
alfazema, o alecrim, os tomilhos e os orégãos, que
fazem parte dos nossos usos e costumes, especial-
mente na cozinha, onde dão um toque único aos
pratos tipicamente mediterrânicos. Além disso,
os óleos essenciais ou essências que se extraem
de muitas destas plantas são matéria-prima de
perfumes e águas-de-colónia.

As plantas de que falámos até agora são as mais


representativas da vegetação dos matos e tam-
bém as mais abundantes. Mas existem outras

122
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

que, não pertencendo aos grupos apresentados, também têm a


sua importância.

Silvas e roseiras-bravas
As silvas e as roseiras-bravas, mais frequentes nas
sebes, mas também bastante vulgares em locais
cobertos de arvoredo mais ou menos denso, cons-
tituem emaranhados que nos surpreendem desa-
gradavelmente quando lhes tocamos sem querer.
Agarram-nos firmemente e raramente nos largam
sem dor. Poderíamos chamar a esses encontros,
muito a propósito, “ligações perigosas”.

Os acúleos (veja a caixa Não há rosa sem… acúleos,


na página seguinte), que cobrem os caules com-
pridos e lenhosos destas plantas, têm uma função
de proteção e defesa contra animais herbívoros.
Os seus caules emitem, em cada ano, rebentos
novos, que vivem durante dois anos nas silvas e
muitos mais nas roseiras, mas que só florescem no
segundo ano. Estes rebentos, chamados turiões,
criam raízes em vários pontos, aumentando a sua
área de influência de ano para ano. Na primavera
e no verão mostram-nos as suas bonitas e bem Frutos da silva
odoríferas flores, de cores rosa e branca — com
cinco pétalas, cinco sépalas e muitos estames —, muito parecidas
com as flores dos abrunheiros, das cerejeiras e de outras árvores
de fruto que pertencem à mesma família (a das Rosáceas).

Gilbardeira, murta, trovisco e abrótea


• A gilbardeira é uma espécie de liliácea que ocorre geralmente em
bosques ou matos frescos. É um arbusto de folhas sempre verdes e
duras, que terminam num espinho muito agudo e, portanto, picam.
No entanto, estas “folhas” não são verdadeiras folhas, mas sim cau-
les modificados chamados “cladódios”, bastante coriáceos (rijos).
Produz florinhas pequenas e esverdeadas, pouco vistosas, que se
transformam depois em pequenas bagas vermelhas e redondas que
aparecem no meio destas falsas folhas. Pelo contraste das cores
verde e vermelha, faz lembrar o azevinho e, tal como este, também

123
A
PORTUGAL NATURAL I

não há rosa sem… acúleos


Há muitas circunstâncias em que a uma estrutura pontiaguda originada
celebrada sabedoria popular é uma na epiderme vegetal com função de
fonte de informação digna de crédito, defesa e proteção (veja a ilustração).
mas o caso concreto da expressão Regra geral, os acúleos podem ser
“não há rosa sem espinhos” não é retirados da planta com uma simples
exemplo disso! pressão do dedo, ao passo que os
espinhos, que fazem parte do próprio
Em Botânica existe uma distinção clara tronco, são muito mais difíceis de
entre espinho e acúleo. O espinho é extrair. O pilriteiro e o abrunheiro-
uma protuberância pontiaguda, que -bravo são plantas que possuem
resultou de alterações dos próprios verdadeiros espinhos, mas as roseiras
ramos, enquanto o acúleo é apenas têm apenas acúleos!

Acúleo (roseira)

Espinho (pilriteiro)

é muito usada para enfeites no Natal quando os frutos amadure-


Folhas da murta,
com frutos
cem. Encontra-se por todo o país, embora seja já muito rara por
ainda verdes toda a Europa, sendo por isso uma espécie com
um estatuto especial de proteção, constando do
anexo V da Diretiva Habitats, onde são enume-
radas as espécies de interesse comunitário que
podem ser alvo de medidas de gestão.

• A murta, que é da mesma família do eucalipto,


é um pequeno arbusto bem cheiroso, de folhas
sempre verdes e um pouco duras, que marca bem
a sua presença nos matos, especialmente onde
encontra alguma humidade. O nome latino da
planta — Myrtus — vem do grego myron, que significa
“perfume”. Possui pequenas flores brancas, com

124
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

cinco pétalas, que aparecem no verão. Os frutos, de um negro-


Trovisco carregado
-azeviche, são muito apreciados pelas aves. em simultâneo
de flores e frutos
• O trovisco-fêmea é um arbusto de folhas estreitas e
compridas, de cor verde-clara, que estão ausentes
das porções inferiores dos ramos. No topo destes
emergem as flores, em aglomerados brancos ou
amarelados, de aroma muito agradável. Como
floresce durante um longo período, que apanha
verão e outono, é possível ver a mesma planta
carregada, simultaneamente, de flores brancas
ou amarelas e frutos avermelhados.

• A abrótea distingue-se muito bem entre as outras


plantas de mato. Tem um tufo de folhas finas e
compridas que partem todas do mesmo ponto, da
base de um caule muito alto, que pode ter cerca
de um metro de comprimento. No cimo desse
caule encontram-se exuberantes flores brancas,
raiadas de escuro e dispostas em cacho. Florescem
em força na primavera.

Plantas de zonas húmidas


Muitas plantas vivem ao longo dos cursos de água, nas valas e
nos charcos onde os animais vêm beber e noutros locais onde
haja água doce. Uma característica curiosa que lhes é comum é o
facto de não estarem muito dependentes dos fatores climáticos,
de forma que podemos encontrar as mesmas plantas em zonas
húmidas de regime climático diferente. Isto quer dizer que mui-
tas das plantas que se encontram nas zonas húmidas da Europa
Central, por exemplo, também podem estar presentes nas zonas
mediterrânicas, e vice-versa. É o caso dos nenúfares, que fazem
parte da flora aquática de toda a Europa, à exceção da Islândia.

• A vegetação dos ambientes húmidos pode “arrumar-se” em diver-


sas zonas ou faixas:
— as matas ribeirinhas, que apenas são inundadas nas alturas em
que ocorrem cheias fluviais; nesta zona veem-se frequentemente
amieiros, freixos, choupos, salgueiros, sanguinhos-de-água,
abrunheiros-bravos e outras árvores e arbustos de que falámos no

125
A
PORTUGAL NATURAL I

capítulo 3; e também algumas trepadeiras (salsaparrilha-bastarda,


etc.), plantas de que falaremos mais adiante;
— as margens, que não são inundadas em permanência, mas cujo
solo está sempre húmido, devido à proximidade da água, onde
se encontram plantas tipo caniços, juncos e tabuas, entre outras,
adaptadas a este ambiente de encharcamento;
— a zona das águas mais profundas, onde crescem, por um lado,
plantas enraizadas no solo, mas cujas folhas e flores flutuam à
superfície da água; por outro, plantas não enraizadas, que flutuam
livremente na água e, ainda, plantas completamente submersas.

• Além da profundidade da água, a velocidade da corrente também


influencia a composição da flora aquática, de forma que as águas
estagnadas não são povoadas pelas mesmas plantas que existem
nas águas correntes.

Infelizmente, a maioria dos terrenos pantanosos encontra-se


ameaçada, por um lado, pela poluição das águas e, por outro,
pelas tentativas de recuperação de muitas dessas áreas para a
agricultura, através da drenagem.

Dito isto, ponhamos as botas de borracha ou galochas (conforme


preferir) e iniciemos a nossa visita às zonas húmidas.

• No capítulo 1 dissemos que, nas zonas húmidas onde a água se


encontra estagnada, os restos das plantas mortas se vão acumulando
e acabam por formar, no fundo das águas, uma camada espessa.

Sobre esse suporte, novas plantas ganham raízes, provocando uma


nova elevação do nível do solo e, em consequência, este fica cada
vez mais alto e próximo da superfície da água.

A longo prazo, o nível do solo acaba por apanhar o nível das águas
e mesmo sobrepor-se a ele. Aí poderão vir a estabelecer-se plan-
tas de alguma envergadura, o que inclui arbustos e até algumas
árvores, formando uma mata ribeirinha.

• Uma das plantas que podem encontrar-se frequentemente nessas


zonas é a bons-dias, uma trepadeira de que falaremos pormenori-
zadamente no parágrafo dedicado a esse tipo de plantas. Mas as
cavalinhas também são muito vulgares nesses locais. São plantas
primitivas, como os fetos e os musgos, que se reproduzem através
de esporos e, portanto, não produzem flores nem sementes. Além

126
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

disso, possuem a particularidade de produzirem


dois tipos de caules: um deles aparece primeiro,
no início da primavera, e é curto e avermelhado
(é na extremidade deste caule que aparece a espiga
produtora de esporos); cumprida a sua missão,
este caule murcha e surge outro, verde, ramificado
e bastante mais alto do que o anterior. Há quem
atribua a este caule diversas propriedades medici-
nais, nomeadamente diuréticas e anti-inflamatórias.

• Também o poejo é uma planta típica dos locais


que costumam ficar inundados com a subida das
águas. Pertence à grande “família” das mentas.
O cheiro não é a melhor forma de a identificar,
ao contrário do que alguns pensam, porque
muitas mentas têm um aroma semelhante ao da
hortelã-pimenta.

Atinge, no máximo, 40 centímetros de altura,


e as folhas são pequenas e de cor verde-clara.
Os caules são rasteiros (ganham raízes com
facilidade), e as flores são roxas. Poejo, característico
de locais alagados

Diz-se que, na Antiguidade, os poejos eram utilizados em cerimónias,


na forma de coroas entrançadas, e também com fins medicinais.

E, com efeito, deles se extrai, bem como de todas as mentas, um


álcool com provas dadas em medicina: o mentol. Esta substância
possui inegáveis propriedades antisséticas e analgésicas.

• Presença mais ou menos assídua nas nossas mesas, em forma


de salada ou sopa, o agrião é frequente nas margens dos rios e
ribeiros e noutros lugares húmidos, por todo o país. Não é difícil
reconhecê-lo, pois todos estamos habituados a ver as suas folhas
pequenas e imparipinuladas (veja Tipos de folha, nas páginas 74
e 75) e as suas flores brancas. Mas o agrião tem um sabor picante
característico, que, aliás, lhe valeu o nome científico: Rorippa
nasturtium aquaticum. Nasturtium provém das palavras latinas
nasus e tortus e significa “nariz torcido” — é uma referência ao tal
sabor acre que obriga a torcer o nariz…

• A salgueirinha dá-se apenas em solos muito húmidos, mas não


suporta ficar com os “pés” permanentemente dentro de água. O local

127
A
PORTUGAL NATURAL I

onde a encontramos, bem como o modo como as


flores se apresentam, permite que a reconheçamos
sem dificuldades de maior: em pleno verão, as
flores da salgueirinha formam grandes espigas de
flores de cor púrpura, tendo cada uma dois ou
três centímetros de comprimento. Além disso,
as folhas são sésseis e lanceoladas (veja Tipos de
folha, nas páginas 74 e 75). A planta pode atingir
1,5 metros de altura.

O nome da salgueirinha provém do facto de crescer


frequentemente no meio de salgueiros. Parece
que, antigamente, era muito utilizada para ajudar
a estancar hemorragias.

• Existem também diversas espécies de ranúnculos


que se podem encontrar em locais húmidos ou
permanentemente inundados (ranúnculo provém
Espigas de flores do latim ranunculus, que significa “pequena rã”).
da salgueirinha
Todos têm flores de cor branca ou amarela. A ficária
ou celidónia-menor, por exemplo, possui bonitas flores amarelas
e folhas verdes brilhantes, em forma de coração. Outro dos seus
nomes populares — erva-das-verrugas ou erva-das-hemorroidas —
provém do facto de se lhe atribuírem virtudes curativas no tra-
tamento das verrugas, bem como das hemorroidas e da sarna.

O ranúnculo-mata-boi (Ranunculus sceleratus) encontra-se mais


frequentemente em valas e margens de rios, mas também se dá
bem nos charcos que secam durante o verão. Atinge um pouco mais

Ranúnculos,
venenosos para
o gado

128
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

de meio metro e floresce no verão. O nome provém do facto de ser


Flor da calta
venenoso para o gado, provocando bolhas na pele e inflamações. ou malmequer-
-dos-brejos
• A calta ou malmequer-dos-brejos
é às vezes confundida com um
ranúnculo, graças às suas gran-
des flores amarelas. E, na ver-
dade, pertence à mesma família
(as Ranunculáceas). As folhas tam-
bém são em forma de coração,
como as da ficária, mas enquanto
as da parte inferior da planta têm
um pecíolo longo, as superiores
são sésseis (veja Tipos de folha,
nas páginas 74 e 75). Também
contém substâncias venenosas,
apesar de, durante muito tempo,
ter sido utilizada, nalguns meios
rurais, na alimentação, em salada
ou como hortaliça. A sua mais
importante utilização terapêutica
é, ao que parece, a de facilitar
as curas de desintoxicação do
tabaco.

• O lírio-amarelo-dos-pântanos
aparece por todo o país, nas
margens de rios, pântanos e char-
cos. É uma planta discreta, mas
só até ao momento da floração. Lírio-amarelo-
-dos-pântanos
As folhas, em forma de espada
(e cortantes, também!), brotam diretamente do caule subterrâneo
(rizoma). Medem cerca de um metro e adquirem uma tonalidade
verde-azulada quando atingem a maturidade. Parecem-se com
as folhas dos lírios e dos gladíolos dos jardins, que pertencem à
mesma família (as Iridáceas). As flores são amarelas e enormes,
podendo atingir dez centímetros de diâmetro! Por todas estas
razões é uma planta que, no seu habitat específico, dificilmente
se pode confundir com outras. Encontra-se muitas vezes junto
aos caniçais.

• O caniço é uma das plantas mais imponentes das zonas húmidas e
cobre grandes superfícies, formando os caniçais. Estes constituem

129
A
PORTUGAL NATURAL I

um ambiente bastante específico, já que um certo número de


aves dele depende, tanto para a procura de alimento como para
a construção do ninho.

O caniço pertence à família botânica das Gramíneas. Os caules,


que podem atingir três metros de altura, possuem folhas longas,
de um verde-acinzentado. São lenhosos e resistem bem ao inverno.
As pequenas espigas, de cor acastanhada ou purpúrea e em forma de
pluma, só surgem no final do verão. Embora as sementes do caniço
não germinem debaixo de água, a planta pode desenvolver-se em
meio aquático, a uma boa distância das margens. Para isso, produz
rizomas que crescem em sentido horizontal, imediatamente abaixo
da superfície da água. Portanto, os caniços tanto podem encontrar-
-se em terra firme (ao longo das margens) como dentro de água.

• As tabuas costumam aparecer juntamente com o caniço, embora


aquelas apreciem terrenos mais ricos do que o caniço e não se
deem mal com alguma poluição. São plantas viçosas, que podem
atingir facilmente dois metros de altura. As folhas são compridas,
estreitas e verde-acinzentadas e estão implantadas diretamente
no rizoma. No princípio do verão vê-se surgir por entre as folhas
uma espécie de charuto castanho, sobre o qual se encontra uma
fina espiga também castanha, mas um pouco mais clara — são,
Typha sp., conhecida
respetivamente, as espigas feminina e masculina.
como tabua
• Também o bunho se costuma encontrar junto
aos caniçais. É uma planta que forma hastes bas-
tante compridas (até três metros), encimadas, na
primavera e no verão, por pequenas espigas de
flores cor de ferrugem. Encontra-se normalmente
mais perto da água e pode formar aglomerados
exclusivos, denominados bunhais.

• Mesmo que não tenha dado conta disso, temos


vindo a “caminhar” lentamente dos terrenos firmes
que bordejam os meios aquáticos para ambientes
progressivamente mais húmidos. Eis-nos chegados
agora aos locais permanentemente cobertos de
água, onde se encontram as plantas aquáticas
por excelência.

• Os golfões ou nenúfares são talvez as mais conheci-


das plantas deste tipo. Possuem grandes folhas que

130
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

Nenúfares a flutuar
à tona da água

flutuam à superfície, estando cada uma delas ligada à raiz através


de um pecíolo próprio. As flores, brancas ou amarelas, podem
ter 4 a 20 centímetros de diâmetro. Emergem Lentilhas-de-água
entre maio e setembro, sobre um caule curto.
Surgem geralmente em águas estagnadas ou de
corrente fraca.

• As lentilhas-de-água são pequenas plantas aquá-


ticas que flutuam livremente. Possuem folhas com
apenas alguns milímetros. Cada uma destas folhas
possui uma pequena raiz na face inferior. Nas águas
muito ricas em elementos nutritivos, estas plantas
podem desenvolver-se até formarem um autêntico
tapete verde à superfície da água.

Plantas carnívoras
Não são grandes nem monstruosas, como as que vemos nos filmes
de ficção e nos livros de banda desenhada, mas não deixam de
ser capazes de nos impressionar: são as plantas carnívoras ou
insetívoras, que, ao contrário do que muita gente pensa, também

131
A
PORTUGAL NATURAL I

existem no nosso país! Não são muitas, é verdade (apenas oito


espécies, pertencentes a duas famílias), mas são dignas repre-
sentantes desse tipo especial de plantas que “comem animais”,
em vez de serem comidas por eles.

Esta capacidade de digerir organismos animais não constitui mais


do que uma fonte adicional da nutrição, e nunca um requisito
essencial à vida, já que, ao contrário das parasitas, são espécies
que desenvolvem órgãos verdes com clorofila com capacidade
de assimilar a sua própria matéria orgânica, o que lhes permite,
quando dispõem de condições adequadas, desenvolverem-se até
à floração e maturação das sementes sem recurso à digestão adi-
cional de insetos.

Todas apresentam algumas modificações ou adaptações, algumas


delas muito sofisticadas, que funcionam como armadilhas para
capturar as suas presas, os insetos ou outros pequenos animais
de que se alimentam: movimento das folhas, presença de deter-
minadas substâncias viscosas e adesivas, odores característicos.

• As dróseras formam uma roseta rente ao solo. As suas folhas


apresentam uma espécie de cílios encimados por pequenas gotí-
culas redondas e vermelhas que atraem os insetos com os seus
reflexos. São extremamente pegajosas, de forma que os insetos
que lhes tocam dificilmente conseguem escapar, enredando-se
cada vez mais ao debater-se e desencadeando assim a secreção
das enzimas (substâncias digestivas semelhantes à pepsina que
se encontra no nosso estômago), que atacam e dissolvem as
partes moles da presa, tornando-as assimiláveis. Dessa forma,
as dróseras compensam as carências nutritivas dos solos onde
crescem.

A palavra drósera provém de um termo grego que significa, na


nossa língua, “humedecida pelo orvalho”. Com efeito, as bolinhas
vermelhas são muito brilhantes, parecendo pequenas gotas de
orvalho que brilham ao sol. Encontram-se normalmente em locais
húmidos ou pantanosos, mas sempre a norte do Tejo. É por isso
que o povo atribuiu a este tipo de plantas nomes como orvalhinha,
orvalho-do-sol, erva-pinheira-orvalhada ou, simplesmente, orvalho.

A erva-pinheira-orvalhada ou pinheiro-baboso (Drosophyllum


lusitanicum) é uma espécie com uma distribuição na bacia do
Mediterrâneo, aparecendo apenas em Portugal, no Sul de Espanha

132
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

Orvalhinha, uma
devoradora de insetos

e em Marrocos. Ao contrário das outras carnívoras, distribui-se


principalmente pelos sítios secos, clareiras de matos, charnecas
e pinhais das regiões litorais e do Centro. Nesta espécie, ambas
as páginas das folhas, que são compridas e lineares, se encon-
tram cobertas por glândulas, que aparecem também no caule, nos
pedúnculos florais e nas sépalas. Desta forma, a planta aparece
coberta de gotas pegajosas brilhantes que atraem os insetos e que,
tal como nas dróseras, levam à sua digestão.

• As pinguícolas pertencem a outra família que engloba plantas


com formas bastante diferentes e que se podem encontrar em
lugares húmidos e até debaixo de água. Encontram-se, sobretudo,
no hemisfério norte, e em Portugal existem duas das trinta espé-
cies que se conhecem. As folhas dessas plantas são verde-claras,
e as margens apresentam-se um pouco enroladas para dentro. Os
insetos, que são atraídos pelo forte odor a cogumelos que estas
plantas emitem, ficam presos quando entram em contacto com
uma substância pegajosa segregada pelas folhas. Consumada a
captura, as folhas enrolam-se cada vez mais, iniciando-se o pro-
cesso de digestão.

A Pinguicola vulgaris é a carnívora mais rara entre nós, e a sua


presença apenas foi assinalada no Gerês. Já a Pinguicola lusitanica é

133
A
PORTUGAL NATURAL I

muito mais frequente, podendo encontrar-se em lugares húmidos e


pantanosos, por toda a faixa litoral oeste do nosso país. Distingue-se
da espécie anterior por as suas folhas serem mais pequenas e de
um verde mais acinzentado. Muitas vezes partilha o espaço com
as orvalhinhas, pois as exigências dessas espécies são idênticas.

• Finalmente, as utriculárias. Existem três espécies em Portugal,


duas aquáticas e uma terrestre (mas de ambientes húmidos). O que
as une é o facto de todas capturarem as presas por meio de uma
espécie de pequenos sacos (os utrículos), que aspiram e se fecham
quando um pequeno animal toca num dos pelos sensíveis que pos-
suem. As espécies aquáticas não possuem raízes e flutuam ao sabor
das águas. Encontram-se quase sempre submersas, sendo apenas
visíveis na época da reprodução, altura em que a sua flor amarela
se eleva acima da superfície da água.

Plantas trepadeiras
Consideram-se trepadeiras todas as plantas que se elevam agar-
rando-se a um suporte, que pode ser uma árvore, um arbusto,
uma escarpa, uma parede, etc. A videira, de que falámos no capí-
tulo anterior, é talvez a mais conhecida, mas também a hera e a
madressilva, por exemplo, fazem parte das plantas trepadeiras
que nos são familiares.

• A hera é uma planta lenhosa. Pode viver muito tempo e, nesse
caso, o caule pode adquirir a espessura do tronco de uma árvore.
Com a ajuda das pequenas raízes que surgem ao longo do caule, a
planta agarra-se aos mais diversos suportes e vai subindo por eles.
Pode ter mais de dez metros de comprimento. Estas raízes aéreas
não absorvem humidade nem quaisquer elementos nutritivos,
servindo apenas para fixar a planta. Portanto, a hera não é uma
parasita, mas isso não quer dizer que não faça dano às árvores
que lhe servem de suporte: os caules, por vezes com mais de cinco
centímetros de diâmetro, podem deformar o tronco da árvore e,
a longo prazo, sufocá-la, privando-a da luz. Isso acontece, sobre-
tudo, porque a hera é uma planta cujas folhas se mantêm sempre
verdes, mesmo no inverno.

A forma como a hera se distribui no espaço depende da quanti-


dade de luz e de alimento de que dispõe: nos locais onde estes

134
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

são abundantes, mantém-se rastejante; se a luz e


o alimento faltarem, adquire um hábito trepador
em busca da luz, procurando preencher, desse
modo, essas necessidades.

• Os caules do lúpulo não são lenhosos, como os


da hera, mas sim herbáceos, secando durante o
outono. Só as raízes e os rebentos novos supor-
tam a passagem do inverno, formando novas
folhas na primavera seguinte. O lúpulo é o único
representante da nossa flora que pertence à
família das Canabiáceas, que inclui também a
planta da marijuana. As folhas são serrilhadas e
encontram-se cobertas de pelos robustos, que as
tornam ásperas ao tato. Os caules são rugosos,
o que lhes permite agarrarem-se e içarem-se
até ao cimo das árvores, trepando sempre em
sentido inverso ao dos ponteiros do relógio. As
flores são de um verde desmaiado muito dis-
creto. Finalmente, os frutos são uma espécie
de cones. É graças a eles que o lúpulo se tor-
nou também uma espécie cultivada, pois dão Hera em busca de luz
à cerveja o típico sabor amargo. Como espécie
espontânea, o lúpulo dá-se em locais relativamente húmidos,
muitas vezes nos silvados que se encontram junto aos rios.

• Na periferia dos bosques é possível ver, por vezes, as flores da


madressilva, balançando-se ao sabor do vento. Esta planta agarra-
-se por meio dos ramos flexíveis, que se enrolam solidamente em
redor dos suportes.

As flores, brancas, amareladas e cor-de-rosa, com a forma de um


tubo comprido e estreito que se abre em dois lábios terminais,
surgem em ramalhetes na extremidade dos ramos a partir de junho
e exalam um perfume suave e muito agradável. Este perfume atrai
as borboletas noturnas sedentas de néctar, que, dessa forma, asse-
guram a polinização. As bagas vermelhas que produz são venenosas
e podem provocar vómitos e diarreias, mas a toda a planta são
atribuídas propriedades diuréticas e laxativas. Possui uma grande
beleza, sendo muito utilizada como planta ornamental.

• A bons-dias ou trepadeira-das-sebes tem grandes flores brancas e


em forma de campânula. Encontramo-la nas sebes, nos valados,

135
A
PORTUGAL NATURAL I

Madressilva em flor

nas margens de caminhos e noutras zonas húmidas. Enrosca-se à


volta de um suporte no sentido dos ponteiros do relógio. Conquista
terreno muito rapidamente, cobrindo edifícios em ruínas, montes
de lixo e até carros abandonados. É útil, portanto, na “camuflagem”
de paisagens degradadas.

• O amor-de-hortelão é uma planta ruderal quase tão vulgar como


as urtigas. Toda a gente é forçada a reparar nela, porque os seus
pequenos frutos, tal como as outras partes da planta, têm a “mania”
de se agarrar à roupa ou ao cabelo de quem passa. Isso acontece
devido aos inúmeros pelos rígidos recurvados que a cobrem. As
folhas do amor-de-hortelão são estreitas e em forma de ponta
de lança (veja Tipos de folha, nas páginas 74 e 75) e encontram-
-se implantadas em andares com seis a oito folhas que formam
círculos que se dispõem a espaços regulares ao longo do caule.
As flores são brancas, pequenas e discretas. Os frutos não têm
mais de três ou quatro milímetros de diâmetro, surgem aos pares
e estão cobertos dos mesmos pelos rígidos e recurvados que se
agarram ao pelo dos animais que passam. A difusão das sementes
fica assim assegurada. A planta aparece nas sebes e nos silvados,
mas também nos prados e campos, ou seja, quase por toda a parte.
Utiliza-se em fitoterapia para tratar, entre outras coisas, problemas
circulatórios de pessoas idosas.

• Da mesma família do amor-de-hortelão, a granza-brava ou raspa-


-língua é outra trepadeira, mas vivaz, frequente nas regiões de clima

136
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

mediterrânico. Surge sobretudo


em sebes, muros, matos, silvados
e bermas de caminhos. As folhas
são persistentes e, tal como as do
amor-de-hortelão, dispõem-se em
“andares” (verticilos) espaçados
ao longo do caule. As flores são
amareladas e as bagas negras.
As virtudes medicinais desta planta
são conhecidas desde o tempo de
Hipócrates e ainda hoje os árabes
as utilizam para facilitar o parto.

• Outra trepadeira que se dá Frutos do amor-de-hortelão


agarrados à roupa
bem com o calor e prefere, na
Europa, as regiões do Sul, é a
salsaparrilha-bastarda. Agarra-se
às árvores nos bosques e matas,
valendo-se dos espinhos que reco-
brem o caule e as margens das
folhas, e das gavinhas que surgem
junto aos nós, assemelhando-se
a autênticas lianas de bosques
fechados. As folhas são persis-
tentes, coriáceas (duras) e muito
brilhantes, e têm forma aproxima-
damente triangular (na realidade
são cordiformes, ou seja, têm a
forma de um coração, na base).
As flores verde-esbranquiçadas Salsaparrilha-
-bastarda
aguentam-se desde o verão até
outubro e dão lugar a bagas vermelhas, e pretas quando maduras,
do tamanho de uma ervilha, parecidas com as da groselheira e
dipostas em cachos que lembram os cachos de uvas. O facto de se
ter descoberto que a testosterona (hormona sexual masculina) se
encontra no rizoma e nas raízes de diversas espécies afins desta
planta levou a que adquirisse fama de afrodisíaca. No entanto,
apenas as suas propriedades diuréticas e depurativas parecem
estar realmente comprovadas.

• A norça-preta ou uva-de-cão é uma trepadeira de caule volúvel


que produz bagas vermelhas e brilhantes extremamente vene-
nosas que podem provocar feridas na boca, dores abdominais,

137
A
PORTUGAL NATURAL I

vómitos, diarreia e até a morte. Por isso, é muito importante não


as confundir com as bagas de outras plantas e ter muito cuidado
com as crianças, que podem sentir-se atraídas pelo seu aspeto!
Na dúvida, é sempre preferível abster-se de ingerir bagas de aspeto
semelhante. Em caso de acidente, contacte o Centro de Informação
Antivenenos pelo número 808 250 143.

Planta muito frequente em bosques, matagais e sebes, a norça-preta


perde as folhas no verão, altura em que permanecem apenas os
seus caules secos com os frutos vermelhos pendurados. As folhas,
que podem atingir dez centímetros de comprimento, têm a forma
de um coração, com a ponta afiada. As flores são pequenas, ama-
relo-esverdeadas e dispostas em espigas, que surgem de maio a
agosto. Não é espinhosa e trepa enrolando-se à volta do suporte.

A Ophrys
tenthredinifera
Orquídeas
Quando se fala de orquídeas, a maioria das pes-
soas pensa imediatamente em floristas e em belos
ramalhetes de flores. Mas essas orquídeas, que
são cultivadas em estufas, não são as únicas que
podemos encontrar no nosso país. Apesar de as
áreas onde temos possibilidade de as encontrar
serem cada vez mais reduzidas, devido à deterio-
ração de muitos dos seus habitats, existem muitas
orquídeas que crescem espontaneamente na natu-
reza, nos mais variados locais. Em todo o mundo
existem cerca de 20 mil espécies desta família
de flores, mas, no nosso país, apenas podemos
encontrar um pouco mais de 40. Os locais onde
é mais fácil encontrá-las são as zonas calcárias do
Centro e Sul do país, com destaque para as ser-
ras de Aire e Candeeiros, Sintra, Arrábida e todo
o Algarve. Resolvemos dar-lhes, neste livro, um
destaque particular, porque elas também ocupam
um lugar destacado na natureza. Alguns autores
defendem, inclusive, que as orquídeas são de tal
modo evoluídas que representam, para o reino
vegetal, aquilo que o homem é no reino animal.
Ou seja, ambos se encontram no topo da respetiva
escala evolutiva.

138
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

• A característica que permite reconhecer uma orquídea entre outras


plantas, em Portugal ou na China, tem que ver com a forma como as
suas flores se apresentam. Estas possuem sempre três sépalas e três Erva-vespa
pétalas (veja Um pouco de vocabulário, na página 112), (Ophrys lutea)
sendo a pétala de baixo invariavelmente maior e
mais vistosa. Como esta faz lembrar, ainda que
grosseiramente, um lábio, recebeu o nome de
labelo. Trata-se, como veremos, de uma pétala
muito importante…

• Muitas orquídeas portuguesas têm nomes


curiosos, como erva-abelha, erva-vespa, erva-
-borboleta, erva-aranha, erva-mosca, erva-per-
ceveja, flor-dos-passarinhos, moscardo-maior,
satirião-macho, testículo-de-cão, satirião-bastardo,
flor-dos-macaquinhos-pendurados, rapazinhos,
entre outros.

• A erva-do-homem-enforcado ou rapazinhos é


uma interessante orquídea, desta vez do género
Aceras, cujas flores são amarelo-esverdeadas, com
desenhos acastanhados, e nas quais o labelo, que
se encontra pendente, faz lembrar um homem

a estratégia de fecundação
das orquídeas
A grande profusão de orquídeas com nomes de insetos, tanto cá
como noutras partes do mundo, deve-se, principalmente, ao género
Ophrys, nas quais a forma, o aroma ou a textura dos labelos são
semelhantes aos insetos que deram origem a esse nome. Por
incrível que pareça, tais semelhanças não são mera coincidência,
nem se devem a imperscrutáveis caprichos da natureza! Há, para
isso, uma razão objetiva e muito importante, que tem a ver com
uma estratégia de fecundação: atraídos pelas cores ou pelo aroma
dessas flores, que confundem com as cores e aroma das fêmeas,
os machos da espécie imitada (vespas, por exemplo) tentam
copular com elas; depois de algumas tentativas (infrutíferas, claro!),
resolvem ir-se embora, mas levam consigo o pólen, que irá fecundar
a próxima orquídea em que pousarem! Este fenómeno é ainda mais
admirável se tivermos em conta que algumas destas orquídeas
apenas abrem as suas flores na altura em que os insetos que imitam
estão em fase de reprodução!

139
A
PORTUGAL NATURAL I

enforcado. É frequente por todo o país, sobretudo


em terrenos secos e incultos, solos pedregosos
e, preferencialmente, calcários.

• Exceção rara no mundo das orquídeas e até no


das plantas superiores em geral, a Neottia nidus
avis, por vezes também chamada ninho de ave,
é uma saprófita: alimenta-se, tal como muitos
cogumelos, de outros organismos vegetais em
decomposição.

Não possui clorofila (o pigmento responsável pela


cor verde das plantas) e por isso não há, em toda a
planta, nem uma pintinha de verde. Flores, folhas
e caule são todos de um amarelo pardacento…

Resta esclarecer que o curioso nome desta orquídea


vem do facto de as suas raízes formarem uma massa
emaranhada que faz lembrar um ninho de ave.

Erva-do-homem- • O satirião-macho surge nos nossos prados e cam-


-enforcado (Aceras
anthropophorum) pos arrelvados com alguma frequência. As folhas
são grandes e carnudas, muitas vezes repletas de manchas escuras,
e as flores são roxas ou de cor púrpura.

• Hoje, as orquídeas são utilizadas, sobretudo, como flores


ornamentais (para isso, convém recorrer sempre às espécies
cultivadas, nunca às silvestres!). Mas essa não é a única utilização
que se lhes pode dar: algumas espécies podem ser utilizadas
no fabrico de perfumes, pois possuem substâncias aromáticas;
como curiosidade, referimos ainda que foram as orquídeas do
género Vanilla que deram origem à baunilha, aromatizante
muito utilizado na indústria alimentar e que hoje já é produzido
artificialmente.

• Paradoxalmente, estas plantas sedutoras, que parecem ter inven-


tado mil e um artifícios a fim de assegurar a polinização, estão
muito limitadas no que diz respeito à germinação: apesar de cada
orquídea produzir um grande número de sementes, poucas são
viáveis. Isto acontece porque essas sementes são tão pequenas
que não contêm em si mesmas o alimento de que precisam para
poderem germinar. Por isso, têm de se associar a um fungo que
lhes forneça esse alimento. Essa associação, que é útil para ambas

140
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

orquídeas afrodisíacas?
Foi o género Orchis, ao qual esta
espécie pertence, que deu o nome
a toda a família das orquídeas. Essa
palavra de origem grega, que em
português significa “testículo”,
faz alusão aos dois tubérculos
redondos que constituem a parte
subterrânea de grande parte destas
plantas. Este facto levou a que,
durante muito tempo, fossem vistas
como afrodisíacas e alimentassem
inúmeras lendas e superstições. Na
Antiga Grécia, por exemplo, dizia-se
que o tubérculo maior, tomado
com leite de cabra, aumentava a
potência sexual. Além disso, dizia-se
também que se o homem comesse
o tubérculo grande era certo que
nasceriam rapazes; se fosse a
mulher a comer o mais pequeno,
nasceriam raparigas. Atualmente tais
superstições estão ultrapassadas. Orquídea-piramidal

as partes, chama-se micorriza (veja Os simbiontes, no capítulo 5,


na página 166). No entanto, esse fungo não existe por todo o lado
e, por isso, só uma parte ínfima das sementes consegue germinar.
É verdade que, durante vários milhões de anos, esse facto não
constituiu obstáculo à reprodução das diversas espécies. Mas, hoje,
vem juntar-se-lhe a destruição em massa provocada pelo homem,
o que torna o caso muito mais sério…

Se quiser saber mais


Onde ir?
Como explicámos no primeiro capítulo, as plantas estão sempre
na primeira linha do combate da natureza pela reconquista do
solo. Portanto, pode encontrá-las por todo o lado. O que não quer
dizer que elas não tenham as suas preferências.

141
A
PORTUGAL NATURAL I

• Para a flora dos campos, e matos, procure, o mais perto possível


da sua zona de residência, terrenos abandonados e descampados,
bem como zonas de vegetação de tipo arbustivo. Com alguma
sorte, poderá encontrar, nesses locais, algumas plantas de que
falamos neste livro.

• Quanto às zonas húmidas, o melhor é procurar as coordenadas


referentes a esses locais junto das instâncias turísticas ou recor-
rendo ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas
(www.icnf.pt).

• Que isso não o impeça de visitar também jardins botânicos e/ou


estufas, onde poderá encontrar um grande número de plantas
corretamente etiquetadas, o que é sempre um bom “empurrão”
para quem começa.

Em que época?
As plantas não florescem nem frutificam todas ao mesmo tempo.
Por isso, qualquer altura é boa para ir ao seu encontro. Mas não
há dúvida de que a primavera e o verão são épocas especialmente
propícias para isso.

Tenha em conta que…


Para atingir os seus objetivos sem dificuldades de maior, deve levar
na bagagem um bom guia de plantas, uma lupa com um aumento
suficiente (10x) e… muita paciência! Como acabámos de dizer,
prefira, para se familiarizar com as plantas, a época da floração.
Se não conseguir reconhecer o espécime no próprio lugar, leve
um exemplar consigo, desde que a planta seja suficientemente
abundante no local! Mas atenção: corte a planta, não a arranque!
Dito isto, comece pelo princípio, ou seja, pelo mais fácil: as plan-
tas maiores ou cujas características sejam bem claras. Não hesite,
além disso, em participar em saídas de campo eventualmente
organizadas por clubes e associações locais de estudo e de defesa
da natureza (por exemplo, pela Sociedade Portuguesa de Botânica —
www.spbotanica.pt).

142
A
AS PEQUENAS PLANTAS E FLORES SILVESTRES

A Sociedade Portuguesa de Botânica tem ainda disponível online


uma plataforma interativa (www.flora-on.pt), onde pode pesquisar
a partir de diferentes características, como a cor da flor, a forma
da folha, etc.

143
CAPÍTULO 5
Os cogumelos
A
PORTUGAL NATURAL I

Com mais de 150 mil espécies


um pouco de vocabulário conhecidas — e, provavelmente,
muitas estão ainda por descobrir
clorofila: pigmento de cor verde que permite
—, os fungos constituem um dos
a uma planta sintetizar, em presença da luz,
produtos energéticos (como os açúcares) grupos mais numerosos entre os
a partir de substâncias simples (como a água seres vivos. A ele pertencem, por
e o dióxido de carbono). Esse processo é exemplo, os fermentos ou leve-
denominado fotossíntese. duras, as ferrugens, os bolores e
carpóforo: corpo frutífero dos fungos os cogumelos. Neste guia, porém,
superiores, que equivale ao cogumelo e é onde só os últimos nos interessam.
se formam e amadurecem os esporos que irão
originar os novos fungos. No entanto, convém saber, desde
cortina: tecido fino, transparente e de aspeto já, que os grandes cogumelos são
sedoso, que liga o chapéu de um cogumelo uma pequena parte, ínfima até,
ao pé, para proteger as lâminas.
do que há para conhecer neste
esporo: célula reprodutora que, ao germinar, domínio. Existe também uma
dá origem a um novo fungo. enorme multidão de espécies
hifa: filamento muito fino que resulta da microscópicas, que se alimen-
germinação dos esporos dos fungos e que tam de restos de vegetais e de
é o elemento constituinte do corpo do fungo. animais mortos ou vivos ou que
himénio: parte fértil dos carpóforos ou pululam pelo solo dos bosques
cogumelos e onde se localizam os esporos, e das florestas.
ou seja, as células reprodutoras.
himenóforo: parte do carpóforo ou cogumelo Mas o que é um fungo? Ao con-
que sustém o himénio (por exemplo, as trário do que muitos pensam,
lâminas, os tubos, os dentes, as pregas, etc.). os fungos e, nomeadamente,
em forma de clava: estreito numa das os cogumelos não são plantas.
extremidades, mas progressivamente Constituem um reino à parte e
mais largo em direção à outra, sendo esta distinguem-se das plantas com
arredondada; forma de alguns cogumelos.
flor, sobretudo por não possuírem
em forma de fuso: largo a meia altura, clorofila e por se reproduzirem
fino nas extremidades.
através de esporos (veja A vida de
micélio: conjunto emaranhado de filamentos um cogumelo, na página seguinte).
– ou hifas – que resultam da germinação Alimentam-se de matéria orgânica
dos esporos e que constituem a parte não
viva e/ou morta e contribuem,
reprodutora do fungo.
desse modo, para a alteração e
substrato: meio rico em substâncias nutritivas para a decomposição de muitas
que serve de suporte ao desenvolvimento
substâncias. Muitos fungos são,
dos fungos.
por isso, extremamente úteis:
véu: fina membrana que envolve os órgãos talvez não saiba, por exemplo,
do chapéu num cogumelo. Quando cobre todo
que a penicilina é obtida a partir
o carpóforo ainda incipiente, diz-se externo;
quando cobre apenas o himénio chama-se de um desses pequenos seres;
interno. e que, do mesmo modo, cada
Na página anterior:
lâminas dos cogumelos
146
A
OS COGUMELOS

variedade de queijo está dependente de um determinado tipo


de fungo. Mas, neste caso, trata-se de fungos inferiores, ao passo
que os cogumelos pertencem ao grupo dos fungos superiores —
os macrofungos. Os cogumelos foram considerados, durante muito
tempo, uma espécie de ponte entre o Bem e o Mal, entre o dia e a
noite. Por um lado, a sua existência enigmática fazia deles criaturas
mais ou menos diabólicas, o que ainda hoje se nota nos nomes
de alguns: boleto-satanás, corno-da-abundância, cabeça-negra,
frades-de-sapo, falo impudico…; por outro, representavam uma
fonte de vida e, portanto, de Bem, já que alguns também eram
usados como alimento.

Ainda hoje, embora a ciência tenha ajudado a superar muitos


mitos, o mundo dos cogumelos continua envolto numa aura de
mistério. A extraordinária variedade de formas e cores que apre-
sentam e o seu aparecimento repentino e imprevisível não são
alheios, certamente, a esse estado de espírito.

A vida de um cogumelo
Se desenterrarmos um cogumelo com cuidado, o mais provável é que,
agarrado ao pé, venha um emaranhado de filamentos. Muitas pessoas
pensam que se trata das raízes, mas não é verdade: na realidade,
esses filamentos são a origem do cogumelo, a que se chama micélio
(veja Um pouco de vocabulário, na página anterior).

Ou seja: tal como a maçã é o fruto da planta a que chamamos


macieira, o cogumelo (ou seja, a sua parte visível) é o fruto do
micélio (veja o quadro na página 149). E, tal como a maçã contém
sementes, suscetíveis de dar origem a uma nova macieira, a fru-
tificação do cogumelo também possui esporos, a partir dos quais
poderão nascer novos micélios. Os esporos são constituídos por
uma só célula e, ao contrário das sementes, não possuem reservas
nutritivas que lhes permitam germinar.

Por isso, é necessário que caiam — os esporos são, geralmente,


disseminados pelo vento — num local propício ao seu desenvolvi-
mento. Para compensar essa contrariedade, o cogumelo produz
quantidades gigantescas de esporos: por exemplo, existe um cogu-
melo pertencente ao grupo dos políporos que chega a produzir
dois mil milhões de esporos!

147
A
PORTUGAL NATURAL I

Os esporos não são visíveis à vista desarmada, mas, quando são


muito numerosos, consegue-se distinguir a sua cor (veja a caixa
Como visualizar os esporos, na página 150). Esta é uma característica
importante para quem deseja identificar um determinado cogumelo…

Em regra, os esporos, quando


atingem a maturidade, são proje-
tados pelo himénio (veja Um pouco
de vocabulário, na página 146)
para o espaço situado entre as
lâminas, os tubos ou as agulhas —
dependendo do tipo de cogumelo.
Como estes órgãos estão virados
para o solo, os esporos acabam
por cair e são levados pelo vento.
Algumas espécies expelem, dire-
tamente para o ar, uma nuvem de
esporos ou atraem os insetos, que
Pormenor das lâminas os transportam para outro local.
do chapéu de um
cogumelo Se cair num local adequado, isto
é, num local que possua substâncias que possam nutrir o fungo,
o esporo dará origem a uma hifa (veja, novamente, Um pouco
de vocabulário); com o tempo, esta ramificar-se-á em todos os
sentidos, dando origem ao emaranhado a que se chama micélio.

A expressão crescer como cogumelos faz alusão à rapidez com que


as frutificações parecem desenvolver-se. De facto, um local onde
hoje não vemos um único cogumelo pode estar repleto deles no
dia seguinte. Mas, na realidade, essa rapidez é apenas aparente:
eles demoram muito tempo a constituir-se, embora a pessoa que
passa não se dê conta dos diversos estádios. E, de facto, a transfor-
mação em cogumelo “adulto”, isto é, com base, pé alto e chapéu,
que se faz por extensão das células, pode durar apenas 24 horas!

Quando nada lhe oferece resistência, o micélio cresce em todas


as direções, dando origem, nas extremidades, a frutificações que
formam um círculo mais ou menos regular. Quando o substrato
se esgota, o antigo micélio morre, enquanto o novo se desen-
volve a partir do círculo já formado. Dessa forma, o círculo vai-se
alargando de ano para ano. Este fenómeno é denominado, por
alguns, cerco das bruxas ou anel de fadas. Nalgumas regiões, a
imaginação popular chegou a ver nestes círculos o lugar onde as
feiticeiras executavam as suas danças durante o sabat. Mas, afinal,

148
A
OS COGUMELOS

a verdadeira explicação para esse facto nada tem de misterioso


ou de esotérico.

Constituição Plantas com flor Cogumelos


Parte vegetativa raízes, tronco/caules, ramos,
micélio
(não reprodutora) folhas, etc.
flor com carpelos
Órgão de reprodução frutificação do cogumelo
e/ou estames
Elementos reprodutores… sementes esporos

… que dão origem a: uma pequena planta uma hifa

A estrutura de um cogumelo
Para se familiarizar com a forma e com a estrutura habituais num
cogumelo, o melhor é comprar uma pequena caixa de tortulhos-da-
-terra, que são fáceis de encontrar. Desse modo, poderá observá-los
à vontade. Ao fazê-lo, notará, imediatamente, a presença de um
chapéu e de um pé: o chapéu é seco e sem verrugas; o pé, muito
curto e carnudo.

O chapéu de um cogumelo pode ter formas, cores e dimensões varia-


das. Além disso, a sua forma modifica-se ao longo do crescimento.
Quando se procura identificar um cogumelo, é necessário ver se
é viscoso ou não, se tem escamas ou verrugas, se muda de cor em
função, por exemplo, da humidade do ar, etc. Repare na ilustração
da página 152. Por baixo do chapéu, existe a cortina ou véu, uma
espécie de meia fina que se prolonga até ao pé. Nos exemplares mais
velhos que se encontrem na caixa que comprou, é provável que o
chapéu comece a desdobrar-se e que a cortina ameace rasgar-se.
Se os cogumelos forem pouco frescos, os chapéus poderão estar
completamente abertos e alguns “farrapos”, resquícios de uma cor-
tina completamente rasgada, poderão envolver o pé. São eles que
formam o anel, que se situa a cerca de dois terços da altura do pé.
A existência ou não do anel e as suas características constituem um
elemento importante para a identificação da espécie.

Nos cogumelos do género Cortinarius, a cortina é composta por


filamentos extremamente finos, parecidos com teias de aranha.

149
A
PORTUGAL NATURAL I

como visualizar os esporos


Existem duas formas divertidas Para isso, arranje uma caixa de sapatos
de, apesar das suas dimensões e pinte as faces interiores desta com
microscópicas, visualizar os esporos. uma tinta escura e baça. Quando a
tinta estiver seca, faça, a cerca de dois
•• A primeira consiste em fazer uma terços do comprimento da tampa, um
impressão dos esporos, que é o orifício circular do tamanho de um
método ideal para determinar a sua chapéu de cogumelo. Num dos lados,
cor. Para isso, corte o chapéu de um paralelamente ao orifício da tampa,
cogumelo de lâminas e coloque-o abra uma pequena fenda com cinco
sobre uma folha de papel, com as centímetros de comprimento e três
lâminas viradas para baixo. Se julgar milímetros de espessura. Finalmente,
que os esporos terão uma cor clara, faça um pequeno orifício, com cerca
escolha um papel de tom escuro ou de um centímetro de diâmetro, na
mesmo negro. Coloque um prato frente da caixa. Depois, coloque o
ou uma campânula sobre o chapéu, chapéu de um cogumelo maduro
para que este fique protegido das sobre o orifício da tampa. Faça incidir
correntes de ar. Passadas 24 horas, a luz de um projetor de diapositivos
levante cuidadosamente o prato ou a (ou de uma lanterna com um bom feixe
campânula. A folha de papel mostrará, de luz) através da fenda. Se espreitar
nitidamente, a marca da implantação pelo pequeno orifício que se encontra
das lâminas. na parte da frente da caixa, verá
uma nuvem de esporos que caem,
•• Também pode construir um lentamente, no fundo do esporoscópio.
“esporoscópio” (veja abaixo). É uma visão espetacular!

Caixa de interior negro

10 cm
25 cm

Fenda
Orifício
para observação Lanterna

150
A
OS COGUMELOS

Os cogumelos dos géneros Hebeloma e Inocybe também possuem


cortina, mas, depois da rutura, não ficam quaisquer vestígios no pé.
Finalmente, os jovens cogumelos pertencentes ao género Amanita
(veja a ilustração da página seguinte), incluindo o célebre frade-
-de-sapo ou mata-bois, possuem uma segunda membrana, uma
espécie de invólucro que envolve totalmente o cogumelo e que
constitui o véu externo. O crescimento rápido leva a que o invólucro
se rasgue. No caso do frade-de-sapo, surge um chapéu vermelho,
coberto de verrugas. Na verdade, estas são apenas resíduos do
invólucro e retiram-se facilmente com a ponta da unha (por vezes
também desaparecem com a chuva). Os outros resíduos do invó-
lucro encontram-se na base do pé, onde formam uma espécie de
saco, a volva.

O pé dos cogumelos também pode ter formas e características


muito diversas: comprido, curto, fino, grosso, bulboso, redondo,
achatado, nu (glabro), piloso, robusto, frágil, etc. Em muitas espé-
cies, o pé é central, noutras, como nos tintulhos, é lateral; outras
espécies, como certos políporos, não têm pé. Portanto, para iden-
tificar um cogumelo, é preciso estar atento, não só à sua forma
e ornamentação (relevo, coloração) mas também à presença ou
não de anel, de cortina ou de volva.

Cogumelos sem pé

151
A
PORTUGAL NATURAL I

ESTRUTURA TÍPICA DE UM COGUMELO


Corte de um cogumelo jovem
e de um cogumelo adulto (Amanita)

1. Chapéu
2. Lâminas
3. Véu interno; 1
no adulto, anel
4. Pé
2
5. Cortina que envolve
o pé (véu externo);
no adulto, volva

5
1
2 5
4
3

Os grupos de cogumelos
Os dois grupos de fungos que produzem cogumelos — basidio-
micetes e ascomicetes — distinguem-se, sobretudo, pela forma
como, neles, se originam os esporos. Nas descrições que se seguem
apenas se incluem os cogumelos mais abundantes ou típicos, ou
seja, aqueles que poderá encontrar mais facilmente durante um
passeio pelo bosque.

Os basidiomicetes
Recebem este nome os cogumelos em que os esporos são formados
por células especializadas denominadas basídios. Pertencem a este

152
A
OS COGUMELOS

não à colheita-massacre!
Se apanharmos um cogumelo com cuidado, apanha intensiva de cogumelos para fins
não danificaremos o micélio e, portanto, comerciais, muitas vezes sem obedecer a
não poremos em perigo a sobrevivência quaisquer regras ou cuidados. Mais cedo ou
da espécie. Mas, mesmo assim, convém mais tarde, estas ações terão consequências
evitar os excessos e, sobretudo, as colheitas negativas, que podem chegar, inclusive, ao
sistemáticas, que podem contribuir para desaparecimento de espécies. Quem sabe
uma diminuição da quantidade de esporos se, um dia, não ficaremos privados da beleza
que possam disseminar e originar novos de muitos cogumelos (tal como o temos sido
micélios. As zonas naturais propícias ao de algumas espécies vegetais e animais)?
desenvolvimento dos cogumelos vão sendo Por isso, adote as seguintes medidas
raras. Nas matas e nos bosques que têm de prevenção:
escapado à desflorestação e à urbanização – só apanhe um cogumelo quando vir
crescentes, a passagem de pessoas e/ reunidos, pelo menos, dez exemplares
/ou de animais leva a que o chão seja da mesma espécie;
regularmente espezinhado. Isso acontece – nunca apanhe mais cogumelos do que
até nos espaços bem próximos das árvores os necessários;
– que constituem o local mais propício ao – se se aperceber de que, na sua zona,
brotar dos cogumelos –, o que impede o alguém anda a apanhar, de forma intensiva
desenvolvimento dos micélios nascentes. e sistemática, cogumelos silvestres, informe
Além disso, em determinadas zonas do o Instituto de Conservação da Natureza
país, tem-se registado, recentemente, uma e das Florestas.

grupo quase todas as frutificações que reconhecemos como sendo


cogumelos típicos, ou seja, quase todos os cogumelos compostos
por um pé e um chapéu. Subdividem-se em vários subgrupos.

Género Agaricus
Possuem esporos escuros, entre o castanho e o violeta. O pé é bul-
boso e, geralmente, não tem volva (cogumelos sem véu externo).
As lâminas encontram-se próximas umas das outras e possuem
uma coloração entre o branco e o cor-de-rosa quando são jovens,
e entre o castanho e o violeta em fase mais madura.

Os tortulhos-da-terra são o representante mais célebre deste género


de cogumelos. Neste grupo não há nenhuma espécie mortal, mas
algumas podem perturbar seriamente o sistema digestivo e provo-
car vómitos ou diarreias. Se aqueles que colher ficarem amarelos,
não os coma. Algumas espécies são identificáveis através desta
alteração de cores.

• Os tortulhos-da-terra têm carne branca, ligeiramente rosa na base


do pé quando cortados. O pé estreita-se na base, onde, por vezes,

153
A
PORTUGAL NATURAL I

adquire um tom amarelado. O anel é fino e frágil. Crescem nos


campos e prados e na berma dos caminhos e encontram-se com
frequência no outono. São uma espécie comestível.

• Se a cor da carne, depois de cortada, ficar avermelhada ou de um


tom rosado-escuro, e se os tiver colhido numa mata de resinosas
ou de folhosas (carvalhos ou sobreiros), o mais certo é que se trate
de febras ou caca-vinas (Agaricus ou Psalliota sylvatica), espécie
de cogumelos cujo chapéu possui escamas castanhas.

Género Amanita
Possuem esporos brancos. Algumas espécies são bastante grandes.
O chapéu é frequentemente salpicado de escamas e o pé central
é muitas vezes munido de anel e volva.

Estes cogumelos distinguem-se de alguns do género anterior, que


poderiam eventualmente confundir-se com eles, por possuírem
lâminas brancas ou amareladas, mas nunca cor-de-rosa ou castanhas,
e pela volva que se encontra na base do pé. Alguns representantes
deste género são particularmente célebres. De facto, ele agrupa
espécies comestíveis muito apreciadas e espécies bastante tóxicas,
por vezes mortais. As amanitas carregam na consciência o peso
de 95 por cento das intoxicações mortais atribuíveis a cogumelos!

• Os frades-de-sapo ou mata-bois devem a sua popularidade a inú-


meras histórias de banda desenhada, onde surgem com frequência
(quem não se lembra das casas dos Smurfs?). Possuem um chapéu
vermelho-escarlate, salpicado de numerosas escamas brancas.
Encontram-se, sobretudo, em pinhais. Aparecem por vezes na
primavera, mas são mais abundantes no outono. Não possuem
uma verdadeira volva, mas apenas alguns vestígios dela, na forma
de três ou quatro anéis de flocos brancos.

Estes cogumelos são venenosos e, por isso, não devem consumir-


-se. Entre outras coisas, provocam graves alucinações.

• O míscaro-limão, também bastante vulgar, cresce tanto nos bos-


ques de folhosas como de resinosas, especialmente em solos are-
nosos. O chapéu é verde-limão, de tonalidade mais forte ao centro,
e encontra-se salpicado de escamas esbranquiçadas. Inicialmente,
o chapéu tem uma forma arredondada, mas, depois, fica achatado,
à medida que vai envelhecendo. Quando o tempo está húmido, fica
viscoso e brilhante. Primeiro, as lâminas são brancas, mas depois

154
A
OS COGUMELOS

ficam cor de ocre. O pé, nitidamente mais grosso na base, é branco;


e o anel, amarelado. Todas as partes do cogumelo libertam um
típico cheiro a batata crua.

Esta espécie é comestível, mas tem um sabor muito desagradável.


Além disso, convém ter muito cuidado; como esta espécie se pode
confundir facilmente com a cicuta-verde, impõe-se uma atitude
de rigorosa desconfiança.

• Errar é humano, mas, neste caso, as consequências do erro podem


ser fatais: a cicuta-verde é, apenas, o cogumelo mais venenoso da
Europa! Além disso, os sintomas de intoxicação só se manifestam,
por vezes, 24 horas depois da ingestão, o que torna o diagnóstico
muito difícil e leva a que seja inútil qualquer tentativa de lavagem
ao estômago.

A cor da cicuta-verde vai do amarelo-claro ao verde-azeitona. Entre


as características mais importantes, sublinhemos as lâminas brancas
(por vezes ligeiramente esverdeadas), muito cerradas; o anel branco,
que envolve o pé de um verde-desmaiado; e a volva Amanita muscaria
saliente, à volta da base arredondada do pé. A
volva só se vê quando se desenterra o cogumelo:
quando este é arrancado, a volva fica no chão.
Esta espécie é muito menos frequente do que os
frades-de-sapo. Costuma aparecer junto a árvo-
res resinosas, no Norte do país, e em montados,
sobretudo no Ribatejo. Não se esqueça: trata-se
de um cogumelo mortal!

• A pantera encontra-se também nos bosques


de resinosas e folhosas, mas é mais frequente
do que a cicuta-verde. Também é uma espécie
venenosa e, por vezes, mortal. O principal perigo
consiste na possível confusão com duas espécies
comestíveis: a Amanita spissa e a Amanita rubes-
cens, por vezes designada por golmota e que só
deve consumir-se depois de cozida. Destas três
espécies, só a pantera cheira, embora vagamente,
a rabanete. O pé é branco, mais grosso na base,
e a volva é cerrada e coroada por uma espécie de
anel formado por duas ou três dobras. O chapéu
é castanho, salpicado de escamas brancas e com
muitas riscas nos bordos.

155
A
PORTUGAL NATURAL I

• Finalmente, temos ainda a amanita-dos-césares ou amarela-de-ovo.


Trata-se de uma espécie comestível e muito saborosa, frequente nos
montados arenosos do Ribatejo e nos pinhais de Trás-os-Montes. O
chapéu é cor de laranja ou vermelho-alaranjado, raramente ama-
relo. O pé é amarelo, de aspeto robusto; possui um anel também
amarelo, atravessado verticalmente por estrias; finalmente, a volva
é branca e tem a forma de um saco. A carne é tenra; e o cheiro,
leve e delicado.

Género Armillariella
Se tivermos em conta que a palavra portuguesa armila significa
“anel, bracelete”, perceberemos que o nome atribuído a este género
chama a atenção para uma das principais características dos cogu-
melos que a ele pertencem: o anel, que é espesso e facilmente
visível. Além disso, a maioria das espécies cresce sobre madeira.

• A armilária-cor-de-mel cresce nos troncos de árvores mortas ou


vivas. O micélio ataca as árvores quando estas se encontram ainda
vivas, parasitando-as; mas, uma vez cortado o tronco, o cogumelo
continua a colonizá-lo, desta vez como um saprófita (leia sobre os
sapróbios — ou saprófitas —, na página 164), de modo que constitui
uma fonte permanente de infeção e contribui para a decomposição
da madeira morta. A forma é muito variável. O chapéu, como o nome
indica, é cor de mel e possui escamas castanho-escuras, que, nos
exemplares jovens, o cobrem por inteiro. O anel é esbranquiçado
e encontra-se próximo do chapéu. Os esporos são de cor creme.
Trata-se de uma espécie comestível, mas de sabor ligeiramente
amargo. Parece existir um pouco por todo o lado, sem ter um habitat
muito específico. Ou seja, trata-se de uma espécie cosmopolita.

Género Cantharellus
Nas espécies típicas deste género, como a cantarela ou crista-de-galo,
as lâminas encontram-se deformadas e têm o aspeto de espessas
pregas, que descem pelo pé. O chapéu é côncavo, semelhante a
um funil. Os esporos são brancos. A cantarela surge no outono,
normalmente sob árvores que se encontram em terrenos arenosos
ou argilosos, e é comestível. Na maioria das vezes, estes cogumelos
crescem em grupo.

Género Clitocybe
Possuem esporos brancos. O chapéu é frequentemente côncavo,
em forma de funil. As lâminas descem pelo pé. O melhor exem-
plo deste grupo é o Clitocybe nebularis, que, no outono, costuma

156
A
OS COGUMELOS

aparecer entre as folhas caídas, onde não é invulgar formar um


anel de fadas (veja, na página 148, em A vida de um cogumelo).
É um cogumelo de aspeto robusto, de chapéu cinzento-escuro e
forma inicialmente ovoide; mais tarde, abre-se e adquire, muitas
vezes, a forma de funil acima referida.

Género Coprinus
Possuem esporos negros. Umas vezes pequenos, outras grandes,
geralmente acinzentados ou acastanhados. Possuem lâminas soltas,
mas cerradas; quando envelhecem, digerem a sua própria matéria
orgânica e liquefazem-se, transformando-se numa substância negra
semelhante a tinta (e que, inclusivamente, é utilizada como tal). Cogumelo do género
Os esporos vão embebidos nesse Coprinus
líquido e são por ele transporta-
dos, ao contrário do que acontece
com a maioria das espécies, em
que a dispersão dos esporos é
feita pelo vento. Quando jovens,
o chapéu mantém-se fechado, for-
mando uma espécie de invólucro
em redor do pé, mas depois abre-
-se. Encontram-se, geralmente, em
solos ricos em matérias orgânicas
(jardins, bermas de estradas e
caminhos, aterros). Alguns são
comestíveis.

Género Lactarius
Os esporos são brancos. O chapéu tem, geralmente, forma de
funil ou de taça. Além disso, há duas características que permitem
identificar, com algum rigor, este género de cogumelos:
— quando as lâminas sofrem algum tipo de golpe, sobretudo se
os cogumelos forem frescos, deixam escorrer um líquido de con-
sistência leitosa (no entanto, há outros cogumelos que também
apresentam esta característica);
— a carne parte-se facilmente e é fácil de dividir em pequenos
pedaços (enquanto, na maioria dos outros cogumelos, a carne é
dura, fibrosa e elástica).

• As sanchas, pinheiras ou cogumelos-de-leite são lactários comes-


tíveis e muito apreciados no Centro e Norte do país. Surgem no
outono, em bosques e matas, tanto de árvores resinosas como de
folhosas. Distinguem-se facilmente dos outros cogumelos: o líquido

157
A
PORTUGAL NATURAL I

que deles escorre é brilhante e cor de cenoura, tornando-se cor de


vinho tinto meia hora depois; o chapéu é alaranjado, mas fica verde
quando atinge a maturidade; a carne, quando cortada, adquire
tons esverdeados que rapidamente desaparecem ou “desmaiam”.

Género Lepiota
Geralmente, possuem esporos brancos. Existem espécies de dimen-
sões muito diversas. O chapéu é normalmente escamoso e separa-se
facilmente do pé, que é fino e munido de anel.

Não possuem volva.

• O para-sol, fradelho ou míscaro-


-da-terra é o maior exemplar
deste género de cogumelos (pode
atingir 40 centímetros de altura!)
e um dos maiores da Europa.
De silhueta esguia, cresce nas
matas e nos bosques de todo
o país, mas também se pode
encontrar na berma dos cami-
nhos, nos campos e em jardins.
O chapéu (que pode ter entre 20
e 25 centímetros de diâmetro)
tem, no início, a forma de um
Para-sol sino e encontra-se coberto por
(Lepiota procera)
uma cutícula acastanhada; esta
rasga-se quando o cogumelo se abre, dando origem a escamas
castanhas sobre um fundo creme-acinzentado. No centro do cha-
péu, a pele é nitidamente menos repuxada, de forma que, aí, as
fissuras são menores e em menor número. O pé é alto e esguio.
Finalmente, o anel, membranoso e móvel ao longo do pé, faz deste
cogumelo um prazer para os olhos. Além de bonito, é comestível!

Género Paxillus
Os esporos são castanhos. As lâminas descem ao longo do pé e
separam-se facilmente do chapéu. São espécies de grandes dimensões.

O Paxillus involutus é um cogumelo típico deste género. O chapéu


é castanho-amarelado e tem entre 5 e 15 centímetros de diâmetro.
Nos exemplares jovens, o chapéu tem forma de abóbada, mas,
quando se abre, fica afunilado. A margem é enrolada. Esta espécie
é venenosa quando consumida crua.

158
A
OS COGUMELOS

Género Russula
Possuem esporos brancos ou amarelados. O chapéu, o pé e as
lâminas quebram-se facilmente. Por vezes, o chapéu possui cores
muito vivas. Não possuem anel nem volva.

As rússulas e os lactários têm algumas semelhanças (carne quebra-


diça que se desagrega facilmente), mas as primeiras não segregam
nenhum líquido leitoso.

Este é o único género que apresenta diversas variações de cor, que


vão do amarelo ao vermelho, passando pelo verde e pelo violeta.
Por isso, as rússulas nunca passam despercebidas. No outono,
o seu habitat transforma-se numa verdadeira obra de arte. Em
consequência, o género é fácil de reconhecer, mas o mesmo não
se passa relativamente às diferentes variedades. Por vezes, sem a
ajuda de um microscópio, a distinção é impossível.

No Russula cyanoxantha, também chamado, por vezes, carvoeira,


as misturas de cores são relativamente frequentes, o que torna
esta espécie ainda mais pitoresca. O pé é sempre branco, e os
tons do chapéu costumam ser vermelho-escuros, com reflexos
verde-azeitona. As lâminas são brancas e maleáveis.

Nota: todos os cogumelos de que falámos até agora tinham a parte


fértil (ou seja, a parte que produz os esporos) localizada sob o
chapéu, em forma de lâminas, constituindo aquilo a que se pode
chamar o “cogumelo-tipo”. Mas nem todos os cogumelos têm essa
estrutura estereotipada. Nos géneros que a seguir descrevemos,
igualmente bem representados, a parte fértil sob o chapéu não é
constituída por lâminas. E alguns até nem têm chapéu!…

Género Boletus
Neste género, as lâminas deram lugar a uma espécie de tubos
paralelos entre si, cujo conjunto de aberturas, visto por baixo,
faz lembrar uma esponja. Dependendo da espécie, esses poros
têm uma abertura pequena ou grande, redonda ou angulosa,
etc. A descoloração que se produz, quando se exerce pressão
nos poros ou quando se belisca o pé, é uma característica típica
dos cogumelos deste género e constitui a melhor forma de os
identificar.

• O Boletus erythropus e o Boletus satanas, por vezes chamados,


respetivamente, pé-vermelho e boleto-satanás, são parecidos:

159
A
PORTUGAL NATURAL I

ambos têm poros vermelhos,


e o pé, arredondado na base,
fica azul quando se corta. No
pé-vermelho, este fenómeno
produz-se quase instantanea-
mente; no boleto-satanás, é
necessário esperar um pouco
mais. Por outro lado, enquanto
o pé-vermelho se distingue por
ter cheiro e gosto agradáveis, o
boleto-satanás liberta um cheiro
fétido e muito penetrante. O gosto
também é desagradável, e ainda
bem, pois trata-se de uma espé-
Boletus castaneus cie venenosa. O pé-vermelho é
comestível.

• Muito apreciado entre nós, o boleto-bom, pão-


-de-ló ou míscaro, nomes pelos quais é conhe-
cido, é um belo cogumelo carnudo e com sabor
a noz. Inicialmente, os poros são brancos, mas,
depois, ficam amarelos. O pé, cheio e de aspeto
maciço, possui uma espécie de rede branca na
parte superior, que vai escurecendo à medida
que se aproxima da base.

Esta espécie costuma aparecer no fim do verão


Tubos da parte e pode encontrar-se até ao fim do outono. É fre-
inferior do chapéu
de um boleto
quente em todo o país.

Os gastromicetes
Constituem um subgrupo algo original dentro dos basidiomice-
tes, já que produzem os esporos dentro do corpo de frutificação
(veja Um pouco de vocabulário, na página 146), que se abre apenas
quando aqueles estão maduros. A maioria abre-se de forma muito
variada, expelindo os esporos ao mínimo contacto do exterior. Até
uma gota de chuva pode desencadear o mecanismo de expulsão
dos esporos. Não têm chapéu nem lâminas.

• As espécies do género Scleroderma são coriáceas e verrugosas.


O Scleroderma citrinum é dos mais vulgares. Parece-se vagamente
com uma batata, e a sua superfície, de cor castanho-amarelada,
possui muitas escamas e verrugas. Os esporos são vermelho-escuros

160
A
OS COGUMELOS

e saem através de uma abertura irregular, que surge quando o


O “inocente”
cogumelo entra em decomposição. Por vezes, esta espécie é para- Phallus impudicus
sitada por um pequeno boleto, o que mostra que (sátiro-fétido)
até os fungos se podem “comer” uns aos outros!

• Os cogumelos que pertencem ao género Phallus


têm o pé esponjoso e o chapéu, em forma de cam-
pânula, está coberto por uma massa gelatinosa
que contém os esporos. Nos exemplares jovens,
o corpo de frutificação encontra-se envolvido por
uma espécie de ovo, a que alguns chamam ovo
do diabo. Atingida a maturidade, o véu rasga-se,
deixando aparecer o cogumelo. O mais conhecido
representante deste género é o Phallus impudicus,
nalguns casos traduzido livremente por falo impu-
dico, mas a que outros chamam sátiro-fétido. A razão
para esta última designação provém do facto de
este cogumelo libertar um cheiro intenso a carne
podre, que se pode sentir a vários metros de dis-
tância. Curiosamente, a sua forma assemelha-se
bastante a um pénis ereto. E a tal ponto que tempo
houve em que uma senhora inglesa de muito boas
famílias não hesitou em lançar, no seu país ainda
puritano, uma cruzada feroz, tendo em vista a
erradicação deste inocente cogumelo.

Esta espécie só é comestível enquanto se encontra


no estado de ovo.

• As espécies do género Lycoperdon são conhecidas,


entre nós, sob a designação de bexigas-de-lobo ou
bufas-de-lobo. Estes nomes engraçados provêm
do facto de os esporos serem expelidos a grande
velocidade, formando um jato colorido. Para que
esse fenómeno ocorra, basta que os esporos estejam
maduros e que a humidade do ambiente seja pro- Bufa-de-lobo
expelindo esporos
pícia ao desencadear do mecanismo de expulsão.

Os cogumelos gelatinosos
Estes cogumelos desenvolvem-se normalmente sobre madeira
viva ou morta e podem ter formas muito variadas. Reúnem-se
sob esta designação corrente devido ao facto de todos terem uma
consistência gelatinosa.

161
A
PORTUGAL NATURAL I

• As espécies pertencentes ao género Clavaria são alongadas, em


forma de fuso ou de clava (veja Um pouco de vocabulário, na página
146) ou, então, apresentam ramificações, como os corais. Não são
muito vulgares, e os que se encontram com mais frequência são
os que têm forma de coral, como os Clavaria aurea.

• Os cogumelos do género Tremellea resistem muito bem à desi-


dratação. Quando o tempo está seco, encolhem e ficam reduzidos
Clavaria aurea a uma membrana fina e dura; numa atmosfera
húmida, retomam a sua forma e consistência
gelatinosa normais.

• O género Auricularia tem no cogumelo que é


conhecido sob a designação de orelha-de-judas
o seu representante mais célebre. Como o nome
indica, esta espécie faz lembrar uma orelha
humana, devido às pregas e aos sulcos que se
encontram no interior do corpo de frutificação.
De cor castanho-avermelhada e de aspeto bri-
lhante, o orelha-de-judas cresce sobre ramos de
diversas árvores debilitadas e velhas, mostrando,
no entanto, alguma preferência pelo sabugueiro.
Daqui vem o nome de “judas”, pois existe uma
lenda que afirma ter sido numa dessas árvores
que o apóstolo Judas se terá enforcado.
Orelhas-de-judas

162
A
OS COGUMELOS

Os ascomicetes
Neste grupo, os esporos desenvolvem-se no interior de células
em forma de clava — a que se chama ascos. Estas células tanto
podem manter-se no interior do corpo de frutificação como
aparecer à superfície. Estes cogumelos são comestíveis e muito
apreciados. Os mais conhecidos são as pezizas, as morchelas e
as túberas.

Género Peziza
Quando as circunstâncias meteorológicas lhes são favoráveis, as
pezizas assumem, com frequência, a forma de uma taça. Quando os
esporos ficam maduros e o tempo está húmido, os ascos absorvem
água e distendem-se bruscamente. O líquido absorvido é, desse
modo, atirado a uma certa distância, levando consigo os esporos.
Em dias em que haja boa luz, é possível observar esse fenómeno.

A peziza-encarnada tem um diâmetro que varia entre 0,5 e 10 centí-


metros. Cresce, geralmente, em terrenos pouco férteis. Inicialmente,
parece uma tigela, mas vai adquirindo, aos poucos, a forma de um
prato. É cor de laranja por dentro e esbranquiçada por fora. Surge,
normalmente, no fim do outono e durante o inverno.

Género Morchella
Ao contrário da maioria dos outros cogumelos, que surge durante o
outono, as morchelas ou pantorras aparecem na primavera. É fácil
reconhecer as espécies que pertencem a este género, mas distingui-las
entre si é uma tarefa difícil.

O pé é rugoso e suporta um chapéu cheio de pregas, que formam


cavidades bem delimitadas, a que se chama alvéolos. O sabor refi-
nado deste género de cogumelos é muito apreciado, sobretudo
como acompanhamento de omeletas ou de frango. A Morchella
esculenta é a espécie mais conhecida. A carne é esbranquiçada e
espessa. O sabor é agradável; contudo, não deve comer-se cru.

Género Tuber
As espécies pertencentes a este género são normalmente subter-
râneas e vivem em simbiose (veja também Como se alimentam?,
na página seguinte) com algumas árvores, alimentando-se dos
açúcares que estas sintetizam e facilitando-lhes, em troca, a absor-
ção de sais minerais presentes no solo. Esta associação chama-se
micorriza (veja a página 166).

163
A
PORTUGAL NATURAL I

A Tuber aestivum, mais conhecida por trufa-branca, é esférica e


está coberta por pequenas verrugas de forma piramidal. Por fora, é
cinzento-escura; por dentro, cinzento-clara. Os ascos encontram-se
no interior do cogumelo. É pouco vulgar em terrenos calcários.

As famosas trufas francesas ou túberas, que têm a polpa negra


quando estão maduras, também pertencem a este género.

Como se alimentam?
Os cogumelos têm um lugar importante na cadeia ecológica. Como
não possuem clorofila (veja Um pouco de vocabulário, na página 146),
são incapazes de realizar a fotossíntese; portanto, não conseguem
captar a energia solar e utilizá-la para produzir os seus próprios
alimentos; nem conseguem alimentar-se das substâncias minerais
existentes no solo. Para subsistirem, precisam de absorver subs-
tâncias orgânicas elaboradas por outros seres vivos.

De acordo com o seu tipo de alimentação, os cogumelos dividem-se


em três grupos: os sapróbios (ou saprófitas), que extraem o alimento

comestível ou venenoso?
Abordar, de forma leviana, a questão da pretendem convencer os outros de que
toxicidade dos cogumelos silvestres é um são especialistas em cogumelos que nunca
erro que pode sair muito caro: convém saber experimentaram e, por vezes, nunca viram!…
que, todos os anos, o Centro de Informação
Antivenenos regista alguns casos de Nesta obra, como em muitas outras,
intoxicações alimentares graves, devidas à apresenta-se por vezes o gosto de um
ingestão de cogumelos venenosos! Além determinado cogumelo como um dos
disso, também é bom ter em conta que, critérios de identificação. No entanto, isso
contrariamente à convicção popular, não não quer dizer que se tenha de comer um
existem “truques” que permitam distinguir, pedaço do cogumelo, a fim de saber se é
de forma segura, os cogumelos comestíveis bom ou mau; trata-se, pura e simplesmente,
dos venenosos. Por isso, quando for de colocar um pequeno pedaço na ponta da
apanhar cogumelos, é necessário proceder língua, só para lhe tomar o gosto, e deitá-lo
com muita cautela e, pelo menos de fora a seguir! Na verdade, nem aqueles
início, fazer-se acompanhar de alguém que estudam os cogumelos há muitos
com muita experiência ou mostrar os anos costumam ter a ousadia de garantir,
exemplares colhidos a um entendido a cem por cento, o caráter inofensivo de
na matéria. Mas tenha cuidado com os uma determinada espécie! São esses os
“falsos conhecedores”: são muitos os que verdadeiros conhecedores…

164
A
OS COGUMELOS

da matéria orgânica morta; os parasitas, que vivem sobre outros


organismos vivos (plantas, animais e até outros fungos!) provocando
doenças mais ou menos graves; e os simbiontes, que vivem graças
a uma espécie de “colaboração” que estabelecem com outro orga-
nismo vivo, de forma que ambos beneficiam com essa associação.

Os cogumelos crescem no solo, sobre o húmus, sobre folhas mortas,


sobre madeira viva ou em decomposição, e em tecidos animais
mortos ou vivos. Nenhum destes substratos (veja Um pouco de
vocabulário, na página 146) pode considerar-se completamente a
salvo de um “ataque” de cogumelos.

Os sapróbios
Os sapróbios são uma espécie de “máquinas de limpeza e de reci-
clagem”, pois decompõem a matéria orgânica morta depositada no
solo, transformando-a em unidades cada vez menores, até deixar
apenas os compostos elementares. Dessa forma, o cogumelo obtém
os nutrientes de que necessita e restitui ao solo os componen-
tes essenciais, que voltam a ser reutilizados pelas plantas verdes
durante o crescimento. Sem este processo natural de decomposição
e restituição, o solo acabaria por esgotar os seus recursos. São dos
mais abundantes na natureza, permitindo o bom funcionamento
do ecossistema graças ao seu papel reciclador de nutrientes.

Contudo, alguns sapróbios podem provocar grandes estragos, sobre-


tudo em móveis, vigas de madeira e mastros de navios. Felizmente,
a maioria ataca substratos insignificantes, como madeira em decom-
posição (por vezes, dependem de uma árvore específica), folhas
mortas ou esterco fresco de cavalo ou vaca. No entanto, são poucas
as espécies que se alimentam de matéria morta de origem animal.

Os parasitas
Os parasitas extraem o seu alimento de organismos vivos, que
recebem o nome de hospedeiros. Na maioria dos casos, estes
fungos são extremamente específicos e fixam-se exclusivamente
em determinados organismos.

• O tintulho, por exemplo, é um parasita que tem nas oliveiras os


seus hospedeiros preferidos. É um cogumelo de cor alaranjada e

165
A
PORTUGAL NATURAL I

de aspeto brilhante, cujo chapéu pode ter entre 6 e 18 centímetros


de diâmetro. Deita um cheiro bastante desagradável e é venenoso.
Cresce nos troncos de oliveiras e, por vezes, de carvalhos.

• O Fomes fomentarius prefere as faias e os vidoeiros, embora ataque


outras árvores. É um cogumelo duro, podendo atingir 50 centí-
metros de diâmetro e 10 a 20 centímetros de espessura. A face
superior é acinzentada e estriada por sulcos concêntricos. Este
cogumelo liberta um odor forte, mas agradável. A sua carne é de tal
forma inflamável que se incendeia imediatamente se for posta em
contacto com uma chama. Dantes, aproveitava-se essa qualidade
para fazer mechas, antepassadas dos fósforos.

• Os carvalhos mais velhos, quando golpeados no tronco, correm o


risco de ser atacados pela língua-de-vaca ou ventarolas. Este cogu-
melo é muito frequente em todo o país e tanto aparece na primavera
como no outono. Também ataca os castanheiros. Partindo de uma
zona bem delimitada, a contaminação alastra, lentamente, a todo
o tronco. Sob a sua influência, a madeira escurece. Antigamente,
esta madeira escurecida era muito apreciada em marcenaria. Sem
pé e em forma de língua (daí o seu nome), a língua-de-vaca fixa-
-se, geralmente, na base do tronco da árvore. A carne é espessa,
carnuda e aquosa; tem algumas manchas cor-de-rosa e segrega,
quando cortada, um líquido avermelhado.

Os simbiontes
Uma simbiose assenta numa relação de dar e receber, em que
os parceiros vivem em conjunto para o bem de ambos. Mas esse
equilíbrio é frágil e pode degenerar em parasitismo. Na simbiose
que une a maior parte dos cogumelos e muitas espécies de árvores,
arbustos e ervas, cria-se uma associação entre o micélio dos fun-
gos e as raízes da planta, a que se chama micorriza. Dessa forma,
o cogumelo recebe do seu hospedeiro açúcares e outros elementos
ricos em energia e vitaminas; em contrapartida, a superfície de
absorção da planta é aumentada, porque o micélio se estende a áreas
bastante grandes, decompondo a matéria orgânica em nutrientes
alimentares que cede ao seu parceiro.

As rússulas, por exemplo, desenvolvem micorrizas com sobreiros.


O míscaro dos vidoeiros, como o nome indica, associa-se quase
sempre a essas árvores.

166
A
OS COGUMELOS

Mas os frades-de-sapo ou mata-bois também parecem ter alguma


preferência pelos vidoeiros, apesar de, por vezes, também aparece-
rem associados a algumas coníferas, como os pinheiros e os abetos.

Se quiser saber mais


Onde ir?
Os cogumelos são seres notáveis que crescem por todo o lado
(exceto, talvez, em locais muito quentes e/ou muito ensolarados).
Mas preferem, sem dúvida, a meia-luz e a humidade. Como não
são capazes de realizar a fotossíntese, não precisam da luz direta
do sol. Por isso, procure-os principalmente em bosques, matas e
terrenos de vegetação alta. Olhe atentamente para o solo, em redor
das árvores, e para o tronco destas, que é onde cresce uma boa
parte dos cogumelos.

Em que época?
Sobretudo no outono, como se sabe. No entanto, algumas espécies
surgem com mais frequência ou mesmo exclusivamente na pri-
mavera, como é o caso das morchelas. Outras, mais impacientes,
não esperam pelo outono e aparecem logo que as condições
atmosféricas se mostram favoráveis.

Tenha em conta que…


Uma boa lupa e um espelho de bolso permitir-lhe-ão ver, sem difi-
culdade, as estruturas de menores dimensões e visualizar a parte
inferior do chapéu do cogumelo. Assim, poderá evitar a colheita do
cogumelo. Também é possível reconhecer algumas espécies através
do cheiro e do paladar. Mas atenção: não mastigue o cogumelo;
tome-lhe apenas o gosto, com a ponta da língua (veja também a
caixa Comestível ou venenoso?, na página 164). Em caso de acidente
ou suspeita de intoxicação por cogumelos venenosos, contacte o
Centro de Informação Antivenenos (telefone 808 250 143). Nunca
é de mais avisar: não corra riscos!

167
CAPÍTULO 6
O litoral
A
PORTUGAL NATURAL I

Referência quase mítica para um povo que um dia partiu mares


adentro em busca de novas terras, o nosso litoral, com os seus
apetecíveis areais e as suas imponentes arribas, continua a exercer,
hoje, uma atração muito especial. Não é por acaso que muitos dos
nossos tempos livres são programados de forma a podermos apro-
veitar os imensos quilómetros de areia e de rocha que bordejam
as faixas a ocidente e a sul do país. É que, apesar de pequeno,
Portugal possui 943 quilómetros de costa, num perímetro total
de 2048 quilómetros. Em mais de metade dessas nove centenas
de quilómetros abundam dunas e areais, o que
os transforma num biótopo a não desprezar.
Além disso, convém não esquecer que diversas
um pouco de áreas protegidas do nosso país se encontram no
vocabulário litoral ou muito perto dele. É o caso da Área de
biótopo: área geográfica a Paisagem Protegida do Litoral de Esposende, da
que corresponde um conjunto Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, da Área
homogéneo de fatores físicos de Paisagem Protegida do Sudoeste Alentejano e
ambientais.
Costa Vicentina, da Reserva Natural da Ria Formosa,
desidratação: extrema secura etc. Trata-se, portanto, de uma enorme fonte de
provocada pela eliminação da riqueza natural, que urge conhecer e preservar.
água normalmente presente
num determinado organismo.
Com este capítulo, pretendemos despertar o seu
infralitoral (andar): parte do litoral interesse para a vida animal e vegetal que pulula
que se encontra submersa mesmo
ao longo da nossa costa. Esperamos que ele o
durante a maré baixa.
ajude a olhar para o litoral de uma forma nova e
médio-litoral (andar): parte do lhe crie o desejo de ver o que há por detrás das
litoral que se encontra na zona das
dunas e por debaixo da areia onde tantas vezes
marés e, portanto, umas vezes
está coberta de água e outras não. se deitou ao sol, sem suspeitar da vida oculta
que, no entanto, estava ali tão perto.
plâncton: organismos geralmente
microscópicos que não têm
movimentos próprios ou que Nos limites dessa faixa quase retilínea que constitui
não suficientemente fortes para o cordão litoral português, podemos considerar
vencer as correntes do meio cinco ambientes distintos: o mar, a praia, a costa
aquático onde vivem; em resumo, rochosa, as dunas e os sapais. Vejamo-los um a um.
são os organismos que andam
ao sabor das correntes.
supralitoral (andar): parte rochosa
do litoral raramente coberta pela
água do mar (normalmente é
O mar
apenas humedecida pelos salpicos).
Não é segredo para ninguém que a água do mar
valva: peça ou cada uma das peças
de natureza calcária que constituem é salgada. Na sua composição entram diversos
a concha de alguns animais, como o sais, mas a parte de leão pertence ao cloreto de
berbigão, as amêijoas, etc. sódio, ou seja, ao equivalente químico do nosso
Na página anterior: Ammophila arenaria,
na praia do Guincho, Cascais
170
A
O LITORAL

Cordeiros-da-praia

sal de cozinha. Portanto, quer esteja muito ou pouco poluída,


trata-se de uma água imprópria para consumo humano. Mas há
seres menos “esquisitos” que encontram nela o ambiente ideal
para viver: é o caso dos peixes, por exemplo, mas também dos
mamíferos marinhos, dos corais, das esponjas e de muitos outros
invertebrados marinhos…

Se tiver oportunidade de ir a uma lota, poderá ver, ao vivo, a grande


riqueza de peixes, crustáceos, bivalves e outros seres que habitam
as águas do mar. No entanto, só muito dificilmente poderá obser-
var, na nossa costa, alguns dos habitantes marinhos de grande
envergadura, como as baleias ou as tartarugas-marinhas, porque
é raro tais animais virem parar às nossas praias. É evidente que,
quando isso acontece, rapidamente se tornam uma das principais
atrações turísticas…

• Atração é também o que exercem sobre nós os roazes-corvineiros


que habitam, de forma aparentemente sedentária, as águas do
estuário do Sado. Trata-se de uma espécie pertencente à família
dos golfinhos que, ao contrário da maioria dos cetáceos, parece
preferir águas costeiras pouco profundas. No entanto, a sua per-
manência encontra-se atualmente ameaçada, devido à crescente
poluição industrial e à intensa atividade pesqueira que se fazem

171
A
PORTUGAL NATURAL I

sentir naquela área. É por isso que esta e outras


espécies de mamíferos marinhos que, mais casual-
mente, frequentam a nossa costa se encontram
atualmente protegidas por lei: a sua pesca, a sua
captura ou o seu abate estão estritamente proibidos.

O roaz-corvineiro alimenta-se de uma vasta gama


de peixes, moluscos e crustáceos, mas, pelo menos
no que diz respeito aos habitantes do Sado, os
chocos, os polvos e as tainhas parecem ser as
espécies preferidas. É um animal de hábitos gre-
gários, costumando constituir grupos de número
inferior a 30 indivíduos. Esses grupos respeitam
um determinado tipo de organização social, na
qual o critério de dominância parece ser… o peso!

• Quanto à maioria dos animais marinhos não


Golfinho roaz- comestíveis, geralmente apenas os conhecemos
-corvineiro
através dos restos que vêm parar a terra firme.
As medusas ou alforrecas são uma exceção, porque se veem, com
alguma facilidade, no seu elemento natural; mas convém evitar o
contacto direto com elas, já que algumas podem provocar irritações
cutâneas bastante incómodas. É o caso da caravela-portuguesa.
Mesmo quando se encontra sobre a areia, pode dar picadas muito
dolorosas e, no mar, pode até paralisar os nadadores!

• Os chocos veem-se com alguma frequência. Têm pouco que ver
com os “monstros” que alguns imaginam que sejam: pelo contrá-
rio, são belos animais listrados, com cerca de 40 centímetros de

Caravela-portuguesa Alforreca

172
A
O LITORAL

Conchas de choco

Os conhecidos chocos

comprimento. São “loucos” por caranguejos. Agarram-nos com


os tentáculos cheios de ventosas, partem-lhes a carapaça com as
potentes mandíbulas e banqueteiam-se. Mas, quando os chocos
(que não vivem mais do que um ano) morrem, os caranguejos
vingam-se: os chocos mortos ocupam um lugar de relevo na com-
posição da sua dieta.

• O que não falta no mar é o plâncton. Mas, por azar, os seres vivos
que o compõem são tão pequenos que dificilmente se conseguem
ver a olho nu!

No entanto, não há nada que nos impeça de recolhermos um


pouco de água do mar cheia de plâncton, para o inspecionarmos,
à vontade, em nossas casas. Basta improvisar uma peneira, utili-
zando, por exemplo, uma meia de nylon velha (sem buracos, de
preferência…), à qual deve cortar a parte do pé. Fixe, com um
elástico, a parte da perna ao gargalo de um recipiente de vidro.
Depois, cosa a parte de cima da meia a uma armação circular, que
pode ser, por exemplo, a de uma velha raqueta de badminton.
Com esse “equipamento”, entre na água e avance o mais possível.
Coloque a peneira dentro de água e arraste-a em várias direções,
durante breves minutos. Depois, levante-a. Nessa altura, estará
cheia de água do mar e de plâncton! Em casa, separe o recipiente
de vidro da peneira improvisada, cubra um dos lados com papel
negro e projete, através da água, um feixe de luz, utilizando,
por exemplo, uma lanterna de bolso. Verá que o plâncton surge,
bastante percetível, sobre o fundo negro (veja este projeto passo
a passo na ilustração da página seguinte).

173
A
PORTUGAL NATURAL I

COMO VER O PLÂNCTON EM CASA

1. Corte a parte
do pé a uma meia
de nylon

2. Fixe, com um elástico,


a parte da perna ao gargalo
de um recipiente de vidro

3. Cosa a parte de cima


da meia a uma armação 4. Entre na água
circular, por exemplo, e avance o mais
a de uma velha raqueta possível
de badminton

6. Em casa, separe
o recipiente da peneira,
cubra um dos lados com
papel negro e projete,
através da água,
um feixe de luz

5. Mergulhe a peneira
e arraste-a em várias direções.
Depois, levante-a

174
A
O LITORAL

O plâncton, que é composto por plantas e animais Plâncton, no caso, Coscinodiscus radiatus
microscópicos, desempenha, na natureza, um
papel fundamental. O plâncton vegetal serve de
alimento ao plâncton animal. Este, por sua vez,
faz parte da alimentação de animais maiores,
que acabam por entrar no cardápio de outros
ainda maiores do que eles. O que não impede
que alguns gigantes dos mares, como, por exem-
plo, certas baleias, se alimentem diretamente do
plâncton. Isso mostra até que ponto é necessário
que o plâncton seja abundante. Sublinhemos,
a propósito, que, graças a essa abundância, o
plâncton vegetal é o maior fornecedor de oxigénio
do planeta (e não as florestas, como geralmente
se pensa).

• À superfície e acima do nível do mar, os únicos


indícios de vida geralmente observáveis são as
aves, embora também se possa encontrar, de vez
em quando, uma ou outra borboleta migradora
(como a Vanessa atalanta, por exemplo). Sobre
as ondas esvoaçam gaivotas, corvos-marinhos e
diferentes espécies de andorinhas-do-mar.

A migração é um fenómeno que atrai particu-


larmente os observadores de aves. São muitos
os que gostam de ir ao encontro das numerosas
espécies que, temendo sobrevoar as águas mais
profundas, voam sempre ao longo da linha da
costa. Este fenómeno é especialmente interessante
na zona de Sagres, por exemplo, onde milhares
de aves a caminho de África chegam a atingir,
no outono, concentrações espetaculares. Mas,
ao longo de todo o litoral, é possível observar cen-
tenas de aves que fazem o seu caminho, seguindo
o traçado da costa. Fazem escala nalguns locais
apropriados — estuários de rios, como o Tejo
ou o Sado, ou nas dunas — para repousarem
e adquirirem novas forças. Com um bom par Colónia de gaivotas
de binóculos e um guia de identificação (ou,
melhor ainda, acompanhado por um especialista
em aves), poderá descobrir, ao observá-las, um
mundo fascinante.

175
A
PORTUGAL NATURAL I

A praia
Nas praias, por incrível que pareça, não há só areia, toldos, cha-
péus de sol e veraneantes. Na verdade, trata-se de um ambiente
cheio de vida animal, embora esta se mantenha escondida sob a
camada superficial da areia. Quando a maré baixa, muitos pequenos
animais, que se encontram em suspensão nas águas, enterram-se
alguns centímetros, aguardando a maré alta. Nessa altura, saem
do esconderijo, para se alimentarem do plâncton, bem como de
alguns resíduos que a água transporta. Alguns também caçam
outros pequenos habitantes das areias. Chegada a maré baixa,
voltam a enfiar-se na areia. Dessa forma, protegem-se das aves.
Essa é a única possibilidade de esconderijo que as superfícies
arenosas oferecem, além de constituir também a única proteção
disponível contra a desidratação, as variações de temperatura
e a ação destruidora das multidões.

• Quando a maré está baixa, são poucos os vestígios que traem essa
vida oculta sob as areias. É o caso, por exemplo, das pequenas
“rodilhas” de areia formadas pelas minhocas da areia. Trata-se
de pequenas minhocas (cerca de 25 centímetros) que aspiram,
ingerem e filtram a areia, para dela extraírem alimento. Como
é lógico, a alguns centímetros dessas “rodilhas” encontram-se,
normalmente, uns pequenos funis, que constituem os vestígios
da referida aspiração.

• As sérpulas traem a sua presença ao deixarem


a parte superior da pequena concha tubular fora
da areia. Há uma razão para isso: quando a água
chega ao tubo, o seu pequeno habitante sabe que
são horas de comer. Nessa altura, emerge da areia,
captando o alimento que se encontra em suspen-
são na água, utilizando os tentáculos.

• As aves sabem muito bem onde essas potenciais


presas se encontram e não lhes dão descanso.
Algumas aves possuem até um bico adaptado à
caça desta ou daquela presa concreta (veja a caixa
Bicos específicos de cada espécie, na página 184).
Sérpula
• Na praia também se podem encontrar vestígios
dos animais que habitam as águas marinhas mais profundas: esque-
letos, conchas, carapaças e outros vestígios, trazidos pela água

176
A
O LITORAL

durante a maré alta. Já falámos dos chocos, cuja carapaça interna


vem frequentemente parar à praia (o famoso osso de choco que
se coloca entre as barras das gaiolas dos canários). Entre outros,
podemos citar também os cadáveres das alforrecas e das estrelas-
-do-mar e as carapaças, geralmente vazias, dos caranguejos-mouros.

• O mesmo acontece com inúmeras conchas. Muitas delas aparecem


partidas, mas, por vezes, também se encontram algumas inteiras.
Normalmente estão vazias e apenas nos permitem ter uma ideia
vaga das formas dos seres que as ocupavam.

Convém distinguir entre conchas bivalves e univalves. Estas últimas


são formadas por uma única peça, muitas vezes de forma muito
bonita. É o caso dos búzios, que todos conhecemos da nossa infân-
cia, quando os encostávamos ao ouvido para, dizia-se, escutar o
barulho do mar. As espécies que é costume encontrar nas praias
não são, normalmente, muito grandes, mas não deixam de ser
bonitas. Os burriés, por exemplo, não medem mais de quatro cen-
tímetros, mas são coloridos (entre o cor-de-rosa
e o roxo) e apresentam pequenas riscas irregula-
res de cor mais escura semelhantes a nervuras.
Os Natica alderi, pequenos caracóis predadores
que fazem buracos na concha de outros moluscos,
são mais pequenos e redondos. As conchas das
lapas parecem-se, grosso modo, com chapéus
chineses de bordo recortado. Têm seis centíme-
tros de diâmetro e a cor é cinzento-esverdeada
ou acastanhada. Fixam-se fortemente às rochas,
onde se alimentam de algas. São muito comuns.

Os bivalves possuem uma concha composta por Lapa


duas valvas, muitas vezes simétricas, unidas por
um ligamento que mantém aberta uma pequena Berbigão
fenda entre elas. Quando se procuram conchas
na areia da praia, é raro encontrar as duas valvas
ainda unidas. Os bivalves mais conhecidos, devido,
sobretudo, às suas qualidades gastronómicas, são
os mexilhões, as amêijoas e os berbigões. Quase
toda a gente sabe distingui-los. O mesmo talvez
não aconteça, porém, com as vieiras. São amarelo-
-alaranjadas e têm estrias proeminentes que as
atravessam do bordo até à ponta. Vistas de cima
fazem lembrar um pequeno leque aberto.

177
A
PORTUGAL NATURAL I

Outros moluscos habitam em conchas de forma comprida ou


quase retangular, também muito bonitas. É o caso dos canivetes,
longueirões ou lingueirões, que possuem conchas estreitas, de tom
rosado, e que podem atingir 20 centímetros de comprimento;
o longueirão-curvo é uma espécie afim cuja concha, um pouco
mais pequena e de cor bege, é ligeiramente encurvada.

• Muitos materiais transportados pelas águas depositam-se sobre a


areia numa longa linha que indica, geralmente, até onde avança a
maré. Muitos desses materiais são de origem humana, mas, por vezes,
também se podem ver, por exemplo, ovos de raia vazios. Esses ovos
não são nada semelhantes aos que estamos habituados a ver: têm
forma retangular e parecem pequenas almofadas, com uma espécie
de chifres em cada extremidade.

Embora a areia não seja um ambiente adequado para a maioria


das plantas (a não ser acima da linha da maré alta, como veremos
adiante), as águas trazem até à praia quantidades variáveis de algas.
É provável que já tenha visto, por exemplo, a bodelha, uma alga
castanha cujo talo possui vesículas de ar que lhe permitem flutuar
na água; a laminária, outra alga castanha, cujo talo é composto

a dança das águas


A Lua e, em menor grau, o Sol atraem a Terra na sua direção.
É verdade que nós quase não nos apercebemos desse fenómeno;
mas o mesmo não acontece, por exemplo, com as grandes
massas de água dos oceanos, nas quais a influência dessa força
de atração é bastante clara. As diferenças no nível de água dos
oceanos, provocadas pela posição relativa da Terra, da Lua e do Sol,
observam-se facilmente, na forma daquilo a que chamamos marés
altas e marés baixas: duas vezes por dia, a água sobe, para depois
voltar a descer. Cada ciclo demora 24 horas e 50 minutos, o que
dificulta os cálculos aos comuns mortais; não é raro vermos alguns
turistas menos prudentes serem surpreendidos pela inesperada
subida das águas… Quando os três astros se encontram em linha,
a força de atração combinada é evidentemente maior, o que leva a
que as marés atinjam níveis mais altos e mais baixos do que noutras
ocasiões. Essas marés mais altas denominam-se marés vivas.
Na altura em que a Terra, a Lua e o Sol formam, entre si, um ângulo
de 90 graus, as marés atingem o ponto mais baixo. São as marés
mortas. Ambas acontecem duas vezes por mês. As marés vivas
verificam-se por altura da lua nova e da lua cheia; as marés mortas
coincidem, aproximadamente, com as fases de quarto crescente
e quarto minguante.

178
A
O LITORAL

por uma ou mais fitas espessas e compridas (até


um metro); ou a alface-do-mar, uma alga de cor
verde-alface, que tanto se pode ver fixa sobre as
rochas como aparecer na praia, arrastada pelas
águas. Todos os materiais que vêm dar à praia
são um autêntico petisco para os “devoradores de
cadáveres”. Não nos referimos às hienas nem aos
abutres, como é evidente, mas sim às pulgas-do-
-mar, pequenos crustáceos que compensam o seu
minúsculo tamanho com uma enorme capacidade
de reprodução. Felizmente, pois, caso contrá-
rio, estes perfeitos empregados de limpeza não
conseguiriam dar conta do recado. O húmus e
os minerais, que enriquecem a areia depois da
decomposição desses materiais, oferecem boas
oportunidades de desenvolvimento às plantas
pioneiras que crescem nessa zona.
Talo da bodelha
a flutuar na água

A costa rochosa
Como vimos, grande parte da costa portuguesa é composta por
areais, mas esse não é o único tipo de litoral que existe. Há também
zonas onde a rocha domina a paisagem, quase sempre na forma de
arribas, e a que chamamos costa rochosa. As arribas são escarpas
rochosas cujo relevo é fruto do desgaste causado pela água do
mar. Podem ser altas ou baixas, lisas ou rugosas, mais ou menos
escarpadas. O tipo e a cor das rochas também variam bastante.

• Do ponto de vista do observador da natureza, e não do vera-


neante, o litoral rochoso é tão ou mais interessante do que as
praias propriamente ditas. Apesar da sua visível rudeza, há diversas
espécies de plantas e de animais que o habitam. As vertentes de
uma arriba expostas aos salpicos da água do mar, por exemplo,
são colonizadas por plantas adaptadas a lidar com o sal que se
deposita sobre elas. E nas plataformas que encimam as falésias
encontramos, muitas vezes, uma vegetação de moitas, baixa e
robusta, que suporta a ação contínua dos ventos e os salpicos
de água salgada que estes arrastam consigo.

• A costa da Arrábida e o litoral alentejano (parte de áreas protegidas)


ilustram bem a riqueza do nosso litoral rochoso. Nas plataformas

179
A
PORTUGAL NATURAL I

O maravilhoso e diversificado
litoral português

cimeiras das arribas da Arrábida vivem raposas


e genetas, e muitas aves, algumas raras, fazem aí
o ninho. Na costa sudoeste alentejana são abun-
dantes as gaivotas e os corvos-marinhos, e até
cegonhas fazem ninhos nas falésias! Curiosamente,
muitas vezes veem-se corvos-marinhos pousados
numa rocha, estendendo as asas para que estas
possam secar. A razão disso é que, ao contrário
do que acontece com a maioria das outras aves, as
penas dos corvos-marinhos podem ficar molhadas
quando entram em contacto com a água. Isso
tem a vantagem de lhes facilitar a deslocação na
água, por ocasião dos mergulhos, mas o incon-
veniente de lhes dificultar o voo. Por isso, têm
de as deixar secar.

• Na zona onde as ondas se abatem, a vida não


Corvo-marinho é muito abundante, pois são poucas as espécies
que conseguem resistir à constante violência das
águas e ao jogo do “agora-molha-agora-seca”. Praticamente só as
lapas e as cracas aí se conseguem aguentar. Ambas fazem lembrar
couraçados, com a sua estrutura extremamente dura e coriácea.

180
A
O LITORAL

Fixam-se às rochas de tal forma


que parecem fazer parte delas…
e, de facto, as cracas, uma vez
fixadas numa rocha, deixam
de se poder mover. O mesmo
não acontece com as lapas, pois
estas podem percorrer curtas
distâncias, quando se alimen-
tam. Num nível superior, a que
os cientistas costumam chamar
andar supralitoral, apenas cos-
tumam chegar salpicos de água
e de espuma e só por ocasião
das marés vivas (veja A dança As cracas parecem parte da rocha
das águas, na página 178) é que
essa zona é banhada pela água. Caranguejo sobre alface-do-mar
É o local onde se podem encon-
trar algumas espécies de burriés,
pequenos moluscos semelhantes
a caracóis. Também se podem
encontrar algumas algas e líque-
nes, alguns destes últimos de
cor negra. Aderem de tal forma
à rocha que mais parecem uma
demão de tinta do que um ser
vivo… Finalmente, a Ligia ocea-
nica, pequeno crustáceo seme-
lhante aos bichos-de-conta, mas
um pouco maior, costuma viver
nas fissuras das rochas ou em
pequenas cavidades das mes-
mas. Alimenta-se de algas e de
detritos orgânicos que se agarram a elas.

Um pouco abaixo do nível de embate das ondas, temos o chamado


andar médio-litoral, onde existem muitos mexilhões, que também
se agarram com muita força às rochas. E, como toda a gente sabe,
não é fácil tirá-los de lá. O mesmo acontece com algumas algas ver-
melhas, de constituição calcária, que também se podem encontrar
nesta zona. Algumas poças de água, que se formam nas cavida-
des naturais das rochas e também se podem encontrar junto de
algumas praias, mantêm-se cheias mesmo quando a maré baixa.
É nelas que podemos encontrar os ouriços-do-mar, as anémonas

181
A
PORTUGAL NATURAL I

e alguns caranguejos e burriés,


bem como algas vermelhas, ver-
des e castanhas.

A zona das marés baixas (ou andar


infralitoral), que fica debaixo de
água mesmo durante a vaza, está
cheia de algas castanhas da família
das laminárias. Os burriés e outros
pequenos animais também habi-
tam este nível, mas escondem-
-se sempre que, por ocasião de
Anémona uma maré morta, o local fica a
descoberto.
Algas vermelhas
• Uma última observação: os anda-
res da zona do litoral que tentá-
mos dar a conhecer não são tão
facilmente delimitáveis como a
nossa descrição simplificada terá
dado, porventura, a entender.
Por isso, não se sinta frustrado
se, nas primeiras tentativas, não
conseguir identificar os diferentes
níveis. Verá que, com um pouco
de tempo e de treino, tudo será
mais fácil…

Os sapais
As praias e as arribas do litoral estão expostas, como é evidente,
aos movimentos das marés. Mas existe um terceiro biótopo que
também sofre as consequências desse movimento. São os locais
de encontro calmo e não turbulento da água do mar com a água
doce dos rios, onde existe um permanente depositar de sedimentos
finos e lodosos. Perto desses locais encontramos áreas mais ou
menos planas, cobertas por uma vegetação muito típica: os sapais.

Durante muito tempo, os sapais foram considerados zonas inde-


sejáveis e vistos como focos de doenças e de impurezas. Muitos
foram drenados, enxugados, dessalinizados e conquistados para

182
A
O LITORAL

a agricultura. À luz dos conhecimentos atuais, porém, sabe-se que


estas áreas são, de um ponto de vista biológico, extremamente
produtivas. Um exemplo basta para nos fazer pensar: um grande
número de espécies marinhas — peixes, crustáceos, moluscos, etc.
— só aqui encontra a calma e o alimento necessário para desovar e
atravessar os estádios larvares e juvenis. Ou seja, o sapal funciona
como uma autêntica maternidade!

• No entanto, tal como acontece nas praias, a vida nos sapais está
frequentemente dissimulada, permanecendo escondida sob o lodo
da superfície. Cada animal que aí habita encontra o seu cantinho
próprio: de acordo com a duração da imersão, a proporção areia/
/lodo, etc., encontram-se aí organismos muito variados. Muitas
vezes, são microscópicos, mas também há animais maiores, como
as poliquetas, membros da família das minhocas terrestres que gos-
tam dos ambientes salgados. Abrem caminho através do lodo, que
aspiram, a fim de extraírem os elementos consumíveis. São muito
utilizadas como isco para a pesca e constituem também um dos
alimentos preferidos de muitas aves.

Também uma multidão de pequenos caracóis, camarões e molus-


cos frequenta essas paragens. Mas o verdadeiro senhor do lodo
é o caranguejo-mouro, que se sente tão à vontade na água como
na praia e, portanto, está perfeitamente adaptado às perpétuas
mudanças dos sapais. Os adultos seguem estritamente o movimento
da água: quando a maré está alta, invadem o sapal; quando baixa,
retiram-se, em massa, para os canais. Os mais novos nem sempre

Vista aérea
de um sapal

183
A
PORTUGAL NATURAL I

se dão a esse trabalho e ficam pelos bancos de lodo durante a maré


baixa, onde se enterram.

Ainda com a maré baixa, o sapal enche-se de aves que debicam o


lodo em busca de alimento. Para isso, cada espécie está equipada
com um bico específico, que lhe permite caçar um tipo particular
de presa (veja, abaixo, a caixa Bicos específicos de cada espécie).

• As plantas dos sapais, que têm de sobreviver em ambientes


muito salgados e encharcados com falta de oxigénio, dispõem

bicos específicos de cada espécie


Os lodaçais contêm uma tal quantidade dos animaizinhos que se encontram mesmo
de alimentos que um bando de aves por baixo da região superficial;
pode “encher a barriga” sem quaisquer — o perna-vermelha, que possui um bico de
problemas – são as aves limícolas. tamanho médio, que lhe permite extrair as
No entanto, a natureza levou a que minhocas das suas galerias;
as diferentes espécies não tivessem — o ostraceiro, cujo longo e sólido bico de
de entrar em competição: o bico de cor vermelha é capaz de retirar os bivalves
cada ave encontra-se adaptado a uma do lodo e de partir a sua concha ou de
profundidade bem determinada e/ separar as duas valvas;
/ou a um modo particular de procurar — o maçarico-real e o maçarico-de-bico-
o alimento. Assim, do mais curto para o -direito, que têm um bico tão comprido que
mais comprido, é possível distinguir, entre até conseguem extrair as minhocas e as
outros: poliquetas das galenas mais profundas;
— as tarambolas (e também os borrelhos), — finalmente, o alfaiate não procura o
que têm o bico muito curto, apenas alimento no lodo, mas “varre”, de baixo para
chegam aos alimentos que se encontram à cima, a água pouco profunda, com o seu
superfície; bico longo e recurvado para cima, de forma
— os pilritos, cujo bico, um pouco mais a retirar os pequenos organismos que se
longo, permite vasculhar o lodo, em busca encontram em suspensão.

Maçarico-
Perna- -de-bico- Maçarico-
Tarambola Pilrito -vermelha Ostraceiro -direito -real Alfaiate
15 cm

184
A
O LITORAL

de estruturas especiais que lhes


permitem suportar a salinidade
(folhas pequenas para reduzir a
perda de água por transpiração,
folhas carnudas que acumulam
água para diluir o sal) ou apren-
deram a eliminar o sal através das
folhas (glândulas excretoras de
sal). Estas adaptações parecem-se
muito com as que se observam
nas plantas dos meios desérti-
cos. De facto, tanto umas como
outras têm de zelar por perder o
menos possível de água (doce).
Além disso, as plantas dos sapais Caranguejo-violinista em sapal
retardam muitas vezes a floração,
porque enquanto as marés do Salicornia num sapal
inverno e da primavera puderem
inundar tudo, a polinização pelos
insetos revela-se impossível.

No verão, quando o sapal está


em flor, milhares de insetos
— abelhas, zângãos e borbole-
tas, entre outros — recolhem o
néctar avidamente.

A morraça (Spartina maritima)


é uma gramínea pioneira, que
suporta grandes períodos de sub-
mersão e forma uma espécie de
prados de cor verde-escura, que
se encontram na zona do sapal
baixo. Lá acham-se ainda outras espécies consideradas pioneiras
e colonizadoras do substrato, como a Salicornia.

No outono, a Salicornia enche a paisagem de vários matizes,


desde verde-claro a tons avermelhados, dependendo da con-
centração de sais acumulados nos seus caules. Esta pertence a
uma família que inclui várias plantas de sapal, como o valverde-
-dos-sapais, a gramata-branca, a salgadeira e outras. Todas for-
mam pequenos arbustos e têm uma folhagem suculenta de tons
verde-acinzentados.

185
A
PORTUGAL NATURAL I

As dunas
As dunas são abundantes no nosso litoral, ocorrendo ao longo de
cerca de 450 quilómetros da nossa linha de costa. Lamentavelmente,
o nosso cordão de dunas tem estado, nos últimos anos, sujeito a
uma destruição quase sistemática, devida à construção clandestina
ou ao contínuo pisoteamento levado a cabo por pessoas, carros
e motas.

Poucas pessoas têm uma ideia clara sobre o que são realmente as
dunas. Estas são zonas de transição entre o continente e o mar,
onde a deposição de sedimentos provoca enorme instabilidade
e, portanto, constante mudança. Este constitui um dos principais
fatores a que as plantas têm de responder, para além de outros
como a escassez de água e nutrientes, a elevada luminosidade e
salinidade e os ventos fortes e constantes. Na verdade, os mon-
tes móveis de areia, cobertos de vegetação rala, são apenas um
dos aspetos. As verdadeiras zonas de dunas englobam superfícies
húmidas, pequenos pântanos e até pequenas lagoas. Para que as
dunas se formem, é necessário que intervenham três elementos:
a areia, o vento e as plantas.

• De forma simplificada, eis como as dunas nascem:


— o mar deposita areia sobre a praia;
— quando a areia seca, o vento empurra-a para o interior;
— a areia bate na esparsa vegetação que povoa essas zonas e fica
retida;
— o montículo de areia inicial vai captando cada vez mais areia
e crescendo;
— a certa altura, outras plantas vêm instalar-se nos montículos,
ajudando a fixá-los e a captar mais areia;
— em certas circunstâncias, porém, o transporte de areia pode
atingir uma tal intensidade que a vegetação perde o controlo da
situação, permitindo que alguma areia “migre” para o interior e a
consequente criação de novas dunas, com uma estrutura especial,
a que se chama “dunas brancas” ou “dunas parabólicas”.

Zonação nas dunas


As dunas apresentam variações ambientais de acordo com a dis-
tância do mar. Estas variações resultam num gradiente espacial
da vegetação dunar.

186
A
O LITORAL

A SUCESSÃO DE VEGETAÇÃO NAS DUNAS

0m 100 m 200 m 300 m

dunas móveis dunas fixas


duna
secundária
duna
duna primária
linha embrionária
de vasa
LINHA DA ÁGUA
mar

perturbação das marés


vento e mobilidade da areia
salinidade

Cardo-marítimo
Na linha de vasa, situada na linha da preia-mar,
onde se verifica a acumulação de detritos orgânicos
transportados pela maré, encontram-se plantas
anuais suculentas que suportam a salinidade ele-
vada e a perturbação das marés, como a barrilha
-espinhosa ou soda e a eruca-marítima. Um pouco
mais longe, fora da ação das marés, verifica-se
maior acumulação de areia com plantas vivazes
como o feno-das-areias, a morganheira-das-praias
e o cardo-marítimo ou cardo-rolador, que, quando
seco, rola pela praia sob a ação do vento: é a
chamada duna embrionária. Quando a salinidade
diminui um pouco mais com a distância do mar,
as dunas são colonizadas por uma gramínea muito
importante na fixação e consolidação das dunas —
o estorno. Outras espécies como o cordeirinho-
-da-praia, a couve-marítima, a granza-marítima,
o tomilho-carnudo e o narciso-das-areias também
contribuem para esta consolidação — estamos na
duna primária.

187
A
PORTUGAL NATURAL I

Quando as dunas estabilizam — dunas secundárias —, surgem outras


plantas nossas conhecidas, como a camarinha, a perpétua-das-
-areias e a sabina-da-praia. Mais para o interior, essa vegetação
é substituída por outros arbustos de maior porte e por árvores,
que poderão ser o pinheiro-manso, a aroeira, o espinheiro-preto,
o lentisco, o piorno-branco, nas zonas do litoral do Centro e Sul;
no Norte, teremos preferencialmente o pinheiro-bravo, o tojo-arnal,
o pilriteiro, o medronheiro e o alfenheiro.

A camarinha (Corema album) é uma espécie que só existe na costa


atlântica da Península Ibérica, desde o cabo Finisterra ao estreito
de Gibraltar. A camarinha forma arbustos de copa compacta que
podem atingir um metro de altura. É uma espécie dioica, com plantas
masculinas e femininas — estas últimas produzem frutos carnudos
tipo baga de cor branca, que parecem pérolas. São muito ricos em
açúcar e água, servindo de alimento a muitas espécies das dunas,
desde gaivotas, melros, outras pequenas aves, coelhos, texugos
e raposas, que por sua vez ajudam à disseminação desta espécie.

“Pérolas”
da camarinha Pinheiro nas dunas

188
A
O LITORAL

A introdução de espécies exóticas, como a acácia e o chorão, com


o objetivo de fixar as areias, veio degradar os ecossistemas dunares
e nalguns locais eliminou com- Couve-marítima
pletamente a vegetação natural.
O chorão, uma planta carnuda
proveniente da África do Sul, tem
proliferado em muitos locais, e
especialmente nas areias litorais
começa por formar um pequeno
canteiro que vai crescendo até
formar um denso e extenso tapete
que impede as outras plantas de
crescerem. As dunas têm sofrido
particularmente com esta praga
(veja a caixa Ervas daninhas e pra-
gas, no capítulo 4, na página 110).

como se adaptam as plantas


das dunas…
… à salinidade?
— Suculência – armazenamento de água nos tecidos para combater
a seca fisiológica;
— capacidade de excreção/sequestração do sal.

… ao stresse hídrico e luminoso?


— Suculência – acumulação de água nos órgãos;
— indumento – revestimento de pelos de cor clara, que reflete a luz;
— hábito prostrado – crescimento rastejante para minimizar os
efeitos do vento;
— crescimento lento – minimização do uso dos recursos que são
escassos;
— redução foliar – diminuição das perdas de água por transpiração;
— folhas enroladas – redução da área exposta;
— folhas coriáceas – folhas rijas e resistentes à deterioração pela
areia;
— órgãos subterrâneos – muito desenvolvidos e profundos.

… à instabilidade do meio?
— Crescimento subterrâneo especializado – rizomas com cresci-
mento vertical;
— sistema radicular profundo – para evitar o desenterramento com
a erosão;
— ciclo de vida curto – para evitar o período do ano de maior
instabilidade.

189
A
PORTUGAL NATURAL I

Se quiser saber mais


Com mais de 900 quilómetros de costa, não se poderá queixar,
certamente, de falta de locais onde possa entrar em contacto com
a natureza do litoral. Mas, exatamente porque as possibilidades
de escolha são muitas, convém definir de antemão aquilo que
deseja ver e fazer. Por exemplo, se quiser familiarizar-se com a
vegetação característica das dunas, uma visita à Reserva Natural das
Vestígios junto
Dunas de São Jacinto ou à Área Protegida do Litoral de Esposende
à beira-mar serão, certamente, boas opções. Mas se tiver como
objetivo conhecer a flora e a fauna de um sapal,
deverá deslocar-se, por exemplo, aos estuários
do Tejo ou do Sado. Finalmente, para as costas
rochosas, uma das melhores zonas a visitar será,
certamente, a extensa faixa litoral que dá pelo
nome de Área Protegida do Sudoeste Alentejano
e Costa Vicentina ou a Arriba Fóssil da Costa de
Caparica (esta última de rochas sedimentares,
onde pode observar registos fósseis de animais
marinhos).

Em que época?
Uma visita ao litoral durante o outono e o inverno
é sempre boa ideia. Como há muito menos gente,
poderá desfrutar, muito mais facilmente, das praias
e dunas. Nessa altura também há muitas aves
particularmente interessantes que se reúnem à
beira-mar.

Porém, se estiver especialmente interessado nas


plantas e nos insetos típicos das dunas, a altura mais indicada é
a primavera e o verão. Esta estação é também a mais indicada
para ver a grande diversidade de algas e outros organismos da
costa rochosa.

Tenha em conta que…


As férias permitem olhar para o litoral de uma forma “nova”.
Siga a nossa sugestão: procure os guias de visita das reservas natu-
rais e das áreas protegidas acima citadas, percorra os circuitos que

190
A
O LITORAL

alguns deles sugerem, dê longos passeios durante o período da


manhã e esteja bem atento aos vestígios cheios de ensinamentos
que poderá encontrar na areia e junto à beira-mar.

191
CAPÍTULO 7
A influência
das estações
A
PORTUGAL NATURAL I

Campo florido

A mudança das estações tem um papel essen-


cial na diversificação da natureza. As aves par-
tem ou regressam em bandos. As flores brotam,
desenvolvem-se e murcham; as folhas nascem,
crescem, secam e caem. Os dias vão ficando mais
longos ou mais curtos, a temperatura vai subindo
ou descendo…

Estas mudanças não são arbitrárias. Estão depen-


dentes das alterações que se vão observando no
céu e na Terra e, sobretudo, das suas mútuas
interferências. A alternância do dia e da noite, tal
como a das estações (veja a ilustração na página
seguinte), deve-se à posição do Sol. A Terra gira
em volta do seu eixo, de forma que, quando uma
determinada região fica exposta ao calor e à luz
Gafanhoto ao pôr do Sol, a outra fica na penumbra e arrefece.
do Sol

Na Lua, o dia sucede à noite de forma brusca, sem que haja qual-
quer transição. Não é isso, felizmente, que acontece na Terra,
onde a penumbra se vai espalhando progressivamente. A luz
é refletida pela camada atmosférica, e o céu mantém-se claro
durante algum tempo, mesmo após o pôr do Sol. Da mesma
Na página anterior: movimento de rotação da Terra
captado pela objetiva do fotógrafo
194
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

MOVIMENTO DA TERRA À VOLTA DO SOL: AS ESTAÇÕES

21 de março
(início da primavera:
o dia é igual à noite)
21 de junho
(início do verão) era inverno
primav

verão outono 21 de dezembro


(início do inverno)
22 de setembro
(início do outono:
o dia é igual à noite)

forma, de manhã, ao nascer do dia, a aurora surge muito antes


dos primeiros raios de sol.

Não é difícil imaginar como seriam as coisas se as 24 horas de


um dia solar fossem equitativamente repartidas entre dia e noite.
É isso que acontece nas regiões equatoriais; mas, à medida que
nos afastamos delas, o tempo de claridade solar vai aumentando,
num crescendo que vai de alguns minutos a… seis meses! Porque
é que isso acontece?

Se reparar na figura, constatará que a Terra está numa posição


inclinada em relação ao Sol, que ilumina apenas uma parte da
sua superfície. Enquanto gira à volta do Sol, o nosso planeta apre-
senta-se-lhe seja pelo Polo Norte (entre março e setembro) seja
pelo Polo Sul (entre setembro e março). Quando um dos polos
se encontra diante do Sol, o outro não recebe luz direta. Como
a Terra demora um ano a efetuar o movimento de translação,
os dias e as noites nos polos duram, cada um, seis meses. Por
outro lado, quando o Polo Norte fica voltado para o Sol, é verão
a norte do Equador. Inversamente, o inverno instala-se no nosso
hemisfério quando é o Polo Sul que fica em face do astro da luz.
As mudanças naturais ligadas ao ritmo das estações, porém, não
se processam de forma matemática: por vezes, ainda se veem

195
A
PORTUGAL NATURAL I

andorinhas voando, alegremente, sob um sol tardio de novembro;


e, em certos anos, as rosas começam a desabrochar logo em finais
de fevereiro… Mesmo assim, procuraremos, neste capítulo, ajudá-lo
a ter uma ideia, tão precisa quanto possível, dos fenómenos mais
importantes associados à passagem das estações.

registando a passagem do tempo…


Uma forma simultaneamente divertida e rigorosa de observar
a evolução das estações consiste em ir fotografando sempre o
mesmo motivo, à medida que o tempo passa. Escolha, por exemplo,
um canto de um jardim que lhe agrade e tire uma fotografia a cores,
de oito em oito ou de 15 em 15 dias, fazendo-o sempre a partir
do mesmo ponto de observação.

Assim, passado um ano, terá registado, em imagens, até as mínimas


alterações ocasionadas pela passagem do tempo. E, se tiver
oportunidade de fazer diapositivos, o efeito será ainda melhor!
Finalmente, se tiver vocação para a pintura ou para o cinema,
poderá divertir-se ainda mais e obter resultados verdadeiramente
espetaculares…

Silhueta de carvalho
no inverno Carvalho no verão

196
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

Primavera, vida nova…


O despertar do mundo vegetal
É nos bosques e nas matas que a primavera nascente dá os primei-
ros passos. Existe uma boa razão para isso: em campo aberto, a
vegetação rasteira tem tempo para se desenvolver à vontade; nas
matas e nos bosques, porém, ela será privada de luz logo que sur-
jam as folhas das árvores e dos arbustos. Isso explica a sua pressa
em completar o seu ciclo de vida. Carvalhos, freixos, sabugueiros
e castanheiros são ainda meros esqueletos quando anémonas,
violetas, ranúnculos e primaveras começam a salpicar de branco,
rosa, roxo e amarelo o verde dos musgos que as rodeiam.

Onde é que essas frágeis plantas vão buscar a energia que lhes
permite nascer e crescer, numa mata ainda fria e com tão poucas
horas diárias de sol? A resposta é simples: possuem mecanismos
de desenvolvimento especiais. Algumas, por exemplo, constituem
reservas alimentares que ficam disponíveis logo que acaba o inverno.

É o caso das tulipas e dos narcisos, que possuem bolbos e tubérculos


semelhantes aos das cebolas e das batatas. Essas plantas acumulam
nesses caules subterrâneos e nas raízes, durante as estações favorá-
veis, as reservas necessárias ao seu crescimento logo que começa
a primavera seguinte. Além disso, os bolbos e os tubérculos são
capazes de originar novas plantas. Alguns, como a batata, apenas
duram um ano; outros, como a tulipa, podem sobreviver vários anos.

O gladíolo, que vemos nalguns jardins, provém de um bolbo, tal


como acontece, por exemplo, com os narcisos e os jacintos, em
plena natureza. Quanto às que possuem tubérculo, já referimos
algumas dessas plantas no capítulo 4.

Também não convém esquecer


as plantas de rizoma. Os lírios, bolbo ou tubérculo?
por exemplo, desenvolvem uma
rede subterrânea de rizomas Como distinguir um tubérculo de um bolbo?
É simples. Basta cortá-los transversal-
emaranhados, de onde partem
mente: os tubérculos, como a batata, são
as raízes e sobre os quais cres- compactos e uniformes; os bolbos, como a
cem os caules aéreos. O selo-de- cebola, são constituídos por uma espécie
-salomão, por sua vez, deve o de membranas sobrepostas, as escamas.
nome a uma estrutura particular:

197
A
PORTUGAL NATURAL I

os caules mortos deixam, sobre o rizoma, pequenas marcas em


forma de selo, que, segundo a lenda, datariam do tempo do rei
Salomão. Essas marcas “selam”, todos os anos, o caule subterrâneo
e, portanto, o número de selos permite saber a idade do rizoma.

A influência do vento
Durante o inverno, em muitas árvores caducifólias, os primórdios das
pequenas folhas, muito sensíveis ao frio, mantêm-se numa cavidade
estreita e abrigada com muitas brácteas protetoras, os gomos ou
gemas de renovo. Aos primeiros raios de sol da primavera, os gomos
abrem-se, e as folhas, de um verde suave e luminoso, saem em
pouco tempo.

O salgueiro é uma das primeiras árvores a produzir amentilhos,


que são a sua flor. Neste caso, os amentilhos masculinos e os femi-
ninos provêm de árvores diferentes: portanto, para que possa
haver fecundação, é necessário que os elementos reprodutivos
que ambos produzem se encontrem. Outras espécies, como o
vidoeiro, produzem amentilhos femininos e masculinos na mesma
árvore. A aveleira faz o mesmo: os amentilhos surgem ainda antes
do inverno; os masculinos são amarelos e muito compridos, os
femininos, vermelhos e de tamanho diminuto.

Nestes casos, o vento é o grande responsável pela fecundação.


Carvalhos, salgueiros, choupos, amieiros, castanheiros — em
resumo, todas as árvores que produzem amentilhos — não con-
seguiriam reproduzir-se sem a sua ajuda. Note-se, porém, que
se as folhas aparecessem nessas árvores antes dos amentilhos,
a disseminação do pólen através do vento seria muito mais
difícil. O que mostra, mais uma vez, que a natureza sabe fazer
as coisas!

Em certas épocas, essa disseminação é verdadeiramente espetacular


e, por isso, não é de espantar que algumas pessoas desenvolvam
alergias. No entanto, as grandes quantidades de pólen emitido
não são, para a natureza, um desperdício. Pelo contrário: trata-se
de garantir, ao máximo, as possibilidades de reprodução. Como
exemplo, basta referir que um amentilho de vidoeiro produz, pelo
menos, cinco milhões de grãos de pólen! Além disso, os recetáculos
dos grãos de pólen (os estigmas) são geralmente grandes, a fim de
facilitar a captação desses grãos.

198
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

AS ESTAÇÕES NO BOSQUE

nível das árvores

níveis sob as árvores:


nível dos arbustos
nível das ervas
nível dos musgos
inverno

primavera

verão

199
A
PORTUGAL NATURAL I

Um acorda… o outro chega a casa!


Diz-se, muitas vezes, que os sapos são lentos e preguiçosos…
O que é verdade, mas só no inverno, quando se entregam a um
sono protetor: a hibernação. E há, também, mamíferos que hiber-
nam. No entanto, quando os dias de frio terminam e os raios
de sol voltam a aquecer o ambiente, esses dorminhocos voltam
a despertar para a vida. Os sapos regressam aos seus locais de
nascimento, as zonas húmidas, onde, saindo do ovo, se torna-
ram girinos. Lembramos, a propósito, que as rãs e os sapos,
quando jovens, se parecem muito pouco com os pais. São frágeis
“cabeçudos”, que rapidamente se metamorfoseiam. As brânquias
externas tornam-se internas e, passadas poucas semanas, surgem
as patas. Embora a metamorfose não dure mais de dois ou três
meses, as rãs e os sapos apenas podem reproduzir-se quando
têm entre dois e três anos.

Quando o frio se instala e os insetos se tornam


raros, muitas aves deixam o nosso país, em
busca de céus mais clementes. Regressam na
primavera — altura em que o tempo melhora e
os insetos voltam a pulular por toda a parte —
para acasalar e criar os filhotes. Se adquirir o
hábito de as observar (e ouvir!), ao longo do
ano, aprenderá, com o tempo, a identificar as
espécies que regressam e a distinguir as épocas
em que o fazem. O regresso dá-se, geralmente,
de meados de março a meados de maio. Como
é evidente, algumas chegam mais cedo; outras,
Larva de joaninha mais tarde — e daí a expressão “uma andorinha
não faz a primavera”.
Relas a acasalar
As primeiras andorinhas surgem nos fins de janeiro
ou princípios de fevereiro, junto dos ribeiros e
pequenos lagos, onde facilmente encontram inse-
tos que lhes satisfazem a fome, depois da longa
viagem. Em meados de março é o cuco que, com
o seu célebre “cu-cu”, anuncia a chegada do bom
tempo. O mesmo acontece com o rouxinol, que
se ouve muito de dia e de noite, mas raramente
se vê. Escondido nos arbustos, canta para seduzir
as fêmeas e, ao mesmo tempo, encanta os nossos
ouvidos.

200
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

Covis, ninhos, tocas e afins


É na primavera que a maioria dos animais cuida da sua habitação.
Uns pouco se esforçam, enquanto, para outros, a construção de
um ninho confortável, a escavação de uma toca ou a decoração do
esconderijo constituem um ritual imprescindível. A maioria cria
os filhotes num determinado local, mas, logo que aqueles partem,
constrói outro abrigo, num local confortável e protegido do frio e
da humidade. No entanto, passam a noite aqui e ali, para despis-
tar os eventuais perseguidores e não se deixarem surpreender.
Algumas espécies, porém, não têm domicílio fixo, nem sequer na
época de reprodução.

Os ninhos das aves são relativamente fáceis de descobrir. Mas só


devemos aproximar-nos deles no inverno, quando estão desertos.
Se o fizéssemos no verão, poderíamos incomodar os filhotes.

Os coelhos abrigam-se, quase sempre, debaixo da terra. Escavam


um buraco central, com uma profundidade de cerca de 50 centí-
metros, de onde partem diversas ramificações que desembocam
em várias entradas. À superfície, diversos caminhos ligam essas
entradas; é aí que se encontram os pequenos excrementos redon-
dos, característicos da presença de coelhos.

A lebre não tem domicílio fixo. Dorme onde lhe agrada, em “covis”
precários que utiliza pouco mais de uma vez. Mesmo quando toma
conta das crias, a lebre vive aqui e acolá, sempre seguida pela prole.

O veado é muito mais caseiro: deita-se sempre num determinado


local, que facilmente se descobre, devido às marcas do seu peso
sobre a vegetação.

O verão
De acordo com o calendário, no fim de maio ainda é primavera.
Mas, se dermos um passeio pelos campos, veremos que os reben-
tos das árvores se transformaram em ramos fortes e que as crias
dos animais já estão bem crescidas. A vegetação tornou-se mais
exuberante, as bermas dos caminhos estão cheias de flores, os
campos transformaram-se em tapetes de flores de cores variadas, o
sol inunda plantas e animais, as cigarras enchem os ares com o seu

201
A
PORTUGAL NATURAL I

alegre canto, a chuva está ausente durante dias e dias. Tudo isto
nos diz que, para a natureza, o verão já chegou.

Um pequeno passeio
No nosso pequeno país, as plantas e os animais não encontram
facilmente um local para viver. Na maioria das vezes, têm de se
contentar com os restos: bosques exíguos, pequenas ruas arbori-
zadas, declives dos caminhos, bermas estreitas…

De acordo com um estudo efetuado em Inglaterra, quase metade


dos mamíferos e muitas espécies de outros animais têm atualmente,
como habitat natural, as bermas das estradas e os declives e as
encostas dos caminhos. Por isso, dê-se ao trabalho de passear ao
longo desses espaços, à medida que as estações forem passando,
pois aí encontrará, certamente, mil e uma joias para os seus olhos
e ouvidos! Na primavera, sobretudo, mas também no início do
verão, as borboletas esvoaçam de flor em flor, os abelhões e as
abelhas colhem o néctar, as formigas mostram-se atarefadas, como
sempre, sobre as pequenas ervas, escaravelhos de todos os géne-
ros vão e vêm, em todos os sentidos. E até pequenos mamíferos
aí encontram abrigo e alimento. Em suma, trata-se de todo um
pequeno mundo que convém redescobrir e valorizar!

Os insetos ao serviço das plantas


Na primavera, vimos que o vento se encarregava da polinização.
Mas isso era apenas uma parte da verdade. É que os insetos tam-
bém desempenham um importante papel nessa missão. E, no
verão, esse papel redobra de importância, pois o vento já não
é tão frequente e, além disso, as folhas também não facilitam
a propagação do pólen…

Com efeito, muitas árvores só depois de se cobrirem de folhas é


que se enchem de flores, as quais aguardam apenas o momento
da fecundação. Esta faz-se, sobretudo, por intermédio de insetos,
que se encontram particularmente preparados para essa opera-
ção. E são muitos os que se encarregam disso: abelhas, abelhões,
vespas, borboletas, moscas e mosquitos, escaravelhos de todos
os tamanhos… Recolhem o pólen ou o néctar de muitos modos
diferentes: às vezes, com os pelos que os cobrem, outras, com

202
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

as asas ou as patas; e tanto colhem o néctar sobre a flor como


dentro dela. Depois, levantam voo, para voltar a pousar noutras
flores, onde, enquanto colhem mais néctar, depositam a recolha
precedente, que permitirá a fecundação.

É por volta do meio-dia que o trabalho dos insetos atinge o máximo


de intensidade, porque, nessa altura, a produção de néctar é nor-
malmente mais abundante. O que não impede que algumas espécies
de abelhas, por exemplo, comecem a trabalhar logo ao nascer do
dia. É com o néctar das flores e com outras matérias vegetais que
as abelhas produzem o mel, alimento de base de toda a colmeia.
Inseto polinizador

Plantas e borboletas
Todos os insetos gostam de campos floridos, mas talvez as bor-
boletas os apreciem mais do que quaisquer outros. Umas pre-
ferem uma determinada espécie de planta, outras gostam mais
de outra ou apreciam, até, duas ou três espécies diferentes, mas
raramente mais do que isso. Assim, a Gonepteryx rhamni, que é
uma pequena borboleta branco-amarelada, está estreitamente
ligada ao sanguinho-de-água. Os campos que foram abandonados
rapidamente voltam a ser invadidos por ervas altas e resisten-
tes. Quem ganha com isso são, por um lado, os nossos olhos e,

203
A
PORTUGAL NATURAL I

por outro, o paladar das borboletas. É que esse tipo de vegetação


é rico em néctar: a urtiga, por exemplo, faz as delícias de muitas
borboletas. É a única planta utilizada pela espécie Aglais urticae e
a preferida das espécies Inachis io e Vanessa atalanta. A Inachis io,
de cores muito vivas, desloca-se de forma rápida e possante, mas
também consegue planar, estendendo as soberbas asas. É nessa
altura que se podem observar as manchas azuis que possui em
cada asa, semelhantes a olhos e que fazem lembrar a cauda dos
pavões. Mas a verdadeira função dessas manchas é protetora,
porque assustam as aves.

Um belo fim de tarde


Ao fim de uma tarde de verão, sobretudo após um dia de muito
calor, procure aproveitar para dar um pequeno passeio; essa será
uma excelente ocasião para observar a natureza ao seu redor.

Os morcegos, por exemplo, saem ao crepúsculo, à procura de


insetos. A partir de meados de agosto, passam a levar consigo os
filhotes, que, nessa altura, já voam sozinhos. Antes, ficavam sus-
pensos nas grutas ou noutros locais. Antes que chegue o inverno,
os morcegos precisam de armazenar reservas de gordura, para que
Pirilampo possam sobreviver durante essa estação.

Esse é, também, o melhor momento do dia para


escutar o canto do rouxinol. O canto principia
suavemente, num tom uniforme. Após uma curta
pausa, amplia-se brevemente e, depois, adquire a
“velocidade de cruzeiro”, com um prólogo breve,
uma melodia harmoniosa e pequenas reticências.
O canto é depois retomado num tom ligeiramente
diferente e, quanto mais se faz tarde, mais o tom
adquire segurança e se ouve a maior distância
— por vezes, a mais de um quilómetro!

Quando a noite cair, não vá logo para casa.


Aproveite para admirar as luzes festivas dos
pirilampos. Existem várias espécies: nalgumas,
a capacidade de produzir luz é um privilégio das
fêmeas; noutras, tanto machos como fêmeas são
luminosos. É o que acontece com a espécie mais
frequente entre nós.

204
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

Sob a vegetação
Quando o calor “aperta”, começa a apetecer ficar à sombra das
árvores. Isto acontece porque os bosques usufruem de um micro-
clima especial: no inverno, as geadas noturnas formam-se neles
com menos facilidade, porque se trata de um meio relativamente
fechado; no verão, a folhagem das árvores impede que os raios de
sol penetrem em força. A vegetação sob as árvores fica privada de Feto aproveitando
luz, o que — como explicámos no a sombra
início — tem as suas consequên-
cias. No verão, a maioria das
flores já deu o que tinha a dar,
e as sementes, escondidas sob a
verdura, esperam pacientemente
a próxima primavera.

As plantas mais características


dos bosques são as que gostam de
sombra e de alguma humidade,
como, por exemplo, os fetos.
Não dão flores nem sementes,
mas, de forma mais primitiva,
formam esporos, que dão origem
a novas plantas.

O outono vem aí…


A caminho de um mundo melhor
Os animais possuem um relógio interno muito mais preciso do
que o nosso.

Sabem, instintivamente, o que precisam de fazer e em que altura.


De repente, damo-nos conta de que a andorinha que frequentou,
todo o verão, o beiral da casa em frente começa a dar sinais de
agitação. Ao fim da tarde, anda em rodopio com muitas das suas
companheiras. Depois, juntam-se todas num fio elétrico, e o seu
número aumenta de dia para dia. E, finalmente, numa bela manhã,
ei-las que partem… Como explicámos anteriormente, isso acontece
porque, durante o inverno, os insetos escasseiam e, portanto,

205
A
PORTUGAL NATURAL I

Ajuntamento
de andorinhas perto
da migração

muitos animais, incluindo as andorinhas, correm o risco de ficar


sem alimento. Apenas uma parte delas voltará, decidida a procriar,
a fim de perpetuar a espécie.

Como é que as aves migradoras sabem que estão no bom caminho?


Porque a verdade é que elas raramente se enganam! Pensa-se que,
de dia, as aves se orientam pela posição do Sol, e, de noite, pela
posição da Lua e das estrelas. Mas há também quem defenda
— porque, por vezes, o Sol se esconde e porque nem todas as
noites são estreladas — que as aves se orientam através do campo
magnético da Terra.
Sapal no outono
Mas nem só de aves vive a migra-
ção dos animais. Alguns pequenos
mamíferos, como os morcegos,
também fazem longas viagens.
E há, ainda, os peixes. A enguia
inicia, nesta altura do ano, um
percurso de milhares de quiló-
metros que a levará ao mar dos
Sargaços, no oceano Atlântico,
a fim de aí pôr os seus ovos.

E ninguém sabe porquê. E muito


menos porque é que as larvas,
mal saem dos ovos, iniciam

206
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

a anilhagem
A anilhagem permite controlar as idas e morta no Zaire e saber as coordenadas do
vindas das aves e, portanto, estudar o seu seu ponto de partida, alguns meses antes,
tempo médio de vida, os seus hábitos, num determinado local do nosso país.
os locais que frequentam e a percentagem
de aves que partem e regressam ao nosso Como é evidente, as aves mais pequenas
país. apenas suportam anilhas de tamanho
reduzido e, para as identificar, é necessário
Os especialistas – denominados capturá-las novamente (ou encontrá-las
ornitólogos – capturam as aves (com uma quando morrerem). Os carateres inscritos
rede ou no ninho), colocam-lhes uma sobre as anilhas maiores dos patos ou
anilha numa pata e libertam-nas. Anotam dos gansos podem ser decifrados em
os dados importantes, como espécie, pleno voo, com o auxílio de uns potentes
família, peso e idade da ave e data e local binóculos ou, eventualmente, de um
de anilhagem; depois, inscrevem na anilha telescópio. No entanto, hoje também já se
um código de identificação. Dessa forma, usam anilhas de várias cores, o que facilita
torna-se possível identificar uma ave a identificação.

imediatamente o caminho de regresso. Deixam-se levar pela cor-


rente até às costas europeias, depois nadam para os rios, onde
finalizam a sua transformação e crescem até atingirem a idade
e o aspeto de uma enguia adulta.

Os salmões fazem exatamente o contrário. Vivem no mar alto, mas


vêm pôr os ovos nos rios, desafiando estoicamente as correntes.

A queda das folhas


Como explicámos no capítulo 3, dedicado às árvores e aos arbustos,
a queda das folhas deve-se ao risco de evaporação da água através
das folhas, numa altura em que as raízes têm mais dificuldade em
extrair a água de um solo mais frio.

Convém saber que as árvores que, supostamente, não perdem as


folhas, como as coníferas ou as espécies esclerófilas do Mediterrâneo,
as perdem de facto… Só que não as perdem todas ao mesmo tempo!
Nelas, as folhas duram vários anos, e só as que são de um deter-
minado ano caem, sendo substituídas por outras. Com o tempo,
todas as folhas acabam por ser substituídas. A queda das folhas
principia quando os dias começam a ser mais curtos, porque elas
são muito sensíveis à perda de intensidade da luz e à diminuição
do tempo de claridade. A clorofila existente nas células, que dá

207
A
PORTUGAL NATURAL I

a cor verde às plantas, torna-se


mais rara, e é por essa razão que
as folhas adquirem as cores mag-
níficas características do outono.

Folhas caídas são fáceis de apa-


nhar e, portanto, esta é a estação
ideal para isso. Deixe secar bem
as folhas que apanhar e cole-as
numa folha de papel, por meio de
tiras finas de papel autocolante
(veja Como fazer um herbário de
folhas, na página 76). Depois,
poderá procurar, sem pressas,
o nome e as características da
árvore a que cada folha per-
Folha a cair no outono tence: dispõe de todas as noites
de inverno para isso…

Inverno, tempo de repouso


A silhueta das árvores
O facto de, durante o outono, algumas árvores perderem a folhagem
não significa que fiquemos impedidos de as reconhecer. Antes de
mais, a casca, que tem diferentes aparências, formas e cores, não
cai. A casca do carvalho, por exemplo, é rugosa e acinzentada,
ao passo que a do plátano é lisa e cheia de manchas. O castanheiro,
por sua vez, possui ranhuras que descrevem espirais à volta do
tronco. Também muitas árvores de folha caduca se podem iden-
tificar através dos gomos, da sua posição, forma, dimensão, cor,
presença e do número de “folhas” modificadas (brácteas), etc.

Uma árvore sem folhas também se pode identificar através da


silhueta. No verão, o carvalho tem uma aparência de árvore alta,
enquanto, no inverno, os seus ramos desenham uma silhueta larga,
equilibrada e harmoniosa. O pilriteiro descreve uma espécie de
circunferência, o castanheiro adquire, vagamente, a forma de uma
pera e o freixo assume um perfil alongado. No entanto, convém
saber que a forma de uma árvore também depende, muitas vezes,

208
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

do local onde ela se encontra. Numa floresta,


a silhueta será, regra geral, mais esguia, porque
a árvore se encontra apertada entre as demais
e cresce para o alto, de forma a ter acesso à luz
mais facilmente; enquanto uma árvore solitária
pode, como é evidente, estender os seus ramos
à vontade. No entanto, se for submetida a ventos
fortes, essa mesma árvore pode inclinar-se e crescer
obliquamente. As zonas costeiras, por exemplo,
são pródigas em paisagens de árvores isoladas
com formas tortuosas.
Árvore a crescer
obliquamente, fruto
do vento forte

a verdura no inverno
Em Portugal existem árvores e arbustos que conservam as suas
folhas durante o inverno. Já sabemos que as coníferas (pinheiros,
cedros, ciprestes…) se mantêm sempre verdes, mas não são os
únicos. Há também, apenas a título de exemplo, o loureiro ou o
azevinho, cujas cores sobressaem, com um belo efeito, nos bosques
acastanhados; a azinheira, o sobreiro, o carrasco, o medronheiro,
o folhado, a murta e as urzes, que enchem de verde os montes e
as serras do Sul do país (não fossem espécies características do
Mediterrâneo); algumas lianas, como a salsaparrilha e a hera, que
abraçam o seu hospedeiro de tal forma que este parece manter,
também, as suas folhas; e os musgos, que parecem tingir de verde
os troncos das árvores e até pedras e rochas!

Musgos em pormenor

209
A
PORTUGAL NATURAL I

À procura de abrigo
Os insetos (que são o grupo mais numeroso do reino animal e o
mais espalhado pelo mundo inteiro) resistem às condições mais
inverosímeis: geada, seca, humidade extrema, calor intenso…
E mesmo que, por vezes, não pareça, eles continuam connosco
durante o inverno. Em menor número, talvez, mas isso não quer
Manta morta
dizer que corram o risco de desaparecer…
da floresta
Os insetos não têm um sistema circulatório
“fechado”, como o do homem; por isso — e
também por outras razões, que não vale a pena
abordar aqui — a sua temperatura corporal adapta-
-se facilmente à do meio ambiente (a expressão
“animal de sangue frio” é, neste caso, incorreta)
e, portanto, pode descer bastante.

Seja como for, mesmo que muitos insetos adultos


morressem durante o outono e o inverno, a sua
postura é de tal forma abundante que asseguraria,
sem quaisquer problemas, a sobrevivência das
espécies. Mas, além disso, as larvas transformam
o açúcar que absorvem em glicerol, que é um
anticongelante, e uma parte da água que constitui
o seu tecido celular é substituída por gorduras.
Finalmente, esses animaizinhos buscam refúgio
contra o frio e os predadores sob as folhas mortas,
cascas de árvores ou mesmo debaixo da terra.

menos insetos no inverno?


Há quem pense que um inverno rigoroso faz
grandes razias entre os insetos. Nada mais falso.
Tanto as larvas como os insetos jovens supor-
tam, sem quaisquer problemas, temperaturas
abaixo dos 20 graus negativos. No entanto,
são muito vulneráveis aos fungos. Por isso, um
inverno suave, mas húmido – que favorece
a proliferação dos fungos –, é para eles bas-
tante mais prejudicial do que um inverno frio,
mas seco.

210
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

As roupagens de inverno
Tal como algumas árvores e alguns arbustos, também há animais
que mudam de aspeto quando o inverno chega. Muitos sabem,
por exemplo, que o pelo das vacas e dos cavalos, embora não
mude de cor, fica mais espesso no inverno. E o mesmo acontece
com outros mamíferos. Além disso, muitas aves também se trans-
formam de acordo com as estações. Os machos, por exemplo,
enfeitam-se de cores garridas na altura da primavera, para sedu-
zirem as fêmeas. Repare no tentilhão: o desenho característico
que possui sobre a cabeça, que é castanho e cinzento no verão,
fica mais suave e escuro no inverno. Ou na garça-boieira, que
perde o tom alaranjado e fica completamente branca. Ou, ainda,
nas gaivotas, que adquirem penas suplementares logo que surgem
os primeiros dias de frio.

A observação das aves


Muitas aves migram logo que chega o outono, mas a maioria man-
tém-se connosco, mesmo durante o inverno. E algumas, vindas
de regiões mais frias do que a nossa, ficam connosco também, até
que passem os dias de maior rigor.

O inverno é, decididamente, a melhor estação para observar as


aves. Não só porque a paisagem, graças à queda das folhas de muitas
árvores, se torna um obstáculo menor, mas também porque as aves
mais esfomeadas não hesitam em aproximar-se das zonas habitadas. Pernas-longas
Se lhes oferecer um comedouro, molhando os “pés”
onde possam alimentar-se e des-
cansar, poderá observar tanto o
pica-pau-malhado-grande, que
tentará comer os amendoins,
como o chapim-real, o pisco-de-
-peito-ruivo ou o alegre tentilhão.

O inverno também é ideal para


a observação de aves aquáticas.
Patos, garças, corvos-marinhos e,
com um pouco de sorte, espécies
mais raras reúnem-se perto de
superfícies aquáticas (Tejo, Sado,
ria Formosa, Aveiro). Os pântanos

211
A
PORTUGAL NATURAL I

e pauis constituem também postos de observação privilegiados


para os que se iniciam no conhecimento e na identificação das aves.

Em tom menor
Alguns animais restringem as suas atividades durante o inverno.
A toupeira continua a fazer os seus montículos de terra, mas com
muito menos entusiasmo e apenas num raio de 30 a 50 metros, em
vez dos 150 do período de plena atividade. O ouriço acorda apenas
uma ou duas vezes. Enrola-se num abrigo cheio de folhas, ervas e
musgo, que cobre ainda com uma espessa camada de feno… tudo
isto dentro de uma toca de coelho. Mesmo assim, quando o inverno
Joaninhas a hibernar acaba, ele terá perdido cerca de
um terço do peso inicial. E se
for incomodado, se tiver de sair
várias vezes do abrigo, perderá
uma tal dose de energia que a sua
sobrevivência ficará em perigo.
Nesse caso, ficar-lhe-á grato se o
socorrer com uma tigela de leite.

Há outros animais que dormem,


sem cessar, durante todo o
inverno. Não é isso que fazem
também as plantas, sob a forma de
sementes, bolbos, tubérculos ou
rizomas? Hibernar significa passar
o inverno numa dormência total,
numa espécie de letargia, sem
Toca de hibernação
um único período de vigilância.
do sapo-comum
É o que fazem os morcegos, os
quais, desde o final do verão ou
princípio do outono, se refugiam
em buracos de árvores, sob bei-
rais de telhados, em grutas ou
em edifícios antigos, para só
voltar à vida quando o inverno
tiver passado. A temperatura do
corpo desce até ficar ao nível da
temperatura ambiente e, a fim
de economizar as reservas de

212
A
A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES

energia, todas as funções vitais são reduzidas. Infelizmente, estas


precauções nem sempre são suficientes, e a maioria dos morcegos
mais jovens não consegue sobreviver até à primavera seguinte,
devido à falta de reservas de gordura. O mesmo acontece quando
são incomodados e obrigados a despertar do seu profundo sono.
Outra característica interessante: o acasalamento dá-se antes de
se iniciar a hibernação, mas a fêmea guarda o esperma dentro de
si, e a fecundação dá-se apenas ao despertar.

a união faz a força


Muitos aventureiros solitários desbravaram a natureza,
pacientemente, com os seus próprios meios, e tornaram-se
notáveis peritos. No entanto, muitas vezes, é mais fácil e agradável
trabalhar e divertir-se em grupo. Além disso, é verdade que a
união faz a força: a experiência tem demonstrado, também neste
domínio, que as pessoas atingem mais facilmente os seus objetivos
quando se mantêm unidas. Por isso, o melhor é procurar um grupo
ou associação que se preocupe com o conhecimento e a proteção
da natureza e dar-lhe o seu contributo. Como, no nosso país, esses
grupos são numerosos e não podemos citá-los a todos, limitamo-
-nos a dar-lhe o contacto dos mais representativos. São eles:

•• GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e


Ambiente, www.geota.pt;
•• LPN – Liga para a Proteção da Natureza, www.lpn.pt;
•• Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza,
www.quercus.pt;
•• Sociedade Portuguesa de Botânica, www.spbotanica.pt;
•• EVOA – Espaço de Visitação e Observação de Aves, www.evoa.pt;
•• SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves,
www.spea.pt.

213
A
PORTUGAL NATURAL I

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214
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215
PORTUGAL NATURAL I

Índice remissivo
A andorinha�������������195, 200, 205-206
abelha��������������������������������185, 202-203 andorinha-do-mar����������������������������175
abelhão ���������������������������������������������������202 anémona������������������������������181-182, 197
abetarda ������������������������������������������� 22, 38 armilária-cor-de-mel����������������������156
abeto-branco������������������������������������������96 Armillariella��������������������������������������������156
abeto-do-norte������������������������������������96 aroeira������������������������������ 43, 46, 53, 188
abetos������������������������������ 56-58, 96, 167 arroz���������������������������������� 33, 39-40, 107
abrótea������������������������������������������������������125 arrozal��������������������������������������(veja arroz)
abrunheiro-bravo���������� 86, 124-125 artemísia���������������������������������������������������112
abrunheiros����������������������������������� 86, 123 ascomicetes�������������������������������163-164
acácia ������������������������������������������������������� 189 atanásia������������������������� (veja tanaceto)
��������������� (veja também falsa-acácia) Auricularia����������������������������������������������162
acasalamento �������������������������� 200, 213 auroques�����������������������10-11, 18, 20, 27
Aceras��������������������������������������������������������139 aveia�����������������������������������������������������������107
Aceras anthropophorum �����������(veja aveleira������������������������������������ 68-69, 198
���������� erva-do-homem-enforcado) azeda������������������������������������(veja labaçol)
ácer-de-montpellier������������������������� 43 azevinho����������������������������������������84, 209
Aglais urticae�������������������������������������� 204 azinhal�����������������������������(veja azinheira)
agrião��������������������������������������������������������127 azinheira ���������� 21, 33, 42, 44, 58-60
alecrim����������������������������������������������53, 122 ����������������������������������������������� 63, 82, 90, 209
alface����������������������������������������������������������� 40 azinho�����������������������������(veja azinheira)
alface-do-mar ���������������������������179, 181
alfaiate ����������������������������������������������������� 184 B
alfarroba ����������������� (veja alfarrobeira) baracejo����������������������������������������������������107
alfarrobeira�������������� 41, 58-59, 67-68 barrilha-espinhosa����������������������������187
alfazema�������������������������������������������15, 122 basidiomicetes �������������������������152-160
alfenheiro����������������������������������������������� 188 batata��������������������������������������� 34, 40, 197
alforreca �����������������������������������������172, 177 batitestas���������������������(veja dedaleira)
algas������������������ 177-179, 181-182, 190 berbigão ���������������������������������������� 170, 177
alvarinho����������������������� (veja carvalho- bexiga-de-lobo �����������������������������������161
���������������������������������������������������������-alvarinho) bivalves��������������������������������������������171, 177
Amanita bodelha ����������������������������������������� 178-179
rubescens�������������������(veja golmota) bole-bole ������������������������������������������������107
spissa ����������������������������������������������������155 boleto-bom����������������� (veja míscaros)
amanita-dos-césares ��������������������156 boleto-satanás���������������147, 159-160
amanitas�������������������151-152, 154-156 boletos����������������������������������147, 159-161
amarela-de-ovo������������������������������(veja Boletus
���������������������������amanita-dos-césares) erythropus����� (veja pé-vermelho)
amêijoa�������������������������������������������� 170, 177 satanas��������(veja boleto-satanás)
ameixoeira����������������������������������������������� 86 bolota
ameixoeira-brava ���������������������������(veja da carvalhiça����������������������������������������63
�������������������������������������� abrunheiro-bravo) do carrasco�������������������������������������������63
ameixoeira-silvestre���������������������(veja do carvalho�������������������������������������17, 59
������������������������������������������������������� ameixoeira) do sobreiro��������������������������������������������62
amendoeira������������������������������ 41, 67, 68 bolsa-de-pastor����������������������������������111
amieiro������������������ 39, 69-70, 125, 198 bons-dias�������������������������� 126, 135-136
Ammophila arenaria �������������168-169 borboletas����������������������������17, 135, 175,
amor-de-hortelão�����������������136-137 �������������������������������������������������� 185, 202-204
amor-perfeito-bravo������������������������111 bordo-comum����������������(veja bordos)

216
ÍNDICES ÚTEIS

bordos��������������������������������������������������������� 88 cavalinha��������������������������������������������������126
borrelho��������������������������������������������������� 184 cebola������������������������������������������������40, 197
branca-ursina �����������(veja canabrás) cedro-de-espanha�������������������������(veja
bufa-de-lobo�������������������������������������(veja �������������������������������������������������������������� oxicedro)
������������������������������������������� bexiga-de-lobo) cedro-do-atlas��������������������������������������95
bugalho ����������������������������������������������������� 64 cedro-do-buçaco���������������������� 94-95
bunho������������������������������������������������������� 130 cedro-do-líbano������������������������������������95
burri������������������������������������� 177, 181-182 cedros����������������������������� 34, 94-97, 209
cegonha����������������������������������������� 8-9, 24,
C ������������������������������������������������������������������� 39, 180
cabeça-negra ��������������������������������������147 celidónia-menor ������������(veja ficária)
calta������������������������������������������������������������129 centeio������������������������������������������������������107
camarinha ��������������������������������������������� 188 Ceratonia siliqua�������������������������������(veja
camomila ������������������������������������ 108-109 ������������������������������������������������������ alfarrobeira)
Canabiáceas������������������������������������������135 cerejeira-brava ��������(veja cerejeiras)
canabrás�����������������������������������������112-113 cerejeiras����������������������������������������� 86, 123
cana-de-açúcar����������������������������������107 cerejeira-silvestre������������������������������� 86
caniço���������������������������������� 126, 129-130 cervum������������������������������������������������������107
canivete����������������������������������������������������178 cervunal����������������������������������������������������107
cantarela��������������������������������������������������156 cevada ������������������������������������������������������107
Cantharellus������������������������������������������156 chapim-real���������������������������������������������211
caranguejo��������������������������173, 181-182 choco�������������������������������������172-173, 177
caranguejo-mouro������������������177, 183 chorão���������������������������������������������� 110, 189
caranguejo-violinista ��������������������� 185 �� (veja também salgueiro-chorão)
caravela-portuguesa ����������������������172 choupo-branco��������������������������������������73
cardo-marítimo ���������������������������51, 187 choupo-comum������������������������������������73
cardo-rolador�������������������������������������(veja choupo-negro����������������������������������������73
������������������������������������������� cardo-marítimo) choupos��������������������54, 69, 70, 72-73,
cardos������������������������������������������16, 51, 187 ����������������������������������������������������������������� 125, 198
carnívoras���������������������������(veja plantas cicuta-verde������������������������������������������155
���������������������������������������������������������carnívoras) cipreste-comum��������������������������������� 94
carqueja������������������������������������������121-122 cipreste-dos-cemitérios ��������������� 94
carrascal������������������������(veja carrasco) ciprestes��������������������������������58, 94, 209
carrasco������������������ 43, 46, 53, 59-60, Cistáceas �������������������������������������������������119
�������������������������������������������������������� 63-64, 209 Clavaria����������������������������������������������������162
carvalhal�����������������������(veja carvalhos) Clitocybe nebularis�����������������156-157
carvalhiça���������������46, 60, 63-64, 119 cochonilha����������������������������������������������� 64
carvalho-alvarinho����������������������������� 60 coelho���������������������������29, 188, 201, 212
carvalho-cerquinho������������43, 61, 64 cogumelo-de-leite����������������������������157
carvalho-das-canárias ������������������� 60 cogumelos���������������������������55, 144-167
carvalho-negral ������������������� 53, 60-61 colhereiro ������������������������������������������������� 54
carvalho-português�����������������������(veja Coprinus��������������������������������������������������157
��������������������������������� carvalho-cerquinho) cordeirinhos-da-praia �����������������(veja
carvalho-roble��������������53, 58, 60-61, �����������������������������������cordeiros-da-praia)
�������������������������������������������������������������������� 606 69 cordeiros-da-praia������������51, 171, 187
carvalhos������������������18, 35, 43-44, 53, Corema album������� (veja camarinha)
�����������������������58-61, 63-64, 69, 77, 79, corno-da-abundância��������������������147
��������� 82, 90, 105, 166, 196-198, 208 Cortinarius��������������������������������������������� 149
carvoeira��������������������������������������������������159 coruja-das-torres���������������������������������18
castanheiro-da-índia������������������������66 corvo-marinho�����������������175, 180, 211
castanheiros�����������������33, 58, 64-66, Coscinodiscus radiatus ���������������(veja
���������������������������������������� 166, 197-198, 208 ������������������������������������������������������������� plâncton)

217
PORTUGAL NATURAL I

couve-marítima������������������������187, 189
cracas��������������������������������������������� 180-181
F
falo impudico��������������������������������147, 161
crista-de-galo�����������(veja cantarela)
falsa-acácia�������������������������������������86-87
cuco���������������������������������������������������������� 200
falso abeto���(veja abeto-do-norte)
D fazer um herbário���� (veja herbário)
feijão ����������������������������������������������������������� 40
dedaleira�����������������������������������������114-115
dentebrura��������������������������������������������� 105 feijoeiro����������������������������������������������������� 109
dente-de-leão �������������������������������������114 feno-das-areias����������������������������������187
digitalina �����������������������(veja dedaleira) feto-dos-morangos ����������������������� 104
Digitalis purpurea�����������������������������(veja feto-fêmea-das-boticas�����������(veja
������������������������������������������������������������ dedaleira) �������������������������������� feto-dos-morangos)
drósera�������������������������������������������132-133 feto-macho������������ (veja dentebrura)
Drosophyllum lusitanicum���������(veja feto-morangueiro����������������������������� 105
�������������������� erva-pinheira-orvalhada) feto-ordinário ����������������������(veja feto-
drupa�������������������������� (veja zambujeiro) ��������������������������������������� --dos-morangos)
fetos������������������������������������� 102-106, 205
E ficária�����������������������������������������������128-129
enguia���������������������������������� 48, 206-207 fidalguinho��������������������������������������������� 108
eruca-marítima ����������������������������������187 figueira����������������������������������������41, 79-80
erva-abelha��������������������������������������������139 flamingo�������������������������������������������� 53-54
erva-aranha ������������������������������������������139 flor-dos-macaquinhos-
erva-borboleta������������������������������������139 -pendurados��������������������������������������139
erva-das-hemorroidas���������������(veja flor-dos-passarinhos����������������������139
�������������������������������������������������������������������� ficária) folhado��������������������������� 43, 53, 85, 209
erva-das-verrugas������(veja ficária) Fomes fomentarius��������������������������166
erva-da-trindade ���������� (veja amor- forragem��������������������������������������������������107
����������������������������������������������-perfeito-bravo) frade-de-sapo ���� 147, 151, 154-155,
erva-de-são-roberto�����������������������115 ����������������������������������������������������������������������������� 167
erva-do-homem- fradelho��������������������������������������������������� 158
-enforcado������������������������������ 139-140 freixo������������ 54, 69, 77, 125, 197, 208
erva-lanar ����������������������������������������������107
erva-mosca�������������������������������������������139 G
erva-perceveja������������������������������������139 gafanhoto����������������������������������������������� 194
erva-pinheira-orvalhada�����132-133 gaio�����������������������������������������������������������������17
erva-vespa��������������������������������������������139 gaivota���������������������������������� 29, 175, 180,
ervilhaca������������������������������������������������� 109 ������������������������������������������������������������������ 188, 211
ervilhas-de-cheiro��������������������������� 109 galha ��������������������������������� (veja bugalho)
ervilheira������������������������������������������������� 109 garça������������������������������������39, 54, 71, 211
escalo��������������������������������������������������������� 48 garça-boieira ���������������������������������� 71, 211
escaravelho��������������������������������� 113, 202 gastromicetes���������������������������160-162
esfondílio������������������������ (ver canabrás) geneta ����������������������������������������������27, 180
espata���������������������������������������(veja jarro) giesta ��������������������������������������46, 121-122
espinheiro-preto������������������������������� 188 giestal������������������������������������(veja giesta)
espruce����������������������������������(veja pícea) giesta-vulgar����������������������������������������122
esteva����������������������15, 46, 53, 119-120 giesteira-branca����������������������������������122
esteval �������������������������������� (veja esteva) giesteira-das-sebes������������������������122
estêvão �����������������������������������������������������119 gilbardeira������������������������������������������������123
estorno ������������������������51, 107-108, 187 gladíolo��������������������������������������������129, 197
eucaliptal�����������������������(veja eucalipto) golfinho roaz-corvineiro�������171-172
eucalipto�������������������������44-45, 58, 79, golfões������������������������������(veja nenúfar)
������������������������������������������������ 89-90, 92, 124 golmota����������������������������������������������������155

218
ÍNDICES ÚTEIS

Gonepteryx rhamni �����������������������(veja líquenes�������������� 23-24, 102-105, 181


������������������������������� sanguinho-de-água) lírio-amarelo-dos-pântanos������129
gramata�������������������������������������������54, 185 lírío-fétido�������������������������������������������������116
gramata-branca��������������������������������� 185 lírios�����������������������������������������116, 129, 197
gramíneas ������������������������106-108, 130 loio-dos-jardins�� (veja fidalguinho)
granza-brava����������������������������������������136 longueirão���������������������� (veja canivete)
granza-marítima��������������������������������187 loureiro��������������������������������������������80, 209
lúpulo����������������������������������������������������������135
H Lycoperdon�����������������������������������������(veja
Hebeloma�������������������������������������������������151 ������������������������������������������� bexiga-de-lobo)
hera �����������������������������43, 134-135, 209
herbário������������������������������������������ 76, 208 M
hibernação����������������������� 200, 212-213 maçarico-de-bico-direito����������� 184
hortelã-pimenta�������������(veja menta) maçarico-real ������������������������������������� 184
macieira-brava���������������������������� 85-86
I macieiras����������������������������������58, 85-86
Inachis io������������������������������������������������ 204 madressilva����������������46, 53, 134-136
Inocybe�����������������������������������������������������151 malmequer-dos-brejos(veja calta)
Iridáceas��������������������������������������������������129 malmequeres���������������������������� 108-109
marijuana������������������������������������������������135
J mata-bois ����� (veja frade-de-sapo)
jacinto-de-água�������������������������� 29, 110 medronheiro����������43, 46, 53, 81-82,
jacintos������������������������������������������������������197 ����������������������������������������������������������������188, 209
jarro-do-campo������������������������� 116-117 medusa����������������������������������������������������172
joaninha���������������������������������������� 200, 212 menta��������������������������������������������������������127
joio ��������������������������������������������������������������107 mentol�����������������������������������(veja menta)
Juglans regia�������������(veja nogueiras) mexilhão����������������������������������������� 177, 181
junco����������������������������������������������������������126 milfurada���������������������������������������������������113
L milho������������������������34, 37-38, 40, 107
minhoca da areia ��������������������������������176
labaçol���������������������������������������������������������113 míscaro-da-terra �����(veja fradelho)
Labiadas ��������������������������������������������������122 míscaro dos vidoeiros����������������������166
lactário���� (veja cogumelo-de-leite) míscaro-limão������������������������������������� 154
Lactarius���������������������������������������157-158 míscaros�������������������154, 158, 160, 166
lameirinha�������������������������������������������������121 montado������������������������ (veja sobreiros
laminária����������������������������������������178, 182 ��������������������������������� e também azinheira)
lampreia����������������������������������������������������� 48 morcego ����������������204, 206, 212-213
lapa������������������������������������������177, 180-181 morchela����������������������������������������163, 167
laranjeira ��������������������������������������������������� 34 Morchella esculenta��������������������������163
láudano �����������������������������������������������������119 morganheira-das-praias ��������������187
lavândula��������������������������������������������������� 46 morraça�������������������������������������������54, 185
lebre������������������������������������������������������������201 moscardo-maior��������������������������������139
Leguminosas�����������������������������������������121 mostajeiro �������������������������������������� 82-83
lentilha-de-água���������������������������������131 murta��������������������������������������43, 124, 209
lentisco����������������������������������������������������� 188 musgo�������������������������43, 102-104, 106,
Lepiota����������������������������������������������������� 158 �����������������������������������������������������199, 209, 212
Ligia oceanica ���������������������������������������181 Myrtus����������������������������������(veja murta)
liliácea��������������������������������������������������������123
lince-ibérico ��������������������������������������������29 N
língua-de-vaca������������������������������������166 narciso-das-areias����������������������������187
lingueirão������������������������ (veja canivete) narcisos������������������������������������������187, 197
linho-de-raposa����������������������������������107 Natica alderi ������������������������������������������ 177

219
PORTUGAL NATURAL I

nemátode-da-madeira- pervinca�����������������������������������������������������115
-do-pinheiro���������������������(veja NMP) pé-vermelho�����������������������������159-160
nenúfar����������������������������������125, 130-131 peziza-encarnada���������������������������(veja
Neottia nidus Avis�������������������������������������� ���������������������������������������������������������������� pezizas)
������������������������������������� (veja ninho de ave) pezizas������������������������������������������������������163
ninho de ave����������������������������������������� 140 Phallus impudicus����������������� (veja falo
NMP��������������������������������������������������������������92 ������������������������������������������������������������ impudico)
nogueira-comum ��������������������������������67 pica-pau-malhado-grande����������211
nogueira-preta��������������������������������������67 pícea�������������������������������������������������������������96
nogueiras�����������������������������������������66-67 pilriteiro ���83-84, 119, 124, 188, 208
norça-preta�������������������������43, 137-138 pilrito��������������������������������������������������������� 184
noz���������������������������������(veja nogueiras) pinguícolas�����������������������������������133-134
pinhal�������������������������������(veja pinheiros)
O pinheira�� �� (veja cogumelo-de-leite)
olival��������������������������������������(veja oliveira) pinheiro-baboso �����������������������������(veja
oliveira�������37, 41, 44, 50, 58, 78-79, �������������������� erva-pinheira-orvalhada)
������������������������������������������������������� 90, 165-166 pinheiro-bravo�� �� 36, 43-44, 54, 59,
Ophrys ���������������������������������������������������������� 91-93, 188
lutea�����������������������(veja erva-vespa) pinheiro-de-alepo ������������������������������93
tenthredinifera��������������������������������� 138 pinheiro-manso����������������� 91-93, 188
Orchis���������������������������������������������������������141 pinheiros���������36, 42-44, 54, 59, 87,
orégãos������������������������������������������� 46, 122 ����������������������� 91-93, 154, 167, 188, 209
orelha-de-judas����������������������������������162 pinheiro-silvestre ������������������������93, 97
orquídea-piramidal�����������������������������141 piorno-branco������������������������������������� 188
orquídeas��������������������������������������138-141 piorno-dos-tintureiros��������������������122
orvalhinha�������������������������������������132-134 piornos����������������������������������121-122, 188
orvalho�������������������������������������������������������������� pirilampo������������������������������������������������ 204
������ (veja erva-pinheira-orvalhada) pisco-de-peito-ruivo�����������������������211
orvalho-do-sol�������������������������������������������� plâncton������������������������������� 170, 173-176
������ (veja erva-pinheira-orvalhada) plantas
ostraceiro����������������������������������������������� 184 carnívoras����������������������������������131-134
ouriço-do-mar�������������������������������������181 trepadeiras������������������������������ 134-138
ouriços������������������������������������������������������212 umbelíferas �������������������������������112-113
����������������� (veja também castanheiro) plátano-bastardo ������������������������������� 88
ovo do diabo�������������������������������������������161 plátanos����������������������������������87, 89, 208
oxicedro������������������������������������������������������97 poejo����������������������������������������������������������127
P poliquetas������������������������������������ 183-184
primaveras����������������������������������������������197
palmeira-das-vassouras��������90-91 pútega���������������������������������������������������������119
panasco����������������������������������������������������107
pantera������������������������������������������������������155 Q
pantorra������������������������ (veja morchela) queiró ����������������������������������������(veja urze)
pão-de-ló�����������������������(veja míscaro)
papoila ���������������������������������100-101, 108 R
para-sol���������������������������(veja fradelho) rabo-de-zorra-macio ��������������������107
pato ������������������������������������������54, 207, 211 Ranunculáceas������������������������������������129
Paxillus involutus������������������������������� 158 ranúnculo-mata-boi������������������������128
peneireiro-das-torres ����������������������39 ranúnculos�������������������������128-129, 197
pereira������������������������������������������������ 85-86 Ranunculus sceleratus�����������������(veja
pereira-brava����������������������������������������� 86 �������������������������������ranúnculo-mata-boi)
perna-vermelha�������������������������������� 184 rapazinhos�������������������������������������������(veja
perpétua-das-areias��������������������� 188 ���������� erva-do-homem-enforcado)

220
ÍNDICES ÚTEIS

raspa-língua�������������������(veja granza- saprófita ��������������������� (veja sapróbios)


������������������������������������������������������������������ -brava) sargaça�������������������������������������������������������119
rato�����������������������������������������������������������������18 sargação���������������������������������������������������119
rela ������������������������������������������������������������ 200 sargaço������������������������������������������������������119
relva������������������������������������������ 19, 107, 140 satirião-bastardo ������������������������������139
reprodução de plantas satirião-macho������������������������ 139-140
silvestres�������������������������������������117, 139 sátiro-fétido������(veja falo impudico)
roaz-corvineiro������������� (veja golfinho Scleroderma citrinum��������������������� 160
�������������������������������������������� roaz-corvineiro) selo-de-salomão����������� 117-118, 197
robalo ��������������������������������������������������������� 48 sérpula������������������������������������������������������176
robínia��������������������� (veja falsa-acácia) silva ���������������������������������������123, 135-137
Rorippa nasturtium aquaticum���������� simbiontes�������������������������165, 166-167
����������������������������������������������������� (veja agrião) sisão������������������������������������������������������������ 38
rosa-albardeira������������������������������������� 43 sobreiral�������������������������(veja sobreiros)
rosáceas��������������������������������������������������123 sobreiros��������37, 42, 44-45, 59-62,
roseira-brava����������������(veja roseiras) ������������������������������������������� 82, 154, 166, 209
roseiras�������������������������������������������123-124 sobro�������������������������������(veja sobreiros)
roselha������������������������������������������������������120 soda����������������������������������� (veja barrilha-
roselha-grande�������������(veja roselha) �������������������������������������������������---espinhosa)
rosmaninho���������������������������� 15, 53, 122 sorveira ������������������������������������������������������82
rouxinol ���������������������������������������200, 204 sorveira-dos-passarinhos �������(veja
Russula cyanoxantha�������������������(veja ��������������������������������������������������������������� sorveira)
������������������������������������������������������������ carvoeira) souto��������������������� (veja castanheiros)
rússulas����������������������������������������� 159, 166 Spartina maritima���� (veja morraça)

S T
sabina-da-praia��������������������������97, 188 tabuas��������������������������������������������� 126, 130
sabugueiro��������� 84-85, 119, 162, 197 talha-dente��������������������������������������������107
salamandra����������������������������������������������23 tanaceto ���������������������������������������������������112
salgadeira����������������������������������������������� 185 tarambolas��������������������������������������������� 184
salgueirinha���������������������������������127-128 tartaranhão-caçador�������������������������39
salgueiro������� 39, 54, 58, 70-73, 125, teixo�����������������������������������������������������97-98
����������������������������������������������������������������� 128, 198 tentilhão�����������������������������������������������������211
salgueiro-branco���������������������������71-72 testículo-de-cão��������������������������������139
salgueiro-chorão���������������������������71-72 texugo ���������������������������������������������� 18, 188
salgueiro-de-casca-roxa�����������������71 tília�������������������������������������������������������� 88-89
salgueiro-frágil�������������������������������71-72 tintulho�������������������������������������������� 151, 165
salgueiro-vimeiro���������������������������������71 tojal����������������������������������������������� (veja tojo)
Salicornia ���������������������������������������54, 185 tojo������������������������ 46, 119, 121-122, 188
Salix���������������������������������(veja salgueiro) tojo-arnal����������������������������������������������� 188
salmão�����������������������������������������������������207 tomate������������������������������������������������������� 40
salsaparrilha-bastarda �������� 43, 126, tomilho-carnudo��������������������������������187
���������������������������������������������������������������� 137, 209 tomilhos�������������������������� 15, 46, 122, 187
salva������������������������������������������������������������� 46 torga��������������������������������������������������120-121
sancha���� (veja cogumelo-de-leite) torga-comum�����������������������(veja urze)
sanguinho-das-sebes��������������������� 84 tortulhos-da-terra������ 149, 153-154
sanguinho-de-água����84, 125, 203 toupeira����������������������������������������������������212
sanguinhos ������������������������84, 125, 203 toupeira-de-água������������������������������� 48
sapal ���������������� 49, 183-185, 190, 206 tramazeira �������������������������������������� 82-83
sapo-comum����������������������������������������212 Tremellea ������������������������������������������������162
sapos���������������������������������������������� 200, 212 trepadeira-das-sebes�����������������(veja
sapróbios ����������������140, 156, 164-165 ��������������������������������������������������������� bons-dias)

221
PORTUGAL NATURAL I

trevos ������������������������������������������������������� 109


trigo�������������������������������������������������107-108
V
vagens�����������������(veja Leguminosas)
trovisco ����������������������������������������������������125
valverde-dos-sapais �������������54, 185
trovisco-fêmea������������(veja trovisco)
Vanessa atalanta�������������������� 175, 204
trufa-branca����������������������������������������� 164
Vanilla������������������������������������������������������� 140
trufas���������������������������������� (veja túberas)
veado ��������������������������������������������������������201
truta������������������������������������������������������������� 48 ventarolas������(veja língua-de-vaca)
Tuber aestivum�������������������������������������������� vespas������������������������������ 139, 202-203
������������������������������������� (veja trufa-branca)
videira��������37, 41, 54, 73, 80-81, 134
túberas�������������������������������������������163-164 vidoeiro���������������������� 69, 166-167, 198
tulipa ����������������������������������������������������������197 vieira ���������������������������������������������������������� 177
Typha sp.�������������������������������(veja tabua) vimeiro-do-norte���������������������������������71
U vimeiro-francês�������������������������������������71
vimeiros���������������������������������������������� 70-71
ulmeiro������������������������������������������������76-77
vinha������������������������������������ (veja videira)
umbelífera��������������������������(veja plantas
Viola tricolor���������������������������������������� (ver
������������������������������������������������������umbelíferas)
�����������������������������amor-perfeito-bravo)
urtiga-maior��������������������(veja urtigão)
violeta-de-cheiro�������������������������������116
urtigão ��������������������������������������������������������111
violetas �������������������������������������������116, 197
urtigas������������������������������16, 111-112, 204
urze �����������������������15, 46, 120-121, 209
urze-branca ��������������������������������120-121
X
xara���������������������������������������� (veja esteva)
urze-carapaça���������������������������������������121
urze-das-vassouras���������������������(veja Z
����������������������������������������������������urze-branca) zambujeiro���������������������������������������� 77, 79
urze-vermelha�������������������������������������121 zângãos��������������������������������������������������� 185
utriculárias��������������������������������������������� 134 zelha ����������������������������������������������������������� 88
uva ���������������������������������������� (veja videira) zimbro-comum��������������������������������������97
uva-de-cão���������� (veja norça-preta) zimbros ���������������������������������������������96-97

222
ÍNDICES ÚTEIS

Parques naturais
e outros locais de interesse
Aire�������������� (veja Parque Natural das Estuário
������������� Serras de Aire e Candeeiros) do Mira ��������������������������������������������������� 54
Alentejo�����������(veja Costa Vicentina) do Sado ������21, 32, 49, 54, 171-172,
Alvão�������������(veja Parque Natural do ������������������������������������������������������� 175, 190, 211
��������������������������������������������������������������������� Alvão) do Tejo����������������49, 54, 175, 190, 211
Área de Paisagem Protegida Formosa������������(veja Parque Natural
da Arrábida���������������� (veja Arrábida) ��������������������������������������������da Ria Formosa)
da Arriba Fóssil da Costa de Freixo de Espada à Cinta������������������67
Caparica����������������������������51-52, 190 Jacinto��������������� (veja Reserva Natural
do Litoral de Esposende������� 51, 54, �������������������das Dunas de São Jacinto)
����������������������������������������������������������������� 170, 190 Malcata������������ (veja Reserva Natural
do Sudoeste Alentejano e Costa ���������������������������������da Serra da Malcata)
Vicentina ������������������������ (veja Costa Mamede ���������������� (veja Serra de São
������������������������������������������������������������ Vicentina) �������������������������������������������������������������Mamede)
Arrábida�������������������32, 42-43, 46, 53, Mata do Solitário ������������������������ 42-43
����������������� 61, 63, 88, 93, 138, 179-180 Mira�������������������(veja Estuário do Mira)
Barragem do Maranhão������������������� 50 Monchique�����������������������������(veja Serra
Berlenga��������� (veja Reserva Natural ����������������������������������������������� de Monchique)
����������������������������������������������������� da Berlenga) Mondego�� �� (veja Vale do Mondego)
Boquilobo������� (veja Reserva Natural Monfurado���������������������� (veja Serra de
������������������������������ do Paul do Boquilobo) ��������������������������������������������������������Monfurado)
Caldeirão���������������������������������(veja Serra Ossa����������������������(veja Serra de Ossa)
���������������������������������������������������� do Caldeirão) Parque Nacional
Candeeiros��������(veja Parque Natural da Peneda-Gerês������������������������������53
�� �das Serras de Aire e Candeeiros) Parque Natural
Caparica������ (veja Área de Paisagem da Arrábida���������������� (veja Arrábida)
���������������������Protegida da Arriba Fóssil da Ria Formosa������ 49, 54, 170, 211
������������������������������ da Costa de Caparica) da Serra da Estrela���������� 36, 47, 54,
Castro Marim�����������������������(veja Sapal ��������������������������������������������������������������������� 69, 85
��������� de Castro Marim e de Vila Real das Serras de Aire e Candeeiros����
���������������������������������������� de Santo António) ��������������������������������������������������41, 46, 93, 138
Castro Verde�����������������������(veja ZPEA) do Alvão������������������������������������������������� 54
Costa de Caparica���������������(veja Área do Montesinho����������������������������������� 54
�� de Paisagem Protegida da Arriba Paul do Boquilobo�������(veja Reserva
�������������� Fóssil da Costa de Caparica) ���������� Natural do Paul do Boquilobo)
Costa Vicentina����������51, 54, 170, 190 Reserva Natural
Douro ������������������������������������������(veja Vale da Berlenga��������������������������������� 29, 54
������������������������������������������������������������ do Douro) da Ria Formosa����������� (veja Parque
Dunas de São Jacinto(veja Reserva ������������������������ Natural da Ria Formosa)
���������������������������������������Natural das Dunas da Serra da Malcata ��������������� 29, 54
����������������������������������������������� de São Jacinto) das Dunas de São Jacinto 54, 170,
Esposende�������������������������������(veja Área ���������������������������������������������������������������������������� 190
���������������������������de Paisagem Protegida do Paul do Boquilobo�����29, 49, 54
���������������������� do Litoral de Esposende) Sado���������������(veja Estuário do Sado)
Estrela�����������(veja Parque Natural da São Jacinto����� (veja Reserva Natural
������������������������������������������� Serra da Estrela) �������������������das Dunas de São Jacinto)

223
PORTUGAL NATURAL I

São Mamede ������ (veja Serra de São Terra Quente Transmontana�������� 44,
�������������������������������������������������������������Mamede) ���������������������������������������������������������������������� 62, 67
Sapal de Castro Marim Trás-os-Montes����������������� (veja Terra
e de Vila Real �������������������������� Quente Transmontana)
de Santo António ����������������������������� 49 Vale
Serra do Douro ��������������������������������21, 38, 44
de Monchique���������������������38, 60, 82 do Mondego �������32, 39, 44, 60-61
de Monfurado���������������������������������������61 do Vouga���������������������������������������39, 44
de Ossa����������������������������������������������������61 Vila Real de Santo António���������(veja
de São Mamede��������������������������������47 ���������������� Sapal de Castro Marim e de
de Sintra����������������������34, 61, 104, 138 ����������������� Vila Real de Santo António)
do Caldeirão������������������������������������������82 Vouga������������������(veja Vale do Vouga)
Sintra������������������(veja Serra de Sintra) Zona de Proteção Especial
Solitário������������������������������������(veja Mata para Aves
������������������������������������������������������� do Solitário) de Castro Verde�������������(veja ZPEA)
Tejo��������������������(veja Estuário do Tejo) ZPEA������������������������������������������������������������39

Associações e instituições
CBA���������������������������������������������������������������23 do Território e Ambiente ��������������������
Centro de Biologia Ambiental ���������������������������������������������������� (veja GEOTA)
da Faculdade de Ciências da ICNF������������������������28-29, 55, 142, 153
Universidade de Lisboa �����������(veja Instituto da Conservação
������������������������������������������������������������������������ CBA) da Natureza e das Florestas ������������
cE3c��������������������������������������������������������������23 ���������������������������������������������������������� (veja ICNF)
Centro de Ecologia, Evolução Liga para a Proteção
e Alterações Ambientais. . . . . (veja da Natureza������������������������������������������������
cE3c) ����������������������������������������������������������� (veja LPN)
Centro de Informação LPN����������������������������������������������������� 39, 213
Antivenenos ���������������������(veja CIAV) Quercus����������������������������������������������������213
CIAV��������������������������������������� 138, 164, 167 Sociedade Portuguesa
Espaço de Visitação e Observação de Botânica ������������������ 142-143, 213
de Aves������������������������������ (veja EVOA) Sociedade Portuguesa
EVOA����������������������������������������������������������213 para o Estudo das Aves ����������������������
GEOTA ������������������������������������������������������213 ������������������������������������������������������� (veja SPEA)
Grupo de Estudos de Ordenamento SPEA����������������������������������������������������������213

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225

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